O analfabetismo é uma chaga, mancha vergonhosa a des-
figurar o facies da sociedade brasileira, que se apresenta, no
conceito dos povos, como constituída, em grande parte, por cida-
dãos incultos e ignorantes. Mais do que isso, é uma injustiça do-
lorosa, das que bradam e clamam por pronta reparação, feita a
milhões de nossos compatriotas, marginalizados, proscritos dos
benefícios do progresso, condenados a uma vida medíocre, de
necessidades e sem horizontes, pela única razão de haverem nas-
cido em berço deserdado da fortuna,
Mas é, também, no momento atual, em que o emprego da
técnica se faz cada vez mais freqüente e imperioso, ainda para
os atos triviais da vida, entrave ao nosso progresso, obstáculo
ao nosso bem-estar, razão de enfraquecimento do poder nacio-
nal. De fato, a Pátria grande, a Pátria próspera, fraterna e
forte que sonhamos e haveremos de construir, não pode ser edi-
ficada sobre um povo esmagado pelos fardos da ignorância e
da miséria.
É preciso erradicarmos, de vez, o analfabetismo, de nosso
meio. É uma exigência do pudor nacional. É um reclamo, é um
clamor de justiça. É uma necessidade para o fortalecimento do
nosso poderio, de forma a permitir ao Brasil levar e fazer ouvir
e acatar, na ONU, a sua tradicional mensagem de fraternidade
e justiça.
Mas, a erradicação do analfabetismo não é tarefa que possa
ser satisfeita apenas pela ação governamental. Por maior que
seja a responsabilidade do Estado no particular, por mais lúcida
a sua compreensão desse dever, por mais sinceros os seus pro-
pósitos, a verdade iniludível é que o cometimento, verdadeira-
mente ciclópico, excede aos recursos de que possa dispor .?, em
verdade, reclama a cooperação de quantos tenham uma par-
cela de responsabilidade cívica e moral.
No Brasil, as tarefas educacionais têm proporções cósmi-
cas, face ao crescimento explosivo da população, às dimensões
continentais do território e o doloroso atraso que registramos.
Atender às necessidades que dia a dia avultam, recuperar um
atraso acumulado durante anos, senão séculos, não pode ser
obra exclusivamente para o Governo, é uma necessidade que re-
clama o concurso de todos.
Em verdade, o analfabetismo só será vencido quando cada
brasileiro tiver a perfeita compreensão do malefício, da injus-
tiça e da vergonha que representa, e o povo o sentir, como um
espinho implantado no tecido sensível do brio nacional.