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A Cultura Brasileira e a
Universidade
Conselheiro Alceu Amoroso Lima
Separata de Documenta n.° 21 — Volume II
Dezembro, 1 963
Rio de Janeiro
CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
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PUBLICAÇÕES DO CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO
DOCUMENTA
19 6 4
N.° 22 Vol. I-II .... Janeiro
Separatas
N° 1 — Diretor Qualificado (Cons.
0
Abgar Renault).
N.° 2 — Currículos dos Cursos Superiores.
N° 3 — A Aprendizagem Industrial (Cons.
0
Faria Góes).
N.° 4 — Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(texto definitivo). N.° 5 — Avaliação de escolas de nível
médio (Cons.
0
Faria
Góes) N.° 6 — 1.
a
Reunião Conjunta do Conselho Federal de Edu-
cação com Representantes dos Conselhos Estaduais. N.° 7 — Plano e
Finanças da Educação (Cons
0
Anísio
Teixeira). N.° 8 — Contribuição à determinação do custo
de Ensino
no Brasil. (Hélio Gopfert e Pedro Henrique P.
Saint Martin). N.° 9 — A Cultura Brasileira e a
Universidade (Cons.
0
Alceu
Amoroso Lima) N.º 10 — O Ensino da Língua Nacional
(Cons.
0
Celso Cunha). N.° 11 — Relações entre o Conselho Federal de
Educação e
os Conselhos Estaduais. (Cons.
0
Newton Sucupira)
DOCUMENTA
órgão do Conselho Federal de Educação
Publicação da Secretaria Geral Redação :
Celso Kelly — Amilcar Osório
Palácio da Educação —¡ Rua da Imprensa 16. 5.° andar.. Rio de
Janeiro, GB. — Brasil.
Gráfica Tupy Ltda., Editôra — Barão de São Félix, 42 — Rio
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A CULTURA BRASILEIRA E A UNIVERSIDADE
ALCEU AMOHOSO LIMA
O estado atual da civilização brasileira é fruto, principalmente da extra
escolaridade cultural. O homem brasileiro, tal como hoje se apre' senta, é
muito rnais um produto de sua natureza individual, de sua formação
doméstica e de sua existência social do que de sua preparação escolar. O
índice de nossa escolaridade nacional é dos mais baixos, senão o rnais baixo
do mundo contemporâneo. Trata-se de um mal ou de um bem ? Se fôr um
mal, será só um mal ? Se fôr remediável exigirá que comecemos da estaca
zero, adiando de pronto toda veleidade cultural superior ?
Eis algumas das interrogações a que vamos tentar responder, aten-
dendo à imprudente generosidade com que nos colocaram, por alguns
momentos, nesta mais jovem das tribunas universitárias do nosso país.
O PROBLEMA DA CULTURA
A palavra significa um ato de dedicação. E de uma dedicação a fundo,
tanto aos extremos como ao que fica entre eles. Culto, cultivo e cultura são
três aspetos distintos da mesma linha de dedicação a Deus, à Terra e ao
Espírito.. Cultuamos a Divindade. Cultivamos a Terra. e nos aperfeiçoamos
pela cultura do nosso Espírito. Muda o objeto de nossa dedicação, mas
significa sempre uma entrega total do nosso ser para alcançar a essência
através das aparências, de modo a tirar do cultivo da terra o alimento do
nosso corpo, da cultura intelectual o aperfeiçoamento do nosso espírito e do
culto religioso o reconhecimento da plenitude da verdade.
Esse radical culto pode portanto apresentar três sentidos: um sentido
técnico, a cultura agrícola; um sentido místico, o culto religioso e um
sentido pessoal. Esse último, por sua vez, se desdobra em um sentido
individual e um sentido social.
O sentido individual da expressão é o que chamamos de cultura
intelectual. Tem um sentido subjetivo e significa a passagem da informação
à formação de nossa personalidade. O segundo tem um sentido obe-jetivo e
significa a conquista de elementos característicos das instituições e do modo
de ser de uma coletividade.
A cultura intelectual, portanto, em sentido próprio, refere-se a cada
pessoa humana em particular e como um todo irredutível. Somos um
microcosmo, disia Aristóteles. A pessoa humana é o que existe de mais
perfeito na obra da criação, completa Santo Tomás de Aquino. O trabalho da
cultura está precisamente em permitir que esse microcosmo encerre, quanto
possível, o macrocosmo e que essa criatura imperfeita alcance o máximo de
suas virtualidades. O objeto da cultura é pois a formação do homem em sua
plenitude. Pois a cultura social é subsidiária da cultura intelectual, já que a
sociedade existe para o homem e não o homem para a sociedade. Embora
seja esta uma condição indispensável para a realização daquele. Não há
cultura intelectual sadia sem cultura social organizada.
A cultura intelectual representa, portanto, a passagem da informação da
nossa individualidade total. Pela informação recebemos de fora os
elementos que vão permitir a eclosão de nossas possibilidades naturais. É a
função do estudo. Pela formação aglutinamos e assimilamos esses elementos
exteriores, de tipo variado ou mesmo contraditório, reduzindo-os a uma
unidade irredutível e elaborando com isso a nossa personalidade. Essa
personalidade, por sua vez, se projeta para fora no sentido da atividade de
comunicação e de criação, que vai por sua vez fecundar a coletividade. Pois
toda cultura individual que não se projeta socialmente é não só imperfeita
como nociva. Como o é toda cultura individual que rejeita ou não assimila
suficientemente o que lhe vem da cultura social. Cultura intelectual pessoal
e cultura social coletiva são, por conseguinte, interdependentes. Seu valor
respectivo cresce em razão direta dessa interdependência. A cultura
intelectual egocêntrica ou a cultura social opressiva, que não permite a
expansão da liberdade individual do espírito, são dois elementos negativos e
contraproducentes.
A obra de formação cultural supõe, portanto, a obra de informação pré-
cultural. Isso não quer dizer, entretanto, que sejam necessariamente
sucessivas. É certo que toda formação completa supõe uma informação
prévia. Mas toda informação já é, por si só, uma formação. Ninguém estuda
sem ipso facto educar-se. Mas nem por ÍSSO passa do estado pré-cultural ao
estado cultural, propriamente dito. O estudo é apenas uma educação
rudimentar. E a função da cultura é precisamente fazer a semente chegar à
flor e ao fruto.
Encontramos, por isso, um grau ascendente na formação cultural. O
primeiro é o da erudição, isto é do estudo a fundo e especializado. É a
nutrição do espírito em grau elevado. O erudito é mais do que o estudioso,
mas é menos que o homem ilustrado. A ilustração, por sua vez, é um plano
superior da erudição. É o estudo não apenas em profundidade, mas
completado pela abertura do espírito e pelos conhecimentos conexos, mas
não indispensáveis, gerais e não particulares, supletivos e não apenas
essenciais. A ilustração é o terraço da casa do espírito. É a viração, a
paisagem vizinha, o horizonte. Mas ainda não é tudo. Ainda
não é o plano propriamente cultural. A cultura supõe uma síntese final. E
uma síntese que supõe, por sua vez, um sinal aparentemente negativo. Pois a
cultura é o que esquecemos de tudo aquilo que aprendemos. Esquecemos
conscientemente mas não subconscientemente. Pois cultura é assimilação
dos conhecimentos à nossa personalidade. É uma terceira natureza. A
primeira é conjunto das virtualidades de que dispomos espontâneamente. A
segunda é o conjunto de hábitos que adquirimos pelos conhecimentos, pelo
estudo e pela educação erudita e ilustrativa. A cultura é um grau ainda
superior, pois impõe a transcendência dessas duas etapas, a natural e a
adquirida, pela integração e pela decantação dos elementos inatos
observados numa nova e definitiva naturalidade, que se pode chamar de
sabedoria, pois é um conjunto de elementos físicos, intelectuais e morais,
marcados pela serenidade, pela humildade e, por que não dizer, pelo
silêncio. A cultura nesse grau de elevação vem se aproximar de novo da
incultura. A cultura verdadeira, — que é um perfume indefinível, um
mistério de conversão da inteligência em intuição, uma volta à infância
espiritual — tanto se encontra nos ignorantes em estado puro, como nos
espíritos requintadamente formados, que souberam conhecer a vaidade de
todo saber que pensa que sabe. Como a vaidade, porém, em tudo se insinua,
como se fartou de ensinar Salomão e o repetiu, à saciedade, o nosso Matías
Aires, há vaidade em saber que se sabe, como há vaidade em saber que se
sabe, como há vaidade em vangloririar-se de saber que não se sabe. O
essencial é procurar esquecer, não cortar cabelos em quatro e acima de tudo
ser humilde com simplicidade non ficta. Pois o falso publicano ainda é pior
que o fariseu.
Deixemos, porém, o alto da montanha e voltemos para os nossos áridos
caminhos da planície, entre pântanos e mosquitos, mas também entre
messes c flores.
Aquela interdependência entre cultura intelectual e cultura social nos
leva às relações entre cultura e civilização. São termos analógicos e por
vêzes empregados em sentido oposto. Os franceses chamam geralmente de
civilização aquilo que os alemães chamam de cultura. Há, porém, um
sentido corrente em que, — por amor à comunicabilidade, dimensão
essencial da cultura autêntica, como vimos — devemos empregá-las.
Quando falamos em cultura de um povo ou de um indivíduo, e rnais em
sentido pessoal que coletivo, queremos acentuar a sua formação marcada pelo
aspecto intelectual, moral e espiritual. Quando falamos em civilização, ao
contrário, mais em sentido coletivo que pessoal, embora não
exclusivamente, queremos acentuar os elementos políticos, econômicos,
jurídicos, em suma, sociais. E assim como há uma interdependência natural
entre cultura intelectual e cultura social, há uma natural interdependência
entre cultura, aspecto eminentemente interior e civilização, aspeto
eminentemente exterior de uma realidade completa, em suas duas faces. A
civilização é a face exterior da cultura. A cultura a face interior
da civilização. Andam juntas por vêzes. Por vêzes se separam. Mas nunca se
ignoram de todo. Ou de tudo se destroem reciprocamente.
Ao longo da História essas irmãs gêmeas têm sempre vivido solici'
tadas por dois polos: o da unidade e o da pluralidade. E por duas fôrças
opostas — a das relações pacíficas e a das relações violentas, a da con'
vivência e a do imperialismo. Vivemos hoje sob o signo da pluralidade
cultural, mas nem por isso deixam de se manifestar de modo premente tanto
a tendência ao universalismo cultural de vários tipos, como à constituição
de blocos parciais em estado de tensão; tìnto à formação de individualidades
requintadamente cultas e ciosas de sua liberdade e auto-nomia, ao que por
vêzes se chama de anarquia cultural, como à expansão da cultura popular,
com a democratização dos conhecimentos básicos, para a informação e a
formação, para a instrução e a cultura.
Essa pluralidade cultural se expande hoje sob a forma de círculos
concêntricos, a partir da cultura individual, que é sempre o ponto de partida
e o ponto de chegada de toda atividade cultural. No centro sempre a pessoa
humana, como fonte imediata e como finalidade cultural. Mas os círculos de
expansão se estendem, cada vez mais, a partir do homem individual, sob
forma de cultura regional, nacional, continental, intercontinental e universal.
É evidente que não vamos aqui analisar cada um desses círculos
culturais. Apenas os mencionamos para mostrar que a cultura individual e a
cultura social, conviventes, interdependentes, se encontram em cada um
desses círculos geo-sociais de extensão crescente. E que há entre eles
tensões e distensões que marcam a vitalidade e as vicissitudes da história da
cultura, E marcam também a fisionomia do nosso tempo. Todos os círculos
coexistem, nessa nossa era, cada qual com sua acentuação, aceleração ou
retardamento, diverso. Mas devemos lembrar o contraste curioso entre o
temor crescente do choque violento de culturas, na base de contradições ou
precipitações passionais irredutíveis, e a tendência também acentuada no
sentido da universalização cultural. Pode-se mesmo dizer que nunca houve
na história da humanidade um momento em que o universalismo cultural
assumisse um papel tão dinâmico como em nossos dias. Nem por isso deixam
de subsistir os demais círculos. E ao lado desse universalismo cultural,
assistimos também ao fenômeno, também típico de nossos dias, da eclosão
de nacionalismos culturais ou de continenta-lismos culturais, como o
africano e o asiático, aquêle pela primeira vez na História, este como
revivescência, à semelhança do século passado, quando se formou o
culturalismo interamericano ou mesmo de agora, quando assistimos ao
debate em torno de um continentalismo cultural europeu, velha idéia dos
"Estados Unidos da Europa", como o disse Victor Hugo, de base política ou
"Europe is Faith", de base espiritual, na sentença de Hilaire Belloc, cuja
segunda parte, entretanto, não podemos aceitar "Seith is Europe".
e o fenômeno cultural admite, por conseguinte, uma limitação cultural, —
sem prejuízo de seu intrínseco internacionalismo, pois a cultura em si só tem
por fronteiras a humanidade e não um país ou mesmo um continente, —
lancemos um olhar sôbre o fenômeno da cultura brasileira.
A CULTURA NO BRASIL
A América é um produto de três continentes: a Europa, a Africa e o seu
próprio. A história e a caracterização de uma cultura brasileira não
inseparáveis da história e da caracterização de uma civilização e de uma
cultura continental. Essa continentalidade passou por duas fases — a pre-
colombiana e a colombiana. Na primeira atuavam apenas os elementos
locais, as populações indígenas e as civilizações autóctones, que
alcançaram, em dois pontos, um nível superior, como se sabe — no México
e no Peru. A primeira das notas características de uma cultura brasileira,
independente das demais, no Continente, é precisamente a inexistência de
uma cultura indígena de tipo superior.
Quanto à fase pos-colombiana de uma cultura interamericana e
continental, podíamos dividi-la por séculos, dando a cada século a marca de
sua fisionomia histórico-cultural dominante:
o século XVI, como projeção do espírito do Renascimento e do
Cristianismo;
o século XVII, como o da elaboração local do Colonialismo;
o século XVIII, como nova projeção do espírito europeu, sob a forma
do Iluminismo;
o século XIX, como elaboração local do Panamericanismo, o da famosa
sentença de Monroe "A América para os americanos";
o século XX, como irradiação do Industrialismo e do liberalismo, e
campo de entrechoques dos Extremos modernos, esquerdistas e direitistas.
Sendo embora a cultura brasileira inseparável da história e da
caracterização da cultura interamericana, constitui ela um todo à parte, tanto
em face da cultura anglo-americana dos Estados Unidos ou anglo-franco-
americana no Canadá, como da cultura hispano-americana. Costuma-se, nos
Estados Unidos, falar da América Latina como de um todo indivisível. Grave
erro. Embora haja certos aspetos de afinidade nas culturas latino-americanas,
em face da anglo-americana, há também uma distinção formal entre as duas
projeções do híbero-americanismo na América, formando o luso-
americanismo uma unidade à parte, como existe distinções entre os próprios
núcleos em que se fraccionou o império hispano-americano.
Tanto em face da cultura anglo-americana, como da cultura hispano-
americana, e na base do que as nossas três culturas têm de conti-
Dentalmente comum, apresenta a cultura brasileira certas características
próprias. Algumas ainda indefinidas, outras em regressão em face do
interculturalismo universal contemporâneo, essas características entretanto
já representam um patrimônio comum à nossa unidade cultural, tanto do
ponto-de-vista institucional, como do ponto-de-vista pessoal.
Em contraste com os Estados Unidos, por exemplo, toda a América
Latina tem de comum o que poderíamos chamar a primazia gradativa e
crescente do homem sôbre as instituições. Eles começaram pelo homem e
foram gradualmente reforçando as instituições. Nós outros, pelo contrário,
começamos pela fôrça das instituições — o Estado, a Igreja, a Família, os
Monopólios, as Fôrças Armadas — e pouco a pouco é que foram
desenvolvendo a importância do Homem. Só no problema educativo, talvez,
é que o fenômeno não tenha ocorrido, pois a Escola, como instituição
cresceu históricamente entre nós. Há mesmo, porém, a preocupação
crescente com o aluno e o declínio do autoritarismo pedagógico é um
movimento no mesmo sentido humanista mais que institucionalista.
Várias outras diferenciações poderíamos anotar, se não fosse alongar
demais esta nossa vista de olhos.
Se considerássemos a nossa unidade cultural, não mais em confronto
com o norte-americanismo, mas com o hispano-americanismo, teríamos
também de anotar algumas razões histórico-sociais de nossa especialidade
cultural. Antes de tudo a dualidade da projeção ibérica. Teríamos de anotar
o espírito tradicional de autonomia e depois de independência da região
lusitana em face da castelhana; a língua e literaturas próprias, a
diferenciação psicológica. O espírito português, de tendência épico-lírica,
principalmente lírica e o espanhol de tendência dramático-romanesca. O
caráter português é marcado pela doçura, o espanhol pela altivez. Um pelo
realismo, o outro pelo idealismo. Um pacífico, outro guerreiro. Um
democrático, outro aristocrático. Um introvertido, outro extrovertido. Um
saudosista, outro utópico. Um econômico, outro desperdiçado. E assim por
diante. O Brasil herdou muito dessas notas típicas lusitanas. A América
espanhola os do outro lado da fronteira. E o isolamento, em que viveram as
províncias ultramarinas das duas coroas, ainda concorreu, durante os séculos
coloniais, para fixar mais os caracteres diferenciais entre as duas culturas
latino-americanas, a despeito de suas afinidades tradicionais e continentais.
Outros elementos, além da bifurcação original da colonização ibérica,
concorreram para essa especificação de uma cultura brasileira no âmbito da
América Latina.
A própria geografia nos deu a base física dessa autonomia cultural.
Nossos limites, como nacionalidade, são naturais e não históricos. O acea-
no, a montanha, as florestas, os rios, são as quatro linhas divisórias de nosso
território e, por conseguinte, de nossa civilização.
Nossa formação histórica também representa uma nota típica. Ao passo
que os Estados Unidos se formaram por agregação de províncias,
isto é da periferia para o centro; ao passo que as nações hispano-ame-ricanas
se fizeram por desagregação de um Império único que se fraccio-nou; o
Brasil se formou por segregação, por isolamento, com um só eixo Salvador-
Lisboa ou Rio-Lisboa, mantendo a unidade desde o início da conquista. E
essa unidade, tanto geográfica, como histórica, política, lin-gùistica,
econômica, psicológica, religiosa, que vem de nossas origens e se mantém até
hoje, a despeito de tantas ameaças e vicissitudes — é natu-ralmente a base
da existência de uma cultura brasileira.
Longe nos levaria a análise de cada um dos aspetos dessa unidade de
civilização e de cultura, que mantemos no continente americano. Trata-se de
uma unidade e não de uma uniformidade. E o que distingue uma da outra é
precisamente a existência ou não de uma concomitante variedade.
uniformidade num monte de areia. Há unidade num corpo humano, como
numa cultura nacional autêntica. É o nosso caso. Essa unidade é por
natureza precária. Representa sempre um esforço cons-tante contra as fôrças
da corrupção e da disparidade. Daí a famosa vigilância continua para que
todo corpo social e para que toda personali-dade individual se conservem
unidos. Uma cultura é uma criação con-tínua, como o é a nossa existência
individual. Os pessimistas têm nessa precariedade campo muito amplo para
seus vaticinios. Os otimistas também. Uns e outros só vêm um lado da
realidade. Só o realismo integral permite considerar as coisas no seu todo. E
a cultura brasileira é um todo complexo, cuja unidade estrutural tem uma
função aglutinadora mas não dominadora ou sufocante da pluralidade
cultural, elemento dinâmico daquela unidade. Poderíamos considerar essa
variedade nacional brasileira do ponto-de-vista geográfico, racial, histórico.
Focalizemos apenas o aspeto cultural, propriamente dito, de tipo social e de
tipo intelectual, de nossa unidade pluralística.
Esse pluralismo se manifesta pela diferenciação de planos culturais e
de zonas culturais. O primeiro representa um corte vertical em nossa
civilização e em nossa cultura. O segundo um corte horizontal.
As relações entre esses planos e essas zonas se operam por meio de ts
processos psico-sociológicos, que podem atuar de modo isolado ou
concomitante: a repercussão, o paralelismo e a aculturação. Como os pró-
prios nomes indicam, o primeiro, a repercussão, representa um processo de
reflexo à distância, tanto de culturas estrangeiras sôbre nós como de planos e
zonas nacionais de cultura entre si; o segundo, o paralelismo, pelo
desenvolvimento autônomo de cada plano e de cada zona, quando não
ocorre a repercussão; o terceiro, a aculturação, se opera pela fusão de
culturas diferentes.
O Brasil apresenta, como certas nações do mesmo tipo, a particula-
ridade da coexistência de planos de cultura os mais distanciados entre si.
Esses planos, aliás, se diferenciam segundo um critério essencial de valor.
Ao passo que as zonas de cultura se diferenciam, originàriamente, por
uma base geográfica, que João Ribeiro chamava de arquipélago cultural
Vejo quatro planos de cultura coexistentes em nossa civilização:
a cultura atlântica, que caracteriza as grandes cidades e principalmente
as capitais;
a cultura mixta, que encontramos nas cidades pequenas e nas fazen-das
organizadas;
a cultura caipira, das fazendas rústicas e do sertão em geral, e
a cultura primitiva dos selvícolas.
Mesmo sem entrar na análise de cada um desses planos de cultura,
vemos entre eles uma diferenciação cultural, em quantidade e em qualidade,
nem sempre proporcional. O nível moral médio no plano da cul-tura caipira,
por exemplo, é superior ao da cultura atlântica. Mas o nível intelectual é
sensivelmente superior nesta que naquela. E e sempre mister levar em conta
o elemento individual irredutível no âmbito do elemento social .
Há, no entanto, um critério geral de diferenciação gradativo entre esses
planos. É o da ação crescente do meio natural sôbre o homem, a partir da
cultura atlântica até a cultura primitivo. O cidadão transcende a cidade, mas
o selvícola é a sombra das selvas. E entre os extremos, a partir do plano da
cultura primitiva, a emergência gradativa e relativa do homem em face da
natureza e do ambiente representa uma valorização da cultura, de que a
liberdade é um dos sinais rnais preciosos. Sempre que a civilização material
ou social, entretanto, representa um acréscimo de servidões em face da
cultura pessoal, a lei de emergência humana, da cultura primitiva à cultura
atlântica, deixa de funcionar. Não há rigor lógico na interdependência dos
fatôres culturais, de modo que toda estrutura cultural é sempre complexa e
cercada de imprevistos, como todo humanismo.
Devemos lembrar que esses planos de cultura, embora correspondendo
em linhas gerais a essa localização que vai do urbano ao rústico em linha
crescentemente a política e de cultura intelectual descendente, podem
entretanto coexistir na mesma zona cultural e até mesmo em idêntica
urbana. Tanto no Rio de Janeiro como em Brasília, — na velha e na nova
capital nacional, numa aglomeração urbana trisecular e de cultura
relativamente sedimentada, como numa aglomareção recentissima e de
cultura transplantada, — ocorre simultâneamente o tríplice fenômeno do
paralelismo, da repercussão e da aculturação. Os fatos transbordam sempre
das nossas esquematizações conceituais, que são sempre instrumentos de
pesquisa objetiva e não açudes de captação de nascentes.. .
Quanto às zonas de cultura de nosso pluralismo brasileiro, não seria
demais dividi-las em quatro:
a área do Sudoeste, do Oeste e do' Norte;
a do Nordeste e Leste; a
do Centro e a do Sul.
Seria lícito focalizar cada uma dessas áreas ou zonas culturais, sob um
tríplice aspeto: o político, o econômico e o intelectual. Outros muitos,
naturalmente, poderiam ser também postos em foco. Para o rápido esboço
de uma tipologia cultural brasileira que aqui estamos sugerindo, parece
suficiente. Sem entrar na análise de cada um desses aspetos, limitamo-nos a
indicar os traços que nos parecem ser distintivos de cada uma delas.
A área do Sudoeste, do Oeste e do Norte, que seria o círculo telú rico
de nossa civilização, de Mato Grosso à Amazônia, seria caracterizada por
uma política de ocupação, por uma economia do desbravamento e por uma
incisiva percentagem de empirismo cultural e de analfabetismo. Dentro
delas se destacam ilhas de cultura atlântica, mista ou caipira, no meio do
primitivismo cultural dominante.
Na área sertaneja e nordestina, encontramos o predomínio do per-
sonalismo político, do feudalismo econômico e de uma fase ainda apenas
primária de educação, salvo as apontadas exceções.
Na área central, formada pelo trngulo Pernambuco, Minas, São
Paulo, destacam-se a política democrática, a economia industrializada e uma
formação intelectual de todos os graus.
A área sulina, do Paraná ao Rio Grande, apresenta uma face política de
tipo institucional, de tradição autoritária; uma economia distribuída, de base
agrícola e pastoril e um sistema educativo de grau médio e profissional,
projetando-se ativamente no grau superior.
A análise dessa triangulação cultural exigiria um livro e não uma
palestra. Indicamos aqui apenas os marcos de um roteiro, que visa quando
muito mostrar o quadro complexo e variado da cultura brasileira, dentro de
um esquema em que unidade e pluralidade são dois valores funda-mentais e
irredutíveis. Todo o sistema de institucionalização escolar racional,
aplicável à realidade brasileira, não pode fugir ao reflexo dessa unidade na
variedade e também na integridade, desde as necessidades de uma
informação técnica especializada, até às exigências de uma espiritualidade e
de uma formação moral fiéis às linhas mestras da tradição cristã de nosso
humanismo brasileiro.
A UNIVERSIDADE E A CULTURA BRASILEIRA
Qual o papel da Universidade nessa formação de uma cultura bra-
sileira, baseada nas linhas especiais de nossa tradição histórica nas exi-
gências físico-psico-sociais de nossa realidade nacional, na participação de
nossa cultura no movimento universalista de que somos cada vez mais
participantes e em nossa projeção para o futuro ?
Reportémonos ao que de início lembrávamos. A função precípua da
cultura é a passagem da informação à formação, da instrução à educação. do
adquirido ao assimilado, tanto no sentido individual como no sentido social.
Essa passagem se opera em todos os graus de desenvolvi-mento da
personalidade e da sociedade. Há, portanto, uma tarefa cultural tanto no
plano primário, como no médio ou no superior e universitário. A tarefa
cultural não é privilégio da Universidade. É concomitante com todos os
graus e tipos de educação, inclusive a chamada impropriamente profissional.
O que se pode dizer é que nos estágios pré-universitários o que ocorre
é também uma pre-cultura, no sentido intelectual completo. Pois no sentido
moral essa dimensão intelectual é secundária. O saber não confere o Amor,
que é a marca da sabedoria. Confere quando muito o conhecimento que é
sem dúvida um caminho para a sabedoria, e o poder, que é quase sempre um
perigoso desvio. . .
Em todos os estágios escolares há uma função informativa e uma
função formativa e portanto cultural. No estágio primário' recebemos os
elementos tanto da informação como da formação. No estágio médio
recebemos os instrumentos dessa dupla finalidade. No estágio superior ou
universitário recebemos então os complementos, de uma e outra, marcados
pelos três conceitos fundamentais que formam a base da instituição
universitária: a unidade, a comunidade e a universalidade.
Permiti que vos cite o que há seis anos passados tivemos ocasião de
escrever a propósito desse tríplice aspeto do verdadeiro espírito univer-
sitário.
"Universitas, como a própria etimologia da palavra nos indica, supõe
antes de tudo unidade na variedade, mas não uniformidade. O que a
Universidade de tipo totalitário nos apresenta, como unidade de espírito, é
apenas a sua contrafacção como uniformidade, estandartização, negação da
liberdade. A verdadeira unidade universitária consiste no agrupamento
orgânico dos estudos, segundo uma harmoniosa escala de valores. É um
princípio geral de excelência, baseado sôbre a natureza das coisas,
classificando os graus de conhecimento segundo uma ordem ascendente, na
medida do alargamento do seu conteúdo material e espiritual, mas tendo
sempre como norma fundamental a busca da verdade. Não afeta, de modo
algum, a autonomia de cada estudo ou de cada grupo de estudos. No pórtico
da Universidade de Harvard está escrita uma só palavra. Mas essa palavra
resume realmente a essência do espírito universitário: Veritas... Universitas
também supõe comunidade. É a vida em comum de alunos e professores das
diferentes faculdades, uns com os outros e de todos com o meio social, tanto
nacional como internacional. Individualismo, particularismo, regionalismo,
nacionalismo, partidarismo, classismo — tudo isso está fora de verdadeiro
espírito universitário... A vida universitária não é mera coexistência e muito
menos simples
paralelismo de escolas, professores e estudantes. Deve ser uma comunidade
de estudantes e professores, de ciência, de filosofia, de tecnologia, de belas-
artes. Deve ser, ao mesmo tempo, especulativa e prática, científica e
literária, especializada e de cultura geral, dedicada tanto à pesquisa como ao
ensino, à transmissão do passado e à procura do futuro, ao espírito criador,
autônoma e, ao mesmo tempo, integrada na vida do povo, dentro e fora das
fronteiras. Deve ser, em suma, essencialmente comunitária. Finalmente,
como Newman tão lùcidamente o notou, a nota característica de uma
Universidade é a sua universalidade. A Universidade deve ser,
naturalmente, dividida em várias faculdades, pois seu espírito é ao mesmo
tempo de especialização e de generalização. Se a especialização, entretanto,
predominar de modo exagerado, desaparece o próprio espírito universitário.
Se a generalização, pelo contrário, se confundir com superficialidade, como
tantas vêzes acontece, estamos em face de um erro igual e contrário. Tanto
uma como outra são essenciais à configuração de uma verdadeira
Universidade. Mas ao passo que a especialização é uma condição essencial
para a vida universitária, a generalização é a própria essência da
Universidade, cuja finalidade é dar corpo e vida ao conhecimento, desde as
raízes até a fronde. A Universidade tem por finalidade suprema inevstigar e
transmitir a Cultura Geral". (Cf. "O Espírito universitário", Agir ed., 1958,
pág. 15/17).
Como já dizíamos nesse trecho de há sete anos passados, que tomamos
a liberdade de vos comunicar, a função universitária é precipuamente
cultural. Não nego a existência de quatro finalidades concomitantes na
função universitária: a transmissão do saber adquirido, pelo ensino; a
especialização profissional; a investigação pessoal ou pesquisa e a cultura
geral. Cada uma das três posições iniciais, entretanto, não terá caráter
universitário, se não receber esse complemento fundamental da formação
cultural, tanto do homem como do meio. A Universidade é guarda e
transmissora do saber adquirido. O ensino lhe é consubstancial. Sob èsse
ponto-de-vista é essencialmente preservadora do passado. Também prepara
as novas gerações para a vida profissional especializada. Sua função, nesse
ponto, é pragmática. E por sua pró pria natureza ligada ao ambiente, ao
meio social, às necessidades locais, ao estado do mundo contemporâneo, à
vida cotidiana. É uma instituição, portanto, eminentemente participante.
Deve levar em conta, por exemplo, as particularidades dos planos culturais e
das zonas culturais, de nossa civilização, como anteriormente procuramos
delinear. E com isso permite aos seus alunos legarem a Universidade à sua
vida particular. Como ligá-la à vida pública nacional e internacional,
deixando de considerá-la como uma instituição abstrata num plano extra-
temporal. Não nego, tão pouco, que a Universidade é um instrumento de
pesquisa científica, em todos os terrenos, preparando especialistas e
alargando o domínio dos conhecimentos. Nesse ponto a Universidade é
pioneira e aventureira. E por seus institutos e departa-
mentos especializados transcende de muito a tarefa preservadora e orien-
tadora do ensino. Sua visão se volta então para o futuro e não para o
passado.
Mas, que seria de tudo isso se não fòsse a finalidade precípua da
Universidade, a função cultural, tanto em relação à pessoa humana como em
relação às nacionalidades e à civilização universal ?
Essa função sintetizadora, assimiladora, aglutinante, em suma essa
escola de sabedoria, que transcende o saber e a pesquisa, é que constitui a
dignidade e a finalidade da instituição universitária. É ela que justifica a
função da Universidade na situação presente de nossa evolução cultural.
Dizíamos, a início, que o estado atual de nossa civilização é fruto,
principalmente, da extra escolaridade cultural. Fazemos, pois, uma distinção
fundamental entre culturalismo extra escolar e culturalismo escolar. Este,
como o nome está indicando, é o que se adquire dentro das instituições
escolásticas. Aquêle o que se adquire fora delas, dentro dos demais círculos
de nossa existência grupai, a partir do ambiente doméstico, e pela própria
vivência nossa individual em contacto com a sociedade. Nenhuma das duas
exclui a outra. A escola surgiu para completar a família e a civilização é a
explicação dos grupos sociais constituídos originalmente no grupo inicial e
primário. A linha da escolaridade é, portanto, a própria linha do
desenvolvimento individual e do progresso coletivo. Nem por isso deixa, de
se desenvolver, concomitantemente, a linha, da extra escolaridade. Ambas
têm uma função cultural, isto é de aperfeiçoamento individual e coletivo, na
passagem do saber ao amor, da intelectualidade à cordialidade, da sciencia
rationis à sapientid cordis. Se não houvesse essa afinidade substancial entre
o desenvolvimento da escolaridade e a vivência da extra escolaridade,
poderíamos dizer que a função universitária seria prematura num país como
o nosso de desastrosa escolaridade e de nível de alfabetização ainda tão
vergonhosamente baixo.
O que justifica o desenvolvimento entre nós é precisamente a afinidade
natural que deve existir entre o heterodidatismo e o utadidatismo. Sempre
que a Universidade nossa se fechar ao ambiente social real, ao estado de
civilizarão, à pluralidade cultural, de planos e zonas de nível tão diverso à
condição psicológica e econômica do homem brasileiro e até mesmo às
condições universais de civilização em mudança em que todos estamos
empenhados, os cultos como como os incultos, e às nossas crescentes
responsabilidades internacionais, — sempre que nossas Universidades
atuais se fecharem a essas exigências de sua natureza, então sim a
instituição será uma superfetação.
Mas sempre, pelo contrário, que a Universidade brasileira fôr fiel à sua
verdadeira natureza, então podemos dizer que não haverá progresso cultural
brasileiro se não houver também um concomitante desenvolvimento
universitário.
Essa lição entre a cultura obtida pela prática do verdadeiro espírito
escolar, da escola primária à Universidade, e a cultura comunicada peia
própria vida extra escolar, é que devemos preservar, para que a Univer-
sidade não seja um artifício dispendioso e privilégio de alguns "happy few",
mas um instrumento fundamental do humanismo cultural.
Eis como, nesse estudo sôbre o espírito universitário que há pouco
tomamos a liberdade de transcrever, focalizávamos essa necessidade de unir
o requinte da cultura à sua espontaneidade natural, pela qual o homem
verdadeiramente culto volta a encontrar-se com o que pode haver de rnais
preciso em nosso irmão que por isso ou por aqui, não participou de uma
formação cultural em plano superior.
"O perigo, para o ser humano, do espírito universitário, é o orgulho
intelectual, é o pedantismo do saber, a exibição erudita, o tom suficiente, o
desprezo pelos menos instruídos. É tudo isso que os estudos em nível
superior podem tragar-nos, como forma de embriagues intelectual. Bem sei
que essa embriagues é sinal de falsa cultura. Só os novos ricos do saber se
comprazem em exibir os seus conhecimentos. Costumo dizer que saber é
esquecer. Cultura é o que se perde em nós do que ganhamos pelo estudo e
pela leitura. E por isso é que citamos cada vez menos na medida em que
envelhecemos e vamos tomando cada vez mais inequívoco da vastidão de
nossa ignorancia. Cultura não é memoria. É infiltração. Daí a afinidade que
os homens verdadeiramente cultos sentem pelos homens verdadeiramente
simples. Tudo isso faz parte da espiritualidade universitária. A mias
importante das cátedras universitárias é a cátedra do silêncio e da
humildade" (op. cit., p. 42).
É nesse sentido que se encontram as duas formações culturais e se
estabelece a interdependência entre cultura extra escolar e cultura escolar.
Essa interdependência é uma lição, para que encaminhemos o nosso
aparelhamento e o nosso espírito universitário no sentido da elaboração de
uma autêntica cultura brasileira. Quanto mais a sério tomarmos a formação
universitária, no sentido da preparação em profundidade, contra o espírito
de precipitação e de superficialidade que ainda caracteriza a nossa pseudo
formação universitária; quanto rnais realizarmos uma autêntica comunidade
universitária, de que mestres e alunos se sintam como associados em torno
da mesma tarefa e não como grupos estranhos au hostis que se defrontam
como duas fôrças antitáticas ou indiferentes; quanto mais compreendermos
que a cultura brasileira precisa da cultura universitária para não desperdiçar
as suas virtualidades e a cultura universitária necessita da cultura extra
escolar brasileira para não cair no pedantismo ou no artifício e quanto mais
uma e outra cultura compreendem que a técnica supera o empirismo, como
a ciência supera a técnica e a sabedoria supera a ciência — quanto assim
procedermos tanto rnais perto estaremos da verdadeira Universidade
brasileira e da verdadeira cultura brasileira.
Pois tanto a cultura escolar corno a extra escolar encontram sua
verdadeira medida naquela volta à simplicidade de espírito que a pieni' tude
cultural permite.
Assim como os generais romanos, ao fazerem a sua entrada triunfal em
Roma, levavam atrás do seu carro um escravo que lhes gritava impro' périos,
para se lembrarem de sua pobre condição humana, — os univer' sitários,
mestres ou alunos, precisam sempre ter a seu lado e sobretudo em seu
coração a presença de sua própria ignorância. E nada lhes pode melhor
comunicar humildade e consciência do seu nada, do que a figura e o
exemplo daquele que nunca escreveu uma linha, senão com o dedo na areia
dos caminhos, cuja escola foi apenas uma oficina de carpinteiro, mas disse
palavras de Vida Eterna, que ainda hoje e até a consumação dos séculos,
transcenderão de tôdas as Universidades, de tôdas as ciências da terra e dos
homens" (op. cit., p. 42) e nos ensinam o sentido da verdadeira e perene
Cultura humana.
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