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a criança, proporciona-lhe condições para a
aprendizagem. Isto aproxima a criança dos pa-
drões cotidianos da vida. Corroborando o exposto
anteriormente, Ceccim e colaboradores (1997)
acrescentam que é também do professor de
clas-
se hospitalar
“a tarefa de afirmar a vida e sua
melhor qualidade, junto com essas crianças, aju-
dando-as a reagir, interagindo para que o mundo
de fora continue dentro do hospital e as acolha
com um projeto de saúde” (p.80).
A oferta de atividades recreativas e/ou
lúdicas no ambiente de internação hospitalar são
cruciais ao enfrentamento do adoecimento e à
aceitação positiva do tratamento, mas não subs-
tituem a necessidade de atenção pedagógico-
educacional, pois seu potencial de intervenção é
mais específico, mais individualizado e se volta
às construções cognitivas e à construção do
desenvolvimento psíquico (Ceccim e Fonseca,
1998). A
classe hospitalar
pode partir de progra-
mas lúdicos voltados à infância, mas sua ênfase
recai em programas sociointerativos de desen-
volvimento e educação da criança e do adoles-
cente hospitalizados, vinculando-se aos sistemas
educacionais como modalidade de ensino (Edu-
cação Especial) ou aos sistemas de saúde como
modalidade de atenção integral (atendimento pe-
dagógico-educacional hospitalar).
A grande maioria dos professores tem me-
nos de 5 anos de atuação nessa modalidade de
atendimento. Pode-se propor que tal fato se deva
ao recente crescimento da oferta/procura nessa
área, uma vez que tais professores já atuavam
em escolas regulares por tempo significativo.
Embora não diretamente relacionado ao escopo
deste estudo, é importante ressaltar uma possí-
vel relação entre o significativo aumento do nú-
mero de classes hospitalares implantadas a par-
tir da década de 1980 e as mudanças políticas e
os avanços científicos neste mesmo período nas
áreas pediátrica, pedagógica, de educação bá-
sica e de saúde coletiva.
No que se refere à formação acadêmica
dos professores que atuam em classes hospita-
lares, devido ao tipo de instrumento utilizado para
a coleta de dados, não foi possível verificar a área
específica de habilitação dos mesmos, o que
sugere a formulação de nova etapa de investiga-
ção neste aspecto. Apesar disso, parece relevan-
te destacar que o número de professores nas
classes hospitalares é expressivamente com-
posto por profissionais com nível superior (46%
do total de professores ou 63% entre os que res-
ponderam à 2ª etapa da pesquisa) e 30% do to-
A possibilidade de atendimento em classes
hospitalares serve à manutenção das aprendi-
zagens escolares, ao retorno e reintegração da
criança ou jovem ao seu grupo escolar e como
acesso à escola regular, uma vez que algumas
das crianças hospitalizadas em idade de freqüên-
cia escolar não estão formalmente matriculadas
na rede de ensino.
Quando a ausência da criança à escola
decorre de sua história de adoecimento e trata-
mento hospitalar, a freqüência à
classe hospita-
lar
incentiva a criança e a família a buscarem a
escola regular após a alta hospitalar.
5. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
Até esta pesquisa, não havia sido organiza-
do nenhum documento com informações sobre o
atendimento pedagógico-educacional no ambien-
te hospitalar, no Brasil. Foram detectadas 30 clas-
ses hospitalares no território brasileiro. As Regi-
ões Centro-Oeste, Sudeste e Sul apresentam
maior número de classes hospitalares, se consi-
derado o total de Estados em cada uma dessas
regiões. Estas três regiões somam 11 Estados e
25 classes hospitalares. As Regiões Norte e Nor-
deste somam 16 Estados e 5 classes hospitala-
res. Do universo de 27 unidades da Federação,
apenas 11 possuem classes hospitalares. Dentre
as 30 classes, 44% se distinguem do serviço de
recreação e apenas 10 possuem salas de aula.
A educação em hospital é um direito de toda
criança ou adolescente hospitalizado. Os resul-
tados aqui apresentados demonstram que, na
prática, nem todas as crianças estão tendo este
direito respeitado ou atendido, uma vez que os
dados evidenciam um número pequeno de hos-
pitais com classes hospitalares. Faz-se neces-
sário considerar seriamente esta questão, uma
vez que a literatura aponta para o importante
papel do professor junto ao desenvolvimento, às
aprendizagens e ao resgate da saúde pela cri-
ança ou adolescente hospitalizado.
Conforme destaca Wiles (1987), “a função
do professor de
classe hospitalar
não é apenas a
de manter as crianças ocupadas” (p.640), ele é
capaz de incentivar o crescimento e desenvolvi-
mento somatopsíquico, intelectivo e sociointera-
tivo. Uma vez que a criança não tem seu cresci-
mento e desenvolvimento interrompidos por es-
tar hospitalizada, a presença do professor que
conhece as necessidades curriculares desta cri-
ança torna-se um catalisador que, ao interagir com