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DISPONIBILIDADE DE
ENERGIA TERMELÉTRICA A GÁS NATURAL NA
REGIÃO CENTRO-OESTE
Eduardo Mirko Valenzuela Turdera
Editora UFGD
DOURADOS-MS, 2009
DISPONIBILIDADE DE
ENERGIA TERMELÉTRICA A GÁS NATURAL NA
REGIÃO CENTRO-OESTE
Universidade Federal da Grande Dourados
Reitor: Damião Duque de Farias
Vice-Reitor: Wedson Desidério Fernandes
COED
Coordenador Editorial da UFGD: Edvaldo Cesar Moretti
Técnico de Apoio: Givaldo Ramos da Silva Filho
Conselho Editorial da UFGD
Adáuto de Oliveira Souza
Edvaldo Cesar Moretti
Lisandra Pereira Lamoso
Reinaldo dos Santos
Rita de Cássia Pacheco Limberti
Wedson Desidério Fernandes
Fábio Edir dos Santos Costa
Capa
Editora da UFGD
Arte: Willy Cortes Hemgler
Ficha catalográca elaborada pela Biblioteca Central – UFGD
333.8233
T929d
Turdera, Eduardo Mirko Valenzuela
Disponibilidade de energia termelétrica a gás
natural na Região Centro-Oeste. / Eduardo Mirko
Valenzuela Turdera. – Dourados, MS : UFGD, 2009.
132 p.
ISBN 978-85-61228-47-7
1. Gás natural. 2. Gás natural Centro Oeste.
3. Política energética Mato Grosso do Sul. 4. Gás
natural – Energia termelétrica. I. Título.
Direitos reservados à
Editora da Universidade Federal da Grande Dourados
Rua João Rosa Goes, 1761
Vila Progresso – Caixa Postal 322
CEP – 79825-070 Dourados-MS
Fone: (67) 3411-3622
www.ufgd.edu.br
SURIO
Parte 1
O SETOR ENERGÉTICO ................................................................ 13
1.1 Antecedentes e preâmbulos ........................................................... 13
1.2 Contexto ........................................................................................ 14
Parte 2
O GÁS NATURAL NO CENÁRIO ENERTICO
DO CONE SUL
....................................................................................23
2.1 A indústria de gás natural no mundo ............................................24
2.1.1 Suprimento e disponibilidade ...............................................28
2.1.2 Reservas e recursos no Cone Sul .......................................... 29
2.1.3 Produção de gás natural no continente .................................32
2.1.4 Demanda de gás natural no Cone Sul ................................... 33
2.2 Infra-estrutura e mercados de gás natural ....................................34
2.2.1 Malha de gasodutos de interligação nos países do
Cone Sul .............................................................................. 34
2.2.2 A opção pelo gás natural ...................................................... 38
2.2.3 Panorama dos mercados de gás natural nos países do
Cone Sul ........................................................................................39
2.2.4 Demanda de gás natural no Brasil ........................................ 42
2.3 A geração termelétrica no cenário energético brasileiro .............. 45
2.3.1 O parque termelétrico no Brasil ............................................ 45
2.3.2 Geração de energia elétrica a partir de gás natural .............. 47
2.4 Políticas governamentais para a indústria de gás natural ............. 51
Parte 3
TECNOLOGIAS PARA A GERAÇÃO TERMELÉTRICA .... 57
3.1 Tecnologias para a geração de termeletricidade ........................... 58
3.1.1 Usinas termelétricas a Ciclo Combinado e Ciclo Simples .......58
3.1.2 Cogeração ..............................................................................60
3.1.3 Geração Distribuída .............................................................. 69
3.1.4 Características técnico-econômicas de centrais
termelétricas ........ 72
3.2 Emissões de gases poluentes provenientes da combustão
de gás natural em usinas termelétricas .......................................... 78
Parte 4
O PERFIL ENERTICO DA REGO CENTRO-OESTE ...85
4.1 Consumo de derivados de petleo e gás natural no
Centro-Oeste ....................................................................................... 86
4.2 Capacidade instalada e potencial de geração de
energia elétrica .................................................................................... 91
4.3 Perfil da demanda de energia elétrica no
Mato Grosso do Sul ............................................................................96
Parte 5
ASPECTOS REGULATÓRIOS E AMBIENTAIS NO USO
FINAL DO GÁS NATURAL
......................................................... 105
5.1 Aspectos regulatórios .................................................................. 105
5.1.1 Regulação da indústria brasileira de energia elétrica ......... 107
5.1.2 Regulação na distribuição de gás natural no Brasil ............ 111
5.2 Regulamentação Ambiental para o Gás Natural ........................ 117
Parte 6
CONCLUES E DESTAQUES ................................................... 121
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................... 127
ACESSOS À INTERNET................................................................130
Parte 1
O setor energético
13
O SETOR ENERGÉTICO
O objetivo do presente estudo é obter um mapeamento do supri-
mento de s natural, dos gasodutos existentes e da potencialidade de
geração termetrica no Centro-Oeste. Tudo isso implica em uma análise
e avaliações energéticas, econômicas e políticas da indústria des natu-
ral dos mercados nacionais e internacionais.
Com base em informações de caráter estatístico, analisa-se o mercado
de gás natural do cone sul da América do Sul, identificando-se o perfil do
setor energético dos principais países do bloco. Insere-se ainda no trabalho
uma discussão sobre o estado-da-arte das tecnologias de centrais termelétri-
cas. Dentro do mesmo assunto, faz-se uma descrição da operação das usinas
a ciclo combinado que estão sendo instaladas no Brasil e que devem operar
na região Centro-Oeste. Tendo como fundamento essa informação técnica,
elabora-se uma análise energética e econômica sobre a geração termelétrica
na região Centro-Oeste. A região pode chegar a ter várias termelétricas a
gás natural no decorrer dos próximos cinco anos.
Com a criação de óros reguladores para o setor enertico e
a abertura de seu mercado para empresas de capital privado, muitas
mudaas m acontecido no mercado de energia. Devido à recente
experiência no Brasil, do Estado exercer o papel de regulador, tem-
se constatado sérias dificuldades em relação ao posicionamento das
agências reguladoras no que tange ao mercado. A súbita abertura do
mercado e as oscilações entre Estado intervencionista e Estado regula-
dor, aliado ao fato de haver um mercado de gás natural ainda imaturo,
dificultam o entrosamento dimico dos agentes reguladores com a eco-
nomia de mercado. Este livro, neste ponto, visa mostrar a problemática
da geração termelétrica com base no gás natural e sua relão com a
queso ambiental, focalizando a singularidade da região Centro-Oeste,
e em especial, do Mato Grosso do Sul.
1.1 Antecedentes e preâmbulos
A Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) exe-
cutou vários projetos no âmbito da REDEGAS,
1
dentre eles, a pesquisa
denominada Avaliação Ambiental Estragica (AAE) do Gasoduto Dou-
1 A Redegas é uma rede de parceria entre universidades e a Petrobrás com o objetivo de divulgar
tecnologias relacionadas com o gás natural mediante diversos projetos de interesse comum.
14
rados-Campo Grande, realizada sob a coordenação dos pesquisadores do
CInAM (antigo Gaslab). A AAE é uma ferramenta de gestão para o desen-
volvimento que visa fornecer elementos para a tomada de decisão sobre a
política de conservação ambiental em estreita relação com as políticas de
desenvolvimento socioeconômicas. Ela permite integrar as considerações
ambientais desde o início dos processos de planejamento para que infor-
mações sobre as implicações ambientais de ões propostas possam vir a
apoiar as decisões juntamente aos fatores econômicos, sociais e culturais
(COMAR et.al. 2006).
No caso específico do Gasoduto Campo Grande-Dourados, a apli-
cação da metodologia AAE focalizou os seguintes aspectos: (i) definir
o melhor trajeto para o gasoduto; (ii) propor alternativas de localizão
para a usina térmica de Dourados; (iii) avaliar os efeitos cumulativos e
sinérgicos antrópicos no meio socioambiental; (iv) estudar a dinâmica re-
gional de desenvolvimento; (v) apoiar planos de desenvolvimento para a
cidade de Dourados, hospedeira da UTE. Contudo, a avaliação ambiental
estratégica para o gás natural (AAE) ficaria incompleta sem uma ava-
liação econômica, energética e reguladora mais acurada do mercado na
região Centro-Oeste, em especial no estado de Mato Grosso do Sul. Esta
análise, portanto, vem subsidiar e fornecer aspectos referentes para dis-
cussões nas autarquias e universidades que queiram conhecer mais sobre
a situação energética do estado de Mato Grosso do Sul. Essas discussões
sobre a política energética e os rumos que pode tomar o estado na busca
de alternativas energéticas que de um lado garantam a oferta de energia
e, por outro, agridam o menos posvel o capital natural propiciando mi-
nimamente equidade social mediante o acesso aos serviços energéticos a
preços atrativos.
1.2 Contexto
O Brasil, com um PIB beirando os US$ 1.380 (2007) bilhões de
dólares, está entre as quinze maiores economias do mundo (Figura 1).
Observando a curva de evolão do PIB, constatam-se as oscilações
econômicas que têm ocorrido nos últimos vinte e sete anos. O mbio
de um-por-um do real em relação ao dólar norte-americano no período
1994-1999 dava a impressão do que o PIB tinha chegado ao patamar de
US$ 800 bilhões em 1997; a desvalorizão posterior do real e a retração
econômica vivenciada entre 2000 e 2003 demonstram que os números
verdadeiros do PIB situavam-se na faixa dos US$ 500 a 600 bilhões. No
entanto, com uma política econômica responsável e equilibrada no que
tange à participação do poder blico e da iniciativa privada, o PIB vem
15
crescendo de forma consistente desde 2004 e já ultrapassou a barreira do
trilhão (US$ 1,6 em 2008). O ambiente econômico internacional favo-
vel tem sido, sem duvida nenhuma, um fator importante para este período
de crescimento sustentado da economia brasileira.
Figura 1: Evolução do PIB em dólares e em %.
0
200 000
400 000
600 000
800 000
1000 000
1200 000
1400 000
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
-6,0
-4,0
-2,0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
PIB 000 US$ PIB crescimento real %
Fonte: Adaptado de BC, 2008.
Um setor extremamente sensível às oscilações da economia é o in-
dustrial, que nos períodos de auge mostra sempre expansão vertiginosa,
mas, em peodos de retração econômica seu desempenho torna-se nega-
tivo imediatamente. Isso é claramente verificado na figura 2. Observa-se,
em períodos de crescimento econômico do PIB, que o setor industrial é o
que mais se destaca; já quando ocorre queda do PIB, é o primeiro a oscilar
negativamente e de forma incisiva. Por outro lado, o setor agropecuário
tem um comportamento mais volátil, uma vez que depende de variáveis
alheias à economia, como o clima e o fornecimento de créditos do gover-
no federal. Finalmente, o setor de serviços é o mais estável de todos, e
com a abertura de mercado a tendência é se expandir mais ainda.
16
Figura 2: Brasil – Variação do PIB e do PIB por setor (%).
-10
-5
0
5
10
15
20
1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000
PIB Agropecuária Indústria Serviços
Fonte: Elaborado em base a dados do IBGE
Com uma população de cerca de 180 milhões de habitantes, o mer-
cado interno brasileiro é mundialmente um dos mais atrativos, apesar dos
solavancos que a economia passa de tempos em tempos. A renda per capi-
ta no Brasil é hoje de US$ 6.675, embora seja um indicador questionável
quanto ao verdadeiro vel de vida das pessoas e a real distribuição de
renda uma idéia do poder de compra da população. No entanto, uma
grande parcela da população virtualmente sobrevive com US$ 1,0 por
dia. De forma geral, as pessoas situadas da classe dia para cima (40%
da população) detêm padrões de consumo atrativos para boa parte das
companhias de todos os setores da economia tornam-se assim, alvo para
venda dos seus produtos.
O consumo de energia por habitante no Brasil, de 25,33 Btu/hab,
pode ser considerado como um índice que atesta um baixo consumo de
energia em relão ao total da populão. Por outro lado, o consumo
de energia para gerar um lar do PIB, conhecido como intensidade de
energia, coloca o Brasil na faixa dos 5.854 Btu/US$, relativamente baixo
quando considerado com a média mundial. A intensidade energética é um
índice que atesta quão eficiente essendo a utilização de energia para
gerar um lar, pois altos valores de intensidade energética indicariam
gasto excessivo de energia para movimentar a economia. Mudanças nos
índices de intensidade energética são decorrentes de diversos fatores tais
como, mudanças no mix industrial, preços de energia, custos de capital,
taxas domésticas e internacionais, demanda do consumidor e ciclos de
produção. No entanto, é interessante ressaltar que esta relação, de alguma
17
forma, mede a eficiência quanto ao uso da energia para gerar riqueza (In-
tensidade enertica = Consumo de Energia / Produto Interno Bruto).
A razão pela qual a intensidade energética deve ser analisada com
maior detalhe é devido às mudanças tecnológicas que ocorrem e a varia-
ção do PIB num determinado período. O consumo de energia industrial é
influenciado pela eficiência nos processos tecnológico de conversão ener-
gética e por mudanças na estrutura da economia. Finalmente, o consumo
de energia no setor de transformação pode ser influenciado pela escolha
da tecnologia de transformação que, por sua vez, é influenciado pelos
custos e disponibilidade de energia primária (GELLER, 2003). A intensi-
dade energética em séries temporais de longo prazo para diversos países
não é constante, mas muda com o tempo, refletindo os efeitos combinados
de mudanças na estrutura do produto econômico incluído no PIB, assim
como, mudanças na combinação das fontes de energia e na eficiência do
seu uso (GOLDEMBERG E VILLANUEVA, 2003).
Como conseência da falta de recursos dricos nas bacias e as
restrições quanto ao suprimento de energia elétrica, a economia do país
passou por um processo de desaceleração do ano 2001 até 2003. Essa
anomalia essendo superada e, para compensar as perdas dos anos de
recessão, especialistas acreditam que o Brasil deveria ter um crescimento
de 4,5% do PIB, no mínimo, nos próximos cinco anos.
O montante de capital recebido pelo Brasil desde que foi imple-
mentado o programa de privatização es na casa dos 85,0 bilhões de
dólares. Desse total, 57 bilhões são provenientes de privatizações federais
e 28 bilhões das privatizações estaduais (BNDES, 2001). Por setores, as
telecomunicações e o setor elétrico foram os que arrecadaram maior ca-
pital, seguido do setor de petróleo e de gás e mineração (Figura 3). Esses
setores têm a caractestica de serem de capital intensivo e de operar p-
ximos a um regime de oligopólio.
18
Figura 3: Destino dos principais investimentos de capital privado
Energia etrica
31%
Siderurgia
8%
petroquím ica
4%
Transporte
2%
Part.
Minoritárias
1%
Saneam ento
1%
Petróleo e Gás
7%
Financiamento
6%
Mineração
7%
Outros
2%
Fonte:BNDES,2006
O plano de privatização de ativos do setor elétrico teve como pre-
missa básica a dificuldade financeira do Estado em continuar investindo
em companhias do setor energético, as quais requerem constante injeção
de capitais. Independente da postura ideológica do Consenso de Washing-
ton e das diretrizes do FMI ou do Banco Mundial, constatou-se que, o
modelo centralizador do Estado como principal agente investidor, vigente
desde a segunda guerra mundial afinais da década de 80 tinha entrado
em colapso. As responsabilidades sociais dos governos deveriam prio-
rizar objetivos do âmbito socioeconômico, tais como em educação, em
saúde e em parte da infra-estrutura, deixando ao capital privado o investi-
mento nos outros setores, dentre eles o setor energético.
Contudo, o modelo da privatização de ativos do Estado aplicado
em vários países da América do Sul tem se mostrado pouco gratificante
pelos impactos sociais que provocou. Menciona-se dentre eles, a elevação
das tarifas dos servos de telefonia e energia elétrica, a diminuição e o
não cumprimento dos investimentos previstos no momento da conceso
e operação das empresas, a falta de concorrência em serviços claramente
caracterizados com monopólios e o conluio do poder regulador na inefi-
ciente fiscalização dos serviços à população
2
.
2 Segundo o PROCON, no Brasil as empresas de telefonia são as campeãs em reclamações por parte
dos usuários pelo ineficaz serviço prestado e a cobrança abusiva de tarifas e ligações, muitas vezes
inexistentes (JN, 10/06).
19
O Brasil implantou o modelo de privatização em 1990, consolidan-
do-o em 1995 no governo de Fernando Henrique Cardoso. Não se pode
negar que havia a urgência de investimentos no setor energético e a falta
de condições e recursos do governo para fazê-los. Apesar das privatiza-
ções terem alcançado um razvel sucesso na indústria de s e petróleo
por outro lado, há uma insatisfação popular em função de alguns aspectos
que o foram bem desenvolvidos no setor elétrico. O período crítico no
suprimento de energia elétrica pelo qual atravessou o país entre 2001-
2002, sepultou os tímidos resultados positivos do modelo de privatização
na indústria de energia etrica.
As causas da crise no setor de energia elétrica estiveram fundamen-
tadas nos seguintes pontos: (i) quando começou a venda das companhias
do setor elétrico ainda não existia um órgão regulador, assim, muitas nor-
mas reguladoras foram feitas a posteriori; (ii) muitos dos compromissos
assumidos pelas companhias privatizadas m sido descumpridos; (iii) as
tarifas o refletem de forma eqüitativa para os consumidores, pois o
altas no setor residencial e extremamente baixas para as indústrias de
grande porte e energo-intensivas.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) mostrou falta
de planejamento no tratamento da disponibilidade de recursos hídricos
das bacias hidrográficas, onde se encontram as usinas hidrelétricas, ne-
gligenciando a coordenação das reservas de água nas barragens, junto
com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A administração
Fernando Henrique Cardoso não consolidou completamente o processo
de privatização, ficando assim na pior das situações, ou seja a indústria de
energia elétrica não foi totalmente privatizada e por outro lado, o governo
impediu às empresas estatais garantirem o atendimento ao constante cres-
cimento da demanda
3
.
Esse quadro incerto no setor enertico trouxe repercussões nas
indrústrias de petróleo e s natural, com maior ênfase nesta última.
Previa-se inicialmente a entrada de quarenta e nove termelétricas, do
Programa Prioritário Termelétrico (PPT), do qual estimava-se uma de-
manda de gás natural de 135 milhões de metros cúbicos para todas as
termelétricas em operão. Atualmente apenas 29 térmicas (equivalente
a 9380 MW) foram implantadas. Dessas, 16 operam a gás natural (5080
MW), e no estado de Mato Grosso do Sul apenas duas foram efetivadas
e operam de forma inconstante. Experiências passadas mostraram quão
importantes são a previo da oferta de energia e o planejamento do setor
energético, de tal forma a garantir o fornecimento, sua eventual carência
3 Sauer et. al (2003) elencam diversos fatores do porquê de o Modelo de Privatização ter sido pouco
vantajoso para o Brasil, além de sugerir mudanças conceituais para recuperar o dinamismo do setor.
20
comprometerá, com certeza, o atual ritmo de crescimento da economia
brasileira. A discussão sobre energia é sempre um tema atual, pois, sua
disponibilidade e segurança no fornecimento fazem parte de uma estra-
tégia governamental de longo prazo. Nesse contexto, analisar-se-ão as
perspectivas de produção e distribuição de gás natural no Cone Sul e a
geração térmica no Centro-Oeste.
Parte 2
O gás natural no cenário energético do Cone Sul
23
O GÁS NATURAL NO
CENÁRIO ENERGÉTICO DO CONE SUL
Após longas décadas em que o gás natural foi minimizado e tratado
como subproduto do petróleo, surge agora a oportunidade de ter sua real
colocação como fonte energética de grande valor e com grande potencial
de utilização em quase todos os setores da atividade econômica.
A tendência de uso amplo e irrestrito do gás natural começou ini-
cialmente nos Estados Unidos, país que detém o maior consumo deste
produto desde o início da década de 20. Porém, o empurrão definitivo
para sua expansão e comercialização internacional em grande escala foi
dado na cada de 60 na Europa Ocidental. A construção de gasodutos e
grandes terminais de Gás Natural Liquefeito (GNL) em países da Europa
Ocidental para receber os natural, vindo majoritariamente do Norte da
África e da Rússia, possibilitou a implantão de um segundo mercado de
gás natural mundial.
Questões ambientais estão cada vez mais presentes em projetos
energéticos e têm sido fator definitivo na adoção do gás natural nos países
industrializados da Organização de Países para o Desenvolvimento Eco-
nômico (OCDE). Obviamente, a descoberta de grandes reservas de gás
natural no Mar do Norte e a construção do gasoduto que transporta gás
natural desde a Rússia (Sibéria) avários países da Europa Ocidental,
consolidou a inclinação pelo seu uso maciço nesse continente na substi-
tuição de outras fontes energéticas mais poluentes como o carvão.
Países do Extremo Oriente como Jao, Coréia do Sul, Taiwan e
Cingapura também aderiram à nova onda de expansão do uso de gás na-
tural. A descoberta de reservas de porte significativo na Indonésia e o
transporte em forma de GNL desde países do Golfo Pérsico, têm propi-
ciado seu fornecimento para a região Ásia-Pafico.
Os Estados Unidos, desde 1982, retomaram a utilização do gás na-
tural, após um marcante declínio que começou na cada de sessenta,
como conseqüência de uma draconiana regulação vigente no mercado. A
nova política para desregular a instria começou a ser implementada no
início dos anos noventa e tem motivado uma injeção de grandes investi-
mentos no setor com a retomada do consumo e a exploração de jazidas
marginais, agora economicamente viáveis pelo incremento no preço do
gás natural. Estados Unidos vêm investindo de forma crescente na gera-
24
ção de energia termelétrica, em especial, usinas de ciclo combinado, tanto
a carvão, matéria prima abundante nesse país, como a gás natural. Esse
aumento na construção de rmicas ocasionou uma enorme procura por
equipamentos dessa tecnologia entre 1998 e 2003. No mesmo peodo,
outros países da Europa, Ásia e América do Sul também ampliaram seu
parque termelétrico construindo usinas rmicas a gás natural aumentan-
do mais ainda a procura por turbinas as e vapor.
Mundialmente, as reservas de gás natural encontram-se menos con-
centradas que as de petróleo. Contudo, a ssia e os países do Golfo
Pérsico detêm em torno de 70% das reservas conhecidas. Nas últimas
duas décadas registrou-se um crescente aumento das reservas em todo o
mundo, com exceção dos Estados Unidos, cujas jazidas o sinais de es-
tarem em fase de esgotamento, como previu Hubert cinqüenta anos atrás
mediante a análise da Curva da Campana.
2.1 A indústria de gás natural no mundo
O gás natural somente tem valor econômico quando existe pro-
dução, transporte e consumo, conhecido como a cadeia de valor do gás
natural. O excedente econômico é atribuível à cadeia energética de valor
como um todo, ou seja, o conjunto integrado: produção (upstream) e,
transporte e desenvolvimento das atividades de mercado (downstream).
Cada uma das partes é necessária para formar um potencial excedente
de ingressos, porém nenhuma delas per se é capaz de gerar excedente
econômico.
Em 2008, foram consumidas 11.295 x 10
6
tep (tonelada equivalente
de petróleo) de todas as formas de energia (BP StatiStical 2008), ex-
cluindo a biomassa. O gás natural participava com 23,5 % da demanda de
energia, tornando-se o terceiro produto energético em imporncia, logo
atrás do petróleo (36,4%) e do carvão (27,8%).
Algumas características intrínsecas da comercialização do gás na-
tural são: (i) o mercado do gás natural, ao contrario do petróleo que é
global, encontra-se confinado à reges específicas, regionais ou nacio-
nais, que têm perfis particulares e cuja dinâmica é exclusiva para cada
uma; (ii) não existe coneo ou uniformidade de ações entre os mercados
gasíferos; iii) soluções peculiares para um mercado não são válidas para
outro; (iv) observa-se também que em regiões com comércio internacio-
nal consolidado, grandes transações quase sempre têm forte ingerência da
política governamental.
A Federação Russa possui a maior reserva do planeta com 44.650
trilhões de metrosbicos. Esse ps é o principal responsável para que a
25
região de Europa-Eurásia detenha 33,5% de todas as reservas de gás natu-
ral globais, que o estimadas em 59,4 trilhões de m
3
(Tmc). No Oriente
Médio se encontram 41,3% das reservas, África e Ásia-Pacífico detêm
8,2% cada uma. Tanto América do Norte quanto América do Sul são as
regiões menos favorecidas no que tange ao volume das reservas, possuin-
do cada uma 4,2% do total, ou em valores absolutos, quase oito trilhões
de m
3
(BP Statistical, 2008) (Figura 4).
Figura 4: Reservas mundiais provadas de gás natural (Tmc)
Ásia-Pacífico;
14,2
Europa-Eurásia;
64,0
Oriente Médio;
72,8
América
do Sul;
7,1
América
do Norte;
7,3
África;
14,0
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Fonte: Elaborado a partir de BP Statistical Energy, 2008.
O gás natural apresenta sérias restrições no que diz respeito a
sua comercialização. A onerosa infra-estrutura para escoá-lo limita sua
comercialização em localidades onde não existe um gasoduto, muito em-
bora hoje já existam soluções pontuais como o transporte criogênico e o
gás comprimido transportado em caminhões. Os custos de transporte de
gás natural variam conforme a distância e a tecnologia utilizada. Os ga-
sodutos o economicamente mais viáveis em distâncias de 2000 a 4000
km. Dependendo do tamanho do gasoduto e do volume de s transpor-
tado, acima dessas distâncias a tecnologia da criogenia torna-se atrativa,
sem contar que, no comércio interoceânico, é a única alternativa. O s
Natural Liquefeito (GNL) tem preços registrados em contratos, que vão
desde US$ 2,00/MMBtu a US$ 12,54/MMBtu; para os gasodutos
esse preço pode variar de US$ 0,40/MMBtu até US$ 10,0/MMBtu (US-
EIA Report, 2005).
26
Na instria de gás natural, os contratos de compra/venda o cru-
ciais para o desenvolvimento do mercado, uma vez que o preço em city
gate é um fator chave para que o produto enertico ganhe competitivi-
dade perante seus concorrentes e clientela entre os consumidores finais.
A formação do preço do s natural é uma questão complexa que foge
ao escopo de alise do presente livro, uma vez que aspectos de caráter
econômico, geográfico, contratual e energético são considerados na sua
formação.
Em muitos mercados, o gás natural costuma ser armazenado com o
objetivo de desempenhar um papel importante na relação oferta-demanda
durante épocas de alto consumo ou de escassez. Os locais nos quais é
armazenado o s natural o: cavernas de sal, minas, aqüíferos, caver-
nas de rocha dura, reservatórios esgotados. Os setores pelos quais o s
é mais utilizado mundialmente são: o industrial, com 44% do consumo;
transporte, com 4,8%, e outros, com 51,2%, onde está incluída a geração
termelétrica, a cogeração, o aquecimento de espaços, etc.
A Rússia hoje é o maior produtor de gás natural do mundo, com 607
bilhões de metros cúbicos em 2007, produção que faz da Europa-Eurásia
a maior região produtora de s natural (Figura 5). Os países da Europa
Ocidental e os Estados Unidos importam boa parte do gás que consomem,
visto que suas reservas e produção são insuficientes para atender o merca-
do interno. No caso da Rússia, esta não só é auto-suficiente, mas também,
exporta 25% da sua produção para países de Europa Ocidental e Oriental.
Vários países da África e do Oriente Médio exportam grande parte de sua
produção para o mercado europeu, embora o consumo interno tivesse um
aumento significativo nos últimos anos. Na região Ásia-Pacífico, uma
clara distinção entre países exportadores (Indonésia, Malásia, Brunei) e
importadores natos (Japão, Coréia, Taiwan e Cingapura). Os três últi-
mos conhecidos como Novos Países Industrializados (NICs em inglês)
atendem sua demanda de energia importando combustíveis sseis e lo-
calmente gerando boa parte da energia elétrica por usinas nucleares.
27
Figura 5: Produção de gás natural (10
9
mc)
Fonte: Elaborado a partir de BP Statistical Energy, 2008.
A indústria de gás natural mundial, entre 1980 e 2003, tem apresen-
tado taxas de consumo que vão desde 0,83% na América do Norte; 1,93%
na Europa Oriental e ex-União Soviética; 2,84% na Europa Ocidental;
5,32% na América Central e do Sul; 5,76% na África; 7,86% na Ásia e
Oceania; e 8,98% no Oriente Médio. No entanto, vale a pena ressaltar
a brusca queda na demanda de gás natural em países que formavam a
União Sovtica e outros da Europa Oriental após ruir o regime comunis-
ta. Nesses países, a retrão do setor industrial e a diminuição da renda
per capita junto ao corte de subsídios no fornecimento dos natural aos
consumidores residenciais foram os principais fatores para a diminuição
da demanda de s natural, no entanto, desde 1999 vem se observando
uma gradual recuperação do seu consumo, paralelamente à recuperação
da economia. No mundo, regiões com a demanda reprimida vêm apre-
sentando taxas de consumo acima de 5%, a maioria delas em países com
mercados de gás natural em pleno desenvolvimento e localizadas, prefe-
rencialmente, na Ásia, e em menor grau na América Latina e África.
A figura 6 evidencia como o consumo de gás natural está crescendo
em regiões fora dos mercados tradicionalmente conhecidos até 1980. Essa
tendência deve acentuar-se nos próximos vinte anos. Países respon-
sáveis por essa crescente demanda serão principalmente Brasil, China,
Índia, Turquia, Tailândia e Irã, todos eles com grandes populações e uma
parte significativa dela sem acesso a energia elétrica ou outros tipos de
28
combusveis, fato que produzi um forte crescimento de demanda de
energia, seja de derivados de hidrocarbonetos (petleo, gás natural e car-
vão), bem como de energia elétrica e bicombustíveis.
Figura 6: Consumo de gás natural por região (10
9
mc).
Fonte: BP Statistical Energy, 2008.
2.1.1 Suprimento e disponibilidade
A cadeia do gás natural (GN) é formada por três partes: exploração/
produção, transporte e distribuição. Depois de extraído, o GN é transpor-
tado via gasodutos ou tanques crionicos até os centros de consumo. A
possibilidade de vazamento de gás devido à ruptura do duto é remota e, se
ocorrer, este é detectado rapidamente, acionando o sistema de segurança
do gasoduto. A distribuição de gás natural ocorre de qualquer ponto do
gasoduto, ao contrário do que ocorre com todos os demais enerticos,
através de ramificações. No entanto, deve-se proceder a uma adaptação
especial e a uma medição nesse local para contabilizar o fluxo de GN. A
distribuição, na ptica, começa na estação receptora dos grandes dutos,
chamada de city gate, até os consumidores finais (B
aNKS
, 2003). A tecno-
logia envolvida na distribuição de GN é conhecida quase um século,
não sofrendo modificações de concepçãosica até hoje.
O gás natural o possui, per se, um mercado cativo e sua competiti-
vidade perante os outros produtos energéticos concorrentes é dificilmente
29
alcançada quando a conjuntura de preços é adversa (devido aos contratos
estarem indexados às variações cambiais e cotações internacionais de de-
rivados do petróleo), e a regulamentação ambiental de combustíveis, estes
mais poluentes, está ainda incompleta. Este último fator conduz à pouca
predisposição dos usuários industriais e comerciais em adotar os natu-
ral, mesmo conhecendo seus benefícios ambientais e técnicos no aumento
da produtividade decorrente de sua utilização.
2.1.2 Reservas e recursos no Cone Sul
No Cone Sul, o aumento significativo das reservas de gás natural
está propiciando o surgimento de um sistema de gasodutos conectando
todos os países da rego. Esta rede vem crescendo paulatinamente e pro-
vavelmente dará maior segurança e confiabilidade no suprimento de s
aos grandes centros consumidores. A figura 7 mostra o tamanho das re-
servas de gás no continente sul-americano; pode-se deduzir que, embora
o continente possua reservas discretas em relação às reservas dos outros
continentes, elas não são um empecilho para a expansão desta indústria na
região, uma vez que o mercado regional ainda é discreto.
A Bolívia, principal fornecedora do Brasil, tem reservas contabi-
lizadas de gás natural da ordem de 1.450 bilhões de m
3
, suficientes para
abastecer o mercado brasileiro por no mínimo 50 anos, caso se utilize
a capacidade plena do Gasbol, que é de 30 milhões de m
3
dia
-1
. O Bra-
sil pode dispor de 657 bilhões de m
3
de gás natural se contabilizadas as
reservas da Bacia de Santos recentemente descobertas e por serem certi-
ficadas; hoje, efetivamente, tem 316 bilhões. A Argentina detém reservas
de s natural de 745 bilhões de m
3
, as estimativas de aumentá-las são
marginais e dependem de uma mudança na política enertica do governo
central. O congelamento de tarifas propiciou um crescimento da demanda
significativo, porém desincentivou o investimento na exploração e as re-
servas caíram para 660 bilhões m
3
em 2207.
30
Figura 7: Reservas de gás natural na América do Sul (Tmc).
Fonte: BP Statistical Review, 2008
A Venezuela, detentora de 66% das reservas de gás natural do con-
tinente (5,5 trilhões de m
3
), quinto maior produtor de petróleo do mundo
e com grande potencial hidrelétrico. Esse país destina a maior parte de sua
produção ao abastecimento de grandes consumidores industriais como si-
derurgias e refinarias. A Venezuela tem apresentado constante retração
de seu PIB, com ênfase acentuada desde o governo Chaves. As posições
de confronto do presidente desse país em relação à oligarquia local, aos
EUA em particular e, ao modelo capitalista, vêm modelando uma postura
nacionalista embora questiovel para uma parte dos cidadãos venezue-
lanos. Apesar da bonança energética no país devido aos altos preços do
barril de petróleo, a renda proveniente da comercialização do petróleo não
se traduz em bem-estar e benefícios para a população e nem um desenvol-
vimento científico-tecnológico relevante, pois a ausência de uma política
integrando o setor industrial, energético e agropecuário é evidente na
Venezuela. A eventual alta de preço do barril de petróleo, nos últimos
anos, tem amenizado os exorbitantes gastos do governo, mas sabe-se que
essa situação pode mudar a qualquer momento se o preço baixar. Além
do mais, como não se observam mudanças ou estratégias palpáveis do
governo Chaves no sentido de tornar menos vulnerável e dependente a
economia venezuelana da volatilidade do preço do petróleo, a situação da
Venezuela tende a continuar inalterada.
Cabe destacar a participação de Trinidad & Tobago no aumento
das suas reservas de gás natural e, conseqüentemente, na produção de gás
natural nos últimos 30 anos. Em 1970 produzia 1,8 bilhões m
3
, já em 2007
31
a produção deste país atingiu o volume de 39 bilhões de m
3
equivalente a
106 milhões de m
3
d
-1
, apenas menor que a Argentina. Dessa forma, Tri-
nidad & Tobago tornou-se um player importante no mercado mundial de
gás natural liquefeito GNL, uma vez que mais de 70% de sua produção é
exportada (Figura 8).
Figura 8: Localização das Reservas de GN na América do Sul
Reservas Provadas 480 bcm
Reservas Provadas 650 bcm
Reservas Provadas 360 bcm
Reservas Provadas 1.550 bcm
Reservas Provadas 480 bcm
Reservas Provadas 5150 bcm
Reservas Provadas 7,730 bcm
Reservas Provadas 130 bcm
Fonte: IEA, 2003
32
2.1.3 Produção de gás natural no continente
A figura 9 mostra o comportamento da produção de gás nos países
da América do Sul, a qual vem crescendo de forma acelerada desde 1996.
A Argentina é o país com mais longa tradição na utilização do gás natural
e sua produção data de 1940, em 2007, produziu em média 123 MM m
3
/
dia destinados ao consumo doméstico e à exportação, 12% ao Chile, mas
observa-se queda na produção de gás natural na Argentina nos 2000 a 2002.
Na Bolívia a produção teve um período de estagnação entre 2001 e 2003.
A produção de gás no Chile vem caindo desde o início da década de 1990,
suas reservas de porte pequeno e o custo alto da produção são as razões para
essa queda. Por outro lado, recentes descobertas de reservas de gás natural
na bacia de Santos colocam o Brasil numa situação menos preocupante
quanto à garantia de suprimento no futuro A produção do Brasil foi de apro-
ximadamente 31 MM m
3
/dia; quase 80% dela provêm da bacia de Campos
e somente dois terços do total são comercializados de fato.
A Bolívia vem aumentando sua produção gás natural em função
do acordo feito com o Brasil e exportou para esse país, em 2007, 37 MM
m
3
/dia. Na Bolívia a política gasífera tem privilegiado as exportações:
nas décadas de 70 e 80 para a Argentina, e a partir de 1999 para o Brasil,
existem planos de ampliar para mercados de gás natural do México, da
Costa Oeste dos Estados Unidos e talvez do Chile e do Sudeste Asiáti-
co. No entanto, na nova Lei de Hidrocarbonetos elaborada pelo governo
de Evo Morales, a ênfase é priorizar a industrialização do gás natural e
outorgar-lhe maior valor agregado para exportar. No entanto essa meta já
está comprometida pela falta de capital para investimento da empresa de
petróleo local e pelo desinteresse de investir das empresas internacionais
perante um cenário incerto onde o há seguraa jurídica e uma clara
postura intervencionista do governo central.
33
Figura 9: Produção de GN no Cone Sul.
Fonte: Elaborado de EIA , BP Statistical, 2008.
2.1.4 Demanda de gás natural no Cone Sul
A despeito da queda que se observa na produção, o mercado chi-
leno de gás natural vem crescendo a taxas altas e de forma notável. A
constrão de três gasodutos ligando a Argentina com o Chile permite
que esse aumento de consumo de gás venha sendo atendido, cogitando-se,
inclusive, construir mais gasodutos, um deles proveniente da Bolívia.
O caso do mercado argentino é sintomático da aguda crise que atra-
vessou o país de 1999 até 2002. A queda na demanda de gás natural foi
significativa entre 1999 e 2003. Nesse período de contração da demanda,
a produção de gás nas jazidas argentinas manteve-se linear, porque o mer-
cado chileno absorveu o diferencial negativo do consumo na Argentina.
Desde 2004 tem se observado um aumento na demanda de gás natural,
chegando a 122 milhões de m
3
/dia em 2007, embora o esteja havendo
uma contrapartida no lado da oferta, pois, devido ao congelamento das
tarifas do gás, os produtores se sentem pouco motivados para investir,
levando a um impasse na oferta/demanda de s natural e cuja solução
econômica vem sendo tratada de forma política e demagógica pelo go-
verno argentino.
O Brasil também mostra evolão na demanda de gás pois as im-
portações do s boliviano vêm crescendo desde 1999, disponibilizando
maior volume desse energético para os principais centros industriais do
34
país. Assim, apesar da tímida prodão de gás no país, a demanda se
manteve crescente (Figura 10).
A demanda doméstica de gás natural na Bolívia é de 2 MM m
3
/dia
- extremamente pequena para todo o potencial de reservas de gás que pos-
sui, conseqüentemente, o crescimento do consumo de gás é imperceptível.
Caso cheguem a se concretizar os projetos de industrializar o gás natu-
ral, mediante tecnologias como o Gas-to-Liquid (GTL), direcionada para
converter combustíveis sintéticos e construir plantas gás-químicas e obter
derivados do gás, a demanda doméstica crescerá significativamente.
Figura 10: Consumo de GN na América do Sul.
Figura 10: Consumo de GN na América do Sul.
Fonte: Elaborão própria a partir de BP Statistical 2008
2.2 Infra-estrutura e mercados de gás natural
Nesta subseção serão discutidos dois componentes importantes da
cadeia de valor do gás natural: a infra-estrutura existente e pretendida
para seu escoamento e o perfil dos mercados de gás natural da América
do Sul.
2.2.1 Malha de gasodutos de interligação nos países do Cone Sul
América do Sul é um continente extenso com quase 20 milhões
de m
2
e cuja maior densidade populacional se encontra no litoral e os
maiores centros urbanos se encontram nessa parte. Por outro lado, grande
parte dos recursos e as fontes de energia se encontram na parte continen-
tal ou em regiões pouco habitadas ou de difícil acesso. Construir uma
35
infra-estrutura necessária para levar petróleo,s natural e energia elétri-
ca significa pesados investimentos dadas as grandes distâncias existentes
entre os centros de consumo e as fontes de prodão, motivo pelo qual a
infra-estrutura inter-continental deve ser ampliada. Os investimentos para
tornar tangível essa infra-estrutura deverão vir de empresas nacionais ou
transnacionais de grande porte, contudo, os incentivos para esse vultoso
dispêndio de capital precisam ser costurados em um apanhado de políti-
cas regulatórias industriais, tecnológicas e energéticas.
A complementação energética entre os países da América do Sul
também é incipiente e precária. Contudo, entre os países do Cone Sul tem
havido um avanço significativo nos últimos anos, o gás natural tem se
tornado um vetor que espropiciando a integração energética pragmá-
tica, principalmente na indústria de gás natural. Apesar da percepção de
que o fortalecimento da integração energética seja crucial para o desen-
volvimento dos países da região, esta ainda não foi implementada como
um projeto continental pelos governos. Entre as principais restrões para
se tornar exeqüível estão a instabilidade econômica presente de tempos
em tempos e as estruturas regulatórias incompletas que não estabelecem
condições para satisfazer interesses do capital. Embora exista a poten-
cial ameaça de racionamento de energia elétrica ou de gás natural em
vários países e da importância de construir e fortalecer a infra-estrutu-
ra enertica, ações governamentais o conseguirão ser efetivas se as
transnacionais de energia atuantes na região não sentirem que condi-
ções para atrativos retornos do capital investido na região.
Conforme dados da Comissão Econômica para América Latina
(CEPAL, 2006), na América do Sul foram investidos US$ 6,1 bilhões
em gasodutos de integração que estão em operação; em gasodutos em
constrão se tem investimento de US$ 1,165 bilhão; e, cerca de US$
8,4 bilhões previstos para gasodutos em estudo. No entanto, apesar desse
montante de investimentos percebe-se que uma coesa integração entre os
países da região ainda está longe de ocorrer, pelo menos nos moldes da
Europa. Isso implica que devepassar algum tempo antes que os gover-
nos comecem a enxergar a importância da integração energética e quanto
ela é fator chave para o desenvolvimento do continente.
O mapa da figura 11 mostra que a Bolívia está se tornando o centro
nevrálgico na distribuição do s natural do continente. Este fato se dá
tanto pela sua localização geográfica como pelas reservas existentes no
seu território. Existem projetos para escoar o gás boliviano ao Oceano
Pacífico, à Argentina e ampliar gasodutos para o Brasil. Na parte norte do
continente a Combia importa da Venezuela s natural e a tendência é
ampliar esse comércio. Na parte Sul, há quatro gasodutos ligando Argen-
36
tina e Chile, a restrição imposta pela Argentina à exportação de s para
o Chile deve abalar futuros empreendimentos entre esses países. O último
gasoduto internacional construído foi o que liga a Argentina ao Uruguai.
A previsão é que, partindo de Montevidéu, se construa um outro duto
ligando Porto Alegre, o que daria uma posição privilegiada a esta cidade
em termos de suprimento de gás natural.
A pífia efetivação do programa PPT
4
, lançado no ano 2000 pelo
governo FHC, com as térmicas servindo de âncora para o gás natural,
obrigou o governo Lula a elaboração de uma nova estratégia de consumo
para o gás importado da Bolívia e para as significativas reservas descober-
tas deste combustível na Bacia de Santos. A indefinão sobre onde será
instalada a nova refinaria, a surpreendente elevão do barril de petróleo,
que superou a barreira dos US$ 145,0 em julho de 2008, e seus impactos
na fixação do preço dos combustíveis devem contribuir para que o setor
gasífero ainda seja olhado com muita reserva pelos agentes do mercado.
4 O Programa Prioritário de Termeletricidade (PPT) previa uma capacidade instalada de 20.974 MW
em usinas térmicas e um consumo estimado de 89,6 MM m
3
/dia.
37
Figura 11: Infra-estrutura de gasodutos na América do Sul (2002)
MAPS - 243
Map 3 Cross-border pipelines in South America, 2002
Source: IEA.
Fonte IEA, 2002
O governo do presidente Lula junto à Petrobrás tem lançado o Pla-
no de Massificação do Uso de Gás Natural. Segundo dados apresentados
pela Petrobrás, a empresa pretende investir US$ 3,9 bilhões no perío-
38
do 2004-2010 para ampliar ou construir novos gasodutos de transporte.
Os investimentos serão nos seguintes projetos: Malha Nordeste, Malha
Sudeste, Gasodutos Urucu-Manaus (725 km), Campinas-Rio (453 km),
Lorena-Poços de Caldas, (163 km) Urucu-Porto Velho (550 km), ligação
Sudeste e Nordeste - GASENE (1.215 km), amplião do Gasbel e o pro-
jeto de Gasoduto Virtual Gemini.
O objetivo é outorgar confiabilidade no suprimento de gás (GASE-
NE, com início de operação em 2009), antecipar a criação de mercados
em regiões sem infra-estrutura ou transportar o s natural para localida-
des distantes das fontes de produção ou da atual rede de gasodutos. Por
conta disso, os investimentos pretendidos em infra-estrutura são elevados
visto que o Brasil é um país continental e as disncias aos centros de
consumo são grandes. O Brasil, atras do Ministério de Minas e Energia
do governo do Partido dos Trabalhadores (PT) vem ajustando anomalias
de caráter regulador e normativo para posteriormente definir como sea
dinâmica da integração com os países vizinhos.
2.2.2 A opção pelo gás natural
O gás natural vem ganhando cada vez mais espaço no mercado
energético mundial, em fuão de várias razões, entre elas:
• Surpreendente crescimento das reservas;
• Combustível fóssil que menos polui;
• Amplo uso nos segmentos industriais e comerciais;
• Consolidação de mercados de gás natural;
• Tecnologias novas com melhor desempenho e eciência;
• Crescentes pressões ambientais;
• Alto preço do petróleo;
• Monetizar reservas de gás;
• Ampliar mercado de trabalho para prossionais da área;
• Carência de fontes de energia para atender demanda em grande
escala;
• Diversicação da matriz energética.
Como se pode observar são várias as razões pelas quais o gás natu-
ral tem sido escolhido, neste início do século XXI. Esse energético pode
substituir parcialmente vários derivados do petróleo e inclusive o consu-
mo de energia elétrica em alguns equipamentos de uso-final.
39
2.2.3 Panorama dos mercados de gás natural nos países do Cone Sul
No panorama atual dos mercados de combustíveis do Cone Sul,
como em qualquer indústria de capital intensivo, há uma clara e seleta
presença de grandes companhias da área de petróleo e gás natural
5
. Estas
têm adotado a filosofia decompanhias de energiavisando uma partici-
pação acionária, de preferência, em todos os segmentos da cadeia de gás
natural com o objetivo de proporcionar maior valor agregado ao produto
final e ampliar a sua participação nos lucros.
Embora a economia de mercado pregue a quebra de monopólios na
cadeia de gás natural na busca de uma eficiência na prestação dos serviços
ao consumidor final, entende-se isso por preços mais justos pagos pelo
suprimento de gás ou energia elétrica e, liberdade de escolha do consu-
midor. Na prática, o que se tem visto é uma tendência de consolidão de
grandes grupos capitalistas na indústria de energia dominando o mercado,
inibindo de forma sutil qualquer possível concorrência. Am do mais,
desde 2000 tem havido uma acentuada queda do volume de investimentos
estrangeiros diretos no Cone Sul e no setor energético e esse impacto tem
sido significativo (CEPAL, 2004).
Analisando particularmente os principais mercados, constata-se que
a Argentina é o país que tem o mercado de gás natural mais consolidado
e maduro dentre os países do Cone Sul e do continente Sul-americano
como um todo. A indústria argentina de gás natural tem um histórico de
quase quarenta anos. A utilização desse combusvel fóssil alcança todos
os segmentos (industrial, residencial, comercial e de geração de energia
elétrica). A produção de gás natural na Argentina cresceu a uma taxa mé-
dia de 4,5% até 1999, nesse ano começou o declínio na produção devido
à aguda crise econômica que viveu esse país durante quatro anos. Em
2004, como conseência do congelamento das tarifas de gás natural a
Argentina vem atravessando uma restrição enertica, pois os produtores
diminuíram a produção dos pos de gás passando de 99 poços explora-
dos para apenas 44 em abril de 2004. Como o gás natural fornece mais de
45% das necessidades energéticas do país, a sua retração na oferta incide
em todos os setores da economia. De qualquer forma, a produção é alta,
chegando aos 100 MM de m
3
/dia, dos quais, por contrato, estava expor-
tando 17,0 MM para o Chile. Após evidenciada crise energética, parte
desse volume tem sido cortado, o que provocou sérios problemas econô-
micos e energéticos ao Chile pela falta do s e problemas contratuais e
diplomáticos à Argentina.
5 As principais são: Petrobrás (Brasil), Repsol-YPF (Espanha), Totalfinaelf (França), British Gas
(Grã Bretanha), Pluspetrol (Argentina), Gás Natural (Espanha),
40
O delicado momento de falta de energia que a Argentina vem atra-
vessando quanto à oferta de energia é semelhante ao que atravessou o
Brasil no peodo 2001-2002. Embora esse país disponha de reservas de
gás natural, acima de 700 bilhões de metros cúbicos, as restrições no for-
necimento podem comprometer o crescimento do PIB argentino para os
próximos anos, o qual registrou 8% em 2007. Além disso, a Argentina de-
tém no gás natural um dos pilares da oferta de energia. Aproximadamente
43% das necessidades energéticas são supridas pelo s natural, uma das
participações mais altas do mundo.
A causa do atual impasse no setor energético se deve a uma junção
de fatores, porém os mais importanteso: a não aprovação, por parte do
Poder Judiciário, de um aumento nas tarifas de s natural no varejo e,
sobretudo, o não cumprimento das empresas produtoras e transportadoras
das metas de investimento fixadas nos contratos de concessão. Peran-
te a ctica situação, o governo argentino definiu, em meados de 2004,
algumas medidas para enfrentar a crise, entre as mais importantes se des-
taca um plano para investir US$ 3,7 bilhões nos próximos cinco anos
nas redes de transporte e distribuição, a criação de uma mega-empresa
estatal – ENARSA – com participação do Estado em 53% das ações. Esta
nova empresa teria a tarefa de recompor os veis de reserva, produção
e suprimento de s natural, além de acompanhar as necessidades de in-
fra-estrutura no transporte de s natural e eletricidade. Paralelamente,
para amenizar a falta de s natural, eletricidade e petróleo no período
de maior consumo (inverno), o governo argentino está importando 4,0
MM de m
3
/dia da Bolívia e, eventualmente, deve importar energia elétrica
do Brasil atras do Rio Grande do Sul.
A crítica situação energética da Argentina reflete-se também no
Chile, pois, este país importa cerca de 17,0 MM m
3
/dia de gás natural
destinados à geração de energia elétrica e a planta gás-química localizada
no extremo sul do país. A falta de s natural para esses consumidores
finais compromete o fornecimento de eletricidade em várias cidades e
também as exportações de butano e etano da planta industrial no extremo
austral do país. Além do mais, a Argentina exige revisão das tarifas nos
contratos de gás com o Chile, argumentando que eles são negativos aos
interesses da nação.
Em relação à Bolívia, este país produz cerca de 38,0 MM m
3
/dia,
exporta para o Brasil através do Gasbol a maior parte dessa produção e,
segundo informes da TBG, o volume importado em média foi de 30 MM
m
3
/dia (2007). O mercado doméstico boliviano consome algo 2,0 MM m
3
/
dia, considerando esse vel de produção, a relação Reservas/Produção
R/Pé de 250 anos. Em outras palavras, a quantidade de reservas des
41
na Bovia é grande o suficiente para atender o Brasil com o Gasbol ope-
rando a plena capacidade. Existe a possibilidade de exportar para outros
países do continente, como xico e Estados Unidos e inclusive extra-
continente, principalmente China e Japão.
Figura 12: Importações de gás natural via gasoduto na
América do Sul (2007).
0
5
10
15
20
25
30
35
Argentina Brasil Chile Uruguay
milhões de metros cubicos por dia
Fonte: BP Statistical, 2007
Embora, a Bovia tenha um excedente de gás natural, esta o
se favorecida economicamente. Nesse ps as vastas reservas de gás
natural (1,5 trilhões de metros cúbicos ou 48 Trilhões de s bicos,
segundo a empresa estatal YPFB) tornaram-se motivo de discórdia en-
tre os próprios cidadãos do país. Há um setor da população com uma
posição coerente de que o momento é propicio para exportar e ganhar
mercados sem descartar a possibilidade de industrializar localmente o
s natural e assim, outorgar-lhe valor agregado para atender a demanda
doméstica e a de exportação. Por outro lado, existe uma faão cres-
cente da população que, desconhecendo a dimica da instria de gás
natural, recusa qualquer possibilidade de exportar sem antes atender o
minúsculo e pouco atrativo mercado dostico. Diversos projetos es-
o sendo cogitados na Bolívia para exportar o gás: via gasoduto para
Argentina ou Chile e via GNL para EUA/xico. No médio e longo
prazo os alvos serão os mercados do Sudeste Asiático, o que dependeria
da constrão de um terminal no Pacífico onde seria instalada a planta
de liquefão de gás natural para ser posteriormente transportado em
42
barcos crionicos via tecnologia GNL.
6
As hesitações na escolha desse
porto e as questões ainda não resolvidas de soberania entre Bolívia e
Chile, podem comprometer a viabilidade desse projeto, uma vez que
em um mundo globalizado como o atual, existem fornecedores de s
natural ávidos por novos mercados e capazes de chegar antes a esses
mercados carentes de gás e com preço competitivo ou, no mínimo, ad-
quirindo vantagens no pioneirismo do fornecimento de s. A questão
de o que fazer com o gás natural é muito delicada e a nova Lei dos Com-
bustíveis Fósseis (Ley de Hidrocarburos) não garante investimentos na
exploração, para as companhias em função da falta de segurança jurídi-
ca e, para a empresa nacional por o possuir capital necessário para os
vultosos investimentos. Esta nova Lei cria receios sobre mudaas no
marco regulatório e, a definição das novas regras de jogo gera incerte-
zas nos players da indústria de s natural que operam no país. A nova
Lei inclui o fortalecimento da empresa estatal YPFB, atendendo um
anseio da população, o que possibilitaria ao governo uma participação
mais ativa nos destinos do gás natural e poderia refletir numa dimica
econômica pujante para o ps caso o manejo fosse feito por pessoal
capacitado e competente.
2.2.4 Demanda de gás natural no Brasil
O Brasil, mesmo em épocas de recessão ecomica, tem mostrado
que o consumo de energia elétrica é sempre crescente, salvo claro, em
períodos de racionamento forçados como o que aconteceu em 2001-2002.
As regiões de maior consumo de energia m sido sempre o Sudeste e o
Sul, mas, a região Nordeste, que concentra 25% da população do país e
não possui nenhum recurso energético de relevância, vem despontando
como um mercado que cresce a altas taxas. O Nordeste hoje importa gran-
de parte de suas necessidades de energia elétrica do Norte, e de derivados
de petróleo do Sudeste. O crescimento da economia na região do Nordes-
te, na última década foi significativo, e em alguns estados acima da média
nacional. Isso se traduz em consumo de energia ascendente, obrigando a
importões interestaduais e internacionais de energia.
Depois que o PPT foi quase descartado pelo governo LULA, nos
moldes que foi estruturado pelo governo anterior, o objetivo agora é di-
recionar o uso do s natural para os segmentos industrial, comercial e
de transporte. Uma vez que estes segmentos aderem ao gás natural, tem
um comportamento mais previsível e constante do que as térmicas. Os
6 GNL Gás Natural Liquefeito, tecnologia mediante a qual o gás é submetido a uma pressão de 600
at. e congelado a -160º C.
43
projetos denominados Gasene, Gasoduto Virtual e Malhaso a tentativa
de ancorar o gás nesses setores, e assim escoar a produção nacional e o
gás importado.
O Brasil também atravessa uma fase de revisão dos modelos do
setor energético, inicialmente para o setor elétrico e posteriormente para o
setor de gás natural. O atual Governo, no início do seu mandato, ameaçou
desativar as agências reguladoras, porém, percebendo o desgaste político
que teria decidiu rever sua postura. Contudo, os sinais para os investido-
res sobre os rumos de setor energético ainda o estão claros, embora se
observe uma melhoria no confuso quadro que estava imerso a indústria
de eletricidade.
O s natural está sendo utilizado em diversos setores econômi-
cos. O segmento industrial tem sido historicamente o mais importante
consumidor do produto. Com a chegada do gás importado da Bovia, a
ampliação da produção na Bacia de Santos e prováveis empreendimen-
tos de GNL no Nordeste, a demanda de s será ampliada para outros
segmentos. Embora, a um ritmo muito mais lento do que previsto ini-
cialmente com o Programa Prioritário Termelétrico (PPT). Por outro
lado, os segmentos comercial, industrial e uso veicular do s natural
(GNV) propiciarão aumento significativo na demanda desse energético,
além de outorgar um consumo constante, firme e independente da situ-
ão hidrológica.
Na atualidade, os gasodutos construídos para transportar gás
natural proveniente de países vizinhoso: Gasoduto Bolívia-Brasil
(Gasbol), cuja primeira etapa termina em Campinas tem uma capaci-
dade de 30 MM m
3
dia
-1
e extensão de 1970 km, (o Gasbol finaliza em
Porto Alegre e possui uma extensão de 1180 km sua capacidade é me-
nor que o da primeira parte e o transporte varvel); o gasoduto Lateral
Cuia de 267 km tem capacidade para transportar 2,8 MM m
3
dia
-1
e,
finalmente, o gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, do qual apenas 25 km
estão efetivamente construídos dos 627 km do projeto, deverá ter uma
capacidade de 12 MM m
3
dia
-1
44
Figura 13: Consumo de gás natural por segmento
Industrial
50,0%
GNV
13,%
Res idencial
1,0%
Ger .Eletr
30,0%
Comercial
1,0%
Cogeração
3,5%
Outros
1,5%
Fonte: Elaborado a partir do GASBRASIL 2005.
O consumo de gás natural no Brasil estava em 57,7 miles de
metros cúbicos por dia (m
3
d
-1
) em fevereiro de 2008, A região Sudeste
consome 38,1 milhões m
3
d
-1
, seguida pelo Nordeste com 7,0 miles m
3
d
-1
.
O consumo de gás natural na prodão de energia elétrica tem crescido
significativamente desde 2003, e hoje é responsável por 30% da deman-
da. No entanto, ainda seria prematuro afirmar que o segmento de geração
termelétrica manter-se-á nesse patamar, uma vez que o perfil de consu-
mo de gás natural das térmicas muda no período de chuvas (Nov/Abril),
ficando muitas delas sem despachar devido a abundancia de água nas bar-
ragens hidrelétricas. O segmento de GNV tem se mantido constante, com
uma participação de 13%, os segmentos residencial e comercial perfazem
somente 2% do mercado e é pouco provel que sua participão na de-
manda des natural mude no curto e médio prazo (Figura 13).
A figura 14 mostra dois cenários para o consumo de s natural,
indexado ao crescimento do PIB. Dependendo do desempenho da econo-
mia, a demanda de gás natural poderá crescer até atingir 70 milhões de
metros cúbicos por dia em 2010, com uma taxa de crescimento de 17,3%.
O PIB nesse cenário pode chegar a US$ 1.462 bilhões (2010), com uma
45
taxa dia anual de crescimento de 3,87%, entre 2000 e 2010. Por outro
lado, a demanda pode chegar a 49,4 milhões de metros bicos por dia
em um cenário nacional conservador com taxas de crescimento anuais de
13%. O PIB, para um cenário conservador, pode atingir US$ 1.390 bi-
lhões em 2010 a uma taxa de crescimento anual de 2,57% nesta primeira
década. Essa relação se porque com o crescimento da economia o s
natural tende a ganhar espaço no mercado, sobretudo, cativar consumido-
res do segmento industrial e comercial (shoppings, hotéis), que uma vez
aderindo ao gás constituem uma demanda mais equilibrada e constante,
garantindo fluxo comercial e sico do s natural para os agentes da ca-
deia de valor dos natural.
Figura 14: Crescimento do PIB e demanda de gás natural
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
US$ Biles
-
10
20
30
40
50
60
70
80
Milhões de m3/dia
PIB Cenário Conservador PIB Cenário Otimista
Demanda de Gás Cenário otimista Demanda de Gás Cenário Conservador
Fonte: Elaborado a partir de BC, 2008, Gasbrasil 2003.
2.3 A geração termelétrica no cenário energético brasileiro
2.3.1 O parque termelétrico no Brasil
No Brasil, a maior parte das térmicas a gás natural está concentrada
no Sudeste e na parte litorânea do país, onde se encontram as maiores
aglomerações populacionais. As usinas vêm sendo construídas e operadas
por grupos de companhias de energia, nacionais e estrangeiras de experi-
ência no setor energético. Até março de 2004 a capacidade instalada das
usinas termelétricas a s natural somava 5.178,83 MW, classificadas
conforme a tabela 1.
46
Até o primeiro semestre de 2004 estavam operando 128 usinas;
quarenta e seis que não fazem parte do Plano Prioritário das Termelétricas
(PPT) com potência total instalada de 993 MW; vinte e um do programa
PPT, com potencia instalada equivalente a 5.135,3 MW; seis no regime
de cogeração 108,8 MW; e, cinqüenta e cinco emergenciais, com poten-
cia de 2.035,6 MW, perfazendo um total de 8.272,7 MW de capacidade
instalada em termeletricidade (incluem-se aqui usinas térmicas movidas
a biomassa).
Tabela 1: Usinas termelétricas aprovadas pela ANEEL para o Brasil.
Quantidade
Potência
(MW) 2001
Potência
(MW) 2002
Potência
(MW) 2003
Potência
(MW) 2004
Não fazem parte PPT 46 64,6
378,1
463,1
87,2
PPT 21 942,0
1508,3
987,6
1697,4
PPT com cogeração 6 9,8
35
64
-
Emergenciais 55 25,0
2004,6
-
6,0
Total 128 1.041,4
3926,0
1514,7
1790,6
Fonte SIESE /2004
Na região Centro-Oeste estão previstas a ampliação e operação das
Usinas William Arjona de Campo Grande (80 MW + 94 MW), autori-
zada pela ANEEL; a operação da Usina de Três Lagoas (2x120 MW);
e, a construção da Usina de Corumbá (88 MW), estas duas últimas com
participação da Petrobrás (Figura 15). No Mato Grosso, a UTE de Cuiabá
de propriedade da empresa Prisma (ex-Enron), está habilitada para operar
em toda a sua capacidade instalada – 345 MW –, no entanto, o Operador
Nacional do Sistema, órgão que coordena o gerenciamento e operação
do sistema nacional de energia etrica, o autoriza sua plena operação
enquanto houver excedente de geração hidrelétrica.
47
Figura 15: Localização geográfica das usinas termelétricas no Brasil.
Figura 15: Localização geográfica das usinas termelétricas no Brasil.
Fonte: BEN 2003.
2.3.2 Geração de energia elétrica a partir de gás natural
Até o início dos anos 1990 o suprimento de energia elétrica vinha
predominantemente da hidreletricidade (97% em 1990). Esse quadro não
deve mudar no curto e médio prazo, em 2006 as termelétricas responderam
por 8,7% da produção de eletricidade, e se constata abundância de água nos
reservatórios. No tocante à capacidade instalada, todo o parque térmico in-
cluindo usinas a gás natural, carvão e as duas nucleares de Angra dos Reis,
está em torno de 20.000 MW o que representam 13 % do total.
A Figura 16 mostra o comportamento da produção de energia térmi-
ca de 2006 a 2007. Como conseência do racionamento de eletricidade
decretado pelo governo FHC, o período 2001-2002 foi o que registrou
a maior geração termelétrica produzida no Brasil, e, coincide com a
48
época de baixo volume de água acumulado nas barragens hidrelétricas.
O aumento de geração térmica ao final de 2003 se explica em função das
unidades que tinham começado a ser implementadas em 2002 e entraram
em operação. Porém, até fins de novembro de 2004 muitas delas esta-
vam sem operar
7
, pois o ONS) órgão que decide e define a prioridade de
geração, estima que as usinas hídricas estejam com folga, despachando
quase 92% da geração, desestimulando a operação das térmicas no curto
e médio prazo.
Figura 16: Produção mensal de energia termelétrica.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
No
vembro
De
zembro
GWh
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte Elaboração própria a partir de dados do ONS e BEN 2003.
A produção de energia termelétrica convencional vem oscilando
entre 2.500 e 3.000 GWh por mês, com uma média de 2.740 GWh e repre-
sentou nos cinco últimos anos 8,0% da energia elétrica despachada pelo
ONS. No entanto, nos últimos dois anos as rmicas têm sido menos re-
queridas que nos anos anteriores. Fatores como uma precipitação pluvial
mais regular nas bacias, fato que disponibilizou maior quantidade de água
para as hidrelétricas, e o gás natural direcionado preferencialmente para
uso industrial, têm contribdo para essa queda (Figura 16). As rmicas
são necessárias no sistema sob o conceito de complementaridade térmica.
Isso significa que, tendo em vista o alto grau de volatilidade da variável
estocástica, que é a afluência de água nas bacias hídricas (quanto, onde e
quando chove) e sua grande variabilidade, dispor de usinas térmicas para
cobrir períodos longos de ausência de água evitaria possíveis colapsos no
7 A Petrobrás pagou em 2003 US$ 324 milhões para térmicas que sequer geraram energia elétrica; os
contratos firmados durante a época do racionamento obrigam a fazer esse desembolso.
49
Sistema Interligado Nacional de Energia Elétrica (SANTOS, 2004). O
ONS para manter a margem de segurança nos reservarios entre 46% e
53% autoriza a operação das usinas térmicas para gerar termeletricidade,
embora muitas vezes optar pela manutenção dessa margem seja onerosa
para o país, tal qual ocorre desde dezembro de 2007, com um total gasto
de R$ 700 milhões (GASBRASIL, 2008).
A geração termelétrica em 2006 foi de 33.859 GWh vindo mais
de 65% do Sudeste/Centro-Oeste, em torno de 30% do Sul e o resto do
Nordeste (5%). A figura 17 apresenta a evolução anual da gerão ter-
melétrica no país, em percentual, desde 2002 a 2006. A rego Nordeste
é a mais carente em termos de geração de energia etrica e também é a
que menos possuirmicas, havendo um grandeficit no fornecimento
de eletricidade. Tanto o governo quanto os investidores privados olham
essa região como a que tem todas as características para receber térmi-
cas a s natural, contudo a restrição na infra-estrutura de transporte
ainda deve ser preenchida, ou seja, construir gasodutos e portos que
possam escoar o gás natural.
Figura 17: Participação dos combustíveis na energia termelétrica (%).
Fonte: ONS, Relatório 2007.
A produção de energia elétrica no Brasil em 2006 foi de 416.368
GWh, desse total 33.859 GWh (8,0%) foram gerados por usinas tér-
micas (gás natural, nucleares, diesel, etc.). Pelas colunas da figura 18
evidencia-se quão marginal é a contribuição das rmicas na produção
de eletricidade. Esse perfil deve permanecer no Brasil ainda por várias
décadas, pois, o potencial hidrelétrico estimado do país é de 258.420 MW
e apenas 73.000 MW estão em exploração, ou seja, 28% do total. No en-
50
tanto, é válido ressaltar que boa parte desse potencial encontra-se na bacia
do Amazonas. Por razões de impactos ambientais de grande magnitude no
ecossistema da região a possibilidade de ser explorado todo o potencial
hídrico do Amazonas é bastante remota.
A análise e operação de sistemas hidrotérmicos requer simulações
computacionais de modelos que reflitam a otimização de alguma variável.
As variáveis o maximizadas ou minimizadas segundo a definição do
objetivo que se persegue. Maximizar a entrega ou produção de energia
elétrica ou minimizar o custo de operação das usinas definindo as res-
trições nas quais o sistema e as usinas fornecem energia elétrica são, na
maioria das vezes, alvos na estruturação da função objetivo dos modelos.
Diversos trabalhos tem sido publicados abordando este assunto, com a
inserção paulatina de geração térmica no Brasil, Pereira et al. (2002) in-
vestigaram as ineficiências de uma operação descentralizada de sistemas
hidrotérmicos e propuseram a criação de um mercado atacadista de água
análogo ao mercado atacadista de energia. Este e outros trabalhos nessa
linha vêm propondo solões para despacho de carga eficiente, do ponto
de vista cnico e econômico, do complexo sistema nacional interligado.
Neste estudo não se pretende a utilização da modelagem como ferramenta
para alcaar um gerenciamento ótimo das usinas do Centro-Oeste. No
entanto, se sugere para a continuação e complementação desta pesquisa,
a elaboração de um modelo que reflita a entrada das novas UTEs a gás
natural e bagaço de cana.
Figura 18: Produção acumulada de energia por fonte.
69%
69%
70%
72%
71%
9%
8%
9%
8%
8%
0%
0%
0%
0%
0%
22%
23%
22%
20%
21%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
2002 2003 2004 2005 2006
Hidro Itaipu Térmica Emergencial+Compra Adicional
Fonte: ONS, Relatório 2007.
51
2.4 Políticas governamentais para a indústria de gás natural
A penetração e expansão do gás natural deveriam estabelecer-se
pautadas por uma política industrial e energética intimamente coesa. A
ausência de uma cultura do gás na sociedade brasileira é uma barreira que
será vencida apenas com políticas e programas coerentes e claros, de tal
forma que os projetos de difusão do s natural se tornem exeqüíveis.
O Brasil almeja alcançar 12% da matriz na demanda de energia
com gás natural. Para tal, os governos têm elaborado diversos planos. O
atual governo pretende substituir o programa PPT e lançar o Programa
Massificação do Uso do Gás Natural, que inclui, dentre outros, o GA-
SENE, Projeto Gasoduto Virtual Ampliação da Malha de Gasodutos das
Regiões Sudeste e Nordeste.
A idéia central do programa é divulgar a utilização do s natural
entre os consumidores do setor industrial e comercial. O gás importado
está cotado em lares e seu ajuste trimestral, por queses contratuais,
está indexado a uma cesta de combustíveis internacionais e como nos
últimos quatro anos a elevação do barril de petróleo tem sido constante,
o preço do gás natural também subiu. Dentre outras razões, esse fator
contribuiu para o fracasso do PPT - concebido para o uso massivo do gás
na geração termelétrica, servindo de âncora para a comercialização do gás
importado da Bolívia. É valido ressaltar que o programa PPT não se con-
cretizou na forma prevista não tanto pela ênfase de gerar termeletricidade
e sim pela falta de coordenação e planejamento do sistema de energia
elétrica como um todo. Não existindo uma política energética integrada
com a industrial e de ciência e tecnologia, o resultado dificilmente será
bem sucedido.
Sem dúvida, o preço do gás ainda está distante do ideal para uma
maciça adoção por parte dos consumidores de todos os segmentos. O
PPT foi mal sucedido e a meta inicialmente fixada foi abandonada. Adi-
cionalmente, o preço do gás natural importado da Bolívia definido para
as termelétricas gerou muita polêmica e o vingou por alguns motivos.
Primeiro, porque ele se encontra indexado a uma cesta de combusveis
internacionais. Por sua vez, essa cesta ainda está sujeita a duas correções:
uma trimestral, do preço desses combustíveis e, outra anual, do índice
de inflação do dólar do preço na commodity como houve flutuação da
moeda norte-americana, tornou-se caro usar o gás natural para gerar ener-
gia etrica. Segundo, o custo de transporte, na modalidade tarifa postal
(stamp price), pesa significativamente no preço final do gás cujo valor
final é dado em dólares (US$/MMBtu), chegando a ser portanto, o preço
52
do transporte um forte empecilho para a expansão mais incisiva do gás
natural no mercado.
Os compromissos de compra do gás da Bolívia por parte da Petro-
brás previam um gradual aumento do volume adquirido, pois era previsto
que o consumo cresceria de forma ostensiva nas usinas térmicas. Contu-
do, o mercado o evoluiu como era previsto e atualmente o Brasil paga
por volumes que o consome devido à cláusula take-or-pay de 70% in-
cluída no contrato. Para que essa situação não continue assim o objetivo
do governo é focalizar o consumo em segmentos mais confiáveis como o
industrial e levar o gás para regiões carentes de qualquer fonte de energia
e que, no entanto, tem uma grande demanda reprimida, como no Nordes-
te, no estado de Goiás e no Distrito Federal.
O Brasil possui o privilegio de ter uma das matrizes energéticas
com maior participação de fontes de energia renoveis, uma vez que a
hidreletricidade contribui quase com um terço do fornecimento de ener-
gia (exatamente 27% segundo as correções do BEN). Entretanto, será
difícil sustentar essa participão futuramente, visto que novos apro-
veitamentos hidrelétricos de grande porte encontram-se, na maior parte
das vezes, distantes dos grandes centros de consumo (centros de car-
ga) e em locais onde haveria grande impacto ambiental se construídas
(Amazonas). Conseqüentemente, a instalação de usinas rmicas a s
natural perto dos centros de consumo deve tornar-se tanvel no médio
e longo prazos. Com uma regulação adequada e regras transparentes
quanto à definição do preço da energia elétrica, observando todos os
cuidados pertinentes quanto a posveis agreses ao meio ambiente e
incorporando essas externalidades criadas na produção de eletricidade
de qualquer tipo de fonte de energia ao custo de produção do kWh, as
rmicas a gásm chances de chegar de forma competitiva ao mercado.
Adicionalmente, um sistema de energia elétrica que forneça suprimento
combinando hidro e termeletricidade outorgaria robustez ao sistema e
confiabilidade no atendimento da demanda nos horios de ponta e in-
clusive na parte média da curva de carga.
Mesmo com a hidreletricidade prevalecendo, é preciso que o mer-
cado funcione de forma competitiva, pois, a competição garante que
preços de mercado convergem para custos marginais induzindo uma
eficiente alocação e recursos (NEWBERRY, 1989). O fracasso nos mer-
cados de energia elétrica se quando: i) a geração o é competitiva
devido a gargalos na transmissão, o permitindo fluxo de potência e
comercial, assim os consumidores não m oportunidades para responder
aos picos do preço; ii) a reestruturação do mercado é feita em tempos de
insuficiente capacidade, o que leva a pros altos; iii) taxas congeladas
53
mascaram os preços marginais colocando abruptamente a necessidade por
risco restrito; iv) incertezas regulatórias antes e durante a reestruturação
desencorajam a construção de novas plantas.
O fato de a hidreletricidade ser predominante na produção de eletri-
cidade levou ao domínio dessas tecnologias ao Brasil. A assimilação de
usinas térmicas a gás natural que geram energia elétrica estão se tornando
mais familiares para o setor energético brasileiro. O capítulo seguinte faz
uma apresentação sucinta dos principais sistemas de geração termelétrica
usados no mundo.
Parte 3
Tecnologias para a geração termelétrica
57
TECNOLOGIAS PARA A GERAÇÃO TERMELÉTRICA
A geração termelétrica é de longa data amplamente conhecida na
produção de energia elétrica. As primeiras unidades de geração de eletrici-
dade vêm do final do século XIX, e eram alimentadas por carvão mineral,
matéria prima abundante na Europa e nos Estados Unidos. Até hoje, o supri-
mento de energia elétrica proveniente de térmicas a carvão é significativo
em países industrializados. A pesar das pressões ambientais para minimizar
a emissão de gases e de VOCs (compostos voláteis em suspensão) origina-
dos durante a queima do carvão, este tem se mantido competitivo pelo fato
de ser uma fonte de energia barata que se reflete no custo do kWh gerado e
no rápido retorno do capital investido (DOE, 2003).
A geração termelétrica é predominante na maior parte dos países.
Em 2005, de 16.650,21 TWh de energia elétrica produzidos mundialmen-
te, 39,1% eram provenientes de centrais a carvão mineral, 17,4% de s
natural e 7,9% de óleo combustível. Completavam essa produção a ori-
gem drica com 17,1%, a nuclear com 16,9% e, apenas 1,6% de fontes
geotérmicas, solar,lica, biomassa e queima de lixo (IEA, 2008).
É pertinente destacar que as UTE’s tem uma resposta e operação mui-
to mais complexa que as hidrelétricas, devido aos fluidos escoados a alta
temperatura e pressão e as condões de trabalho extremas do matérias nas
tubulações, supercies de aquecimento, câmara de combuso, carca, ca-
beçotes, etc. Também deve considerar-se a inflncia da corrosão e erosão
dos diferentes metais, a necessidade de complexos sistemas de controle e,
recentemente, a obrigatoriedade de incluir sistemas de controle de poluição
junto ao esforço constante de manter a eficiência e confiabilidade de sistema.
As centrais termelétricas são responsáveis pela emissão de gases
de efeito estufa. Os motores a combustão, amplamente usados no setor
de transporte, os fornos das indústrias assim como fogões e cozinhas
também emitem CO
2
. Entre as formas de amenizar as emissões de gases
estufa, pesquisas no aprimoramento no controle dos processos de trans-
formação têm resultado na melhoria da tecnologia. Desta forma, nos trinta
anos recentes houve um significativo avanço nas tecnologias de geração
de termeletricidade. Particularmente as tecnologias de Ciclo Combinado
e de Cogeração mostram-se hoje atrativas economicamente e eficientes
tecnicamente. Ademais, a fabricação de unidades de geração de pequena
escala vem ajudando descentralizar a produção de eletricidade.
58
3.1 Tecnologias para a geração de termeletricidade
3.1.1 Usinas termelétricas a Ciclo Combinado e Ciclo Simples
Turbinas a gás, também conhecidas como turbinas de ciclo Brayton,
possuem um dos mais eficientes ciclos da conversão de combustíveis ga-
sosos para potência mecânica ou elétrica. O uso de combustíveisquidos
destilados, geralmente o Diesel, é tamm comum onde o custo de cons-
trução de gasodutos é invvel economicamente. Turbinas a s têm sido
usadas no modo ciclo simples pela indústria de geração de energia e-
trica para atender a demanda pico do sistema em que o gás natural e/ou
combusveis líquidos destilados são usados e, onde sua capacidade de
partida e desligamento é essencial para atender as oscilações da deman-
da. Turbinas a gás são também usadas no modo ciclo simples na base
da carga para a geração de potência mecânica ou elétrica nas indústrias
de petróleo e s, em que o GN e processos gasosos o usados como
combusvel. Combustíveis gasosos m custos reduzidos de manutenção
comparados com combustíveis líquidos, mas o custo de suprimento do
gás natural somente se justifica operando na base de curva de carga. A
eficiência do ciclo simples tem melhorado, turbinas a GN têm sido adap-
tadas para operar na base da curva de carga, especialmente módulos a
ciclo combinado (Figura19).
Figura 19: Arranjo de UTE a Ciclo Simples (Ciclo Brayton)
Fonte: Salomon,2003.
O conjunto turbina a GN, caldeira de recuperação dos gases de
exaustão, turbina a vapor e geradores é chamado de ciclo combinado. Esse
59
tipo de usina está sendo instalado em todo o mundo e em número cres-
cente, em locais onde facilidades de entrega de GN e em quantidades
substanciais. É também possível usar o vapor da caldeira de recuperação
para propósitos de aquecimento. Assim, usinas a s natural podem ope-
rar entregando não somente eletricidade como também calor, processo
conhecido como cogeração. O principio básico do ciclo combinado a GN
é simples: a combustão do GN na turbina a gás produz o somente po-
tência a qual é convertida em energia elétrica por um gerador mas
também gases de exaustão quentes.
Figura 20: Arranjo de UTE a Ciclo Combinado
(Ciclo Brayton + Rankine).
Fonte: Salomon, 2003
Sistemas de ciclo combinado queimam gás natural em uma turbina
acoplada a um gerador para produzir energia elétrica (Figura 20). Os gases
quentes de exaustão são usados para gerar vapor que produz eletricidade
adicional através de uma turbina a vapor e um gerador convencional. A
máxima eficiência é atingida somente durante a operação de carga plena.
Uma usina termelétrica a ciclo combinado de base tem uma eficiência de
52% (Poder Calorífico Inferior). Para grandes plantas podem ser espera-
dos acréscimos de eficiências picas em até 55%, sendo que tecnologias
mais avançadas atingem eficiências em torno de 60%, dependendo da
turbina de gás desenvolvida (UNGER, HERZOG, 1998).
60
Uma vantagem significativa das unidades de ciclo combinado é que
a capacidade da usina pode ser instalada em estágios deixando que as
turbinas a gás sejam instaladas inicialmente (1 ou 2 anos), seguida mais
tarde das caldeiras de recuperação de calor junto com as turbinas a vapor
(3 anos). Dessa forma, cada unidade (ou bloco) a ciclo combinado pode
ser instalado em três (ou mais) segmentos de capacidade igual. Arranjos
modulares de unidades a ciclo combinado podem facilitar o despacho na
geração porque cada turbina a gás pode ser operada independentemente
(com ou sem as turbinas a vapor), se parte do bloco a ciclo combinado
for para manutenção ou, se menos da capacidade total da unidade a ci-
clo combinado for requerido. O tamanho das unidades a ciclo combinado
varia de 50 MW a quase 500 MW, existindo diversas seleções de possibi-
lidades para diversas necessidades do sistema elétrico.
Sistemas de ciclo combinado queimam gás natural em uma turbina
acoplada a um gerador para produzir energia elétrica. Os gases quentes de
exaustão provenientes da turbina a gás são usados em forma de vapor que
produz eletricidade adicional através de uma turbina a vapor e um gerador
convencional.
Outro ponto favorável para as unidades a ciclo combinado é que o
custo por quilowatt das turbinas a gás não parece incrementar significativa-
mente para pequenas unidades. Este é o caso das unidades a vapor devido
parcialmente ao alto custo dos trabalhos de obras civis necessários para
usinas sem considerar o tamanho da unidade. Unidades a ciclo combinado
podem ser instaladas em três anos enquanto uma unidade a vapor típica re-
quer cinco anos e, uma vez comissionada não geração de energia elétrica
de uma unidade a vapor até completar a montagem de todos os blocos.
3.1.2 Cogeração
Prédios, edifícios comerciais e fábricas industriais em todo o mundo
são os maiores consumidores de energia no final da ponta da cadeia do
mercado de energia elétrica. Hoje, quase 60% da demanda de energia de um
moderno edifício do tipo arranha-céus em um país de clima tropical provêm
do fornecimento de conforto térmico, ou seja, sistemas de refrigeração.
Normalmente, as companhias distribuidoras de energia elétrica suprem
eletricidade para caldeiras e chillers toda vez que é necessário atender de-
mandas de aquecimento ou resfriamento dos usuários, respectivamente.
Usinas termetricas o uma opção tecnológica crescente na produ-
ção de energia elétrica nos países em desenvolvimento, mas, pelo método
convencional de geração e suprimento de energia elétrica, mais da metade
da energia primária requerida pela usina é desperdiçada. A maior fonte de
61
perdas nos processos de conversão é o calor rejeitado nas imediões da
água e do ar devido a restrições inerentes dos diferentes ciclos termodinâ-
micos empregados na geração de energia termelétrica. Am do mais, os
consumidores estão longe dos pontos de geração, o que resulta em perdas
adicionais em transmissão e distribuão na rede.
O conceito de cogeração é baseado no principio de cascata térmi-
ca, o qual consiste na geração, termelétrica in situ, em que uma frão
substancial do calor rejeitado é recuperada para satisfazer demandas de
aquecimento ou resfriamento do consumidor final. Existe, portanto, uma
considerável ênfase na eficiência global do ciclo.
Equipamentos de geração de calor e energia elétrica, ou comumente
chamados de cogeração, são amplamente reconhecidos em todo o mundo
como uma alternativa atrativa às opções convencionais de produção de
energia elétrica e calor devido ao seu baixo capital de investimento, curto
período de implementação, reduzido consumo de combustível e, conse-
qüentemente, associado à baixa poluição ambiental.
Embora o conceito de cogeração seja conhecido desde início do sé-
culo XX, o mesmo se popularizou adquirindo renovado interesse apenas
no final da década de 70 e início da década de 80. Os principais fatores
que contribuíram para este fenômeno foram os dois choques de petróleo
que levaram a uma espiral crescente o preço dos energéticos, em especial
dos combustíveis fósseis. Ainda, a disponibilidade de sistemas de cogera-
ção em pequena escala tornou o custo efetivo competitivo em relação às
unidades convencionais de geração.
Uma variedade de medidas foi adotada por diversas autoridades na-
cionais para promover o crescimento da cogeração. Porém, como o preço
dos energéticos começou a cair em meados de 80, muitos paises perderam
interesse na tecnologia, particularmente, aqueles que estavam com exceden-
tes na capacidade de geração. A Holanda, por exemplo tem 34% da geração
elétrica proveniente da cogeração enquanto que na França mal chega a 1,5%.
A principal razão que reavivou o interesse na cogeração foi o -
pido crescimento da demanda de energia elétrica, restrições enfrentadas
pelos governos para financiar a capacidade de geração elétrica adicional
e, mais recentemente, limitações crescentes às emissões de gases poluen-
tes decorrentes do uso de energéticos. A cogeração atualmente está sendo
recomendada onde existem planos de expansão das companhias, desenvol-
vimento de novas indústrias, substituição de sistemas de geração de vapor
ou, quando o custo da energia é alto e existe escopo para vender energia
62
Princípios da Cogeração
Cogeração é definida como a geração seqüencial de duas diferen-
tes formas de uso da energia desde uma única fonte de energia primária,
nominalmente a energia mecânica e a energia rmica. Energia mecânica
pode ser utilizada tanto para girar um alternador que produz eletricidade
ou colocar em funcionamento equipamentos como motores, compresso-
res, bombas ou ventiladores integrando estes serviços. Energia térmica
pode ser usada tanto para processos de aplicação direta ou para produzir
indiretamente vapor, água quente, calor, ou direcionada para os chillers
que processam ar frio (ASEAN, 2000).
A cogeração incorpora uma ampla faixa de tecnologias para apli-
cação em vários domínios da atividade econômica. A eficiência global
da energia usada em um modulo de cogeração pode chegar a80% ou
acima em alguns casos (Figura 21, lado esquerdo). Uma típica pequena
turbina na base de uma unidade de cogeração pode economizar quase
40% da energia primária quando comparada a uma usina convencional
que queima combustível ssil direto nas caldeiras. Além de economizar
o combustível ssil, a cogerão permite reduzir as emissões de gases
estufa (particularmente, emissões de CO
2
) por unidade de energia útil
produzida. Na produção de energia sendo in situ, a carga na rede elétrica
é reduzida e as perdas nas linhas de transmissão são amenizadas.
A cogeração, assim como toda tecnologia incorporada na geração
distribuída, faz sentido tanto do ponto de vista macro como micro. Em
vel macro, ela permite que uma parte da carga financeira da compa-
nhia distribuidora de energia local seja dividida com os cogeradores
ou indústrias que sazonalmente podem dispor de excedente de energia
elétrica. Fontes de energia caras são evitadas e energéticos importados
o reduzidos. Em nível micro, a conta da energia global dos usrios
é reduzida, particularmente, onde existe uma necessidade simultânea
tanto de energia elétrica como energia rmica e, uma tarifa racional
de energia é praticada no ps. É interessante observar que para obter
a mesma quantidade de unidades de calor e energia elétrica, é preciso
42 (quarenta e dois) unidades de energia a mais na entrada do sistema
convencional (Figura 21).
Geração Elétrica e Cogeração
Nos países em desenvolvimento o é raro passar por situações
de interrupções de fornecimento de eletricidade da rede, tanto devido à
falhas cnicas como ao fato que a demanda dos consumidores em um
63
determinado período excede a capacidade de fornecimento do sistema.
Edifícios comerciais e instalações industriais normalmente adotam gera-
dores stand-by para atender a demanda de carga nessas eventualidades.
Garantir a continuidade do serviço é essencial em algumas atividades
para minimizar perdas na produção e fornecer conforto aos clientes. Os
geradores stand-by têm uso limitado no ano, contudo, esses equipamentos
requerem investimentos e custos em operação e manutenção enquanto
não contribuem praticamente em nada para reduzir a conta da energia
total do local.
Figura 21: Sistema de Cogeração vs. Sistema Convencional.
Fonte: ASEAN, 2003
Considerando que esses geradoresm o propósito de garantir
energia elétrica de emerncia para áreas prioritárias do local, na aná-
lise financeira se leva em conta ativos para sua viabilidade econômica.
Por outro lado, esses geradores oferecem a possibilidade de continuar
gerando energia elétrica para que a consumo mensal do local possa ser re-
duzido. Tais benefícios podem muito bem justificar a necessidade de altos
investimentos, geralmente associado às turbinas que são estruturadas para
operar continuamente e com alta eficncia.
Nas turbinas a gás ou motores a gás, um terço do combustível pri-
mário fornecido é convertido em energia elétrica, o resto é descartado
como calor a temperaturas relativamente altas, entre 300°C e 500°C. No
local, havendo requerimento de energia rmica de uma forma ou de ou-
tra, o calor desperdiçado pode ser recuperado para atender a quantidade e
o vel requeridos de energia térmica. Por alguns períodos, o vapor pode
ser necessário a baixa ou média pressão nos processos de aplicação. O
calor recuperado dos gases de exaustão da primeira turbina ajuda a eco-
64
nomizar a energia primária que pode ser utilizada em equipamentos de
convero como caldeiras e secadores.
Um local ideal de cogeração deve ter as seguintes características:
• Requerimento conável de energia elétrica;
• Padrões de demanda elétrica e térmica relativamente estáticos;
• Demanda de energia térmica maior que a demanda de energia elé-
trica;
• Longos períodos de operação durante o ano.
As aplicações típicas de cogeração podem ser em três distintas áreas:
• Cogeração nas companhias distribuidoras de energia elétrica
no fornecimento de sistemas de aquecimento ou refrigeração. Os
equipamentos de cogeração podem ser alocados em centros in-
dustriais ou na cidade;
• Cogeração industrial – aplicável somente em dois tipos de indús-
trias, algumas requerem energia térmica a altas temperaturas (re-
narias, plantas fertilizantes, indústrias de aço, cimento, cerâmica,
e vidro) e outras a baixa temperatura (fábricas de papel e celulose,
indústria têxtil, de alimentos e bebidas, moinhos);
• Cogeração comercial/institucional – especicamente aplicável
para estabelecimentos que trabalham com expediente completo
(24 horas), tais como hotéis, hospitais e campi universitários.
Opções Técnicas de cogeração As tecnologias de cogeração que
têm sido mais comercializadas incluem turbinas a vapor de extração/pres-
são; turbinas a gás com caldeira de recuperação de calor e motores.
Sistemas de Cogeração de turbinas a vapor
Os dois tipos de turbinas mais usadaso a de pressão de reversa e
a de condensação – extração (Figura 22). A escolha do tipo de turbina de-
pende principalmente da quantidade de calor e energia elétrica, qualidade
do calor e fatores econômicos. Os pontos de extração da turbina podem
ser mais de um dependendo do vel da temperatura do calor requerido
pelo processo.
Outra variação da turbina a vapor em um sistema de cogerão do
ciclo topping é a turbina a pressão de extração reversa a qual pode ser
utilizada onde as necessidades de energia térmica do consumidor final
65
são para dois veis de temperatura diferentes. As turbinas a vapor são
usualmente incorporadas em locais onde o calor rejeitado do processo é
usado para gerar energia elétrica.
Figura 22: Turbinas de pressão reversa vs.
Turbina de extração-condensação.
Fonte: ASEAN, 2003
A vantagem específica de usar turbinas a vapor em comparação
com outro tipo de tecnologias é que a opção para seu uso tem uma ampla
variedade de combustíveis, tanto convencionais como alternativos, tais
como o carvão, gás natural, óleo combustível e biomassa. A eficiência na
geração de eletricidade do ciclo pode ser sacrificada em função de otimi-
zar o suprimento de calor. Nas plantas de cogeração a pressão reversa há
a necessidade de grandes torres de resfriamento. Turbinas a vapor são ma-
joritariamente usadas onde a demanda de eletricidade encontra-se entre 1
MW e 200 MW. Devido ao sistema de inércia, sua operação o é muito
sustenvel para locais com demanda de energia intermitente.
Sistemas de Cogeração com Turbinas a Gás Natural
Sistemas de cogeração de turbinas a vapor podem produzir toda
ou parte do requerimento de energia do local, e a energia expulsa a altas
temperaturas do exaustor pode ser recuperada para várias aplicações de
aquecimento ou resfriamento. Embora o gás natural seja majoritariamente
usado, outros tipos de combustíveis como derivados de petleo conhe-
cidos como light fuel ou diesel também são. A faixa pica das turbinas a
gás varia desde uma fração de MW até 100 MW.
66
A cogeração com turbinas a s natural tem provavelmente ex-
perimentado maior desenvolvimento em anos recentes devido à grande
disponibilidade de gás, o rápido progresso na tecnologia, uma redução
significativa dos custos de instalação e um melhor desempenho ambiental.
Além do mais, o período de gestação para desenvolver um projeto é curto
e o equipamento pode ser entregue por módulos. Turbinas a s m um
tempo de partida curto e têm flexibilidade nas operações intermitentes, e
embora tenham baixo calor para poder fazer uma eficiente conversão à
energia elétrica, mais calor pode ser recuperado a altas temperaturas. Se a
produção de calor é menor que a requerida pelo usuário é possível ter um
aumento suplementar de gás natural para misturar combustível adicional
ao gás de exaustão rico em oxigênio para impulsionar mais eficientemen-
te a energia térmica (Figura 23).
Por outro lado, se mais potência é requerida no local, é possível
adotar o ciclo combinado que é a combinação de turbinas a gás e turbinas
a vapor. O vapor gerado dos de exaustão proveniente da turbina as
natural é passado para uma turbina a vapor de extração condensação
para gerar energia elétrica adicional. O vapor extraído da turbina a vapor
fornece a energia térmica requerida.
Figura 23: Diagrama esquemático de cogeração com turbinas a gás.
Fonte:ASEAN, 2003
67
Sistemas de Cogeração de Motores Recíprocos
Também conhecidos como motores de combustão interna, esses
sistemas de cogeração têm alta eficiência na geração de energia elétrica
em comparação com outras máquinas móveis. Existem duas fontes para
recuperar o calor: do gás de exaustão a altas temperaturas e com moto-
res de sistema de resfriamento a baixa temperatura. O calor recuperado
pode ser mais eficiente para sistemas pequenos. Tais sistemas são mais
populares com equipamentos que demandam pouca energia, particular-
mente aqueles quem uma necessidade de energia elétrica maior do que
térmica e, onde a qualidade do calor requerida não é alta, por exemplo, as
turbinas de baixa pressão.
Embora o óleo diesel tenha sido o combustível mais comumente
utilizado no passado, os motores também podem operar com óleos pesa-
dos ou s natural. Em áreas urbanas onde a rede de distribuição de s
natural está instalada, motores a gás estão tendo ampla aceitão devido
a fácil manipulação do combustível e limpeza nas emissões do motor de
exaustão.
Essas máquinas são ideais para operações intermitentes e seu de-
sempenho o é senvel às mudaas na temperatura ambiente como as
turbinas a gás. Apesar de o investimento inicial nessas quinas ser bai-
xo, os custos de operação e manutenção são elevados devido ao seu alto
desgaste e forma de uso.
Classificação dos Sistemas de Cogeração
Sistemas de cogeração normalmente são classificados segundo a se-
ência do uso da energia e ao esquema de operação adotado (ASEAN, 2003).
Um sistema de cogeração pode ser classificado na base da seqüên-
cia do uso da energia tanto como ciclo topping ou bottoming. No ciclo
topping, o combustível fornecido é utilizado para produzir primeiro ener-
gia elétrica e logo depois energia térmica, sendo o bi-produto de um ciclo
utilizado para atender processos quentes ou outro tipo de requerimentos
térmicos. A cogeração no ciclo topping é amplamente usado em indústrias
de papel e polpa, processos alimentícios, têxteis, distritos de aquecimen-
to, hois, hospitais e universidades.
No ciclo bottoming, o combustível primário produz energia térmi-
ca a alta temperatura e o calor rejeitado do processo é usado para gerar
energia elétrica através de uma caldeira de recuperação e uma turbina-ge-
rador. Ciclos bottoming o passíveis de uso em processos de fabricação
que requerem calor em alta temperatura nas fornalhas e clinquers o calor
68
rejeitado sai também a altas temperaturas. Áreas típicas de aplicação in-
cluem: as indústrias de cimento, aço, cerâmica e petroqmica.
Atendendo a base da carga de energia elétrica
Nesta configuração, a usina de cogerão é dimensionada para
atender a demanda de eletricidade nima do local baseada na curva de
demanda histórica. O resto das necessidades de energia elétrica é com-
prado da concessionária. Os requerimentos de energia rmica no local
podem ser atendidos pelo sistema de cogeração sozinho ou por caldeiras
adicionais. Se a energia rmica gerada excede as necessidades de de-
manda da planta e se a situação permite, o excedente térmico pode ser
exportado a consumidores vizinhos.
Atendendo a base da carga da energia térmica
Aqui o sistema de cogeração é dimensionado para suprir os reque-
rimentos mínimos de energia térmica. Caldeiras stand-by ou queimadores
são operadas durante períodos nos quais a demanda de calor é maior. Os
equipamentos instalados operam a plena carga o tempo todo. Se a deman-
da de eletricidade no local é menor que a produzida, o remanescente pode
ser vendido para a rede, sempre e quando as leis permitam que o excesso
de energia elétrica possa ser comercializado para a concessionária.
Atendendo a carga elétrica
Neste esquema de operação, a demanda de energia elétrica é total-
mente independente da rede, todas os requerimentos de energia elétrica,
incluindo as reservas necessárias durante paradas de manutenção, pro-
gramadas ou o, são levadas em conta no dimensionamento do sistema.
Se a demanda de energia rmica do local é muito maior que a gerada
pelo sistema de cogerão, caldeiras auxiliares são usadas. Por outro lado,
quando a demanda de energia térmica é baixa, parte da energia térmica é
desperdiçada. Se existe alguma possibilidade, a energia térmica exceden-
te pode ser exportada para equipamentos vizinhos.
Atendendo a carga térmica
O sistema de cogeração é esquematizado para atender a energia
térmica requerente do local. Os primeiros equipamentos são operados
seguindo a demanda térmica. Durante o peodo no qual a demanda de
69
eletricidade excede a capacidade de cogeração o déficit pode ser compen-
sado pela compra de energia elétrica da rede. Similarmente, se a legislação
permite, a eletricidade pode ser vendida para a concessionária.
3.1.3 Geração Distribuída
A geração de energia descentralizada ou Geração Distribuída (GD)
sempre existiu. A novidade é que a geração de energia em pequena escala
já está competindo com a geração centralizada e a distribuição de energia
elétrica, sistema este que prevalece desde o final do século dezenove.
O setor elétrico está passando por uma importante transforma-
ção tecnogica na direção da redução do tamanho das fontes geradoras
de energia elétrica. Uma verdadeira revolução iniciou-se na década de
noventa com a adaptação das turbinas aeronáuticas para os sistemas de
geração de ciclo combinado, que hoje fazem parte do Programa Prioritá-
rio das Termelétricas (PPT).
A situação brasileira é extremamente propícia para se estimular,
imediatamente, a não apenas a geração elétrica por meio de grupos
geradores a gás natural para entrarem em horário de ponta –, mas também
mediante a geração distribuída por meio de projetos de cogeração indus-
trial e comercial.
Também poderia ser estimulada a geração rmica a s natural
para produção de frio e ar condicionado através de equipamentos de ab-
sorção ou motores a gás, aliviando a demanda por energia elétrica durante
os períodos mais quentes. Assim, é possível nos dias de hoje gerar energia
(eletricidade, frio, calor ou outra forma), no pprio local de sua utiliza-
ção a custos menores que utilizar eletricidade a partir de um complexo
sistema envolvendo geração remota, transmissão e distribuição.
As tecnologias para a geração distribuída estão disponíveis e o
relativamente mais baratas quando comparadas aos sistemas de geração
centralizados, dispensando investimentos em transmissão e distribuição.
Podem ser implantadas em prazos curtos a partir de investimentos priva-
dos e/ou públicos. Os riscos o muitas vezes menores do que a geração
centralizada.
Os custos de equipamentos de gerão localizada sofreram redu-
ções bastante significativas, em particular a geração por turbinas a gás e
micro-turbinas, por conta de novos materiais, novas tecnologias e novas
potências disponíveis.
No meio prazo, a GD será uma forma rápida, racional e econômica
de enfrentar potencial racionamento de eletricidade no Brasil. A adoção
da GD propiciaria economia de energia e de investimentos, confiabilida-
70
de no suprimento e maior garantia de fornecimento para aqueles que a
adotarem. As maiores preocupações dos consumidores brasileiros de ele-
tricidade são com a confiabilidade do sistema, com a qualidade da energia
fornecida e com os preços que estão sendo praticados. Os consumidores
ainda desconhecem alternativas de escolhas de outras fontes de energia
confiáveis, duradouras e estáveis.
Nesse cenário, a geração distribuída aparece como uma das so-
luções mais pidas, confiáveis e econômicas, para o atendimento das
necessidades enerticas (quantidade e qualidade) de curto prazo. A
geração localizada através das tecnologias de energia distribuída, princi-
palmente baseada em s natural, vem despertando grande interesse por
parte de consumidores industriais e comerciais de médio e grande porte.
As vantagens que pode oferecer a GD eso se ampliando conforme as
exigências por eletricidade m crescendo e as expansões da rede para
atender a demanda não estão caminhando no mesmo passo.
O conceito da GD, quando aplicada técnica e economicamente de
forma eficiente, deve trazer alívio à rede das companhias distribuido-
ras e de transmissão. As tecnologias que vem sendo aplicadas dentro do
conceito da geração distribuída estão resumidas na tabela 2, levando em
conta que os valores de custos se referem ao mercado norte-americano.
As perdas no sistema de transmiso no Brasil vêm se aproximando dos
16% e no sistema de distribuição é por volta de 11% e isso representa um
custo alto.
A tabela 2 fornece informações sobre parâmetros importantes das
tecnologias que mais podem ser utilizadas na gerão distribuída. Primei-
ro, quanto ao tamanho, as turbinas a gás natural mostram-se as que têm a
maior gama de oões, variando desde 0,5 kW a30.000 kW, as micro-
turbinas tem a menor faixa de potência de equipamentos disponíveis no
mercado. Em relão ao custo instalado, este varia significativamente
conforme o local, os requerimentos de instalação, bem como o tamanho
da unidade e a configuração, as turbinas parecem mostrar-se mais conve-
nientes com custos que variam de US$ 400,0-900,0/kW. Nesse aspecto,
as lulas a combustível são as mais caras US$ 4.000-5.000/kW. Por ou-
tro lado, a eficiência elétrica destas últimas pode chegar a 50%, já as
micro-turbinas apresentam a menor eficiência com um valor ximo de
30%. A eficiência global das tecnologias é semelhante para todas e os
custos de operação e manutenção também são muito parecidos, estando
na faixa de US$ 0,0019-0,020/kWh. A tecnologia que apresenta maiores
índices de poluição de nitratos (NOx) é a dos motores a Diesel e, quanto
as emissões de dióxido de carbono, os motores a gás natural apresentam
os valores mais altos.
71
Tabela 2: Tecnologias de Geração Distribuída.
Tecnologia
Motor
Diesel
Motor:
GN
Micro-
turbina
Turbina a
Gás
Células
Combustív
eis
Tamanho
(kW)
30- 10.000
30-6.000
30-400
0.5 30.000
100-3.000
CustoInst.
(US$/kW)
600-
1,000
700-
1,200
1,200-
1,700
400-900
4,000-5,000
Eficiência
Elec. CI)
30-43%
30-42%
14-30%
21-40%
36-50%
Eficiência
Global
~80-85%
~80-85%
~80-85%
~80-90%
~80-85%
O&MCust
(US$/kWh)
0.005 -
0.015
0.007-
0.020
0.008-
0.015
0.004-
0.010
0.0019-
0.0153
Emissões
(gm/bhp-
hr)
NO
x
: 7-9
CO
2
: 0.3-
0.7
NO
x
:
0.7-13
CO
2
: 1-2
NO
x
: 9-
50ppm
CO
2
: 9-
50ppm
NO
x
: <9-
50ppm
CO
2
:<15-
50ppm
NO
x
:<0.02
CO
2
: <0.01
Fonte: US DOE, 2002.
No que tange à cidade de Dourados (segundo maior conglomera-
do urbano do Mato Grosso do Sul), foi feito um estudo, em relão à
aceitação de GD ou se existe alguma perspectiva de sua implantação. O
resultado da pesquisa forneceu os seguintes dados; o consumo de energia
elétrica do setor industrial de Dourados em 2001 foi de 85.549 kWh, que
representava 26% do consumo total, embora, o número de consumidores
industriaiso representam nem 1%.
Indústrias do ramo de alimentos o as mais significativas na ci-
dade e desde o racionamento, a maioria delas optou por ter um grupo
gerador a óleo diesel que é utilizado no horário de ponta, entre as 17:30 e
20:00 h, quando a energia elétrica é mais cara. Contudo,o interesse
das indústrias de tornar-se auto-suficientes na produção de eletricida-
de, uma vez que fora do horário de ponta as tarifas da distribuidora são
convenientes. Além do mais, uma análise financeira entre a compra de
energia elétrica vis-à-vis investir em equipamentos que atendam toda sua
demanda nas 24 horas, mostrou que a última oão é muito mas onerosa.
72
Concluindo, existe uma aplicação da geração distribuída de forma par-
cial por parte das indústrias do município de Dourados, porém se constata
que a auto-suficiência no fornecimento de energia etrica ainda não é
atrativa economicamente (StElla, , tURDERa , 2004).
3.1.4 Características técnico-econômicas de centrais termelétricas
A geração de energia etrica por turbinas a gás tem melhorado
significativamente desde seus primórdios de fabricão em meados do
culo passado. Para ter atingido eficiências de 60% em arranjos de
ciclo combinado, melhorias feitas no design das turbinas para elevar
a temperatura da queima sem danificá-las foram cruciais. A vantagem
de suportar altas temperaturas nas calhetas do rotor (inlet rotor) é que
eles aproximam os ciclos da turbina a gás aos ciclos termodinâmicos
de Carnot. Contudo, queimas nas turbinas, am do limiar das tempera-
turas de seus componentes, ameaçam sua integridade e confiabilidade.
Nos centros de pesquisa ações de pesquisa e desenvolvimento (P&D)
direcionadas para este aspecto têm progredido em duas vertentes prin-
cipais; melhoria dos materiais e avaos nos sistemas de resfriamento
(UNGER, HERZOG, 1998).
Evolução no desenvolvimento de materiais em turbinas a gás fre-
qüentemente vem na forma de aço inoxidável alternativo ou ligas de
materiais que tem melhorado a resisncia ao calor. Diferentes partes da
turbina usam variedades de ligas, incluindo quantidades diversas de co-
balto, níquel e cromo. Nos compressores das turbinas os fabricantes usam
diversas ligas de material e métodos de fabricação, mas, de uma forma
geral, as pás da turbina são fabricadas de aço inoxidável devido a sua
forte e fácil forma de trabalhar na maquina.
A introdução dos sistemas de resfriamento em turbinas a gás foi o
mais importante avanço tecnológico no seu desenvolvimento desde fins
da II Guerra Mundial. Esse avanço dos sistemas de resfriamento ajudou
muito na penetração das turbinas nos mercados de geração de energia
elétrica. Similar aos avanços nos materiais, o sistema de resfriamento nas
turbinas permitiu que na produção de energia elétrica se pudessem inserir
gases a altas temperaturas na superfície das pás. A operação de turbinas
a gás em altas temperaturas possibilitou altas eficiências para que elas se
tornem fontes mais confiáveis na gerão de energia elétrica.
Amortecedores da turbina a s estão freentemente providos de
exaustor e podem fazer um by-pass da caldeira de recuperação de calor
permitindo que as turbinas a gás operam caso as unidades de vapor este-
jam em manutenção. Em designs iniciais suplementares que queimavam
73
óleo e s foi também permitida a operação de turbinas a vapor quando
as turbinas a gás estão paradas. Normalmente esta última facilidade não
vem mais incorporada em designs recentes, porque adiciona mais custo
de capital, complica o controle do sistema e reduz a eficiência.
O gás natural usado para gerar termeletricidade se justifica plena-
mente para unidades de alta eficiência, típicas das UTEs a ciclo combinado.
No entanto, as usinas a ciclo combinado evidenciam sobremaneira o com-
plexo funcionamento e dificuldades de operação do sistema, além de se
agravar pelo fato de terem sido dimensionadas para operar em condições
ISO (temperatura ambiente 25˚, pressão atmosférica 101,32 kPa, e umi-
dade relativa do ar 0,60) e serem extremamente sensíveis à variação ou
estado das condições ambientais
Quando se evidencia a variação de uma das varveis descritas
anteriormente, constata-se queda na eficiência de operação do sistema.
Assim, se a temperatura ambiente do ar aumenta, se reduz sua capaci-
dade específica. Para garantir uma mesma vazão volumétrica se reduz
a vazão mássica, provocando queda na potência da temperatura a gás e
da quantidade de calor gerado na caldeira de recuperação. Como conse-
qüência disso, uma diminuição da potencia gerada pela usina a ciclo
combinado quando a temperatura ambiente é elevada. A pressão atmos-
férica e a umidade relativa também ocasionam diminuição da potência na
UTE a ciclo combinado. Porém, PONCE e LORA (2002) afirmam que
das três variáveis, o aumento da temperatura ambiente é a que tem maior
influência no desempenho da operação de uma UTE que se encontra em
condições ambientais fora dos padrões de placa (projeto). Os especialistas
ainda afirmam que se for inserir queima suplementar ocorre aumento da
potência elétrica gerada, porém, diminui a eficiência no processo.
Turbinas a gás natural podem ser usadas em aplicações topping ou
repotenciação paralela. Em aplicações topping, o gás exaurido da turbina
é usado como ar na caldeira a combustão; na repotenciação em paralelo,
este é usado para gerar vapor adicional. Novas usinas de ciclo combinado
desse tipo podem atingir eficiências de no mínimo 46%.
Eficiências têm uma faixa ampla dependendo do lay-out e tamanho
da instalação, variam de 40% a56% (Poder Calorífico Inferior PCI)
para grandes usinas termelétricas a GN. A eficiência de operação de uma
turbina a GN depende do modo de funcionamento, operando a plena carga
fornecem alta eficiência, e esta vai caindo rapidamente conforme declina
a produção de eletricidade. A eficiência do sistema es relacionada à
temperatura de queima da mara de combustão e a temperatura de en-
trada na turbina. Geralmente grandes turbinas se caracterizam por altas
temperaturas e pressões e as oportunidades no mercado são mais influen-
74
ciadas por estas escalas. Para atingir temperaturas mais elevadas (acima
de 1369°C), novos materiais (nas pás) e técnicas de resfriamento são ne-
cessários e eso sendo testados para diminuir a formação de NOx.
No design de uma turbina a gás a temperatura da queima, o fluxo
de massa e a pressão (stresses) centrífuga são os fatores que limitam tanto
a eficiência como o tamanho da unidade. Por exemplo, para cada acrésci-
mo de 55° C na temperatura da queima ocorre um aumento de 10-13% na
produção e, um acréscimo de 2-4% na eficiência. As áreas mais críticas
na turbina a gás que determinam a eficiência e a vida do equipamento são
aquelas que percorrem o gás quente, ou seja, a câmara de combustão e
o primeiro estágio estacionário nos bocais. Os componentes nessas áreas
representam apenas 2% do custo total da turbina, ainda que representem
fatores de controle na limitação da produção e eficiência da turbina a gás.
O processo de desenvolvimento de novos componentes toma tempo, pois
cada mudança do material pode requerer anos de testes em laboratórios para
garantir sua sustentabilidade em termos de força, fadiga, resistência à oxi-
dação, resistência à corrosão, efeitos cíclicos térmicos, etc. (DOE, 2004).
Fabricantes usam diversos arranjos de combustores: por exemplo, a
General Electric tem diversos combustores montados em anel ao redor da
turbina; a Asea Brown Boveri às vezes tem um simples combustor acima
da turbina; a Siemens tem dois combustores, um de cada lado da turbina.
As turbinas a gás podem operar com s natural, óleo combustível, óleo
diesel e mesmo óleo cru residual se os equipamentos auxiliares são apro-
priadamente adaptados para esse combustível e instalados e operados de
forma adequada.
Bocais da turbina e cubetas são moldados com super ligas e revesti-
dos no vácuo com metais especiais (platino-cromo-aluminico) para resistir
ao calor da corrosão que acontece nas altas temperaturas do primeiro está-
gio da turbina, particularmente se contaminantes tais como vanádio, sódio
e potássio estão presentes. Uma pequena parte por milhão (ppm) desses
contaminantes pode causar corrosão se os componentes não estiverem
apropriadamente revestidos para as altas temperaturas da queima. Um
apropriado revestimento dos bocais e o tratamento dos combustíveis po-
dem minimizar o impacto dos contaminantes. Os fabricantes afirmam que
os componentes percorridos pelo gás quente deverão ser substituídos após
30.000 a 40.000 horas de operação, esses componentes são, responsáveis
pelos altos custos de manutenção das turbinas a gás (ASEAN, 2000).
Contínuas melhorias na temperatura da queima e na razão de com-
pressão m permitido que fabricantes possam aumentar o desempenho
de operação em algumas turbinas a gás. Para aumentar a pressão final do
compressor, estágios de compressor adicionais são agregados na monta-
75
gem do rotor do compressor para obter alta razão de compressão e assim
dotar de adicional geração de poncia na turbina. Relações de compres-
são típicas em turbinas industriais o de 16:1 e em aeroderivativas de
30:1. Compressores laminados de aço inoxidável e revestidos com níquel
e cádmio resistem mais a sais e ácidos ambientais, os designs de com-
pressores têm sido muito eficientes, em média têm 200.000 horas de vida,
como comprovam alguns instalados em 1950 e ainda em operação.
As turbinas a gás têm uma inerente desvantagem, quando reduzi-
da a densidade do ar por causa da temperatura ambiente elevada ou por
estarem alocadas em regiões altas causam uma significativa redução na
eficiência e na produção de energia elétrica, pois o fluxo de massa atra-
vés da turbina a gás é reduzido. A 28°C resulta numa redução de quase
25% da produção e em 10% na eficiência calórica (heat rate), da mesma
forma, a uma elevação de 1.000 metros a produção de uma turbina a gás
será 15% menor do que ao nível do mar. Turbinas a vapor e Diesel não
são afetadas no mesmo grau pelas mudanças de temperatura ambiental
nem de altitude.
O heat rate de uma planta de geração é a quantidade total de calor
que entra no gerador de vapor dividido pela prodão quida de energia
da planta em termos de kWh. Muitas vezes, o calculo do heat rate (Btu/
kWh) na planta é negligenciado, especialmente, quando os equipamen-
tos da usina parecem funcionar satisfatoriamente. Ótimos valores de heat
rate (6.639-6812 Btu/kWh para tecnologias de ciclo combinado avança-
das) em uma unidade de geração típica podem ser descritos pela função
curvilinear decrescente do nível de produção (kWh). A curva é derivada
de especificações técnicas de entrada/saída da usina, as quais dependem
de: tecnologia de combustão/geração térmica instalada, tipo e qualidade
do combustível e, certas condões de operação como a temperatura e o
controle de emissões. Valores ótimos de heat rate o são alcançados na
operação da usina devido à manutenção inadequada, baixa qualidade do
combusvel, práticas de operações ineficientes em condições de opera-
ções adversas (ROBERtS; GOUDaRZi, 2002).
Melhorando as práticas de operação e manutenção bem como a
qualidade do combustível e a instalação de equipamentos de tecnologia
refinada, pode se reduzir o heat rate marginal da usina. Contudo, a redução
pratica do heat rate dependerá na verdade das economias dos mercados
competitivos. O atual estágio do mercado para as térmicas do Brasil pode
incentivar os produtores de geração termelétrica, fazendo com que estes
se sintam motivados a manter eficientes heat rates. Com uma concorrên-
cia acirrada no varejo da geração elétrica, heat rates eficientes podem ser
o fator chave na determinação de custos variáveis e da lucratividade das
76
empresas. Usinas com baixo custo variável podem ser não somente lucra-
tivas quando estão despachando, mas também podem despachar por mais
horas e, conseentemente, obter mais receita.
Operação
Turbinas a gás de 150 MW são fabricadas basicamente por quatro
grandes grupos: General Electric e seus licenciados; Asea Brown Bo-
veriç Siemens; e, Westinghouse/Mitsubishi. Esses grupos estão também
desenvolvendo, testando e/ou vendendo turbinas de quase 200 MW.
Unidades a ciclo combinado o feitas de uma ou mais turbinas a gás,
cada uma com um gerador de vapor arranjado para fornecer vapor à
turbina a vapor, esta formatação denomina-se unidade ou bloco a ciclo
combinado. Tamanhos picos de blocos a ciclo combinado oferecidos
pelos três maiores fabricantes (ABB, GE, Siemens) estão aproximada-
mente na faixa de 50 MW a 500 MW e os custos estão em torno de
US$ 600/kW.
O custo de uma usina termelétrica tipo chave em mão (turnkey), va-
ria de caso para caso, mas os custos específicos estão numa faixa de US$
400-680/kW. A tabela 3 explicita uma pica distribuição de uma usina
ciclo combinado turnkey de US$ 600/kW, formada por duas turbinas a
gás, dois recuperadores de calor que geram vapor (HSRG) e uma turbina
a vapor.
Tabela 3: Distribuição de custos de uma usina ciclo combinado de
US$ 600/kW.
(2 Turbinas a Gás + 2 Recuperadores de calor + Turbina Vapor )
Turbinas a gás natural + Equipamentos auxiliares 26%
Recuperador de calor+dutos+equipamento auxiliar 17%
Turbina a vapor + gerador + dutos + condensador 21%
Equipamento elétrico + Transformador 12%
Engenharia civil 6%
Levantamento + Supervisão 18%
Fonte: ABB, 2003.
Eficiência e considerações operacionais de uma usina a GN
A turbina a s é a principal componente que requer manuten-
ção em unidades a ciclo combinado. Todos os fabricantes recomendam
inspeções a intervalos específicos do percurso que faz o gás na turbina.
Durante uma revisão, a condição de aeroderivativos pode requerer que o
77
motor completo ou nonimo um dos seus componentes sejam enviados
a centros de checagem, enquanto turbinas a s industriais usualmente
requerem somente parte das mudanças no local.
O sistema de controle das unidades a ciclo combinado é ampla-
mente automatizado. Assim, uma partida é iniciada por um operador,
as unidades aceleradas, sincronizadas e carregadas com monitoramen-
to automático e ajustado das unidades em concordância com recentes
programas. O número de operadores requerido em uma usina de ciclo
combinado é, portanto, menor que em uma usina a vapor.
Barreiras técnicas
Embora a tecnologia de usinas termelétricas de ciclo combinado
a gás natural seja amplamente usada em muitas partes do mundo, ainda
enfrenta barreiras técnicas. As limitões que os materiais e o design do
equipamento têm em suportar maiores temperaturas e, conseqüentemente,
elevar a eficiência na operação. Para superar essas barreiras os fabricantes
de sistemas de ciclo combinado e seus componentes estão focalizando os
seguintes aspectos: Elevar a eficiência das turbinas, isto pode ser atingido
através de (ASEAN, 2003):
• Desenvolvimentos que permitam sua operação a altas temperatu-
ras, como por exemplo, melhorando o desempenho dos materiais
existentes e desenvolvendo barreiras de revestimento térmicas,
novos materiais e avançadas técnicas de resfriamento das pás;
• Melhoramento dos aspectos de design, como por exemplo, mini-
mizar perdas aerodinâmicas.
• Contínuo trabalho direcionado a reduzir custos de capital e de
operação das usinas;
• Redução das emissões, particularmente aquelas de NOx;
• Melhorando a eciência na operação de carga parcial.
Pode-se afirmar que há um certo consenso de que um dos fatores
que impedem mais a adesão dos consumidores pela oão dos sistemas
de gás natural é o custo dos equipamentos. Este alto custo dos equipa-
mentos é atribuído às tarifas de importação, que podem onerar em mais
de 50%. Praticamente todos os equipamentos que comem o sistema
o importados, embora, iniciativas como a Redegas, que agrupava
empresas universidades e companhias distribuidoras para o desenvolvi-
mento de tecnologias, metodologias e pesquisas na área do s natural,
vem amenizando essa dependência da importação de equipamentos de
78
s com o incentivo de projetos tecnológicos e metodológicos para o
uso do gás natural.
3.2 Emissões de gases poluentes provenientes da combustão de gás
natural em usinas termelétricas
A maior preocupação nos dias atuais em relação à qualidade do ar
e a preservação ambiental esrelacionada com as emissões de poluentes
atmosféricos que podem classificar-se por sua origem em:
• Antropogênicas: são aquelas provocadas pela ação do homem
(queima de combustíveis em algum equipamento ou de forma di-
reta)
• Naturais: causadas por processos naturais, tais como erupções
vulcânicas, processos microbiológicos, decomposição de matéria
orgânica, etc.
Os poluentes gasosos ainda podem ser classificados em:
• Primários: são aqueles lançados diretamente na atmosfera, como
resultado de processos industriais, gases de exaustão de motores
a combustão interna, dentre eles mencionamos os óxidos de en-
xofre SO
x
, óxidos de nitrogênio NO
x
dióxido de carbono CO
2
e
particulados.
• Secundários: são produtos de reações fotoquímicas que ocorrem
na atmosfera entre os poluentes primários. O ozônio, decorrente
da reação dos óxidos de nitrogênio com hidrocarbonetos presen-
tes na atmosfera é um claro exemplo.
Comprovadamente a gerão de energia elétrica e o transporte cons-
tituem as atividades econômicas que contribuem com a maior quantidade
de poluentes gasosos.. Em âmbito mundial, 35% das emissões de CO
2
pro-
vêem da indústria de energia elétrica. As caldeiras de fornos industriais,
onde se incluem as termelétricas e as grandes indústrias consumidoras de
gás natural, são responsáveis pela emissão de gases como o CO
2
, NOx,
CO, aldeídos, ácidos orgânicos, tri-tetra benzepireno. A tabela 4 mostra
a relação de emissões de SO
2
, NOx e CO lançados por dois derivados do
petróleo e pelo gás natural, ambos combustíveis fósseis. A relação se
79
por unidade de massa em relação à unidade volume do energético e tam-
bém levando-se em conta a tecnologia de combustão.
Tabela 4: Fatores de emissão de SO
2
, NO
x
, e CO para diferentes
combustíveis fósseis.
Combustível e tecnologia de combustão
Unidades
SO
2
NO
x
CO
Óleo combustível No 5 (queima convencional,
frontal, em usina termelétrica)
kg/10
3
L 18,84S 8,04 0,6
Óleo combustível No 5 (queima tangencial em
usina termelétrica)
kg/10
3
L
18,84S
5,04
0,6
Diesel (caldeiras industriais) kg/10
3
L 17,04S 2,4 0,6
Gás natural (caldeiras de grande capacidade, com
queima frontal)
kg/10
6
m
3
-
4480
1344
Gás natural (caldeiras de grande capacidade, com
queima tangencial)
kg/10
6
m
3
- 2720 384
Fonte: Lora, 2001.
Como o gás natural é composto basicamente por metano, os prin-
cipais produtos da combustão do gás são o dióxido de carbono e vapor de
água, os mesmos componentes que se exala quando se respira. O carvão e
o petróleo são compostos de moléculas mais complexas com alta relação
de carbono, nitrogênio e enxofre. Isto significa que quando queimados,
carvão e petróleo laam elevados níveis de emissões que cumulativa-
mente podem tornar-se perigosos, incluindo uma alta relação de emissões
de carbono, óxidos de nitrogênio (NO
x
) e dióxidos de enxofre (SO
2
).
Petróleo e carvão também emitem partículas de cinza ao meio am-
biente, substâncias que não queimam, mas, ficam flutuando na atmosfera
e contribuindo com a poluição. Em contrapartida, a combustão do gás
natural lança quantidades muito menores de dióxido de enxofre e óxidos
de nitrogênio, virtualmente nada de cinza ou material particulado e baixos
níveis de dióxido de carbono, monóxido de carbono e outros hidrocarbo-
netos reativos (Figura 24).
Os índices técnicos auferidos nas unidades termelétricas de recente
fabricão têm mostrado que parâmetros como eficiência energética, rela-
ção de combustível usado para gerar um kWh (mais conhecido como heat
rate, kJ/kWh), perdas de calor no equipamento e, principalmente, baixos
teores na emissão de SO
2
, NO
x
e CO
2
, contribuirão para que se cogite um
amplo uso de gás no setor elétrico. No entanto, é válido advertir que os
ganhos na relação custo/benefício são evidentes apenas em centrais ter-
melétricas de porte médio e grande ou em grandes instalões industriais
e comerciais (ROSSWall, 1991).
80
Figura 24: Emissões de SO
2
e NO
x
por tipo de combustível em
gramas/MegaJoule.
Como ilustração desse fato, comparam-se dados técnicos de emis-
sões atmosféricas anuais entre dois sistemas de geração, o convencional
e o de cogeração, para uma usina termelétrica de 11 MW de potência,
consumindo 9 toneladas de vapor por hora e operando a 70% de sua ca-
pacidade (Tabela 5). O sistema de cogeração de turbina a GN elimina
virtualmente as emissões de SO
2
, reduz as de NO
x
em dez e as de CO
2
em 50%.
Tabela 5: Emissões Atmosféricas de uma Usina de Cogeração
(Tons/Ano).
Tipo de Usina
Particulados
SO
2
NOx
CO
2
Sistema Convencional
vapor por queima de
óleo + eletricidade por
90
1060
410
206.000
queima de carvão
Sistemas de cogeração
turbina a vapor-carvão
100
1.190
700
188.000
turbina a vapor-gás
10
70
70
107.000
turbina a gás natural
3
15
40
111.000
Fonte: Nelson Hay; American Gas Association; World Bank Papers, 1993.
Para demonstrar as vantagens de uma central termelétrica a gás na-
tural, a tabela 6 apresenta variáveis econômicas e tecnológicas de uma
usina de 470 MW que consome carvão, óleo combustível e GN. A planta
81
de ciclo combinado, que queima GN evita problemas de acumulação (500
ton. rejeitos sólidos por dia), elimina as emissões de SO
2
e reduz à me-
tade as de CO
2
.
Normalmente, as emissões de dióxido de carbono CO
2
estão na
faixa de 350-400 g/kWh. A entrada de elevadas quantidades de ar para a
queima nas turbinas a gás resulta numa baixa concentração de CO
2
no gás
de exaustão e uma alta relação de fluxo ssico por unidade de potência
gerada (kg/MW), comparado com o valor de 1 kg/MW para uma unidade
equivalente queimando carvão. Características dos gases expulsos por
uma usina termelétrica de 470 MW são apresentados na tabela 6.
Tabela 6: Atividade de uma Central Termelétrica de 470 MW.
Eficiência
Custo de
Combustível
Rejeitos
Emissões
Emissões
Emissões
Combustível Energética
Investimento Usado Sólidos SO
2
NOx CO
2
%
US$/kW
Ton/MWh
ton
g/kWh
g/kWh
g/kWh
Carvão
38-42
1000-1300
3,650
590
1.0-4.0
1,5-2
800-900
Óleo
38-42
900-1100
2,250
1
1.0-2.0
1-1,5
650-750
Gás Natural
55-58
600-800
1,750
0
0.0-0,2
0,0-0,5
350-600
Conteúdo de Enxofre 1% para o carvão, e 3,5%, para o óleo.
Fonte :Natural Gas in Developing Countries World Bank 1993; Bluestein, 2001.
Parte 4
O perl energético da região Centro-Oeste
85
O PERFIL ENERTICO DA REGIÃO CENTRO-OESTE
Nesta parte descreve-se, inicialmente o perfil econômico dos es-
tados do Centro-Oeste, Adicionalmente, se fornece o perfil de consumo
de derivados de petróleo, gás natural e energia elétrica dos três estados
mais o Distrito Federal para finalizar destaca-se a capacidade de geração
termelétrica do estado de Mato Grosso do Sul.
Em 2005 o produto interno bruto PIB da região Centro-Oeste
(Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) era de R$
190.1 bilhões, o que representava 8,9% do PIB nacional. Apesar de ter
um peso baixo no conjunto do PIB, houve uma significativa evolução
se comparado com 1985, quando apenas participava com 4,61 % do PIB
total. Quanto à população, na região residem 6,65% dos habitantes do
Brasil. O Distrito Federal aparecia, em 2000, como o estado com maior
PIB R$ 80,5 bilhões e o estado de Mato Grosso do Sul o de menor, com
R$ 21.65 bilhões. No tocante à renda per capita o DF também aparece
com o maior valor R$ 34510/hab, e o estado de Goiás com o menor PIB/
per capita R$ 8.992/hab, ligeiramente menor ao de MS que é de R$ 9.557/
hab (IBGE,2007)
Figura 25: Participação das regiões no PIB do Brasil em %.
Fonte: IBGE, 2003.
86
4.1 Consumo de derivados de petróleo e gás natural no Centro-Oeste
A região Centro-Oeste consumia, em 2007, 9.422 x 10
3
m
3
em for-
ma de derivados de petróleo, um crescimento de 13,83% entre 2000 e
2007. O estado de Mato Grosso do Sul representava 22,7% (1,4 x 10
6
m
3
)
das vendas em 2002 e em 2007 tinha caído para 16% (1.,5 x 10
6
m
3
) A
figura 26 mostra como tem sido o comportamento do consumo de com-
bustíveis da região Centro-Oeste em relação às outras regiões nos últimos
sete anos. Informes recentes da Petrobrás relatam que houve um cresci-
mento de 8,7% no mercado de combustíveis em todo o país em 2007, as
causas desse crescimento são essencialmente à diminuição da sonegação
fiscal pela queda do imposto ICMS. Os estados da região Centro-Oeste
representam, em média, 9,7% de todas as vendas de combustíveis no país.
Os quatro gráficos seguintes mostram de forma detalhada qual foi o com-
portamento o consumo de derivados de petróleo, por estado na região
Centro-Oeste.
Figura 26: O Centro-Oeste na venda de combustíveis
em escala nacional.
Fonte: Elaborado a partir de dados da ANP/Petrobrás 2008
Dados de 2008 são até setembro.
87
Nessa região foram consumidos
8
2,3 milhões de m
3
de gasolina.
No histórico de vendas de gasolina, observam-se ligeiras oscilações no
consumo de gasolina nos quatro estados (Figura 27). A taxa média de
crescimento do consumo de gasolina é de 2,7% e o pico de consumo foi
registrado em 2004. Em geral, na região tem havido um crescimento dis-
creto e inclusive decréscimos no volume de gasolina consumido. Prova
disso é o estado de Mato Grosso cujo maior consumo foi alcançado em
1998 com 439 mil m
3
. O Distrito Federal lidera as vendas de gasolina,
nesse período, por outro lado, embora o Mato Grosso do Sul detenha o
menor consumo dos quatro estados sua taxa de crescimento (3,0%) está
acima da média da região Este fato é reflexo do aumento significativo do
consumo de álcool hidratado na região.
Figura 27: Venda de gasolina no Centro-Oeste
Fonte: Elaborão Própria a partir de dados da ANP/Petrobrás 2008.
Além do mais, a elevação constante do preço da gasolina, acom-
panhando de alguma forma a alta do barril de petróleo no mercado
internacional, leva a inferir que não haverá um aumento significativo no
volume de venda de gasolina na região nos próximos anos, uma vez que
carros a álcool e flex fuel m ganhando espaço no mercado.
8 Vendas de combustíveis são aquelas contabilizadas principalmente nos postos de gasolina. O
consumo pode ser maior que as vendas porque provém também de outros fornecedores e muitas vezes
de forma ilegal.
88
Figura 28: Vendas de óleo diesel no Centro-Oeste
Fonte: Elaborada a partir de dados da ANP/Petrobs 2008.
O consumo de óleo diesel de 3,6 bilhões de litros em 2007 (13,5%
menor que em 2006) esem queda vertiginosa desde 2004 demanda
de 4,9 bilhões de litros -, em toda a região (figura 28). Por conta disso,
os estados de Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul, nessa ordem de
consumo, tem mostrado decréscimos significativos nas vendas de óleo
diesel. Dentre outros fatores que têm contribuído com a redução do con-
sumo de óleo diesel, sem dúvida a principal razão no estado de Mato
Grosso do Sul é de origem tributária. Como o setor de transportes é o
setor que mais consome diesel os proprietários de caminhões optam por
abastecer, seus veículos, preferencialmente, em estados vizinhos onde a
carga tributaria sobre o litro de diesel é menor. A taxa média de cresci-
mento anual no consumo de óleo diesel no Centro-Oeste nos sete anos
recentes foi negativa (-2%).
O consumo de GLP ou também conhecido com gás de cozinha na
região Centro-Oeste passou dos 954 mil metros bicos em 2000 para
920 mil m
3
em 2007 o que significa uma queda de 3,61%. O consumo
reflete, em alguma forma, a densidade da população, por isso, o estado
de Goiás se destaca dos outros quatro estados. Contudo, existem outros
fatores que pesam no volume de vendas do GLP e, mesmo que tenha uma
penetrão popular, o consumo vem se mantendo quase linear no estado
de Mato Grosso e no Distrito Federal e, em queda nos estados de Goi-
ás e Mato Grosso do Sul (figura 29). Dentre os fatores que incidem nas
89
vendas, sem duvida é o preço do GLP o que tem maior peso relativo. Atu-
almente, o valor de um botijão de 13 kg está beirando os R$ 40,0 quando
em 1994 o mesmo botijão era de R$ 4,00.
Figura 29: Vendas de GLP no Centro-Oeste.
Figura 29: Vendas de GLP no Centro-Oeste.
Fonte: Elaborão Própria a partir de dados da ANP/Petrobrás 2008.
O óleo combustível é um dos derivados de petleo que tem di-
minuído drasticamente seu consumo no âmbito mundial. No Brasil
também vem se registrando essa tenncia desde 1996. Em 2007 as
vendas de óleo combustível foram de 5,5 x 10
9
litros, um aumento de
7,7% em relação a 2006 mas, caíram 45% em relação ao ano 2000. A
entrada do gás natural em regiões industriais es deslocando o uso do
óleo combustível nesse segmento. Espera-se que conforme a malha de
s seja estendida para outras cidades e reges do interior do Brasil o
s natural venha tomar com mais foa mercados do óleo combus-
vel. No Centro-Oeste, se constata que exceto Goiás, o consumo do óleo
combustível, além de vir diminuindo, é quase marginal (Figura 30). A
marcante diferea de consumo de óleo combusvel entre Goiás e os
outros estados pode ser explicada no fato de que esse estado é o mais
industrializado do Centro-Oeste e não existindo rede de gás natural, a
demanda por óleo combusvel é significativa.
90
Figura 30: Venda de óleo combustível no Centro-Oeste
Fonte: Elaborão a partir de dados da ANP/Petrobs 2008.
No Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal a taxa de
crescimento do consumo de óleo combustível dos dez anos foi negativa,
Goiás registra ainda uma média positiva de 7%, no entanto, desde 1999
vem ocorrendo uma queda na venda de óleo combustível. Direcionadores
de caráter ambiental estão entre as principais razões para que o mercado
de óleo combustível venha perdendo espaço em todo o mundo. Dessa
forma, o gás natural, um combustível ecologicamente mais amigável que
o óleo combustível, es ganhando espaço em regiões onde os parques
industriais eso conectados a uma rede de gás natural.
As vendas de gás natural no Centro-Oeste ocorrem somente nos
estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS), nos outros
estados da região ainda não existem gasodutos que cheguem aos centros
urbanos, conseqüentemente não há comercialização do gás. Os dados que
se têm são de 2003, ano que se verificou no MS um aumento de 146,23%
nas vendas de gás natural em relação ao ano anterior, no MT houve uma
queda de 8,55%. Essa tendência deve foi mantida em 2004, uma vez que
no estado de Mato Grosso do Sul entrou em operação a UTE de Três La-
goas. A tabela 7 a seguir apresenta a evolução nas vendas de gás natural
no Centro-Oeste.
91
Tabela 7: Vendas de Gás Natural (Milhões de m
3
).
Estado 2001 2002 2003 2004 2005
Mato
Grosso do
Sul
100 17 287 326 588
Mato
Grosso
54 55 416 220 375
Fonte: ANP, 2004, Gasbrasil, 2005.
No estado de Mato Grosso todo o gás comprado estava destinado
exclusivamente à Termelétrica de Cuiabá e ao consumo de GNV. No que
diz respeito ao MS, dos 922,9 mil m
3
dia
-1
comercializados, a maior parte
era destinado para a geração das UTEs William Arjona de Campo Grande
e a de Três Lagoas na cidade do mesmo nome, contudo, é crescente o uso
de gás natural veicular, principalmente na capital.
A expectativa sobre o gasoduto é que saia de Campo Grande passe
por Goiás e chegue a Brasília. Este gasoduto propiciaria uma oportuni-
dade ímpar para inserir o gás natural no setor industrial e de serviços
nos estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. É fato
que quando comece o desenvolvimento e comercialização das reservas de
Bacia de Santos, as mesmas estarão dirigidas quase que exclusivamente
para São Paulo, maior mercado de gás do país. Assim, no longo prazo po-
derá constatar-se um excedente deste energético no Gasbol. No qual seria
absorvido pelo mercado ao longo do gasoduto Campo Grande-Brasília,
portanto, sua construção é previsível.
Por cláusulas contratuais, o estado de Mato Grosso do Sul tem di-
reito a oito milhões de m
3
dia
-1
dos 30 milhões que escoa o Gasbol quando
opera na capacidade plena. No entanto, hoje, o Mato Grosso do Sul mal
consegue usufruir dois milhões dessa quota. Inclusive com todas as UTEs
previstas operando no estado haveria folga para disponibilizar o s para
outros setores. Uma opção de conquistar mercados que não dispõem de
duto físico é através do gasoduto virtual.
4.2 Capacidade instalada e potencial de geração de energia elétrica
A capacidade instalada para geração de energia elétrica no Brasil
em 2002 era de 75.803 MW, desse total, correspondiam à hidreletricidade
64.021 MW, ou 84,4% e as usinas rmicas detinham 15,6%. A região
Centro-Oeste, em 2002, detinha 4.115 MW (5,4%) da capacidade to-
tal, desses, 3.229 MW em centrais hidrelétricas (78,4%). Desse total de
geração hidrelétrica, 96% estão alocados no estado de Goiás. Em Mato
92
Grosso, que possui 727 MW e está prevista a entrada da usina hidrelétrica
de Cana Brava 471,6 MW, no Mato Grosso do Sul e da hidrelétrica de
Itiquira de 108 MW até 2006 (Figura 31).
Figura 31: Centro-Oeste: Capacidade Nominal Instalada.
-
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
1999 2000 2001 2002
MW
USINAS HIDRÁULICAS USINAS TÉRMICAS
Fonte: Elaborada a partir de dados da SIESE/ONS 2004.
No que diz respeito às centrais termelétricas, existe uma capacidade
instalada de 886 MW (21,6% do total da região), na região Centro-Oeste,
onde o Mato Grosso destaca-se com 537 MW (60%) do total, a usina de
Cuiabá, pertencente ao falido grupo de energia norte-americano Enron,
entrou em operação quatro anos atrás, embora não esteja fornecendo com
regularidade energia elétrica ao sistema (Figura 32).
Figura 32: Capacidade instalada em Usinas Térmicas.
-
100
200
300
400
500
600
Mato Grosso do
Sul
Mato Grosso Goiás Distrito Federal
MW
1999
2000
2001
2002
Fonte: Adaptado de dados da SIESE/ONS 2004.
93
Entre 2001 e 2002 houve um crescimento de 9% de capacidade
instalada em térmicas na região como um todo. Nos próximos anos, no
estado de Mato Grosso do Sul conforme relatórios do Ministério de Minas
e Energia se prevê a construção das seguintes térmicas a gás natural: UTE
Klotz 243 MW, Klotz Corum 176 MW, UTE Termopantanal 241,3
MW é a UTE de Três Lagoas com 465,8, que no momento vem operando
somente com 80 MW. Ainda deve somar-se a essas usinas de biomassa de
Brasilândia (MS), Cooper Rib, Serranópolis, Goiás e Goianésia (GO), e a
de Rio Claro (MT). A tabela 8 apresenta qual a consumo de cada combus-
tível por ano e por estado na geração termelétrica em litros de óleo diesel
e metrosbicos des natural.
Tabela 8: Centro-Oeste: Consumo de combustíveis
na Geração Térmica.
2000 2001 2002 2001 2002
Combustível Óleo Diesel 10
3
lt GN 10
3
m
3
Total Estados CO
67.221
72.236
56.070
Mato Grosso do Sul 11.087 13.632 3.446 132.529 167.513
Mato Grosso 56.130 52.779 52.623
Goiás - - -
Distrito Federal 4 5.825 1
Fonte: Adaptado de SIESE/ONS 2004.
Em relão ao consumo de energia elétrica, a participação da re-
gião Centro-Oeste no total do consumo do país passou de 3,4 % no ano
de 1983, para 5,6% em 2002, a baixa densidade demográfica, o pequeno
parque industrial e as comunidades rurais dispersas não atendidas com
o servo de energia elétrica são as razões principais para essa estreita
participação da demanda de energia elétrica ao nível nacional. Salvo o es-
tado de Goiás, os outros três estados são importadores de energia elétrica,
situação que pode reverter-se em um equilíbrio para o Mato Grosso do
Sul e Mato Grosso caso os projetos de entrada de novas usinas térmicas
se concretize (Figura 33).
94
Figura 33: Região Centro-Oeste:
Balanço oferta-demanda de energia elétrica (2002).
-
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
Mato Grosso do
Sul
Mato Grosso Goiás Distrito Federal
GWh
Produção
Consumo
Fonte: Elaborada a partir de dados da SIESE/ONS 2004.
A geração hidrelétrica no Centro-Oeste respondia em 2002 por
94% (10.479 GWh) da prodão de energia elétrica total (11.154 GWh)
(Figura 34). A maior parte é proveniente do estado de Goiás 88% e do
Mato Grosso com 10%. Em relação à geração termelétrica que foi de 676
GWh na região em 2002, o Mato Grosso do Sul participava com 75% do
total gerado, Mato Grosso vem a seguir com 25%.
Figura 34: Região Centro-Oeste: Geração de energia elétrica.
-
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
1999 2000 2001 2002
GWh
BRUTA TOTAL HIDRÁULICA TÉRMICA
Fonte: Elaborão Própria a partir de dados da SIESE/ONS 2004.
95
Com relação ao consumo, por categoria, o setor residencial é o mais
relevante, pois, consumiu em 2002, 5.353 GWh equivalente a 33% do to-
tal de energia elétrica consumida na região que chegou a 16.277 GWh.
No Brasil, cuja demanda total em 2002 foi de 290.466 GWh, o setor in-
dustrial é o que mais consome energia elétrica com 44% da demanda.
Na região Centro-Oeste, este setor detém 24% (3.867 GWh) de toda a
demanda. O setor comercial demanda no Brasil e na região 16% e 20%
(3.248 GWh), respectivamente. O setor rural junto ao de iluminação pú-
blica e das repartições públicas tem uma demanda maior no Centro-Oeste,
23% desta demanda. A dia brasileira esem torno de 15% (44.924
GWh), a rao do setor ter mais peso se deve essencialmente ao fato de
que o Centro-Oeste é uma região de elevada produção e desenvolvimento
agropecuário, assim, a indústria agrícola mecanizada e atividades relacio-
nadas com a pecuária puxam o consumo.
O consumo médio de energia elétrica por consumidor residencial
no Centro-Oeste, em 2002, era de 1748 kWh. O Distrito Federal detinha
o maior consumo com 2332 kWh por consumidor e o estado de Goiás
apresentava um valor de 1406 kWh/consumidor, Mato Grosso do Sul e
Mato Grosso tinham 1.766 e 2063 kWh por consumidor, respectivamente
(Figura 35).
Figura 35: Centro-Oeste: Consumo de energia elétrica por setor.
-
2.000
4.000
6.000
8.000
10.000
12.000
14.000
16.000
18.000
1999 2000 2001 2002
GWh
Industrial Residencial Comercial Público - Iluminação
Fonte: Elaborada a partir de dados da SIESE/ONS 2004.
96
4.3 Perfil da demanda de energia elétrica no Mato Grosso do Sul
Mato Grosso do Sul (MS) é o terceiro estado em termos de Produto
Interno Bruto (PIB) da região Centro-Oeste. Após um período de grande
expansão na cada de setenta, houve um crescimento discreto durante a
década de oitenta. No gráfico observa-se que de fato ocorreu quase estag-
nação da economia nos anos oitenta. Porém, na última década, o estado
registrou uma retomada na expano da economia, e hoje o PIB chega
quase aos US$ 8,0 bilhões (valores de dólar constante no ano 2000), a
taxa dia anual de crescimento do PIB, no estado de Mato Grosso do
Sul, nos últimos 30 anos tem sido de 8,84%.
O estado de Mato Grosso do Sul teve historicamente como prin-
cipal motor de sua economia o setor agropecuário, contudo, nos últimos
onze anos o perfil econômico do estado vem mudando. O setor industrial,
em 1998 contribuiu com 25% da atividade econômica e o agropecuário
com 26%, ou seja, praticamente eqüitativos. Quando comparado em nível
nacional, há uma evidente diferença no que diz respeito ao setor agropecu-
ário, pois no país este representava apenas 8%, e o setor industrial detinha
37% da atividade ecomica. Cabe destacar, no entanto, que enquanto no
Brasil esse setor vem mostrando queda, no estado de Mato Grosso do Sul
houve um sensível crescimento. O setor de serviços tem tido comporta-
mento similar tanto em vel nacional como estadual, a participação dele
é quase semelhante, com 55% e 51%, respectivamente (figura 36).
É um fato que o estado carece de fontes de fornecimento de energia
em grande escala. Os recursos hídricos para empreendimentos de grande
porte m sido praticamente esgotados, como no caso do Rio Paraque
faz divisa com o estado de o Paulo, ou precisariam de acordos bina-
cionais, como no caso do Rio Paraguai, que compartilha com o Paraguai.
97
Figura 36: Participação em % dos três setores econômicos (BR e MS).
Fonte: Elaborão a partir de dados do IBGE 2004.
Fontes energéticas naturais como a biomassa proveniente da cana-
de-açúcar ou a lenha o sazonais ou vem diminuindo, respectivamente.
Em outros casos, são precárias ou instáveis como a eólica e, em relação
à energia solar, sua aplicação ainda é restrita e seu uso localizado é mais
apropriado para cargas baixas. Por conta disso, estas duas últimas não
têm disponibilidade de fornecimento em grande escala
9
. Mato Grosso do
Sul participa com apenas 3,8% da produção de álcool hidratado e 2,91%
de álcool anidro. Em 2002 o Brasil produziu 110 mil barris/dia de álcool
anidro e 79,4 mil de álcool hidratado (DIEESE, 2003).
Baseado nos relatórios técnicos da SIESE/Eletrobrás (2003) se
constata que o déficit em energia elétrica do estado foi de 2.284 GWh. Em
outras palavras, 78% do consumo é importado de outras regiões do Brasil,
embora, a entrada de novas UTEs a s natural venha amenizando essa
dependência desde 2001. O consumo de óleo Diesel que era de 11.087
litros em 2000, vem caindo notavelmente na geração, uma vez que o gás
natural veio para substit-lo. Em 2003 o volume de litros de óleo diesel
destinados à produção de eletricidade tinha caído para 3.446. O hisrico
da produção e consumo de energia elétrica para o Mato Grosso do Sul
fornece fator de carga anual baixo. A dia do fator de carga anual do
sistema (parque gerador) apontou para um valor abaixo de 0,30.
O consumo de energia elétrica no estado de Mato Grosso do Sul,
em 2002, foi de 2.918 GWh e teve uma geração bruta total de 624 GWh,
dos quais 118 GWh correspondem à geração de origem drica e 506
9 Conforme estudo recente realizado pela USP no Mato Grosso do Sul o setor que mais consome
energia é o de transporte com 20,1%, seguido pelo industrial (14,1%), agropecuário (8,7%), energético
(6,1%), residencial (6,1%) e comercial e público ( 3%), as perdas se contabilizam em 3,0%. O Estado
atende 66,1% de suas necessidades energéticas o restante (33,9%) é importado.
98
GWh à térmica, sendo 495 GWh provenientes das usinas a gás natural. A
capacidade instalada contabilizada em Junho de 2004 era de 66,22 MW
em usinas hidretricas e de 421,27 MW em usinas térmicas perfazendo
um total de 546,87 MW em todo o estado (SIESE, 2003)
Tabela 9: Oferta e demanda de energia elétrica no
Mato Grosso do Sul.
Item
1998
1999
2000
2001
2002
Capacidade Nominal Instalada (MW)
51
96
96
96
394
Capacidade Hidrelétrica Nominal Instalada (MW)
37
47
47
47
155
Capacidade Termelétrica Nominal Instalada (MW)
14
49
49
49
239
Energia Disponível (GWh)
245
222
245
553
624
Geração Bruta Total (GWh)
236
222
245
553
624
Geração Bruta Térmica a Óleo Diesel (GWh)
9
14
33
20
11
Consumo de Óleo Diesel (10
3
lt)
3520
4699
11087
13632
3446
Consumo Total de Energia Elétrica (GWh)
2636
2823
2962
2818
2918
Consumo Industrial de Energia Elétrica (GWh)
580
598
638
671
741
Consumo Residencial de Energia Elétrica (GWh)
941
994
1032
922
916
Consumo Comercial de Energia Elétrica (GWh)
492
530
531
545
551
Fonte: SIESE 2001-2003.
Na hipotica situação de que todos os empreendimentos terme-
létricos e hidrelétricos no Mato Grosso do Sul venham a se concretizar,
mais ainda, que a grande maioria das UTEs a gás natural estejam operan-
do com alto fator de capacidade, ou seja, a maior parte do tempo na base
da curva de carga (regime permanente) e despachando carga quase o ano
todo,
10
o estado disporia de 860,57 MW de capacidade instalada. As usi-
nas incluídas seriam de bagaço-de-cana (Capacidade Instalada 52,5 MW),
gás natural (421,4 MW), óleo diesel (6,75 MW), carvão vegetal (1,40
MW) e hidrelétricas (378,52 MW). Calculando o consumo des natural
das térmicas para dois cerios, considerando que em ambos a eficiência
média é de 40% nas usinas, tem-se: para o primeiro cenário assume-se o
fator de carga histórico, nesse contexto, a geração térmica poderia ser de
849 GWh, o que significa um consumo médio de 538,5 mil m
3
/dia. Para
o outro cenário se estabelece que o fator de carga seria de 0,40 podendo
disponibilizar 1476 GWh de geração termelétrica.
11
Levando em conta apenas as usinas rmicas a gás natural, a soma da
capacidade instalada de todas as térmicas seria de 421,4 MW, novamente
tomando como fator de carga 0,39. No entanto, analisando rigorosamente
essa possibilidade existem inconvenientes de caráter cnico, regulatório
10 Toda usina térmica deve parar por motivo de manutenção, essas paradas são programadas
pelo produtor proprietário da usina em função de disponibilidade sazonal de combustível (lenha) ou
hidrologia favorável nas bacias fluviais (gás natural).
11 Uma análise sobre o custo da confiabilidade, disponibilidade e de serviços complementares na
manutenção do suprimento de energia (ancillary costs) para sistemas de geração térmica encontra-se
em Prada (1999).
99
e contratual que impedem que o estado possa atender sua própria deman-
da e inclusive tornar-se exportador de energia elétrica. Primeiro, pelos
contratos de compra de s natural, que inserem a cláusula take-or-pay
no patamar de 70%, o que significa consumir ou pagar o gás natural inde-
pendente do seu uso, a maioria dessas térmicas teria que operar a maior
parte do tempo ou, exclusivamente, na base da curva de carga da demanda
de energia elétrica para compensar o preço do gás e o patamar mínimo da
cláusula take-or-pay. Segundo, o excedente drico verificado nas bacias
e acumulado nas barragens condiciona para que o uso das hidrelétricas
seja preferencial, algo totalmente coerente técnica e economicamente.
Este fato fez com que muitas térmicas a gás natural, autorizadas para ope-
rar e muitas implantadas, são forçadas a não despachar carga, uma vez
que os custos de geração são mais elevados que comprar energia elétrica
importada proveniente de usinas hidrelétricas amortizadas. Terceiro,
a maioria das usinas de bagaço-de-cana que operam na modalidade de
cogeração tem como objetivo atender a demanda rmica da usina sendo
a energia elétrica um sub-produto coerente com a implementação de todo
projeto de cogeração, por isso, os valores pequenos da capacidade insta-
lada dessas unidades.
100
Tabela 10: UTE Potência, tipo de Combustível e Situação
Operacional.
USINA MUNICIPIO
POT-
MW
COMBUSTIVEL
Situação
Operacional
1 UTE Santa Fé
Nova Alvorada do
Sul
3,25 Bagaço de Cana Em operação
2
UTE Passa Tempo
Rio Brilhante
3,25
Bagaço de Cana
Em operação
3
UTE Maracaju
Maracaju
5,00
Bagaço de Cana
Em operação
4
CGH São Jo I
Ponta Porã
0,66
Água
Em reforma
5
CGH São Jo II
Ponta Porã
0,59
Água
Em reforma
6
PCH Costa Rica
Costa Rica
17,00
Água
Em operação
7
UTE Três Lagoas
Ts Lagoas
245,70
s Canalizado
Em operação
8
UTE DEBRASA
Brasindia
10,00
Bagaço de Cana
Em operação
9
UTE William Arjona
Campo Grande
175,57
s Canalizado
Em operação
10
UTE Porto Murtinho
Porto Murtinho
3,75
Óleo Diesel
Em operação
11
PCH Paraíso
Costa Rica
21,00
Água
Em operação
12
UTE Coxim
Coxim
3,00
Óleo Diesel
Em operação
13
UHE Assis
Chateaubriand
Ribas do Rio Pardo 27,23 Água Em operação
14
PCH Aquarius
Sonora
4,20
Água
Projeto
15
PCH Buriti
Chapao do Sul
30,00
Água
Projeto
16
UHE Ponte de Pedra
Sonora
176,10
Água
Constrão
17
UTE Coopernavi
Navir
12,00
Bagaço de Cana
Em operação
18 UTE Santa Helena Nova Andradina 3,20 Bagaço de Cana Em operação
19
UTE Sidersul
Ribas do Rio Pardo
1,40
Carvão Vegetal
Em operação
20
PCH Planalto
Cassilândia
17,00
Água
Projeto
21
PCH Alto Sucuriú
Água Clara
29,00
Água
Projeto
22 PCH São Domingos Rio Verde 48,00
Á
gua Constrão
23
UTE Santa Olinda
Sidrolândia
5,75
Bagaço de Cana
Em operação
24 UTE Sonora Sonora 4,40 Bagaço de Cana Em o
p
eração
25
UTE Alcoolvale
Ap. do Taboado
2,40
Bagaço de Cana
Em operação
26 UTE Santa Fé
Nova Alvorada do
Sul
3,25 Bagaço de Cana Em operação
27
CGHtor Andrade
Brito
Coxim 0,44 Água Em operação
28 CGH Cassilândia Cassilândia 0,55
Á
gua Em operação
Fonte: SIESE, 2004, MME 2004.
Convém ressaltar que as usinas de bagaço-de-cana operam de for-
ma sazonal, entre março e outubro que corresponde ao período de corte
de cana, dessa forma, seu funcionamento poderia ser complementar ao
das hidrelétricas, porém, ainda o evidências de transações de exce-
dente de energia elétrica para a concessionária. Esta situação da geração
termelétrica no estado de Mato Grosso do Sul poderia outorgar maior
confiabilidade ao sistema elétrico, uma vez que a produção de energia
elétrica das UTEs a gás natural mais a inserção de excedentes de ener-
gia elétrica a ser feitor pelas usinas sucroalcooleiras poderiam diminuir a
101
dependência da importação de hidreletricidade que atualmente possui o
estado de Mato Grosso do Sul (Figura 37).
Figura 37: Localização das usinas elétricas do Mato Grosso do Sul.
Fonte: AGEPAN, 2004.
O consumo de energia etrica no estado tem o seguinte perfil: o
setor residencial tem crescido a uma taxa média de 3,98% desde 1996,
quando registrava uma demanda de 836,7 GWh, em 2002 a demanda
foi de 916 GWh. Por outro lado, este setor é o que tem maior peso na
demanda total de eletricidade no estado, 31,4% do total consumido. O
setor industrial detém 25,4% do consumo de energia elétrica e passou
de 477.3 GWh em 1996 para 551 GWh em 2002, registrando um cres-
cimento dio de 6,27%. O setor comercial registra a maior taxa de
crescimento nos últimos cinco anos 7,98%. A demanda nesse setor pas-
sou de 410.7 GWh em 1996 para 741 GWh em 2002, sua participação
na demanda total é de 19%.
O setor rural tem a menor participação dos setores examinados,
apenas 9% mas, vem registrando leve aumento na demanda de energia
elétrica de 218,6 GWh (1996) para 266 GWh (2000). Finalmente, o se-
tor de outros que inclui, principalmente, repartições públicas estaduais,
federais e municipais, manteve uma demanda quase linear e o crescimen-
to dio tem sido de 1,36%, com uma pequena queda em 2000 (442
102
GWh) em ralação a 1999 (447,1 GWh). De forma geral, pode-se afirmar
que o estado de Mato Grosso do Sul mantém um perfil típico de regiões
onde a indústria é ainda incipiente devido a uma infra-estrutura precária.
Por conta disso o setor residencial tem um peso significativo, contudo o
dinamismo dos setores comercial e industrial nos últimos anos vem tor-
nando-se evidente, refletindo esse crescimento no aumento da demanda
de energia elétrica (Figura 38).
Figura 38: Consumo de energia elétrica no MS por segmento.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
GWh
1996 1997 1998 1999 2000
Residencial Industrial Comercial Rural Outros
Fonte: Iplan 2002.
A intensidade energética, a relação entre a quantidade de energia
produzida e o Produto Interno Bruto (PIB) num determinado período, está
dada nas seguintes unidades tep/1.000 US$; tep/R$. O Brasil, segundo o
BEN, tem registrado um valor médio de intensidade energética que osci-
la em 0,426 tep/1.000 US$ desde 1987, em 2002 era de 0,439 tep/1000
US$. Como a intensidade energética é a relação entre duas variáveis
macroeconômicas, pois, ambas refletem o comportamento de consumo
e desempenho da economia de um país, região, estado ou cidade, pode
inferir-se que quando se verifica uma queda esta se deve a um aumento
do PIB (denominador) ou houve melhoria das tecnologias empregadas no
processo de produção e consumo de energia. Dispondo de dados hisri-
cos confveis sobre consumo de energia e PIB, é possível fazer projões
sobre o comportamento do consumo de energia conforme vários cenários
de crescimento do PIB, mantendo constante a intensidade energética que
poderia ser a dia dos últimos dez anos.
103
Figura 40: Intensidade energética no Centro-Oeste.
Figura 40: Intensidade Energética no
Centro Oeste
-
0,050
0,100
0,150
0,200
0,250
0,300
0,350
0,400
1999 2000 2001 2002 2003
tep/1000 US$
Fonte: elaborão própria
Para o caso específico da região Centro-Oeste, a figura 40 evi-
dencia o indicador da intensidade energética dos últimos cinco anos. O
numerador é a soma do consumo de derivados de petróleo mais a deman-
da de energia elétrica, assim, o resultado mostrou valores menores que a
média brasileira e com tendência de queda. Pode-se interpretar que houve
crescimento do PIB da rego (que de fato ocorreu), e como os gráfi-
cos de derivados de petróleo demonstram, na região também se verificou
aumento do consumo de derivados de petleo como um todo, conseqüen-
temente, conclui-se que se gastou menos energia para cada mil lares
gerados no Centro-Oeste. Contudo, isso não necessariamente significa
que a região tenha dado um salto tecnológico significativo na sua estru-
tura econômica, o que contribuiu para esse cenárioo os altos preços da
soja no mercado internacional, favorecendo o crescimento do PIB, mas,
que ao mesmo não se reflete de forma geral na população, visto que, a dis-
tribuição de renda ainda é desigual e concentrada. Quanto ao consumo de
energia por habitante no ano 2000, a relação era de 0,705 tep/hab, menor
que a dia brasileira, no patamar de 1,02 tep/hab.
105
ASPECTOS REGULATÓRIOS E AMBIENTAIS NO USO
FINAL DO GÁS NATURAL
Existem diversas formas de impulsionar o uso do gás natural. Tais
estratégias podem ser elaboradas mediante a adoção de políticas regu-
ladoras, essencialmente, orientadoras e fiscalizadoras do mercado, a
inserção de mecanismos tributários que incentivem o uso final do gás
natural; e, políticas ambientais que beneficiem enerticos menos polui-
dores em detrimento de outros, comprovadamente mais nocivos à saúde
e ao meio ambiente.
Nesta seção serão apresentadas e analisadas as políticas e/ou me-
canismos regulatórios, ambientais e tributários que, normalmente os
governos (federal e estadual) estabelecem para o mercado de gás natural.
As abordagens pretendem mostrar um embasamento teórico complemen-
tado com o aspecto legal (leis, editais, normas, etc.) que regem atualmente
o mercado brasileiro de gás.
5.1 Aspectos regulatórios
A regulação pode ser um instrumento poderoso para implemen-
tar políticas publicas; definindo uma determinada política, a regulação
reduz as incertezas dos resultados talvez mais que qualquer outro ins-
trumento possa fazê-lo (GOLDEMBERG et.al. 1988). Existem três tipos
de regulação de grande importância para a política energética: regulação
econômica, regulação dirigida para reduzir externalidades e regulação do
desempenho energético.
Regulação Econômica
A regulação econômica pode ser utilizada para determinar preços
energéticos, para manter tenncias competitivas em mercados energéti-
cos nominalmente competitivos e, estruturar licenças e regras de operação
para as companhias produtoras, transportadoras e distribuidoras de energia.
Em economias de planejamento centralizado os preços são determinados
pela administração governamental e não pelas forças de mercado. Simi-
larmente, em muitas economias mistas alguns preços são fixados também
106
de forma administrativa, porque não existem condições competitivas para
proteger grupos consumidores vulneráveis da carga dos preços altos. Uma
forma eficaz de proteger esses grupos, segundo Goldenberg et. al. (1988)
seria alocão de capital ou utilização de equipamentos energéticos mais
eficientes para grupos pobres. Essa opção deveria ser aplicada antes de
manter preços da energia mediante custos marginais baixos.
Conceses para as companhias definem a disponibilidade de ati-
vidades das companhias. Antes, essas concessões definiam as atividades,
tais como providenciar fornecimento de energia em áreas identificadas. O
foco na provisão de suprimento de energia, no passado, foi um resultado
natural de uma preocupação dos planejadores com a oferta de energia.
Agora estas concessões e regras de operação o abrangentes o suficien-
te para tornar a companhia regulada não somente provedora de energia
mas também fornecedora de serviços ao consumidor orientando-os no
uso mais eficiente de energia e criar incentivos para que as compa-
nhias executem esses serviços. Contudo, cuidados devem ser exercidos
para garantir que a existência dessas “companhias de serviços de energia”
reguladas o inibam o desenvolvimento de companhias de serviços de
energia no setor privado o reguladas, onde as condições econômicas
são tais que as companhias privadas possam exercer um papel útil na eco-
nomia (GOlDENBERG et al., 1988).
A ampla faixa de regulações sobre poluição do ar, uso da terra, uso
de material tóxico, etc. que tem avançado e evoluído bastante nos últimos
15 anos, em muitas partes do mundo indicam como custos externos so-
ciais podem ser reduzidos através da regulação. Regulação tamm pode
ser usada para limitar os custos externos relacionados com energia, nomi-
nalmente, chuva acida, mudanças climáticas associadas com a combustão
de combustíveis fósseis; insegurança global associada com dependência
do óleo do Golfo Pérsico, das economias de mercado industrializadas,
deflorestação associada ao uso de biomassa não-renováveis.
Regulação para melhorar fluxo de informação
O desconhecimento sobre as oportunidades para melhorar a efi-
ciência energética ou para usar fontes de energia alternativas é o maior
obstáculo para tomadas de decisão racionais em compras relacionadas
com energia. Portanto, regulações que servem para melhorar a informa-
ção podem ser medidas políticas muito efetivas. Informações como o
desempenho dos carros que usam motores movidos a GNV ou álcool ou
de índices de consumo de energia elétrica de eletrodomésticos, princi-
palmente geladeiras, de fácil acesso ao consumidor podem servir muito
107
para melhorar a intensidade energética, beneficiando tanto ao consumidor
quanto aos investidores (companhias públicas ou privadas). Assim poster-
ga investimentos de infra-estrutura, geralmente de alto capital intensivo,
para atender o constante crescimento da demanda.
Para uma ampla faixa de outras atividades de uso final de energia
que caem dentro das atividades das companhias energéticas reguladas, o
fluxo de informação pode ser melhorado para requerer que estas forneçam
aos seus consumidores todas as informações pertinentes ao desempenho
energético e custo efetivo de investimentos alternativos.
Regulação do desempenho energético
Como um instrumento de política pública, a regulação do desempe-
nho energético tem a vantagem de reduzir as incertezas sobre o uso futuro
da energia talvez melhor de que qualquer outra abordagem. Assim, essa
regulação deve ser particularmente útil para planejadores de energia que
gostariam de contar com melhorias de eficiência energética como uma
fonte de “fornecimento de energia equivalente” (GOlDENBERG et al,
1988).
Em países como os Estados Unidos, Reino Unido e outros da
Europa fatos que constatam ões bem sucedidas da regulação do de-
sempenho energético. Contudo, na pratica tal regulação pode ser aplicada
somente por um limitado conjunto de ações de atividades do uso de ener-
gia e às vezes o estímulo é considerado fraco para promover a inovão
tecnológica.
5.1.1 Regulação da indústria brasileira de energia elétrica
A termeletricidade é a principal fornecedora de energia elétrica na
grande maioria dos países, assim uma estratégia de separação entre a in-
dústria de s natural e a de energia elétrica seria pouco conveniente na
elaborão de políticas energéticas.
Conceitualmente, o fornecimento de energia elétrica passou a ser
entendido como “serviço blico”, uma vez que tem adquirido caráter
de essencialidade máxima na sociedade atual. Entende-se como servo
público, certas atividades destinadas a satisfazer a coletividade em geral e
o Estado assume que não convém relegá-las simplesmente ao setor priva-
do. Assim, o Estado considera seu dever assumí-las como pertinente a si
próprio (mesmo que sem exclusividade) e, em conseqüência, as colocam
sob uma disciplina peculiar instaurada para resguardo dos interesses nelas
encarnados, de tal forma a facilitar a viabilizão, assim como defendê-
108
las não apenas contra terceiros ou contra as pessoas que ele próprio haja
habilitado a prestá-las, mas também contra omissões ou desvirtuamentos
em que o próprio Estado possa incorrer ao propósito delas.
A garantia do funcionamento do Estado e da realização dos fins
consagrados constitucionalmente para a sociedade civil pressupõe o for-
necimento de energia elétrica. Infere-se, portanto, que qualquer que seja
o modelo esboçado para o setor elétrico, este deve garantir o acompa-
nhamento da oferta em margens técnicas confiáveis, uma vez que este
é indispensável ao crescimento econômico. Adicionalmente, o modelo
deve amparar-se na Constituição Federal, que tem como fundamentos a
soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais
do trabalho e da livre iniciativa.
O Estado afinal dos anos 80 detinha, em boa parte do mundo,
uma presença avassaladora no setor energético, sendo que sua ação e
participação são conhecidas como Estado Intervencionista, pois este in-
tervinha diretamente na elaboração das políticas do setor. No final dos
anos noventa foi implantado o Modelo de Mercado Aberto com presea
marcante das Agências Reguladoras e vem sendo seriamente questionado.
O atual papel de Estado Regulador
12
está sendo criticado não somente no
Brasil e outros países em desenvolvimento, mas também em países desen-
volvidos, como na Grã Bretanha, país do qual se tentou emular o Modelo
de Mercado de Energia Elétrica para o Brasil. Pinguelli Rosa e D’Araujo
(2003) relacionam uma série de argumentos e fatos constatados do porque
o Modelo das Autarquias Especiais (Agências) atravessam um momen-
to crítico. A aplicação do Modelo ficou aquém do esperado e o debate
ideológico confronta o dilema entre o conceito de serviço público e seu
controle e fiscalização pelo setor público e o de produção independente e
seu controle pelas forcas de mercado.
Dentre os vários impactos negativos decorrentes da implantação do
Modelo de Mercado Aberto, Pinguelli et al (2003) identificam que os prin-
cipais fatores tem sido: a evidência da constante elevão das tarifas entre
1995-2001, em especial, no setor residencial onde praticamente dobraram
de valor real; o crescimento da capacidade instalada tem sido nesse perío-
do muito abaixo do crescimento da demanda. Essa falta de investimentos
maciços na capacidade instalada deu como resultado o racionamento de
energia elétrica entre 2001-2002 e a conseqüente contrão da economia
nos dois anos seguintes.
12 Para uma leitura mais detalhada sobre a transição do papel do Estado Intervencionista ao de
Estado Regulador consultar Capítulo II de Desafios e Mudanças na Indústria de Gás Natural Tese de
Doutorado Turdera (1997).
109
As características do Sistema Elétrico Brasileiro estão baseadas
na grande disponibilidade de água nas bacias do território, conseqüente-
mente, predomina a geração hidretrica. SaUER et al. (2003) observam
o seguinte: fornecimento energético é a principal questão no sistema
brasileiro e o Modelo de Mercado geralmente é adaptado para funcionar
e se adequar melhor a um sistema térmico. Essa diferençao foi levada
em conta inicialmente, na formulação do mercado após a privatização
de rias empresas e a criação da ANEEL. Hoje, o Ministério de Minas
e Energia aprovou um novo Modelo considerando as particularidades da
predominância hidrelétrica, do planejamento determinativo; da comer-
cialização cooperativa; da expansão decidida de forma centralizada; e,
dos preços regulados em todas as fases, embora definidos na licitação
da usina.
A geração, a transmissão e a distribuição de energia elétrica no Bra-
sil são serviços de competência da Uno, operados por empresas estatais
ou delegadas a concessionárias privadas. Em 1992 as dívidas da indústria
de energia elétrica atingiam a US$ 6,0 bilhões e os Créditos de Cartas
de Resultados a Compensar a US$ 24,0 biles. Na época, a Eletrobrás
era classificada como “inadimplente da União”. Decorrente desse quadro
foi elaborada a Lei n. 8631/93 que introduziu a desequalização tarifária
propondo que as tarifas de cada empresa estejam baseadas nos custos e
na margem de retorno para permitir investimentos. Desta forma, o nível
tarifário voltou a se referir os custos de serviço, para cobrir os serviços da
dívida (MACIEL, 2001).
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) foi criada me-
diante decreto N˚. 2.335/98 e da Lei n. 9427/98 autorizou o exercício da
atividade de agente comercializador. O trabalho de regulação e fiscaliza-
ção cabe à Ancia Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). De maneira
geral, a Ancia mantém diálogo com as agências reguladoras do setor
nos estados e com os entes previstos como o Conselho Administrativo de
Defesa Econômico CADE, a Secretaria de Direito Ecomico - SDE,
com as entidades de energia elétrica e com os órgãos de defesa do meio
ambiente.
Maciel (2001) identifica as principais atribuições e ações que im-
plantou a ANEEL nos primeiros anos de funcionamento:
• Regulamentar procedimentos gerais para a exploração dos
potenciais hidráulicos brasileiros. Desenvolver estudos de in-
ventariado de rios e viabilidade cnica, econômica e ambiental
para usinas de médio e grande porte e de projetos básicos de
constrão de pequenas centrais hidrelétricas;
110
• Realizar licitações para concessão de empreendimentos e-
tricos, prorrogar concessões e dar curso a processos de novas
usinas e finalmente autorizar a construção de 230 usinas terme-
létricas. Adicionalmente, licitar novas linhas de transmissão;
• Atuar na consolidação das atividades do Operador Nacional do
Sistema Elétrico (ONS) mediante a aprovação de seu manual de
procedimentos de operação;
• Atuar na criação e regulamentão do Mercado Atacadista de
Energia (MAE), atualmente extinto pelo governo Lula;
• Aprimorar o trabalho de fiscalização desenvolvido nas conces-
sionárias de distribuição, apurando não apenas os indicadores
tradicionais da qualidade do fornecimento de energia elétrica,
mas também indicadores individuais;
• Incentivar a formação dos Conselhos de Consumidores no âm-
bito das Concessionárias de distribuão de energia;
• Incentivar mediante cláusula contratual a implantação de progra-
mas voltados para a eficncia energética, medidas de combate
ao desperdício de energia e ações relacionadas à Pesquisa e De-
senvolvimento.
No intuito de evitar riscos de sobreposição de funções e de deci-
sões contraditórias entre as agências, a ANEEL assinou acordos com as
instituições componentes do sistema de defesa da concorrência, particu-
larmente sobre os atos de concentração (MaciEl, 2001).
Acordo com o Conselho Administrativo de Defesa da Concorrência
(CADE) foi firmado um Termo que redunda esforços concentrados na
análise da interface da ligação setorial e de defesa da concorrência, com
vistas à eliminação de conflitos, padronizão de empreendimentos e de-
limitação de competências legais.
Segundo a Secretaria de Acompanhamento Econômico (SEAE) do
Ministério da Fazenda o Convênio celebrado entre as partes contempla
ações de harmonização envolvendo estudos de legislação, delimitação de
competências e estabelecimento de procedimentos articulados.
Após a criação da ANEEL somam treze os estados que resolve-
ram implementar agências reguladoras estaduais. Nas quais, geralmente,
possuem convênios assinados com a ANEEL. A concepção da maioria
delas obedece a propósitos diversos não se circunscrevendo exclusiva-
mente à regulação do setor elétrico. Em Mato Grosso do Sul a ANEEL
descentraliza parte de suas atividades à AGEPAN, nas áreas de geração e
distribuição de energia etrica.
111
No que tange estritamente ao modelo que regeu a indústria de ener-
gia elétrica, Sauer et al. (2003) expõem com bastante detalhe as falhas do
Modelo aplicado na década de 90. O modelo de “competição plena” (Pool
Models) foi o que prevaleceu logo após a privatização de várias empresas
de energia elétrica, este modelo estabelece a constituição de um mercado
atacadista (pool), de um mercado spot (exchange) e de um operador do
sistema independente. Adicionalmente, este modelo requer intensa regu-
lação, uma vez que o risco de imperfeições e abuso de poder de mercado
é sempre presente. Problemas como fiscalização de custos tornam-se mais
agudo, sem contar que programas de gerenciamento pelo lado da deman-
da e de eficiência energética tendem a ser prejudicados e, não espaço
para políticas sociais.
As críticas e reformulações ao modelo de competição plena foram
muitas, em especial logo após as crises de energia elétrica na Calirnia e
no Brasil. Inclusive o Banco Mundial, firme incentivador da adoção deste
modelo em países em desenvolvimento, reconheceu as vulnerabilidades
do setor. O atual modelo implementado pelo governo Lula se baseia no
proposto por Sauer, Pinguelli, et al. (2003) O âmago conceitual do mo-
delo consiste na superação das inconsistências do modelo de competição
plena, ou seja, estabelecer a “competição pelo mercado” em lugar da
“competição no mercado”. Isso, segundo os idealizadores, implica um
pacote de financiamento mais favorável, o melhor projeto de engenha-
ria, gerência de construção, operação e manutenção, em prol dos agentes
e da sociedade. Inclui-se ainda neste novo modelo a retomada e aper-
feiçoamento do planejamento energético seguido da licitação de novos
empreendimentos e instalações e sobretudo, uma articulão mais profun-
da entre as agências reguladoras combinada com a descentralizão das
suas ações ao poder local. Finalmente, o modelo pretende reestruturar o
caráter público do Operador Nacional do Sistema (ONS) de tal forma que
o gerenciamento dos recursos seja destinado ao serviço público, coopera-
tivo ou comunirio (SaUER et al., 2003).
5.1.2 Regulação na distribuição de gás natural no Brasil
Diferente da energia elétrica, o fornecimento de gás natural não
ganhou o status de “serviço público” no Brasil, pois sua utilização maciça
nos vários segmentos é de data recente e sua indisponibilidade no mer-
cado não seria sentida da mesma forma que o serviço de energia elétrica.
Contudo, acredita-se que este culo seja o do gás natural, assim como o
século XX foi do petróleo, pois, ele é tido como o energético da transição
entre os combustíveis fósseis e os combustíveis alternativos renováveis.
112
Em termos institucionais, a Agência Nacional de Petróleo (ANP)
é a autarquia responsável pela regulão da indústria de gás natural. As
atribuões da ANP quanto ao gás natural estão dispostos no art. 8º da Lei
n. 9.478/97 e lhe conferem: proteger os consumidores quanto ao preço,
qualidade e oferta de produtos; estabelecer blocos a serem licitados; auto-
rizar o exercício das atividades de cadeia, excetuando-se a exploração e a
distribuição; e, fiscalizar as atividades de cadeia.
A regulação das atividades de exploração e produção (E&P), seja
na esfera federal ou estadual, cabe à ANP através da licitação de blocos;
a atividade de processamento, com a construção de UPGNs não necessita
de licitação, basta uma autorização concedida pela ANP; e os que dese-
jam atuar no transporte devem seguir o mesmo procedimento. O setor de
comercialização é livre, ausente de regulão por órgãos do Poder bli-
co, entretanto, o segmento de distribuição é de competência exclusiva dos
estados federados.
Para o Brasil, é consenso geral no mundo da indústria de gás na-
tural que uma carência de um marco regulatório específico, já que na
Lei do Petróleo, as atribuições de compencia da ANP e a identificação
das atividades específicas da cadeia de produção não estão bem definidas.
Ademais, a regulação ecomica do setor gasífero não é de responsabi-
lidade exclusiva da ANP, visto que a própria Constituição Federal em
art.25, §2º atribui aos estados a exploração exclusiva dos serviços locais
de gás canalizado. Portanto, é mister o reconhecimento dos limites de
competência da ANP e das Agências Estaduais ou Secretarias Estaduais
de Energia em matéria de s natural.
Para os peritos em questões jurídicas a Constituição Federal tornou
o gás natural uma fonte de conflitos e competências entre os diversos en-
tes federativos. De fato, em regra as fontes energéticas ficam sob o total
controle da União. A União detém a propriedade dos potenciais hidráuli-
cos bem como do petróleo, uma vez que não pertencem a ela as jazidas,
mas tamm o poder de regular e explorar, direta ou indiretamente, todas
as atividades referentes ao petróleo.
Porém, no que diz respeito ao gás natural a situação se complica.
A União continua com a propriedade das jazidas de s natural e com
o poder de regular e explorar as atividades relativas ao gás natural. En-
tretanto, a Constituão Federal atribui aos estados a competência para
explorar as atividades relacionadas ao serviço de s canalizado. Dessa
forma, para aqueles que não estão familiarizados com a indústria de gás, é
difícil perceber as imeras questões que surgiram em decorrência dessa
atribuão. Talvez o caso mais eloqüente dessa complexidade seja o caso
das atribuições outorgadas pelo estado do Amazonas à Companhia de Gás
113
do Amazonas (CIGAS) sobre o exercício de uma gama de atividades que
confundem se elas não estariam exagerando ou sobrepondo sua atuação.
FAVERET-CAVALCANTI (2002) explica que a Constituição
Federal (art. 25, § ) estabelece que cabe [...] aos Estados explorar
diretamente ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado
[...]”, acrescenta ainda que o termo “gás” significa competência sobre o
serviço de distribuição local do s natural, ou outras espécies de hidro-
carbonetos gasosos. Nesse sentido, uma rede de distribuição de qualquer
tipo de gás não constitdo de hidrocarbonetos não estaria alcaada pela
competência estadual.
Juristas entendem que o termo “serviços locais de gás canalizado”
consiste, em linhas gerais, na distribuição de um combustível gasoso, ou
seja, a Constituição vislumbrava, na época de sua elaboração, a comer-
cializão de hidrocarbonetos gasosos a serem usados como combustível.
Assim, no entendimento judico significa que a norma constitucional atri-
bui aos estados a competência para o serviço de distribuição de energia
e o de matéria prima. Portanto, estaria fora da competência estadual o
fornecimento de gases como etano e propano, que embora hidrocarbonetos
apresentados no estado gasoso, são utilizados pela indústria petroquímica
e s-química como matéria prima. Visto que é de compencia estadu-
al o gás canalizado entregue através de dutos e como a queima do s
destina-se para a geração de energia elétrica e ocorre na pessoa do usuário
final é lido afirmar que o serviço de gás canalizado está na esfera do
Estado (FaVEREt-caValcaNti, 2002).
O serviço de gás canalizado pode englobar duas atividades que
merecem ser distinguidas. A primeira é a venda de s natural para o
usuário final, a segunda é o seu transporte até o local em que o mesmo
será consumido pelo usuário final. Os estados ou as suas concessionárias
de serviço de gás natural canalizado,m o direito de exigir que terceiros
não transportem ou vendam gás aos consumidores finais localizados nos
seus respectivos territórios. Contudo, o conceito de third party access ou
acesso a terceiros veio a inovar a forma como devem ser distribuídos e
transportados serviços em rede com o gás natural e a energia elétrica, este
mecanismo regulador tem sido implementado nos Estados Unidos com
grande sucesso e atualmente os países da Europa estão inserindo-o para
alavancar as vendas de gás natural e aprimorar o atendimento ao usuário
com preços mais competitivos e com liberdade de escolha. Este meca-
nismo de caráter regulatório é de fato impulsionador dos mercados de
gás natural, mas, para seu pleno sucesso é preciso que exista uma malha
bastante densa de dutos de gás, caso contrário sua aplicação é limitada e
não traz os benefícios esperados.
114
Diversas publicações, estudos, leituras e análises das regulações vi-
gentes nos Estados Unidos da América, e em países da Europa Ocidental,
em especial Grã Bretanha (BaRROS, 2004; MAJONE, 1996) apontam
para que exista uma efetiva e real competição no mercado. O ente regu-
lador deve incorporar mecanismos que obriguem às empresas a realizar
uma discriminação e/ou separação contábil e jurídica (unbundled sales
na terminologia anglo-saxônica) das empresas detentoras do transporte
e distribuição de s natural, ambos monopólios naturais. Estas medidas
junto à implementação do acesso a terceiros (third party access), hipote-
ticamente, dariam condições reais para que se instale uma concorrência
justa e eqüitativa no mercado.
A competitividade no mercado brasileiro ocorrerá quando junto aos
mecanismos mencionados no parágrafo anterior, tamm exista uma far-
ta e extensa malha de transporte de gasodutos em especial convergindo
para o Sudeste (São Paulo). Este centro de consumo sendo atendido por
diversas fontes de oferta (Bolívia, Argentina, Bacia de Campos, Bacia de
Santos, GNL) propiciará que o pro do gás natural seja regido pelo wee-
lhead price ou preço na boca-de-poço, como agora ocorre nos EUA para
os grandes centros de consumo, por exemplo, Nova Inglaterra, Califórnia
e Chicago na América do Norte, ou Buenos Aires no Cone Sul. Dessa for-
ma, se cogita a possibilidade de o Paulo se tornar um fixador de preço
antes que um tomador de preço, fato que ocorre atualmente.
Órgãos Reguladores Estaduais na região Centro-Oeste
No âmbito estadual e regional, o estado de Mato Grosso do Sul
também aderiu e criou sua agência reguladora denominada Agência Es-
tadual de Regulação de Serviços blicos (AGEPAN). A legislação para
sua criação teve a seguinte evolução:
1. Lei nº 2.363, de 19 de dezembro de 2001 – Cria a Agência Esta-
dual de Regulação de Servos Públicos de Mato Grosso do Sul
e o Conselho Estadual de Serviços Públicos, e outras provi-
dências.
2. Decreto nº 10.703, de 19 de março de 2002 Aprova o Re-
gimento Interno do Conselho Estadual de Serviços blicos,
criado pela Lei n 2.363, de 19 de dezembro de 2001.
3. Decreto nº 10.704 Dispõe sobre a competência e aprova a es-
trutura básica da Agência Estadual de Regulação de Serviços
Públicos de Mato Grosso do Sul, criada pela Lei n 2.363, de 19
de dezembro de 2001, e outras providências.
115
4. Deliberação nº 01, de 17 de abril de 2002 – Aprova o Regimento
Interno da Agência Estadual de Regulão de Serviços Públicos
de Mato Grosso do Sul.
5. Lei 2.766, de 18 de dezembro de 2003 Dispõe sobre a dis-
ciplina, a regulação, a fiscalização e o controle dos serviços
públicos delegados do estado de Mato Grosso do Sul.
6. Portaria Nº 07, DE 24 DE SETEMBRO DE 2002 – Baixa o Có-
digo de Ética dos Servidores que integram o quadro da Agência
Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato Grosso do
Sul – AGEPAN e de seus Colaboradores. Portaria, AGEPAN
002, de 16 de março de 2004- Institui a Comissão de Auditoria
Técnico-operacional e Ecomico-financeira.
7. Portaria nº 028, de 16 de março de 2004 - Delega competência
à Comiso de Auditoria Técnico-operacional e Econômico-
financeira da AGEPAN para a aplicação de penalidades na
fiscalização das empresas prestadoras de serviço público dele-
gado sob a regulação e a fiscalização da AGEPAN e outras
providências. Principais áreas de atuação da AGEPAN:
Aeroportos
Distribuição de Gás Natural Canalizado
Energia Elétrica
Infovias
Inspeção de Segurança Veicular
Irrigação
Mineração
Rodovias, Ferrovias e Dutovias
Saneamento Básico
Telecomunicações
Terminais de Cargas e de Passageiros
Terminais Hidroviários
Transporte Intermunicipal de Passageiros
Travessias Fluviais
Contudo, apesar desse leque de setores de serviço público sobre os
quais a AGEPAN detém poder regulador, de fato, apenas duas são as áreas
nos quais concentra a sua atuação: Energia Elétrica e Transporte Intermuni-
cipal. Existem esboços regulatórios iniciais para atuação em mais três áreas:
Saneamento, Distribuição de Gás Natural Canalizado e Telecomunicações.
No entanto, dependem da assinatura de contratos com várias entidades mu-
nicipais, estaduais e federais para que a atenção realmente aconteça.
116
No estado de Mato Grosso do Sul duas Concessionárias prestam o
serviço de Distribuição de Energia Elétrica: a Empresa de Distribuição
de Energia Elétrica de Mato Grosso do Sul ENERSUL e a ELECTRO,
companhia de São Paulo que atende cinco municípios do MS que fazem
divisa com o estado de o Paulo (Figura 40); a AGEPAN fiscaliza e
regula ambas empresas.
Figura 40: Áreas de concessão das empresas de distribuição de
energia elétrica no estado de Mato Grosso do Sul.
Fonte: ANEEL, 2004.
Por sua vez, o estado de Mato Grosso também criou sua Agência
Reguladora de Servos blicos (AGERMT) mediante Lei No. 66 do
22 de dezembro de 1999. A AGERMT exerce sua ão de ente regulador
sobre as seguintes atividades:
• Saneamento Básico
• Rodovias, Ferrovias
• Portos e Hidrovias
• Irrigação
• Transporte intermunicipal de Passageiros
117
• Distribuição de Gás Natural Canalizado
• Energia Elétrica
• Telecomunicações
• Aeroportos
A mais nova agência reguladora do Centro-Oeste é a do estado de
Goiás, criada sob Decreto No. 5940 de 27 de Abril de 2004, a Agên-
cia Goiana de Regulão, Controle e Fiscalização de Serviços Públicos
(AGR). A mesma tem a responsabilidade de exercer suas ões de praxe
sob os seguintes setores:
• Telecomunicações
• Energia Elétrica
• Irrigação
• Distribuição de Gás Canalizado
• Recursosdricos
• Recursos Minerais
• Combusveis e Lubrificantes
• Meio Ambiente
5.2 Regulamentação Ambiental para o Gás Natural
O gás natural na Europa e nos Estados Unidos é bem recepciona-
do pela sociedade, como um todo, porque vem substituir combustíveis
fósseis muito mais poluentes. Dessa forma, se constata que o gás natural
é considerado um combustível mais limpo em comparação com os que
substitui, essencialmente carvão mineral e derivados de petróleo como
óleo combustível e gasolina. Esta virada para o s natural é decorrente
da crescente pressão de governos e consumidores para o uso de energias
mais limpas ou que causem menos impactos ambientais. No entanto, no
Brasil, esta aceitação do ponto de vista ambiental, é muito mais relutante,
haja vista, que na geração de energia elétrica predomina a hidreletrici-
dade muito mais limpa por utilizar água como combustível. Contudo,
alagamentos extensos das barragens também criam passivos ambientais.
Assim, faz-se necessária uma avaliação vis-à-vis sobre os impactos am-
bientais entre projetos térmicos e hídricos.
Partindo da premissa de que o s natural é um energético “mais
limpo”, observa-se que a regulamentão ambiental é voltada, prefe-
rencialmente, para a implantação de novos sistemas e a elaboração do
118
licenciamento ambiental dos empreendimentos recentes tanto das plantas
de produção, como para a instalação de gasodutos (BARROS, 2004).
Relaciona-se a seguir o conjunto de leis, resoluções, decretos, etc.,
que compõem a regulamentação ambiental brasileira para os empreendi-
mentos relativos aos natural.
No âmbito federal se dispõe dos seguintes mecanismos jurídicos
para a indústria des natural:
• Constituição Federal – Catulo VI – do Meio Ambiente;
• Resolução CONAMA n.º 1/86 – Dispõe sobre os procedimentos
relativos ao Estudo de Impacto Ambiental;
• Resolução CONAMA n.º 9/87 Procedimentos para Audiên-
cias Públicas; e
• Resolução CONAMA n.º 237/97 Dispõe sobre os procedi-
mentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental e no
exercício da competência, bem como as atividades e empreendi-
mentos sujeitos ao licenciamento ambiental
No Brasil, o estado de São Paulo é o que mais tem avançado na
elaborão e o desenvolvimento de mecanismos de fiscalização e normas
ambientais. O estágio preocupante em que se encontram os recursos hídri-
cos do estado, a comprometedora qualidade do ar da cidade deo Paulo
e de outros pólos industriais do estado m propiciado a atuação mais
incisiva e pró-ativa de universidades, órgãos públicos e sociedade civil
organizada em relação às questões ambientais. Fruto dessa preocupação e
do dinamismo dos agentes, o estado tem elaborado um arcabouço de leis
para regulamentar as atividades de prodão, exploração, transporte ou
consumo de energia que criem passivos no meio ambiente. Os mecanis-
mos judicos o:
• Constituição Estadual Capítulo IV Do Meio Ambiente, dos
Recursos Naturais e do Saneamento São I Do Meio Am-
biente;
• Decreto Estadual 43.505/98 Autoriza o Secretário do Meio
Ambiente a celebrar convênios com Munipios do Estado de
São Paulo visando a fiscalização e licenciamento ambiental;
• Resolução SMA n.º 42/94 – Procedimento para análise de EIA e
RIMA;
• Resolução SMA n.º 35/96 Cria o Balcão único para licencia-
mento ambiental na Região Metropolitana de São Paulo;
119
• Resolução SMA n.º 11/98 Dispõe sobre realização de reu-
nião técnica informativa, aberta a participão do público, no
procedimento para análise do Relatório Ambiental Preliminar
e demais Estudos de Impacto Ambiental, conforme disposto na
Resolução SMA 42 de 29/12/94;
• Portaria n.º 36/95 Define os tipos de documentos emitidos
pelo DPRN;
• Portaria DPRN 17/98 Estabelece a documentação inicial a
ser entregue pelo interessado e novos procedimentos para pro-
cessos de licenciamento no âmbito do DPRN; e
• Portaria CPRN nº 4/99 Estabelece prazo para a entrega do
material de publicidade exigido no licenciamento ambiental
através do RAP e EIA/RIMA e provincias correlatas
As resoluções CONAMA 01/86 – que dispõe sobre os procedimen-
tos relativos ao Estudo de Impacto Ambiental e CONAMA 237/97 sobre
os procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental e no
exercício da competência, bem como as atividades e empreendimentos su-
jeitos a ele, balizam as atividades das plantas e gasodutos de s natural,
complementadas por Decretos e Resoluções específicas dos estados. Bar-
ros (2004) adiciona que além das análises e procedimentos mencionados
nas documentações acima há análises específicas em que a solicitada, pôr
exemplo, para a implantação de um gasoduto, uma Alise Preliminar de
Perigos, Estudo de Análise de Riscos, contemplando os critérios e orien-
tações estabelecidos no documento Termo de Referência para Elaboração
de Estudos de Análise de Risco da CETESB, datado de 2000.
Na região Centro-Oeste, os governos Estaduais ainda não cria-
ram mecanismos de regulação específicos, seja através de Secretarias
de Meio Ambiente ou das Agências Reguladoras, para o setor de s
natural. No que diz respeito ao uso de gás natural também não existe
uma estrutura reguladora concreta. A Ancia Nacional de Petróleo
ANP mediante agentes treinados fiscaliza a qualidade dos derivados
de petróleo e o álcool vendido nos estados, limitando-se a esta regulação
de caráter técnico. As normas editadas pela ANP sobre a manipulão
de gás natural, características físico-químicas e entrega ou custodia do
s fazem parte das funções que cabe ao órgão regulador definir para o
setor de s. No entanto, não poderiam caracterizar-se como normas ou
regulamentações ambientais, pois, estas almejam outra abordagem no
seu arcabouço conceitual.
Para a questão ambiental, segundo AGOSTINHO et al (2004), toda
lei, decreto ou resolução que envolva empreendimentos energéticos deve
120
pautar-se pelos prinpios que regem o Direito Ambiental, o princípio da
prevenção e o princípio da precaução destacam-se como os mais impor-
tantes, dos quais decorrem todos os demais. O princípio da prevenção
reza que devem ser adotadas medidas efetivas para evitar o dano ambien-
tal mesmo no caso de haver apenas um simples risco de danos graves e
irreversíveis ao meio ambiente. O prinpio da precaução, por sua vez, vai
mais além e preconiza que a prevenção deve ocorrer não apenas em caso
de certeza do risco do dano ambiental, mas, também, quando existe a-
vida científica do risco do dano ambiental. São estes dois princípios que
fundamentam a exigibilidade do Estudo de Impacto Ambiental EIA e
do próprio processo de licenciamento ambiental para as atividades poten-
cialmente ou efetivamente causadoras de danos ambientais significativos,
como é o caso das atividades da indústria do gás natural.
O Estudo de Impacto Ambiental é realizado por uma equipe
multidisciplinar que faz avaliões cnicas e científicas sobre as con-
seqüências da implantação do empreendimento e os impactos que irá
causar no meio ambiente do ponto de vista de diversas áreas como a da
Biologia, Geografia, Economia, Sociologia, etc. Ao final, deverá ser
apresentado um documento contendo os resultados dos estudoscnicos
e científicos de avalião de impacto ambiental denominado Relató-
rio de Impacto Ambiental (RIMA). Este relario deverá ser sempre
divulgado e submetido à consulta pública e, em determinados casos,
discutido em audiências públicas.
O Licenciamento Ambiental, por sua vez, consiste em um proce-
dimento administrativo destinado a licenciar a instalação, ampliação,
modificação e operação de atividades e empreendimentos que utilizam
recursos naturais ou que sejam potencialmente danosas ao meio am-
biente. Para o processo geral de Licenciamento Ambiental, no qual se
inserem as atividades da indústria do s natural que não sejam as de ex-
plorão, desenvolvimento e produção, é necessária a concessão de duas
liceas preliminares antes de ser concedida a licea final, o elas: a
Licea Prévia (LP), destinada à fase de planejamento da atividade, e, a
Licea de Instalão (LI), que autoriza o início da implementação, de
acordo com as especificações constantes do projeto executivo aprovado.
A licença final autorizando o início das atividades denomina-se Licença
de Operação (LO).
121
CONCLUES E DESTAQUES
A economia brasileira está crescendo vigorosamente desde 2004, as
exportações têm sido responsáveis pelo superávit na balança de pagamen-
tos. Devido ao novo ambiente econômico internacional, os Estados Unidos,
a maior economia do mundo, vem atravessando uma critica situação, o
mercado doméstico deverá ter maior participação no destino e assimilação
de diversos bens. O ano de 2008 registrou um consumo de 392.764 GWh na
rede do sistema elétrico da rede, 3,8% maior que no ano 2007. O setor in-
dustrial representa 45,8% do total de energia elétrica consumida, os setores
residencial e comercial participaram com 24,1% e 15,8%, respectivamente,
o restante 14,8% corresponde ao consumo de outros setores.
No caso do consumo de s natural o setor industrial, também é o
principal consumidor com 50% dos 51 milhões de m
3
/d demandados em
fevereiro de 2008, com um aumento significativo (30%) de gás natural
direcionado à geração de eletricidade. O estado de Mato Grosso do Sul
tem aumentado sua parcela de utilização do gás natural e a empresa distri-
buidora do estado vem se esforçando para diversificar seu uso, sobretudo
focando o setor industrial. No momento, o principal consumidor é o setor
de geração termelétrica. É evidente que o aumento na demanda de energia
elétrica e de s natural no país está sendo propiciada por uma retomada
do crescimento econômico, o qual se espera que seja sustentável e de
longo prazo.
A globalização gerou uma dependência muito forte dos mercados
externos criando um dilema para as economias nacionais, pois, ao mes-
mo tempo fortalece e fragiliza o crescimento econômico, dependendo da
conjuntura econômica. A prodão de energia elétrica deve acompanhar a
demanda interna por energia e neste sentido, estima-se que muitas terme-
létricas deverão entrar em operação. Entretanto, se o forem superados
alguns gargalos relacionados à infra-estrutura de transporte de energia
elétrica e escoamento do s natural, existe a possibilidade de que as
usinas em construção não sejam suficientes para atender o mercado. O go-
verno federal vem investindo, em forma paralela, na constrão de linhas
de transmissão, mas, dependendo da demanda e da distância até o centro
de carga, a construção de gasodutos pode ser uma alternativa mais eco-
mica. Esta última alternativa pode tornar-se altamente atrativa quando a
produção des natural da Bacia de Santos entre na fase comercial.
122
Mudanças estruturais no setor de transporte também devem dar-se
no campo da tecnologia com a introdução de tecnologias mais limpas
e eficientes direcionadas à utilização do s natural nos diferentes seg-
mentos consumidores. As mudanças ainda deverão ocorrer na legislação
ambiental e tributária, sempre e quando se opte por uma política de favo-
recer combustíveis menos poluentes que os derivados de petróleo ou de
substituição plena da eletrotermía no setor industrial. O s natural irá
ganhar espaço em indústrias energo-intensivas de energia etrica e na-
quelas onde ainda predomina o uso de óleo combustível, lenha ou outros
energéticos mais poluidores que os natural.
A seguir se apontam questões críticas direcionadas para superar
esses gargalos.
Pontos chaves:
a) Economia e de Mercado;
• A atração de investimentos estrangeiros diretos (IED) para o
setor de serviços e infra-estrutura não é per si a solução aos crô-
nicos problemas de cancia de capital e de expansão econômica,
tal qual mostram análises de diversos órgãos internacionais;
• Todos os governos do Brasil das últimas duas décadas têm op-
tado por políticas econômicas cíclicas e de endividamento que
tem comprometido seriamente a capacidade de investimento e
expansão do setor energético;
• A atual política macroeconômica do governo visa, sobretudo,
criar superávit primário, em detrimento de outros objetivos es-
truturais para incentivar o investimento interno e o crescimento
econômico de forma paralela a um desenvolvimento econômico
sustenvel.
• Novos mecanismos reguladores para a indústria de gás natural
e de energia elétrica precisam ter maior clareza e transparência
quanto aos seus objetivos;
• Um mercado funciona apropriadamente quando compradores e
vendedores são capazes de tomar decisões estando bem informa-
dos sobre alocação de riscos e, permite negociar custo mínimo;
123
• Tênue integração de políticas energéticas com políticas indus-
triais, de ciência e tecnologia, integração energética no Cone
Sul e ambientais;
• Descobertas de volumosas reservas de s natural no litoral de
São Paulo eso obrigando a definir novas estratégias para pro-
piciar demanda deste enertico no mercado;
• Governo deve estar presente no mercado como facilitador do
gás natural;
• Complementação energética intra-regional e internacional deve
ser vista como um benefício para a oferta de energia elétrica e
de gás natural no Cone Sul;
• Adequada formatação dos impostos sobre os combustíveis
derivados de petróleo e o gás natural, além da inclusão de ex-
ternalidades no preço final dos combustíveis poluentes, podem
alavancar a demanda por gás natural no mercado;
• A região Norte do Brasil é a mais carente em fontes de energia
e, no entanto a que detém a maior demanda reprimida, a inser-
ção do gás natural seja por gasoduto ou por GNL aliviaria essa
carência de oferta energética;
• Capacidade instalada do parque rmico no Brasil deve aumentar
para outorgar confiabilidade ao sistema e diminuir a dependên-
cia da afluência hidráulica, variável estocástica de complexa
previsão.
• A utilização de tecnologias sob o conceito de gerão distri-
buída ainda não é economicamente atrativa para boa parte das
indústrias por causa do elevado custo dos equipamentos impor-
tados;
• Existe uma clara tendência mundial de decnio das reservas e
produção de petróleo, o gás natural deverá ocupar boa parte des-
se espaço e as energias renováveis tendem a ter uma presença
cada vez mais significativa; e,
124
• O Centro-Oeste vem recebendo pesados investimentos para
tornar-se uma região de vastas plantações de cana-de-açúcar e,
conseqüentemente, fornecedor de etanol para o mercado domes-
tico e internacional. Tem-se, portanto, mais um agente de peso
no tabuleiro complexo da oferta/demanda de energia.
b) Infra-estrutura, tecnogicas e ambientais;
• Incipiente infra-estrutura dutoviária no Brasil;
• Constrão de novos gasodutos requer capital intensivo e vários
anos para a sua finalização. Em um país continental como o
Brasil esses investimentos e tempo são ainda mais vultuosos;
• Melhorias na tecnologia de transporte é o ponto chave para
ampliar a malha de transporte do gás natural, no Brasil e no
continente;
• Somente nos estados de Goiás e Mato Grosso estão sendo cons-
truídas hidrelétricas de pequeno e dio porte, uma vez que os
rios existentes nesses estados permitem ainda esses empreendi-
mentos;
• No estado de Mato Grosso do Sul aproveitamentos hidrelétricos
seriam apenas para pequenas e micro-centrais hidrelétricas. Por
conta disso, é inevitável que em médio e longo prazo terme-
létricas venham ocupar espaço relevante na oferta de energia
elétrica para o estado;
• A capacidade instalada de usinas termelétricas no Centro-Oeste,
e em especial no Mato Grosso do Sul, deve aumentar nos próxi-
mos anos;
• A capacidade instalada de usinas termelétricas no estado de
Mato Grosso do Sul deve chegar a 483,05 MW dos quais 421,4
MW exclusivamente as natural;
• O melhor aproveitamento e o uso mais eficiente do gás natural
na geração termelétrica ocorre quando a usina térmica é de ciclo
combinado ou quando é utilizado sob o conceito da cogerão;
125
• Eficientes valores de heat rate podem ser fatores determinantes
para que termelétricas possam vir a competir com hidrelétricas
no mercado energético brasileiro;
• A aplicação do conceito de geração distribda alivia a sobre-
carga nas linhas de transmissão e distribuição e outorgará maior
disponibilidade de energia elétrica para demandas localizadas;
• Diversificar o mix de combustíveis na geração é fator importan-
te para ganhar competitividade e outorgar segurança ao sistema
de fornecimento de eletricidade;
• Incorporar políticas de economia da energia a partir da abor-
dagem do gerenciamento do lado da demanda é uma saída
econômica e tecnicamente exeqüível e que deve ser implemen-
tada desde o âmbito federal;
• Agências reguladoras estaduais do Centro-Oeste carecem de
quadros que conheçam a instria de s natural para regulá-la
e fiscalizá-la;
• Leis, exigências e autorizações ambientais devem ser mais expe-
ditas, pois atrasando projetos do setor energético, vislumbra-se
um alerta sobre novo racionamento de energia elétrica no médio
prazo;
• Propiciar sinergia entre questões regulatórias e atender neces-
sidades energéticas deve ser a política dos governos centrais e
estaduais para o novo milênio;
• As condições climáticas do Brasil, país tropical, incidem no
desempenho das usinas termelétricas a gás natural, assim, pes-
quisas visando análise e monitoramento dos gases lançados por
elas deve incrementar-se a fim de avaliar os posveis impactos
nestas latitudes sobre o meio ambiente;
• A metodologia conhecida como Avaliação Ambiental Estraté-
gica tem sido adotada em boa parte dos países desenvolvidos
e em muitos em desenvolvimento como uma ferramenta para
mensurar impactos socioeconômicos e ambientais de políticas,
programas e projetos de qualquer setor. Políticas e programas
126
do setor energético em escala nacional ou regional exigem ava-
liações ambientais e econômicas rigorosas, no estado de Mato
Grosso do Sul está ocorrendo um fato inédito em termos ener-
géticos que é a expansão em grandes proporções da cultura da
cana-de-açúcar, por conta disso a adoção de um mecanismo de
avaliação ambiental faz-se necessário;
• O gás natural no estado de Mato Grosso do Sul já é um energé-
tico importante na matriz estadual e dentro dos segmentos onde
se vislumbra um crescimento sustentado no setor industrial e de
veículos leves a tendência é se consolidar. Por outro lado, na
geração termetrica o uso de gás natural estará circunscrito às
atuais usinas já em operão (W. Arjona e Três Lagoas) pois,
sua utilização na geração de energia elétrica o é uma opção
viável, do ponto de vista da eficiência energética e da expulo
de gases estufa e poluentes. Contudo, a termoeletricidade de-
verá ter presença significativa na prodão de eletricidade do
estado, mediante a bioeletricidade, antecipar-se a essa realidade
mediante estudos, pesquisas, avaliações e adequada estrutura
regularia elaborada por órgãos públicos e centros de pesquisa
pode trazer grandes benefícios à sociedade sul-mato-grossense;
e, finalmente,
• No que diz respeito à bioenergia, está a jogar um papel funda-
mental na oferta de energia bem como na cadeia de produção do
estado. Fatores de caráter ambiental, como a emissão de gases
estufa e de caráter comercial, como a escalada do preço do barril
de petróleo, estão propiciando a produção de biocombustíveis
em âmbito mundial. O estado de Mato Grosso do Sul tem sido
escolhido como um dos estados onde deverão estar operando,
no curto e mediano prazo, em torno de vinte usinas sucro-alcoo-
leiras, esse fato trará, semvida, externalidades boas e más na
estrutura político-econômica do estado. Caso predomine apenas
a lógica do imediatismo que olha quantidade de área plantada e
volume de etanol produzido sem fazer uma avaliação real dos
impactos, corre-se o risco de, no longo prazo, reverterem to-
dos os posveis ganhos iniciais com a bioenergia por passivos
ambientais e econômicos vultosos. Esta avaliação e outros refe-
rentes à cana-de-açúcar, devem ser abordados em outro estudo.
127
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