Os trabalhadores aprendem a existir sem vida familiar
Quanto mais se extende o trabalho assalariado da mulher, mais aumenta a
decomposição da família. Que vida familiar pode haver onde o homem e a mulher
trabalham na fábrica, em seções diferentes, se a mulher não dispõe nem se quer do
tempo necessário para para preparar uma comida razoavelmente boa para seus filhos?!
Que vida familiar pode ser a de uma família em que o pai e a mãe passam fora de casa a
maior parte das vinte e quatro horas do dia, voltados a um duro trabalho que os impede
de dedicar uns poucos minutos a seus filhos?!
Em épocas anteriores, era completamente diferente. A mãe, a dona de casa, permanecía
em casa, se ocupava das tarefas domésticas e de seus filhos, aos quais não deixava de
observar, sempre vigilante.
Hoje em dia, desde as primeiras horas da manhã, até soar a sirene da fábrica, a mulher
trabalhadora corre apressada para chegar a seu trabalho; à noite, de novo, ao soar a
sirene, volta correndo à casa para preparar a sopa e cuidar dos afazêres domésticos
indispensáveis. Na manhã seguinte, depois de breves horas de sono, começa novamente
para a mulher sua pesada carga. Não pode, portanto, sorpreender-nos, portanto, o fato de
que, devido a essas condições de vida, se desfaçam os laços familiares e a família se
dissolva cada dia mais. Pouco a pouco vai desaparecendo tudo aquilo que convertia a
família em um todo sólid, tudo aquilo que constituía suas bases de apoio, a família é
cada vez menos necessária a seus próprios membros e ao estado. As velhas formas
familiares se convertem em um obstáculo.
Em que consistía a força da família nos tempos pasados? Em primeiro lugar, no fato de
que era o marido, o pai, quem mantinha a família; em segundo lugar, o lar era algo
igualmente necessário a todos os membros da família e em terceiro e último lugar,
poque os filhos eram educados pelos pais.
O que fica atualmente disso tudo? O marido, como vimos, deixou de ser o sustento
único da família. A mulher, que vai trabalhar, se converteu, nesse sentido, igual a seu
marido. Fica todavía, não obstante, a função da família de criar e manter seus filhos
enquanto são pequenos. Vejamos agora, na realidade, o que sobra dessa obrigação.
O trabalho caseiro não é mais uma necessidade
Houve um tempo em que a mulher da classe pobre, tanto na cidade como no campo,
passava sua vida no seio da família. A mulher não sabia nada do que acontecia pra lá da
porta de sua casa e é quase certo que tampouco desejava saber. Em compensação, tinha
dentro de sua casa as mais variadas ocupações, todas úteis e necessárias, não só para a
vida da família em sí, mas também para a de todo o Estado.
A mulher fazia, é certo, tudo o que hoje faz qualquer mulher operária ou camponesa.
Conzinhava, lavava, limpava a casa e repasaba a roupa da família. Porém não fazia isso
sozinha. Tinha uma série de obrigações que já não têm as mulheres de nosso tempo:
manipulava a lã e o linho, tecia as telas e os adornos e se dedicava, na medida das
possibilidades familiares, às tarefas de conservação de carnes e demais alimentos;
destilava as bebidas da família e inclusive modelava velas para a casa
Quão diversas eram as tarefas da mulher nos tempos passados! Assim passaram a vida
nossas mães e avós. Ainda em nossos dias, nas aldeias mais remotas, em pleno campo,
sem contato com as linhas de trem ou longe dos grandes rios, pode-se encontrar
pequenos núcloeos onde se conserva, todavía, sem modificação alguma, este modo de