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Além de estabelecer os critérios gerais de classificação e
desclassificação, era necessário também estabelecer o critério de
desempate, em caso de dois times ficarem no final da disputa com o
mesmo número de pontos ganhos. Era preciso, neste caso, um critério
de decisão. Decidir por saldo de gols era perigoso, pois poderia haver
uma “peruada à la argentina”. Decidir por pênaltis era complicado,
pela própria complexidade da cobrança, em face da famosa
movimentação do goleiro antes de cobrar a falta ou da famosa
paradinha criada pelo Rei Pelé, que só chuta depois que o goleiro se
desloca para um lado. Como esses critérios são sempre passíveis de
interpretação, e como tribunal de futebol de várzea costuma ser o
tapa, decidiu-se adotar um critério muito usado em campeonatos
estaduais e nacionais de futebol profissional: se, no final do
campeonato, dois times estiverem com o mesmo número de pontos
ganhos, o campeão será o time com maior número de vitórias. O
professor de Matemática ouviu as recomendações, fez a minuta do
regulamento e apresentou-o à Comissão Organizadora. Esta, por falta
de tempo (eterna desculpa de nós brasileiros), aprovou tudo sem ler,
em confiança!
O Campeonato começou e, no seu desenrolar, dois times se destacaram:
o Heróis do Minho (que − dizem, mas nunca foi provado − era financiado
por um português, dono da maior padaria do lugar), e o Flor da Mocidade,
que representava um bairro pobre do arrabalde da cidade. Com o evoluir
dos jogos, o Flor da Mocidade passou à frente, e só faltava um jogo no
domingo. Para seu único rival, o Heróis do Minho, também só restava um
jogo no sábado. Se o Flor da Mocidade vencesse no domingo, seria o
campeão pelo maior número de vitórias, mesmo que o Heróis do Minho
vencesse no sábado.
E foi o que deu. No sábado, o Heróis do Minho venceu. O estádio
encheu, no domingo, para ver a última partida.
Se o Flor da Mocidade empatasse ou
perdesse, adeus título. Mas, se vencesse, então
seria campeão por ter uma vitória a mais que
o Heróis do Minho. No esperado domingo
não deu outra. No fim do primeiro tempo o