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Ernesto Macedo Reis
FORMAÇÃO CONTINUADA A DISTANCIA DE
PROFESSORES DE FÍSICA DO NÍVEL MÉDIO:
DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM CURSO
PILOTO COM SUPORTE NA INTERNET
Orientadora: Profª. Flávia Rezende Valle dos Santos, D.Sc.
Núcleo de Computação Eletrônica - NCE
Instituto de Matemática - IM
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Rio de Janeiro, Junho de 2001.
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FORMAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA DE
PROFESSORES DE FÍSICA DO NÍVEL MÉDIO:
DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM CURSO
PILOTO COM SUPORTE NA INTERNET
Ernesto Macedo Reis
DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE
MATEMÁTICA/NÚCLEO DE COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS
PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS E INFORMÁTICA.
Aprovada por:
Prof
a
. Flávia Rezende Valle dos Santos, D.Sc.
Prof. Fábio Ferrentini Sampaio, PhD.
Prof
a
. Deise Miranda Vianna, D.Sc.
Prof
a
. Claudia Lage Rebello da Morta, D.Sc
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL
JUNHO DE 2001
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FICHA CATALOGRÁFICA
FORMAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA DE PROFESSORES DE FÍSICA DO
NÍVEL MÉDIO: DESENVOLVIMENTO E AVALIAÇÃO DE UM CURSO PILOTO
COM SUPORTE NA INTERNET
REIS, ERNESTO MACEDO.
Desenvolvimento e Avaliação de um Ambiente
Construtivista de Aprendizagem a Distância para a Formação
Continuada de Professores de Física do Nível Médio na Internet
[Rio de Janeiro] 2001
XI, 106 p. 29,7 cm (IM/NCE/UFRJ, M.Sc., Informática,
2001)
Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro,
IM/NCE
1. Educação a Distância
2. Ambientes de Aprendizagem - Internet
3. Formação Continuada
I. IM/NCE/UFRJ II. Título (série )
DEDICATÓRIA
Ao mestre de todos os mestres,
Jesus Cristo que me deu
essa oportunidade
A minha mãe
Agradecimentos
Agradeço a Professora Flávia Rezende Valle dos Santos, minha orientadora, pela
inestimável ajuda e apoio, por toda sua paciência, pela disponibilidade constante e pelas
discussões fundamentais que possibilitaram a realização desse trabalho, sem o que não
conseguiríamos desenvolvê-lo. Também pela sua capacidade de estimular a construção de
novos conhecimentos.
A professora Susana de Souza Barros, pela ajuda, pelas discussões que
enriqueceram em muito esse trabalho, pelos incentivos em todos os momentos difíceis além
da participação em etapas da implementação e pela palavra amiga sempre presente.
A professora Marília da Paixão Linhares pelo apoio em momentos onde foi
fundamental uma voz amiga e pelos incentivos constantes.
Ao professor Fábio Ferrentini Sampaio, pelo empenho em apontar caminhos
principalmente no início dessa jornada quando ainda não era claro que rumo tomar.
A professora Deise Miranda Vianna, por participar da minha banca e pelas palavras
de apoio em diversos momentos.
A professora Claudia Lage Rebello da Motta, por participar da minha banca.
A minha mulher que compreendeu a natureza do trabalho e soube esperar.
Aos meus filhos, Daniel, Maurício e Pedro Henrique as mais carinhosas desculpas
pelas muitas ausências.
Aos colegas no Núcleo de Tecnologia Ciência e Cognição (NTCC) do CEFET-
Campos que durante o período de trabalho propiciaram um ambiente agradável e estiveram
sempre dispostos a atuarem quando solicitados, participando ativamente da implementação
do ambiente, notadamente o professor Ruberval Teixeira pela ajuda em todos os instantes
da etapa de implementação.
Ao Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
pela oportunidade de desenvolver este trabalho em uma universidade pública de qualidade.
Ao Prof. Júlio Salek (in memorian) pela sua presença amiga em momentos em que
eram muitas as dúvidas e dificuldades.
Aos amigos da Secretaria do Curso de Informática representados por sua secretária
acadêmica Deise Lobo Cavalcante que tanto me ajudaram e orientaram.
Ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos, ao apoio dado para que eu
pudesse cursar o Mestrado.
A CAPES/SEED/MEC, através do PAPED/1999-2000, pela premiação do projeto
de dissertação e ajuda financeira nesse período.
A todas as pessoas que contribuíram para que esse estudo pudesse se realizar.
Neste trabalho estão presentes muitas idéias de pessoas envolvidas com a pesquisa
em educação e o ensino de física e as tecnologias da informação e comunicação, que com
suas contribuições propiciaram a implementação desse projeto piloto.
RESUMO
Resumo da Tese apresentada ao IM/NCE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências e Informática (M.Sc.)
Ernesto Macedo Reis
Junho/2001
Orientadora: Flávia Rezende Valle dos Santos, D.Sc.
Programa: Informática
Este estudo tem como objetivo a elaboração e avaliação de um curso a distância
para a formação continuada de professores de Física viabilizado através de um ambiente
construtivista de aprendizagem com suporte na Internet.
ABSTRACT
Abstract of Thesis presented to IM/NCE/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements
for the degree of Master of Science (M.Sc.)
Ernesto Macedo Reis June/2001 Supervisor: Flávia
Rezende Valle dos Santos, D.Sc.
Department: Informatics
The present study describes a distance education project for in-service secondary
teachers permanent education, which involves the development of a Web based
constructivist-learningenvironment.
Sumário
1 Capítulo 1 - Introdução
1.1 O Problema 1
1.2 Justificativa 5
2 Capítulo 2 - Educação a Distância
2.1 Conceitos de Educação a Distância 8
2.2 Os meios utilizados na EAD 12
2.3 A Formação Continuada a Distância 16
3 Capítulo 3 - Abordagens Pedagógicas em EAD
3.1 O Construtivismo e a Educação a Distância 20
3.2 Aprendizagem Baseada em Casos 22
3.3 Aprendizagem Colaborativa 24
3.4 Ambientes Construtivistas de Aprendizagem 26
4 Capítulo 4 - Desenvolvimento do Ambiente Construtivista
de Aprendizagem a Distância para Formação Continuada de
Professores de Física
4.1 Desenho Instrucional do Ambiente 29
4.2 Interface do ACAD-FÍS 37
4.3 Descrição do Protótipo do ACAD-FÍS 38
4.4 Descrição do Gerenciador de Cursos Universite - 2.0 46
5 Capítulo 5 - Descrição e Pré-Testagem do Curso
5.1 Descrição do Curso 48
5.2 A Pré-Testagem do Curso 51
5.3 A Formação de Tutores/Orientadores do Curso 55
6 Capítulo 6 - Avaliação do Curso Piloto
6.1 Metodologia e Avaliação do Curso Piloto 59
6.2 Implementação do Curso Piloto 63
6.3 Resultados da Avaliação 64
7 Capítulo 7 - Considerações Finais e Recomendações
7.1 Considerações Finais 75
7.2 Recomendações 78
Referências Bibliográficas
79
LISTA DE FIGURAS
Figura 4.1 Modelo para construção de casos em sistemas 30
interativos
Figura 4.2 Esquema conceituai do ACAD-FÍS 33
Figura 4.3 Esquema de Navegação do Sistema não linear ACAD- 34
FÍS
Figura 4.4 Interface dos nós das classes do ACAD-FÍS 36
Figura 4.5 Página de apresentação do Curso a distância de 40
Formação Continuada de Professores de Física
Figura 4.6 Página de texto sobre Inovações Tecnológicas no 42
Ensino de Física
Figura 4.7 Página de textos sobre Inovações Pedagógicas no 42
Ensino de Física
Figura 4.8 Página de texto sobre Conteúdos de Física 43
Figura 4.9 Página derivada da classe "Situação-Problema" 44
Figura 4.10 Página Ficha de Solução da Situação-Problema 45
LISTA DE TABELAS
Tabela 5.1 - As três áreas do conhecimento do Curso 49
Tabela 6.1 - Expectativa dos Cursistas 67
Tabela 6.2- Leitura e Contribuição dos textos disponíveis no ACAD-FÍS 68
Tabela 6.3- Avaliação da contribuição individual dos textos 69
LISTA DE QUADROS
Quadro 3.1 - Características dos Paradigmas Educacionais: Tradicional e Novo 26
Quadro 4.1 - Título dos Documentos e Artigos disponíveis no ACAD-FIS 41
Quadro 5.1 - Oficina Presencial do Curso 50
Quadro 5.2 - Atividades Presenciais do Programa de Formação de Tutores 57
Quadro 5.3 - Carga Horária destinada à Orientação (Capacitação e tutoria) 58
RELAÇÃO DE ANEXOS
Anexo 1 Situações-Problemas do Curso Piloto de Formação Continuada de 89
Professores de Física
Anexo 2 Ficha para Resolução de Casos 90
Anexo 3 Questionário Diagnóstico: Condições Iniciais do Professor-Cursista 91
Anexo 4 Relação do Material Disponibilizado para leitura na forma impressa e 92
on-line
Anexo 5 Questionário de Acompanhamento: Avaliação da Prática Pedagógica 95
do Professor-Cursista
Anexo 6 Textos Escritos para o Curso Piloto e não publicados 96
Capítulo 1
Introdução
1.1 O Problema
A discussão da problemática educacional brasileira tem se voltado para busca de
caminhos que permitam a melhoria da qualidade de todos os níveis de ensino.
Compatível com esse entendimento, a formação do professor tem sido considerada como
alvo de investimentos que possam fazer chegar mais rapidamente aos estudantes dos
níveis fundamental e médio conhecimentos mais atualizados e condizentes com o mundo
que os cerca. Desse modo, é preciso dar respostas a esse contingente docente,
especialmente atendimento a suas demandas de atualização e aperfeiçoamento, visando à
qualidade da Educação.
No caso específico dos professores de Física do nível médio, a necessidade de
formação continuada é crítica, já que o número insuficiente de professores leva escolas a
aproveitarem professores de outros conteúdos tais como Química, Biologia, Matemática
para atuarem nessa disciplina. Os baixos salários que forçam os professores a aumentar
sua carga horária docente tornam sua formação continuada precária, levando-os a uma
fatal desatualização. Em um mundo onde transformações de todos os tipos se dão numa
velocidade altíssima, esse quadro se torna ainda mais preocupante.
Esses professores, muitas vezes isolados do que se passa na pesquisa em ensino e
sem condições de acompanhar as inovações do ponto de vista do conteúdo de novos
meios para realizar seu trabalho, acabam por desenvolver seus próprios métodos de uma
forma intuitiva, sem orientação especializada, o que normalmente demandaria grandes
deslocamentos e ausências do trabalho. Assim, poucos são bem sucedidos e tornam-se
solitários em suas instituições em suas tentativas de introduzir inovações.
O panorama descrito não é exclusividade das cidades distantes dos grandes
centros, mas com certeza o isolamento no interior dificulta ainda mais a possibilidade de
atualização desses professores em serviço, já que se deslocar até um centro de formação
muitas vezes não é possível.
Quando os professores recém-formados entram no mercado de trabalho,
principalmente na rede pública, o quadro mostra-se adverso, pois se vêem forçados a
conjugar seu próprio despreparo com uma política de desvalorização profissional
exteriorizada nos baixos salários, precárias condições de trabalho, múltiplos vínculos,
carga horária e jornadas excessivas.
O contato com professores de Física de nível médio nos cursos de capacitação
regularmente oferecidos pelo CEFET-Campos tem-nos indicado a insatisfação desses
professores com relação ao trabalho que estão realizando, principalmente no que se refere
à aprendizagem de seus alunos que muitas vezes tem sido insatisfatória.
Não é raro acontecer de professores após terem iniciado cursos de formação
continuada em Universidades nos grandes centros, acabarem por não completar seus
estudos, pois percebem que não querem trabalhar somente habilidades específicas, como
grande parte dos cursos oferece, ou simplesmente se atualizarem teoricamente.
Aparentemente, uma relação direta com a prática e um vínculo mais permanente com
orientadores poderia atendê-los mais satisfatoriamente.
Entretanto, pressões forçam os professores a continuarem seus estudos, como por
exemplo, o surgimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/SEMTEC, 2000) e
também a necessidade de atender à comunidade em torno da escola no que diz respeito à
preparação do estudante para o mundo do trabalho.
Também é relevante que se pense na velocidade e dinamismo com que o
conhecimento é produzido e transmitido hoje em dia, fazendo com que num curto período
de tempo se torne obsoleto. Isto exige do professor uma constante capacitação, em termos
do conteúdo específico e dos avanços tecnológicos que o leve a uma prática mais
condizente à preparação do aluno para o mercado de trabalho.
De acordo com MENEZES (1998), as principais consequências do trabalho
repetitivo que não exige cultura e competência para tomada de decisões (como as rotinas
industriais, agrícolas, comerciais e de serviços que são cumpridas cada vez mais e melhor
por equipamentos de custo decrescente e de uso universalizado) para a educação são: - as
funções associadas com o ensino e com a aprendizagem não se restringirão ao âmbito
escolar, mas estarão presentes em todos os espaços sociais e especialmente nos de
trabalho. A segunda é que também a atividade docente exigirá do professor permanente
esforço de atualização relativamente aos métodos, aos recursos e aos conteúdos.
Hoje, os estudantes de nível médio, mesmo em cidades do interior dos estados, já
chegam às escolas com informação sobre uma série de assuntos veiculados em geral pela
mídia. Muitos estudantes independentemente da orientação do professor, já agem por
conta própria, buscando na Internet informações sobre assuntos escolares. Esses jovens
se familiarizam rapidamente com o uso de mecanismos de busca, selecionam
informações e utilizam as ferramentas de comunicação da Internet como o chat e as listas
de discussão.
O que vemos as novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC) trazerem
à educação é a nova capacidade de se ter acesso a imensas bases de dados. Isso já é uma
revolução, quando abre a muitos jovens a possibilidade de entrarem em contato com
fontes de informação que jamais estariam abertas a eles, principalmente em um país onde
quase não existem bibliotecas e as que estão instaladas, guardadas poucas exceções, são
pobres e pequenas.
Um ponto importante a ser analisado neste contexto é a rejeição dos alunos,
frequentemente relatada pelos professores, dos alunos, mesmo os do interior, às formas
de ensinos tradicionais. Professores de Física (e de Ciências de um modo geral) da
periferia da cidade de Campos dos Goytacazes, por exemplo, relatam que, mesmo quando
os estudantes dispõem de condições financeiras e não acumulam estudo e trabalho, tem
sido frequente o abandono. Os professores reconhecem que as metodologias tradicionais
de ensino, com base exclusivamente em aulas expositivas, não estimulam os estudantes a
estudarem as disciplinas de ciências, em especial a Física, o que também contribui para a
evasão. Este aspecto também aponta para a necessidade de Formação Continuada dos
professores.
Tendo em vista essa problemática, a Educação a Distância (EaD) se apresenta
como uma alternativa atraente para atender as necessidades do professor do interior em
4
serviço, que já é adulto e que tem, portanto, maturidade para usar seu tempo livre
investindo em sua atualização.
A mudança da concepção de cursos presenciais para a modalidade a distância
seria a solução para uma série de problemas enfrentados pelos professores em formação
ou em serviço, como por exemplo, a falta de tempo para frequentar cursos de formação
continuada e a dificuldade de deslocamento para os centros onde são oferecidos estes
cursos.
O CEFET-Campos, que tem entre seus objetivos a interação entre os cursos de
nível fundamental e médio e os de nível superior, tem se envolvido com projetos de
extensão atuando na capacitação de professores, atendendo a solicitações das redes
municipal, estadual e privada de Campos dos Goytacazes e adjacências. Esta instituição
pode, então, vir a servir de pólo de formação continuada de professores dessa região,
trabalhando a distância, de forma integrada com Centros de Formação como, por
exemplo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro.
A EaD, hoje facilitada enormemente pelos recursos de comunicação oferecido
pela Internet, ainda se torna mais atraente na medida em que a necessidade de construção
de ambientes e ferramentas traz a oportunidade de repensarmos os paradigmas
educacionais que vêm sendo utilizados na educação formal convencional, questão
fundamental de qualquer projeto pedagógico de inovação tecnológica.
Assim, conseguir implementar um ambiente virtual que favoreça a participação
ativa do aluno no seu processo de aprendizagem, a troca de ideias e experiências entre os
participantes, torne possível a discussão em grupo, o trabalho cooperativo e desse modo
possa reverter as tradições condutistas do ensino livresco, autoritário, expositivo é um
desafio para equipes de desenvolvimento desses cursos. Sabemos que a tecnologia, como
ressalta JONASSEN (1996), só mudará a natureza das atividades educacionais se
dirigidas por mudanças fundamentais nas concepções e métodos de ensino-aprendizagem.
Visando à perspectiva de atuação no aperfeiçoamento de professores de Física do
Norte-fluminense, o objetivo deste estudo é o desenvolvimento e a avaliação de um curso
a distância para formação continuada de professores de Física de nível médio com
suporte na Internet. Este curso implica a implementação de um ambiente virtual que
apresenta características construtivistas (JONASSEN, 1996, STRUCHINER et al, 1998),
constituindo-se o seu desenvolvimento um segundo objetivo do trabalho.
1.2 Justificativa
Não resta muita dúvida da necessidade de aprender a fazer no que se refere à EaD
através da Internet, especialmente num país extenso como o Brasil, tão necessitado de
melhorar a eficiência do seu sistema educacional, que depende fortemente de um
professorado bem formado e bem assessorado.
Tendo em vista a atual crise da educação, hoje objeto globalizado que não poupa a
maioria dos países e analisando a situação da escola formal com sua dinâmica própria,
que parece em descompasso com as necessidades da sociedade da informação, este
trabalho justifica-se pela atuação na educação continuada de professores fazendo uso
eficiente e inovador dos recursos oferecidos pelas novas tecnologias da informação e
comunicação.
A área das Ciências Naturais, em especial a Física, é uma área carente nas escolas
do interior, pois, dos poucos professores de nível médio que se formam a cada ano, a
maior parte permanece nos centros urbanos. Em geral, professores de outras áreas,
prevalecendo os graduados em Matemática, Biologia, Química e Engenharia ministram
aulas de Física. Não há programas de Formação Continuada de Professores voltados para
professores sem a formação específica, que precisam continuar aprendendo sobre a
disciplina que ministram, mas também precisam se atualizar sobre novas abordagens
pedagógicas e sobre o uso das novas tecnologias de informação e comunicação (NTIC)
no ensino. Cursos como os patrocinados por programas CAPES/FAPERJ, por exemplo,
em 96-98 permitiram a participação excepcional desses professores, embora nas
diferentes chamadas fossem definidas as formações específicas prioritárias.
Iniciativas de grupos de pesquisa em Ensino de Física, apoiados pelo Programa
Pró-Ciências, não têm conseguido levar a diante seus projetos devido à descontinuidade
do apoio governamental. Há portanto necessidade de ações relativas à Formação
Continuada do professor de Física principalmente em regiões distantes dos grandes
centros, que possam levá-lo a galgar um patamar superior em sua prática docente.
Propondo atualização de conteúdos à luz das novas diretrizes curriculares para o
ensino médio, o conhecimento de novas propostas pedagógicas que ele poderá colocar
em prática em sua sala de aula e uma instrumentalização que lhe permita se apropriar
criticamente das novas tecnologias da informação e comunicação na sua prática
pedagógica sem afastá-lo do serviço, o curso a ser desenvolvido poderá colocar o
professor de Física do Norte-Fluminense em outro patamar de formação e de atuação.
Viabilizado através de um ambiente que pretende implementar pressupostos
construtivistas por meio de Abordagem baseada em Problemas ou Casos (SAVERY &
DUFFY, 1995) e portanto com chances de romper com o modelo pedagógico tradicional,
esse curso pretende oferecer as condições adequadas para tornar os professores mais
instrumentalizados para repensar suas práticas pedagógicas e resolver problemas que
enfrentam em suas realidades específicas.
Também se pretende estimular o aspecto da colaboração no curso a ser
desenvolvido. Podemos dizer que colaborar é trabalhar em conjunto para produzir um
produto muito maior que a soma de suas partes (BARROS, 1994). Espera-se que ao
longo do processo, os participantes do curso desenvolvam uma compreensão
compartilhada mais profunda do que se tivessem trabalhado sozinhos ou apenas
contribuído com uma parte do produto final.
A questão geral que esse estudo propõe está relacionada com o desenvolvimento e
a interação de professores de Física de nível médio com um ambiente virtual de
aprendizagem com suporte na Internet. Questões mais específicas decorrem da questão
geral, como por exemplo:
Quais são as características de um ambiente construtivista de aprendizagem
(JONASSEN, 1996; COLLINS, 1997; STRUCHINER et al., 1998) a distância
que deverão ser implementadas, tomando como referencial a Aprendizagem
baseada em Casos?
Quais são as possibilidades e limites de um curso a distância com as
características descritas neste estudo frente à formação continuada de professores
de Física de nível médio?
Em que medida a prática dos professores pode ser renovada/modificada em
função da participação no curso a distância a ser desenvolvido?
Esta dissertação está organizada em sete capítulos. O segundo capítulo busca na
literatura o referencial teórico sobre Educação a Distância (EaD) que irá fornecer
elementos para a construção do ambiente e implementação do Curso Piloto a distância
que se deseja desenvolver. O terceiro capítulo apresenta um levantamento sobre as
diferentes abordagens pedagógicas em EaD, ressaltando-se o construtivismo como
elementos para o desenvolvimento de ambientes de aprendizagem. Este capítulo
apresenta ainda metodologia de Aprendizagem Baseada em Casos (ABC) e sua escolha
como modelo metodológico do Curso. O quarto capítulo apresenta o desenho instrucional
do ambiente desenvolvido e a descrição de seu protótipo. No quinto capítulo temos a pré-
testagem do Curso e as atividades desenvolvidas para formação dos orientadores que
trabalharam no protótipo. O capítulo seis apresenta a avaliação do Curso Piloto. No
último capítulo são apresentadas as considerações finais e indicadas recomendações em
função dos resultados obtidos.
Capítulo 2
Educação a Distância
Dividimos este capítulo em três seções: a primeira seção analisa conceitos de
Educação a Distância revistos na literatura especializada com objetivo de delinear o
conceito sobre o qual esse estudo se baseia; a segunda faz uma síntese da situação em que
se encontra tal modalidade de ensino em relação aos meios utilizados no processo
educativo; e a terceira seção trata da formação continuada de professores a distância.
2.1 Conceitos de Educação a Distância
A nova dinâmica social (a flexibilização da economia somada às novas formas de
organização do trabalho, e à revolução tecnológica) ao exigir um trabalhador mais
autônomo e que esteja em constante processo de aprendizagem, começa a levar a EaD,
conjugada às novas tecnologias da informação e comunicação, a desempenhar um papel
alternativo para formação da força produtiva, impulsionada por investimentos de
segmentos da sociedade além do educacional. A flexibilidade proporcionada pela EaD,
permitindo a adaptação daqueles que estudam e trabalham a horários convenientes, é uma
característica bastante importante numa época em que a noção de educação continuada
vem exigindo a renovação dos serviços educativos (WEDELL, 1970).
O desconhecido acerca de potencialidades e limitações da EaD tem gerado falsas
concepções sobre a natureza desse tipo de educação, favorecendo, de um lado, a idéia de
solução milagrosa para os problemas educacionais e de outro, a idéia de que ela seria uma
educação de segunda classe.
9
Com a finalidade de delinear um conceito de EaD que irá guiar este estudo,
apresentamos definições (ARETIO, 1987) de diversos autores buscando encontrar
semelhanças e diferenças que esclarecessem seus principais elementos:
"A Educação a Distância é uma estratégia para operacionalizar os
princípios e fins da educação permanente e aberta, de tal modo que qualquer
pessoa independente do tempo e espaço, possa converter-se em sujeito
protagonista de sua própria aprendizagem graças ao uso sistemático de
materiais educativos, reforçado com diferentes meios e formas de
comunicação ".
Miguel A . Ramon Martinez (1985)
"O Ensino a Distância é um sistema tecnológico de comunicação
bidirecional, que pode ser massivo e que substitui a Interação pessoal, na
sala de aula, de professor e aluno, como meio preferencial de ensino, pela
ação sistemática e conjunta de diversos recursos didáticos e pelo apoio de
uma organização e tutoria que propiciam a aprendizagem flexível dos
alunos ".
Lorenzo Garcia Aretio (1987)
"O Ensino a Distância é um tipo de método de instrução em que as
condutas docentes acontecem a parte das discentes, de tal maneira que
comunicação entre professor e o aluno se possa realizar mediante textos
impressos, por meios eletrônicos, mecânicos ou por outras técnicas ".
Michael G. Moore(1972)
"Educação a Distância é uma metodologia de ensino em que as
tarefas docentes acontecem em um contexto distinto das discentes, de modo
que estas são, em relação às primeiras, diferentes no tempo, no espaço ou em
ambas as dimensões ao mesmo tempo ".
Jaime Sarramona (1979)
"Ensino a Distância é um método de transmitir conhecimentos,
habilidades e atitudes, racionalizando, mediante a aplicação da divisão do
trabalho e de princípios organizacionais, assim como o uso extensivo de
meios técnicos, especialmente para o objetivo de reproduzir material de
ensino de alta qualidade, o que torna possível instruir um grande número de
alunos ao mesmo tempo e onde quer que vivam. E uma forma industrial de
aprender ".
OttoPeters(1983)
"Educação a Distância é uma modalidade mediante a qual se
transferem informações cognitivas e mensagens formativas através de vias
que não requerem uma relação de contiguidade presencial em recintos
determinados".
Victor Guédez (1984)
"O Ensino a Distância é um sistema multimídia de comunicação
bidirecional com o aluno afastado do centro docente e ajudado por uma
organização de apoio, para atender de modo flexível à aprendizagem de uma
população massiva e dispersa. Este sistema somente se configura com
recursos tecnológicos que permitam economia de escala".
Ricardo Marin Ibánez (1984)
As definições de EaD reunidas por (ARETIO op. cit. p. 9) apontam para a idéia de
um processo educativo organizado e sistematizado por recursos didáticos, no qual a
relação professor/aluno se dá de forma mediatizada, havendo necessidade de se
estabelecer uma dupla via de comunicação entre ambos.
Em sua definição, (ARETIO op. cit. p. 9) destacou o aspecto bidirecional da
comunicação nos cursos a distância, que é a relação dialógica entre professor-orientador e
aprendiz, pouco valorizada nas demais definições. Hoje considerada fundamental, essa
interação representa um grande desafio para a maior parte dos programas e cursos a
distância.
A análise de ARMENGOL (1987) de outras definições de Educação a Distância
revelou que elas têm em comum o fator distância, a necessidade de usar meios de
comunicação e estratégias de instrução diferente das usadas na educação presencial.
Outra definição importante que consideramos como referencial para este trabalho
é a de HOLMBERG (1986), para quem a EaD é essencialmente auto-estudo, porém o
estudante não está só, ao contrário, ele se beneficia da interação com seus tutores e com
seus pares. Realiza-se, portanto, uma conversação entre os atores envolvidos sobre a
matéria de estudo, estimulando os estudantes a participarem.
TRINDADE (1997) observa que a inclusão de sessões presenciais em um
programa de EaD é um tema polêmico. Ele salienta que algumas escolas de pensamento
sustentam a tese de que sessões presenciais são fundamentais em qualquer processo de
comunicação essenciais para a compreensão do comportamento humano. Por outro lado,
as razões contra a introdução de um volume significativo de atividades presenciais em
cursos a distância se baseiam na idéia de que elas subvertem a natureza da EaD, podendo
inclusive enfraquecer a motivação dos alunos para produzirem o esforço necessário ao
auto-aprendizado. Assim, é enfatizada a conjugação adequada entre elementos
presenciais e a distância bem como o planejamento objetivo das atividades como
condições essenciais para que os sistemas de Educação a Distância sejam eficientes.
SUAREZ (1991) assinala três elementos fundamentais no tocante à caracterização
da EaD: o aluno, o material didático e o apoio tutorial. É, portanto, um tipo de ensino em
que a auto-aprendizagem é o fator mais importante, devendo o material didático -
instrumento básico de trabalho a distância - conter toda a informação e orientação de que
o aluno necessita, de forma que o tutor desempenhe o papel de facilitador da
aprendizagem.
Segundo MATA (1995), é no aspecto da mediação que se faz necessário
qualificar a EaD, enfatizando que não se refere a qualquer mediação, mas trata-se de uma
mediação pedagógica. Na educação presencial, o professor desempenha o papel de
mediador principal entre o conhecimento e o aluno, ao passo que, na EaD, isso se
realiza através de materiais educativos como da ação do tutor.
Segundo nossa compreensão, a EaD tem no centro do processo educativo o
estudante, que deverá construir seu conhecimento a partir da interação com materiais
ricos, propícios ao seu desenvolvimento conceituai, que permitam acima de tudo a troca
de conhecimentos e experiências entre os participantes.
Com base nos conceitos revistos, podemos considerar que a EaD é um sistema
educacional centrado na aprendizagem do aluno, tendo-se em conta as características que
permitem distinguí-lo dos demais sistemas educativos e outras características que
julgamos relevantes, como por exemplo, o fato de a mediação pedagógica, estabelecida
na interação entre o tutor/orientador, o estudante e os materiais didáticos terem como
objetivo principal a reflexão crítica do estudante e a colaboração entre os participantes,
elementos fundamentais à construção do conhecimento.
2.2 Os meios utilizados na EAD
Parece não haver discordância entre os autores revistos na seção anterior no
sentido de que a EaD é uma prática educativa mediatizada, isto é, o contato entre o
professor e o aluno é feito pela intermediação de um ou vários meios de comunicação.
BORDENAVE (1987) lembra que, desde que as tecnologias de informação e
comunicação foram inventadas, a exemplo do próprio livro, o papel exclusivo do
professor como agente educador passou a ser compartilhado com os meios:
primeiramente, pelo texto didático; posteriormente, pelo correio e depois pelo rádio e
pela televisão e por diversos outros meios mais recentes.
De acordo com SARAIVA (1996), os meios de comunicação começaram a ser
usados a serviço da EaD no Brasil, entre 1922 e 1925, em iniciativas, como por exemplo,
da Radio Sociedade do Rio de Janeiro, de inserção de trechos da programação dedicados
à radiodifusão da cultura e ampliação do acesso à Educação. Em seguida, houve
experiências realizadas pela Marinha e pelo Exército através de material impresso
distribuído por correio, pelo Instituto Rádio Monitor em 1939, assim como pelo Instituto
Universal Brasileiro em 1941.
Durante a implantação da Lei 5692/71, houve uma série de programas que deram
início à teleducação brasileira, como por exemplo, o Programa Nacional de Teleducação
(Prontel), que levou avante o Projeto Minerva. Com apoio da Embrafilme, foram
produzidas películas educativas para uso em escolas de todo país. Essas iniciativas são
consideradas por SARAIVA (1996) como formas de EaD. A TV Escola de São Luiz do
Maranhão, a TVE do Rio de Janeiro, a TV Universitária do Recife, a TV Cultura de São
Paulo, a Feplan no Rio Grande do Sul, o IRDEB (Bahia), também investiram em
programas educacionais que representaram formas de empregar multimeios com fins
educativos no país (NISKIER, 1999).
O avanço da EaD relativo ao uso dos meios pode ser dividido, de acordo com
ROBERTS (1996) e SABA (1997), em fases cronológicas ou gerações. De acordo com
esses autores, a primeira geração se estendeu até a década de 60, fundamentando-se no
auto-aprendizado suportado por textos impressos distribuídos por correio.
Os textos impressos foram utilizados para divulgação de informações, instruções,
resumos de aulas, comunicações diversas e avaliações, possibilitando ao estudante uma
aprendizagem dependente unicamente de suas disponibilidades de tempo e dedicação.
Normalmente na forma de módulos, a distribuição de material impresso enfrenta
problemas quanto à falta de interatividade, ao atraso de postagens, além de requerer de
seus elaboradores atenção quanto à adequação do texto aos objetivos didáticos, sequência
e conhecimento das características intelectuais dos alunos.
A segunda geração, denominada de analógica por (ROBERTS op. cit. p. 13 ) e
(SABA op. cit. p. 13), teve como suporte, os textos impressos complementados com
recursos de vídeo e áudio. Esta combinação de meios manteve-se ativa entre as décadas
de 60 e 80, sem que tenha se criado uma fronteira visível entre a primeira e segunda
gerações que em muitos momentos se sobrepuseram.
Podemos reconhecer no rádio o mais autêntico veículo de comunicação de
massas, que ainda hoje pode ser considerado o que de fato atinge toda extensão do
território nacional, transmitindo mensagens que podem ser fonte de estudo, e ainda
gravadas para utilização posterior. Segundo SARAIVA (1996), o rádio apresenta a
possibilidade da oralidade, apesar de estabelecer a comunicação unidirecional, o que
implica passividade do aluno. Em todo o mundo são muitas as instituições de
ensino que ainda se valem da radiofonia para divulgação de programas de EaD,
notadamente quando se pretende atingir locais afastados em que não se pode garantir a
utilização regular de energia elétrica. Assim, programas desse tipo ainda sobrevivem em
países como os EUA, Canadá, Austrália e China (NISKIER, 1999). Apesar da
possibilidade de disseminação de uma programação educativa, ainda assim o rádio
apresenta problemas, como por exemplo, a disponibilidade dos trabalhadores nos horários
da programação.
Na denominada segunda geração da EaD, vemos a televisão como um meio
fascinante, propiciando a comunicação visual, mas ainda em um único sentido
(SARAIVA, 1996). É sem dúvida um dos meios mais importantes para transmissão de
conteúdos, embora não possa dedicar grande tempo de sua programação a atividades
culturais (considerando-se a TV comercial que é a mais acessível à população).
As programações educativas veiculadas pela TV também exigem a submissão do
estudante a horários fixos, o que atrapalha a flexibilidade do processo educativo, levando
muitas vezes à desistência, na medida em que dificuldades surgem pela impossibilidade
do estudante manter o ritmo e ter acesso a sequência total de informações. Além disso,
programas de TV demandam altos custos de produção e transmissão (SARAIVA, 1996),
o que inviabiliza seu uso maciço para fins educativos.
O telefone representa uma possibilidade de interação direta entre orientadores e
participantes do programa educativo, por isso em quaisquer sistemas de EaD o telefone
terá papel importante como elemento auxiliar (SARAIVA, 1996).
A terceira geração, denominada de digital por (ROBERTS op. cit. p. 13) e (SABA
op. cit. p. 13), baseia-se no uso de suportes quase que exclusivamente eletrônicos, sendo
na opinião de WILSON & SPODIK (1997) favorecida pelos seguintes fatores: (i) a
eficiência e o baixo custo dos sistemas de telecomunicações digitais e via satélite, (ii) a
interatividade crescente e o custo decrescente dos computadores pessoais, (iii) a
amplitude e o custo acessível das redes de computadores locais e remotas (Intranet e
Internet). Os meios utilizados e mais difundidos na terceira geração de EaD são: o
computador, a Internet, a TV interativa, a videoconferência e o correio eletrônico.
Segundo SARAIVA (1996), a disseminação da Internet recentemente, tem feito
ressurgir com novo ímpeto o interesse em EaD como modalidade complementar,
15
substitutiva ou integrante do ensino presencial, por possibilitar: (i) transmissão de
conteúdos, oferecendo-se oportunidades de educação em áreas remotas e desprovidas de
ensino de 3
o
grau; (ii) oportunidade de aprendizado em casa ou no trabalho em qualquer
horário, ampliando as possibilidades de educação continuada, (iii) a individualização do
processo educativo devido à possibilidade de interatividade, (iv) a organização do
trabalho em equipes de cooperação, envolvendo pessoas geograficamente dispersas e
trabalhando em horários distintos.
As novas tecnologias de informação e comunicação também abrem oportunidades
para integrar e expandir os materiais instrucionais utilizados na EaD no formato de
hipertextos, por meio de múltiplas ligações entre eles. Além disso, possibilitam formas
de interação síncronas e assíncronas entre tutores/orientadores e participantes.
A terceira geração da EaD no Brasil ainda se inicia (GOMIDE, 1996), mas já
contamos com várias iniciativas por parte de instituições de ensino superior, como por
exemplo:
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) - pós-graduação em Engenharia
de Produção (mestrado e doutorado), envolvendo universidades e empresas de
grande porte no cenário nacional, como a Petrobrás (http://www.ufsc.br);
Faculdade Carioca - programa de graduação (base no Lotus Notes/IBM) nas áreas
de Informática, Economia, Comunicação Social, Desenho Industrial, Matemática
e Letras (http://www.cariocavirtual.com.br);
Escola do Futuro (USP) - oferecimento de cursos diversos voltados para
atualização e formação continuada de professores de 1
o
. e 2
o
. Graus;
Universidade Nacional de Brasília (UnB) - pós-graduação Lato Sensu voltado
para a formação de orientadores (especialistas) em EAD, envolvendo pessoal de
Universidades, diversas Instituições de Ensino e empresas;
Universidade Católica de Brasília (UCB) - programa de mestrado em informática,
com área de concentração em Gerenciamento de Sistemas de Informação;
Universidade Federal Paulista (Escola Paulista de Medicina) - programas de
formação continuada disponibilizados na Internet para profissionais da Saúde,
com ênfase na educação em Biologia Molecular e Engenharia Genética;
16
Unirede - consórcio de sessenta e duas universidades da rede pública que começa
a encaminhar ações na área da formação de tutores para cursos a distância.
Entretanto, precauções devem ser tomadas para que o processo educativo a
distância não se concentre nos materiais ou naqueles que o produzem e sim no educando
e no que ele precisa. Não podemos, por exemplo, atribuir a responsabilidade pela
interatividade e pela construção de conhecimentos por parte do estudante à flexibilidade e
agilidade das novas tecnologias.
Outra concepção muitas vezes equivocada é a de que um curso na Internet poderia
atender dezenas e até centenas de alunos. Já que o processo educativo desejável exige
individualização, colaboração e atendimento personalizado, um tutor/orientador deste
tipo de curso não poderá orientar muito mais do que vinte estudantes. Entretanto, ainda
persiste a idéia equivocada de que a EaD é um processo educativo que pode atender a um
número muito maior de pessoas simultaneamente do que o processo presencial.
Sabemos que o uso das novas tecnologias da informação e comunicação na EaD
podem facilitar a transmissão de conteúdos e a interação entre os participantes de um
curso a distância, entretanto seu uso não implica necessariamente mudanças
fundamentais na concepção e nos métodos de ensino e aprendizagem. Superar estes
desafios continua a ser a motivação para o desenvolvimento de estudos e de metodologias
adequadas à terceira geração de meios utilizados na EaD.
2.3 A Formação Continuada a Distância
As exigências sociais, econômicas e culturais das sociedades do terceiro milênio
determinam que uma quantidade cada vez maior de adultos necessita de Educação, não
somente pelo prazer de aperfeiçoar seus conhecimentos ou desenvolvimento pessoal, tal
como ocorria no passado.
A forma mais antiga de Educação Continuada que se manifestou a partir do século
XIX, através dos "Círculos de Estudo" nas "Cooperativas de Trabalho"
(LANDSHEERE, 1978), eram formados por profissionais que se agrupavam
espontaneamente para estudar mesmo após terem concluído suas formações profissionais.
17
As cooperativas de trabalho se constituíam de ajudas mútuas em um projeto comum de
um grupo de pessoas.
Para FRAURE (1972), a idéia de Educação Permanente, embora tenha tomado
corpo há algumas décadas, não se constitui em uma descoberta da nossa época, haja vista
a noção de continuidade no processo educativo que é antiga. Conscientemente ou não, o
homem não cessa de buscar uma melhor instrução e educação ao longo de toda a sua
vida. Para este autor, o termo Educação Permanente é um novo conceito aplicado a uma
velha prática, inicialmente aplicada a Educação de Adultos, aos cursos noturnos, e
finalmente à formação profissional contínua.
FRAURE (1972) afirma ainda que a Educação Permanente "torna-se a expressão
de uma relação que compreende todas as formas, expressões e momentos do ato
educativo". Já a Educação do Adulto corresponde a definições múltiplas, que vão desde
a Educação primária para adultos, o complemento da Educação elementar ou profissional
para indivíduos que receberam ensino incompleto, o prolongamento da Educação face à
novas exigências sociais até ao aperfeiçoamento da Educação dos que possuem formação
de nível elevado.
De acordo com os autores revistos, a Educação Continuada deve se constituir em
uma preocupação de todo profissional, sem no entanto ter caráter obrigatório, podendo
advir de uma manifestação espontânea. LANDSHEERE (1978) foi visionário ao prever
que a formação docente para o ano 2000 seria a Educação Continuada, impondo-se como
uma necessidade para o professor, considerado profissional intelectual.
Segundo COLLARES & MOYSES (1995), o processo de formação continuada do
professor tanto em escolas de nível médio (antigas Escolas Normais) como nas
universidades, em geral é precário. Percebe-se um distanciamento entre a formação
inicial do professor e sua prática frente às demandas educacionais atuais. Este cenário não
só reforça a necessidade de uma capacitação em serviço, que ao mesmo tempo alimenta o
professor com novas informações, e permita a correção de distorções do início do
processo.
Em relação ao processo de formação contínua, BARBIERI et al. (1995) afirmam
que este deve possibilitar que conteúdos básicos sejam trabalhados diante das condições
em que se encontra a escola, convivendo com dificuldades em diversos níveis estruturais
18
e do conhecimento. Segundo as autoras, independentemente das condições nas quais
efetuou a formação inicial e da situação da escola, o professor precisa ter continuidade
nos estudos não apenas para ficar atualizado quanto às modificações na área do
conhecimento que leciona, mas, por uma razão mais premente que se refere à própria
natureza do fazer pedagógico, isto é, o domínio da praxis, que é histórica e inacabada.
A questão da Educação Continuada possui uma íntima ligação com a EaD, tendo
sido motivo de atenção na maioria das universidades abertas (RUMBLE & KEEGAN,
1982). Segundo um levantamento feito por HOLMBERG (1986), das 203 instituições
que ofereciam cursos a distância que responderam a um questionário sobre os clientes
para os quais direcionavam seus programas, 42% apontaram a Educação Continuada
como sua principal função.
Segundo HOLMBERG (1986), a EaD pode ser utilizada pelo adulto que deseja,
em seu tempo livre, educar-se, seja para melhorar ou atualizar o seu conhecimento
profissional ou para ampliar os seus horizontes intelectuais.
PEREIRA (1975), YALLI (1984) e SEWART (1981) concordam que a EaD seja
uma alternativa para a Educação Continuada, especialmente em áreas onde a evolução do
conhecimento é muito rápida.
A melhoria da qualidade do ensino, alvo das políticas públicas no Brasil e na
América Latina de um modo geral, conduz a uma estratégia necessária que é a
requalificação docente. E não se trata de formar o professor para transmitir regras e
conhecimentos acabados. Por isso, o processo pedagógico deve privilegiar a
aprendizagem e não o ensino, desenvolvendo sobretudo a capacidade de aprender a
aprender; a necessidade de cooperação na busca de conhecimentos novos; a motivação
para a autodidaxia permanente; o domínio do suporte tecnológico para o acesso à
informação - (BRASIL 1994).
Não só os cursos de formação docente (Licenciaturas e Normal Superior) passam
a fazer parte de uma estratégia mais ampla do sistema educacional, como as propostas de
qualificação em serviço assumem um papel privilegiado nessa perspectiva, onde a
capacitação obtida através das formas tradicionais de preparação profissional
rapidamente se tornam ultrapassadas e a exigência de formação continuada transforma-se
em desafio (BARRETO, 1993).
19
Assim, o professor deverá adquirir novas competências que se relacionam não só
com as novas tecnologias de informática (NTI), como também com novas abordagens
pedagógicas e com o aprofundamento dos conteúdos específicos para os quais se
encontra habilitado a desempenhar sua docência (DEMO, 1996).
20
Capítulo 3 Abordagens Pedagógicas
em EAD
Neste capítulo são apresentados os principais pressupostos teóricos que serviram
de base para a construção do ambiente construtivista de aprendizagem a distância
proposto neste estudo.
O ambiente tem como principal característica o uso do suporte computacional da
Internet, podendo ser acessado pelo professor-cursista a qualquer momento, oferecendo a
partir da metodologia de Aprendizagem Baseada em Casos (ABC) oportunidade para
discussão de problemas reais da sala de aula de Física, que serão enfocados através das
vertentes do conteúdo, das inovações tecnológicas e das novas abordagens pedagógicas
para o ensino de Física.
3.1 O Construtivismo e a Educação a Distância
Dentre os modelos de aprendizagem, o mais tradicional é o chamado de
comportamentalista ou objetivista. Esta abordagem baseia-se na aprendizagem
reprodutiva (memorização) na qual o aluno é entendido como um sujeito passivo que
recebe informações prontas. O ensino, segundo essa concepção, é encarado apenas
como transmissão de conhecimento.
Uma forma diferente de ver o processo de aprendizagem está implícita no modelo
construtivista, que assume fundamentalmente a idéia de que o indivíduo é agente ativo de
seu próprio conhecimento, isto é, ele constrói significados e define o seu próprio sentido
e representação da realidade de acordo com suas experiências e vivências em diferentes
contextos (CUNNINGHAM et al, 1993). A abordagem construtivista pode ser
subdividida, segundo DESCHENES (1994) em cognitivista, colaboracionista e sócio-
cultural.
21
No modelo cognitivista, em lugar de ser apenas transmitido, o conhecimento é
criado ou construído pelo educando. O professor serve como o mediador do processo de
aprendizado facilitando a construção a partir de um conhecimento profundo sobre o
conteúdo estudado, provendo explicações, sem no entanto resolver o problema do
educando, questionando inteligentemente e orientando sua organização do estudo.
No modelo colaborativo, o aprendizado acontece na interação do indivíduo com
os outros. É pela contribuição de diferentes entendimentos de uma mesma matéria que se
chega a um conhecimento compartilhado. O professor age como um facilitador do
compartilhamento em vez de controlar a entrega do conhecimento pronto (BEHRENS,
2000).
O construtivismo sócio-cultural (VYGOTSKY, 1984) pressupõe que o processo
de ensino aprendizagem não pode estar dissociado do contexto histórico-cultural do
aprendiz. Como consequência, a aprendizagem será mais significativa quanto mais
próxima da experiência do aluno. Por essa razão o professor não deve basear seus
métodos de ensino em uma única representação da realidade nem em uma interpretação
baseada em termos culturais únicos (BEHRENS, 2000).
A aprendizagem construtivista, segundo JONASSEN (1996), pode ser apoiada por
ambientes de Educação a Distância através de uma variedade de tecnologias. Estes
ambientes podem substituir o controle do professor por ambientes de trabalho que
estimulem estratégias de pensamento e discussão e que apóiem os processos de
construção do conhecimento.
A perspectiva construtivista associada à Educação a Distância aponta para a
importância crescente da interatividade no processo pedagógico. HOFFMAN e MACKIN
(1992) acreditam que é preciso conhecer as diversas interações existentes no processo de
aprendizagem para poder criar cursos a distância de qualidade. Estes autores propõem
que se considere quatro interações possíveis na Educação a Distância: aluno/interface do
ambiente virtual, aluno/conteúdo, aluno/orientador e aluno/aluno.
A primeira interação proporciona aos aprendizes a participação no processo
educativo. A interação aprendiz/interface é a "linha vital" entre o professor e o aluno,
pois se ela falha, o processo educativo também pode falhar. Entre outras medidas, é
preciso tornar a tecnologia o mais amigável e transparente possível.
22
A interação entre o aprendiz e o conteúdo, chamada por (HOFFMAN e MACKIN
op. cit. p. 21) de "interação intelectual", é aquela em que o entendimento, a percepção e
as estruturas cognitivas do aluno são transformadas. A visualização do conteúdo é crítica
para estimular satisfatoriamente não só a percepção e a cognição, mas também a atenção
do aluno por longos períodos de tempo.
A terceira interação é a que acontece entre aluno e professor. O papel do tutor
segundo (HOFFMAN e MACKIN op. cit. p. 21) é o de dirigir o fluxo da informação para
o estudante, baseado em duas categorias gerais: o toque humano e o de orientador da
aprendizagem. O primeiro consiste na capacidade de estimular e motivar o aluno, manter
o seu interesse, dar apoio e encorajá-lo no processo de aprendizagem, desenvolvendo um
relacionamento humano com ele. O segundo visa estabelecer orientação para utilização
otimizada do material didático da mediação.
De acordo com (HOFFMAN e MACKIN op. cit. p. 21) as interações aluno/aluno
são frequentemente as mais produtivas experiências de aprendizagem. Essas interações,
quando bem projetadas, oferecem a oportunidade para os estudantes expandirem e
aplicarem o conhecimento, o que é muitas vezes difícil no estudo individual.
3.2 Aprendizagem Baseada em Casos
A metodologia da aprendizagem baseada em casos (ABC) está enraizada nos
princípios fundamentais do construtivismo de formação de um aluno autônomo capaz de
relacionar teoria e prática, de buscar informações e utilizá-las no processo de tomada de
decisão.
A ABC é uma abordagem na qual o estudante aprende a partir da colocação de um
problema ou caso que pode ser real ou simulado (SAVERY & DUFFY, 1995). Apesar de
haver várias estratégias de implementação dessa abordagem, em geral os estudantes
interagem com o problema, obtêm dados, formulam hipóteses e tomam decisões
enfrentadas por profissionais em seu quotidiano.
Os casos são problemas baseados em situações reais que possibilitam aos alunos
vivenciarem as etapas de coleta de informação, de análise e de tomada de decisões pelas
23
quais um profissional passa quando se encontra diante destas situações em seu quotidiano
do trabalho.
Quando se tem como objetivo a aprendizagem, os casos devem ser selecionados
em função do quanto eles podem ajudar os estudantes a pensar (SHANCK & CLEARY,
1995). O valor pedagógico da ABC está em possibilitar ao aluno não apenas o exercício
de solução de problemas mas, essencialmente, que este possa desenvolver uma postura
que conduza à geração de questões e à coleta de informações que o auxiliem a se tornar
capaz de definir e conceituar os problemas e perseguir soluções compatíveis diante de
cada nova situação (STRUCHINER & REZENDE, 1998).
Podemos usar o modelo de construção de casos desenvolvido por STRUCHINER
& REZENDE (1998) como referência para analisarmos as etapas que o aluno percorre até
chegar à solução de um caso. Primeiramente, o caso é introduzido a partir de sua
descrição detalhada e do seu contexto. É importante que esta explicação seja rica o
suficiente para possibilitar que o aluno, por ele mesmo, possa identificar os elementos
críticos da situação em meio às diferentes informações que a descrição pode oferecer. Por
isso, não devem ser apenas colocados os aspectos relativos à situação, mas vários
detalhes que exercitem a capacidade de análise e seleção de fatos relevantes pelo aluno.
Quando se sinta capaz, o aluno poderá então formular a proposta de solução ou
buscar informações que o auxiliem nesta tarefa. Existem vários elementos que podem ser
identificados como importantes nessa etapa: acesso a referências bibliográficas,
especialistas, bancos de dados, bancos de perguntas mais frequentes ou casos
semelhantes que poderiam fazer parte de um conjunto de casos ou fenômenos. O aluno
poderá, também, buscar orientação individualizada e analisar o caso sob diversos olhares
e formas de representação do problema através de visões disponibilizadas de diferentes
atores envolvidos no caso. As visões são elementos que devem oferecer informação,
suporte e orientação para o aluno tanto para formular o problema como para gerar
hipóteses e soluções. Aliás, no processo de solução de problemas, a formulação da
questão-chave, a geração de hipóteses e as decisões estão intimamente interligadas e são
críticas para a aprendizagem.
A etapa de verificação, a última do processo, é um elemento de análise (se feita
por um especialista) ou de auto-análise do aluno para rever e refletir sobre os seus
24
processos de decisão vivenciados na solução do caso e chegar a conclusões sobre seu
desempenho.
A ABC pode ser conjugada com outras abordagens pedagógicas, como por
exemplo, a aprendizagem colaborativa. Sabemos, com VYGOTSKY (1984), que a
interação social tem importância central no desenvolvimento cognitivo do indivíduo.
Segundo esse referencial, o estudante aprende e se desenvolve realizando uma tarefa
através da interação com os outros. Esse princípio tem servido de inspiração para a
concepção de aprendizagem colaborativa que se refere à construção de conhecimentos de
um grupo que compartilha objetivos com a intenção de criar algo novo. Não se trata
apenas da troca de informações ou de instruções entre os participantes. Na aprendizagem
colaborativa, abordada na próxima seção, a soma dos esforços individuais produzem um
resultado que não é apenas igual à soma do trabalho de cada um, mas um produto maior
do que essa soma (KAYE, 1991).
3.3 Aprendizagem Colaborativa
Há autores (BARROS, 1994; KIESLER, 1991; HARASIN, 1993; HILTZ &
TUROFF, 1993) que ressaltam a importância da cooperação na aprendizagem e no
desenvolvimento do sujeito, ressaltando porém a influência do tutor (orientador), que
precisará assumir posturas diferentes das tradicionais.
Cooperação é originada na necessidade de realização de tarefas para as quais se
sente necessidade de ajuda. Assim esse processo é um sistema de trocas de elementos
biológicos, psicológicos e sociais inter-relacionados (BARROS, 1994).
O conceito de cooperação baseia-se na definição de organização como um sistema
que conscientemente coordena atividades ou forças de pessoas (BARNARD, 1988).
A cooperação pode ser apoiada por artefato tecnológico. O trabalho em grupo
pode ser desenvolvido por contato direto ou distribuído em vários ambientes interligados
via computador (ELLIS, 1991). Para MACGRATH(1990), é difícil prever que forma de
atuação dos participantes será satisfatória para cada objetivo de aprendizagem, por isso o
ambiente deve propiciar modalidades de organização do trabalho do grupo e
25
interatividade que variam desde a forma direcionada até a forma aberta, desde o síncrono
até o assíncrono.
De acordo com (ELLIS op. cit. p. 24), o trabalho cooperativo propicia uma
mudança de ênfase no uso do computador. O mais importante passa a ser como facilitar
a interação entre as pessoas e auxiliar na resolução de problemas.
No que se refere ao ensino colaborativo, o professor assume a postura de
coordenador de atividades, motivador, criador dos ambientes que devem estimular os
estudantes. Estes passam a ver seus pares como base de conhecimentos, e assim a
competição tende a diminuir, diferentemente do que é comum ocorrer no ensino
tradicional.
Para MANNING e LUCKING (1991), a escola tradicional estimula a competição,
em contrapartida, o aprendizado cooperativo contribui positivamente para o sucesso
acadêmico, as habilidades de convivência social e a auto-estima. Para implementar
processos educativos baseados na Aprendizagem Colaborativa é necessário que: (i) os
alunos sejam estimulados a trabalhar em grupo, (ii) o trabalho cooperativo não seja
imposto de cima para baixo, mas seja decisão do grupo após a análise dos prós e contras
pelos envolvidos, (iii) os problemas propostos tenham um grau de dificuldade razoável de
forma que gerem motivação para que sejam resolvidos em grupo.
FARREL & OLIVEIRA (1993) apresenta características do antigo e do novo
paradigma educacional com base nos pressupostos da aprendizagem colaborativa (AC)
comparadas às características do antigo paradigma (Quadro 3.1). Observa-se que
características do novo paradigma educacional podem também ser consideradas comuns
ao construtivismo e à Aprendizagem baseada em Casos (ABC).
26
Quadro 3.1
Características dos Paradigmas Educacionais: Tradicional e Novo
Paradigma Educacional Tradicional Novo Paradigma Educacional
Conhecimento Transmissão professor para o aluno
Construção coletiva pelos
estudantes e professor
Estudantes
Passivos, "tabulas rasas", a serem
preenchidas pelo conhecimento do
professor.
Ativos, construtores,
descobridores, transformadores
do conhecimento. Decidem.
Objetivo Professor Classificar e selecionar os alunos. Desenvolver talentos dos alunos.
Relação
Impessoal entre estudantes e entre
professor e estudante.
Pessoal entre os estudantes e
entre professor e estudante.
Contexto
Aprendizagem competitiva,
individualista. Informação limitada.
Equipes cooperativas de
professores e alunos.
Concepção de
Educador
Qualquer um pode ensinar
Ensinar é complexo e requer
considerável formação.
3.4 Ambientes Construtivistas de Aprendizagem
A concepção pedagógica de um ambiente construtivista de aprendizagem
(WILSON, 1996, STRUCHINER et al., 1998) tem como objetivo favorecer a
participação ativa do aluno no seu processo de aprendizagem e a troca de experiências
entre os participantes, utilizando elementos teóricos da Aprendizagem Baseada em Casos
(SAVERY & DUFFY, 1995, SCHANK & CLEARY, 1995) e do desenvolvimento a
partir da interação social entre indivíduos (VYGOTSKY, 1984) como fundamento da
aprendizagem cooperativa.
CUNNINGHAM et al. (1993) definem finalidades de um ambiente construtivista
de aprendizagem a distância a partir dos princípios teóricos desse enfoque: (i) possibilitar
ao participante a decisão sobre tópicos e subtópicos do domínio a serem explorados, além
dos métodos de estudo e das estratégias para a solução de problemas; (ii) oferecer
múltiplas representações dos fenômenos e problemas estudados, possibilitando que os
27
participantes avaliem soluções alternativas e testem suas decisões, (iii) envolver a
aprendizagem em contextos realistas e relevantes, isto é, mais autênticos em relação às
tarefas da aprendizagem; (iv) colocar o professor/orientador no papel de um consultor
que auxilia os participantes a organizarem seus objetivos e caminhos na aprendizagem;
(v) envolver a aprendizagem em experiências sociais que reflitam a colaboração entre
professores-alunos e alunos-alunos; e (vi) encorajar a meta-aprendizagem.
Para JONASSEN (1996), um ambiente de aprendizagem será construtivista se
promover aprendizagem significativa que seja resultante de: (i) experiências genuínas;
(ii) integração de novas ideias dos alunos a seu conhecimento anterior; (iii) reflexão e
análise das experiências dos alunos; (iv) um trabalho colaborativo entre alunos; (v) um
objetivo, uma intenção do estudante; (vi) resolução de problemas do mundo real, portanto
complexos, irregulares e sem uma única solução; (vii) uma atividade no mundo real
significativo ou simulada em algum caso ou problema em vez de modelos abstratos; (viii)
uma atividade coloquial mediante a conexão de alunos através da cidade ou através do
mundo.
WILSON (1996) classifica como ambientes mais ricos e compatíveis com a
aprendizagem construtivista àqueles que colocam o aluno no controle do processo de
aprendizagem e que, para tanto, possuem elementos como ferramentas para construção e
exemplos de fenômenos a serem estudados.
A aprendizagem baseada em casos é uma estratégia compatível com as finalidades
de um ambiente construtivista, já que se coaduna com o uso de ferramentas para
construção na medida em que a solução do problema pode ser vista como um processo de
construção.
O problema
Um ambiente Construtivista de Aprendizagem (JONASSEN, 1998) tem como
eixo um problema que guia a aprendizagem, gerando dúvidas, questionamentos e
estimulando o aluno a pesquisar, coletar informações para solucioná-lo.
O contexto da representação do problema assemelha-se a uma história real da qual
uma série de fatos decorre, gerando questões que devam ser resolvidas. Struchiner &
28
Rezende (1998) julgam importante que a explicação do problema seja rica o suficiente
para possibilitar que o aluno, por ele mesmo, possa identificar os elementos críticos da
situação em meio às diferentes informações que a descrição possa oferecer.
(JONASSEN op. cit. p. 27) acredita que o problema não deva ser circunscrito, ao
invés disto, ele deve ser fracamente estruturado de modo que alguns aspectos do
problema surjam e sejam definidos pelos alunos. Para o autor, o problema: não inclui
metas explícitas e formais; possui múltiplas opções, caminhos ou ainda a não solução do
todo; possui múltiplos critérios de avaliação das soluções; apresenta incertezas sobre
quais os conceitos, regras e princípios são necessários para solucionar o problema ou
como eles se organizam; não oferece regras ou princípios gerais para descrever ou prever
circunstâncias do caso; requer do aluno o julgamento sobre o problema e defesa de sua
posição expressando sua opinião pessoal.
I
Situações Relacionadas
(JONASSEN op. cit. p. 27) recomenda que o Ambiente Construtivista de
Aprendizagem apresente, dentre as informações disponíveis, casos semelhantes ao caso
estudado com o objetivo de auxiliar os alunos na compreensão dos fatos implícitos na
representação do problema. A utilização de casos relacionados ao problema estudado
serve para criar modelos semelhantes, que facilitem a estruturação da memória do aluno,
provendo-o com representações ou experiências que ele ainda não vivenciou. Os casos
relacionados auxiliam a representar a complexidade do caso, permitindo múltiplas
perspectivas e interpretações do problema que está sendo analisado pelo aluno.
29
Capítulo 4
Desenvolvimento do Ambiente Construtivista de
Aprendizagem a Distância para Formação Continuada
de Professores de Física
Neste capítulo serão apresentadas as principais etapas do desenvolvimento do
Ambiente Construtivista de Aprendizagem a Distância para Formação Continuada de
professores de Física, (ACAD-FÍS) objeto deste estudo, incluindo: o desenho
instrucional, a interface do ambiente, descrição do protótipo e a descrição do gerenciador
de cursos Universite ©.
4.1 Desenho Instrucional do Ambiente
Para modelar o ACAD-FÍS nos baseamos no modelo de STRUCHINER &
REZENDE (1998) que serve de referencial para a construção de casos em sistemas
interativos (Figura 4.1) excluindo a etapa de verificação, na medida em que não seria
possível a implementação das soluções pelos professores.
A situação-problema é apresentada a partir da descrição de uma situação
particular, contextualizada por meio de um conjunto de elementos. A riqueza da
descrição é importante na medida em que vai deixar a critério do aluno selecionar
material para seu estudo recorrendo aos vários tipos de informações como, por exemplo,
as visões de especialistas, referências bibliográficas ou da Internet, situações
relacionadas e textos sobre o conteúdo disponíveis no ambiente como subsídio para
formulação de uma solução, segundo os passos básicos definidos: (i) identificação do
problema; (ii) construção de uma hipótese de solução; (iii) busca por materiais de
30
pesquisa; e (iv) apresentação de uma solução. É claro que esses passos não exigem que o
aluno siga necessariamente uma ordem linear de acesso às páginas do ambiente. Ele
deverá optar pelas páginas de acordo com suas necessidades para chegar à solução.
Figura 4.1: Modelo para a construção de casos em sistemas interativos
(Struchiner & Rezende, 1998) modificado.
Pelo fato de o ambiente construtivista de aprendizagem a ser desenvolvido
permitir a navegação livre não-linear, na medida em que o usuário pode optar pelas
páginas que julgar necessária para resolver o problema, utilizamos o método OOHDM
(Object Oriented Hypermedia Design Method, SCHWABE, 1994) para sua especificação
formal.
O método de projeto hipermídia orientado a objeto desenvolvido por SCHWABE
& ROSSI (1994), utiliza um processo dividido em quatro etapas: a modelagem
conceituai, a modelagem navegacional, o desenho abstrato da interface e a
implementação.
O modelo conceituai é descrito a partir das primitivas objetos, classes, relações e
subsistemas. As classes, subsistemas e relações são definidas a partir da semântica do
conteúdo através da construção de hierarquias, da relação de atributos, da melhoria das
relações com informação da cardinalidade e do fornecimento de informação específica.
31
O esquema conceituai é um conjunto de objetos e classes, ligados por relações onde os
objetos são instâncias de classes. A definição das ligações independe de semânticas de
navegação particulares. Esta semântica é definida na etapa seguinte quando são definidas
as ligações.
A modelagem conceituai consiste em se tomar a perspectiva conceituai em que se
projeta um diagrama que representa os conceitos no domínio que está sendo estudado.
Esses conceitos serão naturalmente relacionados às classes que vão executá-los. Um
modelo conceituai deve ser projetado sem a preocupação com a etapa de implementação,
podendo ser considerado independente.
A modelagem de navegação deriva do modelo conceituai, gerando as estruturas de
navegação levando em conta o que os usuários irão fazer usando o sistema. Derivam das
classes os nós, as ligações e estruturas de acesso.
Os nós em geral são constituídos pelas telas que compõem o sistema. Uma classe
de nó é especificada a partir de classes conceituais de que deriva (conteúdos), seus
atributos e âncoras, que possui.
As ligações implementam relações do esquema conceituai, definindo-se atributos,
origem e objeto-alvo.
O modelo navegacional é definido por seus nós, ligações e estruturas de acesso
por onde o usuário irá iniciar sua navegação.
Na etapa do projeto de interface abstrata a metáfora da interface e os estilos de
interação são definidos, REZENDE (1996). E preciso especificar os objetos que estão
disponíveis ao usuário, que são construídos usando objetos fornecidos pelo programa de
autoria, como botões, campos de texto e campos gráficos, e de que forma estes objetos
serão percebidos.
No método OOHDM, (SCHWABE & ROSSI, 1994) o modelo abstrato de
interface é definido a partir da especificação das classes de interface e suas conexões com
classes de navegação.
O comportamento dinâmico da interface é especificado como "métodos" na visão
abstrata de dados. Estes podem estar associados com eventos externos, como seleção de
âncoras, ou com eventos internos, como abertura ou fechamento de um nó. O
32
comportamento da interface completa o comportamento navegacional com a
especificação dos aspectos cognitivos da navegação e da interface.
É importante assumir que o desenho da interface de um ambiente deve estar
centrado no usuário (REZENDE, 1996). Uma interface deve ser clara, permitindo que o
usuário se concentre na tarefa que realiza.
A utilização e interação dos usuários com a interface podem ser avaliadas em
questionários, entrevistas durante a utilização, análise de tarefas propostas e executadas,
etc.
Baseado nos modelos gerados nas etapas anteriores é implementado o sistema.
A questão fundamental da especificação dos requisitos do ACAD-FÍS foi tomar
como referência o modelo para a construção de casos em sistemas interativos (Figura 4.1)
para desenvolvimento de características do sistema que pudessem materializá-lo.
Modelagem Conceituai
Levou-se em conta os usuários e as tarefas que seriam realizadas. O modelo
conceituai constitui-se de um ambiente não linear gerado a partir das classes
fundamentais "Ficha para Solução", "Situação-problema" e "Banco de Informação". A
classe "Banco de Informação" inclui vários tipos de informações que dão origem a
subclasses como por exemplo, "Referências Bibliográficas e da Internet", "Visões de
Especialistas", "Situações Relacionadas" e "Textos sobre o Conteúdo".
O modelo conceituai da figura 4.2 baseado no esquema conceituai enriquecido
com os atributos das classes e subclasses é descrito a partir das classes e das relações
entre elas.
33
Figura 4.2: Esquema Conceituai do ACAD-FIS
As três classes que integram o esquema conceituai do ACAD-FÍS foram
consideradas adequadas para implementação da ABC e coerentes com o modelo de
construção de casos utilizado. A página que apresenta as situações-problema permite
escolha da situação que o aluno quer resolver. Da classe Banco de Informações são
derivadas páginas (acessadas a partir de botões presentes em todas as páginas) contendo
vários tipos de informações (subclasses), como por exemplo, Referências Bibliográficas
relacionadas ao conteúdo do curso, Visões de Especialistas, Situações Relacionadas e
Textos sobre o conteúdo.
34
Modelagem Navegacional
O modelo de navegação (Figura 4.3) é derivado do modelo conceituai incluindo
os objetos de navegação, as âncoras e as estruturas de acesso. É possível que o usuário
inicie a navegação por qualquer uma das classes do sistema.
Figura 4.3: Esquema de navegacão do sistema não linear ACAD-FÍS
4.2 Interface do ACAD-FIS
Utilizamos as recomendações de MARTIN (1992) para adequar a interface do
ACAD-FIS às necessidades dos usuários. Foram considerados relevantes os seguintes
pontos: (i) o conteúdo de informação deve ser objetivo evitando-se assim páginas muito
extensas, (ii) as páginas conteriam de fato as informações necessárias à realização do
curso evitando remeter a outras fontes externas.
35
A estrutura e o design das páginas levaram em consideração três fatores básicos:
(i) o tempo de acesso, (ii) a clareza de visualização e (iii) a funcionalidade. Dessa forma
foi possível estabelecer dois grupos de questões a serem levadas em conta no
desenvolvimento do sistema, relacionadas à comunicação visual e a interação homem-
computador.
A preocupação com clareza e minimização da desorientação do aluno e de
qualquer desconforto para o aluno são importantes. Páginas com fundos texturizados
frequentemente proporcionam leitura difícil, apesar de parecerem sofisticadas. Neste caso
a função deve prevalecer à forma (MARTIN op. cit. p.34), portanto escolhemos fundos
lisos com cores repousantes que tendem a oferecer melhores resultados de visualização.
Outro ponto considerado no desenho da interface do ACAD-FIS foram as baixas
taxas de transmissão de dados virtuais nas redes de comunicação digital no interior do
país. A inserção de muitas figuras e gráficos que poderiam ilustrar situações e textos
tornaria a carga da página lenta, tendo sido observada a real necessidade de seu uso.
Também se levou em conta que os ícones utilizados deveriam sugerir a idéia à qual se
referem, (MARTIN op. cit. 34).
Quanto à "navegação", foram estabelecidos ligações que proporcionassem uma
movimentação segura, garantido orientação ao usuário, como por exemplo, as ligações
entre todas as páginas do ACAD-FIS e os textos disponíveis ou endereços indicados.
Para prover interatividade, uma página deve fornecer meios para que o usuário
possa desfrutar de todos os tipos de comunicação que lhe são necessária e nesse caso
identificamos os contatos aluno-aluno, aluno-orientador e vice-versa, aluno-coordenador
e vice-versa. Com esse objetivo, apesar da utilização do gerenciador, desenvolveu-se em
uma página do ACAD-FÍS um portfólio no ambiente onde os cursistas tinham acesso as
respostas das situações-problema, através da ficha modelo para resolução de casos,
preenchidas pelos grupos na medida em que cumpriam suas tarefas.
Selecionamos os textos apresentados nas telas de forma a não serem muito
extensos. Sabemos que a demanda por conhecimento é um dos fatores que facilitam a
assimilação, portanto de nada adianta inundar o participante de informação. O excesso
de informações causa desinteresse e consequente evasão.
O desenho da interface foi projetado de modo que os nós correspondentes a cada
36
classe mantivessem uma identidade. Assim, o background é o mesmo em todas as telas e
a disposição dos textos é a mesma nas classes e subclasses.
Para manter a coerência e facilitar a navegação, as âncoras que ligam as três
classes são botões que tomam a forma de pequenos livros quando ligam a indicações de
pesquisa e quadros iluminados pelo toque do cursor quando indicam acesso a visões ou
soluções relacionadas. O botão que apresenta o curso tem o formato de livro, pois é
objeto de pesquisa.
A disposição em que os botões aparecem na interface é sempre a mesma. A figura
4.4 mostra a distribuição dos atributos dos nós correspondentes às classes "Situação-
problema", "Ficha para Solução" e "Banco de Informação". Esses nós apresentam o
questão de estudo, as fichas para construção das soluções e o material disponibilizado ou
orientação para pesquisa em cada uma das vertentes do curso.
Foram usados três frames para apresentar a configuração definida, o superior (horizontal)
apresenta o Banco de Informação e a Situação-problema. O lateral apresenta as Visões de
Especialistas e as Situações Relacionadas. O terceiro apresenta os textos e acessos para
pesquisa.
Figura 4.4: Interface dos nós das classes "Ficha de Solução",
"Situação-problema" e "Banco de Informação"
37
Implementação
Com a existência de diversas ferramentas de autoria no mercado, optou-se pela utilização
do Front Page que permitiu a implementação do sistema pelo próprio autor do estudo. Foi
então implementada a versão preliminar do sistema "ACAD-FÍS" com base na
especificação descrita
Utilizamos as recomendações de MARTIN (1992) para adequar a interface do
ACAD-FIS às necessidades dos usuários. Foram considerados relevantes os seguintes
pontos: (i) o conteúdo de informação deve ser objetivo evitando-se assim páginas muito
extensas, (ii) as páginas conteriam de fato as informações necessárias à realização do
curso evitando remeter a outras fontes externas.
A estrutura e o design das páginas levou em consideração três fatores básicos: (i)
o tempo de acesso, (ii) a clareza de visualização e (iii) a funcionalidade. Dessa forma foi
possível estabelecer dois grupos de questões a serem levadas em conta no
desenvolvimento do sistema, relacionadas à comunicação visual e a interação homem-
computador.
A preocupação com clareza e minimização da desorientação do aluno e de
qualquer desconforto para o aluno são importantes. Páginas com fundos texturizados
frequentemente proporcionam leitura difícil, apesar de parecerem sofisticadas. Neste caso
a função deve prevalecer à forma MARTIN (1992), portanto escolhemos fundos lisos
com cores repousantes que tendem a oferecer melhores resultados de visualização.
Outro ponto considerado no desenho da interface do ACAD-FIS foram as baixas
taxas de transmissão de dados virtuais nas redes de comunicação digital no interior do
país. A inserção de muitas figuras e gráficos que poderiam ilustrar situações e textos
tornaria a carga da página lenta, tendo sido observada a real necessidade de seu uso.
Também se levou em conta que os ícones utilizados deveriam sugerir a idéia à qual se
referem, MARTIN (1992).
Quanto à "navegação", foram estabelecidos ligações que proporcionassem uma
movimentação segura, garantido orientação ao usuário, como por exemplo, as ligações
entre todas as páginas do ACAD-FIS e os textos disponíveis ou endereços indicados.
38
Para prover interatividade, uma página deve fornecer meios para que o usuário
possa desfrutar de todos os tipos de comunicação que lhe são necessária e nesse caso
identificamos os contatos aluno-aluno, aluno-orientador e vice-versa, aluno-coordenador
e vice-versa. Com esse objetivo, apesar da utilização do gerenciador, desenvolveu-se em
uma página do ACAD-FÍS um portfólio no ambiente onde os cursistas tinham acesso as
respostas das situações-problema, através da ficha modelo para resolução de casos,
preenchidas pelos grupos na medida em que cumpriam suas tarefas.
Selecionamos os textos apresentados nas telas de forma a não serem muito
extensos. Sabemos que a demanda por conhecimento é um dos fatores que facilitam a
assimilação, portanto de nada adianta inundar o participante de informação. O excesso
de informações causa desinteresse e consequente evasão.
4.3 Descrição do Protótipo do ACAD-FÍS
O protótipo do ACAD-FÍS foi desenvolvido a partir do seu esquema conceituai. O
protótipo do ambiente, implementado em Front Page, é composto por um conjunto de
páginas cujos objetos de navegação, conteúdos e ligações procuram adequar-se ao
modelo descrito acima privilegiando-se uma navegação simples e orientada. As
páginas do site foram desenvolvidas e associadas a algumas marcações em HTML.
O site do protótipo foi ligado ao gerenciador virtual de cursos (Universite ©) para
viabilizar recursos de comunicação como fórum de discussão, chat e e-mail. A utilização
desse gerenciador permitiu viabilizar a proposta sem prejuízo do modelo conceituai
definido, uma vez que toda a estrutura do ambiente com seus objetos de navegação,
conteúdos, links para outros sites, foi programada em uma linguagem para a Web, fora do
gerenciador e ligada a ele.
Os recursos oferecidos pelo gerenciador Universite foram essencialmente as
ferramentas de comunicação, o espaço para disponibilização de referências
bibliográficas, o glossário e a facilidade de administração no sentido de que os alunos,
39
tutores e coordenadores são identificados com senhas para entrada no sistema. Recursos
de gerenciamento de dados onde podem ser armazenados textos, endereços de sites foram
utilizados apenas para referências bibliográficas e glossário.
A compra do Universite pelo CEFET-Campos visou também à expansão da
modalidade de EAD com a criação de outros cursos baseados neste estudo. Assim, o
Universite estaria sendo testado para uso futuro.
Na página de apresentação do curso (figura 4.5), o estudante tem acesso a um
texto que apresenta o curso, suas finalidades, concepção pedagógica e uma idéia geral
sobre as atividades que desenvolverá os principais elementos do curso. Esta página
contém botões de navegação que dão acesso às páginas derivadas das três classes do
Esquema Conceituai do ambiente; situação-problema, ficha para solução e banco de
informações.
Nesse texto os professores-cursistas encontram orientação para navegação no
ambiente, sobre a utilização do gerenciador de cursos (Universite), esclarecimento sobre
o modelo conceituai do curso, e formas como será feita a avaliação.
40
Algumas referências bibliográficas foram armazenadas no gerenciador Universite.
Os botões Conteúdo, Inovações Pedagógicas e Inovações Tecnológicas dão acesso a
páginas que contêm textos (Quadro 4.1) sobre cada um desses tópicos, que o aluno pode
baixar para o seu computador e endereços (URL) com outros sites da Internet que
julgamos relevantes para a solução das situações propostas. Estas páginas são
apresentadas nas figuras 4.6, 4.7 e 4.8.
41
Quadro 4.1 Títulos dos Documentos e
Artigos disponíveis no ACAD-FIS
Conteúdo
de
Física
Dificuldades Conceituais de Mecânica Básica (REZENDE,
2000).
Idéias sobre a Natureza do Conhecimento Científico
(ZYLBWSTAJN, 1984).
Diretrizes Curriculares para o Ensino de Ciências da
Natureza e suas Tecnologias (MEC-SEMTEC).
0 Legado Científico de Newton (TEIXEIRA, 2000).
Inovações
Tecnológicas
e
Metodológicas
na
Educação
Novas Tecnologias Educacionais (REIS, 2000).
A Educação como Paradigma: TV Educativa X Educação
pela TV (BEZERRA, 1998).
Novas Tecnologias e Educação: Repensando a
Aprendizagem, Materiais Didáticos e a Prática Pedagógica
na Perspectiva Construtivista (REZENDE, 2000).
A Interdisciplinaridade no currículo escolar (SOUZA
BARROS, 2000)
Os textos escritos especificamente para o Curso estão apresentados em anexo (Anexo 6)
enquanto demais podem ser encontrados a partir de suas referências bibliográficas.
Figura 4.6. Página de texto sobre Inovações Tecnológicas no Ensino de Física.
Figura 4.7. Página de textos sobre Inovações Pedagógicas no Ensino de Física.
42
Figura 4.8. Página de texto sobre Conteúdos de Física.
O botão Situação-Problema leva o aluno a uma página que apresenta textos nos
quais são discutidas três situações-problema (autênticas em relação à sua prática) que
fazem parte do ACAD-FÍS (figura 4.9). A situação 1 questiona a metodologia
tradicional do professor, baseada unicamente em aulas expositivas, a situação 2 leva o
professor a refletir sobre como integrar a Informática na sua prática pedagógica. A
situação 3 tem o objetivo de levar o professor a questionar o currículo de Física no que
diz respeito à interdisciplinaridade.
44
Figura 4.9: Página derivada da classe "Situação-Problema".
Uma vez que o professor se sinta instrumentalizado para propor a solução do
problema pode começar a preencher uma ficha na qual ele identifica o problema e propõe
a solução. A figura 4.10 representa uma ficha de solução de caso preenchida, que é
remetida à coordenação do curso para compor um Portfólio agregado ao ambiente para
consulta dos usuários, cursistas e orientadores.
O início dessa atividade de proposta de solução deve partir do cursista após
negociação com os orientadores que precisam estar atentos à condição do professor-
cursista continuar suas ações de forma mais autónoma, incentivando-se o caráter de
autonomia e valorizando-se a maturidade do estudante.
45
Figura 4.10: Página "Ficha de Solução" da Situação Problema.
Através do botão Visões o estudante acessa um plano de aula produzido pelos
orientadores pedagógicos do curso relativo a cada uma das situações-problemas
disponíveis.
A página Situações Relacionadas visa colocar o cursista em contato com uma
situação-problema resolvida, semelhante a que ele está analisando, para ajudá-lo a pensar
por analogias e comparações.
O Glossário do Curso e as Referências Bibliográficas estão disponíveis no
Universite e oferecem respectivamente esclarecimento em relação a termos relacionados
ao conteúdo do curso, e a indicação de livros com pequenos comentários sobre seus
conteúdos, úteis para a proposta de solução do caso.
46
4.4 Descrição do Gerenciador de Curso Universite © versão 2.0
O Gerenciador de Cursos Universite © otimiza as atividades de Educação a
Distância criando um ambiente comparável ao de uma Universidade. O sistema atende a
uma série de particularidades relacionadas ao processo de EaD e também pode atender ao
dia-a-dia de outros cursos oferecidos para treinamento através de intranet em Empresas.
O gerenciador Universite oferece ferramentas de comunicação pelas quais os
alunos se comunicam com instrutores e/ou outros alunos, assistem aulas ao vivo,
esclarecem dúvidas, entre tantas outras atividades. A administração do curso passa a ser
ágil, já que professores e/ou coordenador podem, através de um terminal de computador
conectado à rede, ter acesso às notas e históricos dos alunos, atualizar o curso, divulgar
novas atividades, realizar estatísticas, etc.
A ferramenta de gerenciamento funciona acoplada ao SQL Server 7.0 e sobre a
plataforma Windows NT 4.0. As informações podem ser veiculadas através de formatos
de multimídia, hipertextos, software educacionais de modelagem, simulação e links.
Páginas WEB podem ser integradas ao sistema.
Outros recursos de comunicação são: os chat, avaliações on-line, e-mail interno e
externo, fórum de debates, sistema de busca, help, ajuda on-line, etc. Pode ser acessado
pelos usuários através da Internet em seus locais de trabalho, nas residências, ou através
de Intranet por grupos em um determinado local. A conexão à Internet é estabelecida
através da Rede Rio com velocidade dos links de conexão de 256k até o ponto de
presença.
O artefato em questão, apesar de desenvolvido principalmente para um
determinado grupo, acabou por atingir primeiramente outro. O software foi desenvolvido
para atuação no mercado de Ensino Superior à distância e no entanto, acabou por ser
muito mais usado por empresas interessadas em treinamento de pessoal. Muitas empresas
hoje já utilizam o Universite, como por exemplo, Docas, Embratel e Xerox do Brasil, que
hoje detém a maior parte das ações da Modern High-Tech Web (MHW).
O Universite © apresenta possibilidade de uso em quatro idiomas (português,
espanhol, inglês, hebraico) e oferece dois tipos de acesso a visitantes e usuários que
possuem senha. Estes últimos podem ser classificados nas seguintes categorias
47
hierarquicamente: (i) Diretor - é o responsável pelo Campus e tem acesso a todas as
funcionalidades dos ambientes e informações dos usuários, (ii) Chefe de departamento -
gerência as atividades de seu departamento e tem poderes para incluir, alterar ou excluir
tanto usuários como material programático, (iii) Coordenador - tem atribuições
gerenciais para comandar o Curso do qual é coordenador e cuidar da manutenção do
material didático do Curso, (iv) Professor - é responsável pela Classe e está disponível
para tirar as dúvidas dos alunos, seja através de e-mail ou nos grupos de discussão das
Ferramentas de Comunicação, (v) Aluno - acesso às classes mediante senha e aos
espaços comuns (FAQ, Sala de bate-papo).
Na interface principal do Universite ©, o usuário pode consultar suas avaliações
(quando houver), em um local denominado Secretaria, acompanhar aulas na Sala de
Aulas e inscrever-se num outro Curso de sua preferência.
No ambiente Secretaria o aluno pode se matricular nos Cursos disponíveis,
acessar a lista de usuários para consultar seus colegas de Classe ou consultar o público
alvo específico para cada Curso. Na Sala de Aula os alunos encontram e acessam seus
materiais de estudo ou outro ambiente, consultam bibliografia indicada, glossário e a
agenda da sua Classe e têm um módulo para fazerem suas anotações. A Administração é
o ambiente restrito ao Diretor do Campus, onde ele pode configurar e controlar os
acessos de alunos e usuários. Utilizando ferramentas, tais como estatística de acesso,
inscrição de novos usuários, configurações do ambiente de trabalho e criação de
Departamentos, Cursos e Classes.
O material didático é incluído acessando-se o ícone Conteúdo Programático e
através da janela de inserção de item se escolhe o novo item que será disponibilizado
como unidade, sub-unidade ou indica-se o site onde o material está disponível.
A programação do protótipo do ACAD-FÍS e administração do site foi atribuída a
um técnico de nível superior em informática, na condição de bolsista de iniciação
científica do CEFET-Campos.
48
Capítulo 5 Descrição e Pré-Testagem
do Curso
Este capítulo divide-se em três seções: na primeira seção descreve-se o Curso a
distância de Formação Continuada para Professores de Física; na segunda descrevemos a
Pré-testagem realizada, indicando as modificações a serem introduzidas no Curso; na
terceira, relata-se resumidamente a formação de orientadores pedagógicos
5.1 Descrição do Curso
Incluímos na descrição do curso seus objetivos, a apresentação do material
didático oferecido, o conteúdo do curso e as atividades desenvolvidas presencialmente
e a distância.
Objetivos
O objetivo geral do curso a distância de Formação Continuada, objeto deste
estudo, é a resolução de situações-problema da prática pedagógica do professor de Física.
A solução deve ser apresentada na forma de um plano de atividades (três aulas) da
unidade "Força e Movimento - As Leis de Newton". Para isso, os professores trabalham
em grupos presencialmente e a distância tendo como base os materiais didáticos e a
orientação dos tutores/orientadores do curso.
Outros objetivos paralelos ao objetivo geral, coerentes com a ABC e com a AC são:
1 Desenvolvimento de interações entre os participantes, numa abordagem
colaborativa de aprendizagem.
2 Familiarização dos educandos quanto à utilização das NTIC.
49
3 Construção do conhecimento através do estudo de casos, dentro de um processo
crítico e reflexivo.
4 Desenvolvimento da competência da auto-aprendizagem.
Materiais Didáticos
Três tipos de materiais didáticos são oferecidos ao cursista: (i) materiais
impressos, distribuídos na primeira semana presencial do curso (entrevistas com
especialistas em Educação publicadas no caderno "Educação & Trabalho" do Jornal do
Brasil relacionadas ao conteúdo do curso); (ii) textos sobre o conteúdo, disponíveis no
ACAD-FIS que podem ser baixados para o computador no qual o professor estiver
trabalhando; (iii) o sistema hipermídia "Força&Movimento" (REZENDE, 1996).
Conteúdo do Curso
O Curso oferece informações em três áreas do conhecimento (Conteúdo de Física,
Inovações Tecnológicas e Inovações Pedagógicas no Ensino de Física) conforme
apresentado na Tabela 5.1. Estas informações são apresentadas em textos oferecidos na
oficina presencial e outros disponíveis no ACAD-FIS (Quadro 4.1, capítulo 4).
Tabela 5.1 As três áreas de
conhecimento do Curso
Conteúdo de Física: tópicos da Física fundamental à luz das diretrizes curriculares do
MEC-SEMTEC, trabalhando aspectos da Física do cotidiano e das relações da ciência,
aplicações tecnológicas e implicações para a sociedade. _________________________
Inovações Tecnológicas no ensino de Física: utilização da informática no ensino de
Física com demonstração e propostas de utilização de ferramentas e software
educacional como, por exemplo, o sistema hipermídia "Força & Movimento"
(Rezende, 1996) _______________________________________________________
Inovações Pedagógicas no ensino de Física: Discussão de abordagens /metodologias
pedagógicas inovadoras decorrentes dos resultados de pesquisa em ensino de Física,
como por exemplo: (i) o enfoque construtivista; (ii) a aprendizagem de Física enquanto
mudança conceituai; (iii) os resultados das pesquisas em concepções espontâneas._____
50
Atividades Presenciais
As atividades presenciais são realizadas na primeira semana do curso em uma
oficina de 12 horas (Quadro 5.1) com o objetivo de familiarizar os professores quanto ao
uso da Informática, à abordagem construtivista e à metodologia de Aprendizagem
baseada em Casos.
Quadro 5.1 Oficina
Presencial do Curso
Período ATIVIDADES
4 horas
1. Apresentação do curso e exposição do modelo conceituai ABC.
2. Definição dos grupos de estudo.
3. Familiarização com as ferramentas de comunicação da Internet.
4. Apresentação e utilização do Universite e do ACAD-FÍS.
5. Distribuição do material impresso.
4 horas
1. Apresentação dos casos a serem trabalhados.
2. Utilização do sistema hipermídia "Força&Movimento" (Rezende, 1996)
3. Explicação sobre o preenchimento da ficha para solução de casos.
4 horas
1. Resolvendo um Caso - Laboratório de Física, apresentação de um
especialista do Centro Formador de Orientadores (UFRJ).
2. Familiarização com ferramentas de comunicação de Informática.
3. Avaliação dos cursistas em relação à oficina.
4. Fechamento.
A familiarização com as ferramentas de comunicação da Internet envolve as
seguintes atividades: (i) introdução ao uso do computador; (ii) acesso a Internet; (iii) uso
das principais ferramentas de comunicação via rede como e-mail, chat e fórum de
discussão; e (iv) uso das ferramentas de busca de informação.
Os professores trabalham presencialmente em grupos, buscando resolver uma das
situações-problema disponíveis no ACAD-FÍS, desenvolvendo atividades semelhantes às
51
que são desenvolvidas a distância. A atividade é acompanhada pelos tutores/orientadores
do curso visando à familiarização com a ABC.
Atividades a Distância
A próxima etapa do curso se desenvolve a distância ao longo de sete semanas,
incluindo basicamente a participação dos professores-cursistas e tutores/orientadores em
um fórum de discussão (através do Universite), a troca de e-mails entre professores e
tutores, o trabalho presencial em grupo e o acesso do ACAD-FÍS para que trabalhassem
na solução da situação-problema.
Durante a semana presencial, os professores-cursistas foram orientados a destinar
em média seis horas semanais de estudos para as atividades do curso. Esse tempo é
estimado em relação ao uso do ACAD-FÍS e do trabalho que desenvolverão em grupo.
5.2 Pré-Testagem do Curso
A pré-testagem do Curso e do ACAD-FÍS foi realizada em um período de 10
semanas, com 20 professores de nível médio de Física e Química da rede pública de
Macaé com o objetivo de gerar modificações e ajustes que dizem respeito à consistência
da interface do protótipo do ambiente, adequação da linguagem, interatividade com o
usuário e funcionamento do curso de uma forma geral.
O grupo de professores era heterogêneo, com formação em diversas áreas de
conhecimento. Apesar de ministrarem aulas de Física no Ensino Médio e no Ensino
Fundamental (oitava série), não possuíam formação específica.
Os professores participantes foram voluntários e tinham que se dividir entre as
atividades do curso e suas aulas na rede pública. Contudo, já tendo participado de
atividades presenciais de extensão oferecidas pelo CEFET-Campos, este grupo se
encontrava mobilizado para dar continuidade ao processo de formação continuada.
Para realização do curso, utilizou-se uma sala de aula com 10 microcomputadores
da Unidade de Ensino Descentralizada do CEFET-Campos em Macaé (UNED-Macaé)
52
onde foi realizada a oficina presencial e de onde os professores acessaram o ACAD-FÍS
para aprenderem a realizar as atividades a distância do curso e se comunicarem com os
tutores/orientadores (professores do CEFET-Campos).
O gerenciador de cursos Universite versão 2.0 foi instalado em um servidor do
Núcleo de Tecnologia Ciência e Cognição (NTCC) em ambiente Windows NT 4.0 e SQL
Server 7.0 juntamente com o FrontPage 98. Um servidor de FTP em teste com o
ambiente Linux foi utilizado para enviar os textos de conteúdo para o ambiente e para
operar as modificações introduzidas a partir dos resultados de pré-testagem.
Foram objetos de avaliação na pré-testagem: (i) o protótipo do ACAD-FÍS, (ii) a
adequação do material bibliográfico em relação ao interesse e necessidades do cursista,
(iii) a comunicação entre os cursistas e orientadores e entre os cursistas; e (iv) o trabalho
cooperativo.
Mais do que nos servir para indicar mudanças que deveriam ser feitas para
facilitar a navegação no ambiente, essa experiência mostrou a importância da
familiarização da população-alvo do curso com o uso das novas tecnologias para que um
curso desse tipo fosse possível. Mesmo que a quase totalidade dos professores dispusesse
do equipamento necessário em suas residências e na escola, os professores não estavam
familiarizados com o acesso e uso da Internet nem com a utilização de seus recursos de
comunicação, necessitando de mais tempo do que o previsto para superarem as
dificuldades. Isso ficou claro na fala de uma professora-cursista durante a avaliação,
realizada no último encontro da oficina presencial:
"... nós professoras não podemos aprender a mexer com informática em nossas
casas, temos que cuidar de filhos, maridos, da casa, enfim de tanta coisa, que se isso não
ocorrer nas escolas ou em cursos extras não teremos condições de usar essa tecnologia ".
Manifestações dos professores durante a pré-testagem chamam atenção por
mostrarem a falta de familiarização com as novas tecnologias:
"E muito fácil dar duplo click. Isso é o que eles dizem, porém eu não consigo, e
quem não consegue fazer isso não irá aprender nunca a trabalhar com o computador".
53
"O perigo é apertar qualquer tecla e danificar o computador"
"Eu tenho um pouco de medo da tecla Delete. Ela pode apagar tudo "
Quanto à participação dos professores nas atividades que envolviam Informática,
concluímos que se não fosse dispensada atenção especial a cada um deles, não teriam
como acompanhá-las. Por outro lado, o trabalho em grupo contribuiu muito para a
aprendizagem individual, na medida em que cada grupo contava com pelo menos um
professor mais experiente e que possuía computador em casa.
A colocação de uma professora, durante a oficina presencial mostrou a
importância do trabalho cooperativo e a motivação:
"... sozinha eu nunca vou conseguir, e se não tiver algo realmente interessante
para fazer também não motiva".
Além das dificuldades de utilização do computador e da Internet, observou-se a
dificuldade de compreensão do material impresso distribuído. Vários professores
manifestaram desconhecimento das entrevistas com educadores (publicadas pelo Jornal
do Brasil) achando-as difíceis de entender, pois traziam termos não usados nas escolas e
conceitos que desconheciam. Alguns dos artigos disponíveis no ACAD-FÍS também
foram considerados difíceis pelos professores.
O material enviado pelos cursistas tanto pelo Fórum de Debates como pelo e-mail
do curso não refletia inicialmente uma leitura cuidadosa dos textos distribuídos, e muito
menos uma busca por materiais que aprofundassem questões envolvidas nas situações-
problema estudadas. Pelos e-mails trocados com os orientadores, ficou clara a
dificuldade de leitura e a pouca disposição dos cursistas em dividirem as tarefas, o que
nos indicou dificuldade com trabalho cooperativo:
"Tanto material de leitura acaba sendo muito mais do que lemos em um ano
todo. Não estamos acostumados a isso ".
54
"Tenho dificuldades de cumprir a minha parte, sei que é importante, porém não
dou conta de tudo. Acho porém que se não aprendermos a fazer isto não conseguiremos
aprender mais e vai ser impossível compreender o que está acontecendo com a escola e
os alunos "
"Não fomos habituados a esse tipo de trabalho na Faculdade e essa metodologia
apesar de ser boa para que possamos aprender com os colegas nos traz uma
responsabilidade difícil de cumprir "
Durante a pré-testagem houve problemas de ordem tecnológica. Foi preciso tomar
a decisão de hospedar o site do ACAD-FÍS em um provedor comercial
(http://orbita.stanmedia.com/~eadcefet) independentemente do Universite. Se por um lado
garantiu-se o acesso ao ACAD-FÍS, por outro vedava-se o uso das ferramentas de
comunicação do Universite. Dessa forma, as ferramentas do Universite foram utilizadas
na medida em que o gerenciador podia ser acessado.
Solucionou-se a questão da entrega da ficha de solução de casos que deveria ser
encaminhada à coordenação do curso através de um formulário on line, disponibilizando-
se o formulário para download no ACAD-FÍS e orientando os cursistas a remeterem-no
por e-mail para a coordenação do curso.
Essas dificuldades prejudicaram o trabalho de orientação, que em grande parte
destinou-se a esclarecer dúvidas quanto ao uso do sistema, ficando em segundo plano a
discussão sobre as questões que envolviam a situação-problema proposta.
Apesar desses problemas, ao longo da pré-testagem verificou-se a melhoria das
relações entre os professores, da qualidade de suas intervenções e principalmente o
interesse (dos que permaneceram até o final) em conhecerem mais sobre EaD, sobre a
Informática aplicada na Educação, e em participarem de cursos semelhantes, como atesta
uma das mensagens da professora mais participativa:
"... achei difícil, mas acredito que essa modalidade é o que vai nos ajudar
quando tivermos acesso a Internet nas escolas. Quero participar dos cursos que forem
oferecidos futuramente".
55
Tendo em vista as dificuldades apresentadas pelos professores que participaram
da Pré-Testagem com relação ao uso da Informática e da Internet decidiu-se aumentar a
carga horária da oficina presencial visando maior familiarização com os recursos
tecnológicos, incluindo simulações de uso das ferramentas de comunicação da Internet.
5.3 A Formação dos Tutores/Orientadores do Curso
O gerenciamento do Curso a distância de Formação Continuada de Professores de
Física concentrou-se no CEFET-Campos, no NTCC, constituído para iniciar as pesquisas
e estudos, bem como a formação de pessoal para atividades de EaD. Este núcleo conta
com um grupo de 9 professores onde a maioria tem formação nas áreas de Ciências
Naturais. O grupo elegeu a formação continuada de professores como alvo principal de
ações a serem desenvolvidas.
Quatro participantes do NTCC, que já tinham experiência em formação
continuada de professores, formaram o grupo de tutores/orientadores do curso objeto
deste estudo: o coordenador do curso no CEFET-Campos (professor de Física), um
professor de Física, um professor de Matemática, e um Pedagogo. Um bolsista de
iniciação científica da área de Informática deu suporte nas questões tecnológicas.
Também foi considerada na seleção desses profissionais, a possibilidade de
despenderem tempo para reuniões, viagens aos locais onde iria ser realizado o curso e ao
Centro de Formação de tutores quando necessário. Para participarem do curso como
orientadores esses professores aumentaram sua carga horária em quarenta por cento de
sua carga didática sem nenhum ônus para a instituição (CEFET-Campos), e sem
recebimento de remuneração extra.
Os professores do NTCC que não fizeram parte da equipe de tutores/orientadores
do curso acompanharam as atividades desenvolvidas assistindo as reuniões semanais de
acompanhamento do curso.
A necessidade de realização de um programa de preparação dos tutores para
atuarem no curso a distância surgiu de uma oficina presencial realizada com 18
professores de Ciências de Campos oferecida pelo CEFET-Campos com colaboração da
UFRJ cujo objetivo principal foi a familiarização com as metodologias da ABC e da AC
e a coleta de dados que dessem subsídios para um processo semelhante a distância com
base nestas abordagens pedagógicas. Um dos resultados desta experiência (REZENDE et
al., 2000a) foi à solicitação por parte dos professores de Física do CEFET-Campos que
atuaram como orientadores e que iriam atuar no curso a distância a ser realizado, de que
fosse oferecido pelo projeto um programa de preparação que os capacitasse a atuar de
forma mais eficiente com os recursos tecnológicos e com as abordagens pedagógicas
utilizadas. Ressalta-se que os professores orientadores iniciaram estudos para atuarem na
tutoria dois meses antes da pré-testagem.
A partir dessa solicitação, foi realizado um programa de quatro oficinas
(REZENDE et al., 2000b) presenciais com atividades a distância e a participação dos
futuros tutores/orientadores do curso. As atividades presenciais estão descritas no quadro
5.2.
As atividades a distância se deram por meio de chats e de um fórum de discussão
ao longo de dez semanas, mantido em um provedor comercial (egroups.com) com
colaboração de duas especialistas da UFRJ envolvidas no projeto.
Quadro 5.2 Atividades Presenciais do
Programa de Formação de Tutores/Orientadores
1ª Oficina
(16 h)
2
a
Oficina
(16 h)
3
a
Oficina
(5 h)
4
a
Oficina
(8h)
Objetivo
Familiarização
com a
metodologia da
ABC
Análise da reforma
do Ensino Médio
em termos de
inovações
metodológicas e
tecnológicas no
ensino de ciências
Análise de
concepções de
ensino-
aprendizagem do
professor
Solução de uma
situação-
Problema
Análise da
formação e
prática dos
orientadores
Pedagógicos
Atividade
Discussão de
textos em grupo
e formulação de
questões para
serem discutidas
a distância com
as especialistas
Discussão de textos
em grupo e
utilização do
sistema hipermídia
"Força &
Movimento"
Trabalho em
grupo
Apresentação
das soluções
Discussão de
textos em
grupo
A equipe do NTCC definiu as atribuições coletivas e individuais dos professores
que iriam desempenhar o papel de orientador/tutores com atenção voltada para: (i)
participação nas oficinas de formação oferecidas pelas especialistas da UFRJ; (ii)
capacitação para utilização do Universite e de ferramentas de comunicação da Internet; e
(iii) participação nas atividades de orientação a distância no curso. A partir daí foram
instituídas duas reuniões semanais, uma com participação de todos os integrantes do
NTCC e outra para a equipe de orientadores, para serem discutidos aspectos relativos ao
curso.
Estimativa de Custos do Curso Piloto
O custo estimado, para a realização do Curso objeto deste estudo envolveu: o
trabalho de tutoria, o trabalho do coordenador, o trabalho para capacitação dos
58
professores orientadores/tutores e a parte logística das atividades de manutenção da
estrutura montada. Entretanto, com relação a compra de equipamentos e software foi
adquirido apenas o gerenciador Universite © no valor de U$ 2400,00 em outubro de
1999. O NTCC responsável pelo projeto no CEFET-Campos na época era dotado em sua
infra-estrutura de três computadores ligados em rede Intranet e a Internet, scanner,
impressora, software (FrontPage, Internet Explorer 4.0, Flash 4.0, SQL 6.5) e local para
armazenamento de materiais didáticos impressos.
Levando-se em conta que a equipe de professores orientadores iniciou sua
formação dois meses antes da pré-testagem e que o processo não foi interrompido durante
a mesma e o Curso Piloto, computou-se o tempo médio dessa capacitação em oito horas
semanais para cada um dos três professores-orientadores durante dez meses.
O coordenador do Curso no CEFET-Campos, que também trabalhou como
professor-orientador durante as sete semanas do curso também executou atividades de
logística relativa a manutenção da estrutura montada para o Curso, participando de ações
regulares para o acompanhamento das atividades dos professores-cursistas no local em
que trabalhavam. No cômputo geral foram estimadas doze horas semanais para essas
atividades.
A elaboração do material didático do Curso por uma equipe que envolveu os dois
professores do Centro de Formação na UFRJ que trabalharam em média oito horas
semanais durante o mesmo período envolvidos também com a formação dos orientadores.
As despesas estimadas com Recursos Humanas é apresentada no Quadro 5.3 na
forma da carga horária utilizada.
Quadro 5.3 Carga Horia destinada à
Orientação (Capacitação e trabalhos de tutoria).
Recursos Humanos
C.H.
Semanal
C.H.
Mensal
C.H.
Durante 10 meses
C.H.
Total
Prof. CEFET (3) 8 40 400 1200
Coordenador - CEFET 12 60 600 600
Prof. UFRJ (2) 8 40 400 800
Total de Carga Horária 2600
59
Capítulo 6 Avaliação do
Curso Piloto
Este capítulo subdivide-se em três seções: a primeira introduz o entendimento de
avaliação que norteou o trabalho e o modelo de avaliação usado; a segunda descreve a
implementação do curso a distância; e a terceira apresenta os resultados da avaliação.
6.1 Metodologia de Avaliação do Curso Piloto
Introdução à Avaliação
Entendemos avaliação como pesquisa, isto é, um processo gerador de informações
que deverá não só fornecer subsídios para prováveis ajustes e correções de rumo, mas,
principalmente, ampliar o conhecimento na área da Educação Continuada a distância de
professores de Física.
Alguns autores fazem distinção entre pesquisa e avaliação, ao contrário de outros
que classificam a avaliação como uma forma de pesquisa avaliativa, uma modalidade de
avaliação. Existem os que não definem limites entre ambas, utilizando os termos com o
mesmo significado, (WORTHEM, 1974; CARO, 1977; WRIGHTSTONE, 1969;
CALSING, 1993), que se referem à pesquisa como uma forma de avaliação do
desenvolvimento de um projeto.
Quanto às metodologias para realizar pesquisas avaliativas, a combinação das
abordagens qualitativa e quantitativa pode favorecer o entendimento adequado do
fenômeno educativo a ser estudado, como recomenda DEMO (1991):
'
60
"Não faz nenhum mal a qualquer avaliação qualitativa vir secundada por
dados quantitativos, até porque estes são inevitáveis. A quantidade não é
uma dimensão inferior ou menos nobre da realidade, mas simplesmente uma
face dela. A realidade possui dimensões qualitativas, portanto uma avaliação
qualitativa destina-se a perceber tal problemática, para além dos
levantamentos quantitativos usuais, sem que estes deixem de ter sua
significativa importância" (p.103).
A pesquisa qualitativa implica a obtenção de dados descritivos, advindos do
contato direto do pesquisador com a situação estudada. Enfatiza mais o processo do que o
produto e preocupa-se em retratar a perspectiva de diversos participantes do curso.
De acordo com SELTIZ, WRIGHTSMAN & COOK (1987), as avaliações do
processo ou formativas examinam basicamente como funciona um programa ou projeto,
utilizando-se de técnicas como a de observação. Dessa forma, as avaliações de processo
podem ser utilizadas para auxiliar os administradores a elaborarem seus programas, revê-
los e aprimorá-los. Elas fornecem informações sobre como os participantes reagem ao
curso, como ele está sendo implementado e se está próximo ao projetado.
A avaliação formativa de um programa indica, ao longo do processo, se uma
determinada medida está produzindo ou não os efeitos desejados e esclarece se as
condições necessárias ao seu adequado desenvolvimento encontram-se ou não presentes.
O modelo de avaliação de quarta geração de GUBA e LINCOLN, segundo
(PENNA FIRME op. cit. p.60), caracteriza-se por ser um processo interativo, negociado,
fundamentado num paradigma construtivo e em uma forma responsiva de enfocar o
modelo construtivista. É responsiva porque, ao contrário das alternativas que partem
inicialmente de variáveis, objetivos, tipos de decisões e outros, ela se situa e se
desenvolve a partir de preocupações, proposições ou controvérsias em relação ao objeto
da avaliação, seja ele um programa, um projeto, um curso ou outro foco de atenção.
O paradigma construtivista rejeita a abordagem de controle manipulativo-
experimental e o substitui por um processo hermenêutico-dialético, o qual aproveita, ao
máximo a interação observador/observado para criar as melhores construções possíveis
em determinada situação e no tempo apropriado.
61
Trata-se, pois, na visão de PENNA FIRME (1994), de uma abordagem que capta
também os aspectos humanos, políticos, sociais, culturais e éticos envolvidos no
processo. Não despreza de modo algum (pelo contrário, incorpora) procedimentos de
tipo ordenado e mais cientificamente orientados, caso a responsividade e as diferentes
situações os exigirem.
Modelo de Avaliação Utilizado neste Estudo
Foi realizada uma pesquisa avaliativa de caráter formativo utilizando-se uma
combinação de abordagens qualitativa e quantitativa. A partir desta abordagem
metodológica, procurou-se retratar a dinâmica do Curso Piloto objeto desta pesquisa e
captar as perspectivas dos atores envolvidos.
Com relação aos efeitos do Curso Piloto sobre a prática pedagógica dos
participantes, privilegiamos a modificação da "postura pedagógica" dos professores em
relação às mudanças na formação específica devido à curta duração do curso. Avaliou-se
assim, o grau de percepção crítica do professor sobre sua prática pedagógica e como os
aspectos que caracterizam o curso poderiam servir de guia para futuras mudanças.
Alguns instrumentos foram elaborados para avaliação do Curso Piloto, como por
exemplo:
Questionário Diagnóstico. Com os objetivos de traçar o perfil dos cursistas e
possibilitar o levantamento de dados para uma comparação ao final do curso, este
instrumento (Anexo 3) apresenta questões sobre formação dos professores, de suas
habilidades com as tecnologias de informática além de suas expectativas em relação ao
curso.
Questionário de avaliação da contribuição dos textos no qual o professor avalia
a contribuição dos textos disponíveis no ambiente para estudo da situação-problema. E
solicitado que sejam atribuídos graus (de 0 a 5) a cada texto de acordo com a contribuição
específica de cada um (Anexo 4).
62
Questionário de acompanhamento. Aplicado quatro meses após o término do
curso, este instrumento (Anexo 5) teve como objetivo avaliar em que medida o curso
influiu na prática pedagógica do professor.
Foram feitas observações pelo coordenador do curso durante a oficina presencial
voltadas para o uso do ACAD-FÍS e do aspecto da colaboração entre os participantes na
execução de tarefas. As observações foram registradas livremente em notas escritas.
O conteúdo dos e-mail trocados entre os participantes e os orientadores e as
contribuições dos participantes enviadas ao fórum de discussões por escrito foram
analisadas. Os tutores/orientadores avaliaram o Curso Piloto registrando suas
observações por escrito.
Foram utilizados os Planos de Atividades (planos de três aulas sobre o conteúdo
"Força e Movimento" incorporando os elementos discutidos e apresentados na ficha de
resolução enviada para o ambiente) elaborados pelos cursistas como trabalho final de
curso, para avaliar o aproveitamento dos professores e em que medida os materiais
oferecidos foram de fato utilizados pelos professores para proporem soluções. Os Planos
de Atividade foram desenvolvidos a partir das fichas para resolução das situações-
problema disponíveis no ACAD-FÍS preenchidas anteriormente.
Assim, os seguintes dados foram utilizados como subsídio para a avaliação do
Curso Piloto:
a) Respostas dadas ao questionário diagnóstico.
b) Observação dos encontros presenciais.
c) Conteúdo dos e-mails e do fórum de discussão.
d) Respostas dadas a um questionário sobre a leitura dos materiais bibliográficos
disponíveis no ACAD-FÍS.
e) Resolução da situação-problema pelos grupos nos Planos de Atividade
f) Questionário de acompanhamento.
g) Avaliação da experiência pelos professores-orientadores.
63
6.2 Implementação do Curso Piloto
Os participantes do Curso Piloto a distância de Formação Continuada de
professores de Física constituíram-se de 20 professores de Física e Química que atuam
em escolas públicas de nível médio (alguns com atuação também na oitava série do nível
fundamental) do município de Bom Jesus do Itabapoana e adjacências. Nenhum desses
professores é graduado em Física, sendo 10 formados em Ciências, 7 em Matemática, 1
em Biologia, 1 em Ciência Agrárias, e 1 com Estudos Adicionais.
A coordenação do curso fez-se representar junto à Secretaria de Educação de Bom
Jesus do Itabapoana expondo o tipo de curso que seria desenvolvido e os professores que
estariam habilitados a frequentar o mesmo (professores trabalhando com Física no nível
médio ou que estivessem atuando na oitava série do primeiro grau com a disciplina de
Ciências).
Limitando-se o número de inscrições a 20 professores, não houve nenhuma outra
restrição, tendo sido feita solicitação para que entregassem juntamente com a ficha de
inscrição, uma declaração da escola onde lecionavam garantindo sua liberação para
atividades presenciais quando necessário. Não foram estabelecidos pré-requisitos para
inscrição, apenas a recomendação de que o professor pudesse ter facilidade de acesso a
computador ligado na Internet na escola ou em casa.
Foi montada uma sala com oito microcomputadores em uma escola local onde os
professores podiam acessar o ACAD-FÍS para realizarem as atividades a distância e se
comunicarem com os tutores/orientadores. O site do ACAD-FÍS, hospedado inicialmente
no servidor do CEFET-Campos, foi hospedado também em um provedor comercial local
para facilitar o acesso em qualquer horário.
O coordenador do curso teve como principal missão manter o grupo de
orientadores unidos em torno dos objetivos do curso. Cada orientador foi responsável por
um grupo de cinco cursistas. Coube aos orientadores se comunicarem via e-mail e fórum
de debates com os cursistas corrigindo tarefas, respondendo às dúvidas, estimulando
novos questionamentos e buscas.
64
O curso piloto foi iniciado com dois encontros presenciais, o primeiro (8h) com o
objetivo de familiarizar os professores com o uso do computador e recursos de
comunicação da Internet e o segundo (4h) para discussão da metodologia de ABC.
A etapa a distância do curso se desenvolveu durante sete semanas, com trocas de
e-mail, Fórum de Discussão (através do Universite) e com a utilização do ACAD-FIS
voltada para a situação-problema.
Embora o ambiente oferecesse três situações-problema relacionadas diretamente
às áreas de informação disponíveis, os professores trabalharam em quatro grupos para
resolver uma situação-problema (Anexo 1) utilizando as informações disponíveis no
ACAD-FIS. Na medida em que os grupos iam preenchendo os campos referentes às
etapas de solução do caso, seu trabalho ficava registrado em um portfólio acessível a
todos os participantes.
6.3 Resultados da Avaliação
É importante mencionar que apesar de um dos grupos não ter apresentado a
solução do caso no prazo estabelecido pelo coordenador, não houve evasão ao longo das
sete semanas de curso, mesmo considerando as dificuldades inerentes à EaD e às
inovações introduzidas de caráter pedagógico e tecnológico. Esse resultado é importante
já que em cursos a distância é comum um índice em torno de 50% dos participantes não
concluírem os cursos SARAIVA (1996). Quanto à familiarização com o uso das NTIC,
ficou claro que essa experiência elevou o grupo a um patamar superior no uso do
computador e das ferramentas de comunicação da Internet.
Verificamos a manutenção do interesse do grupo, durante as sete semanas de
trabalho a distância mesmo que alguns cursistas estivessem entrando de férias e outros
terminando suas atividades nas escolas. Ainda assim, não se desligaram das atividades do
Curso.
65
(a). Perfil e Expectativa dos Cursistas
Os professores de Física que participaram do Curso Piloto têm em média 38 anos
de idade, tempo médio de formação de 17 anos, sendo apenas três graduados em
instituições públicas.
A tabela 6.1 apresenta as frequências absolutas obtidas no questionário
diagnóstico na questão sobre as expectativas em relação ao curso.
Tabela 6.1
Expectativas dos Cursistas
Expectativa em relação ao Curso Frequência Absoluta
Melhorar as próprias aulas 10
Adquirir mais conhecimentos sobre como trabalhar a Física 5
Aperfeiçoamento para tentar avançar nos estudos 3
Obter conhecimentos práticos da Física e como usá-los em
aula
1
Conhecer melhor a área e buscar aperfeiçoamento 1
A maior parte dos professores tinha como expectativa melhorar suas aulas, o que
deve ter sido atendido na medida que os Planos de Atividades elaborados pelos grupos
enfatizaram aspectos metodológicos.
Quanto a experiências anteriores com EaD, a análise revelou que apenas 15% dos
educandos já tinham participado de ações educacionais a distância (com mediação feita
através de material impresso distribuído por correio). Os demais ainda não tinham tido
tal experiência.
66
(b). Resultados da Observação
A percepção do ACAD-FÍS como um espaço virtual desenvolvido especialmente
para o curso trouxe satisfação aos professores. Além disso, o reconhecimento de que o
ambiente visava a contribuir de forma dinâmica para a resolução de uma situação-
problema de sua prática pedagógica, oferecendo materiais e indicações de endereços na
Internet para pesquisa, contribuiu para manter o grau de interesse, a interatividade e
colaboração entre os professores.
(c). Conteúdo dos e-mail e do Fórum de discussão
A análise dos e-mail enviados aos tutores mostrou que os cursistas, na segunda
semana, perceberam que nenhuma resposta objetiva seria dada às perguntas do tipo "o
que faço?", "como encontro isso?", "o que é isso?" ou "está certo ou errado o que estou
dizendo?" o que os levou, provavelmente, a uma reflexão sobre seu processo de
construção de conhecimento e consequentemente a uma mudança de postura que ficou
clara também no fórum de discussão, como pode ser depreendido da intervenção de um
professor-cursista:
"acho que estamos fazendo papel de bobos, pois estamos perguntando da mesma
forma como os nossos alunos fazem e isso está claro que não é o que devemos fazer. "
A partir desta mudança, os e-mail passaram a abordar questões sobre os
documentos e artigos disponíveis no ambiente, mostrando ainda a dificuldade que
encontravam em entender seus conteúdos, mas já não esperando respostas prontas e
acabadas dos tutores.
A análise dos e-mails enviados aos tutores/orientadores e das intervenções dos
professores no fórum de discussão mostrou que houve muita dificuldade de ambas as
partes em encontrar materiais didáticos como, por exemplo, vídeos e software educativos
que pudessem subsidiar as propostas de solução dos grupos e ainda materiais sobre
67
resultados da pesquisa em ensino como por exemplo atas de congressos e periódicos
especializados da área.
O Fórum de Discussão foi dificultado pela falta de condições técnicas do
provedor local (56 kB) na cidade de Bom Jesus do Itabapoana. As intervenções ficaram
restritas a horários de difícil acesso (entre 23:00h e 8:00h) para os cursistas. Assim, os e-
mail que também poderiam ser enviados pelo Universite foram enviados através do
provedor local para a coordenação do curso e redirecionados para os tutores.
A análise de conteúdo do Fórum de Discussão e do banco de e-mail possibilitou
verificar que os professores cursistas atribuíram muita importância ao ACAD-FÍS e que
tiveram facilidade na sua utilização. Além disso, parece ter havido o reconhecimento de
que o modelo da ABC visava a contribuir de forma dinâmica para seu aperfeiçoamento
sem no entanto fornecer respostas prontas.
(d). Leitura dos Textos
O questionário sobre a leitura do material revelou que a maior parte dos
professores leu os textos disponíveis no ACAD-FÍS, o que ficou claro também nos e-mail
enviados aos tutores/orientadores quando questões pertinentes a diversas leituras eram
levantadas. A tabela 6.2 revela a contribuição média das leituras dos textos disponíveis
no ambiente para as propostas de Planos de Atividades.
68
Tabela 6.2 Leitura e Contribuição
dos textos disponíveis no ACAD-FÍS
Professor
Cursista
Número de
textos lidos
Média da Avaliação
por aluno
1 10 3
,
8
2 6 3,5
3 6 3,5
4 8 3,3
5 8 3,5
6 7 4,3
7 10 3,2
8 10 3,2
9 6 4,8
10 8 3,4
11 6 3,7
12 9 3,7
13 10 3.3
14 9 4,0
15 10 3,3
16 10 3,5
17 7 3.9
18 10 3,9
19 10 4,1
20 9 3,7
Média 8,5
Os resultados do questionário indicaram que os textos contribuíram para a
elaboração dos Planos de Atividades. Como podemos observar todos os professores-
cursistas atribuíram grau acima de 3,0 às leituras. Indicou também que os professores
leram em média mais de 8 dos 10 textos disponíveis no ambiente. Estes dados revelaram
que os materiais oferecidos foram úteis ao professor e compatíveis com a proposta do
Curso.
A tabela 6.3 indica o grau de importância (de 0 a 5) atribuído em média a cada
texto constante do (Quadro 4.1) que são identificados por letras maiúsculas de A a J no
anexo 4. Podemos notar a importância dada aos PCN (texto D) que juntamente com uma
versão comentada (texto E) receberam graus próximos ao máximo.
69
Tabela 6.3 Avaliação da
contribuição individual dos textos
TEXTO A B C D E F G H I J
Média
Texto
3,1 3,3 2,6 4,6 4,2 4,0 3,9 3,9 3,3 3,2
As referências bibliográficas listadas no Universite se constituíam em resenhas, o
que implicava que os cursistas tivessem que pesquisar em bibliotecas para ter acesso aos
textos. Os dados analisados não permitiram detectar influência dessas leituras, o que
parece indicar também o pouco acesso ao Universite.
(e). Análise dos Planos de Atividades
Buscou-se verificar o avanço conceituai dos cursistas em relação ao conteúdo do
curso a partir da análise da solução encontrada pelos grupos para o caso estudado na
forma de um plano de atividades para três aulas. Para tanto, foram analisados os planos
apresentados para a unidade "Mecânica da Partícula: As Leis de Newton e as Interações
Fundamentais da Natureza" e as fichas para resolução de casos (Anexo 2) preenchidas
pelos grupos durante o curso.
Uma análise dos Planos de Atividades demonstrou que os professores
incorporaram em suas soluções discussões levantadas durante o preenchimento da ficha
de solução de casos e conseguiram apresentar avanço em relação ao uso de inovações
tecnológicas e pedagógicas abordadas no curso.
As fichas de resolução de casos preenchidas por quatro dos cinco grupos de
professores-cursistas, apesar de não terem apresentado a especificidade necessária em
termos do conteúdo de Física e das informações disponíveis no ACAD-FÍS, (o que pode
ser atribuído também à falta de especificidade por parte dos orientadores) permitiram
verificar o quanto o curso contribuiu para tornar o professor mais reflexivo e voltado para
a aprendizagem do estudante. A mudança da postura diante da sua própria construção do
70
conhecimento na interação com os tutores também contribuiu para a percepção crítica de
sua prática pedagógica.
Na identificação do problema e busca de soluções para o caso estudado, todos os
grupos se mostraram preocupados com a motivação dos alunos, sugerindo estratégias
baseadas em tarefas concretas e partindo do que o aluno já sabe. Apesar disso, não
mencionaram nenhuma estratégia que explorasse dificuldades conceituais dos estudantes
específicas em termos de conteúdo.
A ênfase dos grupos tanto nas fichas preenchidas como nos Planos de Atividades
foi na renovação metodológica que incluía materiais didáticos como experimentos,
vídeos ou sites da Internet sendo que um dos grupos construiu um conjunto de
transparências que apresentavam imagens de objetos em movimento para serem
utilizadas como recurso didático. Outro grupo incluiu em seu planejamento o uso de
vídeo e os demais utilizaram experiências de baixo custo.
(f). Acompanhamento da Prática Pedagógica.
Após quatro meses da realização do Curso Piloto foi aplicado um questionário de
acompanhamento respondido por 15 dos 20 cursistas. Todos os professores consideraram
que o curso proporcionou ganhos para sua prática pedagógica. Entre as justificativas, a
maioria reconheceu que foi uma oportunidade de repensar a sua prática (e alguns
mencionaram que estavam modificando suas aulas), chamando a atenção para a
importância de troca de idéias entre eles.
Todos os professores fizeram comentários positivos em relação à ABC chamando
atenção para o fato de que essa metodologia levava a buscar as respostas autonomamente.
Todos consideraram que a familiarização com a Internet foi importante, que
gostariam de usar na sua prática apesar de reconhecerem falta de condições atuais das
escolas para isso.
Os comentários dos professores foram em geral próximos, sendo importante
ressaltar que mesmo considerando que não há informação sobre como aplicam o que
aprenderam, a maioria reconheceu mudanças em sua prática pedagógica em função do
curso.
71
Tentando relacionar sua prática hoje, ao curso realizado, a maior parte dos
professores destacou: (i) uso da informática; (ii) novas metodologias; (iii) mais segurança
e valorização do uso de materiais didáticos; (iv) impossibilidade de usar tudo que
aprenderam. Algumas observações individuais foram importantes no sentido de que
ratificaram a mudança em suas posturas, como por exemplo:
Um professor mencionou que procura ouvir mais seus alunos e aplicou um teste
diagnóstico. Além disso, está tentando usar a Internet para montar as aulas. Um professor
alegou que a escola ainda não providenciou materiais necessários para colocar em prática
o que aprendeu no curso. Uma professora mostrou a influência do curso mencionando
que seus alunos dizem que agora ela está "cheia de ideias". Um outro professor
mencionou que ele "despertou" para o ensino de Física através das experiências trocadas
durante o curso, podendo assim aplicá-las em sala de aula. Um professor fez alusão à
metodologia utilizada no curso, classificando-a de moderna, e que esta metodologia
acrescentou muito às suas aulas.
A maioria dos professores solicitou a continuidade do curso, criticando, no
entanto, alguns aspectos: um professor reclamou sobre a dificuldade de interação via
Universite, sugerindo que "dá para trabalhar a distância sem ele". Uma professora
considerou positivo o trabalho a distância, mas defendeu mais encontros presenciais. Um
professor caracterizou como "muito frio" o relacionamento discente-docente a distância.
Uma professora solicitou a continuidade do curso "com mais conteúdo de Física".
(g). Avaliação do Curso Piloto pelos tutores/orientadores
Foi solicitada uma avaliação do curso aos quatro professores que desempenharam
o papel de orientadores pedagógicos do curso na forma de registros por escrito.
Com níveis de interesse distintos e dispondo de tempo limitado para dedicar ao
projeto, que além do trabalho de orientação, exigiu participação nas oficinas de formação
de orientadores, os professores-orientadores conviveram com inúmeras dificuldades que
vão desde a insegurança pela ação pioneira que implementavam, à falta de incentivo
institucional para poderem se dedicar mais profundamente a esse trabalho.
72
Os professores-orientadores consideraram o ACAD-FÍS um sistema bem
estruturado, consistente em relação a sua fundamentação teórica e desenvolvido a partir
da preocupação com as necessidades dos educandos.
Dois orientadores chamaram atenção para a dificuldade de acesso ao Universite,
contornada pela utilização do endereço do ambiente em um provedor comercial.
Na produção do material didático e sua adequação à abordagem pedagógica do
curso, os orientadores consideraram importante participarem mais da produção das
situações-problema nos próximos cursos, tendo sido sugerido que esta produção pudesse
fazer parte das oficinas de formação de orientadores, onde trabalhariam junto com as
especialistas do Centro de Formação.
Metade dos tutores/orientadores entendeu que a comunicação entre os cursistas, e
entre os cursistas e orientadores foi satisfatória, enquanto a outra metade considerou a
comunicação insatisfatória por conta dos problemas de acesso difícil do Universite,
quando se usou recurso como a comunicação por telefone para que dúvidas pudessem ser
retiradas.
A avaliação da experiência pelos professores-orientadores apontou os seguintes
pontos de dificuldade: (i) difícil acesso ao Universite que se apresentou sempre instável e
com um travamento inoportuno quando o cursista ou o professor orientador saiam do
programa de forma incorreta; (ii) dificuldades de interatividade no horário comercial
devido ao provedor local (Bom Jesus do Itabapoana) com baixo link (56k); (iii)
inexistência do trabalho cooperativo com suporte computacional (a colaboração entre os
cursistas se deu de forma presencial); (iv) dificuldade em relação às inovações
metodológicas do curso e ao papel de orientador para o qual todos ainda não se julgavam
preparados.
Quanto aos aspectos positivos, observaram: (i) reconhecimento de que esta
experiência trouxe mudanças em sua forma de pensar a própria prática; (ii) familiarização
com o uso das NTIC em processos de ensino e aprendizagem; (iii) interesse em trabalhar
cooperativamente; (iv) a mediação a distância como possibilidade de apoio à própria
prática pedagógica.
De um modo geral, todos entenderam que a formação a qual foram submetidos foi
fundamental para o trabalho pedagógico a distância. Assim, todos avaliaram como
73
altamente positiva a oportunidade de formação de tutores, que trouxe para o grupo
conhecimentos novos, possibilidade de estudo, acesso à pesquisa em educação,
tecnologias educacionais, e de contato com a modalidade da EaD. Neste sentido a
observação de um dos tutores/orientadores, sobre o processo de formação que
vivenciaram e ao papel que realizaram no curso, questiona a própria expressão EaD:
'"''estudamos muito mais, aprendemos mais e sentimos o aluno mais próximo
também. Por que a distância, então?"
Sumário e Discussão dos Resultados
Foi possível perceber que apesar das dificuldades iniciais com a ABC, o modelo
permitiu que o processo de aprendizagem se iniciasse. Durante o desenvolvimento do
Curso Piloto os professores foram se tornando mais conscientes do tipo de tarefas que
precisavam executar, mais autônomas e de caráter investigativo.
A abordagem do curso, voltada para a solução de problemas típicos de sua prática
pedagógica, conjugada à utilização de inovações tecnológicas e pedagógicas no ensino de
Física, motivaram os cursistas.
O envolvimento dos professores no Curso Piloto apontou para a validade do
modelo da ABC para a Formação Continuada de professores de Física do nível médio.
A maioria dos cursistas aprovou a abordagem pedagógica do curso. Devemos
considerar que os professores-cursistas tomaram conhecimento de uma forma de
aprendizagem que prioriza a relação dialógica, seja com o orientador, seja entre os
professores-cursistas. Este contato pode levá-los daqui para frente a não consumirem
pacotes prontos que não os incentive a sugerir, inovar e muito mais do que isso, intervir.
A intenção dos cursistas em prosseguirem trabalhando nos mesmos moldes revela
o interesse pelo que começaram a vivenciar e mostra que avaliaram positivamente o
curso.
Apesar da aprendizagem colaborativa com o apoio computacional na Internet não
ter sido implementada, os professores perceberam que o trabalho em grupo é possível e
gratificante.
74
O curso desenvolvido procurou dar conta de um conjunto mínimo de
conhecimentos que devem fazer parte da formação continuada do professor de Física
relativos ao Conteúdo, às Inovações Pedagógicas e Tecnológicas. Quanto ao conteúdo,
apesar do curso não ter oferecido novos conhecimentos relacionados à Física, foram
viabilizados debates sobre inovações pedagógicas relativas a como ensinar esse conteúdo,
como contextualizá-lo, que elementos de conteúdo são realmente relevantes, enfim,
questões que levam os professores a repensar o currículo e os materiais didáticos
utilizados. Quanto às inovações tecnológicas no ensino de Física, o curso piloto mostrou
que os professores ainda têm que enfrentar dois grandes desafios: um deles é o de se
apropriarem dessa tecnologia, o outro, de integrar essa tecnologia às suas aulas de forma
significativa. Os professores cursistas reconheceram ser impossível uma transferência do
que vivenciaram em termos do uso das ferramentas de comunicação da Internet para suas
atividades de sala de aula, já que não há infra-estrutura tecnológica nas escolas, porém
entenderam que podem usufruir dessas ferramentas em benefício de seu crescimento
profissional.
.
75
Capítulo 7 Considerações Finais e
Recomendações
Neste capítulo apresentamos as considerações finais relativas ao estudo realizado
e algumas recomendações pertinentes. Atentamos para a identificação de aspectos
positivos do curso e do ambiente virtual desenvolvido, assim como de aspectos que
suscitam dúvidas ou reflexão.
Considerações Finais
O índice de evasão nulo é indicador de uma avaliação positiva do Curso Piloto.
Apesar das dificuldades de implementação da ABC e dos problemas de infra-estrutura
tecnológica de Bom Jesus do Itabapoana, os professores se mantiveram interessados ao
longo de todo o processo. A solicitação de continuidade dessa experiência, feita pela
maioria dos professores que participaram do Curso Piloto, é reconhecida por vários
pesquisadores (SHÔN, 1992, VALE FILHO, 1988 e NÓVOA, 1992) como indicadora da
eficiência da interação realizada.
Este estudo avaliou o papel da Internet como instrumento de ensino, tanto na
perspectiva de aprendizagem significativa quanto do ponto de vista de acesso e
familiarização dos professores com as novas tecnologias. Os participantes do Curso
Piloto pareceram compreender a importância das NTIC como elemento para a sua própria
formação/aprendizagem.
Embora não tenha sido implementado o suporte computacional à colaboração,
verificou-se que o uso das ferramentas de comunicação da Internet aproximou os
professores cursistas de outros professores (tutores/orientadores do curso) e de suas
realidades.
76
Em relação à continuidade deste estudo, uma das possibilidades é tornar o
ACAD-FÍS uma espécie de laboratório pedagógico independente do curso. Para isso
deveriam ser incorporadas ao ambiente, as ferramentas de comunicação da Internet que
poderiam ser usadas para a interação entre os professores 'Visitantes", o que funcionaria
como uma "capaciatação"on-line sobre os problemas enfrentados pelos professores de
Física.
Os resultados deste estudo sugerem que ambientes construtivistas de
aprendizagem a distância mediados pela Internet podem atender às dificuldades da
Educação Continuada do professor em serviço. Entretanto, apontamos o problema do
apoio institucional como um aspecto importante a se considerar. A falta de infra-
estrutura tecnológica nas cidades do interior também deve ser levada em conta,
especialmente a inexistência de computadores ligados a Internet disponíveis para uso
pelos professores.
A média de idade e tempo de docência dos professores que participaram do Curso
Piloto reforçam a importância deste tipo de curso, já que as evidências de pesquisas
internacionais apontam para o fato de que a prática dos professores em geral é adquirida
nos primeiros anos da carreira (FARREL e OLIVEIRA, 1993). Neste sentido, a idéia do
curso realizado foi resgatar um espaço de construção de conhecimento que os professores
deixam para trás ao se formarem (VIANNA & CARVALHO, 2000).
A abordagem pedagógica modelada no ACAD-FÍS mostrou-se adequada pois
aproximou o professor de Física de sua prática pedagógica, envolvendo-o em situações
reais, o que tornou o estudo estimulante. Todos os participantes sentiram que teriam
alguma contribuição a dar, seja no fórum de discussão, nos e-mail trocados com os
tutores/orientadores ou durante a etapa presencial.
Não obstante as dificuldades tecnológicas, o baixo acesso ao gerenciador de
cursos Universite pode ser explicado pelo fato de que a tarefa a ser realizada estava
apresentada no ACAD-FIS além do fato de a modelagem do ambiente não se relacionar
com a modelagem pedagógica do Universite. Esta experiência encaminha como
continuidade a inclusão no ambiente virtual de materiais didáticos que viabilizem a
solução dos casos pelos professores, de visões de especialistas mais específicas além das
ferramentas de comunicação.
77
A tensão permanente entre a valorização do processo de ensino e aprendizagem e
a aquisição de conceitos científicos enfrentada nos projetos de reforma curricular
(MOREIRA e BORGES, 1997) também está presente na Formação Continuada de
professores. Os Planos de Atividades apresentados como solução da situação-problema
estudada mostrou que os professores privilegiaram os aspectos metodológicos
(decorrente da ênfase adotada no curso) em relação ao conteúdo específico. Longe de
resolver esta tensão, é possível que o equilíbrio entre estes dois pólos precise ser
reconsiderado.
Finalmente, a utilização da ABC associada a um ambiente construtivista de
aprendizagem que engaja o professor na reflexão sobre a realidade de sua sala de aula
considerando inovações pedagógicas e tecnológicas no ensino de Física deve levar em
conta as seguintes lições e desafios: (i) a mediação conteudística/metodológica através
de tutores preparados adequadamente
na medida em que a aprendizagem baseada em casos reverte o paradigma condutivista
do ensino, exigindo autonomia dos professores; (ii) acesso (mesmo que
presencial) a materiais didáticos como vídeos, software
educativos, experimentos, etc. que possibilitem a renovação metodológica e
tecnológica da prática do professor; (iii) engajamento institucional, requerendo para
tanto a criação de uma infra-estrutura
escolar e apoio ao professor em termos de tempo para dedicação ao curso; (iv)um
repensar das carências específicas de cada escola, que possam ser alvo de
situações-problema a serem incluídas futuramente no ambiente; (v) a definição das
atividades que podem ser melhor trabalhadas a distância, considerando
que atividades presenciais sejam indispensáveis.
78
Recomendações
O ambiente construtivista para a Formação Continuada de professores de Física
desenvolvido também poderia servir à prática de ensino de alunos das Faculdades de
Educação com Licenciaturas em Ciências (dentre elas o próprio CEFET-Campos que
hoje investe na formação de professores de Ciências com habilitação em Física e
Química) contribuindo para que os licenciandos estejam em contato com conhecimentos
atualizados sem se sentirem receptores apenas, mas participantes de sua construção.
79
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89
Anexos
Anexo 1
Situações-problema do Curso Piloto de Formação Continuada de Professores de Física
Situação-problema 1
Aderbaldo é professor de física de uma escola pública de um município do interior do
Estado do Rio de Janeiro. Esta escola dispõe de recursos como biblioteca e um
laboratório de informática, inaugurado há 1 ano. A direção da escola está começando a
implementar um novo projeto político pedagógico baseado nos PCNs e na apropriação
dos recursos de informática pelos professores.
A Turma 11 é uma das 3 em que Aderbaldo dá aulas. É uma turma
heterogénea e em geral participativa. Aderbaldo terminou a Unidade "Força &
Movimento" nesta turma hoje. Desenvolveu as 3 aulas da unidade basicamente expondo
o conteúdo corretamente, com clareza e utilizando como recursos o quadro de giz, o
livro-texto e os exercícios do livro-texto. Durante as aulas, Aderbaldo escrevia a matéria
no quadro e os alunos copiavam permanecendo em silêncio. Na última aula da unidade,
Aderbaldo resolveu fazer algumas perguntas sobre osconceitos gerais mais importantes
apresentados e os alunos não responderam. O sinal tocou e Aderbaldo saiu da sala
questionando-se sobre como desenvolveu esta unidade e como planejar a próxima.
Situação-problema 2
Ana Lúcia, professora de Física, leu nos Parâmetros Curriculares Nacionais que é
uma das metas do ensino de ciências a interdisciplinaridade. Começa a pensar em um
tema que possa ser abordado de forma interdisciplinar.
Recorrendo de imediato aos professores de Química e Biologia de sua escola, ouve
dos mesmos: - Isso é difícil de fazer, dá muito trabalho e não ganho para isso. A partir daí
a professora Ana busca encontrar soluções para o problema.
Situação-problema 3
João e Maria, professores de ciências da oitava série na mesma escola tomam
conhecimento de uma circular do colégio que os coloca diante da necessidade de
utilização das tecnologias de informática e do laboratório de tecnologias computacionais
recém inaugurado.
Possuindo posições contrárias, ele contrário completamente e ela totalmente a favor,
iniciam uma discussão sobre o que precisa e pode ser feito.
Anexo 2
Ficha para Resolução de Casos
Identificação do Caso - Data de realização do estudo (fechamento)
Participantes
IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
HIPÓTESE DE SOLUÇÃO
MATERIAIS PESQUISADOS
SOLUÇÃO PROPOSTA PARA O CASO
91
Anexo 3
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE FÍSICA DO NÍVEL MÉDIO
QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO: CONDIÇÕES INICIAIS DO PROFESSOR-CURSISTA
NOME:
ÁREA DE FORMAÇÃO
( ) Física ( ) Química ( ) Ciências ( ) Biologia
( ) Matemática ( ) outra____________________
ANO DA FORMATURA:
TIPO DE INSTITUIÇÃO: ( ) Pública ( ) Particular
QUANTO AO CURSO A SER INICIADO: I.
Aspectos Gerais
Quais as suas expectativas?
II. Aspectos Específicos
1)Você já participou de algum tipo de curso desenvolvido sob a forma a distância total ou
parcialmente?
( )SIM ( )NÃO
Em caso afirmativo, identifique o curso e a instituição que o ministrou.
III. Aspectos da Infra-estrutura escolar (onde você leciona)
l)Facilidades quanto ao uso de recursos na Escola:
- Biblioteca ____________ (está/não está) atualizada
-____________ (Tem/Não tem) laboratório de informática
-____________ (Tem/o tem) laboratório de ciências
-____________ (Tem/Não tem) possibilidade de uso de vídeo
92
Anexo 4
Relação de material disponibilizado para leitura na forma impressa e on Une.
Esse material é um instrumento que nos permitirá avaliar qualitativamente a sua
experiência como participante de um curso na modalidade EAD e a utilidade do material
disponibilizado no ambiente desenvolvido.
Apresentamos um formulário onde estão relacionados os textos disponíveis no
ACAD-FIS e o material impresso distribuído na primeira semana presencial do curso. Na
primeira coluna você deve marcar um "X" caso tenha feito a leitura, e na última
qualificar o grau de contribuição da leitura, caso a tenha feito, para a solução do caso
apresentada por seu grupo e o plano de atividades elaborado.
Efetuou a
leitura
Material disponível
índices de
Avaliação
Reportagens do Jornal do Brasil - Caderno Educação & Trabalho
Direito Universal - Gimeno Sacristán (19.12.1999)
0 1 2 3 4 5
Avaliar é buscar justiça - Jussara Hoffmann
(12.09.1999)
0 1 2 3 4 5
A utopia da educação pública - centenário Anísio
Teixeira (18.07.1999)
0 1 2 3 4 5
Currículo mascara a intenção oculta da escola - Julio
Torres Santomé (26.03.2000)
0 1 2 3 4 5
Adultos e crianças vivem momento de desencontro -
Solange Jobim (16.04.2000)
0 1 2 3 4 5
93
0 legado construtivista de duas décadas - Telma Weisz
(14.05.2000)
0 1 2 3 4 5
0 futuro da escola - Nelson Pretto (28.11.2000) 0 1 2 3 4 5
Respeito pela diferença - Rivka Anjovich (23.01.2000) 0 1 2 3 4 5
Novas Tecnologias, desafio para a escola - Vani
Moreira Kenski (12.11.2000)
0 1 2 3 4 5
Para a criança pequena, professor bem-preparado -Vera
Vasconcelos (13.08.2000)
0 1 2 3 4 5
Ensino a distância redefine papel do professor e aluno -
Carlos Lucena (18.07.2000)
0 1 2 3 4 5
Um futuro sem papel e tinta - Roberto Civita
(23.04.2000)
0 1 2 3 4 5
Tecnologia nada garante - Luiz Carlos Scavardado
Carmo (25.07.1999)
0 1 2 3 4 5
A Educação do Futuro - Fredric Litto (19.09.1999) 0 1 2 3 4 5
Universidades terão educação a distância - JB -
(12.12.1999)
0 1 2 3 4 5
Leituras Específicas
A O legado Científico de Newton 0 1 2 3
5
Dificuldades Conceituais dos Estudantes de Mecânica B
Básica - Flávia Rezende
0 1 2 3
5
Idéias Sobre a Natureza do Conhecimento Científico C
0 1 2 3
5
D Parâmetros Curriculares Nacionais 0 1 2 3
4
5
E Proposta de Ensino para o Nível Médio 0 1 2 3
5
94
Aprender com a Colaboração entre Professores - F
Anotações de Ernesto M. Reis - Out/2000
0 1 2 3 4 5
G
A interdisciplinaridade no Currículo Escolar -
Anotações de Susana de S. Barros - Jun/2000
0 1 2 3 4 5
Novas Tecnolo
g
ia Educacionais - Dilennando Piva Jr.H
0 1 2 3 4 5
A Educação como Paradigma: TV Educativa X 1
Educação pela TV - Wagner Bezerra
0 1 2 3 4 5
Novas Tecnologias e Educação: Repensando a
A
p
rendiza
g
em. Materiais Didáticos e Prática Peda
g
ó
g
ic
a
J
- Flávia Rezende
0 1 2 3 4 5
95
Anexo 5
FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE FÍSICA DO NÍVEL MÉDIO
QUESTIONÁRIO AVALIAÇÃO DO CURSO
Gostaríamos que você respondesse as questões abaixo da forma mais livre possível e sem
qualquer constrangimento. Não é necessário identificação.
Data: / / _______________________________________________
1. Você considera que o Curso proporcionou ganhos para sua prática pedagógica atual?
( )SIM ( )NÃO
Justifique sua resposta:
2. Como você avalia a metodologia do Curso de aprendizagem baseada em casos (ABC)?
3. Como você avalia o uso da Internet e do Computador após a experiência adquirida
durante o Curso?
4. Tente relacionar, se possível, sua prática no ensino hoje com o Curso.
5. Comentários livres (Fale o que desejar).
OBRIGADO PELA COLABORAÇÃO
96
Anexo 6
Textos Escritos para o Curso Piloto e não publicados
Texto: A CIÊNCIA DE NEWTON
Organizado por Ruberval Teixeira (CEFET-Campos)
É consenso geral que as obras de Isaac Newton são parte da história intelectual da
humanidade. Seu trabalho representa uma solução magnífica do problema do movimento
dos corpos celestes, desafio a filósofos desde os tempos pré-socráticos. Newton criou
uma estrutura conceituai que iria dominar não só a Física, como também a visão coletiva
de mundo até o início do século XX.
A razão principal do grande impacto que as idéias newtonianas tiveram no
desenvolvimento intelectual da cultura ocidental pode ser remontada à enorme eficiência
com que Newton aplicou a Matemática à Física. Ele mostrou que todos os movimentos
observados na Natureza, desde a queda de uma gota de chuva até a trajetória cósmica dos
cometas, podem ser compreendidos em termos de simples "leis de movimento" expressas
matematicamente.O raciocínio quantitativo tornou-se sinônimo de ciência, e com tal
sucesso que a metodologia newtoniana foi transformada na base conceituai de todas as
áreas de atividade intelectual, não só científica, como também política, histórica, social e
até moral.
A revolucionária estrutura conceituai levou anos amadurecendo na mente de
Newton. Primeiro, ele introduziu o conceito de massa, uma medida da quantidade de
matéria bruta de um objeto, prosseguiu com a definição de quantidade de movimento de
um objeto, como sendo o produto de sua massa por sua velocidade. Outro conceito
importante é o conceito de inércia, que pode ser definida como a reação de um objeto a
qualquer mudança em sua quantidade de movimento. Conhecemos bem esse conceito a
partir de nossa experiência cotidiana. O que movemos com maior dificuldade: uma pedra
pequena ou uma muita maior? Na nova linguagem, tanto a pedra maior como a pequena
97
inicialmente têm quantidade de movimento nula, já que ambas estão em repouso
(velocidade nula). Entretanto, devido à grande diferença entre suas massas, a pedra maior
oferece muito mais resistência a qualquer mudança em sua quantidade de movimento do
que a pedra pequena.
Após esses conceitos de massa, quantidade de movimento e inércia, ele introduz a
idéia de força. Temos que empurrar a pedra para fazer com que ela se mova, isto é,
aplicar uma força sobre ela para mudar seu estado de movimento.
Quando discutimos a "força", é fundamental que tenhamos um método para medir
mudanças de posição, relativamente a um ponto fixo, em um certo intervalo de tempo.
Em outras palavras, já que movimento significa "variação de posição", para que Newton
pudesse estudar quantitativamente o movimento dos objetos, ele precisava de definições
apropriadas de tempo e espaço. Segundo Newton, é basicamente a arena geométrica onde
os fenõmenos físicos ocorrem, flui de modo contínuo e sempre no mesmo ritmo,
perfeitamente indiferente aos vários modos como nós, seres humanos, escolhemos marcá-
lo. Com as definições de Newton formula-se suas três famosas leis, que determina toda
informação necessária à descrição do movimento de objetos materiais.
1ª Lei: "Todo corpo permanece em seu estado de repouso ou de movimento uniforme em
linha reta, a menos que seja obrigado a mudar seu estado por forças que atuem sobre
ele".
"Os projéteis permanecem em seus movimentos enquanto não forem retardados
pela resistência do ar e impelidos para baixo pela força da gravidade", vemos que a
primeira Lei é simplesmente uma expressão do princípio de inércia.
2
a
Lei: "A mudança do movimento é proporcional à força motriz impressa; e se faz
segundo a linha reta pela qual se imprime essa força".
Portanto, a mudança no estado de movimento de um objeto, ou seja, a mudança
em sua quantidade de movimento, é proporcional à força impressa sobre o objeto. Se a
massa do corpo não muda enquanto a força é impressa sobre ele (um exemplo contrário
seria um balde furado, cheio de água, sendo empurrado para frente), então essa Lei pode
98
ser expressa pela famosa equação F = m .a., onde "F" é a força, "m" é a massa do corpo
sobre o qual a força está sendo impressa, e "a" é a aceleração que resulta da aplicação da
força. A mudança na quantidade de movimento se deve à mudança na velocidade do
objeto, ou seja, sua aceleração.
3
a
Lei: "A uma ação sempre se opõe uma reação igual, ou seja, as ações de dois corpos
um sobre o centro são iguais e se dirigem apartes contrárias".
Essas definições e as três Leis formam o edifício conceituai da nova mecânica e
são uma visão clássica do mundo, produto da Revolução Científica.
Fontes de Consulta:
Gleiser, Marcelo: A Dança do Universo. SP, Schwarcz, 1997.
Guimarães, Luis Alberto e Boa, Marcelo Fonte: Física-Mecânica. SP, Harbra,1997
Filho, Aurélio Gonçalves e Toscano, Carlos: Física e Realidade. SP, Scipione, 1997
Texto: APRENDER COM A COLABORAÇÃO ENTRE OS PROFESSORES
(Anotações de Ernesto Macedo Reis, CEFET-Campos sobre o texto de Fernando
Hernandèz / Unid de Ciencias Sociales y de la Educación de Barcelona) - junho 2000
A tarefa de formação do professor não dever ser um processo isolado e unidirecional. O
autor nos mostra a idéia de auto-formação como processo no qual intervem diversos
indivíduos e instituições que inter-relacionadas e compartilhando um trabalho em
comum, chegam a elaborar propostas claras para levar à escola. Fernando Hernández
parte da idéia de que se logrará um trabalho mais eficiente quanto maior for a autonomia
dos docentes para construir seu próprio plano de formação. Essa é uma idéia que
99
compartilhamos nesse trabalho onde instituições se juntam, o trabalho cooperativo é
estimulado e podemos presenciar a maturidade de um grupo de professores falar mais
alto quanto a capacidade da construção do conhecimento individual a partir do
desenvolvimento de uma aprendizagem coletiva.
O tema do trabalho se volta para a necessidade de se incorporar novas perspectivas de
racionalidade na formação do professor, na investigação e nas inovações educativas.
Sobretudo porque este enfoque não tem em conta que os indivíduos tem suas próprias
representações sobre a realidade, que todo plano não é interpretado de uma única
maneira, que a realidade em que se aplica o plano não é homogênea.
Outro caminho a se considerar por suas evidências é que os professores também contam
nos processos de inovação e formação, também tem um saber, um conhecimento, um
pensamento.
A Colaboração ante a complexidade da aprendizagem:
A função da escola, as concepções sobre a aprendizagem tem mudado nos últimos anos.
Quando se prepara os estudantes para raciocinar, aprender em uma era de constantes
modificações, as metas, as atividades de aprendizagem e as estruturas organizativas das
escolas têm que mudar. Desta maneira os objetos da escola se transformam e passam a
transmitir informação, a facilitar o interesse e as estratégias para recolher e interpretar
diferentes fontes de informação, enfrentar criticamente os conhecimentos escolares e
aplicar o conhecimento adquirido para tratar de definir e trabalhar em problemas práticos.
Partindo das necessidades individuais, este enfoque se caracteriza por ser um processo no
qual os mesmos docentes são os que planejam e seguem as atividades de formação, que
crêem podem facilitar sua própria aprendizagem. A base deste modelo parte de uma
observação; referências teóricas que se vinculam com estas concepções podem encontrar-
se em autores como Karl Rogers que escreve " o único aprendizado que tem uma
influência significativa no comportamento é o que se fundamenta na auto-aprendizagem,
100
e no auto-descobrimento". A relação entre a universidade e a escola tem de ser
permanentemente repensada se observamos o sistema educativo como um todo que
prepara os cidadãos para participarem ativamente em uma sociedade dominada pela
contínua produção de informação.
Professores podem aprender individualmente realizando uma investigação, levando a
cabo um projeto de inovação subvencionado, elaborando materiais didáticos e outras
atividades relacionadas com seu trabalho profissional.
A observação - valorização como guia da prática docente
Deve-se a que na prática docente marca-se uma individualidade muito grande, e o
professor considera sua classe como um lugar privado, a que só se ascende a partir de
uma posição de autoridade e não para gerar um conhecimento que contribua para a sua
própria formação.
As fases do modelo de formação que pode realizar-se tanto com um formador, um
assessor, ou com outro colega, normalmente inclui:
(i) uma reunião antes da observação em que se estabelece os objetivos, o tema do
problema que se revisará, se decide o sistema de observação que vai ser utilizado
e se estabelece a previsão dos problemas que se pode encontrar; (ii) a
observação de acordo com o estabelecido com antecedência, pode se centrar
tanto nos alunos como no professor, podendo ser focado numa questão particular
ou de caráter geral; (iii) na análise dos dados participam tanto o professor
quanto o observador, fazendo-se
referência aos objetivos estabelecidos anteriormente e trata-se de evidenciar os
aspectos relevantes encontrados durante o trabalho (também os não esperados
nem previstos); (iv) uma reunião de pós-observação, na qual tanto o professor
como o observador
refletem sobre o que passou, comparando os dados recolhidos, e;
101
(v) em algumas ocasiões se pode realizar uma análise crítica do processo de
observação/evolução, que facilita uma nova oportunidade para reflexões sobre o
valor do processo seguido e discutir as modificações que podem ser feitas em
futuros ciclos de formação.
O desenvolvimento melhora o ensino
"... cada docente aprende muitas coisas por si mesmo, mediante a leitura, a conversação
com colegas, pondo a prova novas estratégias de ensino, a própria experiência
profissional..."
" Os indivíduos estão mais motivados para aprender quando selecionam seus objetivos e
uma modalidade de formação que responda a suas necessidades."
Fundamenta-se nestes dois aportes na concepção de que os adultos aprendem melhor
quanto tem necessidade de conhecer algo concreto ou tem de resolver um problema. De
fato, em cada situação, a aprendizagem dos professores se guia pela necessidade de dar
respostas a determinados problemas.
A formação do professor e a melhoria da escola e do currículo são processos que devem
acontecer juntos. Este enfoque pode apresentar diversas formas, e seu desenvolvimento
só pode ser limitado pela imaginação do professor, sendo possível assinalar alguns
elementos comuns que configuram os passos a seguir: (i) de maneira individual ou
em grupo, os professores identificam um problema ou
um tema que seja de seu interesse a partir de uma observação ou uma conversa
reflexiva; (ii) pleiteiam formas diferentes de recolher informação sobre o
problema inicial, que
pode implicar tanto num estudo bibliográfico como a partir dos dados obtidos na
classe ou na escola; (iii) estes dados são analisados
individualmente ou em grupo; (iv) por último, se realizam as
modificações pertinentes;
102
(v) e, se volta a obter novos dados e idéias para analisar os efeitos da investigação
que tem realizado, continuando-se com o processo de formação da prática.
"Quando os representantes da administração, os professores e os formadores trabalham
juntos, cada um pode aprender a perspectiva do outro".
Definitivamente a cultura escolar requer um clima sem reticências entre o professorado,
uma organização minimamente estável nos centros de apoio à formação e uma boa
relação com a administração.
Texto: A INTERDISCIPLINARIDADE NO CURRÍCULO ESCOLAR
(Anotações de Susana de Souza Barros, I. Física, UFRJ)
"Os objetivos do Ensino Médio em cada área de conhecimento devem envolver, de
forma combinada, o desenvolvimento de conhecimentos práticos, contextualizados, que
respondam às necessidades da vida contemporânea e o desenvolvimento de
conhecimentos mais amplos e abstratos que correspondam a uma cultura geral e a uma
visão de mundo." PCN , MEC/SEMTEC, 1998.
Qual será o papel do professor nesse novo modelo de educação?
Na atualidade muito se discute o problema da educação escolarizada que precisa rever a
forma como apresenta os conhecimentos vinculados às disciplinas, que até o presente são
trabalhados de forma compartimentaiizada, como campos fechados de conhecimento.
Dificilmente um professor de física trata de assuntos relacionados à biologia e mesmo à
química ou a astronomia, áreas de sabereso próximos. O que dizer das relações com a
música, a literatura ou a sociedade ?
Quais os fatores a considerar para orientar as decisões quando se pretende adotar
/adaptar um projeto curricular novo?
103
Claro está que existem opiniões a favor e contra o ensino que integra diversos saberes,
tanto oriundos da atual estrutura escolar, como do campo da psicologia, livros texto e a
própria cultura que domina a formação dos professores.
Um aspecto que predomina no atual currículo é a opinião fortemente arraigada sobre o
que os professores ensinam representa as necessidades de conhecimento para a vida atual
e futura do aprendiz..
Ensinar a correlacionar e combinar conceitos e procedimentos que se aprendem nas
disciplinas curriculares de forma separada é um aspecto que sempre preocupou as
autoridades educacionais, e hoje se transformou em foco de discussão, como apresentado
nas recomendações curriculares dos PCN , no parágrafo inicial.
Diversos autores, em diversos países encontram uma forma comum para discutir a
interdisciplinaridade na escola : ensinar os alunos a investigar partindo de problemas que
estão relacionados à vida real. Desenvolver a capacidade de pesquisar um assunto
mediante estratégias que permitam encontrar evidências e exemplos, generalizar, aplicar,
estabelecer analogias e representar o assunto de novas formas, configurando respostas
que não estão presentes desde o início..
É verdade que a escola deve apresentar um ensino atualizado que leve à construção dos
conhecimentos básicos necessários para continuar aprendendo: ou seja um embasamento
que hoje se desenvolve através do ensino das disciplinas curriculares. Este requerimento
está no cerne da questão já que exige que a construção dos diversos saberes se dê de
forma concomitante.
Este aspecto não é compartilhado pela grande maioria do professorado que acredita que
aprender a correlacionar significa conhecer previamente aquilo que se deseja
correlacionar, e que não é possível confundir o saber decorrente do senso comum com os
104
saberes organizados, estruturados, que exigem um certo grau de especialização para
poder desenvolver os novos conhecimentos.
Muito se fala hoje em interdisciplinar (comum a várias disciplinas ou ramos do
conhecimento) e transdisciplinar (através , que perpassa as disciplinas). Como sabemos o
mundo real não é "disciplinar", mas nós, professores, somos disciplinares (pelo menos a
maioria) e assim ensinamos. Isso não é necessariamente ruim se pudermos fazer um
trabalho disciplinado e responsável para com a nossa área de conhecimento, sabendo
quais são as ligações que precisamos fazer com as outras áreas, e como fazê-las.
Argumentos sobre o currículo transdisciplinar
Favoráveis: Favorece ensino e aprendizagem; melhora a escolaridade. Os argumentos
seriam a eficiência na utilização do tempo e o estímulo ao conhecimento dos professores.
Sequências completas podem ser desenvolvidas sem interrupção, evitam-se repetições
dos mesmo assuntos devido à falta de coordenação das diversas ementas, a comunicação
entre os professores é melhorada e o diagnóstico da aprendizagem dos alunos deve ser
implementado ao nível pessoal, trazendo benefícios.
Desfavoráveis: A integração de várias disciplinas leva à redução de conteúdos das áreas
originais, o tratamento de conteúdos podem ser limitados, dadas às características e
formação dos professores, exige maior dedicação e tempo por parte dos professores, já
que eles tem que reconstruir os materiais, porque os livros didáticos são geralmente
especializados, e isto faz com que os professores não disponham de tempo para avaliação
formativa totalmente necessária neste tipo de ensino. O principal argumento contra reside
na importância do conhecimento disciplinar, sua possibilidade de validação entre pares
que possuem conhecimentos no mesmo campo, seu ordenamento do ponto de vista
conceituai.
Ambas posições tem alguma parte de razão, mas também ambas olham para o currículo
projetando o conhecimento disciplinar do passado, já que hoje os novos campos do
105
conhecimento crescem sem parar, devido justamente à dissolução de barreiras e ao
interesse pelos trabalhos nos campos de conhecimento interdisciplinares, já que o
conhecimento desenvolvido está tratando cada vez mais com a complexidade, que exige
o olhar científico dos diversos campos para desvendar conhecimentos e comportamentos
dos fenômenos
Diferenças entre currículo disciplinar e transdiciplinar
Disciplinar Transdisciplinar
Conceitos disciplinares Temas e problemas
Objetivos e metas curriculares Perguntas, investigação
Conhecimento acadêmico Conhecimento construído
Uidades centradas em conceitos disciplinares Unidades centradas em temas/problemas
Aulas Pequenos grupos desenvolvem projetos
Uso de livros didáticos Diversas fontes utilizadas
Centrado na Escola Centrado no mundo real e na comunidade
Conhecimento não faz sentido por si mesmo Conhecimento e fruto da pesquisa do
aprendiz
Avaliação através de Provas Avaliação através de Portfólios
Professor como especialista O Professor com recursos
Estratégia para transformar problemas num processo de pesquisa
(proposta por F. Hernández, Investigación en la escuela, no 32, 1997).
1. Projeto percorre o problema que favorece análise, interpretação e a crítica.
2. Deve predominar a atitude de cooperação e o professor é também um aprendiz e não
apenas um especialista.
3. Percorre os assuntos tentando estabelecer conexões e questiona a idéia de uma única
versão /solução .
4. Cada caminho percorrido pelo aprendiz é singular e trabalha com diferentes tipos de
informação
5. O Professor ensina e ouve.
6. Aquilo que desejamos ensinar tem muitas formas de ser apreendido (considerar as
diversas forma de aprender dos alunos).
7. Atualiza conhecimentos novos e saberes estabelecidos.
8. Forma de aprendizagem que considera que todo aluno pode aprender se ele encontra
espaço para tanto.
9. A aprendizagem é também associada à ação, à atividade manual, à intuição.
106
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