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Relatório e reunião de paisPrograma 2
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entram em contato no dia-a-dia, falam de coisas de ver-
dade, têm função e sentido.
É por isso que, como escrevi para vocês no relató-
rio, fazemos diariamente a escrita e leitura de vários tex-
tos: listas de histórias, legendas de fotos, poesias, con-
tos, músicas, embalagens e rótulos etc. Lendo todos os
dias textos bem escritos, de verdade, e que servem para
resolver coisas, para comunicar ou simplesmente para
nos divertir e emocionar, será que não vão aprender
muito mais e melhor? De verdade, é isso que esperamos,
ao tirar a cartilha de circulação. Acreditamos que assim
formaremos leitores e escritores que necessitem e te-
nham desejo de ler e escrever cotidianamente e que sai-
bam como fazê-lo. Vocês, sinceramente, acreditam que
a cartilha daria conta desse nosso grande objetivo?
Escrever bem e escrever certo
Eles não escrevem tudo certo ainda porque são recém-
escritores e recém-leitores, precisam de tempo para
conhecer a Língua Portuguesa. Não é uma questão de
treino e memorização, mas de entender o que estão fa-
zendo. Além disso, não podemos nos esquecer que esse
aprendizado vai acontecer durante toda a escolaridade.
Não precisam aprender tudo no primeiro ano!
Eu estou, sim, corrigindo as palavras escritas incor-
retamente mas não todas ao mesmo tempo. Quanto
mais lerem, melhor aprenderão a forma correta das pa-
lavras. Mas eles têm tempo e, como já disse, não acon-
tecerá tudo na 1
a
série.
Tenho também utilizado o dicionário, procurando fazer
os alunos reconhecerem palavras da mesma família (por
exemplo: chuva, chuveiro, chuvoso etc., todas com ch) e se
acostumarem a pedir informação para alguém mais sabido.
Queremos que, além de aprenderem a escrever certo, escre-
vam textos bons, que comuniquem e sirvam de fato para algo.
Letra cursiva ou bastão?
Nesse início de processo de alfabetização, optamos por
adotar a letra bastão, que é mais usada fora da escola,
em manchetes, etiquetas e anúncios. Isso ajuda muito,
poucos esse nenê, que vai se tornando uma criança, vai se
apropriando da fala, vai compreendendo cada vez melhor e
se fazendo compreender cada vez melhor, pois quer se co-
municar, quer entender o que lhe é comunicado.
O processo de alfabetização
Em relação à alfabetização o processo é muito semelhan-
te: não precisamos organizar a língua em pedaços frag-
mentados para simplificá-la e torná-la acessível aos alu-
nos (já imaginou uma mãe que só falasse o som A para
seu filho, deixando para conversar quando ele fosse ca-
paz de emitir cada som separadamente?).
Mesmo antes de ingressar na escola, as crianças vêem
os textos escritos nas placas, nos cartazes, na TV, nos li-
vros, nas revistas, nas embalagens, nos folhetos, em muitos
lugares! E vêem as pessoas escrevendo bilhetes, cartas e
listas, anotando informações, lendo jornais, seguindo as ins-
truções de um manual, procurando na lista telefônica, len-
do receitas e mais um sem-número de situações. Tudo isso
as faz pensar, ter idéias e suposições sobre a escrita, suas
funções, seu significado, seu uso e seu funcionamento.
As crianças têm idéias bem peculiares a respeito da escri-
ta; Lucas, por exemplo, acha que formiguinha se escreve com
menos letras do que boi, é porque ela é pequenininha e o boi
é grande; Marina acha que precisa apenas de três letras para
escrever cavalo: A A O, uma para cada sílaba; para Anderson,
gato escreve-se HTO, pois a letra H já contém o ga.
Estes exemplos dão uma pequena amostra de como as
crianças estão o tempo todo pensando na forma de escrever
as palavras e se alfabetizando. Nós, professores, precisamos
levar em consideração o que elas pensam, para dar-lhes infor-
mações e fazer desafios, permitindo que aprendam sempre mais.
E a cartilha?
Atualmente, não usamos mais a cartilha porque seus tex-
tos e sua estrutura não consideram tudo que as crianças
sabem, não levam em conta o modo de pensar das cri-
anças. Além disso, os textos da cartilha são artificiais e
muito diferentes dos textos que a criança vai encontrar
fora da escola. Os textos de verdade, com os quais elas