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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais: Região Nordeste
o poder desde que não seja considerado de muito longe não é algo que se possa
dividir entre aqueles que o possuem e detêm exclusivamente e aqueles que não o
possuem e são submetidos. O poder deve ser analisado como algo que circula, ou
melhor, como algo que só funciona em cadeia. Nunca está localizado aqui ou ali,
nunca está nas mãos de alguns, nunca é apropriado como uma riqueza ou um bem.
O poder funciona e se exerce em rede (Foucault, 1985, p. 183).
A informação, bem sabemos, é elemento-chave do exercício do poder. E este,
como disse Antônio Cândido (s.d., p. 3),
6
se expressa também por formas de convivência.
Se o poder se exerce em rede, e o que faz esta rede se movimentar é a informação, uma
dimensão importante a observar no circuito entre a produção e a difusão das mesmas,
são as formas de convivência que as fazem circular. Aqui, os olhares nem sempre se
encontram. E, quando isto sucede, os circuitos podem não ser óbvios.
Para fazer circular informação, não raro, é preciso ser amigo do(s) rei(s) de
plantão. Este nem sempre é um movimento simples e é uma habilidade não muito
freqüente entre pesquisadores. Requer jogo de cintura, habilidade para massagear
egos que podem até não produzir, mas... sabem exercer com maestria seus pequenos
e grandes poderes sobre a disseminação da informação que pode ou não circular.
Por aqui são engendrados mecanismos de inclusão e exclusão nem sempre visíveis ao
observador menos atento. Neste contexto, quem diz que o rei está nu corre o risco de
ser banido do circuito oficial por onde transitam produtores e difusores de informação:
congressos, seminários e outros eventos congêneres, de um lado, publicações, de
outro. Isto para não falar de consultorias e viagens de estudos ao exterior. Tudo faz
parte desta grande rede por onde circula a informação. Por vezes, basta uma palavra,
um artigo para que o produtor seja excluído das luzes do palco. O ostracismo, contudo,
assim como as ondas, também tem seus fluxos de marés.
No contexto das relações entre produção/difusão de informações e poder,
importa lembrar também um outro lado do problema. Aquele sobre o qual adverte
Bourdieu (2000),
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ao denunciar que a redução da cultura ao estado de produto
comercial, no fundo, pode representar o anúncio da sua morte. O autor nos fala das
condições ecológicas da produção de uma obra. As grandes criações são produtos
de universos sociais que se constituíram aos poucos. Em sentido amplo, num mundo
dominado pela velocidade e pelo lucro, a vitória da lógica de uma cultura marcada pela
uniformização, pela homogeneidade e pela extraordinária concentração dos grupos
de comunicação não deixa de ser ameaçadora. Tudo isso envolve muito mais do que
meros riscos de homogeneização da produção e da difusão cultural. É jogo alto e de
cartas marcadas, em que produtores nem sempre estão cientes de como pode ser
curto o caminho que transforma o autor em produto mercadológico.
A esse respeito, lembremos também as observações de Boaventura Santos
acerca da gestão cultural, a qual dá-se por via de assimilação prosseguida por uma
ampla política orientada para a homogeneização e homogeneidade, onde a escola é a
peça central. Aqui, é importante estar-se atento ao discurso homogeneizante, o
qual oculta as diferenças, legitimando-as e naturalizando-as (Santos apud Matos, 2000,
p. 31).
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Também isto é danoso à produção da cultura que se alimenta daquilo que é
singular.
Produção de informações
Os últimos vinte anos registram significativo progresso em termos da produção
de informações no País, fenômeno estreitamente ligado à consolidação do sistema
nacional de pós-graduação. O Brasil é, hoje, o país da América Latina com melhores
indicadores de produção científica, como se pode constatar em recente reportagem
publicada em jornal de grande circulação nacional (Folha de S. Paulo, 20 jun. 2000. Caderno
especial). Se é verdade que se avançou bastante, ainda há muito por caminhar. Em meio
a tantas rotas por percorrer, escolho falar de uma a formação para a produção de
informações em educação. Por que discutir a formação para a produção?
A formação para a produção de informações no âmbito educacional é algo
que costumamos associar à pós-graduação stricto sensu, de modo específico, ao
6
Cândido, Antônio. Refle-
xões sobre o poder na
universidade. Dois Pontos,
Revista dos Docentes do
Campus de São Carlos/
USP, p. 3-5, [s.d.]
7
Bourdieu, Pierre. Bourdieu
desafia a mídia interna-
cional. Revista para o Ter-
ceiro Setor, v. 2, n. 87, maio/
jun. 2000. Disponível na
internet www.rits.orgs.br/
rets/edicoes_a/ed300500_2/
re_editorial.cfm
8
Santos, Boaventura de S. A
construção multicultural da
igualdade e da diferença.
Conferência proferida no
VII Congresso Brasileiro de
Sociologia, na UFRJ, Rio
de Janeiro, 4 a 6 de setem-
bro de 1995, apud, Matos,
Kelma. Juventude e escola :
a necessidade da escuta e
do olhar. Fortaleza, 2000.
Doutorado em Educação
Programa de Pós-Gra-
duação em Educação
Brasileira, Universidade
Federal do Ceará. Exame
de Qualificação. Mimeogr.