Achava o inglês o sujeito mais fino, mais sóbrio, de uma polidez e de uma cerimônia
inenarráveis. E, súbito, há o Mundial. Todo mundo baixou o sarrafo no Brasil. Suecos,
britânicos, alemães, franceses, checos, russos, davam botinadas em penca. Só o brasileiro
se mantinha ferozmente dentro dos limites rígidos da esportividade. Então, se verificou o
seguinte: o inglês, tal como o concebíamos, não existe. O único inglês que apareceu no
Mundial foi o brasileiro. Por tantos motivos, vamos perder a vergonha (...), vamos sentar no
meio-fio e chorar. Porque é uma alegria ser brasileiro, amigos.”
Além de destacar a beleza do futebol brasileiro, Nelson Rodrigues quis dizer que o
comportamento dos jogadores dentro do campo
(A) foi prejudicial para a equipe e quase pôs a perder a conquista da copa do mundo.
(B) mostrou que os brasileiros tinham as mesmas qualidades que admiravam nos
europeus, principalmente nos ingleses.
(C) ressaltou o sentimento de inferioridade dos jogadores brasileiros em relação aos
europeus, o que os impediu de revidar as agressões sofridas.
(D) mostrou que o choro poderia aliviar o sentimento de que os europeus eram superiores
aos brasileiros.
(E) mostrou que os brasileiros eram iguais aos europeus, podendo comportar-se como eles,
que não respeitavam os limites da esportividade.
PERCENTUAIS DE RESPOSTA
A
B
C D E
3
53
15 11 18
Habilidade: 20
O dramaturgo Nelson Rodrigues é conhecido por ter criticado valores e convenções
tradicionalmente aceitos pelos diversos estratos da sociedade brasileira. Assim, apesar de
suas posições políticas bastante conservadoras, a escrita de Nelson Rodrigues possuía um
potencial extremamente subversivo sempre que abordava aqueles temas. Mesmo que o
participante não conhecesse esses aspectos ambíguos, e às vezes contraditórios, da obra
do dramaturgo, a questão proposta permitia a ele aprender algo sobre isso, através da
crônica futebolística de Nelson Rodrigues, na qual ele foi igualmente prolífico. Esse aspecto
característico de seu pensamento, a subversão de valores e convenções tradicionalmente
aceitos, evidencia-se aqui na inversão que ele propõe entre a imagem que o brasileiro faz
de si mesmo (“um cafajeste nato e hereditário”) e aquela atribuída aos ingleses (“o sujeito
mais fino, mais sóbrio, de uma polidez e de uma cerimônia inenarráveis”). Segundo Nelson
Rodrigues, a Copa do Mundo de 1958 foi a ocasião para o brasileiro conscientizar-se, na
prática, do seu complexo de inferioridade, ato liberador explicitado no trecho transcrito da
crônica. Esta consciência crítica era a mesma que o participante deveria mobilizar para
responder corretamente a questão. A forma com que o tema é abordado permite ao
participante refletir criticamente sobre a percepção que ele tem de si mesmo e dos outros.
Esta reflexão é pedagógica, porque permite ao leitor, na contrapartida do estereótipo, criticar
modelos. As alternativas, ao contraporem imagens dos europeus à dos brasileiros,