18 Série Estado do Conhecimento
Uma análise da produção científica sobre método, numa perspectiva histórica, eviden-
cia que, embora essa produção cresça numericamente ao longo do tempo (porque cresce a produ-
ção sobre alfabetização em geral, como mostra a Tabela 4), diminui porcentualmente na última déca-
da em relação aos demais temas.
Outros temas que merecem destaque são as pesquisas sobre a caracterização do
alfabetizador (10% do total da produção sobre alfabetização cf. Tabela) e os textos sobre a formação
do alfabetizador (7% do total da produção) predominantemente produzidos nos anos 80.
De um total de 22 pesquisas sobre a caraterização do alfabetizador, as duas únicas da
década de 70 buscam determinar as competências da professora alfabetizadora ou do supervisor de
classes de alfabetização de forma indireta, isto é, através de questionários. As demais, em número
de 20, são pesquisas de descrição do alfabetizador através de observação na escola e na sala de
aula, ou identificando a prática pedagógica em turmas de alfabetização, ou buscando caracterizar
professoras bem-sucedidas na alfabetização de crianças das camadas populares, ou, finalmente,
analisando a interação professor-aluno durante o processo de alfabetização.
Apesar da reconhecida necessidade de se redefinir, no Brasil, a formação de professo-
res para as séries de alfabetização, apenas dois dos textos sobre o tema formação do alfabetizador
discutem a eficiência de alternativas para essa formação: os Estudos Adicionais, em complementação
ao 2º grau, e a especialização. Todos os demais textos são críticas à insuficiência e precariedade da
formação do professor alfabetizador, ou caracterizando a clientela dos cursos, ou relacionando o
fracasso escolar em alfabetização com a formação do alfabetizador, ou, ainda e sobretudo, apontan-
do a ausência, na formação do alfabetizador, de conteúdos considerados fundamentais para a com-
preensão do processo de alfabetização: a Psicolingüística e a Lingüística. Essa ênfase na importân-
cia da Lingüística e da Psicolingüística na formação do alfabetizador, em textos que são produzidos
nos anos 80, explica-se pelo fato de que só recentemente lingüistas e psicolingüistas passaram a
tomar como seu objeto de estudo o processo de alfabetização.
Esse interesse recente da Lingüística e da Psicolingüística pela alfabetização mani-
festa-se, ainda, na presença, entre os temas identificados na produção acadêmica e científica
sobre alfabetização, de duas questões que se colocam no quadro de estudos e pesquisas dessas
duas ciências: a questão das relações entre língua oral e língua escrita e a questão mais específica
das relações entre o sistema fonológico e o sistema ortográfico.
Agruparam-se sob o tema língua oral/língua escrita textos todos produzidos nos anos
80 que discutem as relações entre a estrutura ou os usos da língua oral e a aprendizagem da escrita
ou que estudam a capacidade de reflexão metalingüística e suas implicações para a aprendizagem
da língua escrita.
O tema sistema fonológico/sistema ortográfico foi atribuído a textos que analisam o pro-
cesso de transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita, ou, de forma teórica,
através da análise das relações fonemas/grafemas na língua portuguesa, ou buscando identificar o
processo de construção do sistema ortográfico pela criança ou, ainda, criticando, a partir de critérios
lingüísticos, textos de orientação didática destinados ao professor alfabetizador.
As baixas porcentagens de textos sobre os temas língua oral/língua escrita e sistema
fonológico/sistema ortográfico indicam que estudos e pesquisas sobre o objeto do conhecimento no
processo de alfabetização a língua escrita, suas relações com a língua oral são, ainda, insuficien-
tes na produção acadêmica e científica, apesar da fundamental importância atribuída, atualmente, a
essa questão, para a compreensão do processo de alfabetização.
A produção sobre o tema cartilhas é, também, ainda insuficiente, já que a cartilha, no Brasil,
tem desempenhado papel fundamental no processo de alfabetização, sendo necessário, por isso, estu-
dos e pesquisas sobre sua qualidade didática, seus pressupostos teóricos, suas propostas metodológicas,
sua utilização por professores e alunos, etc. Entretanto, são apenas 12 os textos sobre o tema cartilhas, ou
seja, 5% dos textos sobre alfabetização, como mostra a Tabela 4. Entre esses textos encontram-se os de
crítica lingüística ao material didático para a alfabetização, à necessidade de conhecimentos lingüísticos
para a elaboração de cartilhas (conhecimento da realidade sociolingüística dos alunos e do sistema
lingüístico, em seus aspectos léxico, sintático e ortográfico). Em geral, os textos agrupados sob o tema
cartilhas analisam os manuais ou de forma global ou em seus aspectos gráficos e plásticos; apresentam