teriam, em tal caso, qualquer possibilidade, porque os governos e os capitalistas podem recrutar exércitos
em numero ilimitado, graças ao seu dinheiro e autoridade. De facto, a força da classe operária não pode
exercer-se plenamente nestes confrontos sangrentos, os massacres e a matança. O seu verdadeiro terreno é
o domínio do trabalho, do trabalho produtivo e, para mais, esta força reside na superioridade de espírito e
de carácter dos membros da classe. E, na própria luta armada, a superioridade capitalista não é
incontestável. A produção de armas está nas mãos dos trabalhadores; a acção das tropas mercenárias
depende do seu trabalho. Se estas tropas forem em número limitado e se toda a classe operária, unida e
sem temor, se erguer contra elas, elas serão reduzidas à impotência e submersas pelo número. Se, pelo
contrário, estas tropas forem numerosas, compreenderão necessariamente trabalhadores acessíveis ao
apelo de solidariedade de classe.
A classe operária deve encontrar e desenvolver as formas de luta adaptadas às suas necessidades. Lutar
pressupõe que ela siga a via que escolheu livremente, guiada pelos seus interesses de classe, independente
dos seus antigos mestres, portanto oposta a eles. As suas faculdades criadoras afirmam-se na luta através
da descoberta das vias e dos meios. Outrora, as formas de luta da classe operária tinham surgido
espontaneamente da sua prática e da sua imaginação; greve, voto, manifestação de rua, meeting de massa,
panfletos, greve política, eis alguns exemplos. O mesmo acontecerá no futuro. As acções, quaisquer que
sejam as formas assumidas, terão sempre as mesmas características, o mesmo fim, o mesmo efeito:
acrescentar os elementos próprios do poder da classe, enfraquecer e destruir as forças do inimigo. A julgar
pela experiência, são as greves políticas das massas que têm as mais fortes consequências; no futuro
poderiam ser ainda mais eficazes. No decurso destas greves, nascidas de crises agudas no seio de fortes
tensões, os arrebatamentos são demasiado impetuosos, as perspectivas demasiado vastas, para que
sindicatos ou partidos, comités ou estados-maiores de dirigentes oficiais possam assumir o seu comando.
Trazem a marca das acções directas de massas. Os trabalhadores não entram em greve individualmente
mas por fábrica, enquanto pessoal que decide colectivamente a acção. Formam-se imediatamente comités
de greve, que agrupam os delegados de todas as empresas e apresentam já características dos conselhos
operários. Devem realizar a unidade na acção e, tanto quanto possível, a unidade nas ideias e nos
métodos, assegurando a interacção continua entre os impulsos da luta, no seio das assembleias de fábrica,
e as discussões no seio dos conselhos. Assim, os trabalhadores criam os seus próprios órgãos, opondo-se
aos órgãos da classe dominante.
Tal greve política é uma espécie de revolta, ainda que sob forma legal, dirigida contra o governo. Tenta,
ao paralisar a produção e as trocas, exercer uma pressão tal que o governo seja obrigado a ceder às
reivindicações dos trabalhadores. Por seu lado, o governo, recorrendo às medidas políticas de interdição
das reuniões, de suspensão da liberdade de imprensa, de mobilização das forças armadas - isto é,