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instância, deixou o estrangeiro entrar; ele contou toda a sua
história, a irmã acreditou e o tratou muito bem.
Perguntou-lhe como poderia ter chegado ali àquelas
brenhas, e o irmão disse-lhe ter o poder da bota. Pela tarde, a
rainha se pôs a chorar e o irmão lhe indagou a razão, ao que ela
respondeu que seu marido era o rei dos peixes e, quando vinha
jantar, era muito zangado, em termos de acabar com tudo, e não
queria que ninguém fosse ter ao seu palácio…
O moço disse-lhe que por isso não se incomodasse,
que tinha com que se esconder e não ser visto, e era com a
carapuça. Pela tarde veio o rei dos peixes, acompanhado de
uma porção de outros, que o deixaram na porta do palácio e
se retiraram. Chegou o rei muito aborrecido, dando pulos e
pancadas, dizendo: “Aqui me fede a sangue real!” do que a
rainha o dissuadia; até que ele tomou banho e se desencantou
num belo moço.
Seguiu-se o jantar, no qual a rainha perguntou-lhe:
— Se aqui viesse um irmão meu, cunhado seu, você o
que fazia?
— Tratava e venerava como a você mesma; e se está
aí, apareça.
Foi a resposta do rei. O moço apareceu e foi muito
considerado. Depois de muita conversação, em que contou
sua viagem, foi instado para ficar ali, morando com a irmã,
ao que disse que não, porque ainda lhe restavam duas irmãs a
visitar.
O rei lhe indagou que préstimo tinha aquela bota, e
quando soube do que valia, disse:
— Se eu a apanhasse, ia ver a rainha de Castela.
O moço, não querendo ficar, despediu-se e, no ato da
saída, o cunhado lhe deu uma escama, e disse-lhe:
— Quando você estiver em algum perigo, pegue nesta
escama, e diga: “Valha-me o rei dos peixes’”.
O moço saiu e quando se encobriu do palácio, disse:
“Bota, me bota em casa de minha irmã segunda”; e, quando
abriu os olhos, lá estava. Era um palácio ainda mais bonito e
rico do que o outro. Com alguma dificuldade da parte da irmã,
entrou e foi recebido muito bem. Depois de muita conversa,
a sua irmã do meio pôs-se a chorar, dizendo que era “por ele
estar aí, e, sendo seu marido o rei dos carneiros, quando vinha
jantar, era dando muitas marradas, em termos de matar tudo”.
O irmão apaziguou-a, dizendo que tinha onde se