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cionais, intelectuais, fisiológicos, neurológicos,
culturais, econômicos e políticos.
O leitor verdadeiro sabe que um texto – e
mais especificamente o texto ficcional – não
tem apenas um sentido, mas vários. Barthes
afirma a pluralidade do texto, assim como a
necessidade de pluralidade na leitura. “Ler é
encontrar sentidos”, afirma. O leitor, por si só,
ao aproximar-se do texto, não se encontra em
estado de inocência, mas já carrega consigo
“uma pluralidade de outros textos” (Barthes,
1992: 44). Ao acionar seu olhar plural sobre o
texto, o leitor desencadeia um processo de no-
meação progressiva de uma complexa rede de
significados. A tarefa do leitor, segundo o
ensaísta, está associada à idéia de movimento,
de deslocamento incessante e de articulação,
por meio da leitura, dos sentidos encadeados e
agrupados no espaço do texto.
“Para gostar de ler, devemos ter paixão pela
leitura”, afirma categoricamente a ensaísta
Angela Kleiman. A escola, segundo a autora, pa-
rece continuar a não perceber que as atividades
de leitura legitimadas por ela estão distantes do
ideal de atividade que desperte a curiosidade, o
prazer e o desejo de ler. A tarefa de ler em sala de
aula, para Kleiman, perde o sentido para os alu-
nos porque é fácil ou difícil demais. O fracasso
proveniente dos primeiros frustrantes contatos
com a palavra escrita tende a continuar nos anos
seguintes, criando, segundo a teórica, ao contrá-
rio de todas as expectativas, um “não-leitor em
formação” (Kleiman, 1993: 16).
Investir no desenvolvimento, na escola, de
práticas de leitura que permitam o desabrochar
do olhar plural do leitor, fazendo que diferen-
tes textos e várias leituras circulem e dialoguem
entre si e com as leituras desse mesmo leitor,
colocando-se o professor como mediador des-
se encontro, resume-se, a nosso ver, no passo
mais natural e acertado. Claro está que se o pró-
prio professor não tiver sido orientado, na es-
cola e fora dela, na construção de sua compe-
tência em leitura, pouco poderá ajudar na for-
mação de outros leitores e, em muitos casos,
poderá até prejudicar a sua iniciação. A histó-
ria de leitor do professor, certamente, determi-
nará o grau de significação das práticas de lei-
tura realizadas na escola. Segundo Marisa
Lajolo, pode-se avaliar a eficiência da tarefa do
professor, nas atividades de leitura escolar, a
partir de sua competência visível de sujeito lei-
tor, demonstrada no diálogo com seus alunos
nas atividades de leitura. Somente dessa forma
será possível “contagiar” sua classe e promover
a inserção de seus alunos no mundo da leitura,
favorecendo, sem dúvida, a participação cres-
cente deles como cidadão ativo no mundo. É
bem mais fácil e coerente formar leitores críti-
cos quando se é um deles.
Nossas práticas de leitura e de escrita no CAp
originam-se, sem dúvida, de uma sincera paixão
particular pela leitura e pela escrita. Ao realizar
nossos projetos, somos, naturalmente, guiadas
pelo desejo de despertar essa paixão em cada um
de nossos leitores em formação. Atentas aos nos-
sos propósitos e aos interesses das crianças, de-
senvolvemos, em nosso plano de trabalho, o que
os autores mencionados sugerem como uma ta-
refa de questionamento de diversos gêneros de
textos, propiciando condições para que o aluno
construa seu aprendizado de forma ativa,
interagindo com o objeto do conhecimento e
com os demais participantes das situações de
aprendizagem vivenciadas na escola.
Acreditamos que, também na escola, os alu-
nos podem e devem ser contagiados pelo dese-
jo de ler e de ouvir histórias inventadas ou re-
ais e, ainda, poemas, canções, parlendas, pro-
vérbios, notícias, manchetes, cartazes, docu-
mentos, textos científicos, mitos e lendas e ou-
tros gêneros de texto, ampliando o seu conhe-
cimento da língua e da linguagem e constituin-
do-se como sujeitos leitores competentes, crí-
ticos e criativos.
Acreditamos, ainda, que possam, utilizan-
do a escrita, comunicar-se produzindo textos
que se orientam pelas normas gramaticais e
pela correção ortográfica. Na escola, as crian-
ças refletindo, juntas, permanentemente, sobre
os fenômenos da linguagem buscariam, enfim,
expressar-se, oralmente e por escrito, defenden-
do seus pontos de vista, apresentando argu-
mentos, propondo questões, formulando hipó-
teses e comprovando teorias. Alguns dos proje-
tos desenvolvidos aqui descritos permitem que
se avalie nossa prática diária no aprendizado de
leitura e escrita: