Download PDF
ads:
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
EXPEDIENTE
Expediente
Conselho editorial
Andréa de Faria Barros Andrade, Getúlio Marques Ferreira,
Sandra Branchine e Sonia Ana C. Leszczynski
Coordenação editorial
Cinara Barbosa e Rodrigo Farhat
Produção executiva
Cinara Barbosa
Reportagens e fotografias
Rodrigo Farhat
Revisão
Gráfica Ipiranga
Impressão e Projeto Gráfico
Gráfica Ipiranga
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
A exatidão das informações, os conceitos e opiniões emitidos nos resumos estendidos
são de exclusiva responsabilidade dos autores
Agradecimentos
André Vilaron
Mônica Maria Montenegro de Oliveira
E a todos os professores e estudantes que fazem a rede de educação tecnológica no Brasil.
©2005 Ministério da Educação
É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte.
Série Cadernos Temáticos
Tiragem: 2.800 exemplares
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Esplanada dos Ministérios, Edifício Sede, bloco L, andar
70047-900 - Brasília - DF
Tel.: (61) 2104-8430/9526
Fax: (61) 2104-9744
Endereço na Internet: www.mec.gov.br
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Centro de Informação e Biblioteca em Educação (CIBEC)
Cadernos temáticos / Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica.
v. 1, (nov. 2004) . Brasília : Secretaria de Educação Profissional
e Tecnológica, 2004-.
1. Educação profissional. 2. Práticas educativas. 3. Experiências
pedagógicas.
CDU 377
ads:
André Vilaron
Apresentação 07
Editorial 09
Reportagens
O conhecimento anda até de ônibus na Bahia 10
Cefet Paraíba e ONG fortalecem comunidades 16
Cefet-RN cria dessalinizador de água por troca iônica 22
Paraíba forma nova geração de pescadores de atum 30
Resumos Estendidos
 Aprendizado em " Comunidades de Prática" como fator estruturante de
processos participativos de inovação e desenvolvimento local:
o caso de São Mateus do Sul 35
Geraldo Morceli Bolzani Júnior e Décio Estevão do Nascimento
Inclusão digital 36
Max Portuguez Obeso
Campo-escola 38
Lunardo Alves Sena, Nivaldo Ferreira Silva Jr., Gilson Gomes de Medeiros, Raimundo Nonato
Barbosa Felipe e Renata C. Tavares dos Santos Felipe
Projeto "Praticares" - prática profissional aplicada à realidade social 39
Octavio Costa Fernandes
Uma experiência educacional com jovens socialmente excluídos 41
Leila Maria Pereira
Necessidades em saúde das famílias do loteamento Cidade
Recreio Cabo Branco 43
Eliete Alves da Silva
A lógica subjacente à concepção de escola inclusiva 45
Lúcia Maria Blois Villela e Ana Maria Milheira Cardoso
Cefet-AM defende folclore genuíno 47
Raimundo Luiz de Salles Teixeira
Integração e articulação do processo pedagógico em empresas
simuladas, orientadas e incubadoras na formação profissional 48
Rita Eliane da Silva, Genoveva Aparecida Rangel, Débora Canjani Campos e
Eder Clementino dos Santos
SUMÁRIO
Sumário
O arquivo literário de Cleonice Rainho 50
Maria José Machado Cardoso
Pesquisa socioeconômica e cultural na cidade de Rio Pomba 51
Flávio Bittencourt e Marcos Pascoalino
Do campo para escola: semeando igualdade e colhendo cidadania 52
Francisco Salviano Nobre
Lepa - aproximações entre teoria e prática 54
Thyrza Schlichting de Lorenzi
Educação profissional em Mossoró: a experiência do Cefet - RN
na formação de trabalhadores para o setor de petróleo e gás natural 56
Jailton Barbosa dos Santos
A inserção digital na educação especial 58
Andréa da Silva
O Encontro de Arte de Belém como palco de formação profissional 59
Ana Maria Souza, Adriana Couceiro e Celson H. S. Gomes
Prática de ensino de língua portuguesa e exclusão social 61
Lúcia Maria Blois Villela e Ana Maria Milheira Cardoso
A educação científica como fator de inclusão social 63
Luiz Edmundo Vargas de Aguiar, Miguel Sette e Câmara, Vitor Luiz Bastos de Jesus,
Suely Pereira Rosa e Maura Ventura Chinelli
" Treinamento e vivência" - Projeto em Extensão Rural 65
Darcy Bittencourt Júnior
O Cefet-ES promovendo a cultura popular em Goiabeiras Velha 67
Jamilda Alves Rodrigues Bento
Projeto de leitura no presídio 68
Lígia Nara Lopes M. Gonçalves e Lucilena Velleda Meirelles
Do sonho veio a Aresp 68
Thyrza Schlichting de Lorenzi Pires
Contatos 70
Foco 72
André Vilaron
APRESENTAÇÃO
Apresentação
Leitor,
Um retrato da rede federal de educação tecnológica começa a
ser desenhado neste quinto Caderno Temático da Educação
Profissional e está em suas mãos. Aqui, você vai encontrar
relatos de experiências e práticas pedagógicas e também
reportagens sobre experiências dessas escolas junto às
comunidades.
Este caderno integra uma série de cinco. O primeiro volume
aborda temas ligados ao meio ambiente; o segundo examina
projetos relacionados à qualidade de vida, cidadania, saúde,
educação e trabalho e o terceiro exemplar da série, à
comunicação, à informática, aos multimeios e à
interdisciplinaridade. Por fim, o quarto caderno está centrado
em experiências ligadas à produção de riquezas e o
desenvolvimento de tecnologias brasileiras.
Trabalho nunca antes feito pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação, estes
cinco cadernos são espaço para divulgação de práticas e
pesquisas científicas. Para produzi-los, a equipe da Setec foi
para as ruas ouvir professores, alunos, funcionários e
moradores das vilas e das cidades de diferentes Brasis.
Algumas instituições aparecem nos resumos de práticas
pedagógicas e nos relatos de experiências, outras foram focadas
pelas reportagens e uma parcela consta de ambas as partes desse
volume.
As reportagens procuraram mostrar, de outro ângulo, uma
rede de escolas pouco conhecida do grande público. As matérias
abordam, principalmente, o compromisso e o relacionamento
das instituições com as comunidades onde estão localizadas.
Esperamos publicar nas próximas edições dos Cadernos
Temáticos da Educação Profissional, novas experiências, novas
práticas e novos relatos, preferencialmente, de um Brasil
melhor e mais moderno, resultado do ensino, da pesquisa e de
atividades de extensão desenvolvidas nas escolas da rede federal
de educação profissional e tecnológica.
Boa leitura.
Antonio Ibañez Ruiz
Secretário de Educação Profissional e Tecnológica
7
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
8 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
André Vilaron
9
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
EDITORIAL
Editorial
O Brasil precisa de profissionais com novos perfis. Criativos,
autônomos, que saibam exercer suas atividades em grupos, que
sejam solidários e tolerantes e capazes de avaliar seus resultados.
Além de saber como fazer, esses novos trabalhadores devem
ainda entender porquê se faz dessa ou daquela maneira.
Este caderno produzido pela Secretaria de Educação
Profissional e Tecnológica do Ministério da Educação faz um
recorte na formação dos brasileiros pelas instituições federais
de educação profissional e revela um dos retratos possíveis
sobre a forma como o Brasil tem preparado esses novos
trabalhadores.
A rede - integrada por 34 Centros Federais de Educação
Tecnológica (Cefets), 36 Escolas Agrotécnicas (EAFs) e 42
unidades de ensino descentralizadas e a Escola Técnica de
Palmas -, quase um século, capacita para o mundo do trabalho
milhares de técnicos e tecnólogos, mestres e doutores, que
atuam em 20 diferentes áreas profissionais.
Um esboço dessa rede está neste volume, sob a forma de relatos
de experiências, práticas pedagógicas e de reportagens. Neste
exemplar sobre a relação da escola com a comunidade,
trabalhos sobre a formação da Associação de Recicladores
Esperança, em Florianópolis, da professora Thyrza Schlichting
de Lorenzi Pires, do Cefet de Santa Catarina, e a inserção
digital na educação especial, projeto desenvolvido por
professores da EAF de Alegrete, no Rio Grande do Sul. A
educação científica como fator de inclusão social, de
pesquisadores do Cefet de Química de Nilópolis, no Rio de
Janeiro, e a pesquisa socioeconômica e cultural de Rio Pomba,
em Minas Gerais, feita por professores do Cefet da cidade,
são outros dos 22 relatos presentes neste volume.
As reportagens tratam do projeto Escola Móvel, desenvolvido
pelo professor Euro Araújo e os estudantes da EAF de Catu,
na Bahia, e do trabalho feito pelos professores Tânia Andrade
e José Arimatéa de Albuquerque, junto às comunidades indígena
dos Potiguara em Rio Tinto e de remanescentes de quilombolas
no Conde. A Paraíba também está representada neste volume
com o projeto do curso básico de pesca oceânica, idealizado
para formar pescadores para grandes embarcações. Do Rio
Grande do Norte, o exemplo vem da professora Andréa Lessa
e equipe, com o dessalinizador de água por troca iônica.
Como se perceberá em cada prática e reportagem, os projetos
estão relacionados às vocações do homem e das cidades onde
vivem professores e alunos da rede. Como disse um dia um
filósofo, a história determina o homem, mas são eles próprios
que a fazem, conscientes de seus processos e realidades.
Descubra, nas próximas páginas, um retrato de um Brasil que
se renova nas mãos de quem o faz.
10 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O conhecimento anda até
de ônibus na Bahia
Estudantes da EAF de Catu levam a escola às comunidades vizinhas
São 8h55 de um domingo qualquer e um ônibus desce
lentamente a avenida principal de Pojuca, uma cidade de 28
mil habitantes, a 80 quilômetros de Salvador, na Bahia. Ele
roda macio no asfalto. Dentro, parece que não há ninguém.
Nada se ouve e nada se através de suas cortinas, que estão
fechadas propositalmente e assim permanecem até que ele
estaciona na Praça Luiz Eduardo Magalhães, a mais importante
da pequena cidade.
Quando suas portas se abrem, no entanto, descobre-se que o
ônibus está cheio. Quarenta estudantes da Escola Agrotécnica
Federal (EAF) de Catu descem carregando cartazes,
computadores, livros, mudas de árvores, painéis e sementes.
Em poucos minutos, uma escola começa a ser montada na
praça. É a Escola Móvel, projeto que os professores Euro
Araújo e Rogério Marcos criaram, em 1992, para despertar as
pessoas para o mundo do conhecimento. uma forma de
integrar a EAF-Catu com as comunidades vizinhas", diz Euro,
Rodrigo Fahrat
Escola móvel
11
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
e também uma referência da instituição para o ingresso de
futuros técnicos da educação profissional.
É, sem dúvida, a maneira mais divertida de divulgar os trabalhos
de professores e estudantes. Tanto que a participação é
concorrida. Tem que suar a camisa. Antes da viagem, o
professor Euro faz três reuniões preparatórias com os alunos
selecionados. Nelas, explica o roteiro, as coordenadas gerais
e acerta pequenos detalhes.
Dia D No dia da viagem, todos estão excitados. Além de
Euro, as professoras Maria do Socorro Britto Rego, de
Biologia, e Lívia Portugal, de Geografia, organizam a turma.
A bibliotecária, Simone Simões, e a professora de Segurança
Alimentar, Maria Cristina Ferreira Alfaya, também apressam
uns e outros. Tudo embalado e guardado dentro do ônibus.
Está na hora de partir. São 8h.
No trajeto de Catu para Pojuca, Samara Mendes Freitas, 16
anos, e Carina Pereira de Castro, 17, dão uma última olhada
num grande livro de entomologia. Elas vão cuidar do estande
de besouros, mariposas e borboletas e querem estar com tudo
na ponta da língua.
12 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Quando os estandes terminam de ser montados, de tudo
um pouco: abelhas, hidroponia, aves, biologia, cobras, animais
em extinção, curiosidades, agricultura orgânica, plantas
medicinais, energias não convencionais, flores, alimentos
alternativos, fusos horários, hortaliças e legumes, insetos,
porcos, química e reflorestamento. Tem até uma pequena
biblioteca e um estande de informática. É um mundo de
conhecimento e saberes.
De tudo um pouco
Carlos Eduardo de Almeida vive em Pojuca. Acaba de ter o
dedo indicador furado com uma lanceta. Enquanto aguarda o
resultado que vai verificar seu tipo sanguíneo, explica: "Sou
curioso". Os estudantes do estande de Biologia verificam qual
antígeno fez a gota de sangue, depositada na lâmina de vidro,
coagular e dizem, com convicção, que Carlos tem sangue tipo
A e fator RH positivo.
Do outro lado da Escola Móvel, Ítalo Valcy da Silva, 17, e
Jalma Gomes Rios, 16, explicam ao sargento Wellington
Guimarães que uma placa de captação de energia solar consegue
aquecer a água de um chuveiro. O militar está construindo
uma casa e pretende utilizar a energia do solar em sua residência.
Ele aprende, no estande de energias alternativas da Escola
Móvel, que um inversor transforma a energia contínua em
alternada. "De 12 volts para 110 ou 220 volts", diz Ítalo.
Antes de visitar a Escola Móvel, o sargento Guimarães pensava
que teria que comprar eletrodomésticos de 12 volts para sua
nova casa. Agora, descobre que pode utilizar os que possui.
A descoberta o estimula ainda mais.
13
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Nos estandes em frente, Cíntia Porto, 16, Neemias Santana,
17, e Nilton Vasques, 15, fazem testes com soluções químicas
coloridas e barulhentes, e Elias Almeida dos Reis, 23, explica
o sistema de cultivo na água, a hidroponia.
boi?"  Na seção de curiosidades, Edrielle Carolina de
Jesus, 16, e Luciana Silva, 19, tomam conta de um carneiro
xipófago, um porco hermafrodita e de fetos de bois e coelhos.
Edrielle explica que, normalmente, "as pessoas que visitam o
espaço, perguntam se foram os alunos da escola que mataram
os animais. Depois, questionam em que estão conservados, se
em água ou em álcool". Após ouvirem que os vidros têm
formol, os visitantes mantêm o interesse no incomum.
Jane Passos levou a mãe, Valdi Sacerdote, de 83 anos, para ver
os animais exóticos. Espantada, diz ao ver os xipófagos: "Meu
Deus! Acontece também com os animais". Jane lembra do caso
das meninas com duas cabeças e um corpo que leu nos jornais,
recentemente. Ao ver o carneiro de duas cabeças, Irving
Raimundo Oliveira, 12, pergunta: boi?"
No estande dos insetos, Samara e Carina explicam para Fábio
Jesus dos Santos a estrutura morfológica da colchonilha, uma
praga que destrói plantações, principalmente de cítricos.
Samara diz que as joaninhas são insetos benéficos à agricultura,
porque são predadores naturais de algumas pragas, como a
colchonilha, que têm o aparelho digestivo sugador e
mastigador e, por isso, suga a seiva das plantas.
Ao lado de Juliana Veloso, 15, que toma conta das cobras,
Uelton de Almeida Souza, 14, e Ageu Rodrigues de Jesus, 15,
explicam os fusos horários e os movimentos de rotação e
translação da Terra. Com um grande aparelho, eles fazem o
14 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
visitante observar a faixa de luz que o Sol imprime ao planeta,
em todos os meses do ano.
Melhoramento genético  Edvan Santana é ex-aluno da
EAF de Catu e, este ano, visita a Escola Móvel. Técnico em
Zootecnia, gostou de ver o estande de avicultura de corte, pelo
qual foi responsável, nas cidades de Entre Rios, Inhambupi, Mairi,
Cansanção e Ichu, em anos anteriores. Ele conta que era difícil
fazer com que pequenos produtores acreditassem que o ganho
rápido de peso das aves não era resultado do efeito de hormônios
e sim da ração balanceada, do controle do ambiente e do
melhoramento genético. Seus colegas José Werlinson de Moura
Barreto, 18, Renata Carvalho, 16, e Alisângela de Aquino Soares,
15, enfrentam o mesmo problema hoje.
Genivaldo Souza Reis, 20, e Alessandro Lima Machado, 16,
mostram, no estande do lado, como cuidar de um plantel de
suínos com eficiência. Adelson de Jesus Gomes Filho, 21, e
Nilton Barbosa, 24, além de alunos da escola, também são
apicultores. Nada mais justo que eles sejam os responsáveis pelo
tema na Escola Móvel.
O professor Euro diz que os alunos ganham experiência com o
projeto: "Eles começam a experimentar e desenvolver suas
competências e habilidades fora do contexto da sala de aula".
Além disso, "são estimulados a falar em público e a debater",
explica. Com isso, ganham autoconfiança e despertam para o
trabalho coletivo.
As comunidades visitadas pela Escola Móvel também ganham,
pois conhecem projetos agropecuários, observam experimentos
15
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
e descobrem novos conhecimentos nos estandes e nas pequenas
palestras que alguns estudantes fazem sobre temas de sua área
de estudo.
Aprovado  No estande de alimentação alternativa, Hugo
Huberth Leite, 23, e Patrícia Barbosa Silva, 22, além de
explicarem como preparar diversas receitas com produtos
inusitados, também fazem a degustação dos produtos. A
secretária municipal de Educação de Pojuca, Venilce Liger,
aprovou o biscoito de pão dormido.
São 16h30. Hora de começar a desmontagem da Escola Móvel.
Uma hora e meia depois, todos estão de volta ao pátio da EAF
Catu.
Além de Pojuca, o professor Euro levou os estudantes a
diversas cidades da Bahia: Alagoinhas, Mairí, Cansanção, São
Gabriel, Cipó, Itaperaba, Crisópolis, Dias d'Ávila, Entre Rios,
Ichu, Conde, Inhampube, São Sebastião do Passe, Ipirá, Mata
de São João, Miguel Calmon, Olindina e Valença.
Da próxima vez que você vir um ônibus, descendo macio a
avenida principal de sua cidade, com as janelas fechadas, quem
sabe não são os estudantes da EAF de Catu que estão chegando?
16 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Cefet-Paraíba e ONG fortalecem
comunidades
Remanescentes de quilombolas e povo Potiguara buscam
desenvolvimento equilibrado em grupo
Duas comunidades estão crescendo nos municípios de Conde
e Rio Tinto, apoiadas pelo Centro Federal de Educação
Tecnológica (Cefet-PB) e pela Escola Olho do Tempo, da
Congregação Holística da Paraíba (CHP). As populações de
Mituaçu e Jaraguá têm descoberto o poder da união e da
sintonia de interesses nas ações que o Cefet e a CHP vêm
realizando, em direção ao desenvolvimento local sustentável.
A meta é o resgate de valores e culturas de dois povos que
enfrentam dificuldades socioeconômicas em um Brasil marcado
pela concentração de renda e de oportunidades. Por meio de
oficinas de mobilização e sensibilização, os indígenas e negros
têm discutido e descoberto seus próprios caminhos.
Localizadas nas proximidades de João Pessoa, as populações
de ambas as comunidades vivem todos os problemas das
periferias de grandes centros urbanos: baixa escolaridade,
desemprego, falta de infra-estrutura e de urbanização.
Parceria
17
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Cultura e trabalho  Apesar de todas essas dificuldades,
os técnicos do Cefet-PB e da CHP, conversando com lideranças
e moradores dessas comunidades, descobriram diferentes
interesses e potencialidades de Mituaçu e Jaraguá. Desde então,
atuando como parceiros, têm trabalhado em três frentes
multidisciplinares e transversais com essas populações.
Na primeira, a idéia é recuperar a história e a cultura da
localidade para tentar resgatar suas identidades socioculturais.
A segunda frente trabalha com a capacitação em diversas áreas,
como artes, bordado, capoeira, corte e costura, dança, educação
ambiental, esportes, informática, música, xadrez, produção de
conservas e doces, de detergentes e desinfetantes.
A última linha de atuação propõe gerar renda para aumentar
os recursos da comunidade. Para isso, as pessoas escolheram
algumas frentes de trabalho, como ateliê de retalhos de tecido
e couro, feira livre, horta familiar e uso do coco como matéria-
prima para a fabricação de artesanato, óleos e briquetes para
fornos. A idéia é montar projetos para o desenvolvimento
sustentável de Jaraguá e Mituaçu, como diz Maria dos Anjos
Mendes Gomes, diretora do Departamento de Educação,
Cultura e Empreendedorismo da CHP. Tanto as oficinas
18 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
quanto as áreas de trabalho foram definidas de acordo com os
interesses de jovens, adultos e idosos de Jaraguá e Mituaçu,
que têm participado ativamente das atividades por eles
definidas.
O desenvolvimento dessas atividades busca aumentar a auto-
estima da população, melhorar sua renda e mostrar a
importância da preservação ambiental para o desenvolvimento
comunitário.
É brincadeira, mas de verdade
Em Mituaçu, que tem 221 casas e pouco mais de mil pessoas,
o professor Walmeran Trindade, do curso de Eletrotécnica,
usa suas horas vagas para ensinar xadrez para os meninos do
lugar. Ele diz que o jogo melhora o desenvolvimento cognitivo
e também ajuda na socialização dos pequenos. Eles acham
que estão brincando, mas, na verdade, estão se desenvolvendo
intelectualmente, diz.
Jonas Santana Duarte, de 23 anos, cursa o ensino médio no
Cefet. Ao participar das atividades da CHP em Gramame, onde
19
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
mora, descobriu a importância do trabalho voluntário. Diz
que aprendeu a jogar em 2003 e que agora passa o
conhecimento adiante em Mituaçu. O xadrez ajudou Jonas a
fazer amigos e a tomar decisões.
Na comunidade, distante 18 quilômetros de João Pessoa, os
professores do Cefet-PB e da CHP estão trabalhando em
conjunto com as lideranças locais. Geisa Roberto da Paixão,
presidente da Associação Comunitária dos Moradores de
Mituaçu, acredita que, dessa maneira, estão descobrindo seus
próprios caminhos. Somos um povo negro e precisamos
incentivar nossa cultura. Temos nossos direitos, diz. Maurício
Francisco da Silva, dirigente da Associação Comunitária dos
Trabalhadores Rurais de Mituaçu, confirma o apoio do Cefet
e da CHP nesse sentido: Precisamos dessa mão.
Cada um de nós um pedacinho de seu tempo para a
construção de uma nova comunidade. Assim, ajudamos a
resgatar a cultura e a liberdade que o homem carrega dentro
de si. Dessa maneira, o professor Luiz Augusto Pinheiro dos
Anjos, que é vice-presidente da CHP e facilitador de capoeira
e música, resume o trabalho voluntário na comunidade.
A história de uma escola
Tradicionalmente, a comunidade de Mituaçu vive da pesca e
da cata do camarão e do caranguejo no rio Gramame. É um
povo sofrido, que agora procura resgatar suas histórias. Uma
delas conta que, em 1955, durante uma reunião, homens e
mulheres do lugar decidiram construir uma escola. Quando a
pequena construção estava para ser terminada, um fazendeiro
da região, Ovídio Tavares de Morais, chegou e mandou arrancar
todos os paus que tinham sido tirados das matas de sua
propriedade, pois, como disse, "negro de Mituaçu não pode
estudar". Anos depois, a prefeitura de Conde inaugurou outra
escola, não de madeira e taipa como a primeira, mas de tijolo e
cimento. A história, quase sempre escrita pelas elites no Brasil,
ironicamente, deixou que a escola fosse batizada como Ovídio
Tavares de Morais, o coronel que não gostava dos negros e
que acreditava ser dono das vidas e consciências das pessoas.
20 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Índios Potiguara redescobrem identidade
No litoral norte da Paraíba, também próximo de João Pessoa -
a 60 quilômetros -, estão os índios Potiguara. Eles vivem nos
municípios de Rio Tinto, Baía da Traição e Marcação, em três
áreas: Potiguara, Jacaré de São Domingos e Monte-Mor. São
mais de 6 mil índios, segundo a Fundação Nacional de Saúde
(Funasa).
Todo o território tem 26.270 hectares, demarcados e
homologados. São 21.238 hectares da área Potiguara e 5.032
hectares da área de Jacaré de São Domingo. A área indígena de
Monte-Mor, de 4.500 hectares, foi demarcada, porém
aguarda homologação.
Os professores Tânia Maria de Andrade e José Arimatéa
Albuquerque de Almeida fazem um trabalho voluntário de
apoio às comunidades de baixa renda e integração solidária das
cadeias produtivas com os Potiguara de Jaraguá, uma das cinco
aldeias de Monte-Mor.
Eles buscam a melhoria da qualidade de vida e o fortalecimento
comunitário sustentável desse povo. O meio é a capacitação
dessas pessoas em cursos de gestão de negócios, vendas,
marketing e design e também a inclusão digital.
Os trabalhos seguem uma metodologia. Após a mobilização
da comunidade, busca-se descobrir os interesses das pessoas
para direcionamento das atividades, que podem ser desde a
implantação de uma horta comunitária, o plantio de sementes,
até a avaliação da qualidade da água e cursos de capacitação em
informática básica.
Atualmente, eles estão preparando um bingo, a formação de
costureiras e uma feira de objetos usados para o levantamento
de recursos. O dinheiro arrecadado com os bilhetes do bingo
será destinado à associação comunitária e servirá para a compra
de sementes de hortaliças, legumes e sansão do campo. Dessa
maneira, os Potiguara conseguirão preservar a mata nativa e
financiar outros projetos com a venda da madeira, que serve
de matriz energética e alcança 8 metros de altura e 20 a 30 cm
de diâmetro.
É um trabalho de formiga, como diz a professora Tânia. Todos
têm um papel dentro da comunidade. Por isso, as crianças da
escola estão fazendo, atualmente, um levantamento do número
de máquinas de costura nas terras dos Jaraguá para a montagem
de um ateliê de costura comunitário.
O cacique Aníbal diz que todos estão se preparando para o
futuro. "Estamos pensando em nossas crianças e preservando
nossa história", diz. Aos poucos, com passos de formiga e
trabalho de abelha, a comunidade dos Potiguara vai desatando
seus nós.
Também atuam na equipe do
Cefet-PB e CHP o cartógrafo
Marconi Antão dos Santos, as
educadoras Maria dos Anjos
Mendes Gomes e Maria
Bernadete Gonçalves, a
economista Raquel Carvalho
dos Anjos, a assistente social
Rosângela Costa Assunção e a
bióloga Takako Watanabe.
21
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
CHP busca melhorar vida de comunidades
A Congregação Holística da Paraíba (CHP), que mantém a
Escola Viva Olho do Tempo, não tem vinculação partidária
ou religiosa. Sua meta é buscar melhorar a qualidade da vida
pessoal e comunitária.
A CHP trabalha com várias comunidades em conjunto com o
Cefet-PB. Entre elas, as áreas rurais de Gramame e Engenho
Velho, a quilombola de Mituaçu, no município do Conde, e a
indígena de Jaraguá, em Rio Tinto.
Índígenas têm representação
As comunidades indígenas da Paraíba estão se unindo e
descobrindo a força do trabalho conjunto. Nas eleições
minoritárias de outubro de 2004, Baía da Traição e Marcação
elegeram um prefeito, dois vice-prefeitos e 11 vereadores de
seu povo. O prefeito e vice-prefeito de Marcação são os
Potiguara Paulo Sérgio da Silva Araújo e Íris de Farias Falcão
(pela coligação PL/PRP/PSL/PSP/PT). O vice-prefeito de
Baía da Traição, escolhido pelo voto, foi Adelson Deolindo da
Silva (pela coligação PMDB/PV).
22 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Cefet-RN cria dessalinizador de
água por troca iônica
Processo é alternativa mais econômica para comunidades sem
energia elétrica
tão ruim e amarga, que cachorro apanha para beber". Assim
a engenheira química Andréa Lessa da Fonseca fala de uma das
maiores carências da vida do sertanejo: a água.
Dessalinizador por troca iônica
Dessalinização
23
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Foi para ajudar essas populações a transformar em potável a
água salobra, retirada de poços, que o Núcleo de Pesquisa de
Águas do Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio
Grande do Norte (Cefet-RN), do qual Andréa Lessa faz parte,
desenvolveu um dessalinizador por troca iônica com uso de
energias alternativas. Com custo próximo de R$ 5 mil, o
equipamento, construído com apoio da Fundação Nacional
de Saúde (Funasa) e do Departamento de Engenharia e Pesquisa
em Saúde Pública (Densp), se diferencia dos 2,5 mil
dessalinizadores existentes no Brasil, pela tecnologia.
Para a instalação de um dessalinizador por osmose reversa, é
exigido o atendimento mínimo de 40 famílias, um poço de
água salobra ou salina com vazão mínima de mil litros por
hora e um sistema de energia elétrica trifásico, para acionar
uma bomba de alta pressão. Além disso, é preciso criar uma
associação de usuários de água para gerir o pagamento da luz,
a limpeza e a troca de filtros e a compra de insumos para a
manutenção do sistema.
o equipamento por troca iônica não exige eletricidade e,
tampouco, bombas de alta pressão.
Água com sais dissolvidos. De
paladar desagradável. Com
grande concentração de cloreto
de sódio, o uso constante dessa
água ataca os rins e eleva o
nível de sódio no organismo,
aumentando a pressão arterial.
Na água salobra, os sólidos
totais dissolvidos (TSD, na sigla
em inglês) estão entre 500 e 30
mil partes por milhão (PPM). A
água doce tem TSD igual ou
inferior a 500 partes por milhão
e a salgada tem TSD igual ou
superior a 30 mil PPM.
Na região do Polígono das
Secas - compreende todos os
estados nordestinos, com
exceção do Maranhão, além
de parte do norte de Minas
Gerais -, cerca de 80% das
águas dos poços perfurados
apresentam teores de sais
acima do aceitável para o
consumo humano.
24 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Principalmente, redução das
doenças transmissíveis pela
água e da mortalidade infantil
nas comunidades rurais.
Prós e contras Apesar de todo o ganho de qualidade de vida
que as comunidades rurais do Rio Grande do Norte
conseguiram com a dessalinização por osmose reversa, a
coordenadora do projeto, professora Andréa Lessa, diz que a
tecnologia é de alta complexidade para a realidade nordestina.
Seus elevados custos de instalação e manutenção, aliados à baixa
eficiência do sistema - próxima a 50% - e aos elevados impactos
ambientais (metade da água bruta que entra no dessalinizador
se transforma em rejeito, salinizando o solo), fazem com que
o processo não seja ideal para os estados da região. O consumo
de energia e a manutenção das bombas também são fatores
que fazem com que o processo tenha suas limitações.
Ela recomenda que o Brasil destine recursos para
desenvolvimento de tecnologias nacionais, de baixo custo,
para a dessalinização de águas, por meio de agências de pesquisa.
"Essas técnicas devem ser simplificadas e adaptadas ao semi-
árido nordestino, para o Brasil não continuar dependente de
uma única tecnologia", diz Andréa Lessa.
Os cientistas do Cefet também estão trabalhando para criar
uma membrana nacional para uso em dessalinizadores por
osmose reversa. Outro estudo desenvolvido no Núcleo de
Pesquisa de Águas do Cefet trata da catalogação de zeólitas e
materiais de baixo custo que possam funcionar como
trocadores de íons e remover a dureza da água. Em algumas
comunidades rurais do semi-árido nordestino, lembra a
engenheira química, o problema não é a salinidade e sim a
dureza da água.
Os técnicos também fizeram uma avaliação da tecnologia de
Mineral contendo alumínio,
silício e oxigênio em estrutura
tridimensional com nanoporos
regularmente espaçados, cada
um deles medindo alguns
bilionésimos de metro. Esses
nanoporos tornam as zeólitas
úteis na sucção de pequenas
moléculas, como íons e gases,
de maneira similar a uma
esponja ao sugar a água.
Os poros são preenchidos com
íons positivamente carregados,
geralmente cálcio ou sódio, e
moléculas de água.
Hidratadas, as zeólitas são
utilizadas como filtros.
A dureza é medida pela
quantidade de sais de cálcio e
magnésio dissolvidos na
água. Quanto maior a
quantidade desses sais, mais
dura é a água.
100 A 150 LITROS DE ÁGUA são
suficientes para uma pessoa por um dia
100 A 150 LITROS DE ÁGUA são
suficientes para uma pessoa por dia
25
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
osmose reversa utilizada no Nordeste e recomendam maior
zelo no emprego dos recursos públicos, que financiaram cerca
de 2,5 mil dessalinizadores no sertão nordestino, a um custo
total de cerca de R$ 100 milhões.
Esses equipamentos caros e complexos foram entregues às
comunidades - compostas, em sua maioria, por pessoas de
pouca ou nenhuma instrução -, que não foram preparadas
para operá-los. Hoje, do total de salinizadores instalados,
40% estão quebrados ou com problemas, se deteriorando
por falta de manutenção ou de condições das comunidades
para mantê-los.
Andréa Lessa também recomenda que, em futuras licitações
para implantação de sistemas de dessalinização realizadas por
instituições públicas, os editais incluam experiências de uso
de outras tecnologias existentes no mercado mundial, para
tratamento da água, como a troca iônica ou a destilação solar.
Métodos de dessalinização são diferentes
Existem diferentes métodos de dessalinização da água. Os mais
utilizados são a destilação solar, a destilação induzida e a osmose
reversa.
No processo de destilação natural, a água é evaporada por
energia solar e o vapor gerado é condensado em uma superfície
fria, produzindo água doce. Na destilação induzida, utilizada
principalmente em países do Oriente Médio, a água é aquecida
por combustão.
Adílson sabe operar a máquina,
mas não entende o processo
26 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O que é osmose reversa
A osmose natural ocorre quando duas soluções de
concentrações diferentes estão separadas por uma membrana
semipermeável e a água da solução menos concentrada passa
para o lado da solução de maior salinidade. A solução mais
concentrada, ao receber mais solvente, vai se diluindo, até que
O processo da osmose reversa é o mais usado. Nesse sistema,
conhecido dos cientistas desde o fim do século 19, mas
aplicado em processos industriais somente a partir dos anos
1960, os sais são separados fisicamente da água por meio de
uma membrana semipermeável. Como elas são seletivas,
permitem a passagem do solvente, retendo os sólidos
dissolvidos.Os inconvenientes do processo, aponta a
professora Andréa Lessa, são o alto investimento para a
instalação, manutenção e a dependência da tecnologia
estrangeira. "Existem poucos fabricantes e fornecedores dessas
membranas, pois é uma tecnologia avançada", diz.
Por outro lado, o sistema da osmose reversa é eficiente na
remoção de sólidos dissolvidos e até de microorganismos, pois
o processo de separação física por membrana retém todas as
moléculas com comprimento superior a 200 angstrons.
A membrana que isola os sólidos da água é feita de acetato de
celulose. É uma cobertura densa e semi-porosa, com espessura
entre 1,5 mil a 2 mil angstrons.
Adílson aciona dessalinizador por osmose reversa
Bactérias, vírus, pirogênicos e
muitas matérias orgânicas e
coloidais, presentes nos
suprimentos de água, têm
comprimento superior ao
indicado.
Do grego osmós, que quer dizer
impulso
27
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
as duas soluções atinjam concentrações iguais e fiquem em
equilíbrio químico. A pressão osmótica depende da
concentração de sólidos dissolvidos na solução, da pressão e
também da temperatura.
A osmose reversa ocorre quando uma pressão no lado da solução
mais salina ou concentrada é aplicada, o que faz a tendência
natural ser revertida. Nesse caso, a água da solução salina passa
para o lado da água pura e os íons dos sais ficam retidos na
membrana.
O processo permite dessalinizar a água, mas depende de algumas
situações, como o conteúdo salino na água a ser tratada, o
teor de dureza da água, o tipo de membrana, a pressão da bomba
e, é claro, a qualidade final desejada para a água.
Em função desses fatores, muitas vezes o percentual de água
dessalinizada, também chamada de permeado, deve chegar à
metade do volume bombeado. Os outros 50% conterão uma
quantidade de sal duas vezes maior que a concentração inicial.
Caso o permeado seja de 60%, os 40% do rejeito terão uma
carga salina duas vezes e meia maior do que a inicial. Dessa
maneira, o rejeito se torna muito salino e impraticável de ser
reaproveitado, sendo necessária à existência de tanques de
concentração para evaporação natural ou então ele pode servir
de lambedor salino para o gado, por exemplo.
Dessalinizador por osmose reversa
Os rejeitos também podem ser
utilizados para a criação de
peixes, como as tilápias, e a
sobra dos tanques, fertilizada
com estrume dos peixes, pode
servir para irrigar a erva-sal.
28 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Processo de troca iônica é mais eficaz
A professora Andréa Lessa e equipe montaram um protótipo
do dessalinizador que utiliza resinas e produz água de boa
qualidade. Nessas resinas, que podem ser sintéticas (polímeros)
ou naturais (zeólitas), os sais dissolvidos são removidos na
forma de cátions e ânions presentes na água.
O sistema montado no Cefet-RN também tem a vantagem de
poder funcionar por gravidade, que a água pode ser retirada
do poço por geradores fotovoltaicos.
A técnica da dessalinização por troca iônica existe desde 1939
e, desde então, tem sido aperfeiçoada. A remoção dos sais e de
outras impurezas presentes na água ocorre primariamente,
como explica a professora Andréa Lessa, pela troca dos cátions
Ca++, Mg++, K+, Na+ por um íon de hidrogênio (H+),
através da passagem da água por um leito de resina catiônica.
Secundariamente, os ânions SO4--, NO3-, Cl-, HCO3-,
HsiO3- são trocados por íons hidroxila (OH-), na passagem
da água por um leito de resina aniônica.
Andréa Lessa diz que o projeto do Cefet-RN é uma alternativa
barata de dessalinização de águas para o semi-árido nordestino.
Sua viabilidade para pequenas comunidades com dificuldade
de abastecimento deve-se, principalmente, à não
obrigatoriedade de utilização de eletricidade e de bombas de
alta pressão. O sistema precisa de energia - que pode ser eólica
ou solar - somente para captação da água subterrânea.
A professora cita ainda outras vantagens do processo
de dessalinização por troca iônica: pequena produção de rejeito
(média entre 2% e 5%) e maior aproveitamento dos recursos
renováveis, que a eficiência média do processo é de 95%.
A professora Andréa Lessa e sua equipe agora estão
trabalhando na fase final do projeto da Funasa, realizando a
O projeto está sendo
desenvolvido no Cefet-RN pelos
engenheiros químicos Milton
Bezerra do Vale e Osmar Ailton
dos Santos, o biólogo Luis
Eduardo Lima e Silva, o
economista Marco de Oliveira
Maia, o geólogo Jerônimo
Santos e o químico José Flávio
de Souza.
Dessalinizador por troca iônica
29
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
montagem de planta-piloto, que será instalada na comunidade
rural de Riacho Salgado, no município de São Paulo do Potengi.
A planta abastecerá 20 famílias, durante três meses, e
funcionará com uma placa solar que irá puxar água salobra do
poço e alimentar um reservatório pela força da gravidade.
Comunidade "sente" a dureza da água
A 93 quilômetros de Natal, em São Paulo do Potengi Pequeno,
no município de Riachuelo, a professora Maria de Fátima
Ferreira dos Santos vive na pele as dificuldades do tratamento
da água com os dessalinizadores por osmose reversa. Ela
mostra um vazamento em um dos canos e diz que o técnico
não aparece desde o ano passado para fazer a manutenção do
sistema.
A revisão do dessalinizador tem que ser feita todos os anos.
Nessa época, a membrana de celulose é lavada e o sistema é
checado. Os três filtros custam R$ 55 e são trocados a cada
dois meses. São eles que impedem que as impurezas entrem no
sistema e estraguem a membrana, que custa cerca de R$ 3 mil
e tem vida útil de três a cinco anos.
Para manter o dessalinizador funcionando, cada uma das 40
famílias do vilarejo paga R$ 5 por mês, mesmo as que não
utilizam a água.
Adílson Ferreira dos Santos tem 19 anos, é estudante e filho
de Maria de Fátima. É ele quem cuida do equipamento. Diz
que aprendeu "mais ou menos" a operá-lo com o mecânico que
o instalou. Na verdade, sabe como ligar e desligar o aparelho.
"Não me explicaram o processo, mas, outro dia, em uma feira
de ciências na Escola Estadual Maurício Freire, onde estudo,
vi como o sal é retirado da água" diz.
Maria de Fátima sente as dificuldades da vida sertaneja
Cátion é um íon com
carga eletrônica
positiva, ou seja, um
átomo que perdeu
elétrons. Já ânion é um
átomo que ganhou
elétrons e tem carga
eletrônica negativa.
Cátion é um íon com
carga eletrônica
positiva, ou seja, um
átomo que perdeu
elétrons. Já ânion é um
átomo que ganhou
elétrons e tem carga
eletrônica negativa.
30 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Paraíba forma nova geração de
pescadores de atum
Trabalhadores de seis colônias do litoral do Estado são
beneficiados por projeto de espinhel
Uma nova geração de pescadores está surgindo na Paraíba.
Formados pelo curso básico de Pesca Oceânica do Centro
Federal de Educação Tecnológica da Paraíba (Cefet-PB), 25
alunos podem aumentar a produção e a qualidade do pescado,
utilizando a tecnologia de pesca empregada nas grandes
embarcações.
Em um barco da escola, de 9,5 metros, os alunos aprenderam
a confeccionar e a utilizar o espinhel pelágico de
monofilamento. Esse aparato pode aumentar a produção
pesqueira em 20 vezes - a produção artesanal é de 40 quilos
de atum, em média, para cada cruzeiro de cinco dias, mas
com o espinhel, o pescador pode aumentar essa quantidade
para 800 quilos.
O coordenador do projeto, professor Umberto Nilton Silva,
estima que ao capacitar apenas 12 pescadores de seis colônias
Recursos pesqueiros
31
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
litorâneas diferentes, o curso beneficie diretamente 72 pessoas.
Esses profissionais da pesca vão transmitir a técnica,
indiretamente, para 288 pessoas, ao atuarem como
multiplicadores do conhecimento e repassarem a informação
para mais três colegas. Se cada família de pescador for
composta por, pelo menos, cinco membros, ao final da cadeia,
o projeto do Cefet-PB terá beneficiado 1.440 cidadãos.
Em alto mar As aulas práticas simulam uma situação
real: em cada cruzeiro de três dias do barco Kalifa vão cinco
pessoas quatro alunos e um professor. Antes de embarcar,
porém, eles aprendem no Cefet, durante 80 horas a
confeccionar o espinhel, como explica o instrutor de pesca
oceânica Carlos Antônio Araújo Pessoa. O aparato é formado
por uma linha comprida e grossa (a "espinha") onde estão
presas outras linhas, mais curtas e finas, com anzóis nas pontas.
Nessas linhas, prendem-se ainda light-sticks, que, com a
luminosidade, iludem os peixes, dando a impressão de que as
lulas utilizadas como iscas estão vivas.
Além da confecção e do uso correto do espinhel, os alunos
São cápsulas plásticas com
dois pequenos tubos de vidro
dentro. Cada um tem uma
substância química diferente.
Quando a cápsula é
quebrada, a mistura das
substâncias torna a cápsula
fluorescente.
32 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
também aprendem a operar equipamentos de auxílio à pesca e
à navegação, como o Sistema de Posicionamento Global
(GPS), a ecossonda e o rádio-comunicador e a manusear e a
conservar o pescado adequadamente. De nada adianta pescar
800 quilos se o pescador não souber como armazená-lo, lembra
Carlos. Para isso, o curso é dividido em quatro partes:
administração, técnica do espinhel, beneficiamento do pescado,
cidadania e meio ambiente.
Depois, é hora de cair no mar. Por três meses, os alunos, que
têm idade média de 25 anos, ficam na Zona Econômica
Exclusiva, dentro de águas brasileiras, fazendo um estágio
supervisionado.
Meio ambiente As novas tecnologias de pesca ensinadas
no Cefet-PB contribuem não apenas para melhorar a vida dos
pescadores. É que a pesca feita apenas junto à costa exerce
uma grande pressão sobre os espécimes dessa região e afeta o
equilíbrio ecológico marinho. Com a utilização do espinhal e
das embarcações maiores, os pescadores vão para alto-mar, o
que permite a sustentabilidade da exploração dos recursos
pesqueiros.
O projeto realizado pelo Cefet-PB inclui palestras, seminários
e atividades práticas ecologicamente corretas e promove uma
conscientização dos pescadores sobre o meio ambiente.
Como lembra o instrutor Carlos, "o Brasil ainda precisa
descobrir o mar".
Fotos: Divulgação Cefet PB
Espinhel pelágico monofilamento
O espinhel de monofilamento
difere do espinhel tradicional
(multifilamento) apenas no
que diz respeito ao tipo de
material utilizado na sua
confecção. Ele consiste,
basicamente, de uma linha
principal suspensa por bóias
fixadas em intervalos regulares
(samburá), onde várias linhas
com anzóis, linhas secundá-
rias, são conectadas através
de snaps (clips de aço
inoxidável). São utilizados seis
anzóis por samburá. Ele é
formado por uma linha
principal, linhas secundárias,
cabos de bóia, bóia de
sustentação, bóias de
sinalização e light-stick.
33
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Parceria
O curso, como esclarece o instrutor Alberto Luiz de
Vasconcelos Motta, um dos idealizadores do programa, foi
possível por meio da parceria do Cefet com a Capitania dos
Portos, a Prefeitura de Cabedelo, a Secretaria Especial de
Aqüicultura da Presidência da República, o Sindicato dos
Armadores e Empresa de Pesca do Estado da Paraíba e as
universidades federais da Paraíba e Rural de Pernambuco.
Arquivo
34 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
RESUMOS ESTENDIDOS
Resumos Estendidos
Resumos Estendidos
Manoel Pantoja
35
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Este trabalho se insere no conjunto de esforços que procuram
dar uma resposta local aos desafios do desenvolvimento em
tempos de aceleração da globalização. Afirmando-se a
importância da participação e da inovação para o
desenvolvimento local, fez-se um estudo de uma das principais
ferramentas de indução a esse tipo de desenvolvimento, as
metodologias participativas. Considerou-se o aprendizado
como um dos aspectos mais importantes relacionados com a
implantação de tais metodologias. Metodologicamente, a
dissertação é uma pesquisa fundamentada na teoria das
comunidades de prática de Wenger
2
e no estudo de caso da
implantação da Metodologia de Desenvolvimento Tecnológico
Regional (DTR) do IEL/Nacional e Sebrae / Nacional em
São Mateus do Sul (PR) que contou com a observação
participante do autor. O projeto durou 11 meses, sendo
possível observar, na prática, a comunidade de prática
envolvida com a implantação da metodologia, bem como
levantar o histórico de aplicação das outras duas metodologias
de desenvolvimento implantadas na localidade (Proder e
DLIS). A verificação das hipóteses de pesquisa foi realizada a
partir de entrevistas com componentes da comunidade de
prática envolvida com a implantação das três metodologias.
As hipóteses de pesquisa foram confirmadas, nos indicando
que o aprendizado é necessário em processos participativos de
desenvolvimento para a obtenção de resultados e,
principalmente, sustentabilidade.Indicaram também que o
descompasso entre as necessidades das organizações
promotoras e a necessidade de tempo da comunidade para
absorção das metodologias é eliminado a partir da
construção de competências individuais de caráter técnico e
relacional e, finalmente, que a negociação do significado emerge
como um dos principais elementos a serem observados na
implantação de metodologias participativas. Tais resultados
mostram a inviabilidade de propor processos participativos se
estes não forem planejados para fazer emergir uma prática
compartilhada que, por conseqüência, propicie um processo
de aprendizado social na comunidade. Esses resultados também
sugerem que o desenvolvimento participativo induzido a partir
Aprendizado em Comunidades de Prática
como fator estruturante de processos
participativos de inovação e desenvolvimento
local: o caso de São Mateus do Sul
1
BOLZANI Jr., Geraldo M.; NASCIMENTO, Décio E. do;
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
1
Programa de Pós-Graduação em
Tecnologia.
Outras instituições: Instituto Euvaldo Lodi - PR
36 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
da necessidade de inovação local, será efetivo se houver uma
estrutura formal ou informal que viabilize condições propícias
para cultivar a prática da comunidade e, conseqüentemente, o
aprendizado.
Referências:
2
WENGER, Etienne. Communities of practice. Learning,
meaning, and identity. Cambridge: University Press, 1998.
Inclusão digital
1
OBESO, Max P.
Escola Técnica Federal de Palmas / TO
No decorrer do segundo semestre do ano de 2003, implantou-
se e implementou-se na Escola Técnica Federal de Palmas -
ETF, o projeto de "Inclusão Digital", através do Curso Básico
de Informática, de autoria do Professor Max Portuguez Obeso.
O mesmo teve como uma das finalidades atender a demanda
de alunos com dificuldades de aprendizagem no componente
curricular de informática básica, nos cursos técnicos de
Informática, Edificações e Eletrotécnica, proporcionando
oportunidade aos alunos de serem monitores do curso
ministrando aulas, diminuindo, assim, a sua carga horária de
estágio supervisionado.
Outras instituições:
Colégio Estadual Criança Esperança e
Colégio Estadual Henrique Talone
Alunos em sala de aula
Fotos: Max Obeso
37
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Além de atender aos alunos da própria ETF, o projeto teve
ainda como objetivo alcançar as classes menos favorecidas da
comunidade tocantinense, e mais especificamente as da cidade
de Palmas, classes estas que, por alguma razão, não tiveram ou
não têm acesso aos conhecimentos e manuseio de ferramentas
tecnológicas, no sentido de que estendeu as vagas oferecidas
para o Curso Básico de Informática também aos alunos de
escolas públicas municipais. Os mesmos foram selecionados
pela Direção da escola, sendo esta previamente contatada pelo
autor do projeto, onde foram priorizados, na seleção, aqueles
alunos com mais deficiência e necessidades específicas.
Além dos alunos, foram atendidos funcionários da própria
ETF, os quais trabalham na parte administrativa, cujo
aproveitamento foi satisfatório para os seus currículos, além
de beneficiá-los nas suas atividades desenvolvidas na escola.
Foram atendidos, do segundo semestre de 2003 ao segundo
semestre de 2004, um total de 610 pessoas, entre alunos dos
cursos técnicos, funcionários de casa e os funcionários
terceirizados, alunos do Colégio Estadual Henrique Talone,
do Colégio Estadual Criança Esperança, além de membros da
comunidade local, totalizando uma carga horária por turma
de 45 horas.
Um outro aspecto que consideramos significativo no
desenvolvimento do projeto de inclusão digital foi a divulgação
dos resultados deste, através do relato de experiências dos
próprios alunos, inclusive do Colégio Estadual Criança
Esperança, e pelo incentivo proporcionado por esta escola,
fazendo a divulgação do acontecimento no jornal, e mostrando,
com isso, a preocupação da Escola Técnica Federal de Palmas
em estar desenvolvendo programas e executando ações que
trazem benefícios evidentes à população.
Salientamos, ainda, um outro aspecto que consideramos
importante no desenvolvimento do curso, que foi a
integração entre alunos e professor, garantido, assim, o
envolvimento e participação dos alunos no efetivo sucesso
do projeto.
Ressaltamos também que, a fim de garantir um bom
aproveitamento no aprendizado dos alunos da ETF, houve a
preocupação, por parte do Professor Max Portuguez Obeso,
no sentido de estar oferecendo, aos mesmos, momentos de
confraternização nos horários de intervalo entre uma turma
e outra, com lanches preparados pelo próprio professor,
monitores e alunos. Esta foi mais uma forma de procurar
incentivá-los, tendo em vista que alguns alunos permaneciam
na escola durante o horário de almoço, impossibilitados de
voltarem às suas casas em função dos gastos com passagens.
Estes permaneciam na escola por terem ainda outras aulas de
seus respectivos cursos no período da tarde.
Através das fotos podemos destacar e visualizar também a
importância do ambiente de descontração, proporcionado
pelo bom relacionamento entre professor e aluno, no decorrer
das aulas, seja no aspecto teórico quanto prático.
Intervalo entre uma aula e outra
Monitores também ministram aula
38 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O nosso compromisso e nosso propósito, como professores
da Escola Técnica Federal de Palmas, é estarmos oferecendo
nossa colaboração no desenvolvimento social, de forma a
garantir, através de nossas ações, os mecanismos e recursos
necessários para o crescimento e aperfeiçoamento da
comunidade, e conseqüentemente, minimizando o
analfabetismo digital. É fundamental que a ETF esteja engajada
neste projeto, sempre buscando formas de incentivo ao bom
andamento do processo de ensino-aprendizagem.
Campo-Escola
SENA, Lunardo A. ; SILVA JR., Nivaldo F. ; MEDEIROS, Gilson G. de ; FELIPE,
Raimundo N. B. ; FELIPE, Renata C. T. S.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte
um grande número de campos economicamente marginais
em vários Estados da Federação, em particular, no Rio Grande
do Norte, campos estes que, em caso de não utilização, podem
representar riscos ambientais, sem perder de vista o desperdício
econômico-social; uma vez que esses campos poderiam estar
sendo empregados para fomentar o emprego e a distribuição
de renda locais. Adicionalmente, o seu abandono causa a perda
de receita da União, Estados e Municípios, necessitando,
portanto, que lhes seja atribuída a sua destinação específica.
A experiência de sucesso implementado nos Estados Unidos
da América, na produção de campos marginais, serviu de
embasamento para que a Agência Nacional de Petróleo (ANP),
em parceria com o Governo do Estado do Rio Grande do
Norte, o Cefet - RN e a UFRN, formulassem um plano de
treinamento e desenvolvimento de tecnologia adequado às
necessidades brasileiras, incentivando a criação de
oportunidades de geração de renda nas localidades em que
aqueles campos se encontram.
Assim, está em fase de implantação o projeto Campo-Escola,
que, através da formação de recursos humanos e tecnológicos
para fazer frente ao desafio de reativar a produção dos referidos
campos, propiciará os meios de diversificação da economia,
em áreas carentes de maiores oportunidades, procurando
utilizar mão-de-obra local para a consecução das tarefas a ele
vinculadas e visando desenvolver uma metodologia de operação
de campos de petróleo e gás natural de baixa produtividade.
Dessa maneira, serão propiciadas as condições para a geração
de empregos nas comunidades locais, em empresas de pequeno
porte que poderão vir a atuar neste segmento como também
em prestadoras de serviços afins e atividades complementares.
39
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Aspecto dos kits confeccionados
Até a reforma do ensino profissionalizante, o curso técnico
de Construção Civil desenvolvia, na então grade curricular,
práticas construtivas - canteiro de obras, instalações
domiciliares - de modo a treinar e qualificar os técnicos das
áreas nas suas funções específicas. Essas práticas constavam
de execuções de kits ou modelos que procuravam retratar a
realidade dos desenvolvimentos tecnológicos aplicados à obra.
Assim, desenvolviam a sua prática nos laboratórios de
resistência dos materiais, instalações hidrosanitárias e elétricas.
Após a confecção desses kits e modelos, eles eram inutilizados,
pois não apresentavam possibilidades de reaproveitamento.
O cenário da cidade de Campos dos Goytacazes, como a grande
maioria das cidades, principalmente nas áreas periféricas, carece
de planejamento urbano e técnico. O resultado são as
aglomerações urbanas inadequadas e impróprias. A partir desse
diagnóstico, o grupo da área de Construção Civil resolveu
Projeto Praticares prática profissional
aplicada à realidade social
Dilvulgação Cefet Campos
FERNANDES, Octavio C.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos dos Goytacazes / RJ
40 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
desenvolver uma metodologia que, ao mesmo tempo,
contemplasse a prática e o aproveitamento dos materiais
utilizados no exercício docente das disciplinas práticas.
Observando a nova diretriz dos cursos técnicos de formação
profissionalizante, onde os conceitos de competências e
habilidades permeiam toda ótica da formação, a proposta
contempla uma prática contextualizada onde os alunos
desenvolveriam, com os professores, projetos e kits que seriam
utilizados em moradias previamente cadastradas a partir das
necessidades mais emergenciais.
Nesse sentido, todos os materiais utilizados na prática seriam
doados nas moradias cadastradas e dessa maneira o desperdício
deixaria de existir, pois estaríamos dando um destino útil aos
materiais empregados nas aulas.
Em junho de 2003, implementamos a primeira experiência
com um grupo de alunos onde, a partir da escolha de uma
comunidade, começamos a desenvolver o primeiro movimento
de campo.
Desenvolvimento do Trabalho
Esse projeto está apoiado principalmente, no primeiro
momento, nas disciplinas que tenham o caráter tecnológico
de desenvolvimento e aplicabilidade.
Assim as cadeiras como: desenho, tecnologia da construção,
instalações, materiais de construção, são os vetores do
desenvolvimento inicial do trabalho.
 Fazem parte integrante desse projeto noções de higiene e
saúde geral, além de questionamentos técnicos e políticos
quanto às obrigações dos órgãos públicos junto à comunidade.
Assim também estariam envolvidos profissionais do Cefet
ligados a área saúde.
Detalhamento
Formação da equipe - professores e disciplinas;
Desenvolvimento da metodologia operacional;
Levantamento das necessidades básicas - materiais,
locomoção das turmas, etc
41
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Uma experiência educacional com
jovens socialmente excluídos
PEREIRA, Leila M.
Escola Agrotécnica Federal de Barbacena / MG
Desenvolvimento da Metodologia
Em relação aos Grupos:
Serão compostos por até 5 alunos;
Os grupos serão formados preferencialmente por alunos
que residam próximo às comunidades cadastradas para o
desenvolvimento do trabalho;
Os horários das visitações às comunidades serão acordados
com os grupos e professores, sendo que o turno da noite
utilizará o sábado para os levantamentos e ações locais;
O projeto deverá obedecer a um cronograma onde prazos e
metas ficarão pré-estabelecidos;
O desenvolvimento das atividades projetuais e práticas
poderão ser executadas em horário estipulado, em planilha,
pelos professores, a título de orientação.
Muito se fala sobre exclusão social e cidadania, novo enfoque
da educação. A mídia, diariamente, mostra escancarado o
retrato da pobreza que a sociedade globalizada trata de
emoldurá-la sem piedade. O percentual de cidadãos sem direito
a uma vida digna, aumenta assustadoramente e estudiosos
enumeram as causas e efeitos que o cotidiano nos mostra:
violência, promiscuidade, desemprego, aumento dos índices
de agravos mentais e físicos.
A fim de viabilizar a prática da cidadania no sentido pleno a
um grupo de jovens de 18 anos excluídos socialmente, a Escola
Agrotécnica Federal de Barbacena implementou o projeto
"Serviço Civil Voluntário" - SCV, capacitando e integrando
jovens com perfil de total exclusão social. Este trabalho foi
realizado em 2002, como tese de mestrado da autora, em
parceria com algumas entidades, qualificando rapazes
selecionados previamente, atendendo aos pré-requisitos que
os classificaram como excluídos. O projeto também atendeu
às famílias dos contemplados, com a finalidade de melhorar a
qualidade de vida, oferecendo noções básicas de nutrição e
alimentação, planejamento familiar e diversos cursos como de
corte e costura, confecção de bijuterias, pães, roscas, biscoitos,
doces, salgados e bordados.
Coordenadores, instrutores e voluntários colocaram em prática
a proposta de reconstruir cidadãos, oferecendo-lhes a
Fotos: Leila M. Pereira
42 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Cinara Barbosa
oportunidade de se engajarem na sociedade, qualificando-os
profissionalmente em: informática, pedreiro, barbeiro e em
jardinagem; discutindo temas que abrangem seus direitos e
auto-estima, participando de palestras, serviços comunitários,
teatro e lazer.
A meta do programa foi a elaboração da escolaridade dos
participantes e os resultados mostram a eficácia deste projetos,
com índice de evasão zero, demonstrando a importância da
aplicação pedagógica reestruturada, atendendo às necessidades
atuais de cidadãos singulares por serem jovens excluídos e
exigirem esforços metodológicos adequados por parte dos
instrutores.
Numa vivência de educação cidadã, resgatando e cultivando
valores, elevando o índice de escolaridade, melhorando as
condições de suas vidas e de seus familiares, deu-se através de
conhecimento técnicos (profissionalizantes) e teóricos,
possibilitando a inserção desse grupo de pessoas no mercado
de trabalho e na sociedade.
A importância deste experimento está na vivência de um
trabalho educativo, com características ímpares, por se tratar
de uma clientela diferenciada, com exigências específicas na
elaboração de seu plano pedagógico. Os resultados deste,
demonstraram a viabilidade de se investir na educação para
eliminar a exclusão social, despertando o jovem para a
participação ativa na resolução dos problemas brasileiros, a
partir da construção da própria cidadania, em busca da
realização pessoal.
43
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
A Constituição Brasileira de 1988 definiu, no art. 6º, como
"direitos sociais, a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância e a assistência aos desamparados" e estabeleceu, no art.
196, a integralidade das ações de saúde, afirmando o "[...] acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação", princípios estes que não foram revistos
na lógica das políticas de saúde, visto que o alcance social destes
princípios não causaram impacto na população (BRASIL, 1988,
p. 12, 133; CORDEIRO, 1997). Assim, o nosso valor enquanto
cidadãos constituídos de direitos, é sorrateiramente tirado de
nós e substituído por valores instituídos pelo mercado onde a
satisfação das necessidades, essenciais à existência da vida, é
atendida segundo as preferências dos indivíduos e definidas pelos
processos de reprodução social, os quais determinam as situações
de saúde e de doença, de como se vive ou se morre. Esse é o
cotidiano do povo brasileiro, cuja grande parcela da população
está excluída do acesso aos direitos sociais e, entre eles, à saúde.
Diante deste quadro, esse estudo teve como objetivo investigar
as necessidades em saúde das famílias do loteamento Cidade
Recreio Cabo Branco, no município de João Pessoa - PB. Essa
pesquisa é um estudo epidemiológico do tipo individuado
observacional, de corte transversal com abordagem quantitativa
e qualitativa. A coleta de dados foi realizada no período de 08/
05 a 10/06/2003 no loteamento Cidade Recreio Cabo Branco,
no bairro Portal do Sol, da cidade de João Pessoa-PB. Dos 620
domicílios registrados pela Coordenação de Epidemiologia do I
Núcleo Regional de Saúde/SSE/PB (2003), coletou-se uma
amostra de 124 (20%) residências. Os resultados revelaram uma
situação em que a saúde parece ser um bem inalcançável e não
um direito de cidadania. São famílias que vivem em condições
de miséria, cuja concretude das necessidades sociais não se
restringem nem à necessidade humana de alimentação. Estas
famílias que, em sua maioria (68,6%) são constituídas por 3 a
5 pessoas, com renda total que varia entre 1 e 2 salários mínimos
(57,4%) e per capita de R$ 120,00 (cento e vinte reais). Destas
famílias, 49,2% são do interior do Estado e que vieram à capital
na esperança de dias melhores, confrontam seus hábitos e valores
a outros, cujo padrão, a cada dia, se distancia mais da
possibilidade de concretização de suas aspirações, propósitos e
direitos ao acesso a uma existência com dignidade. Mais da metade
dos provedores das famílias (54,4%) estão fora do mercado
formal de trabalho ou dependem da seguridade social para manter
Necessidades em saúde das famílias do
loteamento Cidade Recreio Cabo Branco
SILVA, Eliete A. da
Escola Técnica de Saúde da Universidade Federal da Paraíba
André Vilaron
44 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
suas famílias. Associam-se a este quadro as precárias condições
dos domicílios, a situação crítica de infra-estrutura básica e a
ausência de espaços de lazer, confirmam as críticas de autores
como Breilh (2000) e Escorel (1999) ao expressarem que a
sociedade capitalista considera as necessidades do homem
produtos descartáveis, portanto passíveis de serem esquecidos
ou eliminados. Além da precariedade das condições de vida que
certamente determinam as condições de saúde e doenças destas
famílias, não existem farmácias ou Unidades de Saúde no
loteamento. Quando necessitam de assistência à saúde 60% das
famílias têm como primeira escolha os ambulatórios dos hospitais
públicos da cidade. Quando indagados sobre as doenças que mais
acometem as famílias, 36,3% relatam casos de doenças respiratórias,
seguidas das infecciosas e parasitárias com 16,9%. Em relação à
mortalidade desse grupo social, o maior percentual foi de causas
externas (3,2% - assassinatos e suicídios). Quanto aos
medicamentos consumidos pelas famílias, 59,3% preferem comprá-
los e 40,7% buscam adquirir nos Centros de Saúde. Assim, dadas
às baixas condições sócio-econômicas e as dificuldades do acesso
aos serviços públicos de saúde, 80% das famílias fazem uso de
plantas medicinais e/ou medicamentos caseiros. Em relação às
condições de alimentação das famílias, 99,2% adquirem seus
alimentos segundo o seu poder de compra , geralmente
consumindo alimentos como feijão, arroz, café, cuscuz e macarrão,
ou seja, alimentos que causam a sensação de plenitude. As verduras,
os legumes e as frutas não são tidos como comida. Isto não
significa que eles não saibam a importância das frutas e verduras
na dieta alimentar, mas, por terem dificuldades financeiras na
aquisição das mesmas, fazem a opção por consumirem alimentos
de difícil digestão, ficando mais tempo com a sensação de barriga
cheia. Assim, consideramos que a postura de provedor de
mínimos sociais que o Estado assumiu frente ao avanço dos ideais
neoliberais, embutidos no discurso de redemocratização do
Estado, implicou priorizar políticas sociais focalizadas e
reprodutoras de iniqüidade social. Desta forma, as necessidades
em saúde para este grupo continuam no plano dos descartáveis
ou na dependência dos recursos financeiros de cada família,
determinadas pelas condições de trabalho de seu provedor, desde
a obtenção de alimentos, as condições dos domicílios, do
saneamento, do lazer, dos recursos do bairro, da falta de
medicamentos, além das condições adversas das instituições de
saúde. Acreditamos que, para que possamos compreender as
necessidades sociais e, dentre elas, a saúde, como direitos
fundamentais do homem, faz-se necessária uma revisão dos
princípios éticos que norteiam a existência do homem e que este
homem repense seus valores. E que este repensar não tenha como
base os valores econômicos e, sim, os valores cívicos, essenciais
para a garantia da qualidade de vida e do pleno exercício da
cidadania. E, dessa forma, talvez estas famílias possam vislumbrar
a saúde enquanto direito, com acesso universal e igualitário, assim
como todos os brasileiros, cidadãos do mundo.
Arquivo
45
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Este trabalho constituiu-se em pesquisa bibliográfica, cuja
operacionalização se deu a partir da análise de
documentos e valeu-se dos métodos indutivo e dedutivo,
bem como de inferências permitidas pelas reflexões a
partir dos achados científicos. Primeiramente,
considerou-se, como problemática, a concepção de escola
inclusiva que tem se restringido a incluir alunos
portadores de necessidades especiais nas escolas das redes
pública e particular. Portanto, objetivou desvelar a lógica
subjacente à concepção de escola inclusiva, uma vez que,
as escolas que deveriam receber essas crianças,
sabidamente, trabalham com a lógica da exclusão. Vários
estudos têm demonstrado que nossas escolas ainda
apresentam um alto índice de repetência, distorção idade/
série e, como uma de suas conseqüências da evasão escolar.
Durante a pesquisa, percebeu-se que um dos fatores
predisponentes da lógica da exclusão é o fato de a escola
trabalhar com a lógica da homogeneidade, ou seja, na
insistência de tratar de forma igual aos desiguais.
Percebeu-se que uma possibilidade de origem dessa lógica,
Arquivo
A lógica subjacente à concepção
de escola inclusiva
VILLELA, Lúcia M. B. ; CARDOSO, Ana M. M.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas
46 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
encontra-se na ciência clássica que utiliza o método cartesiano
que veicula idéias como separar e classificar para poder analisar.
Também analisaram-se os axiomas da ciência moderna entre
os quais encontra-se a lógica do terceiro excluído, segundo a
qual não existe um terceiro termo (por exemplo, T) que possa,
ao mesmo tempo, ser A e não-A. Percebeu-se que, sob essa
lógica, temos o aluno portador de necessidades especiais de
um lado e o aluno dito "normal", de outro. Um não pode ser
confundido com o outro, em razão de suas características
especiais. Logo, ambos se excluem. Dessa perspectiva, surge
a necessidade de escolas especiais para aqueles que apresentam
necessidades especiais. Constatou-se, também, que o
princípio da exclusão faz parte do paradigma newtoniano-
cartesiano que rege, ainda hoje, nossa maneira de pensar. Por
outro lado, verificou-se que a evolução da ciência modificou
o terceiro axioma da ciência moderna. Assim, a lógica do
terceiro excluído foi transformada em lógica do terceiro
incluído. A ciência da complexidade mostra a
interconectividade entre todas as coisas e o aspecto produtivo
dessa interconexão. Sendo assim, percebeu-se que o avanço
científico evidenciou que, na natureza, de que o homem faz
parte, os elementos, fatos, coisas e fenômenos não são
considerados excludentes, mas complementares. Isso significa
que qualquer dicotomia é falsa, pois é possível sempre
descobrir um elo de ligação entre os dois pólos das dicotomias.
Logo, nada, nem ninguém deve ser excluído do processo de
construção da realidade. Seguindo essa linha de estudo,
detectou-se que o pensamento emergente trabalha com a
lógica da heterogeneidade, ou seja, trabalha com a noção de
equanimidade, que implica a disposição de reconhecer
igualmente o direito de cada um. Sendo assim, com esse
estudo, concluiu-se que a noção de escola includente, apenas
parece encaixar-se na lógica da inclusão, uma vez que está
voltada somente para os portadores de necessidades especiais.
Entretanto, os excluídos, dependendo do contexto, podem
ser os pobres, os miseráveis, os negros, os gordos, os baixinhos,
muitas vezes as mulheres, os judeus, entre outros, e todos
aqueles conhecidos como os "sem", os sem-teto, os sem- terra,
etc. Diante disso, é possível dizer que, subjacente à noção de
"escola inclusiva", tem-se a lógica da exclusão. Acredita-se
que, na expressão "escola inclusiva", encontrem-se, pelo
menos, dois equívocos: o de que a escola precise ser adjetivada
e o de que o termo inclusão possa ser reduzido aos portadores
de necessidades especiais. Finalmente, defendeu-se a idéia de
que a escola deve ser para todos, sem necessidade de
adjetivação. Para tanto, a escola necessita de ajustes estruturais
e pedagógicos, preparando-se estruturalmente, para receber
os alunos portadores de necessidades especiais e,
pedagogicamente, para atender a esses e aos ditos "normais"
que virão e os que estão. Caso contrário, impedirá o ingresso
de alunos portadores de necessidades especiais e, ao mesmo
47
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
tempo, propiciará a exclusão de qualquer aluno. Deve, ainda,
preparar-se para lidar com as particularidades dos portadores
de necessidades especiais, propiciando condições especiais de
aprendizagem. Recebê-los, sem o devido preparo, reforça a
lógica da exclusão inserida na concepção de escola inclusiva.
Percebe-se um fenômeno cultural em todo o território nacional
e, conseqüentemente, na região Amazônica. O folclore,
enquanto expressão cultural de uma comunidade, começa a
sofrer deturpações de laboratório com o objetivo de "agradar"
aos turistas e inovar suas raízes, "como se isso fosse possível".
No momento em que o folclore passa a ser manipulado e
"retrabalhado", inovando o "que não se renova", passa a ser
tudo, menos folclore. São criados grandes shows artísticos
com o título de "folclore", mas, na verdade, não refletem a
sociedade com sua realidade cultural e econômica. Exemplos
disso são o Boi de Parintins e a Ciranda de Manacapuru, mega-
eventos, recriados, a cada ano, com temas novos e aos moldes
do carnaval do Rio de Janeiro que, há muito tempo, perdeu
seu caráter folclórico. São grandes eventos para atrair turistas.
Cefet-AM defende folclore genuíno
TEIXEIRA, Raimundo L. S.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas
Divulgação Cefet - AM
48 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Produção leiteira com
medicamentos naturais
O carnaval genuíno sobrevive no interior do nordeste brasileiro
com toda a força da tradição do povo brasileiro.
No Cefet-AM existe o Grupo Folclórico "ADANA", sob a
responsabilidade do professor José Gomes Nogueira, que
insiste na preservação da pureza do folclore amazonense, resiste
às "inovações folclóricas" (!) e leva os jovens alunos do ensino
médio e comunitários a fazerem contato com as danças da
região, o modo genuíno de falar, vestir-se e cantar a alma
cabocla. Tudo é pesquisado, anotado e levado ao público, com
a certeza de uma apresentação genuinamente popular, enraizada
na história e tradições do nosso povo. Os componentes do
ADANA usam chita no chapéu de palha, ao contrário do veludo
e lantejoulas, estranhos ao modo de ser amazonense. O
compromisso do Cefet-AM com a verdade histórica e
folclórica tem recebido aplausos da sociedade e
reconhecimento dos estudiosos no assunto. Para quem quiser
conhecer o genuíno folclore amazonense, recomendamos uma
visita ao Cefet-AM, onde receberão orientações pautadas em
pesquisa e na defesa da cultura popular de nosso povo.
Certamente, o Cefet-AM, através do grupo ADANA, é um
referencial na defesa do verdadeiro folclore.
Fotos: Éder C. dos Santos
Integração e articulação do processo
pedagógico em empresas simuladas,
orientadas e incubadoras na
formação profissional
SILVA, Rita E. da ; RANGEL, Genoveva A. ; CAMPOS, Débora C. ; SANTOS, Eder C. dos
Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes / MG
A implantação na Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes-
MG (EAFI) de uma nova concepção de formação humana e
tecnológica, utilizando a integração entre a empresa simulada,
empresa orientada e incubadora de empresas, para promover a
construção de uma plataforma educacional, calcada numa visão
moderna e desafiadora; capaz de reproduzir de forma lúdica,
interessante e real, o processo de construção de competência
e auto-gestão (intra-empreendedor), juntando formação geral
à profissional por meio da pedagogia de projetos. A cultura
empreendedora visa a atitude e o pensamento críticos e
inovadores, possibilitando ao empreendedor, gerar um novo
negócio e postos de trabalho, favorecendo o crescimento social
e econômico do município. Assim, este projeto objetivou a
49
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Desenvolvimento de produtos
cárneos e vegetais
formação de um profissional empreendedor, pensante, analítico
e comprometido com uma visão social, porém, capaz de
articular e mobilizar novos paradigmas, dentro das novas
relações de trabalho, de um mercado aberto e altamente
competitivo.
Este estudo, de natureza qualitativa e quantitativa, teve como
método de investigação os objetivos gerais e específicos. Os
objetivos gerais são abrangentes, de longo prazo, para os quais
o sucesso do projeto contribui, mas que dependem também
de outros fatores condicionantes, tais como: promover a re-
estruturação do ensino profissional da escola, por meio da
gestão em articulação com todos os conteúdos programáticos
adjacentes, atuando como elo de ligação e integração curricular;
implantar tecnologia pedagógica inovadora e aproximar o
educando ao contexto atual do mercado de trabalho. Os objetivos
específicos são, em geral, qualitativos, realizáveis, como
conseqüência direta das preposições sugeridas no contexto do
projeto. A metodologia, para a realização das ações, foi
desenvolvida em três principais eventos, tais como: implantação
do sistema articulado entre empresa simulada, empresa orientada
e incubadora de empresas no âmbito da EAFI; aprimoramento
do processo ensino-aprendizagem por meio da utilização de
equipamentos de informática e audiovisuais e sincronização da
pedagogia de projetos com o sistema integrado de empresas
(simulada-orientada-incubada), que na verdade, constitui o
plano de trabalho do projeto proposto.
Pelos resultados obtidos, pode-se observar que houve a
participação na Feira de Idéias, de um total de 46 trabalhos
apresentados por alunos das 1ª, e séries, no período de
01 e 02 de outubro de 2003, com a participação de 240
alunos (25,64% do total de alunos). Visitaram a Feira de Idéias
476 pessoas de outras escolas da comunidade. Foram
selecionados 06 (seis) trabalhos pela comissão avaliadora,
dentre os 46 trabalhos apresentados, para concorrer ao Prêmio
Técnico Empreendedor MEC-Sebre. Além do fomento
educacional, com a implantação do componente curricular
gestão empreendedora, na matriz curricular do ensino médio,
onde foram atendidos 813 alunos dos cursos do ensino médio
e técnico concomitante, utilizando-se salas de aulas dotadas
de equipamentos audiovisuais e de informática. Conclui-se que,
tais resultados refletiram substancialmente na mudança positiva
de hábitos e atitudes dos alunos, no dia-a-dia escolar, para o
desenvolvimento de trabalhos que impactem diretamente na
pedagogia de projetos como facilitadores do processo ensino-
aprendizagem e incorporação de métodos e técnicas de gestão
empreendedora.
Pavilhão de exposição
50 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O arquivo literário de Cleonice Rainho
CARDOSO, Maria J. M.
Escola Agrotécnica Federal de Barbacena / MG
Arquivo é o conjunto de manuscritos, gráficos, fotográficos,
produzidos por uma pessoa e destinado a permanecer sob a
custódia de alguém ou de uma instituição. Pode ser: arquivo
morto ou público ( órgão que reúne, para conservação, consulta
e divulgação os documentos constitutivos de entidades públicas
ou privadas ).
O arquivo pessoal de Cleonice Rainho entendido como forma
particular de escrita, privilegiou seu cotidiano profissional e
refletido sobre o fazer docente e literário, projetou sonhos,
anotou dificuldades, procurando eternizar sua imagem. Em meio
dos seus guardados, ela deixou escapar os múltiplos significados
que atribui à educação, à escola, ao magistério e ao fazer poético,
na tessitura da vida, trazendo à tona personagens, trajetórias,
redes de sociabilidade que teceram as malhas de sua existência.
O arquivo contém 982 documentos, 1177 folhas, 368 anexos.
Na série correspondência pessoal 435 remetentes. As
Arquivo
51
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O Cefet - Rio Pomba, com intuito de conhecer as diferenças
sociais da cidade de Rio Pomba e objetivando melhorar a
qualidade de vida dos bairros mais carentes, juntamente com a
AZA - Empresa Júnior, visitou os domicílios desta cidade,
questionando os moradores para, posteriormente, poder
elaborar um plano estratégico de caráter social.
O questionário era composto por vinte e cinco questões
abordando: tipo, situação visual, número de cômodos, número
de dormitórios, número de pessoas residentes e situação dos
domicílios da cidade; abastecimento de água; rede de esgoto;
energia elétrica; telefone; eletrodomésticos; escolaridade; renda
familiar; ocupação do arrimo de família; número de menores
que trabalham e estudam. Desta forma, a cidade foi recenseada
durante os finais de semana do segundo semestre de 2003.
Conclui-se, portanto, que, há muito por fazer pelo social e
cultural. Alguns dados podem ser ressaltados:
nos bairros mais carentes mais pessoas por domicílio e
menos cômodos nas residências;
os domicílios alugados estão mais concentrados nos bairros
de melhor renda familiar;
quanto à água, os domicílios visitados dos bairros mais
carentes não apresentam canalização interna de água e algumas
casas não são favorecidas com água tratada;
existem algumas residências sem esgoto;
nos bairros mais carentes, os domicílios não possuem serviço
telefônico, embora alguns moradores usem telefone celular;
Pesquisa socioeconômica e cultural na cidade de
Rio Pomba
BITTENCOURT, Flávio; PASCOALINO, Marcos
Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Pomba / MG
Agradecimentos: Ao Cefet - Rio Pomba
por fornecer todo o material necessário para
realização deste levantamento e à
Empresa Júnior - AZA por auxiliar e visitar
os domicílios da cidade.
anotações foram feitas em impresso apropriado para cada
correspondência. Os verbetes foram feitos em caixa alta, em
ordem alfabética. Neles anotações sobre local, data, estado
de conservação. O arquivo foi ordenado em série.
O acervo cobre um período que vai de março de 1919 a
dezembro de 2003. Fazem parte deste conjunto: cartas,
bilhetes, telegramas, ofícios e cartões.
Os documentos dos arquivos e das coleções particulares,
conservados pelas instituições e pelo zelo de indivíduos
esclarecidos, constituem elos que nos unem ao passado e
informam os fundamentos de nosso presente, garantindo o
legado a ser preservado para as gerações vindouras. São fontes
de pesquisa e preservação da memória de uma sociedade.
52 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Do campo para escola: semeando igualdade e
colhendo cidadania
NOBRE, Francisco S.
Escola Agrotécnica Federal de Crato / CE
O momento histórico que o país atravessa, marcado por uma
política pública do Governo Federal que deixa nítida sua
preocupação com a igualdade de oportunidades, requer o
empenho da sociedade como um todo para promover a inclusão
social.
Tem-se observado, ao longo dos anos, que grande parte das
crianças assistidas por instituições filantrópicas nas capitais
brasileiras, são residentes em favelas e tiveram sua origem no
meio rural e que em virtude do êxodo, se viram obrigadas a
migrarem com seus familiares para os grandes centros urbanos
André Vilaron
 há grupos familiares que sobrevivem com menos de dois
salários mínimos, sendo que em um determinado bairro, 42,1%
vivem com menos de um salário.
Com o enorme número de dados a serem processados, ainda
não foi possível tirar todas as conclusões que possam ser
extraídas deste trabalho.
53
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
do país. Estender os direitos de igualdade de oportunidades
na participação de atividades esportivas, culturais e, por
conseguinte educacionais, ao filho do pequeno produtor rural,
como também a criança residente em assentamentos, mostra-
se uma alternativa para diminuir o êxodo e reduzir os problemas
decorrentes da urgência de se realizar uma reforma agrária e
de promover justiça social.
Nestes termos, considerando que grande parte das Escolas
Agrotécnicas Federais, encontram-se localizadas no interior
do país, por sua vez, instaladas na zona rural, e algumas
próximas a assentamentos de terra, que em virtude do caráter
de internato dessas instituições, ocorre um horário ocioso de
uso das instalações, geralmente correspondente ao horário das
07:00 às 10:30 h e das 13:00 às 16:30 h, e que poderia ser
aproveitado no atendimento à comunidade, considerando que
em quase sua totalidade, essas escolas possuem uma infra-
estrutura física invejável, munida de ginásios esportivos,
refeitórios, auditórios, enfermarias, etc., muitas das quais
necessitando de investimentos mínimos de reformas, que
garantam o desenvolvimento pleno de atividades esportivas,
de lazer e culturais, considerando a excelência de recursos
humanos inerentes a esses estabelecimentos. Esse projeto busca
sua justificativa na criação de um programa que vise promover
a inclusão social de crianças e adolescentes da zona rural,
através da prática do esporte não formal, de atividades
artístico-culturais e de acesso a conhecimentos básicos de
informática. Assim, nós que fazemos a Escola Agrotécnica
Federal de Crato -CE, nos disponibilizamos a implantar esse
ousado projeto na nossa escola, de modo que funcione como
um laboratório e a partir de então, se transforme num modelo
a ser seguido pelas outras 36 Escolas Agrotécnicas do Brasil,
logo, trazendo uma previsão de promover a inclusão, no
mínimo, de 4320 crianças e adolescentes da zona rural.
Arquivo
54 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Associados triando, na AREsp,em
2003.
Fotos: Thyrza Pires
Este trabalho relata as atividades desenvolvidas no Laboratório
de Experiências em Papel Artesanal (Lepa), do curso técnico
de Meio Ambiente, Cefet/SC, criado em 1993, com objetivo
de possibilitar aproximações entre teoria e prática. É um
laboratório de experiências em reciclagem de papel, no qual os
alunos planejam, experimentam e executam as práticas
interdisciplinares para educação ambiental. Como produto de
pesquisas foram desenvolvidas quatro metodologias para
reciclagem artesanal de papel: método frio - fácil, rápido e
oferece bons resultados e didaticamente mais indicado para
crianças, pela segurança do processo; método quente - desta
técnica resulta um papel de qualidade superior e durável;
método das muitas telas e poucos panos (Fig. 1) e método
dos muitos panos e poucas telas. Além do ensino e da pesquisa,
são realizadas atividades de extensão, através de palestras e
oficinas em escolas públicas e privadas, comunidade e empresas.
São trabalhadas as possibilidades de redução da produção de
resíduos, da separação e da recuperação dos materiais
destinados ao lixo. Para a sensibilização inicial, utiliza-se
reciclagem de papel, oficinas de reaproveitamento, como as de
Lepa Aproximações entre teoria e prática
PIRES, Thyrza S. de L.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina
Fig. 1
Eliete Pereira
55
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Fig. 2
Participação em eventos como apresentadores de trabalhos
fuxico (Fig. 2), de pulseirinhas de papel (Fig. 3), de
papel filtro, de confecção de brinquedos e utensílios
com PET, de cartonagem, etc . Nestes momentos de
convivência são trabalhados os conhecimentos
técnicos. Também são utilizadas dinâmicas, atividades
teatrais e jogos didáticos, desenvolvidos pelos alunos,
na proposta de educação para o ambiente. É um espaço
para o desenvolvimento de programas de capacitação
em resíduos sólidos, para a comunidade interna e
externa à Escola, como a capacitação em triagem de
resíduos sólidos, reciclagem de papel e associativismo
solidário que foi ganhador do concurso de Projetos
Sociais da Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho/SC
(FMSS), em julho de 97. Desenvolvido para pessoas
de comunidades de baixa renda, com o objetivo de
capacitá-las para conquistar trabalho, renda e a
recuperação do sentimento de cidadania, por meio da
inserção econômica.
A Associação dos Recicladores Esperança,
Florianópolis, originou-se em julho de 1999 e se
mantém até hoje, auto-sustentada e contando com a
assessoria técnica do Lepa. Tem possibilitado, aos
alunos, participação em eventos técnicos-científicos
como apresentadores de trabalhos, ministrantes de
cursos/oficinas, além da atuação na organização e
coordenação de eventos ambientais. É utilizado por
outros cursos técnicos e tecnológicos do Cefet/SC,
que desenvolvem equipamentos com novas tecnologias
e baixo custo para os projetos do Lepa.
Fig. 3
56 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Hoje, é pacífico entre os teóricos da economia que o
planejamento, visando ao desenvolvimento, passa por um
sistema de educação comprometido com a construção de urbes
sustentáveis. A educação profissional tem implicações bastante
acentuadas nos projetos de desenvolvimento, principalmente,
se tomarmos como diretriz o princípio que vincula educação
escolar ao mundo do trabalho. Não obstante, indaga-se: a
educação profissional, existente em Mossoró, será suficiente
para dar suporte ao município na trajetória do desenvolvimento
sustentável? Durante esse trabalho, fizemos um apanhado das
ações do Cefet-RN no campo da educação profissional em
Educação profissional em Mossoró: a experiência
do Cefet-RN na formação de trabalhadores
para o setor de petróleo e gás natural
SANTOS, Jailton B. dos
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte
Unidade de Ensino Descentralizada de Mossoró
Fotos: Divulgação Cefet/RN
57
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Mossoró, identificando as implicações dessas iniciativas para
a formação de trabalhadores do setor do petróleo e gás natural
e suas conseqüências para o desenvolvimento local. Como
metodologia, adotou-se a coleta de dados em periódicos e
documentos, feita no Cefet-RN e na região, também em
informações obtidas junto à comunidade acadêmica, órgãos
públicos e sociedade civil, além de informações veiculadas na
internet
1
. A análise fornecida pelos dados colhidos no campo
de pesquisa, autoriza-nos a alertar para a necessidade de os
governos e empresas investirem, cada vez mais, em programas
para qualificar os trabalhadores da região, sobretudo aqueles
de baixa renda, a fim de que eles possam inserir-se no setor
produtivo de petróleo e gás, sob pena de se estar cometendo
uma enorme injustiça social. Com vista a aumentar seu poder
de atuação, o projeto pedagógico do Cefet/RN tem buscado
firmar o maior número possível de parcerias em Mossoró.
Foram positivos os convênios com Funcern
2
Sine, Sebrae,
ANP
3
e empresas do setor petrolífero para melhor qualificar a
mão-de-obra local. Conclui-se que, confirmando a sua missão,
a Unidade de Mossoró vem contribuindo bastante para o
desenvolvimento regional. No entanto, é preciso investir mais
na educação profissional, pois a sustentabilidade local necessita
de um sistema educativo que permita o equilíbrio entre
crescimento econômico e equidade social.
Referências:
1
SANTOS, J.B. O Poder Público como Indutor do
Desenvolvimento Sustentável
: o Gás Natural em Mossoró-RN.
Dissertação de Mestrado. - Mossoró (RN): Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte (UERN), 2003. 182p.
2
Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento
Tecnológico do RN.
3
CONVÊNIO PRH-ANP/MEC - Técnico no 42. ANP/Cefet-
RN/MEC. Convênio de mútua colaboração para a realização de
cursos de educação profissional de nível técnico para a indústria
do petróleo e gás natural. 2001. 12p.
Agradecimentos: Agradecemos a todos
servidores e alunos da UNED que colaboram
para a realização desse trabalho.
58 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
A inserção digital na educação especial
SILVA, Andréa da
Escola Agrotécnica Federal de Alegrete / RS
A razão de muitas mudanças e avanços ocorridos na sociedade,
principalmente na comunicação, e nos métodos e processos
de produção se pela tecnologia, especificamente pela
informática; atingindo todos segmentos e setores sociais. Hoje,
em qualquer organização, a operacionalização das atividades
são mediadas por computadores, sendo que algumas delas
oferecem aos seus clientes serviços on-line.
Portanto, constata-se que as pessoas tornaram-se dependentes
dos computadores, porém, apesar de estar a par dessa realidade,
ainda pessoas que sequer tiveram contato com o
computador, ademais aqueles que são portadores de
necessidades especiais, como surdos-mudos. Será que a
incapacidade de falar e ouvir afeta na capacidade de aprender
informática? Certamente a resposta é não; então como inverter
esse quadro? Como essas pessoas podem ser inseridas no
mundo digital?
Em cima dessas indagações, é que duas alunas do curso técnico
em Informática da Escola Agrotécnica Federal de Alegrete
estão realizando um projeto para aliar a informática com a
educação especial; estão ensinando para um grupo de pessoas
surdas-mudas informática básica. É um projeto desafiador,
mas gratificante, objetivando promover a socialização e a
inclusão digital.
Para execução desse projeto, as alunas, primeiramente, tiveram
que aprender a linguagem dos sinais, após a orientação de uma
educadora de educação especial ministram aulas por 04 horas
semanais, beneficiando 12 pessoas desde o mês de maio do
corrente ano. Pela primeira vez estão manuseando um
computador, possibilitando que eles aprendam informática,
não só para se preparem para o mercado de trabalho, como
também para a vida, pois tudo requer o conhecimento de
informática.
Arquivo
59
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O Encontro de Arte de Belém como palco de
formação profissional
SOUZA, Ana M.; COUCEIRO, Adriana M.; GOMES, Celson H. S.
Escola de Música da Universidade Federal do Pará
O Enarte - Encontro de Arte de Belém, evento artístico-
educacional que acontece ininterruptamente desde 1973, sob
a coordenação da Escola de Música da UFPA-Emufpa, foi
concebido pelo pianista e compositor Altino Pimenta. O
Encontro foi criado, inicialmente, como uma estratégia para
divulgar mais amplamente as atividades artístico-educacionais
da Escola de Música; promovendo também a integração dos
setores artísticos da UFPA, nas áreas de Música, Dança, Teatro,
Cinema, Artes Visuais e Literatura, tendo como público-alvo
a comunidade universitária e a população em geral.
O Enarte, nos dias de hoje, tem sido realizado com os seguintes
objetivos: oportunizar a população em geral o acesso aos
eventos de natureza artístico-educacionais, apresentando
produtos gerados pelos cursos de Educação Profissional da
EMUFPA e entidades conveniadas; contribuir para o
desenvolvimento qualitativo e quantitativo das artes no estado
do Pará, por meio de espetáculos e cursos que estimulem
Fotos: Manoel Pantoja
60 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
intercâmbio de experiências entre os futuros profissionais, em
formação na Emufpa, e profissionais locais; promover aos
alunos e ao público, em geral, o desenvolvimento, a interação
e atualização das diversas linguagens artísticas, a partir de
âncoras temáticas, tais como: "Arte na Contemporaneidade:
criação e ineditismo", (tema do 31º Enarte), e "Arte em
espaços públicos: interação e inclusão social", (proposta de
tema para o 32º Enarte); possibilitar a participação de novas
propostas e projetos alternativos, de caráter artístico-
educacional, que envolvam a inclusão de pessoas da
comunidade; fortalecer as áreas de Música, Dança, Teatro e
Artes Visuais, buscando a ampliação da política de valorização
artístico-cultural pelas instituições, entidades e empresas locais
e regionais.
Para que se possa visualizar melhor os Encontros de Arte, sua
dimensão e projeção, foi lançada, recentemente por ocasião
do 31º Enarte, uma publicação intitulada "Memória e
História", que registra os 30 anos de Enarte e 40 anos da
Emufpa.
61
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Prática de ensino de língua portuguesa e
exclusão social
VILLELA, Lúcia M.; CARDOSO, Ana M. M.
Centro Federal da Educação Tecnológica de Pelotas / RS
Este trabalho configurou-se como pesquisa bibliográfica, cuja
operacionalização se deu a partir de análise de pesquisas
realizadas na área em foco. Teve, como objetivo, analisar a
contribuição do ensino de língua materna para a ascensão social
de alunos advindos de classes sociais. Para tanto, analisaram-
se os números relacionados à repetência, à distorção idade/
série e à evasão escolar, relacionados a essas classes, bem como
as práticas pedagógicas utilizadas nas aulas de Língua
Portuguesa, por meio de análise de livros didáticos. Partiu-se
da evidência de que as múltiplas linguagens envolvidas no
ensinar e no aprender têm sido tema de pesquisas,
particularmente a partir da década de 70, em razão do processo,
ainda que ilusório, de democratização do ensino, que houve
uma expansão da oferta de matrícula. Alunos oriundos das
diversas classes sociais chegaram à escola, nessa época, trazendo
sua cultura e, por conseguinte, seus dialetos sociais. Durante
Arquivo
62 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
a pesquisa, percebeu-se que, salvo raríssimas exceções, ainda
hoje, na escola, trabalha-se com uma noção de língua única,
homogênea, ligada a um padrão idealizado de linguagem, o
que gera uma série de arbitrariedades, não raro involuntárias,
de que são passíveis aqueles que a freqüentam, quando
educadores pretendem substituir-lhes a linguagem que
dominam, por um falar artificial, inexpressivo e
pretensamente estabilizado. Outros estudos têm
comprovado que essa atitude dificulta a ascensão a classes
mais adiantadas de ensino, uma vez que, ao reprimir
determinadas formas de expressão, emudece alunos, levando
à repetência, à distorção idade/série e, nos casos mais graves,
à evasão escolar. Nesse mesmo sentido, percebeu-se que,
embora pesquisas na área da Sociolingüística tenham
comprovado que os dialetos sociais são tão lógicos,
complexos e gramaticais quanto o dialeto padrão, a escola,
por privilegiar apenas este último, assume uma posição
maniqueísta em termos de língua, que adota uma norma
de caráter prescritivo, condenando outras formas de
discurso, o que significa dizer o que é certo ou errado em
termos de língua. Por outro lado, as noções de norma e
gramática estão intimamente ligadas e, se não uma única
norma, não pode haver uma única gramática. Isso permitiu
perceber que a noção de linguagem é muito mais abrangente
do que aquela com que trabalha a escola. Nesse caminho,
evidenciou-se que existe a consciência de que o domínio da
linguagem, como instrumento vivo de ampliação das
potencialidades humanas, é uma das condições que se impõem
ao exercício da cidadania, sendo, então, necessária uma
revisão do sentido do ensino da Língua Portuguesa,
considerando-se os resultados de outras ciências
interdisciplinares da Lingüística, bem como o pensamento
advindo da Filosofia da Linguagem. Por outro lado,
percebeu-se que essas áreas também apresentam limitações
e parcialidades. Sendo assim, comprovou-se que, tão
importante quanto ampliar as noções de língua, linguagem,
norma e gramática com base nos avanços alcançados por
aquelas ciências, é desenvolver a percepção de que a
linguagem humana é polivalente e polifuncional, pois tudo
se encontra contido na linguagem, fazendo ela mesma parte
do tudo que ela contém. Assim, constatou-se que reduzir a
noção de linguagem àquela trabalhada na escola, significa
reduzir o próprio homem que, na verdade, é um ser bio-
psico-sócio-cultural, cuja subjetividade comporta o erro e
a desordem, marcas do aumento de complexidade presentes
tanto em cada sujeito como nas sociedades humanas.
Concluiu-se, com isso, que, enquanto a escola não assumir
uma noção de linguagem mais complexa e, por isso mesmo,
mais abrangente, por meio da prática de ensino da Língua
Portuguesa, continuará a produzir excluídos sociais.
63
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
A educação científica como fator de inclusão social
AGUIAR, Luiz E. V. de; CÂMARA, Miguel S. ; JESUS, Vitor L. B. de; ROSA, Suely P. ; CHINELLI,
Maura V.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis / RJ
As Ciências estão relacionadas às necessidades básicas dos seres
humanos e todos deveriam compreender isso. Sem um
conhecimento de Ciência, ainda que mínimo, é muito difícil
um indivíduo conseguir se posicionar sobre diversos assuntos
da vida moderna, como poluição, recursos energéticos,
agrotóxicos, medicamentos e muitos outros, e em
conseqüência, exercer efetivamente sua cidadania. Ter noções
básicas de Ciências instrumentaliza o cidadão para que ele possa
saber exigir os benefícios da aplicação do conhecimento
científico para si próprio e para a toda sociedade.
O desinteresse pela Ciência não é um fato que se auto determine
ou que, simplesmente, se justifique pela falta de curiosidade
"natural" das pessoas. O desconhecimento científico está
muito mais ligado a um processo deliberado de alienação e
controle do conhecimento científico, na perspectiva da
manutenção de um estado de exploração e espoliação, que por
Fotos:Arquivo
64 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
séculos se perpetua, com a dominação do saber científico por
uma minoria exploradora. O homem é naturalmente curioso,
o problema é que, para satisfazer sua curiosidade sem ter que
torná-lo capaz de intervir, a verdadeira Ciência não lhe é
oferecida. A vulgarização, a exploração e o sensacionalismo
em torno de temas "científicos" são fatores de alienação e,
portanto, de afastamento da verdadeira Ciência que requer
método e continuidade para se tornar conclusiva e contributiva
para o processo educacional do indivíduo e do coletivo.
Ao possibilitar ao cidadão o domínio dos conhecimentos
culturais e científicos, a educação socializa o saber
sistematizado, e desenvolve capacidades cognitivas e operativas
para a atuação no trabalho e nas lutas sociais pela conquista
dos direitos de cidadania. Dessa forma, ela efetiva a sua
contribuição para a democratização social e política da
sociedade.
Foi pensando nisso, que resolvemos constituir o Centro de
Ciência e Cultura do Cefet de Química, (C4), na Unidade de
Nilópolis, Baixada Fluminense, com os seguintes objetivos
gerais:
1 - Desenvolver atividades de divulgação, alfabetização e
popularização científicas, articuladas num espaço que pudesse
ser freqüentado pela população em geral, professores e alunos;
2 - Promover continuamente a atualização de professores das
redes municipais e estadual do RJ, com base em atividades
práticas;
3 - Motivar professores e estudantes a comporem equipes
multidisciplinares para atividades temáticas articuladas em
projetos de pesquisa vinculados à formação, ao nível de iniciação
científica e de pós-graduação, senso lato ou senso estrito;
4 - Contribuir, de forma laboratorial, com a formação de
profissionais nas áreas de Educação, Lazer e Desenvolvimento
Social.
65
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Treinamento e vivência Projeto em
Extensão Rural
BITTENCOURT Jr., Darcy.
Escola Agrotécnica Federal de Rio do Sul / SC
"Treinamento e Vivência" em Extensão Rural - ER foi uma
experiência desenvolvida junto à disciplina de Projeto em
Extensão Rural-PER, pertencente aos 2
os
e 3
os
anos do técnico
em Agropecuária e Floresta da EAFRS. O programa foi
conduzido em 18 propriedades rurais, no período de julho de
2002 a dezembro de 200, nas comunidades da Serra Canoas e
Vencida, Rio do Sul. A idéia foi buscar uma aproximação com
a comunidade e a viabilização de um treinamento em ER com
os discentes. Sendo embasada na proposta de implantação de
um PER(reforma da matriz curricular/1999). No 2ºsemestre
de 2002 houve a elaboração de material teórico
1
para o
formato, baseado nos programas de ER das extintas Embrater
2
,
da Catarinense Acaresc, hoje Epagri
3-5
e pelo Microbacias I
4
.
Os objetivos foram: alicerçar a E.R. como trabalho educativo
e qualitativo; desenvolver a capacitação inicial em ER
(conhecimentos, habilidades, hábitos e atitudes)1 junto aos
alunos; a prática do trabalho de E.R. com os alunos nas
propriedades; identificar as condições sócio-econômicas e
culturais das famílias assistidas; avaliar os recursos naturais-
(solo, aguadas) e propor o manejo e a utilização racional.
Agradecimentos: A todos os discentes,
proprietários, agricultores, funcionários,
docentes e orientadores efetivamente
envolvidos no projeto.
Rodrigo Farhat
66 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
A equipe de trabalho era formada por 02 coordenadores, 08
professores (06 orientadores, 01 topografia e 01 E.R.), 01
técnico agropecuário, 03 motoristas e 06 grupos de alunos
que foram compostos em suas respectivas turmas (04-05
integrantes).
Conclusões: a etapa, em sala de aula, desenvolveu a
capacitação inicial dos alunos em topografia, agricultura
(levantamento e planejamento conservacionista) e formação
humanista (perfil, ética, comunicação) para a ER. No campo,
houve a realização de levantamentos topográficos, amostragens
de solo e aplicações de questionários nas propriedades rurais.
Na 2º etapa, em sala de aula, foram realizadas tabulações de
dados, pesquisa para elaboração de palestras/dias de campo e a
formulação dos projetos (proposições de melhoria na utilização
dos recursos naturais e de outras explorações) para as
propriedades rurais. Na instituição houve a recepção dos
produtores, apresentação de dias de campo, palestras
relacionadas às explorações das propriedades rurais e
confraternização. Das propriedades trabalhadas 94,5% tinham
entre de 10-25 ha, 72% apresentavam alguma proteção das
fontes ou poços para consumo humano de água. Em 89% se
desenvolvia a agricultura familiar, tendo como principais
culturas o fumo 55% e o milho 72% (grão e silagem). O leite
em 18% era a principal renda, a piscicultura era explorada em
22% e o gado de corte em 50%, sendo as duas últimas com
baixo nível técnico de exploração. A renda em 33% das
propriedades rurais ficava entre R$ 200 e 400/mês, o mesmo
% obtido para faixa de R$ 400 a 1.000/mês.
Referências:
1
BITENCOURT JUNIOR, D; e FRONZA, K.R.K. Projeto de
extensão rural: apostila
. Rio do Sul, EAF Rio do Sul, 2002.
42p.
2
EMBRATER. Política e diretrizes de formação extensionista.
Brasília. Embrater,1987, 52 p.
3
OLINGER, G. Ascensão e decadência da extensão rural no Brasil.
Florianópolis: EPAGRI, 1996, 523 p.
4
SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Agricultura e
Abastecimento.
Manual de uso, manejo e conservação do solo e
da água: Projeto de recuperação, conservação e manejo dos r.n.
em microbacias hidrográficas
.2. ed. ver., atual. e ampl.
Florianópolis: EPAGRI, 1994. 384 p.
5
SIMON, A. A. A extensão rural e o novo paradigma.
Florianópolis: EPAGRI, 1996, 26 p.
Arquivo
67
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
O Cefet-ES promovendo a cultura
popular em Goiabeiras Velha
BENTO, Jamilda A. R.
Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo
Aos 95 anos de existência, o Centro Federal de Educação
Tecnológica do Espírito Santo (Cefet - ES), é uma das maiores
instituições educacionais do estado do Espírito Santo a
promover a formação do homem para o trabalho e para a vida.
O respeito à diversidade cultural é um caminho que estamos
começando a trilhar. Prova disso é o freqüente apoio aos
projetos culturais que a comunidade de Goiabeiras Velha tem
recebido: Banda de Congo, Boi Estrela, Cantadeiras de Roda,
Festa de São Benedito. Por último, temos a satisfação de
mencionar o apoio cultural que esta Instituição deu a uma
ativista das tradições culturais do povo de GoiabeirasVelha -
Vitória - ES, na realização do seu primeiro livro sobre cultura
popular, "Conhecendo as Benzedeiras de Goiabeiras Velha".
Goiabeiras Velha, um dos bairros que compõe a Grande
Goiabeiras, está situada na parte norte da capital Vitória e
distante do Cefet-ES uns vinte minutos de automóvel. A
maioria das benzedeiras são afro-descendentes, como a autora
do referido livro. No grupo das benzedeiras, nove são paneleiras
e as demais garantem o seu sustento desenvolvendo atividades
variadas, pois não cobram para benzer, exercem esse ofício
simplesmente porque acreditam que, com os seus benzimentos,
podem ajudar a curar o mal do corpo e da alma daqueles que as
procuram.
Acreditamos que, a direção e o corpo docente do Cefet - ES,
que nos últimos anos têm apoiado os projetos referentes à
cultura popular capixaba, devam implementar ações efetivas
para que o nosso corpo discente tenha condições de
reconhecer as nossas tradições culturais que nos dão identidade
própria, e, acima de tudo, reconhecer as grandes contribuições
do povo negro para a construção da sociedade brasileira. Afinal
somos um povo que lamina o aço, mas também modela panelas
de barro, dança o congo, dança o jongo, etc.
Esperamos que o Cefet - ES, que tanto contribuiu e contribui
para a formação de profissionais para o mercado de trabalho e
para a vida, viabilize, junto aos profissionais competentes a
implementação da Lei 10.639/2003 (Lei que torna
obrigatória o ensino de "História e Cultura Afro - Brasileira",
incorporando, no seu projeto político-pedagógico, ações
efetivas para contemplar a parcela de afros-descendentes que
ocupam os bancos desta Instituição.
68 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Do sonho veio a Aresp
PIRES, Thyrza S. L.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina
1
Sonhar alimenta a alma, atiça a curiosidade e a busca pelo
conhecimento. Sonhar com os olhos abertos e os pés no chão
faz os humanos construírem um mundo melhor. O trabalho
relata a formação da Associação de Recicladores Esperança
(Aresp), através de um programa de capacitação em triagem
de resíduos sólidos, reciclagem de papel e associativismo
solidário, desenvolvido pelo Laboratório de Experiências em
1
Curso Técnico de Meio Ambiente,
Laboratório de Experiências em Papel
Artesanal - Lepa
Projeto de leitura no presídio
GONÇALVES, Lígia N. L. M. ; MEIRELLES, Lucilena V.
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas / RS
Este trabalho relata as atividades desenvolvidas em projeto
implantado pelo Cefet, junto ao Presídio Regional de Pelotas,
cujo objetivo foi desenvolver o hábito da leitura entre os
detentos.
A Lei de Execução Penal prevê, em um de seus artigos, a
assistência ao preso e ao interno, objetivando prevenir o crime
e orientar o retorno à convivência em sociedade. Partindo desse
princípio e da necessidade de diminuir a ociosidade dos
encarcerados, nasceu o projeto de criação da Biblioteca do
Presídio Regional de Pelotas em parceria com essa Instituição
e o Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas.
Oportunizar o contato com a leitura e a pesquisa foi uma
forma encontrada de resgatar a sua auto-estima e promover a
aquisição de conhecimentos dos aprisionados.
Inicialmente, o Cefet - RS, juntamente com a escola de idiomas
Yázigi, realizou, junto à Feira do Livro de Pelotas, uma
campanha para arrecadação de livros usados. Após, buscou,
através de doações, máquinas e equipamentos necessários para
a administração da biblioteca.
Num segundo momento, a Direção do Presídio indicou um
detento para receber treinamento em organização de material
bibliográfico e controle dos usuários. Outro detento recebeu
curso de recuperação de livros, permitindo que os livros doados
fossem recuperados.
A experiência com a implantação da Biblioteca do Presídio
Regional gerou resultados surpreendentes. O ambiente
destinado ao funcionamento da biblioteca, antes uma cela, deu
lugar à leitura e à pesquisa e os detentos passaram a ocupar
seu tempo com a leitura. Além disso, os responsáveis pelo
funcionamento desse espaço tiveram a oportunidade de
desenvolver atividade laborativa.
Arquivo
69
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Vista externa do galpão de triagem
Fotos: Thyrza Pires
Aulas de operação de
equipamentos COMCAP (1998)
Papel Artesanal (Lepa), como atividade de extensão do Cefet/
SC, em parceria com a Fundação Maurício Sirotsky Sobrinho
(FMSS), Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) e
Companhia Melhoramentos da Capital (Comcap). A proposta
era capacitar pessoas não incluídas e/ou excluídas, com
conhecimentos sobre resíduos sólidos e associativismo
solidário, para que conquistassem autonomia e capacidade para
gerirem sua associação.
O programa iniciou-se em dezembro de 1997 e como a
proposta era oferecer conhecimentos para que os participantes
pudessem "andar sozinhos", em julho de 1999, foi fundada a
Aresp e se tornou realidade devido ao empenho dos parceiros.
Construiu-se um espaço de produção coletiva, de onde cerca
de 30 famílias retiram seu sustento a partir da triagem de
materiais recicláveis e reciclagem. Podemos observar que o
programa recuperou e reciclou, além de resíduos, outras coisas:
os vínculos afetivos das pessoas, a vontade e capacidade de
intervir na sociedade e no ambiente. Além do trabalho e renda
que resgatam a cidadania, em 5 anos, mais de 3000 toneladas
de resíduos deixaram de poluir o ambiente. A Aresp é uma das
poucas iniciativas de triagem de lixo seletivo em Florianópolis,
sendo a primeira de caráter associativo. A maioria dos
"trabalhadores do lixo" é originária do interior do Estado e
vieram para a capital devido à falta de terra para produzir. Eram
marginalizados e, muitas vezes, presos por vadiagem e por
provocarem desordem ao (dito) bom funcionamento da
cidade, quando faziam suas atividades de coleta e separação
dos materiais recicláveis. A partir da formação da Associação,
são reconhecidos como parceiros ambientais e econômicos,
pela comunidade, instituições públicas e privadas. A Aresp faz
parte do projeto UDTeR (Unidades Descentralizadas de
Triagem e Reciclagem) que prevê a estruturação de unidades
em algumas regiões de Florianópolis, sendo todas elas
vinculadas e interrelacionadas. A Aresp conta com a assessoria
técnica do Lepa Cefet - SC, que atua na coordenação do
programa de capacitação técnica e implementação do
associativismo, além de cursos de qualificação e requalificação
para os associados. Do ponto de vista educacional, programas
como este revelam o papel da escola pública que além de
capacitar seus alunos tecnicamente para as atividades afins,
educa-os para a cidadania, através da participação em atividades
de extensão, no desenvolvimento de ações sociais e de melhorias
da qualidade ambiental.
Galpão de triagem com paredes
(2000)
Simone Ribeiro
Galpão de triagem, agora, com
esteira (2002)
70 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
CONTATOS
Contatos
AM
CEFET-AM DEFENDE FOLCLORE GENUÍNO
Raimundo Luiz de Salles Teixeira
Centro Federal de Educação Tecnológica do Amazonas
Av. Sete de Setembro, 1975 - Centro
Manaus - AM CEP: 69020-120
Telefone: 92 621-6700
Fax: 92 635-1981
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetam.edu.br
CE
DO CAMPO PARA ESCOLA: SEMEANDO IGUALDADE E
COLHENDO CIDADANIA.
Francisco Salviano Nobre
Escola Agrotécnica Federal de Crato
Rodovia CE 096, Km 05, Sitio Almécegas- Zona Rural
Crato - CE CEP: 63100-000
Telefone: 88 523-2098
Fax: 88 523-2344
E-mail: [email protected] Home Page: www.eafcrato.com.br
ES
O CEFET-ES PROMOVENDO A CULTURA POPULAR EM
GOIABEIRAS VELHA
Jamilda Alves Rodrigues
Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo
Av. Vitória, 1729 - Jucutuquara
Vitória - ES CEP: 29040-333
Telefone: 27 3331-2100
Fax: 27 3331-2222
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetes.br
MG
PESQUISA SOCIOECONÔMICA E CULTURAL NA CIDADE
DE RIO POMBA
Flávio Bittencourt*
Marcos Pascoalino
Centro Federal de Educação Tecnológica de Rio Pomba
Av. Dr. José Sebastião da Paixão, s/nº- Lindo Vale
Rio Pomba - MG CEP: 36180-000 Cx. Postal: 45
Telefone: 32 3571-5700
Fax: 32 3571-5710
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetrp.edu.br
UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL COM JOVENS
SOCIALMENTE EXCLUÍDOS
Leila Maria Pereira
O ARQUIVO LITERÁRIO DE CLEONICE RAINHO
Maria José Machado Cardoso
Escola Agrotécnica Federal de Barbacena
Rua Monsenhor José Augusto, 2004 - São José
Barbacena - MG CEP: 36205-018
Telefone: 32 3693-8600
Fax: 32 3693-8614
E-mail: [email protected] Home Page: www.eafb.org.br
INTEGRAÇÃO E ARTICULAÇÃO DO PROCESSO
PEDAGÓGICO EM EMPRESAS SIMULADAS, ORIENTADAS
E INCUBADORAS NA FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Rita Eliane da Silva
Genoveva Aparecida Rangel
Débora Canjani Campos
Eder Clementino dos Santos*
Escola Agrotécnica Federal de Inconfidentes - MG
Praça Tiradentes, 416 - Centro
Inconfidentes - MG CEP: 37576-000
Telefone: 35 3464-1200
Fax: 35 3464-1164
E-mail: [email protected].br Home Page: www.eafi.gov.br
PA
O ENCONTRO DE ARTE DE BELÉM COMO PALCO DE
FORMAÇÃO PROFISSIONAL
Ana Maria Souza
Adriana Couceiro
Celson H. S. Gomes
Escola de Música da Universidade Federal do Pará - Emufpa
Av. Conselheiro Furtado, 2.007 - Cremação
Belém - PA CEP: 66040-100
Telefone: 91 242-6233
Fax: 91 242-6833
PB
NECESSIDADES EM SAÚDE DAS FAMÍLIAS DO
LOTEAMENTO CIDADE RECREIO CABO BRANCO
Eliete Alves da Silva
Escola Técnica de Saúde - UFPB
Centro de Ciências da Saúde, Cidade Universitária, Campus I-
Castelo Branco
João Pessoa -PB CEP: 58051-900
Telefone: 83 216-7400
Fax: 83 216-7189
E-mail: [email protected] Home Page:
PR
APRENDIZADOS EM COMUNIDADES DE PRÁTICA
COMO FATOR ESTRUTURANTE DE PROCESSOS
PARTICIPATIVOS DE INOVAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
LOCAL: O CASO DE SÃO MATEUS DO SUL
Geraldo Morceli Bolzani Júnior
71
CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
Décio Estevão do Nascimento
Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná
Av. Sete de Setembro, 3165- Rebouças
Curitiba - PR CEP: 80230-901
Telefone: 41310-4545
Fax: 41 310-4432
E-mail: gadir@cefetpr.br Home Page: www.cefetpr.br
RJ
A EDUCAÇÃO CIENTÍFICA COMO FATOR DE INCLUSÃO
SOCIAL
Luiz Edmundo Vargas de Aguiar*
Miguel C. Sette e Câmara
Vitor Luiz Bastos de Jesus
Suely Pereira Rosa
Maura Ventura Chinelli
Centro Federal de Educação Tecnológica de Química de Nilópolis
Rua Lúcio Tavares, 1045 - Centro
Nilópolis - RJ CEP: 26530-060
Telefone: 21 2691-2212
Fax: 21 2691-1811
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefeteq.br
PROJETO PRATICARES - PRÁTICA PROFISSIONAL
APLICADA À REALIDADE SOCIAL
Octavio Costa Fernandes
Centro Federal de Educação Tecnológica de Campos dos Goytacazes
Rua Doutor Siqueira, 273- Parque Dom Bosco
Campos dos Goytacazes - RJ CEP: 28030-130
Telefone: 22 2733-3244 / 2733-3255
Fax: 22 2733-3079
Home Page: www.cefetcampos.br
RS
A LÓGICA SUBJACENTE À CONCEPÇÃO DE ESCOLA
INCLUSIVA
Lúcia Maria Blois Villela
Ana Maria Milheira Cardoso
PRÁTICA DE ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E
EXCLUSÃO SOCIAL
Lúcia Maria Blois Villela
Ana Maria Milheira Cardoso
PROJETO DE LEITURA NO PRESÍDIO
Lígia Nara Lopes M. Gonçalves
Lucilena Velleda Meirelles
Centro Federal de Educação Tecnológica de Pelotas
Praça XX de Setembro, 455- Centro
Pelotas-RS CEP: 96015-360
Telefone:53 284-5005
Fax: 53 284-5006
Home Page: www.cefetrs.tche.br
A INSERÇÃO DIGITAL NA EDUCAÇÃO ESPECIAL
Andréa da Silva
Escola Agrotécnica Federal de Alegrete
Rodovia RS 377, Km 27- Distrito Passo Novo
Alegrete - RS CEP: 97541-970
Telefone: 55 422-1655 / 422-1294 / 422-3303
Fax: 55 422-1294
E-mail: [email protected] Home Page: www.eafa.com.br
RN
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM MOSSORÓ-RN: A
EXPERIÊNCIA DO CEFET-RN NA FORMAÇÃO DE
TRABALHADORES PARA O SETOR DE PETRÓLEO E GÁS
NATURAL
Jailton Barbosa dos Santos
Unidade de Ensino Descentralizada de Mossoró
Rua Raimundo Firmino de Oliveira, 400- Ulrick Graff
Mossoró - RN CEP: 59628-330
Telefone: 84 315-2752 Fax: 84 315-2761
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefet-rn.br/uned
CAMPO-ESCOLA
Lunardo Alves Sena
Nivaldo Ferreira da Silva Jr.*
Gilson Gomes de Medeiros
Raimundo Nonato Barbosa Felipe
Renata Carla Tavares dos Santos Felipe
Centro Federal de Educação Tecnológica do Rio Grande do Norte
Av. Senador Salgado Filho, 1559 - Tirol
Natal -RN CEP: 59015-000
Telefone: 84 4005-2600 /40052636 Fax: 84 4005-9728
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetrn.br
SC
LEPA - APROXIMAÇÕES ENTRE TEORIA E PRÁTICA
DO SONHO VEIO DA ARESP
Thyrza Schlichting de Lorenzi
TREINAMENTO E VIVÊNCIAPROJETO EM EXTENSÃO
RURAL
Darcy Bittencourt Júnior
Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina
Av. Mauro Ramos, 950- Centro
Florianópolis -SC CEP: 88102-900
Telefone: 48 221-0502 Fax: 48 224-0727
E-mail: [email protected] Home Page: www.cefetsc.edu.br
TO
INCLUSÃO DIGITAL
Max Portuguez Obeso
Escola Técnica Federal de Palmas
AE 310 SUL, AV NS 10, S/N, Centro
Palmas-TO CEP: 77021-090
Telefone: 63 225-1205
Fax: 63 225-1309
E-mail: [email protected].br Home Page: www.etfto.gov.br
72 CADERNOS TEMÁTICOS 5 MAR. 2005
EM FOCOEm Foco
Rodrigo Farhat
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo