Relatório-Síntese 2000 ANEXO Jornalismo
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TEXTO II
Internet a custo zero
LEÃO SERVA(*)
() A publicidade chegou e vai tornar o acesso à Internet gratuito. Não é uma relação causal. Mas
tem um quê de ético: não é possível ter o melhor de todos os mundos o tempo todo; não se pode imaginar
que os provedores de acesso ganhem três vezes com o mesmo usuário.
Sim, três vezes, porque (1) no modelo de provimento pago, quanto maior o número de usuários-
assinantes, mais o provedor ganha; (2) ao mesmo tempo, tendo em vista sua carteira de clientes, ele
cobrará pelo preço da exposição dos anúncios a esses usuários-assinantes (e então já está ganhando
duas vezes sobre o mesmo usuário). Ocorre ainda que (3) de uns anos para cá entrou em cena um outro
agente: as bolsas de valores dos Estados Unidos, com investidores ávidos por comprar ações de
empresas que possam ter no futuro presença marcante na nova economia.
Os provedores brasileiros, como os de todo o mundo, levam à bolsa americana suas carteiras de
clientes e com base nelas são avaliados (e então fazem daquele mesmo usuário uma terceira fonte de
receita).
A reação de alguns setores da Internet contra o acesso gratuito oferecido pelos bancos e,
depois, ao surgimento do portal iG (Internet Grátis) no Brasil é apenas uma tentativa de conseguir uma
reserva de mercado para garantir seus níveis de rentabilidade. Trata-se de usar o poder público para
impedir o surgimento, no país, de um modelo econômico de exploração da Internet que se afirma em
todos os países onde a Internet chegou antes do Brasil (e onde, por isso, ela já tem uma massa crítica
de usuários que sustenta um mercado publicitário).
Isso não quer dizer que provedores pagos são empresas em extinção: o maior provedor do mundo
é pago (America Online, AOL) e mantém seu vigor apesar do crescimento da Internet gratuita nos EUA.
Sua estratégia, até agora bem sucedida, é a de oferecer serviços e conteúdos que um grande número
de pessoas paga para ter. Estratégia semelhante é usada no Brasil pelo Universo Online, UOL. As duas
acreditam no poder aquisitivo de seus usuários, em seus conteúdos exclusivos, fechados a usuários de
outros provedores.
Assim, as duas se deixam expor à concorrência dos provedores gratuitos e procuram garantir no
mercado suas posições, sem tentar lançar mão de reservas de mercado que significariam subsídios
indiretos. São diferentes, portanto, dos provedores brasileiros que apelaram para o poder público contra
o acesso gratuito oferecido pelos bancos, procurando garantir um regulamento que obriga o usuário a
gastar um dinheiro que tecnicamente já não precisa mais gastar. Comparando uma vez mais com o caso
das TVs, a ação desses provedores corresponderia a ver as TVs a cabo pedindo à Anatel ou ao Cade
que proibisse as TVs abertas de operar.
(*)Leão Serva é jornalista, editor do jornal digital Último Segundo (do portal iG, Internet Grátis), mestre em
Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, autor de Babel, A Mídia Antes do Dilúvio (Mandarim). Fragmentos de texto
publicado originalmente no Observatório da Imprensa no primeiro semestre de 2000.
Conteúdos predominantes:
− Cultura Contemporânea; Técnicas de reportagem, entrevista e pesquisa jornalística; Técnicas de redação e expressão
jornalística; Radiojornalismo; Recursos de edição e editoração em Jornalismo.
Habilidades aferidas:
− utilizar os ângulos de interesse jornalístico na produção de mensagens;
− codificar mensagens e editar matérias jornalísticas para meios audiovisuais;
− produzir textos e editá-los em espaço e período de tempo limitados;
− compreender e sistematizar os processos de produção jornalística;
− aplicar conhecimentos de diferentes disciplinas no exercício da função de jornalista, em particular na contextualização
dos fatos.
Padrão de Resposta Esperado:
I. Seleção de dados relevantes para o assunto em pauta, comparação, hierarquização.
Devem aparecer nos textos:
a) a Internet grátis desafia os provedores estabelecidos. Ressaltar as posições registradas nos depoimentos:
- Leonardo Silva acha que, por trás de Internet gratuita, estão as fontes de financiamento (audiência, publicidade e
comércio eletrônico), e que os provedores pequenos e médios terão de se adaptar a esta realidade.
- Leão Serva critica os provedores pagos por estarem incomodados com o avanço do acesso grátis e por estarem
tentando garantir suas posições, lançando mão de uma reserva de mercado. Apelam para o poder público para
garantir um regulamento que obriga o usuário a gastar dinheiro que tecnicamente já não precisa mais dispender.