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MATEMÁTICA 1
PCN NA ESCOLA
C A D E R N O S D A
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
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Livros Grátis
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A Geometria, as crianças e a realidade
Antônio José Lopes Bigode
As crianças, seus espaços e suas ações
Antônio José Lopes Bigode
Por que as coisas são como são?
Antônio José Lopes Bigode
A vida numérica na sala de aula
Simone Pannocchia Tahan
Sistema de numeração
Jorgina de Fátima Pereira de Deus
e Simone Panocchia Tahan
É de ‘mais’ ou de ‘menos’?
Mírian Louise Sequerra
Inventando estratégias de cálculo
Mírian Louise Sequerra
Desarmando as contas
Mírian Louise Sequerra
SUMÁRIO
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32
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Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação e do Desporto
Paulo Renato Souza
Secretário de Educação a Distância
Pedro Paulo Poppovic
Secretária de Educação Fundamental
Iara Glória Areias Prado
Secretaria de Educação a Distância
Cadernos da TV Escola
Diretor de Produção e Divulgação
José Roberto Neffa Sadek
Coordenação Geral
Vera Maria Arantes
Edição
Elzira Arantes (texto) e Alex Furini (arte)
Ilustrações
Gisele Bruhns Libutti
Consultoria
Cláudia Aratangy e Cristina Pereira
©1998 Secretaria de Educação a Distância/MEC
Tiragem : 110 mil exemplares
Este caderno complementa as séries da programação da TV Escola
PCN na Escola -
Matemática 1
Informações:
Ministério da Educação e do Desporto
Secretaria de Educação a Distância
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo I, sala 325 CEP 70047-900
Caixa Postal 9659 – CEP 70001-970 – Brasília/DF - Fax: (061) 321.1178
Internet: http://www.mec.gov.br/seed/tvescola
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Cadernos da TV Escola: PCN na Escola/Coordenação Geral Vera Maria
Arantes. - Brasília: Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de
Educação a Distância, Secretaria de Educação Fundamental, ©1998.
64p. : .il.
Conteúdo: Matemática 1
1-Matemática. 2-Desenvolvimento do cálculo. 3-Geometria. 4-Conceito
matemático. 5-Aritmética. I- Título
CDU 373.3:51
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Programa 1
esde a Pré-história, os homens observaram a
regularidade de certas formas geométricas, no
mundo a seu redor, e aprenderam a utilizar essa
regularidade em benefício próprio.
O ser humano é um ser visual e nossos olhos são
a principal porta de entrada para o desenvolvimento
de idéias geométricas.
Neste final de século, as imagens estão presentes de
forma intensa em tudo que nos cerca: outdoors, revis-
tas, jornais, TV, cinema, cartazes, placas de sinalização,
fotos, computadores etc. Já tinha reparado nisso?
Os primeiros passos para a aprendizagem da Geome-
tria, um conhecimento essencialmente visual, devem
privilegiar o que se apreende com os olhos e com as
mãos. Não com os ouvidos.
Houve um tempo em que se acreditava que, para
aprender os conceitos geométricos, as crianças precisa-
vam prestar muita atenção às definições explicadas pe-
los professores e decorar cada formulação.
Mas, pense bem. Se você explicar para seus alunos e
mandá-los copiar no caderno: Um polígono convexo é
aquele cujo perímetro não pode ser encontrado em mais de
dois pontos por uma secante. Você acha que eles entende-
rão o que é um polígono convexo?
Não, é claro que não. Ninguém vai aprender o que
é um polígono convexo ouvindo ou lendo um texto
DD
DD
D
A GEOMETRIA,
AS CRIANÇAS E A REALIDADE
Programa 1
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7
A Geometria, as crianças e a realidade
desses, que mais parece uma bula de remédio.
Entretanto, era assim que se ensinava Geometria
há cinqüenta anos. Felizmente, os estudos modernos
trouxeram idéias importantes para entender a manei-
ra pela qual as crianças aprendem. E isso mudou o
ensino de Geometria.
Ao entrar na escola, as crianças já sabem muitas coi-
sas de Geometria.
Talvez você esteja se perguntando: Mas, o que tudo
isso tem a ver com meus alunos e com minhas aulas?
Para responder, vamos ‘fazer de conta. Pense em
um aluno imaginário, que talvez não seja tão imagi-
nário assim. Vamos chamá-lo de Juca.
Nosso Juca adora jogar futebol. No jogo, ele corre, se des-
loca para a frente, para trás e para os lados; se orienta para
fugir da marcação; procura não deixar a bola passar da li-
nha lateral; reconhece as fronteiras do campo; dá chutes
em diagonal para o vizinho à esquerda; sabe que, para
marcar o gol, precisa colocar a bola dentro daquele retân-
gulo que todo mundo chama de trave; corre em direção à
meta e chuta no canto direito do goleiro; depois do gol, ele
coloca a bola embaixo do braço e corre em direção ao
círculo central no meio do campo.
Vamos parar um pouco e analisar o que ele fez:
deslocamento para a frente, para trás, para os lados,
orientação, direção, linha lateral, diagonal, vizinhan-
ça, esquerda, direita, dentro, fora, retângulo, círculo,
meio do campo. Quanta Geometria junto!
Diante de todo esse conhecimento geométrico do
Juca e de outras crianças, só cabe recomendar aos
professores muita atenção, para reconhecer e explo-
rar as situações da vida real, que podem contribuir
muito para a aprendizagem.
E que outras coisas faz nosso Juca?
Juca brinca de pega-pega, faz pipa e aviãozinho, constrói
caminhõezinhos de papelão, ajuda seu irmão na construção
de um carrinho de rolimã, xereta o trabalho do pai na oficina,
e, com brinquedos estruturados, de montar, constrói coisas
que ele copia do manual de instruções e outras que inventa.
Vamos analisar novamente: o Juca constrói coisas,
imagina objetos tridimensionais na cabeça e os mon-
ta, constrói pipas que são formas geométricas bem
conhecidas, tem consciência das diagonais da pipa,
mesmo sem saber formalmente o que é uma
diagonal. Enquanto constrói aviõezinhos, faz
dobraduras relacionadas à simetria da construção.
Taí. O Juca sabe muitas coisas de natureza geométri-
ca, tem muitas habilidades de natureza geométrica. É
fácil imaginar que ele seja igualzinho a seus alunos.
Ele não vai aprender melhor Geometria se a es-
cola desprezar as coisas que ele já sabe e já faz. Ele
não vai aprender Geometria significativa só por ou-
vir uma definição de hexágono, diagonal ou outra
qualquer. É por isso que, como dissemos, não se
aprende Geometria com os ouvidos.
As crianças aprendem Geometria observando e fazen-
do coisas cujo significado compreendem.
Talvez você esteja de novo se perguntando: Como
ensinar Geometria levando tudo isso em conta?
Não é difícil. O papel do professor é promover situa-
ções que levem os alunos a expressar tudo isso que eles
já sabem (sem nunca ter pensado nisso), conversar a
respeito e fazer coisas de natureza geométrica.
O professor ajuda a criança a organizar os conhe-
cimentos que ela já tem para ampliá-los, refiná-los e
avançar para novos conceitos, mais complexos.
Uma criança em idade escolar não precisa que os
adultos lhe digam o que é um ponto, uma reta ou um
círculo. Ela já absorveu essas idéias de algum modo. O
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Programa 2
estudo da Geometria contribui para o relaci-
onamento com o mundo da natureza, dos
objetos e mecanismos, da arquitetura, das
artes e até com o mundo da imaginação.
Para melhor organizar as atividades de Geome-
tria no ensino primário devemos ter em conta os
diversos contextos em que esse conhecimento
pode ser explorado, considerando os tipos de es-
paço em que as crianças transitam.
Os espaços da criança
O espaço em que vivemos varia em natureza e em
tamanho. Quanto ao tamanho, é possível distinguir
ao menos dois tipos de espaço.
Em primeiro lugar, há o espaço que está ao al-
cance das mãos, que engloba todas as coisas que
a criança pode pegar: materiais escolares, frutas,
flores, objetos de higiene, brinquedos etc. Trata-se
do espaço em que é possível manipular os obje-
tos, colocá-los em uma caixa de papelão ou sobre
uma mesa. Nesse espaço, as crianças podem ex-
plorar tarefas geométricas como montar, desmon-
tar, construir, compor, decompor ou desenhar es-
ses objetos em tamanho natural.
Mas há um outro espaço, mais amplo, alcançado
pelo olhar ou em desenhos e fotos; neste, as crianças
podem se movimentar, se orientar, se localizar, ou, sim-
OO
OO
O
AS CRIANÇAS,
SEUS ESPAÇOS E SUAS AÇÕES
trabalho do professor será explorar essas idéias, relacio-
nando-as com o dia-a-dia, com situações desafiadoras
que contribuam para promover novas descobertas.
A Geometria pode, e deve, ser explorada a partir
de situações simples do mundo da criança.
Um bom exemplo de atividade de natureza geo-
métrica para explorar na escola são os desafios e que-
bra-cabeças publicados nas revistas infantis e em su-
plementos de jornais, como por exemplo: labirintos,
ligue pontos, jogos dos sete erros e outros.
A importância dos jogos
Resolver um ligue pontos, ou um labirinto, desenvolve
habilidades de percepção e coordenação visomotora.
O jogo dos sete erros desenvolve a discriminação
visual, bem como o reconhecimento de atributos,
semelhanças e diferenças.
Na busca de qual é a parte que se encaixa em ou-
tra, as crianças precisam explorar a percepção figu-
ra-fundo e se ater a regularidades e particularida-
des dos objetos e das formas.
Ao pintar figuras que estão na mesma posição, as crian-
ças desenvolvem sua percepção da posição no espaço.
Uma atividade como ‘quem está vendo o quê’ ex-
plora e desenvolve a orientação espacial.
Com atividades desse tipo se torna possível uma
aprendizagem significativa. No mundo atual, com a im-
portância da imagem, não há mais lugar para aqueles
cursos centrados na memorização de nomes, proprieda-
des ou teoremas, como se fazia há cinqüenta anos.
A Geometria que se pretende ensinar deve estar
sintonizada com a realidade das crianças deste nosso
tempo. Crianças que pulam, correm, vêem, rabiscam,
desenham, cortam, colam, montam e desmontam,
imaginam e inventam.
Programa 2
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11
As crianças, seus espaços e suas ações
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Xii! Minha caixa desmontou! gritou Martinha, um
pouco assustada.
A professora, que planejara justamente explorar a
planificação das caixas, não perdeu a deixa: propôs
que todos desmontassem as caixas, sem rasgá-las.
Após observarem as caixas planificadas e falarem
a respeito de suas características, a professora suge-
riu: copiar em cartolina, recortar, dobrar e por fim
construir novas caixas.
Na aula seguinte, as crianças exploraram as faces
das caixas de creme dental, usando-as como molde
para contornar, ou ‘carimbar’, obtendo assim as dife-
rentes vistas de uma caixa:
A partir daquela aula, os alunos estavam aptos
a montar e desmontar caixas em forma de bloco re-
tangular, incluindo o cubo, que estudaram de vários
modos, como por exemplo:
plesmente, imaginar. É o espaço das coisas bem maiores
que um ser humano, como o edifício da escola, ou as pai-
sagens da natureza. Você não pode pedir ao aluno para
pegar ou transformar tais coisas, como um avião em ta-
manho natural. Mas ele pode representar o que vê.
Considerando as diferenças entre esses dois espaços
e as possibilidades de exploração de cada um, você pode
organizar atividades em torno das ações que estão ao al-
cance das crianças em cada caso.
As crianças aprendem Geometria
observando
A professora Cláudia propôs a construção de uma
maquete da cidade do futuro. Combinou com os alu-
nos e, durante uma semana, eles recolheram emba-
lagens de diferentes formatos. A aula seguinte come-
çou com uma conversa a respeito do material coleta-
do. Em grupos, as crianças organizaram as caixas de
acordo com algum critério estabelecido em conjunto:
caixas pequenas, médias e grandes; caixas que rolam
e que não rolam; caixas em forma de bloco retangu-
lar e assim por diante.
A professora deu um tempo para os alunos ob-
servarem as caixas, manipulá-las e conversarem a
respeito delas. Em seguida, orientou a exploração
de caixas de creme dental. Em duplas, os alunos
discutiram e registraram o que iam descobrindo:
É comprida, disse Wanderléia.
Este lado é igual a este outro, mostrou Leno a sua
colega Lilian, referindo-se ao fato de as faces opos-
tas serem iguais.
Tem oito bicos, afirmou Roberto a seu colega
Erasmo, com os dedinhos sobre os vértices.
E seis lados, complementou Erasmo, referindo-se
às faces.
manipulando representando
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Planta
baixa
Vista frontal Vista lateral
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dentalCreme dental
Creme dental
Programa 2
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As crianças, seus espaços e suas ações
Depois de identificadas as planificações do cubo,
a professora solicitou que as crianças pintassem da
mesma cor os quadradinhos que, no cubo montado,
correspondem a faces paralelas.
Essa é uma atividade que desenvolve o pensamen-
to visual, pois as crianças precisam identificar as fa-
ces paralelas só imaginando, sem montar o cubo.
Com as caixas que fabricaram, cada grupo construiu
uma maquete da cidade do futuro, com ruas e edifícios.
Um dos grupos montou uma cidade espelhada,
isto é, cada lado de uma rua era igualzinho ao que
estava em frente. Após construir a maquete, desenha-
ram o mapa da cidade do futuro’ e a planta baixa das
construções.
O que aprenderam com
a ‘cidade do futuro’
A atividade, que tinha como meta explícita construir
uma maquete, envolveu uma diversidade de concei-
tos e habilidades:
Ao discutir as características das caixas, as crianças
estavam classificando, reconhecendo atributos, se-
melhanças e diferenças.
A exploração das caixas possibilitou a percepção de
relações e o enriquecimento do vocabulário: blocos
retangulares, vértices, faces, vistas, faces paralelas,
faces perpendiculares.
O trabalho com a planificação e as vistas ajudou a
desenvolver a visualização e a reconhecer represen-
tações diferentes de um mesmo objeto: planifica-
ção, vistas, projeções.
A construção de cubos e blocos retangulares a par-
tir da planificação constitui uma ferramenta impor-
tante para montar objetos.
A construção da cidade em si mobilizou uma diver-
sidade de destrezas, além da imaginação e do sen-
so estético de cada aluno.
A construção da planta baixa contribuiu para apren-
derem a ler mapas, esquemas e outras formas de
representação plana.
Quem diria, hem? E pensar que, à primeira vista,
as crianças apenas brincaram’ com caixinhas.
Em outro dia, a professora Cláudia organizou com
a classe uma festa para dois aniversariantes. Decidi-
ram que haveria bolo, refrigerantes e bandeirinhas
para enfeitar. Como fazer as bandeirinhas? Todos de-
ram palpites, desenhando na lousa o formato das
bandeirinhas favoritas. E escolheram dois tipos de
bandeirinha.
Qual destas figuras não representa um cubo desmontado?
azul
vermelho
lilás
Programa 2
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As crianças, seus espaços e suas ações
Quando acharam a solução, Cláudia pôde explo-
rar com sua turma a idéia da simetria das figuras ge-
ométricas. A marca da dobra das bandeirinhas coin-
cide com o eixo de simetria.
Com as bandeirinhas prontas, a próxima tarefa
consistiu em desenhar no caderno faixas coloridas,
com padrões geométricos regulares, associando com
os pentágonos das bandeirinhas.
O que as bandeirinhas ensinaram?
A exploração de formas diversas, sem se preocupar
com as figuras regulares, é muito importante para
que as crianças centrem sua atenção nas proprie-
dades das figuras. Muitas vezes não pensamos nas
bandeirinhas como tendo a forma de um
pentágono, porque estamos acostumados a só re-
conhecer o pentágono regular.
Outra forma de explorar a idéia de simetria é fazer
dobras e recortes, produzindo aquelas toalhinhas
de papel que mais parecem bordados.
A exploração e a construção de faixas com motivos
como frisas, linhas gregas, ondas ou barras possi-
bilita que as crianças percebam e apreciem padrões
regulares.
As crianças aprendem Geometria
transformando
Gilberto observou que os dois tipos de bandeiri-
nha tinham cinco lados: com isso, ele estava reconhe-
cendo a característica dos pentágonos, embora não
soubesse o que é um pentágono.
E Caetano completou: Esta aqui tem uma ponta pra
fora e esta outra tem uma ponta pra dentro [estava des-
cobrindo as características dos polígonos convexos e
não-convexos].
A professora distribuiu papel e tesoura para recor-
tarem as bandeirinhas. Cada grupo escolheu o modelo
que faria e dividiu as tarefas. Maria Betânia recortou
as bandeirinhas com pontas para fora. Daniela recor-
tou as que têm pontas para dentro.
Veja, encaixa..., apontou Maria, juntando sua ban-
deirinha com a de Daniela. E teve uma idéia: Acho que
dá para recortar as duas de uma vez só.
Daniela foi experimentando e logo completou: E
só com duas tesouradas!
A professora, sempre atenta ao que os alunos iam
descobrindo, propôs:
Quem consegue dobrar a folha de modo a conseguir
duas bandeirinhas diferentes, fazendo só um corte?
construindo
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Programa 3
olta e meia as crianças estão perguntando aos adul-
tos coisas do tipo: Como funciona? Por que funcio-
na? Por que é assim? O que acontece se eu fizer isto?
O universo das crianças é rico em imagens, obje-
tos e ações. Osporquês’ e os comos’ são indícios de
que estão observando, estabelecendo relações e for-
mulando problemas.
Grande parte dos objetos e das ações do mundo
das crianças envolve conceitos e relações geométri-
cas. Assim, para promover uma aprendizagem sólida
e significativa, a escola deve estar atenta e aberta para
explorar os porquês’ e os ‘comos’ das crianças.
E você? Já parou para pensar nas coisas do nosso
mundo? Já colocou seus próprios porquês’ e ‘comos’?
Pois vamos fazer uma viagem pelas coisas e pelas
relações do nosso mundo e apreciar a Geometria
embutida nelas.
Um mundo de formas retas
Grande parte de nossas construções e dos objetos
que nos rodeiam se baseia na ortogonalidade, isto
é, o ângulo reto está presente na maioria dos ca-
sos. As mesas em geral têm formato retangular, do
mesmo modo que portas, janelas, paredes, cader-
nos, livros, caixas, quadros, tijolos, ladrilhos,
lajotas, cédulas e incontáveis objetos simples de
nosso cotidiano.
VV
VV
V
POR QUE
AS COISAS SÃO COMO SÃO?
Nas duas experiências descritas, a professora ex-
plorou formas geométricas variadas, e eventualmen-
te complexas, a partir do mundo cotidiano das crian-
ças, de suas coisas, seus brinquedos e brincadeiras.
A Geometria é isso. Talvez seja a única disciplina
em que a melhor matéria-prima para desenvolver
uma aula significativa é o próprio meio da criança, os
objetos que conhece e manipula, suas idéias, suas
fantasias.
Programa 3
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Por que as coisas são como são?
Os retângulos são quadriláteros que têm todos os
ângulos iguais: todos os ângulos são retos.
Os losangos são quadriláteros que têm todos os la-
dos iguais.
Os quadrados são quadriláteros que têm todos os
ângulos e todos os lados iguais.
Logo, o quadrado é ao mesmo tempo um retân-
gulo especial e um losango especial.
Por ser um retângulo especial, o quadrado tem todas
as propriedades dos retângulos – e mais algumas. Por
exemplo, o quadrado tem mais simetrias que o retângulo.
Já sabemos que retângulos e quadrados são formas
adequadas para muitas atividades práticas, principal-
mente pelas possibilidades de encaixe. Mas eles não são
as únicas formas geométricas boas para o encaixe.
Os paralelogramos também têm essa propriedade.
Preste atenção à balança: a barra de cima, que
sustenta o brinquedo, está paralela ao chão. Se a base
na qual a criança senta não estivesse paralela à barra
superior, ao primeiro movimento a criança cairia.
Converse com as crianças, levando-as a identifi-
car objetos retangulares. Se perguntar: Por que será
que há tantas coisas retangulares a nossa volta?, é bem
possível que obtenha respostas do tipo: É porque en-
caixa melhor. É mais fácil cortar. Ou outras explicações
ainda mais criativas.
Os retângulos se encaixam de um modo especial.
Os ângulos retos podem ser arrumados em torno de
um ponto e formar uma volta completa de 360 graus,
possibilitando assim economia de espaço.
Esse princípio aplicado às formas tridimensionais
leva o homem prático a escolher o paralelepípedo
para fazer suas caixas e outras coisas que precisam ser
amontoadas.
Um pai de família resolve construir uma casa, pla-
nejando ampliá-la no futuro: para isso, as formas
ortogonais são ideais. Basta ir encaixando novos cô-
modos nas laterais, ou um por cima do outro.
Outro bom motivo para preferir formas ortogo-
nais: é bem mais simples trabalhar com elas. Para
fazer um armário, o marceneiro precisa serrar apenas
planos e ângulos retos, o que é bem mais fácil. Con-
verse com os alunos, para que lembrem outros aspec-
tos práticos das formas ortogonais.
Uma propriedade bem interessante dos retângu-
los é sua simetria. Os retângulos têm dois eixos de
simetria. Essa propriedade garante o encaixe perfeito
quando o retângulo gira em torno de seus eixos, ou
quando sofre uma rotação de 180 graus em torno de
seu centro.
A simetria é uma das características que fazem do
quadrado um retângulo muito especial. Você pode
estar pensando: Êpa! Mas estávamos tratando do retân-
gulo! Um quadrado é um retângulo? É, sim.
Observe este brinquedo. Você está vendo o paralelogramo?
Programa 3
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21
Por que as coisas são como são?
cular? Por que algumas canetas se chamam esferográfi-
cas? Por que a Terra é redonda? E as frutas e bolhas?
Faça perguntas óbvias, deixe fazerem outras, esti-
mule uma tempestade de ‘porquês. Não tenha receio
de ficar sem a resposta na ponta da língua. Os por-
quês’ são importantes também para os adultos.
Desde os tempos pré-históricos, o homem pro-
curou imitar as formas em sua arte e em seu dia-a-
dia. Observou que esferas e cilindros rolam; per-
cebeu que a forma circular tem a propriedade de
ter a largura constante. E usou esses conhecimen-
tos para transportar blocos de pedra.
Percebeu também que sobre pedaços de toras
de madeira podia transportar outras coisas. Daí, in-
ventou a roda, que facilitou muito seu trabalho e
foi o ponto de partida para outras incontáveis in-
venções.
Ao cavar um poço, o trabalhador finca uma estaca
e, com uma corda amarrada, traça uma circunferên-
cia perfeita, servindo-se de outra propriedade da cir-
cunferência: todos os pontos de sua fronteira estão à
mesma distância do centro.
Entretanto, raramente vemos ladrilhos ou lajotas cujo
formato seja de paralelogramo. Não é difícil produzir
paralelogramos em escala industrial, mas é menos prá-
tico do que produzir retângulos ou quadrados.
Mas isto não tira o mérito dos paralelogramos. Eles
são quadriláteros especiais, pois têm como proprieda-
de os lados opostos paralelos. Essa é uma propriedade
importante, do ponto de vista prático.
O paralelismo está presente em muitos mecanis-
mos que nos cercam. Procure lembrar alguns, com a
ajuda dos alunos. Fale do vitrô, da janela basculante,
das lâminas de uma persiana. Mostre que o
paralelismo fica garantido quando existe a estrutura
do paralelogramo.
As crianças podem construir paralelogramos com
canudinhos de plástico atravessados por linha ou bar-
bante, com tachinhas, com palitos de sorvete.
Um mundo de formas curvas
Em nosso universo, as formas retas convivem
harmonicamente com formas curvas. Observe com seus
alunos a variedade de formas curvas: a bola, pratos e
copos, o desenho de um coração, o corpo e seus órgãos,
as rodas, o sol, a lua...
Além de observar as formas, é importante que as
crianças pensem no assunto e levantem questões.
Pergunte, para incentivar: Por que os copos e pratos
têm a borda redonda? Por que as rodas têm a forma cir-
Programa 3
22
23
Por que as coisas são como são?
Feito isso, diga para construírem um quadriláte-
ro, com lados que meçam 6, 8, 10 e 12 centímetros.
Conduza a conversa, levando-os a observar que
os triângulos são formas rígidas, têm forma fixa de-
pois de construídos, não é possível alterar seus ân-
gulos interiores. O mesmo não acontece com o qua-
drilátero, que terá uma estrutura flexível, pois os ân-
gulos internos podem ser modificados.
Quando um marceneiro faz um portão com ripas
verticais, a estrutura não fica muito firme. Então, ele
prega uma ripa em diagonal, para garantir a rigidez.
Ele triangula a estrutura.
Conclusão
Se você estiver trabalhando a Geometria na sala de
aula desse modo, despertando os olhares, as dúvidas,
os ‘porquês’ e comos’ das crianças, elas vão continuar
olhando e indagando e produzindo explicações sobre
outros porquês’ e ‘comos’ para o resto de suas vidas,
dentro ou fora da sala de aula. E se isto acontecer,
parabéns ! Você, educador ou educadora, está fazen-
do o que tem de ser feito. E fazendo bem.
E os pratos e copos, qual é o motivo de seu forma-
to? Aqui, uma das idéias chave é a simetria do círculo.
Podemos colocar na boca um copo de borda redon-
da em qualquer ponto da borda.
O círculo tem infinitos eixos de simetria. Qualquer
reta passando pelo centro do círculo faz com que ele
fique dividido em duas partes iguais e espelhadas.
Nem paralelo nem curvo
A esta altura, você pode estar se perguntando: Sobrou
para o triângulo, coitado, não serve para caixa, não ser-
ve para copo, pra que serve o triângulo?
Boa questão. Podemos finalizar nossa viagem fa-
lando da importância do triângulo.
O triângulo é o único polígono rígido. Usamos os tri-
ângulos para dar rigidez às estruturas.
Para os alunos entenderem bem essa propriedade,
proponha uma experiência. Diga para cortarem canudi-
nhos de plástico nos tamanhos: 6, 8, 10 e 12 centímetros.
Peça para passarem um barbante por dentro dos
canudinhos, de maneira a poder construir triângulos
cujos lados meçam:
6, 8 e 10 centímetros
6, 8 e 12 centímetros
6, 10 e 12 centímetros
8, 10 e 12 centímetros
Programa 4
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25
A vida numérica na sala de aula
Regras do bingo
1. A professora sorteia um número e canta para a sala.
2. Cada dupla discute entre si, para procurar na
cartela o número sorteado. Se houver, marcam
com um X.
3. Vence quem completar primeiro uma fileira, ou uma
coluna.
Observei o trabalho dos jogadores e fui escolhen-
do alguns comentários que faziam entre si e algumas
hipóteses que levantavam, ao procurar os números
nas cartelas. Essas hipóteses revelam seu processo de
construção e sua compreensão dos conceitos.
A dupla Pedro e Paulo estava com esta cartela. Eu
cantei ‘41’. Observe que, na cartela deles, havia os nú-
meros ‘51’ e ‘41’. Então, eles discutiram:
Paulo: Esse número, quarenta e um, tem que ter dois
números.
Pedro: Por quê?
Paulo: Porque a gente fala quarenta e um.
o pensar no trabalho didático referente a nume-
ração, é imprescindível ter presente uma questão
essencial: trata-se de ensinar – e de aprender – um
sistema de representação. Então, será necessário criar
situações que permitam mostrar a própria organização
do sistema numérico.
Vou contar aqui algumas situações ocorridas em
sala de aula, para mostrar certas possibilidades de um
trabalho desse tipo.
Situação 1
1
a
série, 1
o
semestre
Eu queria desenvolver uma atividade na qual os alu-
nos deparassem com a escrita convencional de alguns
números. A partir disso, fariam a leitura, levantariam
hipóteses e avançariam no processo de construção do
sistema de numeração.
Diante desse objetivo, propus um jogo de
bingo, distribuindo uma cartela para cada dupla.
Decidi trabalhar em duplas, porque meu grupo é
bem heterogêneo; achei que assim seria melhor
para incentivar as trocas de informação, tornando
as crianças ao mesmo tempo informantes e cola-
boradoras.
Quando a sala já estava organizada, ou seja,
cada dupla com sua cartela, combinamos as regras
do jogo.
AA
AA
A
A VIDA NUMÉRICA NA
SALA DE AULA
BINGOBINGO
BINGOBINGO
BINGO
77
77
7
99
99
9
44
44
4
1414
1414
14
11
11
1
2626
2626
26
1919
1919
19
2828
2828
28
2222
2222
22
2525
2525
25
4545
4545
45
4141
4141
41
XX
XX
X
3939
3939
39
4343
4343
43
5959
5959
59
5656
5656
56
5151
5151
51
4747
4747
47
6060
6060
60
7373
7373
73
6868
6868
68
7474
7474
74
7272
7272
72
6767
6767
67
Programa 4
26
27
A vida numérica na sala de aula
Ditei o número 53 e, rapidinho, Márcia disse:
Márcia: Ah! esse eu acho que sei, porque o número da
minha casa é cinqüenta e se escreve assim [escreveu 50].
Roberto: É, mas a professora ditou cinqüenta e três,
e não cinqüenta.
Márcia: É só tirar o zero e colocar o três.
Roberto: Como você sabe?
Márcia: Porque na minha rua, o número da casa da
minha amiga é cinqüenta e sete e, na parede, está o nú-
mero cinco e o sete; então, cinqüenta e três é o 5 e o 3.
[Procuram na cartela e encontram o 53.]
Essa discussão confirmou, para mim, que é muito
importante as crianças conhecerem os números re-
dondos de dezenas, centenas, unidades de mil e as-
sim por diante (10, 100, 1.000 etc.). Depois disso, con-
seguem elaborar a escrita dos números posicionados
entre esses intervalos.
Nesse jogo de bingo, percebi que poucas duplas
sabiam isso. Resolvi então preparar outras atividades,
para que todos os alunos se apropriassem desses co-
nhecimentos. Pensei em um bingo de dezenas e cen-
tenas exatas, ou em pedir para preencherem alguns
números (as dezenas exatas), usar a fita métrica, jogo
da memória (confeccionar cartões com dezenas) e as-
sim por diante.
Situação 2
2
a
série, 1
o
bimestre
Mesmo sendo de 2
a
série, minha sala ainda precisa
resolver algumas questões referentes ao sistema de
numeração. A maioria dos alunos diz: É o primeiro
quem manda; ou então: O maior número é aquele que
Pedro: Ah, então, o último número é 1!
Paulo: Já achei dois [mostra o 41 e o 51].
Pedro: Só pode ser um deles, vamos ver qual dos dois é.
Paulo: Eu acho que quarenta e um é este aqui [mostra
o 41], porque este [mostra 51] começa com 5 e, quando
a gente fala quarenta e um não parece nem um pouco
com o som do 5 [Assinalam então o 41].
Ao passar, perguntei: Como vocês concluíram que
este é o quarenta e um?
Paulo contou exatamente como aconteceu. Apontei
para o ‘14’ e perguntei, para ver se estavam atentos à
posição dos algarismos: E por que não pode ser este?
Paulo: Porque quando a gente fala quarenta e um,
o último que a gente diz é o um e não o quatro,
então é este [mostra o 41].
Diante da discussão dessa dupla, percebi que eles
estavam muito ligados à ordenação da numeração fa-
lada. Em outras situações, eu deveria propor um tipo
de atividade que ressaltasse novas características do
sistema: por exemplo, o valor posicional do número.
Em outra dupla, com Márcia e Roberto, a discus-
são foi diferente. A cartela era esta:
BINGOBINGO
BINGOBINGO
BINGO
1515
1515
15
22
22
2
44
44
4
1313
1313
13
77
77
7
1818
1818
18
2525
2525
25
2222
2222
22
2929
2929
29
2121
2121
21
3939
3939
39
3434
3434
34
XX
XX
X
3636
3636
36
3131
3131
31
5353
5353
53
4848
4848
48
4747
4747
47
5555
5555
55
6060
6060
60
6565
6565
65
7070
7070
70
6767
6767
67
7474
7474
74
7373
7373
73
Programa 4
28
29
A vida numérica na sala de aula
Quando perguntei às crianças qual achavam que
estava certa, a maioria respondeu que o registro de
Fernanda era o certo. Algumas justificaram:
Acertou, Fernanda acertou, olha aqui! [e explicavam,
escrevendo também, 20, 7, e falando: vinte, sete].
O Rodrigo esqueceu que quando a gente escreve
números, não pode ter letra. Letra é para escrever e
número é para contar, e não tem letra.
Perguntei a Maria por que escrevera 27 daquela
forma e ela explicou:
Eu olhei no calendário da parede e contei até o 27.
Diante do argumento de Maria, os demais ficaram
um pouco confusos, pois sabiam que no calendário
os números sem dúvida estavam escritos de forma
correta.
Percebi que estavam aceitando a escrita de Maria
apenas por estar apoiada no calendário, mas sem
entender o que estava por trás disso. Ao dizer que
estava mesmo certa, pedi para descobrirem por que
essa era a forma correta. Algumas justificativas:
Já sei, a gente tira o zero, porque zero significa
‘nada, então não precisa colocar.
Não pode mesmo ter três números, porque cem
tem três números e é muito maior que vinte e sete.
Situação 3
3
a
série, 2
o
bimestre
Comecei a aula de Matemática de um jeito diferente.
Coloquei em dúvida as afirmações corretas de meus
alunos e, com isso, eles responderam às minhas per-
guntas e me mostraram claramente o que sabem a
respeito do sistema de numeração.
Propus que me ditassem números. Alguém disse:
cento e trinta e três”; e completaram: “é com um, um
três e um três.
tem mais algarismos. No entanto, não têm uma com-
preensão mais profunda da organização do sistema,
ou seja, ainda não estabeleceram a relação entre os
critérios elaborados e o valor de cada algarismo em
termos de ‘dezesou ‘cens’.
Para quem não conhece a escrita convencional, escre-
ver números é uma atividade altamente significativa
e carregada de desafios.
Propus, então, um ditado de números. Para come-
çar, cada um escreveria em seu caderno os números
que eu ditava. Depois, a classe toda discutiria os re-
gistros feitos.
Ao observar a solução dos colegas e perceber o
registro de diferentes escritas, eles poderiam desen-
volver hipóteses e ampliar sua compreensão do sis-
tema de numeração. Ditei: 27; 100; 78; 821; 1.100; 725.
Durante o ditado, as crianças se mostraram
muito concentradas e manifestaram grande empe-
nho. A cada novo número ditado, elas iam pensan-
do, organizando as idéias e colocando suas hipó-
teses no papel.
Chamei na lousa três crianças e pedi para escre-
verem o número 27 exatamente como tinham escrito
na folha. Obtive as seguintes soluções:
207 20 E 7 27
Fernanda Rodrigo Maria
Programa 4
30
31
A vida numérica na sala de aula
A participação do aluno
Existe um certo parentesco entre algumas das situações
que proponho aqui e determinadas atividades tradicio-
nais, como o ditado de números, por exemplo. Mas,
nessas atividades que apresentei, o aluno ocupa um
lugar de destaque; o que ele pensa é valorizado e seu
erro’ é na verdade um registro de sua construção, e não
um registro de seu desconhecimento.
O que importa, então, não é que uma atividade seja
categorizada como ‘tradicional’ ou ‘inovadora. O impor-
tante é que as propostas de trabalho reúnam certas con-
dições, tais como:
contemplar diferentes procedimentos;
admitir diferentes respostas;
fornecer o debate e a circulação de informação;
garantir a integração com a numeração escrita
convencional;
propiciar uma crescente autonomia na busca de
informações;
aproximar, na medida do possível, o uso escolar
do uso social da notação numérica.
Eu: Como? Com dois três?
Jonas: Bom, é que os dois são o número três, mas
têm valores diferentes.
Eu: Como pode ser que o mesmo número tenha
valor diferente? Como vamos entender isso?
Lia: Olha, os números são sempre o três, porém há
diferentes três. Escreve aí na lousa: três, três, três. Isto
é o trezentos e trinta e três, não é? Tem um três que
é três, o segundo que é o trinta e o outro é três de
‘cem.
Eu: Sempre acontece isso?
Guilherme: Sim... Com o quinhentos e cinqüenta e
cinco também, o do meio é cinqüenta.
Eu: Eu não vejo nenhum cinqüenta ali [fiz esse
comentário para verificar se as crianças estavam
construindo uma compreensão maior a respeito
do valor posicional].
Várias crianças: Não, porque o outro é cinco! Se não
fosse cinqüenta e cinco, e fosse quinhentos e cinqüen-
ta, você colocaria o zero, aí você veria o cinqüenta, mas
como é cinqüenta e cinco, aí tem que pôr o cinco.
Com as respostas que obtive, pude perceber que
meus alunos já conheciam muitas coisas sobre o sis-
tema de numeração. Não toda a sala, mas boa parte
dela.
Vou continuar a desenvolver essas atividades du-
rante este bimestre e espero que, a partir dessas pro-
duções, reflitam sobre diferentes formas de
conceituar e possam trocar informações, confrontar
idéias e, conseqüentemente, avançar em sua compre-
ensão de nosso sistema de numeração.
Programa 5
32
33
Sistema de numeração
Ao escutar seus pais se queixarem do aumento
dos preços?
Ao tentar entender como sua mãe sabe qual das
marcas de determinado produto é a mais barata?
Ao ver que seu irmão recorre ao calendário para cal-
cular os dias que ainda faltam para seu aniversário?
O que será que as crianças aprendem ao ouvir os
outros falarem em números e em noções numéricas?
Você pode manter sua classe interessada ao tra-
balhar diversos aspectos do sistema de numeração
com o jogo de batalha, por exemplo.
Jogo de batalha
Prepare um baralho com números até 40. Forme du-
plas e distribua as cartas do baralho entre os joga-
dores.
Explique as regras:
Sem olhar as cartas, cada jogador faz uma pilha, com
as cartas viradas para baixo.
Simultaneamente, os dois jogadores abrem a pri-
meira carta de sua respectiva pilha.
O jogador que virar a carta maior fica com as duas.
Vence o jogo quem, no final, tiver o maior número
de cartas.
Para variar, você pode confeccionar um baralho com
numerais maiores. Ou mudar a regra, fazendo o joga-
dor que virar a carta menor ficar com as duas.
Quanto maior a quantidade de
algarismos, maior é o número
Sem conhecer os nomes dos números, Fernando e
Ivan explicam suas decisões no jogo de batalha:
Fernando: Este [mostra o 23, porém não o nomeia,
uitos professores desenvolvem o ensino do
sistema de numeração de maneira fragmenta-
da. Assim, trabalham na pré-escola apenas os
numerais de zero a nove, na 1
a
série até o cem, na 2
a
série até o mil, e assim por diante. No entanto, bem
antes de ingressar na 1
a
série, as crianças já sabem
muitas coisas acerca de numeração.
O sistema de numeração aparece nas revistas, em
etiquetas de preços, nos calendários, nas regras de jo-
gos, nas embalagens, nos anúncios, nos endereços das
pessoas e assim por diante.
O ensino fragmentado e outros recursos didáticos
(como o trabalho com as diferentes bases) não facilitam
em nada a compreensão do sistema de numeração e de
sua organização. Os famosos ‘vai um’ e ‘peço empresta-
do, por exemplo, não fazem o menor sentido e ainda le-
vam as crianças a cometer erros elementares.
Constatando tais limitações dos métodos tradicio-
nais, os pesquisadores decidiram procurar uma abor-
dagem do ensino do sistema de numeração que fa-
vorecesse uma compreensão mais profunda e
operacional da notação numérica.
O que as crianças pensam
Que conclusões podem tirar as crianças a partir de seu
contato cotidiano com a numeração escrita? Que in-
formações relevantes obtêm:
MM
MM
M
SISTEMA DE NUMERAÇÃO
Programa 5
34
35
Sistema de numeração
Paulo [depois de afirmar que 21 é maior que 12]:
Porque aqui [mostra o 12] o um é primeiro e o dois
é depois. Mas aqui [aponta o 21] o dois é que fica
primeiro e o um está no fim.
Nádia [justificando que 43 é maior que 28]: Quem
manda é o primeiro número. Quatro é maior que
dois, então este [mostra o 43] é maior que este [in-
dica o 28].
Guilherme [para explicar que 21 é maior que 12]: Os
dois têm os mesmos números. Só que aqui [21] o dois
está antes e aqui [12] está atrás. O maior é o que fica na
frente. O dois é maior, então este [o 21] é maior.
Estas crianças já descobriram que, além do víncu-
lo entre a quantidade de algarismos e a magnitude do
número, existe outra característica: o valor que um al-
garismo representa, apesar de ser sempre o mesmo,
depende do lugar em que está localizado em relação
aos outros que constituem o número. A isso chama-
mos valor posicional.
Elas sabem também que, se compararem dois
números de igual quantidade de algarismos, o maior
tem o primeiro algarismo maior. Por isso podem afir-
mar que o primeiro é quem manda.
Sabem ainda que, quando o primeiro algarismo
das duas quantidades é o mesmo, é preciso apelar ao
segundo para identificar o maior.
O critério de comparação baseado na posição dos
algarismos não se constrói de uma só vez. Antes de
generalizar, a criança precisa superar certos obstácu-
los. É o que nos mostra Mariana; em outras situações
apresentadas em classe, já aplicou o critério do valor
posicional de forma adequada. Mas se confunde dian-
te de uma situação nova.
No jogo de batalha, a carta de Mariana é 25, e a
de Ariel é 16. Quando a professora pergunta quem
ganhou o jogo, ambos respondem:
pois desconhece sua denominação oral] é maior,
porque tem dois números e tem mais. Já este [mos-
tra o 5] tem só um número.
Ivan: O maior é este [mostra o número 12], porque
tem mais números do que este [mostra o 6].
Neste caso, o critério de comparação das crianças se
baseou na quantidade de algarismos, pois elas não co-
nhecem o nome dos números que estão comparando. Na
comparação oral, elas também recorrem ao lugar que
cada número ocupa na seqüência de contagem:
Quando eu conto, eu falo primeiro 6, e só depois
vem o 12; então, 6 é menor que 12.
O último número é maior
Comparando dois números para decidir qual era o
maior, os alunos argumentaram:
Paula [comparando 29 e 52]: O maior é 29, porque
9 é maior que 2. É diferente no 52.
Henrique [entre 1.110 e 999]: Este [aponta o 999] é
maior, porque este [aponta o 1.110] tem números
muito baixinhos.
Essa hipótese, na qual as crianças relacionam o va-
lor numérico ao valor absoluto de cada numeral, é fa-
cilmente descartada quando elas começam a prestar
atenção na quantidade de algarismos. Torna-se claro
que, entre as duas hipóteses, a quantidade de alga-
rismos pesa muito mais que qualquer consideração
vinculada ao valor absoluto.
O primeiro é quem manda
Ao comparar números com a mesma quantidade de
algarismos, os argumentos das crianças mostram se
elas já descobriram que a posição dos algarismos
cumpre uma função relevante. Observe:
Programa 5
36
37
Sistema de numeração
Escrevo como falo
Para elaborar conceitos a respeito da escrita dos nú-
meros, as crianças se baseiam nas informações da
numeração falada e no que já sabem, na escrita con-
vencional, a respeito das dezenas e centenas exatas.
Para produzir os números cuja escrita convencional
não dominam, as crianças misturam os símbolos que já
conhecem e procuram fazê-los corresponder com a or-
denação dos termos na numeração falada.
Veja este exemplo. A professora faz um ditado de
numerais e os alunos comentam e justificam a escrita
que produziram:
Márcio escreve 725 assim: 700205. Fica claro que
ele escreveu o número exatamente como se fala:
setecentos e vinte e cinco.
Paula escreve 6 para o 100 e explica: Olha, quando
se fala cem, começa com cê, então é esse seis.
Bruno escreveu 109, quando a professora ditou
19. Ele justifica: Olha dez e nove, fala rápido que
dá dezenove.
Jo, para 2.000, escreveu 2 1.000 (dois mil).
Na escrita de João, pode parecer que ele usou o
fator multiplicativo, mas, na verdade, ele se apoiou
exclusivamente na fala (2 e 1.000).
A hipótese segundo a qual a escrita numérica é o
resultado de uma correspondência com a numeração
falada conduz as crianças a elaborar notações não-
convencionais. Por que isso ocorre?
Ao se sentir em conflito diante do número que
escreveu, a criança reage com perplexidade e insatis-
fação. Tal insatisfação a leva a efetuar correções, pro-
curando diminuir’ a escrita, ou interpretá-la atribuin-
do-lhe um valor maior. Porém, essas correções so-
mente são possíveis depois da escrita dos números.
Mariana: O Ariel.
Ariel: Não, foi ela que ganhou!
Mariana: Foi ele, porque este [o 25] tem um dois e
um cinco, e este [o 16] tem um número um e um
seis. Seis é um número a mais que cinco.
Ariel: Não! O que conta é o primeiro.
Números especiais: os zeros
A apropriação da escrita convencional dos números pe-
las crianças não segue a ordem da série numérica. Elas
manipulam em primeiro lugar a escrita de números
com zeros – dezenas, centenas, unidades de mil –, e só
depois elaboram a escrita dos números posicionados
nos intervalos entre eles.
A professora propôs um jogo. Os alunos forma-
riam duplas e cada aluno deveria escrever o maior
número que soubesse. Em seguida, iria compará-lo
com o do colega; ganharia o jogo quem escrevesse o
maior número. Observe os comentários:
Ivo: Eu acho que ganhei, porque fiz mais mil.
João: Mas eu fiz mais cens.
Ivo: Mais cens? Eu fiz mais mil e mil é maior que
cem.
Francis: Eu não sei o nome deste número, só sei que
precisa de muitos zeros.
As respostas das crianças sugerem que, na escrita
convencional, elas se apropriam em primeiro lugar da
potência de base 100 e que a escrita dos outros zeros
correspondentes a essa potência é elaborada a partir
desse modelo.
38
39
Programa 6
38
s operações de adição e subtração sem dúvida
precisam ser exploradas nas diversas séries do
ensino fundamental. Ninguém questiona isso.
Infelizmente, às vezes esse conteúdo é entendido
como o ensino das contas que resolvem os proble-
mas de adição e subtração. Essa atitude ignora a im-
portância do significado dessas operações.
Ao falar no significado de uma operação, estamos
nos referindo basicamente às idéias ou às ações ligadas
a ela. Por exemplo, quando vou à feira, sei que preciso
somar os valores que gastei ao comprar laranjas, bana-
nas e cebolas, para calcular o gasto total. Faço uma adi-
ção, porque sei que uma das ações associadas a essa
operação é juntar diversos valores, para compor um va-
lor total.
Se, além de ensinar as contas, estivermos preocu-
pados também com a compreensão que nossos alu-
nos têm das operações, é importante refletir:
Que situações nossos alunos associam à adição
e à subtração?
Essas situações são as únicas que podem ser
relacionadas com tais operações?
Posso ampliar a compreensão que eles têm des-
sas operações, propondo novas idéias que tam-
bém estejam associadas a elas?
Para que os alunos tenham a possibilidade de am-
pliar seus conhecimentos, é fundamental apresentar a
AA
AA
A
É DE ‘MAIS’ OU DE ‘MENOS’?
Ela ainda não consegue prever os possíveis ajustes
antes de escrever o número e sempre enfrenta o con-
flito, ao escrever um novo número.
Em síntese, a escrita de acordo com a numeração
falada entra em contradição com as hipóteses vincu-
ladas à quantidade de algarismos das notações nu-
méricas.
Tomar consciência desse conflito e elaborar fer-
ramentas para superá-lo parecem passos necessários
para progredir até a notação convencional.
Até aqui, foram descritos os aspectos essenciais do
processo pelo qual as crianças constroem a compre-
ensão da natureza do sistema de numeração.
As crianças produzem e interpretam escritas conven-
cionais muito antes de poder justificá-las.
Diante de tudo isso, será que é preciso trabalhar
passo a passo, e recortar drasticamente o universo dos
números, predeterminando uma meta para cada sé-
rie escolar?
Cremos que não, pois esse recorte curricular não
dá às crianças oportunidades de tecer comparações
entre diferentes intervalos da seqüência. Isso dificul-
ta a descoberta das regularidades de nosso sistema
de numeração.
Programa 6
40
41
É de ‘mais’ ou de ‘menos’?
Para introduzir símbolos da linguagem matemá-
tica, Cláudia ensinou esta outra representação:
Pouco a pouco, algumas crianças começaram a utili-
zar os sinais matemáticos para resolver os problemas
propostos. Diante disso, Cláudia quis verificar quais as
situações que as crianças associariam a essas operações
e, para isso, desenvolveu algumas atividades:
Atividade 1
Pediu para os alunos inventarem problemas de adição
e de subtração. Ela pretendia verificar que idéias ocorre-
riam às crianças e como relacionariam essas idéias com
as operações. Alguns dos problemas que inventaram:
Eu tinha 22 figurinhas em meu álbum. Ganhei 14
do meu colega. Com quantas fiquei? [identificado
como problema de adição].
Na hora do lanche, as crianças trouxeram 6 bana-
nas e 12 laranjas. Quantas frutas trouxeram?
[identificado como problema de adição].
Ganhei 10 reais de mesada. Gastei 3 reais para
comprar um lanche. Com quanto fiquei? [identi-
ficado como problema de subtração].
Os problemas criados pelas crianças sem dúvida
eram adequados, mas se restringiam a uma varieda-
de bem pequena de idéias.
Algumas idéias básicas de adição e subtração são
construídas pelas crianças antes mesmo de entrarem
na escola. É o caso das situações em que se acrescen-
ta uma quantidade a um valor inicial, ou se junta
quantidades que inicialmente estavam separadas
(como nos dois primeiros problemas propostos), ou
se quer retirar determinado valor de uma quantidade
inicial (como no terceiro problema).
eles situações variadas nas quais precisem operar com
números: jogos que requeiram cálculos, situações coti-
dianas que peçam alguma contagem, comparação ou
controle de quantidades (contagem de coleções, cálculo
do total de uma compra, pontos ganhos por uma equi-
pe após várias etapas de jogos), e tantas outras.
Apresentaremos a seguir algumas atividades com
problemas de enunciado; esta é uma das formas de
aproximar os alunos das ações e das idéias envolvi-
das nas operações.
O que os alunos sabem
de adição e subtração?
Cláudia, professora de 1
a
série, desde o início do ano
propôs problemas bem variados a seus alunos. E
orientou as crianças para desenhar os dados do pro-
blema, ou então representar as quantidades com pa-
litos e bolinhas.
A cada problema, Cláudia pede para algum aluno
mostrar aos colegas seu modo de resolver”; e apro-
veita para relacionar a representação feita pela crian-
ça com os símbolos próprios da linguagem matemá-
tica. Esta foi uma forma que ela descobriu de ir fami-
liarizando os alunos com a linguagem matemática.
Ela propôs, por exemplo:
Em nossa classe há 14 meninos e 17 meninas.
Quantas crianças há na classe?
Juliana resolveu da seguinte maneira:
Ela acrescentou 14 palitos ao número de meninos.
Depois, fez a contagem a partir do 17 e chegou ao
resultado: 31.
17
17 +
= 31
Programa 6
42
43
É de ‘mais’ ou de ‘menos’?
Segundo as pesquisas mais recentes na área da Didáti-
ca da Matemática, os problemas envolvendo a adição e
a subtração devem ser trabalhados em conjunto, “já que
guardam entre si estreitas conexões, ou seja, compõem
uma mesma família (PCN - Matemática, p. 67).
Se analisarmos os dois caminhos percorridos, fica cla-
ro que as crianças do primeiro grupo se apoiaram na sub-
tração, enquanto as outras utilizaram um raciocínio aditivo.
Se a professora tivesse identificado esse proble-
ma com uma só operação, procurando garantir que o
grupo todo associasse o problema apenas à adição ou
à subtração, estaria limitando a possibilidade de de-
senvolver novas idéias. Na realidade, os dois cami-
nhos são adequados: o problema pode ser associado
à adição ou à subtração.
Quando permitimos que nossos alunos descubram as
soluções de seu próprio jeito, constatamos que os proce-
dimentos variam muito. Se é assim, será que é necessário
apresentar cada operação como um conteúdo isolado?
Situações de adição e subtração
Existem vários grupos de situações que envolvem a
adição e a subtração. É importante desenvolver ativi-
dades em cada grupo, com uma grande variedade de
situações, no decorrer dos dois ciclos.
Apresentamos a seguir algumas idéias. Se quiser
conhecer outras possibilidades, ou aprofundar as que
damos aqui, consulte o livro de Matemática dos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
1
o
Combinar dois estados para obter
um terceiro
Paulo e João decidiram juntar seus carrinhos. Paulo ti-
nha 25 e João, 12. Com quantos carrinhos ficaram?
Atividade 2
No entanto, nem sempre os alunos associam outras
idéias às operações de adição ou subtração. Pensan-
do em explorar novas idéias, Cláudia propôs o pro-
blema a seguir.
Estou na página 64 de um livro de 80 páginas.
Quantas me faltam para terminá-lo?
Os alunos não conheciam o algoritmo da adição ou
da subtração (as contas armadas). Precisariam resolver
o problema recorrendo apenas a suas próprias estraté-
gias de cálculo.
Alguns fizeram assim: desenharam 80 palitos, corres-
pondentes ao total de páginas do livro.
Depois, riscaram 64 (correspondentes às páginas
já lidas).
Por fim, contaram os palitos restantes e chegaram
ao resultado.
Outras crianças partiram do número 64 e foram
acrescentando palitos e contando, até chegar ao 80.
Em seguida, contaram quantos palitos haviam so-
mado.
64
Programa 6
44
45
É de ‘mais’ ou de ‘menos’?
A partir desse enunciado podemos formular estes outros:
Antônio tem 42 selos. Pedro tem 7 a menos.
Quantos selos Pedro tem?
Se Antônio tem 42 selos e Pedro tem 35, quantos selos
Pedro precisa ganhar para ter o mesmo que Antônio?
Algumas conclusões
Algumas idéias da adição (como por exemplo a de
acrescentar uma quantidade a outra inicial) e da
subtração (como a de diminuir determinado valor
de uma quantidade dada) são familiares para as
crianças. Mesmo antes de chegar à escola, elas já
construíram boas estratégias que lhes permitem
Esta situação pode dar lugar a duas outras:
Paulo e João juntaram seus carrinhos e ficaram
com 37. Quantos eram de Paulo, se 12 eram de
João?
Paulo tinha 25 carrinhos e resolveu juntá-los com
os de João. Depois que juntaram tudo, ficaram 37.
Quantos carrinhos João tinha?
2
o
Transformação: a um estado inicial é
acrescentada ou diminuída determinada
quantidade
Maria estava na casa 24 de um jogo de trilha. Jogou
o dado e tirou 6. Qual o número da casa em que caiu?
• Carlos tinha 12 peixinhos em seu aquário. Um dia,
ficou muito triste ao perceber que 7 haviam
morrido. Com quantos peixinhos ficou?
Novamente, cada um destes problemas gera outros:
Maria estava jogando trilha. Tirou 6 no dado e
caiu na casa número 30. Em que casa estava antes
dessa jogada?
Maria estava na casa 24 de um jogo de trilha. Em
uma jogada, avançou até a casa número 30. Quan-
to ela tirou no dado para chegar aí?
Carlos tinha um aquário com lindos peixinhos.
Um dia, 7 deles morreram e só sobraram 5.
Quantos peixinhos ele tinha antes disso?
No aquário de Carlos havia 12 peixinhos. Um dia,
ele percebeu que somente 5 estavam vivos.
Quantos morreram?
3
o
Comparação
Pedro e Antônio colecionam selos. Pedro tem 35 e
Antônio, 42. Quantos selos Antônio tem a mais?
Em resumo
Ao analisar as estratégias adotadas pelas crianças,
constatamos que elas alcançam seus resultados a
partir de diferentes raciocínios. Por isso, achamos
discutível a necessidade de associar uma só opera-
ção a cada problema. Além disso, mostramos aqui
como são próximas as situações relacionadas com
a adição e com a subtração.
Buscamos destacar como é importante levar em
conta as formas que as crianças constroem para
resolver os problemas apresentados, tanto para ga-
rantir que ampliem suas idéias e seus conhecimen-
tos das operações, quanto para se sentirem confian-
tes em relação aos conhecimentos matemáticos que
já construíram.
Além de garantir que os alunos possam buscar suas
estratégias de resolução, é fundamental proporcio-
nar-lhes o contato com diferentes idéias relaciona-
das com as operações.
46
47
Programa 7
resolução de problemas aritméticos muitas ve-
zes é entendida como uma oportunidade de
aplicar formas de cálculo já aprendidas, como
os algoritmos (ou contas armadas). Para os alunos, es-
ses problemas não representam nenhum problema,
pois já lhes foi ensinado tudo que precisam para
resolvê-los.
No entanto, o que acontecerá se propusermos as
mesmas situações-problema a nossos alunos e dei-
xarmos eles buscarem suas próprias formas de reso-
lução?
Quando a situação envolve quantidades pequenas,
as crianças podem fazer representações: desenham
palitos ou bolinhas, contam nos dedos etc.
Quando as quantidades envolvidas implicam nú-
meros de pelo menos dois dígitos, elas tentam recor-
rer aos mesmos procedimentos, mas logo percebem
que perdem a conta’ facilmente, se confundem e não
encontram o resultado correto. Para superar essa di-
ficuldade, freqüentemente a criança cria formas de re-
solução bem interessantes, utilizando basicamente a
decomposição decimal.
Veja, por exemplo, em relação a este problema:
Os alunos da 1
a
série resolveram organizar uma
gibiteca. No primeiro dia conseguiram 23 gibis e
no segundo, 46. Quantos gibis conseguiram no
total?
AA
AA
A
INVENTANDO
ESTRATÉGIAS DE CÁLCULO
achar o resultado em situações desse tipo. No en-
tanto, a adição e a subtração envolvem também
idéias mais complexas.
A construção de diferentes significados deve ser en-
tendida como um processo, ou seja, para que se con-
cretize, o aluno precisa trabalhar durante o tempo que
for necessário com situações e idéias variadas.
“É importante que os alunos tenham oportuni-
dade de trabalhar problemas de adição e subtração
nos dois ciclos, em função das dificuldades lógicas
que vão sendo colocadas à medida que avançam no
estudo dos números e dos procedimentos de cálcu-
lo” (PCN - Matemática, p. 68).
Programa 7
48
49
Inventando estratégias de cálculo
Se você perguntar como fizeram a conta 20 + 40,
talvez respondam: Se eu sei que 2 + 4 é 6, então é só
juntar um zero, no 20 + 40, para ficar 60”.
Esta é uma propriedade do sistema de numeração
decimal, pois o 20 são dois dez’, o quarenta são ‘qua-
tro dez, e a soma dá ‘seis dez.
Aqui também os alunos estão utilizando proprie-
dades da adição, mesmo sem saber formulá-las.
Quando somam separadamente 20 + 40, e depois 3 + 6,
as crianças estão aplicando a propriedade associativa
da adição: a soma de várias parcelas não se altera se
somarmos separadamente duas (ou mais) delas, para
depois juntarmos as outras.
Haverá ainda alunos que farão o seguinte cálculo:
23 + 46 = 46 + 23 23 = 10 + 10 + 3
46 + 23 = 46 + 10 + 10 + 3
46 + 10 = 56
56 + 10 = 66
66 + 3 = 69
Neste caso, a criança também se apoiou na decom-
posição decimal, mas fez isso apenas com um dos ter-
mos da adição (decompôs o 23 em 10 + 10 + 3), que
foi somando parceladamente ao 46 nas três últimas
contas. Observe também que ela inverteu a ordem das
parcelas em relação ao enunciado, aplicando assim a
propriedade comutativa da adição.
Pensar matematicamente
Ao elaborar tais estratégias, as crianças procuram resol-
ver o problema de forma mais eficiente e menos traba-
lhosa; também se vêem diante da possibilidade de utili-
zar conhecimentos que já construíram a respeito dos
números. Criam assim novas formas de resolução.
Algumas crianças resolveram da seguinte forma:
23 = 10 + 10 + 3
23 + 46 = 10 + 10 + 3 + 10 + 10 + 10 + 10 + 6
OU
10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 6 + 3
60 + 6 + 3 = 69
Ao adotar este esquema, a criança demonstra que
já compreende que o 23 é formado por duas vezes o
número 10, acrescido do 3; e que o 46 corresponde a
quatro vezes o número 10, acrescido do 6. E assim
decide que pode simplificar a operação, contando
primeiro todos os 10, para depois juntar o 3 e o 6.
Ao contar primeiro todos os 10, a criança está apli-
cando a propriedade comutativa da adição (mesmo
sem ter conhecimento dela), ou seja, percebe que
pode alterar a ordem em que as parcelas serão so-
madas, sem que o resultado se altere.
Outras crianças podem fazer o seguinte:
Esta estratégia é mais elaborada que a anterior;
aqui, o aluno já está sabendo que o 23 é ‘formado
pelo 20 + 3 e o 46, pelo 40 + 6.
46 = 10 + 10 + 10 + 10 + 6
23 + 46 = 20 + 3 + 40 + 6
3 + 6 = 9
20 + 40 = 60
60 + 9 = 69
>
>
>
Programa 7
50
51
Inventando estratégias de cálculo
Consumo de pães Quantidade
No 1
o
dia
No 2
o
dia
Total
Depois de preenchida, a tabela ficou assim:
A professora pediu então para as crianças calcu-
larem o total de pães servidos nos dois dias. Apare-
ceram diversas formas de resolução:
1
a
forma
RESPOSTA: 81
2
a
forma
47 +
RESPOSTA: 81
3
a
forma
47 + 34 = 40 + 7 + 30 + 4
40 + 30 = 70
7 + 4 = 11
70 + 11 = 70 + 10 + 1 = 80 + 1 = 81
RESPOSTA: 81
Consumo de pães Quantidade
No 1
o
dia
No 2
o
dia
Total
3434
3434
34
4747
4747
47
+
Com soluções como essas apresentadas, nossos
alunos estão utilizando os conhecimentos que já cons-
truíram a respeito do sistema de numeração decimal.
Para desenvolver tais conhecimentos, é importante
que tenham várias oportunidades de interagir com os
números (de diferentes grandezas), discutir e trocar
informações, ao mesmo tempo que trabalham com as
operações.
Mesmo quando recorrem a estratégias como es-
sas, as crianças podem cometer erros de cálculo. A
atuação do professor é fundamental: ele deve apon-
tar o erro, mas é importante que valorize a adequa-
ção da resposta apresentada, para que o aluno conti-
nue a realizar seu trabalho de forma confiante.
Nem todos os alunos farão uso de estratégias ela-
boradas. Muitos precisarão se apoiar na representa-
ção das quantidades, uma a uma, outros procurarão
contar nos dedos. Então, como fazer para que tais
conhecimentos possam ser compartilhados por um
número maior de crianças? Veja a seguir um exemplo.
Ampliação das
estratégias de cálculo
Uma professora de 1
a
série propôs a seguinte situação:
Vamos à cozinha da escola, para perguntar às cozi-
nheiras quantos pães usaram hoje para preparar a
merenda. Amanhã faremos a mesma coisa e anota-
remos as quantidades nesta tabela:
Programa 7
52
53
Inventando estratégias de cálculo
rer a outras estratégias de cálculo. Algumas eram
menos trabalhosas e mais seguras, evitando o risco
de cometer erros ao fazer a contagem.
Em outra aula, a professora apresentou mais um
problema que poderia ser resolvido pela adição e
propôs que as crianças trabalhassem em grupos. Su-
geriu que utilizassem uma das formas discutidas na
aula anterior, deixando de fora as que envolviam con-
tagem de um em um.
A professora queria garantir o avanço de seus alu-
nos, propondo que experimentassem as estratégias dos
colegas. Ao formar os grupos, procurou colocar em cada
um deles pelo menos uma das crianças que haviam uti-
lizado as formas de resolução mais adequadas.
Para as crianças que haviam recorrido à contagem
de um em um, entrar em contato com as estratégias
elaboradas pelos colegas contribuiria para seu avan-
ço. Com isso iriam assimilando as técnicas que se
apóiam na decomposição decimal.
Conclusões
Para que as crianças elaborem suas próprias estraté-
gias de cálculo, é preciso respeitar algumas condições
de trabalho na sala de aula:
O trabalho com as operações deve ser desenvol-
vido ao mesmo tempo que abordamos o modo
de representar os números no sistema de nume-
ração decimal. As crianças se apóiam nesses co-
nhecimentos para elaborar suas estratégias;
além disso, ao criar novas estratégias de resolu-
ção de problemas, elas estão avançando também
na própria compreensão das propriedades do
sistema numérico.
É importante que as situações-problema propos-
tas façam sentido para as crianças, que tenham
algum vínculo com seu cotidiano. É uma forma
4
a
forma
34 = 10 + 10 + 10 + 4
47 = 10 + 10 + 10 + 10 + 7
10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 4 + 7 = 81
RESPOSTA: 81
5
a
forma
47 + 10 = 57
57 + 10 = 67
67 + 10 = 77
77 + 4 = 81
RESPOSTA: 81
Ao propor que as crianças registrem a estratégia que
utilizaram, o professor favorece uma boa oportuni-
dade de troca entre elas. Em primeiro lugar, permite
que cada uma entenda com maior clareza o próprio
raciocínio. Além disso, promove o progresso da clas-
se como um todo, já que a confrontação e a discus-
são são mais produtivas a partir das anotações (e
não apenas das explicações orais).
No dia seguinte, para explorar bem as distintas
formas de resolução, a professora chamou vários alu-
nos para mostrar na lousa aos colegas seu modo de
resolver”. Enquanto isso, ia fazendo perguntas do tipo:
Por que você colocou que 34 é igual a 10 + 10 + 10 + 4?
Era uma forma de fazer os alunos pensarem no que
haviam feito, organizando seu conhecimento.
Algumas crianças que haviam adotado a 1
a
e a 2
a
formas de resolução perceberam que poderiam recor-
54
55
Programa 8
s contas de adição e subtração representam uma
das grandes dificuldades das crianças de 1
a
e 2
a
séries. Muita gente acredita que, para aprender
essas contas, basta decorar uma série de etapas. Por
exemplo, para resolver esta conta:
Em geral, as crianças aprendem a ir recitando
mentalmente o que fazer: “oito mais quatro igual a
doze, fica dois, vai um. Um mais dois mais quatro
igual a sete. O resultado é 72”.
Essa criança sabe fazer a conta; mas, se lhe per-
guntarmos o que significa o ‘vai 1’, ela pode respon-
der: Não sei, só sei que é assim que precisa fazer. Ou
então: É porque é... aprendi desse jeito...
Permitir que as crianças tenham acesso a diferentes
formas de calcular, seguindo várias propostas, é mais
coerente com o que acontece no dia-a-dia.
As contas são ensinadas como técnicas’ ou seja,
séries de ações que, se repetidas, conduzem ao re-
sultado esperado. Na maioria das vezes, essas ações
são aplicadas sem que se saiba seu significado, sem
que se saiba o porquê de cada etapa; sem saber o que
faz a conta dar o resultado correto.
AA
AA
A
DESARMANDO AS CONTAS
28
44
+
de garantir que compreendam as ações contidas
nos enunciados, contribuindo para que ampliem
suas idéias a respeito das operações.
Ao permitir que nossos alunos encontrem suas
próprias estratégias, estamos garantindo que
venham a utilizar, em uma situação nova, os co-
nhecimentos que já possuem sobre os números.
Além disso, também criamos a possibilidade de
identificação das situações matemáticas como
um estímulo para o aparecimento de novas
idéias. Para que os alunos sintam de fato a ne-
cessidade de buscar suas próprias estratégias de
cálculo, é indispensável o professor não apre-
sentar antes outras técnicas para resolver o mes-
mo problema. Se a situação-problema for ape-
nas uma oportunidade para as crianças realiza-
rem contas que já sabem, estamos implicitamen-
te solicitando uma atitude passiva: basta aplicar
uma técnica.
Dar aos alunos a oportunidade de discutir suas
produções contribui para socializar os conhecimen-
tos individuais e, ao mesmo tempo, oferece outra
alternativa de concepção do ensino de Matemáti-
ca. “Se a Matemática é uma coleção de relações
formais e estabelecidas, não há lugar para discutir
[...]. Mas se matemáticas são também as idéias e
produções dos alunos, geradas a partir de um pro-
blema, então pode haver lugar para o debate e a
demonstração. Nesse debate, nas tentativas de pro-
var ou refutar, os alunos aprendem a explicitar suas
idéias e socializá-las e se formam, pouco a pouco,
na arte de demonstrar.” (David Block & Martha
Dávila. “La Matemática expulsada de la escuela,
Educación Matemática (3), vol. 5. México, 1993).
Programa 8
56
57
Desarmando as contas
a) Arredondar os números envolvidos e obter uma
soma aproximada. Neste caso, faríamos: 30 (‘ar-
redondando’ 29) mais 30 (‘arredondando’ 32).
Portanto, 60, que seria um valor aproximado do
resultado dessa conta.
b) Utilizar a decomposição decimal dos números.
Neste caso, 29 se converteria em 20 + 9 e 32 ficaria
30 + 2. Em seguida, é preciso somar as dezenas: 20
(do 29) + 30 (do 32) = 50. Depois, somar as unida-
des: 9 (do 29) + 2 (do 32) = 11. Por fim, basta juntar
os totais parciais encontrados: 50 + 11 = 61.
c) Recorrer a outras decomposições. Poderíamos
fazer o seguinte:
29 = 25 + 4 32 = 25 + 7
29 + 32 = 25 + 25 + 4 + 7
29 + 32 = 50 + 4 + 7
A escolha da estratégia mais adequada depende
da situação. No caso do supermercado, se eu quiser
apenas ter uma idéia aproximada de quanto já gastei,
talvez a primeira estratégia seja melhor.
Oferecer aos alunos a possibilidade de experimentar
diferentes formas de cálculo favorece a escolha das
estratégias mais adequadas, na vida prática. O
algoritmo tradicional (ou conta armada) também é
importante e precisa ser ensinado. Mas não como a
única forma de calcular.
Se queremos que nossos alunos tenham contato
com o algoritmo, mas que não o aprendam como uma
série de passos sem significado, e também queremos
que experimentem outras estratégias, é importante
dar-lhes tempo para pesquisar, trocar experiências
com seus colegas e ‘inventar’ formas de calcular, an-
tes de aprender o algoritmo.
Além disso, com freqüência o ensino da conta ar-
mada se confunde com a própria operação a que se
relaciona. Ouvimos dizer que aquele aluno já sabe
somar, porque ele saber fazer uma conta de adição.
A operação de adição é um conteúdo bem mais am-
plo e complexo, que envolve várias ações e várias
idéias, não apenas uma técnica de cálculo.
Outro ponto a ser considerado é que, para as crian-
ças, é importante o contato com diferentes maneiras de
calcular e, principalmente, é importante que possam uti-
lizar estratégias criadas por elas mesmas. Entre outras
coisas, as várias formas de calcular constituem um óti-
mo recurso para controlar os resultados obtidos.
O algoritmo da adição
Ao aprender o algoritmo da adição, uma criança de 1
a
série fez esta conta:
Como ainda não havia compreendido o transpor-
te para a coluna das dezenas, somou as unidades e
colocou o 12 abaixo da linha; depois, somou as deze-
nas e encontrou o resultado apresentado.
No entanto, essa criança já realizava há algum tempo
suas contas por meio da decomposição dos números; e
sabia que o resultado deveria estar próximo de 60 (pois
somou: 20 + 40 = 60, sendo o 20 do 28 e o 40 do 44). Antes
mesmo que o professor apontasse, percebeu que seu re-
sultado não estava correto. O fato de ter acesso a diferentes
estratégias de cálculo ajudou-a a controlar seu resultado.
Quando vamos ao supermercado e temos de so-
mar o total de uma compra como, por exemplo, 29 +
32, podemos:
28
44
12
6
+
Programa 8
58
59
Desarmando as contas
Ensinar aos alunos diferentes técnicas de cálculo
(como a conta armada), com base no que eles mes-
mos criaram pensando em correspondências, é uma
ótima maneira de valorizar suas contribuições. Além
disso, garante que o aprendizado não seja memori-
zado mecanicamente, sendo compreendido de fato
pelas crianças.
A busca de estratégias pessoais de realização do cál-
culo envolve diversos conhecimentos a respeito dos
números e da maneira de operar com eles. Todo esse
aprendizado será fundamental para a compreensão dos
passos envolvidos na realização da conta armada.
Estratégias pessoais
O que acontece quando se propõe às crianças que
resolvam contas, antes de terem aprendido a conta
armada? Vejamos na conta já citada:
A criança que resolveu essa conta está na 1
a
série. Tal
como toda sua classe, ela recebe estímulos para buscar
formas novas de resolver seus problemas, mostrar suas
soluções aos colegas e discutir as diferentes estratégias.
A professora costuma acolher com atenção as diversas
tentativas e valorizar as contribuições dos alunos. Nesse
contexto, as crianças se sentem à vontade para associar di-
ferentes conhecimentos e buscar suas próprias soluções.
Lucas resolveu assim a mesma conta:
28 + 44 =
20 + 8 = 28 E 40 + 4 = 44
20 + 40 = 60 E 8 + 4 = 12
60 + 12 = 60 + 10 + 2 = 70 + 2 = 72
Comparando este modo de calcular com aquilo
que acontece na conta armada, vemos que há muitas
semelhanças. Essa comparação pode sugerir possibi-
lidades de desenvolver o trabalho com a conta arma-
da de forma mais eficiente.
28
44
12
6
+
Estratégia de Lucas
Inicialmente, decompôs
os números envolvidos e
agrupou separadamente
as dezenas e as unida-
des:
20 + 8 = 28
40 + 4 = 44
20 + 40 = 60
8 + 4 = 12
Quando juntou seus resul-
tados parciais, ele encon-
trou:
60 + 12 = 60 + 10 + 2
Ou seja, fez uma nova de-
composição do 12, obten-
do mais uma dezena para
juntar ao resultado da
adição das dezenas que já
havia feito.
Na conta armada
Estes passos corres-
pondem àquilo que
fazemos ao alinhar os
algarismos em colu-
nas, de acordo com a
ordem que represen-
tam: unidades embai-
xo de unidades, deze-
nas sob dezenas:
A nova dezena obtida a
partir da soma das uni-
dades é exatamente o
‘vai um’ que aparece
nessa mesma adição:
28
44+
28
44
72
+
1
Programa 8
60
61
Desarmando as contas
>
Quando cortamos o 7, para que ele empreste 1’
ao 2, estamos cobrindo os seguintes passos:
a) Separamos uma das dezenas do 70, transfor-
mando-o em 6 dezenas + 10 unidades.
b) Juntamos as 10 unidades com o 2, totalizando
12.
É muito importante não esquecer que, nesta con-
ta armada, o 7 não é apenas um 7: na verdade, ele
continua ‘valendo 70’, ou 7 dezenas. Quando ‘empres-
ta 1’, está emprestando uma dezena, que se juntará
com as duas unidades, transformando o 2 em 12 (10
+ 2).
É mais ou menos isso que Juliana fez, ao ‘trans-
formar’ um 10, daqueles em que decompôs o 72, em
dez palitos. Ela não juntou essas dez unidades com
as outras duas porque, para seu cálculo, isso não se-
ria necessário. Mas, no algoritmo, é.
A conta de ‘escorregar’
Uma outra maneira de realizar a conta de subtração é
aquela em que se empresta 1, mas esse 1 escorrega
e é acrescentado ao subtraendo:
É bem mais difícil explicar o que aconteceu neste
caso. Por que esse procedimento dá certo? Antes de
responder, vamos observar estas subtrações:
12 - 5 = 7
22 - 15 = 7
14 - 7 = 7
O algoritmo da subtração
No ensino da conta de adição, a principal dificuldade
é o transporte (o ‘vai um’). E a conta de subtração tam-
bém coloca seus desafios, se quisermos que as crian-
ças não se limitem a repetir as etapas, sem
compreendê-las.
No caso da subtração, o maior desafio é explicar
o significado do empresta 1’. Vamos partir de um
exemplo, e vejamos como os alunos resolvem, antes
de aprender a conta armada.
João tinha 72 reais. Gastou 38 reais comprando al-
gumas roupas. Quanto sobrou?
Juliana resolveu o problema assim:
10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10 + 2
¯
RESPOSTA: 34 REAIS.
É simples compreender o que ela fez, não é? Ela
decompôs o 72 em 7 grupos de 10, pois sabe que o 7
do número 72 vale 7 vezes o número 10. Depois, ris-
cou os três grupos de 10 correspondentes ao 38. Para
subtrair o 8, transformou uma das dezenas restantes
em dez unidades, deixando sobrar 2 (10 - 8). Feito
isso, bastou contar quanto sobrou.
Como seria a conta armada para resolver esse
mesmo problema?
72
38
-
72
38
34
-
61
72
38
-
72
38
34
-
4
1
Programa 8
62
63
Desarmando as contas
A segunda conta envolve o conhecimento de uma
propriedade da subtração – se somarmos ou subtrair-
mos um mesmo valor aos dois termos de uma sub-
tração, não alteraremos o resultado. Não é fácil com-
preender isso nas séries iniciais.
Para finalizar
Procuramos enfatizar a importância de não tratar de
forma mecânica o aprendizado do algoritmo. Os dife-
rentes passos de seu processo de resolução têm sig-
nificados precisos. A compreensão desses passos con-
tribui para evitar que as crianças cometam erros cria-
dos pela incompreensão do processo e, por outro
lado, permite que elas estabeleçam relações com as
propriedades do sistema de numeração.
Propor atividades nas quais as crianças têm a
possibilidade de explorar formas pessoais de cálculo,
antes de apresentar a elas o algoritmo convencional,
permite que elas tenham contato com procedimentos
variados. Isso será útil para entenderem o algoritmo
como apenas uma, entre várias possibilidades de cal-
cular.
Vimos também que as estratégias de cálculo ela-
boradas pelas crianças podem ser um ótimo recurso
para que compreendam melhor o mecanismo da con-
ta armada.
Para concluir: permitir que os alunos criem suas
próprias estratégias contribui para valorizar sua pro-
dução e para estimular uma atitude aberta ao buscar
novas soluções, nas mais diferentes situações-proble-
ma apresentadas.
Como você vê, as três subtrações têm o mesmo re-
sultado. Isso se deve a uma propriedade da subtração.
Quando somamos um mesmo valor ao minuendo e
ao subtraendo, não alteramos o resultado da subtra-
ção. Esta é uma propriedade da subtração.
Veja o que foi feito:
Na conta armada que estávamos resolvendo com
Juliana fizemos assim:
Assim, somando 10 aos dois termos, o resultado
da subtração se mantém o mesmo.
Para os alunos das primeiras séries é sem dú-
vida bem mais fácil compreender o primeiro modo
de fazer uma subtração, emprestando 1’. Fica mais
simples relacionarem as várias etapas desse mé-
todo aos conhecimentos que já construíram. Eles
sabem que, no 72, o 7 vale 70 ou 7 grupinhos de
10; que um desses grupinhos de 10 corresponde a
10 unidades, e assim por diante.
1
a
conta
2
a
conta
3
a
conta
12 - 5 = 7
(12 + 10) - (5 + 10) = 7
(12 + 2) - (5 + 2) = 7
Somamos 10 ao minuen-
do e 10 ao subtraendo
Somamos 2 ao minuendo
e 2 ao subtraendo
Este pequeno 1 junto às unidades significa que
acrescentamos 10 ao 72 (ficou 70 + 12)
Este pequeno 4 junto às dezenas significa que
acrescentamos 10 também aqui. Em vez de 3 de-
zenas, ficaram 4 (em vez de 38, temos 48).
72
1
38
4
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