temporários e aqueles que se correspondiam das aldeias, a população
escolar girava em torno de 300 índios, na maioria homens adultos.
A maior parte destes alunos não havia passado, como era o caso dos
Xavante, por uma experiência de educação escolar. Os poucos índios
alfabetizados (5%) haviam aprendido a ler e a escrever sozinhos,
freqüentado a escola do Posto Indígena Leonardo - ao sul do Parque - de
1974 a 1976, ou, ainda, como é o caso de Canísio Kayabi, freqüentado a
escola de missionários antes de ser transferido para o Parque. No entanto,
muitos adultos, apesar de analfabetos, tinham bom desempenho em
situações que exigiam o domínio de conhecimentos matemáticos, como na
venda de "artesanato", produtos agrícolas e mel, ou na compra de bens
industrializados e na divisão e distribuição de mercadorias que chegavam
ao Parque - gasolina, óleo diesel, querosene, material de construção e
gêneros alimentícios.
À primeira vista, esse conhecimento matemático não era evidente e
parecia se restringir àqueles índios funcionários da Funai que
desempenhavam diversas funções no posto indígena. Desde o chefe de
posto do Diauarum, Mairawê Kayabi, até pilotos de barco, motoristas,
auxiliares de enfermagem, auxiliares de contabilidade e mesmo
trabalhadores braçais Kayabi e Suyá, na maioria, estavam constantemente
lidando com números, fosse em situações particulares de compra e venda
ou nas próprias atividades de administração do posto.
Uma viagem de barco envolvia, por exemplo, o cálculo de
combustível, considerando o peso da carga, a distância a percorrer e a
direção da correnteza das águas ("subir" ou "descer" o rio). Todos os
funcionários índios possuíam, por sua vez, contas bancárias para depósito
de salários em Brasília ou São Paulo e estavam sempre às voltas com
extratos bancários e talões de cheques, efetuando operações aritméticas
para saber quanto tinham recebido, gasto e quanto dispunham ainda para
gastar. Era muito comum o envio de radiogramas para o escritório do
Parque do Xingu, na época em São Paulo, pedindo saldos, extratos
bancários e talões de cheques, bem como pedidos de compras a serem
efetuadas com os rendimentos dos índios.
Logo que cheguei ao Diauarum, em julho de 1980, fui requisitada por
vários índios funcionários da Funai para checar suas contas bancárias.
Alguns deles, como Ipó Kayabi, apesar de dominarem operações
aritméticas de somar e subtrair, não conseguiam interpretar extratos
bancários pelo fato de envolverem conceitos como débito, crédito, saldo
Megaron Metuktire, um último número foi editado em junho de 1984. Os nove números do Memória do Xingu estão incluídos,
na integra, no volume 2 da tese de mestrado da autora (Ferreira, 1992),