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aconteceria se...”, são oportunidades de ensinar conceitos e competências cientícas sem necessidade de
fazer experiências “de carne e osso”.
Vale esclarecer aqui que não estou endeusando os experimentos como o único (nem o melhor) recurso
para o ensino. Embora seja importante colocar os alunos em contato com o mundo dos fenômenos,
pensar que a sua simples exploração orientada seja suciente para que os alunos aprendam um tema em
profundidade revela um olhar ingênuo da ciência, em certo modo parecido com o do modelo pelo des-
cobrimento espontâneo.
Os experimentos e as observações nos permitem construir algumas ideias a respeito dos fenômenos, mas
deixam numerosas lacunas que precisam ser preenchidas e aprofundadas com informações que os experi-
mentos sozinhos não são capazes de oferecer, mas que podem ser fornecidas por um professor, um texto
ou um especialista. O desao, aqui, é que os alunos consigam se apropriar ativamente dessa informação,
por exemplo, analisando textos e procurando as evidências existentes por trás das armações; aprendendo
a “fazer perguntas” ao texto ou a um especialista; comparando informações de diferentes fontes e expli-
cando, com suas próprias palavras, o que compreenderam. Trata-se, em última instância, de propiciar a
compreensão de informações novas e sua integração ao que já conhecem.
A segunda boa notícia é que não é tão difícil achar experiências práticas para abordar diferentes conceitos
do currículo de Ciências. Elas estão por toda parte: em livros de texto ou de experimentos e em numerosos
sites
da internet. “Receitas culinárias”, felizmente, não faltam. O primeiro desao é aprender a escolhê-las
em razão dos conceitos-chave que queremos ensinar (e não usar uma atividade somente porque é atrativa).
O segundo é transformá-las em oportunidades de investigação, incorporando momentos nos quais são
ensinadas competências cientícas. O terceiro, o mais complexo de todos, é poder organizar as experiências
em propostas coerentes de ensino para todos os temas do ano e que não sejam só “boas aulas” isoladas.
A terceira boa notícia é que é possível avançar para o ensino por investigação aos poucos, introduzindo
algumas melhoras no marco do que já foi feito em anos anteriores. Em outras palavras, na investigação,
como em quase tudo, percorremos um caminho ao caminhar... No primeiro ano, poderão ser introduzidas
só algumas poucas inovações por unidade temática. E, no ano seguinte, outras mais. Paulatinamente, a
conança e a familiaridade com esse tipo de trabalho tornará mais simples a inclusão de novas atividades,
com o olhar colocado não em atividades soltas, mas em uma abordagem geral para o ensino.
Quero terminar este texto com uma ideia importante: a investigação bem entendida começa em casa.
Dar os primeiros passos neste tipo de ensino requer, em primeiro lugar, que nós mesmos nos animemos a
bisbilhotar e a pensar, com a mente fresca, por que as coisas acontecem de determinadas maneiras. Essa
é a atitude que queremos transmitir aos alunos e, para isso, será preciso que nossas ações sejam coerentes
com ela. Por exemplo, será necessário testar as experiências antes de fazê-las com os alunos e antecipar
as perguntas que poderão surgir em relação a elas, que coisas são mais atrativas para se observar, ou como
poderíamos perceber o que acontece. Essa é, também, uma maneira de estarmos seguros na hora de tra-
balhar, minimizando imprevistos.
Finalmente, a capacidade de moderar as discussões que surgirem com os alunos terá muito a ver com
quão cômodos nos sintamos com o tema que estamos ensinando. Aqui não há muitos segredos para que
as coisas saiam bem. Como nas prossões de advogado, médico e tantas outras, a prossão de professor
requer formação contínua. Em outras palavras, é preciso estudar, aprofundando e atualizando aqueles
conceitos nos quais necessitemos de reforços. Sem conhecer bem os temas, as atividades de investigação
podem resultar em uma experiência frustrante, isso porque muitas perguntas são lançadas pelos alunos.
Mas o esforço é recompensado quando vemos que eles saem de nossas aulas com vontade de saber mais
e felizes por terem pensado por si mesmos. Aí, sim, poderemos também ir para casa com a satisfação pro-
veniente de um trabalho cumprido e com um sorriso de orelha a orelha.