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Programa 2
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o que é feita a música? Antigamente, dizia-se que
a música era formada por “sons agradáveis ao ou-
vido”. Mas hoje podemos dizer que a música é for-
mada por quaisquer sons. Sons e silêncios.
Sim, silêncios, porque não há um só silêncio. Há
vários tipos de silêncio, assim como há vários tipos
de som. O segredo está em saber ouvi-los. Ouça ago-
ra. …… Ouviu? Foi um silêncio de reflexão, de pen-
samento, de inspiração: a busca da idéia.
Pense em outro silêncio, naquele que cerca a
música por todos os lados, no começo, no fim e em
volta dela. Cada som novo que entra na música é um
silêncio que se apaga; e cada som que se vai dá lugar
ao seu silêncio, pois cada som tem um silêncio único.
O silêncio é o duplo do som, isto é, seu companhei-
ro inseparável, que o completa. E, quando o som se vai
pela primeira vez, é um novo silêncio que nasce.
Mas, quando é que os sons, combinados aos si-
lêncios, produzem uma “música que agrade aos ou-
vidos”? Isso depende das referências de cada um: de
quem fez a música e de quem a escuta.
Do ponto de vista de quem escuta a música, isso vai
depender do gosto, do conceito e do preconceito que
cada um possui em relação à música, das imagens que
essa música propõe à imaginação, das lembranças boas
ou ruins que ela possa despertar e, é claro, depende tam-
bém do conhecimento musical de cada um.
Além da cultura musical que o aluno constrói em seu
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A CRIANÇA E A MÚSICAA CRIANÇA E A MÚSICA
A CRIANÇA E A MÚSICAA CRIANÇA E A MÚSICA
A CRIANÇA E A MÚSICA
tando a lenta e leve respiração do escovar. Quase
inaudível, quase silêncio – mímica: mínima música.
No dia seguinte, várias crianças trouxeram sons de
casa: eram tampas de panelas, folhas secas, instrumen-
tos ou pequenos objetos. Trouxeram também sons na
memória, que logo eram repetidos aos colegas: o irmão
de um escovando os dentes, o cachorro do outro latin-
do, a mãe chamando, o pai martelando… E, antes de
cada demonstração, pediam sempre o máximo silêncio.
Isso acabou virando mania, e logo essa brincadeira foi
batizada de “Eu tenho um som”. Todos os dias se repe-
tia, no início da aula.
Muitas vezes, a criança traz sons sem pensar. O profes-
sor deve estar atento e saber como reagir. Às vezes, irá sim-
plesmente observar e refletir; ou então, poderá pôr o som
em evidência para todos, no momento ou mais tarde.
Observando crianças brincando de Chapeuzinho
Vermelho, por exemplo, pude ver uma menina levan-
tar a mão para bater na porta da ‘casa da Vovó’ – ha-
via uma porta real diante dela. Mas, em vez de bater
realmente na porta, ela fez com a voz: Toc! Toc! Toc!
Dá o que pensar, não? Por que motivo ela não
bateu simplesmente na porta? Por se tratar de um som
de faz-de-conta? Por ter aprendido aquela história
verbalmente? Tcham, tcham, tcham, tchaaammmm!
Esse valor que o professor dá a um som da criança,
que antes não tinha importância alguma, é ensinamento
vital. Valoriza o som, valoriza a produção sonora da cri-
ança e, ainda, valoriza o próprio valor, isto é, ensina a
criança a fazer o mesmo, a valorizar.
Foi exatamente isso o que vimos no caso da brin-
cadeira “Eu tenho um som”, pois não foi à toa que a
menina trouxe o som e quis mostrá-lo, mas justamente
porque ela havia aprendido a valorizá-lo.
E tudo isso irá se refletir positivamente nos momen-
tos em que estiverem cantando, tocando ou escutando
uma música. Estarão atentos, ativos e dando valor.