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PCN NA ESCOLA
C A D E R N O S D A
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
N. 5/1998
HISTÓRIA
GEOGRAFIA
CIÊNCIAS
ARTES
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Livros Grátis
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Milhares de livros grátis para download.
HISTÓRIA
Antônia Terra
O tempo e o trabalho
A história da criança no Brasil
História e documento: a fotografia
GEOGRAFIA
A história da cartografia
Aloma Carvalho
A importância dos mapas e dos atlas
Aloma Carvalho
Leitura da paisagem
Sueli Angelo Furlan
SUMÁRIO
Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário de Educação a Distância
Pedro Paulo Poppovic
Secretária de Educação Fundamental
Iara Glória Areias Prado
Secretaria de Educação a Distância
Cadernos da TV Escola
Diretor de Produção e Divulgação
José Roberto Neffa Sadek
Coordenação Geral
Vera Maria Arantes
Projeto e execução editorial
Elzira Arantes (texto) Alex Furini (arte)
Consultoras
Cláudia Aratangy e Cristina Pereira
© 1998 Secretaria de Educação a Distância/MEC
Tiragem: 110 mil exemplares
Este caderno complementa as séries da programação da TV Escola
PCN na Escola:
História - Geografia - Ciências - Artes
Informações:
Ministério da Educação e do Desporto
Secretaria de Educação a Distância
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo I, sala 325 CEP 70047-900
Caixa Postal 9659 – CEP 70001-970 – Brasília/DF - Fax: (061) 321.1178
Internet: http://www.mec.gov.br/seed/tvescola
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
História. Geografia. Ciências. Artes. - Brasília : Ministério da Educação e do
CDU 371.214
Desporto, Secretaria de Educação a Distância, 1998.
96 p. : il. ; 16 cm. – (Cadernos da TV Escola. PCN na Escola,
ISSN 1516-148X ; n. 5)
1. Parâmetros Curriculares Nacionais. 2. Ciclos do tempo. 3. Fotografia.
4. Cartografia. 5. Transformação da paisagem. 6. Conhecimento do
mundo que nos cerca. 7. Música e ambiente sonoro. 8. Arte na escola.
I-Brasil. Secretaria de Educação a Distância.
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CIÊNCIASCIÊNCIAS
CIÊNCIASCIÊNCIAS
CIÊNCIAS
Nelio Bizzo e Sylvia Maestrelli
Ciências na escola
Os sentidos
A água
Fotossíntese I: o sol como fonte de energia
Fotossíntese II: as plantas e a vida no planeta
Astronomia: de dia e de noite
ARTES
A criança e o som
Pedro Paulo Salles
A criança e a música
Pedro Paulo Salles
A escola vai ao artista
Mirtes Marins
O artista vai à escola
Karen Greif Amar
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HISTÓRIA
Programa 1
6
7
OO
OO
O
O TEMPO E O TRABALHO
bservando a natureza e participando da vida
social construímos a noção de que algumas coi-
sas se repetem, outras mudam rapidamente e
existem aquelas que tendem a se prolongar: as chu-
vas retornam; as árvores secam; as flores se abrem; o
sol se esconde e, novamente, desponta no horizonte;
a lua ilumina algumas noites e, minúscula no céu,
deixa o mundo no escuro; os natais se sucedem; os
carnavais são recriados; os aniversários indicam as
mudanças de idade, o crescimento e o envelhecimen-
to, sugerindo transformações de hábitos e novas res-
ponsabilidades.
Grande parte do que acontece no mundo desperta em
nós a sensação da existência do tempo, a idéia de que
estamos imersos nele, fazemos parte dele, de que
vivemos seus ciclos e seu curso.
Dependendo de nossas emoções e de nossas ex-
pectativas, de nossas atividades e de antecipações do
futuro, podemos sentir o tempo de modo diferente:
os segundos como eternos e as horas fluindo como
minutos.
Quanto mais interessante e absorvente é uma
atividade, mais curta nos parece sua duração; e
quanto mais monótono for o evento e quanto maior
for a ansiedade para que termine, mais longo ele
nos parece.
9
O tempo e o trabalhoPrograma 1
8
Somos observadores e construtores do tempo. E nos-
sa memória nos ajuda, pois ela é capaz de guardar,
sem nem percebermos, grande parte do que vivemos
e sentimos.
Se não pudéssemos lembrar do que já vivemos ou
observamos teríamos a sensação de que tudo só existe
no instante presente. Tudo estaria começando a cada
momento. Sem a lembrança não poderíamos perce-
ber as repetições e as mudanças no mundo, a dura-
ção dos acontecimentos e a passagem do tempo.
A memória dos eventos e a sensação de suas du-
rações nos permitem perceber intervalos de tempo,
isto é, distâncias temporais entre o presente e o pas-
sado, ou entre experiências passadas.
Para medir esses intervalos, a nossa mente utiliza
diferentes artifícios. Avalia a quantidade de aconteci-
mentos, organiza-os seqüencialmente na ordem em
que aconteceram e os associa com base em semelhan-
ças e/ou diferenças, ou por critérios de anteriorida-
de, simultaneidade e posterioridade.
Se quisermos localizar o momento em que ocor-
reu determinado evento, procuramos relacioná-lo
com outros acontecimentos próximos, distantes ou
concomitantes no tempo.
O início e o fim dos acontecimentos delimitam suas
durações. A sucessão de intervalos entre as durações
cria, por sua vez, a apreensão do ritmo das mudanças.
Quanto menores são os intervalos entre os even-
tos, mais o ritmo do tempo parece acelerado; quanto
maiores, mais parece lento. O ritmo está relacionado
a nossa percepção da velocidade das mudanças. De-
pendendo das nossas referências, o tempo pode se
tornar veloz, ou seguir vagarosamente seu fluxo.
Marcadores do tempo
Ao longo da história humana, nossa percepção do
tempo instigou o esforço de definir marcadores para
medir intervalos de tempo.
Algumas das mudanças constantes na natureza, e
que se repetem em ciclos regulares — o dia e a noite,
as fases da lua, o movimento das estrelas e as esta-
ções do ano — se converteram em marcadores de
tempo, utilizados por pessoas e comunidades para
organizar suas atividades. Passaram a indicar a hora
de dormir e acordar, trabalhar e descansar, comer e
passear.
Além dos marcadores naturais, diferentes povos
definiram certos acontecimentos de sua história e de
suas atividades costumeiras como marcadores de
tempo. Alguns criaram mecanismos para dividir um
dia em intervalos iguais (relógios que marcam horas)
e muitos construíram calendários, com definição de
intervalos de tempo como a semana, o mês e o ano.
Em diferentes sociedades, os relógios e os calendá-
rios passaram a orientar o início, o fim e a duração
de atividades individuais e coletivas.
Na organização de seus calendários, os povos es-
colheram um evento histórico importante, indicador
do início dos tempos, para ser o marcador do come-
ço da contagem dos anos. Assim, esse evento passou
a definir o início de uma era.
Por exemplo, no ano 232, o monge Dionísio propôs
que o nascimento de Cristo fosse o início da contagem
dos anos do calendário cristão, ou seja, que fosse o iní-
cio do ano 1. O evento passou a ser, desde então, o
marco para a contagem do tempo da era cristã.
Naquela época, prevalecia na Europa Ocidental o
calendário romano, que iniciava a contagem dos anos
11
O tempo e o trabalhoPrograma 1
10
com a fundação de Roma. O nascimento de Jesus
correspondeu ao ano 753 da era romana. No calen-
dário cristão, por sua vez, a fundação de Roma ficou
datada em 753 antes de Cristo (a.C.).
A numeração dos anos, fazendo corresponder
cada ano a um número diferente, modificou a concep-
ção que temos do tempo. Os anos passaram a ser dis-
tintos uns dos outros, quebrando a idéia de ciclos. A
ordenação numerada dos anos criou para o tempo a
concepção de que ele é linear, ou seja, que flui cons-
tante e regularmente, numa seqüência infinita.
A sucessão de momentos
A partir da numeração dos anos, com base nos ca-
lendários e eras, todos os momentos passaram a ser
localizados no tempo com precisão. Cada novo mo-
mento recebe uma nova datação, distinta e incon-
fundível.
Dessa maneira, o tempo passou a ser compreen-
dido como irreversível, pois novos momentos sem-
pre correspondem a novas datações. As datas não se
repetem e o tempo também não tem retorno.
Os calendários constroem idéias e concepções
específicas para o tempo:
divisão regular dos intervalos de tempo, como
nos anos, meses, semanas, dias, horas, segun-
dos etc.;
sucessão, na qual os acontecimentos estão or-
denados no tempo por datações – crescente ou
decrescente;
heterogeneidade dos momentos: um aconteci-
mento se distingue de outro pelo lugar que ocu-
pa na seqüência temporal, ou seja, cada um, por
ter um registro numérico fixo, ocupa um só lu-
gar específico na linha do tempo.
As medidas de tempo construídas culturalmente pas-
saram a servir de referência para a organização das ati-
vidades cotidianas das pessoas e das sociedades. Por
exemplo, nos últimos dois séculos, a predominância do
trabalho remunerado por hora, na sociedade ociden-
tal, provocou mudanças significativas no ritmo de vida.
O trabalho ficou atrelado ao tempo, passou a ser
quantificado em horas, sendo a elas atribuído um
valor, como a uma mercadoria. Assim, as horas de tra-
balho passaram a ser vendidas e compradas.
Para controlar a quantidade de horas de trabalho,
os relógios se tornaram populares. Seus mecanismos
impuseram os intervalos, as durações e os ritmos das
atividades. Estenderam sua disciplina e regularidade
também para outras situações cotidianas.
Tendo o relógio como referência, hoje em dia as
pessoas acordam, saem para o trabalho, fazem suas
refeições, freqüentam escolas, descansam e dormem.
O ritmo ordenado pelo relógio passou a estar presen-
te nas fábricas, nas escolas, nas empresas prestadoras
de serviços, no comércio e no lazer.
Assim, para compreender o modo de vida atual, é
importante distinguir a diferença entre o tempo da
fábrica’ e o tempo da natureza’ e localizá-los nas con-
vivências sociais, nas práticas cotidianas e nos ritmos
de vida que nos são impostos.
13
A história da criança no BrasilPrograma 2
12
o Brasil, existem crianças vivendo em cidades,
e outras em regiões rurais (sítios, fazendas,
acampamentos, aldeias indígenas etc.). Há
aquelas que brincam nas ruas, se divertem no mar, em
piscinas ou rios, sobem em árvores e jogam futebol.
Outras passam a maior parte de seu tempo reclusas
em apartamentos, casas, pequenos barracos, cortiços
ou instituições. Muitas convivem com galinhas, ca-
bras, passarinhos, besouros, cavalos, sapos e bois.
Outras só conhecem animais domésticos, como ca-
chorro e gato.
Muitas trabalham desde pequenas – quebram
pedras, fazem carvão, capinam a roça, embalam com-
pras em supermercados, limpam pára-brisas de au-
tomóveis, fazem carreto em feiras etc. Outras são res-
ponsáveis por seus irmãos menores, preparam a co-
mida e arrumam a casa. Uma parcela possui uma
agenda cheia de atividades culturais e esportivas –
aula de balé, inglês, piano, natação… Existem também
as que perambulam sozinhas ou em turmas pelas ruas
das grandes cidades, sem moradia e sem proteção.
Há aquelas que têm oportunidades de diversão
no cinema, no teatro e no circo. Mas a maioria con-
vive apenas com o rádio e a televisão. Em muitos
casos, os veículos de comunicação, juntamente com
o videocassete, o computador e o videogame, cum-
prem o papel de ‘babá eletrônica, entretendo as
crianças com jogos e desenhos animados.
As brincadeiras e as informações aprendidas na te-
levisão se propagam para os quintais, as ruas e os pá-
tios das escolas, no horário de recreio. Os super-heróis
são recriados, freqüentemente com a ajuda de bone-
cos, capas, espadas, máscaras, figurinhas e veículos.
Em muitas localidades brasileiras, brincadeiras
tradicionais – roda, passa-anel, pular corda, amare-
linha, caracol, pega-pega, pula-sela, bola de gude,
pipa e outras – ainda permanecem no cotidiano das
crianças. No entanto, nas grandes cidades, onde os
espaços são reduzidos, há poucos parques e os adul-
tos se concentram em seu trabalho e no lazer de con-
sumo, esses jogos e brincadeiras deixaram de fazer
parte do mundo infantil. Em raros casos, algumas
professoras procuram resgatar a memorização de
quadrinhas, parlendas e rimas, para todos repetirem,
como antigamente, nos pátios das escolas.
Nossos alunos e outras crianças
Por mais que relembremos muitas vivências que fa-
zem parte do dia-a-dia das crianças brasileiras, é di-
fícil dimensionar todas as realidades. Mas, podemos
começar por conhecer a de nossos alunos.
Quais são as suas rotinas? Quais são seus jogos e
brincadeiras? Como aprenderam? Com quem? Onde
brincam? Trabalham? Em quê? O que fazem quando
não estão na escola? O que fazem nos finais de sema-
na? Ajudam nas atividades domésticas? Como é sua
habitação? Vivem em casas? Apartamentos? Quartos?
Barracos? Brincam em quintais? Freqüentam parques?
E as ruas? Quem cuida deles ao longo do dia? Como
se alimentam? Quem lhes prepara o café da manhã, o
almoço e o jantar? Assistem televisão? O que assistem?
Ouvem rádio? O que ouvem? Lêem revistas? Quais?
É preciso conversar com a classe sobre esse as-
sunto, identificar as semelhanças nos costumes, des-
NN
NN
N
A HISTÓRIA
DA CRIANÇA NO BRASIL
15
A história da criança no BrasilPrograma 2
14
tacar as diferenças, comparar com os hábitos de ou-
tras crianças, vizinhas ou de outras localidades.
É possível fazer entrevistas, localizar e ler repor-
tagens de jornais, ler contos e histórias, pesquisar em
livros e enciclopédias, pesquisar fotografias, assistir
documentários, enviar cartas e assim por diante.
O estudo da história da criança
Com o objetivo de aprofundar o estudo da história da
criança no Brasil, podemos planejar e desenvolver em
classe trabalhos sobre costumes de outros tempos.
Uma boa idéia consiste em entrevistar pais, avós,
parentes e amigos da família e pesquisar em fotos
antigas, buscando saber, por exemplo:
Que roupas usavam?
Como era a escola?
Como era a convivência entre irmãos e amigos?
Como se davam as relações de afeto e de castigo?
Quais eram as brincadeiras e os brinquedos?
Como eram os fins de semana, as tarefas domés-
ticas ou o trabalho?
Que dificuldades, e que facilidades, havia para a
sobrevivência?
Como eram as festas familiares, do bairro ou da
localidade?
É possível, ainda, trabalhar com histórias de outras lo-
calidades brasileiras, de outras famílias e de outras épo-
cas. Pode-se escolher um momento, ou um local, e pes-
quisar por exemplo: como viviam as crianças do início
deste século, ou as de algum período anterior; como vi-
vem nas aldeias indígenas, nas fazendas, nas cidades e
nas vilas. De acordo com o corte escolhido, é possível
selecionar fontes adequadas e levantar questões como:
De que e como brincavam? Conheciam cantigas de
roda? Tinham brinquedos?
Eram castigadas? Respeitavam seus pais?
Como era sua vivência na escola?
E os batizados? A primeira comunhão?
Quando se transformavam em moços e moças?
Quando começavam a trabalhar na roça?
As da cidade trabalhavam nas fábricas?
Que tipo de roupas vestiam?
Brincavam na rua, nas calçadas, nos quintais?
Fotos antigas, como esta do jorna-
leiro (à direita), feita por Augusto
César Malta no Rio de Janeiro, em
1914, dão margem a boas discus-
sões a respeito do modo de vida
das crianças dessa época. Também
se pode recorrer a relatos de via-
jantes, gravuras, reportagens de
jornais, pinturas, textos literários e
outras fontes.
Os estudos históricos permi-
tem que os alunos dimensionem
os costumes e os hábitos em uma
perspectiva social e temporal. Fa-
vorecem trabalhos de comparação
e de identificação do que permaneceu e do que mu-
dou ao longo do tempo. Contribuem para reavaliar as
atividades do cotidiano, considerando que fazem parte
de situações sociais mais amplas.
Assim, auxiliam os alunos a compreender que
seus costumes, suas brincadeiras e seu modo de vi-
ver são específicos dos dias de hoje, mas, ao mesmo
tempo, são recriações do que foi transmitido, ensina-
do e construído pelas gerações precedentes.
Museu da Imagem e do Som/SMU/Funarj
17
História e documento: a fotografiaPrograma 3
16
aqui a cem anos, se um estudioso for pesquisar
a vida atual por meio da fotografia, com certeza
não terá dificuldade em encontrar imagens nas
quais as pessoas estejam registradas nas mais dife-
rentes situações.
Atualmente, a máquina fotográfica se tornou um
equipamento tão comum que difundiu por toda parte o
hábito de fotografar não só ocasiões importantes – ca-
samentos, batizados, formaturas – como também as mais
rotineiras – os colegas da escola, a festinha improvisa-
da, o irmão dormindo na rede… O manuseio da máqui-
na fotográfica moderna dispensa grandes habilidades e
está ao alcance de qualquer um: em sua maioria, elas são
automáticas. É só mirar e disparar o botão.
Embora fotografar seja um hábito corriqueiro, será
que é igualmente comum ter a preocupação de ‘ler’ as
informações, os significados e os valores das imagens?
Na década de 30, as pessoas previam que, no futuro,
fotografar seria um hábito cotidiano. Mas, alertavam tam-
bém para o fato de que a proliferação de fotógrafos, pro-
fissionais e amadores, deveria ser acompanhada de um
aprendizado sobre as significações das imagens, da
mesma forma que a produção de um texto requer o do-
mínio da leitura e a capacidade de interpretá-lo.
A geração atual vive em um mundo povoado de
imagens – nos álbuns de família, nas revistas, nos jor-
nais, na televisão, nas propagandas, nos cartazes de rua,
nas exposições… Todavia, pouco se ensina às crianças
e aos jovens a questionar as imagens, a identificar sig-
nificados, valores, contextos, estéticas e técnicas empre-
gadas em sua criação, produção e reprodução.
Estudar com fotos
Para ensinar aos alunos como aprofundar seu olhar dian-
te das imagens é preciso considerar a foto como documen-
to histórico e adotar procedimentos para dela colher in-
formações, tanto de seu conteúdo quanto de sua forma.
O professor precisa orientar os alunos para que, ao
olhar uma foto, procurem identificar por exemplo hábi-
tos familiares, a origem social das pessoas, como traba-
lhavam os operários de uma fábrica, como eram os pré-
dios e os serviços urbanos da cidade e assim por diante.
Além disso, é importante entenderem o estilo de quem a
produziu, a disposição dos personagens ou objetos, o
destaque dado a alguns deles no primeiro plano, ou a im-
portância do que está em plano de fundo.
Na foto ao lado, produzi-
da em São Paulo por Vicenzo
Pastore, no início do século
20, Pastore aparece fotogra-
fando um negro velho. É evi-
dente, na cena, que o homem
de cabelos brancos, pés des-
calços e pito de barro na boca
está posando para o fotógra-
fo. Provavelmente se tratava
de fazer um retrato artístico,
que seria vendido sob a forma de cartão postal ou usa-
do em algum calendário, mostrando um personagem ti-
picamente brasileiro.
É sempre importante considerar que a foto foi pro-
duzida em um contexto histórico e remete a valores
de sua época.
DD
DD
D
HISTÓRIA E DOCUMENTO:HISTÓRIA E DOCUMENTO:
HISTÓRIA E DOCUMENTO:HISTÓRIA E DOCUMENTO:
HISTÓRIA E DOCUMENTO:
A FOTOGRAFIAA FOTOGRAFIA
A FOTOGRAFIAA FOTOGRAFIA
A FOTOGRAFIA
Instituto Moreira Salles
19
História e documento: a fotografiaPrograma 3
18
Como documento, a fotografia deve ser estudada
sempre a partir de um tema de pesquisa. Os dados
fornecidos por ela precisam ser relacionados e com-
parados entre si e com outras informações, prove-
nientes de outras fontes.
Recolher em fotos informações a respeito de con-
textos históricos propicia aos alunos vivências de si-
tuações nas quais podem construir reflexões sobre a
relação presente/passado, conhecer outros costumes
e dominar procedimentos de investigação de obras
humanas – de seu tempo e de outras épocas.
É preciso, contudo, que o professor escolha o
momento adequado para trabalhar com os documen-
tos na sala de aula, que veja com clareza quais são
suas intenções didáticas e considere a especificidade
da temática histórica estudada.
Na escolha do documento a trabalhar, é importante
considerar sua adequação à faixa de idade dos alunos e
avaliar o interesse que a foto pode despertar neles. As-
sim, merecem maior atenção imagens que remetem a
situações da vida cotidiana e, simultaneamente, permi-
tem debater questões históricas mais amplas.
Como ler os documentosComo ler os documentos
Como ler os documentosComo ler os documentos
Como ler os documentos
De modo geral, existem alguns procedimentos que
podem ser adotados no trabalho com documentos na
sala de aula. Um procedimento valioso consiste em
permitir que os alunos possam observar à vontade as
fotos e manifestar suas primeiras impressões.
Deixe olharem, observarem e levantarem idéias
gerais. Em um segundo momento, encaminhe a ob-
servação para informações, estética e idéias.
Em seguida, oriente a pesquisa para a autoria, a
época, o contexto etc. em que o documento foi pro-
duzido. Depois, instigue as crianças a fazer compara-
ções entre as informações históricas identificadas e
eventos de outras épocas – semelhanças e/ou diferen-
ças, relações de continuidade e/ou descontinuidade.
É possível, ainda, pesquisar e discutir os indícios
históricos do suporte material: no caso de uma foto,
procurar saber como foi preservada, se é um original
ou uma reprodução, onde o original pode ser encon-
trado, qual seu valor como documento de uma épo-
ca, que tipo de memória preserva.
Observação de uma foto
Estudando a questão do trabalho no Brasil, por
exemplo, é possível escolher uma foto que remeta a
uma cena cotidiana do século passado e incentivar
os alunos a debater o tema retratado, levantando
questões a respeito. Escolhemos, por exemplo, uma
foto tirada por Marc Ferrez, em 1882 (acima), de es-
cravos indo para a colheita de café, no Rio de Janei-
ro. E fizemos perguntas do tipo:
Quem são os personagens, como são suas roupas e
seus adornos? Qual será a época em que viveram?
Qual será a atividade ou a ocupação de cada um?
Quais objetos aparecem na cena?
Fundação Nacional Pró-Memória
21
História e documento: a fotografiaPrograma 3
20
Como é o cenário?
Existe vegetação? De que tipo?
O que está em primeiro plano? E em plano de
fundo?
Parece uma cena corriqueira? Será uma festa ou
comemoração?
Por outro lado, a realidade da foto pode ser contra-
posta à realidade atual, discutindo:
Seria possível, hoje em dia, uma cena como
essa?
As pessoas atuais se vestem desse modo?
O que será que o fotógrafo quis registrar, ou
comunicar?
Vocês já viram alguma outra foto nesse estilo?
Vocês conhecem outros fotógrafos antigos?
Que outros fotógrafos conhecem? Poderiam
comparar o trabalho deles com este?
Além dessas indagações, as crianças também podem
fazer uma pesquisa a respeito do fotógrafo: quem é,
qual sua história, em que época viveu, em que lugar
fez a foto, por que motivo quis fotografar a cena etc.
É possível, também, incentivar os alunos a relacio-
nar a foto com contextos históricos mais amplos, pe-
dindo para pesquisarem eventos da história brasilei-
ra relacionados com informações extraídas daquela
imagem.
Por trás dos documentos
Os materiais que servem de suporte ao documento
também falam da história, das culturas e da época.
Todavia, nem sempre se tem acesso a documentos
originais para apresentar à classe. Quando isso for
possível, vale a pena explorar as questões relativas às
matérias-primas empregadas, ao saber utilizado na
confecção e às técnicas disponíveis na época.
Muitas vezes, as fotografias são xerocadas, os tex-
tos escritos à mão foram transcritos à máquina, os
vasos de cerâmica estão desenhados ou fotografados,
os filmes foram copiados em fitas de vídeo. Nesses
casos, o professor pode questionar, informar ou ins-
tigar os alunos a pesquisar essas informações em fon-
tes bibliográficas, ou promover visitas a museus, ex-
posições e sessões de cinema.
O modo pelo qual os objetos, as fotos e os textos
foram produzidos fornece indícios para localizar os
documentos no tempo e reconhecer os domínios téc-
nicos e tecnológicos de diferentes épocas.
Essas informações ajudam, por exemplo, a carac-
terizar contextos históricos e a construir relações de
diferença e semelhança, de transformação e perma-
nência dos saberes humanos no tempo. Podem sen-
sibilizar os alunos, também, para os conhecimentos
arduamente conquistados; muitas vezes eles tendem
a desvalorizar as técnicas antigas e a desconhecer as
relações dos recursos atuais com conhecimentos con-
quistados no passado.
GEOGRAFIA
Programa 1
24
25
oda pessoa tem sua própria imagem ou sua pró-
pria representação do mundo, diferente em fun-
ção de suas experiências individuais e do conhe-
cimento acumulado pela cultura do grupo social a que
pertence. Para alguns, essa imagem é mais restrita,
para outros, mais ampla; para alguns ela é precisa,
para outros, mais difusa e sonhadora. Para alguns,
ainda, a imagem mental do mundo abarca a Terra
inteira, para outros apenas os lugares pelos quais
passou e que ficaram guardados na memória.
Apesar das muitas imagens que cada um de nós,
cada povo e cada sociedade pode ter, é incontestável
o desejo dos homens de ter um domínio mental do
espaço, sua morada e sua prisão.
Desde há muito tempo, os homens se preocuparam
em fixar os limites de seu horizonte espacial, em de-
marcar os caminhos terrestres, fluviais e marítimos
que percorriam e que garantiam sua sobrevivência.
Desde a Pré-história os seres humanos produzi-
ram – nas paredes das cavernas ou nos troncos das
árvores – desenhos simplificados e simbólicos que
talvez indicassem rotas de caça, fontes de água, áreas
de segurança ou de risco. Dessa forma, poderiam re-
gistrar para as gerações futuras os conhecimentos acu-
mulados por uma geração; demonstravam o desejo la-
TT
TT
T
A HISTÓRIA DA CARTOGRAFIA
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
Deveria haver um velho poste
uma tabuleta qualquer – uma tabuleta meio torta
E onde se lia, em letras rústicas, FIM DO MUNDO.
(Mário Quintana)
27
A história da cartografiaPrograma 1
26
tente de dominar mentalmente os espaços conheci-
dos e desconhecidos, infinitamente mais vastos.
Para conhecer o espaço que o rodeia, o homem
sempre dependeu da sua capacidade de locomover-
se, de transpor as barreiras da natureza que o impe-
diam de explorar o desconhecido: os lugares para
além das montanhas, desertos e mares.
A princípio, dispunha apenas de seu próprio cor-
po para percorrer os espaços. Deslocava-se por lon-
gos caminhos a pé e procurava representá-los com
uma visão ainda muito próxima de si mesmo, com
dimensões diminutas em relação ao tamanho real da
Terra. Delimitava um espaço que lhe era familiar, pro-
curando circunscrevê-lo mentalmente por meio de
técnicas variadas.
O domínio dos percursosO domínio dos percursos
O domínio dos percursosO domínio dos percursos
O domínio dos percursos
No início, as terras não tinham para a imaginação hu-
mana nem nomes nem dimensões definidas. Aos pou-
cos, conduzidos por uma espécie de impulso natural
de tentar apreender o mundo com o qual interagiam,
de torná-lo conhecido e sob seu controle, de colocá-
lo à sua disposição, diferentes povos foram nomean-
do e delimitando os espaços familiares e registrando
os trajetos, percursos e caminhos que tinham neces-
sidade de reencontrar, ou de dominar.
Cada vez que transpunham o espaço para um
desenho, conquistavam para si o domínio e a segu-
rança necessários para não se sentir tão pequenos
diante de um universo que, desde sempre, intuíram
ser muito maior do que podiam vislumbrar.
Na tentativa de representar o espaço da maneira
mais próxima possível à que sua cultura considerava
real, os homens acabaram por desenvolver estruturas
de pensamento mais abstratas, que lhes permitiram
abarcar o espaço a partir de compreensões mais com-
plexas, nem sempre com a consciência de que esta-
vam construindo limites análogos, mas não reais.
O desenvolvimento dos meios de produção, dos
instrumentos de medida e, sobretudo, o aumento das
possibilidades de deslocamento, fez com que vários
povos começassem a criar regras cada vez mais sofis-
ticadas para representar os espaços conhecidos e
projetá-los por escrito.
A história da cartografia é o testemunho dessa ten-
tativa humana de ocupar e nomear o espaço, de co-
nhecer, dominar, definir limites e contornos e de co-
locar o mundo à sua disposição. Nela, podemos en-
contrar registros da luta dos povos contra os limites
naturais que impediam sua percepção do mundo,
orientada inicialmente por visões deformadoras e
míticas, nas quais cada um se via como centro do
universo e como referência básica para demarcar os
contornos do mundo à sua volta.
A cartografia nasceu da descrição física, biológica e
humana do mundo e das construções matemáticas e
gráficas que a humanidade realizou ao longo de sua
trajetória.
As distorções e inexatidões, bem como os precon-
ceitos culturais herdados dos mapas produzidos des-
de há 6 mil anos foram corrigidos e superados.
No final da Idade Média, o conhecimento teórico
acumulado pelo contato cultural entre povos do Ociden-
te e do Oriente, os novos instrumentos – como a bússo-
la, o quadrante e o astrolábio – e a necessidade de pro-
duzir novas tecnologias que permitissem a ampliação do
comércio promoveram o desenvolvimento da cartogra-
fia tal como a compreendemos nos dias de hoje.
O desenvolvimento de princípios científicos e obje-
tivos para a delimitação de contornos de representação
da Terra não fez, porém, com que os mapas se tornas-
29
Programa 2
28
sem um instrumento neutro e impessoal de referência
ou localização, um espelho fiel do mundo real.
A renúncia ao imaginário ainda não foi feita e
talvez nunca venha a ser, pois a cartografia é a ex-
pressão de ideologias e interesses, do imaginário
dos povos em diferentes épocas e lugares. A am-
pliação da visão do mundo pelos homens é impul-
sionada por um desejo que parece não ter fim e que
não encontra no mundo concreto indícios de seus
limites.
A era das Grandes Navegações estendeu a visão
do homem europeu para além do Atlântico, transpon-
do as barreiras de sua imaginação e de sua compre-
ensão do espaço terrestre. As viagens ultramarinas
deixaram cada vez mais evidente que a Terra era re-
donda e que as suas dimensões eram maiores do que
se podia imaginar.
As conquistas dos homens sobre o espaço que os
rodeia, no entanto, não pararam com as navegações.
A partir do século 17, com a invenção da máquina a
vapor, e do século 19, com a invenção do motor mo-
vido a gasolina, os meios de transporte encurtaram
distâncias – quase toda a Terra passou a ser conheci-
da e estudada.
Com os primeiros balões, no século 19, e os
aviões e foguetes no século 20, o homem pôde ver
a Terra de um outro ângulo. Encontrou-se mais uma
vez diminuído no espaço e descobriu que a Terra é
uma mancha azul-clara em meio ao negro azul do
céu profundo.
As sondas espaciais das últimas décadas vascu-
lham o negro azul do céu profundo… As fronteiras
cada vez mais se alargam, e o homem toma consciên-
cia de que os limites do espaço familiar e conhecido
são infinitamente pequenos diante do que ainda
sente necessidade de explorar e dominar com sua
compreensão.
uando consideramos o acesso cada vez maior às in-
formações, podemos perceber a importância que os
mapas têm nos dias de hoje. Os mapas representam
e sintetizam informações históricas, políticas, econômicas,
físicas e biológicas de diferentes lugares do mundo.
No passado eles eram documentos confidenciais, que
circulavam somente entre aqueles que participavam do
poder. No presente, conhecer o funcionamento e as dife-
rentes funções dos mapas e saber utilizá-los ajuda a resol-
ver problemas cotidianos de planejamento e de projetos.
O mapa hoje é algo fundamental. Não apenas
porque nos ajuda a compreender as transformações
e os problemas do mundo atual, mas também porque
nos permite usufruir com liberdade e segurança um
dos direitos universais do homem, garantido inclusi-
ve em nossa Constituição de 1988: o direito de ir e vir.
O mapa na sala de aula
Ensinar os alunos a ler e a obter informações em diferen-
tes tipos de mapa é uma forma de promover a constru-
ção de procedimentos que lhes permitam localizar obje-
tos e endereços, para se deslocarem com sucesso por ci-
dades e bairros desconhecidos, conferir trajetos dos meios
de transporte, planejar uma viagem ou se situar em lo-
cais públicos – shopping-centers, hospitais e museus.
Esses procedimentos também lhes possibilitam
utilizar como fonte de pesquisa os mapas que sinte-
QQ
QQ
Q
A IMPORTÂNCIA
DOS MAPAS E DOS ATLAS
31
A importância dos mapas e dos atlasPrograma 2
30
tizam informações a respeito de lugares e regiões de
diferentes partes do Brasil e do mundo. Aprender a ler
mapas, e saber utilizá-los como uma representação do
espaço que segue as regras de vários sistemas de pro-
jeção e tem uma linguagem específica, é elemento-
chave para a formação do cidadão autônomo.
A importância dos mapas e dos atlas na sala de aula
justifica-se justamente pelo papel que a cartografia
tem no mundo contemporâneo.
Desde as séries iniciais, os alunos podem ter con-
tato com diferentes tipos de mapa e seu portador por
excelência, o atlas. Esse contato, porém, não deve ser
casual ou esporádico. Deve ocorrer de acordo com um
planejamento sistemático do professor, em função dos
conhecimentos que os alunos de uma dada faixa etária
podem construir a respeito desse conteúdo.
Em seu planejamento, o professor pode elaborar ati-
vidades que privilegiem dois eixos de trabalho: o da pro-
dução e o da leitura de mapas. Esses dois eixos podem
ocorrer de forma simultânea, pois não há necessidade de
os alunos aprenderem primeiro a produzir para depois
aprenderem a ler e consultar mapas, ou vice-versa.
A produção de mapas
A produção pode ser planejada a partir de atividades
bastante simples, como desenhar objetos e localida-
des do cotidiano. A sala de aula, a escola, a casa e
todos aqueles espaços que as crianças conhecem do
ponto de vista de sua distribuição espacial constituem
boas escolhas para que elas façam a representação.
É fundamental que o professor questione os desenhos
produzidos pelos alunos, avaliando forma, tamanho, posi-
ção, orientação, distância, direção e proporção dos objetos
e locais representados. Esse questionamento pode ser rea-
lizado por meio do confronto com a própria realidade.
O trabalho com os pontos cardeais ganha aqui um
contexto, pois o conhecimento desses pontos – norte,
sul, leste e oeste –, que determinam as principais di-
reções na superfície da Terra, é de extrema relevância
para aprender a posicionar e orientar aquilo que está
sendo representado.
As atividades de desenhar o entorno podem tam-
bém ser planejadas a partir de diferentes perspecti-
vas. É interessante desafiar os alunos a desenhar
como se estivessem tendo uma visão vertical de um
objeto ou lugar, ou seja, como se estivessem olhando
de cima para baixo; ou, ainda, a desenhar com uma
visão oblíqua de objetos e lugares, como se estives-
sem observando-os do alto e um pouco de lado (tal
como a visão que as pessoas têm de uma cidade quan-
do a olham da janela de um avião).
Esses desafios são oportunidades para que eles
construam noções cartográficas e compreendam como
ocorre a representação gráfica do espaço.
O uso de cores e símbolos pode ocorrer sempre
que o professor convidar seus alunos a representar
objetos e lugares de forma simplificada e esquemáti-
ca. Isso constitui um novo desafio; para superá-lo, os
alunos precisarão criar símbolos e utilizar cores para
indicar o que está sendo representado, sem fornecer
detalhes a respeito de cada elemento.
Essas atividades se tornam mais significativas quan-
do em contextos de comunicação.
É importante que os alunos representem um objeto ou
lugar para comunicar algo a alguém. Dessa forma, eles
estarão aprendendo também a entender a função so-
cial e científica dos mapas: transmitir informações.
Nesse sentido, o professor pode planejar situa-
ções nas quais os alunos tenham que representar a
própria casa, para mostrar aos colegas como ela é, ou
33
A importância dos mapas e dos atlasPrograma 2
32
a própria escola, com o objetivo de informar a distri-
buição de suas dependências para um visitante que
não a conhece.
O professor pode ainda organizar brincadeiras,
como a caça ao tesouro – um grupo produz mapas
para que os colegas dos outros grupos localizem um
objeto escondido.
A leitura dos mapas
O eixo de leitura de mapas também deve ocorrer de
forma contextualizada, por meio de mapas temá-
ticos. Os alunos podem consultar mapas políticos,
de relevo, clima ou vegetação, para obter informa-
ções a respeito de lugares ou assuntos que estejam
estudando.
Pode-se também sobrepor mapas – por exemplo,
para relacionar uma determinada forma de vegetação
ao relevo, ou uma forma do relevo à ocupação agrí-
cola. Consolida-se, assim, um trabalho de inter-rela-
cionamento do ensino da Geografia com as demais
áreas do currículo. Os alunos aprendem a reconhecer
os mapas e o atlas como fontes preciosas de informa-
ção para suas pesquisas.
É importante que os alunos vivenciem situações
de comparação das informações representadas em
diferentes tipos de mapa, estabelecendo relações en-
tre fenômenos variados. Um exemplo disso é a com-
paração que pode ser feita entre as informações con-
tidas em um mapa que trate das formas de relevo de
uma determinada região e outro que informe a dis-
tribuição da população na mesma área.
O professor pode trabalhar também com planos,
plantas de construção, cartas de cidades, imagens de
satélite e até mesmo mapas digitais feitos por com-
putador.
Ensinar a consultar um guia de ruas, um mapa
rodoviário, a planta de uma casa, o painel com as
linhas do metrô ou com a distribuição das lojas de
um shopping-center são objetivos de aprendizagem
que podem ser de grande valia no planejamento
das aulas.
Para essas aprendizagens, é possível recorrer a
situações nas quais os alunos se sintam desafiados a
ler o mapa, para obter uma informação que lhes inte-
ressa. O professor pode utilizar como suporte para
suas aulas mapas e cartas geográficas que são publi-
cados em jornais e revistas, ou impressos em folhe-
tos de propaganda.
A compreensão das legendas merece atenção es-
pecial, pois elas fornecem as explicações necessá-
rias para os alunos trabalharem com as informa-
ções. Sempre que julgar oportuno, o professor deve
incentivar os alunos a ler as legendas e tentar com-
preendê-las.
Conhecer e utilizar diferentes tipos de mapa e o
atlas, sem dúvida alguma, amplia as possibilidades
dos alunos de extrair e analisar informações relacio-
nadas a diferentes áreas de conhecimento – além de
contribuir para que eles consolidem uma noção de
espaço flexível e abrangente.
Aprender a perceber o caráter espacial dos fenô-
menos estudados e a comparar esses espaços por
meio da sobreposição das informações contidas nos
mapas é algo que a própria Geografia, enquanto ciên-
cia, busca fazer e que os alunos do ciclo inicial tam-
bém podem realizar.
BIBLIOGRAFIA
JOLY, Fernand. A cartografia. Campinas, Papirus, 1990.
SIMIELLI, Maria Elena. Primeiros mapas – como enten-
der e construir. São Paulo, Ática, 1993.
Parâmetros Curriculares Nacionais História e Geogra-
fia. MEC/SEF, 1997.
35
Leitura da paisagem
34
lhando para o lugar em que vivemos identifi-
camos muitas imagens. Casas, ruas, trânsito de
automóveis, praias, montanhas, florestas, cam-
pos cultivados etc. São diversas paisagens, nas quais
o homem e a natureza estão presentes. Como um e
outro interagem? O que resulta da ação humana e da
natureza? Como entender e explicar essa relação
partindo daquilo que percebemos com nosso olhar?
Por que é importante compreender o que vemos
para além do que a imagem nos apresenta? Como
podemos fazer isto?
Ler a paisagem é buscar suas razões, buscar o que a
explica. Portanto, é compreender como interagimos com
a natureza. Para isso, precisamos decifrar sua linguagem:
a linguagem das formas, dos objetos, dos movimentos
muitas vezes ocultos etc. A leitura da paisagem nos leva à
compreensão dos fatos e de sua relação com nossa vida.
Mas, como as paisagens acontecem?
A paisagem é um conjunto, no qual interagem dois
tempos distintos: o tempo da sociedade e o tempo
da natureza.
O tempo da natureza define as formas do relevo,
o clima, a distribuição de plantas e animais, os solos
etc. O tempo da sociedade reflete decisões tomadas
pelos homens em diferentes épocas.
A paisagem é produto da vida em sociedade, das
ações acumuladas historicamente. Ações de quem? De
todos nós! Portanto, participamos de sua construção e
herdamos aquilo que foi produto de outros tempos, que
foi produzido por outros homens, em outras épocas, em
muitos lugares, com muitas formas de pensar e agir.
É esse conjunto que devemos procurar explicar quan-
do estudamos as diferentes paisagens. É um desafio conhe-
cer e explicar o que representam imagens tão variadas.
Estudar como a natureza e a sociedade interagem
exige preparação, que o professor pode obter através
de sua própria pesquisa, de trabalho de campo, leitu-
ras, enfim, de seus estudos da paisagem. Não é pos-
sível decifrar e explicar a paisagem sem pesquisar
como ela acontece. Mas, como fazer isso, indo além
de nossas observações usuais? Como dar novos sig-
nificados, perguntar e buscar respostas?
Para ler a paisagem, podemos dizer que é preciso
desenvolver uma linguagem. É muito importante para o
professor e seus alunos buscar construir essa linguagem.
Para isso, os geógrafos têm proposto alguns caminhos.
Como começar a leituraComo começar a leitura
Como começar a leituraComo começar a leitura
Como começar a leitura
Vamos trabalhar inicialmente com as questões apresen-
tadas no começo do texto: sabemos que o homem e a
natureza fazem parte de um mesmo mundo. Mas o que
(e como) as ações humanas acrescentam às ações da pró-
pria natureza, e vice-versa? Serão ambas as ações com-
patíveis ou incompatíveis?
O que o homem realiza combina ou não com o que a
natureza faz? Será uma ação o contrário da outra? De que
modo os homens e a natureza formam as diversas paisa-
gens? Como essas paisagens se transformam? De que
modo os homens, vivendo e construindo suas próprias
paisagens, formam seus lugares (sua identidade e sua me-
mória)? O que significa para os homens ter seus lugares?
OO
OO
O
LEITURA DA PAISAGEM
O que nós vemos das cousas são as cousas [...]
O essencial é saber ver,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa
(Alberto Caeiro/Fernando Pessoa)
37
Leitura da paisagem
36
É em torno dessas questões que professores e alu-
nos podem começar os estudos de leitura das paisa-
gens. Para a iniciação das crianças pode-se apresen-
tar, de modo geral, vários aspectos da paisagem, in-
troduzindo questões que serão desenvolvidas nas
séries posteriores. É muito importante trabalhar os
princípios básicos dos estudos geográficos.
Essas noções procuram mostrar alguns caminhos
para que cada um de nós, vivendo e aprendendo com
as paisagens, compreenda o que elas significam e
passe a interagir de forma consciente, assumindo res-
ponsabilidades em relação à maneira pela qual o
mundo se apresenta.
Algumas questõesAlgumas questões
Algumas questõesAlgumas questões
Algumas questões
Ao observar os fatos visíveis nas paisagens, o que
estamos vendo?
Ao procurar outros fatos que não vemos nas paisa-
gens, o que estamos procurando explicar?
Ao relacionar e comparar os fatos, quais conclusões
podemos tirar?
Ao analisar o que observamos, relacionamos e com-
paramos, estamos construindo explicações?
Diante dessas análises, a quais conclusões chega-
mos?
Serão tais conclusões uma síntese do mundo em que
vivemos? Ou seja, essas conclusões mostram, de
modo geral ou resumido, tudo que acontece nesse
mundo, de modo a torná-lo mais compreensível?
O que podemos fazer diante do que compreende-
mos a respeito do mundo?
Estas perguntas podem parecer complicadas, apre-
sentadas dessa maneira. Porém, o que o professor e
os alunos podem fazer é caminhar passo a passo, de
modo detalhado e com base em exemplos. Mas sem
perder a noção de conjunto. Ou seja, construir proce-
dimentos de leitura que envolvam sempre um cami-
nho completo.
Um olhar para as diferenças
O primeiro passo pode ser um questionamento das di-
ferenças e da diversidade de paisagens. Pode-se come-
çar pela percepção que as crianças têm do lugar em que
vivem: por meio de observação, de trabalho com ima-
gens de diferentes épocas, pela pesquisa de informações
indiretas, em documentos, ou pelo estudo do meio.
No estudo do meio, podemos treinar nosso olhar.
Ver como as cidades com imensos prédios e avenidas
possuem bairros tão diferentes entre si – alguns com
mansões majestosas, outros com modestas moradias
ou mesmo barracos, grandes ou pequenas empresas
fabricando uma variedade de produtos. Observar
como a natureza se expressa, pelo estudo das formas
de relevo da região na qual a cidade se implantou,
estudar problemas ambientais dessa forma de im-
plantação etc.
A observação deve ser um momento em que profes-
sores e alunos lançam mão da mais ampla possibili-
dade de recursos de que dispõem, e também da
criatividade.
As perguntas do observador serão distintas se o
estudo da paisagem for temático, se a intenção for
compreender como e por que ocorrem enchentes,
como e por que ocorrem desmatamentos na Amazô-
nia, ou como e por que as grandes cidades sofrem com
a poluição. Em cada situação, o observador estará
buscando decodificar o que vê e percebe com o olhar
orientado para um problema específico.
No estudo geográfico da paisagem deve-se procu-
39
Leitura da paisagem
38
rar sempre respeitar as noções de escala espacial de um
fenômeno, assim como seu alcance temporal. Isto quer
dizer que um fenômeno espacial deve ser sempre com-
preendido dentro de uma territorialidade.
Exemplificando: se estou estudando um fenômeno
climático – por exemplo, enchentes e inundações –,
devo procurar mostrar que esse fenômeno pode ser
lido em diferentes escalas espaciais. A observação nos
permite constatar que as paisagens são diferentes e
variadas e que têm uma extensão.
Para ajudar a entenderPara ajudar a entender
Para ajudar a entenderPara ajudar a entender
Para ajudar a entender
Após a primeira aproximação feita pela observação,
podemos levantar questões acerca do que vemos. Por
exemplo:
Por que uma grande cidade difere tanto de uma
pequena vila?
Por que existem regiões desérticas e outras de floresta?
Por que aconteceu um terremoto em algum lugar
distante, ou uma enchente inundou uma cidade?
Por que há indústria em uma cidade e lavoura no
campo?
Por que há tanta gente em certas regiões, que pare-
cem formigueiros humanos, enquanto outras são
praticamente desabitadas?
Por que algumas cidades sofrem com enchentes?
As perguntas que fazemos a partir de nossa observa-
ção ajudam a trilhar outro caminho de pesquisa, para
construir uma explicação. A explicação, portanto, nas-
ce da pesquisa.
O próximo e o distante
Quando estudamos as paisagens, estamos estudando
o mundo e um determinado lugar. Porém, estudar
como o mundo e o lugar interagem de forma global é
uma tarefa enorme, longa e complicada. Por isso, uma
forma de compreender melhor essa inter-relação é
começar a pesquisar o que se passa à nossa volta.
Pesquisar lugar e mundo é se colocar nos lugares
e em seus ambientes, procurando identificar o que
eles significam para quem neles vive.
É diferente o que acabamos sabendo sobre uma
situação próxima e uma outra distante. Nossas pes-
quisas sobre a paisagem devem, portanto, incorporar
o que sabemos por vivenciarmos as situações, mas
também buscar conhecer e explicar aquilo que não co-
nhecemos por meio da experiência pessoal.
Da observação à explicação
Podemos estudar e entender tudo que faz parte de nos-
so cotidiano relacionando determinados fatos. Tomemos
como exemplo a observação das enchentes:
A chuva é um fenômeno da natureza.
As cidades são feitas pelos homens, muitas ve-
zes às margens de rios.
Quando chove, os rios transbordam e causam
enchentes na cidade à sua margem.
Muitas cidades cresceram demais e, como con-
seqüência, enfrentam problemas de transportes.
Há muitos automóveis transportando apenas
uma ou duas pessoas. Em conseqüência, há ex-
cesso de veículos e isso provoca congestiona-
mento do trânsito.
Com o congestionamento, os trabalhadores que
moram longe do trabalho demoram muito tem-
po para chegar a suas casas.
Com essa linha de raciocínio, você estará não só iden-
tificando um fato acontecido no dia-a-dia, mas tam-
bém estabelecendo relações com outros fatos cotidia-
41
Leitura da paisagem
40
nos. Dessa forma, estará acumulando elementos para
entender e explicar o porquê das coisas.
As transformações
As paisagens mudam com o tempo. Qual é a extensão
da paisagem do bairro em que você vive? Para respon-
der a esta pergunta, você teria que saber muitas coisas,
além da área do bairro. Por exemplo, saber se nele pre-
domina o comércio, a indústria, ou residências. Se o
bairro estiver na várzea do rio que corta a cidade, é
importante conhecer a história dessa ocupação. Por que
a cidade ocupou o lugar do rio?
Mas a extensão de uma paisagem pode mudar,
pois os fenômenos naturais e sociais se transformam.
Uma determinada localidade que era pouco habitada
e na qual se vivia do cultivo pode ter se transforma-
do, tornando-se uma área urbana. Uma floresta pode
ter dado lugar a uma plantação de café. O deserto
pode ter avançado, um terremoto pode ter destruído
toda uma cidade.
Descobrir as transformações e buscar entender como elas
aconteceram é fundamental na leitura das paisagens.
Para pesquisar as mudanças em sua cidade, você
pode entrevistar moradores mais antigos, que con-
tem como era o lugar em outros tempos. Pode-se
também recorrer a documentos fotográficos, relatos
escritos etc.
LocalizaçãoLocalização
LocalizaçãoLocalização
Localização
A localização pode ajudar a explicar a importância dos
lugares e as transformações. Onde fica a rua na qual
você mora? Certamente você responderá citando o
nome dela e o bairro no qual se localiza. Porém, pen-
se nas características dessa localização:
se for uma rua em um local alto, sua casa terá
melhores condições de não ser atingida por
possíveis inundações;
se for uma rua em um local de terreno muito
inclinado, provavelmente foi preciso enfrentar
dificuldades para construir a casa;
se for um ponto de acesso fácil, ou difícil, você terá
maiores ou menores comodidades de locomoção.
Onde fica a Suíça?
Observando um mapa, você verá que ela fica na Eu-
ropa e, em um mapa de relevo, poderá constatar que
está localizada em uma região de elevadas monta-
nhas – os Alpes.
Por isso, a Suíça tem características próprias de
regiões montanhosas: um inverno muito frio e gran-
des montanhas, cujos picos se cobrem de neve. Es-
sas condições facilitam algumas atividades, como o
turismo de inverno. Mas também dificultam outras
atividades, como o plantio de determinados produ-
tos de regiões tropicais ou temperadas.
Por esse mesmo mapa, você poderá também ve-
rificar que a Suíça faz fronteira com vários países – e
isso pode corresponder a uma vantagem, apesar do
relevo montanhoso.
Fenômenos naturais e sociais
O estudo dos fenômenos geográficos e de suas carac-
terísticas peculiares fica mais esclarecedor se cruzar-
mos os fenômenos naturais e os sociais, pois é assim
que eles aparecem na paisagem.
Somente os lugares ainda não ocupados pela socie-
dade humana formam a paisagem natural. Na atualida-
42
de, os homens se estabeleceram em muitos lugares ge-
lados, desertos, altas montanhas, enfim, em localidades
que consideramos difíceis de habitar.
É importante o professor mostrar que, por mais
que os homens tenham ocupado quase todo o plane-
ta, a natureza prossegue seu trabalho, com chuvas,
ventos, rios, florestas, rochas etc. Esses elementos da
natureza são freqüentemente modificados pela ação
humana, mas a natureza tem suas leis e seu modo de
funcionar.
A paisagem é inteira, mas, procurando seus deta-
lhes, você pode destacar vários aspectos e elementos,
como por exemplo:
o céu e as nuvens vagando: a atmosfera;
o rio, no qual as águas correm, faz parte da
hidrosfera;
a terra – montanhas, rochas, solos etc. – compõe
a litosfera;
as plantas, os animais e o homem, isto é, os se-
res vivos, formam a biosfera.
A paisagem, tudo que você vê em conjunto, deve ser
decifrada pelo estudo de suas partes, mas não se pode
deixar de inter-relacionar essas partes. Na verdade, as
partes não estão separadas e cada uma delas interfe-
re na outra – a paisagem funciona como um todo.
À medida que fazemos essa análise, podemos ir
‘juntando os pedaços, vendo como eles se ligam,
um explicando o outro. Isto é, estaremos procuran-
do algumas leis: elas não estão evidentes, mas são
importantes para que possamos compreender os
fenômenos.
Assim, poderemos ver o todo novamente, com
outros olhos que, agora, sabem muito mais.
CIÊNCIAS
Programa 1
44
45
idéia de que as crianças chegam na escola sem
nenhuma bagagem cognitiva está, definitiva-
mente, superada. Estudos feitos em diferentes
campos do conhecimento demonstraram que a crian-
ça começa a perceber regularidades no mundo que
observa à sua volta desde os primeiros meses de vida,
e que já então começa a construir explicações.
As aulas de Ciências são um espaço privilegiado
para que estudantes e professor possam desenvolver
as noções e idéias que têm do mundo a seu redor e
de si próprios.
Ao contrário do que muita gente pensa, a ciência não
é uma atividade circunscrita a laboratórios especiais, com
recursos inacessíveis. Muitos dos grandes avanços cien-
tíficos são conseguidos graças a uma nova forma de in-
terpretar fatos já conhecidos. E o professor de Ciências
pode levar seus alunos a redescobrir fenômenos bem
conhecidos com base em experiências simples.
Uma experiência e sua explicação
Uma vela acesa, colocada no centro de um prato com
água, apresenta um desafio muito maior do que pa-
rece à primeira vista. Se emborcarmos um copo so-
bre a vela ela se apagará e, ao mesmo tempo, o nível
de água subirá dentro do copo.
As explicações que normalmente acompanham
essa experiência falam do consumo de oxigênio pela
AA
AA
A
CIÊNCIAS NA ESCOLACIÊNCIAS NA ESCOLA
CIÊNCIAS NA ESCOLACIÊNCIAS NA ESCOLA
CIÊNCIAS NA ESCOLA
47
Ciências na escolaPrograma 1
46
chama. Ela faria o oxigênio ‘sumir’ de dentro do copo,
criando espaço para a entrada de água.
O professor pode levar os alunos a investigar essa
explicação, procurando novas formas de interpretar o
fato ao observá-lo diretamente.
A primeira sugestão consiste em observar atenta-
mente o que ocorre quando a vela é abafada pelo
copo.
Se o nível de água se eleva à medida que a vela quei-
ma, então é possível supor que a entrada de água seja
maior enquanto a chama for intensa e que, depois de
apagada a chama, nenhuma água entra no copo.
A experiência pode ser repetida diversas vezes,
para observar:
1. A água entra mais rapidamente quando a cha-
ma é mais intensa?
2. Depois que a vela se apaga, a água deixa de
entrar no copo?
Não é difícil verificar se essas previsões estão corre-
tas – o professor pode conferir a explicação fazendo
a experiência com seus alunos.
LembreteLembrete
LembreteLembrete
Lembrete
Qualquer experimento com fogo é perigoso e deve ser
realizado sempre na presença de adultos, longe de
combustíveis, em especial garrafas de álcool, quero-
sene etc. e de materiais inflamáveis.
Neste experimento, o ideal é utilizar velas peque-
nas e recipientes de vidro de alimento infantil, que
resistem ao fogo.
Ao observar a experiência se constata justamente o
contrário da suposição inicial:
1. Enquanto a chama é intensa, ou seja, enquanto
o consumo de oxigênio é intenso, o nível de
água no interior do copo não se altera significa-
tivamente.
2. Depois que a vela se apaga, ou seja, depois que
cessa o consumo de oxigênio, a entrada de água
é mais intensa.
No passado, um cientista francês chamado Lavoisier
mostrou que, quando uma substância se transforma,
ela não desaparece, porque aparece outra a partir
dela. Ele expressou essa conclusão em uma frase que
se tornou famosa: Nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma.
Assim, o oxigênio consumido na chama da vela
não ‘desapareceu’; ele se transformou, originando
outras substâncias.
Lições da experiência
Situações como a relatada acima são comuns no tra-
balho científico. Muitas vezes, a análise científica de
um fenômeno não confirma as suposições feitas. Isso
nos leva a modificar a maneira de pensar o proble-
ma, pois constatamos que existe algo de errado na
explicação que estávamos utilizando.
A partir daí, estamos diante de uma nova situação:
precisamos encontrar novas explicações, realizar no-
vas previsões e novos testes, que possam comprovar,
ou não, o que se pretende.
Em seus laboratórios, os cientistas criam explica-
ções e as apresentam aos colegas, que debatem as
teorias levantadas e realizam testes. Os resultados são
novamente debatidos e outros cientistas tentam
confirmá-los. Às vezes, algum novo erro é descoberto
nesse processo, derrubando a nova explicação.
Professor e alunos poderão deparar com uma das
mais fascinantes facetas do trabalho científico, ao criar
novas explicações para fenômenos conhecidos. Eles
poderão debater as idéias sugeridas e realizar novos
49
Ciências na escolaPrograma 1
48
testes. Depois disso, vale a pena repetir a pergunta:
Por que o nível de água sobe dentro do copo?
Talvez algum aluno perceba que a água subiu mais
intensamente depois que a chama da vela se apagou
e relacione esse fato à rápida redução da temperatu-
ra no interior do copo. Essas novas idéias são chama-
das hipóteses. Mas as hipóteses devem ser testadas.
Como testar essa hipótese?
Um teste poderia ser feito colocando um copo
aquecido sobre a mesma montagem experimental,
mas com a vela apagada. O copo pode ser aquecido
em um fogão, no fogareiro ou mesmo em uma
lamparina a álcool.
Atenção!Atenção!
Atenção!Atenção!
Atenção!
Em primeiro lugar, é preciso evitar que o copo es-
frie ao ser levado do local de aquecimento até a vela
apagada.
Em segundo lugar, é preciso redobrar o cuidado
quando trabalhamos com chamas, que podem quei-
mar as pessoas.
Ao lidar com lamparinas, é necessário ter certeza de
que a garrafa de álcool está tampada e longe da
chama.
O trabalho deve ser conduzido por um adulto, com
um pano molhado ao alcance da mão. Qualquer
acidente, como a queda da lamparina, pode gerar
uma chama perigosa, que deve ser abafada com o
pano molhado.
O ideal é que o professor aqueça o copo e rapidamen-
te o coloque emborcado na vela apagada, para só
então deixar os alunos se aproximarem e observarem
a experiência.
Observando de perto o resultado, os alunos po-
dem testar a hipótese que têm em mente. Se a redu-
ção da temperatura no interior do copo provoca a
entrada de água, à medida que o copo se resfria a
água entra mais lentamente, até chegar mais ou me-
nos no mesmo nível da montagem anterior.
Feito o teste, cabe a pergunta: os resultados estão
de acordo com o previsto? Sim. E isso nos leva a crer
que a entrada de água no copo seja causada pela di-
minuição da temperatura.
De fato: quando o ar é aquecido ele se dilata, isto
é, aumenta de volume. Ao resfriar ele se contrai, ou
seja, diminui de volume. Quando a chama se apaga,
a temperatura diminui e o ar do interior do copo se
contrai, permitindo a entrada da água. Portanto, a
explicação é mais simples do que parecia.
Professor e alunos podem explorar suas idéias
dessa forma nas aulas de Ciências. Em um momento
inicial, foi necessário propor um problema. Isso foi
feito ao selecionar a atividade da vela e do copo.
Depois foi necessário encontrar explicações, hipóte-
ses, que pudessem ser testadas. O teste gerou resul-
tados, que puderam comprovar ou não as hipóteses.
VV
VV
V
ale a pena?ale a pena?
ale a pena?ale a pena?
ale a pena?
A essa altura, é muito provável que o professor se
pergunte se não seria mais fácil simplesmente dizer
aos estudantes quais são as explicações corretas, já
estabelecidas pelos cientistas.
Sem dúvida alguma, seria mais simples. E, de cer-
ta forma, isso será feito em alguns momentos.
No entanto, o grande risco consiste em tentar sim-
plificar demais o ensino das idéias de Ciências e re-
duzi-las a uma lista de enunciados que o aluno deve
memorizar.
Essa saída simplista também coloca um problema
para o professor: ele passa a ser visto como uma es-
pécie de sabe tudo. Se saber Ciências é saber uma
51
Ciências na escolaPrograma 1
50
coleção de coisas que podem ser guardadas na me-
mória, ele precisaria, para dar o exemplo, exercitar
muito a memória para dar suas aulas, bem mais que
os alunos.
Finalmente, o aluno também sofre as conseqüên-
cias da antiga maneira de estudar a ciência. Além de
muito chatas, as provas passam a ser uma lista de
perguntas: o que é…?’, descreva…’ etc.
Mas o maior problema dessa forma de estudar as
idéias desenvolvidas pela ciência é que, depois de
algum tempo, os alunos já não se lembram mais do
que memorizaram; é como se nada tivessem estuda-
do. Portanto, além de ser muito chata para o aluno e
angustiante para o professor, essa decoreba’ é rigo-
rosamente inútil.
Essa maneira aparentemente mais complicada de
estudar, na qual o professor se prepara, apresenta os
problemas e propicia aos alunos a possibilidade de
elaborar explicações e realizar testes, tem muito me-
lhores resultados.
Os alunos não aprendem apenas novas explicações:
aprendem a elaborar e testar novas explicações por
si mesmos. Aprender a aprender é, de certa forma, a
tarefa mais importante da escola.
A avaliação dos alunosA avaliação dos alunos
A avaliação dos alunosA avaliação dos alunos
A avaliação dos alunos
A modificação da maneira de abordar os conteúdos
nas aulas deve ser acompanhada de uma nova ma-
neira de avaliar os estudantes, para evitar outros pro-
blemas. A produção do aluno passa a ser sempre im-
portante, e não apenas nos momentos de provas e
avaliações.
O professor deve realizar registros diários do de-
sempenho de seus alunos, tanto nos trabalhos em
grupo como nos trabalhos individuais. Ele pode or-
ganizar uma pasta para cada estudante, procurando
observar, individualmente:
O aluno demonstra se esforçar para elaborar
suas próprias explicações?
Leva em consideração as explicações dos cole-
gas?
Como o aluno se prepara para a aula?
Como participa dela?
Quais as contribuições que ele traz aos colegas?
Quais as idéias que ele tinha anteriormente so-
bre os assuntos estudados?
Como suas idéias se modificaram?
O professor assim avalia diversas manifestações e
produções dos alunos, não apenas textos escritos ou
contas de matemática.
É interessante acompanhar, documentar, reformular
e avaliar de forma periódica a produção individual e
coletiva.
Modificar a preparação das aulas e proporcionar
momentos de auto-reflexão aos estudantes, oferecen-
do oportunidades para testar explicações e refletir
sobre suas propriedades, seus limites e suas possibi-
lidades, são atividades que ensejarão uma forma
muito diferente de ensinar e aprender Ciências.
Essa nova forma de ensinar Ciências demanda
mudanças que não são fáceis, mas que certamente
valerão a pena, se forem de fato realizadas.
53
Os sentidosPrograma 2
52
espetáculo de fogos de artifício que brilham ao
longe constitui um dos mais belos produzidos
pelo homem. Desde a época em que os chine-
ses inventaram a pólvora, há muitos séculos, se tor-
nou possível esse fenômeno que impressiona de for-
ma muito especial, ao mesmo tempo, nossa visão,
nossa audição e nosso olfato.
Se você estiver a uma certa distância dos fogos de
artifício, verá a luz que produzem, mas ouvirá o som
um pouco mais tarde. Quanto mais longe estiver dos
fogos, maior será a diferença entre a chegada do som
e a chegada da luz.
Você irá sentir também o forte cheiro de pólvora,
mas certamente isso vai demorar ainda muito mais
tempo. Poderíamos então concluir que os órgãos da
visão são mais eficientes’ que aqueles da audição,
que, por sua vez, são melhores que os responsáveis
pelo olfato? Não!
Os órgãos dos sentidos estão ajustados para perce-
ber diferentes estímulos a nossa volta. Mas eles são
bem diferentes entre si e cada um tem seu mecanis-
mo próprio.
Por exemplo, se uma bomba explodir fora da Ter-
ra, no espaço, poderemos ver a luz, mas não haverá
barulho algum. A luz será produzida e poderá atra-
vessar o espaço sem ar, chegando até nossos olhos.
Mas o mesmo não ocorre com o som. Ele precisa de
algum meio material para ser transmitido.
Se você atirar uma pedra no meio de um lago de
águas tranqüilas, o impacto da pedra na água provo-
cará uma oscilação na superfície, que será transmiti-
da a todos os pontos do lago. Se houver um pedaço
de cortiça boiando na margem, ele irá oscilar depois
de algum tempo, quando tiver contato com as ondas
provocadas pelo impacto da pedra. Note: a cortiça não
teve contato direto com nenhuma parte da pedra, nem
da água atingida por ela.
Imagine que seu ouvido estivesse ligado à cortiça
e que você ouvisse o ruído no momento em que a
cortiça se move. Nesse caso, o intervalo de tempo
entre o que seus olhos vêem (a pedra lançada) e seus
ouvidos percebem (a oscilação da cortiça) aumentou
muito.
As ondas da água se deslocam com uma certa ve-
locidade. O som tem uma velocidade menor que a da
luz, e isso explica algumas de nossas percepções mais
comuns. Nós podemos ver um relâmpago antes de
ouvir o barulho do trovão. Quanto mais próximas fo-
rem para você as duas sensações, mais perto você
está do raio.
Já o olfato, que capta os odores, não depende do
deslocamento de ondas, mas do contato direto com
as substâncias.
O odor de uma rosa é o efeito de partículas mi-
croscópicas, que evaporam da rosa e chegam até seu
nariz. O olfato precisa ser capaz de captar uma gran-
de quantidade dessas partículas microscópicas e man-
dar a informação para o cérebro. O cérebro irá asso-
ciar a informação mandada pelo olfato com aquela
mandada pelos outros órgãos dos sentidos.
Se, no mesmo momento em que você sente o odor
da rosa, perceber uma sensação de dor causada por um
espinho que espeta sua mão, seu cérebro provavelmente
OO
OO
O
OS SENTIDOS
55
Os sentidosPrograma 2
54
concluirá que você tem uma rosa na mão. Sua visão
confirmará o fato, pois a luz percebida por seus olhos
forma a imagem de uma rosa em sua retina.
A rosa foi percebida graças a três sentidos: o olfa-
to, o tato e a visão.
Proteção para nossos sentidos
A função de nossos órgãos dos sentidos consiste em
captar variações minúsculas no ambiente a nossa
volta e, para desempenhar esse papel, eles possuem
uma estrutura complexa e muito delicada. Essa cons-
tituição especial possibilita que os mais leves fatores
externos sejam capazes de afetá-los, causando às ve-
zes danos irreversíveis.
Precisamos proteger nossos órgãos dos sentidos,
tomando alguns cuidados básicos. O professor deve
estar atento para isso e orientar seus alunos.
Os olhos devem ser resguardados de estímulos
muito fortes. Luzes intensas, como por exemplo aque-
la produzida pela solda elétrica, podem provocar ce-
gueira. Hoje em dia estão se tornando bem comuns
as canetas a laser, que emitem um raio laser. Essa luz
é muito intensa e, se incidir diretamente no olho, tam-
bém pode provocar cegueira.
A própria luz do sol pode trazer danos irreversíveis,
se incidir diretamente no olho. É um risco que apare-
ce, por exemplo, por ocasião de eclipses solares, quan-
do as pessoas querem observar o fenômeno. A única
proteção realmente segura contra os raios solares
nessa situação é o vidro de soldador número 15, feito
especialmente para proteger os olhos de luz intensa.
Não convém fazer improvisações – com negativos de
filmes, ou vidro enegrecido –, pois não barram sufi-
cientemente a luz solar, expondo os olhos ao risco.
As orelhas têm um pequeno canal que termina em
uma estrutura algo parecida com a cortiça do lago, vi-
brando tal como ela. A audição ocorre quando há a
vibração de uma pequena membrana chamada tím-
pano. Essa vibração movimenta três pequenos ossos,
e isso repercute nas estruturas mais internas, envian-
do a informação até o cérebro.
Se o tímpano for perfurado, ele pára de vibrar e a
audição se torna impossível. Por isso, é preciso mui-
to cuidado com o canal auditivo, evitando introduzir
nele qualquer objeto – até mesmo cotonetes.
A exposição constante a ruídos intensos também
pode provocar, com o tempo, prejuízos à capacidade
auditiva. Particularmente condenável é o uso de
walkman em volume muito alto. Em locais de traba-
lho com muito ruído, como aeroportos, por exemplo,
os trabalhadores devem receber protetores especiais,
para evitar a surdez.
Como proteger nosso olfato? Esta pergunta é de
difícil resposta. Mas, com certeza, o odor de rosas não
nos traz prejuízos.
57
A águaPrograma 3
56
gua e vida estão intrinsecamente associadas.
Acredita-se, inclusive, que a vida tenha surgido
devido ao fato de existir água líquida em abun-
dância em nosso planeta. E a água é totalmente in-
dispensável para todas as formas de vida.
Dificilmente alguma criança em idade escolar, em
qualquer lugar do mundo, deixa de ter perguntas, dú-
vidas e idéias a respeito da água e de suas transfor-
mações. A chuva, o granizo, a neve, o vapor, o gelo,
estão entre os diversos assuntos relativos a essa subs-
tância que despertam o interesse das crianças.
Em nossa proposta de ensino de Ciências, a pri-
meira tarefa do professor ao abordar um assunto con-
siste em localizar uma situação problemática que seja
familiar ao aluno e que possa lhe causar interesse. Em
seguida, o professor levanta as explicações que os
alunos já conhecem e que possam ser colocadas em
teste, para que eles próprios concluam com a expli-
cação correta.
Líquido e vaporLíquido e vapor
Líquido e vaporLíquido e vapor
Líquido e vapor
Quando abrimos uma garrafa de refrigerante, é pos-
sível perceber que se forma uma pequena nuvem jun-
to ao gargalo.
As crianças com certeza conhecem esse fenôme-
no, mas dificilmente irão relacioná-lo à formação de
nuvens no céu. Fazendo uma pequena pesquisa na
classe será possível perceber algumas idéias das
crianças a esse respeito. Será que elas acham que a
nuvem já está formada no interior do gargalo, antes
de destampar a garrafa? Talvez elas não acreditem que
a nuvem só aparece quando a tampa é removida – vale
a pena pôr isso à prova.
Examinar bem de perto uma garrafa de refrigeran-
te tampada e observar enquanto ela é aberta lenta-
mente talvez seja uma boa idéia. O refrigerante não
precisa estar frio, para que a nuvem se forme; ao con-
trário, quanto mais quente estiver, maior será a nu-
vem formada!
O professor pode então mostrar para os alunos
que aquela nuvem é formada de gotas muito peque-
nas de água, tão pequenas que chegam a flutuar no
ar; mas ao se juntarem formam uma gota maior. A
chuva nada mais é que um conjunto de gotas, forma-
das pela união de muitas gotinhas flutuantes.
Não é difícil encontrar outra situação muito in-
trigante para as crianças e que tem relação direta
com essa. Uma garrafa bem gelada, ao ser retirada
do refrigerador, começa a ‘suar. De onde vem essa
água?
É bem provável que as crianças sugiram que a
água porejou pela garrafa – o que não deixa de ser
uma explicação interessante e, aliás, muito lógica (isso
acontece de fato nas moringas de cerâmica, mas é
impossível nos vasilhames de vidro e de plástico).
Dificilmente as crianças ficarão convencidas da impro-
priedade de suas explicações se não forem colocadas
à prova.
Um teste alternativo pode ser realizado com uma
garrafa descartável vazia de dois litros de refrigeran-
te. Ela deve ser deixada aberta em um ambiente quen-
te, como a sala de aula. Depois disso, deve ser tam-
ÁÁ
ÁÁ
Á
A ÁGUAA ÁGUA
A ÁGUAA ÁGUA
A ÁGUA
59
A águaPrograma 3
58
pada e colocada dentro do refrigerador por duas ho-
ras, pelo menos. O que ocorrerá?
Se a garrafa estiver bem tampada, e não entrar
em contato com qualquer líquido, será impossível
entrar água dentro dela. O que as crianças esperam
que ocorra? Converse com seus alunos e verifique
suas hipóteses.
Se não houver um refrigerador disponível, as crian-
ças podem deixar a garrafa tampada do lado de fora da
janela da classe, em um lugar que não receba chuva, mas
que esfrie durante a noite. Na manhã seguinte será pre-
ciso observar o resultado, antes de o dia começar a fi-
car quente.
Não será difícil perceber que se formaram gotas
de água no interior da garrafa. De onde vieram? Onde
estava essa água que agora aparece aderida às pare-
des da garrafa?
O professor pode relacionar essa experiência com
a anterior, associando as duas situações:
Na primeira experiência, o espaço entre a superfí-
cie da água e o gargalo da garrafa parecia vazio.
Quando a garrafa foi aberta, apareceram milhares
de gotinhas de água, tão leves que flutuavam.
No segundo caso, a queda da temperatura fez
aparecerem gotinhas aderidas à superfície inter-
na da garrafa.
No primeiro caso, o vapor provinha do líquido conti-
do na garrafa; no segundo, em que havia apenas ar
dentro da garrafa, só se pode concluir uma coisa: exis-
te água invisível no ar. É o vapor d’água.
A água sólidaA água sólida
A água sólidaA água sólida
A água sólida
Outra questão que as crianças certamente gostarão de
investigar se refere à flutuação do gelo. Por que o gelo
flutua?
A flutuação do gelo permite que se formem os cha-
mados icebergs, grandes blocos de gelo flutuante. E, o
que é mais importante: esse fato permite que as formas
de vida resistam ao frio intenso nos mares, rios e lagos,
fenômeno valioso tanto hoje quanto no mais remoto
passado.
Como o gelo flutua, a parte mais fria de um lago
é justamente a superior, que acaba funcionando como
um escudo protetor: sobre a superfície de um lago
congelado se forma uma camada de gelo, boiando.
Mas os peixes podem resistir ao frio, vivendo abaixo
da superfície endurecida, onde a água permanece lí-
quida, em temperatura superior à do ar. Graças a isso
a vida subsistiu aos períodos das grandes glaciações.
Mas, afinal, o que faz o gelo flutuar na água líqui-
da? Uma experiência simples pode propiciar momen-
tos de reflexão para seus estudantes. Uma embalagem
de leite longa vida (tipo tetrabrick) pode ser utilizada
nessa experiência. Ela flutua?
Desafie os alunos a responder a esta pergunta e
deixe discutirem suas hipóteses. Crie em seguida a
oportunidade de verificar as respostas. As crianças
verão o pacote de leite afundar.
Em seguida, o professor pode lançar uma dúvida:
e se o leite estiver congelado, o que ocorre? A emba-
lagem afunda, assim mesmo?
Levante questões intrigantes e incentive os alunos a
propor diferentes respostas, provocando o debate
entre eles, sempre com sua orientação.
É comum as crianças pensarem que quanto mais
dura’ é uma coisa, maior sua densidade, ou seja, quan-
to mais duro for um objeto, mais facilmente ele afunda.
Procure fazer uma série de perguntas, para verifi-
car o que seus alunos pensam do assunto. Providen-
cie então um pacote de leite congelado (de preferên-
61
Programa 4
60
cia, o mesmo utilizado anteriormente) e faça a expe-
riência diante da classe.
As crianças provavelmente ficarão surpresas com
o que observarem. Em geral, elas tendem a associar a
capacidade de flutuação de um objeto a seu peso, sem
levar em conta o volume. Nesse caso, seria importan-
te elas observarem de perto o pacote congelado: ele
está estufado, ou seja, aumentou de volume.
É claro que, como nada entrou dentro do pacote
hermético, seu peso permanece o mesmo. Ele não
pode ter ficado mais ‘leve. Sua massa permanece a
mesma mas, depois de congelada, ocupa mais espa-
ço, maior volume. Em outras palavras, o pacote ficou
menos denso que a água líquida.
É importante que as crianças pequenas utilizem
termos como ‘densidade, ‘massa’ e ‘volume, para en-
tender a flutuação do gelo?
Dentro de nossa proposta, o principal não é exa-
tamente o nome preciso. O que é realmente impor-
tante é as crianças terem oportunidade de testar as
explicações que constroem para explicar os fenôme-
nos que conhecem e que tenham consciência de suas
idéias e de como elas se modificam.
ubir uma escada, fazer um automóvel andar, e
até mesmo pensar, são atividades que requerem
energia. Quando nos alimentamos, estamos nos
abastecendo de energia: ela está armazenada nos ali-
mentos e é transformada dentro de nosso corpo. Essa
é a única maneira de os seres humanos obterem ener-
gia, não existe outra.
O mesmo é válido para todos os animais. Eles se
alimentam devorando partes de plantas e restos de
vegetais ou animais, ou capturando outros seres vi-
vos no meio em que vivem. Ao se alimentar, os ani-
mais estão se abastecendo da energia armazenada nos
alimentos, que será transformada dentro de seus or-
ganismos. Todos os animais obtêm energia por meio
da alimentação.
As plantas também precisam de energia. No en-
tanto, elas não conseguem energia nos materiais que
suas raízes retiram do solo, nem naqueles que suas
folhas retiram do ar.
As plantas são os únicos seres vivos capazes de trans-
formar diretamente a energia do sol, utilizando-a
para as mais diferentes atividades, como crescer, pro-
duzir flores, frutos, sementes etc.
Nas folhas, nas raízes, nos caules, nas flores, nos
frutos e nas sementes existem, em maior ou menor
quantidade, alimentos que foram fabricados a partir
SS
SS
S
FOTOSSÍNTESE I:
O SOL COMO FONTE DE ENERGIA
63
Fotossíntese I: o sol como fonte de energiaPrograma 4
62
da luz do sol e que receberam parte da energia cap-
tada durante o dia pela planta.
O alimento dos animais
Os animais que comem partes de vegetais, como por
exemplo os bois, os cavalos ou as antas, são chama-
dos herbívoros. Eles extraem dos vegetais os alimen-
tos que contêm aquela parcela de energia do sol
transformada pelas plantas. Essa energia obtida das
plantas será utilizada pelos herbívoros para crescer,
se movimentar, procriar etc.
Como todos os animais, inclusive os seres hu-
manos, os herbívoros gastam energia também
para realizar ações que nem são percebidas, como
por exemplo: engolir saliva, piscar os olhos, res-
pirar, aquecer seus corpos (no caso de aves e ma-
míferos) etc.
No entanto, os herbívoros obtêm dos alimentos mais
energia do que efetivamente gastam e armazenam essa
quantidade extra de energia. Se compararmos a quanti-
dade de alimento necessária para engordar um boi em
uma fazenda plana com o que é requerido em uma re-
gião montanhosa – onde os bois precisam subir e des-
cer encostas para pastar – veremos que a engorda é
muito mais rápida na fazenda plana. Isso ocorre por-
que o consumo diário de energia é menor; esse animal
da planície, por exemplo, consegue produzir mais car-
ne. Essas plantas que servem de alimento ao animal
possuem uma parcela daquela energia que os vegetais
captam diretamente do sol.
As onças, tal como os outros carnívoros, não se ali-
mentam de folhas. Elas caçam animais como a anta, por
exemplo, e dependem dos alimentos produzidos por eles
para obter energia. Assim, é fácil concluir que a energia
obtida pelos animais predadores, que matam outros se-
res vivos para se alimentar, provém indiretamente do sol.
Não são apenas as plantas e os animais, herbívoros e
predadores, que utilizam a luz solar como fonte di-
reta ou indireta de energia. As ondas do mar, a eva-
poração da água e o vento também são processos que
dependem da energia proveniente do sol.
Todas as atividades humanas no planeta reque-
rem grande quantidade de energia, principalmente
as atividades industriais. Ao acender uma lâmpa-
da, ou ligar o chuveiro, você está utilizando ener-
gia elétrica.
No Brasil, a maior parte da energia elétrica pro-
vém de usinas hidrelétricas, ou seja, é produzida por
turbinas movidas pela força de águas represadas.
A energia solar faz evaporar as águas que forma-
rão as nuvens de chuva. E essas nuvens transforma-
das em chuva alimentam as nascentes dos rios, cujas
águas podem ser represadas para alimentar as usinas
hidrelétricas.
Os automóveis movidos a álcool, é fácil perce-
ber, também dependem da energia solar. É ela que
permite o crescimento da cana-de-açúcar, de onde
é retirado o material necessário para a produção
de álcool.
Embora não seja tão evidente, o mesmo ocorre
com outros combustíveis. A gasolina, o querosene e
o óleo diesel são fabricados a partir do petróleo, e a
energia que eles armazenam também depende do sol.
Pode parecer muito estranho: pelo que se sabe, o
petróleo se formou há milhões de anos, a partir de
seres vivos em decomposição. Portanto, naquela épo-
ca os seres vivos capturaram a energia solar e a ar-
mazenaram, e seus organismos mais tarde acabaram
por se transformar em petróleo.
Também as atividades econômicas, industriais ou
agropecuárias requerem grande quantidade de ener-
65
Programa 5
64
á cerca de 65 milhões de anos, a maioria das es-
pécies de plantas e animais – tanto herbívoros
quanto predadores – que vivia em nosso plane-
ta desapareceu para sempre. Foi essa a época da
extinção dos dinossauros.
Que tipo de acidente poderia ter causado tantos
danos aos seres vivos? Existem muitas hipóteses para
essa grande catástrofe.
Uma das teorias mais aceitas atualmente afir-
ma que o bloqueio da luz solar na atmosfera te-
ria sido o fator responsável por tamanho cataclis-
mo. Algum grande evento – como o choque de
um imenso meteoro na superfície da Terra – te-
ria levantado enormes nuvens de poeira, suficien-
tes para encobrir o céu ao longo de muitos anos;
com a privação de boa parte da luz solar, um ter-
rível inverno teria assolado o planeta.
A falta de energia solar explicaria a morte da maio-
ria das plantas, assim como de boa parte dos animais
que delas dependiam diretamente. Os grandes herbí-
voros, como muitos dinossauros, passaram a enfren-
tar problemas de alimentação. Fracos e mal alimen-
tados, devem ter se tornado presa fácil dos grandes
predadores.
No início, os répteis caçadores devem ter contado
com fartura de alimento a seu dispor. Mas à medida
que esse alimento foi sendo consumido e se tornan-
do escasso, eles acabaram morrendo também. Com
HH
HH
H
FOTOSSÍNTESE II: AS PLANTFOTOSSÍNTESE II: AS PLANT
FOTOSSÍNTESE II: AS PLANTFOTOSSÍNTESE II: AS PLANT
FOTOSSÍNTESE II: AS PLANT
ASAS
ASAS
AS
E A VIDA NO PLANETE A VIDA NO PLANET
E A VIDA NO PLANETE A VIDA NO PLANET
E A VIDA NO PLANET
AA
AA
A
gia. Estima-se que a energia utilizada por essas ativi-
dades em menos de quatro meses seria suficiente para
levar a água do rio Amazonas ao ponto de fervura.
A produção de toda essa energia requer interven-
ções humanas que modificam o ambiente. Muitas de-
las implicam uma alteração profunda de determina-
do ambiente, como por exemplo um grande alaga-
mento para a construção de uma barragem de usina
hidrelétrica.
A queima de combustíveis, por outro lado, tam-
bém produz substâncias que são espalhadas por todo
o planeta, trazendo graves conseqüências.
Acredita-se que um dia a energia do sol irá aca-
bar. O que isso acarretaria para a vida em nosso
planeta?
67
Fotossíntese II: as plantas e a vida no planetaPrograma 5
66
tâncias vegetais que você conhece.
Para conseguir assimilar a energia disponível na
glicose, os produtores e os consumidores precisam de
oxigênio. Esse gás está presente em grande quantida-
de no ar atmosférico. Os produtores fabricam glicose
e oxigênio, mas também utilizam essas mesmas subs-
tâncias. Em dias de muita luz há sobra de glicose e
oxigênio, e este é liberado para o ar. Mas em dias es-
curos e durante a noite, quando não há luz, não exis-
te excedente de alimento e oxigênio.
Produtores e consumidores precisam da ener-
gia dos alimentos durante o dia e durante a noi-
te. É por essa razão que eles consomem alimento
e oxigênio. Ao consumir a glicose e o oxigênio, os
produtores e os consumidores conseguem a ener-
gia de que precisam e acabam fabricando duas
outras substâncias, como se fossem resíduos.
Eles produzem água e gás carbônico. Esse pro-
cesso realizado pelos produtores e pelos consu-
midores se chama respiração celular. Para que ele
ocorra, são necessárias muitas reações químicas
a partir da glicose e do oxigênio, havendo a pro-
dução de água e gás carbônico.
Uma profunda inter-relação
Imagine um consumidor colocado dentro de um vi-
dro todo fechado. O que ocorre com ele?
Provavelmente ele morrerá, porque consumirá
oxigênio e produzirá gás carbônico. Quando acabar o
oxigênio, mesmo que ele tenha alimento à sua dispo-
sição, não será possível retirar dele a energia arma-
zenada.
Imagine agora que um produtor seja colocado em
um frasco fechado. O que deve ocorrer com ele? O re-
sultado surpreende muita gente. Se houver luz
suficiente, não acontece nada.
isso, ficou evidente, sem nenhuma dúvida, a grande
importância da luz do sol para os seres vivos.
Produtores e consumidores
Todos os animais, herbívoros e predadores, depen-
dem do alimento produzido pelas plantas. Consumir
esses alimentos é seu único recurso para obter ener-
gia. Por essa razão, herbívoros e predadores são cha-
mados de consumidores.
As plantas, por sua vez, produzem o alimento ao
transferir para ele a energia que captam diretamente
do Sol. Elas próprias utilizam parte desse alimento
para seu sustento, mas geralmente produzem um vo-
lume superior ao que necessitam para se desenvol-
ver e armazenam o excedente. É por isso que os ve-
getais são chamados produtores.
Os produtores fabricam o alimento a partir de
substâncias que absorvem do meio ambiente. Água e
gás carbônico são substâncias que se encontram roti-
neiramente no solo e no ar e que podem ser trans-
formadas em duas outras, inteiramente diferentes: a
glicose, um açúcar muito parecido com aquele que se
utiliza para adoçar o café, e o gás oxigênio.
Essa transformação é realizada por meio de um
longo e complicado processo denominado fotossín-
tese, que necessita da presença de luz.
Na fotossíntese são consumidos água e gás carbônico,
produzindo glicose e oxigênio.
O alimento fabricado pelos produtores é a glicose.
Nesse açúcar está armazenada parte da energia solar
captada pela planta; a planta utiliza parcialmente esse
alimento, mas quase sempre há um excedente, que
fica de reserva. É dessa maneira que a glicose é utili-
zada em inúmeros processos, gerando todas as subs-
69
Programa 6
68
ara as emissoras de televisão, a transmissão da parti-
da final de um campeonato mundial de futebol dis-
putada no Japão tem suas dificuldades. Depois de re-
solver os problemas técnicos, para que o Brasil inteiro re-
ceba as imagens do que está acontecendo no Japão exata-
mente naquele instante, resta enfrentar um último obstá-
culo à ampla audiência: o sono dos telespectadores.
Se o jogo for ao meio-dia no Japão, aqui no Brasil será
meia-noite. A TV via satélite tornou corriqueiros esses even-
tos. Hoje, as crianças consideram natural que, precisamente
no mesmo instante, haja sol no Japão e seja noite no Brasil.
Durante séculos, ninguém imaginava muito bem
que o Sol pudesse ser visto em horários distintos nos
diferentes pontos do planeta. Há cerca de 1.700 anos,
o astrônomo Cláudio Ptolomeu explicava:
O Sol e a Lua e as outras estrelas não nascem e se põem
ao mesmo tempo para todo observador na Terra, mas
sempre mais cedo para aqueles que vivem mais perto do
Oriente e mais tarde para aqueles que vivem mais perto
do Ocidente. [] O mesmo ocorre com os eclipses [],
que ocorrem em horas mais tardias [] para observa-
dores que vivem mais perto do Ocidente []. E, desde
que as diferenças nas horas se descobre ser proporcio-
nal às distâncias entre os lugares, se poderia razoavel-
mente supor que a superfície da Terra é esférica.
Ptolomeu viveu no século 2
o
em Alexandria, cidade que
abrigava uma riquíssima biblioteca, famosa em todo o
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ASTRONOMIA:ASTRONOMIA:
ASTRONOMIA:ASTRONOMIA:
ASTRONOMIA:
DE DIA E DE NOITEDE DIA E DE NOITE
DE DIA E DE NOITEDE DIA E DE NOITE
DE DIA E DE NOITE
O produtor também consome oxigênio e alimen-
to. Mas, ao mesmo tempo, ele produz mais alimento
e oxigênio. Assim, ele se manterá vivo, produzindo a
glicose e o oxigênio de que necessita na respiração
celular como também o gás carbônico de que neces-
sita na fotossíntese.
Dependendo do tamanho do vidro lacrado, pode-
se colocar pequenos consumidores, que conseguirão
sobreviver em harmonia com os produtores, produ-
zindo mais gás carbônico, que será utilizado na
fotossíntese.
Assim, fica claro por que os consumidores depen-
dem dos produtores. Nosso planeta, afinal, é um gran-
de frasco lacrado, onde vivem produtores e também
consumidores.
Como vimos no caso dos dinossauros, podem
ocorrer perturbações nesse relacionamento harmôni-
co, que resultam em catástrofes. Algumas delas po-
dem ser naturais, como a queda de um enorme mete-
oro, ou muitas erupções de vulcão. Mas muitas delas
podem ser provocadas pelo próprio ser humano, prin-
cipalmente porque ele altera profundamente o am-
biente, colocando em risco a sobrevivência dos ou-
tros seres vivos.
Neste final de século e de milênio, a maioria das
pessoas está se convencendo de que o ser humano
também é um consumidor e, como tal, depende dos
outros seres vivos e não pode continuar a queimar,
inundar e poluir o ambiente sem ter que pagar pelas
conseqüências de suas ações
71
Astronomia: de dia e de noitePrograma 6
70
Ptolomeu acreditava que o ano representava o perío-
do que o Sol demorava para dar 365 voltas em torno da
Terra. Sabemos hoje que ocorre o inverso: a Terra leva
um ano para dar uma volta em torno do Sol.
O caminho da luz solar
Ptolomeu notou que, nos equinócios, a sombra do meio-
dia dos relógios de sol (a sombra mais curta) apontava
sempre para o norte. Por essa razão, imaginou que
Alexandria ficasse no hemisfério Norte. Imaginou ainda
que em cidades localizadas no hemisfério Sul (das quais
ele não tinha registros) o mesmo relógio de sol teria a
sombra mais curta do dia apontada para o sul.
Naquela época, quando pensar que a Terra é redonda
soava como loucura, Ptolomeu observou regularidades no
comportamento dos astros que sugeriam uma Terra esfé-
rica. Nós também podemos perceber essas regularidades:
observe como a luz solar penetra nos cômodos da casa de
forma diferente ao longo do dia e também ao longo do ano.
Na cidade de São Paulo, ao meio-dia do dia 21 de
dezembro, momento em que o Sol está em seu ponto
mais alto do céu, a luz solar direta não entra pelas jane-
las. Nesse exato momento, um poste na rua não tem
sombra alguma. É o chamado ‘sol a pino.
Nenhuma cidade ao sul de São Paulo passa por
essa situação, em nenhum dia do ano. Isso ocorre
porque o trópico de Capricórnio passa exatamente por
São Paulo. Os trópicos sinalizam os limites do plane-
ta onde há sol a pino pelo menos um dia no ano.
Há 4 mil anos, os babilônios perceberam que, no
início do verão, no hemisfério Sul, a primeira conste-
lação a aparecer no horizonte era a de Capricórnio e
no hemisfério Norte era a de Câncer. Assim, os trópi-
cos foram batizados com o nome dessas constelações.
Mas a altura do Sol no céu se modifica ao longo do
ano e é completamente diferente no início do inverno,
mundo antigo. Além de preservar milhares de rolos de
papiro, a biblioteca de Alexandria abrigava um centro
de estudos avançadíssimo e guardava os registros de
muitos séculos de observações astronômicas, oferecen-
do a Ptolomeu um valioso material de pesquisa.
As observações astronômicas registradas mostravam
certas regularidades, que continuaram a ser objeto de es-
tudo dos astrônomos ao longo dos séculos. Uma delas é
o fato de que o Sol nasce cada dia em um lugar ligeira-
mente diferente do ponto em que nasceu no dia anterior.
As mudanças de estação
No hemisfério Sul, onde vivemos, nos meses de junho a
dezembro, vemos o Sol nascer um pouco mais para o sul
a cada dia, até que, no dia 21 de dezembro, ele inverte
essa tendência. Esse dia, o mais longo do ano, com mais
de doze horas de Sol, marca o início do verão.
É o primeiro dia de um ciclo. A partir daí, o Sol vai
nascendo, dia a dia, um pouco mais afastado do sul. Seis
meses depois, no dia 21 de junho, temos a noite mais
longa do ano: o Sol passa de novo a nascer cada vez mais
em direção ao sul. Esse dia marca o início do inverno.
O Sol reinicia sua marcha rumo ao sul, nascendo
cada dia um pouco mais afastado do norte. Ao che-
garmos novamente ao dia mais longo, teremos com-
pletado um ciclo, ou seja, um ano.
Entre esses dois marcos – o dia mais longo e o dia
mais curto – temos duas datas em que o dia e a noite
têm aproximadamente a mesma duração: doze horas.
São os equinócios de primavera e de outono, que si-
nalizam os dias nos quais o Sol nasce exatamente no
leste e se põe exatamente no oeste, dias que marcam
o início da primavera e do outono.
As ruínas de antigos observatórios demonstram que as
mais antigas civilizações já estudavam os movimentos dos
astros e conheciam as regularidades astronômicas do ano.
Programa 6
72
ARTES
em 23 de junho. Ao meio-dia, as janelas que estão vol-
tadas para o norte deixam entrar raios solares.
Uma casa ensolarada no trópico de Capricórnio é um
bom observatório astronômico. Os quartos quentes pela
manhã estão voltados para o leste. À tarde se aquecem
aqueles voltados para o oeste. Os quartos quentes no in-
verno e frescos no verão têm janelas voltadas para o norte.
Os varais onde melhor se pode secar roupa estão esten-
didos na direção leste-oeste, na parte norte da casa. A parte
mais fria, úmida e escura da casa está voltada para o sul.
Se a janela do seu quarto estiver voltada para o sul
você ainda pode ter um consolo: seu quarto é mais frio e
escuro no inverno, mas sua janela é a única de onde se
pode enxergar à noite uma constelação que nem mesmo
Ptolomeu viu em toda sua vida: o Cruzeiro do Sul.
Programa 1
74
75
rofessor de música que dá aula para crianças não
pode ser só professor de música: ele tem de ser,
também, professor de som.
Acontece que o som, mesmo fora de uma música,
adquire significados expressivos para a criança; e é jus-
tamente aí que pode nascer a musicalidade, nesse con-
tato com o material da música, que são os sons. Desse
modo, a criança pode desenvolver seus primeiros con-
ceitos musicais e ir colecionando um repertório de sons
a ser utilizado em músicas, jogos e brincadeiras.
Não precisamos nos preocupar, no início, em trans-
formar esses sons em música, mas sim em proporcio-
nar à criança escutas significativas. Dar importância a
cada pequeno som significa, aqui, torná-lo um peque-
no objeto musical, tal qual fazemos com uma cor ou
com uma tinta, nas artes plásticas; e tal qual fazem as
crianças com objetos, transformando-os em persona-
gens, carrinhos etc., no jogo de faz-de-conta.
Se, mesmo rodeada por um rico ambiente sonoro, a
criança tiver uma escuta desatenta e passiva, o pro-
fessor pode propor a ela escutas atentas e ativas.
É preciso propor uma escuta atenta, voltada para as
características dos sons, para seus movimentos e sua
fonte, bem como para ver como eles se combinam. Uma
escuta ativa, no sentido de atuar sobre o som, procurá-
lo, buscá-lo nos ambientes, acordar os sons adormeci-
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A CRIANÇA E O SOM
77
A criança e o somPrograma 1
76
imitar e repetir;
pegar o objeto sônico (a coisa que fez o som, a
fonte sonora, o instrumento);
gravar;
repetir e gravar na memória;
com a expressão do corpo, do rosto, com gestos
e movimentos;
descrevendo, compreendendo, classificando;
com a mão, como o maestro (na verdade, com a
memória e a imaginação).
Uma idéia de um aluno pode servir como pretexto
para o professor inventar e propor outras, estimulan-
do sugestões de todos.
O próximo passo consiste em observar esses sons e a
maneira de cada criança ‘pegá-lo. E depois propor, – ou
estimular os alunos a sugerirem – maneiras de reunir os
sons que foram pegos: em músicas, histórias, narrativas,
teatro, experiências sonoras, jogos e brincadeiras.
Quanto vale um som?
Além de incentivar essa busca do som, o professor também
deve estar atento aos sons que a criança traz de casa e atuar
sobre eles: incentivando-a a dividi-los com os colegas (re-
petindo-os, mostrando-os, ensinando a reproduzi-los),
chamando sua atenção para as características desse som
(incentivá-la e ajudá-la a descrevê-los, discutir as caracte-
rísticas percebidas). O professor, é claro, deve ser o primei-
ro a trazer sons e a levar os alunos a procurá-los.
Certa vez, uma criança chegou à sala de aula e disse:
Pedro, eu tenho um som! Então, fazendo mistério, retirou
uma escova de sua bolsa, pediu o máximo de silêncio
a todos e começou a escovar, lentamente, os cabelos.
Todos estavam de olhos (e ouvidos) arregalados, escu-
dos, tocá-los, imitá-los, transformá-los, desenhá-los,
deixar que eles nos façam imaginar.
Procurando sons perdidos
Mas, como procurar sons? Como realizar essa escuta
ativa? A pergunta mais direta que se poderia fazer às
crianças, neste caso, seria:
Muito bem, a música é feita de sons; então, vamos
procurá-los. Mas, afinal de contas, como é que se pro-
cura um som? Ele não é invisível?
As crianças costumam dar respostas geniais a essa
pergunta, mas a mais comum é: Ouvindo, escutando.
Mas também dizem às vezes: Andando, ouvindo em
diferentes lugares, como na escola, em casa, no brejo,
numa fábrica, numa apresentação de música etc.
Também há quem explique: Lembrando dos sons,
procurando-os na memória. E ainda: Acordando sons
adormecidos, provocando sons.
A todas essas idéias, poderíamos acrescentar:
Construindo sons! Construindo, pois, instrumentos.
Muito bem, digamos que, procurando sons, en-
contramos vários. Mas, e agora? Como pegá-los, se
são invisíveis? Como levá-los para a sala de aula para
que todos possam compartilhar deles?
Quando o professor pergunta isso, recebe ótimas
respostas. Uma criança pequena talvez mostre as
mãos, como se estivesse segurando algo, e diga: Eu
peguei! Taqui, ó! Está preso! Vou soltá-lo… Você não
ouviu? Ele foi subindo…
Cada palpite precisa ser valorizado. Na sala de
aula, vale a pena até ir anotando na lousa as suges-
tões, para depois conversar a respeito de cada uma e
ouvir as diferentes opiniões. Veja algumas idéias in-
teressantes, que partiram de crianças:
pegar o som escrevendo, ou com desenhos (a
notação musical);
79
Programa 2
78
o que é feita a música? Antigamente, dizia-se que
a música era formada por sons agradáveis ao ou-
vido. Mas hoje podemos dizer que a música é for-
mada por quaisquer sons. Sons e silêncios.
Sim, silêncios, porque não há um só silêncio. Há
vários tipos de silêncio, assim como há vários tipos
de som. O segredo está em saber ouvi-los. Ouça ago-
ra. …… Ouviu? Foi um silêncio de reflexão, de pen-
samento, de inspiração: a busca da idéia.
Pense em outro silêncio, naquele que cerca a
música por todos os lados, no começo, no fim e em
volta dela. Cada som novo que entra na música é um
silêncio que se apaga; e cada som que se vai dá lugar
ao seu silêncio, pois cada som tem um silêncio único.
O silêncio é o duplo do som, isto é, seu companhei-
ro inseparável, que o completa. E, quando o som se vai
pela primeira vez, é um novo silêncio que nasce.
Mas, quando é que os sons, combinados aos si-
lêncios, produzem uma “música que agrade aos ou-
vidos”? Isso depende das referências de cada um: de
quem fez a música e de quem a escuta.
Do ponto de vista de quem escuta a música, isso vai
depender do gosto, do conceito e do preconceito que
cada um possui em relação à música, das imagens que
essa música propõe à imaginação, das lembranças boas
ou ruins que ela possa despertar e, é claro, depende tam-
bém do conhecimento musical de cada um.
Além da cultura musical que o aluno constrói em seu
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A CRIANÇA E A MÚSICAA CRIANÇA E A MÚSICA
A CRIANÇA E A MÚSICAA CRIANÇA E A MÚSICA
A CRIANÇA E A MÚSICA
tando a lenta e leve respiração do escovar. Quase
inaudível, quase silêncio – mímica: mínima música.
No dia seguinte, várias crianças trouxeram sons de
casa: eram tampas de panelas, folhas secas, instrumen-
tos ou pequenos objetos. Trouxeram também sons na
memória, que logo eram repetidos aos colegas: o irmão
de um escovando os dentes, o cachorro do outro latin-
do, a mãe chamando, o pai martelando… E, antes de
cada demonstração, pediam sempre o máximo silêncio.
Isso acabou virando mania, e logo essa brincadeira foi
batizada de Eu tenho um som. Todos os dias se repe-
tia, no início da aula.
Muitas vezes, a criança traz sons sem pensar. O profes-
sor deve estar atento e saber como reagir. Às vezes, irá sim-
plesmente observar e refletir; ou então, poderá pôr o som
em evidência para todos, no momento ou mais tarde.
Observando crianças brincando de Chapeuzinho
Vermelho, por exemplo, pude ver uma menina levan-
tar a mão para bater na porta da casa da Vovó’ – ha-
via uma porta real diante dela. Mas, em vez de bater
realmente na porta, ela fez com a voz: Toc! Toc! Toc!
Dá o que pensar, não? Por que motivo ela não
bateu simplesmente na porta? Por se tratar de um som
de faz-de-conta? Por ter aprendido aquela história
verbalmente? Tcham, tcham, tcham, tchaaammmm!
Esse valor que o professor dá a um som da criança,
que antes não tinha importância alguma, é ensinamento
vital. Valoriza o som, valoriza a produção sonora da cri-
ança e, ainda, valoriza o próprio valor, isto é, ensina a
criança a fazer o mesmo, a valorizar.
Foi exatamente isso o que vimos no caso da brin-
cadeira “Eu tenho um som, pois não foi à toa que a
menina trouxe o som e quis mostrá-lo, mas justamente
porque ela havia aprendido a valorizá-lo.
E tudo isso irá se refletir positivamente nos momen-
tos em que estiverem cantando, tocando ou escutando
uma música. Estarão atentos, ativos e dando valor.
81
A criança e a músicaPrograma 2
80
podem estar associados a uma pura e simples idéia
musical, despida de significados externos. Esse é o
ponto de vista de quem faz a música.
Se alguém teve a intenção de fazer uma música com
sons de folhas secas e assobio, isto pode fazer senti-
do (adquirir um significado) e pode ser considerado
música.
E ainda mais: se, por exemplo, ao ouvirmos os sons
de uma chuva, nós os percebemos como os de uma mú-
sica – com começo, meio e fim, com variações de intensi-
dade, com uma mensagem que nos toca, um sentido –,
podemos dizer que essa chuva era, para nós, uma música
– ou pelo menos se parecia com uma. Nesse caso, foi nossa
percepção que ordenou esses sons na forma de música: a
intenção também está no ouvir.
A organização dos sonsA organização dos sons
A organização dos sonsA organização dos sons
A organização dos sons
Bem, mas então qualquer ruído é música? Qualquer
borrão de tinta é arte?
Podemos talvez acrescentar que em cada intenção
deve haver algum tipo de organização. Essa organi-
zação, essa combinação de sons, pode ser desde uma
melodia ou ritmo, até uma aparente bagunça; não há
limites, a não ser que se ponha um.
Uma simples seqüência de sons pode, então, ser
considerada um tipo de música. Por exemplo: uma
criança de 8 anos fez uma música assim: um assobio
longo, cinco passos sobre folhas secas, e mais um
assobio longo.
Era uma minimúsica! Como um poema do tipo
hai-kai. Para a criança que a construiu, essa música
fez sentido; para as crianças que a ouviram, também:
elas imaginaram histórias, imagens soltas, paisagens,
ou simplesmente se deliciaram com os sons.
convívio com a família e com a comunidade, a escola e o
professor precisam enriquecer as referências musicais que
informam a escuta e a produção musical das crianças.
O gosto é relativo e subjetivo, isto é, depende do
contexto e das referências pessoais; mas as novas re-
ferências – juntamente com a experiência sonora e a
reflexão – irão transformar o gosto e formar o que
podemos chamar de conhecimento musical’.
É papel do professor trazer e apontar novas refe-
rências e ajudar os alunos a perceber as referências
que já estão diante de seus ouvidos.
Isso vai possibilitar ao aluno desenvolver a capa-
cidade de transformar qualquer ruído em um som
interessante; e esse novo som passará a fazer parte do
quadro de referências. O quadro de referências pode
ser, então, construído.
A intenção e o sentido
Bem, mas se não são só os sons que definem a músi-
ca, então o que é? Como vamos diferenciar uma mú-
sica de uma série de barulhos?
Podemos dizer que a diferença está na intenção
de fazer uma música. É essa intenção que faz com que
a música adquira algum significado, algum sentido.
Muitas vezes, o sentido precisa ser decifrado; em ou-
tras, ele precisa ser somente percebido, descoberto.
Essa intenção e esse sentido estão, em geral, re-
lacionados com o contexto em que a música foi pro-
duzida e com sua função social. Esse contexto vai
desde uma situação particular até as referências cul-
turais; e essa função vai desde o puro divertimento
até a expressão mais profunda e espiritual, ou até o
engajamento mais social e político.
No entanto, muitas vezes a intenção e o sentido
83
A criança e a músicaPrograma 2
82
Em outra ocasião, um aluno fez uma cantiga que
parecia desafinada’; mas, ao ouvi-la cantando aque-
la música sempre de forma idêntica, repetindo com
exatidão a mesma melodia várias vezes, pôde-se per-
ceber que não se tratava de uma desafinação, mas de
um tipo de melodia diferente, feita intencionalmente
daquela maneira.
Tal qual muitas músicas indígenas, por exemplo,
a cantiga da criança era organizada de maneira sin-
gular, parecendo desafinada aos nossos ouvidos, in-
formados e limitados por padrões culturais.
Então, talvez devêssemos chamá-la por outro nome,
em vez de cantiga, mas qual? E se não era uma cantiga,
então era o quê? Na verdade, é bem possível que não
haja um nome para esse tipo de música. Talvez, por isso
mesmo, a criança-autora a batizou de música cantalada,
isto é, meio cantada e meio falada.
Isso nos leva a pensar: Mas isso significa que são
infinitos os tipos de música? Sim, são infinitos; assim
como são infinitas as formas de fazer música. E isso é
ótimo, pois nos abre a perspectiva de criar e nomear,
isto é, construir e conceituar, fazer e refletir, elemen-
tos esses que movem o processo de aprendizagem.
Do ponto de vista do desenvolvimento da crian-
ça, a música assume muitas formas, dependendo da
idade e de tudo o que expusemos. O som, para ela,
pode ser como um brinquedo e a música, como uma
brincadeira ou um jogo, ou uma improvisação. Ou
então, o som pode ser uma personagem e a música
uma história a ser narrada com sons.
É importante que o professor observe e procure com-
preender que relação as crianças estabelecem com os
sons e com o fazer música; que ele procure perceber
o que é música para as crianças.
Referências sonoras
Ainda em relação às referências, é importante que as
crianças, assim como o professor, tenham acesso a
diferentes tipos de música, vindas de sua ou de ou-
tras regiões, de outras culturas e de outras épocas,
para que se possa:
conhecer e compreender outras formas de fazer
música;
conhecer e compreender outras culturas e épo-
cas;
ampliar e diversificar o repertório de músicas;
ampliar o conceito de música;
perder preconceitos, que levam a comentários
do tipo: Isso não é música;
comparar procedimentos.
Uma atividade valiosa consiste em promover um con-
tato direto dos alunos com músicas distintas. A esco-
la pode convidar músicos da região para apresentar
seus trabalhos, seus instrumentos e suas propostas
musicais (as intenções), ou levar as crianças até eles.
Com freqüência, hoje em dia, a música está
muito associada ao ‘objeto’ disco e a botões de liga-
desliga. Deve-se, portanto, possibilitar à criança
uma vivência, uma conversa com o músico, pois ela
necessita do contato com a música viva, com o fa-
zer música.
Conhecendo, assim, outros sons, outras culturas,
outras intenções, outras formas de organização dos
sons, a criança enriquece sua própria experiência de
fazer música.
85
A escola vai ao artistaPrograma 3
84
regiões vizinhas, que possam ser de interesse para o
aprendizado de seus alunos. Assim, ele deve procu-
rar conhecer os monumentos arquitetônicos, históri-
cos e artísticos, as casas de cultura onde ocorrem even-
tos culturais e artísticos, os ateliês ou as oficinas de
artistas da região, as bibliotecas e os museus de arte.
Depois de escolhido o lugar, é interessante reco-
lher, ou pedir aos alunos para que pesquisem, mate-
riais que possam contribuir para o conhecimento pré-
vio do local a visitar:
imagens (cartões, cartazes, vídeos, gravações em
áudio etc.) das obras e dos objetos que serão
vistos;
imagens e mapas do espaço cultural a ser visita-
do;
informações gerais a respeito do local ou do ar-
tista, e/ou dos produtos culturais que serão ob-
servados.
O material recolhido servirá de motivo para levantar
discussões preparatórias da visita, destacando alguns
aspectos centrais:
A diferença entre conhecer um objeto artístico
por meio de uma reprodução gráfica, slide, ou
vídeo e o contato direto com o trabalho, em um
ambiente de exposição – museu, galeria, ateliê
de artista, praça pública etc.
As razões pelas quais uma obra é preservada e
exposta, ou um acervo é formado. Os alunos
devem ser instigados a investigar a função da
preservação dos ambientes culturais e o traba-
lho envolvido em sua manutenção. Podem por
exemplo pesquisar, na região da escola, a exis-
tência de algum museu particular, ou de algum
bairro tombado pelo Patrimônio Histórico; de-
pois disso, poderão fazer entrevistas no local,
o visitar museus e outros ambientes de produ-
ção, exposição, preservação e documentação de
arte e cultura em geral, o aluno se apropria de
produtos culturais e artísticos e pode se conscientizar
não só da existência de uma produção social concre-
ta, mas também da história dessa produção.
A criação dos produtos culturais e artísticos e sua
história não podem estar desvinculadas da prática em
sala de aula e dos diferentes contextos de produção
de arte.
Freqüentar ambientes de produção, exposição, docu-
mentação, preservação e formação dos acervos de obje-
tos culturais – museus, galerias de arte, oficinas de pro-
dutores de arte, bibliotecas, midiatecas e videotecas – e
sistematizar essa experiência são atividades que contri-
buem para que o aluno aprenda a valorizar essas insti-
tuições. Possibilita igualmente a aquisição de conheci-
mentos e desperta o interesse pela preservação da pró-
pria cultura e das demais.
O trabalho de organizar, desenvolver e avaliar uma
visita dos alunos a diferentes ambientes culturais pode ser
descrito em três etapas: antes, durante e após a visita.
Antes da visita
Como ponto de partida, é importante que o profes-
sor faça um levantamento das alternativas existentes
na própria cidade ou no próprio bairro, e também em
AA
AA
A
A ESCOLA VAI AO ARTISTA
87
A escola vai ao artistaPrograma 3
86
Em que uma reprodução se diferencia da obra
original?
No caso dos instrumentos e materiais, os alunos po-
dem por exemplo, em uma visita ao ateliê de um
aquarelista, conhecer quais pincéis são utilizados, se
variam de tamanho, por que devem ter muitos pêlos,
quais os tipos de pêlo (animais ou sintéticos), qual o
papel mais adequado para essa técnica e qual o pa-
pel que o artista prefere, ou como o artista organiza
seu material de trabalho. De acordo com a especiali-
dade do artista ou do espaço visitado haverá uma li-
nha de questões que podem ser levantadas.
No caso da diferença entre a obra original e a
reprodução vista em sala de aula, muitos aspectos
podem ser abordados: o tamanho original da obra,
as cores na obra original e na reprodução (que
variam de acordo com a revelação fotográfica, a
impressão no livro ou na xerox), texturas que não
são perceptíveis em reproduções de baixa qualida-
de ou muito reduzidas, suportes utilizados nas di-
ferentes linguagens, a diferença entre a foto de um
pote e um pote original, a matriz dos diferentes ti-
pos de gravura (xilogravura, metal e litogravura) e
assim por diante.
O professor também pode pedir para os alunos
realizarem registros que apenas são possíveis no con-
fronto com a produção original, contribuindo para
que compreendam, entre outras coisas, a singularida-
de da obra. O registro pode ser feito sob a forma de
desenhos, ou de textos comentando por exemplo o
uso das cores, as texturas, as formas e os materiais
utilizados pelo artista, o tamanho da obra etc.
Um dos aspectos a ser explorado pelo professor é
a maneira pela qual estão organizadas as obras ex-
postas. Em um museu, uma casa de cultura, uma bi-
blioteca, ou mesmo um ateliê de artista, a organiza-
ção dos objetos não é casual, mas intencionalmente
para descobrir por que aqueles objetos ou mo-
numentos foram selecionados, e como são pre-
servados.
O local a ser visitado, sua história e seu signifi-
cado para a comunidade; a importância do ar-
tista ou dos artistas que serão estudados. Os alu-
nos devem ter o máximo possível de informa-
ções a respeito das obras que irão conhecer.
O professor precisa estimular a discussão entre os
alunos, ouvindo o que têm a dizer a respeito dos con-
teúdos abordados (necessidade social da formação e
da preservação dos acervos, acesso a documentação,
acesso a obras de arte e a artistas etc.). É importante
também que contribua para o debate, levantando
questões que instiguem o aluno a expressar suas opi-
niões e a justificá-las através de argumentação, refle-
tindo e compartilhando essa reflexão com o grupo.
A visita
Por ocasião da visita, os alunos entrarão em contato
direto com as obras estudadas anteriormente em sala
de aula e poderão perceber que tipo de profissional
e de trabalho aparece no ambiente cultural observa-
do, estabelecendo comparações desse contexto com
o de outros espaços culturais.
Por exemplo, em uma visita a uma exposição de
arte, é interessante que os alunos possam comparar
as obras que estudaram em sala de aula com as re-
produções que examinaram, discutindo livremente:
Há diferenças? Em quê? Por quê? Como? Sua expecta-
tiva em relação à obra foi ou não correspondida?
Em qualquer roteiro de visita, vale a pena anali-
sar, pesquisar e discutir dois pontos importantes:
Quais os materiais e os instrumentos utilizados
pelo artista? E de que forma ele os usa?
89
A escola vai ao artistaPrograma 3
88
pinturas e esculturas relacionados à produção
visitada e discutida.
Os trabalhos produzidos pelos alunos na ofi-
cina da escola podem servir para que se or-
ganize uma exposição reproduzindo situações
do ambiente cultural visitado, empreendimen-
to no qual os alunos podem exercitar papéis
específicos: uma pessoa é a organizadora, há
um setor de montagem da exposição, um se-
tor educativo etc. A exposição pode ser de tra-
balhos (de Artes ou de outra área) produzidos
pelas crianças, ou pode tratar de objetos his-
tóricos que elas possuam, ou de coleções que
tenham formado. Os alunos podem reorgani-
zar a biblioteca existente ou coletar livros e
organizar uma nova biblioteca.
Bibliografia
Parâmetros Curriculares Nacionais (Arte). Brasília, Mi-
nistério da Educação e do Desporto – Secretaria
do Ensino Fundamental, 1997.
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte. São
Paulo, Perspectiva, 1993.
ARGAN, G.C. Arte e crítica de arte. Lisboa, Estampa,
1988.
planejada pelo organizador. A maneira pela qual as
obras estão exibidas pode mesmo influir em sua com-
preensão, devido às relações estabelecidas com ou-
tros objetos também expostos.
Depois da visita
No retorno à sala de aula, é hora de retomar as ques-
tões suscitadas: as diferenças entre as reproduções e
os trabalhos originais; as novas relações que os ob-
jetos estudados adquirem no contexto da exposição,
ou quando aparecem junto com outros objetos; o tra-
balho humano envolvido na vida do ambiente visita-
do – museu, casa de cultura, biblioteca ou ateliê de
artista ou artesão; as funções desses espaços e sua
importância para a comunidade.
Nessa etapa, outros estímulos podem trazer no-
vas questões capazes de enriquecer a discussão a res-
peito do assunto, como por exemplo:
Os alunos podem entrevistar um profissional de
um dos ambientes visitados: o artista do ateliê,
o segurança do museu, um pesquisador da casa
de cultura. Cada um pode fornecer uma visão
diferente daquela do visitante.
Um artista, ou um artesão, que tenha alguma
obra em exibição na mostra de arte ou artesa-
nato visitada pode ser entrevistado, preferencial-
mente em seu ateliê. Ele poderá expor suas opi-
niões a respeito da exposição, que nem sempre
estarão de acordo com as de quem é responsá-
vel por ela.
Registro (individual ou em grupo) de todo o
processo: confecção de um livro, um jornal, um
vídeo ou uma exposição, tratando de um ou
mais aspectos da visita.
Produção crítica dos alunos – textos, desenhos,
91
O artista vai à escolaPrograma 4
90
modelagem, gravura, escultura, fotografia, vídeo,
história em quadrinhos ou uma instalação. Cada
artista que trabalhe com uma ou mais dessas lin-
guagens pode acrescentar distintas informações,
dependendo do encaminhamento dado ao encon-
tro.
O professor precisa ajudar a preparar o encontro,
orientando a pesquisa em torno do trabalho do artis-
ta, para as crianças aproveitarem melhor o contato.
Essa é também uma oportunidade para que os alu-
nos aprendam a investigar e a articular as informa-
ções e os novos conhecimentos a respeito da produ-
ção artística de sua época.
O papel desse tipo de projeto não se resume a
conhecer o artista e seu trabalho, mas também entrar
em contato com questões relacionadas ao processo de
elaboração de uma obra: escolha de materiais, temas,
suportes, técnicas etc.
Ao propiciar um encontro dos alunos com um pro-
dutor de arte, o professor está criando uma situação
de aprendizagem na qual os alunos podem ter con-
tato direto com quem faz arte.
O encontro com o artista favorece uma aprendi-
zagem significativa na medida em que os novos con-
teúdos pesquisados se relacionarem a conhecimen-
tos já adquiridos anteriormente pelos alunos. O pro-
fessor deve estar atento para estabelecer o máximo de
vínculo entre tais conteúdos.
Por outro lado, essa situação permite que os alu-
nos percebam como a arte está próxima de sua reali-
dade. Nesse sentido, permite ao aluno refletir a res-
peito de questões relativas à arte, “possibilitando que
a aprendizagem se realize através das estratégias pes-
soais de cada aluno” pois, de acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais:
ensino de arte na escola favorece o desenvolvi-
mento global do aluno, na medida em que per-
mite investigar, apreciar e fazer arte. O profes-
sor tem papel fundamental nas situações de aprendi-
zagem, pois é ele quem as articula, elabora, organiza
e põe em prática.
Aprender arte é desenvolver progressivamente um
percurso de criação pessoal cultivado, ou seja, alimen-
tado pelas interações significativas que o aluno reali-
za com aqueles que trazem informações pertinentes
para o processo de aprendizagem (outros alunos, pro-
fessores, artistas, especialistas), com fontes de infor-
mação (obras, trabalhos dos colegas, acervos, repro-
duções, mostras, apresentações) e com o seu próprio
percurso de criador.
(Parâmetros Curriculares Nacionais  Arte)
O professor pode escolher um artista local (pintor,
escultor, produtor de potes, tecelão, gravador,
bonequeiro, bordadeira, alegorista etc.), um produtor
de arte que seja acessível aos alunos, do ponto de
vista geográfico. Pode ser um artista cuja obra é co-
nhecida e apreciada apenas pela comunidade ou um
outro, famoso internacionalmente.
As crianças poderão fazer perguntas e conhe-
cer sob um novo prisma alguns aspectos de diver-
sas manifestações artísticas – desenho, pintura,
OO
OO
O
O ARO AR
O ARO AR
O AR
TISTTIST
TISTTIST
TIST
A VA V
A VA V
A V
AI À ESCOLAAI À ESCOLA
AI À ESCOLAAI À ESCOLA
AI À ESCOLA
93
O artista vai à escolaPrograma 4
92
imagens e fazendo perguntas. Uma boa idéia consis-
te em ir registrando as questões levantadas pela clas-
se, para retomá-las ao longo do trabalho.
3
a
etapa
O trabalho em sala de aula. Os alunos planejam o tra-
balho, individualmente ou em grupo, e pesquisam
novas informações. Nessa etapa o professor pode, por
exemplo, sugerir um trabalho com a mesma técnica
adotada pelo artista, ou com temas que ele costuma
desenvolver. Para isso, ele precisa levar aos alunos
informações acerca das características do trabalho do
artista. É importante introduzir essa proposta em roda
de conversa com a classe, para que todos participem
e dêem sugestões.
Durante todo o tempo de desenvolvimento desse
projeto, o professor funciona como ponte entre a pro-
dução do grupo e a produção do artista, levantando
questões, analisando resultados, relacionando for-
mas, cores, texturas, temas e técnicas.
Ao valorizar a produção da criança e relacionar
seu trabalho com o do artista, discutindo por exem-
plo as dificuldades e as facilidades para desenvolver
uma idéia, os resultados obtidos com um material,
suas diferentes formas de utilização e a rotina do tra-
balho em arte, o professor aproxima os alunos da
vivência dos produtores de arte.
4
a
etapa
O encontro com o artista. Após explorar bem o assun-
to em sala de aula, o professor tem condições de ela-
borar um roteiro com o grupo para preparar o encon-
tro. Os próprios alunos irão relacionar tudo que que-
rem saber e organizar um questionário para entrevis-
tar o artista.
É através do convívio com o universo da arte que os alu-
nos podem conhecer o fazer artístico como experiência
poética, como desenvolvimento de potencialidades (per-
cepção, reflexão, sensibilidade, imaginação, intuição, cu-
riosidade e flexibilidade).
Etapas do projetoEtapas do projeto
Etapas do projetoEtapas do projeto
Etapas do projeto
1
a
etapa
O professor faz uma pesquisa e escolhe um artista.
Como ponto de partida, é interessante que o profes-
sor escolha o artista e entre em contato com ele. No
encontro inicial, o professor pode conhecer o ateliê
ou local de trabalho do artista, conversar com ele e
explicar a proposta de trabalho com os alunos.
Convém que o próprio professor recolha informa-
ções básicas – dados biográficos, reproduções foto-
gráficas das obras, fotos do artista em diferentes épo-
cas e artigos publicados em jornais e revistas a seu
respeito. Se possível, uma boa idéia consiste em or-
ganizar, em conjunto com o artista, o trabalho que será
desenvolvido com os alunos durante a visita, sob
orientação do próprio artista – o workshop.
2
a
etapa
Apresentação de informações sobre o artista e sua
obra. O professor pode organizar uma seqüência de
informações e situações preparatórias para trabalhar
com sua classe. Fotos, reproduções de obras, imagens,
além de informações básicas sobre o artista escolhi-
do (nome, idade, naturalidade) são essenciais para o
início do trabalho.
Com esses materiais em mãos, o professor tem
como instigar a curiosidade dos alunos e despertar
neles a vontade de conhecer o artista e sua obra. As
crianças precisam participar ativamente, analisando as
95
O artista vai à escolaPrograma 4
94
Após o encontro, os alunos podem fazer também
um registro escrito, documentando os pontos princi-
pais dessa etapa de trabalho. Esses registros serão
úteis posteriormente, na etapa de documentação.
5
a
etapa
Documentação do trabalho. Nessa etapa final, o pro-
fessor orienta a documentação do trabalho. Os alunos
podem desenvolver um produto que sintetize o tra-
balho, registrando todo o processo e os resultados
obtidos. O meio utilizado pode ser um jornal, uma
exposição, um vídeo, um painel ou um mural, conten-
do a entrevista, fotos, imagens, relatos do encontro e
reprodução dos trabalhos que os alunos realizaram
em sala de aula ou durante o encontro.
Para isso, tudo que for produzido durante o pro-
cesso deve ser arquivado e documentado. Os regis-
tros do professor, os registros dos alunos em escrita
e desenho e algum material cedido pelo artista são
documentos importantes nessa etapa final. O profes-
sor pode ajudar os alunos a organizá-los, discutindo
os critérios que sintetizam melhor o trabalho.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacio-
nais, ao analisar os trabalhos dos alunos junto com
eles, o professor favorece a aprendizagem a partir da
análise em grupo, na apreciação que cada aluno faz
por si de seu trabalho com relação aos demais, de-
senvolvendo nos alunos um percurso criador alimen-
tado pelas trocas de informação com os colegas, o
professor e o artista.
Se o grupo for muito grande e as perguntas muito
numerosas, o professor pode orientar os alunos para
que selecionem as questões, organizando-as por tema
ou assunto. Por exemplo: algumas questões sobre a
infância, algumas questões sobre suas obras, outras
sobre a rotina de trabalho etc.
Encontro com o artistaEncontro com o artista
Encontro com o artistaEncontro com o artista
Encontro com o artista
Basicamente, há três alternativas para preparar e pro-
mover o contato com o artista:
1. O artista vai à escola, para o primeiro encontro com
o grupo. Conhece o espaço de trabalho dos alunos
e observa o que estão desenvolvendo, trocando
experiências. Em outro dia, os alunos visitam o ate-
liê do artista, conhecem os materiais que ele utili-
za, fazem a entrevista, realizam uma atividade com
o artista e conhecem as obras originais.
2. Os alunos vão visitar o espaço de trabalho do ar-
tista e ficam conhecendo as obras originais. Fazem
a entrevista, trocam experiências, conhecem os
materiais que ele utiliza e realizam uma atividade
com o artista
3. O artista vai à escola, conhece o espaço de traba-
lho dos alunos e leva uma ou mais obras originais
para as crianças conhecerem. Conversam, trocam
experiências, os alunos fazem a entrevista e reali-
zam uma atividade com o artista.
Nos três exemplos acima, o professor mostra aos alu-
nos a importância de estar frente a frente com a obra
de arte original, chamando a atenção das crianças
para o tamanho real do trabalho, as cores e as textu-
ras, destacando também as diferenças em relação às
fotos e reproduções já conhecidas. Além disso, é im-
portante documentar o encontro com fotos, gravação
ou registro escrito.