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ANAIS DO SEMINÁRIO
DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES
EDUCACIONAIS
REGIÕES NORTE
E CENTRO-OESTE
Brasília-DF  18 e 19 de maio de 2000
Promoção:
Comitê dos Produtores da Informação Educacional (Comped)
Coordenação:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Brasília-DF
INEP/MEC
2000
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Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
COORDENADOR-GERAL DE DIFUSÃO DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS
Antonio Danilo Morais Barbosa
EDITOR
Jair Santana Moraes
TRANSCRIÇÃO
Eduardo Ladeira Mota
REVISÃO
Marluce Moreira Salgado
Rosa dos Anjos Oliveira
ARTE-FINAL
Raphael Caron Freitas
Márcia Terezinha dos Reis
TIRAGEM: 1.000 exemplares
ENDEREÇO
INEP/MEC  Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Anexo I, 4º Andar, Sala 416
CEP 70047-900  Brasília-DF  Brasil
Fones: (61) 224-7092, 410-8438
Fax: (61) 224-4167
http://www.inep.gov.br
DISTRIBUIÇÃO
CIBEC/INEP  Esplanada dos Ministérios, Bloco L  Térreo
CEP 700047-900  Brasília-DF  Brasil
Fones: (61) 410-9052, 323-3500
Fax: (61) 223-5137
http://www.inep.gov.br/cibec
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte (CIP)
Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
(2000 : Brasília).
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-
Oeste, Brasília, 18 e 19 de maio de 2000 / Coordenação: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais.  Brasília : Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais,
2000.
54 p.
1. Disseminação da Informação. 2. Qualidade da Educação. I. Ministério da Educação. II.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. III. Comitê dos Produtores de Informação
Educacional. IV. Título.
CDU 37.014.542
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Comitê dos Produtores
da Informação
Educacional (Comped)
Instância colegiada, criada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep), em fevereiro de 1997. O Comped é constituído por 15 instituições
governamentais e não-governamentais que atuam no campo da produção e dissemi-
nação de informações.
Integrantes: Ação Educativa; Associação Brasileira de Editoras Universitárias
(Abeu); Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd),
Associação Nacional de Política e Administração da Educação (Anpae); Centro de Es-
tudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec); Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); Conselho Nacional de
Secretários de Educação (Consed); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes); Fundação Carlos Chagas (FCC); Fundação Cesgranrio; Institu-
to Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia (Ibict); Instituto Nacional de Estu-
dos e Pesquisas Educacionais (Inep); Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea);
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud); União Nacional dos
Dirigentes Municipais de Educação (Undime).
Endereço:
Comped  Secretaria Executiva
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Térreo
CEP 70047-900  Brasília-DF  Brasil
Fones: (61) 323-5510, 410-9055
Fax: (61) 223-5137
http://www.inep.gov.br/comped
Lista de Siglas ............................................... 7
Apresentação ................................................ 9
Abertura ....................................................... 11
Maria Helena Guimarães de Castro (Inep)
Maria do Carmo Guedes (Educ)
Conferência ................................................. 15
Gestão da informação para o desenvolvimento da educação
Divonzir Arthur Gusso (Ipea)
Debate  Plenária ............................................................... 23
Painel 1 ........................................................ 25
Produção e disseminação de informações educacionais
Rachel Mello (Unicef)
Paulino Motter (Inep)
José Castilho Marques Neto (Abeu)
Debate  Plenária ............................................................... 33
Painel 2 ........................................................ 39
Experiências de acesso e emprego de informações
em processos de gestão educacional
Osmar Fávero (UFF)
José Leão da Cunha Filho (MEB)
Heloísa Lück (Renageste)
Debate  Plenária ............................................................... 43
Trabalhos em grupo 
Resultados ............................ 49
Metodologia ............................................................................... 49
Grupo 1 ..................................................................................... 49
Grupo 2 ..................................................................................... 50
Grupo 3 ..................................................................................... 51
Debate final ................................................. 53
Sumário
7
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Lista de Siglas
ABDR Associação Brasileira de Direitos Reprográficos
Abeu Associação Brasileira de Editoras Universitárias
ABT Associação Brasileira de Tecnologia Educacional
Andi Agência de Notícias dos Direitos da Criança
Anpae Associação Nacional de Política e Administração da Educação
ANPEd Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
BBE Bibliografia Brasileira de Educação
Capes Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
Cenpec Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
Cibec Centro de Informações e Biblioteca em Educação
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
Consed Conselho Nacional de Secretários de Educação
Comped Comitê dos Produtores da Informação Educacional
Enem Exame Nacional do Ensino Médio
Fapesp Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
Febem Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor
FCC Fundação Carlos Chagas
Fundef Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de
Valorização do Magistério
Fust Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Ibict Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia
Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Ipea Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
MEB Movimento de Educação de Base
MEC Ministério da Educação
Nasdaq The National Association of Securities Dealers Automated Quotation System
Nemp Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política
ONG Organização Não-Governamental
PIB Produto Interno Bruto
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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PM Polícia Militar
Pnud Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Rbep Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos
Renageste Rede Nacional de Referência em Gestão Educacional
UFF Universidade Federal Fluminense
UnB Universidade de Brasília
Undime União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
Unesp Universidade Estadual Paulista
Unesco Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
Unicef Fundo das Nações Unidas para a Infância
USP Universidade de São Paulo
Apresentação
Em dezembro de 1999, foi realizado em São Paulo o I Seminário Nacional do
Comitê dos Produtores da Informação Educacional (Comped), com o objetivo de discu-
tir a produção e a disseminação de informações educacionais no Brasil. Um dos princi-
pais resultados desse encontro foi a proposta de realização de seminários regionais para
a continuação do debate iniciado.
O Comped promoveu, assim, três seminários: um em Brasília, das Regiões
Norte e Centro-Oeste; outro, em Recife, da Região Nordeste; e finalmente, em Curitiba,
das Regiões Sul e Sudeste. Para os seminários, foi definido um mesmo público, formado
por representantes estaduais das Secretarias Estaduais e Municipais de Educação, uni-
versidades, organizações não-governamentais e mídia. Os participantes foram sempre
convidados pelas instituições-membro do Comped, no âmbito da atuação de cada uma.
A estrutura dos seminários regionais foi a mesma, e essa estratégia considerou
a necessidade de se estabelecer parâmetros de comparação entre as discussões. Algu-
mas alterações, entretanto, foram implementadas para os trabalhos em grupo. A neces-
sidade dessas modificações foi identificada a partir das constantes avaliações dos resul-
tados dos seminários, com vistas a garantir a qualidade das discussões e da própria
metodologia utilizada pelos grupos de trabalho.
Para a publicação dos Anais, foram gravadas todas as palestras e debates
em plenária. Contudo, problemas técnicos, ocorridos durante o processo de gravação,
comprometeram parte das transcrições. Desta forma, algumas palestras e pronuncia-
mentos não puderam ser registrados integralmente, bem como alguns participantes
dos debates não puderam ser identificados. Apesar disso, a excelência dos seminários
não ficou comprometida em sua essência e objetivos.
Com esta iniciativa, o Comped espera estar contribuindo para a implementação
de um dos seus principais objetivos, qual seja, o de viabilizar a reprodução desta arena
de discussão e articulação, no âmbito dos espaços de atuação de cada agente educa-
cional, e a utilização das idéias e propostas identificadas para o processo de consolida-
ção de uma educação com qualidade.
Secretaria Executiva do Comped
11
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Maria Helena Guimarães de Castro
Presidente do Inep
Esta reunião pretende mostrar os avanços na produção e no uso da informa-
ção para a melhoria da qualidade da educação. Nos últimos anos, os sistemas estão
efetivamente se apoiando em informações, avaliações e em estatísticas para poder
fazer seus planejamentos e redefinir os projetos pedagógicos da escola. O Comped
tem papel fundamental nesse processo, a partir da demanda dos órgãos produtores
de informação educacional para identificar lacunas nas informações produzidas e soci-
alizar aquilo que os diferentes atores vêm fazendo na área educacional.
O trabalho viabilizado pelo Comped foi muito interessante, articulando as edi-
toras universitárias na produção e edição de livros para formação de professores. As
universidades já tinham as suas produções, e o que faltava era uma articulação maior. O
Comped, junto com o Cibec na área de disseminação, veio completar a área informacional
e as bases de informação que o Inep começou a implantar em 1995. Antes desse ano, o
Inep tinha um perfil diferente. Era muito mais um órgão que apoiava pesquisas e desen-
volvia estudos e projetos. As estatísticas educacionais, os censos escolares, os censos
especiais, a avaliação do ensino superior e o Enem não estavam no Inep. Agora, o Inep
faz a articulação nacional e internacional na produção de informação e de desenvolvi-
mento profissional em avaliação dos diferentes níveis de ensino. Tudo isso trouxe um
elemento novo, um estímulo diferente para que os sistemas de ensino e de pré-escola
começassem a entender melhor a importância da informação para melhoria da quali-
dade, planejamento, reformulação curricular e pedagógica.
Portanto, esta primeira reunião regional do Comped é de grande importância.
Daremos seguimento àquilo que foi discutido e definido na última reunião nacional, em
São Paulo, no final do ano passado. Vamos continuar agindo de modo descentraliza-
do, com diálogo aberto entre os usuários e produtores de informação, para que possa-
mos estar trabalhando em rede e mobilizando cada vez mais novos segmentos.
O Inep desenvolve algumas ações que são estratégicas para o funciona-
mento do sistema e não apenas para o acúmulo do conhecimento. O Instituto tem
sido muito bem-sucedido nos últimos cinco anos e caminha para uma nova
reestruturação. Será criada uma agência nacional de educação que vai absorver as
atividades e funções que hoje são desenvolvidas pelo Inep, além de outras ativi-
dades que estão em outros órgãos do próprio Ministério da Educação. Essa futura
agência deverá começar a funcionar no próximo ano, devendo reforçar a área de
produção de informações, o papel das informações na implementação e regulação
das políticas públicas e na normatização do sistema. A idéia dessa agência prevê,
Abertura
Coordenação de Mesa
Fátima Cunha
Fundação Cesgranrio
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
12
inclusive, o uso da sigla Inep como nome fantasia. Seria a Agência Nacional de Edu-
cação  Inep.
Tenho certeza de que o trabalho realizado pelo Comped terá continuidade e
deverá ganhar uma capilaridade cada vez maior dentro da linha de descentralização
prevista no âmbito dessa futura agência.
Muito obrigada. Espero que o seminário seja muito proveitoso para todos, e
parabéns para os organizadores do evento.
Maria do Carmo Guedes
Representante da Abeu no Comped e Diretora da Editora da PUC-SP (Educ)
O Comped tem duas características muito especiais. A primeira é o fato de
trabalhar em conjunto com uma divisão de disseminação, e a segunda é que essa divisão
de disseminação faz parte de uma instituição com uma história de resistência bem-suce-
dida. A história de resistência do Inep foi para mim um grande ponto a favor para aceitar
e representar aqui as editoras universitárias. Que companhia melhor para disseminar
informações em educação do que esse pessoal que tão bem soube dar a volta por cima?
Mas compete a mim uma rápida descrição. Sou obrigada a confessar, e com
muito gosto, que o pessoal do Cibec é extremamente competente para transformar em
informação rápida aquilo que temos feito. Vocês saberão muito mais do Comped ao
manusearem o material que está na pasta. Em todo caso, eu queria levantar alguns
pontos para serem observados por vocês.
No Comped temos representantes de três grupos. O primeiro atua em órgãos
públicos, como os representantes do CNPq, do Consed, da Capes, do Ibict, da Undime
e do próprio Inep. O segundo, em entidades não-governamentais, como Ação Educativa,
Cenpec e a Fundação Carlos Chagas. O terceiro atua diretamente na universidade,
como a ANPEd, a Anpae e a própria Abeu. Todos trabalhando na produção de informa-
ções e, de modo geral, comprometidos com sua disseminação.
De acordo com um dos primeiros documentos do Comped, nós seríamos
instituições produtoras e financiadoras. Isto não tem mais sentido. Somos todas agên-
cias de produção, entidades ligadas à produção de informação e educação, e os traba-
lhos do Comped mostram isso.
O convite para integrar o Comped serviu, primeiramente, para conhecermos
o que faz a Diretoria de Disseminação de Informação do Inep. Melhor que isso, entre-
tanto, esse começo serviu para a gente constatar que sabe muito pouco uns dos ou-
tros, e temos aprendido a cada reunião. Um ganho eventualmente mais pessoal do
que institucional, de todo modo, um ganho que nos leva a respeitar os trabalhos uns
dos outros. Que trabalho é este?
Falo primeiro de como temos trabalhado. Com muito empenho, um empenho
talvez mais pessoal do que institucional, isto é, nenhum de nós é realmente liberado do
que fazia, apenas aumentamos as nossas cargas. Trabalhamos num procedimento
que inclui, muitas vezes, Grupos de Trabalho (GTs) e reuniões gerais. Estas, aconte-
cem a cada dois meses, mais ou menos, e os GTs são definidos para atender aos
encaminhamentos conseqüentes às decisões tomadas nas reuniões gerais. Com o
apoio operacional do Cibec.
E o que fazemos? Eu tinha pensado em apresentar dois ou três exemplos
para explicar o que fazemos, e descubro que realmente é desnecessário. Os textos
estão dizendo exatamente o que está sendo feito. Na área de editoração, as duas li-
nhas programadas, ambas de apoio à publicação para formação inicial e continuada
do professor, estão aqui na forma de exemplos do que já temos aprovado.
Ao final do primeiro encontro em São Paulo, a Fátima Cunha (Fundação
Cesgranrio) se referiu ao encontro como uma concretização do Comped. Na ocasião,
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
achei um exagero. Ao preparar essa rápida descrição, é que eu entendi melhor, e não
era exagero. De fato, foi no encontro e no debate que o seminário de dezembro pro-
piciou que aprendi, finalmente, o que era assumir a disseminação. Uma coisa é estar
comprometido, outra bem diferente é estar assumindo. Por isso, não é de outra for-
ma, é de coração que digo que dependemos de vocês. Contamos com vocês, e com
o debate que esse seminário possa propiciar, para concretizarmos mais um pouco
nosso trabalho.
Sejam bem-vindos. Obrigada.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Conferência
Gestão da informação para
o desenvolvimento da educação
Divonzir Arthur Gusso
Técnico em Pesquisa e Planejamento do Ipea
Eu tive a saborosa experiência de ter sido diretor do Inep de 1991 a 1995, e
não posso deixar de manifestar, primeiramente, o orgulho de estar aqui.
Afinal de contas, o que é o Comped? O conceito do Comped é a construção
coletiva. Não se trata de um modelo central de informações, é a utopia tecnocrática. E
uma utopia dificilmente estaria presa à técnica, porque sempre a ultrapassa. Talvez
tenha sido a utopia o que mais nos atraiu nessa iniciativa.
O Comped é um esforço coletivo em que a necessidade de cada um vai se
articulando ao longo do diálogo, ao longo da ação que se segue a um diálogo bem
intencionado. O Comped seria um nódulo central das concepções de organização na
sociedade da informação, uma network ou rede. Estamos trabalhando em rede, e ela
só existe porque está agindo em conjunto e não de acordo com o pensamento central.
Muito da história do desenvolvimento do Brasil foi em direção a algo que não
se sabia muito bem nem o que era e nem como se fazia, ou de que maneira. Grande
parte da nossa história, os programas sociais, a educação, etc., sempre tiveram o dis-
curso sonoro. A nossa cultura latina é impregnada de retórica. Quando digo que não
tem objetivo, não quer dizer que alguém não tenha feito discursos muito sonoros, mui-
to generosos, muito precisos, a respeito de objetivos, mas será que era aquilo real-
mente que estava se buscando? Ou aquilo que se dizia buscar? Sem saber bem como
chegar lá, você tinha que sair fazendo.
Não se queria mais a problemática, mas a solucionática. Dispensavam-se
os diagnósticos, porque se queria a ação. Não adiantava elaborar planos; o que inte-
ressava era fazer, e esse fazismo não tinha compromisso exato com o aonde se
chegaria. Portanto, não havia uma penalidade maior, uma sanção sobre o modo como
as coisas eram conduzidas. Caso se chegasse a algum lugar, esse lugar estaria justifi-
cado por si. Com isto, o percurso foi feito com pouca previsão e à medida que os
problemas iam surgindo, eram enfrentados. Então, o que me chamava à atenção quanto
às políticas públicas era a importância dada ao seu lançamento para, depois, verificar-
se onde exatamente se queria chegar com elas, e se as pessoas concordavam ou não.
Um autor americano fez uma certa revolução na ciência política, e mesmo na
administração, quando passou a dizer o seguinte: o importante no mundo real não é
tanto a política pública, mas a implementação. Há um certo acordo político básico
sobre aonde se quer chegar, mas o que importa é a implementação.
Não temos a realização daquele ideal. Justificamos a atividade de pesqui-
sa, afirmando que ela visa fazer o mundo funcionar melhor, de imediato. Como se a
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
16
pesquisa determinasse o curso da ação dos homens. Entretanto, somos menores do que
essa ambição da ciência ou da pesquisa para formulação de política. Esse sempre foi o
nosso mito, e se não fosse ele não teríamos avançado na produção do conhecimento.
Com a boa identificação dos objetivos, jogamos contra a incerteza. Depois enfrentamos o
problema da prioridade entre os objetivos e criamos uma hierarquia para eles. Muitas
vezes, falamos em acabar com a repetência e a evasão. A qualidade e a democratização
da educação dependem, fundamentalmente, da redução da evasão e da repetência.
Evasão e repetência são objetivos intermediários. Quer dizer, como eles são
mais efeito do que o problema em si, eles são manifestações de problemas e, daí,
podemos estar perseguindo um fantasma. Então, precisamos identificar bem o objeti-
vo e o grau de prioridade. Como é que eu aumento o meu repertório de soluções?
Em um seminário na Alemanha, um pesquisador holandês, Boudewijn van
Velzen, disse que uma das áreas em que menos se dominam os meios e, como conse-
qüência, menos se sabe exatamente o que se está fazendo, é a educação, gerando
uma grande polêmica na área. Então, a pesquisa educacional deveria tentar descrever,
explicar e, se possível, projetar o que há de reprodutível, o que há de aprendível na
prática educativa. Portanto, teríamos que dominar a prática educativa.
Há um nexo aí, muito tênue, entre os avanços da neurologia e dos estudos
relativos aos sistemas mentais ao cérebro, da teoria do conhecimento, da epistemologia
e, agora, da inteligência artificial que estão levando a uma abertura de fronteiras e pos-
sibilidades educativas, principalmente na comunicação. O citado pesquisador holan-
dês fala muito nisso e diz: que, num mundo fortemente regido pela comunicação, a
educação seria, talvez, o campo onde a comunicação serviria como paradigma de con-
duta e, no entanto, a educação está presa a uma interação do homem com o livro. Ela
ainda está na Galáxia de Gutenberg. Você aprende as coisas que já estão cristalizadas
e tem que processar esta informação cristalizada e não reprocessar a informação que,
cotidianamente, não está chegando. É um desafio para a prática educativa.
Os americanos andam muito preocupados. No país onde experimentações e
coisas avançam, com uma multiplicidade representada por quarenta e tantos mil distri-
tos educacionais, não se consegue fazer uma ação mais ou menos equipolente, quer
dizer, não há a mesma capacidade de resolução. Geralmente, um faz uma coisa aqui, o
outro ali, e as práticas melhores têm certa dificuldade de se disseminarem. O que hoje
está na moda, tanto nos Estados Unidos como no Canadá e na Europa, é a história de
montar redes que se dediquem à observação do que eles chamam best practices.
Quais são os melhores experimentos? O que podemos aprender? Quais foram os pro-
jetos, as criações que chegaram a melhores resultados?
Hoje, a avaliação está se dirigindo para as vantagens comparativas e diferen-
ciais de cada projeto educativo, em função de objetivos cada vez mais ambiciosos. E
isso se dá por que existe uma certa disciplina e persistência para utilizar essas tecnologias
que vêm surgindo. As interpretações correntes, principalmente através da imprensa,
dão uma carga extra para a informação, como se ela fosse um fator estruturante, dizen-
do que precisamos de um acervo de informação para amplificar os conhecimentos e
habilidades que são requeridos para serem bem-sucedidos. Esse pressuposto, que
temos conhecimentos e habilidades, está sendo muito discutido em educação. Quem
sabe fazer educação não é o Ministro, não é o presidente do Inep, não é o secretário
deste ou daquele nível de ensino, não é o secretário estadual ou municipal de educa-
ção, tampouco são os pesquisadores da universidade. Quem sabe fazer e está fazen-
do educação é o professor, o diretor da escola, o especialista disto ou daquilo na unida-
de escolar.
Agora, de onde é que vem o seu conhecimento, sua habilidade? O holandês
Boudewijn van Velzen desenvolve o que ele chama de teoria subjetiva, que seria a
ação subjetiva, quer dizer, eu tenho a minha própria teoria. Isso é muito característico
do professor europeu. E aqui é mais ou menos isso, também, porque se o professor
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
passa por uma escola normal ou uma licenciatura, ele ouve falar das teorias pedagógi-
cas, das práticas pedagógicas, do currículo, enfim, vai estudar alguns textos, preparar
alguma coisa, e o que todos invariavelmente dizem, aqui no Brasil ou fora, é que o
enfoque da entrada em classe é sempre um choque muito forte. Em outras palavras,
como é que se translada esse corpo teórico, muitas vezes sofisticado, especialmente a
metodologia, para aquilo que deve ocorrer num determinado espaço de tempo, dentro
de um grupo bastante heterogêneo, e com um profissional que, em geral, passa a
maior parte do tempo isolado na sua própria prática?
Nós estamos sendo assediados pela informação, mesmo que não queira-
mos, e isso se dá num ritmo cada vez mais intenso. O Brasil foi um dos países que mais
se transformou do ponto de vista de estrutura de produção de tecnologia industrial, de
grandes organizações empresariais e, é absolutamente surpreendente, que isto se te-
nha conseguido num país com uma capacidade de educação formal extremamente
reduzida.
Estamos passando hoje por uma transição, talvez uma das mais interessan-
tes e instigantes nos últimos 300 ou 400 anos. Com a informação que se tem, com os
meios de produzir informação, com a maneira de manipular a informação, podemos
criar mundos que não necessariamente sejam reproduções ou estereótipos do próprio
mundo em que vivemos. Conhecemos outras dimensões de mundo e somos capazes
de juntá-las e recombiná-las.
No fundo, o filtro para essas concepções está em olhar para o lado da socie-
dade da informação, das tecnologias de comunicação, essa sobrepassagem de qual-
quer tipo de barreira, de fronteira política, cultural e lingüística. Você está acessando
informações do mundo inteiro e as informações estão sendo produzidas e enviadas
para o mundo todo. Você pode chamar isso de uma outra dimensão de globalização,
de aldeia global, de encurtamento das distâncias e do tempo. E constata-se uma coisa
muito concreta que é a economia do conhecimento. O que significa essa turbulência
que houve agora com as indústrias high tech, causada pela queda das ações do
Nasdaq? Significa que empresas da Internet, empresas de comércio eletrônico, produ-
tores de bens eletrônicos, estão transformando o modo de ser da produção. Mas ela
tem dois sulcos: democracia e desenvolvimento humano.
Na realidade, o que esperamos, hoje, é ser tratados com mais tolerância, que
respeitemos o outro, o censo da austeridade, a regração das condutas humanas, a
não-violência, a não-violentação, a não discriminação, que são as diversas maneiras
de falar em democracia. E cada um poder participar na medida de suas possibilidades,
acessar as coisas de igual modo e não encontrar barreiras para isso. E que as coisas
sejam feitas para o bem comum  o que está se discutindo há 200 anos e ainda não
conseguimos resolver. Essas questões se traduzem em desenvolvimento humano. Afi-
nal de contas, estamos falando de coisas sofisticadas, de ultrapassar barreiras, de
muita informação que se prevê, de ser previdente e não de ser previsível, porque a
imprevisibilidade aumenta sempre. Basicamente, queremos ser seres humanos me-
lhores e isso não é sem certos meios, sem ter a escola, sem ter um bom estado de
saúde. É não ser analfabeto, e sim ter a oportunidade de se instruir não só por meio da
passagem pelos sistemas instrucionais, pelos sistemas formais, mas ter ganhado co-
nhecimento, possibilidades de ampliação do conhecimento e, talvez, mais do que isso,
de empregar esse conhecimento para ter mais sabedoria. Então, está aí a matéria-
prima com que trabalhamos.
A sociedade de informação tem algumas características. Por exemplo, a
interconectividade, da qual dependemos cada vez mais. As coisas estão muito mais
interligadas, muito mais interdependentes. O que acontece numa ponta da rede reper-
cute, necessariamente, em outra: uma crise econômica na Ásia bate aqui; estamos
preocupados com o refreio dos guerrilheiros islâmicos nas Filipinas; nos emocionamos
com o Timor Leste; chega um e-mail com uma série de convites ou estímulos para você
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
18
mandar e-mail para alguém protestando contra alguma coisa que está a milhares de
quilômetros de distância. Então, estamos sendo chamados a estar atentos a uma série
de coisas. Isso é interconectividade, e as coisas vão acontecendo nessa interatividade.
Às vezes, tem-se a impressão que daqui não se pode fazer nada em relação ao longe,
mas espera-se que aquela migalha de participação, juntada às miríades de outras mi-
galhas, acabe influindo.
O problema não é tanto de acesso à informação, mas como é que se vai filtrar
aquela que é possível armazenar, aquela que interessa, que vai influir na sua vida. Às
vezes, são informações que de imediato não são relevantes mas, de um modo ou de
outro, poderemos precisar delas em algum momento. Isso é o que nós estamos dizen-
do que é um enriquecimento de informação na vida cotidiana, o que leva, claro, a mais
informalidade. Quer dizer, toda tentativa de dar formas, de canonizar a informação aca-
ba limitando exatamente essas necessidades, esses requerimentos.
A ciência e a tecnologia, hoje, estão buscando nos cantos mais inacreditáveis,
impensáveis e insólitos. Isso é que aumenta a resolutividade, a capacidade de multipli-
cação do uso de determinadas coisas e cria, é claro, uma maior incerteza, o que apavo-
ra as grandes corporações. Quem pode imaginar que uma empresa como a Xerox, ou
a do Bill Gates, esteja tranqüila no mercado? Não, ela pode cair a qualquer momento.
Aquilo que é útil em determinado momento pode ser substituído por outro útil, talvez
mais agradável, mais barato, mais distribuível.
O mundo hoje é de distribuição, mais do que um mundo de produção. Os
economistas, tradicionalmente, dizem o seguinte: se você juntar num determinado ter-
ritório recursos naturais, capital físico, infra-estrutura e mercados de trabalho, você che-
ga ao PIB; essa é toda a tradução da economia. Aí, alguém perguntava: mas como é
que se junta tudo isso? As pessoas têm algumas externalidades, termo muito pernóstico
dos colegas economistas. Na medida em que muita gente faz alguma coisa, todo mun-
do acaba tendo uma vantagem e, simplificadamente, isso é que é uma externalidade.
Uma das externalidades é a educação, e pode-se fazer um discurso de que sem educa-
ção não há desenvolvimento. Apesar de todas as dificuldades que sempre tivemos dos
déficits de escolaridade e de qualidade educativa, passamos por um dos mais rápidos
processos de industrialização e de sofisticação tecnológica e industrial que o mundo
conheceu até o início da década de 80.
O Brasil foi um dos países que mais se transformou do ponto de vista de
estrutura da produção, da tecnologia industrial, das grandes organizações empresari-
ais. Até o início da década de 60, éramos quase uma aldeia africana em matéria de
cobertura e de freqüência escolar. As curvas dos números indicam que demos saltos
fenomenais nas décadas de 60 e 70. O segundo grau começa a ter algum significado
se compararmos a sua taxa de cobertura com a de alguns países da América Latina,
tanto agora como no final da década de 80 e início dos anos 90. Se compararmos no
tempo, tínhamos uma diferença absolutamente brutal em relação à Argentina e ao Chile.
Portanto, o ensino médio é uma novidade.
Conhecimento hoje é mercadoria. Todas as organizações, sejam públicas ou
privadas, estão passando por um outro modo de ser, porque as características eram de
centro único, onde geralmente existe uma diretoria, uma hierarquia piramidal. As em-
presas brasileiras estão com problemas por serem obsoletas desse ponto de vista, por
se acharem auto-abastecidas de conhecimento.
Pegue uma secretaria de educação. Para que buscar conhecimento fora?
Obviamente, a maneira de formar uma equipe dentro de uma secretaria é buscar as
pessoas que chefiam, as que dominam melhor aquele assunto, que têm habilidade,
que sabem comandar. As práticas estabelecidas podem variar de governo para gover-
no, de administração para administração, mas o seu paradigma é único e tende a
encapsular uma organização. Você conversa com quem concorda com você. Dificil-
mente se tem uma conversa de alta discordância. E não há uma interação e uma
19
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
recombinação das discordâncias, daqueles pontos aonde se pode chegar ao consen-
so, até por que isso exige um espírito democrático, pouco usual nas relações político-
administrativas cotidianas.
Isto gera uma integração verticalizada, é óbvio. Quer dizer, a lealdade e a ca-
deia de comando predominam; então, ela tem que ser necessariamente vertical, e, para
isso, tem que garantir a uniformidade. A cada governo se faz uma reorganização do
organograma, mas é muito mais uma organização do personograma do que das fun-
ções que vão ser exercidas. Então, mantém-se ao longo do tempo o gato pardo. Muda-
se para mudar o menos possível, e isto faz com que predomine, na organização, uma
visão paroquial.
O que mais se está encontrando hoje nessa área é designado por um termo
interessante: a gestão de idéias inovadoras. Não se divulga o que a universidade está
fazendo bem-feito, o que se gera de conhecimento, de patentes, etc. Na verdade, a
tramitação disso é mal-administrada. Mas o que se produz é extremamente respeitável,
embora ninguém saiba. Há pouca disseminação, não é objeto de conhecimento em si.
Não existia um mecanismo de disseminação, de transmissão do conhecimento gerado
numa universidade, principalmente do conhecimento mais tecnológico, para o setor
privado. Não havia mecanismos institucionalizados para isso.
Então, temos de pensar nisso, e as unidades universitárias independentes
devem assumir suas responsabilidades no processo. Isso leva a alguns desafios, como
a polarização, por exemplo. Alguns países estão progredindo, estão melhorando o
padrão de vida de suas populações de uma maneira muito mais rápida, ampla e igua-
litária do que nós. Esse é o risco. O Brasil modernizou-se razoavelmente na última
década, mas a pobreza e a desigualdade só aumentaram. Devido a essa característica,
está se gerando um fator de descoesão social, uma vez que o discriminado, o distante,
está começando a aprender a ver a sua distância. Isto é um produto da comunicação,
quer dizer, não há país no mundo que seja tão permeável aos meios de comunicação e
à nova tecnologia de comunicação como o Brasil.
E o que significa isso? Uma oligopolização do poder político e uma fragmen-
tação dos interesses. A noção do interesse coletivo é muito complicada e estabelecer
um projeto de desenvolvimento para o país também é complicado, porque aí está outra
vez a questão da informação: como é que circula e como é que se articula ao conheci-
mento? A educação é que deveria proporcionar meios para se processar a informação.
Nossos sistemas educativos são novicentistas. Estamos ainda com a estrutu-
ra básica do sistema educativo e do funcionamento da unidade-escola calcados na-
queles padrões, cuja característica principal é serem muito hierarquizados, o que leva a
uma lenta adaptabilidade. É difícil que certas inovações sejam disseminadas, compre-
endidas, acatadas e, principalmente, adaptadas e reproduzidas num território do tama-
nho do Brasil, com as suas diferenças subculturais. Qualquer novo prospecto educativo
tem enorme dificuldade de ser entendido fora de seu contexto.
Chamo a atenção ainda para o seguinte: o que os políticos querem da educa-
ção não é necessariamente compatível ou até conciliável com aquilo que os educado-
res sabem e podem fazer. É um conceito meio terrível, porque você começa a colocar
certos objetivos políticos para a educação que não fazem parte dessa teoria subjetivada
de como o educador vê a sua própria prática. Imagine uma secretaria tendo que admi-
nistrar três mil escolas. Como é que se faz isso sem descentralizar? Para descentralizar,
é preciso que a sociedade se organize para assumir o controle social da escola, mas
com a fragilização da sociedade civil, será possível esperar por isso?
Todos os que estão estudando esse processo de descentralização e compa-
rando o que está acontecendo com educação, com saúde, etc. estão atentos a esse
aspecto. Nós achamos que dando mais autonomia para a escola se gerir, elegendo
diretor, fazendo um conselho de escola, este seria o caminho para a democratização.
Mas há uma dificuldade muito grande em se obter esta resposta da comunidade ou da
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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sociedade civil, em entender o que se está fazendo e, também, quanto à abertura da
escola para esse diálogo. Essa dificuldade ainda existe.
Nós tínhamos uma estrutura piramidal de utilização da força de trabalho: os
trabalhadores não qualificados na agricultura, e nos serviços formais, uma certa faixa
de qualificados ou de especialistas. Há uma certa simetria entre a concepção de hierar-
quia do sistema educativo formal e a pirâmide de emprego. Para uma certa faixa, nós
temos uma correspondência entre o ensino fundamental de quatro ou até de oito anos
com essa parte de baixo da pirâmide de emprego. Nós estamos relacionando funcio-
nalmente essas coisas. Deliberadamente ou não, o fato é que se estabelece essa cor-
respondência entre o ensino médio, eventualmente um técnico especializado, com essa
faixa intermediária dos qualificados e dos supervisores.
Uma pesquisa de Moura Castro, na década de 70, mostrava que, no Brasil, as
escolas técnicas não eram muito necessárias porque o sistema de formação profissio-
nal acabava transformando operários qualificados em supervisores e técnicos de nível
médio. Levava mais tempo, era mais caro, os benefícios eram maiores para os egres-
sos das escolas técnicas do que para os trabalhadores que subiram pelo nível da qua-
lificação, mas o fato é que isso satisfazia à estrutura ocupacional das empresas. No
Brasil, as empresas nunca se preocuparam em pressionar para melhorar a educação.
Havia os meios de escape.
Outra coisa é o ensino superior com o bacharelismo voltado para as funções
de direção, de gerência, para os papéis de elite. E isso foi modernizado com o sistema
de ciência e tecnologia, porque antes havia um sistema que se confundia com o de
pós-graduação. A história da nossa pós-graduação, durante as décadas de 70 e 80, foi
orientada muito mais para atender às necessidades de formação docente das próprias
universidades, do que para atender à produção em ciência e tecnologia. Isso já foi
descrito no início da década passada. A equação básica era a seguinte: a nova socie-
dade, a nova economia requer um outro tipo de educação, tanto na sua organização,
quanto na estrutura.
Precisamos muito menos de domínio de conteúdos do que de geração de
competências. A diferença entre ensino fundamental e educação básica é que numa
há uma coleção de conteúdos e certas habilidades cognitivas que são desenvolvidas;
na outra são desenvolvidas competências, e não só as competências cognitivas, mas
também as isolacionais. E isso teria que ser equalizado, porque não podemos manter
esses níveis de desigualdade existentes entre regiões, e até mesmo entre as cidades.
A proficiência cognitiva é extremamente diferenciada e, às vezes, os próprios
testes não estão conseguindo mostrar isso. Há uma falha de identificação dos sujeitos
e a amostra é pequena, mas o que se percebe é que as escolas têm diferentes capaci-
dades de educar.
O fato de que o grande centro é a educação básica, descentralizada e etc.,
exige uma nova institucionalidade. Isto, no Brasil, foi entendido basicamente como
melhorar a gestão educativa, ou no mote que veio da Constituinte, implementar a ges-
tão democrática da educação.
Cada vez que escrevemos gestão democrática da educação estamos supon-
do que todo mundo entende exatamente a mesma coisa, e nós sabemos quais são
essas coisas. No entanto, se for feita uma pesquisa de opinião, cada um vai dizer uma
coisa diferente. E o que deverá existir no mundo basicamente é esse sistema, porque à
medida que a sociedade se organiza desta nova forma, você está dispensando força
de trabalho. Pela primeira vez se está dizendo que a educação é vital para desenvolvi-
mento: só que a educação está sendo entendida como um certo padrão para operar o
sistema produtivo.
O que não está sendo dito é que grande parte da população não vai mais,
como no passado, se expressar em termos de empregados industriais e funcionários
do setor público. Uma gama enorme da população vai viver fora desse circuito. Se
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
alguém for medir a atividade das pessoas não-remuneradas que fazem trabalho volun-
tário, conseguirá um resultado maior que o PIB brasileiro. De fato, a sociedade terá
menos pessoas trabalhando nas atividades diretamente produtivas. Essas atividades
serão muito mais de serviços, intensivas em habilidades cognitivas, em criatividade,
em desenvolvimento, em rompimento com regras anteriores. E será preciso operar um
sistema desse tipo na educação pós-secundária. A tendência do mundo, hoje, é
descaracterizar um pouco o ensino superior por carreiras, por disciplinas, etc. Ele ten-
de a cursos diversificados e variados, e o que mais se fala hoje na Europa, nos Estados
Unidos e no Canadá é educação permanente. Isto é, a possibilidade de as pessoas
com educação básica e algum tipo de educação superior ou pós-secundária terem
continuamente que recompor os seus acervos de habilidades cognitivas para ampliar
os horizontes.
Aqui, no Brasil, tivemos uma experiência muito interessante no Paraná, em
Faxinal do Céu. Colocaram todos os professores do Estado, por uma semana, naquele
projeto. Foi uma das coisas mais inteligentes que já vi, todos os professores assistindo
a concertos, conferências, etc. Falava-se pouquíssimo de educação, no sentido práti-
co, mas a experiência ampliou a maneira de ser do professor estadual.
Nós temos um déficit de estímulo na democratização de oportunidades. E
temos uma obsolescência enorme de padrões de gestão. Isso significa que a informa-
ção flui muito pouco por dentro do sistema. O esforço que estamos fazendo é o que se
chamaria muito mais de supply side, ou seja, disseminar a informação para ver aonde
ela vai chegar, porque não há uma demanda. Se formos bem sinceros e fizermos uma
enquete sobre quais são as demandas de informação, não sairíamos do lugar.
Nós já tentamos fazer isso. Não adianta perguntar o que o secretário de edu-
cação quer, ou o que o diretor da escola quer. É inútil fazer isso. Na prática, nós vamos
ter que criar informação, disseminar informação, porque precisamos do domínio dos
programas educacionais. Nós temos categorias um pouco ultrapassadas para dizer o
que é problema educacional. Cada vez que alguém fala em fracasso escolar, ou eva-
são e repetência, eu fico imaginando que a pessoa não tem instrumentos adequados
para olhar a educação. O problema educacional não é esse. Isso é um reflexo.
Há pouca permeabilidade devido aos nossos esquemas de gestão,
clientelismo e patrimonialismo. Temos uma enorme dificuldade em fazer com que as
famílias participem do processo de escolha e das decisões do sistema educativo.
Enfim, o que se está propondo, hoje, é o desenho de algum tipo de estraté-
gia, é fazer com que, no movimento de disseminação de informações de educação,
comece a haver estímulos para os diferentes atores. Fundamentalmente, esse é o lado
estratégico da existência do Comped. Portanto, é importante trabalhar com o conceito
de network. Sem uma base operacional descentralizada, em que cada um assuma
uma parte da responsabilidade, não iremos muito longe, principalmente num país do
tamanho do nosso, com 160 milhões de habitantes. Qual é o tipo de organização, qual
é o fluxo de informações, quais são as tecnologias de informação de que se dispõe
para alcançar o país todo? É um requisito de gestão. Se nós não trabalharmos em
rede, todo mundo vai jogar a responsabilidade para o centro. Então, como requisito de
gestão, até de democratização da gestão, deve-se pensar em como trabalhar coopera-
tivamente, em rede, distribuindo responsabilidades.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Nilda Alves (ANPEd)  Como chegar a essa sociedade da informação, com
as dificuldades que estamos enfrentando neste país?
Divonzir Gusso (Ipea)  Eu diria, basicamente, duas coisas. Os diferenciais
de salário não estão relacionados com o desempenho do professor, nem com o do
aluno. E a conduta inovativa dos professores não tem a ver com o salário. Há alguma
coisa na profissão docente que não conhecemos ainda e que é o motor da dinâmica
inovadora dos sistemas. O que traz alguma luz para esse caso é o trabalho do Henry
Levi, no projeto Escolas Aceleradas. Ele descreve uma estratégia de mobilização dos
professores de comunidades que atendem a crianças sob risco social nos Estados
Unidos. Com esse projeto, ele consegue mobilizar os professores e, não só, ensinar
melhor. Muda-se o paradigma de atuação da própria escola e isso é muito mais difícil
do que inovar o sistema que já existe e fazê-lo funcionar melhor.
A proposta hoje no Brasil é elevar um pouco a proficiência média, reduzir a
repetência, fazer a aceleração. Estamos com objetivos modestos e mesmo para isso
temos dificuldade. Ainda assim, existem exemplos de sucesso. Se você pega as esta-
tísticas dos três últimos anos, esse rendimento que eu chamo de meta mais modesta
vem melhorando significativamente. Mas ninguém sabe explicar os motivos. Temos
pouca pesquisa sobre isso. Então, são essas coisas que precisam ser informadas para
se poder trabalhar sobre esses potenciais.
Expedito (Ministério da Saúde)  A área da educação tem tantos problemas
quanto à área da saúde, e eles são muito parecidos. O que foi apresentado aqui também se
discute muito na área da saúde, e uma das preocupações é melhorar a informação, tanto
que estamos aqui para ver como é que está se dando essa questão no lado da educação.
Como é que a gente pode trabalhar uma sociedade de informação, trabalhar
a gestão da informação, quando não só há a problemática da pobreza, mas também os
medos pessoais? E aí não é só uma questão da informação em si porque, às vezes, ela
pode até chegar ao professor que vai ler ou vai ter acesso a ela e não vai compreendê-
la, pois ele está tão fechado no seu mundo que não está aberto para se transformar e
para mudar a sua maneira de ver as coisas. Você tem que estar aberto para se transfor-
mar primeiro e aí criar novos estímulos para continuar trabalhando.
Divonzir Gusso  Eu diria que, neste caso, não é tanto o problema da pobre-
za. Vamos pegar um pouco o contexto. É muito mais o sistema de dominação. Por
exemplo, se você toma uma cidade do interior da Paraíba, onde a professora é quem
pode ser, é quem está disponível naquele lugar, então o problema não é que a pobreza
gere esse fato, é que o sistema de dominação é assim, é aquilo que eu chamei de
fragilidade da sociedade civil. E há um círculo vicioso onde a pobreza significa também
Debate
Plenária
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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menor informação, maior impermeabilidade e menos acesso à informação. Não porque
ela não chegue, mas porque não deixam ela chegar. Um capítulo interessante é a luta de
certas comunidades para se auto-identificarem, então esse problema tem de ser visto
também no sistema. Nós tendemos a trocar informação com quem já a tem e com quem
vai, potencialmente, melhor aprender, e não com aqueles que não têm informação e são
prejudicados pela falta dela.
Ezir Melo (Jornal A Gazeta - AC)  O governo está bancando agora um
projeto de financiamento de computadores para os professores. A TV Escola é um
outro exemplo para a transmissão dessas informações educacionais. Então, se exis-
tem os meios, como fazer para despertar o interesse da sociedade? Como obter a
demanda para essa informação?
Divonzir Gusso  Uma das intenções do Comped é exatamente verificar como
se trabalha a mídia na educação. Mas, como? Sem dúvida nenhuma, falamos muito
sobre as tecnologias de informação e tendemos a pensar no computador, na Internet,
etc. É um meio mais amplo de se pensar em termos de território coberto, porque se
pode chegar a qualquer lugar, no seu município. Mas se você observar a intensidade e
a capilaridade de leitura, ela se concentra sobre a imprensa local. O que se está come-
çando a pensar agora é uma network de mídia para disseminação da educação. Mas
não temos uma comunicação das autoridades educativas, que geralmente são as que
produzem informação, para verter isso numa linguagem e fazer chegar ao jornal local.
O que temos que pensar é na linguagem e no fluxo de informação para a imprensa
local, porque isso é que vai dizer mais objetivamente, lá no interior da Paraíba, lá no
Acre, como é que anda a educação.
Participante  Foi criada em 1997, pelo Fundo de Fortalecimento da Escola e
pelo Unicef, a Rede de Comunicadores pela Educação. Esta rede procura sensibilizar o
radialista, porque ele é quem chega muito próximo das populações carentes, que têm,
no máximo, até a 5ª série. A comunicação do futuro precisa considerar que o país é
muito grande e que é através do rádio que a informação chega ao interior.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Rachel Mello
Oficial Assistente de Comunicação Unicef/Brasil
Várias instituições se reuniram em meados do ano passado para realizar uma
pesquisa chamada Mídia e Educação: MEC e sua Assessoria de Comunicação, o
Inep, o Fundo Escola, a Andi, o Consed, o Unicef, o Instituto Ayrton Senna e o Nemp,
ligado à Universidade de Brasília.
O desafio da pesquisa era detectar como os meios de comunicação no Brasil
cobriam a área de educação. O Nemp foi o executor da pesquisa e se debruçou sobre
62 jornais e revistas brasileiros. Os dados coletados apontam que 83% das matérias
publicadas por esses 62 jornais e revistas têm como fonte principal o Estado, ou o
governo federal ou os governos estaduais ou municipais. Desses 83%, 74% são notí-
cias que têm como origem o Ministério da Educação. Ou seja, partem de Brasília para
jornais em Cuiabá, em Rio Branco ou no interior de Pernambuco, de Alagoas, da Paraíba,
do Rio Grande do Sul ou do Paraná.
Na verdade, isso já era uma suspeita das instituições que se reuniram para
pesquisar a relação entre mídia e educação. Também foi um susto, porque não se
esperava que a dominação das matérias que têm origem no Ministério da Educação
fosse tão grande, que elas pesassem tanto num conjunto de jornais brasileiros.
Podemos fazer duas reflexões. A primeira seria a de que o pessoal da Asses-
soria de Comunicação do MEC trabalha bem. A outra é que vivemos a cultura do poder
central, inclusive na área de educação.
Esses dados foram publicados no relatório final do Seminário Mídia e Edu-
cação. O seminário, que utilizou a pesquisa realizada pelo Nemp, reuniu 150 jorna-
listas e educadores, tanto da área governamental quanto de ONGs, em São Paulo, em
novembro do ano passado.
Essas pessoas debruçaram-se sobre a pesquisa para traçar três panoramas.
O primeiro seria o conceito: o desafio de enxergar o que seria fazer um bom jornalismo
em educação no Brasil, hoje, e nos próximos anos. O segundo, o contexto: como são
produzidas as notícias sobre educação no País, em que redações, com que relações
entre jornalistas e produtores de educação essas notícias são produzidas. E o terceiro,
encontrar os caminhos para que pudéssemos colocar em prática o que deveria ser um
bom jornalismo de educação.
Essas recomendações incluem tarefas para jornalistas, universidades, organiza-
ções não-governamentais, jornalistas fora das redações, assessorias de imprensa e produ-
tores de informação em educação. Na verdade, o Seminário Mídia e Educação foi o co-
meço de um trabalho que as instituições nele reunidas acreditam ser necessário ao País.
Painel 1
Produção e disseminação
de informações educacionais
Coordenação
Darcília Leite
Secretária de Educação do
Município de Rio das Flores (RJ)
e representante da Undime no
Comped
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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Do seminário nasceu o Fórum Mídia e Educação, que hoje é um fórum
permanente. Os resultados do seminário estão sendo levados para eventos como o
Comped e outras reuniões de comunicadores e educadores. Na verdade, esses lan-
çamentos são um convite para que as pessoas que recebem o kit leiam com o olhar
mais crítico possível os resultados do seminário e da pesquisa, as recomendações e
os conceitos, e que participem também de um debate sobre as tarefas e as relações
sobre mídia e educação.
A primeira impressão que se tem é que é preciso desarmar os dois lados:
comunicadores e educadores. Sem esse diálogo vamos continuar participando de
encontros em que as pessoas vão contar que ligaram do Bom-dia Brasil para pedir-
lhes uma entrevista sobre um assunto com o qual não têm nenhuma relação, ou os
jornalistas vão continuar reclamando que é inviável conversar com os educadores.
Os jornalistas reclamam que marcam uma entrevista de meia hora com educadores e
eles falam quatro horas seguidas, sem a resposta para a única pergunta que o editor
mandou que ele respondesse. Por enquanto, os resultados do Fórum e algumas
discussões estão disponíveis no site da Andi.
Os jornalistas reunidos no seminário concordaram, pelo menos, que é preci-
so enxergar que educação não é um fato, que não vem resumida em um release, que
educação se faz por um processo. Os educadores, reunidos no seminário, pelo menos
já concordaram que é preciso ter a compreensão e o diálogo com o jornalista, no sen-
tido de não só doutriná-lo, mas ajudá-lo nessa tarefa de compreender a educação
como um processo.
Eu acho que o Comped tem um papel fundamental nessa tarefa. É preciso
democratizar a informação que se produz em educação neste país. Isso não é favor e
não é nenhum esforço extra. Eu também acho que os educadores precisam reconhe-
cer que a informação que eles produzem não lhes pertence e também não pertence ao
grupo a que estão ligados.
Paulino Motter
Chefe de Gabinete do Inep e colaborador na Pesquisa Mídia e Educação:
perspectivas para a qualidade da informação
Foi providencial que a Rachel Mello (Unicef) tenha se referido a esse Fórum,
criado no ano passado, e que promoveu o seminário em São Paulo para discutir a
relação entre a mídia e a educação numa perspectiva de contribuir para o aprimora-
mento da qualidade da educação. Tive o privilégio de ter participado dessa iniciativa,
num certo momento incentivando a realização desse trabalho, e depois na própria aná-
lise dos dados, realizada pelo Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política, da UnB.
Um outro trabalho que tem sido realizado, para o qual eu gostaria de chamar
a atenção, é um acompanhamento que a Andi tem feito sistematicamente desde 1996.
É uma pesquisa que abrange jornais e revistas de todo o País. O acompanhamento é
extremamente interessante. A educação em 1996 era o oitavo tema na cobertura dos
veículos. A partir de 1998, a educação passou a ocupar o primeiro lugar e tornou-se o
tema dominante na cobertura referente a temas relacionados com a infância e a ado-
lescência. É uma indicação segura desse fenômeno: o tema da educação tem sido
valorizado na agenda da sociedade e isso se reflete na pauta da imprensa.
Agora, uma preocupação que eu tenho refere-se à importância do uso do
rádio, que seria uma mídia que estaria sendo desprestigiada. Eu realmente temo que
nós, que temos oportunidade de assimilar rapidamente novas tecnologias, tenha-
mos uma visão um pouco distorcida da realidade do interior do nosso país, das co-
munidades mais afastadas, onde o rádio e a televisão continuam sendo, de fato, as
mídias dominantes. De acordo com as pesquisas do IBGE, o rádio está presente em
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
95% dos domicílios e cerca de 83% dos domicílios têm televisão. A TV Escola é uma
iniciativa importante do Ministério da Educação e tem trazido bons resultados. Mais
recentemente, o MEC envolveu-se no desenvolvimento de um projeto para utilizar
também o rádio como veículo para educação a distância. Esse projeto é uma iniciati-
va em desenvolvimento, que resgata um pouco a idéia de uma abrangência maior da
disseminação. Isso é particularmente importante para o tipo de atuação, por exem-
plo, que o Inep tem tido.
Não há nenhuma novidade em perceber que a pauta da educação na mídia é
dominada pelas iniciativas governamentais. Isso tem uma certa coerência com o fato
de que a educação no Brasil, com exceção da educação superior, é majoritariamente
um serviço público. No ensino fundamental, 91% das matrículas estão localizadas em
escolas públicas, e no ensino médio são 85%.
O Estado continua tendo um papel importante na área educacional, não só
do ponto de vista da regulamentação e, no Brasil, tivemos nos últimos cinco anos
iniciativas muito importantes. O Congresso Nacional aprovou a LDB, que se encontra-
va em discussão desde o final da década de 80, mas que foi efetivamente aprovada em
1996. Depois tivemos a Emenda Constitucional nº 14, em seguida a regulamentação
do Fundef e, agora, o Plano Nacional de Educação, produzindo um debate que obvia-
mente repercute na sociedade. Além disso, o Ministério da Educação, nesse período,
tomou iniciativas que causaram impacto na opinião pública, sobretudo as avaliações e
os levantamentos sistemáticos sobre a situação educacional do País. Este é um ponto
fundamental, porque a situação anterior era de ausência de indicadores mais precisos,
mais atuais sobre a situação educacional. Em 1995, quando teve início a gestão do
Ministro Paulo Renato, o último censo escolar disponível, embora parcial, porque al-
guns Estados não haviam enviado os dados, era o censo de 1989. Então, havia uma
defasagem de quase seis anos.
A realidade de quatro anos para cá é totalmente diversa. E aí não é mérito
apenas do Inep ou do Ministério da Educação, mas uma ação de parceria, de coopera-
ção que envolve os sistemas estaduais e municipais de ensino. No período de março a
novembro, temos conseguido realizar a coleta de campo, o processamento dos da-
dos, a análise e crítica desses dados, e a divulgação dos resultados do censo antes do
final do exercício, até por uma obrigação legal, tendo em vista que com o Fundef a
distribuição dos recursos no exercício seguinte é feita com base na matrícula do ano
anterior. Então, temos que divulgar, até 31 de dezembro, no Diário Oficial da União, o
dado final da matrícula. Isso significa que o censo já concluído chamou a atenção da
mídia e deu um material muito rico para análises que, de fato, têm ocupado largo espa-
ço na mídia impressa.
Aí há um viés que tem a ver com a credibilidade do emissor da informação.
Qualquer dado estatístico, hoje, qualquer resultado de avaliação com a chancela do
Inep ou do Ministério da Educação é facilmente acolhido pela mídia como um dado
confiável e, portanto, pode ser tomado como uma referência importante. A mesma
coisa ocorre em relação aos organismos internacionais. Uma pesquisa da Unesco,
uma pesquisa do Unicef, tem largo espaço na mídia, porque ela atribui credibilidade a
esses organismos. O estranho nesse panorama, que conseguimos dimensionar na
pesquisa sobre mídia e educação, é verificar que mesmo os veículos locais e regionais
(e aqui eu estou me referindo especificamente aos jornais) preferem reproduzir releases
divulgados pelo Inep ou pelo MEC a fazer uma cobertura local.
Esse, realmente, é um problema muito sério, porque os interesses são ób-
vios, e os temas educacionais a que a comunidade deveria estar mais atenta têm muito
mais a ver com a gestão da escola municipal, da escola pela qual a prefeitura é respon-
sável do que com as estatísticas nacionais que são divulgadas pelo Ministério da Edu-
cação. Esse fenômeno, na verdade, reproduz uma característica de um sistema de
monopólio existente no Brasil, verticalizado. Sabemos que os grandes grupos de
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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comunicação dominam a agenda. É assim na televisão, nas grandes redes de televisão
e é assim também com as agências de notícias, que centralizam a produção da informa-
ção e distribuem para todo o País.
O que eu vejo de positivo é que, nos veículos de comunicação, têm surgido
profissionais interessados em se especializar na cobertura da educação. É muito co-
mum a reclamação de que o jornalista não está capacitado ou que não domina as
informações. Então, ele distorce o que não compreende e leva aos leitores, aos ou-
vintes e aos telespectadores uma informação parcial e distorcida. É um fato que nós,
jornalistas, temos que reconhecer. Existe uma certa arrogância no sentido de o jorna-
lista achar que ele sempre tem a compreensão de todos os fenômenos, que extrai
conclusões com a maior facilidade, e expõe aquilo como uma verdade absoluta. Por
outro lado também, não é incomum que os responsáveis pelas políticas, especialis-
tas e professores universitários adotem uma postura de intolerância em relação ao
repórter.
Um acompanhamento mais sistemático da mídia vai nos mostrar que, além
do aumento do volume, tem havido uma gradual melhoria da qualidade da cobertura
da imprensa. Como mais um indicador da melhoria na produção da informação, exis-
tem as contribuições das instituições que hoje atuam no âmbito do Comped. A revista
de pesquisa da Andi traz uma entrevista, que ocupa várias páginas, com o padre Júlio
Lancelotti e com o Cesar La Roca, do Projeto Axé, de Salvador, discutindo exata-
mente a postura que a mídia adotou em relação àquela seqüência de rebeliões da
Febem, em São Paulo. A análise é extremamente interessante porque eles fazem uma
leitura muito crítica de como a mídia tem se portado em relação a essa questão.
Uma das coisas que o padre Júlio destaca é a responsabilidade que as
fontes têm no sentido de divulgar as informações. É preciso não apenas cobrar, mas
exigir uma postura ética e sensibilidade dos jornalistas em relação aos temas sociais.
Quem lida com a área da educação, das políticas sociais, tem de ter a postura de
qualificar a informação, e isso é extremamente importante, porque a sociedade e os
formadores de opinião na sociedade vão se posicionar em função das informações
que a mídia divulga. Esse caso mostra uma polarização entre a opinião daqueles que
acham que os adolescentes da Febem têm que ser tratados como delinqüentes e
daqueles que têm uma visão de compromisso. Inclusive, um dos aspectos ressalta-
dos na matéria é que em momento algum da discussão o setor da educação esteve
presente. O problema é discutido pela secretaria de segurança, pelo diretor da PM,
mas a educação e a universidade não se fizeram presentes, a secretaria de educação
não se fez presente na discussão sobre o tipo de solução a ser dada ao problema. É
apenas um episódio, que mostra como esses temas estão sendo introduzidos na
agenda da sociedade brasileira.
Do ponto de vista da atuação institucional do Inep, o problema não é ter espa-
ço na mídia. O nosso esforço permanente tem sido o de qualificar a informação. Muitas
vezes fazemos uma autocrítica de que acabamos contribuindo com certo viés quantitati-
vo que a mídia adota, porque trabalhamos hoje com uma enormidade de informações. É
muito fácil chamar a atenção para dados contrastantes que despertam algum tipo de
interesse na mídia. Então, isso exige muito mais de quem lida com essas informações,
de processar, de analisar essas informações e apresentá-las de forma transparente.
Há poucos dias saiu um artigo de Cláudio Moura Castro, na Veja, que chama-
va a atenção para esse aspecto de que, mesmo na cobertura da educação, a imprensa
sempre dá destaque para aquilo que é apelativo ou sensacionalista. Esse é um viés
muito comum e acho que é uma das dificuldades, porque a mídia, de um modo geral,
é apelativa. Porém a educação não é factual, e todas as mudanças que observamos na
educação demandam um processo. Como a imprensa se prende a esse aspecto factual,
o poder público se aproveita disso criando fatos: anunciando novas medidas, projetos
e programas, ou divulgando resultados de avaliações e levantamentos estatísticos.
29
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
A dificuldade com que a mídia se defronta é de como estabelecer um olhar
sobre a educação que reflita um pouco mais a participação que os diferentes atores
têm no processo. O professor, o trabalho em sala de aula, as questões mais internas do
dia-a-dia da escola, isso dificilmente alcança espaço e um tratamento adequado na
mídia. Esse, então, é um desafio permanente.
José Castilho Marques Neto
Presidente da Abeu e da Editora da Unesp
Eu gostaria de colocar a experiência das editoras universitárias como produto-
ras de conhecimento. A questão da editora universitária tem sido cada vez mais debatida
por várias instituições de ensino no Brasil. Basicamente nós temos hoje vários modelos
de editoras universitárias que estão em ação por todo o Brasil. Nesta apresentação, pre-
tendo mostrar como funciona uma editora universitária e quais são as suas principais
preocupações, contextualizando essa questão dentro do panorama editorial brasileiro.
Primeiro, gostaria de dizer que a editora universitária e a editora comercial
fazem parte da mesma estrutura de disseminação do conhecimento. Realmente, do
meu ponto de vista, elas se diferenciam apenas pelo local onde funcionam. Cada vez
mais, portanto, a universidade brasileira vai se dar conta de que a atividade editorial
acadêmica é parte quantitativa da busca pela maturidade intelectual de cada uma des-
sas instituições. Esse movimento está bastante acelerado nos últimos anos, e demons-
tra, também, que não basta apenas publicar, mas é necessário divulgar e fazer chegar
o livro às mãos do leitor, disseminando o conhecimento. Nem sempre foi assim na
editora universitária brasileira.
Há poucos anos, as editoras universitárias eram campeãs de estoque. Con-
sistiam em imensos galpões de livros inúteis, porque não chegavam às mãos do lei-
tor. A concepção de editora universitária que busca o leitor consolidou-se junto aos
editores acadêmicos pela firmeza com que foi apresentada por alguns projetos inova-
dores nos últimos 10 anos. A concepção voltada para a profissionalização da editora
universitária também se impôs pelo crescimento e profissionalização do mercado
editorial brasileiro. Para vocês terem uma idéia, o mercado editorial brasileiro faturou
em 1999 quase um trilhão de reais. Foram cadastradas na Câmara Brasileira do Livro
1.200 livrarias ou pontos de venda de livros. Já não se trata, obviamente, de uma
atividade artesanal. O mercado livreiro no Brasil já é parte significativa da economia
nacional, atraindo investidores e capitalistas do exterior. Por exemplo, a aquisição do
grupo da Editora Ática pelo grupo francês Ravas mostra que o país tem um grande
público a ser conquistado.
Vale dizer que o grupo francês Ravas, ao comprar o complexo da Ática, já
detém 30% do mercado do livro didático brasileiro. Na Argentina, esse número já che-
gou a 80%, e em alguns países da América Latina já estão perto de 100%. Mas, obvia-
mente, há os seus contrastes. Nós somos o oitavo produtor mundial de livros. O con-
traste se evidencia quando se observa que o consumo anual per capita do país é de
dois livros e meio por habitante, incluindo-se nesses dois livros e meio por habitante
todos os livros didáticos, que constituem quase 60% da produção de livros brasileiros.
A nomenclatura do Diagnóstico do Setor Editorial Brasileiro, coordenado pela
Fundação João Pinheiro, em Minas Gerais, e financiado pela Câmara do Livro, mostrou
que, em 1999, o segmento dos livros científicos, técnicos e profissionais na área de
educação, produziu 11.654 títulos, apresentando um crescimento de 10% em relação a
1998, e 20.842.864 exemplares, um crescimento de 9% em relação ao mesmo ano. O
faturamento desse setor foi de R$ 368 milhões, em números redondos, vendendo 19
milhões e meio de exemplares. As pesquisadoras que fizeram esse levantamento
concluíram que os livros científicos, técnicos e profissionais foram os únicos que
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
30
experimentaram o aumento do número de exemplares produzidos em relação ao mes-
mo período do ano anterior.
Analisando os motivos desse crescimento, quando todos os outros livros bai-
xaram as vendas, inclusive os religiosos, os esotéricos, de auto-ajuda, etc., as pesquisa-
doras chegaram à seguinte conclusão: o aumento buscou atender a uma demanda ge-
rada pela mudança de comportamento por parte do consumidor. Hoje, esse consumi-
dor está interessado no aprofundamento do conhecimento de retorno prático. O
afunilamento do mercado de trabalho, aliado à escassez de recursos, tornou esse co-
nhecimento imprescindível àquele que deseja obter um nível maior de excelência. O
aprofundamento dos conhecimentos, tanto em áreas específicas de atuação como na
área de conhecimentos gerais, tornou-se inevitável, uma vez que o próprio mercado
exige uma atuação em diferentes áreas.
Embora não tenhamos uma pesquisa dessa abrangência, exclusiva para os
livros das editoras universitárias, certamente podemos afirmar que fazemos parte des-
se segmento científico, técnico e profissional analisado pela Câmara. Não apenas pe-
los títulos que editamos, como também pela maior inserção das editoras universitárias
na rede de distribuição voltada para o leitor que não está necessariamente nos bancos
escolares.
Sendo assim, uma das conclusões é que, não obstante as formas alternati-
vas de distribuição dos nossos títulos, a editora da universidade deve também ampliar
a sua presença nos círculos de divulgação e distribuição do livro brasileiro, ampliando
a presença do saber universitário para camadas mais amplas da população letrada. Ao
mesmo tempo, deve lutar pelo crescimento do número de leitores.
Ao falar nisso, eu gostaria de comentar sobre a produção e disseminação
de informações do livro no século XXI. Dentro desse contexto, é importante estarmos
preparados, enquanto profissionais de educação e professores universitários, para
as mudanças que já estão em marcha no mundo do livro. Os discursos dos pesqui-
sadores e profissionais da área da editoração nos dão conta de uma terceira revolu-
ção do livro.
A primeira revolução foi marcada pelo aparecimento do livro como conhece-
mos hoje. Com páginas numeradas e formato revolucionário, no século IV d.C., o livro
códex veio substituir os rolos e pergaminhos utilizados desde a Antigüidade. Esse li-
vro, que criou uma nova relação entre leitor e livro, passou por uma segunda revolução,
a do livro impresso, disseminado após Gutenberg. Agora, em nosso tempo, a informática
nos apresenta o livro eletrônico, o e-book. Em um futuro próximo, segundo as informa-
ções de um importante centro de pesquisa nos Estados Unidos, teremos aquilo que se
chama papel eletrônico, que vai organizar de maneira diferente a relação do texto com
o leitor, graças principalmente aos recursos do hipertexto.
Essa terceira revolução do livro, segundo as grandes corporações de
informática que os produzem, representa a realização de muitas utopias que a socieda-
de culta desejou, como a disseminação e a democratização do conhecimento. Uma
dessas utopias seria a criação de bibliotecas domésticas, gigantes e plurais, realizando
o sonho da Biblioteca de Alexandria, que gostaria de ter todos os livros publicados no
mundo. Estas e outras utopias estão sendo geradas pelos avanços tecnológicos e, na
visão desses senhores, são mudanças irreversíveis. O vice-presidente da Microsoft prevê
que o livro eletrônico vá ultrapassar em vendas o livro de papel em 2008. Ele também
acredita que, em 2015, a Biblioteca do Congresso Americano, a maior do mundo, será
totalmente revertida em livro eletrônico. E, em 2017, a biblioteca de livros de papel será
vista, como ele mesmo disse, como um objeto de charme antigo. Nesta perspectiva,
onde há aparentemente uma inevitabilidade da civilização da tela do computador, do
triunfo das imagens e da comunicação eletrônica, cabem três perguntas: O livro, como
conhecemos, vai desaparecer? Ao lado das novas tecnologias, estaremos construindo
leitores? Qual o papel do editor e das editoras nesse novo mundo do livro?
31
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Nós também podemos questionar, a partir do momento que estamos com
uma editora dentro da universidade, se as universidades devem investir ou continuar
investindo nas editoras universitárias.
A primeira questão a respeito da permanência do livro eu vou remetê-la ao
professor Rogier Chartié, que é um grande estudioso, autor do Aparecimento do Livro,
Do Leitor ao Navegador, entre outros, homem de grande cultura e preparo a respeito
desse tema. Ele declarou o seguinte: o mais provável para as décadas futuras é a
coexistência, não necessariamente pacífica, das duas formas do livro, e dos três mo-
dos de gravação e comunicação de texto: o manuscrito, a publicação impressa e a
textualidade eletrônica. Essa hipótese é mais razoável que os lamentos sobre a irreme-
diável perda da cultura escrita ou os entusiasmos desmedidos que anunciam a entrada
imediata da nova era de comunicação.
A segunda questão, que se refere à formação de leitores, já é mais complexa,
e exige uma reflexão rigorosa das instituições educacionais, dos governos e da socie-
dade civil. Essa questão está necessariamente ligada a índices cruéis de pobreza e de
miséria. Se hoje mudamos a forma de classificar os países, não podemos mudar os
índices de pobreza da maioria deles. Segundo suspeita o Banco Mundial, 80% da po-
pulação mundial vivem em zonas de pobreza, o que favorece as dificuldades de alfabe-
tização. Pobreza endógena e hereditária, baixa esperança de vida e altas taxas de mor-
talidade infantil, desnutrição e o fenômeno do multilingüismo. Dados como esses, que
foram analisados há algumas semanas pela educadora Emília Ferreiro, demonstraram
que a humanidade adentra o século XXI com um bilhão de analfabetos, com um agra-
vante de que os países considerados ricos, aqueles 20% restantes, descobriram o que
ela chamou de grande população de iletrados.
Em que consiste esse fenômeno dos iletrados? Ele corresponde a uma rea-
lidade muito simples, e cito a professora: a escolaridade básica universal não asse-
gura a prática cotidiana da leitura, nem o gosto pela leitura, nem muito menos o
prazer pela leitura.
Exemplos como esses não faltam. Coincidentemente, quando eu estava pre-
parando estes rabiscos para comentar com vocês, o setor de vendas da Editora Unesp
repassou-me um e-mail, que exemplifica o que é uma pessoa iletrada. Diz o seguinte:
À Unesp Editora. Sou um estudante de economia. Preciso fazer uma pesquisa sobre o
livro e o autor citados acima no assunto. O livro se passa ao longo século XX, do autor
Giovanni Arrighi. Portanto, seria de grande ajuda para mim saber o conteúdo da obra,
ou melhor, saber sobre o que o autor trata em cada um dos quatro capítulos do livro.
Tendo essas informações em mãos, vai ser mais fácil começar a pesquisa. Visto que
não disponho de tempo para ler o livro inteiro. Aguardo resposta. É um perfeito usuá-
rio dos meios tecnológicos que fornecem interatividade, interconectividade, mundo de
informações e, no entanto, é um iletrado.
O mundo cria e dissemina novas tecnologias, mas não está necessariamente
produzindo alfabetizados, principalmente para uma vida cidadã. Se a escola não alfa-
betiza para a vida e o trabalho, para quê e para quem ela alfabetiza? É possível seguir
apostando na democracia sem fazer os esforços necessários para aumentar o número
de leitores? Leitores plenos, não apenas decifradores de letras.
Nós temos que buscar soluções criativas envolvendo cooperação de bibliote-
cas abertas à comunidade. Programas, como o Comped, são fundamentais para difu-
são do livro universitário e nos parecem iniciativas centrais, de esforço coletivo de for-
mação de novos leitores e de formação da informação.
A terceira questão, relativa ao editor e às editoras, remete a esse velho ofício
de editar, essa atividade aparentemente antiquada que trata de livros e conteúdos. É
preciso não esquecer que o texto publicado em livro tem duas bases que são inalienáveis,
seja qual for o suporte dado ao livro. As bases são a criação editorial e a criação dos
conteúdos, sejam eles informativos, científicos, literários, culturais, etc. Esses são os
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
32
valores reais que o leitor busca ao adquirir um livro, independentemente de onde realize
essa aquisição, seja pela Internet ou no velho sebo do centro da cidade. O ofício de
editar, que mescla funções de arte e técnica, descobrindo e motivando autores,
interagindo na busca do texto certo e da expressão correta, dando-lhes aspectos for-
mais compatíveis na busca do conteúdo criado pelo autor, é imprescindível. E mesmo
que o livro desapareça em seu suporte atual, o que eu pessoalmente duvido, o editor
continuará presente como aquilo que popularmente chamamos a alma do negócio,
organizando adequadamente a avalanche de textos que chegam às mãos dos leitores.
O ofício de editor tem profunda relação com as atividades universitárias e
educacionais, já que o editor é aquele profissional que mais se aproxima do autor na
viagem do intelecto criador ao leitor. É também o editor que atua na defesa, por exem-
plo, da propriedade intelectual, dos direitos autorais de docentes e pesquisadores,
enfim, autores das nossas universidades e instituições. Aliás, a nossa associação está
firmemente empenhada no combate à pirataria dentro das nossas universidades. A
pirataria é um atentado intelectual e, em última instância, antes de ser um atentado
comercial, tem levado à destruição sistemática de cursos por toda a América Latina.
Para vocês terem uma idéia, os dados da ABDR mostram que a média de
cópias por aluno nas nossas universidades é de 70 páginas por mês. Por outro lado,
mais da metade dessas cópias não tem identificação, ou seja, o aluno não sabe o que
está lendo, e quem ele está lendo. Um dos grandes trabalhos da ABDR está sendo
identificar qual é o autor e qual é o livro que está sendo lido, para justamente buscar
direitos autorais.
E qual é o papel da universidade e da sua editora nesse contexto? Bom,
essas pequenas e complexas reflexões em torno do mundo do livro demonstram, a
meu ver, o quanto a universidade brasileira deve voltar-se, ou continuar voltando-se,
para essa atividade. De todos os pontos de vista examinados, disseminação de conhe-
cimentos e novas tecnologias, formação de leitores integrais e cidadãos, papel central
dos editores na ordenação da comunicação escrita, eu não consigo deixar de ver o
papel do ensino e da pesquisa universitária desvinculado de um forte setor de publica-
ções interagindo com as editoras nacionais e internacionais.
Daí, a partir dessas posições, vocês podem perceber até que ponto eu res-
peito o programa do Comped. Num país como o nosso, onde a urgência da educação
básica não pode deixar de desenvolver também o conhecimento desbravador de no-
vas fronteiras, cabe às instituições de ensino superior contribuírem para disseminar
seu conhecimento além de seus próprios muros. Para poderem contar com um instru-
mento privilegiado nas suas editoras e centro de publicação, devem atualizá-las, incen-
tivando-as a participar das novas e das tradicionais tecnologias.
E é justamente para alertar sobre essas questões, inserindo a editora como
preocupação estratégica da universidade e de sua função social, que a Abeu procura
interagir com a sociedade e particularmente com as autoridades acadêmicas, difundin-
do essas idéias. É uma associação que foi criada em 1987, hoje em fase de afirmação
e crescimento, com 84 editoras afiliadas, e que procura incentivar muitas universidades
a iniciarem o desenvolvimento dessa atividade. Vale lembrar aqui um parêntese, que a
editora universitária, por não ter fins exclusivamente comerciais, pode traçar para si
inúmeros projetos, desde o de ser uma editora que divulgará a produção científica
internacional, até aquela que preservará a cultura e a produção acadêmica de uma
microrregião. Nós, enquanto universitários e membros da sociedade brasileira, neces-
sitamos de ações pró-ativas, como essa do Comped. E do ponto de vista da Abeu, do
ponto de vista particularmente da minha universidade, da Unesp, da nossa editora, nós
estamos dispostos a buscar e a brigar pela construção de autores que preservem e
divulguem a nossa cultura, e também buscar leitores integrais. Eu gostaria, portanto,
de agradecer esta oportunidade de diálogo, e espero que ele sirva para que nós possa-
mos fazer parte dessa caminhada.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Denise Carrera (Cenpec)  Trabalho no Cenpec, que é uma ONG em São
Paulo da área de educação pública. O Fórum Mídia e Educação está desenvolvendo
um guia de fontes da área de educação para jornalistas. Esse guia, que tem o apoio do
Comped, visa justamente apostar nesse encontro entre os educadores e os
comunicadores, na pluralização das fontes que têm acesso ao espaço público. Já te-
mos cadastradas 287 fontes, entre ONGs, institutos de pesquisa, fundações empresa-
riais e agências de cooperação que falam sobre temas da área de educação. A idéia é
pluralizar essas fontes e esse material, que vai para 5 mil veículos de comunicação no
País. Esperamos contribuir para que os jornalistas e educadores possam se encontrar
mais e discutir melhor vários temas na mídia. O guia vai resultar numa publicação e
também numa base eletrônica que vai ser disponibilizada através do site do Fórum
Mídia e Educação.
Solange Castro (Inep)  Como se dá a relação das editoras com as bibliote-
cas? Como profissionalizar a relação do Estado, enquanto fonte de informações, com
os jornalistas?
Quem fala pelo Inep com os jornalistas é o setor profissional competente,
capaz de fazer esta transição entre a fala do especialista ou do gestor naquela ação
com o jornalista. Se não for assim, vai acontecer aquilo que você falou. O professor fala
quatro horas porque o negócio dele é dar aula, ele fica tentando explicar para o jorna-
lista, e quanto mais o jornalista faz aquela cara de não estou interessado, mais ele
tenta explicar, então ele fica quatro horas, é verdade. Então, acho que isso tem que ser
feito numa relação eminentemente profissional. Tenho tido muita dificuldade de ver
essa ação profissional em relação ao interlocutor da notícia.
A segunda questão tem a ver com as bibliotecas e os centros de informação.
O jornalista, poucas vezes, vai checar a notícia. Costuma ser noticiado que o Inep foi
fundado por Anísio Teixeira e, de imediato, tiram 12 anos do Inep. O Inep tem 62 anos e
não foi Anísio Teixeira quem o fundou. Se quiserem dar nome ao ministro, foi no tempo
do Capanema. Se quiserem dar o nome do primeiro diretor, foi Lourenço Filho. E eles
sequer checam. Isso saiu em tudo que é lugar. O nosso centro, por exemplo, o Cibec,
ele funciona para a checagem rápida de informações, e eu não vejo essa preocupação
de onde buscar a informação rápida para a checagem das entrevistas. Obrigada.
José Castilho Marques Neto (Abeu)  Essa questão é muito interessante,
porque evidencia um ponto delicado das editoras universitárias. A profissionalização
da editora universitária significa, em primeiro lugar, acabar com alguma velhacaria. As
editoras universitárias, a maior parte delas, serviram aos poderes de plantão. Durante
muitos anos foram editados livros do reitor, da esposa do reitor, do sobrinho do reitor,
Debate
Plenária
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
34
do afilhado do reitor, do cachorro do reitor, e etc. Essa é uma questão de poder. Tem
que ser e está sendo extinta, posso assegurar, por boa parte das editoras universitárias
que estão investindo na profissionalização de seus quadros.
Por outro lado, ao profissionalizar, estamos enfrentando alguns problemas
que se confundem com a missão das universidades públicas, que é a disseminação do
conhecimento de maneira gratuita. Falo isso mais diretamente da minha universidade,
que coloca uma intransigente defesa de que é possível para a editora universitária,
dentro do quadro atual da universidade, fazer com que uma parte das edições vá gra-
tuitamente alimentar as bibliotecas públicas. Mas isso não é possível porque a univer-
sidade não tem possibilidade financeira de sustentar isso, e, ao mesmo tempo, manter
uma atividade profissional.
Então, o que estamos tentando fazer pontualmente, ainda muito timidamen-
te, é tentar junto com alguns programas que começaram agora, fomentados por essa
situação de absoluta indigência da maior parte das nossas bibliotecas públicas, junto
também com editoras privadas, com a Câmara Brasileira do Livro e do Sindicato Na-
cional de Editores de Livros, buscar uma solução.
O projeto se chama Biblioteca Cidadã, que começa a se fortalecer. Ele bus-
ca motivar empresas a comprarem uma parte da tiragem dos livros que interessam às
universidades, às escolas públicas, etc. e destinar às bibliotecas. São paliativos, mas
são alguns passos que estão sendo dados. De fato, a biblioteca, como centro de infor-
mação, não pode deixar de ter um livro na sua estante, o que provoca, obviamente, a
questão da cópia reprográfica, por conseqüência, na própria biblioteca. Aliás, isso é
importante ficar claro, esclarecer essa posição não só da Abeu, como também da ABDR,
que envolvem editores comerciais. A questão da reprografia é tão internacionalizada,
como também a pirataria, que nós temos na Bolívia e no Peru duas feiras anuais do
livro pirata. Isso é motivo de riso. De fato, é uma coisa terrível, porque sai em jornal, não
é clandestina, primeira feira do livro pirata, segunda feira do livro pirata, é assim.
Além disso, há a pressão dos grandes grupos internacionais. As editoras destes gru-
pos, exatamente como os grandes provedores internacionais, Microsoft, etc., estão
cada vez mais dirigindo o que nós estamos lendo.
Todo esse complexo de coisas faz com que a editora universitária, ao se
profissionalizar, tenha que necessariamente deixar aquela postura de fazer livros e dis-
tribuí-los de graça. Ela precisa vender esses livros, para ao menos recuperar o seu
investimento. Isso dá muito mais trabalho. Recuperar aquilo que foi investido, e ao
mesmo tempo brigar pela democratização da leitura no País. São realmente questões
que ainda não têm nenhuma resposta. Acho que estamos buscando a resposta para
esses problemas.
Rachel Mello (Unicef)  Eu queria lembrar que uma das descobertas mais
maravilhosas do Seminário Mídia e Educação foi o conceito do educomunicador,
que é inspirado no Paulo Freire. Um pessoal do Núcleo de Educação e Comunicação
da USP, a professora Angela Shawn, vem trabalhando o conceito de educomunicador:
é um agente social que trabalha pela educação para a cidadania. E outro ponto impor-
tante, que é um desafio para todos, para educadores e comunicadores: é a educação
para a leitura crítica dos meios. É fundamental que as secretarias de educação e os
poderes públicos que geram política de comunicação pensem nessa tarefa.
Sobre a observação da Solange, vou começar pelo mais fácil. Checar notícia
é, enfim, uma tarefa de qualquer bom jornalista. Eu acho que a Internet vai nos ajudar
um pouco nessa tarefa. Uma das descobertas do seminário, que muito me chamou a
atenção, é que pouco mais de 10% dos jornalistas, assessores de imprensa nas secre-
tarias estaduais, têm acesso à Internet.
Se o produtor de informação em educação não se preparar para conversar
com a mídia, conscientizando-se de que não está dando aula e, por isso, não precisa
falar quatro horas, se ele não souber exatamente de que o jornalista precisa, o diálogo
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
continuará muito complicado. A assessoria de imprensa, como o próprio nome diz, é para
assessorar o jornalista. Ela deve assessorar o jornalista e não fazer o trabalho dele.
A resistência em conversar com jornalista, se ele não passar pela assessoria,
complica muito o trabalho dele na redação. Eu cobri a área de educação, trabalhei na
revista IstoÉ, e se você não fizer amigos na área que você cobre, o seu trabalho não
funciona. O jornalista viciado em release não ouve ninguém. E as assessorias de im-
prensa não podem continuar incentivando essa prática, que é um desserviço à infor-
mação de qualidade sobre a educação neste País.
Os assessores de imprensa têm um espaço que precisa ser compreendido
por seus superiores, pelos secretários, diretores, mas eles precisam fazer um trabalho
de aglutinar informação, de descobrir projetos legais em escolas. Eles precisam ir às
escolas. Tem assessor de comunicação que fica no ar condicionado e nunca foi a uma
escola. Eu fui. Quando o MEC lançou os Parâmetros Curriculares Nacionais, percorri a
região em busca de experiências interessantes em educação. Então liguei para a as-
sessoria, para a Secretaria de Educação, e pedi uma escola que fosse interessante,
que a gente pudesse visitar, que tivesse um trabalho legal. Foram muito solícitos, e nos
deram a indicação de uma escola. Disseram que essa escola era muito interessante,
que os professores tinham um trabalho muito legal.
Mas esse assessor nunca estivera naquela escola, porque quando o fotógra-
fo e eu chegamos, levamos um susto. A escola era simplesmente horrorosa, tinha teto
de zinco, a temperatura dentro da sala de aula era de 50 graus. Era impossível apren-
der naquele ambiente, os ventiladores não funcionavam. A sala de TV, apesar de a
professora contar que usava muito a TV Escola, era um lugar trancado e parecia uma
jaula para não roubarem a televisão. E a sala de aula de segunda série, por exemplo,
que se faz com 8 anos, tinha diversas crianças com 14 ou 15 anos de idade. Então, a
professora, que o assessor de imprensa achava que era ótima, compunha as músicas
e ensinava os temas com as músicas, e era realmente um trabalho interessante. Só
que eram músicas feitas para crianças de 8 anos de idade. E você tinha naquela sala
de aula alunos repetentes, de 13, 14 e 15 anos absolutamente constrangidos em cantar
a musiquinha que a professora ensinava.
E essa era a escola-modelo? Era o que o assessor de imprensa entendia como
escola-modelo, sem nunca ter ido àquela escola. O assessor de imprensa e os chefes
dos assessores de imprensa precisam compreender que eles têm de sair da secretaria,
da sede e encontrar experiências legais. A Andi faz um monitoramento, e há uma carên-
cia por experiências positivas nesse país. Os jornais estão sedentos de experiências
interessantes, de boas pautas, por isso o assessor precisa conhecer as escolas, conver-
sar com os professores, com os diretores, com os presidentes das associações de pais
e mestres. Ele precisa fornecer ao jornal as experiências positivas e interessantes que
estão acontecendo. Ele precisa estar apto a oferecer pautas que não sejam a mulher do
secretário, o filho do secretário, o cachorro do secretário e o próprio secretário.
Solange Castro  Sou diretora de disseminação. Quando digo que não falo
com jornalistas, é porque entendo o seguinte: ou as instituições aprendem a profissionalizar
os seus setores de assessoria de comunicação ou a instituição e seus dirigentes serão
expostos aos mais absurdos ridículos durante todo um período. Eu jamais falo com jor-
nalistas, porque não é minha função. Para isso, o Inep foi altamente profissionalizado, de
maneira que a informação produzida pelo Inep passa por vários níveis de trabalho, que a
prepara para o público a que ela se destina. Se esse público no momento é o jornalista,
o Inep tem o interlocutor certo para ele. Então, ou você profissionaliza essa área, ou
teremos esse tipo de coisa. Não estou falando daquilo que é malfeito, estou dizendo de
uma profissionalização bem-feita, em que você tenha os vários papéis definidos dentro
da instituição. A informação tem que ter um filtro profissional, para que tenha acesso ao
público a que é dirigida. Isso é o que eu chamo de profissionalizar.
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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Participante  A notícia, acho que ela é vista hoje e sempre como um co-
mércio, é uma mercadoria a ser vendida. A gente sabe que ela é um comércio, é um
negócio, e como um negócio, ela tem que ser discutida como tal. Então eu pergun-
taria, como podemos negociar com os donos de jornais que, na sua grande maioria,
são pessoas que têm interesses políticos ou são representantes do parlamento, e
que têm uma política de comunicação?
Por outro lado, como é que está se dando o trabalho no nível do dono de
jornal, dono de televisão, por exemplo, Roberto Marinho, que é um poderoso da comu-
nicação no País? Como será a negociação a partir de cima? Porque, às vezes, não é um
jornalista, não é quem está na redação do jornal que está resolvendo a problemática.
Essas questões são importantes quando a gente vai tratar do fato, quando a gente vai
tratar a notícia. E que notícia?
Ezir Melo (Jornal A Gazeta - AC)  Antes de discutir educação, a gente
também teria que discutir a comunicação social, o papel da imprensa. O Paulino Motter
falou do interesse do repórter pela matéria. Eu não coloco o interesse do repórter, colo-
co o interesse do meio de comunicação, o jornalista fica pegando tudo, né? Mas se
num dia só me chegam duas pautas da área de educação, uma de uma escola que foi
quebrada pelos pais de alunos porque não conseguiram vaga para matricular os filhos,
a outra que tem uma escola-modelo com experiência ótima, o meu editor vai dizer que
só tem um espaço, e adivinhe qual é? Os senhores sabem a resposta. Então, teria que
se discutir primeiro o papel da comunicação nesse país.
Vocês falaram da questão da especialização, da qualificação e também da
falta de preparo do repórter em trabalhar com educação. Até onde eu sei, acho que em
todo o País, os meios de comunicação cada vez mais estão apostando em
desespecializar. Estão acabando com as especializações. Eu queria que a Rachel
Mello falasse depois sobre esse tema.
Rachel Mello  Sobre a Solange Castro, eu só aproveitei a sua fala para
expor um pouco a respeito do papel da assessoria de imprensa, sem nenhuma dema-
gogia. O Inep é realmente um lugar onde a assessoria funciona, num modelo interes-
sante. É uma experiência que deveria ser compartilhada.
Vou falar rapidamente sobre vender o jornal. Eu acho que cada vez mais se
globaliza e cada vez mais se olha para o próprio quintal. O desafio dos jornais locais,
regionais, é uma notícia que vende, é a prestação de serviço. A educação precisa ser
encarada como um direito da pessoa e uma obrigação do Estado e da sociedade. Se o
jornal fizer este papel de prestador de serviço, acho que a notícia vende e qualquer
bom editor e qualquer dono de jornal esperto vai entender isso.
Sobre a opção entre a cobertura de uma escola quebrada e uma boa experi-
ência em educação, a escola quebrada é uma pauta muito mais interessante para a
cobertura do jornal, porque se espera que a escola quebrada seja um fato pontual. E a
experiência positiva vai ficar lá. Se a escola foi quebrada hoje, o jornal cobre o fato hoje,
amanhã, depois. O mesmo jornal pode garantir espaço para a experiência positiva
mais tarde. Quer dizer, uma não descarta a outra.
Acho que esse entendimento, tanto dos comunicadores como dos educado-
res, de que educação é um direito, pode nos ajudar a construir também essa relação
de respeito. Na secretaria, ninguém deveria achar ruim o jornal cobrir a história da
escola quebrada. Na verdade, o secretário deveria se reunir com a sua equipe e resol-
ver o problema pelo qual a escola foi quebrada. Claro, como editora, como dona de
jornal, dou a notícia da escola quebrada. Eu daria um mês de pauta para uma escola
quebrada, porque o que leva um pai a quebrar a escola onde o filho estuda? É porque
a escola não há de ser boa. Pai nenhum quebra escola onde o filho estuda porque a
escola é ótima. Bom, enfim, é uma discussão eterna.
37
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Acho que respeito é fundamental, profissionalização é fundamental; acho que
a gente tem um desafio enorme aí para resolver. Especializar-se em educação é ótimo
se você cobra educação, mas ao mesmo tempo os jornais não podem se dar ao luxo
de ter um repórter para cada setor. Eu não sei como é que se vai resolver isso. Por
exemplo, o Correio Braziliense está desconstruindo as editorias, ele pretende ter jorna-
listas que cubram bem todas as áreas. Isso, por um lado, é ótimo, porque você tem
uma pessoa que tem uma visão global da notícia, mas, por outro, é um risco.
39
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Painel 2
Experiências de acesso e emprego
de informações em processos
de gestão educacional
Coordenação
Walter Garcia
Presidente da ABT
1
Artigo publicado na Revista
Brasileira de Estudos Pedagó-
gicos, Brasília, v. 79, n. 193,
p. 161-168, set./dez. 1998.
Osmar Fávero
Professor e Coordenador da Pós-Graduação de Educação na UFF
Devido a problemas técnicos na gravação, não foi possível registrar a apre-
sentação. Entretanto, o Professor Osmar Fávero relatou e discutiu os resultados e im-
plicações da pesquisa Análise dos periódicos brasileiros de educação, realizada por
ele, por Cristina Ortega e Walter Garcia.
1
O estudo consiste no levantamento dos periódicos correntes produzidos no
Brasil sobre educação, realizado em bibliotecas localizadas na cidade de São Paulo. A
análise classifica-os em duas categorias: periódicos científicos (gerais, especializados)
e periódicos genéricos (de divulgação ampla, de divulgação restrita). O resultado é um
catálogo com 120 referências, que compreende periódicos e séries educacionais.
José Leão da Cunha Filho
Secretário-Geral do MEB
Devido a problemas técnicos na gravação, não foi possível registrar a apre-
sentação do secretário.
Heloísa Lück
Coordenadora Nacional da Renageste
O primeiro encontro que possibilitou a reunião e a congregação de esforços
de pessoas do Brasil inteiro para instituir a Renageste foi patrocinado pelo Inep, a um
custo de R$ 63 mil na ocasião, em 1996. Renageste é uma sigla para Rede Nacional
de Referência em Gestão Educacional, criada em 1996. Inúmeras organizações, den-
tre as quais algumas estão aqui, foram mobilizadas para participarem de um fórum
do Consed, onde o projeto da Renageste foi apresentado. Todas as organizações
gostaram muito, apoiaram e, então, foi decretado que a Renageste era um projeto do
Consed muito interessante para ser realizado. O objetivo geral da Renageste era, e
continua sendo, o de contribuir de uma maneira sistemática e efetiva para o avanço
da gestão educacional brasileira.
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
40
Na última década, muitos esforços foram concentrados em torno do desenvol-
vimento da gestão. Este fórum foi iniciado tendo em vista o fato de verificarmos que as
ações para o desenvolvimento da gestão estavam todas concentradas nos órgãos de
governo e pouco disseminadas na sociedade. Observando a literatura, verificava-se uma
meia dúzia de autores conhecidos trabalhando em torno da gestão. Quando havia um
encontro, eram sempre os mesmos que apareciam, com as mesmas notícias, e muitos
deles mais centrados na academia do que propriamente na ponta onde acontecia a
gestão e onde se aprendia a gestão.
Temos uma literatura riquíssima na ponta que não é valorizada, e temos uma
literatura na academia que é muito valorizada. Mas as duas não se falam. Então, o
objetivo da rede era o de vir a criar massa crítica, pessoas em todos os âmbitos e
segmentos que viessem a pensar em torno das questões de gestão. Com esta massa
crítica pensando e produzindo, iríamos fazer uma construção de um referencial teórico
mais aberto e próximo da realidade, e colocar em evidência a produção científica da
ponta. E cabe aqui uma observação muito importante: partimos do pressuposto que a
construção do conhecimento significativo ocorre onde está a ação.
Em vista disso, foi pensada a Renageste para ser formada por um grupo de
pessoas vindas de cada Estado, para que todo o Brasil fosse energizado por essa idéia
de rede, de desenvolvimento em rede. Estas pessoas seriam representantes das se-
cretarias de educação, das secretarias de Estado da educação, de municípios, das
universidades, das instituições de ensino superior. Enfim, pessoas que tivessem certas
características pessoais e profissionais diferentes, que fossem líderes, mobilizadores
interessados em fazer uma prática diferenciada e em sistematizar o conhecimento em
torno dessa prática e em divulgar esse conhecimento.
O papel da rede era justamente o de dinamizar a comunicação dessas pes-
soas e estabelecer uma rede eficaz. Reparem o seguinte: basta os governos dizerem
que este é o programa de capacitação para começarem a surgir questionamentos.
Este é o sistema de gestão? É isso mesmo? Eu tenho trabalhado em capacitação
tanto no sistema público como no privado, muitas vezes com o mesmo dinamizador,
instrutor, professor. No entanto, quando o programa é organizado por uma instituição
particular, o negócio tem uma motivação, e quando é organizado pelo Estado, o pes-
soal diz que estão querendo ensinar para depois tirar o couro da gente, de alguma
forma. Então, a rede não pertence à secretaria de educação, muito embora o coorde-
nador seja indicado pela secretária de Educação. O papel da rede não é trabalhar a
política do governo, da pessoa que está coordenando, mas servir de fórum de dis-
cussão, de capacitação, de sistematização de idéias, paralelamente às ações de go-
verno. Às vezes apoiando durante, às vezes apoiando depois, às vezes apoiando
antes, como se fosse um fórum de pessoas que refletem, ensaiam idéias, e depois
essas idéias entram para os sistemas.
Temos observado que, nos Estados onde a Renageste está organizada, isso
está ocorrendo de uma maneira muito interessante, sistematizada por meio dessas
pessoas. A Renageste não foi pensada para envolver inicialmente todas as escolas;
pensamos em crescer devagarinho, porque o que faz a rede são as pessoas. A rede
não é motivo para viajarmos, fazermos encontros aqui, lá ou acolá. A rede é, sim, uma
centelha, uma idéia que nos torna ligados uns aos outros por uma motivação: o desen-
volvimento da gestão.
Temos, também, o objetivo de produzir pesquisas mais simples e direta-
mente ligadas ao processo de decisão. Entendendo-se, é claro, uma decisão que
tenha não apenas informações, mas interpretações a partir da sua contextualização.
Já participamos de uma pesquisa de mapeamento de ações de descentralização da
gestão, realizada pelo Consed e Ipea, divulgada no ano passado. Os membros da
Renageste do Brasil inteiro ajudaram a validar um instrumento, a coletar os dados e a
produzir um relatório.
41
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Estamos sempre atrás de pontos de referência. O bench mark ou ponto de
referência é um termo que veio da topografia: é a identificação de um ponto de refe-
rência em torno do qual as coisas serão construídas. A partir de 1980, esse termo foi
divulgado principalmente no âmbito das empresas, mas o que se reconhece é que
todos nós, para nos desenvolvermos, necessitamos de boas referências. E as boas
referências não são isoladas, elas ocorrem em rede.
Trabalhamos, também, com a idéia de que não apenas precisamos de boas
referências para nosso desenvolvimento, como também devemos ser boas referên-
cias. É em torno dessas idéias que surgiu, por exemplo, o Prêmio Nacional de Re-
ferência em Gestão Escolar. É em torno dessas idéias que está sendo desenvolvido
um programa de capacitação a distância de diretores escolares, cujo material deve-
rá ficar pronto em setembro deste ano. Brevemente, vamos ter a divulgação desse
programa.
Trabalhando na rede, verificamos que há altos e baixos em todas as ações.
De repente alguém tem algum problema, e a rede fica interrompida. Por exemplo, quando
houve a mudança de governo, um ano e meio atrás, mudaram-se os secretários de
educação. Muitos indicaram novas pessoas para serem os coordenadores da rede, e
alguns Estados não indicaram nenhum; então, isto gerou uma perda de ritmo da rede.
Mas é uma perda de ritmo que nos ajuda a fortalecer, para crescer mais ainda.
Um dos fatores mais importantes para o desenvolvimento da rede tem sido a
divulgação de um instrumento para congregar esta produção da Renageste, que é a
revista Gestão em Rede. É uma revista que no mês de abril está no número 19, lançada
oito vezes ao ano, com 24 páginas. Tem um formato que é muito bem aceito, divulgan-
do questões tanto de sistemas quanto de escolas, mas, sobretudo, de escolas, porque
são essas pessoas que estão contribuindo mais para a divulgação. É uma revista inte-
ressante do ponto de vista de quem está na ponta, com depoimentos fantásticos.
Uma diretora que ganhou o Prêmio Nacional de Referência em Gestão, lá
do Rio Grande do Norte, deu o seguinte depoimento: Eu já tinha me aposentado, não
queria saber mais nada de educação, eu queria descansar. Mas comecei a folhear a
revista Gestão em Rede e descobri que eu não fiz algumas coisas que poderia ter sido
feitas, quando diretora. Então eu resolvi voltar. Ela voltou, trabalhou e ganhou, junto
com a sua escola, o Prêmio.
Para finalizar, gostaria de dizer que todos que estão aqui presentes fazem
parte da rede, direta ou indiretamente. Mas nós só vamos transformar a nossa educa-
ção formando uma rede comprometida com os resultados.
43
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Rosa Torte (Fundação Cesgranrio)  Pergunta ao professor José Leão. Uma
vez que a meta do Programa Alfabetização Solidária é a erradicação do analfabe-
tismo, como anda a troca de informações e as possíveis articulações entre o MEB e o
Programa Alfabetização Solidária?
José Leão da Cunha Filho (MEB)  Temos tentado nos articular com todas
as iniciativas. Dentro do MEB, mantemos uma rede composta por 15 departamentos,
mais 52 outras entidades no Brasil, atingindo 16 Estados, que estão vinculadas à alfa-
betização. Boa parte delas está relacionada com o programa Alfabetização Solidária,
que tem sido, para nós, um grande estímulo. É um programa que prestou bastante
atenção aos dados da situação de analfabetismo nos municípios.
Não é que o trabalho feito pelos organismos populares não tenha valor. O pro-
blema é que a alfabetização feita pelos organismos populares, via de regra, é feita com
uma motivação que é maior do que puramente pedagógica. Mas por não dar muita aten-
ção a esse aspecto, e por envolver um pessoal nem sempre profissionalizado, em geral
são voluntários, os organismos perdem um pouco a perspectiva desse tratamento.
Estou chamando a atenção aqui para uma das coisas que esse setor precisa
aprender: é que a melhoria da qualidade da nossa ação não pode ser feita de maneira
isolada. Para isso, é preciso não apenas repensar o perfil das pessoas envolvidas nes-
se programa, mas também a articulação com o Alfabetização Solidária, com o minis-
tério, com os organismos que estão pensando e fornecendo esses dados. O que está
acontecendo de interessante conosco é poder observar que, cada vez mais, os orga-
nismos populares usam os mesmos dados que servem de base para a ação do Alfa-
betização Solidária. A intenção, muitas vezes, pode ser diferente, mas a disposição
dos organismos no Brasil inteiro é de aprender, de convergir.
Miro Nalles (Ação Educativa)  Pergunta para o professor Osmar Fávero. A
Ação Educativa trabalhou muito tempo em parceria com a ANPEd na realização do
CD-ROM das teses e dissertações. Por que a ANPEd não monta um banco de dados de
teses e disponibiliza isso no seu site? Por que não disponibilizar artigos e periódicos via
Internet? Hoje todo mundo produz eletronicamente esses arquivos. Isso poderia ser vei-
culado via Internet? Como exemplo, estamos começando a organizar uma base de da-
dos latino-americana ligada ao Conselho de Educação de Adultos da América Latina e
Caribe, composta por diversas entidades da América Latina. A idéia é que todo o material
produzido na área de educação de adultos na América Latina seja disponibilizado em
uma base de dados. Para isso, existirão centros descentralizados de acordo com os
temas, em vários países, responsáveis pela indexação e tratamento desse material, que
pode ser recuperado em qualquer um deles. São apenas perguntas e sugestões.
Debate
Plenária
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
44
Nilda Alves (ANPEd)  A produção dos disquetes pela ANPEd é impraticá-
vel. Venho discutindo com alguns colegas a necessidade de pedir ao aluno uma cópia
do disquete da tese. Isso, os programas podem ter. E até recuperar teses, porque
muitos alunos ainda estão muito próximos. Na hora do depósito do exemplar em pa-
pel, seria feito também o depósito da tese em disquete. Eu mesma tenho uma coletâ-
nea pessoal de disquetes de participações em bancas. Sistematizar isso ajudaria muito
à divulgação.
Agora, o que eu quero discutir um pouco é a questão da receptividade das
nossas iniciativas. Quando, em determinada banca, o candidato defende a sua tese,
ele faz referência a material que efetivamente não está na sua bibliografia.
Freqüentemente, ao dar as respostas, ele demonstra conhecimento de leituras que
não foram incluídas na bibliografia. Isso, obviamente, tem relação com um processo de
orientação que nós precisávamos discutir no âmbito dos nossos programas. O
classicismo dessas orientações diz que é obrigatório citar fulano, cicrano e beltrano e
não outras coisas. Outra situação, comum em seminários de professores organizados
pelos sindicatos, é que os professores quando fazem as perguntas sempre se referem
a leituras que eles fizeram. Então, acho que é preciso ter, em primeiro lugar, uma dis-
cussão do nosso classicismo de orientação nos programas e da imposição de certos
nomes estarem dentro do texto. Uma excelente ponta para saber isso seriam os sindi-
catos de professores e os seminários que eles realizam. Eu acho que seria uma manei-
ra bastante interessante de descobrir efetivamente o que se lê na área de educação.
Participante  O Miro Nalles tem toda razão. É preciso ter uma sistemática
mais ágil. Nós não conseguimos sequer a divulgação de pesquisas e artigos em rede,
como sumário ou como informação. Ainda não temos nem o referencial de onde é que
isso pode ser obtido. E, Nilda Alves, afinal de contas, por que a bibliografia aparece nas
teses, quando ela não está de jeito nenhum nas bibliotecas? A coleção Cadernos de
Educação está parada há cinco anos. Nós chegamos à conclusão que, na verdade, as
teses são construídas com material da biblioteca do professor orientador. Não é a bi-
blioteca da universidade. E nós temos, como orientadores, o vício de facilitar o acesso
sem passar pelas bibliotecas. É bem isso que a Nilda disse, eu tenho uma coleção de
CD, a Nilda tem uma coleção de teses, vai-se emprestando, vai-se disseminando por
aí. Nada disso foi institucionalizado. Nilda, eu comecei a prestar mais atenção nos pe-
riódicos que estão vindo de algumas instituições sindicais e tenho encontrado boas
surpresas. Por exemplo, a Revista do Cepe, do Rio, rejuvenesceu de repente. Outra
surpresa foi pegar o Boletim Técnico do Senai e descobrir dois trabalhos publicados
como prêmios de estudos, trabalhos derivados de dissertações e de teses. Entre cinco
ou seis trabalhos, dois derivados diretamente dos nossos alunos. Nós nunca olhamos
com cuidado como é que está o tratamento na Presença Pedagógica, na revista de
ensino do sindicato. A nossa perspectiva tem que ser ampliada. Precisamos ver como
é que a informação está chegando à biblioteca, à base, ao sindicato, às associações
profissionais e também como ela está sendo divulgada nesses ambientes.
Participante  Uma das funções fundamentais do Comped é mapear a natu-
reza, as condições da produção da informação na área de educação e as lacunas. Ele
está apontando claramente um princípio de mapeamento e a necessidade urgente de
fazer esse estudo. Ontem, foi impressionante o dado oferecido pelo José Castilho de
que o consumo de cópias xerográficas na universidade está em torno de 70 páginas
por aluno, a respeito de trabalhos que não são devidamente identificados. O aluno lê e
não sabe. Eu diria mais, se não fossem as cópias xerográficas, o ensino superior no
Brasil estaria inviabilizado. Eu tenho na Faculdade de Educação da Universidade de
São Paulo entre 70 a 80 alunos em cada turma, nos cursos de graduação. Conside-
rando que os periódicos não chegam à faculdade em tempo hábil, se o professor não
45
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
levar o material e não o colocar à disposição dos alunos para eles tirarem xerox, é
impossível realizar os estudos necessários.
Imagino que em outros níveis há dificuldades. Os estudos na linha da disse-
minação e da utilização pelos usuários também são mais que urgentes. É essencial
trabalhar melhor com a utilização da tecnologia da informação. Sobre a questão da
disponibilização na Internet, em São Paulo, a Fapesp está colocando on-line as revistas
científicas em todas as áreas. É um programa de Harvard que está sendo trabalhado
aqui no Brasil, e a intenção é fazer isso na América Latina. A idéia é começar no Estado
de São Paulo e estender para Brasília. Esse programa viria para o CNPq e, depois,
abrangeria o continente.
A América Latina já amadureceu consideravelmente no desenvolvimento de
pesquisas e conhecimentos sistemáticos da área científica de um modo geral, mas tem
um mecanismo absolutamente incipiente de disseminação, tanto interna quanto exter-
namente. Os países desenvolvidos não conhecem o que a ciência produz abaixo do
Equador. Desse modo, estamos começando a colocar essa produção on-line. Na área
de educação, estamos experimentando alguns periódicos. A idéia não é substituir o
texto impresso pelo texto on-line, mas usar os dois veículos. Muitos veículos acadêmi-
cos são produzidos por entidades que têm na venda dos periódicos a sua principal
fonte de manutenção. De qualquer maneira, são aberturas possíveis. É preciso, no
entanto, um estudo mais aprofundado das formas de utilização e disseminação do
conhecimento na área.
Heloísa Lück (Renageste)  Existe uma produção no âmbito das secretarias
de educação e, também, no Ministério da Educação. Em função da Renageste, eu
estive procurando identificar o que existe de produção sobre gestão. Em muitos casos,
é um material de muito boa qualidade, em outros, um material único e exclusivamente
produzido para colocar uma logomarca de governo. Mas, de qualquer maneira, eu
creio que deve haver um conhecimento desse material por parte das instituições e de
uns Estados em relação a outros. Nós observamos que cada governo que assume
produz o seu próprio material, desconsiderando aquele previamente existente no seu
próprio Estado, ou às vezes existente em outros Estados ou no MEC. Isso faz com que
grandes somas sejam gastas e se delongue uma ação enquanto o material não fica
pronto para apoiá-la.
Desse modo, eu creio que deveria haver algum mecanismo de sistematiza-
ção deste material de divulgação, não apenas para evitar a questão do gasto desne-
cessário, a delonga do tempo, mas para permitir que aquelas pessoas que estão se
formando para trabalhar no sistema educacional saibam o que está acontecendo e
quais são as tendências. É um farto material de pesquisa educacional. Com relação à
revista Gestão em Rede, ela tem uma divulgação de 10 mil exemplares, o que é muito
pouco para o Brasil inteiro. A revista é feita de acordo com os recursos que dispomos.
Ela está disponível para assinatura a R$ 32,00, no caso de uma assinatura individual, e
a R$ 28,00, no caso de uma assinatura institucional, de uma secretaria de educação
para o seu sistema. É preciso compreender que a maior parte desse custo é de correio
e de divulgação do material.
Participante  O professor Osmar Fávero disse que a produção da Região
Norte é mínima ou residual. Será que não existe mesmo produção acadêmica nessa
região ou ela não é disseminada, professor Osmar?
Osmar Fávero (UFF)  Não é disseminada, com certeza.
Participante  Eu acredito que é necessário haver uma maior articulação
entre as regiões, entre os educadores, e até mesmo uma decisão política das universi-
dades, das instituições. Até quando vamos continuar colocando Rio de Janeiro e São
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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Paulo como líderes da disseminação e produção de conhecimento, quando isso não é
um fato verdadeiro? De fato, existe conhecimento em todos os lados desse País, em
todos os Estados. E não é possível que não haja registro dessa informação para a sua
disseminação e o crescimento do coletivo da educação no nosso país. Então, eu acre-
dito que é preciso um plano no sentido de mudar essa realidade.
Divonzir Gusso (Ipea)  Eu vou chamar a atenção apenas para três pontos,
para ordenar e discutir apropriadamente cada uma das coisas que foram levantadas.
Eu diria o seguinte: hoje qualquer conjunto de informações está segmentando as de-
mandas, os interesses e a maneira de resolver os problemas. O Osmar Fávero e a Nilda
Alves trataram de coisas absolutamente esquecidas na concepção de universidade
brasileira, que é a infra-estrutura de conhecimento e informação da universidade. É um
pouco diferente do caso que temos exemplificado, da Renageste. Todos aspiram che-
gar até a escola, mas as mediações de cada um desses sistemas são completamente
diferentes.
Outra coisa que estamos precisando fazer é olhar para fora, para não correr o
risco de ficar olhando para o próprio umbigo. Então, em função até do Comped, tenho
procurado analisar não só como estão aparecendo os sites de educação no mundo,
mas em que contexto. O que leva a surgir o site, o tipo de link que ele tem, e como é
que ele dissemina? Qual é o usuário da Renageste? São quase dois milhões de pes-
soas, professores da educação básica.
O alcance de periódicos acadêmicos é diferente, o universo do material para
fazer tese alcança 60 mil, 70 mil pessoas. Então, temos que pensar nessa escala. Qual
é a organização e a tecnologia que precisamos para isso? Os sites são muito simples,
muito baratos e isso permite uma agilidade e um custo muito menor do que em siste-
mas centralizados. Hoje cada usuário tem um computador, é fácil pensar um sistema
de reprodução interno-infra-estrutural à própria academia. Agora, se formos pensar
naquela escala da Renageste, a coisa é muito maior. Pode ser centralizado. Não adian-
ta pensar em rede nessa escala. Rede são múltiplos centros, é uma distribuição enor-
me de responsabilidade, e conseqüentemente de custos, e de possibilidades de finan-
ciamento. Imagine montar um sistema de US$ 1 bilhão num centro? Ou obter o mesmo
resultado com US$ 50 mil ou US$ 60 mil distribuídos em vários centros. Essa é uma
questão para refletirmos.
Solange Castro (Inep)  Eu tenho uma pergunta a respeito dos periódicos e
outra sobre as teses. As pessoas não sabem que podem escrever em tais periódicos.
Elas desconhecem como enviar seus trabalhos para os periódicos ou, quando sabem,
temem o conselho editorial. A Rbep é a mais tradicional das revistas de educação e
temos uma tremenda dificuldade para buscar os artigos. Como o Inep é também depo-
sitário das teses, mantemos o registro delas, colocamos na Rbep e na BBE. E está
disponível, mas é um acervo muito pouco usado. Então, eu queria que você me res-
pondesse o seguinte: há uma preocupação de disseminação nesses periódicos? Como
funciona esse mecanismo de publicação? Os conselhos editoriais estão abertos?
Denise Carrera (Cenpec)  Através dos seminários da Comped estamos
respondendo ao desafio da disseminação. Gostaria de levantar algumas questões.
Para o José Leão eu gostaria de perguntar: como o MEB utiliza a informação educa-
cional gerada por outros organismos na mobilização social, na influência de políticas
públicas educacionais? Ao professor Osmar Fávero, eu gostaria de reforçar a fala da
Solange Castro. Qual é a importância do tratamento diferenciado da informação para
diferentes públicos?
José Leão da Cunha Filho  É importante lembrar que o desafio para nós
não está tanto na disseminação, mas na produção. Esse é o nosso primeiro desafio.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Essa produção até existe e algumas ONGs produzem isso muito bem, mas o problema
é o que nós estamos checando na ação concreta do município. É preciso que lá exista
uma produção mínima para poder servir de base para o diálogo com a produção que
está chegando.
Até existe. O problema é que essa pessoa termina, simplesmente, sendo re-
ceptor de uma informação e não tem a menor condição de diálogo com ela nem com a
própria realidade. Isso está criando obstáculos para a execução da ação pelos grupos
populares. Então, estamos preocupados com que o professor, na ponta, comece a de-
senvolver o conhecimento de sua própria ação e faça isso simultaneamente no encontro
com a produção que chega de fora. Por último, uma das questões que estamos tentando
enfrentar é o modo de fazer a introdução daquela produção, que é do nosso interesse. E
também da que é necessária produzir localmente, como objeto da própria formação do
alfabetizador e como conteúdo da ação alfabetizadora. Isso ainda não sabemos como
fazer. O conteúdo da ação alfabetizadora não é só das turmas, é também fruto da articu-
lação com os outros organismos no município, secretaria ou outras ONGs.
Osmar Fávero  Três pontos. Primeiro, retomando à questão da Amazônia,
eu não quis dizer, de jeito nenhum, que não há produção. Não há disseminação dessa
produção, e a gente só conhece as coisas de lá quando vai lá e traz. Esse é o proble-
ma, e esse é um vício da produção mais doméstica, porque ela praticamente só circula
no centro, só no programa, na faculdade, às vezes não troca nem com a faculdade
vizinha, nem com o centro vizinho e tal. Isso é uma endogenia, e mais ou menos vicia-
da. Essa perspectiva de se expandir não está aparecendo. Publicou, colocou num arti-
go, publicou num relatório, e pronto.
O segundo ponto se refere à fala da Denise Carrera. Ela reforça a primeira
parte da produção, ou seja, a primeira parte da fala da Solange Castro. Efetivamente
fazer tese e dissertação, fazer relatório de pesquisa é meio caminho andado, mas se
não se transforma isso em alguma coisa que possa ser divulgado e que possa ser
consumido e debatido, não adianta. Parte disso é feito nos eventos, mas é um esforço
suplementar. A área de educação não tem a prática de produzir um relatório num for-
mato de ensaio. Não tem o hábito de divulgar sua produção numa linguagem menos
acadêmica, menos fechada. O que se tem percebido é que o pessoal que tem vínculo
com sindicato, com movimento social, faz essa passagem bastante bem. Isso tem que
ser incentivado.
Finalmente, o acesso a essas revistas é razoavelmente difícil, não só para
alunos e iniciantes, mas também para professores, embora as normas sejam publicadas.
O acesso é difícil, e a decisão de publicar é muito lenta, demorada. De acordo com as
informações de alguns editores e periódicos de educação, o intercâmbio paga, inclusi-
ve com sobras, todos os gastos para se fazer uma revista.
Se todas as revistas que eles recebem por força do intercâmbio tivessem que
pagar assinaturas, eles gastariam muito mais do que eles gastam para fazer sua revis-
ta. De todos os periódicos que foram analisados, são 120, se todos os editores resol-
vessem propor um intercâmbio mútuo de um exemplar ou de dois, o que não é muito,
em termos de custo, eles ganhariam 119 periódicos que estariam fazendo parte da sua
biblioteca. Chegamos até a pensar que isto poderia constituir parte de um programa de
assinaturas financiadas. Pelo menos para este ano não foi possível, mas acho que o
intercâmbio poderia suprimir todos os problemas que estão identificados.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Metodologia
No segundo dia do evento, os participantes foram divididos em três grupos. O
trabalho teve por objetivos: (i) ampliar o quadro de questões/considerações sobre a situ-
ação da produção, disseminação e uso da informação educacional e; (ii) esboçar estra-
tégias/ações para a melhoria da disseminação de informações educacionais no Brasil.
Durante a primeira fase do trabalho, discutiram-se as diferentes necessida-
des informacionais existentes na área educacional. Em duplas, as pessoas debateram
o seguinte tema:
l Quais as necessidades de informações educacionais do sistema, da es-
cola, da comunidade/ONGs e em geral?
Cada dupla escreveu em tarjetas os principais pontos da discussão, que fo-
ram afixadas no quadro, para visualização coletiva.
A segunda fase do trabalho em grupo visou ao aprofundamento da discus-
são e ao levantamento das ações estratégicas. O grupo escolheu um relator, e foi deba-
tida, com todos, a seguinte questão:
l Que estratégias/ações podemos propor para melhorar a disseminação de
informações educacionais no Brasil?
Na plenária final, os(as) relatores(as) apresentaram a síntese das discussões
realizadas em cada grupo.
Grupo 1
As estratégias propostas são as seguintes:
l criação e/ou consolidação de banco de dados de experiências exitosas
para subsidiar a produção, de forma articulada com os diferentes setores produtores
de informações educacionais;
l descentralização das informações através do uso de várias mídias, desta-
cando-se o rádio;
l fomentar a discussão entre a mídia e as assessorias de comunicação de
órgãos educacionais;
l promover concursos e premiações para experiências exitosas de produto-
res de informação educacional;
l estimular e promover concursos para os divulgadores de informação
educacional;
Trabalhos em grupo
Resultados
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
50
l promover campanha de sensibilização dos órgãos de imprensa em relação
à disseminação da informação educacional;
l na realização dos encontros do Comped, incluir sempre a mídia, a fim de
estabelecer a reflexão crítica;
l criar bibliotecas públicas abertas 24 horas.
Grupo 2
Foi observada a ausência de relações sistêmicas entre o produtor da informa-
ção e o educador: é aquela distância entre quem produz a informação e o profissional
da área da mídia que faz essa comunicação. Por outro lado, levantamos também pou-
ca utilização na mídia eletrônica, por falta de hábito e por conta da restrição de acesso.
Existe grande dificuldade da disseminação pelos meios de comunicação de massa.
Foi observado que a questão educacional não tem realmente um espaço nos meios de
comunicação de massa. Com relação ao uso restrito de meio eletrônico, isso pode ser
atribuído até mesmo à falta da informação para a utilização. Em conseqüência, a cópia
xerox tem sido muito utilizada para compensar tanto a falta de acervo das bibliotecas
como a falta de concepção do uso da eletrônica. Nós levantamos a questão da xerox,
que foi examinada como o proibido permitido. A cópia xerox é muito utilizada, e o uso
do livro realmente não é estimulado, até pela metodologia de trabalho. Quando o pro-
fessor vai trabalhar em sala de aula, já vem com o texto definido, não vem com uma
temática provocativa, que estimule o aluno a trabalhar com diferentes autores.
Em relação às estratégias:
l implementar estruturas de mediação e utilização, junto às já existentes,
entre a produção e o usuário;
l implementar o processo de produção, registro e avaliação das informa-
ções geradas, construindo uma grande rede;
l ampliar a divulgação das informações disponíveis e estimular a formação
da capacidade crítica do usuário;
l sensibilizar a mídia quanto ao seu real papel, como formador de opinião;
l formar profissionais da área de comunicação, de um ponto de vista da
especialização, para comunicar a informação da área educacional;
l gerar informações com linguagens e formas diferentes para atender a di-
ferentes públicos;
l ação política para democratização ao acesso de novas tecnologias;
l sistematização da informação da escola;
l ampliar a disseminação através de diferentes meios: TV, rádio, rádio co-
munitário, jornais;
l ação política no sentido de dar reforço ao Fust, que é o Fundo de
Universalização do Acesso ao Sistema de Telecomunicação. Há uma legislação na-
cional que precisa ser regulamentada para que o telefone seja gratuito. Isso está
parado, e não há uma mobilização para fazer cumprir o que está na legislação brasi-
leira. Ela existe, é muito boa, mas falta uma regulamentação no sentido de possibi-
litar o uso;
l a legislação do Fust prevê que 5% de toda a arrecadação das companhias
telefônicas sejam colocadas para as atividades públicas. O que nós pleiteamos é que
1% desta arrecadação seja destinada à educação e às bibliotecas públicas, para cria-
ção da possibilidade de acesso;
l uma discussão do Fórum GT Educação, do Projeto Sociedade da In-
formação, do Ministério de Ciência e Tecnologia, é a questão da inclusão. Seria a
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
possibilidade da democratização do acesso, a partir do uso desse 1% para viabilizar o
pagamento da conta do telefone. Não adianta colocar o computador na escola, e ligá-
lo à Internet, se a escola não tem condição de pagar a conta do telefone;
l realização de um levantamento da capacidade tecnológica e de comuni-
cação instalada no País, com o objetivo de otimizar sua utilização. Existem centenas
de rádios e TVs educativas comunitárias e universitárias que não têm o que veicular.
Temos um campo enorme não utilizado de rádio, televisão, computador, informática,
redes, infovias, etc. Onde não existem, é preciso que elas sejam constituídas;
l falar da disseminação sem organizar os canais é muito complicado. É pre-
ciso constituir mediações.
Grupo 3
As estratégias propostas são as seguintes:
l resgatar o papel do rádio, da TV e das caixas de som nas escolas;
l criar linhas de financiamento aos produtores da informação;
l promover a articulação institucional em todos os níveis, federal, estadual e
municipal;
l adequar a produção acadêmica a uma linguagem que seja acessível ao
usuário final;
l ampliar o papel da TV Escola e da Rádio MEC, inclusive com a cober-
tura de eventos como o Comped, para estimular a articulação e discussão sistemática
de temas educacionais;
l estimular iniciativas de educação a distância.
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Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
Debate final
Vani Kenski (Anpae)  Eu sou da comissão gestora do grupo que está engen-
drando o grande projeto das universidades virtuais em rede. Nós já somos 62 universida-
des e estamos trabalhando em rede. Já temos dois projetos no CNPq. Um, em inglês,
que é o Ingred, basicamente capitaneado pelas federais de Minas, e o outro é um gran-
de projeto nacional que está sendo liderado por nove universidades federais, sob a
coordenação do Paraná, para capacitar professores das universidades para a produção
de materiais de educação a distância.
Fomos atrás de diversos fundos, inclusive o Fust. O grande problema é que o
Fust não está regulamentado. O projeto, para isso, está com o senador Saturnino Braga.
Há uma pressão por parte das teles muito grande para que esse Fundo não seja regu-
lamentado. No ano passado, todo o dinheiro do Fundo já foi perdido, por falta de regula-
mentação. As teles não têm interesse em implementar, porque é um dinheiro que volta
para elas. Por outro lado, o Fust também não avança porque o Ministério das Comunica-
ções diz que não tem demanda para isso. Mas como se pode encaminhar demanda para
um Fundo que não está regulamentado? Há necessidade de denúncia, de pressão e de
união, sobretudo dos educadores. A verba do Fust chegaria a mais de 800 milhões. No
ano que vem, a 1,3 bilhão. O Fust não está regulamentado, e as empresas de telecomu-
nicações foram anistiadas ou liberadas de fazer esse depósito.
É preciso reforçar nossas associações e mostrar que há demanda. Já em
2002, sem a regulamentação, as teles não serão obrigadas a depositar nada, e o
Fundo se extingue.
Mais uma coisa, nas articulações com os deputados, eles pedem para a se-
cretaria de educação entrar em contato direto com a provedora, com a telefônica do
lugar, com o sistema telefônico do lugar, para fazer o acordo. Eles estão estimulando
que a coisa se dê no plano pessoal, dentro dos municípios, dentro do Estado, e isso é
uma questão política muito temporal, conjuntural, porque mudou uma política, mudou
tudo, e não há o respaldo legal de uso.
Walter Garcia (ABT)  Na medida em que não haja essa demanda, as teles
podem fazer uso desse recurso onde bem entenderem, com isenção e sem controle
social, para a promoção institucional individual. É o dinheiro que deveria ter fomentado
ações das instituições públicas, sobretudo das escolas.
Então, realmente acho que o Comped, como uma rede de diversas entida-
des, deveria se manifestar ao escrever coisas. Esse é um dos papéis de articulação, de
mobilização do Comped, e pode ficar como uma sugestão para o Comitê, para que
rapidamente a gente produza alguma coisa sobre esta questão.
Og Dória (Comped)  O que nós vamos fazer com esses relatos? O Comped
passará a trabalhar essas sugestões. A discussão se dará no sentido de reagrupar, de
Anais do Seminário Disseminação de Informações Educacionais : Regiões Norte e Centro-Oeste
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ver um eixo de trabalho em que a gente possa definir os próximos passos. Mas é
importante que esse trabalho sirva como uma agenda, como uma pauta de atuação de
vocês, de todos aqueles que hoje participaram deste encontro. O Comped tem essa
contribuição, ele busca criar um circuito, articular e estimular a participação com o
propósito da melhorar a qualidade da educação em nosso país. É importante que vocês
também levem essa impressão de nosso encontro, e que ele tenha motivado e estimu-
lado vocês a continuarem regionalmente esta articulação, no sentido de envolver os
mais diversos atores com esse propósito.