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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CADERNOS DA
N. 1/2000
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Deficiência Visual
Marta Gil (Org.)
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SUMÁRIO
Conversas sobre deficiência visual
O começo da vida: 0 a 3 anos
Educação pré-escolar: 4 a 6 anos
O ensino fundamental: 7a 11 anos
Adolescência, tempo de
mudanças e de escolhas
Vida adulta: trabalho,
casamento e responsabilidades
Lembretes
Bibliografia
5
21
33
39
55
63
69
75
Presidente da República
Fernando Henrique Cardoso
Ministro da Educação
Paulo Renato Souza
Secretário de Educação a Distância
Pedro Paulo Poppovic
Secretária de Educação Especial
Marilene Ribeiro dos Santos
Secretaria de Educação a Distância
Cadernos da TV Escola
Diretor de Produção e Divulgação
José Roberto Neffa Sadek
Coordenação Geral
Vera Maria Arantes
Projeto e Execução Editorial
Elzira Arantes (texto) e Alex Furini (arte)
Capa:
Tratamento gráfico sobre alfabeto Braille
© 2000 Secretaria de Educação a Distância/MEC
Tiragem: 110 mil exemplares
Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou utilizada de qualquer
forma ou por qualquer método, eletrônico ou mecânico, sem autorização,
solicitada via carta ou fax.
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 100 CEP 70047-900
Caixa Postal 9659 – CEP 70001-970 – Brasília, DF
Fax: (0XX61) 410 9158 – E-mail: [email protected].br
Internet: http://www.mec.gov.br/seed/tvescola
CDU 376.353
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Deficiência visual / Marta Gil (org.). – Brasília : MEC. Secretaria de
Educação a Distância, 2000.
80 p. : il. - (Cadernos da TV Escola. 1. ISSN 1518-4692)
1.Deficiência visual 2.Integração escolar.3. Sexualidade.
4. Educação Especial.
I. Secretaria de Educação a Distância.
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5
Programa 1
uitos consideram que a palavra deficiente’ tem
um significado muito forte, carregado de valo-
res morais, contrapondo-se a eficiente. Levaria
a supor que a pessoa deficiente não é capaz; e, sendo
assim, então é preguiçosa, incompetente e sem inteligên-
cia. A ênfase recai no que falta, na limitação, no defeito,
gerando sentimentos como desprezo, indiferença, chaco-
ta, piedade ou pena.
Esses sentimentos, por sua vez, provocam atitudes
carregadas de paternalismo e de assistencialismo, volta-
das para uma pessoa considerada incapaz de estudar, de
se relacionar com os demais, de trabalhar e de consti-
tuir família.
No entanto, à medida que vamos conhecendo uma
pessoa com deficiência, e convivendo com ela, cons-
tatamos que ela não é incapaz. Pode ter dificuldades
para realizar algumas atividades mas, por outro lado,
em geral tem extrema habilidade em outras. Exatamen-
te como todos nós. Todos nós temos habilidades e ta-
lentos característicos; nas pessoas com deficiência,
essas manifestações são apenas mais visíveis e mais
acentuadas.
Diante disso, hoje em dia se recomenda o uso do
termo pessoa portadora de deficiência, referindo-se, em
primeiro lugar, a uma pessoa, um ser humano, que pos-
sui entre suas características (magra, morena, brasileira
CONVERSAS SOBRE
DEFICIÊNCIA VISUAL
MM
MM
M
7
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
6
etc.) uma deficiência – mental, física (ou de locomo-
ção), auditiva ou visual.
Deficiência visual: conceitos
Os graus de visão abrangem um amplo espectro de
possibilidades: desde a cegueira total, até a visão per-
feita, também total. A expressão deficiência visual’ se
refere ao espectro que vai da cegueira até a visão
subnormal.
Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como
preferem alguns especialistas) à alteração da capaci-
dade funcional decorrente de fatores como rebaixa-
mento significativo da acuidade visual, redução im-
portante do campo visual e da sensibilidade aos con-
trastes e limitação de outras capacidades.
Entre os dois extremos da capacidade visual es-
tão situadas patologias como miopia, estrabismo,
astigmatismo, ambliopia, hipermetropia, que não
constituem necessariamente deficiência visual, mas
que na infância devem ser identificadas e tratadas o
mais rapidamente possível, pois podem interferir no
processo de desenvolvimento e na aprendizagem.
Uma definição simples de visão subnormal é a
incapacidade de enxergar com clareza suficiente para
contar os dedos da mão a uma distância de 3 metros,
à luz do dia; em outras palavras, trata-se de uma pes-
soa que conserva resíduos de visão.
Até recentemente, não se levava em conta a exis-
tência de resíduos visuais; a pessoa era tratada como
se fosse cega, aprendendo a ler e escrever em braille,
movimentar-se com auxílio de bengala etc. Hoje em
dia, oftalmologistas, terapeutas e educadores traba-
lham no sentido de aproveitar esse potencial visual nas
atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer.
Foram desenvolvidas técnicas para trabalhar o
resíduo visual assim que é constatada a deficiência.
Isso melhora significativamente a qualidade de vida,
mesmo sem eliminar a deficiência.
Usando auxílios ópticos (como óculos, lupas etc.),
a pessoa com baixa visão apenas distingue vultos, a
claridade, ou objetos a pouca distância. A visão se
apresenta embaçada, diminuída, restrita em seu cam-
po visual ou prejudicada de algum modo.
Recursos ou auxílios ópticos para visão subnormal são
lentes especiais ou dispositivos formados por um con-
junto de lentes, geralmente de alto poder, que se utili-
zam do princípio da magnificação da imagem, para que
possa ser reconhecida e discriminada pelo portador
de baixa visão. Os auxílios ópticos estão divididos em
dois tipos, de acordo com sua finalidade: recursos
ópticos para perto e recursos ópticos para longe.
(Braga, 1997, p. 12)
A importância da visão
A visão é o canal mais importante de relacionamento
do indivíduo com o mundo exterior. Tal como a audi-
ção, ela capta registros próximos ou distantes e per-
mite organizar, no nível cerebral, as informações
trazidas pelos outros órgãos dos sentidos.
Estudos recentes revelam que enxergar não é
uma habilidade inata, ou seja, ao nascer ainda não
sabemos enxergar: é preciso aprender a ver. Não é
um processo consciente. Embora nem pensemos nis-
so, estamos ensinando um bebê a enxergar, ao
carregá-lo no colo e ir mostrando: Olha o gatinho;
Onde está seu irmão?
O desenvolvimento das funções visuais ocorre nos
primeiros anos de vida. Graças a testes de acuidade
9
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
8
visual recentemente desenvolvidos, hoje é possível
fazer a avaliação funcional da visão de um recém-nas-
cido, ainda no berçário.
Nós todos temos diversos sistemas-guia, for-
mas muito pessoais que usamos para nos orientar
no espaço, em geral sem tomar consciência disso.
Por exemplo: para aprender um caminho, há quem
se oriente por uma casa diferente, um prédio, ou
outro marco de referência. Outros têm uma boa
noção dos pontos cardeais (norte, sul), usando-a
como orientação.
A visão constitui um desses sistemas-guia – pro-
vavelmente, o mais poderoso deles. Assim, os cegos
precisam recorrer a outros tipos de sistema-guia. Al-
guns, por exemplo, usam como referência o tipo de
calçamento das ruas (asfalto, paralelepípedos etc.), ou
as curvas e esquinas das ruas de seu trajeto. Outros
recorrem a pistas olfativas (uma fábrica de bolachas,
por exemplo), ou auditivas (ruídos de uma praça
movimentada).
O que significa a perda da visão?
A cegueira, ou perda total da visão, pode ser adqui-
rida, ou congênita (desde o nascimento). O indiví-
duo que nasce com o sentido da visão, perdendo-o
mais tarde, guarda memórias visuais, consegue se
lembrar das imagens, luzes e cores que conheceu,
e isso é muito útil para sua readaptação. Quem nasce
sem a capacidade da visão, por outro lado, jamais
pode formar uma memória visual, possuir lembran-
ças visuais.
Para quem enxerga, é impossível imaginar a vida
sem qualquer forma visual ou sem cor, porque as ima-
gens e as cores fazem parte de nosso pensamento. Não
basta fechar os olhos e tentar reproduzir o comporta-
mento de um cego pois, tendo memória visual, a pes-
soa tem consciência do que não está vendo.
Causas dos defeitos de visão
As causas mais freqüentes de cegueira e visão
subnormal são:
Retinopatia da prematuridade causada pela imaturi-
dade da retina, em decorrência de parto prematuro
ou de excesso de oxigênio na incubadora.
Catarata congênita em conseqüência de rubéola ou
de outras infecções na gestação.
Glaucoma congênito que pode ser hereditário ou cau-
sado por infecções.
Atrofia óptica.
Degenerações retinianas e alterações visuais
corticais.
A cegueira e a visão subnormal podem também re-
sultar de doenças como diabetes, descolamento de
retina ou traumatismos oculares.
O impacto da deficiência visual (congênita ou ad-
quirida) sobre o desenvolvimento individual e psi-
cológico varia muito entre os indivíduos. Depende
da idade em que ocorre, do grau da deficiência, da
dinâmica geral da família, das intervenções que fo-
rem tentadas, da personalidade da pessoa – enfim,
de uma infinidade de fatores.
Além da perda do sentido da visão, a cegueira
adquirida acarreta também outras perdas: emocionais;
das habilidades básicas (mobilidade, execução das
atividades diárias); da atividade profissional; da co-
municação; e da personalidade como um todo. Trata-
11
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
10
se de uma experiência traumática, que exige acompa-
nhamento terapêutico cuidadoso para a pessoa e para
sua família.
Quando a deficiência visual acontece na infância,
pode trazer prejuízos ao desenvolvimento
neuropsicomotor, com repercussões educacionais,
emocionais e sociais, que podem perdurar ao longo
de toda a vida, se não houver um tratamento adequa-
do, o mais cedo possível.
Atividades da vida diária:
caminho para a autonomia
Durante muitos anos, uma pessoa cega que falasse
bem, tivesse desempenho acadêmico satisfatório e
bom nível de informação e verbalização deslumbra-
va e maravilhava a todos. Nada mais se esperava
dela, em termos de autonomia e de independência.
Assim, a educação de uma criança portadora de de-
ficiência visual se voltava basicamente para seus
êxitos intelectuais.
Essa reação demonstrava a expectativa geral quan-
to às possibilidades de uma pessoa deficiente visual:
o preconceito impedia que ela fosse considerada ca-
paz de executar toda a gama de atividades que faz
parte do cotidiano – deslocar-se com independência,
cuidar-se e vestir-se com adequação, alimentar-se,
interagir socialmente de forma prática e adequada,
competir no mercado de trabalho, casar-se, enfim,
exercer seu papel de cidadão que conta com o respeito
da sociedade e é aceito.
Felizmente, as coisas estão mudando. Talvez não
com a rapidez que seria desejável, mas muitos servi-
ços de atendimento às crianças portadoras de defici-
ência visual já incorporam a seus programas um tra-
balho voltado para as atividades de vida diária e para
a orientação e a mobilidade.
Desde cedo, as pessoas que enxergam vão apren-
dendo a lidar com as mais diversas situações corri-
queiras, observando o ambiente a seu redor e relacio-
nando-se com as pessoas. É preciso possibilitar essa
mesma relação com o meio à pessoa que não enxer-
ga, ou que enxerga pouco.
Nos programas de atendimento a pessoas por-
tadoras de deficiência visual esse aprendizado é
conhecido como atividades da vida diária, ou
apenas ‘AVD’.
O Programa de Atividades da Vida Diária é uma pre-
paração para a vida; capacita para o prazer da auto-
suficiência, liberta da ajuda e da proteção excessivas
e motiva para o crescimento pessoal, por meio de
atitudes e valores positivos.
A independência alcançada graças a um bom
programa de Atividades da Vida Diária vai muito
além das necessidades pessoais básicas, como hi-
giene, alimentação, hábitos à mesa e etiqueta, cui-
dados com a casa e atividades sociais. Significa de-
senvolvimento da autoconfiança e valorização das
próprias capacidades, aquisição de naturalidade,
eficiência e desenvoltura no universo social e uma
atitude que favorece a conscientização da socieda-
de em relação às potencialidades do portador de de-
ficiência.
Há crianças que, além da deficiência visual,
apresentam outros comprometimentos – da fala, da
audição etc. Por isso, o primeiro passo em qual-
13
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
12
quer atendimento consiste em uma avaliação glo-
bal, feita por uma equipe interdisciplinar compos-
ta por oftalmologista, pedagogo, fonoaudiólogo e
outros profissionais, para decidir qual é o caminho
a seguir.
A partir do diagnóstico, é elaborado um progra-
ma de Educação Precoce, que inclui atividades
lúdicas de acordo com a idade. Sua aplicação depen-
de, em primeiro lugar, da efetiva participação da fa-
mília.
Para as crianças com visão subnormal se desen-
volve um Programa de Estimulação Visual, também
baseado em jogos e brincadeiras, criados ou adapta-
dos para as mais diferentes ocasiões. Essas ativida-
des se destinam a estimular a visão residual (quando
há), e também os outros sentidos.
Orientação e mobilidade
A deficiência visual, em qualquer grau, comprome-
te a capacidade da pessoa de se orientar e de se
movimentar no espaço com segurança e indepen-
dência.
Na idade pré-escolar, quando a criança está desen-
volvendo sua capacidade de socialização, isso preju-
dica (ou até mesmo impede) o conhecimento do
mundo a seu redor e seu relacionamento com outras
pessoas. É um momento em que ela gosta de ter ami-
gos, brincar junto e compartilhar os brinquedos. Se
estiver impossibilitada de desempenhar esses papéis,
ficará insatisfeita e isolada, e isso trará prejuízos a sua
aprendizagem.
Para alguns autores, a limitação na orientação e
na mobilidade pode ser considerada o efeito mais
grave da cegueira.
O desenvolvimento das habilidades de orientação e
mobilidade, parte essencial do processo educacional
de qualquer criança deficiente visual, precisa come-
çar desde cedo, em casa, com o apoio dos pais. De-
pois, o treinamento continuará na escola, com o pro-
fessor especializado.
Nos programas de estimulação precoce, orien-
tação e mobilidade, há técnicas especializadas para
desenvolver o sentido de orientação usando o tato,
a audição e o olfato para se relacionar com os ob-
jetos significativos que estão no ambiente. Assim,
a criança vai aprendendo a usar seus outros siste-
mas-guia.
O treinamento da orientação e da mobilidade per-
mite que a pessoa se movimente e se oriente com
segurança na escola, em casa, no trânsito, em locais
públicos etc., de acordo com sua idade.
O papel da família
À família, base do desenvolvimento do ser huma-
no, cabe a tarefa de oferecer ao portador de defici-
ência visual condições para seu crescimento como
indivíduo, tornando-o capaz de ser feliz e produti-
vo, dentro de sua realidade, de suas potencialidades
e de seus limites.
Embora nem sempre seja fácil, a família precisa
entender que o portador de deficiência é, antes de
mais nada e acima de tudo, uma pessoa total, evitan-
do focalizar a atenção na cegueira, ou na baixa capa-
cidade visual.
A primeira atitude importante consiste em acre-
ditar nas potencialidades da criança, considerando-
15
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
14
a capaz de estudar, de ser independente, de traba-
lhar, praticar esportes e tantas outras coisas que
seus amigos fazem. Para muitos portadores de de-
ficiência, a maior dificuldade está na falta de opor-
tunidades.
A troca de experiências, sentimentos e informações
nos ajuda a compreender a necessidade que crianças
ou adultos com deficiência, pais e profissionais, têm
de um espaço para construir juntos novos valores e
significados.
No Brasil ainda predomina, em relação à deficiên-
cia, uma concepção assistencialista, permeada de bar-
reiras sociais. Na maioria das vezes, o portador de
deficiência e sua família se sentem isolados, impoten-
tes, à espera de instituições, serviços médicos ou pro-
fissionais que possam miraculosamente curar ou con-
sertar’ a deficiência.
Muitas famílias prolongam seus momentos de
angústia, ansiedade, conflitos, negação, sublimação,
frustração e até mesmo desesperança por não dispor
de informações e não encontrar interlocutores para
discutir sua problemática e para se identificar. Eles
precisam contar com locais e pessoas com quem
possam conversar e compartilhar não só os sofri-
mentos, mas também os momentos de alegria, as
conquistas e vitórias.
O desenvolvimento da criança
portadora de deficiência visual
Para entender e avaliar o que acontece com o proces-
so de desenvolvimento da criança com deficiência
visual é preciso considerar, entre outros fatores:
idade em que aconteceu;
associação (ou não) com outras deficiências;
aspectos hereditários;
aspectos ambientais;
tratamento recebido.
A criança portadora de deficiência visual (cegueira ou
baixa visão) deve ser avaliada por profissionais da
área da saúde e da educação, num trabalho conjunto,
para identificar suas necessidades específicas e sua
potencialidade.
O sucesso de um programa de reabilitação de-
pende da atuação da equipe de profissionais jun-
to à criança e à família, desde o momento do diag-
nóstico.
Com freqüência são erroneamente consideradas
deficientes mentais, por sua dificuldade em realizar
certas tarefas, crianças cuja deficiência visual não foi
diagnosticada.
A maioria das crianças com deficiência visual
possui algum grau residual de visão: poucas são
totalmente cegas. Infelizmente, muitas das que
têm algum grau de visão são consideradas cegas
e tratadas como tal; dessa forma, perdem os be-
nefícios que o uso da visão residual poderia tra-
zer a seu processo de desenvolvimento e à sua
qualidade de vida.
Quanto antes as crianças com deficiência visual fo-
rem encaminhadas a serviços de atendimento,
maiores serão suas possibilidades de desenvolver
seu potencial.
17
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
16
Qual é o papel da escola?
E da sociedade?
Além da família, a escola e a sociedade também podem
(e devem) contribuir no sentido de ajudar a enfrentar
os obstáculos colocados pela deficiência. A escola é uma
das grandes aliadas na luta pela integração. Nesse es-
paço, as questões relacionadas a preconceitos, mitos e
estigmas podem ser debatidas e analisadas por todos:
professores, alunos e funcionários.
Ao abrir suas portas igualmente para os que enxer-
gam e os que não enxergam, a escola deixa de repro-
duzir a separação entre deficientes e não-deficientes
que há na sociedade.
Os portadores de deficiência freqüentemente fi-
cam segregados, escondidos, e a maioria das pessoas
não entra em contato direto com eles. Por isso, ao
encontrar uma pessoa com deficiência, esses indiví-
duos ficam inseguros, sem saber o que fazer, e às ve-
zes acabam tomando atitudes defensivas e
preconceituosas.
Ao se tornar um espaço de inclusão, a escola pro-
move trocas enriquecedoras para toda a equipe esco-
lar, incluindo os alunos e suas famílias.
A fonte de informações mais importante para o
educador traçar sua diretriz de ação junto ao edu-
cando é saber como ele é (como percebe, age, pen-
sa, fala e sente). O deficiente visual percebe a reali-
dade que está a sua volta por meio de seu corpo, na
sua maneira própria de ter contato com o mundo
que o cerca.
Para conhecer o deficiente visual e seus significa-
dos (interesses e conhecimentos) e habilidades, é
necessário acompanhá-lo nesse trajeto percorrido
pelo seu corpo, prestando atenção ao referencial
perceptual que ele irá revelar, que não é o da visão.
Partindo dos próprios caminhos perceptuais dos
deficientes visuais, o educador pode oferecer-lhes
oportunidades para entrarem em contato com novos
objetos, pessoas e situações e, assim, saber (ou
aprender).
Aprender é aqui entendido como a capacidade humana
de receber, colaborar, organizar novas informações e, a
partir desse conhecimento transformado, agir de forma
diferente do que se fazia antes. Aprende-se numa relação
com o outro ser humano e/ou com as coisas a seu redor.
(Masini, 1993)
O convívio com pessoas portadoras de deficiência (de
qualquer tipo) contribui para facilitar a quebra de ta-
bus e de estigmas, favorecendo a plena inclusão do
portador de deficiência na sociedade e auxiliando a
família a lidar com essa deficiência.
Todos os que rodeiam o deficiente visual precisam se
conscientizar de que suas relações interpessoais po-
dem ser saudáveis e baseadas na reciprocidade, pois
ele é uma pessoa total e capaz.
Porém, como bem lembra Renata Neves, profes-
sora de dança e fonoaudióloga, é preciso tomar cui-
dado para não minimizar as potencialidades e a con-
dição de ser do indivíduo.
A cooperação das famílias e a mobilização da co-
munidade em busca de melhor qualidade de vida,
educação e participação social das pessoas com defi-
ciência anuncia novos tempos, de combate às atitu-
19
Conversas sobre deficiência visualPrograma 1
18
des discriminatórias, de disseminação do conhecimen-
to e, principalmente, com a criação de uma sociedade
mais acolhedora e solidária.
Mitos, crendices e superstições
Devido à ignorância de suas causas, a cegueira com
freqüência despertou medo e superstição nas pesso-
as, ao longo dos séculos.
Na antiga Grécia, a palavra estigma’ se referia a
sinais corporais, associados a uma condição moral
inferior; a pessoa marcada por um estigma devia ser
evitada, principalmente em locais públicos. A ceguei-
ra, como outras deficiências, estava entre os estig-
mas denunciadores de péssimo caráter – seus porta-
dores eram marginalizados, excluídos do convívio
social. Já na Idade Média, a cegueira era vista como
um castigo divino.
Por outro lado, houve sociedades em que o cego
era considerado um favorito dos deuses: com sua
‘visão para dentro, ele veria coisas que escapavam
aos demais. Isso fazia dele um ser superior, um pri-
vilegiado.
À medida que a ciência foi identificando as cau-
sas e os mecanismos da perda de visão, essas concep-
ções fantasiosas foram mudando gradualmente.
Porém, muitas pessoas ainda se perturbam dian-
te de uma pessoa com deficiência. De certa forma, é
natural que se sintam desconfortáveis diante do di-
ferente. Mas esse desconforto diminui, ou até desa-
parece, quando se abre a possibilidade de um conví-
vio mais freqüente com pessoas deficientes e de um
maior conhecimento da dimensão do problema.
A civilização moderna em muito se beneficia dos
feitos de Helen Keller como divulgadora, em escala
mundial, das potencialidades da pessoa com defici-
ência, da música produzida por Johann Sebastian
Bach, da obra literária de Jorge Luis Borges, da músi-
ca de Ray Charles, Stevie Wonder, Andréa Bocelli e
muitos outros.
A crescente participação de pessoas portadoras de
deficiência na vida social, em escolas, clubes, empre-
sas ou igrejas, favorece a todos: a diversidade estimu-
la e enriquece nossa percepção.
As pessoas com deficiência são como você: têm os
mesmos direitos, sentimentos, sonhos e vontades.
Ter uma deficiência não torna a pessoa melhor ou
pior. O portador de deficiência não é um anjo, nem
um modelo de virtudes: é uma pessoa.
Se você se relaciona com uma pessoa deficiente,
evite agir como se a deficiência não existisse, pois isso
implicaria ignorar uma característica pessoal impor-
tante. Aja com naturalidade; se acontecer algo emba-
raçoso, uma dose de delicadeza, sinceridade e bom
humor nunca falha.
Quantos brasileiros
têm deficiência visual?
A Organização Mundial de Saúde estima que, nos
países em desenvolvimento, como o Brasil, de 1 a 1,5
por cento da população é portadora de deficiência
visual. Assim, no Brasil haveria cerca de 1,6 milhão de
pessoas com algum tipo de deficiência visual, sendo
a maioria delas com baixa visão.
Calcula-se ainda que, a cada 3 mil crianças, uma
é cega, e que a cada quinhentas crianças, uma tem
visão subnormal.
21
Programa 2
20
ários autores identificam como ‘sensório-motor’
o período que vai do nascimento até os 3 anos
de idade, pois é a fase da construção do siste-
ma de significação, do desenvolvimento cognitivo e da
interação com o meio ambiente.
Nessa fase, tenham ou não deficiência visual, os
recém-nascidos desenvolvem todos os seus sentidos
(olhando, cheirando, pegando e experimentando
tudo), e também seu sistema motor: aprendem a sus-
tentar a cabeça, rolar, engatinhar, andar, correr, pu-
lar, em um processo intenso e dinâmico. Nos primei-
ros meses de vida eles captam fundamentalmente as
sensações de calor, frio, dor, contato, pressão – for-
mas simples de percepção tátil.
É assim que a criança vai construindo seu conhe-
cimento, interagindo com o meio, com as pessoas ao
redor, comunicando-se e recebendo em troca informa-
ções de todo tipo.
A criança deficiente visual (cega ou com baixa vi-
são) desde o início sofre limitações em suas possi-
bilidades de apreensão do mundo externo e de adap-
tação ao meio. Ela precisa contar com pessoas dis-
poníveis para ajudá-la a explorar o mundo e a ela-
borar suas próprias informações, usando os demais
órgãos dos sentidos – audição, olfato, tato e paladar –
para ganhar autoconfiança e senso de equilíbrio.
O COMEÇO DA VIDA:
0 A 3 ANOS
VV
VV
V
Pelos dados do Censo Escolar, em 1998 havia
337.326 alunos com necessidades especiais matricu-
lados em escolas de todo o país. Destes, 15.473 (ou
4,6 por cento) apresentavam deficiência visual; a
maioria deles (9.907) cursava o ensino fundamental
em escolas da rede pública estadual.
Os especialistas estimam que os casos de deficiência
visual poderiam ser reduzidos em até 50 por cento se
fossem adotadas medidas preventivas eficientes nas
áreas de saúde e educação e se houvesse mais infor-
mação disponível.
Cabe à sociedade oferecer oportunidades para que
as pessoas com limitações em seu relacionamento
visual com o mundo possam desenvolver toda sua
capacidade física e mental e usufruir dela. Há, ainda,
muito a ser feito, mas é preciso reconhecer que já
ocorreram muitas conquistas e avanços.
23
O começo da vida: 0 a 3 anosPrograma 2
22
Bebês com deficiência visual
Todos nós utilizamos uma variedade de recursos para
nos orientar no espaço; a visão é um deles. O bebê
que enxerga é dotado de um potencial biológico para
compreender gradualmente o ambiente e se adaptar
a ele, usando todos os sentidos. Já o bebê sem o sen-
tido da visão precisa integrar e sintetizar os dados e
as informações captados no ambiente usando os ou-
tros canais de percepção sensorial.
É importante que o bebê deficiente visual apren-
da a usar seus outros sentidos o mais cedo possí-
vel, para se localizar e reconhecer seu espaço, evi-
tando atrasos em atividades como engatinhar e
andar. Trata-se de uma questão de aprendizado,
pois ele possui o mesmo potencial dos bebês do-
tados de visão.
Sem poder reagir a estímulos visuais – um brin-
quedo com cores fortes, o vestido da mãe, a lâmpada
que se acende –, o bebê não tem motivações para
erguer a cabeça, rolar de lado, tentar alcançar alguma
coisa. Como se mexe pouco, seus músculos não se
desenvolvem e ele não se prepara para sentar,
engatinhar e, depois, andar.
Freqüentemente, os bebês com baixa visão prefe-
rem ficar em um ambiente constante e familiar, te-
mendo as mudanças – mesmo que seja apenas uma
mudança de posição. Alguns, por exemplo, querem
permanecer de costas, escolhendo a estabilidade e a
imobilidade para se proteger do desconhecido mun-
do ameaçador. Mas eles precisam aprender a aceitar
as mudanças.
Assim sendo, os adultos devem se preocupar
em desenvolver atividades variadas de estimulação,
de forma gostosa, como brincadeiras, várias vezes
por dia.
É importante observar o bebê, para perceber o mo-
mento em que está pronto para experimentar no-
vos movimentos e posições, sem jamais forçar uma
situação.
Quanto mais cedo forem iniciadas as atividades e
quanto mais interessantes elas forem, mais satisfeito
ficará o bebê e mais motivado para tentar novas po-
sições. Se desde cedo for mudado de posição freqüen-
temente (com a barriguinha para baixo, de lado e de
costas), ele poderá se sentir confortável em qualquer
uma, gostando das mudanças.
Um caso que merece atenção especial é o dos bebês cuja
deficiência visual resulta de retinopatia da
prematuridade, situação em que a retina não atinge o
amadurecimento completo devido ao parto prematuro,
ou a um excesso de oxigênio na incubadora. Essa mes-
ma prematuridade provoca também o desenvolvimento
insuficiente da musculatura, que não amadurece comple-
tamente no útero, prejudicando a motricidade.
Se não forem estimulados, os bebês com defici-
ência visual tendem a ficar grudados’ no colchão,
mantendo a maior parte possível do corpo em conta-
to com a superfície. Com isso, acabam fortalecendo os
músculos errados, o que bloqueia a capacidade de re-
laxamento e tensiona os músculos, dificultando, en-
fim, o futuro desenvolvimento motor.
25
O começo da vida: 0 a 3 anosPrograma 2
24
Mãos: ferramentas preciosas
Há milhares de anos, quando o homem começou a
andar em posição ereta, libertou suas mãos da ta-
refa da locomoção. Assim, as mãos puderam evoluir
e se tornaram o principal instrumento para agir e
dominar o ambiente, além de ser um meio de ex-
pressão e de comunicação, e também um órgão de
percepção.
Se as mãos têm tamanha importância para o ser
humano, é fácil imaginar seu papel na vida das pes-
soas com deficiência visual. As informações chegam
a elas por dois canais principais: a linguagem – pois
ouvem e falam – e a exploração tátil, que depende
especialmente das mãos.
As mãos são os olhos das pessoas com deficiência
visual. O uso das mãos como instrumento de percep-
ção deve ser intensamente estimulado, incentivado
e aprimorado.
O adulto que nasceu deficiente visual, ou adquiriu
essa deficiência mais tarde, sempre pode aprender mui-
to graças à linguagem oral e gestual, ao pensamento abs-
trato, aos símbolos etc. Mas o bebê com deficiência vi-
sual precisa percorrer um longo caminho antes de dis-
por desses recursos, que se desenvolvem com a idade.
Desde o nascimento, é preciso despertar na crian-
ça cega o desejo de conhecer e aprender. Os pais de-
vem conversar mais com um recém-nascido portador
de deficiência visual do que se faz geralmente com os
não-deficientes.
Cada vez mais, a principal adaptação requerida
pela cegueira consiste em transformar a mão em um
órgão também de percepção, sem perder sua fun-
ção preênsil (tirar, colocar, abrir, fechar, tampar,
empilhar etc.).
Com as mãos, o bebê compreende que um obje-
to existe e pode entender para que serve. É a mão
que lhe dá as informações necessárias para locali-
zar, analisar e conhecer os brinquedos e outros ob-
jetos. Com as mãos, ele descobre a forma e percebe
o calor do rosto da mãe, adquire conceitos espaciais,
entende a relação entre os objetos, integra seu es-
quema corporal etc.
Durante toda a vida da pessoa com deficiência vi-
sual, a mão é um recurso privilegiado de conhecimen-
to. Mas nos primeiros anos de vida, enquanto a lin-
guagem está num estágio incipiente, ela desempenha
um papel ainda mais relevante.
Estimulação precoce
Em um processo trabalhoso, mas também muito inte-
ressante, os adultos que acompanham a criança com
deficiência visual têm a função de ajudá-la a utilizar as
mãos para descobrir o mundo e se interessar por ele.
Esse trabalho recebe o nome de estimulação precoce.
O conceito de estimulação precoce adotado pelo Mi-
nistério da Educação (Série Diretrizes n
o
3, Secretaria
de Educação Especial, 1995) é o seguinte:
Conjunto dinâmico de atividades e de recursos humanos
e ambientais incentivadores, destinados a proporcionar
à criança, nos seus primeiros anos de vida, experiências
significativas para alcançar pleno desenvolvimento no seu
processo evolutivo.
A estimulação precoce é uma ação facilitadora para
a construção do conhecimento, por meio da interação e
27
O começo da vida: 0 a 3 anosPrograma 2
26
da comunicação com o outro. Trata-se de um processo
que procura despertar a curiosidade e o interesse pela
descoberta do mundo, estimulando a iniciativa e a au-
tonomia da criança com deficiência visual.
Cada atividade de estimulação pode envolver várias
funções ao mesmo tempo. Por exemplo: se jogamos
uma bola com guizos para a criança, estamos trabalhan-
do a coordenação ouvido/mão, a exploração da forma
e da textura da bola, seu uso, sua função, a permanên-
cia do objeto e a compreensão da organização espacial.
O deficiente visual vivencia o mundo por meio do
tato. Essa percepção permite à criança compreender
que existe algo fora de si mesma, um mundo exterior
povoado de objetos e pessoas, cada um com seu
nome, sua forma e sua função próprias.
No entanto, para que o sentido do tato e seus prin-
cipais agentes, as mãos, se coloquem a serviço do
bebê cego, ou com visão residual, é preciso que ocor-
ram duas adaptações:
A mão deve ser educada’ para se transformar em
órgão de percepção, em instrumento de explo-
ração e de conhecimento.
A coordenação bimanual (das duas mãos) e a
coordenação ouvido/mão precisam substituir a
coordenação olho/mão estabelecida pelas crian-
ças que enxergam.
É nossa tarefa ajudar a criança deficiente visual a
encontrar caminhos eficazes e alegres para alcançar
essas adaptações. Brincar é a forma mais simples e
mais efetiva de interação com a criança.
A coordenação de ambas as mãos é indispensá-
vel para a criança perceber as coisas; se as mãos não
trabalham em equipe, o resultado final da pesquisa
se torna impossível. Exercícios como bater palmas,
segurar a mamadeira com as duas mãos, bater dois
objetos entre si horizontalmente, ou bater num pan-
deiro são ótimos para desenvolver a coordenação
bimanual.
Inicialmente, o bebê cego não está interessado
em tatear os objetos; seu interesse se concentra em
sensações de calor, na maciez do rosto das pesso-
as, em sua chupeta, no lençol do berço, no ato de
ser balançado. Brincar com essas sensações é um
bom começo.
Cabe aos pais, ou a outras pessoas que convi-
vam com o bebê, aproximar os estímulos que estão
fora de seu campo de percepção, facilitando a ex-
ploração e desenvolvendo seu interesse: orientar os
movimentos para que a criança acaricie os objetos
com a palma da mão, com tempo para descobri-los
e conhecê-los.
É fundamental perceber as necessidades, interes-
ses e desejos da criança e brincar enquanto ela esti-
ver disposta, deixando tempo para que descanse,
coma, durma – e encerrando a atividade assim que
observar sinais de cansaço.
Uma intervenção invasiva ou excessiva pode tra-
zer riscos. A receita é: estimular sem saturar, ajudar
sem invadir. Encontrar o equilíbrio entre esses dois
extremos depende da relação e da sintonia que esta-
belecemos com o bebê.
Brincando com as mãos
Entre 12 e 16 meses de idade ocorre uma mudança
significativa na forma de os bebês se aproximarem
dos objetos. É o momento em que a criança cega
29
O começo da vida: 0 a 3 anosPrograma 2
28
começa a utilizar mais suas mãos, explorando cuida-
dosamente os objetos para identificá-los e dar-lhes
um uso funcional. Mas, antes de usar as mãozinhas
para fazer uma exploração detalhada, o bebê brinca
com os objetos e gosta de colocá-los na boca.
Se retirarmos um objeto das mãos de um bebê
cego de menos de 8 meses de idade, ele não vai ten-
tar resgatá-lo. Para ele, as coisas aparecem e desa-
parecem de seu campo tátil, sem que entenda a ra-
zão, pois não vê o movimento do objeto, ao cair ou
ser retirado.
O único meio de o bebê compreender a existên-
cia de realidades exteriores fora de seu campo
perceptivo táctil é a experimentação. Para tanto, o
adulto deve dirigir as mãos da criança para os obje-
tos, levando-a a deduzir que as coisas permanecem
por perto e poderão ser alcançadas, se ela quiser. Di-
versas atividades colaboram nesse sentido:
Brincar com o rosto ou com as mãos dos pais.
Encostamos na criança e afastamo-nos um
pouquinho, de modo que o menor movimento
dela permita o encontro.
Movimentar objetos, com a mão da criança
apoiada sobre a nossa ou sobre algum de seus
objetos favoritos.
Colocar objetos sobre o peito da criança, para
que ela possa senti-los e procurá-los com as
mãozinhas.
Colocar objetos junto ao corpo do bebê, em
posições variadas.
Colocar objetos, de preferência sonoros, bem
perto de seus braços, para que sejam percebidos
ao menor movimento.
Colocar a criança sentada, com objetos entre suas
pernas, ou bem perto dela, na sua frente ou a
seu lado.
Em um espaço aberto, incentivar a criança a
engatinhar, atraindo-a com objetos sonoros.
O tato e o mundo sonoro
O desenvolvimento psicológico do bebê deficiente
visual é especialmente vulnerável. Os recursos funda-
mentais de que dispõe para ajudar a integrar as in-
formações recolhidas no ambiente são a percepção
tátil e a sonora, além da afetividade.
O tato permite analisar um objeto de forma par-
celada e gradual. A visão, ao contrário, é sintética e
globalizadora. Assim, as informações parciais
fornecidas pelo tato precisam ser integradas, para
chegar a uma conclusão global.
Quando se interessa por alguma coisa, o bebê
deficiente visual pode permanecer pesquisando du-
rante longo tempo. Os adultos muitas vezes ficam
impacientes, sem entender que a demora equivale ao
tempo necessário para conhecer o objeto, pois a crian-
ça está iniciando seu processo de abstração.
A tarefa de explorar e conhecer um objeto requer
grande esforço da criança portadora de deficiência
visual. Por isso, ela precisa contar com situações ade-
quadas de aprendizagem, sem precipitação nem im-
paciência.
A percepção auditiva ajuda a criança portadora de
deficiência visual a compreender que existe uma rea-
lidade exterior, separada dela. No entanto, ela ainda
31
O começo da vida: 0 a 3 anosPrograma 2
30
precisa aprender o significado dos sons. Por exemplo:
ao ouvir a batida de uma porta, não sabe como é a
porta, para que serve, e nem que é feita de madeira. A
aquisição do significado do mundo dos sons é um
processo lento.
Objetos sonoros em geral são bem aceitos por
bebês com deficiência visual. Já a preferência por
texturas varia muito: alguns não gostam do conta-
to com a pelúcia; outros, rejeitam objetos de bor-
racha. A mãe logo aprende as preferências de seu
filho.
Desenvolvimento afetivo
O desenvolvimento afetivo é fundamental para garan-
tir à criança cega o desenvolvimento normal de seus
conhecimentos e a formação de uma personalidade
harmônica. Embora isso seja verdadeiro para todas as
crianças, com ou sem deficiência, é ainda mais impor-
tante para aquelas que possuem alguma deficiência.
Desde cedo, a criança com deficiência visual
manifesta uma forte preferência por pessoas, en-
quanto seu interesse por objetos demora mais a se
manifestar, em comparação com as crianças que en-
xergam. As pessoas de quem ela gosta são muito sig-
nificativas e determinantes. Essa relação de víncu-
lo deve ir evoluindo, abrindo lugar para o interesse
por objetos, por outras pessoas e pelo mundo exte-
rior em geral.
Na relação com o bebê portador de deficiência vi-
sual, é bom não esquecer estas palavras: conversar
e acariciar.
A voz e o toque são as melhores formas de tran-
qüilizar e confortar a criança. É importante desenvol-
ver quaisquer atividades de forma lenta e suave, por
pouco tempo de cada vez. Dedicar alguns minutos,
várias vezes ao dia, é a melhor forma de estimulá-la,
sem deixá-la cansada ou irritada.
O domínio do corpo
Muitas vezes, a criança deficiente visual demora mui-
to tempo para se sentir confiante e segura o suficien-
te para andar sozinha. Afinal de contas, é assustador
andar sem conseguir dominar a situação, sem ver o
ambiente em que se desloca.
Mas os adultos não devem desanimar; vale a pena
ser paciente e insistir. Se ela for aprendendo a andar
com apoio, vai chegar a hora em que possa andar
sozinha. A prática aumenta sua competência e também
a confiança nela e nos adultos.
Por outro lado, essa criança não tarda a perceber
que está cercada por muitos perigos, e isso restringe
seus movimentos. E com freqüência os pais podem
deixá-la ainda mais medrosa, insegura e sem iniciati-
va, ao impedir que se desenvolva como as outras cri-
anças – que caiam, ralem o joelho, se machuquem,
mas aprendam a usar o corpo, a fortalecer os múscu-
los e a descobrir o mundo.
O trabalho feito para estimular o desenvolvimen-
to motor deve promover experiências multissenso-
riais, combinando movimentos com panos, bolas e
bambolês e estímulos sonoros, como músicas e ins-
trumentos musicais, incentivando com brincadeiras
o uso do corpo.
33
Programa 3
32
ntre os 4 e os 6 anos, toda criança aprende a cal-
çar sapatos, se vestir, tomar banho e adquire
várias outras habilidades, se encaminhando
para a autonomia. Ao mesmo tempo, constrói concei-
tos e utiliza formas de expressão que serão funda-
mentais para o futuro aprendizado da leitura e da
escrita. Mas, para isso, ela precisa ser orientada e es-
timulada. A ausência de estímulos vindos da família
e do grupo social e a limitação da aquisição de expe-
riências por meio da privação de um dos órgãos dos
sentidos prejudica o desenvolvimento.
No caso da criança com deficiência visual, é mais im-
portante ainda desenvolver os órgãos dos sentidos de que
ela dispõe, já que lhe falta a visão, principal canal de apre-
ensão do mundo exterior. Ela não pode ser superprotegida
e ficar em uma redoma de vidro: deve ser incentivada a
desenvolver seu potencial e sua curiosidade. Se levar tom-
bos, arranhões, ralar o joelho, ficar suja, isso deve ser vis-
to com naturalidade – afinal, é uma criança!
Nessa etapa da vida (de 4 a 6 anos), a aprendiza-
gem significativa e conceitual passa pelas vivências
corporais no espaço e no tempo; daí a importância de
brincadeiras e jogos que estimulem a imaginação, de
atividades lúdicas e recreativas. A criança gosta de
ouvir histórias e de ter amiguinhos, por isso as ativi-
dades em grupo são muito mais enriquecedoras.
EDUCAÇÃO PRÉ-ESCOLAR:
4 A 6 ANOS
EE
EE
E
Família, escola e profissionais
Na escola de educação infantil ocorre um movimento
de interação entre a criança e o ambiente que a ro-
deia, um trabalho conjunto envolvendo a família e a
comunidade (principalmente a comunidade escolar),
para auxiliar a criança com deficiência visual a inter-
pretar e assimilar o mundo.
O papel da comunidade escolar consiste em apoiar,
orientar e dar suporte à família, para que esta aprenda
a lidar adequadamente com sua criança, pois é com ela
que se dá a maior convivência.
Os programas de Intervenção Precoce, Educação
Infantil e Escolar, adotados em escolas públicas par-
ticulares e instituições especializadas, cuidam das
necessidades da criança, ouvem os pais e escutam
suas prioridades e desejos, considerando o contexto
social em que vivem.
O programa de Educação Precoce deve possibilitar a
integração da criança com deficiência visual na famí-
lia, na escola e na comunidade, pela interação com
crianças e adultos.
O ideal é realizar um trabalho conjunto, no qual pro-
fissionais e famílias possam se reunir e trocar informa-
ções. Na prática, infelizmente, nem sempre é possível: em
algumas localidades não há esse tipo de serviço; outras
vezes, a família não tem recursos para matricular o filho
em escolas especializadas, ou mesmo ignora a existência
desses recursos, achando que nada há a fazer.
35
Educação pré-escolar: 4 a 6 anosPrograma 3
34
As atividades lúdicas e exploratórias, os jogos e as
brincadeiras, ajudam a reconhecer as potencialidades
de cada um, a desenvolver o raciocínio, a usar os ges-
tos para exprimir idéias, pensamentos e emoções e
permitem que a criança entre em contato com seu
próprio corpo e com suas possibilidades de movimen-
tação, desenvolvendo assim sua consciência corporal
e seu autoconhecimento.
Ao acreditar em si mesma, a criança passa a
confiar mais nos outros e aprende a brincar e a
atuar em grupo, trocando o isolamento por novas
amizades.
O primeiro dia na pré-escola
Muitas crianças, com deficiência ou não, começam a fre-
qüentar a escola por volta dos 4 anos. Em geral, as difi-
culdades de adaptação são superadas com naturalida-
de nas primeiras semanas, tanto pela criança quanto por
seus pais. No entanto, quando a criança é portadora de
uma deficiência, isso pode ser mais difícil, e às vezes
frustrante, para ela e para os pais. Assim, esse processo
precisa ser seguido com atenção.
Desde que tenha condições mínimas de comuni-
cação e de interação, de explorar o meio e de se orga-
nizar para compreender o ambiente que a rodeia, a
criança com deficiência visual pode e deve ser inte-
grada à pré-escola comum (ou seja, com crianças não-
deficientes).
No Brasil, a integração de crianças com deficiên-
cia visual e não-deficientes na pré-escola é recente e
se manifesta em ações isoladas e assistemáticas, sen-
do mais freqüente nas grandes cidades.
As situações de integração são variadas: algumas
escolas têm salas de apoio ou de recursos pedagógi-
cos, com professores especializados; outras recebem
a visita de professores itinerantes. Em outros casos, a
criança com deficiência freqüenta duas escolas: uma
comum e outra especializada. E há famílias que pre-
ferem pagar um professor particular.
Alguns municípios estão promovendo a inclusão
de crianças com deficiência já na fase de creche, e os
resultados têm sido muito positivos: crianças que
convivem com a diversidade desde pequenas tendem
a crescer com menor carga de preconceitos e a acei-
tar com naturalidade as diferenças.
O processo de aceitação da criança com deficiên-
cia depende do trabalho conjunto de profissionais
especializados e da equipe escolar, com a participa-
ção da família.
A adequação e a adaptação das atividades para
incluir a criança com deficiência visual serão fei-
tas, sempre que possível, de acordo com a
estruturação e a organização do cotidiano da esco-
la. Para isso, é indispensável que o professor de
apoio e o professor da classe comum trabalhem em
conjunto.
A integração escolar é um processo gradual e dinâmi-
co, que assume diferentes formas segundo as neces-
sidades e as características de cada aluno e o contex-
to da escola.
Para colher resultados positivos do processo de
inclusão, é preciso que toda a equipe escolar esteja
preparada para acolher a criança portadora de de-
ficiência, desde o porteiro até o diretor, passando pe-
37
Educação pré-escolar: 4 a 6 anosPrograma 3
36
los colegas de classe e pelas demais crianças.
Quando a escola desenvolve um processo de
sensibilização e de acolhimento da criança com defi-
ciência, os resultados costumam ser positivos, pois
todos se beneficiam: as crianças aprendem a exercer
a solidariedade e a conviver com o diferente; os pro-
fessores desenvolvem novas técnicas de ensino e
pesquisam novos materiais didáticos.
Aspectos positivos da integração
O processo de integração pré-escolar, além de favo-
recer o desenvolvimento integral – motor, intelectual
e emocional – do aluno com deficiência visual, tam-
bém contribui para o desenvolvimento de uma auto-
imagem positiva e para o enriquecimento e a amplia-
ção de conhecimentos, graças às experiências parti-
lhadas com o grupo.
Requisitos da integração
Reavaliar a prática pedagógica, levando em conta o
potencial da criança portadora de deficiência visual,
o fato de ela apresentar uma perda (a ausência da
visão), e os fatores sociais e culturais do grupo a
que ela pertence;
Utilizar os recursos específicos disponíveis (lentes
especiais, máquina de escrever braille, jogos adap-
tados, equipamentos de informática, softwares es-
pecíficos etc.).
A proposta pedagógica da pré-escola enfatiza as-
pectos do desenvolvimento afetivo, cognitivo, social
e físico, privilegiando o atendimento das necessida-
des da criança e envolvendo a família, sempre que
possível. A procura constante de recursos pedagó-
gicos, de novos métodos e técnicas, deve ser preo-
cupação de todos os que rodeiam a criança deficien-
te visual.
A parceria família/escola
A participação da família é fundamental para todo o
processo de atendimento à criança portadora de de-
ficiência visual. Os pais precisam entender as dificul-
dades do filho portador de deficiência, comunicando-
se com ele em uma atitude positiva diante dos desa-
fios impostos pela deficiência.
O trabalho de integração na escola depende cen-
tralmente da colaboração dos pais, aos quais cabe
fornecer informações a respeito das condições visuais
(cegueira/visão subnormal) do aluno, do eventual
uso da visão residual, de aspectos de seu desenvolvi-
mento global, da necessidade de adaptação do mate-
rial, da utilização de recursos ópticos, não-ópticos e
tecnológicos.
Os colegas da classe também devem ser informa-
dos a respeito do colega portador de deficiência. O
ideal é que o professor crie situações em que a parti-
cipação e a cooperação ocorram espontaneamente –
por exemplo, no trabalho em grupo –, sem que a crian-
ça com deficiência seja exposta a situações difíceis ou
constrangedoras.
É preciso avaliar se as atividades propostas con-
tribuem de fato para criar relações de amizade, evi-
tando a rejeição e/ou a superproteção. O professor
pode propor um rodízio para os companheiros aju-
darem a criança com deficiência visual, quando ne-
cessário, dentro e fora da sala de aula.
É importante procurar dar oportunidades a todos
de exercer a solidariedade e de perder o medo dos
39
Programa 4
38
diferentes, que ocorre naturalmente entre as crianças.
Com o tempo, os pais de todos os alunos perce-
berão que a inclusão de crianças com deficiência traz
um ganho para a classe. O professor, por sua vez, tam-
bém enriquece seu trabalho, ao se ver diante da ne-
cessidade de diversificar e tornar mais concretos os
conceitos e o material didático utilizados.
Defasagens no processo
de desenvolvimento
Nessa faixa etária, é natural que a criança com defici-
ência visual severa, ou cegueira, apresente defasagens
de desenvolvimento em relação às videntes (que en-
xergam). Ela começa a compensar as discrepâncias a
partir dos 6 ou 7 anos, com o estabelecimento da lin-
guagem conceitual, que lhe torna possível verificar as
hipóteses cognitivas.
A escola pode tomar diversas medidas com o objeti-
vo de capacitar os professores e a comunidade esco-
lar para lidar com as diferenças, como por exemplo:
promover reuniões para discutir as dificuldades;
convidar especialistas para fazer palestras a pro-
fessores e alunos;
distribuir literatura e exibir vídeos a respeito do
assunto;
convidar pais de crianças portadoras de deficiên-
cia, ou professores que já tiveram essa experiên-
cia, para dar depoimentos.
ntre os 7 e os 11 anos, mais ou menos, a principal
atividade da criança consiste em estudar. A escola
constitui o foco de seu mundo, local de aprendi-
zagem e de socialização, determinante de toda a rotina e
do ritmo de sua vida. Ela aprende a ler e a escrever e vê
se abrirem novos horizontes. Tudo isso é verdadeiro para
todas as crianças, inclusive as portadoras de deficiência
– talvez até com mais ênfase para estas.
A leitura e a escrita ocupam um papel central em
nossa sociedade, convertendo-se em habilidade in-
dispensável, mesmo para quem não enxerga, mas dis-
põe de técnicas diferentes, como o braille.
Diferentes processos
de desenvolvimento
Mesmo antes de aprender a ler e a escrever, a criança
vidente (que vê) incorpora muitas noções a respeito
da escrita: ela observa as embalagens, vê cartazes na
rua, anúncios na televisão, folheia livros, revistas e
jornais, vê as pessoas lendo e escrevendo. Sem per-
ceber, ela vai incorporando assistematicamente hábi-
tos de leitura e escrita; mesmo as menores fingem es-
crever’: fazem rabiscos no papel, desenham, brincam
de escolinha.
Esse contato constante com a palavra escrita cria
motivações para a alfabetização, pois a criança perce-
O ENSINO FUNDAMENTAL:
7 A 11 ANOS
EE
EE
E
41
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
40
be o objetivo e o significado da leitura.
Logo que o aluno chega à escola, o professor pro-
cura avaliar cuidadosamente seu desenvolvimento
psicomotor e cognitivo, buscando também conhecer
suas habilidades sensoriais (táteis, auditivas e vi-
suais), pois tudo isso é importantes para o processo
de alfabetização.
A aprendizagem das técnicas de leitura e escrita
depende do desenvolvimento simbólico e conceitual
do aluno, de sua maturidade mental, psicomotora e
emocional. Esse processo não acontece de forma es-
pontânea: resulta da orientação e do estímulo ofere-
cidos pelo professor, que escolhe um método e um
processo de alfabetização, bem como técnicas adequa-
das para desenvolver seu trabalho.
Logo de início, o aluno com deficiência visual (seja
cegueira ou baixa visão) apresenta uma desvantagem
básica: a perda (ou a redução) da visão. De modo
genérico, podemos destacar algumas características de
seu processo de desenvolvimento:
ele precisa mais tempo para assimilar determina-
dos conceitos, especialmente os mais abstratos;
requer estimulação contínua;
mostra dificuldade de interação, apreensão, ex-
ploração e domínio do meio físico;
desenvolve mais lentamente a consciência cor-
poral.
São muitas as carências da criança portadora de
deficiência visual. É importante que o professor e
a família levem em conta as inevitáveis diferenças
em relação à criança que enxerga, evitando fazer
comparações.
A experiência e o aprendizado das crianças porta-
doras de deficiência visual dependem muito de seus
outros órgãos dos sentidos, já que não contam (total
ou parcialmente) com a visão. A falta de estímulos e
experiências que mobilizam os sentidos disponíveis
pode prejudicar a compreensão das relações espaciais
e temporais e a aquisição de conceitos necessários ao
processo de alfabetização.
Porém, não se pode deixar de considerar que cada
criança tem uma história de vida peculiar e, conse-
qüentemente, desenvolve habilidades e características
muito pessoais. Assim, o mais importante é que o
professor procure conhecer e entender cada aluno de
sua sala.
Não há uma receita pronta e infalível para educar essa
ou aquela criança. O alfabetizador precisa conhecer
o aluno que está sob seus cuidados.
Braille ou tipos ampliados?
O portador de visão subnormal deve utilizar auxílios
ópticos adequados e materiais adaptados a suas ne-
cessidades especiais, como por exemplo os textos com
letras ampliadas. Na sala de aula, o professor precisa
estar atento para planejar a melhor posição (localiza-
ção da carteira em relação à lousa, à janela etc.) do
aluno, de forma a facilitar sua aprendizagem.
Não há uma regra única: tudo vai depender do
grau de visão da criança e do tipo de patologia que
ela tem. Dependendo do grau de visão, o aluno apren-
derá o sistema braille, ou disporá de textos com le-
tras escritas em tamanho maior que o comum (tipos
ampliados) e com maior espaço entre as linhas.
43
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
42
Um pouco de história
A primeira tentativa conhecida no sentido de desenvolver
um sistema de leitura para pessoas sem visão ocorreu em
1580, quando letras do alfabeto romano foram gravadas
em baixo-relevo, sobre pedacinhos de madeira.
Em 1825, Louis Braille inventou um eficiente sis-
tema de leitura e escrita para cegos, que leva seu nome
e ainda hoje é usado no mundo inteiro.
O sistema braille, inscrito em relevo, é explorado por
meio do tato. Cada cela’ é formada por um conjunto
de seis pontos, permitindo 63 diferentes combinações
para obter todos os sinais necessários à escrita: letras
do alfabeto, sinais de pontuação, maiúsculas e minús-
culas, símbolos de Matemática, Física, Química e no-
tação musical.
Os seis pontos são dispostos em duas co-
lunas, com três pontos em cada uma, forman-
do um retângulo, ou ‘cela’ de 6 milímetros de
altura por 2 de largura. Para facilitar sua iden-
tificação, os pontos são numerados.
O sistema braille pode ser escrito com dois tipos
de equipamento: o conjunto manual de reglete e
punção e a máquina de datilografia (Perkins-Braille),
que começou a ser produzida no Brasil em 1999.
Alfabetização da criança
com deficiência visual
Ao contrário da criança que enxerga, a cega demora a
conceber a idéia de leitura e escrita. Muitas vezes, só
entra em contato com esse universo no período esco-
lar, e isso inevitavelmente retarda seu processo de al-
fabetização.
O material braille não é tão atraente ao tato
como os livros coloridos são para a visão; por isso,
não é tão fácil despertar o interesse da criança.
Outro fator que interfere na motivação para a apren-
dizagem está no estímulo familiar. Bem poucas pes-
soas conhecem o sistema braille. Assim, não só o
acompanhamento em casa se torna mais complica-
do, como também fica difícil para os adultos ava-
liar e valorizar os esforços do estudante e os pro-
1
2
3
4
5
6
O alfabeto braille
a
bcde
f
ghi j
k
lmno
p
qrs t
u
vxyz
45
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
44
gressos que ele faz. Dificilmente um cego poderá
ouvir frases de estímulo como: Que letra bonita você
tem!, ou: Deixe-me ver seu caderno?.
Cabe à escola abrir frentes de conhecimento, suprir
lacunas e minimizar as carências. A educação precisa
investir com vigor no desenvolvimento integral da
criança, utilizando técnicas e recursos específicos para
promover a aprendizagem pelo sistema braille.
O aprendizado da leitura e da escrita em braille
requer um elevado desenvolvimento das habilida-
des motoras finas, além de flexibilidade nos punhos
e agilidade nos dedos. Se possível, a escola deve
oferecer treinamento para desenvolver tais habili-
dades, em situações concretas. Se a escola não dis-
puser de meios para isso, a família precisará bus-
car auxílio especializado.
Se tiver um aluno cego em sua sala, o professor
precisa sempre:
falar em voz alta o que está escrito no quadro
negro;
sempre que possível, passar para esse aluno es-
pecial a mesma lição dada aos outros, em classe
ou para casa;
buscar apoio com o professor especializado (da
sala de recursos, de apoio pedagógico ou do en-
sino itinerante), que ensinará à criança o siste-
ma braille e acompanhará o processo de apren-
dizagem e de desenvolvimento do raciocínio;
a partir do momento em que a criança estiver
alfabetizada, orientá-la para que anote todas as
tarefas.
O aluno que tem visão parcial suficiente para ler e
escrever com materiais comuns precisa ficar sentado
perto do quadro negro e utilizar recursos ópticos (ócu-
los com lentes próprias, lupas etc.). Dependendo do
grau de deficiência, ele precisará usar tipos amplia-
dos e escrever em cadernos especiais, com maior es-
paço entre as linhas.
Como é a leitura no sistema braille?
As pessoas com deficiência visual nem sempre con-
seguem ter suficiente velocidade de leitura para con-
seguir ler de forma eficiente e prazerosa. A velocida-
de da leitura em braille depende da idade em que a
pessoa aprendeu a ler, e também do grau de desen-
volvimento do tato: quanto maiores forem as oportu-
nidades para pesquisar e explorar o ambiente e quan-
to antes se iniciar o processo de alfabetização, melhor
será a qualidade da leitura.
Para o cego, a atividade de leitura envolve dificul-
dades bem peculiares. Por exemplo: a pessoa vidente
pode ler durante horas, sem parar; já a pessoa cega é
obrigada a interromper a leitura após algum tempo,
pois os dedos indicadores (os mais utilizados para ler)
vão perdendo a sensibilidade e se torna difícil iden-
tificar as palavras e as letras.
Pesquisas comprovam que a leitura tátil é três vezes
mais fatigante que a leitura visual.
Também são cansativos os movimentos das duas
mãos e a posição em que se precisa manter os braços. A
temperatura ambiente é outro fator adverso; no tempo
frio, é comum a sensação de amortecimento nos dedos,
o que prejudica o tato.
47
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
46
Como facilitar a leitura em braille
Algumas medidas simples contribuem para facilitar a
leitura em braille, como por exemplo:
distribuir o texto de forma lógica no espaço do pa-
pel; se ele estiver espalhado, fica difícil a localiza-
ção pelo tato e, conseqüentemente, a leitura se tor-
na cansativa;
um resumo colocado antes do texto completo des-
perta o interesse e aumenta a segurança, pois a pes-
soa tem uma idéia do conteúdo.
Resultados esperados
Ao final do processo de alfabetização, a criança deve-
rá ter desenvolvido habilidades para:
expressar seus pensamentos por escrito com cla-
reza, espontaneidade e criatividade;
ler com fluidez, entonação e ritmo;
compreender e interpretar pequenos textos;
escrever orações e pequenos textos de estrutura sim-
ples, com palavras de seu vocabulário cotidiano.
O aprendizado da Matemática
O aluno com deficiência visual tem as mesmas condições
de um vidente para aprender Matemática, acompanhan-
do idênticos conteúdos. No entanto, se faz necessário
adaptar as representações gráficas e os recursos didáticos.
Com freqüência, ao criar recursos didáticos especiais
para o aprendizado de alunos com necessidades espe-
ciais, o professor acaba beneficiando toda a classe, pois
recorre a materiais concretos, facilitando para todos a
compreensão dos conceitos.
Assim, o professor não precisa mudar seus procedi-
mentos quando tem um aluno portador de deficiência
visual em sua sala, mas apenas intensificar o uso de
materiais concretos, para ajudar a abstrair os conceitos.
O sorobã, ou ábaco, é fundamental para o ensino
da Matemática. Seu manuseio é fácil e aprender a usá-
lo é útil mesmo para o professor de classe comum.
Outra técnica complementar indispensável para o
aprendizado do aluno com deficiência visual é o cálculo
mental, que precisa ser estimulado desde o início e será
de grande valia, entre outras coisas, no estudo da álgebra.
A tecnologia na educação
do aluno deficiente visual
O enorme avanço na área da informática tem pro-
porcionado recursos valiosos para o processo de
ensino-aprendizagem do portador de deficiência
visual.
Há dois tipos de sistema de ampliação de letras
para as pessoas com visão reduzida:
softwares especiais, como o programa Lentepro,
desenvolvido pelo Núcleo de Computação Ele-
trônica da Universidade Federal do Rio de Janei-
ro, entre outros;
sistemas que permitem a ampliação direta do
texto, como os circuitos fechados de televisão.
Para pessoas com cegueira, há softwares que, com um
sintetizador de voz, fazem a leitura do que aparece
escrito na tela do microcomputador. No Brasil, temos
alguns programas com essa tecnologia, como por
exemplo o Dosvox, desenvolvido pelo Núcleo de
Computação Eletrônica da Universidade Federal do
Rio de Janeiro; e o Virtual Vision, desenvolvido pela
49
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
48
Sorobã
O sorobã, ou ábaco, é um instrumento usado tradicionalmente no Japão para fazer cálculos ma-
temáticos (muito antes das maquininhas eletrônicas). Ele torna possível realizar as operações
matemáticas (adição, subtração, multiplicação, divisão, radiciação e potenciação) com rapidez e
eficiência. Além de tudo, é um objeto de baixo custo e grande durabilidade. No Brasil, o sorobã
foi adaptado para o uso de deficientes visuais em 1949, e é hoje adotado em todo o país.
1. Moldura, assentada sobre suportes de borracha
na base, para evitar o deslizamento.
2. Régua, que divide as partes inferior e superior.
3. Eixos ou hastes, ao longo dos quais as contas
são movimentadas.
4. Pontos salientes, que dividem a régua em
sete espaços.
5. Parte superior, com 1 conta em cada haste.
6. Parte inferior, com 4 contas em cada haste.
7. Borracha que se apóia na base da moldura do
sorobã, evitando que as contas deslizem livre-
mente, sem ser movidas pelo operador.
1
2
5
6
743
Exemplo 1
Exemplo 2 - Representação de uma soma: 36 + 12.
2. Adicionar 1 dezena (do número 12) às 3 de-
zenas registradas e 2 unidades às 6 unidades já
registradas.
1. Registrar a primeira parcela (36).
quantidade registrada.
quantidade acrescentada.
3. Total registrado: 48.
Valores:
Na parte superior cada conta vale 5 unidades.
Na parte inferior cada conta vale 1 unidade.
As três primeiras hastes formam a classe das uni-
dades simples: unidades, dezenas e centenas. O
espaço delimita o conjunto seguinte de hastes que
correspondem ao milhar: unidade, dezena e cen-
tena de milhar. E assim por diante. No sorobã é
possível registrar até quintilhões.
Aqui o sorobã está
registrando o nú-
mero 22.322.
2
2322
51
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
50
MicroPower, empresa do município de São Caetano do
Sul (SP).
Existem também equipamentos para imprimir o
texto em braille, tanto para uso individual quan-
to para a produção de grandes tiragens de livros
e revistas.
Por enquanto, o microcomputador e a impressora
são os equipamentos de informática mais freqüen-
temente encontrados no Brasil. Porém, já há outros
disponíveis, como por exemplo: reglete de mesa, ter-
minal braille (display braille) e braille falado
(minicomputador).
A política nacional
de Educação Especial
Desde a década de 50 há salas de recursos para a
integração de crianças com deficiência visual nas es-
colas públicas do Brasil, fazendo de nosso país o pio-
neiro nesse tipo de atendimento na América Latina.
As diretrizes atuais do Ministério da Educação reco-
mendam que se dê prioridade ao atendimento esco-
lar integrado aos portadores de necessidades
educativas especiais.
Em obediência a essas diretrizes, a rede pública
oferece diversas modalidades de atendimento:
classe comum sem apoio da educação especial;
classe comum com apoio de serviços especiali-
zados;
sala de recursos nas escolas comuns;
ensino itinerante;
escolas integradoras/inclusivas;
classe especial nas escolas comuns;
centro de apoio pedagógico para atendimento a
pessoas com deficiência visual;
escolas e centros especializados.
Em geral, os alunos com deficiência visual são alfa-
betizados por professores especializados e em segui-
da integrados às classes comuns do ensino regular. A
partir daí, freqüentam a classe comum em um turno e
a sala de recursos, ou outro tipo de assessoria, em
outro.
No entanto, a integração nas salas de aula de en-
sino regular não deve ser uma imposição; deve-se
respeitar a vontade dos portadores de deficiência vi-
sual e de seus familiares. Só devem ser integrados na
sala de aula comum os alunos com condições de
acompanhar a proposta curricular e cuja família te-
nha feito essa opção.
Para os alunos portadores de deficiência visual
terem acesso ao currículo de disciplinas como Edu-
cação física, Educação artística, Geografia, Matemáti-
ca etc. os professores dessas disciplinas precisam fa-
zer algumas adaptações, em conjunto com os profes-
sores especializados.
O objetivo principal consiste em tornar mais con-
cretos os conceitos que serão ensinados. Por exem-
plo: é mais fácil ensinar acidentes geográficos (ilha,
rio, estuário etc.) utilizando um mapa em relevo ou
um tabuleiro cheio de areia, no qual a professora
pode ir jogando água e construindo’ o relevo.
Embora a atual política educacional esteja preocu-
pada com a inclusão de crianças portadoras de de-
ficiência no sistema comum de ensino em classes re-
gulares, temos comprovado a falta de alternativas
53
O ensino fundamental: 7 a 11 anosPrograma 4
52
pedagógicas que facilitem essa integração. No caso
específico de portadores de cegueira, uma das maio-
res limitações é a precariedade de suporte pedagó-
gico quanto ao acesso a informações escritas, tex-
tos literários, livros de literatura infantil, revistas e
outros. A falta de materiais impressos é um
dificultador da integração da criança no ensino re-
gular e, até mesmo, de uma aprendizagem bem-su-
cedida e, principalmente, prazerosa. Temos obser-
vado que essas crianças ficam restritas a materiais
didáticos com pouco ou nenhum espaço para a ima-
ginação, a criação e o aspecto lúdico da leitura.
(Garcia, 1998, pp. 31 e 32)
Onde acontece a integração?
A integração da criança portadora de deficiência vi-
sual não acontece apenas na sala de aula; é desejá-
vel que ela aconteça na família, nos ambientes so-
ciais, religiosos e de lazer. Mesmo que não estude
em uma sala comum, a criança precisa estar integra-
da ao ambiente social em que vive – na praça, no
parquinho, na festa de aniversário, na igreja, na lan-
chonete…
Antigamente, os educadores e profissionais espe-
cializados enfatizavam apenas o diagnóstico e a rea-
bilitação de aspectos específicos da deficiência. Nem
sempre pensavam nas outras faces do desenvolvi-
mento da criança – habilidades motoras, integração
social, vida emocional e afetiva etc.
Felizmente, hoje em dia o foco das atenções dos
educadores está na recuperação da integridade do ser
humano. Compreende-se que somente pela reintegra-
ção dos aspectos físicos, emocionais, cognitivos e
sociais será possível alcançar um desenvolvimento
global e harmonioso.
Para que o processo de integração do aluno com ne-
cessidades especiais aconteça de modo positivo, toda
a comunidade escolar deve estar preparada: pais, pro-
fessores, técnicos, funcionários de apoio da escola e,
especialmente, os alunos.
O processo de integração na escola ajuda a per-
ceber que as diferenças individuais são relativas –
todos temos dificuldades e, ao mesmo tempo, quali-
dades, o que nos dá direito à igualdade e à diferença.
Assim, devemos centralizar nosso interesse na reso-
lução, e não no problema; na qualidade de vida, e não
na facilidade da segregação; na diversidade, e não na
homogeneidade; na atenção às necessidades indivi-
duais, e não na simplificação da educação.
No contato com os adultos, a criança precisa sen-
tir que as limitações enfrentadas não são dela, mas da
própria deficiência. Isso contribui para dar-lhe segu-
rança e para que aprenda a expressar sem medo suas
dificuldades e pedir auxílio, saindo da passividade e
da acomodação que, em geral, levam a uma auto-ima-
gem negativa.
O verdadeiro trabalho de integração consiste em
criar situações estruturadas, que favoreçam a vivência
de experiências significativas, fortalecendo a auto-
imagem e ensinando o aluno a lidar com seus pró-
prios limites e frustrações. Assim, ele vai se sentindo
como um indivíduo atuante, capaz de compreender as
diferenças e as semelhanças e de se relacionar bem
com as outras pessoas.
55
Programa 5
o ciclo vital humano, a adolescência correspon-
de à transição entre a infância e a idade adulta.
Muitas são as questões e muitas as possibilida-
des de mudança, entre as quais sobressaem o despertar
da sexualidade e a escolha da profissão.
Para alguns autores, a puberdade é a primeira
fase da adolescência. Nos meninos, a voz muda, au-
menta o tamanho do pênis e começa a produção de
espermatozóides; aparecem pêlos, penugem e bar-
ba. Nas meninas ocorre a menarca (primeira mens-
truação); aparecem pêlos e seios, as formas se ar-
redondam.
Em ambos os sexos, os odores corporais mudam,
espinhas e cravos são comuns. Todas essas mudanças
são sinais evidentes do processo de amadurecimento
sexual, com aumento da produção hormonal. De modo
geral, as transformações hormonais, corporais e
ADOLESCÊNCIA, TEMPO DE
MUDANÇAS E DE ESCOLHAS
NN
NN
N
Entreaberto botão, entrecerrada rosa...
57
Adolescência, tempo de mudanças e de escolhasPrograma 5
56
cognitivas são comuns a todos os jovens, mas, no pla-
no psicológico, cada um tem sua vivência particular.
O processo de adolescência implica elaborar vá-
rias perdas: perda do corpo, do papel e da identidade
de criança. Nessa transição, o indivíduo já não reco-
nhece seu novo’ corpo e questiona sua nova’ identi-
dade. Tudo é ambíguo: briga com os pais, mas preci-
sa de sua atenção; ora se comporta como criança, ora
quer ser adulto. Os pais, por sua vez, também se sen-
tem desnorteados diante desse novo’ filho.
Sem dúvida se trata de uma situação de crise, mas
uma crise que pode ser muito criativa, pois o estado
anterior desaparece, dando lugar a uma nova condi-
ção. Superar essa fase difícil é uma condição de cres-
cimento interior.
Em nossa sociedade, um dos sinais de passagem da
adolescência para a idade adulta na classe média, por
exemplo, é o ato de se habilitar para dirigir um carro:
representa liberdade, autonomia de movimentação e
possibilidade de namoro. Imagine a situação do adoles-
cente com deficiência visual diante dessa limitação…
Espelho, espelho meu
A imagem corporal é extremamente importante para
todo adolescente. Acne, obesidade, seios muito peque-
nos, ou muito grandes, excesso ou falta de pêlos, esta-
tura baixa, ou alta demais, comparação com a aparên-
cia dos colegas, tudo isso ganha dimensões importan-
tes, levando o adolescente a se sentir infeliz e desvalo-
rizado. Qualquer diferença individual em relação à maio-
ria dos colegas é olhada com temor e insegurança.
Às vezes se desenvolve um quadro de depressão,
o jovem se fecha, passa a comer demais, ou de me-
nos, manifesta comportamentos agressivos ou
introspectivos, a sociabilidade fica comprometida.
Em uma sociedade como a nossa, que cultua o
corpo, a beleza e a perfeição, qualquer desvio desse pa-
drão parece intolerável ao adolescente.
Embora não possa ver, o adolescente com defici-
ência visual também sabe quais são os padrões estéti-
cos por intermédio das conversas com a família e com
os amigos e pelos meios de comunicação. Assim, as di-
ficuldades dessa fase crítica ganham para ele propor-
ções muito maiores.
Para alguns autores, aprender a amar o próprio cor-
po – principalmente quando ele não corresponde ao
modelo estético da sociedade – leva tempo e faz par-
te de um processo mais amplo, de auto-aceitação e
amadurecimento.
Por outro lado, devido à existência de riscos re-
ais, a criança portadora de deficiência visual
freqüentemente é superprotegida pela família, pelos
amigos e demais pessoas de suas relações. Com isso,
seu campo de sociabilidade acaba sendo naturalmen-
te restringido. Quando chega a adolescência, ela pode
se sentir insegura diante de novos relacionamentos e
de novos ambientes. O medo de se relacionar se tor-
na um sentimento constante e negativo, o adolescen-
te se sente ameaçado por tudo e por todos. Para al-
guns psicólogos, é nessa fase da adolescência que
surge a raiva da própria deficiência.
Adolescentes,
deficiência visual e sexualidade
Outro aspecto muito importante da adolescência se
refere à educação sexual dada pela família. Segundo
59
Adolescência, tempo de mudanças e de escolhasPrograma 5
58
as pesquisas, essa educação não tem possibilitado aos
jovens – mesmo àqueles que enxergam – assumir com
responsabilidade suas relações afetivo-sexuais. Em
geral as informações se restringem à sexualidade li-
gada à genitália, pois ainda hoje os pais têm dificul-
dade de dialogar sobre esse tema.
Mas, apesar da informação ser inexistente, fraca ou
inadequada, os jovens não deixam de se iniciar na
prática sexual, sem entender muito bem o que está
acontecendo com eles, como se fosse uma brincadei-
ra de faz-de-conta. E, muitas vezes, com resultados
inesperados, como um bebê não-planejado.
Ora, se a educação sexual dos jovens videntes é
reconhecidamente inadequada, imagine o que
acontece com jovens portadores de deficiência vi-
sual, vítimas de superproteção por um lado e, por
outro, de preconceitos e mitos – que projetam sua
imagem como assexuados, incapazes, dependentes
e eternas crianças. Com freqüência, em seu próprio
ambiente familiar ele é visto como pessoa pura’ e
‘ingênua.
O portador de deficiência visual é um ser humano
igual aos demais, com impulsos sexuais e potencial
para viver sua sexualidade.
Assim, se é complicado para os
jovens sem deficiência viver sua
sexualidade, supõe-se que, para
os adolescentes portadores de
cegueira ou de baixa visão, a
descoberta da sexualidade é
muito mais difícil. É funda-
mental que tenham a oportuni-
dade de expor abertamente suas
dúvidas e receber em resposta informações claras e
verdadeiras, para que consigam vivenciar sua sexua-
lidade de forma tranqüila e responsável.
Ajustamento à sociedade
As expectativas da sociedade são diferentes para os que
enxergam e os que não enxergam. Para atender a es-
sas expectativas, o adolescente com deficiência visual
procura atuar de forma similar a seu amigo que vê:
quer descobrir o mundo, conhecer pessoas, namorar.
A ausência da visão cria barreiras, pois interfere em seu
senso de integridade física e em sua imagem corporal
de pessoa sexualmente aceitável, bem como em sua ca-
pacidade de escolha do parceiro.
E, como todos os adolescentes, os jovens que não
vêem também buscam desesperadamente definir sua
identidade e seu lugar na sociedade. Além disso, que-
rem descobrir sua própria sexualidade e encontrar
meios adequados para expressar seus impulsos se-
xuais e vivenciar relacionamentos afetivos.
O impacto da deficiência visual sobre o desen-
volvimento individual e psicológico e sobre as res-
ponsabilidades potenciais trazidas pela adolescên-
cia varia muito – depende da idade, do grau de per-
da sensorial, da atitude dos pais e da dinâmica ge-
ral da família.
Quando os pais são superprotetores (e isso é
muito comum), a transição da infância para a adoles-
cência se torna mais difícil, ou mais demorada. Preo-
cupados com a possibilidade de gravidez, com doen-
ças sexualmente transmissíveis e com o uso de dro-
gas, e receosos de que seu filho seja rejeitado e ex-
plorado, os pais com freqüência acabam complican-
do a situação. Além disso, bloqueados por seus temo-
61
Adolescência, tempo de mudanças e de escolhasPrograma 5
60
res, deixam os diálogos e os esclarecimentos apenas
para a escola e os meios de comunicação, omitindo-
se desse processo.
A deficiência visual prejudica seriamente a atra-
ção física, pois a aparência desejável é o primeiro
requisito para um envolvimento afetivo e sexual. O
‘jogo do namoro’ também fica mais difícil para o ado-
lescente cego, pois não há o contato visual, a paquera.
Ele depende de sinais mais perceptíveis (toques, pa-
lavras) e, às vezes, seu desajeitamento e seu atropelo
inibem a aproximação.
Por isso, muitas vezes ele procura um companhei-
ro (ou uma companheira) também deficiente, o que
lhe traz segurança. Por outro lado, ter um namorado
(ou namorada) que enxerga lhe dá status, valorizan-
do-o diante dos outros portadores de deficiência.
Se o jovem (ou a jovem) for muito tímido, inseguro,
e se tiver assimilado os preconceitos e a falta de infor-
mação existentes em seu grupo social, ele pode ter pro-
blemas até mesmo em seu desempenho sexual – não
por dificuldades físicas (visto que a deficiência visual
somente afeta a visão), mas por razões psicológicas.
A adolescência, uma fase plena de descobertas e
transformações, pode ser vivida com intensidade pelo
portador de deficiência visual, do ponto de vista
afetivo e sexual. E a sexualidade, como parte da na-
tureza humana, contribui para inseri-lo no mundo.
A difícil autonomia
Nessa fase, parte dos jovens se encaminha para o
mercado de trabalho; outros continuarão seus estu-
dos, indo para o Ensino Médio e, posteriormente,
para um curso de nível superior. Todos sabemos como
a autonomia, a independência, a sociabilidade e a
possibilidade de sair com a turma’ são importantes
para qualquer adolescente. Para o portador de defi-
ciência visual, é ainda mais.
É nesse momento que são mais valorizadas as
habilidades adquiridas por meio das técnicas de
orientação e mobilidade, que idealmente o jovem
deve ter desenvolvido em seus primeiros anos esco-
lares. O mesmo é verdade em relação às técnicas de
atividades da vida diária. O jovem com deficiência
visual precisa ter aprendido a cuidar de sua aparên-
cia, a combinar as roupas e a se comportar em espa-
ços sociais de forma adequada.
Esse aprendizado é indispensável para que ele
possa começar a planejar sua integração no mercado
de trabalho e a escolha de sua vida profissional.
Nesse campo, o jovem portador de deficiência
enfrenta as mesmas angústias e indecisões do jovem
que enxerga, mas de forma mais acentuada. Suas es-
colhas são mais restritas, é mais difícil comprovar sua
potencialidade para um possível empregador, a famí-
lia superprotetora hesita em deixá-lo sair do ninho
e tentar voar com as próprias asas.
63
Programa 6
62
ara o ser humano, seja ou não portador de defi-
ciência visual, a vida adulta envolve a capacida-
de de prover o próprio sustento e o da família. E
inclui também a responsabilidade de votar, participar de
sindicatos, partidos, clubes, associações ou movimen-
tos sociais, exercendo seu papel de cidadão.
Ao chegar à idade adulta, o portador de deficiência
visual congênita em geral já passou por um processo de
reabilitação, de escolarização, de orientação e mobilida-
de, de aquisição de hábitos de higiene e cuidados pes-
soais. Esse aprendizado pode ter ocorrido em escolas e
instituições especializadas, ou em escolas integradas.
Seja como for, a pessoa deve estar preparada para pro-
curar seu lugar no mercado de trabalho, assumir respon-
sabilidades e exercer seus direitos.
A situação é bem diferente quando a perda da vi-
são ocorre na idade adulta. Esse acontecimento é um
golpe na vida de um ser humano, atingindo também
VIDA ADULTA:
TRABALHO, CASAMENTO
E RESPONSABILIDADES
PP
PP
P
Dessa forma, a orientação vocacional assume um
papel fundamental para ajudá-lo a se conhecer me-
lhor e fazer sua opção profissional.
A orientação vocacional é uma técnica pedagógi-
ca que propõe desenvolver no aluno – com ou sem
deficiência visual –comportamentos racionais em di-
reção à escolha realista e responsável de uma profis-
são. Existem escolas que oferecem oficinas ou aulas
de informática, afinação de piano, trabalhos com ma-
deira, preparação de produtos de higiene pessoal,
operador de telemarketing, cursos de massagem,
acupuntura, artesanato – enfim, alternativas bem
diversificadas.
Alguns jovens conseguem definir rapidamente sua
profissão; para outros, esses programas funcionam
como uma sondagem de aptidões, contribuindo para
desenvolver a criatividade, a memória, a acuidade
auditiva etc.
Se os profissionais e os familiares tiverem inves-
tido no desenvolvimento de atitudes de responsabi-
lidade, autonomia, adequação social, consciência de
direitos e deveres, teremos um jovem pronto a enca-
rar a passagem para a vida adulta e para o exercício
da cidadania.
65
Vida adulta: trabalho, casamento e responsabilidadesPrograma 6
64
seus familiares e amigos. E as perdas não se resumem
ao prejuízo da visão: elas são emocionais, afetam as
habilidades básicas, a ocupação profissional, a comu-
nicação e a personalidade como um todo.
Após a cegueira a pessoa se vê mutilada, fragmen-
tada; ela se sente diferente do que era e também está
diferente dos demais. Algumas assumem o papel de
coitadinhas’; perdem sua auto-estima e procuram ti-
rar partido de sua condição, exigindo comiseração.
Deixam de trabalhar, esperando a boa vontade alheia.
Outras tentam negar sua nova condição de várias
formas: percorrendo consultórios médicos sem parar,
sem aceitar o diagnóstico, recusando-se a desenvol-
ver novas habilidades e a se adaptar à nova vida.
Para superar o golpe e encarar sua nova condição,
a primeira coisa é admitir com determinação a nova
realidade. Para isso, é muito importante o apoio de
familiares e amigos, para fortalecer sua capacidade de
luta e de superação de dificuldades e obstáculos.
O processo de reabilitação do deficiente visual com
cegueira adquirida começa quando ele mesmo aceita
que deve buscar auxílio para enfrentar suas limitações.
Após admitir a necessidade de um acompanhamen-
to, o deficiente visual adulto deve procurar um centro de
reabilitação que ofereça acompanhamento especializado,
com uma equipe multidisciplinar: médico oftalmologis-
ta, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, assistente social, psicó-
logo, professor especializado e terapeuta ocupacional.
Programa de reabilitação
Esse programa, preparado para adultos que perdem parcial
ou totalmente a visão, inclui vários tipos de atendimento:
Orientação e mobilidade: A pessoa que perdeu a
visão precisa aprender a se deslocar e a executar
as tarefas do dia-a-dia sem o estímulo visual. Para
isso, é fundamental aprimorar os demais sentidos,
a capacidade de concentração e a atenção, para
conseguir caminhar em ambientes conhecidos e
desconhecidos.
No Brasil, esse treinamento é feito em duplas
(um guia vidente e um deficiente visual), com a
bengala longa de alumínio, que pode ser inteiriça
ou dobrável. O cão-guia, muito freqüente em ou-
tros países, ainda não é comum entre nós, mas os
que existem têm sido utilizados com excelentes re-
sultados.
Existem pesquisas em andamento para desenvolver
auxílios eletrônicos, baseados no sonar dos morcegos,
destinados a alertar para obstáculos no caminho.
Desenvolvimento de habilidades manuais: É necessá-
rio trabalhar o tato e as habilidades manuais (coor-
denação motora fina), para que a pessoa possa apren-
der o braille e desempenhar com mais facilidade e
eficiência as atividades da vida diária.
Aprendizado do sistema braille: A leitura e a escrita
em braille dependem da sensibilidade do tato, indis-
pensável para seu exercício. Seu aprendizado abre
para o adulto cego uma ampla perspectiva de comu-
nicação.
Atividades da vida diária: Esse treinamento tem por
objetivo desenvolver (ou devolver) ao deficiente vi-
sual a independência nos cuidados pessoais, na ad-
ministração do lar, em tarefas como alimentação, hi-
giene e vestuário, para que ele possa agir adequada-
mente em seu cotidiano.
67
Vida adulta: trabalho, casamento e responsabilidadesPrograma 6
66
O mercado de trabalho
e o deficiente visual adulto
A situação de desemprego que hoje afeta um grande
número de brasileiros sem dúvida se estende também
para os portadores de deficiência visual. E, no caso
deles, se torna particularmente importante o investi-
mento na capacitação educacional e profissional, para
que dominem novas tecnologias, e ampliem seu aces-
so ao mercado de trabalho.
Por outro lado, a escolha de um trabalho depen-
de do conhecimento das opções existentes no merca-
do, e depende de saber quais delas podem ser
exercidas pelo portador de deficiência visual, quais
cursos e treinamentos existem para a capacitação e
como procurá-los.
Até recentemente, o portador de deficiência con-
tava com bem poucas opções de trabalho. Podia pro-
curar uma vaga no mercado formal de trabalho
(embalador, controlador de qualidade, separador de
peças, operador de câmara escura, telefonista etc.) em
empresas, fábricas, hospitais e outras instituições, ou
fazer ‘bicos, vendendo vassouras, bilhetes de loteria
ou algo semelhante.
O crescente desenvolvimento tecnológico, espe-
cialmente nas áreas de microeletrônica e
informática, cria continuamente uma ampla varie-
dade de profissões e empregos, inexistentes até há
pouco tempo, muitos deles compatíveis com a situa-
ção do deficiente visual. Quem poderia imaginar, há
alguns anos, que um cego chegaria a analista de
sistemas, por exemplo?
Existem alguns equipamentos que são utilizados
igualmente por deficientes visuais e por pessoas que
enxergam; para os primeiros, se instala um software
especial, um sintetizador de voz, que fala’ o que está
na tela. Esse computador pode ser acoplado a uma
impressora braille ou a uma impressora comum.
Escritório doméstico computadorizado
Essa solução, mencionada por Romeu Sassaki (1997)
permite às pessoas com deficiência atuar de várias
formas:
como empregado: trabalhando em casa, longe da
empresa que o contratou, mas conectado a ela por
meio do computador;
como empresário: monitorando, de sua casa, uma
empresa que fica em outro local, com a qual se
conecta por meio do computador;
como empresário: trabalhando em casa, onde está
instalada sua empresa, comunicando-se com clien-
tes e fornecedores por meio do computador.
Em qualquer dessas atividades, a pessoa precisa,
entre outras coisas, investir no desenvolvimento de
habilidades de autogestão empresarial, de técnicas de
gerenciamento e de administração, adquirir noções
sobre legislação, organização e financiamento de
microempresas e de cooperativas.
Embora ainda haja obstáculos a vencer, atualmen-
te há muitos deficientes visuais ocupando cargos em
indústrias, escolas, clínicas, empresas e hospitais, com
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68
LEMBRETES*
Cegueira não é o fim do mundo
Procure não encarar a cegueira como desgraça. Não
sinta pena do deficiente visual; a educação especial e
a reabilitação permitem superar muitas dificuldades.
Cegueira não ‘pega’
A cegueira é uma deficiência sensorial, não é uma
doença. Você já viu alguém pegar’ surdez?
Não faça aos outros o que não gostaria
que fizessem com você
É de extrema indelicadeza chamar um deficiente vi-
sual de cego, ou ‘ceguinho. Ninguém gosta de ser
rotulado. Você gostaria de ser chamado de gordo, ou
de ‘baixinho’?
Cegos não são surdos
Se a pessoa com deficiência visual estiver acompanha-
da, não se limite a falar apenas com seu companheiro,
para se comunicar com ela. Dirija-se diretamente a ela,
identifique-se e faça um contato físico: toque ligeira-
mente seu braço ou seu ombro, mostrando que está se
dirigindo a ela. Também não é o caso de falar aos
desempenho equivalente ao da média dos videntes
ou, em alguns casos, acima deles.
Ao se habilitar para prover seu sustento e formar
uma família, o portador de deficiência visual se torna
um cidadão de primeira categoria, capaz de exercer
seus direitos e seus deveres. Passa a estar incluído na
sociedade e conquista o respeito de todos, por sua
luta para chegar onde está.
* Excerto da obra A cegueira trocada em miúdos, de
Helena Flávia de Rezende Melo
71
70
Lembretes
berros. O fato de ela não retribuir seu olhar não signi-
fica que não possa manter uma conversação normal.
Não há palavras ‘tabu’
Às vezes as pessoas evitam usar palavras como ‘ver,
olhar’, ‘cegueira’ etc. quando conversam com pesso-
as com deficiência visual. Não há motivo para isso.
Os cegos não são ‘puros’
Os portadores de deficiência visual não são criaturas
puras, sem interesse pelas coisas deste mundo. Eles
se interessam por tudo que interessa a você, desfru-
tando das coisas a seu modo.
Músicos extraordinários?
Não pense que todos os deficientes visuais têm dons
artísticos, em particular musicais. Muitos são tão mu-
sicais quanto eu ou você: sabem tocar bem uma cam-
painha!
O famoso ‘sexto sentido’
Não pense que os cegos têm um sexto sentido ou al-
guma outra compensação pela perda da visão. Eles
apenas desenvolvem recursos latentes em todos nós.
Você, com o mesmo treinamento, será tão extraordi-
nário’ quanto eles!
Nem todos são vendedores de vassouras
É preconceituoso achar que as pessoas com deficiên-
cia visual só podem desempenhar determinadas pro-
fissões. Atualmente, eles são analistas de sistemas,
digitadores, operadores de telemarketing, psicólogos,
montadores de peças etc., profissões que exigem esco-
laridade e treinamento equivalentes aos que se requer
das demais pessoas.
Não fale com as mãos
Não gesticule nem aponte, pois isso não significa nada
para o portador de deficiência visual. Diga: O cinzeiro está
em sua frente”; A cadeira está atrás de você”. Ao indicar
direções, tome como referência a posição dele, e não a sua.
Tintim por tintim
Em ambientes desconhecidos, ou em situações novas,
ofereça ao deficiente visual o maior número possível
de informações, para que ele se oriente e se localize,
sabendo o que está acontecendo. Evite que ele passe
momentos de tensão e desconforto.
Adivinhe quem eu sou
O deficiente visual não precisa adivinhar quem está fa-
lando com ele; sua memória auditiva é boa, mas é im-
possível se lembrar de todas as vozes. Você também não
se lembra do rosto de todos a quem foi apresentado.
Identifique-se quando o encontrar e despeça-se dele
quando sair.
Dê uma mãozinha
Se encontrar uma pessoa cega sozinha, pergunte se
ela quer ajuda e qual é a forma mais adequada. Mas,
não se ofenda se seu oferecimento for recusado: nem
sempre as pessoas com deficiência precisam de auxí-
lio. Às vezes, uma determinada atividade pode ser
executada melhor sem assistência.
73
72
Lembretes
Um lugar para cada coisa,
cada coisa em seu lugar
Mantenha o caminho por onde passa um deficiente
visual limpo e desimpedido: objetos fora de lugar
podem causar acidentes.
Para que complicar, se pode simplificar?
Para mostrar onde está uma cadeira, basta colocar a
mão do deficiente visual no encosto da mesma: ele
vai saber onde ela está e vai se sentar sem problemas.
Não assuma o problema dele
Um deficiente visual não é de responsabilidade exclu-
sivamente sua, mas de toda a sociedade. E, acima de
tudo, deve ser responsável por si mesmo. Não faça
tudo por ele, como se fosse um bebê ou um incapaz.
“Do prato à boca,
nem sempre se perde a sopa”
Não é preciso dar comida na boca da pessoa com defici-
ência visual. Descreva os alimentos servidos, faça o pra-
to para ela e explique onde está a comida no prato. Ela
pode falhar algumas vezes, mas se arranjará sozinha.
Nos imprevistos, seja discreto
A pessoa cega pode não saber que há manchas, ras-
gos ou um pequeno desalinho em suas roupas ou
sapatos. Avise-a, mas de modo discreto, evitando de-
sencadear comentários maldosos.
Cego não é nômade
Se você encontrar um deficiente visual parado na cal-
çada, não o puxe nem empurre, forçando-o a atraves-
sar a rua. Pergunte antes se ele quer.
Seja um guia eficiente
Nunca puxe ou empurre a pessoa deficiente visual.
Ofereça seu braço; pelo movimento de seu corpo, ela
vai perceber se você está virando à direita ou à es-
querda etc.
“Antes só que mal acompanhado”
Não siga a pessoa portadora de deficiência visual,
pensando em evitar problemas. O cego, quando está
sozinho, está alerta, com os outros sentidos aguçados;
ele pode perceber sua presença e se irritar com isso,
perdendo a concentração.
O cego não é deficiente físico
Em uma escada, coloque a mão dele sobre o corrimão,
se houver. Caso contrário, dê o braço a ele ou algu-
mas dicas a respeito da estrutura da escada.
Um usuário diferenciado
Não empurre ou levante a pessoa com deficiência vi-
sual para entrar no ônibus. Coloque sua mão sobre a
alça externa vertical e ela subirá sozinha. Dentro do
ônibus, ela pode preferir ficar de pé.
Não o deixe na mão
Quando você estiver no ponto do ônibus e chegar um
deficiente visual pedindo para avisar quando sua con-
dução chegar, não se esqueça de fazê-lo. Caso seu
ônibus chegue antes, avise outras pessoas; se não
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75
houver mais ninguém, avise o portador de deficiên-
cia, pois ele confiou em você.
Dedos que valem ouro
Quando uma pessoa portadora de deficiência visual
for entrar ou sair de um carro, preste muita atenção
antes de bater a porta, para não prender os dedos
dela: eles são preciosos!
Não dê esmolas sem olhar a quem
Nem todos os cegos são pessoas carentes. Não ofen-
da: só dê dinheiro se a pessoa for tão pobre que pre-
cise pedir ajuda.
Melhor prevenir que remediar
Se você conhece pessoas portadoras de deficiência
visual ou que tenham membros da família com essa
deficiência e que estejam em idade reprodutiva, orien-
te-as para procurar um serviço de aconselhamento
genético. Essa é a única forma de saber se há possibi-
lidade de ter filhos com essa deficiência.
“É de pequenino que se torce o pepino”
Se você conhece um bebê com problemas visuais,
oriente a família para levá-lo a uma clínica ou escola
especializada o mais cedo possível. Não se deve es-
perar que ele cresça para receber tratamento adequa-
do. Quanto mais cedo for atendido, maiores chances
terá de superar suas dificuldades.
ALMEIDA, Maria da Glória de Souza. Prontidão para
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tar os professores, como adaptações curriculares,
normas e instruções. Alguns exemplos:
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escolas públicas do DF. Brasília, Secretaria de Edu-
cação do Distrito Federal, 1994.
Proposta curricular para deficientes visuais. Brasília,
Secretaria de Educação Especial/MEC, 1979.
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taria de Estado da Educação, Coordenadoria de
Estudos e Normas Pedagógicas, 1993.
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mobilidade. Brasília, Secretaria de Educação do
Distrito Federal, FEDF, 1994.
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Secretaria da Educação Fundamental/MEC, 1996.
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Bibliografia
Publicações especializadasPublicações especializadas
Publicações especializadasPublicações especializadas
Publicações especializadas
RevistaRevista
RevistaRevista
Revista
CON-TATO conversas sobre deficiência visualCON-TATO conversas sobre deficiência visual
CON-TATO conversas sobre deficiência visualCON-TATO conversas sobre deficiência visual
CON-TATO conversas sobre deficiência visual
Publicação de Laramara – Associação Brasileira de
Assistência ao Deficiente Visual
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