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AVALIAÇÃO DE
CONCLUINTES DO
ENSINO MÉDIO
EM NOVE ESTADOS
1997
RELATÓRIO-SÍNTESE
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Livros Grátis
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Equipe Técnica – DAEB
Maria Mitsuko Okuda
Coordenadora-Geral de Avaliação
Luiza Massae Uema
Coordenadora-Geral do SAEB
Cláudia Tamassia
Guilherme Coelho Rabelo
Jane Hudson Abranches
Luiz José de Macêdo
Márcio Correa de Mello
Margarida de Sousa Queiroz
Consultoria: Fundação Carlos Chagas
Coordenação
Glória Maria dos Santos Pereira Lima
Yara Lúcia Espósito
Tratamento Estatístico
Dalton Francisco de Andrade
Miriam Bizzocchi
Assistentes Técnicos
Gláucia Torres Franco Novaes
Marina Muniz Rossa Nunes
Psicometristas
Meire Berto Augusto
Zélia Heringer de Moraes
Tratamento dos Dados
Leonardo Vieralves Azevedo
Ricardo Paterno
República Federativa do Brasil
Fernando Henrique Cardoso
Ministério da Educação e do Desporto - MEC
Paulo Renato Souza
Secretaria Executiva
Luciano Oliva Patrício
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais - Inep
Maria Helena Guimarães de Castro
Diretoria de Avaliação da Educação Básica
Maria Inês Gomes de Sá Pestana
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Avaliação de concluintes do ensino médio em nove estados, 1997 : rela-
tório-síntese / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais.–
Brasília : O Instituto, 1998
321 p. : il. tab
1. Ensino Médio. 2. Avaliação de desempenho discente. 3. Aluno conclu-
inte. I. Título
CDU 373.5
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3
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Sumário
5 Apresentação
7 Introdução
9 Perfil dos Concluintes
31 Análise das Provas
31 Língua Portuguesa
31 Manhã
52 Tarde
71 Noite
93 Matemática
94 Manhã
111 Tarde
130 Noite
151 Biologia
152 Manhã
170 Tarde
187 Noite
209 Física
209 Manhã
228 Tarde
247 Noite
267 Química
268 Manhã
287 Tarde
306 Noite
5
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Apresentação
Por solicitação do Conselho Nacional de Secretários de Educação
(CONSED) e em parceria com as Secretarias de Estado da Educação dos estados da Bahia,
Goiás, Pernambuco, Paraná, Rio Grande do Norte, Rondônia, Rio de Janeiro, São Paulo e
Sergipe, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação e
do Desporto, através da Diretoria de Avaliação da Educação Básica, realizou uma avaliação de
concluintes do Ensino Médio, com o objetivo de verificar o desempenho das escolas e o perfil
socioeconômico e cultural dos alunos matriculados na 3ª série do Ensino Médio.
A aplicação dos instrumentos foi realizada no dia 5 de novembro de
1997, nos nove estados citados, atingindo um total de 429.755 alunos de 5.141 escolas, das re-
des federal, estaduais, municipais e particular.
Os resultados dessa avaliação estão sendo divulgados em dois relató-
rios: o Relatório Final da Avaliação de Concluintes do Ensino Médio em Nove Estados, que apre-
senta todas as informações metodológicas, técnicas e operacionais sobre a pesquisa, as análi-
ses realizadas e os dados coletados, e este Relatório-Síntese da Avaliação de Concluintes do
Ensino Médio em Nove Estados, que contém o perfil dos concluintes, as questões das provas de
cada uma das disciplinas examinadas e a análise das respostas dadas pelos alunos.
Este Relatório-Síntese destina-se, preferencialmente, às escolas e aos
professores, pois busca informar-lhes as expectativas, a situação socioeconômica e cultural e o
desempenho dos alunos (isto é, os acertos e erros em cada questão), para que, de posse des-
ses resultados, as escolas possam redimensionar e refletir sobre seus projetos pedagógicos, e
os professores, a sua prática docente, replanejando-a em função das dificuldades apresentadas
pelos alunos em cada disciplina.
7
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Introdução
Com o objetivo de avaliar as escolas de Ensino Médio, gerando
insumos para a elaboração e revisão dos projetos pedagógicos das escolas participantes, o Mi-
nistério da Educação e do Desporto e nove Secretarias de Estado de Educação promoveram,
em novembro de 1997, um processo de avaliação do qual participaram 429.755 alunos da 3ª sé-
rie do Ensino Médio. Os estudantes responderam a provas de Língua Portuguesa, Matemática,
Física, Química e Biologia e a um questionário socioeconômico e cultural. Os estados participan-
tes foram: Rondônia, Goiás, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe, São Paulo, Rio
de Janeiro e Paraná.
A grande maioria dos alunos e das escolas pertencia às redes estadu-
ais de ensino, mas também houve a participação de alunos e escolas das demais redes de ensi-
no (federal, municipais e particular). O Quadro 1 mostra a abrangência da avaliação realizada.
Quadro 1: Ensino Médio – Concluintes em 1996 e
concluintes participantes da avaliação em 1997, por Estado
Vale destacar que, no ano de 1996, em todo o Brasil, os concluintes do
Ensino Médio foram 1.163.767; portanto, 62% dos concluintes pertenciam aos nove estados aci-
ma listados, o que torna as informações dos 429.755 alunos que participaram da avaliação bas-
tante significativas, uma vez que se referem a uma parcela expressiva dos alunos brasileiros
(cerca de 37% de todos os concluintes).
9
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Perfil dos Concluintes
Como já era esperado, o perfil dos concluintes é bastante peculiar e,
aparentemente, muito heterogêneo. Na realidade, esta heterogeneidade aparece quando obser-
vamos os concluintes em seu conjunto. No entanto, se separamos alguns grupos, tais como os
alunos do turno diurno em contraposição àqueles do turno noturno, bem como os alunos de cur-
so de formação acadêmica em contraposição aos alunos de cursos profissionalizantes, come-
çam a aparecer situações mais homogêneas e peculiares, como veremos a seguir.
Em termos gerais, 59% dos concluintes são mulheres. Já nos cursos
diurnos o contingente feminino cresce para 68% e, se olhamos os cursos profissionalizantes
deste mesmo turno, este porcentual aumenta para 74%. Nos nove estados, o contingente feminino
nos cursos profissionalizantes diurnos é sempre superior a 70%, indicando que as mulheres ampliam
a sua participação na matrícula quando se observa a formação profissional, o que significa uma mai-
or qualificação para o trabalho da mão-de-obra feminina, caso este quadro se mantenha.
Em relação à idade, o esperado é que o aluno da 3ª série esteja com-
pletando 17 ou 18 anos; no entanto, constata-se que aproximadamente a metade dos alunos
apresentou defasagem idade-série. Neste aspecto, porém, de acordo com o Quadro 2, existem
pelo menos duas realidades distintas, a dos cursos diurnos e a dos cursos noturnos, mas tam-
bém são registradas diferenças significativas entre as clientelas dos cursos acadêmicos e
profissionalizantes. No turno diurno, cerca de 83% dos concluintes têm até 20 anos, enquanto
que no noturno este porcentual cai para 66%. E nos cursos diurnos acadêmicos, os alunos com
até 20 anos correspondem a 90% do total, enquanto que nos cursos noturnos profissionalizantes
este porcentual cai para 58%.
Quadro 2 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a faixa de idade, o turno e o tipo de curso
10
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
A situação retratada no Quadro 2 repete-se, com pequenas variações,
em todos os nove estados. Em estados cujos sistemas de ensino têm maiores taxas de distorção
idade-série, há maior concentração de concluintes com 19 anos ou mais, como é o caso da
Bahia, de Pernambuco, Sergipe, do Rio Grande do Norte e de Rondônia. O Estado do Paraná,
embora esteja em situação semelhante aos demais, apresenta maiores contingentes de alunos
nas faixas etárias mais baixas.
Quanto ao estado civil, a grande maioria dos estudantes é solteira
(86,46%), sendo esta uma característica que abrange pelo menos 80% de todos os grupos.
A distribuição dos concluintes segundo o tipo de residência da família é
bastante homogênea, uma vez que os grupos diurno/noturno e acadêmico/profissionalizante não
diferem entre si. No total dos nove estados, cerca de 60% dos estudantes moram em residência
própria quitada, 18% em residência própria não quitada,12% em residência alugada e 4% em re-
sidência cedida.
A renda familiar mensal é uma informação, entre outras, que possibilita
a definição dos níveis socioeconômicos que caracterizam os concluintes do Ensino Médio e que,
em grande medida, afetam o trabalho desenvolvido pelas escolas. Da análise dos dados do con-
junto dos nove estados (Quadro 3) depreende-se, mais uma vez, a heterogeneidade da clientela
do Ensino Médio. Ou seja, a distribuição total dos concluintes por faixa de renda familiar mensal
revela um quadro heterogêneo, onde cada faixa de renda até R$ 1.200,00 aparece com pelo me-
nos um quinto dos alunos.
Quadro 3 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a faixa de renda familiar mensal, o turno e o tipo
de curso
Observa-se, também, uma concentração de alunos das faixas de ren-
da mais altas (acima de R$ 1.201,00) nos cursos acadêmicos do turno diurno (36,4%) e que, por
outro lado, 66% dos alunos dos cursos profissionalizantes no turno noturno têm renda familiar
mensal de até R$ 720,00. A diferenciação entre os turnos diurno e noturno aparece em todos os
nove estados, em maior ou menor grau (Quadro 4). Em Sergipe, por exemplo, ela é bastante for-
te, uma vez que, no turno diurno, 20% dos alunos posicionaram-se na faixa de R$ 1.201,00 a R$
2.400,00, contra 54% dos alunos do noturno na faixa de até R$ 360,00.
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AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 4 – Distribuição porcentual de concluintes
segundo a faixa de renda familiar mensal, o estado e o
turno
Os dados gerais, no entanto, mascaram diferentes situações nos esta-
dos, tomados individualmente. Tanto é que, analisando o Quadro 4, podemos identificar três gru-
pos distintos de estados, em termos de renda familiar dos estudantes: um primeiro grupo, forma-
do pelos estados da Bahia, de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, onde mais da metade dos
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AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
concluintes têm renda familiar de até R$ 360,00; um segundo grupo, formado por Goiás, Paraná,
Rio de Janeiro e Rondônia, onde cerca de um terço dos alunos têm renda de até R$ 360,00 e,
por último, o Estado de São Paulo, onde apenas 15% dos alunos se encontram nesta faixa de
renda. O Estado de Sergipe aparece entre o primeiro e o segundo grupo, com 39% dos alunos
na faixa de renda familiar de até R$ 360,00, embora 54% dos alunos do turno noturno estejam
nesta situação. Estas diferenças nos níveis de renda dos alunos parecem refletir, de certa forma,
os diferentes níveis de desenvolvimento e riqueza destes grupos de estados.
Também se pode ressaltar que, seguindo a tendência dos dados ge-
rais, há maior heterogeneidade, em termos de renda, nos estados do Paraná, Rio de Janeiro,
Rondônia e São Paulo, pois há uma distribuição de contingentes significativos de alunos (acima
de 15%) em pelo menos três faixas de renda. Já os estados de Pernambuco, Bahia e Rio Grande
do Norte têm uma clientela mais homogênea e mais pobre.
As informações do Quadro 5, sobre o exercício de atividade remunera-
da durante o Ensino Médio, e do Quadro 6, sobre a idade em que o estudante começou a exer-
cer atividade remunerada, ambas relacionadas ao perfil socioeconômico dos concluintes, confir-
mam, mais uma vez, as diferenças existentes entre os alunos dos turnos diurno e noturno. Se,
em termos gerais, 40% dos alunos nunca exerceram atividade remunerada, este porcentual au-
menta para 64% entre os alunos do turno diurno e cai para 28% entre os alunos do turno noturno.
Quadro 5 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo o exercício de atividade remunerada, o turno e o
tipo de curso
De forma semelhante comportam-se os dados do Quadro 6. Cerca de
31% dos concluintes pesquisados nunca exerceram atividade remunerada, porém 58% dos alu-
nos do turno diurno também jamais o fizeram, enquanto que somente 17% dos alunos do turno
noturno nunca receberam remuneração ao trabalhar. Também merece destaque o fato de 19%
dos alunos do turno noturno terem começado a exercer atividade remunerada com menos de 14
anos, contra apenas 6% dos alunos do turno diurno. Com pequenas variações, esta é também a
situação de cada um dos estados.
13
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 6 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a faixa de idade do início da atividade
remunerada, o turno e o tipo de curso
Ainda relacionadas à questão do trabalho, as informações do Quadro 7
mais uma vez revelam a situação distinta entre os turnos, pois enquanto os resultados gerais
mostram que apenas 29% do total de alunos não trabalha, no turno diurno este porcentual au-
menta para 57% e cai para 15% no turno noturno. Deve-se ressaltar que aproximadamente um
terço dos alunos do turno noturno profissionalizante encontra-se em situação de desemprego.
Quadro 7 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo sua situação atual em relação ao trabalho, o turno
e o tipo de curso
A situação dos concluintes em relação ao emprego é bastante seme-
lhante em todos os nove estados, isto é, com diferenças significativas entre os turnos diurno e
noturno. Com isso, reafirma-se não somente o já conhecido fato de que o aluno do ensino notur-
no é o aluno trabalhador, mas principalmente a necessidade urgente de se discutir e rever a atual
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AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
forma de atendimento deste alunado, tanto em termos de estrutura curricular quanto em termos
de metodologias, técnicas de ensino e materiais didáticos.
A participação do concluinte do Ensino Médio na vida econômica da
família também varia de acordo com o turno em que o aluno estuda, conforme pode ser observa-
do no Quadro 8.
Quadro 8 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo sua participação na vida econômica da família, o
turno e o tipo de curso
Alguns dados do turno noturno merecem ser ressaltados. Primeira-
mente, o contingente de 10% de alunos que trabalha para se manter e, em segundo lugar, os
cerca de 5% que trabalham e sustentam a família. Estes dados acrescentam um certo matiz ao
aluno trabalhador do ensino noturno, pois, na realidade, atenuam um pouco a carga do significa-
do do trabalho, que pode ser considerado mais como uma complementação de renda familiar,
aliás, a opção escolhida por 34% dos alunos do curso noturno.
É bastante diversificada a situação dos alunos em termos da ocupação
principal do chefe da família, de acordo com o Quadro 9. Destaca-se, com 21% das respostas, a
ocupação “trabalhador do setor informal”. Dentre as demais categorias, os seguintes grupos de
ocupação aparecem com freqüências superiores a 10%: trabalhadores do setor de prestação de
serviços (16,56%); trabalhadores da produção industrial (12,42%) e funcionários públicos
(11,15%). Em função da grande diversidade de respostas, não parece haver diferenças marcantes
entre os turnos ou tipos de curso, a não ser a presença de 11% de chefes de família dos cursos
diurnos acadêmicos no grupo “profissional liberal, professor ou técnico de nível superior” e de
12% no grupo “proprietário de microempresa”.
15
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 9 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a ocupação principal do chefe da família, o turno
e o tipo de curso
A situação atual de trabalho dos pais nos revela um quadro homogê-
neo, onde o mais comum, com 59% das respostas no caso do pai e cerca de 42% no caso da
mãe, é o trabalho regular. É significativo o número de pais e mães aposentados e pensionistas.
Merecem destaque as diferenças entre homens e mulheres nas situações classificadas como
“trabalho eventual” e “desemprego”, sendo significativo tanto o número de mulheres desempre-
gadas quanto daquelas em situação de “trabalho não regularmente” (sempre acima de 13%, nos
dois casos).
Quadro 10 – Distribuição pocentual de concluintes,
segundo a situação atual de trabalho do pai ou
responsável, o turno e o tipo de curso
16
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 11 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a situação atual de trabalho da mãe, o turno e o
tipo de curso
Os dados sobre a escolaridade dos pais (Quadros 12 e 13) mostram
que cerca de 50% dos jovens concluintes do Ensino Médio são filhos de pais que não completa-
ram o Ensino Fundamental; cerca de 11% dos pais possuem o nível médio de escolaridade e
apenas 5% dos pais (ou o pai, ou a mãe) possuem nível superior completo. Merece destaque,
mais uma vez, o caso do turno diurno, onde aparecem aproximadamente 10% de pais com nível
superior completo.
Quadro 12 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a escolaridade do pai, o turno e o tipo de curso
17
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 13 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo a escolaridade da mãe, o turno e o tipo de curso
Na realidade, este quadro geral indica significativa mobilidade social
nos grupos de alunos, pois apenas 9% dos pais e 7% das mães possuíam nível de escolaridade
superior ao alcançado pelos filhos, até agora.
Os Quadros 14 e 15 apresentam os quatro principais motivos de esco-
lha da escola que o aluno freqüenta, uma vez que eles aparecem com maior concentração de
respostas, entre oito opções dadas no questionário. A análise das freqüências das respostas
permite destacar aspectos interessantes: a preocupação dos alunos com a profissionalização,
refletida na opção “curso oferecido”; a preocupação com a qualidade do ensino; a necessidade do
“ensino gratuito” e, por fim, a necessidade de escolha de uma escola próxima do lugar de moradia.
Quadro 14 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo o motivo da escolha da escola que freqüenta, o
turno e o tipo de curso
18
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
A situação dos diferentes grupos de alunos, tanto em termos do con-
junto dos estados como em cada estado em particular, apresenta algumas nuanças. Assim é
que o grupo de alunos dos cursos profissionalizantes destaca o tipo de “curso oferecido” como
razão da escolha da escola; os alunos dos cursos noturnos destacam o motivo “proximidade de
casa”. Em São Paulo, a opção “proximidade de casa” foi escolhida por 26% do total de alunos e
por 31% dos alunos do turno noturno, enquanto que, no Rio de Janeiro, 27% do total de alunos e
27% dos alunos do turno noturno marcaram a opção “gratuidade do ensino”, o que talvez reflita,
em ambos os casos, o contexto socioeconômico e até mesmo algumas dificuldades da vida ur-
bana nestes estados.
Quadro 15 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo o motivo da escolha da escola que freqüenta, por
estado
Muito interessantes e, em certa medida, surpreendentes, uma vez que
vão de encontro ao senso comum, são os dados sobre as expectativas dos concluintes em rela-
ção ao curso que estão terminando. Os Quadros 16 e 17 mostram que não são tão numerosos
os estudantes que acreditam que a conclusão do Ensino Médio, por si só, lhes possibilite o in-
gresso no Ensino Superior. Possuem essa expectativa entre 17% e 36% dos estudantes. Como
já exposto em outras situações, os estudantes dos cursos acadêmicos diurnos são uma exce-
ção, já que 55% deles acreditam que a contribuição do Ensino Médio é a possibilidade de ingres-
so no Ensino Superior.
Na realidade, a outra forte expectativa gerada pelo Ensino Médio está
relacionada ao trabalho, pois, com exceção dos alunos dos cursos acadêmicos diurnos, os alu-
nos vêem o Ensino Médio como um instrumento que lhes possibilita o ingresso e a melhoria da
sua posição no mercado de trabalho.
Estes dados podem contribuir muito para a discussão sobre as carac-
terísticas e funções do Ensino Médio, em um momento de reforma deste nível de ensino.
19
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 16 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo o tipo de expectativa em relação à conclusão do
Ensino Médio, o turno e o tipo de curso
20
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Quadro 17 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo o tipo de expectativa em relação à conclusão do
Ensino Médio, por estado e segundo o turno
Em relação às intenções ou planos para o futuro imediato (Quadro 18),
observa-se, primeiramente, um significativo número de estudantes indecisos (entre 7% e 14%).
Porém, entre os que já se decidiram, há um grupo de alunos que se mostra bastante voltado
21
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
para o ingresso no mercado de trabalho, imediatamente ou após a realização de cursos
profissionalizantes (17% do total geral e 21% dos estudantes do turno noturno). Este dado pode
estar indicando uma necessidade, já identificada por uma parcela específica do alunado – os
estudantes do turno noturno –, que ainda não foi atendida pelo nosso sistema de ensino: a de
cursos profissionalizantes pós-secundários.
Os dados do Quadro 18 mostram que aumenta um pouco, em relação
aos dados do Quadro 16, o contingente de alunos que pretende ingressar no Ensino Superior.
Este aumento, antes de ser uma incoerência, pode estar indicando que, para alguns alunos, o
Ensino Médio não os prepara para ingressar no Ensino Superior (já que a pergunta era sobre a
contribuição do Ensino Médio – Quadro 16). Seria necessário, além de muito interessante,
aprofundar o estudo sobre expectativas e opiniões dos concluintes do Ensino Médio a respeito
deste grau de ensino, pois parece que eles poderiam contribuir no debate que se instala sobre a
reforma do ensino secundário.
Quadro 18 – Distribuição porcentual de concluintes,
segundo os planos para o futuro imediato, o turno e o tipo
de curso
Para concluir a síntese dos resultados da Avaliação dos Concluintes do
Ensino Médio, apresentam-se, a seguir, diversas figuras contendo informações sobre o perfil dos
concluintes e o desempenho nas provas aplicadas. Convêm registrar que as provas são constitu-
ídas de 30 itens cada, e o desempenho dos alunos é apresentado, em termos de médias de
acerto, em % de acertos.
22
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 1 – Desempenho médio por tipo de curso e turno:
Português e Matemática
Gráfico 2 – Desempenho médio por disciplina e turno
(somente alunos de curso acadêmico)
13,30
13,30
9,90
23
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 3 – Desempenho médio por turno e idade:
Português e Matemática
Gráfico 4 – Desempenho médio por turno e modalidade
de ensino: Português e Matemática
24
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 5 – Desempenho médio por turno segundo hábitos
de leitura: Português e Matemática
Gráfico 6 – Desempenho médio por faixa de renda e
turno: Português e Matemática
25
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 7 – Desempenho médio por turno segundo a
escolaridade do pai: Português e Matemática
Gráfico 8 – Distribuição dos concluintes por idade
20,80
3,20
27,50
26
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 9 – Distribuição dos concluintes por faixa de renda
Gráfico 10 – Distribuição dos concluintes segundo
escolaridade do pai
6,50
6,20
12,70
3,80
2,80
27
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 11 – Distribuição dos concluintes segundo sua
renda mensal
Gráfico 12 – Distribuição dos concluintes segundo a sua
situação em relação ao trabalho
6,40
28
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 13 – Distribuição dos concluintes segundo a
participação na vida econômica da família
Gráfico 14 – Distribuição porcentual dos concluintes
segundo o motivo da escolha da escola
7,30
4,60
29
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 15 – Distribuição dos concluintes segundo a
expectativa em relação à conclusão do Ensino Médio
Gráfico16 – Distribuição dos concluintes segundo os
planos para o futuro imediato
Outra
31
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Análise das Provas
Língua Portuguesa
Língua Portuguesa – Manhã
O número de provas de Língua Portuguesa aplicadas no turno da ma-
nhã foi de 37.663. Cerca de 12.817 alunos (34,03%) estavam em cursos de formação geral e
24.846 (65,96%), em cursos profissionalizantes (Gráfico 17). A média geral de acertos foi 12,66,
equivalente a 42% de acertos, e o desvio padrão foi igual a 4,51 pontos. O valor da mediana foi
de 13 itens acertados, sugerindo uma pequena tendência a notas mais altas. A nota mínima
alcançada foi igual a 0 ponto e a máxima, a 29 pontos (97%). O grupo de desempenho inferior
teve notas no intervalo entre 0 e 10 pontos, enquanto os alunos do grupo superior de desempe-
nho alcançaram notas entre 15 e 29 pontos. Esses dados sugerem que a maior parcela dos estu-
dantes avaliados nessa prova teve um índice de acertos inferior a 50%. A prova de Língua Portu-
guesa caracterizou-se como um instrumento adequado para medir as habilidades e conteúdos
estabelecidos pela matriz de especificação, tendo em vista que o índice de fidedignidade foi de
0,71. Em termos de discriminação, cerca de 67% dos itens foram classificados como bons e ex-
celentes, 20%, como médios e 13% foram pouco discriminativos.
Gráfico 17 – Distribuição dos alunos por estado e
modalidade de curso: Língua Portuguesa – Manhã
32
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Para os cursos de formação geral, a média foi 13,30 (44%). A média
geral nos cursos profissionalizantes foi 12,32 (41%), um pouco abaixo daquela verificada nos
cursos de formação geral. O Gráfico 18 representa a distribuição das notas para o total de alunos
avaliados nesta disciplina.
Gráfico 18 – Distribuição dos escores obtidos pelos
alunos: Língua Portuguesa – Manhã
A maioria dos itens foi classificada como de dificuldade mediana,
totalizando 67% deles. Outros 30% foram considerados fáceis e somente 3%, difíceis.
Comentários relativos à prova de Língua
Portuguesa – Manhã
Para permitir uma compreensão mais apurada daquilo que os estudan-
tes foram capazes de realizar, solicitou-se a especialistas que comentassem os resultados obti-
dos em cada prova. Antecedendo os comentários, apresentam-se os conteúdos e descritores
que nortearam a elaboração de cada questão.
Item 1
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
características básicas de uma narrativa ficcional (conflito e desenlace, personagens, tipo de
narrador).
33
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 1 e 2 referem-se ao texto apresentado abaixo.
Apenas...
Aula inaugural de uma pequena escola do interior. Os alunos, endomingados como reque-
ria a ocasião. O professor, grave, de preto, voz cava. Pelo que bem se vê, a aula era de Portugu-
ês. E eis que no final, tão ansiado pela gente miúda como pela gente grande, ele tossiu, mudou
de tom e disse:
– Atenção, meninos! Para gravarem melhor a matéria exposta, copiem o esquema que vou
traçar no quadro-negro.
Perpassa pela classe um frio de pânico. Esquema? Meu Deus, que diabo disto seria aquilo?
Mas o professor, que, além de autodidata, era também humano, farejou a angústia daque-
las alminhas e esclareceu então, com um esgar bondoso:
– É uma sinopse, meus filhos, apenas uma sinopse...
1. Percebe-se simpatia do narrador pelas personagens no seguinte fragmento:
(A) Perpassa pela classe um frio de pânico.
(B) ...farejou a angústia daquelas alminhas.
(C) Os alunos, endomingados como requeria a ocasião.
(D) Mas o professor, que, além de autodidata, era também humano...
(E) Atenção, meninos! Para gravarem melhor a matéria exposta, copiem o esquema que vou
traçar no quadro-negro.
Foram capazes de reconhecer a modalidade afetiva de uma expressão
45% dos alunos, o que permite, numa narrativa ficcional, a apreensão de características do
narrador ou de personagens.
Assinalaram uma alternativa incorreta, atraídos pelo uso de uma pala-
vra em que não perceberam o tom de ironia, 31% dos alunos.
Item 2
Progressão temática e estratégia argumentativa – Estabelecer relação
entre o núcleo dramático e outros elementos da narrativa.
2. A fala final do protagonista, associada ao título,
(A) prova que ele era um autodidata.
(B) justifica que o narrador o considere “humano”.
(C) revela que ele estava irritado com os alunos.
(D) indica que sua ansiedade o fazia ignorar a reação dos alunos.
(E) mostra que ele achava a palavra sinopse mais fácil que esquema.
Foram capazes de estabelecer relações entre componentes do texto
narrativo (no caso, o título e uma fala de personagem) 55% dos alunos.
34
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
O fato de 20% dos alunos assinalarem a alternativa B, errada, parece
revelar dois aspectos: não atenderam ao proposto na raiz, isto é, associar a fala da personagem
ao título do texto (observaram só a fala do protagonista), e associaram essa alternativa da ques-
tão 2 a outra alternativa, da questão 1, também errada; houve, assim, contaminação de erro.
Item 3
Características e estratégias próprias de cada gênero – Estabelecer
relação entre os aspectos formais e temáticos de um texto poético (lirismo amoroso, descrição
de objeto ou cena, retrato de cotidiano, narrativa dramática).
Atenção: As questões de números 3 e 4 referem-se ao texto apresentado abaixo.
Pensão familiar
Manuel Bandeira
Jardim da pensãozinha burguesa.
Gatos espapaçados ao sol
A tiririca sitia os canteiros chatos.
O sol acaba de crestar as boninas que murcharam.
Os girassóis
amarelo!
resistem.
E as dálias, rechonchudas, plebéias, dominicais.
Um gatinho faz pipi.
Com gestos de garçom de restaurant-Palace
Encobre cuidadosamente a mijadinha.
Sai vibrando com elegância a patinha direita:
– É a única criatura fina na pensãozinha burguesa.
3. Pelas características dadas aos elementos observados no jardim o poeta já indica
(A) o reconhecimento do carinho que deve reinar na pensãozinha familiar.
(B) sua crítica ao espírito burguês, neles refletido, pela ânsia de uma nobreza que não possuem.
(C) seu desprezo por pessoas que não cuidam do espaço ao redor de si, mesmo vivendo em
habitações coletivas.
(D) sua intenção de mostrar como um espaço bastante degradado ainda assim pode preser-
var um elemento tão belo como o amarelo do sol e dos girassóis.
(E) seu desejo de criticar as pensõezinhas burguesas, tão diferentes das pensões familiares,
por não serem habitadas por pessoas finas.
Apenas 37% dos alunos estabeleceram corretamente relação entre as-
pectos formais e temáticos num texto poético. O espaço caracterizado através de imagens – as-
pecto inerente ao gênero – foi reconhecido como metáfora de um modo de ser, tema do poema.
35
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 4
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
recursos prosódicos freqüentes em texto poético (rima, ritmo, assonância, aliteração).
4. A repetição da vogal i no terceiro verso revela a presença do recurso poético denominado
(A) assonância.
(B) metáfora.
(C) aliteração.
(D) rima.
(E) elipse.
Reconheceram a “assonância” como recurso poético constituído pela
repetição de sons vocálicos 25% dos alunos.
O fato de 47% terem assinalado outras alternativas revela que identifi-
cam rima e aliteração como recursos de repetição de sons, mas não distinguem a especificidade
de cada um.
Item 5
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a pertinên-
cia das informações selecionadas na exposição do argumento.
36
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 5 a 7 referem-se ao texto e à foto apresentados abaixo.
O Brasil começou a viver há 10 anos um de seus principais movimentos de emigração.
Uma incrível massa de brasileiros descendentes de japoneses, os dekasseguis, decidiu viajar
para a terra onde nasceram seus avós, alimentando um sonho high tech de acumular fortunas e
a ânsia de voltar com as malas abarrotadas de dólares. Os primeiros que regressaram transfor-
maram a aventura em lenda. Tanto é que o movimento não parou até hoje. Atualmente, pelo me-
nos 200 mil brasileiros trabalham no Japão e todos os anos cerca de 60 mil partem cheios de
esperança para lá. Mas nem sempre o retorno do eldorado japonês é coberto de glórias. Ao con-
trário do punhado de dólares, vários desses aventureiros descobrem que nunca passarão de ci-
dadãos de segunda classe na terra estrangeira e regressam sem dinheiro. Trazem na bagagem
apenas ressentimento e desilusão. Voltam deprimidos, às vezes com quadros psiquiátricos gra-
ves, e ainda enfrentam a difícil readaptação dos filhos na escola.
Revista
ISTO É –
n
o
1 455 (20/08/97)
5. É um bom argumento para a defesa da tese a seguinte idéia:
(A) A terra dos ancestrais é sempre o espaço de um futuro promissor.
(B) Quem não aventura não tem boas oportunidades na vida.
(C) Países com alta tecnologia têm muito a oferecer para os estrangeiros.
(D) O sucesso de alguns não é garantia do sucesso de todos.
(E) Adaptar-se a novas realidades é um desafio que todos devem aceitar.
Foram capazes de reconhecer a pertinência de um argumento na defe-
sa de uma tese 70% dos alunos, índice da capacidade de compreensão de texto informativo vei-
culado em revista de grande circulação.
37
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 6
Estratégias de leitura – Articular informações oferecidas no corpo do
texto com outras informações oferecidas em ilustrações ou fotos.
6. A foto que ilustra o texto registra
(A) a família que volta e tem de enfrentar a dura realidade do recomeço: a casa vazia, o desem-
prego, os filhos menores que têm de se readaptar à escola.
(B) uma das primeiras famílias que regressaram: a felicidade pelo sucesso obtido e a prova da
fortuna garantida.
(C) a cena de despedida de uma entre as centenas de famílias que emigram para o Japão: no
rosto de cada um, a esperança de um futuro melhor na terra dos ancestrais.
(D) o eldorado japonês: a realidade que movimenta anualmente 60 mil brasileiros.
(E) quadros psiquiátricos graves: pessoas que voltam com comportamentos visivelmente patoló-
gicos.
A maioria (81%) foi capaz de articular dados obtidos num texto verbal –
de cunho informativo, veiculado em revista de grande circulação – com dados presentes numa
foto que o ilustra; dada a natureza do texto, a foto explicita com muita clareza as idéias centrais
da matéria escrita.
Item 7
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Reconhecer estratégias de significação em função da exploração de recursos de
conotação e denotação.
7. A frase em que se observa sentido conotativo é:
(A) O Brasil começou a viver há 10 anos um de seus principais movimentos de emigração.
(B) Os primeiros que regressaram transformaram a aventura em lenda.
(C) Atualmente, pelo menos 200 mil brasileiros trabalham no Japão.
(D) Trazem na bagagem apenas ressentimento e desilusão.
(E) Voltam deprimidos, às vezes com quadros psiquiátricos graves.
Identificaram o emprego de uma palavra em sentido conotativo, num
texto informativo veiculado em revista de grande circulação, 43% dos alunos, evidenciando reco-
nhecimento de estratégias de significação.
Item 8
Estratégias de leitura – Comparar uma informação dada no texto com
outras fontes, de modo a verificar sua pertinência e legitimidade.
38
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
8. Compare os dois textos.
Texto I
Celina, descendente de japoneses, tira uma grande lição da experiência mal sucedida no Japão:
“Hoje, de volta à minha terra, encontrei a minha identidade e a certeza de que nunca seria uma
japonesa. Quem tem essa ilusão está tapando o sol com a peneira, pois jamais será considerado
japonês e voltará sentindo-se humilhado.
Os nisseis e sansseis devem buscar suas verdadeiras
raízes e, para serem fiéis a elas, não devem sair de sua terra natal”.
Texto II
Os primeiros japoneses que desembarcaram do cargueiro Kasato Maru, em 1908, no Porto de
Santos, com sacrifício, coragem e perseverança chegaram e permaneceram na terra estrangei-
ra. Mas há 90 anos não esquecem suas raízes.
Comparando os dois textos, principalmente os fragmentos grifados, percebe-se que o II
(A) confirma as idéias do texto I.
(B) trata de um assunto totalmente diferente do texto I.
(C) contraria o texto I, pois mostra que a fidelidade às raízes pode ser mantida mesmo quando
o indivíduo sai de sua terra natal.
(D) é complemento do texto I, porque, com um exemplo, prova ser verdadeira a informação de
que o indivíduo só é fiel às suas raízes em sua terra natal.
(E) indica as causas que justificam o conselho dado no fragmento grifado no texto I.
Ao todo, 55% dos alunos foram capazes de comparar textos informati-
vos acerca do mesmo tema e de reconhecer as diferenças entre eles, evidenciando capacidade
de compreensão de textos.
Item 9
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Analisar as diferenças entre uma paráfrase e o texto original.
39
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
9.
Moldar a educação dos filhos lançando mão da velha frase “Não faça isso que Deus castiga”
não é um expediente recomendável para quem leva a sério os princípios da Psicologia. O medo
de Deus é uma das principais causas de estresse em crianças de seis a doze anos e pode
transformá-las em adultos inseguros.
A alternativa em que a nova redação NÃO altera o sentido do texto acima é:
(A) Quem lança mão de educar seus filhos com a frase “Não faça isso que Deus castiga”, con-
tra os psicólogos, não é recomendável, pois as crianças ficam inseguras, na faixa dos se-
is a doze anos, e serão inevitavelmente inseguras e estressadas como adultos.
(B) Para evitar o estresse em crianças entre seis e doze anos, os pais não devem educar seus
filhos utilizando o expediente de dizer: “Não faça isso que Deus castiga”. Pelo que ensina a
Psicologia, assim não haverá adultos inseguros.
(C) Segundo a Psicologia, pessoas que educam seus filhos sob a ameaça de que Deus casti-
ga certos atos correm o risco não só de vê-los, principalmente entre seis e doze anos, es-
tressados pelo medo, como também de vê-los se tornarem adultos inseguros.
(D) Para nenhum pai é expediente recomendável educar seus filhos, entre seis e doze anos, com
medo de Deus, porque eles crescerão estressados e serão adultos medrosos. Assim a
Psicologia explica a insegurança.
(E) Adultos inseguros são o resultado de uma infância moldada sob a frase “Não faça isso que
Deus castiga”, pelos princípios da Psicologia. Isso gera crianças com medo de Deus entre
seis e doze anos.
Foram capazes de analisar diferentes paráfrases de um texto dado e
de reconhecer a que não alterou o sentido original 48% dos alunos, evidenciando capacidade de
compreensão de texto de natureza informativa.
Item 10
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Identificar um índice formal de estabelecimento de relação sintático-
semântica num texto dado: conclusão.
10.
Há alguns meses, o caso do inglês que voltou a se comunicar depois de oito anos em coma
surpreendeu a todos. Depois de um longo período no hospital, ele foi levado para casa, onde fi-
cou sob os cuidados da família. Hoje, o rapaz se comunica – diz “sim” e “não” – por meio de um
botão. Esse fato serve de argumento para os que condenam a prática da eutanásia. Pode-se
esperar, portanto, que se reacenda a polêmica sobre a indução à morte.
A conjunção grifada no texto traduz idéia de
(A) explicação.
(B) conclusão.
(C) adição.
(D) alternância.
(E) adversidade.
40
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
A maioria (60%) identificou a relação de sentido estabelecida entre
orações por uma dada conjunção, evidenciando capacidade de reconhecimento de relações sin-
tático-semânticas.
Item 11
Contexto histórico-social na análise textual – Identificar, na leitura de
um texto literário, as marcas de estilo conseqüentes do contexto histórico de produção.
11.
Neste começo de século, com as mudanças e reformas que tem experimentado o Brasil,
novo aspecto apresenta sua literatura. Uma só idéia absorve todos os pensamentos, uma idéia
até então quase desconhecida; é a idéia da pátria; ela domina tudo, e tudo se faz por ela, ou em
seu nome.
O estilo e as considerações do texto acima permitem identificá-lo como o de um autor que
(A) prega os valores que devem orientar a nossa Colonização.
(B) se preocupa em relatar as riquezas da terra desconhecida.
(C) se mostra convencido do fracasso das idéias libertárias.
(D) testemunha efeitos da emancipação política do Brasil.
(E) justifica a independência da Arte em relação à Política.
Apenas 28% dos alunos identificaram o contexto histórico de produção
de um texto que traz considerações sobre a produção literária.
O fato de 20% terem apontado a alternativa A (errada) sugere que eles
se pautaram mais pelas considerações do texto (mal compreendidas na sua relação com o con-
texto histórico) que pelo estilo (confundiram referência a fatos com pregação de valores), talvez
pelo seu caráter teórico.
Item 12
Contexto histórico-social na análise textual – identificar, na leitura de
um texto literário, as implicações no tratamento temático e no estilo, conseqüentes do contexto
histórico de produção e recepção do texto.
41
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
12.
Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram co-
mo borrachas sopradas. Rebentaram.
A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, donas-de-casa tratando
de cozinha.
A Poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem.
Linguagem e idéias do texto acima refletem valores típicos de um autor
(A) do final do século XIX.
(B) do Modernismo de 22.
(C) da geração de 45.
(D) naturalista-regionalista.
(E) romântico-nacionalista.
Só 29% dos alunos reconheceram valores típicos” do Modernismo de
22, expressos por linguagem e idéias. A questão implica conhecimento de características de mo-
mentos literários e de tendências dentro de um mesmo momento.
Também, 22% dos alunos não identificaram a correlação tema e estilo/
contexto histórico de produção.
Item 13
Relações de intertextualidade entre dois enunciados – Distinguir uma
paródia de uma paráfrase.
42
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
13. Compare estes dois textos:
Texto I
Na famosa “Canção do exílio”, Gonçalves Dias enaltece as belezas superiores de sua terra, ex-
pressa as saudades que dela sente e afirma seu desejo de a ela voltar.
Texto II
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá
Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá.
É correto afirmar que, em relação ao poema de Gonçalves Dias,
(A) os textos I e II são igualmente objetivos.
(B) o texto I retoma o texto original para deformá-lo.
(C) o texto I é o que mais se aproxima da forma de composição do autor citado.
(D) os textos I e II tratam-no ironicamente.
(E) o texto II reconstrói criticamente o texto original.
Foram capazes de comparar textos de várias naturezas (um texto críti-
co e dois poemas, um deles não citado, mas referido) e de identificar a relação entre eles (re-
construção crítica) 19% dos alunos.
A forte atração para a alternativa A (errada) – 55% – revela: a) incom-
preensão do texto poético dado; b) incompreensão da natureza do gênero poético.
Treze por cento assinalaram uma alternativa que indica desconheci-
mento da natureza do texto referido.
Item 14
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de escolha (formas lexicais, formas de tratamento,
estruturas sintáticas, níveis de registro).
43
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
14. A frase cuja construção está correta é:
(A) Entre doces e salgados, estes têm minha preferência.
(B) Meu prazer é maior pelos doces que aos salgados.
(C) Acho preferível os doces, em vez dos salgados.
(D) Prefiro mais os doces do que aos salgados.
(E) Acho os salgados mais preferíveis do que aos doces.
Foram capazes de identificar estrutura sintática correta, implicando re-
gência verbal e nominal, 16% dos alunos.
Assinalaram a alternativa D (errada) 33% dos alunos, indiciando o des-
conhecimento da regência do verbo “preferir”.
Item 15
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de transformação estrutural (ativa X passiva, cons-
truções adverbiais, adjetivo X locução adjetiva).
15. Transpondo para a voz passiva a frase “Já não o consideramos nosso amigo”, a forma verbal
resultante será
(A) têm sido considerados.
(B) seremos considerados.
(C) será considerado.
(D) é considerado.
(E) consideraremos.
Somente 34% dos alunos foram capazes de realizar operação de trans-
formação estrutural. A grande incidência de erro nessa questão parece revelar o desconheci-
mento da natureza das vozes ativa e passiva, visto que se erra não só o tempo verbal (surge a
passiva, mas o tempo aparece incorreto – alternativa C), como também substitui-se a voz ativa
dada por outra voz ativa, só com a mudança do tempo verbal (alternativa E).
Item 16
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Identificar operações de expansão do sintagma nominal (adjuntos,
complementos e orações subordinadas) e do sintagma verbal (adjuntos adverbiais e orações
adverbiais).
44
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
16. Estamos certos do futuro arrependimento deles.
O elemento sublinhado na frase acima transforma-se numa oração de sentido equivalente em:
(A) que eles terão se arrependido.
(B) de que eles virão a se arrepender.
(C) de seu próximo arrependimento.
(D) de seu arrependimento no futuro.
(E) de que veio um dia em que se arrependeram.
A maioria (63%) foi capaz de identificar a expansão de um complemen-
to nominal em oração subordinada substantiva.
Item 17
O texto como objeto sociohistoricamente construído – Distinguir texto
literário de texto não literário, em função de sua forma, finalidade e convencionalidade.
17. Compare estes dois textos:
Texto I
O tempo passa, e com ele os fatos que constituem as experiências humanas. Isto não significa
que sejam esquecidas: tudo pode se conservar enquanto memória afetiva ou aprendizado.
Texto II
O vento varria os meses
E varria os teus sorrisos...
O vento varria tudo!
E a minha vida ficava
Cada vez mais cheia
De tudo.
Manuel Bandeira
É correto afirmar que
(A) o texto I é mais objetivo que o II, além de ter um ritmo mais marcado.
(B) esses textos consideram a passagem do tempo de perspectivas opostas.
(C) o texto II vale-se de sonoridades que dotam sua linguagem de intenção expressiva.
(D) o texto II perde, por sua subjetividade, o poder de expressar uma convicção sobre o tempo
que passou.
(E) esses textos adotam formas diferentes de linguagem com o mesmo objetivo de informação.
45
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Apenas 7% dos alunos foram capazes de reconhecer características
do gênero lírico e 55% identificaram “formas diferentes de linguagem”, sem reconhecer-lhes a fi-
nalidade, o que indicia desconhecimento dos gêneros.
Dezoito por cento revelaram incompreensão do significado das ima-
gens do texto poético dado.
Item 18
O texto como objeto sociohistoricamente construído – Compreender o
texto literário como manifestação cultural presente em diferentes épocas.
18. Os diferentes textos literários vão expressando, ao longo do tempo, diferentes características
de distintas épocas históricas. Pode-se comprovar essa afirmação analisando-se, por exemplo,
(A) as idéias abolicionistas e as republicanas na poesia de Castro Alves.
(B) o indianismo da prosa de José de Alencar e o nacionalismo de Gonçalves Dias.
(C) a presença que têm as habitações populares e coletivas na ficção naturalista.
(D) o período anterior e o imediatamente posterior à nossa Colonização.
(E) os sentimentos demonstrados pelos escritores barrocos e pelos românticos, em relação à
nossa terra.
Reconheceram a relação entre distintos contextos históricos e distintas
manifestações literárias 32% dos alunos. A alternativa B (errada), indicada por 22% dos alunos,
indica que eles não sabem se os escritores são contemporâneos.
Item 19
O texto como objeto sociohistoricamente construído – Perceber por
comparação de dois textos literários suas semelhanças ou diferenças, decorrentes de seu mo-
mento histórico de produção.
46
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
19. Compare estas duas passagens:
I.
Os olhos rasgados e luminosos às vezes coalham-se em um enlevo de ternura, mas natural e
estreme de afetação, que há de torná-los irresistíveis, quando o amor os acende.
II
. Seu olhar percorreu a sala e deu com dois móveis muito antigos e pesados, com os quadros
simetricamente dispostos na parede e com a janela semi-aberta, por onde viu o saguão.
O modo pelo qual se apresenta o olhar permite afirmar que as passagens I e II traduzem
(A) uma perspectiva romântica e uma realista, respectivamente.
(B) a mesma perspectiva romântica.
(C) uma perspectiva realista e uma romântica, respectivamente.
(D) a mesma perspectiva realista.
(E) uma perspectiva jornalística.
Sessenta por cento dos alunos reconheceram estilo de época em frag-
mentos de texto em prosa, revelando capacidade de comparação de textos e de associação do
texto com o contexto em que foi produzido.
Item 20
O texto como objeto sociohistoricamente construído – Reconhecer,
em um texto dado, concepções de mundo e de sujeito decorrentes de sua historicidade.
20.
Eu tinha sido criado num primeiro andar. Todo o meu conhecimento do campo fizera nuns
passeios de bonde a Dois-Irmãos.
E era com olhos deslumbrados que olhava então aqueles sítios, aquelas mangueiras e os meni-
nos que via brincando ali. As divergências de meu pai com meu avô nunca permitiram à minha
mãe fazer uma temporada no engenho.
O texto acima sugere
(A) a apreensão do mundo urbano por uma consciência rústica.
(B) a crítica do mundo rural pela consciência do civilizado.
(C) a revelação da natureza intocada pela civilização.
(D) o contraste entre dois universos culturais.
(E) a descoberta da usina por um menino de engenho.
Ao todo, 44% dos alunos reconheceram, no texto dado, idéias produzi-
das por uma certa vivência do mundo. Revelam, assim, compreensão do texto enquanto objeto
social e historicamente construído.
47
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 21
O texto como objeto sociohistoricamente construído – Reconhecer, em
um texto dado, marcas de valores e intenções dos agentes produtores em função de seus com-
prometimentos e interesses políticos, ideológicos e econômicos (discurso religioso, científico,
político-sindical, político-empresarial).
21.
A pena de morte não deve ser instituída. Se não sobrassem razões humanitárias, ainda ha-
veria razões pragmáticas: nos países em que a pena se aplica, não se nota diminuição sensível
da criminalidade. No caso do Brasil, não parece haver dúvida que a aplicação se restringiria aos
miseráveis entre os miseráveis.
No texto acima, é intenção do autor
(A) lamentar a decisão de se incluir a pena de morte entre as sanções legais.
(B) apelar para o sentimentalismo do público, diante de uma questão emocional.
(C) sugerir que, no caso de sua promulgação, a pena de morte não se aplique apenas aos mise-
ráveis.
(D) debater o fato de que a pena de morte tenha reduzido a alta incidência de crimes violentos.
(E) persuadir o leitor quanto a distintos aspectos negativos da instituição da pena de morte.
Reconheceram a intenção do produtor do texto 35% dos alunos. O fato
de 36% terem assinalado a alternativa C (errada) parece indicar que, na análise dos enunciados,
faltou percepção da força argumentativa de certas formulações no sentido de “persuadir” (ex: A
pena de morte não deve ser instituída.).
Item 22
Funções da linguagem e atos da fala – Perceber, na análise de enunci-
ados concretos, as funções que se atribuem à linguagem, conforme a intenção do enunciado
(função referencial, apelativa, emotiva etc.).
22.
Pense primeiro, depois retruque, está bem?
No enunciado acima, a função predominante da linguagem é
(A) apelativa.
(B) estética.
(C) emotiva.
(D) referencial.
(E) metalingüística.
Perceberam a função da linguagem predominante no enunciado, rela-
cionada com a intenção do emissor, 43% dos alunos.
48
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 23
Funções da linguagem e atos da fala – Reconhecer, na análise de
enunciados concretos, as ações que se realizam com a linguagem conforme a intenção do enun-
ciado (pedir, sugerir, mandar, batizar, condenar etc.).
23. A forma verbal sublinhada tem a força do imperativo em:
(A) Ora, direis, ouvir estrelas...
(B) Ao toque do sinal, entrar na classe.
(C) É preciso que eles venham comigo ao aeroporto.
(D) Serão expulsos, caso assim se comportem.
(E) Lembrar não me traz de volta o passado.
Trinta por cento dos alunos reconheceram o valor imperativo impessoal
do infinitivo.
O fato de 20% terem assinalado a alternativa C (errada) parece indicar
que houve contaminação do valor semântico de “é preciso” com a idéia de “ordem” presente na
raiz : “força do imperativo”.
Item 24
Funções da linguagem e atos da fala – Estabelecer relação entre a for-
ma lingüística e a função que a ela se atribui (por ex.: imperativo função conativa; predomínio
da 1ª pessoa função emotiva etc.).
24.
Meu coração, sem nenhuma alegria, pesa no fundo do meu peito vazio.
A função emotiva da linguagem, predominante na frase acima, decorre
(A) do tempo verbal empregado.
(B) da utilização de uma oração absoluta.
(C) das múltiplas referências ao emissor da mensagem.
(D) da utilização do pronome indefinido.
(E) da ênfase dada ao destinatário da mensagem.
Somente 24% dos alunos reconheceram os índices lingüísticos de
uma dada função da linguagem. O fato de outros 29% terem assinalado a alternativa E (errada)
parece indicar: a) confusão entre “emissor” e “destinatário” da mensagem; b) erro sugerido pelo
emprego da palavra “ênfase”, tão mencionada quando se analisam enunciados sob o ponto de
vista das funções da linguagem.
Item 25
Progressão temática e estratégia argumentativa – Identificar a tese e
os argumentos de um texto.
49
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 25 a 30 referem-se ao texto apresentado abaixo. Essas ques-
tões possuem apenas 4 alternativas: A, B, C e D.
No País do Futebol
Carlos Eduardo Novaes
Segunda-feira – 14 horas – Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta
de uma loja de eletrodomésticos e perguntou:
– Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo?
– Qualquer um – disse o vendedor desinteressado.
– Não. Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa
consideração.
– Pra que o senhor quer saber?
– Para já ir tomando posição diante dele.
O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada
que o acompanha ao Maracanã e sentou-se no meio da calçada.
–Ei, ei, psssiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu irmão?
– Que foi? Perguntou Juvenal.
– Quer me botar na miséria? Esse ponto aqui é meu.
– Mas eu não vou pedir esmola.
– Então senta aqui ao meu lado.
– Aí não vai dar para eu ver o jogo.
– Na hora do jogo nós vamos lá para casa.
– Você tem TV a cores?
– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?
Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns
amigos que não via desde a final da Copa de 70. O mendigo entendeu. E como gostou de
Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
– Não, não. Na cabeça não.
– Por que não?
– Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(In:
Juvenal Ouriço Repórter.
Rio de Janeiro: Nórdica, 1977, p.24-25)
25. A escolha do título
No País do Futebol
justifica-se:
(A) pelo gosto de Juvenal por esse esporte tão popular no país.
(B) pelo encontro marcado com os amigos que não via desde a Copa de 70.
(C) pelo fato das lojas mostrarem o jogo pelos aparelhos que estão à venda.
(D) pelo encadeamento dos temas presentes no texto, entre eles, o do futebol.
Reconheceram o motivo da escolha do título da crônica 38% dos alu-
nos. O fato de outros 30% terem assinalado a alternativa A (dada como errada) justifica-se pelo
fato de esta alternativa estar contida na D, dada como correta.
50
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 26
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a seleção
de argumentos de um texto para a corroboração da tese.
26. A fala do personagem:
“– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
indica que
ele, ao ficar na rua, se encontrava em uma situação de
(A) doença.
(B) contravenção.
(C) trabalho.
(D) ócio.
No total, 58% reconheceram, num texto narrativo, o sentido da fala de
uma personagem. O modo como a questão está proposta (o teor das alternativas) permite a res-
posta correta por exclusão, o que prejudica a análise do desempenho dos alunos.
Item 27
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Articular a escolha de índice formal de estabelecimento de relação sintáti-
co-semântica com a estratégia argumentativa estabelecida pelo autor: contraposição.
27.
“– Mas eu não vou pedir esmola.
Ao dizer esta frase, Juvenal está negando uma interpreta-
ção que o mendigo fez de uma ação sua. Esta ação foi:
(A) não ter comprado um TV a cores.
(B) ter-se sentado no meio da calçada.
(C) ter apontado para um dos aparelhos.
(D) ter resolvido ver ali o jogo.
Identificaram o motivo mediato (não imediato) de uma fala da persona-
gem 67% dos alunos. A questão, que envolve compreensão de texto, não é em si fácil; tornou-se
fácil pelo teor das alternativas, pouco atraentes.
Para atender ao descritor proposto, a questão teria de incidir sobre o
conectivo (no caso, o “mas”) e seu valor no contexto da crônica.
Item 28
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Analisar o valor de um índice formal de relação sintático-semântica no
segmento do texto dado: explicação.
51
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
28. Há uma relação de causa e conseqüência em:
(A) “E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(B) “Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(C) “Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
(D) “Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
Reconheceram relação de causa e conseqüência num dado enuncia-
do, evidenciando conhecimento de índice formal de relação sintático-semântica, 34% dos alu-
nos. O fato de outros 35% terem assinalado a alternativa B (errada) justifica-se: a alternativa
apresenta as mesmas idéias, em ordem inversa: conseqüência e causa.
Item 29
Estratégia de leitura – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão,
considerando o universo temático.
29. Em uma das frases abaixo, o termo em destaque tem como antecedente outro termo que
aparece no texto como um recipiente.
(A) Para já ir tomando posição diante dele.
(B) Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos.
(C) E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(D) Já viu mendigo usar chapéu na cabeça?
Reconheceram o antecedente de um pronome relativo 46% dos alu-
nos; o reconhecimento foi indiciado, na proposta, por referência ao sentido da palavra substituí-
da. O fato de 24% terem assinalado a alternativa D (considerada como incorreta) indicia que os
estudantes consideraram antecedente o termo que vem antes de outro, não aquele que, anterior,
foi substituído por um pronome relativo. Como a raiz não explicita a natureza do termo assinala-
do, a alternativa D torna-se muito atraente.
Item 30
Estratégia de construção da verossimilhança do universo ficcional –
Articular a organização do cenário (tempo-espaço) com o enredo e a ação das personagens.
30. A informação
“segunda-feira – 14 horas”
e o fato de Juvenal carregar uma almofada sugerem
que a cena corresponde:
(A) a uma simulação do futebol.
(B) a um jogo que ocorreria num feriado.
(C) ao fato de Juvenal ser um desocupado.
(D) ao fato de Juvenal ser mais pobre que o mendigo.
52
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Foram capazes de articular dados de tempo e espaço com caracteriza-
ção das personagens 38% dos alunos.
Língua Portuguesa – Tarde
Cerca da 15.937 alunos realizaram a prova de Língua Portuguesa no
período da tarde, sendo que 2.248 (14%) estudavam em cursos de formação geral e 13.689
(86%), em cursos profissionalizantes, conforme está indicado no Gráfico 19. A média geral equi-
valeu a 10,39 pontos, ou seja, a 35% de aproveitamento. O desvio padrão foi estabelecido em
4,08 pontos. A mediana situou-se próxima à média, sendo esse índice igual a 10. A nota mínima
verificada foi de 0 ponto (0%) e a máxima, de 27 pontos (90%). O grupo de desempenho mais
baixo obteve notas entre 0 e 8 pontos, enquanto as notas do grupo de desempenho superior situ-
aram-se entre 13 e 27 pontos. Os dados sugerem, portanto, que a maioria dos alunos avaliados
nesta disciplina, neste turno, teve rendimentos inferiores a 43% de acertos. O índice de fidedigni-
dade foi de 0,65, sugerindo a adequação do instrumento de avaliação para medir os objetivos e
conteúdos determinados. A maior parte dos itens da prova foram considerados discriminativos,
sendo que, dentro deste quesito, 13% foram classificados como excelentes, 53%, como bons,
10%, médios e 35% não discriminaram.
Gráfico 19 – Distribuição dos alunos por estado e
modalidade de curso em Língua Portuguesa – Tarde
Os alunos dos cursos de formação geral tiveram média igual a 10,98
(37%), enquanto nos cursos profissionalizantes, em que se encontrava a maior parcela dos estu-
dantes, a média foi de 10,29, representando 34% de acertos. O Gráfico 20 indica a distribuição
dos escores obtidos pelos estudantes nessa prova.
Grande parte dos itens caracterizou-se como de dificuldade mediana,
pois somente 7% foram difíceis e 17%, fáceis.
53
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 20 – Distribuição dos escores obtidos pelos
alunos: Língua Portuguesa – Tarde
Comentários relativos à prova de Língua
Portuguesa – Tarde
Para permitir uma compreensão mais apurada daquilo que os estudan-
tes foram capazes de realizar, solicitou-se a especialistas que comentassem os resultados obti-
dos em cada prova. Antecedendo os comentários, apresentam-se os conteúdos e descritores
que nortearam a elaboração de cada questão.
Item 1
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
características básicas de uma narrativa ficcional (conflito e desenlace, personagens, tipo de
narrador).
54
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 1 a 3 referem-se ao texto apresentado abaixo.
O autor invisível
Certa vez, Quando se realizava um “garden-party” num dos castelos da Inglaterra, compa-
receu um distinto ancião, muito bem-posto e apoiado na sua bengala. E, para constrangimento
de todos, olhava detidamente na cara de cada um, como se se tratasse de um bicho ou de uma
coisa. E como alguém indagasse quem era, respondeu o anfitrião que se tratava do romancista
Sir Bulver-Lytton, já completamente gagá e que se considerava invisível.
Gagá? Mas o que ele estava realizando era o ideal de todo verdadeiro romancista: ser
isento de quaisquer inibições, de respeitos de qualquer ordem, e ver portanto imparcialmente o
mundo. Não embelezar, não reformar, não polemizar: – ver!
(Obs: Garden-party = festa dada num jardim)
1. O último parágrafo do texto contém
(A) palavras de uma personagem, um dos presentes à festa, respondendo à informação do
anfitrião.
(B) o pensamento do ancião quando ouve o que se afirma sobre seu comportamento.
(C) palavras do protagonista, que é o narrador da história.
(D) a fala do narrador que, discordando do anfitrião, dá sua opinião sobre o comportamento do
protagonista.
(E) palavras do autor invisível.
Muitos não reconhecem a voz do próprio narrador, ou deixam de lhe
atribuir a precisa significação que têm suas palavras. A alta incidência na escolha de C revela
indistinção entre narrador e protagonista de uma ação.
Item 2
Progressão temática e estratégia argumentativa – Estabelecer relação
entre o núcleo dramático e outros elementos da narrativa.
2. O episódio narrado permitiu que o narrador
(A) criticasse as pessoas que estranham o comportamento dos idosos.
(B) desse sua opinião pessoal sobre os romancistas em geral.
(C) se indagasse sobre o porquê de as pessoas julgarem umas às outras.
(D) revelasse sua surpresa diante de uma atitude pouco social.
(E) manifestasse sua dúvida sobre as razões de certos comportamentos humanos.
55
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
A distribuição das respostas entre A, B e C indica não haver muita dis-
criminação entre o que seja uma opinião, uma crítica e uma indagação – interferências mais ob-
jetivas. Houve relativa facilidade em se descartar surpresa e dúvida – atitudes mais subjetivas.
Item 3
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Identificar um índice formal de estabelecimento de relação sintático-
semântica num texto dado: conclusão.
3. A frase que apresenta idéia de conclusão é:
(A) ... e ver portanto imparcialmente o mundo.
(B) ... como se se tratasse de um bicho ou de uma coisa.
(C) E, para constrangimento de todos, olhava detidamente na cara de cada um.
(D) ... quando se realizava um garden-party num dos castelos da Inglaterra...
(E) Certa vez, compareceu um distinto ancião, muito bem-posto e apoiado na sua bengala.
Facilidade no reconhecimento de “portanto” como marca conclusiva do
discurso. Alguns confundem o que seja conclusivo com o que é apenas posterior (C, D e E).
Item 4
Características e estratégias próprias de cada gênero – Estabelecer
relação entre os aspectos formais e temáticos de um texto poético (lirismo amoroso, descrição
de objeto ou cena, retrato de cotidiano, narrativa dramática).
56
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 4 e 5 referem-se ao texto apresentado abaixo.
Peregrinação
Manuel Bandeira
O córrego é o mesmo.
Mesma, aquela árvore,
A casa, o jardim.
Meus passos a esmo
(Os passos e o espírito)
Vão pelo passado,
Ai tão devastado,
Reconhecendo triste
Tudo quanto existe
Ainda ali de mim
– Mim daqueles tempos!
4. Nesse poema, o poeta se refere
(A) a uma viagem feita em romaria a um lugar sagrado de sua religião.
(B) a um passeio sem destino por uma cidade em ruínas.
(C) à mesmice de uma cidadezinha qualquer, igual a tantas por onde já passara.
(D) a uma triste volta ao seu passado, que lhe revela quanto de si se perdeu no tempo.
(E) a uma terra distante que, nunca visitada, reconhece por ter sido tantas vezes imaginada.
Grande facilidade no reconhecimento do ato da lembrança associado à
correta qualificação do tom de quem se lembra. O aspecto emotivo do poema, enfatizado numa
única alternativa, foi logo identificado.
Item 5
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
recursos prosódicos freqüentes em texto poético (rima, ritmo, assonância, aliteração).
5. Os elementos grifados no texto revelam a presença do recurso poético denominado
(A) metonímia.
(B) metáfora.
(C) pleonasmo.
(D) elipse.
(E) rima.
Relativa facilidade no reconhecimento da rima. A metáfora, como na
prova do noturno, é imediatamente identificada com a linguagem.
57
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 6
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a perti-
nência das informações selecionadas na exposição do argumento.
Atenção: As questões de números 6 a 9 referem-se à foto e ao texto apresentados abaixo.
O mundo gira cada vez mais rápido. Pela telinha do computador se viaja o mundo surfando
na Internet. Conectados a toda essa parafernália eletrônica estão as crianças e os adolescentes
que, diante de tantos recursos, voam pela janela de aula. Como plugá-los aos capítulos da histó-
ria ou às equações matemáticas? Como incentivá-los a pensar nos rompantes de D. Pedro I ou
observar que na multiplicação a ordem dos fatores não altera o produto? Ou ainda, como fazê-
los perceber a importância do Romantismo do século XIX, distante anos-luz de sua realidade
high-tech? As perguntas, sem respostas definitivas, martelam na cabeça de pais e educadores.
Principalmente porque na dinâmica da vida moderna aluno e professor ganharam novos papéis.
O professor não é mais o detentor do conhecimento e o aluno não é mais aquela página em
branco onde se gravarão
por meio de um sem-número de cópias e exercícios repetitivos
as
letras do saber. Aliás, até o saber mudou. Diariamente, o homem redescobre que a Terra não é
quadrada. E a notícia chega cada vez mais rápido.
Revista
ISTO É
– n
o
1 458 (10/09/97)
6. É um bom argumento para a defesa da tese a seguinte idéia:
(A) Os alunos têm acesso a muita informação sem a presença do professor.
(B) Os mestres que têm boa formação na sua área não têm dúvidas sobre sua atuação.
(C) A rapidez com que a informação circula não deve assustar os educadores.
(D) Nem todos estão a par das conquistas da tecnologia.
(E) As escolas procuram cada vez mais garantir um ensino eficiente.
Há alguma facilidade na relação entre as informações da foto e as do
texto, ainda que aquela não seja clara quanto à presença ou à ausência do professor.
58
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 7
Estratégias de leitura – Comparar uma informação dada no texto com
outras fontes, de modo a verificar sua pertinência e legitimidade.
7. No fragmento assinalado no texto (I), o autor sugere que, antes da era da tecnologia, todo pro-
fessor era o dono do conhecimento e sua tarefa era imprimir o saber em seus alunos mediante
um único instrumento: a repetição.
Compare essa informação com o que se afirma abaixo.
Texto II
O verdadeiro papel do professor sempre foi, acima de tudo, desenvolver a capacidade crítica do
aluno, independente do campo de conhecimento em que atue e da quantidade de informações
que tem a seu dispor.
A comparação revela que o texto II
(A) confirma as idéias do texto I.
(B) trata de um assunto totalmente diferente do texto I.
(C) indica as causas do comportamento citado no texto I.
(D) permite a observação de que o texto I indicou como geral um comportamento que não ca-
racteriza todo tipo de professor.
(E) apresenta novas idéias sobre o papel do professor e, por isso, é complemento do texto I,
que trata de idéias antigas sobre o ensino.
Grande dificuldade na comparação entre textos parcialmente distintos.
Neste caso, reconhece-se melhor o que neles surge como semelhante, ou complementar.
Item 8
Estratégias de leitura – Articular informações oferecidas no corpo do
texto com outras informações oferecidas em ilustrações ou fotos.
8. A foto ilustra a seguinte situação associada ao texto:
(A) O mundo gira cada vez mais rápido.
(B) O professor busca respostas às perguntas relacionadas a seu papel de educador.
(C) Diariamente o homem redescobre que a Terra não é quadrada.
(D) A notícia chega cada vez mais rápido.
(E) Pela telinha do computador se viaja o mundo surfando na Internet.
Confundiu-se o que a foto sugere (pesquisa, atualização de conheci-
mento etc.) com o que de fato ela mostra.
59
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 9
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Reconhecer estratégias de significação, em função da exploração de recursos de
conotação e denotação.
9. O verbo grifado está empregado em sentido denotativo em:
(A) Pela telinha do computador se viaja o mundo surfando na Internet.
(B) Como plugar os jovens aos capítulos da História ou às equações matemáticas?
(C) Diante de tantos recursos da eletrônica, os alunos voam pela janela de aula.
(D) As perguntas, sem respostas definitivas, martelam na cabeça de pais e educadores.
(E) E a notícia chega cada vez mais rápido.
Reconhecimento relativamente baixo do conceito de denotação, sem
cujo domínio prático não se responde.
Item 10
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Analisar as diferenças entre uma paráfrase e o texto original.
10. O argumento para a privatização das universidades públicas parte do princípio de que ela é
demasiado cara e serve aos ricos. Levantamentos socioeconômicos recentes mostram, no en-
tanto, que há cada vez mais um predomínio de estudantes de classe média e um avanço pro-
gressivo dos alunos com renda familiar inferior a dez salários mínimos.
A nova redação NÃO altera o sentido do texto acima em:
(A) Contrariando o argumento privativista de que a universidade pública é muito cara e só aten-
de aos ricos, pesquisas recentes mostram que ela é cada vez mais freqüentada pela clas
se média e que há um crescimento contínuo do número de alunos com renda inferior a dez
salários mínimos.
(B) Há um princípio de que a universidade pública, para os ricos, é muito cara e, por isso, deve
ser privatizada. Levantamentos recentes comprovam, nessa linha, que um número cada vez
maior de filhos da classe média e dos mais pobres está chegando à universidade.
(C) Alunos que chegam a ganhar até dez salários e vindos da classe média podem chegar à uni-
versidade, como demonstram recentes levantamentos socioeconômicos. Isso é prova que
vai contra a privatização da universidade, em que estão só os mais ricos.
(D) O predomínio de estudantes de classe média e dos alunos com menor renda que dez sa-
lários mínimos fala contra o que se debate sobre a privatização, pois a universidade públi-
ca não é feita só para ricos.
(E) O argumento de que a universidade pública não deve atender aos ricos está derrubado, por-
que há o predomínio de alunos de classe média e mais pobres freqüentando; ela é cara, mas
há um avanço progressivo no número de alunos.
60
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Alguma dificuldade no reconhecimento dos nexos lógicos de um dis-
curso apresentado em nova versão. Neste caso, a atração por D revela preferência pela versão
mais sintética, num período único, com aspecto conclusivo mais marcado (“pois”).
Item 11
Contexto histórico-social na análise textual – Identificar, na leitura de
um texto literário, as marcas de estilo conseqüentes do contexto histórico de produção.
11.
Sor Antônio de Sousa de Menezes,
Quem sobe ao alto lugar, que não merece,
Homem sobe, asno vai, burro parece,
Que o subir é desgraça muitas vezes.
Os versos acima exemplificam a seguinte afirmação:
(A) A convenção da poesia arcádica era artificial, figurando personagens e paisagens imaginárias.
(B) A moralidade e a técnica punham-se, em seus sermões, a serviço dos nativos oprimidos.
(C) O humor modernista servia-se da linguagem franca das ruas, do ritmo cortante da fala.
(D) A sátira política, sempre engenhosa, era uma das práticas desse poeta barroco.
(E) O vigor emocional desse romântico tinha como alvos o regime político e o sistema de produção.
A distribuição das respostas indica baixo reconhecimento do que seja
“sátira” e “barroco”, confundindo-se esses termos com outros indicadores de gênero e de estilo
da época. Parece ter havido dificuldade, também, numa compreensão do tom dos versos de
Gregório de Matos Guerra.
Item 12
Contexto histórico-social na análise textual – Identificar, na leitura de
um texto literário, as implicações no tratamento temático e no estilo conseqüentes do contexto
histórico de produção e recepção do texto.
61
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
12
. Vou comprar a catarata de Niágara
Grande usina elétrica
Compro também a Niágara Falls Power Company...
Com toda a força que conseguir de todos os dínamos
Eletrizar o globo terrestre
Fazê-lo girar como uma turbina...
São traços da estética e do pensamento modernista, na estrofe acima,
(A) a métrica irregular, as rimas ricas, o tema da velocidade.
(B) o verso livre, a novidade tecnológica, o tema da velocidade.
(C) a confissão lírica, a métrica irregular, o tema social.
(D) o verso livre, a confissão lírica, o temor da tecnologia.
(E) a nacionalização, a métrica convencional, a tecnologia.
Dificuldade em se precisar, simultaneamente, características distintas
da linguagem poética. Conceitos como métrica, lirismo e versos livres não parecem familiares.
Item 13
Relações de intertextualidade entre dois enunciados – Distinguir uma
paródia de uma paráfrase.
13. Compare estes dois enunciados:
I.
Iracema, apresentada como “a virgem dos lábios de mel”, encarnou a própria terra colonizada,
a natureza que generosamente se revelou ao homem branco e por ele se sacrificou.
II.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, flechou o guerreiro mas lhe saiu o tiro (digamos assim)
pela culatra: perdeu seu povo, sua casa e o próprio namorado, acabando uma palmeira que ficou
a ver navios.
Ambos os enunciados referem-se ao romance IRACEMA, de José de Alencar. É correto afirmar que
(A) I revela a intenção de destruir um mito nacionalista.
(B) I e II são paródias do famoso romance romântico.
(C) apenas II interpreta corretamente a intenção do romancista.
(D) apenas I interpreta corretamente a intenção do romancista.
(E) I e II são igualmente objetivos.
Não há familiaridade com
Iracema
, de Alencar. É provável que boa par-
te dos acertos se deva ao tom mais “sério” do enunciado I, que só por isso seria visto como o que
“interpreta corretamente”.
62
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 14
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de escolha (formas lexicais, formas de tratamento,
estruturas sintáticas, níveis de registro).
14. A frase corretamente construída é:
(A) Logo escrever-te-ei, mantendo-lhe bem informado.
(B) Ele preferiu ficar conosco mesmos a sair com ela.
(C) Diga o que é para eu fazer, e o farei com prazer.
(D) Se Vossa Excelência preferirdes, adiaremos a reunião.
(E) Ele havia indignado-se com as acusações que o moveram.
Muita hesitação entre as alternativas. Dificuldade em se reconhecer
erros de tratamento e colocação pronominal.
Item 15
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de transformação estrutural (ativa passiva, cons-
truções adverbiais, adjetivo X locução adjetiva).
15. Transpondo para a voz ativa a frase
“Os discos teriam sido quebrados pela irmãzinha”
, a for-
ma verbal resultante será:
(A) teria quebrado.
(B) tinha quebrado.
(C) foram quebrados.
(D) quebraram.
(E) quebrara.
O baixo índice de acerto revela dificuldade não propriamente no reco-
nhecimento da voz verbal, mas no da exata equivalência entre formas verbais e vozes diferentes.
Item 16
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Identificar operações de expansão do sintagma nominal (adjuntos,
complementos e orações subordinadas) e do sintagma verbal (adjuntos adverbiais e orações
adverbiais).
63
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
16. Ele se mostra indiferente às calúnias.
A oração que mantém o mesmo VALOR SINTÁTICO do elemento sublinhado na frase acima é:
(A) apesar de o caluniarem.
(B) ainda quando caluniado.
(C) se for caluniado.
(D) quando o caluniam.
(E) a quem o calunia.
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Distinguir
texto literário de texto não literário, em função de sua forma, finalidade e convencionalidade.
Item 17
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Distinguir
texto literário de texto não literário, em função de sua forma, finalidade e convencionalidade.
17.
O imperador Adriano, refletindo sobre o destino da civilização romana, vai até a sacada do
palácio. Mas seus olhos não vêem Roma: vêem a cultura grega permanecer sob ruínas, vêem-
na subsistir por séculos e séculos na força de uma racionalidade
que constituiu a base da filoso-
fia ocidental.
O texto acima trata de uma personagem histórica com recursos da linguagem ficcional, pois
(A) a própria personagem assume a função de narrar.
(B) os tempos e modos verbais não expressam ações definidas.
(C) o narrador está a imaginar o que pensa a personagem.
(D) sua sintaxe é fragmentária e irregular.
(E) não há qualquer indicação de fatos que sejam historicamente comprováveis.
Relativa facilidade no reconhecimento da distinção entre o real e o
ficcional. A segunda preferência (E) não deixa também, embora de modo equivocado, de consi-
derar tal distinção.
Item 18
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Compreen-
der o texto literário como manifestação cultural presente em diferentes épocas.
64
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
18. Pode-se ilustrar o fato de que a literatura repercute as idéias e os valores de uma época
quando se associam, por exemplo, os nomes de
(A) Claúdio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga às lutas abolicionistas.
(B) José de Alencar e Gonçalves Dias ao movimento republicano.
(C) Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens aos princípios do realismo naturalista.
(D) Gregório de Matos e Antonio Vieira à defesa de nossa emancipação econômica.
(E) Mário de Andrade e Oswald de Andrade à modernização cultural do país.
Relativa dificuldade em se associar Mário de Andrade e Oswald de
Andrade ao Modernismo; foi atraente a associação entre dois autores do século XIX ao movi-
mento republicano, o que tem alguma verossimilhança geral.
Item 19
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Perceber
por comparação de dois textos literários suas semelhanças ou diferenças decorrentes de seu
momento histórico de produção.
19. I.
A voz de Deus me chamou: “Levanta-te, profeta, vê, ouve, e percorrendo mares e terras,
queima com a Palavra os corações dos homens.
II.
Eu sinto em mim o borbulhar do gênio.
Os enunciados I e II são, respectivamente, de um escritor russo e de um brasileiro, e manifestam
(A) um sentimento de impotência diante da adversidade histórica.
(B) a convicção romântica da excepcionalidade do artista.
(C) a oposição entre os modos de se avaliar a força da arte.
(D) a diferença entre a arte romântica e a arte realista.
(E) o valor da arte como um trabalho que prescinde da inspiração.
Grande dificuldade em: a) reconhecer o conceito prestigiado de gênio
(ou de profeta) no Romantismo; b) associar duas afirmações com um núcleo comum de analogi-
as. A incidência maior da escolha em E parece revelar desconhecimento do que significa “pres-
cinde”, provavelmente entendido como “precisa”. Neste caso, houve alguma detecção do caráter
“inspirado” de gênio.
Item 20
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Reconhe-
cer, em um texto dado, concepções de mundo e de sujeito decorrentes de sua historicidade.
65
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
20.
Minha matéria é o cotidiano, o pobre cotidiano do homem comum. A obrigação do pão é que
me traz aos jornais, leitor amigo. Não venho contar coisas miraculosas, que já não existem, mas
lhe oferecer o testemunho de um escriba que vê nossa vida rasa com olhos rasos, em páginas
curtas, num mundo há muito sem Homero, sem Dante, sem Camões
.
O autor do texto acima manifesta
(A) os ideais de um prosador com os olhos no futuro.
(B) o desencanto do escritor barroco quanto à condição colonial.
(C) a profissão de fé de um modernista combativo.
(D) suas convicções enquanto cronista moderno.
(E) sua determinação de artista em busca de amplo reconhecimento.
Muita dificuldade no reconhecimento de uma crônica moderna, prova-
velmente por causa das alusões feitas a Homero, Dante e Camões, que levaram a considerar o
texto como barroco ou grandiloqüente.
Item 21
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Reconhe-
cer, em um texto dado, marcas de valores e intenções dos agentes produtores, em função de
seus comprometimentos e interesses políticos, ideológicos e econômicos (discurso religioso, ci-
entífico, político-sindical, político-empresarial).
21.
O Rio era muito mais internacional, como norma de vida exterior. Está claro, porto de mar e
capital do país, o Rio possui um internacionalismo ingênito. São Paulo era espiritualmente muito
mais moderna porém, fruto necessário da economia do café e do industrialismo conseqüente.
O autor desse texto está
(A) historiando o evento que consolidou a estética realista entre nós.
(B) tecendo hipóteses sobre a localização dos primeiros movimentos republicanos.
(C) esclarecendo aspectos das origens do movimento modernista.
(D) testemunhando sobre as origens da prosa regionalista naturalista.
(E) divergindo da idéia de se ter escolhido a capital federal para sediar a Semana de Arte Moderna.
Outra vez, pouca familiaridade com aspectos essenciais do Modernis-
mo. Não obstante, a “Semana de Arte Moderna”, expressa na alternativa E, foi ponto de atração.
Houve má compreensão do sentido do texto em si.
Item 22
Funções da linguagem e atos da fala – Perceber, na análise de enunci-
ados concretos, as funções que se atribuem à linguagem, conforme a intenção do enunciado
(função referencial, apelativa, emotiva etc.).
66
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
22. Indique o enunciado em que se busca persuadir o receptor por meio de uma objetiva argu-
mentação socioeconômica.
(A) Este balanço expõe o quadro deficitário da empresa, neste momento. Por ora, não é pos-
sível contratar mais pessoal.
(B) Não era nossa intenção magoá-lo, pois imaginávamos que ele viesse a se envergonhar de
sua condição de desempregado.
(C) Pareceu-me, desde sempre, que essa revolução nasceu para cumprir objetivos alheios aos
que foram divulgados. Os fatos deverão comprová-lo.
(D) Levo um padrão de vida condizente com meus recursos, apesar de me encontrar endivida-
do. Acredito que logo honrarei meus compromissos.
(E) Há muito suspeito de que essa crise nos atingirá. Os indícios estão no ar, só um cego não
os vê.
A distribuição das respostas sugere que não se compreendeu o senti-
do de “persuadir”, em primeiro lugar, e de “argumentação socioeconômica”, em segundo.
Item 23
Funções da linguagem e atos da fala – Reconhecer, na análise de
enunciados concretos, as ações que se realizam com a linguagem, conforme a intenção do
enunciado (pedir, sugerir, mandar, batizar, condenar etc.).
23. A frase em que se indica corretamente o valor do enunciado sublinhado é:
(A) De acordo com seus princípios, optou pelo lado mais fraco = exclusão.
(B) Sairemos amanhã cedinho, a menos que chova = ressalva.
(C) Só concordarei se você me apresentar melhores argumentos = finalidade.
(D) Por falta de verba, a campanha não será realizada = conseqüência.
(E) Ele ficava mais feliz à medida que os resultados chegavam = condição.
Grande confusão entre causa e conseqüência levou a maioria à alter-
nativa D; o valor lógico proposto na alternativa correta B, de ressalva, não é conhecido da grande
maioria. A dificuldade maior parece ter sido a de vocabulário.
Item 24
Funções da linguagem e atos da fala – Estabelecer relação entre a for-
ma lingüística e a função que a ela atribui (por ex.: imperativo função conativa; predomínio da
1
a
pessoa função emotiva etc.).
67
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
24. O senhor siga junto ao rio, dobre à direita e suba a ladeira.
A função conativa da linguagem, predominante na frase acima, decorre
(A) das referências feitas ao caminho a seguir.
(B) das indicações referentes ao emissor.
(C) do emprego das preposições e dos artigos.
(D) do tipo de coordenação sintática das orações.
(E) do emprego do pronome de tratamento e das formas verbais.
Desconhecimento do conceito aplicado de funções à linguagem, tal
como ocorreu em outras questões.
Item 25
Progressão temática e estratégia argumentativa – Identificar a tese e
os argumentos de um texto.
68
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 25 a 30 referem-se ao texto apresentado abaixo. Essas ques-
tões possuem apenas 4 alternativas: A, B, C e D.
No País do Futebol
Carlos Eduardo Novaes
Segunda-feira – 14 horas – Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta
de uma loja de eletrodomésticos e perguntou:
– Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo?
– Qualquer um – disse o vendedor desinteressado.
– Não. Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa
consideração.
– Pra que o senhor quer saber?
– Para já ir tomando posição diante dele.
O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada
que o acompanha ao Maracanã e sentou-se no meio da calçada.
– Ei, ei, psssiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu ir-
mão?
– Que foi? Perguntou Juvenal.
– Quer me botar na miséria? Esse ponto aqui é meu.
– Mas eu não vou pedir esmola.
– Então senta aqui ao meu lado.
– Aí não vai dar para eu ver o jogo.
– Na hora do jogo nós vamos lá para casa.
– Você tem TV a cores?
– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?
Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns
amigos que não via desde a final da Copa de 70. O mendigo entendeu. E como gostou de
Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
– Não, não. Na cabeça não.
– Por que não?
Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(In:
Juvenal Ouriço Repórter.
Rio de Janeiro: Nórdica, 1977, p.24-25)
25. A escolha do título
No País do Futebol
justifica-se:
(A) pelo gosto de Juvenal por esse esporte tão popular no país.
(B) pelo encontro marcado com os amigos que não via desde a Copa de 70.
(C) pelo fato das lojas mostrarem o jogo pelos aparelhos que estão à venda.
(D) pelo encadeamento dos temas presentes no texto, entre eles, o do futebol.
Dificuldade quanto à associação entre o título e uma marca da cons-
trução do próprio texto (“encadeamento dos temas”). A maioria (50%: A + B) optou pelo simples
69
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
reconhecimento de um tema. O titulo do texto não parece ser o mais apropriado, o que certa-
mente dificulta a associação pedida.
Item 26
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a seleção
de argumentos de um texto para a corroboração da tese.
26. A fala do personagem:
“– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
indica que
ele, ao ficar na rua, se encontrava em uma situação de
(A) doença.
(B) contravenção.
(C) trabalho.
(D) ócio.
Facilidade no reconhecimento da situação explícita em que se encon-
tra a personagem.
Item 27
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Articular a escolha de índice formal de estabelecimento de relação sintáti-
co-semântica com a estratégia argumentativa estabelecida pelo autor: contraposição.
27.
“– Mas eu não vou pedir esmola.
Ao dizer esta frase, Juvenal está negando uma interpreta-
ção que o mendigo fez de uma ação sua. Esta ação foi:
(A) não ter comprado um TV a cores.
(B) ter-se sentado no meio da calçada.
(C) ter apontado para um dos aparelhos.
(D) ter resolvido ver ali o jogo.
Facilidade no reconhecimento do significado de um gesto fácil de se
interpretar, no contexto dado.
Item 28
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Analisar o valor de um índice formal de relação sintático-semântica no
segmento do texto dado: explicação.
70
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
28. Há uma relação de causa e conseqüência em:
(A) “E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(B) “Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(C) “Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
(D) “Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
A alternativa B, dada como errada, parece bastante plausível: alguém
deixa o chapéu no chão para que, em conseqüência, seja identificado como mendigo e receba
esmola. Assim se considerando, a maioria (59%: A + B) teria corretamente identificado a relação
pedida.
Item 29
Estratégias de leitura – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão
considerando universo temático.
29. Em uma das frases abaixo, o termo em destaque tem como antecedente outro termo que
aparece no texto como um recipiente.
(A) Para já ir tomando posição diante dele.
(B) Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos.
(C) E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(D) Já viu mendigo usar chapéu na cabeça?
Alguma dificuldade, talvez, no reconhecimento dos termos “recipiente”
e, sobretudo, “antecedente”, necessário para a indicação da função do pronome relativo.
Item 30
Estratégia de construção da verossimilhança do universo ficcional –
Articular a organização do cenário (tempo-espaço) com o enredo e a ação das personagens.
30. A informação
“segunda-feira – 14 horas”
e o fato de Juvenal carregar uma almofada suge-
rem que a cena corresponde:
(A) a uma simulação do futebol.
(B) a um jogo que ocorreria num feriado.
(C) ao fato de Juvenal ser um desocupado.
(D) ao fato de Juvenal ser mais pobre que o mendigo.
Alguma dificuldade na valorização do aspecto sugestivo (não-explícito)
de um gesto, relacionado, por sua vez, ao aspecto sugestivo de uma outra informação (segunda-
feira = dia útil; 14 horas = horário comercial).
71
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Língua Portuguesa – Noite
O número de examinandos na prova de Língua Portuguesa do período
noturno foi de 90.743. Cerca de 38.774 (43%) alunos estudavam em cursos de formação geral,
enquanto 51.969 (57%) faziam o Ensino Médio em cursos profissionalizantes, como está indica-
do no Gráfico 21. A média geral foi igual a 10,02, representando 33% de acertos, com desvio pa-
drão equivalente a 4,16 pontos. A mediana mostrou-se muito próxima da média geral, sendo
igual a 10 pontos. Encontraram-se provas em que não houve um acerto sequer, sendo a nota
máxima atingida igual a 29 pontos, representando 97% de acertos. O escore máximo atingido
pelo grupo de desempenho inferior foi de 8 pontos, equivalente a 27% de acertos. No grupo su-
perior a nota mínima observada foi 13 (43% de acertos). Esses dados indicam que a maior par-
cela dos estudantes que realizaram essa prova não acertou mais do que 42% das questões. O
índice de fidedignidade da prova foi de 0,68, considerando-se, portanto, o instrumento apropria-
do para medir os conteúdos e habilidades instrucionais propostos para este nível de escolarida-
de. A proporção de itens classificados como bons ou excelentes quanto à discriminação foi da
ordem de 53%, enquanto 27% foram considerados médios e 20% não discriminaram.
Gráfico 21 – Distribuição dos alunos por estado e
modalidade de curso: Língua Portuguesa – Noite
Os cursos voltados para formação geral tiveram média geral igual a
10,19, representando 34% de acertos, ao passo que a média dos cursos profissionalizantes foi
igual a 9,90, equivalente a 33% de acertos. O Gráfico 22 representa a distribuição dos escores
dos examinandos nessa prova.
A proporção de itens de dificuldade mediana foi da ordem de 80%,
sendo os restantes difíceis (7%) e fáceis (13%).
72
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Gráfico 22 – Distribuição dos escores obtidos em Língua
Portuguesa – Noite
Comentários relativos à prova de Língua
Portuguesa – Noite
Para permitir uma compreensão mais apurada daquilo que os estudan-
tes foram capazes de realizar, solicitou-se a especialistas que comentassem os resultados obti-
dos em cada prova. Antecedendo os comentários, apresentam-se os conteúdos e descritores
que nortearam a elaboração de cada questão.
Item 1
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
características básicas de uma narrativa ficcional (conflito e desenlace, personagens, tipo de
narrador).
73
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 1 e 2 referem-se ao texto apresentado abaixo.
Coisas incríveis no céu e na terra
De uma feita, estava eu sentado sozinho num banco da Praça da Alfândega quando co-
meçaram a acontecer coisas incríveis no céu, lá para as bandas da Casa da Correção: havia uns
tons de chá, que se foram avinhando e se transformaram nuns roxos de insuportável beleza. In-
suportável, porque o sentimento de beleza tem de ser compartilhado. Quando me levantei, de-
pois de findo o espetáculo, havia umas moças conhecidas, paradas à esquina da Rua da Ladeira.
– Que crepúsculo fez hoje! – disse-lhes eu, ansioso de comunicação.
– Não, não reparamos em nada – respondeu uma delas. – Nós estávamos aqui esperando
o Cezimbra.
E depois ainda dizem que as mulheres não têm senso de abstração...
1. O narrador do texto
(A) relata, observando de longe, os fatos que ocorrem ao homem sentado no banco.
(B) é testemunha dos fatos vividos pelas protagonistas, que são objetivamente analisadas.
(C) é o protagonista, que expressa a intensidade de suas sensações e emoções.
(D) não faz parte do universo narrado, tratando-se, assim, de um narrador em terceira pessoa.
(E) revela conhecimento pleno de tudo o que ocorre com as personagens, até mesmo de seus
pensamentos.
Identificam os conceitos de narrador e personagem, associam-nos e
reconhecem o tom emocional predominante no texto.
Apenas 26% (A + C) não reconheceram os conceitos e não percebe-
ram o modo afetivo do texto.
Item 2
Progressão temática e estratégia argumentativa – Estabelecer relação
entre o núcleo dramático e outros elementos da narrativa.
2. O episódio narrado permitiu que o narrador
(A) achasse justo que nem todos se emocionem com a natureza.
(B) fizesse um comentário sobre a natureza feminina em geral.
(C) justificasse por que o sentimento de beleza tem de ser compartilhado.
(D) se lamentasse por sua solidão.
(E) tecesse uma crítica a quem não se preocupa com as mulheres.
A maioria, 59% (B + C), oscila entre comentário (31%) e justificativa
(28%), ao apontar a natureza do texto, mas apenas 1/3 associa bem a modalidade correta (co-
mentário) ao tema central do texto.
74
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 3
Características e estratégias próprias de cada gênero – Estabelecer
relação entre os aspectos formais e temáticos de um texto poético (lirismo amoroso, descrição
de objeto ou cena, retrato de cotidiano, narrativa dramática).
Atenção: As questões de números 3 e 4 referem-se ao texto apresentado abaixo.
Velha chácara
Manuel Bandeira
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinqüenta anos)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
– Mas o menino ainda existe.
3. O modo como fala do espaço na primeira estrofe já indica que o poeta se refere
(A) a uma visita a uma chácara desconhecida onde, diziam, vivia um menino.
(B) à primeira visita ao espaço onde viveram seus antepassados por várias gerações.
(C) a uma propriedade onde muitos nasceram, sofreram e morreram, e que se tornara refúgio
de meninos.
(D) ao destruído espaço de sua infância que, visitado, fez reviver o menino de outrora.
(E) a uma chácara, demolida por interesses econômicos, que ele deseja comprar na esperança
de reconstruir.
Muita facilidade (80%: A + B + C) no reconhecimento da atitude básica
do poeta (ida ao passado); menor facilidade na qualificação exata do espaço evocado pela me-
mória.
Item 4
Características e estratégias próprias de cada gênero – Reconhecer
recursos prosódicos freqüentes em texto poético (rima, ritmo, assonância, aliteração).
75
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
4. Os elementos grifados no texto revelam a presença do recurso poético denominado
(A) rima.
(B) elipse.
(C) metáfora.
(D) metonímia.
(E) assonância.
A imensa maioria não hesita em reconhecer a rima.
Item 5
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a perti-
nência das informações selecionadas na exposição do argumento.
76
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Atenção: As questões de números 5 a 8 referem-se à foto e ao texto apresentados abaixo.
Entre as inúmeras lendas que envolvem o café, uma certamente ainda está fresca na lem-
brança dos produtores brasileiros. Na época colonial, enquanto suavam nos cafezais, os escra-
vos tinham o costume de entoar cânticos africanos. O que soava como música para os feitores
era, na verdade, praga para que as próximas colheitas fenecessem e os fazendeiros quebras-
sem. O mau-olhado parece ter dado resultado nos primeiros anos da década de 90, quando o
café nacional amargava péssima fama no Exterior e o consumo interno estava em baixa. Hoje, o
cenário é outro. O trabalho árduo, a bênção da natureza, a estabilização da moeda e o emprego
acentuado da tecnologia de ponta foram os antídotos utilizados pelos cafeicultores do cerrado
mineiro para combater o feitiço e transformar o café produzido na região em uma griffe no Exteri-
or. Assim como os vinhos bordeaux e os charutos havana, o café fino do cerrado tem a preferên-
cia de um público seleto no Japão, nos Estados Unidos e em países europeus, e alavanca a eco-
nomia local. O pacote de financiamento agrícola, anunciado recentemente pelo governo, reforça
ainda mais os ânimos do setor.
(Obs.: griffe = marca de prestígio)
Revista
ISTO É
– n
o
1 446 (18/06/97)
5. É um bom argumento para a defesa da tese a seguinte idéia:
(A) O mercado do café é muito competitivo.
(B) Um público seleto em várias partes do mundo prefere o café do cerrado mineiro.
(C) Nem todos apreciam o sabor do café produzido em Minas.
(D) Discute-se muito acerca dos perigos da ingestão excessiva de café.
(E) A cultura do café assume características próprias dependendo do país produtor.
Pouco mais de um terço reconhece o que é um argumento central e
como surge comprovado; a maioria optou por verdades independentes, como em A e em E.
77
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 6
Estratégias de leitura – Comparar uma informação dada no texto com
outras fontes, de modo a verificar sua pertinência e legitimidade.
6. O Texto I dá a seguinte informação:
O trabalho árduo, a benção da natureza, a estabilização da moeda e o emprego acentuado da
tecnologia de ponta foram os antídotos utilizados pelos cafeicultores do cerrado mineiro para
combater o feitiço e transformar o café produzido na região em uma griffe no Exterior.
Leia com atenção o fragmento abaixo.
Texto II
A baixa safra de outros países produtores explica a boa cotação do café brasileiro nas bolsas de
mercadorias internacionais. Na Colômbia, segundo maior exportador mundial, atrás apenas do
Brasil, a produção caiu de 12,5 milhões de sacas no ano passado para 9,5 milhões neste ano.
A comparação entre os fragmentos revela que o texto II
(A) confirma as idéias do texto I.
(B) trata de um assunto totalmente diferente do texto I.
(C) trata unicamente do café de outros países, por isso é complemento do texto I, que analisa
a situação do café brasileiro.
(D) permite a observação de que o texto I não fez referência à importante razão de o café mineiro
estar em alta no Exterior.
(E) apresenta dados que tornam as informações do texto I totalmente inverídicas.
Grande dificuldade no reconhecimento de uma omissão de dado im-
portante num enunciado; muitos, em A, preferem reconhecer o caráter mais genérico da coerên-
cia na argumentação do texto.
Item 7
Estratégias de leitura – Articular informações oferecidas no corpo do
texto com outras informações oferecidas em ilustrações ou fotos.
7. A foto que ilustra o texto registra:
(A) o trabalho árduo, a bênção da natureza, o emprego da tecnologia garantindo o sucesso do
café no cerrado mineiro.
(B) a prática do feitiço pelos escravos africanos para produzir colheitas falhas, durante o período
colonial.
(C) a preferência dos europeus pelo café importado do Brasil.
(D) o anúncio do pacote de financiamento agrícola por representantes do governo.
(E) o café brasileiro lado a lado com os vinhos bordeaux e os charutos havana: preferência de
um público seleto.
78
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Facilidade na identificação dos elementos de uma foto e da sua relação
com o texto; mais de um terço não atentou para detalhes da foto ou não teve como reconhecê-los.
Item 8
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Reconhecer estratégias de significação, em função da exploração de recursos de
conotação e denotação.
8. O termo grifado está empregado em sentido conotativo em:
(A) Na época colonial, enquanto suavam nos cafezais, os escravos entoavam cânticos africanos.
(B) O que os feitores ouviam era uma praga contra as colheitas e os fazendeiros.
(C) O trabalho árduo foi um dos antídotos contra a péssima fama do café brasileiro no Exterior.
(D) Há muitas lendas que envolvem o café.
(E) Os cafeicultores do cerrado mineiro empregam tecnologia de ponta.
A distribuição das respostas revela pouquíssima familiaridade com o
conceito conotativo.
Item 9
Relação entre texto e contexto, e entre texto e outros textos implicados
pelo primeiro – Analisar as diferenças entre uma paráfrase e o texto original.
79
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
9.
Entrar em estado de coma não quer dizer que os neurônios
as células nervosas cerebrais
tenham sido lesados e que haverá seqüelas. A ocorrência de conseqüências dependerá da qua-
lidade e da rapidez no atendimento. Se o socorro demorar a chegar, o nível de oxigenação cere-
bral pode ficar tão reduzido que, aí sim, as células sofrem danos irreversíveis.
A nova redação NÃO altera o sentido do texto acima em:
(A) O estado de coma não tem nada a ver com os neurônios, nem com suas lesões e seqüelas.
Tudo vai depender do socorro prestado: se ele não for rápido, as celulas nervosas ficam com-
prometidas para sempre.
(B) Quando se fala em estado de coma não se fala em lesões e danos irreversíveis. Eles ocorrem
quando o socorro demora e, aí sim, obrigatoriamente as seqüelas existem e são definitivas.
(C) Se uma pessoa entra em estado de coma, vai depender do tipo de socorro prestado para
saber se os neurônios estão lesados e se as seqüelas são definitivas. A oxigenação cere-
bral, quando abaixa, faz as células nervosas sofrerem danos irrecuperáveis.
(D) A presença de seqüelas definitivas para quem entra em estado de coma está associada à
boa qualidade do socorro prestado. O socorro pode salvar os neurônios lesados e, mantendo a
oxigenação cerebral certa, evita danos irreversíveis.
(E) O estado de coma não implica obrigatoriamente lesões nos neurônios e outras seqüelas.
Se a pessoa que entra em coma é atendida logo e de maneira adequada, impede-se a re-
dução do nível de oxigenação das células nervosas cerebrais e, assim, evitam-se danos irre-
versíveis.
Boa parte não tem dificuldade em reconhecer uma outra e correta ver-
são de um texto informativo. A versão mais próxima da correta (C: 22%) foi também a segunda
opção.
Item 10
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Identificar um índice formal de estabelecimento de relação sintático-
semântica num texto dado: conclusão.
10.
Com a precariedade do transporte coletivo, cada vez mais acentuada, a classe média adotou
as peruas como alternativa de condução. Isso tem causado descontentamento entre muitos
taxistas, que não aceitam a concorrência que julgam desleal. Não estranhemos, pois, que a cate-
goria se manifeste denunciando os motoristas que, segundo os prejudicados, atuam ilegalmente.
A conjunção grifada no texto traduz idéia de
(A) explicação.
(B) adversidade.
(C) adição.
(D) conclusão.
(E) alternância.
80
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Dificuldade em distinguir as nuanças lógicas de explicação e conclu-
são, entre as quais a grande maioria (69%) se dividiu.
Item 11
Contexto histórico-social na análise textual – Identificar, na leitura de
um texto literário, as marcas de estilo conseqüentes do contexto histórico de produção.
11.
Os zelosos juízes punir querem
A injúria da justiça: formam autos.
Procedem às devassas, pronunciam,
E mandam que estes nomes se descrevam
Nos róis dos mais culpados. Mas, amigo,
De que serve fazer-se o que as leis mandam
Na terra, que governa um bruto chefe,
Que não tem outra lei mais que a vontade?
Os versos acima exemplificam o estilo da sátira indignada de um
(A) poeta romântico contra o sistema escravocrata.
(B) orador jesuíta contra a falta de fé dos colonos.
(C) poeta do século XVIII contra os desmandos da autoridade.
(D) escritor naturalista contra o banditismo popular.
(E) missionário do século XVI contra os hábitos indígenas.
Acredita-se que, menos do que à localização no tempo do texto dado
(século XVIII), o alto indice de acerto se deve ao reconhecimento do tema central (“desmandos
da autoridade”).
Item 12
Contexto histórico-social na análise textual – Identificar, na leitura de
um texto literário, as implicações no tratamento temático e no estilo conseqüentes do contexto
histórico de produção e recepção do texto.
81
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
12.
A caatinga ressuscitaria, a semente do gado voltaria ao curral, ele, Fabiano, seria o vaqueiro
daquela fazenda morta. Os meninos, gordos, vermelhos, brincariam no chiqueiro das cabras. As
vacas povoariam o curral. E a caatinga ficaria toda verde.
No trecho acima,
(A) um regionalista romântico enaltece a harmonia entre a paisagem e os sentimentos das perso-
nagens.
(B) um escritor modernista satiriza o atraso em que vivem os sertanejos do centro-oeste brasileiro.
(C) um ficcionista naturalista analisa as condições miseráveis das moradias coletivas.
(D) um prosador moderno faz compreender os sonhos que animam os retirantes nordestinos.
(E) um regionalista do século XIX focaliza um aspecto da organização familiar num engenho de
açúcar paraibano.
Acredita-se que, menos do que a identificação do gênero ou da época
do texto, o acerto se deve ao reconhecimento do tipo de personagens (“retirantes nordestinos”).
Nota-se a atração que exerce a alternativa que trata da condição social das personagens, alter-
nativa em que o termo “sátira” não é compreendido.
Item 13
Relações de intertextualidade entre dois enunciados – Distinguir uma
paródia de uma paráfrase.
13. I.
A vez primeira que eu fitei Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
(Castro Alves)
II.
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
(Manuel Bandeira)
Comparando-se os versos acima, vê-se que Manuel Bandeira parodiou Castro Alves, pois
(A) adotou em seu poema o nome da mesma personagem.
(B) traduziu os mesmos sentimentos com outras palavras.
(C) participou do clima de idealização amorosa do original.
(D) interpretou as verdadeiras intenções do texto original.
(E) valeu-se de uma estrutura semelhante com sentimento distinto.
Pouca compreensão do que seja paródia. A opção mais visível é pelo
reconhecimento simples de uma personagem comum aos textos, sem considerar as diferenças
de procedimentos entre os dois poetas.
82
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 14
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de escolha (formas lexicais, formas de tratamento,
estruturas sintáticas, níveis de registro).
14. A frase cuja construção está correta é:
(A) O que eu gosto não é seu interesse saber.
(B) Visitei o bairro e lhe percorri todas as ruas.
(C) Discordamos com tudo o que ele falou.
(D) Ele reagiu por razões cujas ninguém conhece.
(E) É dessa menina que você desistiu em namorar?
A distribuição das respostas revela grande dificuldade no reconheci-
mento da regência correta. A opção maior (C: 32%) sugere confusão entre as regências de con-
cordar e discordar.
Item 15
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Realizar operações de transformação estrutural (ativa passiva, cons-
truções adverbiais, adjetivo X locução adjetiva).
15. Transpondo para a voz passiva a frase “Os soldados teriam atingido o alvo”, a forma verbal
resultante será
(A) fora atingido.
(B) foram atingidos.
(C) teriam sido atingidos.
(D) teria sido atingido.
(E) seria atingido.
O baixo índice de acerto revela dificuldade não propriamente no reco-
nhecimento da voz verbal, mas no da exata equivalência entre formas verbais e vozes diferentes.
Item 16
Operações lingüísticas de estabelecimento de relações entre forma e
construção de sentido – Identificar operações de expansão do sintagma nominal (adjuntos, com-
plementos e orações subordinadas) e do sintagma verbal (adjuntos adverbais e orações adverbiais).
83
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
16. Observe as seguintes frases:
I.
Ele ficou feliz com o prêmio recebido.
II.
Ele ficou feliz com o prêmio que recebeu.
Na transformação da frase I na frase II,
(A) alterou-se a voz do verbo da oração principal.
(B) “que recebeu” altera a função sintática de “feliz”.
(C) “o prêmio” assume a função de sujeito.
(D) alterou-se o sujeito da oração principal.
(E) um termo de oração expandiu-se em outra oração.
Dificuldade no reconhecimento de equivalência de função sintática de
um termo e de uma oração. Mais atraente foi a alternativa A, talvez por fazer referência a uma
alteração (real) no verbo (real); a informação quanto à voz (falsa) não foi ponderada pela maioria.
Item 17
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Distinguir
texto literário de texto não literário, em função de sua forma, finalidade e convencionalidade.
17. I.
As rosas desabrocham
Com a luz do sol,
E a beleza das mulheres
Com o creme Rugol.
II.
Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
– Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio:
Não será insensato pedir a esta rosa que fale? Não vês que ela se dá toda no seu perfume?
Comparando-se os dois textos acima, pode-se afirmar que
(A) têm idêntica finalidade, com estilos diferentes.
(B) se aproximam pela intensidade da emoção lírica.
(C) são distintos quanto ao estilo e à finalidade.
(D) traduzem a mesma sensação em formas diferentes.
(E) apenas o texto I se preocupa com a elaboração formal.
A maioria considerou mais as semelhanças do que as diferenças, dan-
do mais valor ao tema comum (associação entre rosas e mulheres) que às distinções de função
e estilo. É provável que a inventividade do texto publicitário haja ocultado sua verdadeira função.
84
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 18
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Compreen-
der o texto literário como manifestação cultural presente em diferentes épocas.
18. Depois que Gonçalves Dias escreveu sua famosa “Canção do exílio” (“Minha terra tem pal-
meiras/Onde canta o sabiá (...)”), vários poetas retomaram e reconstruíram o célebre poema.
Murilo Mendes, por exemplo, em 1930, escreveu:
“Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia”,
deixando claro que a expressão do nacionalismo
(A) conservou a solenidade cívica ao longo do tempo.
(B) incorporou os valores sociais e estéticos de cada época.
(C) manteve-se alheia às transformações estéticas.
(D) perdeu todo interesse no período modernista.
(E) ganhou um aspecto dramático depois da I Grande Guerra.
Um terço reconhece as diferenças de estilo e de valores de época.
Apenas 14% (D) deixaram de reconhecer o tema presente em ambos: o sentimento nacionalista;
36% (A + E) não deram pela diferença de tons.
Item 19
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Perceber
por comparação de dois textos literários suas semelhanças ou diferenças decorrentes de seu
momento histórico de produção.
85
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
19. I.
Os leitores devem estar já fatigados de histórias de travessuras de crianças; já conhecem
suficientemente o que foi o nosso memorando em sua meninice, as esperanças que deu, e o fu-
turo que prometeu. Agora vamos saltar por cima de alguns anos, e vamos ver realizadas algu-
mas dessas esperanças.
II.
E vejam agora com que destreza, com que arte faço eu a maior transição deste livro. Vejam: o
meu delírio começou em presença de Virgília; Virgília foi o meu grão de pecado de juventude.
Os textos I e II são de autores diferentes, de romances com características diferentes, mas têm
em comum o fato de
(A) adotarem o ponto de vista imparcial da crônica histórica.
(B) seus narradores se apresentarem como protagonistas.
(C) realizarem experiências radicais na sintaxe e no ritmo.
(D) referirem-se ao processo de construção da narrativa.
(E) imitarem o estilo seco e objetivo da notícia jornalística.
Extrema dificuldade no reconhecimento do recurso de metalinguagem
como construção narrativa. A opção maior (B: 31%) revela que se confunde o autor que fala de si
mesmo com o protagonista da ação. A opção correta foi a menos escolhida: é quase certo que a
expressão “processo de construção narrativa”, muito abstrata, tenha sido a responsável pela ínfi-
ma atração da alternativa D.
Item 20
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Reconhe-
cer, em um texto dado, concepções de mundo e de sujeito decorrentes de sua historicidade.
20.
O bonde passa cheio de pernas.
Pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos não perguntam nada.
Carlos Drummond de Andrade
Indique a alternativa em que todas as características modernistas indicadas se encontram nos
versos acima.
(A) Métrica irregular, efeito de velocidade, cena do cotidiano.
(B) Métrica regular, lirismo sentimental, cena do cotidiano.
(C) Sentimentos elevados, métrica irregular, fé religiosa.
(D) Versos brancos, efeito de velocidade, sentimentos elevados.
(E) Piadismo, métrica regular, lirismo sentimental.
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AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Dificuldade em se precisar, simultaneamente, características distintas
da linguagem poética. Conceitos como métrica, lirismo e versos brancos não parecem familiares:
mais atraentes foram os tons indicados (“piadismo, sentimentalismo“) do que recursos técnicos
ou aspectos sugestivos da linguagem poética.
Item 21
O texto enquanto objeto sociohistoricamente construído – Reconhe-
cer, em um texto dado, marcas de valores e intenções dos agentes produtores em função de
seus comprometimentos e interesses políticos, ideológicos e econômicos (discurso religioso, ci-
entífico, político-sindical, político-empresarial).
21.
Cidadãos! Não me cumpre aqui apenas prometer, mas dar a minha própria vida como garan-
tia de que, uma vez merecedor da confiança que os senhores na urna depositarão, e assim que
empossado, criarei tantos empregos quantos necessários, tantas salas de aula quantas deman-
dadas, tantos postos de saúde quantos reclamados!
A fala acima revela o discurso de um candidato em campanha eleitoral, não apenas porque fala
em urna e posse, mas também porque
(A) as intenções de providências são objetivamente analisadas.
(B) a linguagem coloquial estabelece uma relação de confiança.
(C) a solenidade da linguagem reforça o tom de sinceridade.
(D) há recusa em fazer muitas promessas.
(E) o vocativo e as repetições reforçam a linguagem persuasiva.
Outra vez a alternativa correta foi a menos escolhida. Aqui, a ênfase
retórica é identificada com coloquialismo e sinceridade (!). Parece que os alunos admitiram a es-
tratégia do discurso a partir do interesse de quem o produz para um determinado efeito. Sinto-
mática e perigosamente, admite-se que a linguagem é o que quer parecer que seja. O termo
“persuasiva” parece ter obscurecido o sentido da alternativa correta.
Item 22
Funções da linguagem e atos da fala – Perceber, na análise de enunci-
ados concretos, as funções que se atribuem à linguagem conforme a intenção do enunciado
(função referencial, apelativa, emotiva etc.).
22. A frase em que predomina a função apelativa é:
(A) Colombo! Fecha a porta dos teus mares!
(B) Quem com ferro fere, com ferro será ferido.
(C) Oh! que saudades que tenho da aurora da minha vida!
(D) Sua chegada causou o maior alvoroço na casa.
(E) A antítese é uma das figuras de linguagem.
87
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
As funções da linguagem (ou ao menos a função apelativa) não são
reconhecidas de modo aplicado, ainda quando esteja visível um traço identificador (como o voca-
tivo em A, por exemplo).
Item 23
Funções da linguagem e atos da fala – Reconhecer, na análise de
enunciados concretos, as ações que se realizam com a linguagem conforme a intenção do enun-
ciado (pedir, sugerir, mandar, batizar, condenar etc.).
23.
Que tal um cineminha?
Você pagando...
– Vou pensar...
As falas acima representam, respectivamente,
(A) uma condição, uma negativa e uma evasiva.
(B) uma condição, uma restrição e uma confirmação.
(C) uma sugestão, uma ressalva e uma evasiva.
(D) uma sugestão, uma negativa e uma condição.
(E) uma sugestão, uma desculpa e uma confirmação.
O bom índice de acerto estaria a revelar a compreensão, sobretudo,
dos termos “ressalva” e “evasiva”, que descrevem com precisão os gestos da fala. Dada a dificul-
dade desses termos, é possível que tenha havido acerto por eliminação de “desculpa”, “negativa”
e “confirmação”.
Item 24
Funções da linguagem e atos da fala – Estabelecer relação entre a for-
ma lingüística e a função que a ela atribui (por ex.: imperativo função conativa; predomínio da
1
a
pessoa função emotiva etc.).
24. Vai, corre, procura o teu caminho, vive tua vida...
Os imperativos e as marcas pronominais da frase acima são indicadores da seguinte função da
linguagem:
(A) emotiva.
(B) conativa.
(C) estética.
(D) referencial.
(E) metalingüística.
Nenhuma familiaridade com os conceitos que se referem às funções
da linguagem. Interpreta-se o tom suposto na frase, mais do que se analisa o aspecto de sua
construção lingüística.
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AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Item 25
Progressão temática e estratégia argumentativa – Identificar a tese e
os argumentos de um texto.
Atenção: As questões de números 25 a 30 referem-se ao texto apresentado abaixo. Essas ques-
tões possuem apenas 4 alternativas: A, B, C e D.
No País do Futebol
Carlos Eduardo Novaes
Segunda-feira – 14 horas – Juvenal Ouriço aproximou-se de um vendedor parado à porta
de uma loja de eletrodomésticos e perguntou:
– Qual desses oito televisores os senhores vão ligar na hora do jogo?
– Qualquer um – disse o vendedor desinteressado.
– Não. Qualquer um não. Eu cheguei com duas horas de antecedência e mereço uma certa
consideração.
– Pra que o senhor quer saber?
– Para já ir tomando posição diante dele.
O vendedor apontou para um aparelho. Juvenal observou os ângulos, pegou a almofada
que o acompanha ao Maracanã e sentou-se no meio da calçada.
– Ei, ei, psssiu – chamou-o um mendigo recostado na parede da loja – como é que é, meu ir-
mão?
– Que foi? Perguntou Juvenal.
– Quer me botar na miséria? Esse ponto aqui é meu.
– Mas eu não vou pedir esmola.
– Então senta aqui ao meu lado.
– Aí não vai dar para eu ver o jogo.
– Na hora do jogo nós vamos lá para casa.
– Você tem TV a cores?
– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?
Juvenal agradeceu. Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns
amigos que não via desde a final da Copa de 70. O mendigo entendeu. E como gostou de
Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas. Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
– Não, não. Na cabeça não.
– Por que não?
– Já viu mendigo usar chapéu na cabeça? Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(In:
Juvenal Ouriço Repórter.
Rio de Janeiro: Nórdica, 1977, p.24-25)
25. A escolha do título
No País do Futebol
justifica-se:
(A) pelo gosto de Juvenal por esse esporte tão popular no país.
(B) pelo encontro marcado com os amigos que não via desde a Copa de 70.
(C) pelo fato das lojas mostrarem o jogo pelos aparelhos que estão à venda.
(D) pelo encadeamento dos temas presentes no texto, entre eles, o do futebol.
89
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
Dificuldade quanto à associação entre o título e uma marca da cons-
trução mesma do texto (“encadeamento dos temas”). A maioria (55%: A + B) optou pelo simples
reconhecimento de um tema. O título do texto não parece ser o mais apropriado, o que certa-
mente dificulta a associação pedida.
Item 26
Progressão temática e estratégia argumentativa – Analisar a seleção
de argumentos de um texto para a corroboração da tese.
26. A fala do personagem:
“– Claro. Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
indica que
ele, ao ficar na rua, se encontrava em uma situação de
(A) doença.
(B) contravenção.
(C) trabalho.
(D) ócio.
Facilidade no reconhecimento da situação explícita em que se encon-
tra a personagem.
Item 27
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Articular a escolha de índice formal de estabelecimento de relação sintáti-
co-semântica com a estratégia argumentativa estabelecida pelo autor: explicação.
27.
“– Mas eu não vou pedir esmola.
Ao dizer esta frase, Juvenal está negando uma interpreta-
ção que o mendigo fez de uma ação sua. Esta ação foi:
(A) não ter comprado um TV a cores.
(B) ter-se sentado no meio da calçada.
(C) ter apontado para um dos aparelhos.
(D) ter resolvido ver ali o jogo.
Facilidade no reconhecimento do significado de um gesto fácil de se
interpretar, no contexto dado.
Item 28
Índices formais de estabelecimento de relação sintático-semântica na
progressão temática – Analisar o valor de um índice formal de relação sintático-semântica no
segmento do texto dado: contraposição.
90
AVALIAÇÃO DE CONCLUINTES DO ENSINO MÉDIO EM NOVE ESTADOS – 1997 – RELATÓRIO-SÍNTESE
28. Há uma relação de causa e conseqüência em:
(A) “E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(B) “Deixe-o aí no chão. Sempre pinga qualquer coisa.
(C) “Você acha que fico me matando aqui pra quê?”
(D) “Juvenal, distraído, enfiou-o na cabeça.
A alternativa B, dada como errada, parece bastante plausível: alguém
deixa o chapéu no chão para que, em conseqüência, seja identificado como mendigo e receba
esmola. Assim se considerando, a maioria (56%: A + B) teria corretamente identificado a relação
pedida.
Item 29
Estratégias de leitura – Inferir o sentido de uma palavra ou expressão
considerando universo temático.
29. Em uma das frases abaixo, o termo em destaque tem como antecedente outro termo que
aparece no texto como um recipiente.
(A) Para já ir tomando posição diante dele.
(B) Disse que preferia ficar na loja onde tinha marcado encontro com uns amigos.
(C) E como gostou de Juvenal lhe deu o chapéu onde recolhia esmolas.
(D) Já viu mendigo usar chapéu na cabeça?
Alguma dificuldade, talvez, no reconhecimento dos termos “recipiente”
e, sobretudo, “antecedente”, necessário para a indicação da função do pronome relativo.
Item 30
Estratégia de construção da verossimilhança do universo ficcional –
Articular a organização do cenário (tempo-espaço) com o enredo e a ação das personagens.
30. A informação
“segunda-feira – 14 horas”
e o fato de Juvenal carregar uma almofada sugerem
que a cena corresponde:
(A) a uma simulação do futebol.
(B) a um jogo que ocorreria num feriado.
(C) ao fato de Juvenal ser um desocupado.
(D) ao fato de Juvenal ser mais pobre que o mendigo.
Alguma dificuldade na valorização do aspecto sugestivo (não-explícito)
de um gesto, relacionado, por sua vez, ao aspecto sugestivo de uma outra informação (segunda-
feira = dia útil; 14 horas = horário comercial).
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