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A Universidade de Brasília (UnB), criada em
1961, cinco dias antes da promulgação da Lei de
Diretrizes e Bases, “como a indicar o clímax da
contradição” (Chagas, 1967, p. 15), “antes mes-
mo de existir, começou a exercer um papel ao se
converter no principal tema dos debates universi-
tários brasileiros.” (Ribeiro, 1978, p. 23). A UnB re-
presentava, portanto, um novo modelo de univer-
sidade no País: flexível, aberta às inovações, in-
dependente científica e culturalmente.
Infelizmente, a superposição temporal da
estruturação da UnB com a Revolução de 1964,
juntamente com as pressões da demanda, inclu-
sive por outros cursos ainda não previstos, im-
possibilitaram a sua implantação nos moldes pre-
tendidos. Entre 1964 e 1968 a UnB sofreria vári-
os danos de ordem institucional, intelectual e
moral: invasões do
campus
pelos militares, pri-
são e coação física e moral de alunos e docen-
tes, demissão de professores, muitos dos quais
deixaram o País. Tudo isso modificou a concep-
ção inicial da UnB. As idéias correspondentes
só voltariam à tona na formulação do projeto da
Reforma Universitária.
A Reforma Universitária, designação que
tomou a Lei nº 5.540 de 28/11/68, fez-se como
uma tentativa de levar a universidade brasileira
a uma reformulação e atualização dos seus
objetivos, da sua estrutura acadêmica, didática
e administrativa, numa “busca de autênticos pa-
drões de funcionamento.” (Chagas, 1967, p. 17).
Os seus princípios – racionalização, integração
e flexibilidade – denotavam a busca de uma uni-
versidade mais orgânica (internamente) e mais
integrada (externamente).
Embora o Relatório do Grupo de Trabalho
tenha admitido a fórmula tríplice,
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a reforma uni-
versitária optou francamente pela fórmula univer-
sidade. Ocorre, entretanto, que a nossa experi-
ência de ensino superior era a de escolas isola-
das e profissionalizantes. Não seria, portanto, por
força apenas de uma lei, que as coisas iriam
mudar. E os números podem, neste caso, mais
do que as palavras, mostrar o que realmente
ocorreu em termos de ensino superior ou “uni-
versitário” no País. Em 1968, as universidades
representavam cerca de 12% do número de es-
tabelecimentos de ensino superior; em 1975,
esse porcentual baixou para 7%; no último Cen-
so do Ensino Superior, em 1999, as universida-
des representavam 15% e atualmente, pelos da-
dos do Cadastro de Instituições de Ensino Su-
perior do Inep, são 13%. Mesmo se somarmos
às universidades os centros universitários, esse
porcentual sobe apenas para 18%.
Enfocando o problema em termos da ex-
pansão do corpo discente, enquanto em 1975 o
número de alunos nas universidades e nos esta-
belecimentos isolados era de 54% e 46%, res-
pectivamente, em 1981 a situação se invertia para
48% e 52%. Em 1999, os números já mostravam
uma outra realidade: nas universidades e cen-
tros universitários estavam matriculados 75%
dos alunos e nas instituições não-universitárias
de ensino superior, 25%. As universidades têm
capacidade para absorver uma quantidade mui-
to maior de matrículas, e apesar de as universi-
dades públicas (federais e algumas estaduais)
serem as maiores IES do País, do total dos alu-
nos matriculados na educação superior, somen-
te 39% são de instituições públicas, enquanto
61% são de instituições privadas. Assim, pode-
mos concluir que atualmente, no ensino superior
brasileiro, a maioria dos alunos está matriculada
em instituições universitárias privadas.
O ritmo de expansão dos estabelecimen-
tos isolados começou a sofrer um processo de
desaceleração a partir de 1974, com a política
de contenção desencadeada pelo governo fede-
ral. Essa política persistiu até a década de 90,
quando recomeça a expansão, decorrente de
decisão política do Ministério da Educação e que
retoma também o modelo anterior. Em trinta e dois
anos, portanto, o que se consolidou não foi o mo-
delo “universidade” mas (usando a nomenclatu-
ra da atual legislação) o das “instituições não-
universitárias de ensino superior”.
Um outro dado que merece destaque é o
seguinte: inversamente ao que ocorreu no ensi-
no médio – em que a iniciativa privada detinha
65% dos alunos em 1960, 31% em 1974 e 16%
em 1999 –, no ensino superior, em 1960, 62%
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Universidade
, como o “tipo natural de estrutura para o ensino superior”;
Federação de Escolas
, como uma fórmula intermediária; e
Estabelecimentos Isolados
, como opção transitória e de caráter experimental.