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Dilemas e Diálogos Platinos
Relações e Práticas Socioculturais
(Orgs.)
Ângel Núñes
Maria Medianeira Padoin
Tito Carlos Machado de Oliveira
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Universidade Federal da Grande Dourados
Editora UFGD
Rua Benjamin Constant, 685 | Centro | Dourados | MS
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Editora e Gráfica Universitária
R Lobo da Costa, 447 – Pelotas, RS – CEP 96010-150
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Diretor da Editora e Gráfica Universitária: Carlos Gilberto Costa da Silva
Gerência Operacional: João Henrique Bordin
Impressão: Triunfal Grafica e Editora
Impresso no Brasil
Edição: 2010
Tiragem: 1000 exemplares
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UFGD
980
D576 Dilemas e diálogos platinos. / Orgs: Angel Nuñes, Maria
Medianeira Padoin, Tito Carlos Machado de Oliveira. –
Dourados, MS : Ed.UFGD, 2010.
2v.
Conteúdo: v.1 – Fronteiras. v.2 – Relações e práticas
socioculturais.
ISBN 978-85-61228-70-5 (v.1). - ISBN 978-85-61228-71-2 (v.2) .
1. América Latina, Bacia do Prata – Aspectos
socioeconômicos. 2. Fronteiras. 3. Brasil – Fronteiras – Disparidades
regionais. 4. Brasil – Relações exteriores. 5. Geopolítica – América do
Sul, Bacia do Prata. I. Nuñes, Angel. II. Padoin, Maria Medianeira. III.
Oliveira, Tito Carlos Machado.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Sumário
Dilemas e Diálogos Platinos
Relações e Práticas Socioculturais
1. El frente extractivo de yerba mate y madera.
Una actividad socioeconómica
transnacional de la triple frontera.
Roberto Carlos Abínzano
2. Linguagem, identidade nacional
e a importância da perspectiva geopolítica
Kanavillil Rajagopalan
3. Naturaleza, economia y territorio:
consideraciones contra el colapso
Jorge Rodrigo Yaitul Stormansan
4. El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê
brasileiro: um diálogo entre mitos latino-americanos
Alice Signorini Feldens
5. Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural.
Aproximaciones al problema de los dilemas ambientales
en pensamientos socioculturales
latinoamericanos contemporâneos
Nelson Vergara Muñoz
6. Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul: o
discurso do Movimento Guaicuru.
Gilberto Luiz Alves
7. Desafios epistemológicos emergentes
na relação intercultural
Reinaldo Matias Fleuri
09
77
91
127
145
169
201
4 |
8. Políticas de lenguaje en el mercosur: una contraposición
entre la ley federal brasileña y las disposiciones del bloque.
Suzana Mancilla Barreda
9. Crisis y transformación de la identidad-acción
colectiva en México
Josè G. Vargas-Hernàndez
10. Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
e o federalismo
Maria Medianeira Padoin
11. Extrañamiento y transtierro
de los misioneros argentinos en 1817
Ángel Núñez
12. La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos.
Una propuesta de indicadores
Mabel Causarano
13. Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa
na constituição do oeste platino
Tito Carlos Machado de Oliveira
e Paulo Marcos Esselim
14. Desarrollo local, cotidiano y participación popular
en una perspectiva territorial
Sérgio Ricardo Oliveira Martins
15. Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
Carlos Martins Junior
e Carlos Alexandre Barros Trubiliano
Uma avaliação
Paul Claval
215
247
279
289
317
343
365
389
413
5
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Apresentação
Os estudos aqui apresentados são resultados de investigações
científicas realizadas por pesquisadores pertencentes à instituições de ensino
superior e de pesquisa que dedicam-se em pensar, refletir e produzir sobre
a América Platina.
A América Platina é um recorte regional que tem na sua espacialidade
e territorialidade a dimensão do histórico, em que a macro e a micro-
história, o nacional e o internacional, o local e o global se encontram nas
relações e práticas socioculturais ali vivenciadas e produzidas ao longo dos
tempos, e que irão ser aqui apresentadas em sua diversidade temática e de
olhares.
Assim, o entendimento do termo América Platina está relacionado
ao território do sudoeste do Brasil, Bolívia, Uruguai, Argentina e Chile,
região que com a colonização européia pertenceu ao Vice-Reino do Peru
e posteriormente, em grande parte, ao Vice-Reino do Prata, e que possui
como um de suas marcas a questão fronteiriça.
Nesse sentido, é mister relembrar que a história nacional dos países
platinos não pode ser entendida e estudada sem levar em consideração a
sua inserção no processo de conquista territorial e formação dos novos
estados nacionais no século XIX, decorrentes das colonização das Coroas
portuguesa e espanhola, ainda mais, no momento atual em que se
comemora” o bicentenário do início dos processos de independência.
Assim, ao priorizar as temáticas sobre a América Platina, é
imprescindível perceber a história (construídas, produzidas, vivencidas)
das relações de poder presentes em uma região marcada pelas disputas
fronteiriças, que foi mesclada não por divergências e disputas
governamentais, mas pela integração e intercâmbio de idéias e interesses
regionais/locais, pela mobilidade de pessoas, pelo mercado e comércio, no
qual os benefícios da instabilidade e indeterminação dos limites políticos
6 |
estiveram presentes na mentalidade e cultura regional, e que na construção
dos estados modernos nacionais levarão a adoção de políticas centralizadoras
e nacionalistas, onde o extermínio ou o enfraquecimento do poder local
fronteiriço foi determinante. Estas políticas nacionalistas serão percebidas
também na forma da produção do conhecimento, no qual a historiografia
vem ser um dos exemplos e testemunha, em que predominará na literatura
oficial a temática das diferenças entre os Estados, em que o limite político
também representava a divisão enquanto diferenças cultural, histórica e
identitária.
Com a consolidação dos estados nacionais, tanto interna como
externamente, e com o processo de globalização, o tema da integração
regional se coloca em pauta e o conceito de fronteira é retomado com um
olhar para além do limite político enquanto divisão e relações de conflitos.
Passa a ser compreendido como área de possibilidades, de aproximações,
de diferenças, de identidades e de diálogos. Também a rivalidade passou
a ser entendida enquanto instrumento de estabelecimento e afirmação
das soberanias nacionais e não mais como uma diferença intrínseca,
original e cultural. Ou seja, a partir do estudo do regional, percebeu-se a
complexidade, a multiplicidade e multipolaridade que pertence à definição
do regional, do espaço fronteiriço, da pesquisa sobre a América Platina.
Nesse sentido, a inter, a multidisciplinaridade se impõe neste
universo investigativo, não apenas como um desafio, mas como uma
metodologia e imperativo de visão do mundo, da sociedade, da produção
do conhecimento.
Com esta perspectiva, apresentamos, com muita alegria este
livro, vinculado a elogiável iniciativa dos Programas de Pós Graduação
do Mato Grosso do Sul que promoveram o II Seminário Internacional
América Platina, e que, entre outros, tiveram como mentor e grande
incentivador desta proposta teórica, metodológica e política o Prof. Tito
Carlos Machado de Oliveira. A Universidade Federal do Mato Grosso do
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Sul está de parabéns por esta iniciativa e por possibilitar tanto o diálogo e
debate acadêmico como a sua divulgação. E neste sentido, agradecemos a
Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e a Universidade Federal de
Pelotas que publicaram estes trabalhos.
Assim, especialmente a companhia do Prof. Tito Carlos Machado
de Oliveira e do Prof. Angel Nuñes na organização desta publicação, como
das dos demais autores muito nos honra e vem fortalecer a crença e a
importância do diálogo, da liberdade acadêmica, do trabalho integrado e da
necessidade do investimento na produção e divulgação do conhecimento.
Maria Medianeira Padoin
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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EL FRENTE EXTRACTIVO
DE YERBA MATE Y MADERA.
UNA ACTIVIDAD SOCIOECONÓMICA
TRANSNACIONAL DE LA TRIPLE FRONTERA
Roberto Carlos Abínzano
En muchas oportunidades hemos sostenido que la construcción de
una consciencia sui generis en la región de fronteras, que sustento a
los proyectos futuros pasa, entre otras cosas, por la comprensión de las
secuencias históricas que nos condujeron al presente. Dicha secuencia es
una sucesión de formaciones sociales o socioeconómicas que no se refieren
a un país sino a un conjunto extremadamente complejo de aspectos
infraestructurales y superestructurales combinados de manera específica y
durante lapsos también acotados en el tiempo en la región de fronteras.
Región que se define precisamente por la existencia de estas relaciones
transfronterizas.
El presente artículo es una versión algo modificada de un capítulo
de nuestra tesis doctoral (ABÍNZANO, 1985). Debemos aclarar que el
punto a partir del cual se elabora esta breve historia es la provincia de
Misiones en Argentina, cuya realidad presente y pasada, son incompresibles
sin el conocimiento de procesos similares y simultáneos ocurridos en Brasil
y Paraguay.
En este texto analizaremos el surgimiento histórico y las características
estructurales del denominado frente extractivo, entendiendo por tal un
modelo de ocupación y utilización del espacio y, simultáneamente, un
sistema productivo particular cuyas características fundamentales fueron y
aún siguen siendo las siguientes:
La baja inversión; las relaciones de producción precapitalistas; la
destrucción de recursos no renovables a corto plazo y su inserción absoluta
El frente extractivo de yerba mate y madera
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en un sistema de mercado regulado desde fuera de la propia región por un
capitalismo desarrollado.
Los empresarios -contratistas, propietarios, permisionarios, etcétera-
sólo buscaban extraer el máximo de materia bruta y transformarla in situ
en materia prima destinada a los centros extra-provinciales donde recibían
un tratamiento industrial.
Los dos productos principales implicados en este proceso fueron la
yerba mate y la madera de ley. Los yerbales naturales fueron explotados con
tanta irracionalidad que terminaron extinguiéndose y, por otra parte, los
yerbales cultivados crearon una nueva era en la utilización de este producto.
La explotación de los bosques naturales, en cambio, agotó las reservas de las
especies más valiosas cuyo ciclo de crecimiento supera largamente la vida
de varias generaciones. Cuando se inició un programa de reforestación y
silvicultura las especies implantadas artificialmente estaban destinadas a
las fábricas de celulosa y papel, y se redujeron a unas pocas variedades de
coníferas, algunas de ellas exóticas desde el punto de vista del ecosistema.
El frente extractivo impulsó el surgimiento de una serie de
epifenómenos complementarios como el trazado de algunas vías de
comunicación, el desarrollo de la navegación fluvial y la construcción
de infraestructuras portuarias, el auge comercial de algunos puntos del
territorio y, desde el punto de vista sociológico, la aparición de una clase
social encargada de dar basamento a una elite local capaz de desempeñar roles
económicos, políticos, sociales y culturales como ocurre en las sociedades
pioneras donde los actores se ven compelidos a una multiplicidad de tareas
que abarcan un espectro muy amplio de locus sociales.
También se desarrolló un conjunto de industrias ligadas a la
extracción de estos productos: molinos, obrajes, aserraderos, etcétera, que no
llegaron a poner en peligro el esquema fundamental orientado a incorporar
valor añadido a las materias primas fuera de la provincia. Las verdaderas
agroindustrias locales que procuraron competir con las instaladas en
Buenos Aires y Rosario, surgieron como fruto de la colonización agrícola y,
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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a su vez, también generaron el desarrollo de una nueva clase cuyos intereses
respondieran en mayor medida a la región.
Es muy difícil determinar en qué época se inició este frente extractivo
misionero, ya que en alguna medida, mientras Misiones estuvo en poder de
Paraguay, sus yerbales fueron explotados y su madera talada. Sin embargo,
fue sólo después de la Guerra de la Triple Alianza (1865-1870) cuando
estas actividades adquirieron una escala significativa. De manera que
podemos situar los comienzos de la ocupación espacial de Misiones por
parte de grupos humanos permanentes, aunque no sedentarios, a partir de
los comienzos del conflicto y la recuperación de los territorios al sur del
Paraná.
Pero, como en las sociedades complejas es prácticamente imposible
hallar sistemas en estado de pureza y aislamiento, junto al frente extractivo
se hicieron presentes agricultores de subsistencia, colonos espontáneos
definibles como farmers o granjeros, especialistas artesanos y también los
primeros funcionarios. Pero las actividades extractivas constituyeron el
fundamento del sistema claramente dominante.
Pioneros en tierras fiscales y privadas
Desde el comienzo de la guerra (1865) hasta la federalización de
Misiones (1881) las tierras eran en su casi totalidad fiscales. Un poco antes
de la federalización Corrientes decidió la venta de las tierras a unos pocos
latifundistas. Este hecho produjo algunas variaciones dentro del frente -ya
importante en volumen de operaciones- consistente en la vinculación entre
los empresarios y pioneros y las nuevas personas jurídicas propietarias de las
tierras que básicamente eran propietarios absentistas que habían invertido
en esas tierras especulativamente.
Muchos de los pioneros iniciales se adaptaron a la nueva situación
porque habían desplegado una serie de tareas diferentes que abarcaban
El frente extractivo de yerba mate y madera
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casi todos los campos de la economía como el transporte, el comercio y la
industria; otros, en cambio, buscaron la obtención de nuevas concesiones
bajo el régimen de los latifundios privados y, por último, aparecieron
grandes empresas organizadas en el sur (Buenos Aires o Rosario) que
se instalan en Misiones desde fuera inaugurando una modalidad que
nosotros hemos asimilado -por falta de un desarrollo teórico específico-
al tipo de las plantaciones modernas o, como dirían Wagley y Harris:
plantaciones usinas”. (1)
El concepto de frente pionero que algunos autores utilizan, incluye
la totalidad de fenómenos propios del avance de la sociedad nacional y, por
lo tanto, el frente extractivo supone un nivel menor de abstracción ya que,
como vimos, otras formas de ocupación del espacio lo acompañaron en su
surgimiento y a lo largo de todas sus etapas.
Como sistema productivo dominante, el frente extractivo mantuvo
su predominio desde fines de la guerra hasta, aproximadamente, la
década de los años treinta. A partir de allí fueron otros los sectores que
comenzaron a adquirir poder político económico y social. No obstante, en
sus modalidades menos extremas el frente extractivo aún existe como tal,
es decir, manteniendo las características distintivas señaladas.
Poco antes de sancionarse la ley de federalización de Misiones y al
ver ya perdidas sus aspiraciones, Corrientes decidió entregar a la Nación la
jurisdicción de esas tierras, pero no su propiedad.
En vista de esta situación -dicen Ziman y Scherer- y de la pronta y
segura salida de Misiones de la jurisdicción correntina para pasar a
la nacional como territorio nacional, el Gobernador de Corrientes
Antonio Gallino, con el propósito de entregar al Gobierno Nacio-
nal solamente la jurisdicción del territorio de Misiones pero sin la
propiedad, logró que la legislación de Corrientes ya el día 12 de ju-
nio de 1881 sancionara la Ley de Tierras por la cual se autorizó a la
Gobernación de Corrientes a enajenar todas las tierras de Misiones
a razón de lotes de 25 leguas cuadradas, o sea a razón de lotes de
67.500 hectáreas. (2)
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Mientras en el Congreso Nacional se llevaban a cabo las calurosas
discusiones sobre la federalización de Misiones, Corrientes vendió
2.025.000 hectáreas sobre la base de mapas rudimentarios e inexactos y sin
mensura de tierras. Esta falta de medidas verdaderas salvó de la venta a 300
leguas cuadradas. Más tarde, también el gobierno territorial rescató tierras
que no habían cumplido el requisito de realizar las mensuras obligatorias
en el plazo estipulado.
Esta venta de tierras escondió además una maniobra destinada a
concentrar su posesión en unas pocas manos por medio de testaferros y
más tarde se revendieron a compradores poderosos de la Pampa Húmeda.
Casi la totalidad de Misiones cayó en manos de treinta y ocho propietarios
(3). La estrategia del gobierno provincial fue recuperar las tierras que
se pudiera y colonizarlas. Se veía enfrentado a un vasto territorio vacío,
privado e inexplotado por el que sin embargo debía desplegar toda su
responsabilidad colectiva. (4)
Cuando en diciembre de 1881 se creó el Territorio Nacional de
Misiones, las nuevas autoridades se encontraron con que gran par-
te del territorio había pasado a manos privadas, y para peor, de
propietarios ausentistas. Empero, el mismo apresuramiento del go-
bierno correntino al realizar las ventas permitió recuperar un buen
porcentaje de esas tierras. Algunas pasaron nuevamente al fisco por
no haber cumplido los adquirientes con la estipulación de practicar
la mensura dentro de un plazo de diez años a partir de la venta.
Pero el principal factor que permitió recuperar grandes extensiones
fue la errónea mensura de las tierras vendidas; error que devolvió
al fisco una ancha faja de tierras a lo largo del dorsal central del
territorio. De esta manera, pudo encararse un plan de colonización
en tierras públicas, que comenzó por la zona de campo y posterior-
mente se extendió a las Sierras Centrales. (5)
El frente extractivo de yerba mate y madera
14 |
La federalización de misiones
y sus consecuencias inmediatas
Luego de las polémicas descritas y del despliegue de la argumentación
presentada por Corrientes y por la Nación, y de las diligencias del poder
legislativo, se sancionó el día 22 de diciembre de 1881 la ley de federalización
del territorio de Misiones. Esta ley reparaba una injusticia histórica que se
completaría 72 años más tarde con la reinstauración de la provincia de
Misiones como un estado autónomo dentro del régimen federal.
La Ley fijaba los límites del nuevo Territorio Nacional en los arroyos
Pindapoy y Chirimay que lo separaban de Corrientes. Pero el artículo
primero que se refiere a los límites fija en realidad los límites de Corrientes
y no de Misiones ya que estos últimos estaban en litigio con Brasil y, por lo
tanto, la norma legal separaba a Misiones de la soberanía correntina lo que
sí se conseguía estableciendo las fronteras entre ambas jurisdicciones.
El poder ejecutivo debía elevar al Congreso un organigrama para
ejercer la autoridad nacional en Misiones y de su organización interna.
Luego la ley se refiere a algunos aspectos administrativos, impuestos,
etcétera.
Lo cierto es que estos nuevos límites dejaban en poder de Corrientes
a varios pueblos integrantes de las antiguas Misiones, que ya no volverían
a reunirse con sus antiguas “hermanas”. Estos eran Yapeyú, Santo Tomé,
La Cruz y numerosas estancias jesuíticas. La antigua provincia quedaba así
dividida para siempre. En marzo de 1882 el Poder Ejecutivo dictó un decreto
por el cual se fijaba la residencia del nuevo gobernador designado por este
mismo poder y, además, se dividía el territorio en cinco departamentos:
San Martín, Piray, San Javier, Monteagudo e Iguazú. La capital y asiento
de las autoridades quedaba localizada en Corpus.
Pero esta decisión estaba fuera de toda realidad. Sólo una ciudad
cumplía los requisitos para ser capital del Territorio: Posadas, pero había
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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quedado en jurisdicción correntina. Por esa razón el nuevo y primer
gobernador del Territorio solicitó al Poder Ejecutivo Nacional su gestión
para lograr que la provincia vecina cediera aquella ciudad.
Corrientes fue presionada y cedióla ciudad solicitada mediante
una ley provincial del 26 de agosto de 1882. El 28 de julio de 1884 Posadas
se incorporó a Misiones como su capital por ley del Poder Legislativo
Nacional. En cumplimiento de las nuevas normas y al aplicarse en el
terreno de común acuerdo lo dispuesto, el pueblo de San Carlos pasó a
Corrientes, aunque culturalmente haya girado como otras poblaciones
correntinas a partir de allí en la órbita misionera.
Los límites con Paraguay habían sido definitivamente resueltos al
finalizar la guerra. Además no presentaban dificultades: la frontera era el
río Paraná y dentro de éste la línea de aguas más profundas. Sólo algunas
islas presentaron algunos inconvenientes.
El problema que quedaba pendiente era la frontera con Brasil, que
contaba en su favor, ante cualquier tribunal arbitral internacional, el hecho
de que la mayoría de la población que ocupaba la zona en litigio era de
origen brasileño. Ambos países firmaron un tratado para someter la cuestión
a un tribunal y eligieron al presidente de Estados Unidos, Cleveland, quien
el 5 de febrero de 1895 adjudicó a Brasil los 30.000 km. cuadrados en
disputa con lo cual quedó cerrado definitivamente este capítulo. El límite
quedó fijado en los ríos Iguazú, San Antonio, Pepirí-Guazú y Uruguay.
Así, con una capital, cinco jurisdicciones políticas, inmensos
latifundios privados que ocupaban casi toda la provincia, una población
mayoritariamente extranjera y un conjunto de actividades económicas
fuera de control, Misiones comenzó su nueva vida de Territorio Nacional.
La penetración del frente extractivo en Misiones es anterior a
toda colonización efectiva, aunque sus inicios coinciden con las primeras
planificaciones colonizadoras. Su extraordinario empuje se tradujo en el
surgimiento de una infraestructura conformada por un conjunto mínimo
El frente extractivo de yerba mate y madera
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de medios de transporte y comunicación, establecimientos comerciales,
sistemas de seguridad, etcétera. Pero, y esto es fundamental, si bien las
actividades centrales eran extractivas, se crearon desde los primeros
momentos auténticas fábricas y sistemas de producción de energía
ingeniosos aunque precarios.
Sería simplificar demasiado nuestro enfoque intentar una
caracterización de esta etapa adscribiendo toda la población a las actividades
extractivas en sus diversos roles, pero, sin duda, ésta fue la actividad
dominante y central en torno a la cual todas las demás tenían un carácter
satelitario.
Tampoco sería riguroso pensar que todos los yerbateros desplegaban
sus faenas en forma absolutamente trashumante. Muchos de ellos
combinaron la cosecha de yerba natural por medios tradicionales con
la puesta en marcha de establecimientos sedentarios, dedicados a una
producción diversificada que implicaba una inversión mayor y radicaba en
torno suyo un número variable de población.
Muchos de los pioneros que iniciaron la producción en gran escala
y que luego vieron peligrar su base de sustentación al federalizarse la
provincia y cambiar las reglas de juego, pudieron adaptarse a la situación
cambiante por haber diversificado sus actividades económicas canalizando
sus intereses en las ramas del comercio, el tabaco, la hotelería, los molinos,
los secaderos y muchos otras, como veremos en detalle más adelante.
En los primeros años de este siglo, y cuando el proceso de colonización
ya estaba en marcha existían en la provincia seis o siete grandes firmas cuyas
incumbencias alcanzaban la casi totalidad de las ocupaciones existentes.
Estas a su vez fueron con el tiempo asociándose a intereses extraprovinciales
que les permitieron crecer aún más. Lo cierto es que la infraestructura
provincial creció en función de estas grandes empresas.
Ahora veremos cómo era la provincia de Misiones desde este punto
de vista, es decir desde el ángulo de su equipamiento, infraestructura y tareas
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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dominantes entre el fin de la guerra, o poco antes, y los primeros años del
siglo. No analizaremos el tema de la colonización, salvo algunas alusiones
necesarias, ya que ese punto lo estudiaremos aparte, específicamente y en
una síntesis posterior de ambos temas.
Las estrategias desplegadas por Corrientes para consolidar su posición
en Misiones con miras a enfrentar los derechos de la propia interesada y
las decisiones nacionales, no incluyeron inversiones en infraestructura que
puedan calificarse de significativas.
Misiones estaba unida al resto del país por un hilo débil y frágil
que era la ruta que recorría el norte de Corrientes en forma paralela al río
Paraná. Es la actual ruta nacional número 12. Por el río se podía llegar
navegando sólo hasta los saltos de Apipé con barcos de calado medio y
grande. Allí, estas restingassólo permitían el paso cuando había crecientes
o con barcos dotados de un motor muy poderoso para enfrentar a los
rápidos y guiados por alguno de los pocos prácticos que se animaban a
pasar por allí y que conocían los escasos pasos existentes.
Durante la guerra (1865-1870), la flota brasileña aprovechando una
creciente recorrió el río Paraná hasta más arriba del Iguazú. Actualmente,
a partir de 1983, la represa de Itaipú ha cortado toda navegación aguas
arriba ya que no posee esclusas de navegación, pero el lago formado por la
misma represa permite una navegación de gran calado por más de 80 km.
aguas arriba. Antes de esta valla inmensa la navegación era posible hasta los
saltos del Guayrá, hoy desaparecidos bajo las aguas.
Lo cierto es que el escollo de los saltos de Apipé y Yacyretá se
convirtieron en la principal dificultad para el desarrollo de Misiones ya
que a fines del siglo pasado el transporte terrestre era una verdadera odisea
por la escasez de caminos y su estado calamitoso. El transporte fluvial era,
en cambio, muy eficaz y barato. Aguas arriba del Apipé la actividad de los
puertos renacía y éstos fueron durante mucho tiempo el centro de la vida
sociocultural y económica. Los puertos fueron los puntos de penetración
El frente extractivo de yerba mate y madera
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hacia el interior; la base de reclutamiento de mano de obra, la base de
operaciones del comercio, el asiento de las autoridades, la puerta de entrada
de las mercancías y de salida de la producción local, etcétera.
Pero, para poder llegar por tierra era necesario cruzar caminos
peligrosos y carentes de puentes, postas, etcétera. Existen muchas
descripciones sobre el tramo entre Ituzaingó y Posadas que datan de
aquella época en la región. Y como una idea que desarrollaremos más
adelante digamos aquí que éste fue un factor fundamental en el proceso
de colonización ya que aumentó el grado de aislamiento que las colonias
tenían naturalmente por sus barreras culturales.
Hacia fines de la década de los setenta del siglo pasado y comienzos
de la siguiente, existía sólo una diligencia para realizar por tierra la travesía
entre Ituzaingó-Posadas. El viaje por la ruta del río Uruguay era tan peligroso
y precario que lo más rápido y seguro, a pesar de la mayor distancia, era la
navegación por el Paraná hasta Ituzaingó. La diligencia, que pertenecía a
un particular -Colmeiro- realizaba tres viajes mensuales si las condiciones
generales de tiempo y el camino eran normales. Pero generalmente no lo
eran y esos escasos 80 km. se cruzaban frecuentemente a un promedio de
10 km. por día. Cuando las condiciones permitían la llegada del barco
hasta el puerto de Posadas, el viaje terrestre se suspendía.
Por aquel entonces, la que sería capital de la futura provincia carecía
hasta de telégrafo y por lo tanto dependía de los inseguros y esporádicos
viajes descriptos, como única forma de comunicación con el exterior. La
diligencia de la zona del río Uruguay se había suspendido y sólo circulaban
algunas embarcaciones entre los puertos de ese río y Santo Tomé. En
una carta publicada en 1881, Alejo Peyret afirma que esas regiones eran
frecuentadas por matrerosy otros aventureros contra los que se estaba
combatiendo con firmeza para limpiar el área de bandidos. (6)
Volviendo a la diligencia de Colmeiro digamos que en algunas
situaciones excepcionales sus servicios fueran reforzados con ayuda oficial.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Eso ocurrió con la llegada a Misiones del sabio ítalo-suizo Moisés Bertoni,
uno de los más grandes estudiosos de temas regionales y pionero de la
agricultura local. Bertoni envió una carta al diario “La Voce de Ticino
y éste la publicó en su edición del 18 de Junio de 1884 (en esta fecha
el Territorio de Misiones ya había sido federalizado, pero las condiciones
generales eran todavía similares al período anterior). Por este documento
nos enteramos de algunos detalles de la travesía.
Luego de quejarse de las durezas del camino y los sacrificios de los
viajeros y además de agradecer al gobernador de Misiones, Don Rudecindo
Roca, los recursos puestos a su disposición para el viaje, dice:
[...] Cuando es bueno, el camino es una serie de cursos paralelos,
profundos hasta un metro, interrumpidos por piedras más o menos
grandes y de un copete de una graminácea que os sacude hasta lo
imposible. Después de trecho en trecho se entre en los pantanos,
en los cuales los bueyes apenas muestran la cabeza fuera del agua,
o en las riveras cuyo pasaje es por demás peligroso. De caminos ar-
tificiales no hay trazos, de puentes ni hablar. A cada paso los carros
se hunden en el pantano, es necesario quedarse y perder horas de
tiempo. Es así que se marcha lentamente y a menudo no se hace
más de diez kilómetros en el día. (7)
La caravana que acompañó a Bertoni era excepcional e imponente.
Estaba compuesta por ocho carros, ocho carruajes, sesenta personas, nueve
caballos y sesenta bueyes. Como la zona no estaba libre de posibles bandidos
o de la presencia de algún tigre, se montaba guardia permanentemente.
Los hombres dormían a la intemperie con las armas siempre junto a ellos.
Las mujeres o los viajeros especiales dormían en los carros.
Nuestros carreteros son indios guaraníes, bravísima y honesta gen-
te, obsequiosos y gentiles, siempre vivaces y alegres. Siempre se ríen
de todo; no así en las más fatigosas y peligrosas ocasiones, ellos
pierden su filosófica alegría para adoptar en cambio una admirable
sangre fría, aman el juego y la vida alegre, pero en el momento de
necesidad ninguno deja su puesto, siempre listo a afrontar y reírse
de todas las adversidades. (8)
El frente extractivo de yerba mate y madera
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El cruce de los ríos y arroyos era quizás el momento más crítico,
situación reiterada durante décadas en todos los caminos misioneros.
Interrumpiendo la dulce ilusión encontramos el Itaembé, rápido
afluente del Paraná. Atravesarlo es difícil. En Europa se lo juzgaría
absolutamente imposible, pero para nuestros bravos indígenas no
hubo obstáculos. Las carretas descienden hasta el río a lo largo de
una pendiente vertiginosa. Todos los pasajeros deben tenderse en
las carretas para no sentirse sacudidos unos contra otros. Todas las
carretas arriesgan de volcar pese a los ocho bueyes atados a cada
una, se mantienen en pie mediante su mismo volumen y de la ex-
traordinaria altura de sus ruedas. Finalmente en medio de una bulla
infernal, de la cual tienen en secreto arribamos sanos y salvos a la
otra orilla. (9)
El frente extractivo y los comienzos
de la colonización
Queda dicho, y lo reiteramos a modo de recapitulación, que al
comenzar la guerra de la Triple Alianza, y no bien los ejércitos paraguayos
abandonaron las zonas al sur del río Paraná, la provincia de Corrientes se
dispuso a hacer efectiva su soberanía territorial sobre Misiones, siguiendo
dos estrategias complementarias y simultáneas: comenzar la colonización
y el asentamiento de población y regular la actividad extractiva de la
yerba mate y la madera cuya iniciación se efectuó en forma inmediata y
espontánea por parte de la iniciativa privada.
Esta etapa, que se extendió hasta la venta por parte de Corrientes
de la totalidad de las tierras misioneras o, por lo menos, de lo que se creía
que era la totalidad de su extensión, se caracterizó por la presencia de dos
tipos humanos culturalmente diferentes: a) los pioneros individuales,
generalmente extranjeros o hijos de extranjeros movidos por ambiciones
económicas claras; vinculados al comercio; originarios de los países
triunfantes y; b) los colonos agrupados en familias o conjuntos de familias,
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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fundamentalmente agricultores; en su mayoría de origen brasileño; con un
alto porcentaje de europeos, que luego de una primera inmigración a Brasil
pasaban a Argentina, etcétera.
Tanto el frente extractivo como esa colonización más o menos
espontánea se continuaron y, en cierto sentido continúan, sumándose a
otras formas posteriores de ocupación del espacio. También en este período
que precede la federalización o nacionalización de Misiones aparecen dos
fenómenos fundamentales para la futura estructura regional: la presencia
de un estado; un conjunto de controles e instituciones, y el surgimiento
de un centro urbano cuya preponderancia económica, política, ideológica
y cultural no cesará desde entonces: Posadas. En este período se gesta
también el perfil de una clase social que, al igual que la poderosa capital
provincial, nunca abandonaría cierta forma de hegemonía.
Analizaremos en primer lugar el frente extractivo como sistema
de producción. Estudiaremos las características de sus actividades y,
fundamentalmente, sus relaciones de producción y la explotación de
indios, mestizos y criollos que llegó a niveles desconocidos en la región.
Cabría agregar, antes de comenzar el desarrollo de estos puntos, que las
actividades extractivas que se intensificaron más tarde con Misiones ya
convertida en territorio, tanto en sus grandes latifundios privados como
en las tierras fiscales, fueron características de una sociedad nacional en
expansión que acababa de recuperar inmensos territorios y, por lo tanto,
sus riquezas inexplotadas.
Desde la época jesuítica se explotaban las selvas misioneras. De ellas
se obtenían valiosos productos, no sólo para consumo directo sino para su
venta al exterior de la región. Eran fundamentalmente dos: la yerba mate
y la madera. A la riqueza arbórea ya nos hemos referido anteriormente. En
cambio, sobre la yerba mate es necesario explicar una serie importante de
circunstancias que hacen a su consumo.
El frente extractivo de yerba mate y madera
22 |
La yerba mate puede ser empleada de varias maneras pero
fundamentalmente de dos: a) como un o infusión común y; b) colocándola
en una pequeña calabacita (que también se denomina mate) y vertiendo
en ella agua caliente o fría. En este último caso se denomina tereré”. La
primera de estas formas se denomina mate cocido o simplemente cocido.
La segunda mate o mate cebado, cebar significa servir. El mate servido o
cebado se consume generalmente en grupo. Una persona pone el agua en
la calabaza que contiene la yerba y se la entrega a otra, generalmente la
más próxima. Esta sorbe el líquido por medio de una “bombillao cánula,
generalmente de metal, hasta que la yerba queda seca. Devuelve el mate a
quien está cebando y éste vuelve a llenarlo y se lo entrega al que sigue. Una
vez elegido el sentido de la distribución se respeta en las entregas siguientes.
Antiguamente el acto de cebar mate estaba rodeado de un complejo ritual
que incluía un verdadero lenguaje cargado de sentido.
El consumo de la yerba mate se generalizó durante la colonia y en la
zona de las misiones, los jesuitas tuvieron prácticamente el monopolio de su
producción. Ellos fueron los que inventaron los primeros procedimientos
para elaborar la hoja silvestre hasta convertirla en la yerba seca y molida que
se utiliza en las dos formas de infusión descriptas. Los indios elaboraban la
yerba de una manera rudimentaria y en pequeña escala para su consumo
local y cotidiano. Los jesuitas construyeron mecanismos para que la
elaboración fuera de una magnitud muy superior.
El uso de yerba mate tiene una difusión amplísima en Sudamérica.
Se consume en Argentina, Uruguay, Paraguay, Brasil, Bolivia, Perú y Chile.
En estos países existen muchas variantes en las formas de preparación. Por
ejemplo, en el altiplano argentino-boliviano se toma el mate cocido con
alcohol puro en el desayuno. Esta se llama “yerbada”. En Brasil se lo toma
helado en el verano y se lo ha industrializado en botellas. Actualmente en
estos países se produce el mate en saquitos” o “bolsitasal igual que un
té común.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Un tomador de mate mediante el procedimiento de la calabacita y
la bombilla puede consumir varios litros de infusión por día. En un clima
subtropical, donde la mayor parte del año se transpira copiosamente, esto
supone una extraordinaria hidratación. Por otra parte, su alto contenido
de cafeína y mateína la convierten en un estimulante. También posee una
importante proporción de vitamina C (ácido ascórbico).
Para poder ser consumida, la yerba mate natural debe pasar, como
dijimos, por una serie de pasos denominados corte, primer secado o
sapecado, secado, canchado o molienda gruesa y molido definitivo o fino.
Desde los comienzos de la elaboración de la yerba mate en la época colonial
los pasos industriales y las tecnologías sólo cambiaron, y esto bastante
poco, en cuestiones de grado. Todavía existen numerosas empresas de nivel
artesanal en la industrialización yerbatera.
Bien, lo que nos interesa señalar es que la demanda de yerba desde
su implantación hasta ahora siempre ha sido económicamente significativa
e importante. Por esa razón, los comerciantes que llegaron a Misiones
acompañando los ejércitos aliados, al descubrir las inmensas riquezas
inexplotadas no tardaron en radicarse allí y comenzar la empresa comercial
e industrial que inauguró el proceso que denominamos en este trabajo
frente extractivo”. Quiénes eran estos pioneros iniciales y cuáles fueron
sus actividades es lo que veremos a continuación.
Fundamentalmente, los protagonistas del frente fueron individuos
que acompañaron a los ejércitos, especialmente al de Brasil, que se asentó
en las cercanías de la actual Posadas. Muchos provenían de Uruguay;
otros de provincias argentinas. Había españoles, italianos y franceses. A la
manera de una “fiebre del oro-a la yerba se la llama oro verde”-, estos
empresarios abrieron caminos en la selva, levantaron puertos, crearon
formas de transporte, montaron las primeras industrias, los primeros silos
y contribuyeron al crecimiento del comercio de Posadas.
Simultáneamente, en este período aparecen los viajeros y científicos
cuyo interés consistió en explorar y conocer la provincia misteriosa.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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Algunos combinaban estos objetivos con intereses económicos como
Bertoni, Bosseti, Luchessi, etcétera. Otros sólo se interesaron por cumplir
sus tareas profesionales (creación de colonias o mensura de tierras) como
Queirel o Peyret y, por último, también llegaron a Misiones visitantes con
un exclusivo interés científico como Ambrosetti, Lista, etcétera.
Al igual que en otros territorios argentinos, la exploración científica
y la ocupación económica avanzaron al unísono, junto a la presencia de las
primeras instituciones estatales nacionales. Los jesuitas habían descubierto
un mecanismo para cultivar yerba mate con lo cual implantaron grandes
bosques de yerba junto a los pueblos. En la época que estamos reseñando,
aquellas plantaciones estaban en estado de ser explotadas, pero las que
tenían realmente valor eran las grandes manchaso manchones” de las
selvas profundas en manos de los indios tupíes quienes impedían el ingreso
de toda comitiva yerbatera. (10)
Las primeras explotaciones del frente extractivo fueron en territorio
paraguayo y especialmente las del lugar conocido como Tacurú-Pucú
(hormiguero-gigante), a la altura del puerto actualmente llamado
“Presidente Franco”, frente a la desembocadura del río Iguazú. De manera
que al referirnos al frente extractivo no podemos restringirnos a los límites
actuales de la provincia de Misiones. Tal como hemos expresado, nos interesa
la región como espacio-objeto de nuestra investigación. Y esto se debe a
que la actividad extractiva no conocía límites internacionales. Individuos
de varias nacionalidades y orígenes pasaban las fronteras nacionales en
cualquier sentido ya que prácticamente no existían, en ninguno de los tres
países, controles aduaneros o de otra naturaleza. De allí que en un primer
momento los esfuerzos de estos pioneros se centraran en las costas boreales
del Paraná.
Debemos tener en cuenta que la guerra significó para Paraguay
su destrucción completa. Su economía, que había llegado as ser gracias
al proteccionismo una de las más florecientes -había llegado a tener
fundiciones de acero y el primer ferrocarril de Sudamérica- quedó
destruida y atada al carrode los vencedores, especialmente de los sectores
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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ultraliberales de Buenos Aires. Es merced a esta relación asimétrica y a las
alianzas económicas entre los sectores liberales de ambos países como se
reestructuró la sociedad paraguaya de la posguerra adquiriendo un carácter
subordinado.
Los inmensos yerbales paraguayos habían sido tradicionalmente,
desde la época del dictador Francia, y más adelante con los López, un
monopolio del Estado. Después de la guerra, los yerbales quedan expeditos
para las comitivas privadas. Los yerbateros debían adecuarse a legislaciones de
los tres países según donde estuvieran los “manchones”, pero generalmente
no cumplían escrupulosamente con ninguna de ellas. Aquel era un mundo
aislado, sin controles, donde muy pronto comenzaron a regir unas leyes sui
generis a pesar de los esfuerzos de los respectivos gobiernos.
Hacia el espacio vacío o semivacío de Misiones comenzaron a fluir
paralelamente algunos colonos que llegaban desde Brasil a la zona de campo
y se iban estableciendo en las antiguas poblaciones jesuíticas en ruinas.
El gobierno de Corrientes decidió regular las actividades extractivas
mediante una legislación específica. Para ello sancionó en 1876 una ley que
reglamentaba las actividades en tierras fiscales. Esta ley llegaba tardíamente
ya que, a casi una década de recuperados los espacios misioneros, las
actividades eran ya muy intensas y se regían por leyes y reglamentos
totalmente inadecuados y arcaicos, aunque como acabamos de decir los
yerbateros y obrajeros fundaron un mundo casi autónomo.
La Ley citada contiene valiosos elementos para conocer el carácter
de las actividades que se intentaba regular y, al mismo tiempo, significó el
último gran esfuerzo correntino para integrar la economía misionera a sus
arcas. En sus aspectos fundamentales decide lo siguiente:
En el artículo primero se refiere a los yerbales que eran conocidos
entonces aunque se suponía también que otros serían descubiertos. Así
se mencionan los yerbales de Santa Ana, San Javier, Corpus y los del otro
lado del Campo Grande. No se mencionan los grandes yerbales del interior
como San Pedro que ya eran conocidos.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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Para repartir los yerbales a los explotadores o permisionarios se
establecía una división de todos los yerbales en cuatro secciones. Para
delimitar cada una de ellas se debería integrar una Comisión especial con
un comisario general, un fiscal de yerbales y dos vecinos prácticos entre los
yerbateros designados por el propio gobernador.
Las secciones deberían ser numeradas y comenzar por San Javier,
Santa Ana, etcétera. Esta distribución tendía a evitar la depredación de
las plantas ya que cada año se permitiría la explotación de una sección
mientras las demás descansarían tres años. Esta preocupación estaba ya
claramente expresada en el reglamento de Belgrano de 1811.
Para poder hacerse acreedor al usufructo de un manchón -así
llamado oficialmente- había que acreditar su descubrimiento dentro de
la sección y luego atenerse al reglamento. Este derecho de descubrimiento
duraba un año.
Los empresarios debían reunir una partida y luego inscribirla en un
registro de la Receptoría territorial de Santa Ana, para la zona del Paraná; y
en San Javier para la del Uruguay, consignando en un formulario especial
el nombre de cada integrante de la comitiva.
Para aludir a la actividad de explotación de yerba se utilizaba el
término “beneficiar”. Los cortes estaban permitidos entre el de marzo
y el 31 de julio. Fuera de estas fechas estaba prohibido y se sancionaban
con multas. Si los trabajos no se iniciaban en el tiempo establecido el
beneficiario tenía una prórroga de dos meses. Luego de ese plazo perdía
sus derechos.
Las dimensiones de las concesiones se establecían de la siguiente
manera: ninguna de ellas podía superar las sesenta cuadras cuadradas en
total y se calculaba la dimensión por número de empleados, a razón de seis
cuadras cuadradas por cada peón. Una cuadra cuadrada es aproximadamente
una superficie de 10.000 metros cuadrados. Además se establecía que la
ranchada -conjunto de habitaciones precarias- debía situarse en el centro
de la zona otorgada. El fiscal, a solicitud del capataz o patrón, debía en
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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término de dos días de la solicitud, determinar los límites del predio. Una
vez establecidos éstos, los capataces debían ordenar la limpieza del terreno
y el armado de los ranchos. Entre los diferentes grupos se producían
frecuentes conflictos cuando peones de una concesión cortaban yerba en
tierras de otra. En ese caso debían pagar una multa de 25 pesos y devolver
la yerba cortada.
También se aplicaba una multa de igual valor a quien cortaba
incorrectamente la planta destruyendo el gajo principal del árbol llamado
“banderola”. Esta multa se aplicaba por cada gajo cortado con la obligación
de entregar la yerba. También se aplicaban multas a quienes destruían, de
cualquier otra forma, un ejemplar de yerba. Aquí se aplicaba una norma
curiosa: al delator o denunciante había que pagarle, además, la mitad del
valor de la multa. Las sanciones para los reincidentes eran muy duras,
perdían el derecho a entrar en los yerbales por espacio de tres años y debían
entregar al denunciante todos los útiles que poseyeran para la elaboración
de la yerba; además, debían pagar la multa correspondiente.
Cuando se cortaba yerba en las épocas prohibidas y en las secciones
no habilitadas ese año, se decomisaba totalmente la yerba obtenida hasta
ese momento y todos los útiles empleados en la explotación. Luego la
gobernación debía vender al mejor postor todo lo decomisado y repartir lo
obtenido en partes iguales entre el delator y el aprehensor.
También se prevén multas para quienes corten yerba caona(nueva
o joven) y en estos casos era necesario que el fiscal y dos vecinos yerbateros
en presencia del interesado determinaron cuando una yerba era “caona”.
Si los patrones o capataces decidían vender yerba en los lugares de
explotación, debían hacerlo ante el fiscal. Los que vendieran yerba ajena
serían sancionados con fuertes multas a cinco pesos la arroba vendida o
“intentada vender”.
Como la actividad extractiva generó un número grande de actividades
conexas fue necesario también legislarlas. Así existe un artículo dedicado
a normatizar la introducción de comerciantes en las áreas de “beneficio
El frente extractivo de yerba mate y madera
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de yerba. Se prohibía, expresamente, el ingreso de “boliches ambulantes
(boliche significa en Argentina, comercio de poca importancia; comercio
en donde se vende de todo y, además, lugar donde se reúne la gente a beber).
Para poder ingresar con mercaderías, los vendedores debían demostrar que
las traían a pedido y obtener una autorización del comisario o uno de los
fiscales.
El artículo16 es muy interesante ya que se refiere a los intentos de
iniciar actividades agrícolas en las secciones de yerbales. A todo aquel que
hiciera rozados para plantar en la selva algunos cultivos, se le aplicaría una
multa de 100 pesos, es decir una cifra tres veces mayor que por destruir
árboles de yerba. La ley señala una clara negativa a mezclar la agricultura
con la explotación de los yerbales fiscales, y fija con toda claridad los nichos
ecológicos de ambas actividades. También se prohibía hacer habitaciones
permanentes, delito que se penaba igualmente con 100 pesos y la sustracción
de la casa.
Como el fisco cobraba proporcionalmente a la extracción, se
establecía en la ley que no podían quedar árboles sin beneficiar de los
asignados. Los fiscales debían estar presentes cuando las comitivas dejaban
un lugar, mudaban el campamento o realizaban cualquier movimiento.
Los capataces se responsabilizaban de los daños producidos por los peones
siempre que éstos no hubieran causado el daño ex profeso.
También los troperos, encargados de transportar la yerba desde el
monte, debían contar con una autorización correspondiente extendida por
la receptoría de la zona. En este caso también se llevaba un registro del
personal de la tropa, nombre del capataz y del tipo de trabajos que debían
realizar, así como si llevaban víveres u otro tipo de artículos. Se sancionaba a
los troperos que cargaban yerba de noques (silos) no declarados previamente
aunque se tratara de una equivocación.
Quienes quisieran conchabarse(11) como peones en los yerbales
debían formalizar sus contratos frente al receptor para que tuvieran validez.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Éstos eran registrados en un libro que se enviaba a la gobernación. Todo
trabajo acordado fuera de este procedimiento era declarado nulo.
Quedaba prohibida la contratación de un peón que no hubiera
cumplido con un contrato anterior. En caso de realizarse la contratación,
el nuevo contratante debía, además de pagar una multa, hacerse cargo de
los perjuicios ocasionados por el incumplimiento de ese contrato anterior.
Cuando el incumplidor era el patrón o permisionario, entonces los peones
podían presentar sus quejas a los fiscales quienes, si no podían solucionar
el pleito, debían presentarlo ante el juez de paz.
La Ley que acabamos de resumir en sus aspectos fundamentales
no proporciona, como dijimos antes, una importante información en
varios sentidos. Nos habla de una actividad que ya se estaba realizando
desde hacía mucho tiempo y que había acumulado técnicas, experiencia,
reglas y normas de funcionamiento basadas en la costumbre, adaptaciones
específicas, etcétera. Se intentaba legislar sobre una realidad que se venía
produciendo y las medidas adoptadas pretendían canalizar hacia las finanzas
correntinas un porcentaje de las ganancias de los yerbateros.
La Ley presenta algunas ingenuidades en cuanto a las posibilidades
reales de conseguir su ejecución y cumplimiento en un medio geográfico
plagado de enormes dificultades. Ciertos controles no sólo eran casi
imposibles de articular en 1876 sino que siguieron siéndolo hasta mediados
de este siglo.
La ley define los derechos y obligaciones de cada unos de los roles que
interviene en la producción. Anteriormente, los paraguayos habían dictado
un reglamento que regulaba la explotación de yerbales paraguayos y, como
estas tierras estaban en su poder también tuvo vigencia en Misiones. De
esta época proviene la costumbre de otorgar un área en explotación y luego
controlar el monto de lo extraído para cobrar un porcentaje. Más tarde,
se calculaba la cantidad de producto existente en un área y se cobraba
en función de esta dimensión sin necesidad de controlar lo efectivamente
extraído.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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Al incluir la división por secciones, la ley de 1876 procuraba detener
la destrucción de los yerbales y permitir que se recobraran después de cada
poda. Pero, como queda dicho, esta ley era de muy difícil aplicación y la
depredación continuó.
Algunos años más tarde decía Rafael Hernández:
Los yerbateros argentinos elaboran pésimamente y destruyen los
yerbales. Deben creerme porque digo la verdad y si no lo remedian
pronto, el mal será enorme.
Hay diversas razones para ello, una es que no existe vigilancia ofi-
cial, trabajan en ajenas propiedades y nada les importa su conser-
vación. Sólo aspiran a hacer mucho y a poco costo, pues en cuanto
a la calidad, como se une a la que viene del Paraguay, se mejora en
conjunto la mercancía y así cortan toda clase de árbol sin reparar
que esté o no en sazón y sin cuidar de hacerlo en la estación oportu-
na, ni elegir las partes tiernas, lo cual es causa de esos gruesos palos
que la distinguen. Ni siquiera tienen las precauciones propias para
su reproducción.
Cuando un yerbal se ha talado completamente se pasa a otro y esto
es también motivo para que no se hagan instalaciones permanen-
tes capaces de mejorar su fabricación. Así es como hay siempre en
campaña gente ocupada exclusivamente en descubrir nuevos yerba-
les y abrir las picadas mulateras.
Con esto se verá que los yerbales argentinos tienden a destruirse rá-
pidamente y que es preciso nombrar varios comisarios, porque son
tan difíciles las comunicaciones que uno solo, como ha existido, es
poco menos que inútil. (12)
Las predicciones de Hernández se cumplieron aunque muchas
décadas después y la yerba mate cultivada reemplazó totalmente a la
natural o silvestre. En Paraguay en cambio, los reglamentos se respetaban
y la industria yerbatera mostraba la disciplina a que había sido sometida
como parte del monopolio estatal y la existencia de una industria sólida. El
mismo Hernández nos dice:
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Los paraguayos tenían el sistema llamado de “barbacoa”, que quiere
decir “agujero en la barba”, que es el distintivo de los indios Khain-
guá, los cuales se agujerean el labio inferior, y abrochan una pieza
como un botón de puño para conservarlo. También usan una púa
salientes de algunos centímetros, como espuela de gallo, fabricada
de una resina semejante al ámbar. Es signo de distinción el largo
de esta púa, y los caciques la usan de cinco a seis centímetros. Ese
agujero les sirve para producir agudos silbidos.
En tiempo de los López había reglamentos que llegaban hasta a fijar
la cantidad de yerba que debía encerrarse en un cuero, señalando el
peso de cada tercio con lo cual se obligaba a oprimirla de manera
que entrase la mayor cantidad posible; y esto es garantía de su con-
servación y frescura por varias causas.
La superioridad que se nota en la yerba paraguaya sobre la nues-
tra, no proviene de otra cosa que de la elaboración, podemos decir
científica, que aquellos emplean debido a que el gobierno no ha
descuidado jamás el asunto. (13)
Luego Hernández compara el suelo y el clima de ambos países para
demostrar que siendo estos factores idénticos la explicación de la diferencia
a favor de la yerba paraguaya estaba en la forma de elaborarla. En cambio, la
yerba de Brasil era aún inferior a la argentina ya que allí donde se disponía
de inmensos yerbales naturales se arrancaban y volteaban los árboles y la
yerba venía mezclada con toda clase de impurezas y especias diferentes,
muchas veces tóxicas. Tengamos en cuenta que Hernández recorrió la
provincia cuando ésta ya había sido transformada en Territorio Nacional y
la colonización había comenzado. Regía aún la ley de la época de Corrientes
y la diferencia con las leyes paraguayas estaba más en el cumplimiento que
en el texto en sí.
Más allá de los intentos del gobierno correntino de organizar las
actividades extractivas en su provecho ratificando así sus aspiraciones a la
anexión de las misiones, en aquellas alejadas zonas se desarrollaba febrilmente
una intensa y progresiva ocupación del espacio con la penetración hacia
su interior todavía desconocido y cuya acción multiplicadora repercutiría
muy pronto en la génesis de servicios e infraestructuras complementarias.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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El frente extractivo creó una subcultura; un modelo de adaptación
ecológica; un sistema productivo de difícil definición y un ordenamiento
social basado en la explotación de los indios, nativos mestizos y criollos
y aún algunos extranjeros europeos. De ello trataremos en el apartado
siguiente.
El frente extractivo: una subcultura
El frente extractivo se caracterizó por sus formas de organizar la
producción sobre las base de relaciones de producción precapitalistas
aunque disfrazadas de capitalistas. El sistema en aparecía totalmente
dominado por el capitalismo más desarrollado de las grandes ciudades
sureñas -Buenos Aires o Rosario- que no tardaron mucho en adueñarse de
los resortes de la totalidad del ciclo productivo mediante el monopolio de
la industrialización definitiva del producto y su comercialización masiva.
Cuando decimos que las relaciones de producción no eran
totalmente capitalistas nos referimos a los mecanismos que existían para
no pagar un salario proporcional al trabajo invertido y muchas veces para
no pagar ninguna clase de salario. Este último caso, que llegó a ser muy
frecuente, consistía en endeudar de tal manera al peón que éste siempre
quedaba atrapado en la red del sistema sin ver jamás dinero, salvo el que
en el primer momento de contratación se le daba precisamente para que
contrajera las primeras deudas. Este punto lo veremos en detalle.
Es muy difícil encontrar, aún en tipologías de subculturas
latinoamericanas, como la de Wagley y Harris, un tipo taxonómico
semejante al de las comitivas yerbateras. Quizá pueda ser asimilado en
unos cuantos aspectos a los dos tipos de plantación estructuralmente
diferentes y cronológicamente sucesivas descriptas por aquellos autores: la
plantación Engenho y la plantación Usina (14). En las viejas plantaciones
el patrón vivía en la finca y tenía con los peones un trato directo y personal;
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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conocía las aptitudes de cada operario y generalmente incorporaba en la
vida doméstica de su vivienda a parientes -por lo general esposa o hijas de
los peones- para realizar trabajos caseros como la crianza y cuidado de los
niños, preparar la comida, etcétera. Los patrones ejercían un paternalismo
muchas veces bondadoso aunque férreo en materia de disciplina. Éste
era el modelo de las viejas plantaciones llamadas plantaciones ingenio (o
Engenho).
Más tarde, el trato se hizo completamente impersonal, siendo el poder
ejercido en nombre de patrones ausentistas por capataces o capangas”. Los
antiguos peones se proletarizaban totalmente perdiendo ciertas ventajas
que la antigua relación patrón-cliente les brindaba. La empresa impersonal
se corresponde al período de los contratistas que, en Misiones explotaban
la yerba en nombre de los patrones o sociedades ausentes.
Hay por lo tanto un primer momento en el que los contingentes
o comitivas de trabajadores ejercen sus funciones en un clima de cierta
protección, con la existencia de relaciones interpersonales más o menos
permanentes. En un segundo momento, luego de venderse las tierras a
particulares ausentistas de Buenos Aires, los trabajos son realizados por
empresas contratistas que ejercían su rol en forma totalmente impersonal.
Esta segunda época fue la de mayor explotación convertida en verdadero
esclavismo.
Estas empresas que surgen luego de la venta de las tierras y se
convierten en grandes emporios estaban montadas y podían actuar en los
tres países yerbateros ya que había algunas de ellas que poseían tierras y
capitales en más de una jurisdicción.
La explotación extractiva ha sido muy poco estudiada en el campo
de la antropología y de otras ciencias sociales salvo el caso de la minería que
alcanzó cierto desarrollo en los medios académicos de los países andinos
como Bolivia y Perú. Pero son muy pocos los estudios relacionados a
las actividades extractivas de productos vegetales. Sin embargo, entre la
El frente extractivo de yerba mate y madera
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minería y la explotación de la yerba existen grandes similitudes a tal punto
que las tradiciones utilizaron nombres de aquella actividad para designar
algunas especialidades yerbateras comenzando por el nombre mismo de
minero” con que se llama a los peones de los yerbales.
Una diferencia fundamental entre las explotaciones yerbateras y los
tipos mencionados de plantaciones es la inexistencia de un asentamiento
estable y fijo en torno a tierras privadas. Los primeros yerbateros fueron
permisionarios autorizados a trabajar en tierras fiscales y más tarde empresas
contratistas que sólo en algunos casos llegaron a ser ellas mismas propietarias
y que, generalmente, ejercían su labor como intermediarios. Como los
campamentos eran sólo temporarios no se podían producir asentamientos
que fijaran población a la tierra. Sólo se desarrollaron paralelamente a la
explotación yerbatera los puertos o aldeas que cumplían algunos servicios
generales y focalizaban la actividad mercantil. Estos lugares eran también
los puntos donde se efectuaban las contrataciones de los peones y donde
éstos gastaban hasta el último centavo. Así creció Posadas, como un espacio
funcionalmente ligado al frente extractivo y cuya especialización se extendió
luego a otras funciones relativas al ordenamiento territorial.
El auge de la actividad yerbatera llevó a algunos audaces a internarse
en las selvas con el fin de descubrir manchones de oro verde”. Estas
largas, peligrosas y sacrificadas travesías eran generalmente guiadas por
los descubierteros”, individuos que se habían especializado en buscar y
descubrir manchones de yerba mate y, además, calcular su magnitud y
valor económico. Solos o a veces acompañados por otro peón o vaqueano
se internaban días y hasta semanas enteras sobreviviendo gracias a sus
armas, su experiencia, la valiosa ayuda de los perros y su conocimiento de
las posibilidades del medio para alimentarse. Con el descubrimiento de un
manchónse iniciaba el ciclo que culminaría en la molienda final. Cada
paso de esta cadena fue engendrando especialistas cuya habilidad era muy
35
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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apreciada ya que, por ejemplo, toda una cosecha podía perderse por un
secado realizado inadecuadamente.
Otro tanto ocurrió en la economía forestal que respondía a principios
similares. Los descubierteros se internaban en el monte abriendo una
picada o pique” de unos 30 centímetros de ancho con ayuda de un
machete -cuchilla muy grande del tamaño de una pequeña espada, de unos
setenta centímetros- con el cual van cortando mediante golpes certeros las
ramas más gruesas o sólo aquellas que molestan el paso. Una vez que han
hallado el manchón realizan una serie de marcas en los árboles vecinos para
determinar la apropiación del mismo. Luego emprenden el regreso por el
camino más directo trazando un nuevo pique que servirá para llegar con
los peones. Además del machete, los peones utilizan una pequeña guadaña
de hoja en forma de media luna llamada “foisa”. Esta es de origen brasileño
y la utilizaban los lusitanos para hacer los rozados. Algunos descubierteros
utilizaban brújulas o bien un reloj para orientarse en la selva, aunque la
mayoría no necesitaba ningún aparato.
El segundo paso es levantar el campamento que durante un tiempo
servirá de asiento a los trabajadores y capataces. Los descubierteros,
generalmente ya elegían el lugar más apropiado para el futuro campamento,
y lo dejaban marcado con ramas u otra señal.
En este ambiente aislado y solitario, plagado de peligros reales y
agresiones del medio -temperatura, insectos, animales ponzoñosos, etcétera-
el peón debía luego durante semanas y semanas trabajar duramente para
poder cumplir con las cláusulas del contrato suscrito.
Existía un orden jerárquico entre los peones, establecido por la edad,
pericia y especialización en las tareas. Éstas no eran tan complejas como
para requerir un tiempo demasiado extenso para alcanzar la idoneidad
necesaria. En otras partes de este texto nos iremos refiriendo en detalle a
estos trabajos especializados.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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Condiciones de trabajo y relaciones
de producción en el frente extractivo
Al utilizar la palabra frente queremos referirnos a una frontera
socioeconómica que se fue instaurado al implantarse un sistema de
explotación que ocupaba el espacio y los recursos en forma progresiva
generando una serie de múltiples epifenómenos. Así, las actividades
extractivas de la yerba y la madera ocuparon ciertos nichos ecológicos
provinciales condicionados por su especialidad. Fue por eso que dejaron
libre la zona de campo y las tierras destinadas a colonización.
Uno de los aspectos más tratados en la literatura y el cine, que han
hecho famosa esta región, es sin duda el de la explotación de los “mensúes
(de mensú = mensual) o peones de los yerbales y los bosques. En varias
épocas a partir de finales del siglo pasado este tema despertó vivas polémicas
en las cámaras parlamentarias y en la prensa nacionales. Y aún hoy, ciertas
prácticas nacidas con la explotación del mensú pueden verificarse en los
tres países involucrados.
La mayoría de los peones rurales que integraron los equipos
yerbateros después de la guerra del Paraguay fueron indios, mestizos
y criollos de los tres países y de provincias argentinas como Corrientes
y Entre Ríos. También, aunque en menor medida, se dio el caso de la
presencia de extranjeros europeos llevados mediante engaños. Esta capa
social sustentó la economía regional con su trabajo y más adelante fue
la mano de obra barata con la cual los colonos extranjeros pudieron
evolucionar desde formas campesinas estrictamente familiares aun sistema
de trabajo asalariado más complejo que, a su vez, diseñó la estratificación
de la sociedad local.
La estructura de clases
De la capa de yerbateros, empresarios madereros y plantadores
surgieron los primeros representantes de una clase dirigente, industriosa y
37
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
capaz de ejercer ciertos roles de poder público, ya que en una sociedad en
formación la multiplicidad de roles de los actores es inevitable, pero no se
realiza su distribución en forma azarosa sino que reposa sobre la estructura
social y las jerarquías existentes.
Los grandes centros para conchabar” trabajadores eran Posadas y
Encarnación y luego en menor medida San Ignacio, Candelaria y Santa
Ana. Poseemos descripciones muy detalladas y valiosas sobre la vida en
los barrios obreros; los “boliches” y prostíbulos donde éstos gastaban
los adelantoscon los que quedaban atados al sistema de deudas nunca
saldadas, etcétera.
Posadas -decía Niklison en 1914- atrae al trabajador del Alto Para-
ná: lo atrae con imperio, irresistiblemente como lo atrae asimismo
la selva con su silencio, con sus misterios, con sus dolores. En el
trabajo, cualquiera sea su procedencia o punto de partida, piensa
en ella, no la olvida ni por un momento y si se desvive para saldar
su cuenta con el patrón es tan sólo para volver a Posadas, es para
gozarla a su manera, en tres, cuatro o cinco días -nunca más- de
absoluta libertad. Porque la verdad es ésta: el peón soporta la ley del
más duro de los trabajos, aniquila su salud en su ejercicio y sucum-
be, joven aún, a su peso por la única y exclusiva recompensa de esos
días de libertad obtenidos a largos intervalos. (15)
Este párrafo del “Informe Niklisonrefleja lo dicho por innumerables
autores de esa época en cuanto a la conducta de los peones o mensúes
frente al trabajo en la selva y el uso dado a sus ganancias. Conviene
recordar que además de esta ocupación no existía ninguna otra y, como las
tierras eran fiscales, es decir no accesibles por compra, suponiendo que los
peones tuvieran una capacidad de adquisición -que de hecho no tenían- y,
por otra parte estaban preparados solamente para los trabajos selváticos y
duros sin saber realizar otras tareas, las alternativas eran casi nulas. La única
posibilidad de tomar contacto con dinero era “conchabarse” en los equipos
yerbateros o como hacheros en los obrajes.
El frente extractivo de yerba mate y madera
38 |
En Posadas se concentraba la mano de obra potencial del Alto
Paraná:
El barrio obrero de Posadas se extiende al norte y al este de la ciu-
dad a través de un buen número de manzanas por cuyo centro se
desciende al puerto, desde la calle Buenos Aires, la línea quebrada
de la Bajada Vieja. Es una fatigosa e interminable sucesión de cons-
trucciones de madera, mezquinas y sucias, que sirven de asiento a
tabernas y burdeles, más ruines aún. Las puertas, cuando se recorre
el barrio, parecen multiplicarse y cada una de éstas deja ver el ne-
gocio aparente que en ellas se efectúa: la venta de bebidas alcohóli-
cas, aparente sí, porque en realidad es la prostitución clandestina la
fuente principal de sus ganancias. En ese barrio, que por extensión
se le designa con el nombre de Bajada Vieja, y sus prolongaciones
sobre el puerto, es donde reside el peón los días de su corta perma-
nencia en la ciudad y allí donde los busca el conchabador que lo
asegura para la inmediata contrata.
En los burdeles y en las calles se le ve ebrio, en el estado de incons-
ciencia.
Tan propicio a las explotaciones de que son víctimas. De los es-
tablecimientos de procedencia vienen si recursos y con el único
propósito de divertirse” unos pocos días en la ciudad. El anticipo
se impone entonces, y el conchabador, que conoce individualmen-
te a los peones, se lo ofrece no bien desembarcan, como medio de
garantizar las pingües utilidades que les proporciona el conchabo
en la forma irregular de su práctica en Misiones. (16)
Los peones quedaban obligados por este anticipo que se gastaban en
pocos días y luego no podían negarse a viajar hacia las zonas de explotación
y cuando lo intentaban eran llevados por la fuerza pública que, obviamente,
formaba parte de la organización.
Los boliches y burdeles de la Bajada Vieja, así como los almacenes y
casa de aprovisionamiento de los barcos y las comitivas yerbateras fueron
quedando en manos de un grupo de sirio-libaneses, comúnmente llamados
en Argentina turcos”. Los turcos se radicaron en varias provincias y
allí prosperaron como comerciantes adaptándose rápidamente a las
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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costumbres nacionales. Actualmente existen familias de este origen con
poder económico, político y social en Neuquén, Catamarca, Santiago
del Estero, La Rioja, Salta, Tucumán, etcétera. Muchos gobernadores de
provincia fueron y son actualmente de origen sirio-libanés (“turcos”) como
Menem en La Rioja, Saadi en Catamarca y Sapag en Neuquén, etcétera.
En Misiones, los turcos manejaron la red comercial ligada al mundo de los
yerbateros y los obrajes y al “conchabo” de peones.
En resumen, el sistema del adelanto consistía en lo siguiente: se
adelantaba al peón un salario para trabajar en la sección de la selva. El
peón gastaba el adelanto en los burdeles y bares durante tres o cuatro días.
Después debía embarcarse con la comitiva al puerto de destino, ya sin
dinero y teniendo como único proveedor, a partir de allí, al almacén de la
propia empresa en el cual todo valía dos o tres veces más que en cualquier
otra parte. De manera que en el próximo salario el peón no podía pagar el
adelanto ni sus deudas nuevas con lo cual quedaba atrapado en la disyuntiva
de trabajar bestialmente día y noche hasta pagar sus deudas y quedar libre,
o escapar. En este último caso la huida se pagaba muchas veces con la
muerte. Cadáveres que bajaban flotando por el río constituían una imagen
común hasta la década del treinta en el río Paraná. Estos aspectos trágicos
de la ocupación de Misiones no fueron anecdóticos o esporádicos sino las
formas de producción de la riqueza y la estructuración de la sociedad que
sobre estas bases organizó el primer perfil de desarrollo y, con esta situación
se encontraron los colonos europeos al arribar a su nueva tierra.
Las relaciones de producción
Decir que las relaciones de producción en el sistema productivo
implantado por el frente eran precapitalistas sólo nos informa sobre lo
que no eran. Necesitamos una definición más científica y precisa. Salvo la
ausencia de compra y venta de los hombres en subasta pública el término
El frente extractivo de yerba mate y madera
40 |
que mejor se adecua a lo ocurrido en los yerbales del Alto Paraná es:
esclavitud.
Los peones de los yerbales o mensúesno estaban ligados a la tierra,
ni formaban parte de un sistema estamentario contractual con obligaciones
mutuas. Su verdadera condición era la de proletarios rurales sin salario. Y
no solamente carecían de hecho de salarios, ya que éstos les eran sustraídos
según el mecanismo ya descrito, sino que una vez incorporados a las tareas
en los campamentos de la selva dependían totalmente de los patrones y
sus guardias armados, quienes imponían las verdaderas leyes vigentes en
yerbales y obrajes.
Muchas de las grandes empresas montadas en aquella época en
diferentes lugares del país se cimentaron en esta explotación sin límites. La
elite liberal y oligárquica de la generación del ’80 siempre mantuvo en sus
formulaciones los ideales positivistas saintsimonianos y progresistas, pero
en los hechos cerró toda posibilidad de ascenso del pueblo a las instituciones
democráticas y al progreso económico. Su consolidación como clase y
factor permanente de poder se vincula a los genocidios indígenas y de
criollos opositores de las provincias del interior. Como la inmigración
que soñaron de origen nórdico y anglosajón no se produjo masivamente
y, en cambio, arribaron cientos de miles de españoles e italianos pobres,
cambiaron sus ideales igualitarios por una dura represión y toda clase de
limitaciones y barreras a los inmigrantes y sus hijos. Si la inmigración se
asimiló en términos generales no fue por las políticas inmigratorias y su
aplicación sino a pesar de ellas.
El trato con los nativos criollos, mestizos e indios en las zonas
rurales, y sobre todo en los territorios, fue de explotación sin control ni
límites y esto dio lugar a batallas periodísticas, parlamentarias, sindicales y
de todo otro orden. En sus formas rigurosas esta situación perduró hasta la
posguerra de la segunda conflagración mundial.
Con respecto a los yerbales existían desde antiguo reglamentos que
contemplaban la situación laboral de los peones y, simultáneamente, leyes
laborales generales para su aplicación a nivel nacional. Pero la falta de
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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controles administrativos convertía estas normas en letra muerta, meras
utopías sin aplicación posible.
Pero, también las mismas leyes y reglamentos facilitaban los excesos
y abusos ya que, como en los artículos 26 al 28 del Reglamento de yerbales
de 1894, se daba a los contratantes y concesionarios una amplia autorización
para conferir a los peones el trato que creyeran conveniente. Por otra parte
todos los conflictos surgidos entre ambas partes debían resolverse por vía
judicial ante el juez de paz o el fiscal de los yerbales, que invariablemente
fallaban a favor de los contratantes.
Si se toma en cuenta la relación entre los salarios recibidos por los
peones y el costo de la vida teniendo como única proveeduría la de la
empresa, observamos que el sistema estaba organizado de tal manera que lo
invertido en salarios se recuperaba rápidamente mediante los exorbitantes
precios de la proveeduría.
Veamos cuánto ganaban los peones y cuánto costaban los artículos
de primera necesidad según los datos aportados por Barret en 1909. (17)
Tipo de tarea o especialidad Salario
Mineros (por arroba) 0,60
Barbacuá (por arroba) 0,20
Maquinistas (por mes) 45,00
Capataces (por mes) 120,00
Troperos (por mes) 70,00
Picadores (por mes) 55,00
Boyeros (por mes) 60,00
Chateros (por viaje de 1 a 3 meses) 90,00
Mensualeros varios 30,00
En el almacén de la empresa o del contratista, donde se vendían los
productos de peor calidad a valores multiplicados, los artículos costaban
lo siguiente:
El frente extractivo de yerba mate y madera
42 |
Cebo - 1 libra $ 1,50
Harina (4ª clase) – 1 libra $ 2,00
Maíz - 1 libra $ 2,00 Valor fuera del lugar
Bayeta (de la peor clase) $ 15,00 el metro $ 2,00
Pantalón de brin $ 20,00 $ 4,00
Camisa $ 15,00 $ 3,00
Sombrero $ 60,00 $ 12,00
Poncho $ 200,00 $
60,00
Caja de fósforos $ 1,00 $ 0,10
Si se toma en cuenta que un obrero muy eficaz podía, en el mejor de
los casos, acarrear trescientas arrobas en un mes... ¿cuántos años necesitaba
para pagar los 1.500 0 2.000 pesos con los que quedaba atado a la deuda
inicial? Suponiendo que pudiera ahorrar una suma de 20 o 30 pesos por
mes, lo que es altamente improbable, y que la deuda fuera de 1.500 pesos
necesitaría 50 meses, más de cuatro años.
Empresarios, acopiadores, autoridades, jueces, agentes de seguridad,
y en fin, todo el espectro social reposaba en la explotación del trabajo de los
mensúes y por lo tanto debían contribuir a mantener el sistema desde sus
respectivos roles. Si las leyes laborales eran de por atrasadas respecto al
resto del mundo civilizado, esto no era suficiente, era necesario ajustar, en
la aplicación de las normas, las conductas reales a las exigencias pragmáticas
del conjunto.
Las formas de contratación eran en mismas inadmisibles y, sin
embargo, el formulario que transcribiremos a continuación es uno de los
más comunes y frecuentes que se utilizaban en aquella época:
“En este pueblo de ................................ a los .................. días del
mes de ........................ de mil ochocientos ochenta y .....................
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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ante mi el infrascrito Juez de Paz y testigo que se expresarán,
comparecieron por una parte Don ....................................... mayor
de edad de estado .......................... y vecino de ............................
..........., y por la otra Don ..................................... también mayor
de edad, de estado y con el mismo domicilio, personas de mi
conocimiento y hábiles para este acto, de que certifico, y dijeron:
que han convenido en celebrar un contrato de conchabo, bajo las
bases y condiciones siguientes:
1ª- El peón ........................................ se compromete a pagar los
adelantos ya sea en dinero o mercaderías que recibiere de su patrón
en los trabajos generales de yerbales o en cualquier otro trabajo que
su patrón le ordene.
2ª- El peón ......................................... se compromete a no
abandonar el trabajo sin licencia de su patrón hasta cancelar su
cuenta, responsabilizándose al fiel cumplimiento con sus bienes
habidos y por haber.
3ª- El patrón se compromete a abonar al peón quince centavos
por cada una arroba de hoja de yerba mate overeada y cinco
centavos por cada una arroba de yerba mate overeada que tostare en
barbacuá, pagándole un sueldo convencional por trabajo mensual
y comprometiéndose a no hacerle faltar la manutención cotidiana,
que será, siendo minero o tostador, por cuenta del peón, y siendo
mensualero y jornalero, según convenio entre patrón y peón.
Y estando ambas partes conformes con las antecedentes cláusulas,
yo el infrascrito Juez de Paz procedí a mi leer este instrumento a los
otorgantes en presencia de los testigos Don ................................... y
Don ................................. mayores de edad, de este vecindario y de
mi conocimiento de que certifico. Terminada la lectura certificaron
los otorgantes su contenido y le suscribieron con los testigos por
ante mi que certifico...
El frente extractivo de yerba mate y madera
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En el apéndice documental podrán leerse algunos artículos
periodísticos que en su época obligaron al parlamento a tratar este tema
aunque esto no resultó suficiente y fue necesario esperar hasta la posguerra,
para que la revolución de 1943 comenzara a hacer cumplir las leyes laborales
por primera vez en forma efectiva, aunque también parcialmente.
La población preexistente
El tema de las relaciones de producción del frente extractivo y las
condiciones de trabajo nos lleva al análisis de la población preexistente
al momento de la iniciación de este período. Esta estimación es de gran
importancia para encarar el otro gran proceso simultáneo y paralelo
ocurrido en la región: la colonización.
Después de los vaivenes históricos de Misiones, caracterizados
precisamente por los movimientos involuntarios de sus habitantes y por
los verdaderos genocidios sufridos, se hace verdaderamente difícil calcular
la cantidad de población que tenía esta provincia al momento de iniciarse
la Guerra Grande, así llamada a la guerra de la Triple Alianza. En forma
concomitante es necesario también estudiar el tipo de población, sus
actividades y cultura ya que ciertos intereses han tratado de minimizar su
número en el pasado y contribuyeron a desfigurar el verdadero carácter de
sus rasgos socioculturales. Estas estimaciones se ven dificultadas por la falta
de una información precisa ya que, en general, las estimaciones se referían a
Corrientes -que involucraba o incluía a Misiones- de la que se sabía mucho
más y en la que era más factible intentar estimaciones censales.
Al estallar la guerra en 1865 fueron llevados a Paraguay -según Aníbal
Cambas- unos 17.000 habitantes de Misiones con el fin de incorporarlos
al ejército guaraní (18). En su retirada, los paraguayos aplicaron la política
de tierra arrasada” destruyendo todos los establecimientos existentes tanto
ganaderos como agrícolas o industriales en las zonas del río Uruguay y
Central y, por supuesto, en el Paraná. Pero ante el avance de los aliados
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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se recuperaron más de 120.000 cabezas de ganado entre Trincheras y
Candelaria.
Cuántos de esos 17.000 misioneros pudieron huir y regresar o
cuántos murieron en esa trágica hecatombe es imposible calcular. Los que
regresaron seguramente se incorporaron a la tarefa(tarea en portugués)
y allí debieron sucumbir ya que las expectativas de vida de entonces en
este medio no sobrepasarían los treinta años. Luego llegaron las tropas
brasileñas que se asentaron en los alrededores de Posadas en una colina que
todavía recibe el nombre, aunque ya la gente no recuerda por qué, del “24”,
número de aquel regimiento de infantería. Los brasileños construyeron
una capilla en homenaje a San José y por esta razón las antiguas Trincheras
de los paraguayos comenzaron a conocerse como Trincheras de San José.
La ocupación militar, las familias que llegaron en compañía de
los combatientes y la gran comitiva de comerciantes de todo tipo que
acompañaban con sus carromatos cargados de mercaderías al ejército
en operaciones, crearon un efecto de repoblamiento de la zona a la que
acudieron argentinos de varias provincias, brasileños, uruguayos, españoles,
franceses, italianos, alemanes, etcétera, y aventureros o colonizadores de
orígenes diversos.
Pero sigue en pie el interrogante sobre la población preexistente.
Cuál fue el remanente de población que había quedado en la Provincia
después de tantos sucesos y cuáles sus rasgos. En general, encontramos
en las relaciones de viajeros o informes oficiales una serie de calificativos
y descripciones que nos permiten distinguir dos tipos de pobladores: a)
agricultores con técnicas muy primitivas de subsistencia y; b) bandidos
o cuatreros dedicados al pillaje, y refugiados de los tres países implicados
en la región. Los agricultores estaban asentados en los antiguos poblados
jesuíticos en ruinas y es prácticamente imposible calcular su número en toda
la provincia. También debieron existir peones al servicio de los paraguayos
mientras éstos ocuparon la provincia trabajando en los yerbales. En las
El frente extractivo de yerba mate y madera
46 |
selvas profundas y llegando hasta las mismas costas del Paraná al norte de
Corpus había numerosas parcialidades indígenas del grupo Tupí, que se
habían constituido en una barrera muy sólida a toda penetración blanca.
Casi todos los autores repiten las viejas descripciones referidas al segundo
grupo, el de “bandidosy refugiadoso criminales”. Ya vimos cómo el
Gobierno correntino definía a los indios para descalificarlos ante cualquier
reclamo de éstos por sus derechos a autogobernarse.
Más adelante, las descripciones provienen de funcionarios o
viajeros cuya ideología, acuñada en el puerto de Buenos Aires, reflejaba los
arquetipos prejuiciosos extensivos a todos los nativos en general. Era una
visión peyorativa, racista y descalificadora que abarcaba a los nativos como
tales y también como habitantes rurales. La persecución de indios, mestizos
y “paisanos”, gauchos” y peonesfue una constante de las elites liberales
bonaerenses cuando no podían darle alguna utilidad”. El avance de la
burguesía modernizadora dejó fuera de la ley a todo aquel que representara
las antiguas formas de vida.
El caso más notorio, inmortalizado en el poema épico Martín Fierro,
muestra la desaparición compulsiva de una cultura, la del gaucho de las
llanuras, acosada por el progreso incontenible. Los gauchos de las llanuras
del Río de la Plata y sur de Brasil, eran trabajadores libres especialistas
en las tareas con ganado vacuno y caballar. Iban y venían libremente y se
conchababan cuando lo necesitaban. Levantaban un rancho en cualquier
parte y su vida afectiva y familiar era efímera y promiscua. Cuando tenían
hambre mataban vacas cimarrones y su ajuar era fundamentalmente de
cuero.
Cuando la burguesía pastoril bonaerense comenzó a alambrar los
campos para poder mejorar el ganado por cruzas según las exigencias
inglesas, el gaucho fue obligado a trabajar en forma permanente y estable
en las nuevas estancias. Los que no se adaptaron al cambio convirtiéndose
en peones rurales fueron obligados a incorporarse a los ejércitos que en las
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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fronteras sureñas combatían a los indios. Esta forma cultural, que tuvo sus
orígenes en las vaquerías y en las estancias de las reducciones jesuíticas, era
también propia de Corrientes y zona de campo de Misiones, aunque con
sus propias características.
“Gaucho” y “bandido” fueron sinónimos. En la legislación de
Corrientes encontramos un decreto del 16 de noviembre de 1854
destinado a promover en cuanto sea posible la moralidad y la contracción
al trabajo de las clases menesterosas”. En ese mismo decreto se habla luego
no de clase de menesterosos sino lisa y llanamente de todo individuo de
campaña”. (19)
El seno de la sociedad de donde salían en la campaña los vagos y
mal entretenidosse llamaba en realidad estancia. Ella excluía de su
superficie a toda población que no estuviese afectada al cuidado del
ganado o al cultivo agrícola, y sus propietarios recelaban del que
transitaba por ella porque alcanzando a veces dimensiones enor-
mes, no se la atravesaba de un galope y para alimentarse el hombre
que la cruzaba podía preferir carne de vacuno y no de bichos sil-
vestres... (20)
Todas las provincias argentinas tuvieron leyes u otro tipo de normas
legales para combatir a los “vagos y mal entretenidos”, cuyos antecedentes
se remontan a la colonia. El propio gobernador de Misiones, Juan José
Lanusse, al referirse en un informe al gobierno central a los bandidos
misioneros los denomina opositores”, término muy sugestivo si se tiene
en cuenta el contexto. Lanusse señala su temor de que estos grupos sean
manejados por los opositores.
Tacurú-Pucú: organización y especialidades
Como dijimos, los primeros pioneros yerbateros se interesaron
por los grandes yerbales de Tacurú-Pucú, que hasta la guerra habían
El frente extractivo de yerba mate y madera
48 |
permanecido en manos del Gobierno de Paraguay que tenía su ubicación
vedada a los particulares. Esto obedecía a dos razones: la inmensa riqueza
de aquellas “manchas” paraguayas, en primer lugar y, en segundo término,
la imposibilidad de penetrar en los yerbales del lado argentino por la
presencia hostil de tribus tupíes comandadas por los caciques Fracrán y
Bonifacio Maydana.
Para llegar a los yerbales de Tacurú-Pucú se había practicado una
picada oculta que recorría en forma paralela a la costa, y a una legua de ella,
un extenso itinerario protegido y vigilado por personal armado. Pero con
el término de la guerra los yerbateros se internan en Tacurú-Pucú desde
la costa a partir de un puerto situado a la altura de la desembocadura
del Río Iguazú en aguas del río Paraná. Estos tenaces hombres fueron
los Goicoechea, Aramburu, Bossetti, Luchessi y Paggi. Eran inmigrantes
europeos e hijos de inmigrantes. Los hermanos Goicoechea y Aramburu
provenían de la colonización vasca del Uruguay. El resto eran nacidos en
Italia. Pero el iniciador de todo fue Francisco Meabe, quien penetró por
primera vez desde el Paraná con 34 peones y 40 toros trazando la primera
picada. Poco después el gobierno paraguayo entregó la totalidad de la
explotación de los yerbales a un solo concesionario, el general Escobar, que
representaba a la firma Antonio Uribe y Cía., radicada en Buenos Aires.
Luego la administración se fue transmitiendo entre varias personas una de
las cuales fue el empresario español Nuñez de quien nos ocuparemos más
adelante por ser cabeza de uno de los seis o siete emporios económicos
más poderosos generados a partir del frente extractivo. Y, por último, el
gobierno del general Bernardino Caballero decretó la venta de los yerbales
a firmas privadas y es allí donde aparece en escena la Industrial Paraguaya,
un importante “holding” integrado en su gran mayoría por capitales
argentinos.
Más de dos décadas después de los comienzos de la explotación
en Tacurú-Pucú no se había desarrollado ninguna actividad sedentaria
49
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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importante y, por el contrario, la precariedad de la vida continuaba como
en los comienzos. La mayoría de los peones de Tacurú-Pucú provenían de
Encarnación o Posadas, ciudades situadas una frente a la otra. No existía
ningún tipo de infraestructura ni servicios. No había médicos, ni sacerdotes,
ni maestros. Todas las relaciones personales incluyendo las de parejas de
matrimonios -generalmente concubinatos- eran extremadamente débiles y
provisorias. La única medicina practicada era la medicina popular ejercida
por curanderas o pais(padres o sacerdotes) médicos o brujos indígenas
o mestizos. Las mujeres, criando hijos de varios padres diferentes estaban
generalmente solas y vivían en muy malas condiciones. Pero lo que no
faltaba era la “bailantao lugar de baile y bebida. Allí se reunían para bailar
y emborracharse hombres y mujeres, viejos y niños, todos mezclados en
una gran confusión” al son de guitarras y acordeones (21). Estas bailantas
generalmente terminaban violentamente y la policía ponía en el cepo a los
más revoltosos. El cepo, llamado viracuá”, era una estructura que permitía
encadenar a 13 personas y, generalmente se completaba.
Los yerbales de Tacurú-Pucú eran muchos y bastante alejados entre
sí. Se calcula que los treinta principales producían unas 50.000 arrobas
de yerba por año. Mezcladas entre los yerbales había aldeas de indios
guayanáes, descendientes de antiguos reducidos en los pueblos jesuíticos.
Eran cultivadores sedentarios de maíz, mandioca, calabaza, tabaco y azúcar.
Tenían casas bien instaladas y profesaban la religión cristiana cumpliendo
con los ritos y ceremonias dentro de lo posible. Cerca de allí rondaban, a
principios de siglo, los gauyakíes que, antes de ser exterminados, poseían
bandas numerosas y que como grupo nunca se avinieron a ninguna forma
de asimilación. También llegaron importantes grupos de ava-chiripá,
guaraníes de las zonas más occidentales.
Entre blancos e indígenas -cuenta Ambrosetti- se daba un grado
importante de mestizaje. El grupo guayaná era el más proclive a ese
mestizaje (22). Cerca de Tacurú-Pucú vivía un argentino de Buenos Aires,
El frente extractivo de yerba mate y madera
50 |
Pedro Indart, que según Ambrosetti llevaba allí más de treinta años. Era una
especie de señor feudal, rodeado de una cohorte de indios chiripáes. Había
rodeado su casa -rompiendo con las costumbres locales- de importantes
cultivos de maíz, mandioca, arroz, tabaco, cebada, y muchas variedades de
hortalizas. Muchos de estos personajes casi legendarios habitaban la selva
sin que se supiera de su existencia y muchas veces eran descubiertos por
casualidad.
Volviendo al conjunto de Tacurú-Pucú, señalemos que su puerto,
a pesar de la importancia de las actividades económicas que allí se
desarrollaban, era muy precario. Estaba situado al pie de una barranca de
80 metros y era necesario llevar las mercaderías hasta la parte alta y bajar
desde allí la yerba. Para lograr este objetivo se construyeron unos planos
inclinados por los que subían dos trineos de incesante movimiento.
Los yerbales estaban divididos en tres secciones para que cada una
descansara dos años. Al hacerse cargo de una sección, un “habilitado” (que
trabaja por cuenta de otro) debía encargarse de construir varias instalaciones
como el perchel, el barbacuá y la máquina de moler yerba.
El perchel era un rancho con techo a dos aguas y que a pesar de ser
provisorio debía tener cierta solidez para resistir las frecuentes tormentas
tropicales. La techumbre se hacía de palmero o paja. Dentro de estos
ranchos había un lugar destinado a guardar la yerba canchada. Ese lugar
era el perchel propiamente dicho. Junto a él se colocaba una máquina
denominada mborobiré”, utilizada para moler la yerba. El perchel era una
estructura de madera separada del piso para evitar la humedad. A su vez se
colocan debajo unas capas de arpillera o un colchón de paja. La máquina
era muy sencilla. Consistía en dos horcones verticales clavados en el suelo
unidos por una gruesa vara horizontal. Esta última poseía un agujero en el
centro, por el que pasaba una vara vertical, unida a su vez a otra horizontal
que era la que se ataba a los animales que imprimían su fuerza al sistema.
El eje vertical poseía una base que roturaba la yerba al girar. Como estos
ranchos suelen ser de grandes dimensiones vivían allí los habilitados y
almacenaban las provisiones.
51
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Para instalar el barbacuá se construía un rancho todavía más alto
con los extremos abiertos. Dentro de este recinto se levantaba un armazón
de madera que era como una gran parrilla arqueada de 2,5 a 3 metros.
Sobre esta parrilla se colocaba un entramado un poco más fino atadas
con lianas o isipó. Debajo de la parrilla se colocaba la leña con la cual se
encendía el fuego para secar las hojas. El peón encargado de tostar la yerba
es un experto sobre el que recae la máxima responsabilidad ya que de su
habilidad depende el paso más difícil y crítico de la elaboración. La yerba
no debe quedar ni húmeda ni quemada; cualquiera de estas posibilidades
disminuye la calidad del producto final. Este experto en el secado se llama
el urúy trabaja sobre la parrilla distribuyendo las hojas con una especie
de larga pala de madera para lograr un tostado parejo. (23)
Estos sistemas, que no dejaban de ser muy precarios, producían
muchas veces incendios que destruían varias arrobas de yerba, que
debían ser pagadas por los peones responsables, lo que transmitía mucha
ansiedad y tensión al trabajo. Un urú que tuviera la desgracia de perder un
volumen significativo del producto, debía trabajar, para reponer lo perdido
en términos de su valor, un tiempo enorme. Para evitar la inseguridad
del sistema descrito se inventó un barbacuá más complejo en el que el
calor llegaba hasta las hojas en forma indirecta como vapor y humo que
circulaba por una tobera de madera. Algunas variantes poseen la tobera
enterrada y por la superficie, a través de varios agujeros u hornallas el humo
se proyectaba hacia el exterior. Cada barbacuá cargaba unas 150 arrobas
que una vez tostadas reducían su peso a la mitad.
El trabajo de los peones en los yerbales, denominado “trabajo
de mina”, se efectuaba por grupos que eran dirigidos por un capataz o
capanga”. Éste distribuía la tarea según un criterio espacial, estableciendo
pequeñas secciones que se separaban entre por medio de picadas, casi
imperceptibles. La yerba cortada era llevada por estas picadas menores
hasta una picada mayor, llamada picada haciendadonde los mineros iban
entregando el producto bajo el control del capataz.
El frente extractivo de yerba mate y madera
52 |
La tarea empezaba muy temprano, a la salida del sol, con la marcha
de los grupos hacia sus secciones. Luego se dispersaba y allí, en la soledad
de la selva, cada peón pasaba horas desgajando los árboles con su machete.
Luego de reunir unas cuantas ramas, los peones encendían un fuego en la
picada y las pasaban sobre él para darles un primer y muy rápido secado que
recibía el nombre de overeado”. Esta acción de overear” la yerba recién
cortada se efectuaba en previsión de cualquier inconveniente que pudiera
retrasar su llegada al barbacuá. Estos imprevistos tenían mucho que ver
con las condiciones climáticas y los inconvenientes propios de los caminos
y el transporte. Luego de este primer paso el minero colocaba la yerba
obtenida, después de separar los gajos gruesos de los finos y ambos de las
hojas, en un grueso tejido o en cueros similares a una bolsa. Este paquete,
llamado “rairo”, se llevaba sobre los hombros por la picada menor hasta la
picada hacienda. Algunos mineros cargaban hasta 16 arrobas aunque lo
normal era mucho menos, unas ocho arrobas. Allí en la picada mayor las
carretas tiradas por bueyes transportaban la carga hasta el campamento.
Los bueyes, con sus astas perforadas de las que pendían unos cencerros,
arrastraban por el barro la pesada carga, aguijoneados por largas picanas
adornadas con plumas de vivos colores y al son de una corneta de cuero,
el “turú”.
Las carretas llevaban la yerba hasta los barbacuás y los lugares de
almacenamiento. La yerba sin secar dura aproximadamente, en condiciones
climáticas buenas, tres días. Los peones del campamento vivían en unas
ramadas o chozas muy pobres y muy precarias, generalmente hacinados y
prácticamente a la intemperie. Teóricamente, en los contratos de conchabo,
la alimentación de los peones debería estar compuesta por maíz, grasa,
porotos, charqui (carne curada con sal al sol) y sal. Pero la mayor parte del
tiempo estos alimentos escaseaban y los peones debían contentarse con una
monótona dieta a base de maíz. Los que tenían habilidad podían “melar”,
es decir comer miel silvestre.
53
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Al ver este grupo de peones de Tacurú-Pucú, el sabio Ambrosetti,
reflexionaba de la siguiente forma en 1892:
Estos hombres, cuya mayor parte no son de lo mejor en el sentido
moral, en los yerbales se transforman. Allí todos son sumamen-
te mansos. El pendenciero, el heridor, e asesino mismo, viven allí
trabajando terriblemente, bajo un sol ardiente, entre nubes de in-
sectos molestos, mal comidos, sin proferir una queja y sin que una
mala idea de rebelión, de robo, etc., le cruce por la imaginación.
Es curioso que en los yerbales -refugium pecatorum de cuanto ban-
dido se escapa de Brasil, la Argentina o Paraguay- no se cometen
hechos de sangre, tan fáciles en una región tan aislada, mal vigilada
y en donde la naturaleza es por demás apta para ayudar a cometer
fechorías. (24)
Ambrosetti no podía prever entonces que ese lugar se convertiría
en pocos años más en un foco de violencia y conflictos sin igual en la
historia de la región. Entre todos los campamentos y aldeas provisionales,
se destacaba como el más importante el denominado estrictamente Tacurú-
Pucú, una hilera de ranchos al borde de la selva con algunos cultivos y
animales domésticos, donde la única construcción importante era un
inmenso galpón de la Industrial Paraguaya (25). Allí, en un extremo, había
un enorme hormiguero de más de 4 metros que había dado su nombre al
lugar: tacurú = hormiguero; pucú = gigante.
Desde el punto de vista de la importancia económica Tacurú-Pucú
ocupaba un lugar primordial en las exportaciones paraguayas destinadas
a cubrir una gran parte de las demandas del mercado interno argentino,
además de satisfacer los requerimientos del propio mercado interno. Pero
como ya dijimos, la competencia por los mercados fue entre empresas más
que entre países ya que éstas abarcaban zonas de acción e influencia que
sobrepasaban los límites políticos nacionales.
En la época colonial la yerba de consumo regional provenía de tres
puntos: Paraguay, Brasil y Argentina. Luego de la expulsión de los jesuitas,
la parte argentina de las misiones dejó de producir y fue Paraguay quien
El frente extractivo de yerba mate y madera
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monopolizó el mercado hasta 1813. Esto se debió a que los engranajes
productivos creados por los jesuitas no fueron desmantelados hasta
mediados del siglo XIX. Por otra parte la yerba brasileña tenía grandes
dificultades para competir debido a la escasa calidad de su proceso de
elaboración industrial. De no haber sido por las políticas aislacionistas del
dictador Rodríguez de Francia, los brasileños no hubieran avanzado en la
dominación del mercado. Brasil tenía inmensos yerbales naturales en el
estado de Paraná -limítrofe con la provincia de Misiones- y le resultaba fácil
alcanzar una gran producción sin reparar excesivamente en la destrucción
que les ocasionaba. Al recuperar importancia su posición en el mercado,
los brasileños comenzaron a mejorar la industrialización del producto
adoptando los métodos y técnicas paraguayos.
Entre estos empresarios que en Brasil trataban de ganar el mercado
argentino y perfeccionar las fases de industrialización había muchos
argentinos corroborando lo dicho sobre la permeabilidad de las fronteras.
Unos argentinos que habían aprendido las técnicas paraguayas instalaron
en Paranaguá, Brasil, la primera fábrica de yerba mate. (26)
Al finalizar la Guerra Grande, la competencia entre Brasil y Paraguay
se hizo más intensa; Argentina, por su parte, sólo tenía yerbales naturales en
Misiones y su tamaño relativo era inferior al de los otros dos países. Había
yerbales muy importantes en el interior de las selvas pero éstas estaban en
manos de los tupíes.
Uno de los “botinesque la guerra brindó a Brasil fueron los yerbales
del Matto Grosso paraguayo incorporado al territorio lusitano. Allí se
instaló la empresa Mate Larangeira cuyos molinos estaban en Buenos Aires.
En la década que va desde 1860 a 1870, aproximadamente, Brasil triplicó
sus exportaciones atrayendo a mucha gente a las zonas de explotación de
la yerba mate. La empresa Mate Larangeira creció desmesuradamente
reclutando mano de obra en inmenso radio que llegaba hasta Posadas y
Encarnación.
55
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
En Paraguay otra industria de grandes dimensiones fue la Industrial
Paraguaya que llegó, como vimos, a poseer los valiosísimos yerbales de
Tacurú-Pucú.
La inmigración masiva llegada a la Argentina, localizada sobre todo
en la zona sur produjo un incremento de la demanda de yerba ya que su
uso fue adoptado muy rápidamente por los extranjeros.
Pero, a partir de 1870 algunos yerbateros comienzan a poner sus
miras en Misiones y despliegan algunas estrategias para poder penetrar en
los yerbales inaccesibles hasta entonces. Fueron los Goicoechea, Meabe,
Bosetti, Luchessi, etcétera. Eran los antiguos explotadores de los yerbales
de Tacurú-Pucú, y tenían montados sus mecanismos de explotación en
la región de modo que al perder la posibilidad de continuar en Paraguay
iniciaron la conquista de los yerbales misioneros.
Bolsi -quien ha establecido una periodización detallada de la
economía yerbatera de un siglo- propone la finalización de esta etapa, que
comienza en 1870, en 1900, época en que la economía de la yerba sufrió
un vuelco importante con el comienzo de los cultivos.
El pacto de la selva
Con este nombre ha pasado ya a la breve historia de la ocupación
misionera el tratado de paz suscrito entre los indios tupíes -una fracción
de ellos- y algunos yerbateros. Es sin duda, uno de los momentos de
mayor interés en esa ocupación. Hasta el año 1874 dominaban las costas
del Paraná y el interior hasta San Pedro los indios mencionados, y por
esa razón ningún yerbatero se animaba a penetrar en el territorio. El
origen y clasificación etnológica de estas tribus es muy problemático. No
sabemos cuándo ingresaron a Misiones, de qué lugar provenían -aunque
con seguridad de Brasil- y cuáles habían sido hasta esa fecha sus contactos
culturales. El empresario Juan Goicoechea equipó una expedición guiada
por uno de los más famosos descubierteros de su tiempo: Fructuoso
El frente extractivo de yerba mate y madera
56 |
Moraes Dutra, explorador y vaqueano de origen brasileño. Este contingente
descubrió unos yerbales de tales dimensiones que los primeros cálculos
le auguraron una producción anual de 300.000 arrobas. El comisario de
yerbales era un ex-socio de Goicoechea, don Felipe Tamareu, quien dio
parte al gobierno de estas riquezas y solicitó apoyo para explotarlas. Pero en
ese informe también se detallaba la presencia de una tribu indígena hostil
en las proximidades del “manchón”.
Los indios de Misiones estaban divididos en dos grupos liderados
por los caciques Maidana y Fracrán. El primero de ellos era un blanco
criado entre los indios desde su adolescencia. Había nacido en Santo Tomé,
antigua reducción jesuítica en la provincia de Corrientes. Era hijo de un
maestro de postas.
El bloqueo anglo-francés al Río de la Plata como represalia a la
política proteccionista de Rosas provocó múltiples inconvenientes para
trasladar por el río Paraná la yerba que venía desde el norte en barcos.
Por esa razón se organizaron algunas partidas para traer yerba desde el
Alto Uruguay misionero. Una de esas partidas, comandada por el capitán
Jacinto Galeano, llevó en sus filas a Maydana que era casi un niño. El
grupo fue totalmente aniquilado por los indios y la familia de Maydana lo
dio por muerto pero, en realidad no sólo salvó su vida sino que años más
tarde era el cacique de la mitad de los indios misioneros selváticos.
El otro cacique, Fracrán, cuyo nombre se inmortalizó en una localidad
misionera, no quería tener ningún trato con los blancos y sólo quería
malonear” (27). Lo seguían la mayor parte de los indígenas. Maydana, en
cambio, lideraba a un sector más pacífico que tenían cultivos estables y se
conformaba con no ser invadido ni agredido. Afortunadamente para los
yerbateros la tribu cercana a los “manchones” era esta última.
A pesar de las noticias contenidas en el informe de Tamareu y sus
propuestas de intentar pacificar a los indios, el gobierno de Corrientes
desestimó sus sugerencias por lo cual Goicoechea volvió a convocar a Moraes
Dutra para intentar convencer a los indios y lograr su permiso para llegar a
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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los yerbales. Es probable que las órdenes incluyeran también la posibilidad
de combatirlos por la fuerza ya que la comitiva fue fuertemente armada y
de alguna manera estaba provocando una situación límite irrumpiendo en
los “toldos”. (28)
Los indios eran aproximadamente unos 150 de los cuales un tercio
eran indios de pelea o guerreros. Dutra llegó con seis hombres que se
emboscaron quedando con la orden de intervenir si éste fracasaba en las
conversaciones. Los indios habían detectado la presencia de los blancos y
se habían retirado hacia la espesura. Luego de un momento de gran tensión
Maidana accedió a conversar con Dutra.
Los indios se dejaron convencer y tiraron sus arcos y sus flechas
-dice Fernández Ramos-. Dutra empezó entonces a aconsejarles
que debían abandonar su vida errante y selvática, llena de penurias,
para dedicarse a un trabajo útil; que se les suministrarían herra-
mientas, víveres, etcétera, que era necesario permitir a los cristianos
que abrieran picadas para llegar a los yerbales, lo cual redundaría en
beneficio de los mismos...
Desde aquella fecha -1875- quedó libre la zona del Alto Paraná,
desde Corpus hasta Iguazú. Recién entonces los yerbateros pudie-
ron establecerse en la costa argentina, libres de temores que tenían
de ser agredidos por los indios... (29)
Los indios fueron llevados a Posadas donde se los recibió con gran
alegría ya que como buena ciudad feniciaintuía lo que aquello significaba
para su comercio. Maydana fue agasajado y más tarde regresó a su ciudad
natal donde todavía vivía gente que lo había conocido.
Los grupos de Fracrán siguieron con sus correrías entre Misiones
y el estado brasileño de Paraná, donde según Tamareu, éstos tenían su
origen.
Pero lo cierto es que el episodio descrito abre el rumbo a la
penetración que hemos comentado. Los gobernantes correntinos trataban
de capitalizar lo que no había contribuido a lograr mientras los indios
El frente extractivo de yerba mate y madera
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se proletarizaban paulatinamente desapareciendo pocos años después
tragados por la selva.
Recordemos que el pacto de la selvapermitió la penetración de
los yerbateros y sus comitivas en el interior de Misiones. Esta penetración
se efectúa desde el río Paraná hacia el centro y el este. Por otra parte, en
sentido contrario los brasileños avanzan de este a oeste y llegan hasta los
yerbales de San Pedro y los bosques limítrofes. También hay una corriente
de penetración que va desde el sur y sudoeste hacia el norte y el centro.
El Comisario de yerbales y famoso explorador de Misiones informó
a Alejo Peyret, quien recorrió la provincia al servicio de Corrientes, que
existían los siguientes yerbales a fines de la década del ’80:
a)Yerbales del río Paraná o cerca de sus costas. En las localidades
de Santa Ana y San Ignacio y desde allí hacia la zona central hasta
Campo Grande (muy importantes) y Campo Nuevo;
b)El denominado Yerbal Nuevo, situado entre ambos grandes ríos.
c)Yerbales de Parana-í, Garuhapé, Piraí, en las costas más al norte y
unas tres a cinco leguas hacia el interior.
d)Un yerbal inmenso, que motivó entre otras cosas el “pacto”,
que se hallaba al final de una picada que salía de Piray, y en forma
perpendicular al río se dirigía al este. Estos eran los yerbales de San
Pedro.
e)Yerbales cercanos al arroyo Aguaray-guazú, al norte de Piray y a
varias leguas de las costas del Paraná.
f)Yerbales cercanos al Urugua-í (que no debe confundirse con el
Uruguay).
g)Yerbales cercanos al río Iguazú que llegan hasta los saltos.
Por otra parte, también existían yerbales en la zona del río Uruguay
que se alcanzaban desde sus puertos o pueblos mediante picadas locales. Y
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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había también otras picadas que llegaban hasta yerbales ya mencionados a
los que también se llegaba saliendo desde el Paraná. Estos eran:
a)Picada mulatera hasta Campo Grande.
b)Yerbales de Paggi al norte y nordeste. Éstos ya por entonces
estaban destruidos.
c)Planes para llegar a los yerbales de San Pedro, también conocidos
en esta zona.
El problema grave que enfrentaba el río Uruguay, aún más grave
que los saltos de Apipé para Posadas, era su escasa navegabilidad. Esto
imponía una exigencia mayor: la construcción de instalaciones adecuadas
de almacenamiento.
Explotación maderera y trabajo
La explotación de la madera fue desde antes de la federalización
el otro rubro que generó las actividades extractivas y en torno al cual se
desarrollaron el transporte, las comunicaciones, el comercio y la industria
aunque, al igual que la yerba mate, esta actividad no asienta población.
También esta actividad económica reposó en la clase de los mensúes o
peones rurales indígenas y mestizos.
Si la yerba significó un desafío a la imaginación contaba con
antecedentes muy importantes en cuanto a su tratamiento, industrialización,
conservación y transporte. Con la madera esta tradición no era quizá tan
evidente y debieron crearse sobre la marcha muchas técnicas y métodos
de trabajo. Los obrajes estaban generalmente cerca de los ríos ya que se
utilizaban los cursos de agua para transportar los rollizos de madera en
forma de “jangadas”.
Los propietarios de los obrajes, concesionarios o permisionarios,
alquilaban un predio -al fisco correntino antes de la federalización y a
El frente extractivo de yerba mate y madera
60 |
dueños particulares luego- después de haber estudiado minuciosamente la
cantidad de madera valiosa existente en él. Este estudio comprendía varias
leguas y se tomaba como guía para evaluar su riqueza al cedro (Cedrella
Fissilis). Una vez determinada la zona más conveniente se derrumban en la
costa unos cuantos árboles y se hacía una peladuradonde se levantarían
las habitaciones y depósitos. Allí quedaba establecido el campamento
mayor y de él se iniciaba una picada, la picada mayor”, de la cual después
se irían trazando las picadas secundarias según las necesidades. También se
comenzaban a realizar algunos trabajos destinados a dotar al sector de costa
elegido de una infraestructura portuaria mínima.
Los peones trabajaban en la selva desde el amanecer expuestos a toda
clase de riesgos. Allí con la sola ayuda del hacha volteaban los inmensos
ejemplares que luego descascaraban hasta dejar el tronco convertido en un
prisma, trabajo muy duro que requería gran pericia. El calor, la humedad
y los insectos hacían esta tarea insoportable.
Una vez que se lograba dar al rollizo esa forma aproximadamente
prismática de cuatro caras se lo arrastraba con el uso de una alzaprima
tirada por varios bueyes a través de las picadas. Los troncos se van
llevando a la orilla, allí se dejan caer al agua desde las altas barrancas.
Unos peones van juntando y atando los troncos junto a la orilla. Allí se
van juntando las maderas que formarán la jangada, esa extraña armazón
flotante, casi un rebaño, que el jangadero llevará por el río aguas abajo
hasta su puerto de destino, días y días, bajo el sol y la lluvia, en invierno o
verano. Algunas maderas, consideradas maderas de “boya” como el cedro,
el timbó, la canela y el laurel podían por solas constituir una jangada,
pero las maderas pesadas debían ser amarradas a las de boya. Se hacían
unos catres de madera de boya y sobre éstos se transportaban las pesadas.
Pero el verdadero problema del transporte de los rollizos era en tierra. A
veces en picadas donde no entraban las alzaprimas y los bueyes, se usaban
unos rollizos de palmera para que pudieran deslizarse los troncos. Para
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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solucionar en parte este problema algunos empresarios montaron redes de
ferrocarriles de trocha angosta del tipo “Decauvillelo que suponía una
inversión sustancial que no todos estaban dispuestos a realizar contando
con mano de obra abundante y a bajo costo.
La industria azucarera
una de las actividades más importantes fue, además de la yerbatera
y maderera, la elaboración de azúcar y la plantación de caña. Fue una
actividad de muy buenas perspectivas malograda más tarde por intereses
externos que situaron el monopolio de esta producción en la provincia
de Tucumán, que venía desarrollándola desde la colonia y que había sido
incorporada a las empresas de sectores de la Pampa Húmeda.
La calidad de la caña era excelente en ambas costas (Paraná y
Uruguay) y su rendimiento por hectárea también. Al oeste de Posadas
se habían plantado extensos cañaverales. Uno de ellos pertenecía a un
norteamericano, ex-yerbatero y antiguo colono en Brasil, que cansado del
nomadismo de la yerba mate instaló un alambique y plantó caña de azúcar.
Era un sudista que luego en la derrota en la guerra civil decidió emigrar.
En las costas del Uruguay existía una concesión de tierra otorgada a
un grupo de ingleses cuya superficie era de 10 leguas cuadradas (una legua
= 5 km.). Cerca de allí había un portugués instalado con una pequeña
plantación y un alambique. Al norte de Corpus, sobre la costa del Paraná,
había un bonaerense instalado con una plantación de caña en la que
trabajaban peones brasileños y paraguayos. Pensaba montar un trapiche
a vapor.
Entre los poseedores de trapiche y alambique se hallaba Luis
Arrechea, uno de los pioneros más exitosos de esta época y antepasado
directo del actual gobernador de la provincia. Por ese tiempo se creía que el
azúcar podría ser una de las producciones más ventajosas para Misiones. Las
El frente extractivo de yerba mate y madera
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tierras eran aptas y el clima presentaba rasgos favorables. En la actualidad
la industria azucarera, que atravesó muchas crisis hasta casi desaparecer, se
muestra en franca recuperación. En las proximidades de Posadas se había
instalado un francés que tenía cultivos muy variados como café, bananos,
horticultura, vides, tabaco, etcétera. En resumen, casi todos los productos
de cultivo posible y redituable de la región.
La búsqueda de yerbales y sus riesgos
Veremos ahora una descripción de una entradaen la selva con
propósitos de exploración y descubrimiento de riquezas. Tomaremos
como ejemplo una de las famosas entre los conocedores de la historia
misionera, quizás porque es una de las pocas que fueron escritas por uno
de sus protagonistas. Lamentablemente este documento se perdió y sólo
se conservan fragmentos, citas y testimonios de sus compañeros recogidos
por viajeros contemporáneos. Sólo intentaremos un resumen que refleja la
modalidad de las incursiones yerbateras y madereras, su mecánica, técnicas,
etcétera.
La expedición aludida estaba integrada por el famoso descubiertero
Fructuoso Moraes Dutra (recordemos el “Pacto de la Selva”), y los italianos
Bossetti y Luchessi. Este último fue el autor del diario escrito entre
1876-1877. Los otros expedicionarios eran indios y cazaban y melaban
permanentemente durante todo el viaje. Llevaban perros y se alimentaban
de lo que iban cazando. La marcha era lentísima y se avanzaba a punta
de machete. El propósito era unir Iguazú con los yerbales de San Pedro y
la zona de los pinares(bosques de araucarias o Araucarias angustifolia)
donde se intuía que existían grandes riquezas.
Un mes después de la partida habían llegado a recorrer 23 leguas, es
decir 115 km. a razón de cinco kilómetros por día, caminando todo el día
desde el amanecer hasta la noche. Durante el camino descubren picadas
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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y algunos rozados abandonados. La cantidad de animales es enorme:
chanchos de monte, antas (tapires), ciervos, etcétera. También alimañas y
fieras. Una yarará pica a un perro y lo mata. Por fin llegan a una picada y
de allí a otra más ancha, seguramente una picada carguera”. Por último
toman contacto con pobladores brasileños, campesinos con sus rozados,
taperas abandonadas, cultivos, etcétera.
La presencia de esta expedición creó inquietud en Brasil por el
problema de las tierras en disputa, sometidas al arbitraje internacional,
pero pronto reciben ayuda y luego regresan por picadas ya trazadas con
una valiosa información para futuras incursiones, esta vez con peones y
tropas de carretas.
El yerbatero Goicoechea le cuenta a Peyret que solamente él tomó
contacto con varias expediciones dirigidas por extranjeros. La nómina cita a
Fender, suizo que fue desde la costa del Uruguay hasta San Javier; el francés
Andrieuz que llegó a Corpus; el italiano Lencisa que llegó a Campo Grande;
Coffin, comerciante norteamericano que exploró la desembocadura del
Iguazú sin poder llegar al salto; los ingleses Fair, matrimonio que junto
al español Vitorio Abente llegaron a los saltos del Iguazú; dos suizos que
luego del fracaso de la colonia Avellaneda se internaron hacia el norte; y un
inglés de apellido Davison que recorrió el río Uruguay.
Eran épocas heroicas y también pragmáticas. Todos soñaban con
hallar el yerbal que los hiciera ricos y transmitieron esta aspiración a
muchos de los primeros colonos.
Misiones en el punto cero de la federalización
Dentro del proceso histórico que estamos reconstruyendo debemos
de vez en cuando hacer un alto y considerar las cuestiones sincrónicamente.
Veamos, pues, cuál era la situación en Misiones en los años previos a la
federalización, tanto en la zona dominada por el río Paraná, como en la
zona influida por el río Uruguay.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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La zona del río paraná
He aquí la situación de las localidades y secciones rurales próximas
al río Paraná en vísperas de la federalización. No estudiaremos el caso de
Posadas, como queda dicho porque nos referiremos a ella en particular.
Desde Posadas hacia el noroeste el camino por tierra ea casi imposible
y había que llegar muchas veces por el río. Esto dio una extraordinaria
vida a los puertos que fueron surgiendo vertiginosamente y que variaban
desde los que tenían una infraestructura importante hasta los que sólo eran
unos simples amarraderos. A través de estos puertos fluviales se internaban
hacia el interior los yerbateros con sus equipos y los madereros. Pero en
torno a estos puertos surgió una actividad importante de intermediación
e industria: agricultura, obrajes, comercio, etcétera. Y estas actividades
estaban en manos de pioneros, generalmente extranjeros, de hábitos
empresariales y decididos en el aislamiento y la hostilidad del medio.
En Candelaria, primera ciudad importante del recorrido y capital
del territorio (aunque Posadas era ya incomparablemente más importante),
existían ruinas jesuíticas y un conjunto de chozas que rodeaban su periferia.
La dificultad más importante para acceder a Candelaria, desde Posadas, era
el arroyo Garupá , muy caudaloso y ancho, absolutamente infranqueable
en sus crecidas. Allí en Candelaria se había radicado un alemán llegado
años atrás como vaqueano del ejército de Brasil. Sus objetivos eran la
explotación de las minas de cobre descubiertas y ya explotadas por los
jesuitas, y en forma secundaria el cultivo del azúcar. Enrique Punck, que
así se llamaba, pensaba que las sierras Centrales eran ricas en minerales
pero afirmaba que era imposible asentarse allí por las dificultades y peligros
de una empresa similar. Por otra parte le resultaba muy difícil contratar
mano de obra para el trabajo en la mina de cobre de Candelaria.
Aguas arriba, siguiendo el curso del río con la fuerte correntada en
contra, se arribaba a Santa Ana. Allí residían y trabajaban varios colonos
extranjeros: un holandés de apellido Abreu y dos franceses llamados
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Duclos y Bouix. Como allí desemboca el río Paraná, se lo utilizaba como el
fondeadero para todos los barcos que hacían la cerrera de Posadas a Iguazú
transportando carga o gente. El puerto de Santa Ana era sólo un pequeño
galponcito y un cementerio anexo. Estos pioneros habían empezado a
utilizar fuerza hidráulica en sus molinos. La descripción hecha por Peyret
del establecimiento de Bouix, puede darnos una idea de cómo eran estas
factorías primeras de Misiones.
Allí la mayoría de los peones eran brasileños y paraguayos, pero se
hablaba con preponderancia el portugués. El propio Bouix, si bien de origen
francés (había emigrado primero a Brasil como tantos otros extranjeros que
después de aquella primera etapa cruzaron la frontera hacia Argentina),
hablaba portugués. La casa estaba protegida por varios perros de caza que
mantenían a raya las posibles fieras o animales depredadores que rondaban
la plantación. El ingenio era del tipo que en Brasil denominan mojolo
y que se caracteriza por estar constituido por un gran martillo o émbolo
hecho con un solo árbol movido por fuerza hidráulica. Este sistema muy
sencillo después se difundió mucho por Misiones, ya que además de la
facilidad para construirlo y su efectividad, formaba parte de toda una cultura
tecnológica brasileña y se difundió junto con sus portadores. Para poder
impulsar el martillo hacía falta una caída de agua importante y con fuerza
suficiente; Bouix poseía en su terreno una caída de esas condiciones.
Pero además de esta caracterización somera de la finca de este
pionero sabemos que éste era una especie de caudillo y líder social, padrino
de todos los niños y compadre de muchos adultos; establecía con ellos
relaciones típicamente asimétricas del tipo patrón-cliente”, a la manera
de las viejas plantaciones. Organizaba las fiestas, bailes y reuniones,
administraba justicia, regía en el trabajo y la producción, etcétera. Es
un modelo reiterado con un extranjero blanco en la cúspide y una masa
de indios o mestizos como mano de obra semi-asalariada. Casi todos los
establecimientos de esa época respondían a características similares.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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En cuanto a la población incorporada a estas fincas estables, cercanas
a los puertos, existe una estimación que no incluye a los peones internados
en las zonas selváticas o en los obrajes y puertos situados al norte de
Corpus, localidad considerada como un límite entre la civilizacióny la
selva. El censo provincial de 1879, citado por Peyret, arroja un total de
7.891 habitantes para el departamento de Candelaria que comprendía las
siguientes poblaciones:
Población Número de familias
Posadas 800
Candelaria 50
Santa Ana 200
San Ignacio 600
Loreto 200
Corpus 100
Era muy difícil calcular la población dispersa internada en las selvas,
como dijimos; sin embargo, algunos creían que esa población pasaba
de 3.000 personas. Este cálculo se hacía más problemático debido a la
negativa por parte de muchos peones a ser descubiertos (una buena parte
tenía cuentas con la justicia de alguno de los tres países).
Corpus era el límite hacia el norte de los asentamientos agrícolas y
los establecimientos más o menos estables. Un poco más adelante había
una tribu que tenía con el último de los colonos -un español de apellido
Ortiz- buenas relaciones. En corpus quedaban algunos restos de la colonia
(fracasada) de “Marco Avellaneda”). Allí estaba el último superviviente de
aquella aventura frustrada: un suizo-italiano del cantón de Ticino, que
había pasado primero muchos años en Francia. El resto de los colonos
se había dispersado y muchos se radicaron en las zonas pobladas como
Posadas.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Corpus era una zona ya muy aislada con insuperables dificultades
para comunicarse con el exterior. La mayoría de la población hablaba
portugués y su desinterés por los sucesos extranjeros y especialmente los
argentinos era grande. La finca del ya mencionado poblador de apellido
Ortiz, poseía plantaciones de caña de azúcar, y otros cultivos en extensos
rozados. Lo asistían numerosos peones brasileños y vivía en una serie de
habitaciones precarias junto al río. Estaba montando un trapiche impulsado
a vapor y además había comprado un pequeño vapor. Ortiz combatía la
industrio yerbatera por creer que sería nefasta para Misiones y sostenía la
necesidad de establecer poblaciones fijas y cultivar la tierra, elaborando
luego los productos obtenidos. Hay que recordar que en aquella época
todavía no se había redescubierto el cultivo de la yerba.
Entre Santa Ana y Loreto existe un arroyo que se llama desde el
período descrito Arroyo de las máquinas”, por la cantidad de mecanismos
impulsados hidráulicamente que se montaron en este curso de agua. No
hemos podido encontrar ningún vestigio de aquellas máquinas y la mayor
parte de los pobladores ignoran el origen del nombre. En la zona descrita
existían unos establecimientos permanentes con un número elevado de
peones que compartían el espacio con familias agricultoras en escala
doméstica. había un cierto desarrollo industrial basado en la elaboración
de productos agrícolas locales. La mayoría de estos pioneros provenían
de Brasil siendo muchos de ellos europeos llegados durante o después
de la guerra. Los peones en su gran mayoría eran de origen brasileño y
en segundo término paraguayos y correntinos, sin descontar a los indios
locales. Entre los extranjeros de esta época se destacan los franceses,
españoles e italianos.
Frente a la ciudad de Posadas estaba la población paraguaya llamada
Encarnación de Itapúa. Desde el punto de vista de la organización del
tejido socioeconómico regional, esta ciudad cumplió un rol similar a
Posadas como centro comercial, político, etcétera. Encarnación o Villa de
Itapúa era mucho más antigua que Posadas, ya que había sido fundada
El frente extractivo de yerba mate y madera
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por Roque González de Santa Cruz en 1614 (según algunos autores en
la rivera opuesta del río donde ahora está Posadas) y sin embargo fue
superada rápidamente por su vecina, entre otras cosas porque Encarnación
pertenecía a un país destruido y derrotado, y Posadas a otro en expansión
con una economía floreciente. Al abrirse las puertas al comercio extranjero
su producción local desapareció casi completamente. El dictador Francia
había asignado a esta plaza una función militar que impidió asimismo su
desarrollo.
Entre Encarnación y Posadas ya existía un comercio muy activo de
paseras” o mujeres que todos los días pasande Paraguay a Argentina para
regresar en la última lancha de la noche llevando y trayendo los productos
que convenga vender y comprar según los precios, etcétera, y que en un
alto porcentaje practican el “contrabando hormiga”. Esta actividad se
continúa en la actualidad y constituye un fenómeno riquísimo desde el
punto de vista antropológico.
La Encarnación de la posguerra mostraba todas las heridas y
consecuencias socioeconómica de una devastación sin precedentes: mujeres
con sus proles solas, niños descalzos y desnutridos, pobreza, hambre y
enfermedades tan graves como el chuchoo paludismo, etcétera. Tanto
en Encarnación como en Posadas una especialidad regional era proveer de
mano de obra para las comitivas yerbateras.
Los más grandes yerbateros y empresarios de esta época pasarían a
consolidar una clase dominante capaz de disputar el poder impuesto desde
fuera por el gobierno central o, bien, a negociar desde una posición de
cierta fuerza las decisiones de todo orden. El análisis de este aspecto nos
exigirá un punto específico pero podemos mencionar al menos al grupo
que lo constituía: los Arrechea, los Goicoechea, Robert-Blosset, Nuñez,
Gibaja, Arrillaga, Barthe, Nosiglia, etcétera. Estos fueron los que no sólo
sobresalieron en la explotación de un producto fruto de la extracción
sino que ampliaron sus gestiones hacia todo el espectro de actividades y,
69
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
además, ocuparon cargos de poder político y de prestigio social. Todos ellos
cimentaron su poder por la existencia de indios y mestizos susceptibles
de ser explotados. Y esta explotación tenía sus justificaciones ideológicas
como la formulada por Peyret, quien caracterizaba a los indios con estos
adjetivos: indolentes, imprevisibles, desconfiables, pedigüeños sin límites,
etcétera. Cualquier causa o excusa es buena para dejar de trabajar y ponerse
a vagar, según este autor.
La zona del Río Uruguay
La antigua zona de las estancias jesuíticas, entre el Aguapey, la laguna
de Iberá, la selva y el río Uruguay, estaba despoblada. Los paraguayos se
habían encargado de hostilizar a cualquier poblador que intentase asentarse
allí y para ello se llevaban el ganado que podía capturar en sus incursiones.
Esto ocurrió hasta la guerra de la Triple Alianza.
En las costas del Uruguay algunos correntinos, brasileños y extranjeros
de distintos orígenes explotaban las maderas del lugar y elaboraban yerba
mate de manera rudimentaria. De las antiguas estancias jesuíticas ya no
quedaban ni sus puestos ni sus capillas, y tampoco ninguna forma de aldea
posterior a ellos. El “interland” era un desierto. En el punto conocido
actualmente como Paso de los Libres (hoy provincia de Corrientes) era
un centro de intenso comercio internacional entre Argentina y Brasil. Las
mercancías más comunes eran la yerba y la madera. También el tabaco y,
fundamentalmente, el ganado vacuno que se exportaba hacia Brasil.
En Yapeyú, antigua reducción situada a ocho leguas al norte del
punto anterior, y que llegó a ser capital de las misiones, las selvas habían
tapado las ruinas jesuíticas y sólo se llegaba a ellas por medio de un pique.
Esta ciudad había tenido en épocas de esplendor unas 5.000 personas,
según Félix de Azara. Junto a las ruinas vivían solamente unas doce familias
que practicaban una agricultura de subsistencia a base de maíz. Poco
El frente extractivo de yerba mate y madera
70 |
después llegaron unos colonos franceses con autorización para ocupar las
antiguas ruinas, pero fracasaron en su adaptación.
Cerca de Yapeyú, en la antigua reducción de La Cruz, las ruinas
de la ciudad se mantenían en pie. Bordeando la plaza aún se mantenían
erguidas algunas casas sin sus techos originales. En una choza muy miserable
funcionaba una capilla. La antigua y hermosa iglesia había sido destruida
en las invasiones de Chagas. Como no tenían un sacerdote, un sacristán
guaraní oficiaba de tal y dirigía el culto acompañado por una anciana
encargada de organizar los cánticos, al compás de guitarras, violines y
flautas. El cementerio, tan antiguo como las reducciones mismas, poseía
sus lápidas en guaraní. La población de La Cruz era importante ya que
alcanzaba las 2.000 personas, todas dedicadas a la ganadería. Muy cerca
de La Cruz, ya que alguna vez formó parte de la estancia jesuítica de ese
nombre, estaba la Villa de Itacuy, donde sus pobladores se dedicaban al
comercio de la yerba mate que traían del Alto Uruguay o de San Javier.
Unas veinte leguas más arriba de la Cruz, estaba Santo Tomé, que
actualmente es una importante ciudad del Nordeste de Corrientes. Era una
de las más antiguas ciudades jesuíticas y aún conservaba su cementerio, el
cual era utilizado por los habitantes de El Hormiguero, pueblo costero
situado frente a la ciudad brasileña de San Borja. Cerca de las ruinas existía
un poblado y ambos estaban bien diferenciados. La plaza central quedó
despejada y el resto de las ruinas totalmente tapado por la vegetación.
Había unas 18 familias trabajando la tierra y practicando una agricultura
muy rudimentaria. Se comunicaban con el río Uruguay mediante una
picada de unos 300 a 400 m. En el norte de Santo Tomé se hallaban los
restos totalmente despoblados de algunas estancias jesuíticas como Casa
Pava, San Estanislao, Santa María y San Alonso. Podían distinguirse los
sitios de las antiguas capillas por la existencia de cruces.
Noventa kilómetros más al norte estaba San Carlos con sus ruinas
cubiertas totalmente. La selva que las cubría estaba poblada por tigres. Por
esa razón no se conseguían peones para practicar una picada hasta ellas. Sus
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
alrededores, inmensas llanuras desoladas, eran sólo atravesados por ganado
cimarrón o arreos esporádicos. A lo lejos ya se podía divisar desde allí la
Sierra del Imán en territorio de Misiones.
Veamos ahora cuál era la situación en estos años en lo que habría de
ser la provincia de Misiones más allá de San Carlos.
Siguiendo por las riveras del río Uruguay se llegaba a los pueblos de
Concepción, San Javier y Santa María la Mayor. De éstas, la más importante
era San Javier aunque en pocos años más Concepción pasaría a ser la ciudad
más importante de Misiones hasta ser destronada por Posadas.
Concepción poseía varias estancias importantes al igual que Santa
María. Martín de Moussy, en sus viajes de mediados de siglo pasado
había considerado esta zona como la más apta para colonizar, y fueron
los correntinos quienes intentaron esa colonización como veremos más
adelante.
San Javier, por su parte, situada sobre la barranca del río y dotada
de cierta población, explotaba algunos plantíos de yerba mate (remanentes
de la época jesuítica) y naranjales muy extensos (también adscribibles a
aquella época). San Javier poseía numerosos restos de la época jesuítica ya
que había sido un importante centro yerbatero y puerto de embarque de
mercancías hacia el sur.
Quedaban caminos, puentes, empedrados en los pasos de algunos
arroyos, bases de un antiguo molino. Más arriba, hacia el Alto Uruguay y
cuando éste deja de ser navegable, se encontraron los restos de los lugares
donde se efectuaba la molienda y el secado. Algunos grupos tupíes vivían
allí cerca en las costas, pescando y, a veces, incursionaban tierra adentro para
cazar. También en San Javier vivía un contingente de guaraníes refugiados.
En épocas tan remotas como 1843, aproximadamente, un italiano llamado
Pedro Paggi construyó un puerto sobre el río Uruguay aguas arriba de
San Javier y allí reunió unas 400 personas, todas de origen brasileño para
trabajar en la yerba mate.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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NOTAS
(1) Ver Charles Wagley y Marvin Harris, “Una tipología de subculturas latinoamericanas”,
en: Estudios sobre campesinado latinoamericano. La perspectiva de la Antropología Social,
pág. 11.
(2) Ladislao Ziman y Alfonso Scherer, La selva vencida. Crónica del Departamento de
Iguazú, pág. 89. El subrayado es nuestro.
(3) Ver Robert Eidt, Pionner settlement in Northeast Argentina, pág. 73.
(4) Ver Ibídem., pág. 74.
(5) Leopoldo Bartolomé, Colonias y Colonizadores en Misiones, pág. 7.
(6) Ver Alejo Peyret, Cartas sobre Misiones. El término matrero”, al que alude el autor se
refiere a los gauchos alzados” o enfrentados a la autoridad. Se trataba de individuos que
no querían incorporarse a los nuevos sistemas de producción y aspiraban a conservar sus
hábitos de libertad. Esta denominación se utilizaba conjuntamente con “chúcaro”, “vago”,
cimarrón”, etcétera.
(7) Moisés Bertoni “Viaje a Misiones”, carta publicada en el diario La voce de Ticino, el
18 de junio de 1884. Este diario se editaba en lengua italiana, en Suiza. En El profeta de la
Selva (antología de la obra del autor), pág. 41.
(8) Ibídem., pág. 42.
(9) Ibídem., pág. 43.
(10) Denominamos comitivas yerbateras a los grupos encabezados por los descubierteros.
Se internaban en la selva con el fin de extraer el producto. En estas comitivas existían
algunas especialidades.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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(11) “Conchabarse significa incorporarse a un trabajo cualquiera, ser contratado o
designado. Se emplea generalmente para los trabajos de poca duración o temporarios.
(12) Rafael Hernández, Cartas Misioneras, pág. 115.
(13) Ibídem., pág. 117-118.
(14) Cabría agregar a lo ya dicho sobre la tipología de Wagley y Harris que un número
importante de rasgos de la subcultura del frente extractivo provenía del ámbito de las
plantaciones brasileñas con lo cual la conexión no sería solamente tipológica sino que
existiría una relación empírica histórica.
(15) José E. Niklison, Informe. Boletín del Departamento Nacional de Trabajo, 26,
pág. 53.
(16) Ibídem., pág. 53-54.
(17) Fuente: Rafael Barret, Lo que son los yerbales, pág. 40 y 41.
(18) Ver Aníbal Cambas, Proceso de Colonización en Misiones, pág. 169.
(19) Ver Gastón Gori, Vagos y mal entretenidos.
(20) Ibídem., pág. 16.
(21) “Bailantas” eran y son las reuniones sociales por excelencia en ciertos ámbitos rurales
y suburbanos. Posee dos componentes fundamentales. La bebida y la música y el baile.
Pero en las bailantas de los barrios de reclutamiento de peones éstas eran una pantalla de
la prostitución.
(22) Ver Juan Bautista Ambrosetti, Viaje a las Misiones argentinas y brasileñas por el Alto
Uruguay.
El frente extractivo de yerba mate y madera
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(23) El término urú deriva del sonido que emite el palomo macho para avisar a las
hembras sobre algún peligro, especialmente cuando éstas bajan a comer a los cuadros de
cultivo o claros de la selva. Urú es, por lo tanto, aquel que vigila.
(24) Juan Bautista Ambrosetti, “Segundo viaje a Misiones”, Boletín del Instituto Geográfico
Argentino, XV, pág. 71.
(25) El término “galpónalude a un recinto destinado a guardar o almacenar productos,
maquinarias o herramientas y, en general como depósito de cualquier tipo de objetos. Los
galpones son en Misiones, generalmente, sólo techos muy elevados y carecen de paredes, en
estos casos se los denomina tinglados.
(26) Ver Alfredo Bolsi, “El primer siglo de economía yerbatera en Argentina”, Folia
Histórica del Nordeste, Nº 4, pág. 119.
(27) Los indígenas de las llanuras argentinas, y también los de otras regiones, utilizaban
un método de agresión a las poblaciones blancas denominado malonear”. Se reunían
individuos de varias parcialidades diferentes en un lugar y fecha prefijados y atacaban en
forma desordenada y fulminante los poblados cristianos llevándose las mujeres y niños, y el
ganado. Algunos malones famosos arriaron más de 100.000 cabezas de ganado vacuno. Las
mujeres cautivas en los malones procreaban mestizos que eran aceptados en la vida tribal
sin diferencias.
(28) Los campamentos indígenas de carácter precario y sólo constituidos por una serie de
paravientos rudimentarios se denominan toldos.
(29) Raimundo Fernández Ramos, Misiones a través del primer cincuentenario de su
federalización. 1881- Diciembre 20 - 1931, pág. 19-20.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABÍNZANO, Roberto C. Procesos de integración en una sociedad multiétnica: la
provincia argentina de Misiones, 1880-1985. Sevilla: Universidad de Sevilla, Departamento
de Antropología y Etnología de América, 1985. Inédito.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
AMBROSETTI, Juan. Viaje a las Misiones argentinas y brasileñas por el Alto Uruguay.
La Plata, 1982.
BARTOLOMÉ, Leopoldo. Colonias y colonizadores. Posadas, Misiones: Facultad de
Humanidades y Ciencias Sociales, Una M, 1982.
BARRET, Rafael. Lo que son los yerbales. Buenos Aires, 1914.
BERTONI, Moisés. Viaje a Misiones. In: La voce de Ticino. Suiza, 1884.
BOLSI, Alfredo. El primer siglo de la economía yerbatera en Argentina. In: Folia Histórica
del Nordeste, n. 4. Resistencia, Chaco, 1980.
EIDT, Robert. Pionner settlemen in northeast Argentina. Universidad de Wisconsin,
1971.
RAMOS, Raimundo F. Misiones a través del primer cincuentenario de la federalización:
1881- 1920. Buenos Aires: s/f.
GORI, Gastón. Vagos y mal entretenidos. Buenos Aires: Alonso, 1964.
HERNANDEZ, Rafael. Cartas misioneras. Buenos Aires: Eudeba, 1973.
NIKLISON, José. Informe. Boletín del Departamento Nacional de Trabajo, n. 26,
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PEYRET, Alejo. Cartas sobre Misiones. Buenos Aires, 1981.
WAGLEY, Charles; HARRIS, Marvin. Una tipología de subculturas latinoamericanas.
In: BARTOLOMÉ, J.L.; GOROSTIAGA, E. (Comp.). Estudios sobre campesinado
latinoamericano. Buenos Aires: Periferia, 1974.
ZIMAN, Ladislao; SCHERER, A. La selva vencida. Buenos Aires: Maymar, 1976.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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LINGUAGEM, IDENTIDADE NACIONAL E A
IMPORTÂNCIA DA PERSPECTIVA GEOPOLÍTICA
Kanavillil Rajagopalan
Em meios acadêmicos, já é bastante aceita a idéia de que as
identidades, sejam elas de pessoas ou de agrupamentos de pessoas como
nações, são invariavelmente performativas, no sentido proposto por Austin
(1962) e posteriormente trabalhado por Butler (1997), entre outros. Isto
é, elas não são prontas e acabadas de uma vez por todas, muito menos
dadas de antemão ou fixas para sempre (RAJAGOPALAN, 1998, 1999,
2001, 2002, 2003a). Para continuar usando a terminologia austiniana, as
identidades não são de ordem constativa.
Isso fica cada vez mais claro em relação a conceitos politicamente
trabalhados e aperfeiçoados como o de cidadania.Via de regra, as cidadanias
são postuladas a partir de comunidades imaginárias” (ANDERSON,
2006). Em outras palavras, é preciso primeiro “inventar” as comunidades
antes de poder reivindicar pertencimento a elas.
Inventar comunidades implica, com frequência, postular tradições
nobres e initerruptas e fabricar histórias apropriadas para cada uma delas,
histórias estas que enalteçam a bravura de um povo, o sacrifício de indivíduos
dedicados na árdua e incansável tarefa de lutar e zelar pela independência
daquele povo, etc. Implica, sobretudo, inventar heróis e mártires, dignos
de serem lembrados e festejados e, como de costume, eterninizados em
monumentos e estátuas de bronzes em praças púbicas, etc.
No fim do século XIX, Ernest Renan (1882) surpreendeu uma
platéia de intelectuais notáveis reunida em Paris ao caracterizar a idéia
de nação como uma questão de plebiscito diário”. Num plebiscito,
os interessados são convocados a tomar decisões de cunho político e
manisfestarem-nas através do exercício do pleito. São decisões tomadas
Linguagem, identidade nacional e a importância
78 |
de livre e espontânea vontade. Mais importante ainda, são decisões que
podem ser – e com frequência são –revertidas a qualquer hora e, portanto,
precisam ser constantemente reiteradas ou confirmadas. Daí a necessidade
de reivindicar a idéia da cidadania, de pertencimento a uma coletividade,
de lealdade a uma bandeira e tudo o que ela representa, diariamente.
Ou seja, a questão de cidadania é, enfim, uma questão de escolha
e, enquanto uma questão de escolha, eminentemente política. À primera
vista, isso pode parecer um contra-senso. Afinal, perguntaria alguém,
a cidadania não é uma questão ligada ao lugar do planeta em que você
nasceu, em que lugar seu nascimento está registrado?
É verdade que, do ponto de vista formal e burocrático, é a questão-
chave na determinação da cidadania. Mas devemos reconhecer que isso é
algo relativamente recente na história da Humanidade. Na Idade Média, por
exemplo, isto é, antes do surgimento dos estados-nações, ninguém falava
em termos de cidadania. Os países nem sequer tinham linhas fronteiriças
bem demarcadas. Segundo o historiador britânico Eric Hobsbawm (1992),
o próprio conceito de estado-nação só se firmou na Europa no século XIX,
embora a idéia em si estivesse presente desde a Grécia Antiga.
Diz Anthony Appiah (2005, p. 244-245):
A nação é um conceito arbitrário, porém não no sentido de que
possamos descartá-lo em nossas reflexões normativas. Ele é arbitrá-
rio no sentido radical do próprio termo; em razão de sua impor-
tância em nossas vidas, no sentido da definição lapidar do Oxford
English Dictionary, dependente no nosso desejo ou prazer”. As
nações muitas vezes importam mais para as pessoas do que os es-
tados: a Sérvia mono-étnica faz mais sentido para alguns do que
a Bósnia multicultural; a Ruanda hutu (ou tutsi) faz mais sentido
para os outros do que a cidadania compartilhada e pacífica de Tutsi
e Hutu; só quando a Grã-Bretanha ou a França se tornaram nações
bem como estados é que os cidadãos comuns começaram a se pre-
ocupar com a idéia de serem franccses ou britânicos.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Ainda segundo muitos historiadores, o nascimento do estado-nação
em seu sentido moderno ocorreu em razão do espírito de colonialismo que
varreu os principais países da Europa e alcançou seu apogeu no século XIX.
E, junto com a conquista das terras alheias e distantes, teve início também
a rivalidade entre as nações colonizadoras. quem diga que a idéia de
“Uma nação, um povo, uma línguatambém nasceu e recrudesceu nessa
época.
Em seu livro Language Policy and Language Planning: From
Nationalism to Globalisation, Sue Wright (2004) registra que uma enquete
realizada na França no fim do século XV revelou que não mais do que 35%
da população daquele país dominava a língua francesa. Resultado parecido
foi o que redundou em uma enquete similar feita na Espanha, onde o
Castelhano não obteve o número expressivo de falantes imaginado pelos
governantes daquele país.
A pergunta que devemos fazer a partir desta constatação é: o que
houve desde então para tornar as línguas em questão línguas majoritárias
e, como resultado, línguas nacionais e oficiais? A resposta está em que, com
a necessidade de fortalecer as fronteiras entre as nações, os governos destes
países implantaram políticas lingüísticas bem elaboradas e executadas
com rigor e muito afinco. Essas políticas lingüísticas visavam propagar
determinadas línguas em detrimento das outras, que foram no processo
histórico simplesmente esmagadas por meio de medidas coercitivas. Nas
palavras de Wright (2004, p. 42),
A história das políticas das nações revela como a promoção cons-
ciente de convergência lingüística fazia parte do desenvolvimento
dos estados-nações. A língua nacional assume muitos papéis im-
portantes no processo da construção de nações.
O sucesso absoluto dessas políticas lingüísticas pode ser visto no
fato de que no século XIX havia se transformado em algo incontestável o
Linguagem, identidade nacional e a importância
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mito de monolinguismo nos países da Europa. Segundo Sherwood (1997,
p. 461), na Hungria era quase um grito de guerraao longo do século XIX
o slogan “Uma nação (sobre) vive graças à sua língua”.
Pelos meados do século XX, a maioria das colônias na Ásia e na
África haviam se tornado países independentes (a colonização terminou
mais cedo na América do Sul, embora os vestígios dela permaneçam até
hoje em lugares como as Malvinas e Guiana Francesa). Porém, os governos
desses países recém-libertados, de maneira geral, seguiram o modelo de
nação criado na Europa.
Desrespeitando o multilinguismo, que era a norma em muitos desses
países, os governos promoviam o ideal de monolinguismo. Nas palavras de
Agnihotri,
... as autoridades responsáveis pela política lingüística, com freqü-
ência movidas por interesses ocultos, tendem a favorecer homoge-
neidade no lugar de heterogeneidade, até mesmo nas sociedades
complexas como a Índia, Paquistão, e Bangladesh (2007, p. 185).
Segundo Tickoo (2006, p. 168),
As decisões concernentes às políticas linguisticas no contexto esco-
lar adotadas nos dois países [a India e o Paquistão] foram marcada-
mente diferentes. Entretanto, ambas eram produtos de uma mesma
crença de que as línguas precisavam ser mobilizadas para servir o
interesse nacional. Essa crença por sua vez se baseava num pro-
fundo medo de diversidade lingüística, aliado a uma forte aposta
nos poderes mágicos de uma única língua que garantisse a unidade
nacional.
No caso da Índia, tal política fazia parte do sonho acalentado por
ninguém menos que Mahathma Gandhi, o herói da independência e o
pai da nação”, com o intuito de promover harmonia entre as religiões. A
solução encontrada por ele era uma língua “hindusthani” quase inventada,
uma espécie de amálgama entre o Hindi, falado pela maioria hindu e o
Urdu, falado pela minoria muçulmana.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Os conflitos lingüísticos, muitos deles com derramamento de
sangue, foram amenizados pela adoção de uma fórmula de três idiomas
(three-language fórmula), adotada pelo governo daquele país para acalmar
os ânimos e de acordo com a qual todas as crianças foram obrigadas a
aprender a ler e escrever em três línguas (o que significava dominar três
alfabetos distintos), como parte do estágio de alfabetização.
Não foi o que ocorreu no Paquistão. Naquele país, o que influenciou
a adoção de Urdu como língua nacional e oficial foi o fato de o idioma ter
sofrido grande influência do árabe e do persa e ser a língua preferida da
população muçulmana no norte da Índia, antes que o país fosse dividido
entre a Índia (secular) e o Paquistão (de maioria muçulmana). Mas tal
decisão contrariou os interesses da população do então Paquistão do Leste,
que falava Bengali, para não mencionar os 71 outros idiomas falados pela
população do próprio Paquistão do Oeste (GORDON, 2005).
É o que chamo de a ideologia de homogeneização
(RAJAGOPALAN, 1997). Isso gerou grande tensão interna entre as duas
metades” do Paquistão, levando à criação de Bangladesh. Mas isso tudo
faz parte da História. O que nos interessa nisso tudo é que o sonho do
monolingüismo foi o que prevaleceu o tempo inteiro. Mais do que um
sonho, talvez a certeza absoluta de que a disponibilidade de uma única
língua seja a condição sine qua non da integridade da própria nação.
Mas tudo isso está sendo revisto agora. A globalização galopante
que se encontra em pleno curso nos obriga a repensar a identidade das
nações hoje tida como segura e inviolável. Da mesma forma, as linhas
fronteiriças entre línguas consideradas distintas até pouco tempo também
estão sendo questionadas cada vez mais. Pennycook (2002, p. 13) articula
este pensamento da seguinte maneira:
Embora, à primera vista, possamos nos contentar em assumir a
existência de diferentes línguas porque todos falamos alguma lín-
gua e ela difere, em maior ou menor grau, da forma como os ou-
Linguagem, identidade nacional e a importância
82 |
tros falam, num outro nível, permanecem problemas a respeito de
como definir linguisticamente quem somos ou onde traçar as suas
fronteiras.
Ninguém sabe ao certo que desfecho terá todo esse processo de
movimento de massas, contato sem precedentes entre países, comunicação
entre povos numa escala sem precedentes, desmoramento de barreiras
que impediam livre movimentação de pessoas e mercadorias, etc. Mas de
uma coisa podemos ter certeza: o novo mundo que vai emergir quando
este processo terminar será irreconhecivelmente diferente do mundo que
presenciamos hoje.
Os sinais são inconfundíveis. Na opinião de Harvey (1990), são nas
dimensões políticas, socioeconômicas e culturais que os efeitos profundos
e duradouros da globalização mais se destacam. As fronteiras entre países
que até pouco eram consideradas sacrosantas estão se desfazendo com
rapidez inimaginável. Com a formação de blocos como a Alca, a União
Européia e o Mercosul (há ainda outras tantas alianças comercialmente
motivadas entre os países ao redor do planeta), o conceito de “naçãoestá
ficando cada vez mais tênue e, de certa forma, ultrapassado.
Festejando a criação da União Sul-americana das Nações (Unasul),
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou em seu programa de rádio
semanal Café com o Presidente (Cf. LABOISSIÈRE, 2008):
Parecia uma coisa impossível porque aqui, na América do Sul, fo-
mos doutrinados para acreditar que não daríamos certo em nada,
que somos pobres, que brigamos muito e que temos que depender
dos Estados Unidos e da União Européia.
Entretanto, a famosa frase do Presidente do Brasil uma América do
Sul unida mexerá com o tabuleiro do poder no mundologo foi saudada
com vozes de descrença e ceticismo que não perderam tempo em tentar
jogar uma ducha de água fria dizendo, entre outras coisas, que falta unidade
83
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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aos países que integram o pacto. No dia 27 maio de 2008, o jornal O
Estado de São Paulo trouxe uma matéria provocativamente intitulada ‘O
fiasco da Unasul’, onde se lê:
A região carece dos elementos de poder necessários para mudar as
posições no tal tabuleiro’. Não tem poder militar ou econômico e
não dispõe de um capital de influência suficiente para satisfazer as
ambições do presidente. Mas isso, na verdade, é secundário, pois o
fato é que a América do Sul não é unida e acontecimentos recentes
mostram que as brechas entre alguns países estão se alargando, e
não se estreitando.
Pois bem, o articulista no caso simplesmente se esqueceu de que a
Unasul é, antes de mais nada, a reivindicação de uma nova identidade pelos
povos de um conjunto de países com histórias diferentes e muitas vezes
conflituosas, que decidiram se unir e criar uma identidade coletiva. Neste
sentido, deriva sua razão de ser a partir de um enunciado eminentemente
performativo. Levantar objeções de ordem constativa contra um gesto
performativo por excelência é completamente inútil e sem sentido.
Note-se que, até mesmo no plano puramente constativo, o articulista
acima citado se revela pouco informado a respeito dos fatos históricos. Em
primeiro lugar, parece não levar em conta o fato de que o status do Unasul
é idêntico ao das outras entidades como o Mercado Comum Europeu e a
Alca.
Da mesma forma que o autor da citação acima põe em dúvida
a existência de fatores que possam ser destacados como justificando a
possível união dos países da América do Sul, alguém pode duvidar de uma
base sólida para se afirmar que a Europa é um continente unido. Aliás, a
história de conflitos armados e descofiança mútua entre os países que hoje
fazem parte da União Européia é muito mais recente e gritante do que o
autor parece reconhecer.
Como diz Hobsbawm (2008) em um texto publicado
recentemente,
Linguagem, identidade nacional e a importância
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O mito europeu por excelência é o da identidade primordial. O que
temos em comum é essencial; o que nos diferencia é secundário ou
insignificante. Ocorre que a presunção de unidade, em se tratando
da Europa, é ainda mais absurda pelo fato de que é precisamente a
divisão que caracteriza sua história.
O que devemos depreender de casos como o da Europa é que as
noções são diferentes umas da outras ou, pelo contrário, similares entre
si, apenas em resposta a vontades políticas dos seus habitantes. No fim
das contas, é a vontade política que cria nações e desfazem-nas para criar
entidades ainda maiores. O conceito de nação é, antes de qualquer outra
coisa, político.
Assim como no caso das nações da Europa, também não laços
históricos que possam ser apontados para justificar a união aduaneira entre
os Estados Unidos e o México, que fazem parte, junto com o Canadá, da
Alca. A esse respeito, é interessante observar que um relatório do Conselho
Britânco diz que
Ao contrário da crença geral, o México não faz parte das Américas
Central ou do Sul. Ele é, na verdade, parte da América do Norte
(MORRIS, 2000).
Tal afirmação chama a atenção pelo seguinte motivo: sabemos que,
tanto linguística quanto culturalmente, o México tem muito mais afinidade
com a América do Sul. O próprio relatório do Conselho Britânico admite
isso de fato quando se refere à idéia como crença geral”. A pergunta a fazer
é: de onde, então, surge a percepção de que o país faça parte da América do
Norte? A resposta pode estar no fato de que a migração geográfica do
México rumo ao norte” se deu graças à acessão do México à Alca. Se esse
argumento procede, como acredito que sim, devemos concluir que estamos
diante de um dos fatos mais impressionantes de como acontecimentos
geopolíticos intereferem em nossa percepção do mundo.
85
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Unasul é, sem dúvida, um marco histórico na forma como os países
deste continente se vêem. Ela significa um passo importante na geopolítica
da América do Sul, na medida em que os países membros assumem uma
nova identidade supranacional a fim de somar forças e enfrentar os desfios
de um mundo globalizado. Como ressaltou Lula (cf. BRESCIANI, 2008),
na abertura da reunião dos chefes de estado em Santiago, Chile,
Estou convencido de que é chegada a hora de aprofundarmos nossa
identidade sul-americana também no campo da defesa.
Sem sombra de dúvida, trata-se de uma exortação para ação futura,
um performativo, e não um constativo como pensam os céticos.
Uma das consequências mais interessantes, porém nem sempre
percebidas pela opinião pública, é que a distância entre os países também
está ficando cada vez mais curta. As distâncias já não são percebidas como
físicas, mas sim com atributos temporais, e a Internet tem contribuído
para tornar a China tão perto de nós aqui no Brasil como é o Uruguai ou o
Peru. Tsui e Tollefon (2007, p. 1) falam da “compressão espaço-temporal”
a que foi submetido o mundo, idéia esta muito bem captada pela metáfora
aldeia global”.
Diante deste quadro, a questão de geopolítica vem ganhando
mais importância do que nunca. diversos aspectos da geopolítica que
merecem atenção especial na era da globalização. O principal deles é que
as nações de outrora estão pensando nas suas próprias identidades de
forma completamente diferente. Dos tempos do nacionalismo exacerbado
sinalizado pelo slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, cunhado nos tempos
do Regime Miltar, hoje se pensa muito mais numa possível identidade
sul-americana. Ou seja, as identidades estão cada vez mais assumidas por
interesses estratégicos de médio e longo prazos.
Como fica a questão da linguagem neste mundo globalizado?
Não se pode negar que a língua inglesa é a língua do mundo globalizado
(RAJAGOPALAN, 2005). Neste contexto, é preciso pensar além das
Linguagem, identidade nacional e a importância
86 |
questões imediatas, como, por exemplo, a exigência de dominar a língua
inglesa, que dificulta a entrada de milhares de jovens no mercado de
trabalho. A questão mais séria a que devemos nos dirigir é como o Brasil
pode lidar com o desafio que se apresenta hoje diante de nossos olhos e de
que forma podemos superá-lo com êxito.
Venho defendendo, algum tempo, a tese de que é preciso
apostar em um novo fenômeno que está emergindo no mundo, que é o
de “World English(Cf. RAJAGOPALAN, 2003b, 2004, 2007). Trata-se
de algo inédito na história do mundo. Daí a relutância em usar o termo
“línguapara designar o World English(doravante WE). Em primeiro
lugar, O WE não tem um dono.
Não pertence a este ou aquele país; a esta ou aquela nação; nem
sequer tem falantes nativos. Engana-se quem pensa que se trata da língua
que se fala nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha. É a língua que mais
se ouve nos principais aeroportos do mundo, em congressos acadêmicos
internacionais nos mais variados países, em conversas telefônicas
internacionais e intercontinentais, na Internet e por vai. É a língua que
mais se ouve mais na aldeia global, que resultou da globalização que apenas
começou.
Podemos dizer que WE é o antídoto que o mundo inventou
em resposta ao “Imperialismo Lingüístico (PHILLIPSON, 1992;
PENNYCOOK, 1994, 1998). Isso é apenas um reflexo de um mundo
multipolar que está cada vez mais em evidência. Os desdobramentos dessa
nova realidade lingüística ainda nos desafiam.
Agradecimento
Gostaria agradecer ao CNPq pela concessão da bolsa de produtividade
em pesquisa (Processo nº. 304557/2006-4).
87
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Linguagem, identidade nacional e a importância
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91
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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NATURALEZA, ECONOMIA Y TERRITORIO:
CONSIDERACIONES CONTRA EL COLAPSO
1
Jorge Rodrigo Yaitul Stormansan
2
Presentación
En este artículo abordaremos la relación cardinal que existe entre
naturaleza, economía y territorio. Esta correspondencia es de completo orden
estructural, de acoplamiento, por cuanto la naturaleza nos proporciona los
requerimientos básicos para la vida, absorbe nuestros desechos y provee
los servicios de soporte vital, como la estabilización climática; todo lo cual
vuelve al planeta habitable para los seres vivos humanos y no humanos.
Nuestro planteamiento, va más allá de la crematística. Se trata
entonces de asentar una comprensión sobre procesos y trasformaciones que
superan los límites de lo que corrientemente se entiende por productivo/
económico, que se registran en territorios particulares y que se traducen,
así también, en dimensiones de carácter social y cultural. Asimismo, la
actividad de producción en un territorio determinado debe ser entendida
como un ecosistema socioeconómico y cultural, insistiéndose en la base
natural (el ecosistema) en la que la actividad se asienta, no concibiéndose
como algo estático, sino como el resultado de la confluencia de dos
elementos. Por un lado, la propia naturaleza y, por otro, la intervención
humana que la modela (COQ, 2004c; 2005).
1 Este trabajo forma parte de la investigación en economía regional denominada Chile en la Economía Global: re-
formas y crecimiento económico – análisis de la industria salmonera en la región de Los Lagos, que se desarrolla en el
marco de la Tesis de Doctor en Economía Regional. Así también, una sección del presente artículo fue publicado en
Espacio Regional. Revista de Estudio Sociales, v. 2, n. 5, 2008.
2 Universidad de Los Lagos, Osorno. Departamento de Ciencias Sociales. Luisa Schoner 2742, Casas de Bellavista,
Naturaleza, economia y territorio
92 |
Naturaleza, economía y energía/territorio
Por naturaleza vamos a entender no una concepción esencialista de
la misma, restringida exclusivamente a una visión orgánica, sino una en la
cual se reconocen relaciones biológicas, sociales, culturales y económicas
que la constituyen y que le dan forma; de carácter particular e irreducible
a un único de determinación. La naturaleza como la entendemos
comúnmente es una categoría específicamente moderna. Al respecto,
Arturo Escobar (1999) citando a Raymond Williams (1980) plantea que
“la idea de la naturaleza es la idea del hombre (...) la idea del hombre en la
sociedad, claro está, las ideas de diferentes tipos de sociedades.
3
La naturaleza, desde la economía estándar, es concebida como un
conjunto de elementos físicos o no físicos, que se reconocen en forma
separada (tierra, agua, clima, minerales, energía, etc.), que sirven para
satisfacer las necesidades o deseos de la acción humana de producción,
riqueza y consumo. En esta concepción los recursos naturalesse reducen a
objetos económicos apropiados y valorados que se consideran productibles.
Este credo limitado que hace la economía estándar de la naturaleza, olvida
fundamentalmente que, para que la misma actividad económica se lleve
a cabo, la contribución perpetua de la naturaleza representa el factor
fundamental de la misma actividad (CANO, 2004).
En cuanto a la economía convencional, comúnmente conocida
simplemente como Economía, debemos señalar que es el estudio de la
asignación humana de recursos escasos a fines alternativos, una definición
a que por lo pronto no tenemos nada que oponer.
4
No obstante lo anterior,
3 ARTURO Escobar, El final del salvaje: naturaleza, cultura y política en la antropología contemporánea. Colombia:
Cerec, 1999, p. 274.
4 La concepción neoclásica de lo económico -recuérdese la definición de Lionel Robbins, (1935), “e nature and sig-
nificance of economic science,” en Hausman, D. (ed.),(1994, 83-110), - “hace referencia, en general, al conjunto de
actividades mediante el cual se satisfacen las necesidades humanas-hay quien añade también los deseos- incluyéndose
en ella la producción, la distribución-intercambio y el consumo de bienes y servicios (...) lo económico aparece ligado
a la idea de aprovisionamiento (…) o a la de medios de ganarse la vida (….) No se hace alusión a escasez, procesos
93
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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debemos hacer una previsión respecto a la diferencia entre economía
y crematística”, en cuanto a que la primera es el estudio material del
abastecimiento de la polis, de la casa familiar o de la ciudad; la segunda,
el estudio de la formación de los precios en los mercados. Es esta última
concepción económica la que domina el mundo contemporáneo y que
se traduce en crecimiento económico y aumentos vertiginosos de la
producción industrial mundial.
Respecto al territorio debemos reconocer el escaso papel que en
forma habitual se le otorga al elemento espacial, cuando se trata de explicar
los procesos de producción y consumo que se da en lugares específicos.
Por tanto, es necesario realizar una consideración general en torno a la
dependencia del espacio/territorio, naturaleza y economía. Antonio Cano
Orellana (2006) en este sentido señala que los estudios territoriales, de
naturaleza económica, en general, centran su atención en el estudio de
la renta y su distribución (...) Las teorías al uso sitúan el crecimiento
económico como un medio a través del cual se superarán las desigualdades
entre los diferentes territorios.
5
La dependencia e imbricación entre economía y territorio -no sólo
considerando el espacio geográfico como la base física sobre las cuales se
desarrollan las actividades de producción, intercambio y consumo- son por
lo general ignoradas por la gran parte de los economistas teóricos.
6
Por ello,
es preciso analizar el crecimiento de la economía industrial en un contexto
de elección, uso alternativo de medios, racionalidad, maximización…Esos conceptos y principios son considerados
elementos de la concepción neoclásica de la ‹economía ›, parte de su construcción teórica, no ingredientes de la defin-
ición de lo económico o, mejor aún, descriptores de esa dimensión de la vida social que llamamos ‹economía›.José
Antonio Batista M., “Economía cultural: elementos para un análisis cultural de lo económico y para una crítica de la
Economía (ortodoxa)”, mimeo. (España: Ed. Universidad de La Laguna, 2007), 2
5 Bajo estas consideraciones, “los desequilibrios territoriales quedarían superados siempre que las tasas de crecimiento
cuantitativo, en términos de Producto Interior Bruto, Valor Añadido Bruto o Renta Nacional, sean porcentualmente
mayores en las áreas pobres que en los territorios ricos.” CANO, Antonio, “Capitulo 6: Crecimiento, modernización
y sostenibilidad en Andalucía: algunos apuntes para el análisis. Introducción a la Sostenibilidad en Andalucía, 145-
167. Sevilla, España: Consejería de Medio Ambiente. Junta de Andalucía, 2006,146
6 Habitualmente se le presta al componente espacial una importancia menor al explicar procesos de producción y
consumo que se dan en él. Paul Krugman al respecto ha sido insistente al plantear este vacío en el análisis económico,
en particular en su libro Desarrollo, geografía y teoría económica (1997).
Naturaleza, economia y territorio
94 |
en el cual el componente espacial sea parte del análisis económico, por
cuanto los procesos de crecimiento económico han demostrado a lo largo
de la historia tener indiscutibles limitaciones para su expansión territorial.
Al respecto debemos señalar que los intentos de enfocar los problemas
económicos desde una perspectiva espacial son antiguos (VÖN THUNEN,
1839 y WEBER, A., 1909) como también son de carácter diverso.
7
Acorde a lo anterior, nuestra noción de territorio no es únicamente
física, concibiéndose como un elemento pasivo y soporte de carácter
material de las actividades productivas. Por el contrario, es considerado
como una construcción social de carácter histórico, que supera el lugar
físico y que se denomina genéricamente territorio. En este sentido es
necesario distinguir el concepto de espacio, utilizado por los neoclásicos,
que supone la existencia de una base geográfica sobre la que se realizan
las actividades de producción y consumo y que, por tanto, participa en el
proceso de generación de costos y/o utilidades, del concepto de territorio,
a través del cual se introducen una serie de aspectos que van mucho más
allá del espacio geográfico.
8
Conforme argumenta Daniel COQ Huelva (2000; 2001) podemos
advertir que el uso que se da al término territorio es muy distinto,
dependiendo del análisis teórico, de diferentes autores o bien entre
7 En este sentido se deben observar las diferencias epistemológicas que se verifican en torno al tema. Al respecto “la
teoría neoclásica de la localización, por ejemplo, parte del individualismo metodológico, mientras que, en el otro ex-
tremo, la escuela de la nueva división internacional del trabajo se construye a partir de unos fundamentos radicalmente
holistas.COQ, Daniel. Impactos territoriales de la reestructuración: la industria agroalimentaria Andaluza. Sevilla,
España: Tesis Doctoral Economía, Universidad de Sevilla, 2001. ,1. Así, “los desarrollos económicos espaciales parten
en ocasiones de modelizaciones económicas neoclásicas. Otras veces, tienen en la tradición de pensamiento marxista
su principal referente. Y, en otras ocasiones, como puede ser el caso de la escuela de la especialización flexible, sus pre-
supuestos son marcadamente institucionalistas.” (Coq, Impactos Territoriales de la Reestructuración) ,1. Esta diversidad
se debe al distinto significado que, para cada de estos enfoques, tiene la variable espacial. Para algunos tiene un valor
únicamente físico, significando en términos equivalentes a distancia. Para otros, el territorio es concebido más allá
que el receptáculo físico, sino que sintetiza todo un conjunto de relaciones sociales que tienen lugar en su interior.
Un texto interesante para revisar en forma amplia la relación economía-territorio puede consultarse en Coq (2000)
Economía y territorio: una revisión crítica.
8 Daniel Coq, Epistemología, economía y espacio/territorio: del individualismo al holismo. Revista de Estudios
Regionales. España, n. 69, p. 115-136, 2003, 128
95
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
autores que comparten un mismo enfoque, tomando del uso del mismo,
diferentes elementos que ayudan a concretar su significado.
9
Desde estas
consideraciones podemos comprender que, cuando se utiliza el término
territorio se hace referencia, en forma implícita, a un entorno físico,
concreto, que se reconoce en un espacio geográficamente definido y en el
cual se desarrollan actividades, en razón de la presencia de comunidades de
individuos o bien, de una comunidad en particular.
Así, en el interior de un territorio específico, se reconocen un
conjunto de relaciones sociales, lo que implica la existencia de una
organización social que se encuentra formada por una conjunción de
individuos múltiples. Esta organización social se caracteriza por tener una
serie de normas e instituciones que rigen su funcionamiento, en la cual
existen grupos sociales con intereses y orígenes diversos que compiten y
colaboran con la finalidad de propiciar su reproducción social (COQ, 2001
apud MASSEY, 1994).
10
En esta estructura social, se desarrollan una serie
de actividades de producción e intercambio, las cuales son dependientes
del entorno social que norma y direcciona el funcionamiento integral del
territorio. Karl Polanyi (1992/2007), en este sentido, afirma que el mercado
es un proceso instituido socialmente, que se funda en un orden social que a
su vez construye estas relaciones sociales. Esta acción de instituir es a partir
de las relaciones sociales definidas como resultado del equilibrio existente
entre los distintos grupos sociales que conviven en el interior de un
determinado espacio. Por cierto, se parte de la base que en la construcción/
estructuración de este equilibrio, participan fuerzas en tensión que tienen
un peso relativo similar equivalente, capaz de llegar a “contrarrestarse” por
9 En esta parte se recogen diversos trabajos relacionados del autor, que se suman a los ya citados, es el caso de (1) La
perspectiva institucionalista del desarrollo regional: una critica constructiva (2002); (2) Globalización financiera: ¿Una
nueva forma de acumulación de capital? (2003); (2) Globalización y dinámica territorial de la industria chilena: evo-
lución regional de la actividad industrial en Chile entre 1979 y 1997, (2004b); (3) Economía y territorio: una sucinta
revisión, (2004c); (4) Territorio e industria manufacturera en la Región de Los Lagos. Chile (2005).
10 MASSEY, Doreen. Space, place and gender. Cambridge: Polity Press, 1994.
Naturaleza, economia y territorio
96 |
medio de acuerdos o negociaciones. En este conjunto de relaciones, los
individuos continúan siendo los actores finales que dan lugar a las mismas.
Además, la actuación de los individuos no se considera determinada por un
conjunto de leyes abstractas, por el contrario, se encuentra sujeta a disímiles
influencias, pero al final existe un elemento decisional que se encuentra
indisolublemente unido a la esfera individual. Conforme a Dorren Massey
(1994), las actuaciones de los individuos dependen fuertemente de los
tres vectores más significativos que definen su identidad: espacio, género
y clase.
11
En suma, lo anterior es el resultado de un proceso de evolución
histórico. Las relaciones sociales históricamente construidas definen las
relaciones de poder entre los distintos grupos sociales. Así entendido, la
forma en que el mercado se encuentra instituido (cimentado), como los
hábitos e instituciones que condicionan y articulan la actuación de los
individuos (las definen) también, aunque en forma indirecta.
En un territorio específico intervienen las condiciones anteriores
que lo modelan, junto con la forma en la que históricamente las élites y el
Estado/Gobierno gestionan la inserción de ese espacio/territorio dentro de
la economía-mundo. En estas condiciones, la estrategia de posicionamiento
del territorio, va a ser definida por el lugar que internacionalmente ocupa
y que se concreta en la extracción/producción de los recursos naturales
ligados a rentas de situación y transformación de los usos del mismo. En este
contexto, los territorios se tienden a reconvertir con el objeto de producir
bienes. Para el caso chileno, son las diversas pesquerías, frutales, vinos,
maderas, salmones, etc. Todo ello con el objeto de no perder posiciones en
una carrera global por la participación de mercados y de la competencia y
la competitividad. En esta trama, en una continua modificación de los usos
aplicados en los territorios, se va construyendo un dialogo entre economía-
ecología que tiene un carácter marcado y distintivo.
11 COQ. Impactos territoriales de la reestructuración. 10
97
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Un territorio en particular es una manera de afrontar el esfuerzo por
elucidar el conocimiento de realidades específicas que, sin tener categoría
de ser generalizables, tienen una importancia esencial para entender la
evolución de los fenómenos objeto de estudio, en el cual se debe poner
énfasis en la búsqueda permanente de “la mayor probabilidad de certeza
que en la de la validez universal.
12
Es así que al estudiar la dependencia
economía y territorio, la búsqueda de comprensión esta movida en cuanto
a no establecer las leyes generales que rigen a un determinado fenómeno,
sino a conocer los “mecanismos que expliquen el funcionamiento de
realidades sociales específicas, entendiendo que sólo concentrándose
en el análisis de esa especificidad se puede llegar a un mayor grado de
comprensión de las mismas.
13
Interesa entonces asentar una comprensión
sobre procesos y trasformaciones que superan los límites de lo que
corrientemente se entiende por productivo/económico, que se registran en
territorios particulares y que se traducen, así también, en dimensiones de
carácter social y cultural. De la misma forma, la actividad de producción
en un territorio determinado debe ser entendida como un ecosistema
socioeconómico y cultural, insistiéndose en la base natural (el ecosistema)
en la que la actividad se asienta, no concibiéndose como algo estático, sino
como el resultado de la confluencia de dos elementos.
Por un lado, la propia naturaleza y, por otro, la intervención
humana que la modela (COQ, 2004c; 2005). En este sentido, no se
puede entender la particular explotación productiva que se da de ciertos
ecosistemas sin entender las dinámicas sociales y las condiciones culturales
que se desarrollan y que el espacio habitado/construido por el ser humano
es producto del tiempo de la naturaleza, del tiempo biológico humano,
12 DEL RÍO, Carlos Román y RODRÍGUEZ, Javier. Conocimiento científico y ciencia económica. Texto digital.
Programa Doctorado Economía Regional, 1-25, 2005. Sevilla, España: Departamento de Economía Aplicada II,
Universidad de Sevilla , 9
13 COQ, “Epistemología, economía y espacio/territorio”, 132
Naturaleza, economia y territorio
98 |
de las diversas formas de organización, de la concepción cosmogónica del
tiempo (THER et al., 2007) y compartiendo con er et al. (2007)
14
en
lo fundamental, el territorio en el cual suceden los procesos y efectos de lo
económico/productivo, viene a ser el fruto del conjunto de relaciones que
a diario el ser humano ha trenzado con la naturaleza y con los otros.
Las explotaciones/extracciones de los recursos naturales en un
espacio/ territorio, las tensiones y conflictos que se dan en un plano no sólo
de carácter económico, de exclusiva expresión monetaria y que solamente
no se refleja en la disputa de precios, tiene que dar paso a la incorporación
de factores condicionantes en la relación extracción/ transacción. Esto es
el caso de luchas de poder por ciertas áreas territoriales, negociaciones,
transacciones comerciales no trasparentes, flujos de información
asimétrica, sobreexplotación de recursos, prácticas comerciales históricas
versus contemporáneas, institucionalidad laboral precaria, subordinación
a fuerzas de intermediación, rol periférico de los actores comerciales,
etc. Estos elementos articulan y edifican un tinglado que condiciona e
institucionaliza una relación precaria, entre extractores (productores),
naturaleza y uso energético localizado.
En estas condiciones es relevante discutir el punto desde un
denominador común en todas las actividades productivas/económicas: La
energía. Desde esta perspectiva, cualquier actividad económica se traduce
en energía. Siguiendo los planteamientos de René Passet (1979/1996)
tenemos que cualquier bien material puede expresarse por la cantidad de
energía que retiene; como producto, es el resultado de un gasto energético
mensurable; si es ingerible, transfiere a los organismos que lo absorben la
energía potencial que contiene; cualquier fuerza de trabajo es un potencial
energético susceptible de liberar energía y puede reconstituirse gracias a
14 THER, Francisco; VERGARA, Nelson; YAITUL, Jorge; TORO Darío y ÁVILA, Susan. Etnografía del ambiente
costero: prácticas cotidianas contemporáneas en Asentamientos costeros del sector sur de la Región de Los Lagos,
Chile. Osorno, Chile: Proyecto Interno, DIULA/2007, p. 1-39.
99
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
un aporte de la misma; cualquier capital productivo creado por los seres
humanos es el resultado de un trabajo que puede expresarse en unidades
energéticas, funcionando gracias al aporte de energía y suministrando un
trabajo mecánico energéticamente cuantificable.
15
En estos términos y contrastados con representaciones exclusivamente
monetarias, las prácticas económicas y las sociedades, en razón de flujos
monetarios, serían reducidas a de subsistencia o bien de rezago; fuera del
ámbito de una economía de mercado moderna. En estas condiciones por
una parte, territorios de estas características, distintos en sus prácticas y
espacialmente ubicados, deben ser analizados desde la óptica del análisis
energético y no desde el ámbito monetario. Por otra, nos encontramos
frente al hecho del llamado factor condicionante subdesarrollo/desarrollo
de estos territorios. Veamos algunos comentarios al respecto. El hecho de
que el subdesarrollo aqueje a unas economías que frecuentemente disfrutan
de unos abundantes recursos naturales(agua, cobre, madera, de cierta
manera celulosa y también alimentos) demuestra que la energía nada crea
por si misma.
16
El desarrollo lo genera y lo define la concepción y la actividad
humana; situación por cierto condicionada por el escenario internacional
dominante. Sin perjuicio de las consideraciones anteriores, por el momento
nos limitaremos a constatar que en economía, como en la naturaleza,
los sistemas diversificados más maduros propenden a capturar los flujos
energéticos de los sistemas simples e inmaduros, de tal modo que éstos
no consiguen arrancar de su estado de pobreza (PASSET en referencia a
MARGALEF).
17
Por lo pronto, desde esta óptica, podemos plantear que
territorios periféricos y dependientes de las economías centrales, se mecen
15 PASSET, Susan. Principios de Bioeconomía. Madrid, España: Colección Economía Y Naturaleza, n.5, Fundación
Argentaria, Visor distribuciones /.S.A. 1979/1996, 191
16 _______. Principios de Bioeconomía, 209
17 MARGALEF, Ramón. On certain unifying principles in ecology. Revista América Nature, 1963.
Naturaleza, economia y territorio
100 |
sobre un espacio energético de usos extractivos/productivos. Diversos
estudios y agrupaciones de datos demuestran que en sistemas rurales (el
caso de áreas rurales africanas), la producción energética puede ser de 17
a 41 veces superior al número de kilocalorías gastadas bajo la forma de
trabajo humano y 4 veces superior respecto al conjunto de las energías
humanas, animales y mecánicas destinadas a obtener este resultado
(PASSET 1979/1996; en referencia a VIEIRA DA SILVA, 1977).
18
Por cierto, la incorporación tecnológica y mecánica moderna, con el
objeto de optimizar las curvas de rendimiento de las diversas producciones,
intensificando con ello los procesos de extracción/ producción, van
disminuyendo los excedentes energéticos de los territorios. En el caso de
áreas que exportan energía excedente, sin transformar las “materias primas
o sus cosechas con el fin de importar productos manufacturados, su
situación equivale a la de un sistema recorrido por unos flujos energéticos
que no utiliza para estructurarse.
19
Estas condiciones permiten a otros
beneficiarse de los mismos para construir sus actividades de trasformación;
esto es, para diversificarse y crecer a expensas de las propias posibilidades de
los exportadores.
20
Desde el punto de vista energético, en estos territorios
particulares que exportan energía por excedente, la situación todavía
se encuentra retardada en comparación con otros, de niveles de uso de
intensidad energética. ¿Por que se da está situación?, ya sea por ubicación
de aislamiento geográfico, de no contar con vías expeditas y de medios
de comunicación moderno en su momento; por no tener infraestructura
que soporte una demanda creciente sobre sus territorios, etc. No obstante,
el ciclo de uso intensivo de la energía, que conlleva mayores exigencias
energéticas con el propósito de aumentar los rendimientos industriales,
por cierto, se encuentra retardada, más no suspendida.
18 SILVA, José Vieira da. Ecologie et développement, le rôle de l´énergie. En: COLOQUIO GERMES, celebrado
los días 15 y 16 diciembre 1977, Paris.
19 PASSET, Principios de Bioeconomia, 209
20 PASSET, op. cit, 209
101
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Organización/Estructura,
acoplamiento y “recursos naturales”
Todo nuestro quehacer se vive en un sistema en continuo cambio
estructural, que se da tanto como resultado de una dinámica interna
de los seres vivos humanos y no humanos, como lo es gatillado por
sus interacciones en un medio que también está en continuo cambio
(MATURANA, 2004); no obstante todo encontrarse estructuralmente
acoplado. En esta condición esencial no nos encontramos fuera de la
naturaleza; existimos y nos realizamos en ella, hasta que el ser vivo muere
porque esta congruencia se pierde. Vivimos en una compleja estructura,
como fragmento de un todo compuesto no fuera de nosotros, sino como
parte del contenido biofísico.
En este sentido, la relación entre crecimiento económico y uso
de la naturaleza, no ha sido por cierto, equilibrada. Diego Azqueta
Oyarzún (1994), al respecto señala que son abrumadoras las razones
que llevan a pensar que el crecimiento económico se ha conseguido
a costa del entorno ambiental.
21
Este incremento se funda, al
igual que el análisis económico tradicional, y no exclusivamente el
neoclásico, en modelos, que tratan la naturaleza, el planeta, como si
fueran sistemas abiertos, en el que no existen limitaciones exteriores
al crecimiento del mismo (AZQUETA, 1994).
22
Sin embargo,
21 AZQUETA, Diego. Valoración económica de la calidad ambiental. Madrid, España: Mac Graw Hill,1994, 3
22 El concepto crecimiento desde la economía convencional hace referencia cuando la inversión neta es positiva: el
sistema invierte de tal manera “que la frontera de posibilidades de la producción se desplaza.LEDESMA, Joaquín.
Economía: teoría y política. Buenos Aires, Argentina: Pearson Prentice Hall, 2003, 29.
El efecto de lo anterior es el consiguiente aumento de los recursos disponibles, constituyendo la diferencia respecto
de una condición de estancamiento. Las ventajas mensurables son obvias: más bienes y servicios, mayores ingresos
y más empleo. Al respecto Ledesma (2003) señala que el concepto económico de crecimiento es medible y objeti-
vo: “describe la expansión de la fuerza de trabajo, del capital, del volumen del comercio y del consumo. Representa
el conjunto de capitales básicos (bienes instrumentales) con que cuenta una comunidad a los efectos de obtener
determinados fines.” LEDESMA, Economía. teoría y política, 29-30.
No obstante lo anterior, el mismo Ledesma señala que “el crecimiento, medido a través del producto, no refleja el
grado de satisfacción de necesidades ni el bienestar social, así como tampoco en qué forma y proporción se distribuye
el ingreso.” LEDESMA, Economía: teoría y política, 30.
Naturaleza, economia y territorio
102 |
debemos tener presente que somos parte de escenarios físicos
restrictivos y que nos encontramos en un sistema cerrado desde el
punto de vista de la materia, aunque abierto desde el punto de vista
de la energía, en el que las leyes de la termodinámica y de la entropía
suponen finalmente una limitación al crecimiento.
23
Seres vivos humanos y no humanos, participamos en los
fenómenos y procesos, sólo mientras la organización que los define
como seres vivos -la autopoiesis- permanece invariante. El término
autopoiesis fue concebido por el biólogo chileno Humberto Maturana
Romesín y quien junto a Francisco Varela García, otro biólogo
chileno, divulgaron mundialmente a través de conferencias, artículos
y libros, desde aproximadamente 1970.
24
Este es un concepto que
refiere a la organización de los seres vivos, no exclusiva al dominio
celular, y designa el proceso autónomo de autoorganización que,
desde su punto de vista, domina todo el proceso orgánico. Por lo
general, se reconoce en el concepto de homeostasis el antecedente de
esta idea, formulada por Cannon (1960) y aparecida por primera vez
en 1932 (ADAMS, 2001).
25
Maturana y Varela no consideran que los procesos sociales sean
autopoiéticos. Para ellos sólo se aplica a los sistemas vivos (VARELA 1979;
MATURANA y VARELA 1980).
26
No obstante, se estima que el concepto
Por tanto, desde la economía estándar se plantea que a éste indicador no se le puede exigir algo para lo cual no fue dis-
eñado. Este crecimiento, es un crecimiento cuantitativo que, en palabras de Antonio Cano (2006) es “característico
de nuestra sociedad, basado en el extender, acrecentar, crecer (que) está dilapidando en forma acelerada el patrimonio
físico que se ha ido gestando a lo largo de millones de años.” Cano, “Capitulo 6: Crecimiento”, 149
23 AZQUETA, Valoración económica, 22
24 Es el caso del artículo, Biology of cognition, report n. 9 of the Biological Computer Laboratory (EE. UU,
Universidad de Illinois, 1970).
25 Adams, al respecto señala que “Von Foerster se refiere a esa misma idea con el término heterarquía”, afirmando que
“‹los organismos vivos son sus propios administradores. No existe ‹algo› ajeno que dirija el sistema en su totalidad. El
sistema se maneja a mismo; por tanto, funciona. Se trata de una organización heterárquica, no jerárquica › (1973, p.
110).” Heinz Von Foerster, “On constructing reality.En: Wolfgang F. E. Preiser, (ed.). Enviromental Design Research.
Sturdsburg (Pa.: Dowden Hutchinson and Ross, 1973), citado en Richard N. Adams, El octavo día. La evolución social
como autoorganización de la energía (Iztapalapa, México: Ed. Universidad Autónoma Metropolitana, 2001), 116
26 VARELA, Francisco. Principles of biological autonomy. Nueva York,Oxford: North Holland,1979. RODRÍGUEZ,
103
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
es útil para aplicarlo a otros campos, por tanto es difícil rechazar esta
posibilidad en forma categórica. Si recurrimos a los argumentos de Stafford
Beer en el prefacio del libro de Maturana y Varela en 1980, Autopoiesis and
Cognition: the realization of the living, en cuanto a que si el término puede
utilizarse respecto de los procesos dinámicos que una unidad desarrolla
para mantenerse y reproducirse a misma, resulta aplicable también a
la sociedad. Este argumento es el que utiliza Richard N. Adams en su
libro El octavo día: la evolución social como autoorganización de la energía
(2001). En este sentido y siguiendo al autor, no se pretende diseñar un
modelo que abarque todos los aspectos del sistema, sino sólo los procesos
de autorreproducción que operan independientemente de otros factores
posibles, y esto sin tener en cuenta esos factores.
27
Conforme al argumento anterior, podemos señalar que el vivir
de un ser vivo transcurre en continuos cambios estructurales como
resultado de su propia dinámica interna, o gatillados en sus interacciones
(...) en y con el medio, (y) que un ser vivo conserva su organización en
un medio sólo si su estructura y la estructura del medio son congruentes
y esta congruencia se conserva.
28
Así, la organización de un sistema es
necesariamente invariante, su estructura puede cambiar. Todo sistema
se desintegra cuando en sus cambios estructurales no se conserva su
organización (MATURANA, 2004).
29
Es por ello que, lo que debemos
aceptar en este punto, es que lo vivo de un ser vivo está determinado en
él, no fuera de él”
30
y en su relación estructural con los otros seres vivos
humanos y no humanos. Existimos siempre acoplados estructuralmente
Humberto y VARELA, Francisco. Autopoiesis and cognition: the realization of the living. Dordrecht, Boston y Londres:
D. Reidel Publisching Company, 1980.
27 ADAMS. El octavo día, 117
28 MATURANA, Humberto. Biología del Fenómeno Social. Desde la biología a la psicología. Jorge Luzoro García.
(Comp.) Buenos Aires, Argentina, Ed. Lumen, 2004, p. 71-85, 75
29 Así, por ejemplo, un reloj a cuerda deja de ser reloj (pierde su organización reloj) si uno de sus cambios estruc-
turales es la ruptura de su cuerda.” Maturana, “Biología del Fenómeno Social”, 74
30 MATURANA. “Biología”,74 MATURANA. “Biología”,74
Naturaleza, economia y territorio
104 |
en un medio físico natural con el que esencialmente nos encontramos
arraigados, en términos de Polanyi (1992/2007).
La deforestación, la erosión del suelo, la escasez de agua, la
desertificación, la presión ilimitada sobre los ecosistemas con propósitos
productivos, exclusivos y excluyentes, en pos del crecimiento económico
exagerado, son manifestaciones de desestructuraciones que implican
alteraciones estructurales.
No podemos dejar de señalar que el deterioro del
llamado medio ambiente humano y natural”, incluso la contaminación del
aire y del agua, no son fenómenos nuevos; algunos de éstos datan incluso
de antes de la Revolución Industrial, por lo que pueden ser observados
bajo distintas formas e intensidades en las sociedades preindustriales y en
las economías menos desarrolladas.
31
No obstante ello, la situación cambia
radicalmente al convertirse todas estas situaciones en acumulativas con
el progreso de las modernas tecnologías industriales y con su aplicación
indiscriminada cuando el crecimiento de la población y la densidad de los
31 KAPP, Kart William. La ruptura ambiental: Un desafío a las ciencias sociales, 1970. En: Economía de los recursos
naturales: un enfoque institucional. Textos de S. V. Ciriacy- Wantrup y K. W. Kapp, Federico Aguilera Klink (Ed.)
Madrid, España: Colección Economía y Naturaleza, Serie Textos básicos, v. 2. Fundación Argentaria, Visor distribu-
ciones/ S.A., 129-148, 1995a, 129
En cuanto a los procesos iniciados en torno a la Revolución Industrial es interesante tener presente las observa-
ciones que nos plantea Jeremy Rifkin en su libro El fin del trabajo: nuevas tecnologías contra puestos de trabajo – el
nacimiento de una nueva era, 2000. El autor reconoce tres revoluciones industriales, cada una de características par-
ticulares y efectos relevantes para la historia humana. En este sentido el vapor se convirtió en el elemento substancial
de la primera revolución industrial, empleándose para abrir minas de metales, producir textiles y fabricar un amplio
abanico de productos que, en épocas anteriores, habían sido fabricados a mano. Los buques de vapor sustituyeron a
los viejos veleros y la locomotora a vapor ocupó el lugar de los vagones tirados por caballos; así se mejoró ampliamente
el proceso de transporte y movimiento de materias primas y de productos terminados (…)
La segunda revolución industrial se produjo entre 1860 y la primera guerra mundial. El petróleo empezó a competir
con el carbón mientras que la electricidad fue utilizada por primera vez, creando una nueva fuente de energía para
hacer funcionar los motores, encender las luces de las ciudades y proporcionar comunicación instantánea entre las
personas. Al igual que lo que ocurrió con la revolución del vapor, el petróleo, la electricidad y los inventos que acom-
pañaron la segunda revolución industrial continuaron trasfiriendo el peso de la actividad económica del hombre a la
maquina. En la minería, la agricultura el transporte y la fabricación, las fuentes inanimadas de potencia combinadas
con máquinas permitían aumentar, amplificar y, finalmente, sustituir cada vez más al hombre y al animal en las tar-
eas propias del proceso económico (...)
La tercera revolución industrial apareció inmediatamente después de la segunda guerra mundial y es en la actualidad
cuando empieza a tener un impacto significativo en cómo la sociedad organiza su actividad económica. Los robots
controlados numéricamente y los ordenadores y sus avanzados ‹software› están invadiendo las últimas esferas huma-
nas disponibles: el reino de la mente.” RIFKIN, Jeremy. El fin del trabajo: nuevas tecnologías contra puestos de trabajo
– el nacimiento de una nueva era. Buenos Aires, Argentina: Paidós, 2000, 85-86
105
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
asentamientos siguen tasas crecientes.
32
Por tanto, si no se conserva la
congruencia estructural entre ser vivo y naturaleza, las interacciones en el
medio gatillan en el ser vivo cambios estructurales.
33
El crecimiento industrializado irrefrenable y la deshumanización del
ser humano trasgreden e ignoran, continuamente, el sentido del límite, lo
que lleva tarde o temprano al colapso de las sociedades; esto amplificado por
las conductas miopes de las élites económicas y políticas, del aislamiento de
las mismas, de la no consideración de los costos asociados a las funciones
de crecimiento. No sólo es el colapso de la naturaleza, producto de las
prácticas productivas/económicas industrializadas, sino la forma como las
sociedades humanas reaccionan a los efectos en ella producidas, lo que
determina su capacidad de supervivencia (DIAMOND, 2007). En
estas circunstancias, pensemos en la extracción de madera en los bosques
nativos, a la situación de la Amazonia de Brasil, a la extracción de petróleo
y cobre; en general, a todos los usos que la economía le confiere a los
designados recursos naturales que son utilizados directamente en los
procesos industriales modernos.
En este sentido, especial importancia cobra el caso del agua.
34
Al
respecto, pensamos a igual que Federico Aguilera Klink (1999) en una
32 KAPP. La ruptura ambiental, 129
33 Es interesante observar que en estas condiciones se han introducido nuevos riesgos en la naturaleza y en las co-
munidades humanas, implicando una disminución de la salud física y mental de grandes volúmenes de poblaciones;
situación que conlleva una amenaza concreta para la civilización y la supervivencia humana. Un caso de este tipo son
grandes contingentes de poblaciones humanas que se encuentran bajo la presión psicológica estimulada por el ha-
cinamiento urbano (cuando se relocaliza la pobreza en áreas periféricas de las ciudades, en zonas urbanas en la cual
prevalece el principio de mayor densidad habitante por m² de suelo). Esta situación lleva a provocar el desarrollo de
síndromes de estrés (en algunos mamíferos conduce a la muerte), a crecientes frustraciones, a engendrar violencia si
perdura demasiado tiempo y a comportamientos neuróticos. Las poblaciones a su vez presionan sobre las asistencias
públicas de salud primaria, buscando auxilio sobre sus enfermedades, no necesariamente vinculadas con una base bi-
ológica.
34 Sigfried Von Ciriacy-Wantrup en un artículo de 1961, La calidad del agua, un problema para el economista en
economía de los recursos naturales: un enfoque institucional. Textos de S. V. Ciriacy-Wantrup y K. W. Kapp, Federico
Aguilera Klink (Ed.). Madrid, España: Colección Economía y Naturaleza, Serie Textos básicos, v.2. Fundación
Argentaria, Visor distribuciones /.S. A., 103-116, 1995. Trata con interesante claridad la problemática que representa
la gestión de la calidad de los “recursos naturales” en la economía de los recursos naturales, en particular el caso del
agua. El texto además analiza la incidencia de los costos y beneficios sociales en la gestión y la incidencia de estos fac-
tores en la formulación de los objetivos de la política en la gestión de la calidad del agua.
Naturaleza, economia y territorio
106 |
noción funcional del agua como activo ecosocial, por cuanto la capacidad
que tiene el agua de satisfacer todo un conjunto de funciones, no sólo
exclusivamente económicas, sino también sociales y ambientales, tanto
de carácter cuantitativo como cualitativo (...)”
35
, es cardinal. Lo anterior
se vuelve urgente para la adaptación biofísica, por cuanto el agua de que
se dispone para el consumo humano es un recurso escaso. Cano (2004)
en torno lo mismo, nos hace presente que es un elemento de conflicto
permanente y que el consumo del recurso derivado de la actividad humana
compromete su disponibilidad futura.
36
Precisamente, debemos señalar
que la cantidad de agua que se emplea depende del nivel de urbanización
y de las prácticas económicas que se dan en territorios particulares, sobre
todo en aquellos en los cuales se verifican centros urbanos que concentran
actividades industriales. En Europa, por ejemplo, el agua se utiliza en
su mayor parte en la industria que acumula el 54 por ciento del total,
la agricultura usa el 33 por ciento del agua dulce disponible y para uso
doméstico se destina el 13 por ciento restante (HINRICHSEN, D.,
ROBEY, B.; UPADHYAY, U. D.,1998).
37
Cano (2004) del mismo modo, señala que existen algunas
excepciones. Es el caso de Japón que “(utiliza la mayor parte del agua dulce
para el riego de sus arrozales; zonas áridas del sur de Europa como España
o Grecia destina los mayores porcentajes de agua dulce a la agricultura en
régimen de regadío), el consumo de agua por habitante es muy superior
35 AGUILERA, Federico. Hacia una nueva economía del agua: cuestiones fundamentales. En: ARROJO, P. y GIL,
P. Martínez (Eds.). El agua a debate desde la Universidad. Zaragoza, España. Instituto Fernando el Católico, 1-15,
1999, 5
36 CANO, Antonio. Economía y Sostenibilidad en las grandes aglomeraciones urbanas: aproximación al cálculo de la
huella ecológica de Sevilla y su área metrópolitana. Sevilla, España: Colección Economía Urbana 1, Sevilla Global
SAM, 2004,117
Al respecto, el “Informe ‹Soluciones para un mundo con escasez de agua› de e Johns Hopkins School of Public
Health, (señala que) en 1995, padecían escasez de agua (suministro anual de agua dulce renovable inferior a 1.000 m³
por persona) y tensión hídrica (suministro anual de agua dulce renovable entre 1.000 y 1.700 m³ por persona) en el
mundo 31 países con una población de 460 millones de personas; para 2025 estas cifras se elevan a 46 países y 2.800
millones de personas y para 2050 a 54 países y 4.000 millones de personas respectivamente.CANO. Economía y
Sostenibilidad, 116. Para FAO al 2025 esta cifra se eleva a 1.800 millones de personas.
37 CANO, Economía y Sostenibilidad, 117
107
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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en los países que disponen de mayores recursos monetarios. En efecto, el
consumo de agua extraída por persona y día, como promedio, asciende en
África a 47 litros, en Asia a 87 mientras que en Reino Unido se eleva a 334 y
en estados Unidos a 578 (HINRICHSEN, D., ROBEY, B.; UPADHYAY,
U.D., 1998).
38
Para España en 1999 ascendía el consumo en torno a los
246 litros por habitante y día, conforme a estadísticas oficiales del INE. En
Chile los múltiples usos que cumple (uso humano, recreacional, regadío
agrícola, industrial, entre otros), hace que su calidad sea un punto crítico
de análisis. En el país el uso del agua para fines consuntivos, alcanza un
nivel aproximado a los 650 m³/seg. de caudal continuo, entre los cuales
el riego representa el 84,5 por ciento, el uso doméstico el 4,4 por ciento
y los usos mineros e industriales representan el 11 por ciento (EULA,
2007).
39
Una persona de ingreso medio que vive en una ciudad utiliza,
en promedio, 250 litros de agua y día, distribuidos de la siguiente manera:
una ducha diaria de cinco minutos equivalente a 100 litros; descarga de
sanitario 50 litros; lavadora de ropa 30 litros; lavado de loza 27 litros; riego
de jardín 18 litros; lavar y cocinar alimentos 15 litros y otros usos como
beber o lavarse las manos 10 litros (EXPLORA, 2007). Este cuadro general
presenta importantes variaciones si se analiza desde el punto de vista
territorial. En la Región Metropolitana al norte del país, la disponibilidad
de agua por habitante es pequeña, generalmente inferior a 1000 m³/hab./
año, e inclusive en otras zonas no supera los 500 m³/hab./año (EULA,
2007). Esta área geográfica representa aproximadamente el 55 por ciento
de la población total del país.
Es indudable que la calidad del agua no solamente asegura el desarrollo
de la economía de un país como Chile, sino que fundamentalmente
38 Ibid, 117-118
39 Para Cardona (2007) y Explora (2007), el uso de agua para fines consuntivos es 695 m³/seg., de los cuales 89,2 por
ciento es para riego agrícola, el uso doméstico es equivalente a un 5,5 por ciento, correspondiente a una demanda de
38 m³/seg. y para los usos mineros e industriales es de 37 m³/seg. equivalente a un 5,3 por ciento.
Naturaleza, economia y territorio
108 |
afianza la salud de la población y de la naturaleza. Desde una perspectiva
de inserción internacional, es evidente que tanto la calidad como la
disponibilidad de este elemento es clave para el posicionamiento del país en
los mercados exteriores. Un ejemplo claro es la industria de la celulosa, que
en la actualidad es uno de los sectores más importantes a nivel nacional,
con exportaciones de unos $ 2.000 millones de dólares estadounidenses
que representan el 14 por ciento el total exportado del país. No obstante,
el volumen de producción de celulosa conlleva un consumo de agua
equivalente a más de 130 millones de m³/año (EULA, 2007).
En la cuenca del río Biobío por ejemplo, se produce el 90 por ciento
de la celulosa, el 100 por ciento del papel de diario y el 90 por ciento
de la madera aserrada del país. Al 2007 se hallaban en operación cinco
plantas industriales relacionadas con la producción de celulosa y papel,
y se proyecta que se duplique la producción, en un plazo no superior a 5
años. Esta situación, en términos de volúmenes producidos/exportados,
que se encuentra en considerable crecimiento, también se observa en otros
rubros productivos; es el caso de la minería y en plena expansión acelerada
la acuicultura del salmón.
40
En concordancia con lo anterior, Cano (2004) nos hace presente
que “la extensión del estándar de vida urbano-industrial ha incrementado
de manera considerable los requerimientos de agua.
41
Y no solamente el
requerimiento creciente sobre el recurso, sino que ha aumentado la presión
40 En la Región de Los Lagos, donde nos situamos, la producción y consumo de agua potable al 2005 en miles de m³,
fue de 55.127 (nacional 1.391.316 m³) y de 37.734 (nacional 933.119 m³) (Instituto Nacional de Estadísticas, INE,
Informe Anual, 2005), respectivamente. Entre los años 2001 y 2005, para los indicadores de producción y consumo
regional tuvo el siguiente comportamiento, en miles de m³: Producción en el 2001 52.084 (nacional 1.267.113);
2002 51.641 (nacional 1.358.052); 2003 50.878 (nacional 1.369.769); 2004 53.826 (nacional 1.366.767); 2005
55.127 (nacional 1.391.316). En cuanto a consumo en el 2001 35.825 (nacional 924.320); 2002 35.894 (nacional
926.9639); 2003 35.412 (nacional 930.075); 2004 36.573 (nacional 921.760); 2005 37.734 (nacional 933.119)
(Instituto Nacional de Estadísticas, INE, Informe Anual, IA, 2005). La cobertura de agua potable y alcantarillado a
diciembre del 2005 para la Región de Los Lagos, sobre una población urbana estimada de 717.658 personas (po-
blación nacional abastecida 13.351.126/cobertura 99,8 por ciento) era de 100 por ciento para agua potable y de un
90,9 por ciento equivalente a 652.024 personas (población nacional saneada 12.703.212/cobertura 94,9 por ciento)
(INE, IA, 2005).
41 CANO. Economía y sostenibilidad, 118
109
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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sobre las ciudades en cuanto a servicios de infraestructura básica sanitaria
(agua potable y alcantarillado para aguas servidas), educacionales y de
coberturas de salud, entro otros factores; lo anterior fruto del aumento
de la población en los centros urbanos, y al interior de las mismas, del
aumento de poblaciones marginalizadas que se ubican en las periferias
de las metrópolis, asociado a mayores niveles de cesantía, producto, entre
otros factores, de la incorporación de nuevas tecnologías de producción de
masas a los procesos industriales localizados.
Inconciliablemente la demanda creciente de agua es concurrente
con el grado de disponibilidad mundial, cada vez menor, tanto en
términos cuantitativos como cualitativos.
42
Es evidente que el aumento
de la concentración de la población en las ciudades y el fácil acceso de los
hogares al agua corriente han favorecido un distanciamiento de prácticas
de abastecimiento más sostenibles que, además, generan una mayor
conciencia de su escasez.
43
42 En 2007, más de la mitad de la población mundial vive en sectores urbanos. Estamos frente a una hegemonía de
las ciudades. La población mundial en el 2005 era de 6.450 millones de personas, el 49,1 por ciento equivalente a
3.170 millones vivían en ciudades. En América Latina el 31 por ciento de la población urbana vivía en barrios mar-
ginales, en comparación con el 35 por ciento de 1990. En el 2006 más del 53 por ciento de la población urbana
mundial vivía en ciudades de menos de 500 mil habitantes y un 22 por ciento en ciudades de entre 1 y 5 millones
de habitantes. Asía y África tienen las tasas de crecimiento urbano más altas, por ejemplo África Subsahariana un
4,58 por ciento; Asia Sudoriental un 3,82 por ciento; Asia Oriental un 3,39 por ciento; Asia Occidental un 2,96 por
ciento; Asia Meridional un 2,89 por ciento y África del Norte un 2,48 por ciento. En el 2007 unas 3.345 millones
de personas vivían en zonas urbanas. De ellas el 33 por ciento habitaba en barrios marginales de una gran urbe. Para
el 2015, 17 ciudades del mundo, tendrán más de 12 millones de habitantes cada una, de las cuales 3 (el 17,6 por
ciento) se ubican en países considerados de economías desarrolladas. Así es el caso de Tokio (36,2 millones); Bombay
(22,6 millones); Nueva Delhi (20,9 millones); Ciudad de México (20,6 millones); Sâo Paulo (19,9 millones); Nueva
York (19,7 millones); Dhaka (17,9 millones); Yakarta (17,4 millones); Lagos (17 millones); Calcuta (16,7 millones);
Karachi (16,1 millones); Buenos Aires (14,5 millones); El Cairo (13,1 millones); Los Ángeles (12,9millones); Río
de Janeiro (12 millones); Manila (12 millones) y Shangai (12 millones), de estas el 23,5 por ciento son de América
Latina y el 58,9 por ciento se concentran en África y Asia, con una población total proyectada de 202 millones de
habitantes.
En las próximas dos décadas las ciudades en vía de desarrollo absorberán el 95 por ciento del crecimiento poblacional
urbano. Entre 2005 y 2030 la tasa de crecimiento anual promedio de la población urbana mundial se encuentra esti-
mada en 1,78 por ciento. Entre 2015 y 2030 la población rural disminuirá en 155 millones de personas. Para el 2030
la población mundial se estima en 8.100 millones. Las ciudades en vías de desarrollo albergarán al 80 por ciento de
la población urbana mundial. La población urbana en Asia se encuentra estimada en 2.660 millones, en África 748
millones y Europa 685 millones, la población urbana total se encuentra proyectada en 4.940 millones equivalente a
un 61,7 por ciento. Informe sobre el estado de las ciudades del mundo 2006/7, Naciones Unidas, 2006.
43 CANO. Economía y sostenibilidad, 118-119
Naturaleza, economia y territorio
110 |
Nos encontramos atrapados en un mundo artificial, construido y
definido por las explicaciones de los fenómenos económicos que son en
esencia mecanicistas. (...) La epistemología mecanicista es responsable de
un pecado aún mayor de la economía moderna, el de la total ignorancia
del papel que juegan los recursos naturales en el proceso económico.
44
La
teoría económica estándar, modernamente clásica “no permite que ningún
cambio deje su marca en el proceso económico, sea el cambio una sequía,
una inflación o una crisis bursátil.
45
Toda explicación debe cuadrar en el
espacio construido en el cual se han empleado los supuestos necesarios de
las preguntas que se formulan, olvidando que el comportamiento de la
vida y de la naturaleza, van por otros derroteros. El proceso económico
está intrínsecamente ligado al medio físico natural, lo cual siendo un hecho
obvio no considera la limitación de stocks de todos los recursos. Es esta
condición básica, la más olvidada en la economía moderna.
Hace doscientos cincuenta años la economía mecanicista estándar,
aceite de las sociedades industriales, abandona la consideración de esta
limitación, separándose con ello de la concepción de lo vivo; focalizándose
únicamente en el progreso mecánico expresado en el crecimiento. Producto
de ello la mecanización de la eficiencia ha generado una utilización
desenfrenada de la energía, olvidando el sentido estructural con la naturaleza
y de la vida. El continuar con los ritmos de extracción de los recursos
productivoscomo el cobre o el petróleo, al ritmo del presente, nos llevará,
más temprano que tarde a la ineficiencia de este modo de vida económica,
la cual se ha consagrado como verdad absoluta. Las condiciones actuales
de diversas áreas del plantea, demuestran que no existe tecnología que sea
capaz de volver atrás, de reversar los procesos productivos en conjunto con
44 GEORGESCU–ROEGEN, Nicholas. “¿Qué puede enseñar a los economistas la termodinámica y la biología?”:
selecciones de mitos de la economía y de la energía. economía, ecología y ética. Herman Daly (Comp.). México:
FCE,1989, 308-309
45 GEORGESCU-ROEGEN, “¿Qué puede enseñar a los economistas la termodinámica y la biología?”, 308
111
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
los impactos a la naturaleza y ser estructuralmente congruente. Siempre
existe perdida de energía que se disipa en el espacio, ya sea por fricción,
por desechos que se expulsan al ambiente o por la simple perdida de una
última cuota de sensatez productiva.
Mejoras tecnológicas han llevado aparejado más costos, no sólo de
carácter monetario sino en aspectos ambientales; impactando en forma
ineficiente y volviéndose regresivas en el tiempo. En estas condiciones
debemos tener un sentido de precaución y de prevención en lo inmediato
con las tecnologías, en particular con las TICs y su sacrosanta elevación a
los altares de la adoración del conocimiento moderno (o actos acumulativos
de información). Es otro momento en la historia Frankesteniana de esta
eficiente evolución económica humanaque va alterando las estructuras de
los sistemas sociales, intentando convertirnos en autómatas que obedecen
y responden, bajo el manto ilusorio de una creciente libertad de elegir.
Sobre las bases de estos condicionamientos no podemos evadir -o
bien seguir olvidando-que los procesos de crecimiento e industrialización
surgen, prosperan y se enraízan en territorios particulares; modificándolos
y modelándolos. Estas circunstancias de tensión y de contradicción,
entre la intervención y presión sobre la naturaleza, el uso intensivo de
tecnología para el crecimiento económico, conforman una crisis moderna;
lo que en palabras de Enrique Leff Zimmerman (2004) es una crisis
ambiental”, realidad que éste concibe, en último término, como una crisis
de civilización.
En este sentido Nelson Vergara Muñoz (2005) respecto al concepto
de racionalidad ambiental de Leff señala que el rostro manifiesto de
esta crisis es la creciente degradación ecológica a la que ha conducido
una modernización que solamente ha sido permeable a la racionalidad
económica y a los valores que le son afines
46
y que la problemática
46 VERGARA, Nelson. Sobre sustentabilidad y ambientalismo: notas sobre el concepto de “Racionalidad Ambiental”
de Enrique Leff. Revista LIDER. Chile, v.13, año10, 2005, 268
Naturaleza, economia y territorio
112 |
ambiental rebasa el propósito de realizar ajustes (ecológicos) estructurales
al sistema económico y de construir un futuro sustentable a través de
acciones racionales con arreglo a valores ambientales.
47
Igualmente, nos
enfrentamos a una paradoja, por cuanto una visión económica fundada en
una pretendida racionalidad científica desatiende a sus propias estructuras
y postulados, cuando las evidencias de sus propios mecanismos les son
adversas (LEFF, 2004; VERGARA, 2005). Los datos concretos son el
reflejo de esta situación; esta resultante de crisis ambiental es un hecho
que se torna difícilmente aceptable para la economía estándar que intenta
morigerar a través de la acción ambiental sustentable de la producción; no
obstante no apartarse de la lógica de la economía moderna que pone al
descubierto la insustentabilidad ecológica de la racionalidad económica.
48
Una economía humana conciente (no inconsciente) debe romper
con el galimatías que predomina en la producción moderna, de confundir
extracción con verdadera producción sostenible.” Debemos estar concientes
ante el contraste entre la racionalidad económica propia de la modernidad,
hoy en crisis, con la racionalidad ambiental emergente de la necesidad de
superación de la crisis moderna.
49
Es por tanto equivocado, o al menos
confuso, hablar de producción de petróleocomo habitualmente lo hacen
los economistas al referirse, por ejemplo, a la extracción de minerales o
de combustibles fósiles (ALIER, Martínez y JUSMET, Roca, 2001). Así
entonces, “es erróneo emplear la misma palabra, ‹‹producción››, para
procesos distintos como la extracción de petróleo y la producción de
biomasa en la agricultura mediante el flujo actual de energía solar y la
fotosíntesis.
50
47 LEFF, Enrique. Racionalidad ambienta: la reapropiación social de la naturaleza México: Siglo XXI Editores,
2004,183. En: VERGARA. Sobre sustentabilidad y ambientalismo, 268
48 LEFF. Racionalidad ambiental, 184. En: VERGARA. Sobre sustentabilidad y ambientalismo, 269
49 VERGARA. Sobre sustentabilidad y ambientalismo, 267
50 ALIER, Joan Martínez y JUSMET, Jordi Roca. Economía ecológica y política ambienta. México: FCE, 2001, 11
113
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Como se ha señalado, nuestra concepción de la naturaleza no es
precisamente aquella basada en un sentido organicista o esencialista de la
misma, tal vez ingenuo, desprovisto de toda consideración de la realidad
material y humana, concreta, que acontece en los territorios; sino que
por contradicción moderna, tenemos que reconocer que las naturalezas
consideradas prístinas, libres de intervención económica, científica, cultural
y social, no existen. Con una industrialización acelerada, de características
extractivas; más aún acentuada en territorios periféricos, han convertido a
la naturaleza en territorios moldeados por los intereses de producción de
masas, en la cual la tecnonaturaleza (ESCOBAR, 1999) es, precisamente,
la condición natural.
51
El significado que le hemos dado a la naturaleza
se ha transformado en la historia humana, conforme a factores culturales,
socioeconómicos y políticos. Naturaleza e historia humana, por tanto, se
encuentran indisolublemente construidas y significadas como un conjunto.
Escobar (1999) en este sentido señala que el hecho de que la naturaleza
haya llegado a ser pensada de manera separada de la gente y producida a
través del trabajo, por ejemplo, está relacionado con la visión de ‹‹hombre››
producida por el capitalismo y la modernidad.
52
Las relaciones sociales, políticas y económicas, entretejidas en los
territorios, son definidas en el contexto en las cuales las experiencias de las
personas son conformadas en esta nueva realidad. Por tanto, la naturaleza
primigenia, ideológicamente naturalista, fuera de la historia y del contexto
humano se encuentra en el crepúsculo. La anterior afirmación no es la
51 Escobar (1999) al respecto señala que “el desarrollo de nuevas formas de ver ha estado directamente ligado al
surgimiento de la naturaleza capitalista: la invención de la perspectiva lineal, ligada a la pintura realista” (286). Y agre-
ga que “con el arte paisajístico, la naturaleza tomó un rol pasivo, fue privada de agentividad bajo la mirada totalizante
que creaba la impresión de unidad y control (...) la mirada fue instrumental para el nacimiento de las ciencias mod-
ernas desde el desarrollo de la medicina clínica (...) Desde el análisis de tejidos a través del microscopio y la cámara
en el siglo XIX, a la vigilancia satelital, los sistemas de información geográfica (SIG) y la sonofragía, la importancia
de la visión en el tratamiento de la naturaleza y de nosotros mismos sólo se ha acrecentado.” ESCOBAR. El final del
salvaje, 287
52 ESCOBAR. El final del salvaje, 274
Naturaleza, economia y territorio
114 |
negación del hecho fundamental, principal de la existencia de una realidad
biofísica, anterior a la existencia humana y a las relaciones sociales y,
obviamente, a las abstracciones y construcciones económicas.
No obstante, se debe enfatizar que la naturaleza es siempre
construida mediante procesos de discurso, poder y hechos, y lo que se
percibe como natural es a su vez cultural y social (ESCOBAR, 1999). La
naturaleza así se experimenta en forma diferencial conforme con nuestra
posición social, o que es producida diferencialmente por grupos o períodos
históricos disímiles.
53
En estas condiciones la naturaleza es vista como un
conjunto de “recursos/objetosseparados que se encuentran al servicio de
las acciones humanas para la producción a escala mundial, susceptibles de
ser apropiados, valorados y vendidos.
54
En definitiva, es el reconocimiento
de una naturaleza capitalizada, concebida como mercancía a través de la.
Con la consagración del sistema capitalista, la producción de la
naturaleza alcanzó un nivel nunca antes reconocido, de características
uniformes, concretas; administrable, cosechable, fordista (ESCOBAR,
1999). Todas estas características configuran lo que se define como
53 Ibid, 284
54 El caso del geólogo inglés John Houston, avecindado hace más de 10 años en Chile, es un interesante ejemplo a
conocer. Este explorador”, junto a su socio holandés Frits Reidel encontraron en 1999, a una profundidad de 150
metros una enorme “piscina” subterránea en la región de Antofagasta. Esta “mina” de agua se ubica en las áridas tier-
ras de pampa Llalqui, a 30 kilómetros de Calama. Luego de tres años de batallas judiciales, logró vender los derechos
a casi 40 millones de dólares estadounidenses a la minera canadiense de la zona Quadra Minig, para su proyecto en
Sierra Gorda.
En 1998 y luego de conseguir capitales europeos, Houston y Reidel formaron la empresa de explotación Nazca, con
el fin de buscar agua “chilena” de interés para las minas del norte. Después de diversos trámites y disputas legales, la
Corte de Apelaciones de Antofagasta, y luego la Corte Suprema falló a favor de Nazca, ratificando con ello, la propie-
dad de sus derechos de agua de la reserva, los que en el 2004 habían sido otorgados por la Dirección General de Aguas
(DGA), poniendo un “escudo judicial” al caso y determinando la factibilidad del negocio.
Se plantea que es un negocio inédito en el país, en cuanto a vender un activo enterrado y que no se ve. Como el agua
no es potable, el primer grupo potencial de interesados se reducía a las grandes mineras ubicadas -con operaciones o
proyectos- en el Norte Grande, cuya segunda opción era invertir en plantas desalinizadoras a miles de kilómetros y a
un costo a lo menos del doble que la compra de los nuevos derechos.
Sin embargo, durante los años de contienda legal, por diversas razones y argumentos, públicos y privados, diferentes
organizaciones plantearon su oposición en torno a la discusión de los derechos y la capacidad de la reserva, fue el caso
de Essan (la sanitaria de Antofagasta que hoy es parte de Econsa), la Municipalidad de Calama, la empresa Soquimich
y la Compañía Minera Ecuatorial Resources. Carolina Gutiérrez, Economía y Negocios Domingo, El Mercurio, 14
de septiembre, 2008, B5
115
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
tecnonaturaleza.
55
En Chile, es el caso de la industria acuícola del salmón,
que se emplaza en el sur del país, Región de Los Lagos y que se verifica
en el uso industrial del territorio y de los recursosde la naturaleza, en
particular del agua mar, como agua dulce.
En estas condiciones al estudio de la naturaleza como mercancía, es
necesario investigar cómo ésta ha sido gubernamentalizada por los aparatos
del Estado y del conocimiento, es decir, hecha objeto del conocimiento
experto, regulada, simplificada, disciplinada, administrada, planificada.
56
En la materia, son las concesiones privatizadas del uso del agua que utiliza
la acuicultura industrial del salmón, en las cuales se pueden disponer
físicamente los artefactos y mecanismos en las áreas decretadas para ello,
como son las balsas jaulas de cultivo; esto asegurado por las normas que
regulan la explotación en áreas de manejo en mar, ríos y lagos. Si bien
existen otras formas de producirsalmones, como es el caso de piscicultura
de agua dulce, en algún río o lago, la más empleada es a la que hacemos
referencia, siendo ésta la más aclaratoria en cuanto a impactos sociales y
espaciales que implican la utilización de la naturaleza; en este caso el uso
extendido del recurso agua mar.
El mar, como bien público vital, paso a ser privatizado, sembrado,
cosechado y tratado como bien privado, amparado en regulaciones
protectoras que hoy se encuentran en discusión, por ser estas máximas
garantías para el privado y mínimas para el bien ecosistémico. Este hecho
importa fundamentalmente, por cuanto nos encontramos frente a otra
contradicción, no sólo denominada como paradoja del crecimiento, como
la califica la industria acuícola, sino que, precisamente son estas condiciones
y objeciones, las que se han vuelto un obstáculo para continuar
acrecentando la acumulación del capital de la misma industria.
57
55 Escobar (1999) identifica tres regímenes de naturaleza, esto es naturaleza orgánica, naturaleza capitalista y tecno-
naturaleza. Al respecto se sugiere revisar su libro, El final del salvaje: naturaleza, cultura y política en la antropología
contemporánea (1999), en especial el Capítulo 10, El mundo PostNatural: elementos para una ecología política anti-
esencialista.
56 ESCOBAR. El final del salvaje, 288
57 Si seguimos el argumento de Escobar (1999) lo anterior es motivado por la competencia entre capitales
Naturaleza, economia y territorio
116 |
En este sentido, Escobar (1999) citando a James O’ Connor (1988)
argumenta que esta situación es otra dimensión denominada como
una segunda contradicción del capitalismo y que “la reestructuración
capitalista es llevada a cabo hoy día básicamente a expensas de las
‹‹condiciones de producción››: el trabajo, la tierra, el espacio, el cuerpo,
esto es, de aquellos elementos de producción que no son producidos como
mercancías, así sean tratados como tales.
58
Esto recuerda el argumento de
Polanyi (1992/2007) cuando hace una distinción entre mercancías reales
y ficticias, señalando que las mercancías son algo que se produce para
venderse en un mercado.
En estas condiciones, nos encontramos frente a una negación
tensionante, entre regimenes distintos de naturaleza. Una de estas se
encuentra en privación con otra. Por una parte la intervención mecánica e
industrial configura un tipo de naturaleza (la tecnonaturaleza) y por otra
una de carácter orgánica (ESCOBAR, 1999). Si bien es cierto el término
orgánico connota pureza, integridad, atemporalidad, etc., seguiremos
el planteamiento de Escobar (1999) en cuanto a utilizarlo como un
régimen histórico y ocuparlo como un punto de base para la construcción
teórica para la acción política.
59
Un aspecto esencial de representación
cualitativa de este último régimen es el hecho de que la naturaleza no se
encuentra separada por fronteras ontológicas con la sociedad (ESCOBAR,
1999). En los territorios que han sido intervenidos a escala industrial, las
individuales, esta reestructuración significa la profundización de la intrusión del capitalismo en la naturaleza y el
trabajo, el agravamiento de la crisis ecológica, y un deterioro adicional de las condiciones de producción y de la repro-
ducción de estas condiciones. Esta reestructuración es contradictoria para el capital, que busca sobreponerse a esta
dinámica a través de una variedad de medidas, que no resuelven sino que desplazan la contradicción hacia otros ter-
renos. Desde finales de los ochenta, se ha mantenido un debate activo alrededor de esta tesis en la revista Capitalism,
Nature, Socialism”. ESCOBAR. El final del salvaje, 290
58 ESCOBAR. El final del salvaje, 290
59 Este aspecto lo entrelazamos con los aportes de Enrique Leff, sobre todo aquellos planteados en Ecología y capital:
racionalidad ambiental, democracia participativa y desarrollo sustentable (2001,4ta.edición) y Racionalidad ambien-
tal: la reapropiación social de la naturaleza (2004), las contribuciones específicas de Sigfried Von Ciriacy-Wantrup
y Karl William Kapp contenidas en el interesante texto Economía de los recursos naturales: un enfoque institucional
(1996), los planteamientos de Juan Martínez Alier y Klaus Schlüpmann en La ecología y la economía (1992, 2da.
edición), y el texto de Juan Martínez Alier y Jordi Roca Jusmet, Economía ecológica y política ambiental (2001).
117
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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sociedades locales se autoreconocen y se autoidentifican culturalmente no
sólo desde la naturaleza no manipulada industrialmente, sino que desde
una naturaleza orgánica en cuanto a suministrar recursos asociados a
una economía familiar, no de subsistencia; coligada, desde la óptica de la
economía convencional, a sociedades primitivas.
60
En estas circunstancias, dable es preguntarnos, a igual como Escobar
(1999) “¿será que las tecnonaturalezas podrán desarrollar capacidades
humanas para sostener y cuidar la vida o, por el contrario, llevarán hacia
la subordinación de la vida a la tecnología y a la producción de valor?”
61
O bien, como el mismo autor pregunta “¿podría ser también porque
las construcciones básicas con las cuales la modernidad nos ha equipado
para está búsqueda- incluyendo la naturaleza, la cultura, así como la
sociedad, la política y la economía- ya no nos permiten cuestionamientos a
nosotros mismos y a la naturaleza, de formas que pueden darnos respuestas
novedosas?”
62
Ecointegración analítica
Si examinamos el planteamiento de José Manuel Naredo (2003), este
intenta reconciliar los enfoques económicos y ecológicos-evitando la actual
disociación- en una misma raíz eco la utilidad (económica) propugnada
por aquellos con la estabilidad (ecológica) perseguida por éstos, precisando
60 Al respecto es interesante advertir que en los últimos años se han desarrollado un conjunto de trabajos que
desmitifican la creencia extendida de que las llamadas sociedades primitivas eran “economías de subsistencia” que con
esfuerzo podían obtener recursos para su alimentación. Naredo (2003) señala que “libros como el de Marshall Sahlins
- Edad de Piedra, edad de abundancia-(...) o el de Pierre Clastres- La sociedad contra el Estado-(...) ponen de manifiesto
que las sociedades de este tipo se encontraban normalmente por encima del mínimo de subsistencia y dedicaban a
ésta sólo una parte de lo que hoy se considera jornada normal de trabajo.” NAREDO, José Manuel. La economía en
evolución: historia y perspectivas de las categorías básicas del pensamiento económico. Madrid, España: Siglo Veintiuno de
España Editores, 2003, 44
61 ESCOBAR. El final del salvaje, 301
Al respecto existen diversas posiciones, generalmente polarizadas, oscilando entre los extremos de la aceptación
acrítica o la demonización de las nuevas tecnologías. Ello depende de cómo enfrentemos o abordemos las nuevas
tecnociencas.
62 ESCOBAR. El final del salvaje, 274
Naturaleza, economia y territorio
118 |
con claridad el contenido y el alcance de las contradicciones que puedan
plantearse entre ambos niveles.
63
Este enfoque resalta las diferencias con la
visión económica corriente, diferenciando el objeto y método de estudio
hasta el instrumental analítico empleado y las metas que se proponen,
pasando por el sistema en el que se agrupan y conectan.
64
En la orientación ecointegradora apreciamos que los objetos
económicos se definen directamente y no por intermediación de los valores
de cambio, por tanto la noción de objeto económico es un concepto no
teórico, en contraste de lo que ocurre en el enfoque habitual. A diferencia
del estándar, en la perspectiva ecointegradora el objeto de estudio se define
en forma explícita, señalando que comprende los materiales y la energía
relacionados con el territorio de referencia y los procesos vitales que en él se
desenvuelven, mientras que en el enfoque económico corriente lo hace
implícitamente al ocuparse sólo de aquellos objetos que tienen un valor de
cambio -de mercado, administrado o imputado- positivo.
65
La visión ecointegradora abarca en toda su magnitud el traslado
de materiales y de energía que tienen lugar en un territorio específico,
mientras que el enfoque económico crematístico se centra en el transporte
de objetos con valor de cambio positivo, quedando el resto -lo que no es
posible de ser medido o lo que no tiene valor monetario- fuera de sus esquemas
analíticos. En la acción económica estándar no se internalizan los efectos
conformes a la actividad de producción, estos siempre se externalizan, a lo
más, parcialmente se les da un valor monetario que se tienden a transferir
como costos a productos o servicios agregados de la actividad económica y
no como parte de las consecuencias propias de la acción de producción.
En este sentido, la economía no debe relegar a la naturaleza,
como parte constitutiva y soporte de las mismas actividades productivas,
63 NAREDO. La Economía en Evolución, 506
64 Ibid.
65 Ibid.
119
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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como también a los territorios en las cuales se emplazan. Olvidar estos
fundamentales elementos, es acelerar y hacer presente aun más próxima,
las limitaciones del crecimiento físico de la misma actividad económica
Es así que el desarrollo de la actividad económica como parte de ese
universo más amplio, en el cual se encuentra incluída, es lo que conduce a
considerar al sistema económico como un sistema abierto no circunscrito
exclusivamente a las valoraciones monetarias.
66
Cano (2004), en este
sentido argumenta que “la economía como un sistema cerrado olvida que
lo económico consiste, fundamentalmente, en transformar la naturaleza y
en consecuencia, no puede sustraerse de la relación con ésta
67
y asimismo,
nos recuerda que Alfred Marshall (1963) adopta una posición más
próxima a una concepción más abierta de la economía al considerar que
la economía es una ciencia de la vida, más próxima a la biología que a la
mecánica.
68
A lo anterior, no podemos dejar de señalar que para Nicholas
Georgescu-Roegen (1989) el proceso económico está inseparablemente
ligado al medio ambiente material.
69
Esta condición, es obvia y cardinal.
Sin embargo, esta condición obvia y esencial es la más olvidada en la
economía convencional, por cuanto todo ello es el resultado de concebir
la economía como un sistema cerrado que opera exclusivamente en el
ámbito de los valores monetarios y, por esta razón, desconsidera, en gran
medida, los aspectos ambientales.
70
Producción, crecimiento y pauperización ambiental se presentan
como elementos unidos. El caso moderno de experimentos de mercados
autorregulados se muestra entonces como un fracaso (POLANYI,
1992/2007).
71
Este empobrecimiento paulatino de grandes poblaciones
66 CANO. Economía y sostenibilidad, 27
En este punto debemos tener presente que un sistema es abierto, cuando éste intercambia materia, energía o in-
formación con el medio. ROBIN, Jacques. De la Croissance économique au développement humain. Paris: Francia,
Seuil,1975, 75
67 CANO. Economía y sostenibilidad , 27
68 CANO. Economía y sostenibilidad, 27
69 GEORGESCU-ROEGEN, Nicholas. “¿Qué puede enseñar a los economistas la termodinámica y la biología?”,
309
70 CANO. Economía y sostenibilidad, 26
71 La tesis central de Karl Polanyi respecto a los mercados autorregulados, expuesto magistralmente en su libro
Naturaleza, economia y territorio
120 |
humanas a nivel planetario se ha vuelto progresivo, lo cual es el reflejo
del fracaso de un modelo convencional de economía. Cano (2006), en
este sentido, argumenta que tras más de cincuenta años de crecimiento
sostenido, lejos de reducirse la brecha entre la población más rica y la
población más pobre del planeta, más allá de superarse las desigualdades
entre los diferentes territorios, las distancias que los separan han ido
ampliándose.
72
Esta situación no se presenta aislada, se revela acompañada
por un deterioro ambiental sin precedentes. Los últimos cincuenta años
han sido los más devastadores de toda la historia de la humanidad.
73
La Gran Transformación: los orígenes políticos y económicos de nuestro tiempo (1992, FCE, México) (Buenos Aires,
Argentina: FCE, 1ra. Edición Argentina, 2007) con prólogo de Joseph E. Stiglitz e introducción de Fred Block, argu-
menta que el libre mercado (autorregulado) es un mito, por cuanto nunca hubo un sistema de mercado autorregulado
de verdad libre. La ciencia económica y la historia económica han llegado a reconocer la validez de los argumentos
de Polanyi. Los países industrializados de hoy son producto –no exclusivo- de las intervenciones de sus gobiernos, a
través de su papel activo, no sólo en la protección de sus industrias mediante aranceles, sino también en la promo-
ción de nuevas tecnologías Prólogo de STIGLITZ, J. E. En: POLANYI, K. La gran transformación, 2007. Y agrega
Stiglitz “que los mercados autorregulados nunca funcionan; sus deficiencias, no sólo en lo tocante a sus mecanismos
internos sino también a sus consecuencias (es decir, respecto a los pobres), son tan grandes que se hace necesaria la
intervención gubernamental; y el ritmo del cambio es de importancia total para determinar estas consecuencias. El
análisis de Polanyi deja en claro que las doctrinas populares de la economía del goteo-según las cuales todos, incluso
los pobres, se benefician del crecimiento- tienen poco sustento histórico. También aclara el rejuego entre ideologías e
intereses particulares: la forma en que la ideología del libre mercado fue el pretexto de nuevos intereses industriales, y
cómo tales intereses se valieron de forma selectiva de esa ideología, al apelar a la intervención gubernamental cuando
la necesitaban en beneficio de sus propios intereses.” Prólogo de STIGLITZ, J. E. En: POLANYI, K. La gran trans-
formación, 9
72 CANO. Capitulo 6: Crecimiento, 146
Para muestra, sólo en el caso de los Estados Unidos la concentración de riqueza se mantuvo hasta cierto punto estable
entre 1963 y 1983. No obstante, en la década de los años 80, la diferencia salarial empieza a crecer en forma dramáti-
ca. Aproximadamente hacia 1989-1990, el 0,5 por ciento de las familias con mayor riqueza del país era propietario
del 30 por ciento de las rentas patrimoniales netas, lo que representaba un incremento del 4,1 por ciento sobre el nivel
equivalente de 1983. En 1989, el 1 por ciento de las familias ingresaban el 14,1 por ciento de los ingresos totales de
los Estados Unidos y era propietario del 38,3 por ciento de las rentas totales netas y del 50,3 por ciento de la totalidad
de los activos financieros netos del país (RIFKIN, 2000).
Menos del 0,5 por ciento de la población estadounidense a 1996, posee el 37,4 por ciento de la totalidad de los ac-
tivos empresariales privados del país. Por debajo de este nivel se ubican una pequeña clase alta formada por el 4 por
ciento de la población, constituida por nuevos profesionales ligados a las nuevas tecnologías, “los analistas teóricos
especializados o los trabajadores con grandes conocimientos que gestionan la nueva informaron economía basada en
la alta tecnología. Este pequeño grupo, constituido por menos de 3,8 millones de individuos,
recibe una cantidad equivalente al grupo inferior formado por el 51% de los trabajadores americanos, que totalizan
más de 49,2 millones de personas.” RIFKIN. El fin del trabajo, 211
En el caso chileno para el año 2006, conforme a la encuesta CASEN 2006, el 1 por ciento de la población con may-
ores ingresos obtiene el 10,3 por ciento del ingreso nacional total. Lo anterior equivale a 43.000 familias, de las cuales
más del 50 por ciento se ubican en zonas urbanizadas del sector oriente de Santiago, específicamente en las comunas
de Las Condes, Vitacura y Providencia.
73 CANO. Capitulo 6: Crecimiento, 147
El mismo autor citando un trabajo de Vitousek et al. argumenta que estos “estimaron, en 1986, que la economía
121
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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La economía convencional como sistema cerrado no ha previsto en
su andar cuestiones de importancia planetaria. La crisis ambiental y el abuso
de la naturaleza, con prácticas extractivas/productivas, es una cuestión
fundamental, no prevista y no incorporada en los modelamiemtos de la
teoría económica estándar. Diversas razones fueron base de esta situación,
una de ellas es la convicción profunda en que el mercado otorgaría
soluciones óptimas a los problemas económicos, sociales y ambientales
generados por el sistema económico dominante.
Lo anterior lleva a abandonar el enfoque parcelario de la economía
convencional, forzando a transitar desde una visión cerrada o semicerrada de
la economía, a adoptar una posición de sistemas abiertos para el análisis de
los procesos económicos. Cada día nos damos tardíamente cuenta de que las
relaciones entre ser humano y naturaleza no son relaciones de intercambio
monetario. El hecho de reformular los conceptos fundamentales de la teoría
económica y el transitar desde una visión cerrada a sistemas abiertos, lleva
a reconsiderar términos dados como absolutos, tales como los costos y los
beneficios, y los conceptos relacionados de optimalidad y la acción racional.
(...) (Los cuales) necesitan una interpretación más amplia y, de hecho, han
de reformularse con respecto a las consecuencias ambientales potenciales y
actuales de la producción, la elección de tecnología, la asignación de inputs
y la elección de la localización.
74
El actual estado mundial exige no tratar las funciones de producción
como resueltas, determinadas en un abstracto simbólico; sino que por el
humana estaba utilizando-directa o indirectamente-aproximadamente el 40 por ciento de la producción primaria de
fotosíntesis terrestre. La actividad humana, de otro lado, arroja a la atmósfera cada año en torno a 7.000 millones de
toneladas de C0², procedentes de la combustión de combustibles fósiles. Y, por último, a pesar de que la fertilidad del
suelo es básica en el mantenimiento de la vida humana en la tierra, ya que el 97 por ciento de los alimentos proceden
de él, más del 35 por ciento del suelo terrestre esta ya degradado.Cano, “Capitulo 6: Crecimiento”, 147, tomado
de Robert Goodland et al., La tesis de que el mundo está en sus límites” en Medio ambiente y desarrollo sostenible.
Más allá del Informe Brundtland. Robert Goodland, Herman Daly, Salah El Serafy. Bernd von Droste (Eds.). (Madrid:
Editorial Trotta, Serie Medio Ambiente, 1997.
74 KAPP. La crisis ambiental y la economía política, 1972. En: Economía de los recursos naturales: un enfoque insti-
tucional. Textos de S. V. Ciriacy- Wantrup y K. W. Kapp, Federico Aguilera Klink (Ed.) Madrid, España: Colección
Economía y Naturaleza, Serie Textos básicos, v. 2. Fundación Argentaria, Visor distribuciones /.S.A., 239-246,
1995b, 242
Naturaleza, economia y territorio
122 |
contrario, reclama cambiarse, es decir, seleccionarse, adaptarse en razón
de sus consecuencias ambientales. La situación ambiental, que se vive en
diferentes zonas de la tierra, lleva a abandonar una postura convencional
de una evaluación de los valores ambientales expresados en términos
monetarios, de valores de mercado y en función de la disposición de pago
del individuo que contamina.
El empobrecimiento progresivo de poblaciones y el deterioro
ambiental se han convertido en expresiones de una misma enfermedad
sistémica, peligrosos síntomas de agotamiento de una forma de pensar y
actuar. Entonces, ¿por qué los economistas convencionales, entre los cuales
se encuentran los historiadores económicos, han prestado poco interés en
introducir nuevos enfoques, incorporando otros aportes interdisciplinarios?
y ¿por qué no se ha adoptado con fuerza la crítica ecológica de la economía?
(MARTÍNEZ ALIER y SCHLÜPMANN, 1993).
75
Estas inquietudes
deben llevar a correr la cortina sobre temas que se encuentran ocultos en el
pensamiento dominante, con el objeto de producir la reconsideración de
las estructuras bases de la economía estándar. Como nos plantea Naredo
(2001), en esta relación sistémica y compleja, debemos ampliar el objeto
de estudio más allá del campo de lo apropiable, valorable y productible.
76
Consideraciones finales
Por las consideraciones anteriores, debemos entender que los
procesos sociales actuales se encuentran no hace cientos, sino hace decenas
de miles de años. Si seguimos a Jared Diamond (2007) nos obligamos a dar
75 ALIER, Joan Martínez y SCHLÜPMANN, Klaus. La ecología y la economía. México, DF: FCE, 2003.
76 NAREDO, José Manuel. “Economía y sostenibilidad: la economía ecológica en perspectiva. Polis, Revista
Académica. Chile: Universidad Bolivariana. Revista On-Line de la Universidad Bolivariana, v. 1 n. 1, p.1-27, ,2001,
23
123
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
un nuevo significado de la “idea de macroprocesoy a las explicaciones
de path dependency, para las que es necesario entender una cadena de
hechos, que se desarrollan en una suerte de efecto dominó, para explicar
un determinado desenlace”.
77
Varios determinismos económicos, desde el
marxismo hasta la ortodoxia neoliberal, parecen estar de acuerdo, en poner
a la economía, como el factor decisivo en el suceder de las sociedades. Sin
embargo no estimamos solamente que sea la economía que actúa en este
tinglado, sino el contexto ambiental intervenido lo que determina el curso
de las sociedades; que perduren o bien, desaparezcan.
El deterioro ambiental, el cambio climático, el crecimiento
demográfico abrupto y ciertas decisiones políticas miserables son las
principales causas del colapso de una sociedad. Sin duda estamos haciendo
presente los temores que ya expresaban en 1971 la publicación del I Informe
Los límites del crecimiento del equipo Meadows, Meadows & Randers, del
Instituto Tecnológico de Massachussets (MIT), a iniciativa del Club de
Roma, el cual alertaba sobre un eventual colapso mundial por el exceso de
población. No se trata de caer fácilmente en lo que algunos denominan
falacia de las tendencias ininterrumpidas, al considerar que patrones
observados en un momento se mantendrán en el tiempo, tampoco, de
sobre simplificación de una realidad en particular y tomar como único un
determinismo ambiental en que “las ideas son casi irrelevantes comparadas
con los microbios y los vientos.
78
Por cierto, son las ideas modernas
que orientan la explotación de la naturaleza, las que preocupan y que
han llevado la cuestión del crecimiento industrial y la degradación del
ambiente a niveles de desestructuración. Quizás muchas críticas al respecto
pueden ser atendibles. No obstante, ¿Cómo saber si el deterioro ambiental
77 HEISS, Claudia. El suicidio de las civilizaciones: la tercera cultura, 3 de febrero, 2007, 14
78 EASTERBROOK, Gregg. New York Times Book Review 2006. En: HEISS. El suicidio de las civilizaciones, 14
Naturaleza, economia y territorio
124 |
es la raíz o un síntoma más de crisis políticas, sociales o económicas?
79
Tampoco debemos caer en un determinismo de la acción humana y dejar
de considerar la variable relevante del sol, en razón de sus efectos sobre la
corteza terrestre y sobre los ecosistemas humanos y no humanos, fuera de
la ecuación.
Lo importante más allá de los cuestionamientos simplistas o facilistas,
es alertar frente a miradas cortoplacistas de sociedades contemporáneas
avanzadas, en especial la estadounidense, respecto a los peligros que
encierra la ausencia de precaución en el uso y explotación de los llamados
recursos naturales”; ciertamente limitados. Por tanto, ya no es tan sólo
la preocupación por la restricción de los stocks físicos de los recursos
naturales capitalizados, que son la base económica exportadora de los
llamados países emergentes, sino, que después de 60 años de la creación
de la International Union for the Conservation of Nature, el problema se
profundiza más allá de la mecánica cerrada del mercado.
El punto actual es el agotamiento, ya no de forma exclusiva en las
economías centrales de sus materias primas naturales, que implican, por
cierto, la expansión y búsqueda globalizada de los capitales por nuevos
territorios. En este sentido la inquietud cobra relevancia en cuanto a que al
ocurrir un proceso generalizado de descapitalización, de carácter profundo,
el sistema capitalista se reestructura, con el objeto de “mejorar los niveles
de productividad del núcleo más dinámico del aparato productivo en aras
de recuperar las tasas de rentabilidad.
80
Persistentemente, no obstante
cambiar los medios, los fines son los mismos (DELGADO, 2002) en el
capitalismo.
79 DIAMOND, Jared. Colapso: por qué unas sociedades perduran y otras desaparecen. México: Random House
Mondadori de Bolsillo, 2007. En: HEISS, 14.
80 CABEZA, Manuel Delgado. Andalucía en la otra cara de la globalización. Sevilla, España: Colección Andalucía
XXI, Mergablum, 2002, 37
125
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Como nos hace presente Diamond (2007), en el caso del imperio
maya, este no colapsó solamente por el agotamiento de los recursos
naturales circundantes, provocados por la explotación de su sociedad, sino
porque su élite, su institucionalidad política logró mantenerse aislada de la
internalización de los costos de la depredación y deforestación provocada;
obviamente hasta que fue demasiado tarde. Los colonos noruegos de
Groenlandia perecieron al ser incapaces de adaptar su forma de vida a
las nuevas condiciones ambientales. Precisamente, no es exclusivamente
la naturaleza el único determinante, sino la forma como las sociedades y
sus prácticas institucionales y las poblaciones que reaccionan a él, lo que
determina su capacidad de supervivencia.
En estas condiciones, no se puede controlar la contaminación y el
consecuente deterioro ambiental con la aplicación exclusiva del mismo
mecanismo monetario propio del mercado. Por tanto, es de suma urgencia
adoptar objetivos ambientales explícitos, no utilizando el dinero, a modo
de magnitud monetaria, como expresión común de valor. La situación
ambiental planetaria, de creciente crisis, llama a adoptar medidas al
interior del mercado como fuera del mecanismo del mismo; en el ámbito
político, por ejemplo, con el objeto de impulsar y aplicar prescripciones
y prohibiciones absolutas, las cuales deben ser comprendidas como
restricciones de libertad comercial a aquellos, que son, evidentemente,
contribuyentes concretos y en mayor grado, de la agresión ambiental.
Naturaleza, economia y territorio
126 |
127
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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EL YACIYATERÉ DE HORACIO QUIROGA
E O SACI-PERERÊ BRASILEIRO:
um diálogo entre mitos latino-americanos
Alice Signorini Feldens
“Li todos os contos de Quiroga na adolescência, e acreditei em to-
dos. Eu era, como vocês devem ter deduzido, mentalmente são,
mas impressionável”.
Guillermo Cabrera Infante
Antes de iniciar uma análise mais aprofundada sobre o conto El
yaciyateré, do escritor uruguaio Horacio Quiroga, acredito que seja
importante citar alguns fatos bastante curiosos sobre sua vida e sobre a
região na qual se passa o conto. Nascido na cidade de Salto, no Uruguai,
no último dia de 1878, Quiroga foi um dos grandes fundadores do conto
moderno e um dos autores mais importantes para a renovação da literatura
hispano-americana em inícios do século vinte. Integrou vários movimentos
boêmios de Montevidéu e viveu ainda muito anos em Buenos Aires, onde
foi professor de castelhano e conheceu, entre outros escritores da época,
Jorge Luiz Borges e Leopoldo Lugones. Colaborou em várias revistas e
jornais literários e trabalhou como fotógrafo em uma expedição às ruínas
jesuíticas de Missiones, onde morou por um bom tempo.
A existência trágica do autor está presente na sua obra, como se viver
fosse andar sempre na companhia da morte. Sua vida foi marcada pela
falta de meios econômicos, matrimônios turbulentos, suicídios e mortes
trágicas: seu pai morreu em um acidente, enquanto caçava patos na divisa
com a Argentina; pouco depois, seu padrasto se suicidou. Por razões de
doença, perdeu dois de seus irmãos; anos depois, disparou acidentalmente
uma bala em seu melhor amigo, que faleceu. Logo após a lua de mel de seu
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
128 |
primeiro casamento, obrigou a jovem esposa a morar com ele na selva de
Santo Inácio. Ela não agüentou e se suicidou. Quiroga volta para Buenos
Aires e casa-se então com Maria Bravo. Pouco depois, eles se mudam para
a região de Missiones. A nova esposa também não suporta a rotina na selva
e acaba abandonado o marido. Em 1937, ao saber que sofria de um câncer
gástrico, Quiroga suicida-se, ingerindo cianureto. Em seguida, seus três
filhos também se suicidam.
Pelo fato de ter vivido durante muitos anos na selva argentina, em
meio a índios guarani, Quiroga adquiriu experiência e conhecimento sobre
a realidade dessa região e, possivelmente, foi a partir daí que encontrou
vários temas para suas histórias. Por exemplo, na região onde se passa o
referido conto El Yaciyateré, hoje temos as Ruínas de Santo Ignácio, que
foram fundadas em 1610, na divisa da Argentina com o Brasil (Paraná),
por missioneiros católicos da Companhia de Jesus - os jesuítas. Em 1631
elas foram transladadas às margens do rio Yabeberí (do guarani, rio das
arraias”) e, em 1696, ao seu lugar atual. Suas mudanças se deram devido à
necessidade de resguardar-se da permanente possibilidade de invasão dos
bandeirantes. Santo Ignácio não foi a maior missão jesuítica, mas foi sem
dúvida uma das mais bem administradas e organizadas. Sob a direção dos
sacerdotes viviam cerca de 3.000 índios guaranis, com aproximadamente
40.000 cabeças de gado e 1.400 cavalos, cultivando grandes extensões de
erva-mate e de algodão. Os jesuítas, desobedecendo a instruções reais,
ensinaram espanhol e latim aos índios guarani.
Em seu atual estado de conservação é possível reconstruir o traçado
urbanístico original Praça das Armas, igreja, residências dos sacerdotes,
armazéns, oficinas, colégio, cemitério e hospitais. Depois da expulsão dos
jesuítas, os guaranis se dispersaram e a cidade ficou totalmente abandonada.
Em 1939 o Governo Argentino começou a recuperação das ruínas que,
em 1949, foram declaradas Monumento Histórico Nacional e em 1986
foram reconhecidas pela UNESCO (Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura) como Patrimônio Cultural da
129
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Humanidade. É possível ainda, visitar em Santo Ignácio, a casa onde viveu
Horacio Quiroga, totalmente rodeada pela selva e pelo rio.
O conto El Yaciyateré foi publicado em 1921, junto ao livro
Anaconda. Nessa coletânea, cada conto é um labirinto alucinante no qual o
homem se debate contra a morte e onde o próprio leitor fica prisioneiro do
pavor, da surpresa e do humor. Estes contos envolvem-nos num universo
obsessivo onde o perigo da selva tropical, repleta de répteis e de animais
estranhos, junto às febres e ao calor asfixiante, se unem aos delírios das
sombras e dos pesadelos. Quiroga escreveu outros livros, entre os quais:
Decálogo do Perfeito Contista, Contos da Selva, Histórias de um Louco
Amor, Uma Estação de Amor, Passado Amor e Contos de Amor, Loucura
e Morte.
No conto El Yaciyateré um narrador que conta uma experiência
pela qual passou, envolvendo o mito do yaci yateré, que seria uma espécie
de saci pererê da Argentina, Uruguai e Paraguai, conforme se vê no trecho
a seguir:
Isso aqui se trata de uma simples superstição. Os povos do sul di-
zem que o yaciyateré é um grande e deselegante pássaro que canta
de noite. Eu não o vi, mas o ouvi mil vezes. O cantinho é muito
fino e melancólico. Repetitivo e envolvente, como isso mais. Mas
no norte, o yaciyateré é outra coisa.
1
[Tradução minha]
Na história, o narrador relembra fatos do passado, quando foi
velejar de canoa com um amigo pelo rio Paraná, na região de Missões, na
Argentina. O passeio ia muito bem, até que, em determinado momento,
uma tempestade chegou e mudou completamente o rio, tornando-o
1 Se trata aquí de una simple superstición. La gente del sur dice que el yaciyateré es um pajarraco desgarbado que
canta de noche. Yo no lo he visto, pero lo he oído mil veces. El cantito es muy fino y melancólico. Repetido y obse-
diante, como el que más. Pero em el norte, el yaciyateré, es outra cosa (QUIROGA. El yaciyateré In Anaconda).
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
130 |
agitado e cheio de ondas perigosas. E foi uma dessas ondas que os lançou
para fora do rio. era noite e os dois amigos estavam no meio da selva,
com as roupas encharcadas, morrendo de frio. Avistaram um rancho
e decidiram para por ali, a fim de secar suas roupas no fogão. havia
um peão, sua esposa e três garotinhos, sendo que um deles se encontrava
doente na cama, com meningite.
__ O que ele tem? - perguntamos.
__Está doente. responderam os pais, depois de voltar por um
momento a cabeça para a rede.
Ficaram sentados, indiferentes. Os garotos, entretanto, eram todos
olhos para o lado de fora. Então, neste momento, bem longe, can-
tou o yaciyateré. Instantaneamente os garotos cobriram o rosto e a
cabeça com os braços.
2
[Tradução minha]
O clima de pavor se apodera do rancho toda vez que se ouve o
canto do yaciyateré, cada vez mais próximo. E a cada canto do pássaro
o garotinho doente responde com uma gargalhada. Os visitantes ficam
incomodados com aquela situação e resolvem partir pela selva à noite
mesmo, que a chuva havia acabado e suas roupas estavam secas. O
narrador revela que, anos depois, teve de voltar àquela região do rancho
para trabalhar no senso de 1914. Porém, não encontrou mais ninguém,
apenas um garoto nu, na beira do rio, com as pernas bem finas e uma
barriga enorme, segurando numa mão uma vara de pescar e na outra, uma
banana comida pela metade:
Me olhava imóvel, sem se decidir em comer ou abaixar o braço.
Falei com ele, inutilmente. Insisti ainda, perguntando pelos mo-
radores do sítio. Lançou-se, finalmente a rir, enquanto uma baba
2 -¿Qué tiene? -Preguntamos. -Es un daño -respondieron los padres, después de volver un instante la cabeza a la
arpillera. Estaban sentados, -indiferentes. Los chicos, en cambio, eran todo ojos hacia afuera. En ese momento, lejos,
cantó el yaciyateré. Instantáneamente los muchachos se taparon cara y cabeza con los brazos (QUIROGA. El yaci-
yateré In Anaconda).
131
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
de saliva grossa caía até a barriga. Era o menino da meningite.
3
[Tradução minha]
E assim acaba o conto: o narrador vai embora seguindo de canoa
pelo rio sob o olhar furtivo do menino. Horacio Quiroga deixa no ar,
então, uma dúvida no leitor: será que o menino havia ficado assim por
causa da meningite, que pode ter afetado seu cérebro, ou foi por causa do
yaciyateré? Seria o yaciyateré apenas um pássaro de hábitos noturnos, uma
superstição, um mito ou alguém que realmente existia?
Yaciyateré significa “Pedaço de Lua” em guarani. Segundo o folclore
daquela região de Missões, ele é um anãozinho louro e barbudo, que cruza
a floresta nu, com um chapéu de palha e um bastão de ouro equipados
com poderes mágicos. Vive na selva e na beira de rios e de vez em quando
assobia. O seu assobio é o mesmo de um pássaro que vive no interior da
floresta. Ele rapta as crianças desobedientes e aquelas que não gostam de
fazer a sesta (descansar após o almoço). Os raptados pelo yaciyateré são
castigados por ele e depois retornam loucos ao seu lugar.
Podemos deduzir algumas possíveis explicações racionais sobre a
existência desse mito: geralmente as crianças têm muito medo do yaciyateré,
e isso se deve ao fato de que os adultos lhes contam as assustadoras histórias
de crianças que foram raptadas e castigadas por ele e depois ficaram loucas.
Geralmente os mitos são contados e passados às gerações mais novas como
forma de assustar ou controlar o comportamento de quem é muito travesso
ou desobediente.
Outro fato que me chamou a atenção foi que o yaciyateré é um
mito guaranítico. Porém, por aquela região de Missões ter sido ocupada e
colonizada pelos jesuítas, surge a possibilidade de que foram, talvez, eles
3 Me miraba inmóvil, sin decidirse a comer ni a bajar del todo el brazo. Lê habçé, inútilmente. Insisti aún, pregun-
tándole por los habitantes del rancho. Echó, por fin, a reír, mientras lê caía um espeso hilo de baba hasta el vientre.
Era el muchacho de la meningitis (QUIROGA. El yaciyateré In Anaconda).
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
132 |
quem passaram adiante essas histórias, como forma de educar” as crianças
indígenas.
Aqui no Brasil temos um mito do folclore que se assemelha muito
ao yaciyateré: o saci pererê. Há quem os considere até mesmo uma espécie
de primos”, que histórias e folclores em geral são capazes de atravessar
fronteiras e se adaptarem à realidade da região. O governo brasileiro,
por exemplo, instituiu, em 2005, o Dia do Saci, comemorado no dia
31 de outubro, a fim de restaurar as figuras do folclore brasileiro, em
contraposição ao Halloween norte-americano, que vinha ganhando cada
vez mais espaço por aqui. O nosso saci pererê é um negrinho ágil, nu,
peralta e perneta que usa uma carapuça vermelha e um cachimbo na boca,
e vive atazanando a vida das pessoas. Ele é brincalhão e endiabrado; diverte-
se com os animais e as pessoas, criando-lhes dificuldades domésticas, ou
assustando viajantes noturnos com seus assobios. O saci não tem amigos e
vive solitário pela mata.
É interessante observar que até mesmo em países de outros
continentes também existem seres mitológicos muito parecidos com
o yaciyateré e com o nosso saci pererê. Em Portugal, por exemplo, o
ciapodo, que é um molequinho de bota vermelha, extremamente vivo,
inquieto, malicioso, e que possui uma perna só. Ainda na América Latina,
no Chile, tem-se o ketronamun, um duende anão que anda em uma
só perna e apronta diabruras com pescadores. Na Alemanha, o mito é
conhecido como kobolde, um diabinho irrequieto, buliçoso, que atrapalha
o sossego da residência onde se fixa. Quando agradado, o kobolde torna-se
um útil ajundante, porém, ele se zanga facilmente quando é contrariado. E
na França, o mito chama-se Espirit Fantastique, um duende malicioso
que costuma entrançar as crinas dos cavalos de modo impossível de
desfazer.
A palavra mito vem do grego mithós e é uma narrativa que
possui um forte componente simbólico. Como os povos da antiguidade
133
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
não conseguiam explicar os fenômenos da natureza por meio de
explicações científicas, criavam mitos com este objetivo: dar sentido às
coisas do mundo. Os mitos também serviam como uma forma de passar
conhecimentos e alertar as pessoas sobre perigos, defeitos e qualidades do
ser humano. Deuses, heróis e personagens sobrenaturais se misturavam
com fatos comuns da realidade. O mito é considerado algo inacreditável,
que não é real. Mito e lenda caminham sempre juntos e, em geral, o mito
é que origem à lenda. Pode-se dizer ainda que o mito é uma primeira
tentativa de se explicar a realidade.
Para o estudioso em folclore brasileiro, Luís da Câmara Cascudo,
o mito pode ser um sistema de lendas, gravitando ao redor de um tema
central com área geográfica mais ampla e sem exigências de fixação no
tempo e no espaço”. Assim, pelo contato direto com a natureza, toda a
vivência dos índios era explicada de uma forma natural, acessível a todos
os membros da tribo, e como não tinham a escrita, as lendas e as tradições
tribais tinham que ser contadas constantemente. Nessas narrativas, o sabor
da história fantástica, vinda de geração em geração, era como uma herança
miraculosa, explicando um princípio.
De acordo com Cascudo, ‘’não lendas inúteis e desinteressadas.
Todas doaram alguma cousa, material ou abstrata. As lendas sempre tinham
uma função, um ensinamento, uma forma de explicar o mundo e as suas
complexas relações
4
.
Considero bastante oportuna também, dentro deste contexto, a
proposição de Nilza Botelho Megale quando afirma que:
As formas mais interessantes da literatura oral são os contos, os
mitos e as lendas. Eles exprimem a concepção do mundo compar-
tilhada pelos membros de uma coletividade e servem para reforçar
a solidariedade social e a coesão moral do grupo. Dizem que a ima-
4 CASCUDO. Geografia dos mitos brasileiros, p. 99
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
134 |
ginação do povo, com suas maneiras peculiares de expressão, é que
espalha na terra os encantos, as ilusões e as virtudes
5
.
Ao comparar o yaciyateré com o saci pererê, lembrei que
eu não poderia falar de um conto latino-americano sem citar um outro
escritor uruguaio de imensa importância na crítica literária: Ángel Rama.
Em seu texto Um processo autonômico: das literaturas nacionais a literatura
latino-americana, Rama diz que, para se projetar um discurso único,
que abranja toda a literatura latino-americana, não se pode apoiar num
comparativismo literário, mas sim, cultural:
A estrutura cultural da América latina, tanto ao que se refere ao
mestiçamento, quanto à peculiar estratificação social ao longo dos
séculos, favoreceu uma estratificação equivalente nas manifestações
culturais, entre elas as especificamente literárias. Foi justamente es-
sas estratificações que forneceram os instrumentos para um discur-
so unificado. Por este motivo, é uma das chaves que estabelecem a
base cultural comum das diferentes áreas, línguas e regiões, permi-
tindo a correlação entre suas literaturas.
6
Sobre este possível parentesco entre o yaciyateré e o nosso saci
pererê, pude observar também que o comportamento deles talvez seja
bastante parecido em alguns aspectos, mas a aparência física difere muito.
Uma possível explicação para isso é o fato de que aqui no Brasil, um
país colonizado basicamente por portugueses (branco), o negro era visto
como alguém diferente. Já na região das Missões argentinas, uruguaias e
paraguaias, o povo era, em sua maioria, de origem indígenas (guaranis)
e viam o branco (jesuíta) como alguém diferente deles, de uma cultura e
hábitos alheios aos seus.
5 MEGALE. Folclore Brasileiro, p. 21
6 RAMA. Um processo autonômico: das literaturas nacionais à literatura latino-americana, p.74
135
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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A partir daí, concluí que o mito, neste caso, se associava também
àquilo que era diferente do que é comum, ou seja, aquilo que é estranho
ao sujeito. O estranho, no caso do conto El Yaciyateré, pode ser visto tanto
como algo incomum quanto como algo vago, que todos falam que existe,
mas que ninguém sabe se existe realmente. Sigmund Freud
7
fala que o
estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido,
e há muito tempo familiar”. Em sua obra O estranho, examina as imagens
ou as circunstâncias que nos produzem a sensação de algo estranho ou
sinistro: aparições, fantasmas, premonição de tragédias, coincidências e
repetições inexplicáveis, ou seja, a idéia de que nossa vida é manobrada por
forças invisíveis.
O estranho seria, ainda, o lado do inconsciente que diz respeito
ao medo, ao temor de que o sobrenatural seja verdadeiro. O conto El
yaciyateré traz todo esse universo do estranho, na medida em que deixa
no ar a possibilidade de que o mito possa realmente existir, como se lê no
trecho:
Um calafrio nos correu de cima a baixo. Alguém, que cantava
fora, estava se aproximando, disso não havia dúvida. Um pássaro,
muito bem, isso nós sabíamos. E esse pássaro vinha roubar ou en-
louquecer a criatura, pois a própria criatura respondia com uma
gargalhada a quarenta e dois graus.
8
[Tradução minha]
Aproveitando ainda como exemplo a mesma citação acima, pude
também observar, por meio deste conto, que Horacio Quiroga segue
uma linha próxima à de Guy de Maupassant e, principalmente, a Edgar
Alan Poe, pois atribui tanto valor às atmosferas quanto aos eventos em si,
justamente para criar um ambiente de suspense. Ou seja, ele não explica
os eventos em si, com muita riqueza de detalhes, mas deixa o leitor sempre
7 FREUD. O estranho, p.277
8 A nosotros, un escalofrío nos corrió de arriba abajo. Alguien, que cantaba afuera, se iba acercando, y de esto no
había duda. Un pájaro; muy bien y nosotros lo sabíamos. Y a ese pájaro que venía a robar o enloquecer a la criatura,
la criatura misma respondía con una carcajada a cuarenta y dos grados (QUIROGA. El yaciyateré In Anaconda).
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
136 |
com uma sensação de agonia, esperando que alguma coisa vá acontecer
naquela narração.
Ao ler Horacio Quiroga, volto-me para o texto O narrador, de
Walter Benjamin.
Vejo Quiroga como o camponês sedentário, o homem que ganhou
a vida sem sair do seu país e que conhece bem as histórias e tradições, passadas
de geração a geração. Esse narrador retira da experiência o que ele conta: sua
própria experiência ou a relatada pelos outros
9
”. A partir daí, basta lembrar
a experiência pela qual Quiroga passou durante os anos em que viveu na
selva, em contado com histórias que lhe eram contadas pelos índios.
Analisando o final do conto El Yaciyateré, muitos leitores ficam,
talvez, com a sensação de que falta uma explicação ou a opinião do narrador
acerca da existência ou não do yaciyateré, ou se ele acredita na existência do
mito. Na verdade, a intenção de Quiroga talvez fosse, justamente, deixar
que cada um interpretasse como quisesse, acreditando ou não na influência
do yaciyateré. Considero formidável, para complementar essa idéia, mais
um trecho da obra de Benjamin, que diz:
Somos pobres em histórias surpreendentes. A razão é que os fatos
nos chegam acompanhados de explicações, quase nada que acon-
tece está a serviço da narrativa, mas sim da informação. Metade
da arte narrativa está em evitar explicações. O extraordinário e o
miraculoso são narrados com a maior exatidão, mas o contexto psi-
cológico da ação não é imposto ao leitor. Ele é livre para interpretar
a história como quiser, e com isso o episódio narrado atinge uma
amplitude que não existe na informação.
10
O próprio Quiroga é citado no texto Alguns aspectos do conto” de
Julio Cortázar, que afirma, dentre outras coisas, que um bom narrador tem
que saber escolher um bom tema para seus contos:
9 BENJAMIN. O narrador, p. 38.
10 BENJAMIN. O narrador, p. 38.
137
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Horacio Quiroga, partindo de temas muitas vezes tradicionais, ou-
vidos da boca de velhos gaúchos, soube potencializar este material
e torná-lo obra de arte. Ele era um escritor de dimensão universal,
sem preconceitos localistas, étnicos ou populistas, por isso, além de
escolher cuidadosamente os temas de suas narrativas, submetia-lhes
uma forma literária capaz de transmitir ao leitor todos os valores e
profundidade desses temas.
11
O autor é citado também na obra Novas teses sobre o conto, de Ricardo
Piglia. A primeira tese desenvolvida por Piglia é diretamente voltada aos
contos de Quiroga, como se vê em:
O conto clássico, como pode ser visto em Poe e Quiroga, narra em
primeiro plano a história 1 e constrói em segredo a história 2. A
arte do contista consiste em saber cifrar a história 2 nos interstícios
da história 1. Uma história visível esconde uma história secreta,
narrada de um modo fragmentado.
12
A história 1 a que Piglia se refere poderia se encaixar, dentro do conto
El yaciyateré, durante o longo relato sobre o trajeto no rio, por exemplo.
Enquanto isso, toda a história 2 já está sendo secretamente produzida pelo
autor e seria, por exemplo, o relato do menino doente na selva.
Para finalizar este ensaio, retornarei a Ángel Rama, um dos críticos
literários que propôs reflexões acerca do conceito de transculturação na
América Latina, conceito este que tem a ver com a idéia das fronteiras pelas
quais uma história é capaz de atravessar. Este conceito de transculturação
explicitado por Rama se refere a um uso ativo e autoconsciente da
combinação cultural, como um instrumento para a produção estética ou
crítica.
De acordo com o autor, a transculturação traduz um fenômeno de
transitividade cultural, onde a tradição pode ser recuperada por meio
11 CORTÁZAR. Valise de Cronópio, p.56.
12 PIGLIA. Teses sobre o conto, p.12.
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
138 |
de uma relação sincrética com a cultura estrangeira. Acredita o crítico que,
por via dessa síntese conciliatória, o transculturador consegue respeitar
a autenticidade e os conteúdos propriamente populares que integram a
nação. Segundo Rama:
A análise generalizada das peculiaridades que se apresentam na
América latina permite prever um enfoque classificatório: parece
possível reagrupar, tanto os textos que utilizam línguas indígenas,
como os que recorrem a línguas européias acrioladas, atendendo
não só à essa diferenciação lingüística, mas, sobretudo, à identidade
dos recursos literários, os quais parecem emanar de uma cosmovi-
são cultural semelhante, que por diversas circunstâncias, passou de
uma língua pra outra.
13
A transculturação está ligada, portanto, à transformação de padrões
culturais locais, a partir da adoção de novos padrões vindos através das
fronteiras culturais, em encontros interculturais. Ou seja, é a transformação
de padrões a partir do elemento externo. Isso se aplica ao conto El yaciyateré,
pois a partir daí percebi como as fronteiras entre os países da América
Latina se dissolvem e deixam penetrar através delas muitas histórias,
lendas e mitos, que acabam por se adaptar à realidade local.
Referências Bibliográficas
BENJAMIN, Walter. O narrador. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CASCUDO, Luis da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1976.
CORTÁZAR, Julio. Valise de Cronópio: alguns aspectos do conto. Organização e tradução
de Haroldo de Campos e David Arigucci Jr. São Paulo: Perspectiva, 2006.
13 RAMA. Um processo autonômico: das literaturas nacionais à literatura latino-americana, p.82.
139
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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FREUD, Sigmund. O estranho. Tradução de Eudoro Augusto Macieira de Souza. Rio de
Janeiro: Imago, 1976. Edição Standard brasileira das obras completas de Freud.
INFANTE, Guillermo Cabrera. Uma história do conto. Folha de S. Paulo, São Paulo, 30
dez. 2001, Caderno Mais!
MEGALE, Nilza Botelho. Folclore Brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1989.
PIGLIA, Ricardo. Teses sobre o conto. Folha de S. Paulo. São Paulo, Caderno Mais!, 30
dez. 2001.
QUIROGA, Horacio. El yaciyateré. In: Anaconda. Madrid: Aliança, 1994.
RAMA, Angel. Um processo autonômico: das literaturas nacionais a literatura latino-
americana. São Paulo: Argumento, 1974.
Anexos
El yaciyateré
(Tradução minha para o português do texto El yaciyateré,
de Horacio Quiroga)
Quando se vê um garotinho rindo como um louco de manhã, com
uma febre de quarenta e dois graus, enquanto lá fora ronda um yaciyateré,
ganha-se um golpe nas idéias das superstições que vão até o fundo dos
nervos.
Isso aqui se trata de uma simples superstição. Os povos do sul dizem
que o yaciyateré é um grande e deselegante pássaro que canta de noite. Eu
não o vi, mas o ouvi mil vezes. O cantinho é muito fino e melancólico.
Repetitivo e envolvente, como isso mais. Mas no norte, o yaciyateré é outra
coisa.
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
140 |
Uma tarde, nas Missões, eu fui com um amigo experimentar uma
vela nova no Paraná, porque ela não tinha dado resultado num rio de
correntezas muito fortes, em que roçava água na canoa. A canoa também
era obra nossa, construída na bizarra proporção de 1 metro por 8. Pouco
estável, como se vê, mas capaz de correr como uma bomba.
Saímos às cinco da tarde, no verão. Desde a manhã não havia vento.
Uma magnífica tempestade se aproximava e o calor era insuportável. O rio
corria oleoso sob o céu branco. Nós não podíamos tirar os óculos escuros,
porque a dupla reflexão do céu e da água nos cegaria. Além disso, meu
companheiro estava com princípio de enxaqueca. E nem o mais leve sopro
de ar.
Mas uma tarde assim nas Missões, com uma atmosfera dessas, trás
cinco dias de vento norte e não é nada bom pra quem está à deriva no
Paraná com uma canoa de corrida. Nada mais difícil, por outro lado, de
remar neste ambiente.
Seguimos à deriva, atentos ao horizonte do sul, até chegar em
Teyucuaré. A tempestade chegou.
Esses montes de Teyucuaré, derrubam no rio uma prateleira enorme
de pedras ásperas e rosadas, que deslizam ribanceira abaixo na floresta e
entram profundamente no Paraná, dando a Santo Inácio uma forma de
estilingue à enseada, uma perfeita defesa do vento sul. Grandes blocos
soltos de pedras do penhasco ondulam a costa, com a qual o Paraná inteiro
se encontra, agita-se e foge finalmente por águas abaixo, em rápidos furos
de redemoinhos. Porém, desde a extremidade final, e de encontro com a
mesma costa, a água fica estagnada e vai lameando lentamente o Teyucuaré
até o fundo do golfo.
Nesta extremidade, e à defesa de um bloco imenso para evitar as
surpresas do vento, encalhamos a canoa e nos sentamos para esperar. Mas
as pedras envernizadas queimavam, literalmente, embora não houvesse sol,
e nos abaixamos de cócoras na beira da água.
141
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
O sul, contudo, havia mudado de aspecto. Sobre o monte distante,
um rolo branco de vento subia na curva, arrastando detrás dele um toldo
azul de chuva. O rio, subitamente opaco, ficou ondulado.
Tudo isso é rápido. Levantamos a vela, empurramos a canoa, e
abruptamente, após o bloco negro, o vento passou raspando na água. Foi
somente uma sacudida de cinco segundos; e já havia ondas. Remamos até
a ponta da restinga, pois atrás do parapeito do penhasco nenhuma folha
ainda se movia. De repente cruzamos a linha imaginária, mas perfeitamente
definida, e o vento nos pegou.
Veja agora: nossa vela tinha três metros quadrados, que é bem pouco,
e entramos com 35 graus no vento. Pois bem, a vela voôu, arrancada como
um simples lenço e sem que a canoa houvesse tido tempo de sentir a
sacudida. Instantaneamente o vento nos arrastou. Não mordia senão nossos
corpos: pouca vela, como se vê, porém era bastante para ainda resistir os
remos, leme, tudo o que nós fizemos. E nem sequer a proa; nos levava de
lado, borda caída para baixo como uma coisa náufraga.
Vento e água, agora. Todo o rio, na crista das ondas, estava branco
pelo xale de chuva que o vento levava de uma onda a outra, quebrava
e juntava em bruscas sacudidas compulsivas. Logo, a fulminante rapidez
com que se formam as ondas e a correnteza do rio não a sessenta
braçadas. Num único minuto o Paraná havia se transformado num mar de
furacão, e nós, dois náufragos, íamos sempre empurrados de lado, caindo e
bebendo vinte litros de água a cada golpe das ondas, cegos de água, com o
rosto dolorido pelas chicotadas da chuva e tremendo de frio.
Nas Missões, com uma tempestade de verão, se passa muito
facilmente de 40 graus a 15, em um único quarto de hora (15 minutos).
Ninguém fica doente, porque o país é assim, mas morre-se de frio.
Pleno mar, enfim. Nossa única esperança era a praia de Blosset,
praia de barro, felismente, contra a qual nos arrebataríamos. Não sabíamos
se a canoa resistiria à flutuação de mais um golpe de água, porém quando
uma onda nos lançou a cinco metros dentro da terra, ficamos bem felizes.
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
142 |
Ainda assim tivemos que salvar a canoa, que baixava e subia como uma
cortiça, enquanto nós afundávamos no barro podre e a chuva nos golpeava
com pedras.
Saímos dali; mas a cinco quadras estávamos mortos de cansaço
bem quentes desta vez. Continuar pela praia? Impossível. E cortar o monte
em uma noite escura, ainda que se tenha um Collins na mão, é coisa de
louco. (revólver)
Fizemos isso, contudo. De repente alguém latiu ou melhor, uivou;
porque os cães dos montes somente uivam, - e tropeçamos num sítio. No
sítio havia, não muito visíveis à chama do fogão, um peão, sua mulher
e três garotinhos. Além disso, uma rede estendida, dentro da qual uma
criatura morria com um ataque cerebral.
__ O que ele tem? - perguntamos.
__ É um dano (está doente). responderam os pais, depois de voltar
por um momento a cabeça para a rede.
Ficaram sentados, indiferentes. Os garotos, entretanto, eram todos
olhos para o lado de fora. Então, neste momento, bem longe, cantou o
yaciyateré. Instantaneamente os garotos cobriram o rosto e a cabeça com
os braços.
__ Ah! O yaciyateré pensamos. Veio buscar o garotinho. Vai no
mínimo deixá-lo louco.
O vento e a chuva haviam passado, porém o tempo estava muito
frio. Um momento depois, mas muito mais perto, o yaciyateré cantou de
novo. O garoto doente se agitou na rede. Os pais olhavam sempre para
o fogão, indiferentes. Nós falamos para colocarem panos de água fria na
cabeça. Mas não nos entendiam, não valia a pena isso pelo outro. O que se
podia fazer contra o yaciyateré?
Acredito que meu amigo havia notado, assim como eu, a agitação
do menino quando o pássaro se aproximava. Continuamos tomando mate,
nus da cintura pra cima, enquanto nossas camisas secavam perto do fogo.
143
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Não conversávamos, mas víamos muito bem os olhos amedrontados dos
meninos no canto escuro.
fora, ainda chuviscava no monte. De repente, a pouco mais de
meia quadra, o yaciyateré cantou. A criatura doente respondeu com uma
gargalhada.
Bem, o menino queimava em febre porque estava com uma
meningite e respondia com uma gargalhada ao chamado do yaciyateré.
Nós tomávamos mate. Nossas camisas secavam. A criatura agora
estava imóvel. Somente de vez em quando, roncava, sacudindo a cabeça
para trás.
Lá fora, desta vez no bananal, o yaciyateré cantou. A criatura
respondeu imediatamente com outra gargalhada. Os meninos deram um
grito e a chama do fogão se apagou.
Um calafrio nos correu de cima a baixo. Alguém, que cantava
fora, estava se aproximando, disso não havia dúvida. Um pássaro, muito
bem, isso nós sabíamos. E esse pássaro vinha roubar ou enlouquecer a
criatura, pois a própria criatura respondia com uma gargalhada a quarenta
e dois graus.
A lenha úmida queimava de novo, e os imensos olhos dos meninos
brilhavam outra vez. Saímos fora um instante. A noite havia clareado
e poderíamos encontrar a trilha. Ainda havia algo de úmido em nossas
camisas, mas antes qualquer coisa do que aquela risada de meningite.
Chegamos às três horas da manhã em casa. Dias depois, passou
por ali o pai das crianças, e me disse que o menino estava bem e que
caminhava. Em suma, estava saudável.
Quatro anos depois disso, estava eu, precisei contribuir para
levantar o recenseamento de 1914, correspondendo a mim o setor Yabebirí-
Teyucuaré. Fui pelo rio, na mesma canoa, mas desta vez a remo simples.
Também era numa tarde.
Passei pelo sítio em questão e não encontrei nada. De volta, e já ao
crepúsculo também não encontrei nada. Porém, 20 metros adiante, parado
El yaciyateré de Horacio Quiroga e o saci-pererê brasileiro
144 |
na ribanceira do córrego, em frente ao escuro bananal, estava um menino
nu, de sete a oito anos. Tinha as pernas extremamente magras as coxas
ainda mais que as panturrilhas e uma barriga enorme. Carregava uma
vara de pescar na mão direita, e na esquerda uma banana comida até a
metade. Me olhava imóvel, sem se decidir em comer ou abaixar o braço.
Falei com ele, inutilmente. Insisti ainda, perguntando pelos
moradores do sítio. Lançou-se, finalmente a rir, enquanto uma baba de
saliva grossa caía até a barriga. Era o menino da meningite.
Saí da enseada: o menino havia me seguido furtivamente até a praia,
admirando atentamente minha canoa. Joguei os remos e me deixei levar
pela lentidão do rio, na vista do idiota crepuscular, que não se decidia em
concluir sua banana por admirar a canoa branca.
145
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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COMPLEJIDAD, ECOLOGIA POLÍTICA Y FILOSOFIA
INTERCULTURAL
Aproximaciones al problema de los dilemas
ambientales en pensamientos socioculturales
latinoamericanos contemporáneos
1*
Nelson Vergara Muñoz
1
Si bien es cierto que los dilemas ambientales, sobre todo aquellos
referentes al saber y al conocimiento de las cosas, han estado siempre
presentes en la vida humana occidental, son más ostensibles en situaciones
de transformaciones socioculturales profundas, conocidas como crisis,
situaciones en que los polos dilemáticos obligan a tomar decisiones de
mayores alcances que las habituales, comprometiendo al decurso de las
comunidades o sociedades, en tanto que se hacen parte de sus historias.
En nuestro tiempo, estos dilemas cognoscitivos afectan seriamente las
relaciones humanas con el ambiente y ponen en riesgo nuestra vida local
y translocal. Pero, es sabido que esto compromete también intereses de
todo orden: económicos, políticos, ideológicos, religiosos, etc. De aquí las
controversias en torno a la condición de los dilemas y de sus posibilidades
de resolución, las que dividen hondamente tanto a la teoría como a la
práctica ambiental, a la conciencia como a la voluntad ambiental.
1
*
Este trabajo es producto del proyecto de investigación Cartografía de prácticas cotidianas urbanas: apropiación cul-
tural de espacios públicos en la ciudad de Osorno, financiado por la Dirección de Investigación de la Universidad de Los
lagos, Osorno, Chile, para los años 2007-2008.
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
146 |
2
Para efectos de este trabajo, entenderemos por ambiente el entorno
sociocultural del que formamos parte y que contiene distintas dimensiones
entretejidas con nosotros, de las cuales destacamos:
a) el sistema de relaciones entre el hombre y sus entornos, sistema
que se constituye en virtud de esas inter-relaciones, lo que hace que la
realidad primaria del ambiente sea la interacción y la coexistencia entre
seres humanos y sus circunstancias materiales y simbólicas. Entonces, el
ambiente no es objetivo en el sentido tradicional de ser independiente
del hombre como lo ha pretendido siempre la tendencia realista, ni es
subjetivo en el sentido habitual de ser una idea o representación que nos
hacemos del entorno, tal como podemos encontrarlo en puntos de vista
idealistas y constructivistas. Por el contrario, el ambiente es, para nosotros,
la interrelación, más aún, el modo de darse, de construirse la interrelación.
En este sentido nosotros estamos en el ambiente tanto como éste está en
nosotros, según el principio hologramático de que nos habla hoy E, Morin
(1984, 2003).
b) por esto, una de las formas de hallar el ambiente está dada en la
figura de un darse cuenta (sensible, intuitiva o reflexivamente) de él; esto
es, de verlo como un saber, o como necesidad de saber, o como expectativa
de saber, dentro de ciertos horizontes epistemológicos, y no propiamente
como una cuestión intelectual, sino como un primario y radical saber a
qué atenerse, en el sentido en que Ortega y Gasset entendía este término
(1972).
La trascendencia de la tradicional y simplista reducción a la
objetividad o subjetividad como polos antagónicos y la comprensión de
sus inter-retroacciones como no-unitarias, heterogéneas y no-lineales, ha
llevado al pensamiento contemporáneo, del que Latinoamérica no está
eximida, al reconocimiento de la complejidad como modo básico de ser
147
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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de lo real. De aquí que uno de los dilemas más de base en el orden de
la reflexión sea el que pone en primer plano los enfrentamientos entre
lo que E. Morin (2003) denomina paradigmas de la complejidad y de la
simplicidad, así como lo que E.Leff (2004) señala como enfrentamiento
de racionalidades.
Según esto, desde lo que suponemos más simple, sencillo o elemental,
hasta lo que estimamos como más altamente organizado, revelaría hoy día
la condición de realidad compleja; de modo que esta categoría no designaría
ya un ámbito especial y específico de lo real, sino una conformación
estructural y funcional de orden genérico: un modo de ser. Lo extraño del
caso es que, como ha dicho E. Morin, mientras nuestra relación inmediata y
espontánea con las cosas ha dado por descontado lo complejo, lo múltiple,
lo diverso, y nuestra experiencia cotidiana lo ha supuesto como de sobra
evidente, para nuestro saber privilegiado y radical, la ciencia, sobre todo en
sus expresiones modernas, aún vigentes en amplios círculos intelectuales,
esta complejidad ha estado más bien del lado de las apariencias, siendo
entonces que la realidad verdadera se nos aparece escondida, oculta tras esas
apariencias. Con otras palabras, que la complejidad era para esa tradición, la
no verdad. Por tanto, es coherente que para tales concepciones tradicionales,
la complejidad se nos muestre como una estructuración teórica que debe
ser abandonada a favor de lo simple y elemental, de los datos esenciales
que según esas convicciones estarían a la base de las apariencias; de manera
que el ser (la ley, la naturaleza, según sea el caso), desentrañado y puesto al
descubierto por el pensar, haría evidente esa condición simple de lo real,
condición que ordenada según determinaciones claras, sencillas y precisas,
aconsejaría que el entendimiento, nuestra razón, se organice también
en forma análoga. Y es así como, desde Descartes se ha estimado que el
conocimiento recomienda como organización inequívoca la ordenación
geométrica, única instancia que para el pensamiento moderno puede hacer
presente, patentizar lo real. Por esto, lo que en Descartes es programático,
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
148 |
se fundará en lo evidente, y desde entonces será el pensar geométrico el
modelo de la ciencia. Este modelo moderno del conocimiento científico
habría destinado a Occidente el modo de saber que le es característico:
el saber racionalista y sus consiguientes afanes de reducción y disyunción.
Desde entonces, generalizada a todas las ciencias, la compulsión a la
simplicidad se ha confundido con el método y así ha dominado nuestro
saber, reduciendo y analizando todo. Físico u orgánico, psíquico o social,
cultural o histórico, todo lo real, dice J.P. Sartre (1972), fue analizado y
reducido a esos datos elementales que supuestamente representaban la
esencia de lo que hay, ilustrando de este modo la creencia en ese supuesto
verdadero orden de lo real.
Hoy asistimos, sin embargo, a lo que se ha venido llamando un
cambio de paradigma, y claramente somos empujados a un enfoque
que se ha impuesto el deber de respetar las realidades en el modo en que
se dan a nosotros, lo que al imponer un nuevo ordenen el modo de
concebir lo real, impone también la necesidad de pensar un nuevo trato
con la realidad. En definitiva, se trataría de dejar ser a la realidad, según su
condición y no de acuerdo a lo que alguna vez se llamó la “sana razón” o el
“buen sentido”, los que siempre tuvieron el ilustrativo carácter de unilateral
imposición de nuestro entendimiento, la tiranía intelectual de la razón.
Libre de imposiciones idealistas o realistas, o constructivistas como se dice
hoy, acaso lo real pueda manifestarse según sus propias “inclinacioneso
conveniencias”, establecidas en el trato con nosotros, referente ineludible
de todo conocimiento de realidades.
Y así, mientras que en la ciencia la crítica al paradigma que E. Morin
llama de la simplicidad, era observado con sospecha por las normas vigentes,
sobre todo de tipo positivista, fiel exponente de ese paradigma moderno, en
la vida cotidiana se fue imponiendo la creencia en contrario, siendo cada vez
más notorio que la condición humana, en cualesquiera de sus realizaciones
es, antes que nada, un acontecer entre otros aconteceres que van tramando
149
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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las circunstancias de nuestros proyectos y que se manifiestan espacial y
temporalmente entramados, así como también lo hacen discursivamente.
En este entramado se tejen y se destejen las complejidades de la vida
en común, de la experiencia compartida en las prácticas cotidianas de
proyectos personales y colectivos, los que van configurando las historias
personales y colectivas en constante interacción. Porque es una ganancia de
nuestra época que así como se hacen los discursos, (narrativas), así también
se hacen, se construyen, los espacios y los tiempos, siempre mediatizados
como la comunicación o la política. Todo lo humano es, de este modo,
acontecimiento, incluido su relación con la naturaleza, según lo establece la
Ecología Política más reciente.
3
Por lo anterior, podemos resumir entonces que este acontecimiento
en que consiste lo humano es, de un modo u otro, realización de lo
complejo. Con esto queremos destacar que aquello a lo que se refiere este
concepto es una realidad constituida por acciones que se presentan como
interacciones, dependencias mutuas y multilaterales, internas y externas,
subjetivas y objetivas, algo que el tradicional pensamiento moderno,
lineal y dicotómico, había desterrado del reino de las realidades efectivas
y enviado a los mundos degradados de la imaginación y sus productos
más identificables: los mitos, las leyendas, las fábulas, las narraciones
de ficción, los textos poéticos. En este exilio, lo que siendo real estaba
cuestionado por la ciencia, y considerado desde ella como “irreal”, arrastró
consigo a lo heterogéneo, lo diverso, lo múltiple y, fundamentalmente, lo
contradictorio, lo indeterminado, lo azaroso e incierto, lo problemático, lo
dudoso, lo enigmático y misterioso, lo inconcluso e inconcluyente, y con
ello lo simbólico, lo metafórico, lo poético, lo artístico, etc. Considerando
que todo esto son dimensiones reales de la condición humana, entonces lo
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
150 |
humano es ahora y desde siempre, el cuento de nunca acabar”. Acceder
al paradigma de la complejidad es entrar en este cuento y hacerse parte de
él.
Ortega (1962), que fue uno de los primeros que, a comienzos del
siglo XX, dejó atrás la atención compulsiva a los datos, a los elementos,
para entrar decididamente a la consideración de los sistemas –la vida
humana, la persona, la sociedad, la historia, la cultura-, confrontando los
mundos que configuran nuestra experiencia cotidiana, aconsejaba que lo
mejor era entrar a los temas, provocándolos para que muestren lo que lo
que son, y lo que no son, presencias y ausencias al mismo tiempo, que
tanto esconden como dejan transparentar, tanto se evaden como se dejan
atrapar, según su estado de alerta, sus disposiciones, sus expectativas, su
resolución a enmascararse o a ser descubiertas.
Nuestra tesis es entonces que en parte importante de la intelectualidad
latinoamericana actual, se deja observar una adscripción en progreso
a la complejidad y un abandono creciente de la disyunción y reducción
analítica propia de la simplicidad; o, lo que es lo mismo, que somos y nos
hacemos parte del intento por superar el paradigma de la Modernidad.
Si esto conduce o no a la postmodernidad (como lo plantea G. Vattimo)
o la sobremodernidad (según el decir de M. Augé) o alguna otra figura
civilizatoria, es algo que por lo pronto no está en nuestro horizonte cercano.
Asumimos, empero, las evidencias de abandono de lo simple y elemental
como criterio de realidad y de conocimiento, lo que se hace cada vez más
notorio en las obras de nuestros intelectuales latinoamericanos.
En este contexto queremos destacar algunos fenómenos
contemporáneos que se muestran ostensiblemente como dilemas
cognoscitivos y que se constituyen y retroalimentan en un ámbito de
situaciones complejas que son, por lo mismo, centros de discusión que
caracterizan nuestro tiempo, contextualizando así, históricamente, esos
dilemas.
151
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Estos fenómenos son: a) la discusión en torno a la globalización, b)
la discusión sobre la diversidad y las relaciones con lo local, y c) la apertura
a una nueva forma de entender las relaciones entre la identidad y la cultura.
Para esto recurrimos a pensamientos que están en construcción y que junto
con E. Morin encontramos en E. Leff, R. Fornet-Betancourt y A. Escobar,
pensadores latinoamericanos que están pensando una nueva Ecología y
una nueva Filosofía: la Ecología Política y la Filosofía Intercultural. Con
algunas precisiones, podríamos llamar a esta línea de nuevas ideas en
Latinoamérica, Pensamiento Ambiental. Veamos algunas aproximaciones.
4
En el prólogo a Racionalidad ambiental. La reapropiación social de la
naturaleza, E. Leff (2004) introduce una vez más su temática con una idea
clave que en general sostiene toda su reflexión sobre nuestros problemas
ambientales. Allí dice que la problemática ambiental emerge como una
crisis de civilización de la cultura occidental” (IX), concretamente de la
racionalidad que está en su base y que él identifica como “la racionalidad
de la Modernidad”, la que, a su juicio, no es otra que la crisis de la
economía del mundo globalizado” (IX). Esta tesis que E. Leff va a precisar
de múltiples maneras en sus ensayos y libros, recibe de entrada una
proyección fundamental:
“La crisis ambiental generada por la hegemonía totalizadora del
mundo globalizado –por la voluntad homogeneizante de la unidad
de la ciencia y la unificación forzada del mercado […] es la crisis del
efecto del conocimiento sobre el mundo(IX), el que volviéndose
contra el mundo, lo ha intervenido y dislocado”(Id.)
Así reiterará que
la crisis ambiental irrumpe en el momento en el que la racionalidad
de la modernidad se traduce en una razón anti-natura”, que no
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
152 |
es sin más una crisis funcional u operativa de la racionalidad eco-
nómica imperante, sino uno de sus fundamentos y de las formas
[modernas] de conocimiento del mundo(Id.).
Desde estas bases profundas E. Leff ve emerger y visibilizarse la
economización de lo real explicitada por la Globalización. De esta manera,
la Globalización queda enmarcada en los límites de la economía como
figura epistemológica de la Modernidad hoy en crisis. Y, en estos contextos,
se va delineando uno de los dilemas esenciales de nuestro tiempo: el de la
sostenibilidad o la sustentabilidad de los mundos futuros por efecto de
la Globalización económica, la que deviniendo Globalización cultural,
proyecta sobre la cultura los efectos homogeneizantes y totalitarios de un
pensamiento único, uniforme y disyuntor.
Radicalizando esta visión de los procesos globalizadores, la Filosofía
Intercultural, se sitúa en el imperativo de desbrozar la realidad que se oculta
tras el concepto, asimilándolo fuertemente a la ideología del capitalismo,
con la diferencia notoria que se indica: pareciera que, en algún punto,
E. Leff deja un margen a lo que en la Globalización no es económico
en estricto sentido, si bien es subsidiario de ello, como resulta ser la
posibilidad de una cultura alternativa. Esto está de plano suspendido en
los fundamentos de la Filosofía Intercultural, para quien la Globalización
no es sino la expresión económica de un capitalismo llevado al extremo
de autodeclararse como una fase civilizatoria sin alternativas. Así, uno
de los principales propulsores de la Filosofía Intercultural, Raúl Fornet-
Betancourt, en su texto programático Aprender a filosofar en el contexto
del diálogo de las culturas”, se refiere a ella como
el proceso resultante de una política económica que se expande
mundialmente como la única opción civilizatoria de la humani-
dad y que, justo por entenderse y quererse imponer como el único
proyecto globalizable, no tolera diferencias culturales con planes
alternativos, esto es, culturas con alternativas propias, ni en Occi-
dente ni en ninguna otra región del mundo (en línea).
153
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Pero esta concepción no puede paralizar el trabajo reflexivo
propuesto por el pensamiento filosófico en cuestión, por lo que, a renglón
seguido, visualiza la brecha que hace posible que la Filosofía Intercultural
se juegue su chance: la Globalización es una realidad, pero parcial, que no
se puede identificar ni siquiera con Occidente y por esto es que, a juicio de
este pensamiento, puede ser atacada con probabilidades de éxito:
Entendemos más bien la Globalización como la política y estrategia
económica de los grupos dominantes que controlan hoy el poder
en Occidente y que, reduciendo a Occidente a una cultura o civili-
zación del mercado y del consumo, pretenden también domesticar
todas las culturas del mundo en el mismo sentido (Idem).
Y agrega R. Fornet-Betancourt un alcance que sitúa el problema en
un contexto muy preciso que señala que “el mercado se ofrece aquí como
el punto de vista desde el cual el tiempo y el espacio cobran sentido.
(Idem).
Con esto la Globalización queda situada en el ámbito del capitalismo
más reciente y su ideología neoliberal.
En una posición menos tajante y lapidaria, pero no menos radical,
encontramos las tesis de Arturo Escobar, para quien la Globalización no
es solamente ese monstruo que todo lo nivela y homogeneiza y que reduce
a mercado todos los rincones del mundo. Es claro, dice, que mucho de
eso está realmente sucediendo y no se puede negar este efecto fatal del
neoliberalismo. Pero, a su juicio, la Globalización también encierra muchos
órdenes sociales y tradiciones culturales que conforman modernidades
múltiples” y, además, las reconocería capitalizando esta multiplicidad,
incorporándola a sus prácticas, aún cuando trate de permearla y contenerla
(en línea). Por esto, dice A. Escobar, que la Globalización
debe ser vista en términos de la producción de diferencias que no
necesariamente se inscribe en esquemas jerárquicos y órdenes evo-
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
154 |
lutivos que clasifiquen las culturas en órdenes de desarrollo y civili-
zación semejantes a lo propuesto por el progreso de la Modernidad,
sino que puede también obedecer a otros incentivos y motivacio-
nes, lo que permite entender que el propio capitalismo se descentra
y se fragmenta para adecuarse a las condiciones actuales (Id.).
Por esto, A. Escobar cree que no solamente hay otras alternativas
dentro de la modernidad misma, sino que hay alternativas a la modernidad”
(Id).
Estamos aquí ante una posición que a la postre va a suponer que
es posible la desoccidentalización y deseuropeización de la historia de
la Epoca Moderna, así como en su momento Raúl Fornet-Betancourt
propondrá como paso a la interculturalidad, desfilosofar la filosofía y E.
Leff, deseconomizar la economía, instaurándose así la Filosofía Intercultural
y la Ecología Política, respectivamente. Se observa claramente que, en
todos estos casos, el decurso histórico que tienda a superar la crisis no
puede seguir los rumbos marcados por los procesos globalizadores.
5
De esta forma, dichos procesos, junto con constituirse en realidades
insoslayables, se presentan a la reflexión con un gran margen de ambigüedad
que los transforman no solamente en fuentes de dilemas ambientales, sino
en dilemas ellos mismos. Aún así, es una convicción que toda reflexión
sobre los asuntos importantes de nuestro tiempo no pueden iniciarse
sino en sus contextos, constituyéndose así, la Globalización, en instancia
principial, esto es, de principio, en la detección, interpretación y resolución
de problemas que en esta fase necesaria es siempre el pensamiento que se
afana con lo efectivo y que no se complace solamente en la contemplación
de entramados abstractos de teorías sin compromiso. Por esto, el paso que
sigue a estas reflexiones es el reconocimiento de que el desafío de enfrentar
la Globalización, debe conducir necesariamente a la idea de que un
155
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
objetivo central de la intelección del mundo debe ser procurar por liberar
las diferencias, apostando por el rescate, la defensa y preservación racional
de la diversidad, sea esta biológica o social.
En este contexto, los puntos de vista que se han indicado apuestan
seriamente por la necesidad de considerar que la alternativa debe inclinarse
por la diversidad si no se quiere condenar al futuro a un destino fatal, a un
callejón sin salida semejante a la muerte entrópica del planeta. Favorecer
las posibilidades de lo diverso aparece entonces como una consecuencia
necesaria e irrenunciable, tanto en el orden de la producción material de la
vida como en la producción de sus órdenes simbólicos.
Entre las muchas formas en que esta defensa de la diversidad se
presenta para nuestros autores, podemos señalar que ésta toma la forma de
una defensa del lugar (ESCOBAR, A), de la apelación a la interculturalidad
(FORNET, R.) y de la crítica a la racionalidad económica (LEFF, E.), las
que, más allá de sus diferencias temáticas, tienen como punto de encuentro
la crítica a la cultura homogeneizante y monológica de la Globalización, en
una defensa irrestricta del valor de lo local.
Así, en las Tesis para la comprensión y práctica de la interculturalidad
como alternativa a la globalizaciónleemos en R. Fornet que la Filosofía
Intercultural se propone un cambio de paradigma “cultivando una actitud
filosófica que parte del reconocimiento de la pluralidad de las filosofías
con sus respectivas matrices culturales y sus consiguientes formas de
argumentación y de fundamentación (Tesis 1), y que en esta tarea no
sólo tolera otros pensares, sino que los promueve y se solidariza con ellos,
reconociéndolos como mundos propios.
En esta tesis se hace hincapié en el carácter pluralista del pensamiento
intercultural el que, a diferencia del pensamiento neoliberal, globalizador,
no aplasta sino que favorece sus manifestaciones plurales y diversas, no
excluye sino que se incorpora a la construcción de realidades solidarias,
no coloniza sus prácticas sino que procura por la liberación material y
discursivo-simbólica de ellas, mediante las cuales pretende dar realidad a
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
156 |
sus objetivos y finalidades más profundas; esto es, a aquéllas que siente
como suyas porque las ha hecho propias.
Por el contrario, para la civilización globalizada toda tensión o
conflicto es artificial, arbitrario y reaccionario, y sólo cabe una dirección para
la historia: la que se impone bajo la fuerza de los proyectos neoliberales que
se propagan con la fuerza uniformadora y coherente de la racionalidad en
curso. Así dirá en la Tesis 4 que en la Filosofía Intercultural su opción por
las culturas es una toma de posición contra el proceso de homogeneización
y de exclusión que hoy se impone”. De esta manera quedan puestas las bases
para que la propuesta de alternativa a la Globalización se haga efectiva. En
la misma Tesis 4, Fornet-Betancourt señala en un texto decisivo, que
La uniformización de los contextos en una contextualidad estruc-
tural perfectamente identificable en cualquier parte del planeta
supone para las culturas de la humanidad una pérdida de materia-
lidad o, hablando con mayor propiedad, la pérdida del territorio
propio donde deben poner a prueba y ejercitar su capacidad de incidir
eficazmente en el modelamiento de su espacio y tiempo según sus pro-
pios valores y fines. Con la globalización neoliberal se produce de
este modo algo así como la pérdida de la soberanía territorial de
las culturas. Éstas se ven obligadas a vivir, o a sobrevivir, en terri-
torios espacial y temporalmente ocupados por los patrones de un
modelo civilizatorio que las corta de su propio suelo (el subrayado
es nuestro).
Con otras palabras, que el progresivo dominio de los procesos
globalizadores instala y justifica ideológicamente las culturas del
desarraigo, de la marginalidad y de la exclusión, las que al posesionarse
de los territorios no solamente neutralizan la fuerza material y espiritual
de toda otra cultura, sino que anulan también su recurso a la identidad y
que, con esto, “las culturas pierden peso e importancia como fuerzas de
modelación y de transformación de la realidad histórica concreta(Tesis
3). Por esto, Fornet-Betancourt no se cansa de insistir en la urgencia de la
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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alternativa que propone. De esta manera en la ya citada tesis 4 señala en
otro texto decisivo:
El núcleo de esta alternativa radica en tomar la idea de intercultu-
ralidad como hilo conductor para desarrollar una praxis que, ate-
niéndose consecuentemente al principio rector del derecho de los
seres humanos a tener una cultura propia, no sólo fomenta y cultiva
la pluralidad de las visiones del mundo y el respeto mutuo entre las
mismas, sino que procura ser además un instrumento adecuado
para la realización concreta de una pluralidad de mundos reales.
La interculturalidad se propone, pues, como una alternativa que
permite reorganizar el orden mundial porque insiste en la comuni-
cación justa entre las culturas como visiones del mundo y porque
recalca que lo decisivo está en dejar libre los espacios y tiempos para
que las “visiones” del mundo puedan convertirse en mundos reales (El
subrayado es nuestro).
Ahora bien, los espacios y tiempos, así como los lenguajes con que
esos espacios y tiempos se dicen, constituyen en lo esencial los territorios.
Por esto creemos que esta propuesta intercultural no solamente traduce
expectativas de culturas excluidas o reprimidas, cuyas identidades no se
conciben como recuperadas sino en el contexto de la recuperación de sus
territorios, sino que, mediante el diálogo intercultural, ofrece la posibilidad
de una práctica sociocultural que a la vez que transforma el orden de las
cosas del mundo, puede también realizar la esperada transformación
intercultural de la filosofía. Si éste fuese de verdad posible, entonces
efectivamente estaríamos ante una situación de grandes proyecciones,
porque significaría de verdad el cumplimiento de un anhelo cultural
emergente: no construir, como hemos dicho más arriba, una filosofía
más de las ya sidas, sino una filosofía otra, que haga justicia a los sueños
colectivos de una parte importante de la humanidad que espera que, en la
liberación de las opresiones sociales y culturales, el pensamiento también
haga lo suyo.
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
158 |
Ahora que no está claro si esta tarea es suficientemente radical.
Quizás podría pensarse en una profundización de estas intenciones y ver
si es posible que el pensamiento sea conducido ya no a una filosofía otra,
sino que, como alguna vez lo insinuó Ortega, a otra cosa que la filosofía.
Pero, sea esto factible o no en las actuales circunstancias, nos resulta claro
que en esta empresa de transformación intelectual, de la que se esperan
prácticas de interpretación y transformación de los mundos, la Filosofía
Intercultural estará justificada.
Volvemos entonces al lugar. De pronto el espacio vuelve a sernos
familiar, cercano y concreto, un espejo de reconocimientos mutuos.
Dialogamos con el entorno, mostrando ahí nuestra pertenencia,
viviéndolo en razón de sus antagonismos y sus complementariedades, y
narrándolo también, asumiéndolo desde las palabras que lo dicen. Nuestro
conocimiento es, inequívocamente, interpretación. Somos con el lugar y
desde él.
Esta copertenencia entre el espacio como entorno inmediato y los
proyectos de apropiación que lo presentan como lugar, como territorio o
como paisaje, es lo que hoy día está en la base de la complejidad, y opera
indistintamente si el lugar es rural o es urbano. En ambos casos, se ha
dicho, es el espacio de la identidad y de la historia personal o colectiva, que
se hace presente en medio de los ambientes globales como contrarespuesta
a esos ambientes, y como reacción o resistencia a los afanes de disolución
que, por uno de sus lados, parecía ser propio de la globalización.
En estos contextos de creciente complejización de la vida, nos
encontramos con la también creciente confianza de que son los lugares los
ámbitos de máxima realidad cotidiana, de encuentros y desencuentros con
lo real, sea efectivo o imaginario.
Un sugestivo planteamiento al respecto es el que nos parece que
desarrolla Arturo Escobar (2005). Sobre este planteamiento conjeturamos
algunas hipótesis que van más allá de señalar los términos del debate y
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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de explicitarlos. Según este debate, hay quienes sostienen que los lugares
tienden a desaparecer por efectos de la aceleración o de la globalización,
desarraigando al hombre de su entorno inmediato, mientras que otros, en
virtud de lo mismo, sostienen que ésta es precisamente la condición de
posibilidad de su renacer. Sin embargo, como lo señalamos, nos parece
vislumbrar aquí, que Escobar quiere ir más lejos y que pone el debate a la
vista, pero contrastando la opinión académica con la opinióndel hombre
común y corriente en su vida cotidiana, opinión que reflejaría que en este
ámbito los lugares, en realidad de verdad, nunca han perdido presencia.
Por esto A. Escobar dice:
El lugar –como la cultura local- puede ser considerado “lo otro
de la globalización, de manera que una discusión del lugar debería
ofrecer una perspectiva importante para repensar la globalización
y la cuestión de las alternativas al capitalismo y a la modernidad
(131).
Lo que nos retrotrae a lo que ha expresado muy formalmente con
respecto al valor que lo local posee para quienes viven esos mundos como
mundos efectivos e inmediatos:
el hecho es que el lugar –como la experiencia de una localidad es-
pecífica con algún grado de de enraizamiento, linderos y conexión
con la vida diaria, aunque su identidad sea construida y nunca
fija- continúa siendo importante en la vida de la mayoría de las
personas, quizás para todas (115).
Pero el debate está planteado y no puede eludirse. Lo importante es,
sin embargo, comprender que esta discusión no es insignificante o banal,
sino que las opciones traen consecuencias para nuestro habitar los mundos
en que nos movemos a diario, material o espiritualmente. Y, destacando
esa relevancia en los estudios antropológicos, geográficos, culturales,
comunicológicos, etc., A. Escobar señala que
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
160 |
las nuevas metáforas en términos de movilidad –la desterritoriali-
zación, el desplazamiento, la diáspora, la migración, los viajes, el
cruce de fronteras, la nomadología, etc.- nos han hecho más cons-
cientes del hecho que la dinámica principal de la cultura y la eco-
nomía han sido alteradas significativamente por procesos globales
inéditos(116).
Lo anterior se observaría de preferencia en aquellos que trabajan
en “la inserción del ambiente y el desarrollo”, en sus críticas y propuestas
de ocupación sustentable de los territorios y, para quienes la relación
naturaleza-cultura-desarrollo, es más que fundamental. Para ellos, dice
Escobar, cualquier salida alterna debe tomar en cuenta los modelos de
la naturaleza basados en el lugar, así como las prácticas y racionalidades
culturales, ecológicas y económicas que las acompañan(116). Y en un
texto fundamental agrega:
Tomando como punto de partida el carácter problemático de la
relación entre lugar y cultura, estos trabajos hacen énfasis en el he-
cho de que los lugares son creaciones históricas que deben ser ex-
plicados, no asumidos, y que esta explicación debe tener en cuenta
las maneras en que la circulación global del capitalismo, el cono-
cimiento y los medios, configuran la experiencia de la localidad
(117).
Entonces se hace cada vez más necesario explicar las diferencias, lo
que se transforma hoy en el gran problema, puesto que, pregunta Escobar:
“¿Cómo explicar la producción de diferencias en un mundo de espacios
profundamente interconectados?” (117). Para una respuesta adecuada a
esta interrogante, nos parece que no queda otro recurso que acceder al
expediente de la complejidad.
A este referente nos parece que recurre E. Leff. En su propuesta de
deseconomizar la sociedad y la cultura, lo que propone es desembarcarse
de un pensar monológico y uniforme, para acceder a la multiplicidad
161
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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de saberes liberados de la represión impuesta por un modelo de pensar
que niega la diversidad social y las leyes de la naturaleza. Esta liberación
epistemológica y ontológica abre, a su juicio, el camino a un futuro
realmente sustentable y éticamente dignificado por la equidad. Señalamos
la dirección de esta propuesta desde el ámbito del pensar que él denomina
diálogo de saberes”:
“El dialogo de saberes es un diálogo marcado por la heteronomía
del ser y del saber, por una otredad que no se absorbe en la condici-
ón humana genérica, sino que se manifiesta en el encuentro de seres
culturalmente diferenciados; de seres constituidos por saberes que
no se reducen al conocimiento objetivo y a la verdad ontológica,
sino que remiten a la justicia hacia el otro: justicia que no se disuel-
ve ni se resuelve en un campo unitario de derechos humanos, sino
en el derecho a tener derechos diversos de seres diferenciados por su
cultura” ( “Racionalidad ambiental y diálogo de saberes…”)
“El diálogo de saberes sólo es posible dentro de una política de la
diferencia, que no es apuesta por la confrontación sino por la paz justa
desde un principio de pluralidad”; por lo tanto, el diálogo de saberes
no se produce con la intención y la finalidad de reabsorber cos-
movisiones y racionalidades diferenciadas en un código común de
lenguaje de un mundo acabado, presente, globalizado, sino que
se proyecta en la creación de un mundo futuro, de otro mundo
posible, de un mundo hecho de muchos mundos, de diversidad
cultural e identidades diferenciadas” (art.cit.).
“El vínculo del ser con el saber no es una relación de conocimiento,
de representación de la realidad en el pensamiento, de identidad entre
el concepto con la realidad” sino un vínculo que se da en la condición
básica del hombre como ser en el mundo, anterior, por tanto, a toda
representación o concepto (art.cit.).
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
162 |
Por lo tanto, el diálogo de saberes se plantea desde el reconocimiento
de los saberes -autóctonos, tradicionales, locales- que aportan sus
experiencias y se suman al conocimiento científico y experto, pero implica
a su vez el disenso y la ruptura de una vía homogénea para asumir y
subsumir la diversidad (art. cit.);
De este modo, el diálogo de saberes no tiene más norte que inscribirse
en una racionalidad que lleve a la deconstrucción de la globalización
totalitaria del mercado para abrir paso a la construcción de sociedades
sustentables a partir de sus formas diversificadas de significación de la
naturaleza”. (art. cit.)
Pero, como se ha dicho, el diálogo de saberes no disuelve las cosas
en un consenso: la resolución de conflictos no implica la borradura de las
diferencias.
Por último, y tal como en lo suyo lo expresara Fornet-Betancourt, E.
Leff dice que el saber que se encarna en el diálogo, lo hace propiamente
en los imaginarios colectivos, las cosmovisiones y formaciones
simbólicas que se plasman en los saberes, técnicas y prácticas que
configuran estilos e identidades culturales y en las formas de orga-
nización socio-cultural-productiva de apropiación de la naturale-
za”, (art.cit.).
Por lo que E. Leff señala que el diálogo enlaza palabras, razones,
prácticas, propósitos, significaciones que en sus sintonías y disonancias, sus
acuerdos y disensos, van formando un nuevo tejido social, trascendiendo el
diálogo interdisciplinario”, y desplazando, por tanto, la problemática desde
la ciencia a la sociedad (art.cit.). De este modo, problemas originalmente
epistemológicos se traducen en dilemas sociales.
6
Y es en este transitar de lo académico a la sociedad donde se nos
presenta el tercer dilema que queremos abordar: la discusión de los
problemas atingentes a la identidad.
163
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Como todas las nociones o conceptos, sobre todo los que resultan
relevantes para la identificación y comprensión de la vida natural o
social, tiene éste de identidad, una marcada referencia a la Modernidad
para cuya atmósfera, lo identitario correspondía a lo que de permanente
y diferenciador por lo constante había, o podía hallarse en las cosas,
como condición propia y autónoma. En cierto sentido, lo que era, lo era
necesariamente: una suerte de regularidad o legalidad que junto con señalar
lo propio indicaba también la diferencia.
Pero, con el advenimiento de la crisis de la modernidad entró en
cuestionamiento también este gran concepto. Desde entonces, `identidad`
ya no señala así sin más lo constante de algo, lo inmutable, sino justamente
su contrario, lo que está constituido por el cambio, por la impermanencia,
la transformación, llevando entonces a primer plano el problema de la
diversidad y la diferencia como algo que a su vez está sujeto a modificaciones
por acción de las circunstancias. Con esto también la gran noción de la
esencia cambia de significación: ya no remite necesariamente a lo invariable,
sino que resiste también la posibilidad del cambio y la transformación,
al punto de que tiene sentido decir que, en el hombre, la esencia de su
identidad es precisamente la construcción social, por lo que nunca es algo
definitivo y permanente.
Esto, sin embargo, no conduce obligadamente a aceptar el
relativismo, aunque aparezca hoy día como una gran posibilidad y sea
profusamente proclamado por las tendencias postmodernas. El contexto
actual de los procesos identitarios es de este modo la apertura a lo plural
y no la reducción a la unidad propia del pensamiento moderno. Es el
juego de otredades como la llama E. Leff, en la constante variabilidad de
los encuentros entre lo Mismo y lo Otro. Pero la identidad de Uno y la
identidad de Otro pasa por el reconocimiento no natural de lo propio
de cada cual en todos los órdenes posibles en que puede operar, en todas
las tramas y en todas las lecturas a que nos invita lo Diferente. Entonces,
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
164 |
el ambiente, dice E. Leff, deja de ser un objeto de conocimiento para
convertirse en fuente de pensamientos, de sensaciones, de sentidos” (2007,
p. 136).
Y aquí cabe no solamente el reconocimiento de otras culturas, según
lo plantea R. Fornet, sino lo que es más significativo: el reconocimiento
de que en rigor no hay cultura alguna que se pueda presentar como un
universo originario y monolítico, sino como aquello que, desde su ser
originario, puede abrirse a la diferenciación, de modo que es posible
rastrear, bajo la apariencia de uniformidad y permanencia, las huellas
de sus luchas y contradicciones para imponer una figura de ser, pero sin
garantía alguna de permanecer y eternizarse. Pero tampoco de romper con
todo y absolutamente, hacer tabla rasa con el pasado, empezar de cero.
Nada puede empezar de cero, nos recuerda siempre R. Fornet, ni en el
orden material ni en el orden simbólico, como lo es el pensamiento. Idea
esta que nos reiteran E. Leff y A. Escobar.
Al respecto, E. Leff ha escrito que el pensamiento
es un fluido de ideas que viaja en la historia a través de crisis inter-
nas, de obstáculos epistemológicos, de cambios paradigmáticos, de
resignificaciones teóricas; pero que no permite hacer cortes tem-
porales absolutos, donde el conocimiento que busca la unidad, la
generalidad y la transdisciplinariedad, tampoco puede escapar a
la identidad propia de cada paradigma científico y al campo es-
pecífico en el que una teoría produce conocimientos, verdades y
sentidos; donde la verdad nunca es absoluta, ni es la verdad de un
momento histórico, sino donde el ser cultural produce verdades
históricamente condicionadas y válidas (2007, p. 137)
Por su parte, A. Escobar, en su afán por justificar la necesidad del
conocimiento local y su alto valor epistemológico, signo de la identidad
de las culturas locales, relaciona esta posibilidad de reencuentro con los
saberes tradicionales con la reconsideración de los lugares como instancias
posibilitantes de esas identidades. Así, en el ensayo “El lugar de naturaleza
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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y la naturaleza del lugar…” (2005) dice que la defensa del conocimiento
local es coherente con el compromiso con un discurso anti-esencialista, en
el sentido moderno, de lo diferente. Y agrega:
En contra de quienes piensan que la defensa del lugar y del cono-
cimiento local es innegablemente romántica”, uno podría decir,
como Jacobs….”que es una forma de nostalgia imperial, un deseo
de lo `nativo intocado`, que presume que tales encuentros (entre lo
local y lo global) solamente significan otra forma de imperialismo”.
Será necesario, sin embargo, extender la investigación hacia el lu-
gar, para considerar cuestiones más amplias, tales como la relación
del lugar con economías regionales y transnacionales; el lugar y las
relaciones sociales; el lugar y la identidad; el lugar y los linderos y
los cruces de fronteras; lo híbrido; y el impacto de la tecnología
digital, particularmente Internet, en el lugar (133).
Con otras palabras, hay aquí una referencia muy explícita a las
situaciones complejas por las que pasar, complejidades que afloran al
nivel del propio pensar dichas situaciones y que van dando el tono a los
problemas y dilemas ambientales de nuestro tiempo. Con esto, nos parece
que, tanto la Ecología Política como la Filosofía Intercultural, se inscriben
en la dirección que marca la Complejidad de lo real y la Complejidad del
pensamiento en una articulación trabada que rechaza de plano toda suerte
de reducciones y disyunciones a que nos tenía habituado el conocimiento
moderno. Por esto nos parece ilustrativo terminar esta muestra de reflexiones
vigentes con una cita de A. Escobar que seguramente suscribirían también
nuestros otros autores:
La atención que se le ha otorgado, en especial en Latinoamérica, a
la hibridación cultural es otro intento de hacer visible el encuen-
tro dinámico de las prácticas que se originan en muchas matrices
culturales y temporales, y la medida en la que los grupos locales,
lejos de ser receptores pasivos de condiciones transnacionales, con-
figuran activamente el proceso de construir identidades, relaciones
sociales y prácticas económicas (131).
Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
166 |
Al conjunto de estas prácticas podemos llamar cotidianidades,
otra de las categorías esenciales que permiten que nuestro tiempo esté
al alcance de nuestras teorías y que éstas refieran a aquello que dicen, en
una revalorización de nuestras propias prácticas discursivas. De aquí la
fascinación creciente por los actos de habla, las narrativas, los relatos que,
decía De Certeau, duermen en las calles, a la espera de que nos decidamos
a despertarlos.
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Complejidad, ecologia política y filosofia intercultural
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169
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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ÍNDIO E “IDENTIDADE CULTURAL”
EM MATO GROSSO DO SUL:
O DISCURSO DO MOVIMENTO GUAICURU
Gilberto Luiz Alves
1
Este trabalho objetiva analisar o Movimento Guaicuru de Cultura,
muito atuante em Mato Grosso do Sul entre 1984 e o final do século
XX. Para tanto, toma como referência o discurso de um grupo de jovens
artistas plásticos, que proclamava a necessidade de se retomar a “identidade
guaicuru como matriz para que os próprios sul-mato-grossenses
desvelassem a sua e nela se reconhecessem.
Seus integrantes se organizaram em torno da Unidade Guaicuru
de Cultura, norteada pela finalidade de divulgação das artes e expressões
artísticas educativas e folclóricas do povo guaicuru(Estatuto da Unidade
Guaicuru de Cultura. Diário Oficial de Mato Grosso do Sul, 15 ago. 1984,
p. 28). Fizeram dezenas de mostras artísticas e produziram obras muito
expressivas das artes plásticas sul-mato-grossenses, nas décadas referidas
2
.
Ampliando-se, criaram unidades em Dourados e Coxim. Nesta
última cidade realizaram um projeto ecológico que credenciou o
Movimento Guaicuru como Organização Não-Governamental ONG”
(SPENGLER, 1996, p. 17). Também lideraram o movimento pela
utilização do “termo Guaicuru como epônimo do gentílico sul-mato-
grossense(Ibid., p. 16). Contudo, nem de longe cumpriram a finalidade
estatutária aventada, pois a produção estritamente indígena não ganhou a
visibilidade prometida em suas iniciativas.
1 Professor aposentado da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, atualmente é professor-pesquisador do Curso
de Mestrado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-UNIDERP.
2 Neste trabalho, por questão de delimitação do objeto, não se pretende fazer a análise das produções artísticas dos
integrantes do Movimento Guaicuru de Cultura.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
170 |
Mas não há como discordar da importância desse movimento,
em especial porque a agitação que desencadeou sacudiu o modorrento
ambiente cultural na região. As energias que liberou permitiram a
realização de inúmeras mostras de artes plásticas e de outras atividades
culturais associadas.
O movimento aproveitou todos os espaços alternativos para a
realização das suas iniciativas e criou, assim, canais que tornaram as artes
plásticas mais visíveis para os próprios sul-mato-grossenses. Também operou
no sentido de deslocar sua ação para outros pólos de desenvolvimento
do estado, quando tudo se resumia, então, a iniciativas centralizadas em
Campo Grande.
Dentre os integrantes se sobressaiu Henrique Spengler, jovem
animador cultural, artista plástico e historiador, o principal mentor do
discurso que iria particularizar o movimento. No processo de construção
desse discurso, descolou-se dos companheiros e realizou algo expressivo de
suas próprias idéias e convicções.
Spengler reiterou sistematicamente expressões como “identidade
guaicuru”, “preservação da identidade cultural guaicuru” e preservação da
cultura guaicuru”. Também induziu a idéia de que os sul-mato-grossenses,
diante da necessidade de desvelar e assumir a sua autoconsciência cultural,
deveriam se espelhar no exemplo dos guaicuru, que lutaram bravamente
para preservar a sua “identidade cultural”, em especial por não terem cedido
à catequese e à redução, tendo chegado a assimilar instrumentos culturais
do inimigo branco para dar conseqüência à sua luta de resistência.
De fato, esse tipo de interpretação acabou revelando a verdadeira
natureza de seu leito. Sob a aparência de defesa da cultura e das tradições
guaicuru, foi realizado, de fato, um empreendimento nitidamente ideológico
que se manifestou como uma forma de regionalismo. O discurso só apelou
ao conhecimento científico para dar sustentação às teses a priori assumidas.
As informações que poderiam colocar por terra os seus fundamentos foram
tangenciadas ou omitidas.
171
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
A própria trajetória completa da etnia guaicuru não ganhou
equilibrada exposição. Foi realçado, sobretudo, o domínio que essa nação
exerceu no Chaco pantaneiro, nos dois últimos terços do século XVII,
depois de ter assimilado o cavalo e o ferro, introduzidos na América pelos
colonizadores espanhóis. O apogeu e a hegemonia da etnia guaicuru no
Pantanal, sensíveis no século XVII, ganharam centralidade quase exclusiva
e absoluta, foram congelados e extraídos de seu tempo, para assim servirem
a uma elaboração idealista pouco útil inclusive à apropriação do passado.
Efetivamente, nunca esteve em jogo a preservação da cultura
guaicuru ou da “identidade guaicuru, mas sim a produção de um mito,
que ajuda a compreender antes o tempo que [o] forjou do que o universo
remoto para o qual [foi inventado].” (BOSI, 1992, p. 176).
Na ótica de Spengler e de alguns outros estudiosos da região, a
falta de identidade foi um fator limitante que teria atingido os artistas
e intelectuais sul-mato-grossenses como um todo, logo após a criação da
nova unidade federada. Depois da euforia pela concretização de um sonho
secular”,
os produtores culturais entraram em crise. Crise de identidade. Os
artistas e intelectuais regionalistas (sic), acostumados a expressar,
em suas obras, os valores e referências de Mato Grosso depararam-
se, repentinamente, com uma nova realidade: Mato Grosso do Sul,
um novo Estado, com uma nova capital, novo hino, nova bandeira,
novos símbolos, tudo novo.
Surgíamos para o mundo como algo novo. E, para nós mesmos,
como tratar, expressar, o que falar sobre nós, sul-mato-grossenses,
povo sem consciência do seu patrimônio histórico, sua memória,
sua identidade cultural? (SPENGLER, 1996, p. 16)
Em resumo, a questão fundamental poderia ser sintetizada em uma
pergunta: “Quem, afinal, é o homem sul-mato-grossense?” (Ibid., loc.
cit.)
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
172 |
Encontra-se implícita a idéia de que os sul-mato-grossenses estavam
partindo do zero nesse processo de descoberta de um passado por todos
ignorado e que poderia desvelar a sua “identidade”. O reconhecimento
dessa situação crítica, subseqüente a um momento dramático quando
muitos artistas chegaram a paralisar suas produções hibernando-se em suas
preocupações e devaneios, teria desencadeado uma prática inusitada:
Artistas e intelectuais foram, então, às bibliotecas e arquivos para vasculhar
e identificar qualquer coisa, referente a qualquer época, do processo de
povoamento da região.” (Ibid., p. 17)
Spengler, centrado em suas próprias impressões, acreditou que elas
poderiam ser tomadas como um espelho para as dos demais intelectuais
e artistas residentes em Mato Grosso do Sul. Equivocou-se. A pesquisa
histórica já se desenvolvera e acumulara um relevante patrimônio de
conhecimento desde o surgimento das unidades da Universidade Estadual
de Mato Grosso.
Igualmente, a FUCMAT dera uma contribuição significativa no
âmbito da investigação científica, em especial com estudos sobre etnias
indígenas. Alguns dos artistas plásticos mais expressivos da região nunca
pensaram em alterar suas trajetórias como decorrência das discutíveis
elucubrações que clamavam por uma “identidade sul-mato-grossense.
Humberto Espíndola ao pintar o boi, por exemplo, criara um
espaço de reflexão sobre a singularidade cultural do Estado, atrelada
materialmente à pecuária. Ilton Silva nunca desviara sua atenção das
vivências fronteiriças do sul e do trabalhador do campo, sempre centrais
em sua obra. Jorapimo continuava pintando as paisagens, os peões, as
lavadeiras e os pescadores do Pantanal. Conceição não parou um instante
sequer de esculpir em madeira os seus bugres. Manoel de Barros e Hélio
Serejo produziam febrilmente e não qualquer notícia de que tenham
reclamado da falta de horizontes para realizar as suas obras ou de um
obstáculo posto pela inconsciência da “identidade sul-mato-grossense.
173
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Mas o Movimento Cultural Guaicuru surgiu embalado por esse
mito e Spengler, em especial, chegou a acreditar que sua ação política teria
mudado os rumos das produções intelectual e artística da nova unidade da
federação
3
.
Também é estranha a proposta que colocou como referência
a resistência dos guaicuru, enfatizando o apelo dessa etnia à extrema
belicosidade em defesa de sua “identidade cultural. Quando Spengler
evoca a espiritualidade ancestral” e busca inspiração nos Guaicuru, nação-
símbolo da resistência, autodeterminação e liberdade nativa Americana
(Ibid., loc. cit.), faz tabula rasa do fato de que essa etnia nunca esboçou
qualquer resistência à mudança de sua pretensa “identidade cultural” no
século XVII, seu momento de apogeu.
Se algo marcou o comportamento dos guaicuru no passado, foi
exatamente a permeabilidade demonstrada quando da incorporação
voluntária das conquistas culturais do branco europeu. Só com esses
recursos, sobretudo o cavalo e o emprego de metais na confecção de
suas armas, os guaicuru conquistaram mobilidade e poderio militar para
empreender o domínio do vasto Chaco pantaneiro, submetendo as demais
etnias indígenas à sua autoridade.
Menos o passado dos guaicuru e mais a conjuntura momentânea
vivida por Mato Grosso do Sul esteve na raiz do movimento cultural
liderado por Henrique Spengler. Recém-criado pelo desmembramento
territorial do antigo estado de Mato Grosso, a discussão política que
marcou a emergência da nova unidade federada havia colocado em questão
a sua peculiaridade cultural.
3 O discurso de Spengler chegou a raiar a megalomania quando creditou toda a produção artística, científica e
cultural sul-mato-grossense ao Movimento Cultural Guaicuru: “Estimulando buscas, encaminhando discussões e
promovendo foruns e manifestos, o Movimento Cultural Guaicuru vem participando do quadro cultural do Estado,
intensificando e expandindo suas ações, extrapolando os conceitos originais de movimento nativo ou neonativista.
Hoje, seu significado engloba toda a diversificada produção artístico-intelecto-cultural de Mato Grosso do Sul.
(SPENGLER, 1996, p. 17) Por se entende, também, a preocupação de envolver e incluir nas mostras do movi-
mento todos os artistas plásticos sul-mato-grossenses, independente das temáticas que abordavam.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
174 |
As lideranças separatistas, no sul, sempre postularam essa
peculiaridade, frisando sobretudo as diferenças que marcaram o processo
de ocupação e exploração dos territórios nas regiões das minas de ouro,
de um lado, e da fronteira com o Paraguai, de outro. Como decorrência,
isso poderia explicar as opções políticas divergentes adotadas ao longo do
tempo em face de acontecimentos marcantes da vida nacional, a exemplo
da revolução constitucionalista, quando, antagonizando-se à direção
conferida pelo norte, o sul alinhou-se a São Paulo.
Nessa oportunidade, era reivindicada a autonomia administrativa
do sul mato-grossense e a criação de uma nova unidade federada. A
derrota do movimento constitucionalista sepultou essa possibilidade, mas
os ânimos das principais lideranças políticas sulistas mantiveram suas
convicções separatistas. Quando a ditadura militar decidiu criar um novo
estado, na segunda metade da década de 1970, esses ânimos afloraram, mas
não foram determinantes da solução draconiana tomada pelo Planalto.
Em especial, a imprensa regional deu grandes espaços às suas
manifestações. Esses ânimos constituíram tão somente uma das variáveis
da conjuntura favorável que ensejou uma experiência de divisão territorial
encetada pelo governo militar. Mas a intensificação do debate criou um
ambiente propício também à discussão da temática focada sobre a cultura
regional
4
.
Mesmo a posteriori, o Movimento Guaicuru somou-se ao coro
justificador da divisão e ao reconhecimento da peculiaridade cultural da
nova unidade federada. Não importa se consciente ou inconscientemente,
esse movimento realizou então uma operação ideológica de retorno ao
passado, para buscar as matrizes mais longínquas dessa peculiaridade.
Pensou tê-las encontrado na etnia guaicuru e realizou a sua apologia.
4 Em janeiro de 1979, o número de lançamento da excelente revista Grifo, originada logo após a criação de Mato
Grosso do Sul, incluía matéria significativamente denominada Cultura sulmatogrossense? (1979, p. 41).
175
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Faz-se necessário acentuar que as produções escritas dos mentores
do Movimento Guaicuru são raras. As existentes estão condensadas
em textos curtos, nem sempre produzidos com o cuidado necessário,
motivados por eventos como as mostras artísticas. Seu proselitismo foi
exercido, sobretudo, por meio de conferências, palestras, mesas redondas
e entrevistas à imprensa, quase sempre com a participação de Henrique
Spengler.
Um caso raro é o texto de Spengler denominado Herança cultural;
O Movimento Cultural Guaicuru; Os guaicuru na história de Mato Grosso
do Sul, publicado pela revista MS Cultura. Dele são os extratos utilizados
na parte introdutória deste trabalho. Ao contrário dos textos decorrentes
de entrevistas difundidas pelos periódicos, neste se contrapôs o discurso
reflexivo à fala coloquial, as idéias articuladas num todo sistemático à
improvisação fragmentada imposta pela pauta do repórter. Por tal motivo,
é um documento que ganha o estatuto de importante fonte primária.
Para a recuperação do conteúdo ideológico desse movimento foi
muito oportuna a publicação de um livro, denominado Porto Murtinho:
história e cultura os guaicuru; o ciclo da erva-mate, produzido em co-
autoria por Spengler e Carlito (2007). Sob muitos aspectos, é um livro
póstumo. Não só o Movimento Guaicuru perdera vigor e deixara de existir
na prática. À época do lançamento do livro também Spengler havia
morrido prematuramente. Mas, sem dúvida, foi o seu idealizador.
A Carlito ficou a difícil tarefa de dar acabamento a um projeto
editorial do qual era cúmplice, mas não o seu principal mentor. Muito
do que pensava Spengler sobre os guaicuru e sobre Mato Grosso do Sul
transparece no texto do livro. É com base no seu conteúdo que se pode
expor e analisar a interpretação idealizada da nação guaicuru.
Nessa publicação os autores não realizaram uma análise marcada
pelo rigor científico, nem tiveram essa pretensão
5
. Limitaram-se a
5 “Esta obra não possui caráter técnico-científico, apresentando características de composição mais próprias à
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
176 |
sistematizar e reproduzir informações extraídas das mais difundidas fontes
historiográficas acerca das temáticas abordadas, a exemplo das obras de
Boggiani (1945), Rivasseau (1936), Levi-Satrauss (1957), Ribeiro (1980),
Bertelli (1987), Serejo (1986), Bianchini (2000) e Herberts (1998).
Ao contrário do que se constata nas obras desses estudiosos, os
acontecimentos e as situações tratadas não são expostos com objetividade
e rigor nem pleiteiam a contradição. De fato, sofrem um crivo seletivo
visando ajustar-se à interpretação ideológica do mentor do Movimento
Guaicuru.
Entre outros objetivos, o livro pretendia relatar os resultados da
excursão de um grupo de estudiosos, que incluía os dois autores, visando
descrever as condições de existência e as práticas culturais dos kadiwéu,
remanescentes dos guaicuru – hoje concentrados em algumas aldeias
situadas no município de Porto Murtinho, a sudoeste de Mato Grosso
do Sul. Mas esse não teria sido o seu principal objetivo, pois a publicação
representaria o resultado final de uma iniciativa de registro sistemático,
coroando a “intenção inicial de resgatar, identificar e valorizar a cultura de
Porto Murtinho. Tal intenção teria sido atingida, pois aflorou a conclusão
de que
na construção do universo cultural do povo Murtinhense não
um só tijolo, nem uma lenda sequer, não há uma receita culinária,
tampouco um quadro artístico, um ato político ou uma ação eco-
nômica que não tenha surgido como reação direta ou indireta do
conflito com as populações nativas que anteriormente habitaram
o lugar e da exploração exaustiva das folhas da erva-mate (SPEN-
GLER e CARLITO, 2007, p. 11).
produção literária. Portanto, não se prende aos rigores da linguagem nem das normas aceitas no meio técnico-científi-
co. Contudo, a obra procura oferecer o essencial para a identificação das fontes e referências utilizadas.(SPENGLER
e CARLITO, 2007, p. 11).
177
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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No livro também se manifesta um traço característico que marcou
sistematicamente a atuação política de Spengler: a apologia aos guaicuru.
É nessa apologia que seu discurso se distancia mais sensivelmente das
fontes científicas e se enreda numa interpretação redutora e medularmente
ideológica. momentos em que a argumentação chega a ser delirante.
Eis um primeiro exemplo.
De maneira generalizada, todas as tribos nativas que habitavam a
região foram extintas ou transfiguradas pela pressão de um modelo
colonizador despótico e intolerante, expresso, tanto por sua pro-
jeção geográfica sobre a terra inteira quanto na sua capacidade de
estancar o desenvolvimento paralelo de outros processos civilizató-
rios’ (RIBEIRO, 1978).
Neste cenário conflitante houve, porém, uma exceção. Um deter-
minado grupo étnico se fortaleceu após o contato com os coloni-
zadores. Para isso, saquearam os bens culturais de seus adversários,
adotando o cavalo, a lança e outras armas para utilizá-las no uso da
caça e da guerra, aprimorando sua própria estrutura sociocultural e
se transformando numa das tribos nativas mais resistentes de toda
América do Sul (SPENGLER e CARLITO, 2007, p. 21).
Atente-se para a utilização fora de contexto da citação de Darcy
Ribeiro. É fato notório que os guaicuru fortaleceram o seu domínio ao
longo do século XVII, mas isso não pode levar à conclusão de que foram
uma exceção avessa à tendência geral de subjugação das etnias indígenas
ao movimento da sociedade capitalista. Darcy Ribeiro fez uma afirmação
de caráter geral, aplicável inclusive aos guaicuru. Se exceção houve, foi
localizada no tempo e transitória, devida a uma conjuntura favorável que,
no interregno compreendido entre o século XVII e início do século XVIII,
deixou os guaicuru menos expostos às determinações dos empreendimentos
capitalistas encetados por espanhóis e portugueses na América.
No caso da colonização portuguesa, por exemplo, o Chaco
pantaneiro se prestara até então como caminho para as monções. Essa
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
178 |
região era um vazio de iniciativas dos colonizadores, destituída de núcleos
populacionais permanentes e fortificações militares.
Ao final do século XVIII a situação se invertera, tanto nos domínios
lusitanos quanto nos espanhóis. Desde então, também os guaicuru, a
exemplo do que vinha ocorrendo com outras etnias indígenas, foram
acossados pelos colonizadores e tiveram refreada sua mobilidade no amplo
território do Chaco, culminando com o seu confinamento em reservas.
A cobiça dos fazendeiros vizinhos, acobertados pelo estado, gerou
perseguições armadas, aniquilação dos indígenas e expropriação das terras
correspondentes. Num certo instante, imaginou-se inclusive que a etnia
guaicuru seria dizimada, pois progressivamente diminuía sua população,
tendência revertida na segunda metade do século XX (BERTELLI,
1987, p. 156, 164-6)
6
.
Para dar conseqüência à intenção apologética, a argumentação de
Spengler e Carlito paira fora do tempo. A referência é o século XVII, mas
a lógica do discurso induz à impressão de que os acontecimentos então
desencadeados continuaram sendo válidos para além desse limite temporal.
Agrava a interpretação, mesmo em face das incorporações voluntárias de
recursos culturais dos colonizadores pelos guaicuru, a idéia de que teriam
praticado essa assimilação sem perder a identidade.
O fato é que o exercício da guerra entre os Guaicuru tornou-se
mais intenso a partir do contato com os conquistadores espanhóis.
Enquanto outras tribos dissolviam-se frente à deculturação com-
pulsória do avanço colonizador, os Guaicuru fortaleciam-se, com-
batendo a desvantagem frente ao poder tecnológico de seus adver-
sários saqueando seus bens culturais e assimilando-os sem perder
a identidade, mantendo assim as características fundamentais de
sua configuração sociocultural (SPENGLER e CARLITO, 2007,
p. 32).
6 Na década de 1940, em matéria denominada Cadiuéus, uma publicação corumbaense informava que essa tribu
encontrava-se “atualmente quase extinta” (Anuário de Corumbá, 1943, p. 162).
179
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Símbolo de resistência contra a deculturação compulsória, os Ka-
diwéu têm uma História que o povo brasileiro deveria conhecer
melhor, não apenas pela ferocidade com a qual foram julgados
bárbaros cruéis no passado traço que a civilização experimentou
muitas vezes – mas pela capacidade de lutar e se adaptar sem perder
a própria identidade (Ibid., p. 22).
Uma pergunta não se deixa calar: como os guaicuru puderam manter
a “identidade cultural” em face do reconhecimento das transformações
culturais a que se submeteram?
A adoção do cavalo provocou mudanças culturais na sociedade
Mbayá-Guaicuru, que reconfigurou-se (sic) a partir da grande mo-
bilidade oferecida pelo animal, proporcionando a exploração mais
adequada dos recursos naturais e uma adaptação perfeita às táticas
de guerras utilizadas, que caracterizavam-se (sic) por rápidas incur-
sões a territórios habitados por grupos sedentários (Ibid., p. 32)
(...) Com a assimilação do cavalo e do ferro, sua economia torna-se
essencialmente botineira e os ataques estendem-se a regiões e povo-
ados cada vez mais distantes, como os realizados contra as monções
paulistas (Ibid., p. 33).
De fato, o discurso resvala para uma patente incoerência interna.
É no mínimo estranha essa idéia de que a assimilação de recursos e
instrumentos culturais de outras civilizações, que ampliaram inclusive a
área de operação e domínio dos guaicuru, ocorreu sem que eles perdessem
sua “identidade cultural”. O próprio termo identidade implica uma
inadequação imanente, pois traduz o seu significado como essência e,
assim, pretende comportar traços perenes no tempo, noção por si anti-
histórica.
A incorporação de recursos e instrumentos culturais de outros povos
indicava, ao contrário, a superação de uma pretensa “identidade anterior
e a transição para outro patamar cultural. Tanto foi assim que os guaicuru
passaram a praticar uma economia essencialmente botineira.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
180 |
Dispensa comentários um momento especialmente delirante do
discurso apologético de Spengler e Carlito: “Contrariando a praxe das
relações entre conquistadores e povos nativos, a oposição oferecida pelos
Guaicuru foi tão forte que em certos momentos chegou a representar a
inversão de papéis entre servos e senhores.” (Ibid., p. 30)
A expedição de estudos realizada por Spengler e Carlito, contudo,
colocou-os diante de fatos não suspeitados. Enredados pela versão fantasiosa
até então cultivada, foram impactados pela situação constatada admitindo
que teria atingido níveis não imaginados.
Ao deixarmos a reserva, encerrando a expedição e retornando a Bo-
nito, nossos sentimentos eram de frustração por não encontrarmos
em Tomásia nem sombra da postura altiva do povo senhorio que
dominou durante séculos o Chaco e o Pantanal, resistindo a redu-
ções, missões, catequeses, expedições punitivas e demais artifícios
colonizadores que arrasaram outras culturas nativas no continente
americano. Sabíamos que os Kadiwéu haviam sofrido transfor-
mações radicais, mas não esperávamos que fosse ao ponto da
desintegração de seu ethos (Ibid, p. 93. Grifo nosso).
Esse resultado inesperado para quem sempre falou pelos indígenas
sem conhecê-los diretamente não mudou substancialmente a forma de
pensar de Spengler. O reconhecimento da miséria material extrema e o
abandono das ancestrais referências culturais entre os kadiwéu contribuíram
para acentuar ainda mais a incoerência interna de seu discurso. Mesmo em
face do desconhecimento direto da vida indígena e mesmo constatando a
desintegração cultural da etnia guaicuru, fechou a análise com uma frase
de efeito, mas de tom metafísico. Nela exprime o desejo de que o “espírito
dos Kadiweo esteja todos os dias no coração dos brasileiros.(Ibid., loc.
cit.).
Ideólogos da questão indígena adotaram, predominantemente,
um discurso idílico para caracterizar a vida, os costumes e os valores
181
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
dos autóctones antes da chegada dos europeus. Assim, contribuíram
para constituir em senso comum a impressão de que as etnias indígenas
encontravam-se todas no mesmo estágio civilizatório. Expressões da
comunidade primitiva ainda não haviam sido corrompidas pelo contato
com os “brancos”.
Os homens eram bons e suas relações igualitárias, inclusive entre
os gêneros e entre os adultos e as crianças. A riqueza produzida era
compartilhada de forma equânime. A “invasão dos povos europeus e a
colonização capitalista teriam destruído a situação paradisíaca predominante
até então, quando ainda seria desconhecida a exploração do homem pelo
homem.
É inegável a relação dessa postura com o romantismo, movimento
literário instaurado nas primeiras décadas do século XIX e dominante até
a década de 1860. Enquanto na Europa se consagrava a hegemonia da
classe detentora do capital, após a Revolução Francesa e a instauração do
Estado burguês, iniciava-se um movimento de interpretação do passado
que reconciliava a burguesia com os seus inimigos da véspera.
Na literatura, por exemplo, personagens da nobreza medieval
começaram a ser celebrados como heróis, tendência ilustrada por Ivanhoé,
de Walter Scott, e a própria religião teve sua relevância reinstaurada,
exemplo notabilizado por Le Génie du Christianisme, de Chateaubriand
7
.
Sob a hegemonia da burguesia, essa interpretação ideológica elevava
personagens e instituições superados historicamente à condição de heróis
e forças angulares no processo de constituição da nação. Portanto, essa
conciliadora recuperação dos inimigos pregressos se dava quando estes
estavam irreversivelmente derrotados e sem forças para dar outra direção
ao movimento histórico.
7 A morte da mãe e da irmã, quando êle [Chateaubriand] estava no exílio, reconduziu-o à de sua infância, e o
grande livro que resultou dessa crise espiritual Le Génie du Christianisme muito útil aos projetos de restauração
religiosa de Bonaparte, determinou a sua nomeação para secretário de embaixada em Roma e a seguir ministro pleni-
potenciário no Valais.” (BANDEIRA, 1960, p. 132).
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
182 |
Então, a nobreza não era ameaça nem a Igreja Católica, pois
estavam submetidas ao turbilhão de um processo que as aburguesava
progressivamente. A burguesia, por seu turno, em todos os recantos do
capitalismo impunha as suas regras e se absorvia na tarefa de constituir
e fortalecer estados nacionais. Resumindo, por meio de um artifício
ideológico, a burguesia forjou para os seus vencidos inimigos do antigo
regime os papéis de personagens importantes no seu empreendimento
político prioritário: a consolidação da nação e do Estado nacional
burguês.
No caso do Brasil, que não experimentara um passado feudal, esse
movimento ideológico de retorno ao passado pôde celebrar o índio. A
literatura indianista ganhou o primeiro plano como decorrência. José de
Alencar, autor de Iracema e O Guarani, foi um dos principais nomes desse
movimento ideológico de conteúdo romântico.
Nessa vertente tupiniquim do romantismo, a entronização do índio
à sociedade civilizada ainda dependia do beneplácito do branco. Era este
quem reconhecia e avalizava o comportamento de devoção, de fidelidade,
de nobreza de sentimentos do índio, o que, quase sempre, culminava com
a atribuição do próprio nome do “branco civilizado ao selvagem (BOSI,
1992, p. 177-8). Essa forma de conciliação política patenteou, ainda, a
influência da concepção do bon sauvage de Rousseau.
Realizando uma manifestação extemporânea do romantismo, o
Movimento Guaicuru ajustou a imagem construída sobre o índio ao
seu tempo. Diferente do século XIX, sobretudo o movimento centrado na
questão indígena vinha pregando a autonomia das culturas das diferentes
etnias, o seu direito à preservação e o respeito às suas peculiaridades, de
forma a assegurar o seu lugar na sociedade capitalista.
Colocando como princípio central o respeito à diversidade cultural,
o debate sobre o ideal de índio deslocou-se para a figura de um ser que
se reconheceria dono de seu discurso, que saberia o que era necessário
para a preservação das etnias indígenas e de suas culturas e que deveria
183
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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autonomamente negociar com o branco, na condição de cidadão, a sua
participação na sociedade. Essa atualização da imagem ideal do índio
também foi abraçada pelo Movimento Guaicuru.
Contudo, vale acrescentar que, distante dessa idealização, a situação
nas reservas continuava patenteando algo muito diferente. Muitos falaram
de fora pelos povos indígenas e o próprio Movimento Guaicuru ilustra esse
fato, mas poucas vozes dentre os próprios autóctones fizeram-se ouvir. As
mais ativas foram caladas nos conflitos de terras, a exemplo do ocorrido
com Marçal de Souza em Mato Grosso do Sul.
Cidadão o índio nunca foi, pois, sempre tutelado pelo Estado, não
teve espaço para exprimir incisivamente suas reivindicações nem para
formular mais claramente suas bandeiras de luta ou defender as suas terras
e fazê-las atingir os patamares produtivos das demais empresas rurais.
Preso à burocracia da administração estatal, sem crédito, não dispondo
de tecnologias avançadas para o cultivo da terra, o índio tornou-se o “jeca
tatu de nosso tempo.
No caso dos guaicuru, acossados pela miséria material, foram tangidos
a trabalhar nas propriedades agro-pastoris próximas de sua reserva, onde se
tornaram trabalhadores assalariados, ou passaram a dedicar-se à elaboração
intensiva de produtos artesanais como arcos, flechas, adornos e peças de
cerâmica, comercializados nas estradas, praças e empresas especializadas.
Acentue-se ainda que no livro de Spengler e Carlito certas
informações são pouco exploradas para discutir, sobretudo, as relações
entre os povos indígenas. Os guaicuru, por exemplo, teriam escravizado
elementos de outras etnias e suas vítimas mais notórias foram os chamacoco.
Essa etnia não vacilou em se apropriar de elementos da cultura do branco
para aprofundar o processo de surgimento de classes sociais em seu seio.
De fato, os guaicuru haviam transitado da comunidade primitiva para
uma forma de sociedade de classes, a sociedade escravista. A utilização
do cavalo e de metais, a partir de sua relação com os europeus, serviu ao
aprofundamento dessa transição.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
184 |
Mas, em que pese o reconhecimento de que esse povo se
predispunha voluntariamente a ser uma metamorfose ambulante, os
ideólogos do Movimento Guaicuru continuaram a reafirmar a existência
de uma “identidade guaicuru e que os indígenas dessa etnia teriam
lutado bravamente para preservá-la. No fundo, parece que preservação da
identidade tem se configurado como uma expressão confusa, que só pode
ganhar algum sentido se, tortuosamente, manifestar preocupação com a
preservação da própria existência do grupo, da vida de seus integrantes
e a resistência aos invasores de suas terras. Mas isto, apesar de muito
importante e digno da atenção de todos os cidadãos, é outra coisa.
Ribeiro, por exemplo, não compartilhou desse equívoco, pois
reconheceu que os kadiwéu, remanescentes dos guaicuru em nosso tempo,
viviam entre dois mundos, mas marginalizados de ambos: o mundo da
velha tradição, tornada inviável, e o mundo do contexto nacional que os
cerca, mas onde eles não têm lugar, nem papel, senão pela negação de si
próprios.” (RIBEIRO, 1980, p. 8)
Mesmo Spengler e Carlito descreveram o pungente quadro de
pobreza material dos kadiwéu em nosso tempo e sua dispersão pelas fazendas
de criação de gado no Pantanal, às quais se incorporam na condição de
peões assalariados. Isso demonstra, também, como o livro oscila, pois à
apologia aos guaicuru do século XVII se opõem os fatos incontornáveis
de decomposição cultural, de pobreza material e de submissão absoluta
de seus remanescentes às determinações da sociedade capitalista. Esse
movimento oscilante denota, sobretudo, a incoerência interna do texto,
decorrente do confronto entre as intenções dos autores e os impactos
nascidos das constatações de uma situação concreta.
A argumentação aqui exposta não tergiversa nem aceita e consagra
as atrocidades cometidas contra os indígenas. Também não leva ao
imobilismo político que acompanha o desalento daqueles que reconhecem
o caráter irreversível dessas atrocidades e que admitem tudo estar perdido
185
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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para os indígenas. Pelo contrário, as patentes atrocidades contra suas etnias
merecem ser transformadas em objetos de investigação científica, para que
se revelem objetivamente suas causas e conseqüências. Esses resultados serão
úteis para subsidiar a formulação de políticas que re-instaurem os direitos
dos povos indígenas e balizar as medidas que façam o ressarcimento, dentro
do possível, das perdas causadas historicamente pelos predadores de seus
domínios e de seus bens.
Deve-se, inclusive, denunciar o mal estar que ainda gera a mera
referência a casos como o do português Antônio Joaquim Malheiros
8
,
um dos mais notórios beneficiários de enriquecimento ilícito no sudoeste
de Mato Grosso do Sul. Com o aval do Estado, Malheiros tornou-se o
maior patrocinador de verdadeiro genocídio contra os guaicuru na região
de Porto Murtinho. Ao longo do tempo e em paralelo, suas propriedades
territoriais viram-se gigantescamente alargadas. Estudá-lo representa a
possibilidade de conhecer o processo de formação de um coronel regional,
sua gênese e seu desenvolvimento, os mecanismos utilizados para a sua
ascensão, suas relações com o poder e com o banditismo ostensivo, bem
como as ações arbitrárias e cruéis que desencadeou, em especial contra as
populações indígenas.
Retornando ao leito central da discussão, o que se quer por em relevo
é o fato de que o processo civilizatório dos nativos brasileiros, mesmo em
face de sua singularidade, no geral pouco diferiu do ocorrido em outras
partes do universo. É certo que na comunidade primitiva os homens eram
8 A historiografia refere-se ordinariamente a este personagem como Malheiros ou o português Malheiros. Boggiani
(1945, p. 177) é um dos poucos que enuncia o seu nome completo. Na introdução de Os caduveo, escrita por Herbert
Baldus, é reproduzido o relato de “um médico-feiticeiro caduveo”, feito ao “viajante tcheco A. V. Fritch”: “Em 1872
veio de Assunção o vapor Vila Maria. Ancorou num lugar chamado Ealanokódi, o atual Barranco Branco. Lá estava
a aldeia dos Caduveo. Era em fevereiro. Em novembro chegaram outros brancos e com êles Malheiros. Começaram
a negociar. Êle (Malheiros) fêz um contrato com os Caduveo, pagando 300 mil réis para estabelecer o aldeamento
do Nalique. Os índios aceitaram o trabalho na fazenda. É assim até hoje. Malheiros era um velho português que se
estabeleceu entre os Caduveo negociando com cachaça. Durante vinte anos foi diretor dos índios Caduveios, obtendo
quantidade considerável de terras (mais de duzentas léguas quadradas). Aumentou sempre a sua fazenda. Tomou as
terras aos índios.” (apud BOGGIANI, 1945, p. 36-7)
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
186 |
iguais, não existia exploração de uns sobre outros, mas o segredo dessa
igualdade repousava nas carências materiais desses povos.
Quando ainda não produziam excedentes, não poderiam se dar ao
luxo de escravizar os seus inimigos, pois não dispunham de gêneros para
alimentá-los. A própria escravidão implicava certo grau de desenvolvimento
das forças produtivas. O grau civilizatório de um povo que escravizava
nativos de outras tribos estava bastante avançado, pois patenteava
a produção de excedentes. Nessa ótica, o escravo, além de produzir sua
existência, produzia também excedentes que libertavam outros homens do
jugo representado pelo trabalho direto.
A escravidão esteve nas origens da primeira forma de sociedade
de classes a sociedade escravista –, que além dos impérios orientais, no
Ocidente ganhou as suas formas clássicas com as cidades-estados gregas
e Roma. Mas os maias, os astecas e os incas também foram impérios
escravistas. Da mesma forma, os guaicuru chegaram a se elevar a esse
estágio civilizatório.
As relações que esses povos escravistas estabeleceram com as demais
etnias indígenas não podem ser reduzidas às conseqüências pretensamente
ruinosas para as últimas. Os apologistas do índio sempre tangenciaram
essa questão incômoda. Mas esses povos precisam ser compreendidos com
base nas necessidades colocadas pelo processo de reprodução material de
sua existência.
A escravidão, contraditoriamente, libertou uma parte dos homens e
mulheres do trabalho direto, permitindo-lhes que, num patamar superior,
pensassem e tratassem as questões relativas à produção, à direção e à defesa
do grupo, dando margem à criação do Estado, e, inclusive, ao cultivo do
espírito. os estudiosos renitentes que vêem horrores nessas iniciativas,
pois são associadas à violência contra os escravos e os inimigos, bem como
à criação de uma máquina dirigida à dominação de uma minoria sobre o
grosso dos homens.
187
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Esses apologistas da comunidade primitiva resistem à destruição de
um produto de sua imaginação e preservam em pensamento, dessa forma,
a falsa idéia de um paraíso idílico que teria cercado a existência de todos os
povos indígenas. Cabe, ainda, uma pergunta: como asseguram a existência
material, hoje, os descendentes dos índios guaicuru?
Viajantes, antropólogos e historiadores vêm produzindo registros
de suas passagens pelas aldeias dos índios kadiwéu, em Porto Murtinho,
desde fins do século XIX. Eles atestam, entre outros fatos, a dispersão dos
elementos dessa etnia pelas fazendas de criação de gado das proximidades,
onde asseguram a subsistência como peões. É o que transparece no
discurso de João Faria, índio kadiwéu entrevistado por Spengler e Carlito
na Aldeia Tomásia: “Minha vida é trabalhar para fora, nas fazendas.” (apud
SPENGLER e CARLITO, 2007, p. 88).
Não deve ser difícil esse tipo de engajamento, pois, desde longa
data, inúmeras fontes vinham patenteando as especiais habilidades dos
descendentes dos índios cavaleiros no manejo do gado e nos cuidados
dispensados aos animais.
Eugênio Faria, outro índio kadiwéu, indica que a cerâmica e a
pintura de couro são as principais modalidades de artesanato praticadas
atualmente na aldeia (apud SPENGLER e CARLITO, 2007, p. 89). Nas
unidades da Casa do Artesão, distribuídas pelas principais cidades do estado
de Mato Grosso do Sul, são encontrados artigos de artesanato kadiwéu em
profusão. Predominam as peças de cerâmica, mas se encontram em boa
quantidade também arcos, flechas e elementos de adorno. Uma expressiva
quantia de artesãos indígenas é envolvida na produção dessas peças.
Quando o foco se desloca para esse plano substantivo que trata das
formas pelas quais os kadiwéu vêm assegurando a sua reprodução material,
é criada a oportunidade para a discussão mais apropriada do que seria
a “identidade dos remanescentes dos guaicuru, em nosso tempo, e para
colocar de uma forma mais definitiva a questão da preservação da cultura
dessa etnia.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
188 |
Referindo-se aos indígenas de uma forma geral, um estudo anterior
já havia posto sintética e categoricamente essas duas questões.
O contato com os colonizadores brancos representou, para os in-
dígenas, o confronto com uma força descomunal, contra a qual
não teriam condições de combater: o capital. Do choque resul-
tou a diluição da cultura indígena no interior da cultura burguesa
emergente. Essa diluição implicou uma transformação radical das
funções dos objetos e instrumentos produzidos pelos indígenas. A
cerâmica, bem como o arco e a flecha, vendidos nas estradas e em
lojas especializadas em artesanato indígena, não servem à pre-
servação de alimentos nem à caça ou à pesca. São, basicamente,
mercadorias que permitem ao artesão adquirir, no mercado, as de-
mais mercadorias que, sob as novas condições hegemonizadas pelo
capital, asseguram a sua subsistência (ALVES, 2003, p. 14).
Fazendo a análise incidir sobre o processo de produção dos objetos
indígenas, a discussão em torno da cultura ganha relevo e pode sair do
emaranhado que sempre a cerca. Em primeiro lugar, os produtos indígenas,
quando as diversas etnias ainda não haviam estabelecido relações com
o capitalismo, eram produzidos como valores de uso. O arco e flecha
eram fabricados para emprego nas práticas da caça, da pesca e da guerra.
Suas funções, portanto, estavam ligadas às necessidades de reprodução
da existência dos indígenas e de defesa da tribo contra os inimigos que
tentassem arrebatar as suas reservas de meios de subsistência.
A cerâmica era produzida para, entre outras funções, conservar os
alimentos e para rituais fúnebres. Isso foi superado. Tudo mudou após
os contatos estabelecidos com a sociedade capitalista. Tais produtos
começaram a ser produzidos para venda no mercado. Tornaram-se,
portanto, mercadorias, valores de troca, produzidos não para atender
diretamente necessidades vitais dos indígenas, mas como objetos de adorno
e de decoração consumidos por turistas.
Logo, os indígenas, tanto quando trabalham nas fazendas devotadas
à pecuária como quando se dedicam ao artesanato, são trabalhadores típicos
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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da sociedade capitalista e produzem da única forma possível no seu interior.
Na sociedade regida pelo capital, tudo é produzido para ser vendido no
mercado e todo produto necessário à subsistência dos trabalhadores nele
pode ser comprado.
A dedução é clara: não mais existe a cultura guaicuru. A
“identidade dessa etnia não pode mais ser buscada nas relações sociais que
a tornaram, num passado já relativamente distante, uma nação escravista.
Seus descendentes, agora peões e artesãos, integraram-se à sociedade
capitalista na condição de trabalhadores que ganham seu sustento com
base nos produtos que oferecem ao mercado. Seja pela oferta de força de
trabalho nas fazendas de criação de gado, seja pela venda de artesanato
nas estradas, praças e casas especializadas, reproduzem-se como qualquer
modalidade de trabalhador típico da sociedade capitalista, independente
de cor, etnia, gênero ou crenças.
Em face da socialização da produção, igualam-se a todos os
demais trabalhadores expropriados dos meios de produção, pois, como
eles, vendem no mercado basicamente sua força de trabalho. As antigas
tradições culturais não exercem qualquer interferência nesse quadro e são
toleradas pelo capital desde que não causem prejuízos às relações sociais
por ele instauradas.
Quase sempre, o apelo à cultura peculiar do índio tem servido como
pano de fundo para aqueles que se solidarizam com suas misérias, mas
não sabem como contribuir para o direcionamento de suas lutas. Sem
rumos, fazem um discurso inócuo sobre sua pretensa “identidade cultural”,
deixando de ver o que é substantivo. De fato, o índio se encontra submetido
a um quadro geral de exploração, típico da sociedade capitalista, que atinge
todos os trabalhadores.
Se alguma especificidade na forma de o índio enfrentar essa
situação, resulta de suas crenças e tradições pregressas, produzidas no
interior das relações sociais que o tipificaram no passado e que interferem
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
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no sentido de torná-lo menos resistente aos mecanismos de exploração do
capital. Esses mecanismos, abusivamente, chegam a raiar os procedimentos
típicos do processo conhecido como acumulação primitiva. Escravização,
genocídio, dilatação da jornada de trabalho, aviltamento dos preços dos
produtos que oferecem no mercado e expropriação de terras são alguns
deles.
Mas a defesa do índio não pode se perder na apologia de sua grandeza
passada e nas lamúrias pelo seu sofrimento no presente, realizando, no
máximo, catilinárias éticas sobre os abusos contra eles cometidos pelo
capital, nem se esconder sob abstratas bandeiras desfraldadas a pretexto
da preservação de sua cultura e de sua identidade passadas. Sua defesa
conseqüente precisa, sim, tomar como referência o presente e projetá-lo
para o futuro, postulando pela conquista das condições que o transformem
em cidadão na sociedade concreta de nosso tempo.
Fruto da consciência política, que ele engrosse as lutas dos
trabalhadores em geral visando à eliminação de todas as formas de exploração
do homem pelo próprio homem. A reivindicação fundamental, portanto,
é a de que o índio se transforme em cidadão no interior da sociedade
capitalista. Quanto às suas tradições, aos seus ritos, às suas crenças e às
suas línguas, quando ainda não extintos, que sejam cultivados por ele; que
sejam registrados cientificamente e passem a integrar, nessa condição, o
patrimônio cultural comum da humanidade.
Darcy Ribeiro contribui para o entendimento dessa questão ao
reconhecer, de início, a mudança dos mitos indígenas. Esses mitos passam
a evidenciar a intervenção de “homens brancos armados de espingardas ou
personagens indígenas que já não são guerreiros, mas peões de fazendas do
pantanal. A religião também se transfigura, fazendo surgir xamãs (pagés)
que se parecem cada vez mais com sacerdotes católicos.(RIBEIRO, 1980,
p. 8).
Ele também alerta para o fato de que
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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a antiga tradição Kadiwéu sobrevive pelo único modo possível, que
é alterando-se continuamente. Por esta razão, quem os visitar daqui
para o futuro, documentará expressões cada vez mais distintas das
que registramos há tantos anos, de sua criatividade no controle do
azar e na busca do saber e beleza. Mas também sempre parecidas
com elas por sua natureza essencial de esforço por explicar suas pró-
prias experiências à base de redefinição constante da mesma vetusta
tradição; por exercerem sempre a função de instrumentos ideoló-
gicos que lhes conferem segurança diante da vida sempre azarosa;
e por seu caráter de modos de expressão artística, através dos quais
eles dão contentamento à mesma velha vontade de beleza. Assim
será até que se extinga, com o último Kadiwéu, esta tradição que já
bruxuleia e desapareça, com ele, uma das faces singulares do fenô-
meno humano (Ibid., loc. cit.).
Logo, submetida aos ditames da sociedade capitalista, a própria
tradição kadiwéu foi acompanhada sistematicamente por mudanças, o que
evidencia não ser mais possível a restauração da substância original de
sua cultura. Essa substância se materializava em relações sociais superadas,
perdidas no passado, incompatíveis com a sociedade capitalista. Postular
a restauração de tais relações sociais, como se isso fosse vital para o índio,
é cair num equívoco cruel, sobretudo para este. É adotar uma cômoda
postura humanitária e filantrópica cujos efeitos não recaem sobre os seus
defensores, mas naquele que é objeto de sua alegada defesa.
Isso perpetua o paternalismo, tanto do Estado quanto de certos
segmentos da sociedade civil, que acaba justificando a tutela sobre o índio e
inviabilizando iniciativas que canalizem as suas lutas em direção à assunção
de sua cidadania.
Mistificar essa situação, levantando a questão da especificidade
cultural do indígena ou colocando a preservação de sua cultura e de sua
“identidade cultural” antes de tudo contribui para produzir um beco
político sem saída. Isto não quer dizer que os indígenas devam abdicar
de suas tradições, de suas crenças, de suas línguas e de seu folclore. Pelo
contrário, que eles continuem a ser celebrados e cultivados.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
192 |
Mas, para recolocar o sentido de que se revestem essas práticas e
valores no âmbito da sociedade capitalista, vale lembrar o final de Cândido,
conto de Voltaire cujo enredo é permeado por debates intermináveis entre
Pangloss, o otimista, e Martinho, o pessimista. Tentando contar com apoio
para as suas teses antagônicas, apelam ambos para a opinião de Cândido.
Este tergiversa e deixa claro que o essencial não incidia sobre as suas opiniões
divergentes, que eles poderiam expor livremente, mas sobre as necessidades
ligadas à produção da existência. Que discutissem interminavelmente
sem chegar a conclusões de consenso, mas, antes, deveriam trabalhar. E
todos, além de Cândido e de sua companheira, Cunegundes, cumpriram
esse requisito primeiro produzindo mercadorias. (VOLTAIRE, 1979, p.
235-6).
Na sociedade burguesa nada foge a essa determinação, tanto que
os kadiwéu, em nossos dias, são peões nas fazendas de criação de gado ou
artesãos. Ao venderem seus produtos no mercado patenteiam a profunda
transformação que se abateu sobre a sua antiga cultura. Já não são produtores
de valores de uso, como antes do contato com o capital. São produtores de
mercadorias, uma característica típica que o modo de produção capitalista
impôs aos trabalhadores que vivem sob o seu domínio. Expressam, dessa
forma, a peculiaridade da forma de produzir ditada pela cultura burguesa.
Se produzem nos marcos da cultura burguesa, também sua
“identidade ancestral foi destruída, daí poderem se identificar hoje
com os demais trabalhadores expropriados e compartilhar os seus ideais
de igualdade e de superação da exploração do homem pelo homem.
O movimento centrado na questão indígena não pode se reduzir a um
movimento de questão única
9
, embebido no ideal irrealizável que postula
9 A dificuldade não está apenas no fato de os perigos inseparáveis do atual processo de desenvolvimento serem hoje
muito maiores do que em qualquer outro momento, mas também no fato de o sistema do capital global ter atingido
seu zênite contraditório de maturação e saturação. Os perigos agora se estendem por todo o planeta; conseqüente-
mente, a urgência de soluções para eles, antes que seja tarde demais, é especialmente severa. Para agravar essa situação,
tudo se torna mais complicado pela inviabilidade de soluções parciais para o problema a ser enfrentado. Assim,
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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um lugar especial e indevassado para as etnias indígenas dentro da sociedade
capitalista. Tais redomas já não são factíveis.
Para superar esse entendimento reducionista é imperioso iluminar a
questão do índio pelo conhecimento das leis que regem a ordenação social.
O movimento de questão única faz exatamente o contrário, pois constrói
sua compreensão da sociedade com suas limitadas lentes de pequena
distância, que não permitem enxergar para além de seu interior. Por isso
suas propostas políticas são reducionistas e inaplicáveis.
Mas os discursos reducionistas têm platéia. Contribui para tanto
o senso comum, que absorve e põe em primeiro plano as diferenças
captadas empiricamente, submetendo-as a um tratamento analítico
caótico e desorganizado. Pessoas cultivando tradições milenares diferentes,
religiões diferentes, línguas diferentes, dão a impressão de sobreposição de
peculiaridades que excluem a experiência universal comum.
Objetivamente, no mundo da produção capitalista essas pessoas
se igualam e tornam-se uma mesma forma concreta de trabalhador cuja
especificidade se manifesta no fato de produzirem valores de troca. É
no altar da produção capitalista, lastreado por uma mesma base cultural
comum, que todos comungam uma forma de igualdade, por meio da
qual realizam seus papéis no processo de produção das mercadorias.
Voltaire considerava secundárias as crenças otimistas ou pessimistas dos
personagens de Cândido, desde que trabalhassem. Também pode ser dito
que não importam as religiões ou o ateísmo dos seres humanos, as línguas
universais ou nativas que dominam; a cor de suas peles ou os seus gêneros,
pois são simplesmente adornos que não colocam obstáculos ao processo de
produção de mercadorias.
A história humana está plena de exemplos em que essas tradições
e essas diferenças se ajustaram às determinações dos modos de produção.
nenhuma ‘questão única’ pode, realisticamente, ser considerada a única questão.” (MÉSZÁROS, 2002, p. 95)
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
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A própria Reforma Protestante surgiu como um recurso para adaptar a
religião às necessidades do capital. A Igreja Católica, de religião de escravos
oprimidos no Império Romano, transformou-se em instituição dominante
na sociedade feudal, para, depois de derrotada pela burguesia, tornar-se
uma instituição burguesa. Também os rituais negros e as religiões de origem
africana ajustaram-se às leis que dão movimento à sociedade capitalista. O
mesmo ocorreu com as tradições, as crenças e as formas de ser das etnias
indígenas.
Na sociedade burguesa o imperativo é que todos, adornados de suas
tradições, suas crenças e praticando seus rituais muitas vezes descarnados,
produzam mercadorias. Qualquer proposta política que postule a
regeneração da substância morta das tradições de grupos sociais ou a
ressurreição das relações sociais que estiveram em sua origem, formula não
objetivos inalcançáveis, mas resulta cruel, também, para aqueles que
lutam e se afligem em sua defesa, frustrando-se pela não realização dos
frutos almejados.
Uma questão ligada às raízes culturais em Mato Grosso do Sul ainda
merece ser suscitada: até que ponto a influência cultural indígena, em seu
espaço, deveu primazia aos guaicuru? Muitos estudiosos e, até mesmo,
sul-mato-grossenses comuns colocariam em dúvida a relevância dada pelo
Movimento Guaicuru à etnia correspondente.
que se reconhecer a resistência dos guaicuru aos castelhanos e
paraguaios, dificultando sua presença no Alto Paraguai, e a incorporação
dessa região ao Brasil, por força também da vontade dessa etnia, o que se
expressou no tratado de amizade por ela firmado com o governo colonial
português no final do século XVIII.
Mas é indiscutível, também, que em toda a fronteira sul, pioneira
no processo de ocupação e colonização da região hoje correspondente
ao território do estado, sempre foram especialmente marcantes os traços
culturais herdados dos guarani. Após a Guerra da Tríplice Aliança, em
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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grandes levas uma população guaranizada, para usar a expressão de Melo
e Silva (SILVA, 1939), deslocou-se do país vizinho para a região dos
ervais, onde a extração do mate se converteu na sua principal atividade
econômica, no último terço do século XIX e primeiras décadas do século
XX. Seus hábitos e costumes marcaram profundamente a fronteira nos
âmbitos do trabalho, da culinária, da música, do lazer e da própria língua.
Nessa extensa região, não os descendentes de paraguaios, mas muitos
brasileiros aí radicados há longo tempo, falam o guarani.
Na literatura sul-mato-grossense, um de seus nomes mais prolíferos,
Hélio Serejo, usou reiterativamente expressões denotativas de um portunhol
recheado de termos e expressões do guarani, corrente nessa fronteira. Em
sua extensa obra, Serejo delineou claramente os traços de comportamento
de seus viventes, evidenciando suas formas de ser, de agir e de valorizar.
Também a música regional é um repositório da viva influência
cultural da fronteira plasmada em todo o espaço sul-mato-grossense
(GUIZZO, s.d., p. 19, 24, 26, 28-9, 33 e 38-9).
Nas artes plásticas revela-se o mesmo peso da presença cultural
guarani. Os personagens das telas de Ilton Silva, um dos mais expressivos
pintores de Mato Grosso do Sul, são exatamente os trabalhadores
guaranizados da fronteira. As rudes feições de ervateiros e peões
produzidos pela miscigenação, seus bigodes finos e alongados, cabelos
negros descuidados, olhos vivos, uma indumentária que inclui o chapéu
de grande aba, o poncho, as roupas de cores vivas e, às vezes, o próprio
revolver e o machete, a companhia do cavalo, os vistosos apetrechos de
montaria, o exercício das lidas típicas do campo, as práticas cotidianas,
como o churrasco ou a roda de tereré, os bailes, as festas e as bebedeiras,
os barracos, as ranchadas, bem como a paisagem onde se sobressai a
campina suavemente ondulada são expressivos, entre outros elementos
de composição, do ambiente fronteiriço, de suas atividades econômicas e
das relações sociais do homem que aí vive.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
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Por fim, pode-se fazer uma leitura ao revés da interpretação de
Spengler e formular a hipótese de que a resistência guaicuru impediu
uma influência cultural mais extensa dessa etnia indígena em Mato Grosso
do Sul. Perdendo grandes contingentes nas refregas contra espanhóis e
portugueses, distanciando-se dos pólos colonizadores e sendo vítima de
epidemias, o povo guaicuru foi tendo sua população diminuída, ao ponto
de se temer pela sua extinção.
Os guarani, ao contrário, mais permeáveis à aculturação desde as
reduções jesuíticas e introduzindo-se em grande número pela fronteira
sul, influenciaram profundamente os hábitos, os costumes, os valores, em
síntese a forma de fazer, de ser e de sentir dos sul-mato-grossenses.
Essa influência foi tão ampla e profunda que fez Melo e Silva
recear pelas suas conseqüências. Segundo ele, a população guaranizada
dominante, amante das festas e da música, andeja e não fixada à terra,
beberrona, promíscua e pouco disciplinada ao trabalho, era uma ameaça à
própria integridade do território brasileiro. Frouxamente subordinado ao
governo da União, seria necessário colocar em prática um rígido programa
de medidas visando nacionalizá-lo (CENTENO, 2007, 257 p.).
Passadas décadas, as preocupações com a nacionalização da fronteira
e com a eugenia, presentes na obra de Melo e Silva, chegam a parecer
estranhas. Em nossos dias, a constatação é de que a influência guarani deixou
marcas culturais profundas em Mato Grosso do Sul. Muitos dos hábitos
e costumes de sua população foram herdados dessa fonte ondulada são
expressivos da singularidade regional. Inclusive os jovens de suas principais
cidades realizam saudáveis rodas de tereré nas calçadas de suas residências,
em bares, nos clubes sociais e nas praças. As boas lanchonetes oferecem
ao consumo a chipa e a sopa paraguaia, pois são muito procuradas. E nas
festas, bailes, bares e restaurantes, a clientela saúda com gritos e assovios as
polcas, as guarânias e os chamamés, cultivados entre as suas preferências
musicais.
197
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Concluindo, cabe uma última e decisiva reflexão sobre a questão
da identidade cultural”. Sempre que a expressão é utilizada, verifica-se que
ela denota a busca por uma peculiaridade que identificaria certo grupo
social ou os habitantes de certa região. Essa busca por peculiaridade não
é condenável em si. Condenável, nessa busca, é quando quem a realiza
arranca, arbitrariamente, aquilo que seria peculiar de sua necessária
vinculação com o universal.
Essa cisão mutila a investigação por velar, sobretudo, a relação
existente entre o singular e o universal. Recompor teoricamente essa
relação não leva à negação da peculiaridade cultural de um grupo social
ou dos habitantes de uma região. Essa peculiaridade precisa ser traduzida
como singularidade, o que significa dizer que ela é algo que só se revela em
sua plenitude quando captada como expressão do universal.
No caso, a cultura na fronteira é, sobretudo, cultura burguesa,
pois no seu processo de realização subordina-se à forma de produção de
mercadorias generalizada pelo capital. Mas é uma configuração cultural
singular, por força das tradições de seus habitantes e das características
de seu espaço geográfico. Essa singularidade cultural não pode excluir o
universal, isto é, a sociedade capitalista, pois é, na sua forma de realização,
adaptação de tradições passadas de seus habitantes e de imposições do
meio geográfico aos ditames do capital, que se amalgamaram numa forma
única de ser.
As elaborações que rompem com o universal, rompem igualmente
com o princípio de totalidade. Realizam, dessa forma, empreendimentos
que resvalam para o regionalismo, para o nacionalismo, para o terceiro-
mundismo e outros ismos, todos eles reveladores de uma incapacidade
visceral de seus ideólogos para articular o singular e o universal. Ao
mergulhar numa pretensa e excludente peculiaridade sul-mato-grossense
– ela própria muito discutível – e fazer a ruptura de sua articulação com o
universal, o discurso do Movimento Guaicuru realizou, tão somente, uma
interpretação ideológica de escasso valor científico.
Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
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Por não ver a singularidade deste estado como manifestação do
universal, realizou uma interpretação regionalista pouco adequada à
revelação do que de mais grandioso na história em Mato Grosso do
Sul.
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Índio e “identidade cultural” em Mato Grosso do Sul
200 |
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VOLTAIRE, François Marie Arouet de. Contos. Tradução de Mário Quintana. São Paulo:
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201
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
DESAFIOS EPISTEMOLÓGICOS EMERGENTES NA
RELAÇÃO INTERCULTURAL
1
Reinaldo Matias Fleuri
2
O objetivo deste texto, apresentado aqui ainda sob a forma de notas
para um debate, é indicar algumas contradições e mediações epistemológicas
que emergem nas relações socioculturais entre nações e culturas autóctones
(colonialisticamente chamadas de indígenas) e culturas ocidentais, que
vieram a constituir o povo brasileiro.
Tais indicações foram sugeridas inicialmente pelo debate realizado
no Seminário “Fronteiras Etno-culturais e fronteiras da exclusão” (Campo
Grande, Brasil, 2002), com representantes de vários grupos étnicos da
região mato-grossense. A partir deste diálogo particularmente com
Daniel (Kaiowa-Guarani), com Sérgio (Mbyá-Guarani), com Agostinho
(Boe/Bororo) e com Vanderlei (Terena) focalizamos algumas questões,
que retomamos aqui para analisar os limiares epistemológicos da relação
intercultural dos povos nativos e a sociedade brasileira.
Coloquei-me neste diálogo com a atitude, proposta por Gregory
Bateson (1976, 1986, 1997), de um observador que deixa que a sua
1 O presente texto apresenta resultados de pesquisas desenvolvidas por Reinaldo Matias Fleuri, no âmbito do Projeto
Integrado de Pesquisa que vem desenvolvendo sob os auspícios do CNPq, em sucessivas etapas: (1.) Educação inter-
cultural: desafios e perspectivas da identidade e pluralidade étnica no Brasil (2000-2004); (2.) Educação intercultural:
elaboração de referenciais epistemológicos, teóricos e pedagógicos para práticas educativas escolares e populares (2004-2007);
(3.) Educação intercultural: desconstrução de subalternidades em práticas educativas e socioculturais (2007-2010). A elab-
oração textual deste artigo também foi baseada nos debates realizados nos seguintes congressos: Seminário Fronteiras
Etno-Culturais e Fronteiras da Exclusão: Desafio da Interculturalidade e da Equidade, realizado em Campo Grande (MS,
Brasil), no período de 16 a 19 de setembro de 2002, focalizando particularmente o tema: a etnicidade no contexto
de uma sociedade intercultural; V Congreso Europeo CEISAL de Latinoamericanistas - Desafíos Sociales en América
Latina en el Siglo XXI, realizado em Bratislava (Eslovênia), de 4 a 7 de julho de 2004; III Seminário Internacional
Fronteiras Étnico-Culturais e Fronteiras da Exclusão: As Identidades/Diferenças Culturais em Contextos Pós-Coloniais,
realizado em Campo Grande (MS, Brasil) no período de 22 a 25 de setembro de 2008; II Seminário Internacional
América Platina, realizado em Campo Grande (MS, Brasil) entre os dias 5 e 8 de novembro de 2008, com o tema
Diálogo regional e dilemas contemporâneos” (disponível em: <http://www.americaplatina.ufms.br/>).
2 Reinaldo Matias Fleuri é professor titular no Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa
Catarina; coordenador do Núcleo Mover “Educação intercultural e movimentos sociais” (www.mover.ufsc.br ) e pres-
idente da Association Internationale pour la Recherche Interculturelle (ARIC). E-mail: fleuri@pesquisador.cnpq.br .
Desafios epistemológicos emergentes
202 |
observação questione o seu pensamento, seus atos, sua realidade. E
quando questionamos a própria estrutura lógica e conceitual a partir da
qual compreendemos a realidade, estamos refletindo sobre a dimensão
epistemológica de nosso conhecimento. Trata-se, pois, de buscar
compreender o processo lógico e gnosiológico pelo qual nós compreendemos
a realidade, ou seja, de conhecer de que forma se dá o conhecimento.
Nesta perspectiva, perguntei-me: qual a visão de mundo e a partir de
qual estrutura lógica as pessoas desses povos com quem estamos dialogando
conhecem, aprendem, interagem com o mundo e com os outros grupos?
Que conflitos apresentam com a visão de mundo ocidental, assumida
hegemonicamente pela sociedade brasileira? Que mediações epistemológicas
vêm se construindo, ou se fazendo necessárias, nos diferentes campos de
inter-relações socioculturais?
Em seu depoimento apresentado no referido colóquio, Daniel
(Kaiowa-Guarani) disse que o processo de relação entre os brancos e os
Guarani colocou em risco a vida deste povo. Isto porque os colonizadores,
e posteriormente os missionários de diferentes credos e agentes
governamentais, desenvolveram junto às nações autóctones uma educação
de fora para dentro.
Os brancos desenvolveram junto aos Guarani processos de educação
pautados no sistema escolar e catequético, realizando o que Paulo Freire
identifica como “invasão cultural” através da educação bancária”. Tal
processo educativo pressupõe que a educação se faça de uma pessoa
para outra, de um grupo sociocultural para outro, como um processo de
transmissão de seu modo de perceber e de significar o mundo, de tal modo
que o outro o absorva e o reproduza da mesma forma.
Paulo Suez, no mesmo colóquio, afirma que no processo de
colonização os missionários católicos chegaram no Brasil despreparados
ideologicamente para o reconhecimento da alteridade. Eram indisponíveis
para acolher e para entender os significados peculiares de outras culturas
203
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
porque sua visão de mundo era pautada pela unicidade. Pressupunham
que a verdade, o ser, identifica-se com o todo, o universal. Deste modo,
o diferente (em sua diversidade e alteridade) apresenta-se como a falta de
ser, e por ser uma ameaça à unidade, o diferente precisa ser reduzido ao
mesmo.
Com esse pressuposto, é evidente que a relação com os outros, ou
melhor, a relação dos colonizadores e missionários tenha sido direcionada
no sentido de submetê-los, subjugá-los, assimilá-los a si mesmo, no
sentido de recuperar ideologicamente a integridade do uno. Pela própria
epistemologia do pensamento único, os colonizadores ocidentais não se
predispunham a reconhecer os outros povos e suas respectivas culturas
em sua alteridade como sujeitos autônomos, como grupos socioculturais
soberanos, com quem fosse possível dialogar em de igualdade, e, em
reciprocidade, aprenderem juntos.
Na perspectiva colonialista, a diversidade dos grupos socioculturais,
que impossibilita a comunicação com todos os grupos mediante um único
padrão lingüístico e cultural, é vista como um empecilho para o avanço
da civilização”. Padre Antônio Vieira considerava que a diferença de tantas
línguas dos diferentes povos encontrados pelos colonizadores nas Américas
era uma obra do demônio. Os demônios teriam produzido essa Babel, essa
diversidade de línguas, justamente para impedir a pregação do evangelho.
O que, do ponto de vista dos colonizadores, significava o recrutamento
da mão-de-obra para sustentar os processos econômicos implantados nos
territórios invadidos. Portanto, a diversidade linguística e cultural se coloca,
para quem quer dominar, como um obstáculo ao seu projeto.
Para o pensamento colonizador, etnocêntrico, os diferentes
significados propostos pelas outras culturas podem ter dois sentidos. De um
lado, as concepções propostas pelas outras culturas podem ser consideradas
como idênticas às conhecidas pela sua própria cultura. Deste modo,
os conceitos elaborados pela outra cultura são assimilados aos da própria
cultura, e desta forma a cultura do outro é negada em sua alteridade.
Desafios epistemológicos emergentes
204 |
De outro lado, os significados constitutivos da cultura alheia são
vistos como diferentes e então assimilados dentro de uma organização
hierárquica, na qual obviamente!” a cultura alheia é sempre identificada
como inferior. Ou seja, com base no pensamento único, a relação de
reconhecimento, de diálogo e de reciprocidade com os outros se torna
impossível.
Re-conhecer, todavia, a peculiaridade e singularidade de cada
cultura é o que permite aos grupos socioculturais conversarem entre si.
Esta tese pode ser sustentada com base na própria concepção de cultura
desenvolvida por Clifford Geertz.
A opção de Clifford Geertz um dos autores que mais contribuíram
para repensar o conceito de cultura orienta-se por um conceito de cultura
essencialmente semiótico: acreditando (...) que o homem é um animal
amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura
como sendo essas teias e suas análises(1989, p. 15, grifo nosso). O autor
entende a cultura como a totalidade acumulada de padrões culturais, ou
seja, de “sistemas organizados de símbolos significantes” (p. 58), com base
nos quais os seres humanos identificam as finalidades de suas ações.
Diferentemente dos animais inferiores, cujas fontes genéticas de
informação ordenam estreitamente suas ações, o ser humano é dotado de
capacidades inatas de resposta muito gerais. Por isso sua capacidade de ação
é muito mais plástica, complexa e criativa. Mas, por isso mesmo, depende
de sistemas de controle extra-corporais para orientar sua ação. A cultura
pode ser vista justamente como “um conjunto de mecanismos de controle
– planos, receitas, regras, instruções (o que os engenheiros de computação
chamam de programas’) para governar seu comportamento” (GEERTZ,
1989, p. 56).
Do ponto de vista do indivíduo, estes símbolos são dados. Ele os
encontra em uso na comunidade em que vive. Utiliza-os deliberada ou
espontaneamente para se orientar na construção dos acontecimentos que
205
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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vivencia, e, sobretudo, deles depende para se orientar. Sem a referência a
padrões culturais sistemas organizados de símbolos significantes o ser
humano seria incapaz de governar seu comportamento e sua experiência
não apresentaria qualquer forma. A cultura a totalidade acumulada de
tais padrões – é, pois, uma condição essencial da existência humana e sua
principal base de concretização específica.
Assim verificamos que todos os grupos humanos desenvolvem padrões
culturais que tornam possível sua existência. Por outro lado, defrontamo-
nos com uma enorme diversidade de padrões culturais existentes na
humanidade.
Na busca por entender a essência do ser humano, muitos estudiosos
tentaram identificar aspectos comuns entre as diferentes culturas. Entretanto,
mesmo verificando que a maioria dos povos desenvolve instituições como
religião”, casamento ou propriedade”, constata-se que os padrões
culturais relativos a estas instituições variam muito de uma sociedade para
outra.
Contrapondo-se à noção de que a conceituação do ser humano se
defina pelos aspectos universais e similares das culturas humanas, Geertz
considera que a compreensão do ser humano, em sua dimensão essencial,
pode ser encontrada justamente nas particularidades culturais dos povos.
Trata-se, portanto, do ponto de vista científico de buscar entender nos
fenômenos culturais, basicamente, não a similaridade empírica entre os
comportamentos dos diferentes grupos sociais, mas a relação que diferentes
grupos, com padrões culturais diferentes, estabelecem entre si. “Resumindo,
precisamos procurar relações sistemáticas entre fenômenos diversos, não
identidades substantivas entre fenômenos similares(GEERTZ, 1989, p.
56).
Em outras palavras, podemos desenvolver o conhecimento do ser
humano não através do estudo comparativo entre diferentes culturas,
tomadas como objetos, buscando identificar aspectos comuns entre elas.
O conhecimento da essênciado ser humano pode ser desenvolvido na
Desafios epistemológicos emergentes
206 |
medida em que pessoas e grupos de culturas diferentes entram em relação,
na busca por compreender os sentidos que suas ações assumem no contexto
de seus respectivos padrões culturais. “Compreender a cultura de um povo
expõe a sua normalidade sem reduzir sua particularidade. (...) Isso os torna
acessíveis” e torna possível “conversar com eles” (GEERTZ, op.cit., p.24).
A interação com os outros desafia-nos a entender os significados que
eles atribuem a suas ações. A estranheza” do comportamento de outro nos
choca porque a lógica do contexto cultural que determina seu significado
é diferente da lógica inerente aos nossos padrões culturais. Para entender
o comportamento de outra pessoa, é preciso compreender a lógica da
organização dos símbolos significantesdesenvolvida por seu grupo. Ao
mesmo tempo, a compreensão da lógica de padrões culturais diferentes
permite, por contraste, entender a especificidade da lógica dos nossos
padrões culturais e a relatividade dos significados que atribuímos aos nossos
atos. Desta maneira, ao refletir sobre nossas ações sob a perspectiva de
outros padrões culturais, podemos descobrir outros significados que nossas
próprias ações podem assumir e, com isso, descobrir formas diferentes de
orientá-las.
Conversar com os outros – e não apenas falar sobre eles ou para eles
é a condição para desenvolvermos a compreensão dos significados e das
estruturas significantes de nossas próprias ações. A compreensão do sentido
da ação do outro é uma condição importante para a compreensão dos
sentidos de nossa própria ação. A compreensão da lógica de significação,
inerente aos padrões culturais de outros grupos, facilita a compreensão
da lógica inerente aos nossos próprios sistemas simbólicos de significação.
Assim, a relação entre culturas é a condição para o desenvolvimento de
cada cultura.
Destas considerações se levanta uma hipótese radical para o campo
da educação. é sabido que, para o indivíduo, a educação é essencial como
processo de aprendizagem da própria cultura. Sem apropriar-se de padrões
culturais vigentes em seu contexto, o indivíduo seria virtualmente incapaz
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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de se orientar e mesmo de sobreviver em sociedade. E os seres humanos
se educam em relação, mediatizados pelo mundo”, tendo a própria cultura
como mediação (FREIRE, 1975, p. 79).
Mas do ponto de vista da cultura como tal, cada grupo social, sem
interagir com outras culturas, seria incapaz de compreender a lógica dos
próprios padrões culturais, nos quais se baseia para dar sentido à sua vida
coletiva. A interação com outras culturas aparece como essencial para a
evolução da própria cultura. Deste modo, parafraseando Paulo Freire,
poderíamos supor que as culturas se educam em relação, mediadas pelas
pessoas. As pessoas que interagem, individual ou coletivamente, com
pessoas de contextos sociais diferentes, colocam em questão os padrões
culturais próprios, e vice-versa, colocam em cheque os princípios e a lógica
que regem a cultura alheia.
Confrontar-se com estranhos não representa relações fáceis e
tranqüilas. São relações profundamente conflitantes e dramáticas. A
História nos revela que muitas de tais relações entre povos e grupos sociais
diferentes têm resultado em guerras, genocídios, processos de colonização
e de dominação. Entender, pois, tais processos de relações interculturais
torna-se a condição para, não compreender as lógicas que conduzem à
destruição mútua, mas sobretudo para descobrir as possibilidades criativas
e evolutivas das relações entre grupos e contextos culturais diferentes.
As relações interculturais também não equivalem a relações cujos
significados se configuram a partir de perspectivas singulares, individuais,
nem se consolidam em pouco tempo. A formação dos padrões culturais e
os processos educativos a ela inerentes se configuram no entrecruzamento
paradoxal de muitas perspectivas que, por isso mesmo, constituem-se
dinâmica e conflitualmente. E, embora cada ato tenha efeitos educativos,
que contribuem para a configuração e transformação dos padrões culturais,
estes só se constituem em processos históricos de longa duração.
Por isso, a perspectiva intercultural implica em uma compreensão
complexa da educação, que busca, para além das estratégias pedagógicas
Desafios epistemológicos emergentes
208 |
e mesmo das relações interpessoais imediatas, entender e promover lenta
e prolongadamente a formação de contextos relacionais e coletivos de
elaboração de significados que orientam a vida das pessoas.
Todavia, o estudo e a promoção de relações interculturais só podem
se desenvolver a partir das relações interpessoais em sua facticidade histórica.
O conhecimento das culturas e de suas inter-relações, objeto principal da
Etnografia, implica a “descrição densa” das estruturas significantes a partir
das quais cada pessoa, em cada contexto cultural, elabora os significados
de seus atos e dos eventos de que participa. A compreensão dos padrões
culturais, assim como de suas transformações e inter-relações, evolui
com base no estudo atento e minucioso dos significados que cada ato e
cada relação dos sujeitos vão assumindo em seu contexto.
“Temos que descer aos detalhes, além das etiquetas enganadoras,
além dos tipos metafísicos, além das similaridades vazias, para apreender
corretamente o caráter essencial não apenas das várias culturas, mas também
dos vários tipos de indivíduos dentro de cada cultura, se é que desejamos
encontrar a humanidade face a face” (GEERTZ, 1989, p. 65).
Neste sentido, a relação entre pessoas é uma relação entre projetos,
propostas, significados. E a relação entre culturas, que ocorre no encontro
entre pessoas de culturas diferentes, coloca em questão todos os aparatos
simbólicos a partir dos quais cada sujeito se orienta. E é nisso que consiste,
a nosso ver, a relação intercultural. Sujeitos, pessoas de culturas diferentes
que atribuem significados diferenciados às suas ações, ao interagirem
colocam em questão não só o sentido de sua ação ou de seu discurso, mas
colocam em cheque todo o seu referencial cultural, que lhes permite dar
sentidos a cada uma de suas ações, escolhas, palavras, sentimentos. E isto
em diferentes campos.
Para os Kaiowa-Guarani, afirma Daniel, o mundo é a criação de
deus. Os seres humanos estão no mundo de passagem e, portanto, devem
usar a natureza sem depredar. Tal visão da natureza se contrasta com a
visão predominante nas culturas ocidentais: a natureza é concebida como
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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objeto a ser transformado – apropriado e transformado em mercadoria. O
confronto entre estas duas visões de natureza no processo de colonização
teve desdobramentos históricos desastrosos, sob certa perspectiva.
No caso dos Guarani, ao serem subjugados às crenças dos
conquistadores, perderam a sua referência cultural de relação respeitosa
com o mundo e com isso se sujeitaram à lógica do mercado.
Nesse confronto, nos perguntamos: qual a pedagogia e a visão de
mundo dos povos autóctones, que vêm sustentando no Brasil seu processo
de resistência e de autonomia cultural?
O depoimento de Daniel (Kaiowa-Guarani) indica que seu povo, ao
contrário do processo de educação de “fora para dentro” tradicionalmente
desenvolvido pelos brancos, procura hoje desenvolver a educação de dentro
para fora. “É como uma fonte tapada que, ao ser desobstruída, jorra água
em abundância. A água que jorra é a reflexão. A reflexão que se apresenta
como a capacidade de se repensar o seu projeto a longo prazo: o que será
do nosso povo daqui a cem anos?”.
Frente aos nossos novos desafios, as comunidades autóctones vivem
em reservas cercadas de fazendas, o que os limita e impede a prática da
caça e pesca, base de sustentação da sua organização econômica, política e
cultural. O processo de desmatamento e destruição da natureza dificulta
também a relação que os autóctones tinham com ela. E ao acatar a forma
que os brancos têm de se relacionar com a natureza, no sentido de torná-la
propriedade e mercadoria, as primeiras nações perderam sua identidade e
sua autonomia.
Agora diz Daniel as comunidades autóctones Guarani buscam
repensar esses desafios a partir do seu grupo, de suas necessidades e, com
isso, torna-se possível desenvolver uma relação crítica com o modo de
pensar dos outros grupos sociais, assim como identificar os mecanismos
que pervertem a sua relação com o mundo. Assim, a reflexão constitui-se
como elemento chave na constituição do modo de entender a relação dos
Guaranis com o mundo.
Desafios epistemológicos emergentes
210 |
Um segundo elemento muito importante do modo de constituição
da forma de pensar autóctone é a participação. Para as comunidades
autóctones brasileiras, a reflexão se processa fundamentalmente através da
conversa, da discussão na comunidade. O conhecimento não se constitui
a partir de processos individuais e formais de pesquisas, tradicionalmente
assumidos no processo de produção científica ocidental. O conhecimento
se constitui, para os autóctones, a partir do diálogo na comunidade, e isso
implica uma forma própria de organização, baseada na cooperação. Por
isso, torna-se incompatível com o com o tipo de organização política do
Estado, baseada em partidos.
Isso ficou muito claro nos confrontos e conflitos que aparecem
justamente nos processos eleitorais, em que se procura não usar os
votos dos índios, mas também induzi-los a assumir a forma de organização
política baseada em partidos, contrária à sua forma de entender o processo
de participação e de organização política.
Além da reflexão e da participação, a terceira dimensão importante
na forma dos autóctones verem o mundo é a visão ecológica. O mundo é
visto como um ser vivo, e o ser humano como uma parte viva desse mundo.
Por isso, preservar o ambiente, cuidar da natureza é condição chave para
a própria sobrevivência, de cada um e de cada comunidade. Exatamente o
contrário da perspectiva predominante no modo capitalista de produção,
que busca explorar a terra e transformá-la em propriedade, e seus produtos,
em mercadoria.
Na cosmologia Guarani, segundo o depoimento de Daniel (Kaiowa-
Guarani), é inconcebível que a terra possa ser considerada como objeto de
posse e de troca pelos seres humanos, pois além de não sair do lugar e não
poder ser transportada pelos seres humanos”, a terra tem vida própria. A
natureza sustenta e controla as possibilidades de vida dos seres humanos
e por isso precisa ser cuidada com respeito e atenção, para garantir suas
possibilidades de existência.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Entre esses dois modos de ver o mundo e de encarar as relações
com o mundo, vêm-se desenvolvendo historicamente alguns campos de
mediação. Sérgio (Mbyá-Guarani) perguntava: quando se fala em diferentes,
somente os ‘índiossão considerados diferentes? Ou então, quando se fala
de educação intercultural na escola, refere-se somente à escola ‘indígena’?”
Tais perguntas colocam principalmente a questão de quais são os campos,
ou processos, de mediação entre as culturas diferentes.
A principal mediação entre diferentes culturas é estabelecida
pelas pessoas. Vanderlei (Terena), que coordenou a mesa redonda sobre
as práticas educativas de formação de professores “indígenas”, disse ter-
se sentido um bom experimento de relação entre culturas diferentes. Ao
conviver com a sociedade brasileira, no trabalho, na escola, no cotidiano, e
ao refletir sobre seus conceitos e seu modo de vida, vem buscando formas
de tradução e negociação entre as duas culturas de tal forma a construir
uma identidade mestiça, em que a mediação entre culturas diferentes se faz
no próprio modo de viver.
De certa maneira, podemos parafrasear o que Paulo Freire disse a
respeito da educação: se as pessoas se educam em relação, mediatizadas pelo
mundo”, também os mundos e as culturas se educam (se transformam),
mediatizadas pelas pessoas.
Outro campo de mediação intercultural é a própria linguagem. A
língua, elemento constitutivo de uma cultura, serve tanto para a construção
da identidade de um grupo sociocultural quanto também como um
instrumento de negociação e de tradução na relação com outras culturas.
Agostinho (Boe/Bororo) diz que o aprendizado da língua portuguesa (língua
oficial nacional brasileira) é encarada pelos Bororo como aprendizagem de
uma segunda língua. Eles buscam aprender a língua nacional para poder
lutar, para interagir com os brancos e evitar que os Bororo sejam enganados
e dominados. A aprendizagem da própria língua e a da língua do outro
é, ao mesmo tempo, um fator de construção da própria identidade e da
relação crítica com os outros.
Desafios epistemológicos emergentes
212 |
Um terceiro campo de mediação é a escola, que parece viver uma
ambivalência: ao mesmo tempo em que constitui um processo de transmissão,
de reprodução da cultura nacional, dominante; a escola também serve para
reproduzir ou consolidar as culturas locais. Ao mesmo tempo em que a
escola tem se constituído como um processo de sujeição disciplinar, de
classificação e de exclusão, nela se constituem transversalmente múltiplos
processos de interação, de diálogo e de resistência.
O fato de se considerar a escola como um espaço de mediação
intercultural significa, sim, estabelecer formas de reprodução, de
comunicação e de tradução entre a cultura nacional envolvente e as
culturas locais. Mas isso coloca em crise, radicalmente, toda a estrutura
e as estratégias disciplinares de sujeição, de hierarquização e de exclusão,
constituídas por tal instituição. Nesse sentido, a educação intercultural
vale não apenas para os povos autóctones, mas para todos os sujeitos e
grupos culturais que participam da escola. A escola poderá assim cumprir
sua tarefa educativa na medida em que se transformar radicalmente,
superando sua estrutura disciplinar monocultural para constituir campos
de relações entre sujeitos e culturas diferentes.
Muitos são os campos de relações interculturais, dentre os quais
enfatizamos ainda dois (já mencionados anteriormente), por serem
extremamente conflituais, dramáticos e, às vezes, trágicos. Um é o campo
da propriedade e do uso da terra, assim como do manejo do ambiente.
Neste campo, confronta-se a compreensão da terra como mãe e da terra
como objeto e meio de produção. A maioria das culturas autóctones
latinoamericanas entende a Terra como mãe que protege, que promove a
vida através de uma prática da dádiva e da reciprocidade. Da mesma forma
que a natureza cuida e torna possível a vida humana, os seres humanos, por
reciprocidade, são convidados a cuidar da natureza e protegê-la.
Tal visão se contrapõe à compreensão da terra como objeto de
exploração e de mercadoria de troca. A visão predominante na sociedade
capitalista justifica um processo de exploração predatória do ambiente,
213
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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assim como da própria força de trabalho, da qual extrai os valores
constitutivos da propriedade privada e do capital. Este sistema encontra-se
hoje em profunda crise, juntamente com a visão de mundo e as ideologias
que o justificam. Desta maneira, as culturas autóctones oferecem uma visão
de mundo que pode apresentar perspectivas de superação dos impasses
que a cultura ocidental e o sistema capitalista encontram hoje, no que diz
respeito à sustentabilidade da vida e do ecossistema no planeta.
Outro campo de profundo confronto intercultural é o da religião. De
um lado, está a perspectiva totalitária dos fundamentalismos monoteístas,
propícia a incentivar a conquista e o proselitismo, ou seja, os processos
de subjugação dos outros povos e das outras religiões. De outro lado,
encontra-se a visão da religião como prática de conexão, de encontro e
reciprocidade com os outros. Neste caso, as próprias crenças religiosas
podem se constituir como canais e instrumentos simbólicos importantes
para alimentar o reconhecimento e a interação com as outras as crenças, de
povos diferentes e, por vezes, “opostos” aos nossos.
Nesse sentido, as relações interculturais aparecem como campos de
mediações que, tal como nas práticas religiosas, favorecem a aprendizagem
mútua entre as pessoas, entre as linguagens, entre os diferentes processos
educativos e entre as formas de relação com a terra. Em tais campos
interagem, de maneira complexa, múltiplos sujeitos, múltiplos projetos e
múltiplos sistemas simbólicos, que constituem um universo polissêmico,
relacional, interativo e fluido. Este é, a nosso ver, o grande desafio que a
perspectiva intercultural da educação ou das relações sociais interétnicas
vem evidenciando a partir do diálogo com os povos autóctones.
Referências Bibliográgicas
BATESON, Gregory. Mente e natureza: a unidade necessária. Tradução de Claudia Gerpe.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1986.
Desafios epistemológicos emergentes
214 |
BATESON, Gregory. Verso un’ecologia della mente. Tradução de Giuseppe Longo.
Milano: Adelphi, 1976. Versão italiana. Original em Inglês.
BATESON, Gregory. Una sacra unità: altri passi verso un’ecologia della mente. Tradução
de Giuseppe Longo. Milano: Adelphi, 1997. Versão italiana. Original em inglês.
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GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: LTC, 1989.
215
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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POLÍTICAS DE LENGUAJE EN EL MERCOSUR:
UNA CONTRAPOSICIÓN ENTRE LA LEY FEDERAL
BRASILEÑA Y LAS DISPOSICIONES DEL BLOQUE
Suzana Mancilla Barreda
1
La propuesta de este trabajo es plantear una lectura crítica de las
disposiciones que se han establecido con la firma del Tratado de Asunción,
referente a las lenguas oficiales del Bloque, español y portugués, y la
tentativa de implementación que plantea la Ley Federal 11.161/2005
sobre la enseñanza del español en Brasil, con énfasis en las repercusiones
que se van a establecer en Mato Grosso do Sul – MS, Brasil. Tomo como
referencia los documentos resultantes del Grupo de Trabajo de Políticas
Lingüísticas, datos recabados en la Secretaria de Estado de Educación
SED/MS, así como apreciaciones de algunos teóricos como Rajagopalan,
Calvet y Arnoux.
La firma del Tratado de Asunción, el 26 de marzo de 1991, presenta
en el Artículo 17, la disposición que se refiere a las lenguas que se hablan
en el bloque compuesto por Argentina, Brasil, Paraguay y Uruguay, países
signatarios de dicho tratado, donde se lee: “Los idiomas oficiales del Mercado
Común serán el español y el portugués (...)”. Al cabo de unos meses,
en diciembre del mismo año, se firma el Protocolo de Intenciones, que
amplía la disposición inicial referente a la lengua en el contexto del Bloque,
insertando las instituciones educativas responsables por la enseñanza de
lenguas en la sistema formal y “El interés de difundir el aprendizaje de los
idiomas oficiales del MERCOSUR - español y portugués - a través de los
sistemas educativos, en todos sus niveles y modalidades”.
1 Profesora Asistente del curso de Letras de la Universidad Federal de Mato Grosso do Sul, campus Pantanal; miem-
bro fundador del CADEF – Centro de Análisis y Difusión del Espacio Fronterizo.
Políticas de lenguaje en el mercosur
216 |
Con este objetivo, se establece el Subprograma 1.2, en el marco del
Plan Trienal para el Sector Educacional donde se trata del aprendizaje de
los idiomas oficiales del MERCOSUR”, para “Implementar la enseñanza
del español y del portugués en Instituciones que ofrecen distintos niveles y
modalidades correspondientes al sistema educativo y con el objeto de mejorar
la comunicación entre los países componentes del MERCOSUR”.
Tales determinaciones generaron movilizaciones internas con
diversas proporciones en los países señalados, sin embargo no se registraron
hechos que puedan llamarse significativos con relación a la enseñanza de los
idiomas oficiales en el sistema de educación básica del bloque, hecho que
Arnoux (2008) expresa como ‘las débiles realizaciones de las Orientaciones
programáticas del MERCOSUR educativo’, ya que no se han establecido
trabajos de cooperación mutua que llegaran a resultar en impactos de
alcance educativo o social.
Pese al casi silencio relacionado a la enseñanza de las lenguas
extranjeras en el Bloque, algunos sectores, como las escuelas de idiomas,
se han visto beneficiados por un incremento en el interés relacionado al
aprendizaje del castellano, que se transformó en la búsqueda de cursos que
impartieran dicha asignatura. En un primer momento, se pensó que se
produciría un “boomen la enseñanza del español en territorio brasileño,
lo que en realidad no ha llegado a ocurrir, al menos no como se había
previsto.
Mientras tanto, otras gestiones políticas que envolvían acuerdos
entre España y Brasil señalaban que el interés por la oferta del español en
Brasil tendría otro cauce que no el proveniente del Tratado de Asunción.
Han sido notables los datos numéricos que se han propagado en la prensa
internacional, principalmente en los medios de comunicación españoles, y
en menor escala en la prensa nacional. Uno de los discursos que se presenta
de forma unánime en la prensa española se refiere a la necesidad de formar
miles” de profesores de español para cumplir la propuesta gubernamental
217
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
de enseñar la lengua española como lengua extranjera en el sistema
educativo brasileño. A este respecto, Neide Maia (2008) se refiere no sólo
a la forma cómo se divulgan los números relacionados a la expectativa de
mano de obra calificada necesaria para atender la necesidad impuesta por
la obligatoriedad” de la enseñanza del español en Brasil, sino también
al discurso triunfante y muchas veces con aires belicosos que adquiere la
“implantación del español” o “la difusión de la lengua españolaen suelo
no hispanohablante
2
.
Las noticias vehiculadas no sólo trataban sobre la necesidad de
formar profesores, sino también sobre un posible mercado de trabajo
próspero” para los profesores de español que por ventura quieran arribar a
territorio brasileño en busca de otras oportunidades.
Tudo isso, que sem dúvida tem aspectos muito positivos, vem
acompanhado de uma fala triunfalista, constantemente divulgada
pela imprensa espanhola e nos meios de comunicação virtuais, no
que se refere às expectativas em relação ao incremento do ensino do
espanhol no Brasil e alarmista no que se refere à não-disponibilida-
de de mão-de-obra qualificada para levá-la a cabo bem como uma
desconfiança implícita na capacidade das instituições brasileiras de
formar os professores necessários para levar adiante a tarefa de im-
plantação do espanhol
3
.
El discurso político, planteado por algunos órganos gestores
de la educación, como el de Mato Grosso do Sul, alude a la falta de
profesores habilitados en español para el cumplimiento de la Ley Federal
2 Más adelante trataré de esta cuestión, teniendo en vista la posición del principal órgano público español responsable
por la difusión del español en el mundo: el Instituto Cervantes, y las contraposiciones críticas de distintos profesores
y teóricos con relación a este tema.
3 Texto leído el pasado 5 de septiembre por Neide Maia González en la mesa redonda “Políticas públicas e ensino de
espanhol como língua estrangeira no Brasil: desafios para sua implementação”, realizada en el marco del V Congresso
Brasileiro de Hispanistas e I congresso Internacional da Associação Brasileira de Hispanistas (Universidade Federal de
Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil).
Políticas de lenguaje en el mercosur
218 |
11.161/2005, cuando se habla de la implantación de esa asignatura en
la secundaria. La presumible falta de profesionales es un argumento que
fundamenta la no inclusión del español en la escuela, como también es lo
que ha impulsado a que el órgano central de educación – MEC, establezca
acuerdos, principalmente con España, en lo referente a la enseñanza del
español como un todo y más específicamente en la formación de profesores,
elaboración de material didáctico e incluso orientaciones que atiendan una
demanda cuantificada como alta.
Entonces, por un lado es perceptible la preocupación del gobierno
central con relación a la enseñanza del español, que se refleja en acuerdos
bilaterales con algunos gobiernos, bien como en la firma de una Ley
Federal que dispone sobre la enseñanza del español, y sin embargo, es al
menos curioso que esa preocupación no alcance a un proyecto único que
contemple la formación de los profesores de lenguas extranjeras asociado
al órgano que los contratará cuando se gradúen, de hecho, este diálogo
entre las Universidades y las Secretarías de Educación de los respectivos
estados todavía no se ha establecido en el ámbito nacional y, por supuesto,
tampoco en Mato Grosso do Sul.
Por otro lado, existe ya en el currículo escolar el inglés como asignatura
oficial” de las lenguas extranjeras, situación hegemónica que data de la
década de los 60, como relata Picanço (2003) y que en la actualidad es
un punto neurálgico cuando se habla de reestructurar el currículo con el
ingreso de la lengua española, como afirma la Ley, de oferta obligatoria.
Es decir, se está hablando de la formulación de una política lingüística que
afecta directamente a la educación secundaria, una vez que la Ley se refiere
a esta etapa de la educación.
Para interpretar las políticas adoptadas hasta el momento, se hace
necesario recurrir a bases teóricas que puedan brindarnos instrumentos de
análisis con relación a la presencia de las lenguas oficiales del bloque y la
aplicación de su enseñanza y presencia.
219
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Política lingüística – algunas consideraciones
La estructura social propuesta por la constitución de bloques, como
el caso del MERCOSUR, no necesariamente se conduce por idearios tales
como los que se adoptan en la constitución de los estados, así, la existencia
de una multiplicidad y pluralidad lingüística implica en la necesidad de
delimitar las lenguas presentes mayoritariamente, u oficialmente en el
nuevo territorio constituido, sin que ello implique en una intervención
en la soberanía lingüística de los países, para que se las entienda como
lenguas de comunicación, y quizá un poco más arriesgadamente se podría
adoptar el planteamiento de lenguas de integración; dado que no serían
propiamente lenguas que ocupen un espacio de disputa lingüístico, sino
propiciar una aproximación socio-cultural.
Dada la proximidad geográfica de los países componentes, sería de
suponer que ambas lenguas oficiales, tanto el español, como el portugués,
estuvieran presentes en lo cotidiano de los ahora integrantes del bloque, lo
que sin embargo sólo se da en las fronteras, donde los diferentes contactos
lingüísticos presentan características muy peculiares cuando se refieren a
los locus fronterizos, donde estudios con enfoque sociolingüístico intentan
interpretar y estudiar bajo diferentes ópticas, como un fenómeno de
lenguas en contacto.
En ese sentido, Saldanha, Cunha, Gomes (2005) destacan la
existencia de un derecho comunitario, que dependerá del reconocimiento
de los pueblos que lo componen, donde será necesario fundar una
comunidad con iguales valores e instituciones. De esa forma, la concepción
de regionalización revive idearios que no son nuevos en Latinoamérica,
como destaca Arnoux, al afirmar que Latinoamérica cuenta con una
larga tradición de pensar su unidad, lo que la ubicaría en una posición
privilegiada para afianzar un proceso de integración, lo que nos reconduce
a la idea de fortalecer los vínculos que se generan a partir de esas nuevas
Políticas de lenguaje en el mercosur
220 |
configuraciones. Se evidencian entonces los elementos característicos
e idiosincrásicos, considerados identificadores y que la referida autora
identifica en los documentos oficiales de la constitución del Plan trienal de
Sector Educativo del MERCOSUR (1998-2000), que incluye en su área
prioritaria, el desarrollo de la identidad regional por medio del estímulo al
conocimiento mutuo y a una cultura de integración.
Tomando en cuenta estas aprehensiones, y con el foco en la lengua,
como una expresión de las identidades de un pueblo, se torna necesario
revisar los presupuestos que orientan las discusiones que enfocan las políticas
que involucren el aspecto de la comunicación, del conocer y reconocer al
otro que ahora que comparte el mismo espacio geográfico. ¿Qué estatus
alcanza el otro en el territorio donde ha dejado de ser extranjero? Al menos
en el papel se considera un ciudadano del MERCOSUR. A este respecto
Arnoux señala que existen diversos y, posiblemente, alternativos procesos
de integración, que pueden dar lugar a identidades diferentes. Ante este
abanico de posibilidades, ¿cómo se establecen las relaciones lingüísticas y
qué mecanismos actúan ante la presencia de un hablante que trae una lengua
que no es exactamente una lengua extranjera?
4
Es significativo considerar
que los aspectos señalados son definidores y prioritarios al plantear acciones
que se establezcan en la educación, principalmente aquellas que demarquen
cambios surgidos por el reordenamiento territorial reciente. A ese respecto,
Elvira Arnoux considera que
algunas de las acciones destinadas a afianzar el imaginario colectivo
de la integración deben ser realizadas en el ámbito educativo e in-
volucran las políticas lingüísticas no sólo por la enseñanza cultural
de la lengua sino por el poder de ésta en la construcción de subje-
tividades.
4 Celada (2002) en su tesis de doctorado se refiere al español como una lengua “singularmente extranjeras” para el
brasileño.
221
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
A partir de estos presupuestos, planteamos conceptos que tienen
la preocupación de identificar a qué se refiere la planificación lingüística
y políticas lingüísticas, con la pretensión de centrarse únicamente en la
lengua (o las lenguas) presente(s) en el MERCOSUR considerando
aspectos como poder y prestigio, provenientes de valoraciones que tienen
por base la perspectiva económica, social, política e histórica, entre otros
puntos. Calvet (2007) plantea la distinción entre planificación y políticas
lingüísticas enfatizando que é preciso distinguir as decisões do poder (a
política) e a passagem à ação (o planejamento)” ambos resultantes de
situación de plurilingüísmo. En determinadas ocasiones estos conceptos
son considerados equivalentes, pues sus propuestas están ancladas
necesariamente en una intervención dirigida a las lenguas.
Reflexionando sobre el proceso lingüístico resultante de la
constitución de un bloque y considerando las dos lenguas oficiales
representativas, portugués y español, es de amplio conocimiento que en
los países componentes del grupo, sólo una de dichas lenguas es oficial en
sus territorios, lo que implica que, para que se aprenda español en Brasil
y portugués en los demás países constituyentes, una forma de promover
su aprendizaje sería estar presente en la malla curricular de la educación
básica. La problemática de una escuela moldada en la reproducción del
conocimiento simple y llanamente es un tópico que no se tratará en este
artículo.
A pesar de ello, se constata la ausencia de las referidas lenguas en los
sistemas de educación básica, como lenguas extranjeras. Por eso se plantea
la necesidad de incluirlas, como lo propone la Ley Federal que está bajo el
análisis propuesto en este trabajo, así como las acciones del MERCOSUR
educativo. Es interesante conocer el planteamiento de Kloss (1967) que se
refiere a la distinción del corpus y del estatus de una lengua. El primero se
refiere a una intervención en la forma de la lengua y el segundo, se refiere
a la intervención en sus funciones, como se detalla a continuación: […]
Políticas de lenguaje en el mercosur
222 |
mas é possível que se queira modificar o status de uma língua promovê-la à
função de língua oficial, introduzi-la na escola, etc. […]. Evidentemente no
se trata de oficializar una lengua sino de incluirla como lengua extranjera.
Esta intervención implica una reformulación en lo ya instituido desde la
década de 60, como ya había referido anteriormente, cuando comentaba la
presencia del inglés en la escuela. Por lo tanto, las implicancias de esta nueva
intervención van a alcanzar a otra intervención que ha sufrido el sistema
educativo brasileño a partir de la cual se ha hegemonizado la enseñanza del
inglés, hecho que no es una particularidad de Brasil, sino que se extiende a
prácticamente todos los países de América Latina.
De esa forma, resulta fundamental discutir cuál y cómo serían los
procedimientos que se podrían instituir para modificar el estatus de esas
lenguas en la escuela y cuáles los reales impactos de la legislación que
dispone sobre este punto. Cuando se hace referencia al estatus, como la
posición que ocupa en la organización curricular brasileña, también es
indispensable plantearse con relación al prestigio que estas lenguas ocupan
en la sociedad donde se las pretende incluir en el sistema educativo. Por
ello, Calvet infiere sobre las intervenciones en las lenguas considerando
su carácter social y político. Haugen rescata el presupuesto de que sólo el
Estado tiene los medios y el poder para implantar dichas intervenciones
formulando políticas lingüísticas, o en otras palabras: na maior parte dos
casos, as políticas lingüísticas são iniciativa do Estado ou de uma entidade que
disponha no seio do Estado de certa autonomia política.
En la tentativa de establecer una contraposición documental que
se constituya en una base para desarrollar una discusión sobre los puntos
señalados anteriormente, se proponen los siguientes documentos: a) La
promulgación de la Ley 11.161/2005 que dispone sobre la enseñanza del
español en la secundaria en Brasil y la interpretación que ha elaborado
el Conselho de Estado de Educação – CEE/MS; b) Los discursos y
documentos resultantes del Acuerdo de Asunción registrados en el Sector
Educacional; c) Algunos fundamentos históricos, sociales y culturales que
223
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
implican en la enseñanza del español con el foco en Mato Grosso do Sul,
lugar de estudio que objetiva este trabajo.
La Ley 11.161/2005 y el Consejo
de Educación del Estado de Mato Grosso do Sul
“Las leyes pueden elaborarse para que se olviden”, ésta no es una
premisa distante de la realidad, principalmente si el objeto a que se refiere
presenta puntos que se contradicen y que por lo tanto se fragiliza.
Sobre las leyes que no se cumplen, Neide Maia en su participación
en la V Congresso Brasileiro de Hispanistas, realizado en septiembre de
2008, trae a consideración las ponderaciones que se habían hecho en 2006,
durante el IV Congresso Brasileiro de Hispanistas, donde se afirmaba que
existe una enorme distancia entre lo que se dice y lo que se hace y señala el
temor de oír expresiones como “a lei não pegou” o “a lei não vingou”, ante
la ambigüedad de su formulación inicial, la demora en su interpretación o
adecuación en los diferentes estados y la perceptible lentitud por parte de
los órganos centrales de la educación en su aplicación.
Presento a continuación algunos puntos que se consideran
problemáticos” en la implementación de la ley en cuestión.
Ley Federal 11.161, promulgada a 5 de agosto de 2005, que dispone
sobre la enseñanza de la lengua española en territorio brasileño, prevé su
aplicabilidad en el ámbito de los Estados de la federación. También dispone
sobre la interpretación y/o adecuación de los Consejos de Educación de
los Estados, conforme señala el Artículo 5º:Os Conselhos Estaduais de
Educação e do Distrito Federal emitirão as normas necessárias à execução desta
Lei, de acordo com as condições e peculiaridades de cada unidade federada”.
Así, a continuación será relatado el trabajo desarrollado por el CEE
(Conselho Estadual de Educação) de Mato Grosso do Sul y los resultados
obtenidos hasta el momento.
Políticas de lenguaje en el mercosur
224 |
En abril de 2006, la Asociación de Profesores de Español de Mato
Grosso do Sul (APEEMS) entró en contacto con la Presidente del CEE/
MS con el fin de conocer cuál y cómo sería realizado el trabajo de dicho
órgano ante la determinación que la Ley 11 161/2005 planteaba y como se
ejecutaría el Art. 5, que se refería específicamente al trabajo de los Consejos
de los respectivos Estados de la Federación.
El trabajo empezó de inmediato. Para tanto se constituyó una
Comisión compuesta por una consejera que presidía la comisión, técnicos
del CEE/MS y una especialista, la propia representante de la APEEMS.
Se organizaron reuniones periódicas donde se discutieron diversos
puntos que atañen a la presencia de la enseñanza de la lengua española en el
ámbito del estado de Mato Grosso do Sul. La APEEMS cedió documentos
que se habían recabado a lo largo de todos sus años de existencia (la
fundación de esa asociación data de mayo de 1990).
Así se dividió el contenido estudiado a un histórico de contextualización
en ámbito brasileño y en ámbito estatal, las singularidades del estado de
Mato Grosso do Sul, estado fronterizo con dos países hispanohablantes, los
factores socio culturales de un estado de frontera, la enseñanza del español
en las escuelas (públicas y privadas), la formación de profesores, la situación
de la enseñanza del español en algunos municipios, y las actividades de la
APEEMS con relación a los programas de actualización que se ofrecen a los
profesores asociados (asociados o no y graduados o legos).
La obligatoriedad desobligada
La Ley 11.161/05 en el artículo primero declara: O ensino da
língua espanhola, de oferta obrigatória pela escola e de matrícula facultativa
para o aluno, será implantado, gradativamente, nos currículos plenos do ensino
médio
Interpretar lo que una ley determina y tornarla aplicable en su
ámbito de actuación, es una de las funciones que caben al Consejo de
225
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Educación, de este modo, un conflicto que encontró el CEE/MS se refiere
a interpretar, cómo una asignatura (en este acaso Español como Lengua
Extranjera) puede ser de oferta obligatoria y de matrícula facultativa para
el alumno. .
Observemos la cuestión de este prisma: una escuela pública de
secundaria no tiene flexibilidad de organización con relación a la oferta de
las lenguas extranjeras. La malla curricular de la enseñanza secundaria está
establecida por la Secretaría de Estado de Educación / MS y caso se aplique
la Ley tal y como se expone, en carácter optativo, es decir, será necesario
dividir un grupo de alumnos para atender su demanda, no hay, en la
actualidad, una reserva técnica de profesores de español que pueda atender
esa demanda. El último concurso que el Estado abrió para profesores de
español fue en 2005, con la oferta de 44 plazas para todo el estado, frente
a 420 que se ofreció para el inglés, además, no han sido convocados todos
los profesores aprobados en dicho concurso.
Además, una escuela (de tamaño mediano) con estos patrones, suele
contratar un profesor de lengua extranjera por periodo, o a lo sumo dos,
que se turnarán atendiendo a las distintas clases, considerando que cada
clase, conforme consta en la malla curricular planteada, estudia 2 horas /
clase por semana de lengua extranjera.
Las escuelas ocupan edificios que no tienen salas ociosas, por lo
tanto, dividir un grupo en dos para estudiar las dos lenguas en el mismo
horario, resulta inviable.
Tras la formación de la Comisión en el CEE/MS, los estudios y
debates sobre las inconsistencias textuales de la ley, principalmente al
intentar transportar de sus presupuestos teóricos a la práctica, han sido
muchos. En vista de la dificultad generada por la interpretación de una ley
que obliga a la institución escolar su oferta y al mismo tiempo desobliga al
alumno, hubo una consulta previa al Conselho Nacional de Educação CNE,
que, por haber recibido otras consultas al respecto, elaboró una orientación
Políticas de lenguaje en el mercosur
226 |
general. Así, se llegó a la elaboración del esbozo de una Deliberación en
MS y su respectiva Indicación.
Dicho esbozo se presentó a la comunidad interesada en el área y a
la comunidad general en audiencia pública en agosto de 2007, donde se
discutió sobre sus planteamientos. Aunque este hecho haya alcanzado una
importancia histórica, en vista de la precaria situación de la enseñanza del
español en Mato Grosso do Sul, cuyo sistema educativo cuenta con 33
escuelas en todo el estado que ofrecen la lengua española como lengua
extranjera
5
, la representación de la clase de profesores y estudiantes del
curso de Letras de las universidades locales ha sido bastante reducida,
aproximadamente un 30% del total presente al evento.
Los documentos finales se publicaron en el Diario Oficial 7086
del 05 de noviembre de 2007, donde se puede leer en la página 8 la
Deliberação CEE/MS 8434, de 02 de octubre de 2007 y la Indicação
nº 51/2007.
A respecto de la interpretación final sobre la obligatoriedad de la
enseñanza del español el CEE/ MS delibera en el artículo 3:
Art. O ensino da Língua Espanhola no Ensino Médio será de
oferta obrigatória pelas instituições de ensino e de matrícula facul-
tativa para os alunos.
Parágrafo único. A Língua Espanhola, se escolhida pela comunida-
de escolar como língua estrangeira moderna obrigatória, deixa de
ser matrícula facultativa para o aluno.
Es decir, se vuelve a dejar en manos de la comunidad, así como
lo determina la Ley de Directrices y Bases Nacional, LDB 9394/96. Éste
ha sido uno de los grandes motivadores a la interpretación anteriormente
citada, pues, en el entender del CEE no sería posible sobreponer otra ley
5 Datos recogidos en la Secretaria de Estado de Educación – SED/MS en 2007.
227
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
a la ley nacional ya existente. Más adelante expongo algunos comentarios
sobre este hecho y cómo se ha manejado el concepto de elección de la
comunidad” en determinados contextos.
¿Faltan profesores de español en Mato Grosso do Sul?
Las anteriores gestiones de los órganos administradores de la
educación en el Estado y municipio mantenían el discurso que alegaba
la falta de profesionales para asumir las clases de español, caso fuera
implantada dicha asignatura en la malla curricular de las escuelas y aún
hoy surge la pregunta de si existen profesores de español para cumplir la
ley que se está tratando en esta ocasión.
Como una respuesta con base numérica a esta indagación, presento
el cuadro a continuación, con el cuantitativo de alumnos que ingresan por
año a algunas instituciones de enseñanza superior en MS
6
.
Cuadro 1 - Cuantitativo de vacancias /año en el Curso de
Letras español en las instituciones de enseñanza superior en
Mato Grosso do Sul.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS
Campus Año de inicio Número de vacancias / año
Campo Grande 1991 30
Coxim 2002 50
Aquidauana* 2001 40
2002 20
Corumbá 2007 30
Três Lagoas** 2009 20
6 Datos recogidos en las instituciones mencionadas en agosto de 2008.
Políticas de lenguaje en el mercosur
228 |
* En el campus de Aquidauana se ofrecieron 40 plazas en el primer gru-
po y a partir de 2002 quedó establecido el cuantitativo de 20 vacancias/año.
** El Campus de Tres Lagoas tiene previsto el inicio del curso en 2009
con un total de 20 vacancias.
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS EAD
Polo Año de inicio Número de vacancias/año
Apiaí 2008 75
Rio Brilhante 2008 75
São Gabriel d’ Oeste 2008 75
Água Clara 2008 75
Camapuã 2008 75
Datos obtenidos en: <http://www.ead.ufms.br/portal/>. Acceso en:
agosto/2008.
Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS
Campus Año de inicio Número de vacancias / año
Dourados 1999 40
Universidade Católica Dom Bosco- UCDB
Campus Año de inicio Número de vacancias / año
Campo Grande 2000 35
Se ha incluido también la enseñanza a distancia por la gran cantidad
de alumnos en formación por esa modalidad, que ha tenido inicio este año
y cuyos resultados todavía no se han cuantificado por su reciente inicio.
Podemos considerar que existe un contingente fantasma de profesores
de español graduados. Estos profesionales concluyeron el curso de Letras,
con la respectiva habilitación y al buscar trabajo en su área específica
encuentran un mercado incipiente, con el que ya se habían enfrentado en
la graduación, al intentar realizar sus prácticas obligatorias en la escuela, de
229
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
ese modo, terminan por escoger otras áreas de actuación.
Como un contrapunto al cuadro 1, presento el cuadro 2 muestra
el cuantitativo de escuelas del estado que ofrecen español como lengua
extranjera:
Cuadro 2 – Escuelas que ofrecen español en la escuela
secundaria en MS
7
MUNICIPIOS ESCUELAS
N. PROFESORES
AMAMBAI * 03
08
ANAURILÂNDIA 01
01
AQUIDAUANA 01
01
BELA VISTA * 01
02
CAMPO GRANDE 04
07
CORUMBÁ * 01
01
COXIM 01
01
DOURADOS 02
05
NOVA ALVORADA DO SUL 04
07
PONTA PORÃ * 09
28
PORTO MURTINHO * 01
02
SANGA PUITÃ * 01 03
SÃO GABRIEL DO OESTE 02 02
TERENOS 01 03
total 32 51
* Escuelas ubicadas en municipio de frontera con Paraguay y Bolivia.
De los 78 municipios que componen Mato Grosso do Sul, son 32
los municipios que ofrecen español. Observamos que en Campo Grande,
capital del estado, de más de 70 escuelas existentes en el área urbana, sólo 4
7 Datos recogidos en 2007 en la Secretaria de Estado de Educação – SED/MS
Políticas de lenguaje en el mercosur
230 |
ofrecen español como opción en las lenguas extranjeras. Como un punto a
parte, se observa en Ponta Porã un alto índice de escuelas (casi la totalidad
del municipio) que ofrece español, son datos peculiares que se tratarán más
adelante al enfocar la cuestión fronteriza del estado.
Con relación a los docentes que asumirán la asignatura español en
la escuela, y tomando en cuenta su formación, la Deliberación del CEE/
MS, dispone:
Art. 7º Para o exercício da docência da Língua Espanhola será exi-
gida licenciatura com habilitação em Língua Espanhola.
Parágrafo único. Na falta de professor habilitado, poderão ser ad-
mitidos, em caráter temporário, licenciados em Letras e sem ha-
bilitação específica, desde que, com proficiência em Língua Espa-
nhola, dominando as habilidades de ouvir, falar, ler e escrever em
nível intermediário; licenciados em outras áreas, desde que, com
proficiência em Língua Espanhola, dominando as habilidades de
ouvir, falar, ler e escrever em nível intermediário e portadores do
Diploma de Espanhol como Língua Estrangeira – DELE, em nível
superior.
Por este artículo se aprehende que faltan profesores formados, y por
tanto el CEE ha tomado el cuidado de referirse a profesores legos que
podrían asumir la enseñanza del español, o quizá profesores en formación
y portadores de uno de los diplomas oficiales de suficiencia en español, en
este caso, el Diploma de Español como Lengua Extranjera DELE, por
ser un diploma más antiguo y con representación en MS.
En realidad, uno de los grandes desafíos de la Secretaría de Educación
de MS no se refiere tanto a encontrar y contratar los profesionales aptos
para enseñar español en la escuela, por supuesto los profesores graduados
a lo largo de los años y que no han ejercido su docencia en español por
falta de mercado de trabajo deberán participar de cursos de actualización
profesional, por un desfase natural y cursos de formación continua, como
se entiende que deba ser la formación permanente del profesorado. Sin
231
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
embargo, como refería anteriormente, este es un problema que se puede
solucionar desde que haya buena voluntad y empeño. Por otro lado, ¿cómo
se puede reubicar al profesorado de inglés que llegue a perder sus clases, si
la escuela donde está trabajando opta por el español?
Una propuesta posible sería incorporarlos a esos profesores a las
clases de los Centros de lenguas, espacios contemplados en la Ley Federal
y en la Deliberación Estatal del siguiente modo:
Art. O órgão próprio do Sistema Estadual de Ensino deverá
adotar providências no sentido de implantar Centros de Ensino de
Língua Estrangeira, cuja programação incluirá, necessariamente, a
oferta de Língua Espanhola.
Evidentemente, tendrán que ser sanadas las deficiencias de
esos profesores de inglés, deficiencia que el propio órgano central de la
educación, MEC, reconoce y plantea en las Orientações Curriculares para o
Ensino Médio (2006, p. 89) cuando se refiere a la existencia de institutos de
idiomas privados que se hacen responsables por la enseñanza del inglés:
[…] depreende-se que as falas dos alunos e dos pesquisadores de-
fendem que o aprendizado de uma língua estrangeira se concretiza
em cursos de idiomas, levando-nos a inferir que não há essa expec-
tativa quanto à escola regular.
Son muchos los desafíos que implica la aplicación de la Ley Federal
y todavía no se registran cambios siquiera mínimos con relación a su
implementación. Algunos órganos gestores han manifestado la intención
de capacitara los profesores de inglés para que enseñen español, hasta
el momento, al menos en el estado de MS, la Secretaria de Estado de
Educação SED, no ha manifestado claramente su posicionamiento con
relación a esta cuestión, lo que deja en la incertidumbre a los profesionales
responsables por la enseñanza de las lenguas extranjeras en el estado.
Políticas de lenguaje en el mercosur
232 |
Perspectivas a través del MERCOSUR
Para presentar el contrapunto del Bloque con relación a la Ley
11.161/05, tomo como parámetro los resultados del Grupo de Trabajo
sobre Políticas Lingüísticas – GTPL
8
que tuvo una serie de encuentros y
cuyos resultados expongo a continuación:
El Primer encuentro del GTPL, realizado en Montevideo en 1997.
El grupo realiza un diagnóstico sobre la enseñanza de lenguas extranjeras
en los países signatarios del Tratado, donde queda evidente la no existencia
de políticas lingüísticas definidas, por lo que es de consenso en el grupo
la necesidad de organizar un diagnóstico más elaborado y detallado, que
permita planificar la inserción del español en territorio brasileño y del
portugués en los demás países signatarios.
Por otro lado, existe una recomendación específica que se refiere a
la necesidad de delimitar la mecánica de la enseñanza del español en Brasil
(y el portugués en los otros países), sin olvidarse del contexto multilingüe.
Con la observancia de tener en cuenta las variedades de la región.
Esta última recomendación trata de un aspecto que, si a simple vista
es sencillo, está revestido de una densa polémica relativa a las variedades,
recordemos cuestiones como prestigio y legitimidad involucradas a las
lenguas, y que van a ser tópicos definidores en la aceptación y uso o rechazo
de una u otra variedad.
Existen otras recomendaciones consecuentes de esta primera reunión
citadas a continuación:
8 El documento resultante de este encuentro está en la íntegra en la página web de IPOL (Instituto de Políticas
Lingüísticas, disponible en: <www.ipol.com>).
233
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Recomendaciones 1º GTPL
Recomendación 1/97
Desarrollo de políticas lingüísticas claras con
acciones a corto, mediano y largo plazo.
Recomendación 2/97 Elaboración de censos lingüísticos.
Recomendación 3/97
Elaboración de campañas de sensibilización e
información.
Recomendación 4/97
Fortalecimiento de la formación docente en el
área de las lenguas oficiales, nacionales, regionales
y extranjeras.
Recomendación 5/97
Respaldo a la aplicación de exámenes de
conocimiento de lengua, elaborados en la región.
Recomendación 6/97 Ampliación de la formación en lengua materna.
Recomendación 7/97
Inclusión de lenguas extranjeras en los currículos
educativos.
Recomendación 8/97
Análisis de la situación de otras lenguas no
oficiales de la región del MERCOSUR.
Es conveniente comentar las recomendaciones citadas anteriormente,
considerando que éstas podrían transformarse en determinaciones a
posteriori.
El punto 1.97, que declara la necesidad de desarrollar políticas claras,
con acciones sin limitantes temporales de realización va a tener un fuerte
elemento problematizador, la existencia de políticas lingüísticas, instituidas
como tales o aquellas que se asumen como necesarias por su uso. Me refiero
a que si observamos el caso de Brasil, por ejemplo, la ya citada reforma
educativa de la década de 60 ha dejado un rastro que se sigue hasta hoy.
Por otro lado, las lenguas extranjeras se enseñan fuera de la escuela, y esto
es algo que la población ha adoptado al percibir la ineficacia de la escuela
en ese punto. Así, los padres se esfuerzan por pagarles a sus hijos cursos
de inglés y/o español, prioritariamente. A este hecho denomino que se
trata de una política lingüística asumida por la comunidad. En su interior
observamos aún, la cuestión de poder instituido por el poder adquisitivo.
Políticas de lenguaje en el mercosur
234 |
Quien tiene recursos, estudia en una escuela de idiomas mejor, con más
recursos tecnológicos y con un prestigio elevado, mientras que quien tiene
pocos recursos va a buscar una escuela al alcance de sus posibilidades y
aún hay aquellos que no tendrán recursos para estudiar en un instituto de
idiomas y por falta de recursos económicos no lo harán. Esto denota un
gesto excluyente, como resultado de la mala calidad de la enseñanza de
lenguas extranjeras en la escuela regular, un acto que la sociedad asume
como tal sin cuestionarse que de ahí deriva un factor de exclusión que se
contrapone a la pretendida escuela inclusiva y formadora de ciudadanos
críticos:
As orientações curriculares para Línguas Estrangeiras têm como
objetivo retomar a reflexão sobre a função educacional do ensino
de Línguas Estrangeiras no ensino médio e ressaltar a importância
dessas; reafirmar a relevância da noção de cidadania e discutir a
prática dessa noção no ensino de línguas estrangeiras (Orientações
curriculares para o ensino Médio, vol 1, Linguagens, Códigos e
suas Tecnologias. Brasília, MEC Secretaria de Educação Básica,
2006, cap. 4.
El punto 5/97 plantea la cuestión sobre los exámenes de
conocimiento, ya que se parte del presupuesto de que hay dos exámenes
oficiales de español en Brasil; el DELE - Diploma de Español como Lengua
Extranjera -, elaborado por la Universidad de Salamanca y divulgado
a través del Instituto Cervantes y el CELU - Certificado de Español
Lengua y Uso, elaborado por la Universidad Autónoma de Buenos Aires.
Conforme citado, existe la propuesta de intentar privilegiar las variedades
regionales, lo que beneficiaría al CELU ante la comunidad del Cono Sur,
ya que Argentina se destaca como un país pionero en Latinoamérica, en
el sentido de ofrecer el Español como Lengua Extranjera, lo que le deja en
una situación privilegiada si consolida sus propias políticas lingüísticas
y aprovecha las ventajas regionales”. Ya que estamos hablando de un
235
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
contexto donde impera como variedad mayoritaria el voseo
9
, ¿este sería un
factor determinante que excluiría la aplicación del DELE en el ámbito del
MERCOSUR? Son planteamientos que exigen un debate abierto ante la
posibilidad de caer en otra situación de hegemonía y unilateralidad.
El Segundo encuentro del GTPL se da en Buenos Aires en 2000,
tres años después de la primera reunión. En esta ocasión se plantea el
trabajo en ejes, para intentar promover efectividad al encuentro. Así, estos
son los tres grandes ejes en discusión:
Elaboración de censos lingüísticos y de diagnóstico sociolingüista
de la región.
Del documento resultante de dicho encuentro se extrae la siguiente
ponderación: Contar con diagnósticos confiables es requisito indispensable
para tomar decisiones acerca de la inclusión del español y el portugués
en los currículos de los países miembros. Asimismo, serán importantes
para desarrollar a medio y largo plazo estrategias para la formación,
capacitación y actualización docente; la enseñanza de lenguas maternas,
segundas y extranjeras; el desarrollo curricular; la producción de recursos;
la orientación y promoción de la oferta editorial.
Diploma de certificación de competencia de español y portugués
como lenguas extranjeras (ELE y PLE)
Este punto ya lo he tratado un poco más en detalle entre las
recomendaciones del Primer Encuentro: El GTPL defiende la realización
de este tipo de diploma en la región, debido a la estrecha relación entre la
variedad lingüística, la cultura y la identidad de una comunidad. En este
sentido, la promoción de las variedades americanas de español y portugués
es un camino indispensable para la integración regional y el conocimiento
mutuo entre sus pueblos.
9 A respecto del voseo, quiero exponer, que los países que hacen frontera con Mato Grosso do Sul son voseantes
con diferentes rasgos. Mientras en Paraguay el voseo es la forma más usual de tratamiento en el registro informal, en
Bolivia, los colindantes, cruceños también son voseantes, sin embargo, los emigrantes que componen la mayor parte
de los habitantes de Arroyo Concepción, distrito ubicado al atravesar la línea de frontera, no lo son totalmente.
Políticas de lenguaje en el mercosur
236 |
Formación docente
A respecto de la formación docente, se recomienda: “Elaborar,
según las características de organización educativa de cada país, proyectos
de formación y actualización del profesorado en portugués o español como
LE.
“Definir criterios básicos estándares para la certificación de los
profesores de portugués o español como LE en la región
Como una observación a este segundo encuentro, es relevante
considerar el tiempo de realización entre el primero y el segundo encuentro,
con el intervalo de 3 años. Al mismo tiempo que se observan pocos avances
en las propuestas planteadas.
El Tercer encuentro del GTPL se da en Porto Alegre el mismo año
del Segundo Encuentro. En primera instancia, hay un avance con relación
a la necesidad de crear una base de datos confiable.
El Banco de datos – denominado MERCOLÍNGUA que tiene por
objetivo formular políticas de alcance regional y poner a disposición esos
elementos derivados de dicha investigación.
Elaboración del examen de nivel de E/LE
Además de la propuesta de la creación de los cursos de formación
de profesores de ELE y PLE para suplir la demanda de la enseñanza básica
en los centros de enseñanza de los cuatro países, se vuelven a retomar los
puntos que se habían discutido en los otros encuentros.
Cuarto encuentro del GTPL se da en Asunción en 2001, es decir,
un año después del Tercer Encuentro. Ésta fue la última reunión del grupo
que presenta como un punto novedoso en los debates la movilidad de
los profesionales en el ámbito del MERCOSUR, así, este punto atiende
la demanda de la falta de profesores especialistas en la enseñanza de
idiomas, números que en realidad están disminuyendo año tras año, con la
graduación de nuevos profesores.
237
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Un aspecto de destaque en esta reunión, es la reivindicación de
considerar el Guaraní como lengua oficial en el MERCOSUR, lo que de
hecho tiene fundamento válido una vez que el guaraní ha sido declarado
idioma oficial en Paraguay en 1992. El proceso de inclusión del Guaraní
va muy avanzado hasta la fecha.
En 2004 se firma el Protocolo de Ouro Preto que señala en el
Capítulo VIII, Artículo 46: Los idiomas oficiales del Mercosur son el
español y el portugués. Se determina así que la versión de los documentos
de trabajo, será la del idioma del país sede de cada reunión y se refrenda la
disposición legal las leyes oficiales que tratan sobre las lenguas y su papel
en un proceso de integración.
Como una propuesta conceptual de lenguas próximas en el ámbito
del MERCOSUR, Arnoux concibe el portugués y español como “lenguas
de enseñanza”, por la proximidad que presentan, aunque, como vimos
anteriormente no siempre tengan un valor equitativo en prestigio y
aceptabilidad. Lo que se toma en consideración para este planteamiento es
la necesidad existente de consolidar el desarrollo de una identidad regional,
por medio del estímulo al conocimiento mutuo, fortaleciendo una cultura
de integrar, por medio de su estudio obligatorio, con la consolidación de
un programa bilingüe en la enseñanza primaria y secundaria. De ese modo,
las lenguas como el inglés, francés, alemán, chino, etc., asumirían el rol de
“lenguas extranjeras”.
Concomitantemente a estas cuestiones que abarcan las “lenguas
oficialesdel bloque, están las lenguas amerindias que a los pocos están
ingresando en los programas de enseñanza oficial, como señala José del
Valle (2005): en las últimas décadas parece haberse sentido con especial
intensidad la necesidad de intervenir en la protección y promoción de
lenguas (…) y así han proliferado políticas destinadas al ordenamiento
de la vida lingüística y con ellas las ideologías”, hecho que en sí, no ha
promocionado grandes cambios que favorezcan a los hablantes de dichas
Políticas de lenguaje en el mercosur
238 |
lenguas, consideradas minoritarias. Existe una posición muy tibia con
relación a este punto en lo que se refiere a la efectividad de consolidar
en políticas lingüísticas factibles que avancen del discurso académico y
político hacia la práctica.
Peculiaridades en las fronteras
en Mato Grosso do Sul
Mato Grosso do Sul es un estado “joven”, ya que su fundación como
estado independiente data de 1977, año en que se produjo la división
territorial del antiguo estado de Mato Grosso en Mato Grosso do Sul y
Mato Grosso. Este trabajo plantea discutir las políticas lingüísticas en el
ámbito de Mato Grosso do Sul, estado que tiene por frontera internacional
dos países hispanohablantes: Paraguay y Bolivia.
Se registran diversos flujos de emigración de una gran variedad de
pueblos, entre los cuales bolivianos y paraguayos, cuya peculiaridad se
distingue en aspectos como: su instalación y la circulación de sus productos
culturales, entre ellos el tereré, la música, la culinaria, la religiosidad y la
lengua, entre otros más específicos, presentes en lo cotidiano del estado de
formas variadas.
Observemos, por ejemplo, cómo se da la enseñanza secundaria en la
escuela pública, bajo administración del Estado en Ponta Porá, frontera con
Paraguay y cómo se presenta este mismo tipo de escuela en el municipio de
Corumbá, frontera con Bolivia.
Ateniéndonos a los datos numéricos
10
, se registra que mientras en
Ponta Porá, de las 11 escuelas de administración estatal, 9 ofrecen español
en la malla curricular, en Corumbá existe el registro de una escuela, ubicada
en un asentamiento, que ofrece español en las escuelas de administración
10 Citados ya en la página 09 de este trabajo.
239
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
estatal. Por otro lado, en el ámbito de las escuelas de administración
municipal, mientras todas las escuelas ofrecen español en Ponta Porá,
ninguna escuela municipal ofrece español en Corumbá.
Estos datos evidencian circunstancias que por solas reflejan
una situación que merece un estudio multidisciplinario, que tenga el
compromiso y rescate de características propias de la mismidad que están
traspasadas por valoraciones socioculturales.
Si observamos las características de frontera, propiamente, hay
una diferenciación relevante en la forma de asentamiento humano en las
regiones citadas, aunque ambas presenten un gran flujo de tránsito humano
(eventual y definitivo), se observa que el flujo humano proveniente del
Paraguay tiene como destino el estado de Mato Grosso do Sul, mientras
el flujo humano proveniente de Bolivia tiene como destino prioritario
los grandes centros como San Pablo, Rio de Janeiro u otros centros que
absorban mano de obra en las industrias.
Con relación al flujo humano en las fronteras de Corumbá y Ponta
Porá que cito, Cunha (2005) se refiere de la siguiente forma:
[...] no que se refere às migrações bolivianas e paraguaias no Bra-
sil, os volumes parecem ser comparáveis. Contudo, a distribuição
no espaço é nitidamente distinta e observa-se uma dispersão maior
da comunidade boliviana em relação à paraguaia [...](CUNHA et
al. Espaços migratórios e problemática ambiental no Mercosul,
2005).
Como el autor afirma, se observa que la distribución del espacio
adquiere una ocupación singular, con apropiaciones que van desde la
falta de identificación con el lugar a la necesidad de estar en territorio
ajeno y por lo tanto se desarrolla una noción de falsa proximidad, pues se
puede habitarlo pero con la expectativa de abandonarlo todo así tenga una
posibilidad.
Políticas de lenguaje en el mercosur
240 |
(...) têm-se algumas indicações que levam a pensar que os lugares
de origem dos migrantes evoluem, sendo mais distantes geografi-
camente da fronteira. Desenvolvendo este elemento, a fronteira
parece assumir, cada vez mais, o papel de espaço de trânsito, de
intermediário, em circuitos migratórios mais amplos que unem
pólos urbanos distantes, os quais a priori tecem poucos laços com
os espaços de fronteiras (...).
Ésa sería la perspectiva de tránsito e intermediación, el ejercicio de
adaptarse en una tierra que ya está al otro lado de la frontera, pero que al
mismo tiempo permite una vuelta a la raíces en un corto espacio de tiempo
y a bajo costo.
Campo Grande, la capital, que está a 6 horas de viaje en autobús,
no presenta la misma característica aunque esté en el mismo estado. Lo
que ocurre es que una vez superada la aprehensión a la salida, el próximo
objetivo es un gran centro, como ocurre con la mayoría de los bolivianos
que van en busca de oportunidades de trabajo a San Pablo, ejerciendo la
función de costureros, o en otros servicios que no exijan formación, ya que
de un modo general, son personas con un nivel bajo de escolaridad y con
casos registrados de hablantes de quechua o aymara y no de español.
Aunque este tránsito humano entre Bolivia - Brasil y Paraguay -
Brasil no sea novedoso por la frontera del antiguo Mato Grosso y del actual
Mato Grosso do Sul, pues se realiza, con mayor o menor flujo, desde hace
mucho, los estudios que se refieran al contacto lingüístico en esta frontera
recién empiezan a esbozarse. De Lipski (1977) extraigo esta observación
decurrente de sus investigaciones en la región norte boliviana, en el
departamento de Pando:
“... Las calles, los mercados y los locales comerciales de Cobija se
llenan de centenares de brasileños todos los días, de hecho, en esta zona
se escucha más el idioma portugués que el español durante el horario
comercial. El portugués es el idioma manejado por los comerciantes
241
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
bolivianos En muchos casos, el portugués y el castellano son las segundas
lenguas de estos hablantes” (LIPSKI, J.M., 1977).
Con relación a los hablantes de la frontera, del lado boliviano
existe una compleja conformación étnica, que para su mejor comprensión
exige un estudio profundo del movimiento de emigración y asentamiento
interno en territorio boliviano. Sin enfocar el aspecto cuantitativo, la
conformación del área urbana de esta región es la siguiente: Al pasar la
frontera hacia Bolivia, se encuentra Arroyo Concepción, distrito de Puerto
Quijarro, en ese pequeño espacio de tierra están asentados en su mayoría
emigrantes del altiplano y del valle boliviano, es decir, hispano-quechuistas
o hispano-aymaras, muchos de los cuales se comunican entre en quechua
o aymara, y a veces en español. Con relación a la designación de la lengua,
español/castellano, hago referencia a José del Valle (2005) que dice:
La lengua española es muchas cosas. Para algunos ni español es;
es castellano. Y lo es, en cada caso, por muy distintas razones.
Se habla esta lengua en lugares lejanos y de maneras diferentes.
Vive en comunidades muy dispares y en todas ellas asume valores
materiales y simbólicos peculiares. Coexiste con otras en mundos
plurilingües que, con frecuencia, los hablantes saben negociar con
mucha más serenidad, con mucha menos estridencia que los guar-
dianes del lenguaje y la cultura.
Estos emigrantes han formado una isla quechua-aymara en pleno
territorio oriental, formado por habitantes conocidos como cambas.
Además, como se registra un gran movimiento económico por la feria
instalada en Arroyo Concepción, se puede afirmar que dichos emigrantes
son los que manejan la economía local que interfiere de forma clara en la
economía de Puerto Quijarro, donde está ubicada la estación de trenes,
lugar de desembarque de los emigrantes anteriormente citado.
Así convive el castellano o español con el portugués, el quechua y el
aymara al otro lado de la frontera brasileña. A este lado, el portugués apenas
Políticas de lenguaje en el mercosur
242 |
sufre algunos rasguños del castellano, en expresiones o frases hechas, con
poquísima interferencias (a no ser las voluntarias del lusohablante).
Hay un campo abierto y extenso que puede ser explorado en el área
del lenguaje, de la comunicación en esta región de casi” vecinos, donde
las distancias se mantienen por la utilización de códigos de aceptabilidad
o rechazo de ambas partes, donde se puede leer un discurso asimétrico
mantenido no sólo por el poder económico y el prestigio social, sino
también cuando se evidencia el conocimiento (o el desconocimiento) de
una u otra lengua a ambos lados.
Con relación a la educación y enseñanza del español en las escuelas
de Corumbá, quiero aludir a la Ley Municipal nº 1.322/93 que implanta
nas escolas municipais de Corumbá o ensino da língua española”, y con ello
hago referencia a lo que se entendería por implementar una ley y cómo se
utilizan estrategias para la no ejecución e aplicabilidad.
La Secretaría Municipal de Educación optó por aplicar la ley
anteriormente citada aplicando el sistema de consulta a la comunidad”
preguntando a los padres de familia cuál sería la lengua que quería
que su hijo estudiara. Es curioso constatar el resultado obtenido en
todas las escuelas, donde unánimemente se optó por el inglés. Cabe el
cuestionamiento, de cuál habría sido la solución aplicada ante la opción
por el español de algunos padres pues no existía entonces (como no existe
hasta hoy) ningún profesor de español en la plantilla de dicho órgano. A esa
problematización me refería anteriormente cuando expuse la Deliberación
del CEE con relación a la enseñanza del español, cuando la elección queda
en manos de la comunidad.
¿No resulta muy simplista dejar a manos de la comunidad sin que
haya de hecho una posición del órgano gestor de la educación? ¿No se
tendría que hacer un planteamiento con más responsabilidad, es decir,
con el envolvimiento de una política lingüística para la enseñanza de las
lenguas extranjeras?
243
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Son reconocidos los conflictos que tienen que superarse para pensar
en un plan de integración, tal vez, sería factible pensar y plantear acciones
que tengan en vista esta perspectiva regional. Ello depende de cada contexto
donde se dan esos puntos de convergencia, o sea, las fronteras. Como un
contrapunto a la situación de Corumbá, cito el ejemplo de Ponta-Porá,
conforme narra la profesora Flavia Carolina L. Duarte, al describir el
proceso de implantación del español:
[...] Essa implantação exigiu muita audácia da rede, pois o que ser-
ve de empecilhopara outros municípios quando se questiona a
implantação da LEE, nas redes educacionais das outras cidades do
Estado, colocam como obstáculo a falta de profissionais. Em Ponta
Porã, isso não foi problema pois, de início, os profissionais foram
selecionados por análise de currículo, sendo escolhidos os que ti-
nham certificados como o DELE, certificados de curso em escola
de idiomas e também optou-se pelos acadêmicos que cursavam a
faculdade de Letras com ênfases em espanhol.
En la actualidad esos profesores que ingresaron en la condición de
profesores legos están graduados, muchos de ellos son especialistas en el
área y son profesores efectivos
11
del sistema de enseñanza municipal del
local. Si bien esta experiencia narra la implantación del español en la
escuela primaria, en la escuela secundaria también existe un disposición
muy distinta a la de todo el estado: de las 11 escuelas en total que existen,
bajo la administración del estado, 9 ofrecen español como LE, y las otras
están en vías de ofrecerlo.
Se constata así que no sólo por las leyes se da un cambio significante
en el currículo escolar, cambio que en este caso obedeció a la realidad del
lugar y a un arduo trabajo de los gestores en el proceso de implantación.
11 Los profesores efectivos son aquellos que han ingreso por medio de concurso público y que trabajan en carácter
permanente en la red de enseñanza pública municipal.
Políticas de lenguaje en el mercosur
244 |
Las lenguas (en este caso, el español y el portugués), su práctica,
utilización y enseñanza, sobrepasan los ánimos integracionistas, los
modismos o deslumbres de lo multicultural” como algunos lo pintan, tal
como si fuera un fenómeno jamás visto en la historia (la historia que a lo
largo de su trayectoria nos cuenta de hechos imbricados a los principios
de aproximaciones, contactos y luchas con la consigna de la constitución
de los estados). El idioma, como elemento expresivo, comunicativo y
principalmente como la mismidad indispensable del ser humano ha
estado en el centro de esos espacios, y así se ha comportado, definiendo sus
características. De esa forma, el portugués y el español tienen un encuentro
histórico inevitable, sus hablantes así lo viven, con las aceptaciones y
rechazos, con mucha más naturalidad y espontaneidad que los dictámenes
legales e impuestos lo plantean.
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Políticas de lenguaje en el mercosur
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247
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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CRISIS Y TRANSFORMACIÓN
DE LA IDENTIDAD-ACCIÓN COLECTIVA
EN MÉXICO
Josè G. Vargas-Hernàndez
1. Identidad y globalización
La globalización dinamiza y complica los arreglos de identidades
culturales, reconfigura la geografía de los territorios y reinventa la
gobernabilidad. En el nuevo orden globalizado, la sociedad pluricultural
requiere de una forma de identidad de nacionalismo cosmopolita
que sustente las bases de una democracia social. El surgimiento de un
nacionalismo cosmopolita formador de identidad postnacional es la
consecuencia directa de identidades nacionales que están en apertura a
entornos que exigen más tolerancia y pluralidad ideológica, y que se basa
en los principios universalistas del Estado de Derecho y de la democracia.
Habermas sustituye la identidad nacional por la identidad postnacional
con fundamento en el Estado de Derecho y la democracia.
La globalización económica que impone áreas de integración regional
e instituciones supranacionales tiene un impacto evidente en la formación
de nuevas naciones y en las funciones del Estado a partir del avance de los
procesos de descolonización y separación, de una evidente erosión de los
sistemas de seguridad nacionales que inciden en sentimientos de identidad
nacional, regional o local. La globalización se perpetúa en los contenidos
de la información y la comunicación excluyendo a más individuos que
quedan fuera de los beneficios de la nueva cultura e identidad global.
En los mercados globales existe una demanda de productos y
servicios con un alto contenido de identidad cultural asociada a espacios
territoriales, cuyos consumidores prefieren sobre otras alternativas. Dados
Crisis y transformación de la identidad-acción
248 |
los procesos de identificación y adhesión a ciertas representaciones sociales,
la identidad cultural individual en que cada ciudadano de este planeta
interconectado –la patria de todos- construya su propia identidad cultural,
de acuerdo a sus preferencias y motivaciones íntimas y mediante acciones
voluntariamente decididas” no tiene mucho sentido.
Estos procesos de afirmación de la identidad cultural son opuestos a
los procesos de la globalización económica, los cuales profundizan más las
fracturas sociales. Para Huntignton (1997), la cultura e identidad cultural
dan forma a los patrones de cohesión, desintegración y conflicto en la
posguerra fría. El final de la historia y continuidad del sistema económico
ha sido declarado por los agoreros del desarrollo capitalista, el que pesar de
las crisis sobrevive como la última utopía erigida en el modelo único y por
tanto hegemónico.
El desarrollo en la globalización ha sido en general capitalocéntrica
porque sitúa al capitalismo en el centro de las narrativas de desarrollo,
tendiendo en consecuencia, a devaluar o marginar cualquier posibilidad
de desarrollo no capitalista”. “... la naturalidad de la identidad capitalista
como plantilla de toda identidad económica puede ser puesta en cuestión
(GRAHAM y GIBSON, 1996, p.146) por diversas opciones de desarrollo
económico propias del mismo posdesarrollo que valoran los modelos
locales no necesariamente complementarios, ni opuestos ni subordinados
al capitalismo.
Este a su vez es otro paso de la hiper mundialización, la que según
Laïdi (2000), es una realidad más inquietante, en donde los Estados, las
fronteras, los sistemas sociales o los sistemas educativos y las identidades
políticas no tienen ya más sentido a escala nacional.
Las formas de transmitir los estilos de vida en una sociedad
globalizada están generando dualidades sociales que fragmentan, dividen
y marginalizan a sectores y poblaciones enteras que contribuyen a formar
altos niveles de incertidumbre en sus identidades sociales, políticas y
249
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
culturales. La fragmentación de las identidades culturales, étnicas, religiosas,
políticas, etc., provoca profundos conflictos entre las sociedades. El discurso
neoliberal es fuerte y difícil de combatir. Los procesos de globalización
neoliberal fragmentan y debilitan a los actores políticos y sociales, los
mecanismos de representación de la ciudadanía y diluyen las identidades
colectivas. La identidad ciudadana se abandona y quiere ser sustituida por
la condición de súbditos imperiales y consumidores-clientes.
Estas identidades ya tocadas por los procesos de globalización
económica se están movilizando hacia una mayor identidad local y fuera
del campo de acción del Estado nacional mediante expresiones políticas
de grupos y organizaciones a ras de tierra. Sin embargo, la pérdida de
identidades locales existentes que confrontan los individuos y los grupos,
hace que sientan la necesidad de construir o inventar tradiciones y nuevas
identidades.
Si las comunidades quieren controlar y condicionar el impacto de las
fuerzas globales en la identidad local y la tradición cultural, se tienen que
planear más que reaccionar a los procesos de desarrollo en la política local
(LAVALLE y BOYER, 2006). Los derechos fundamentales y políticamente
relevantes para la gestión sustentable del desarrollo local son el derecho a la
identidad, al territorio, a la autonomía y a su propia visión del desarrollo.
Las ciudades globales son lugares de creación de nuevas identidades
culturales y políticas para sus habitantes que comparten una cultura
masiva global sofisticada, como parte de un proceso de McDonalización
del mundo paralelo a la polarización socioeconómica.
Los procesos de globalización transforman las configuraciones
de organización, agencia e identidad, en las fronteras de las disciplinas
económico-administrativas.
Todavía está por verse si se cumplen las predicciones de Eliot acerca
de que la humanidad tendría un renacimiento en sus culturas locales y
regionales bajo el fuerte influjo de la globalización en un diálogo transcultural
Crisis y transformación de la identidad-acción
250 |
y sus efectos en las identidades culturales nacionales. Se necesita de una
revolución cultural para no aceptar las formas de dominación, poder y
alineación del capitalismo globalizador y para reconstruir la identidad de
las comunidades mediante la acción individual y colectiva que afirme la
autodeterminación, independencia y autogestión.
Los fenómenos de resistencia a los procesos de globalización como
expresiones de movilización política y organización social se manifiestan
en formas de identidad sociointercultural para la protección y seguridad
de las comunidades, mientras que las identidades centradas en la geografía
están siendo menos naturales debido a los procesos de desterritorialización
como efecto de los procesos de globalización.
Las capacidades del Estado-nación para eliminar las brechas
existentes en las disociaciones y disfuncionalidades entre los alcances de los
procesos de globalización económica y los procesos de identidad cultural
son muy limitados. Por lo mismo, no necesariamente la identidad nacional
puede ser contraria a los procesos de globalización como sucedió con la
rigidez del Estado-nación en que algunas identidades culturales fueron
sometidas o marginadas.
2. Diversidad de identidades
La diversidad y ambigüedad de las identidades se debe a que los
individuos y grupos tienen múltiples identidades. Estas identidades siempre
encuentran los vehículos de expresión en las diferentes unidades espaciales
territoriales en unidades locales, regionales, nacionales e internacionales.
Las identidades territoriales se reconocen por el conjunto de significados
comunes y compartidos por los colectivos poblacionales que habitan en
determinadas unidades espaciales influidas por los factores ambientales,
naturales, económicos, demográficos, históricos, sociales, políticos,
culturales, etc.
251
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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La proximidad geográfica puede favorecer el fortalecimiento de las
identidades territoriales en tal forma que permitan la propia expresión
diferenciada de dichas identidades, como en el caso de proyectos
colectivos.
Las identidades fuertes permiten la expresión de intereses que son
comunes en las diferentes instancias espaciales territoriales nacionales e
internacionales. Por lo tanto, las diferencias culturales y económicas son
representativas de las grandes ciudades globales. Las personas experimentan
cada vez más diferencias culturales debido a la glocalización y junto
con la fragmentación crean retos de identidad, inseguridad, ansiedad,
incertidumbre. Para enfrentar los retos que plantean la diversidad
sociocultural es necesario desarrollar habilidades para la administración de
esa diversidad para manejar la incertidumbre y la identidad.
3. Identidad social, cultural y política
La naturaleza de la identidad social y política tiene implicaciones
en la actividad política colectiva desplegada en las reacciones locales a las
fuerzas globales. La identidad social resulta de los valores individuales y
comunitarios en procesos de inclusión y exclusión en los mercados globales.
El término mercado global es de reciente uso para indicar los cambios
cualitativos en las características de los mercados mundiales.
La lógica de los mercados sustituye las relaciones basadas en la
reciprocidad de las obligaciones entre las personas por las relaciones
centradas en transacciones monetarias, lo cual debilita la solidaridad entre
los individuos y los pueblos y las identidades comunitarias. La identidad
cultural se respalda en las innovaciones de políticas públicas, instituciones,
actores y redes involucradas en la implementación de estrategias de
desarrollo territorial que promuevan la producción de bienes y servicios de
identidad cultural y fomenten la equidad en el acceso a la distribución y
consumo en los mercados.
Crisis y transformación de la identidad-acción
252 |
Los efectos de estas estrategias contribuirán a fortalecer la identidad
cultural y a impulsar el desarrollo económico y social. La identidad cultural
formada por elementos culturales, productivos, de paisajes, ambientales,
históricos, sociales de un territorio, puede ser una de las ventajas
competitivas para promover el desarrollo endógeno territorial.
La reconfiguración política transnacional queda en función de
ciertas limitaciones al ejercicio de la democracia liberal postnacional que
entra en contradicción con los requerimientos institucionales de soberanía
nacional, autonomía, procesos de representación y participación ciudadana,
debilitan los lazos de solidaridad e identidad social, y por lo tanto se
erosionan los procesos de legitimación y responsabilidad democráticas,
como en el dilema de las mayorías múltiples. En el modelo republicano
de democracia el centramiento es en la construcción de las identidades
individuales y colectivas a través del diálogo en un espacio público para la
participación de los ciudadanos activos en el cual la política crea preferencias
en la búsqueda del bien común considerados como sujetos responsables,
libres e iguales en una comunidad.
La política como actividad de irrupción del orden establecido,
en el concepto de Rancière (1996), implica modos de subjetivación
desidentificadores capaces de producir multiplicidades de funciones e
identidades colectivas en el orden constituido para ser reconocidos en la
esfera pública. La falta de participación y debate de los ciudadanos en los
procesos políticos de integración no contribuyen a crear una identidad
social que sea el fundamento a una democracia post-nacional. La
ciudadanía como una identidad abstracta es una construcción política que
es cuestionada por la identidad social.
La actividad económica que define la dimensión social reclama un
espacio fuera de las estructuras políticas de la sociedad y por tanto sin
identidad política, pero además fuera del espacio del Estado, integrando
lo que se ha denominado sociedad civil. La incorporación de las
organizaciones de la sociedad civil (OSC) en los procesos de formulación
253
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
e implementación de las políticas públicas se establece mediante relaciones
que son gobernadas por el “respeto a la independencia y autonomía de las
OSC, por el reconocimiento de su identidad especial y por la transparencia
y la imparcialidad en los tratos según Martínez Nogueira (2001). La
asociación voluntaria de los individuos en la denominada sociedad civil
contribuye a la formación de redes de solidaridad, al forjamiento de
identidades colectivas de los pueblos y a la organización para lograr fines
colectivos y superar cualquier contingencia.
El surgimiento de nuevas culturas políticas bajo el concepto de
“Nueva Política”, implica que los actores sociales y políticos adquieren
nuevos símbolos y medios para dar lugar a nuevas formas de identidad
ciudadana y de participación política. Al respecto, Ramos (2001) concluye
que las respuestas adaptativas de los actores sociales atrapados en las
redes de poder, consisten en apostar por estrategias dobles que permiten
construir contraintuitivas identidades paradójicas, con lo cual los actores
logran reproducir las redes, consolidarse y “enjaularsee “incapacitándose
para romper la lógica perversa que la anima”. Esta congruencia entre la
cultura política y el sistema político adquiere importancia en la nueva ola
democratizadora, la cual es una oportunidad para analizar y evaluar aspectos
como la formación de la identidad, la formación de culturas políticas y su
conexión con las normas y conductas políticas.
3. Crisis de identidad nacional
y resurgimiento de identidad comunitaria
La identidad comunitaria se expresa como una reacción a las crisis
de legitimación e integración del Estado nacional, lo que también implica
que los gobiernos nacionales atraviesen por una crisis de legitimidad y por
lo tanto requieren del apoyo de actores sociales representativos para lograr
su legitimación. La crisis de identidad nacional es resultado de la crisis del
Estado nación, es decir, de la separación entre ambos, lo que da lugar a
Crisis y transformación de la identidad-acción
254 |
que la ideología nacional sea reemplazada por la ideología del mercado.
Las instituciones financieras internacionales y las grandes corporaciones
transnacionales no solamente ejercen un implacable control social y
económico sino también una profunda transformación del sustrato cultural
e ideológico hasta lograr una anulación de la identidad de los pueblos y
comunidades mediante la manipulación de los medios de comunicación
en función de sus intereses económicos.
La crisis de identidad del Estado nación que se manifiesta en
su pérdida de soberanía y da lugar a la expresión de una sociedad
multicultural, es también producto de la crisis de las instituciones que no
tienen la capacidad para la resolución de los conflictos. Estos conflictos se
manifiestan en tal forma que las identidades socioculturales individuales
y comunitarias destruyen la legitimidad del Estado transformando sus
funciones mediante una nueva forma de organización en redes para
desarrollar las capacidades de negociación con las redes globalizadoras de
la información, la telecomunicación y la economía.
Las manifestaciones multiculturales en estas sociedades hasta cierto
punto configuran estos rasgos que por un lado desintegran la identidad
individual y las referencias comunitarias, destruyen las estructuras
familiares y sociales, así como las manifestaciones religiosas, culturales e
intelectuales. Cuando la sociedad civil está en contra del Estado se sustenta
en principios de identidad comunitaria. Los valores sociales compartidos
favorecen el sentido de pertenencia, fortalecen la identidad comunitaria
y sustentan el mercado y el Estado como mecanismos de integración y
ordenamiento social. La adopción de un conjunto de valores distintivos
por las comunidades y organizaciones las identifica y si sus estructuras
son cuestionadas, mantener la identidad es una lucha para preservar su
conjunto de valores.
La identidad del movimiento dentro de los procesos de acción
colectiva por si misma puede ser codificada por una crisis instigada por el
Estado. Los movimientos nacionalistas tienen su propia solución para las
255
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
crisis de identidad y legitimidad. La crisis institucional se profundiza por la
falta de una ideología de identidad, en parte porque la identidad nacional
disociada del Estado se convierte en ideología con corresponsabilidad en el
modelo de desarrollo.
La crisis institucional se profundiza con la tendencia al individualismo
que carga la acción política en una fragmentación de movimientos y actores
sociales. La sociedad del trabajo centrada en el invidividualismo aniquila
la percepción de la identidad nacional. La ideología estadounidense se ha
visto fortalecida con las olas de inmigrantes que cambian su sufrimiento
por un individualismo marcado por una ideología liberal dominante que
retrasa el surgimiento de una expresión política de conciencia de clase y la
ciudadanía activa aunque fortalece las identidades étnicas para una mayor
manipulación política.
Los individuos al formar parte de la una comunidad tienen identidad
colectiva, requisito para que los bienes públicos producidos sean también
bienes colectivos contrario al planteamiento del hombre económico
centrado en la utilidad individual. La identidad colectiva es una definición
interactiva y compartida producida por un número de individuos (o
grupos, en un nivel de mayor complejidad) respecto de las orientaciones
de su acción y el campo de oportunidades y constreñimientos en el que tal
acción tiene lugar. A pesar de que el cuestionamiento de si las identidades
colectivas son una ficción ideológica (VARGAS LLOSA, 2000), no parece
ser muy consistente.
La identidad colectiva se basa en ligas socioculturales y en
comunicación simbólica de intereses articulados en circunstancias donde
los ciclos de protesta permiten que el acceso al centro del Estado por los
grupos marginados sea limitado (MELUCCI, 1985, 1996). La protesta
en los tiempos actuales se caracteriza por una madeja de organizaciones
coordinadas en nuevas formas de organización en red que enfatizan los
códigos culturales y los roles de identidad de las comunidades.
Crisis y transformación de la identidad-acción
256 |
El análisis de los roles de las emociones, la conducta colectiva,
conflictos y movimientos sociales, permitirán forjar y mantener identidades
colectivas políticas. De acuerdo a Melucci (1996, p. 70) la identidad
colectiva es un proceso por el que se construye un sistema. El concepto
de identidad colectiva ha sido estudiado en la teoría de los movimientos
sociales (MORRIS and MUELLER, 1992; LARAÑA, JOHNSON and
GUSFIELD, 1994; MELUCCI, 1989; 1996). Poco ha sido estudiado
relacionado con las dimensiones de la religión y la cultura de las identidades
colectivas (MELUCCI, 1998).
Como un proceso dinámico de construcción y negociación de los
elementos de la identidad colectiva que implica definiciones cognitivas
respecto de las finalidades, los medios y el campo de acción, se refiere a
una red de relaciones activas entre actores que interactúan, se comunican,
negocian o toman decisiones, y, finalmente, requiere una cierta inversión
emocional que permita a éstos sentirse parte de una unidad común
(RODÍGUEZ GIRALT, 2002). Para Snow et al. (1986) El marco de
alineación de procesos es útil en el análisis de puente, amplificación,
transformación y formación sincrética de la identidad colectiva marco
de alineación de procesos es útil en el análisis de puente, amplificación,
transformación y formación sincrética de la identidad colectiva.
La identidad colectiva es como un hilo que une, aunque sea
temporalmente, a individuos, grupos y organizaciones que con percepciones
similares sobre los impactos de los procesos de globalización, reaccionan a
los impulsos negativos en aparentes contradicciones entre una multiplicidad
de fuerzas políticas, económicas, sociales y culturales existentes en el
sistema mundial contemporáneo. La imagen e identidad de los grupos son
parte de los recursos críticos de las organizaciones modulares. Bobrow and
Boyer (2005) sostienen que la emergencia de la identidad colectiva que
aglutina intereses comunes de los actores es el centro del multilateralismo
incremental que se desarrolla en las economías más industrializadas.
257
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
El principio de la identidad colectiva se debilita por las políticas
económicas y sociales neoliberales y neoconservadoras. El mercado tiene
efectos que desintegran la identidad comunitaria y en la solidaridad social,
los cuales pueden ser contrarrestados por la acción de una sociedad civil
organizada. Tanto el individualismo como la identidad comunitaria, étnica
o religiosa debilitan la identidad nacional al extremo de desaparacerla. La
identidad étnica o cultural es reforzada porque la gente recurre a seguir
sintiéndose anclada a un área geográfica.
Bajo la premisa de que la globalización representa una constricción,
los gobiernos aplican políticas que dan prioridad a la creación de empleos
precarios y que incrementan la desigualdad, refuerzan la desafección
democrática, debilitan la identidad colectiva y con ello los lazos solidarios.
Las identidades, las prácticas sociales y el conocimiento se construyen en
contextos de desigualdad de poder y de acceso a recursos escasos. En efecto,
todas las sociedades de la región vienen experimentando, con mayor o
menor intensidad, una pérdida de sentido de pertenencia de las personas a
la sociedad, de identidad con propósitos colectivos y de desarrollo de lazos
de solidaridad.
La democracia se identifica con la política como una manera de ser
de lo político y un modo de subjetivación de lo político para interrumpir
el orden de una comunidad por un actor que se define en una identidad
colectiva par disputar el espacio de poder. Hay democracia si hay una esfera
específica de apariencia del pueblo.
4. Identidad y acción colectiva
Las preocupaciones por la identidad colectiva combinan con
la ideología y los asuntos estratégicos para influenciar los marcos
de referencia de la acción colectiva. El enfoque de acción identidad
considera las diferencias entre las clases de las sociedades industriales y
post industriales, que permanecen como clases con intereses materiales.
Crisis y transformación de la identidad-acción
258 |
La identidad colectiva y acción es socialmente construida a través de redes
de comunicación dentro, entre y más allá de las fronteras inmediatas de
los participantes de los movimientos. La construcción de la identidad se
explica por al análisis del marco de referencia (GOFFMAN’S, 1974), que
involucra la imputación de la identidad compartida y los motivos que
sirven como ímpetus para la acción colectiva.
Las normas, reglas y acciones constituyen las identidades de los
individuos, los grupos y de las comunidades que derivan en conflictos de
clases y que son el punto de partida para la interpretación de la acción
colectiva. La acción colectiva de los movimientos involucra asuntos de
normas sociales e identidad y negociaciones y cálculos menos estratégicas,
y la lucha tiene lugar en el campo de la sociedad civil más que en el campo
de la política. Buenos ejemplos son el acercamiento del análisis de acción
identidad y los movimientos políticos del final de los sesenta y 1970s: la
movilización antinuclear, los levantamientos estudiantiles y as protestas
urbanas.
La corriente europea, pone un marcado énfasis en los procesos de
identidad y su preeminencia, poco racional, en toda acción colectiva. El
impacto de los cambios de la racionalidad en las identidades individual
y organizacional es una importante dimensión de la teoría institucional
(TOWNLEY, 2002). Wendt (1994) hace una relación entre la acción
racional y los acercamientos a los bienes públicos para explicar los
enfoques constructivistas y de cooperación para analizar las implicaciones
individuales y sus agregaciones transnacionales que definen sus identidades
en espacios políticos y subsecuentemente toman acción en sus intereses.
La identidad colectiva como una definición interactiva y compartida
producida por varios individuos interactuando que están preocupados con
la orientación de sus acciones así como también el campo de oportunidades
y limitaciones en las cuales sus acciones tienen lugar (MELUCCI, 1989, p.
26). El sentido de acción colectiva que construyen por los actores sociales
en función de atributos sociointerculturales delimitan las identidades
259
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
individuales y comunitarias. Wendt (1994, p. 386) argumenta que la
resolución de los problemas de acción colectiva depende en gran medida
de las identidades sociales generadas por los intereses propios y los intereses
colectivos de las partes involucradas.
La formación de alianzas entre las personas basadas en la
solidaridad e identidad a través de redes de conocimiento permitirá
una mayor movilización política de las comunidades para ejercer acción
colectiva contra prácticas nocivas tanto del gobierno como de las grandes
corporaciones transnacionales. Las dimensiones espaciales y temporales
son modificadas por las tecnologías de la información y la comunicación,
lo cual afecta las formas de acción colectiva y por tanto, la configuración
de las identidades sociales y comunitarias.
5. Identidad y movimientos sociales
La identidad es una fuente de la movilización de movimiento.
Un movimiento social es una red de interacciones informales entre una
pluralidad de individuos, grupos y organizaciones enganchadas en conflictos
políticos y culturales sobre la base de identidad colectiva compartida
(Mario Diani). Un movimiento social es considerado como un grupo
de individuos y organizaciones que protestan porque tienen una visión
del mundo y una identidad colectiva que les permite a los participantes
en varios eventos de protesta poner su acción en una perspectiva amplia
(DELLA PORTA and DIANI, 1999, p. 19).
Un conjunto compartido de creencias y un sentido de pertenencia
es necesario para ser considerado como un movimiento social, esto es lo
que crea nuevas identidades colectivas y sistemas de valores y que mantiene
al movimiento incluso cuando la actividad es baja (DELLA PORTA and
DIANI, 1999 14-15). Los movimientos sociales son activos y constructivos
parte de las sociedades civiles modernas en tanto que empujan hacia nuevos
Crisis y transformación de la identidad-acción
260 |
valores, identidades y paradigmas culturales (COHEN and ARATO,
1997).
La naturaleza de la formación ideológica de los movimientos se fija
en la naturaleza de la formación de la identidad. Las construcciones de la
identidad colectiva juegan múltiples roles en los movimientos sociales y en
las redes de asuntos. El grado de presión generada por las redes depende de
variables que están relacionadas a los teóricos de los movimientos sociales:
marcos de referencia de recursos y capacidades organizacionales, dinámicas
inter organizacionales, oportunidades políticas, identidades colectivas y
acciones colectivas y las formas de contención elegidas
La literatura de los movimientos sociales se enfoca en la estrategia
política, la ideología, la acción, incentivos de solidaridad y las identidades
colectivas. Los acercamientos teóricos al estudio de los movimientos sociales
que enfatizan las causas de los movimientos sociales son el acercamiento
a la identidad, los modelos de procesos políticos, la elección racional
y las teorías estructurales. Se argumenta que la teoría del movimiento
social retiene un reduccionista concepto de acción política y es bajo el
área teorizada de intereses e identidad relacionados con los movimientos
entendidos como organización política, la clase, entendida como intereses
dados (PAKULSKI, 1995). El paradigma de identidad de Melucci
reemplaza la actividad de los movimientos sociales dentro de los contextos
socioculturales de los cuales procede.
Los movimientos sociales bajo la teoría de acción identidad son
normales como la expresión de diferentes intereses de clases que finalizan
en contradicciones agudas. Los movimientos desarrollan identidades
colectivas como parte de sus actividades originales, una compleja definición
de procesos como grupos retadores y a través de apostar al conflicto para
traer el cambio social. La transformación del capital social tiene relación
con los cambios a niveles sociales y con los cambios en la identidad de
los individuos. Los movimientos sociales desarrollan identidades colectivas
261
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
para cambiar realidades y transformar la cultura política y las relaciones
sociales autoritarias (ESCOBAR and ALVAREZ, 1992)
El debate contemporáneo es sobre los movimientos sociales viejos
y nuevos, entre los proponentes de los paradigmas de la movilización de
los recursos y los orientados a la identidad. La noción de identidad subraya
la teoría de los Nuevos Movimientos Sociales. En la literatura europea
sobre los movimientos sociales se ha desarrollado la teoría de los nuevos
movimientos sociales enfocándose en el origen de los movimientos, los
motivos por los que los movimientos sociales surgen, y como la creación
de las nuevas identidades reta el orden social y político.
La identidad colectiva es la más importante tarea de la formación
del movimiento y éxito. (MELUCCI, 1996; LARAÑA et al, 1994). La
identidad de un movimiento colectivo puede cambiar cuando el clima
político modifica las expansivas oportunidades políticas y se convierten en
más favorables a los movimientos retadores y sus metas.
La existencia de una cultura global y su impacto en las tradiciones y
mitos nacionales, la identidad nacional, la afiliación religiosa, las familias,
la etnicidad, etc. son asuntos muy cuestionados por autores como Barber
(1995), Held (1996), Castells (2000) y Harvey (2000). Diani (1990)
analiza estos efectos en las organizaciones que movilizan recursos de
participación, organizaciones que se centran en recursos profesionales y
redes transnacionales para concluir que los movimientos sociales deben ser
interpretados en sus estructuras de redes y en sus procesos de construcción
de identidades sociales, políticas y culturales.
Sin embargo, la globalización de los flujos de capitales, producción,
distribución y consumo, está debilitando está debilitando las identidades
colectivas de los pueblos (HARVEY, 2000; MITTELMAN, 2000), lo
que está dando lugar a movimientos de resistencia que arraigados en las
identidades culturales locales e indígenas, reaccionen a las tendencias
globalistas hegemónicas (TEHRANIAN, 1998). Un movimiento local
Crisis y transformación de la identidad-acción
262 |
luchando para ganar apoyo de las organizaciones no gubernamentales
debería conocer sus identidades, metas, etc.
Las identidades alternativas dentro del movimiento proveen una
estructura de identificación política y un marco de referencia al conflicto
que origina (TARROW, 1992; MELUCCI, 1995; ZALD, 1996). Los
conflictos de distribución económica notan la afirmación de las identidades
colectivas en los movimientos de resistencia local los cuales se conectan en
redes globales. Las redes de interrelación entre actores y movimientos con
su contexto institucional espacial desempeñan un papel importante en el
proceso de transformación social o de protesta, por lo que su formación
y acción colectiva crea una identidad pública no sujeta a fronteras de
ningún tipo.
Las formas de globalización de lo local se transforman en fuerzas
políticas en defensa de los lugares y sus identidades, mientras que las formas
de localización de lo global se transforman en movimientos que los locales
pueden utilizar para sus propios fines. Brosius (1997), afirma que no es
fácil conceptualizar las formas concretas en que se presenta el tráfico en dos
sentidos entre lo local y lo global y argumenta que “Incluso el componente
local de los movimientos sociales en contra de las naturalezas del capital
y de la modernidad está de alguna manera globalizado, por ejemplo en
la medida en que dichos movimientos sociales toman prestados discursos
metropolitanos sobre la identidad y el entorno”. La modernidad implica el
desarrollo democrático y por lo tanto, es la adopción del principio de que
los seres humanos individuales y colectivamente (esto es, como sociedades)
son responsables de su historia (AMÍN, 2001).
El acercamiento de la identidad al estudio de los movimientos
sociales argumenta que los movimientos sociales democratizaran la
democracia y eventualmente traerán la democracia radical (BEER, 1997)
Los acercamientos teóricos de Ernesto Laclau, David Slater, Tilman Evers,
Escobar and Alvarez, sin embargo, carecen de evidencia empírica. Los
263
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
movimientos sociales son medios de desarrollo de la identidad social y
recuperación democrática mientras que organiza la movilización política
contra la dictadura.
El mismo movimiento por el que los sistemas sociales distribuyen
recursos para la individualización sirve de manera simultánea para fortalecer
las formas de control y transferirlas a ese nivel básico en el que se da forma
al significado y la identidad individual. Los procesos de la individualización
enfatizan la presencia del individuo por sobre lo colectivo, escindiendo
en forma nominalista entre el individuo y la sociedad, mediante el
debilitamiento de los referentes materiales y simbólicos de las identidades
colectivas.
Una relación dinámica define los movimientos de acuerdo a un marco
de acción que se ubica dentro de una perpetuidad cíclica de la identidad
movilizada de cada uno de los otros (BRUBAKER, 1996, p. 20-21). Los
movimientos sociales se comportan en ciclos de sus propias relaciones a
ciclos sistémicos estructurales más amplios, desplegando variedad e inter
cambiabilidad, compartiendo movilización individual a través del sentido
de moralidad e injusticia y por la sobre vivencia e identidad.
El movimiento esta estructurado desde arriba y expresa un cambio en
la forma en la cual las identidades colectivas, las orientaciones normativas
y las metas comunes se definen (ARMONY, 2003). Cuando los ciclos
ideológicos se entrecruzan con las olas de movimientos de protesta social, es
difícil demostrar que las altas y bajas de los movimientos sociales coinciden
con un ciclo ideológico y su identidad en la historia.
El nacionalismo es un movimiento ideológico para el logro y
mantenimiento de la autonomía, unidad e identidad en nombre de la
población recomendado por algunos de sus miembros para constituir una
nación actual o potencial Smith (1991, p. 73). El nacionalismo incrementa
un repertorio creando una gran escala en la cual el movimiento puede
Crisis y transformación de la identidad-acción
264 |
interactuar en la batalla contra la identidad competitiva del Estado
(SCHÖPFLIN, 1995; KUPCHAN, 1995).
La formación de la identidad cultural comunitaria es un proceso
histórico social que da sentido a las expresiones políticas. Valorar la
identidad cultural es considerar las estrategias efectivas para transformar el
conocimiento y la cultura local en un recurso económico que contribuya al
desarrollo sustentable e incluyente de las unidades espaciales. La estrategia
de valorización de la identidad cultural para el desarrollo regional es
considerada en Europa, basada en la continuidad de la herencia cultural
bajo procesos de regeneración de la identidad de los grupos sociales
pertenecientes a territorios específicos.
La identidad cultural, el proteccionismo y la política económica
orientada a la demanda son algunas de las características de este nacionalismo
que ya no resiste frente a los embates de los procesos de globalización. La
identidad del estado es eventualmente evaluada, procesada y actuada con el
movimiento a efecto de crear un espacio autónomo. La causa de conflicto
entre el Estado y los movimientos dentro del ciclo de acción-reacción-
acción que la identidad enmarca son refinada.
Algunas de las transformaciones que han ocurrido desde el
movimiento estudiantil son la emergencia de una red de movimientos
sociales y el despertar de la conciencia de un partido que ha gobernado por
largo plazo, el Revolucionario Institucional que clama ser el cuidador del
nacionalismo mexicano y de la identidad nacional.
La identidad nacional provee a los movimientos con una nueva
codificación y estructuración. El movimiento nacional profesa una
alternativa ideológica a la organización social que puede afectar tanto
a la identidad individual como colectiva (ERCEGOVAC, 1999). El
movimiento nacional a través de la movilización de los valores culturales
étnicos, amenaza la identidad de las elites, la legitimidad del Estado y su
lugar dentro de la estructura orgánica de la sociedad (HAVEL, 1985, p.
265
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
82). Una movilización de un movimiento nacional reciproca en el centro
del Estado crea riesgos de su identidad propia.
La búsqueda por la identidad tangible para sostener la lealtad
pública debido a la naturaleza fluida y transitoria de los movimientos, que
la extensión de marcos de referencia interpretativos es uno de los principales
mecanismos para la difusión de un ciclo de protesta (TARROW, 1989, p.
24).
Algunos movimientos están centrados en grupos minoritarios
los cuales representan la fortaleza del movimiento con la inserción y
reafirmaron de la identidad o los antecedentes culturales y la identidad
(HIGLEY and GUNTHER, 1992), que ponen en la movilización de los
movimientos nacionales como opuestos a la alternativa estatista de alguna
historicidad y permanencia que los Nuevos Movimientos Sociales y otros
movimientos no pueden tener (HECHTER and FRIEDMAN, 1984).
Los movimientos identitarios antiglobalizadores se identifican como
movimientos de resistencia, repliegue y reconstrucción de las identidades
culturales comunitarias que cuestionan los valores económicos centrados
en los mercados y en las formas de representación democrática promovidos
por los procesos globalizadores. El surgimiento de las identidades de
resistencia colectiva representa una amenaza al desarrollo de la nación
estado en un proyecto de identidades con objetivos de transformación
socialmente específicos (CASTELLS, 2003).
Los Nuevos Movimientos Sociales son una forma colectiva de acción
para contestar a los abusos del poder económico y político el cual involucra
procesos de auto conciencia para crear identidades humanas y sociales
libres de dominación del Estado y del Mercado. Los nuevos Movimientos
Sociales se relacionan con la construcción de nuevas identidades políticas
sociales y económicas, las cuales entran en conflicto con las normas
existentes y valores, algunos de los cuales son negados por el Estado o por
el mercado.
Crisis y transformación de la identidad-acción
266 |
Los nuevos movimientos sociales significativos problematizan la
identidad y cuestionan nuevos estilos de vida y significados culturales
más allá de inquietudes políticas y con énfasis en conocimientos, saberes
y códigos culturales de especial importancia para las sociedades actuales
(RODRÍGUEZ GIRART, 2002). Estudios europeos en los Nuevos
Movimientos Sociales enfatizan la cultura y la religión pero no consideran
las luchas económicas y políticas en la construcción de la identidad
colectiva.
Los Nuevos movimientos Sociales son más defensivos, movilizan el
poder social que atrae a la identidad, moralidad, justicia, y sobre vivencia.
Los nuevos movimientos sociales actúan como fuerzas que resisten las
presiones sistémicas que empujan hacia la conformidad, reivindican nuevos
espacios de autorrealización y construcción de significados generadores
de códigos culturales alternativos a los dominantes, construyen nuevas
identidades colectivas con nuevos procesos de acción.
Los nuevos movimientos sociales se desarrollan como redes más que
como organizaciones estables en períodos activos y en períodos latentes
de actividad modificando sus características y presencia mediante la
construcción de identidades colectivas. Así, los nuevos movimientos sociales
forman redes informales de relaciones de individuos y organizaciones
aglutinadas en una identidad colectiva que movilizan recursos para
resolución de conflictos.
Existen muchos ejemplos que demuestran la acción de los
movimientos de identidad cultural inter estatales en un mundo globalizado
y que reaccionan a los impactos de los procesos de la globalización
económica. La participación en estas redes ha implicado ajustes de su
identidad en la perspectiva nacional o regional cuando la interacción con
otros movimientos tales como las feministas y ecologistas. Los movimientos
regionales que buscan permanecer dentro de estado requieren una base
cultural, de identidad e ideológica. Los Nuevos Movimientos Sociales son
267
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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los contemporáneos verdes, de mujeres y otros movimientos de identidad
del Norte.
6. Identidad de los movimientos sociales en México
Los movimientos sociales en Latino América guían a la formación
de nuevas identidades, la emergencia de nuevos actores sociales y políticos,
la creación de nuevos espacios políticos y la expansión de la sociedad
civil (HELLMAN, 1994). La mayoría de los partidos y movimientos
progresistas en Latinoamérica reconocen que están seriamente lesionados
por sus fracasos para ofrecer una alternativa efectiva al opresor proyecto
neoliberal y como resultado establecen un diálogo internacional dirigido a
desarrollar una nueva identidad y una estrategia para la nueva era.
Los Nuevos Movimientos en Latino América son caracterizados
por la emergencia de las nuevas identidades, la búsqueda de autonomía
y las practicas nuevas (HELLMAN, 1992), mas participación de la mujer
(JAQUETTE et al, 1989), la defensa y afirmación de la solidaridad, la
lucha contra la jerarquía y la alineación (SLATER, 1988, p. 6).
Los estudios de los movimientos sociales latinoamericanos se
concentran en la ciudadanía y en la lucha por la sociedad civil, por no
consideran como los puntos de vista de la religión y la cultura dan forma
a la identidad y a la acción. Los movimientos ciudadanos son formas
nuevas de expresión de las identidades colectivas como una respuesta a
las reformas del libre mercado de los noventa y son diferentes desde otras
formas de movilización social, tales como los retos populistas e insurgentes
al orden social.
Ya sea que los nuevos movimientos sociales construyen nuevas
identidades enraizadas en el pasado, es un dilema que surge con respecto
a los movimientos indígenas que miran a los tiempos pre coloniales para
proponer una nueva forma de comunidad. Los movimientos indígenas son
caracterizados como procesos de construcción nacional en la búsqueda de
Crisis y transformación de la identidad-acción
268 |
identidades colectivas mirando a la identidad social compartida basada en
la tradición cultural. Los movimientos indígenas retan a la búsqueda de
equilibrio entre la identidad cultural y los logros políticos, económicos
y sociales dentro de una sociedad capitalista. Estos movimientos tienen
también simultáneamente identidades subnacionales vindicadas.
Algunos movimientos locales fueron defecciones del partido
corporativista que estuvo en el poder, mientras que otros emergieron de
una apertura dentro de la clase política gobernante en los inicios de los
setenta y han sido promovidos independientemente desde abajo con una
fuerte movilización basada en la identidad étnica, como en el caso de
Juchitlan, el pueblo mercado Zapoteca de Oaxaca
El arte es uno de los medios que los movimientos sociales usan para
contestar significados atribuidos a cualquier cosa desde la revolución, la
democracia y la justicia a lo más íntimos de las expresiones de identidad
y vida diaria. El arte asociado con los movimientos de oposición desde
los sesenta es uno de los múltiples esfuerzos contra hegemónicos para
representar y redefinir los significados de la identidad y cultura mexicana.
El movimiento asociado del arte de México estaba en transición de los
movimientos basados en clases de los setenta y ochenta a los nuevos
movimientos basados en la identidad de los ochenta y noventa con el
surgimiento de movimientos populares centrados en la nueva mujer
arte.
La presencia de los movimientos feministas y de homosexuales
se incrementó durante los ochenta y los noventa, a pesar de que las
interconexiones entre los movimientos asociados al arte, el género, la
sexualidad, la identidad nacional y el poder son difíciles de presentar y
resolver; pero sus activistas estaban presentes influenciando muchos otros
movimientos sociales y populares. Vaughan (1997); and Rubin (1997)
enfatizaron la identidad nacional y construyeron en el contexto de los
esfuerzos contra hegemónicos de los movimientos y comunidades de base
269
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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en México. La identidad entre las comunidades provee involucramiento
emocional en la acción colectiva. Los movimientos tienen un instrumental
para reconocer la centralidad del género, sexualidad, y objetividad y en
retar la configuración del poder, la identidad nacional y la ciudadanía.
Las emociones surgidas por los rituales como medios para afirmar las
identidades dramatizan las injusticias y construyen solidaridades, explican
el activismo por las respuestas publicas y la acción colectiva política de los
movimientos sociales urbanos en México (AMINZADE and MCADAM,
2001). Los candidatos políticos que pertenecen a los movimientos sociales
hicieron campañas bajo su propia identidad organizacional. Los activistas
de los movimientos sociales bajo el liderazgo de Cuahtemoc Cárdenas, hijo
del creador del Estado mexicano, presidente Lázaro Cárdenas (1934-1940),
ofreció recobrar la identidad nacional perdida por la implementación de las
políticas económicas neoliberales, pero perdió las elecciones presidenciales
de 1988.
La cuestión de identidad y autonomía desde los partidos políticos
son fundamentalmente para los nuevos movimientos sociales que emergen
en México. Las organizaciones No Gubernamentales de la izquierda y los
movimientos pro democracia en México trataron de volver a capturar la
identidad de la sociedad civil excluyendo las otras fuerzas y los actores
sociales y en una forma exclusiva por sí mismos a través de los noventa. Los
movimientos sociales encontraron difícil resistir la atracción de las ofertas
de co optación del régimen y fueron absorbidas por el partido oficial o
uno de sus sectores a cambio de favores, a pesar de que retienen su estatus,
identidad y autonomía.
La territorialización de la identidad en el contexto de una
transnacional y más global movimiento ambiental en los bosques de
Chimalapas, Oaxaca, descansa crecientemente en imágenes de lo local
en las representaciones públicas de los asuntos ambientales. Conflictos
de clase y étnicos están en la base de la lucha por la identidad de los
Crisis y transformación de la identidad-acción
270 |
pueblos indígenas. A pesar de que los movimientos indígenas tienen un
componente étnico importante, comparten elementos comunes con otros
movimientos sociales.
En enero del 94, la revuelta Zapatista de las comunidades indígenas
Mayas en Chiapas recibió solidaridad de las organizaciones de los
movimientos indígenas y de campesinos, redes, alianzas y coaliciones. El
movimiento Zapatista parece llenar la definición de un nuevo movimiento
social porque concierne con la identidad étnica, busca su total autonomía
de las organizaciones y los partidos políticos, llama por una liberación
cultural y sobre vivencia de los indígenas de México y de los campesinos
de Chiapas, el consumo colectivo y demanda de servicios públicos. Las
interacciones entre miembros, de una única identidad sincrética global, la
cual inspira el movimiento en su acción colectiva de resistencia contra el
desplazamiento e invasión de tierras.
A través del uso creativo de imágenes e información, las gentes
indígenas han volteado la marginalidad y la pobreza en su más grande
fortaleza en la emergencia de los movimientos basados en la identidad
internacionalizada. Es todavía temprano para evaluar el grado e el cual el
movimiento del EZLN esta logrando cambiar de cultura política a través
de elementos que son parte de la historia de los movimientos, tales como
la democracia radical y las practicas autónomas, claman su identidad
indígena, tradiciones y dignidad. Los movimientos indígenas mantienen
algunos niveles de autonomía y ha incrementado su capacidad de negociar
con el Estado.
El Congreso Nacional Indígena empezó en 1996 a traer consigo los
movimientos indígenas alineados con los Zapatistas bajo el supuesto de
crear un entendimiento del sentido colectivo de sí mismo en movimiento
en contraste a homogeneizar el mestizaje (mixed-race) y las categorías de
identidad así como a ganar reconocimiento como ciudadanos (ROSALDO,
2000).
271
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
La Alianza Cívica tuvo un perfil del movimiento social y el Movimiento
Cívico por la Democracia que opero mas como una Organización No
Gubernamental, tomo en tareas compartidas la identidad de la sociedad
civil mexicana con las Organizaciones No Gubernamentales.
La participación de las mujeres indígenas en los movimientos desde
1994, una década de prácticas políticas de los movimientos, apoya el
argumento de la multi dimesionalidad de la identidad y las experiencias
de opresión por el Estado mexicano para crear las dicotomías entre los
derechos de las mujeres y los derechos de los indígenas. La participación
de las mujeres urbanas pobres en los movimientos populares y protestas
los hacen sujetos activos del cambio social y contribuyen a reformular sus
identidades como ciudadanos, para incluir los derechos a condiciones de
una vida decente y a derechos a la voz en dominios públicos y privados
(BENNETT, 1998, p. 129).
El movimiento anti golf creo una única cultura híbrida: identidades
transnacionales, Greenpeace y Amnistía Internacional mezcladas con
locales, la rebelión de los tepoztecos, para crear identidades que el
movimiento era un ambiental dedicado a los principios de los derechos
humanos. Como un movimiento, la sociedad civil resistió los abusos del
Gobernador en Tepoztlan, Estado de Morelos cuando en 1998, la sociedad
civil impuso su criterio de una perspectiva democrática a la legalidad y
respeto por el Estado de Derecho, y una rendición de cuentas de la
administración. A través de sus experiencias, los movimientos reafirmaron
las viejas identidades y combinaron con nuevos elementos para crea una
cultura local dinámica y envolvente dentro de un contexto de realidades
nacionales y globales (MCALLISTER, 2005).
Las gentes indígenas creen y participan en sindicatos, partidos
políticos o cooperativas que, hasta 1980, no articularon sus demandas en
términos de su identidad, mas bien tendieron a identificarse por mismos
como organizaciones de campesinos (YASHAR, 1998; ALBÓ. 1999). Los
Crisis y transformación de la identidad-acción
272 |
movimientos indígenas están formados por las luchas por la identidad y la
necesidad para abrir un espacio para la sobrevivencia dentro de la política
nacional, y en ambiente económico y social, movimientos de indígenas
que tienen sus raíces durante el periodo colonial. Los movimientos
agrarios y étnicos son conscientes de la lucha por la identidad y empiezan a
establecer sus demandas como derechos, derechos de las tierras, o derechos
educacionales.
Hay una influencia creciente en movimientos asociados al arte
en temas de género, sexualidad, subjetividad e identidad nacional e
incrementar los efectos de movimientos feministas, homosexualidad y
subjetividad en la cultura política de México. La poética cultural de estos
artistas redefine colectivamente las identidades y a través de las relaciones
con los movimientos sociales progresivos contribuyen a la reconstrucción
del poder social.
Townsend, Porter and Mawdsley (2004), reporta que en México,
las mujeres participan en movimientos sociales, siendo transformadas en
quienes son ellas (p. 194). Las Organizaciones No Gubernamentales han
estado ayudando a desarrollar el poder de las mujeres rurales en cuestiones
prácticas y en la búsqueda de formas alternativas de vida. Las mujeres
campesinas dejan sus casas, se unen a grupos, dibujan cuadros de mismas
y de sus vías en términos de movimiento, soledad, barreras y grupos. Todas
compartieron estas narrativas y construyeron una identidad compartida.
El movimiento construye una convergencia de movimientos
respetado la identidad de otros movimientos y redes, abriendo espacios
para enfocarse en el genero, denunciando proyectos bio prospectivos y
promoviendo el medio ambiente como espacio común para garantizar la
vida para todos.
273
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
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279
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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GASPAR SILVEIRA MARTINS,
A FRONTEIRA PLATINA
E O FEDERALISMO
Maria Medianeira Padoin
1
O federalismo no processo histórico de colonização e de construção
dos estados nacionais no Continente Americano apresenta variados
significados, vinculados às interpretações e propostas políticas relacionadas
aos espaços, temporalidades e contextos históricos e a discursos de diferentes
facções, grupos ou partidos políticos.
Desde o final do século XVIII, tanto na independência das Treze
Colônias inglesas e na formação dos Estados Unidos, como nas lutas
que envolveram os processos de independência das colônias espanholas
e portuguesa, havia a presença de projetos e idéias federalistas, de
independência ou de autonomia.
O Brasil vivenciou fortemente essa experiência em todo o processo de
independência, como na própria formulação de sua primeira Constituição.
Porém, com a Constituição outorgada, a esperança dos poderes regionais
em organizar uma Monarquia Federalista não iria se concretizar. Assim,
com o descontentamento com a Constituição de 1824, houve uma
proposta de sua reforma pela Câmara dos Deputados, no sentido de se
criar uma Monarquia Federal e Constitucional.
Foram sugeridas as criações de Assembléias Provinciais e de Executivos
municipais, onde houvesse a divisão de ingressos entre o governo central e
as províncias, e a extinção do Conselho de Estado, do Poder Moderador e
o do caráter vitalício do Senado.
1 Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM-Brasil; Doutora
em História. E- mail: [email protected]
Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
280 |
Porém, esta proposta não foi aceita pelo Senado Brasileiro e abriu-
se o debate entre os reformistas e os paulistas oriundos da Universidade
de Coimbra. Os primeiros defendiam o modelo de federação como a
dos Estados Unidos (EUA); os segundos estavam preocupados com a
possibilidade de a federação ocasionar a fragmentação do país, pois segundo
Bernardo Vasconcelos, o problema não estava no federalismo, mas no
estado de civilização do Brasil”, que para ele não se comparava aos EUA,
onde o povo possuía experiência no exercício de seus direitos políticos.
Em 1834, a pressão levou à Reforma Constitucional, que adotou
alguns dos elementos defendidos anteriormente e que caracterizam uma
organização federalista, ou seja, a criação das Assembléias provinciais e a
divisão dos ingressos fiscais. Tal reforma foi denominada por alguns como
experiência Republicana do Império”, pois além daqueles aspectos, devido
à minoridade do Imperador brasileiro, o Regente seria eleito pelo voto.
A Constituição de 1824, a tentativa de Reforma Constitucional
de 1831 e a Reforma de 1834 causaram desilusão nas elites regionais
que não se encontravam e não participavam diretamente do centro
de decisões e do poder do Brasil como as do Pará, do Maranhão, da
Bahía e do Rio Grande do Sul, que promoveram rebeliões e guerras civis
como a Cabanagem (1835-40), Balaiada (1838-41), Sabinada (1837) e
a Revolução Farroupilha(1835-45), respectivamente. Nesta última, os
farrapos proclamaram, em 1836, a República Rio Grandense, com uma
proposta federalista e republicana.
A experiência regencial demonstrou as semelhanças que a realidade
vivenciada no Brasil possuía em relação às regiões de colonização
espanhola, que estavam em processo de lutas e de construção dos novos
estados nacionais, especialmente a região da bacia Platina. Nisto, destaca-
se a afirmação do Conde Suzannet (1842), expressando: que a unidade
do Brasil é aparente e que o sonho de ser república como os EUA é muito
grande”.
281
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Assim, em 1837 veio a reação e a reforma conservadora, que reduziu
o poder das Assembléias Provinciais e dos Juízes de Paz. Em reação a isso,
os liberais proclamaram a maioridade do Imperador Dom Pedro II (1840),
o que significava o retorno da unidade do Império contra a centralização
política, especialmente da elite do Rio de Janeiro. Em 1841 há o fim desta
denominada experiência republicana e federal” e o regresso conservador.
A centralização política e administrativa continuava, mas mesmo assim
o poder local/regional permanecia forte. O embate entre os liberais e os
conservadores se acirrou muito em 1860.
No RS, segundo Helga Piccolo (1979, p. 110), o Partido Liberal
provava ser a mais forte agremiação política da Província e sua hegemonia
no Rio Grande do Sul seria incontestável até o fim do Império.No entanto,
em nível de representação nacional, como na figura dos presidentes de
Província, o Partido Conservador continuaria a dominar, ao menos de
1873 a 1877.
Na segunda metade do século XIX, aumentam os debates em
torno dos modelos de república, de monarquia e de federalismo,
especialmente entre as elites políticas regionais. Tais idéias estão presentes
no Manifesto Republicano de 1870, no qual se percebe que uma república
descentralizada é capaz de garantir a unidade e que a centralização absoluta
leva à fragmentação. Percebe-se a tentativa de equilibrar os interesses e
os poderes regionais.
Por exemplo, Tavares Bastos defendeu o federalismo por ser sinônimo
de autonomia das províncias, de liberdade e de república, fundamentado
especialmente nos Artigos Federalistas e na organização dos Estados
Unidos. Para ele, o Império era sinônimo de centralismo, de despotismo e
de absolutismo.
No que tange a discussão sobre o federalismo, percebe-se que este
corresponde, na época, à defesa do poder privado e local/regional em
Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
282 |
relação à interferência do poder central, pois é clássico e tradicional na
história brasileira a forte presença do poder do local/regional.
Desta forma, o processo histórico brasileiro de constituição de
seu estado nacional caracterizou-se pelo embate entre o Unitarismo/
Centralismo X o Federalismo/Descentralização, como também ocorreu
nos demais países americanos de origem espanhola e inglesa.
Assim, na segunda metade do século XIX, cresce no Brasil a defesa
do federalismo como uma forma administrativa descentralizada, com a
divisão política e eqüitativa dos poderes. Esse discurso se refere ao poder e a
organização do poder da União, do Estado Nacional, ou seja, da relação do
poder local/regional com o nacional. Com esta perspectiva também estava
a defesa da República. Tais idéias foram propostas da elite brasileira, que
interpretou o federalismo conjuntamente com a defesa da república quanto
aos aspectos político e econômico, mais do que a defesa pela liberdade
(para eles era condição para a liberdade e não a liberdade em si).
Nesse sentido, a explicação dada por Pierre Joseph Proudhon
(1848), um estudioso do federalismo, é que o federalismo é o equilíbrio e a
convivência da liberdade com a autoridade, pensamento que a maioria dos
defensores da República brasileira, especialmente na perspectiva positivista,
desconsideraram.
No Rio Grande do Sul, na segunda metade do século XIX
o federalismo teve expressão no Partido Federal (PF) e no Partido
Republicano Rio Grandense (PRR), que defendiam a garantia do poder
local (autonomia local/regional), mas diferenciavam-se na interpretação da
forma de organização política, da divisão e relação dos poderes e da relação
entre estado-província e a União.
Tanto o PRR como o PF em seu discurso buscaram seus fundamentos
históricos na Revolução Farroupilha, no que tange a defesa do Federalismo
e da República.
283
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Na época da Revolução Farroupilha (1835-45) havia interpretações
e projetos políticos diferenciados entre os farrapos, com significados
diferentes ao entendimento do federalismo. O federalismo defendido nesse
período poderia significar uma proposta de união de estados independentes
através de um tratado ou aliança, ou seja, de uma Confederação; ou
significava a união de estados autônomos (estados membros, não soberanos/
independentes) em um único estado, o Estado Federal. Poderia ainda
significar um federalismo enquanto discurso em defesa da descentralização
administrativa em um Estado unitário
2
.
Assim, no período de transição da Monarquia para a República
no RS, havia os que defendiam uma República Federal que apresentava
a divisão dos poderes, na qual o poder Executivo, centrado na figura do
presidente, era o que garantiria a unidade nacional. Tratava especialmente
das questões de autonomia na relação entre estados-membros e a União,
das garantias dos estados-membros.
Nesta perspectiva de interpretação encontra-se Júlio de Castilhos,
que buscou inspiração na filosofia positivista como meio de propor um
estado moderno e progressista, forte e autoritário, que será explicitada
na Constituição estadual do RS de 1891 que se destacou pelo
centralismo do poder do Executivo, que acumulou as funções legislativas
e de administração, enquanto a Assembléia Legislativa teve função
exclusivamente orçamentária. A autoridade central prevaleceu sobre a
liberdade e sobre a representação popular.
A defesa do federalismo inspirado nos EUA estava presente no
discurso de Júlio de Castilhos, mas especialmente quando tratava da
relação de poder que se deveria estabelecer entre o poder central brasileiro
e o estado do RS, onde a autonomia regional deveria ser respeitada e
entendida como os interesses de quem a governa, ou seja, o PRR.
2 PADOIN, Maria Medianeira. O federalismo gaúcho. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2001.
Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
284 |
Havia também os que defendiam uma República Federal Parlamentar,
especialmente os do Partido Federalista (fundado no RS em 1892), que
entendiam que o republicanismo significava representação, ou seja, o
povo deve ser ouvido antes de passar à jurisdição de outros autorizados; e
o representante mais direto da soberania popular é a assembléia legislativa
(Carlos Maximiliano, 1929, p.143). Defendiam assim uma relação
harmônica entre os estados membros e a União, bem como a autonomia
municipal, a eleição do presidente do estado por quatro anos –não podendo
ser reeleito, e a eleição da Câmara (Assembléia Estadual) pelos distritos
eleitorais também por quatro anos, entre outros.
Um dos principais representantes destas idéias foi o senador
do Império brasileiro, Gaspar Silveira Martins, do Partido Liberal, que
pregava: “e o Brasil não garantirá perfeita a liberdade individual, se as suas
instituições não se fundarem todas na liberdade provincial” (21.08.1882).
Segundo seu registro de batismo, Gaspar Silveira Martins nasceu
em 5 de agosto de 1835 em Cerro Largo (Melo), na República Oriental
do Uruguai. Faleceu em 23 de julho de 1901, em Montevidéu. Seu pai foi
Carlos Silveira de Morais Ramos (nasceu em Rio Pardo, RS, em 1791) e
sua mãe Maria Joaquina das Dores Martins (nasceu em Encruzillhada, RS,
1802). É um filho da fronteira de um período de instabilidades (Revolução
Farroupilha).
Gaspar Silveira Martins iniciou sua vida pública como juiz municipal
no Rio de Janeiro no período de 1858 a 1859. Em sua carreira política
foi deputado liberal, senador, ministro da Fazenda, um dos fundadores
do Partido Federalista e Presidente da Província do Rio Grande do Sul.
Em 1862, foi eleito deputado provincial pelo Rio Grande do Sul, e em
1865 fundou o jornal A Reforma”, principal instrumento de divulgação
das idéias do PL/Federalista do RS. Em 1872, era deputado-geral. Em
1878, demitiu-se poucos meses após assumir o Ministério da Fazenda,
285
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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por não aceitar um projeto do governo para tornar inelegíveis os cidadãos
não-católicos. Em 1880 foi senador do Império e em 1889 foi nomeado
presidente da Província do RS.
Como um liberal Silveira Martins foi defensor da laicização do
Estado e contra o padroado do Estado brasileiro. Ou seja, combatia
a existência de uma religião oficial de Estado e o vínculo da Instituição
Igreja, de seus princípios e hierarquia na administração do Estado. Para
ele a ordem política-civil e a ordem espiritual-religiosa não são apenas
diferentes, mas totalmente separadas” (MENDONÇA, p.6).
Acrescido a essa posição, Silveira Martins defendia veementemente
em seus discursos a liberdade religiosa (especialmente dos imigrantes
que eram protestantes e judeus), o casamento civil e toda a legislação
pertinente, como também a participação política dos imigrantes nos
poderes municipais, com o direito de votar e serem votados.
Silveira Martins era um observador do surgimento de uma nova
classe social na qual os imigrantes e seus descendentes eram os principais
integrantes; com isso procurou fazer-se também um dos seus representantes
políticos nos âmbitos estadual e nacional.Esta percepção e atuação foi tão
notável que, em sua homenagem, foi dado seu nome à quarta colônia
imperial de imigração italiana no Rio Grande do Sul, criada em 1877.
A Câmara de Vereadores de Santa Maria, com o objetivo de
promover o desenvolvimento regional solicitou a Gaspar Silveira Martins a
intermediação da criação de uma colônia de imigrantes europeus próxima
do seu município. Assim, em 1878, foi criada a Quarta Colônia Imperial
de imigrantes italianos no RS, situada junto às terras de Santa Maria, que
inicialmente foi chamada Núcleo Colonial de Santa Maria da Boca do
Monte, mas seu nome oficial foi Colônia Silveira Martins. A partir do
núcleo inicial/fundador desta Colônia surgiram outros núcleos, que se
tornaram município a partir dos anos 70 do século XX.
Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
286 |
Esta região colonial não obteve o desenvolvimento econômico
como as demais regiões coloniais do nordeste
3
do RS. Acredita-se que a sua
denominação (Silveira Martins) possa ter sido um dos grandes motivos,
pois tão logo a quarta colônia foi criada, houve a queda do Império e a
criação da República no Brasil. No Rio Grande do Sul, o poder esteve com
o Partido Republicado Rio-Grandense, em que Júlio de Castilhos foi seu
maior expoente. E, como foi afirmado, o positivista Júlio de Castilhos
foi um dos grandes opositores de Gaspar Silveira Martins.
Este dado leva-nos a acredita-se que a denominação da Quarta
Colônia de “Silveira Martinsfoi um dos principais motivos do descaso e
o não-investimento do governo republicano estadual de Júlio de Castilhos
(PRR) e Borges de Medeiros na região, pois esta colônia não obteve o
mesmo apoio político para o seu desenvolvimento do que as primeiras três
colônias de imigração italiana do RS.
Atualmente, o núcleo de fundação desta colônia se tornou o
município de Silveira Martins, que hoje questiona o motivo de sua
denominação ou por que recebeu o nome de um senador do Império
pertencente à classe social e política da metade sul do RS, vinculada à
tradição fronteiriça e latifundiária, de um líder maragato da tão famigerada
Revolução Federalista (1893-95).
Observa-se que a história local desta região colonial no processo
de consolidação da república no Brasil, e assim no Rio Grande do Sul,
esqueceu ou silenciou a memória histórica de Silveira Martins e seu
vínculo com a política imigratória. A necessidade de integrar-se enquanto
colônia e colonos no processo de construção de uma identidade gaúcha
e também brasileira fez com que a concepção de fronteira platina (e de
sua gente) pertencesse ao quadro dos estrangeiros, dos não-brasileiros, dos
sentimentos não-patrióticos e não-nacionalistas.
3 Em 1875: criação das três primeiras Colônias Imperiais de Imigrantes Italianos: Conde d’ Eu (Garibaldi), Dona
Isabel(Bento Gonçalves) e Campo dos Bugres(Caxias).
287
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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A Revolução Federalista (“a revolução da degola”); Silveira Martins;
maragato e o separatismo não podiam pertencer ao universo daqueles que,
sendo imigrantes ou descendentes de europeu necessitavam no contexto
histórico dos primeiros 50 anos da república brasileira precisavam ser
incorporados como cidadãos da nação brasileira, sentirem-se brasileiros.
Desta forma, a produção da história rio-grandense também de
caráter local, como a da quarta colônia de imigração italiana do RS, foi
marcada, em um longo período, pela desconsideração ou negação de sua
relação com o processo de conquista territorial, formação e consolidação
dos estados nacionais.
Portanto, a história regional do sul do Brasil somente pode ser
entendida neste contexto/realidade da história do espaço fronteiriço
platino (que não se estrutura nos limites do estado RS), que influenciou o
surgimento de líderes políticos como o fronteiriço, maragato e federalista
Gaspar Silveira Martins, defensor de um estado laico, da liberdade religiosa,
da vinda de imigrantes europeus e do federalismo.
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Gaspar Silveira Martins, a fronteira platina
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TORRES, J. C. de O. A formação do federalismo no Brasil. São Paulo: Companhia
Editor Nacional, 1961.
289
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
EXTRAÑAMIENTO Y TRANSTIERRO DE LOS
MISIONEROS ARGENTINOS EN 1817
Ángel Núñez
Anotación previa
Hablar de enfrentamientos y guerras sangrientas entre pueblos que
hoy son hermanos, y que se empeñan en forjar el Mercosur y una alianza
de América del Sur, puede parecer un anacronismo. Pero por un lado
demuestra cuánto hemos avanzado, cuántas heridas y dificultades hemos
superado, y también nos recuerda la magnitud de la empresa de forjar la
hermandad. Con ese espíritu escribo esta historia, que también demuestra
la heroicidad del pueblo misionero y la dura lucha por el federalismo que
perdimos con el heroico general José Artigas. Porque la historia tiene estas
contradicciones, pero siempre nos deja lecciones: y la del heroísmo y el
temple de un pueblo entero es una hermosa lección.
Capítulo primero
Seis circunstancias históricas caracterizan la peculiar conformación
que tiene la provincia argentina de Misiones: la organización de los treinta
pueblos de guaranís por la Compañía de Jesús (1605-1768); la llamada
guerra guaranítica (1754-1756), cuando los indios se sublevan ante la
orden de trasladar los siete pueblos orientales a la margen occidental del
río Uruguay; la expulsión de los jesuitas del inmenso reino español (1767);
el extrañamiento de toda la población de los quince pueblos ubicados
entre los ríos Paraná y Uruguay, en la Argentina, y la destrucción física de
los mismos (1817); la progresiva configuración de las nacionalidades del
Paraguay, el Brasil y la Argentina, territorios donde fueron divididos los
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
290 |
pueblos; finalmente, la gran inmigración de europeos que constituyó una
política oficial en el siglo XIX.
La organización de los treinta pueblos de indios guaranís por parte
de los sacerdotes jesuitas conquista espiritual la llamó el padre Ruiz de
Montoya-- creó una muy particular cultura hispano indígena, diferenciada
de la de otras regiones del dominio español. Sin ser zonas separadas o
totalmente aisladas, tenían un idioma propio –el guaraní— y también
características raciales, puesto que solamente vivían en sus pueblos hombres
y mujeres de la misma etnia. Esto más la incorporación del arte europeo, en
el que los indios se hicieron maestros matizándolo con su propia cultura, la
profunda conversión al catolicismo, la adopción del derecho español en lo
organizativo, centrado en los cabildos, y la gran riqueza de sus estancias y
yerbales configuraron una sociedad con características propias.
El catolicismo vivido como una religión de todos los días y de todas las
horas del día, con frecuentes prácticas de oración y misa cotidiana forjaron
también, de alguna manera, una religión diferente de la puramente formal,
mezclada con la ambición y el desenfreno que caracterizó en gran medida a
la sociedad colonial. La cultura hispano indígena tuvo allí una manera que
ha dado lugar a ricas, innumerables y ásperas discusiones acerca del acierto
o no de su organización.
La guerra guaranítica se produjo cuando, por un tratado de
1750 entre España y Portugal, España cedía la región oriental del río
Uruguay donde había siete pueblos guaranís, y recuperaba la Colonia del
Sacramento ubicada sobre el río de la Plata. Esto exigía que los pueblos
fueran trasladados a la otra margen del río y la pérdida de los principales
yerbales y estancias de casi todas las misiones, incluso las occidentales. Los
indios no aceptaron el traslado, se armaron como pudieron y enfrentaron
a las tropas conjuntas, españolas y portuguesas que fueron enviadas para
ocupar las reducciones. Se comprende entonces que fueran derrotados.
291
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Pero la rebelión es testimonio de un protonacionalismo
1
americano,
que desconoce órdenes reales en defensa de su suelo, sus casas, sus iglesias,
sus propiedades que les permitían una vida digna. Los guaranís eran
anti portugueses. Anteriormente los jesuitas habían tenido que trasladar
más al sur pueblos que eran atacados por los bandeirantes. Dice el padre
Guillermo Furlong (1962), gran estudioso de las misiones:
Perseguidos otrora encarnizadamente por los paulistas, [los guara-
nís] no podían olvidar lo que en esas malocas sufrieron sus antepa-
sados, y día a día eran objeto de depredaciones y robos ejecutados
por los lusitanos en las estancias de sus pueblos.
Hay algo muy contradictorio y absurdo luego de la guerra guaranítica:
en 1760 se anula el tratado de 1750, y los indios pueden volver ¡10 años
después! a sus tierras. Escribe Furlong:
Los indios debieron de hacerse cruces al ver cómo obraban los
grandes políticos en las cortes europeas. Después de atormentarlos,
esclavizarlos y sacrificarlos, y después de aniquilar sus pueblos, sus
estancias y sus haciendas, se les dice que todo eso ha sido nada y
que vuelvan a cruzar el Uruguay y vuelvan a ocupar sus queridos
pueblos, si así lo prefieren. Asombrados ante tales hechos y en pos
de sus curas, regresaron todos, con la excepción de los que habían
huido a los bosques, al ruido de las armas, y con excepción de los
que gloriosamente habían muerto en los campos del honor. (FUR-
LONG, 1962)
2
En el siglo XIX, los guaranís argentinos trataron infructuosamente
de recuperar las misiones orientales, pero aceptaban el límite del río
Paraná, que hacía que ocho pueblos quedaran en poder del Paraguay. Aun
en conflicto militar con el Paraguay, aceptaban el límite como válido. La
1 En el sentido de sentimiento profundo de la tierra patria y de la comunidad a la que se pertenece, y disposición para
defenderla.
2 En aquél trágico ir y venir, en 1801 Portugal invade los pueblos orientales y los ocupa ya definitivamente.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
292 |
configuración hispánica los había marcado, y el permanente conflicto con
el Brasil era un elemento de la misma.
La expulsión de la Compañía de Jesús del reino de España (1767,
concretada en las Misiones al año siguiente) significó un brusco cambio
en la convivencia de los pueblos, puesto que los jesuitas eran un eje en
su organización, pues, además de organizadores de las prácticas religiosas,
cumplían el rol de administradores. Y sobre todo el de inspiradores de los
ideales de la comunidad.
Del extrañamiento me ocuparé a continuación, pero se hace
necesario ubicarnos en la situación de la región misional guaranítica a
comienzos del siglo XIX.
Cuenca Del Plata,
región de máximo conflicto
La caracterización del conflicto que enmarcan los hechos históricos
que deseo destacar, puede indicarse con los siguientes items:
Guerra de España contra las Provincias Unidas de Sudamérica,
que luchaban por su independencia.
Decidida expansión de la corona portuguesa hacia los ríos
Paraguay, Paraná, Uruguay y de la Plata en perjuicio del Paraguay y
de las Provincias Unidas.
• Redenición del antiguo Virreinato del Río de la Plata con
la progresiva afirmación nacional del Alto Perú, el Paraguay,
las Provincias Unidas de Sudamérica y la Banda Oriental del
Uruguay
3
.
Guerra civil en las Provincias Unidas entre los partidarios del
sistema unitario centralizado en Buenos Aires, y los que optaban por
3 El Paraguay se declaró tempranamente independiente, en 1811; las Provincias Unidas, que luego adoptaron el nom-
bre de República Argentina en 1816; el Alto Perú, con el nombre de Bolivia en 1825, y el Uruguay en 1825 (y según
algunos historiadores, en 1828).
293
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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el régimen federal que afirmaba la individualidad de cada provincia.
Guerra entre un gobierno con una Dirección Suprema del Estado,
instalado en Buenos Aires, y el federalismo sostenido por Misiones,
Corrientes, Entre Ríos, Santa Fe, Córdoba y la Banda Oriental
--liderado por José Artigas--, y que tenía cierto predicamento en
Rio Grande do Sul.
Ejes del conflicto general eran los diversos planes en interacción
en los años de los que me ocupo: guerra de España en el Alto Perú contra
las Provincias Unidas, que se desarrollaba desde La Paz, Cochabamba,
Charcas y Potosí hasta las provincias hoy argentinas de Jujuy, Salta y
Tucumán. Invasión militar de Portugal para ocupar la Banda Oriental del
Uruguay y derrotar a Artigas en la Banda y en las provincias occidentales
de Misiones y Corrientes (1816 - 1817). Intentos del Paraguay para ocupar
zonas occidentales del río Paraná en Misiones y Corrientes como forma de
reforzar la defensa de su territorio alejando la frontera (1816 1817).
Y finalmente, la guerra civil de Buenos Aires contra las provincias que
se llamaban Pueblos Libres, y en los cuales Artigas había sido proclamado
Protector.
Artigas a su vez tenía un doble frente de guerra: contra los portugueses
en su tierra, y contra las tropas que enviaba el directorio a su zona de
influencia. Con respecto al esperado ataque portugués, Artigas diseña un
plan ofensivo para intentar distraerles fuerzas a los portugueses. En 1816
Andresito Guacurarí Artigas
4
, su hijo adoptivo y comandante de Misiones,
cruza el río e intenta liberar los siete pueblos guaraníticos orientales, pero
fracasa en su intento. El plan incluía cubrir con tropas propias en la Banda
Oriental desde aproximadamente la actual Paysandú hasta las Misiones,
más al norte. Pero el fracaso de Andresito y la contundencia de la invasión
portuguesa superaron ampliamente esos intentos.
4 Siempre se lo llamó con el diminutivo de su nombre, y así es conocido incluso en los textos de historia.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
294 |
Presencia de José Artigas
Los ideales declamados a partir del 25 de mayo de 1810, fecha en
que se instituyó en Buenos Aires el primer gobierno patrio’, diferenciado
de España, tuvo en José Artigas un verdadero líder.
La idea de independencia total e inmediata de España y de todo
otro poder –que tardaría seis años en imponerse--, fue una de sus banderas,
contra los manejos e indecisiones de los burócratas. Otra, la noción de
federalismo, en la que cada provincia –nueva configuración de las diferentes
regiones— tenía su propia personalidad y estructura jurídica, integrando
todas ellas una confederación: el nombre oficial de la nueva entidad era
Provincias Unidas del Sur, también llamadas del Río de la Plata. Además
Artigas era partidario de una amplia democracia basada en la decisión
popular, y de una economía que incluia el reparto equitativo de la tierra,
donde indios y negros tenían el derecho de acceder a ella.
Desde el primer momento, en 1810, los hombres de Buenos Aires
procuraron que el país tuviera una estructura centralizada en la antigua
capital del Virreinato, y en el caso del gran caudillo del federalismo de
comienzos del XIX, que era Artigas, no dudaron en ceder en más de
una oportunidad el territorio de la llamada Banda Oriental, o Provincia
Oriental –la actual República uruguaya--, ya fuera al poder del virrey
español, asentado en Montevideo, o bien a la ambición portuguesa.
Artigas era el enemigo del poder que Buenos Aires buscaba imponer
sobre todo el territorio argentino, y como tal fue combatido durante la
década que va de 1810 a 1820. Era además enemigo de la concentración
económica en manos de unos pocos o de los extranjeros, contra las ideas de
aceptar un tutelaje económico de Inglaterra que profesaban las clases altas
porteñas. Y también era el enemigo de Portugal, que buscaba anexarse su
provincia, como lo hizo en alguna etapa como provincia Cisplatina.
295
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Uno de sus grandes jefes era el caudillo de Misiones, su hijo adoptivo
Andresito Artigas, de allí que para los portugueses fuera muy importante
derrotarlo y quitarle toda base operativa. Fue además el único de sus jefes
que no traicionó al caudillo oriental.
El éxodo del pueblo oriental
En octubre de 1811 el triunvirato que gobernaba en Buenos Aires
firma un tratado con el virrey Francisco Elío, con sede en Montevideo por
el cual se reconoce como rey a Fernando VII y se retiran las tropas de la
Banda Oriental, que queda así cedida al poder español. La provincia estaba
en gran parte ocupada por tropas portuguesas, que Elío había llamado en
su auxilio. Dice de este tratado el historiador José María Rosa: “Había
concluido la revolución empezada en 1810”.
Entonces Artigas, como forma de protesta y para debilitar la
presencia del enemigo, inicia el épico Éxodo, trasladando a toda la población
uruguaya hacia el norte y hacia la otra banda del río, ubicándose en Ayuí,
en territorio de la actual provincia argentina de Entre Ríos, hecho conocido
como La Redota, palabra paisana que tanto alude a la causa perdida como
a la ruta que se recorre para buscar una tierra de libertad.
5
Pero Artigas
volverá a la Banda Oriental e intentará una sociedad con justicia social.
En 1815 instala como sede o cuartel general la Villa de la Purificación,
y en septiembre de ese año dicta el célebre Reglamento para el Fomento
de la Campaña donde se disponía, entre otras cosas, “... revisará cada uno
[el alcalde provincial y sus colaboradores] en sus respectivas jurisdicciones
los terrenos disponibles, y los sujetos dignos de esta gracia: con prevención
5 Asocio este desplazamiento con la noción guaraní de Tierra sin Mal, lugar real que los indios procuraban en largas
excursiones para superar los dolores de la vida.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
296 |
que los más infelices serán los más privilegiados. En consecuencia los
negros libres, los zambos de esta clase, los indios y los criollos pobres,
todos podrán ser agraciados en suertes de estancia si con su trabajo y
hombría de bien propenden a su felicidad y a la de la Provincia(art. 6º;
BARRÁN; NAHUM, 2007, p. 142). Las estancias tenían “legua y media
de frente y dos de fondo(art. 16), y debían tener buenas aguadas, o sea
que eran superficies muy grandes y de calidad. El planteo es, como se ve,
sencillamente revolucionario.
En los ataques a las misiones argentinas se conjugan tanto la lucha
contra Artigas desde Buenos Aires –o sea contra el federalismo y la justicia
social--, como la ambición geopolítica de Portugal de ocupar el territorio
oriental e incluso de avanzar hasta el Paraná. Recordemos que en 1814 el
Director Supremo Gervasio Antonio de Posadas declaró a Artigas “infame,
privado de sus empleos [o sea grado militar], fuera de la ley y enemigo
de la Patria”, y puso su cabeza al precio de seis mil pesos, vivo o muerto
(BUSANICHE, 2005, p. 351). La cosa iba en serio...
En junio de 1816 los portugueses hacen efectivo su intento de
apoderarse de la Banda Oriental y la invaden con un poderoso ejército.
Manda Carlos Federico Lecor, que con la división de Voluntarios Reales de
4.831 plazas, caballería y parque de artillería cruza la frontera y avanza del
lado de la costa hacia Maldonado, Montevideo y Colonia. Tiene además,
por si fuera necesario, el apoyo de tropas estacionadas en Santa Catalina.
Por el centro el marqués de Alegrete, capitán general de Río Grande,
envía al general Bernardo da Silveira Pinto con 800 hombres que entran por
Cerro Largo y siguen por el valle del río Negro buscando el río Uruguay.
Bien al norte, en las Misiones orientales, que desde 1801 son
portuguesas, está el coronel Francisco das Chagas Santos con 500 jinetes,
200 infantes y 14 piezas de artillería, y el teniente coronel José de Abreu
con 650 hombres.
297
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
El plan de Artigas incluia a Andresito
6
en las Misiones; Verdún,
Latorre y Otorgués en la frontera con Rio Grande, y Fructuoso Rivera
sobre las tropas invasoras de Lecor.
Escriben los historiadores Cantero y Machón (2006):
El plan de Artigas consistía en llevar el teatro principal de la guer-
ra a territorio enemigo, hacia Rio Grande do Sul, tras ocupar las
Misiones Orientales y aislar por el norte las tropas de Lecor, si es-
tas ya hubieran avanzado hasta la Banda oriental, cortándoles las
comunicaciones y dejándolas sin posibilidades de recibir refuerzos.
Artigas buscaba adelantarse a la invasión, robarles la vuelta, como
le escribió a Andresito ya el 26 de febrero. En este momento le in-
dicaba al jefe guaraní: Mientras ustedes avanzan por ahí nosotros los
hemos de apurar por acá.
Estas disposiciones han sido elogiadas por Mitre en su Historia de
Belgrano al decir que el plan de Artigas, teóricamente considerado, haría
honor a cualquier general” (MITRE 1947: III p. 271).
La sagrada causa
El plan defensivo y ofensivo de Artigas hace que en septiembre del
‘16 Andresito Artigas cruce el río Uruguay en una zona próxima a la actual
población de Alvear para atacar São Borja.
Andresito consigue la adhesión de los guaranís orientales, que se van
sumando a sus tropas, a los cuales ha dirigido un solemne “Exhortode
tono religioso. Afirma que viene a libertar
6 Así es conocido el caudillo guaraní Andrés Guacurari y Artigas, apellido que usaba habitualmente por ser hijo
adoptivo de José Artigas. El diminutivo, además de la connotación afectiva positiva, dice de su físico. Escribe en sus
Memorias Fermín Félix Pampín, que lo conoció en Corrientes en 1818: “Era el indio Dn. Andrés Artigas, natural de
Santo Tomé de las Misiones, era de estatura más baja que lo regular, rehecho como verdadero tape, con un regular
apersonamiento, bastante señalado de las viruelas, su vista perspicaz, con vistos de taimado, su edad como de 35 años,
sin estudio y sabía leer y escribir muy bien y tenía regular dictado...” (MANTILLA, 2004, p. 125).
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
298 |
los Siete Pueblos de esta banda del tiránico dominio de los Portu-
gueses; “acordaos –les dice— de aquel famoso pasaje de la Sagrada
Escritura en el que se dice que Moisés y Aarón libertaron al pue-
blo de Israel de la tiranía del faraón; así yo, siguiendo este aprecia-
ble ejemplo, he tomado mis medidas para el mismo fin”; y cierra
exhortando: “E a pues, compaisanos míos, levantad el sagrado grito
de la Libertad, destruid la tiranía y gustad del deleitable néctar que
os ofrezco con las venas del corazón, que lo traigo deshecho por
vuestro amor. (CANTERO; MACHÓN, 2006, p. 93-94).
La campaña de Andresito fue del 12 de septiembre al 3 de octubre,
fecha en que fue derrotado y se vio obligado a repasar el río. Por esos días,
el 27 de octubre, José Artigas era derrotado en Corumbé donde pierde
muchos de sus hombres.
Los portugueses se propusieron no solo derrotar completamente a
Artigas, sino también quitarle todo posible apoyo futuro. Y Misiones era
una de las regiones donde era fuerte. El Marqués de Alegrete le ordena al
brigadier Francisco das Chagas Santos,
[…] atacar a viva fuerza las poblaciones misioneras, arruinarlas y
quemarlas y también que hostilizasse e fizesse saquear e arrazar as
habitações dos indios, e todos os lugares que pudessem servir de
guarida aos insurgentes, fazendo passar os habitantes e suas familias
para o nosso lado do rio, bem com os despojos ou espolios (MA-
CHÓN, 1996, p. 6).
7
Chagas Santos, asentado en São Borja, cruza el río comenzando
1817. En pocos días, entre el 19 de enero, en que pisa territorio occidental,
y el 13 de febrero, en que regresa al oriente con sus tropas realiza una
terrible campaña. Hostiliza las fuerzas de Andresito y las persigue hasta
más allá de la Tranquera de Loreto (actual Ituzaingó, Corrientes).
7 Machón, 1996: 6. La fuente que indica es Barão do Rio Branco (1946). Efemérides Brasileiras. Rio de Janeiro, p.
27.
299
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Destruye y saquea todos los pueblos al occidente del río Uruguay:
Yapeyú, La Cruz, Santo Tomé, Concepción, Santa María y San Javier, y
también Mártires, algo alejado del río. Se los vacía e incendia, y se demuele
el cuartel de Santo Tomé que podía constituir una especie de fuerte.
Tres pueblos intermedios entre el Uruguay y el Paraná son
solamente” saqueados: Apóstoles, San Carlos y San José.
Son arrasados los campos adyacentes a los pueblos, sus chacras y
plantaciones, en un área de 50 leguas de cada uno. Se desmantelan las
iglesias, robándose las imágenes y sus adornos, así como las campanas.
Son numerosísimas las tallas de santos en madera, forma habitual de
reproducción usada en las reducciones, que se trasladaron.
Se lleva 50 arrobas de plata, unos 575 Kg., traduciendo a su peso
candelabros, incensarios, pebeteros, coronas de la Virgen y de los santos,
planchas decoradas de los frentes y los laterales de los altares y diversas
piezas de culto. Se lleva 3.000 caballos y 3.000 yeguas, además de mulas
y numeroso ganado vacuno: deja desiertos los campos, que además son
incendiados. Y además traslada 1.800 almascon sus bienes y ganados,
fundamentando que “han estimado que se veían libres del yugo artigueño”,
según declaración interesada del propio Chagas Santos.
Éste comunica la invasión al dictador supremo del Paraguay, Dr.
José Gaspar Rodríguez de Francia, quien aprovechó la circunstancia para
volver a ingresar al oriente del Paraná y retomar los pueblos ubicados sobre
ese río, a saber Candelaria –el principal de ellos--, Santa Ana, Loreto,
San Ignacio Miní y Corpus. También aprovecharon los paraguayos para
trasladar la población al otro lado del río, cometiendo asesinato de los que
habían sido soldados de Andresito, e infligiendo castigos físicos al resto de
la población.
El relato de lo obrado por la tropa portuguesa, que consigno
a continuación, también devela características del entramado de esta
lucha. Se da una confrontación ideológica entre ambos combatientes. Ya
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
300 |
mencioné el “Exhortode Andresito a los guaranís para que se sumaran a
su lucha. También Chagas Santos formula una proclama que distribuye en
castellano y guaraní, como seguramente también lo era la del argentino.
Independencia de portugueses, españoles y porteños, autogobierno
–como lo habían tenido durante casi dos siglos--, de un lado, con los
ideales sintetizados en la consigna de “la hermosa luz de la libertad”. Del
otro, la denostación de “la tiranía y el yugo de Artigaspor parte de los
portugueses, y también la crítica al federalismo y los ideales de justicia
social del jefe de la Banda Oriental. Que explica la traición de quienes se
alían a la invasión, entre los cuales Chagas Santos menciona a los capitanes
León Esquivel y Francisco Antonio Fernández.
La campaña significa un conflicto para los guaranís, que están como
soldados en ambos bandos, y se producen deserciones en el portugués, donde
consta que existía una compañía de un regimiento de guaranís. También
consta la mala opinión de muchos paraguayos por las depredaciones de los
portugueses.
Otra terrible consecuencia de la invasión es la fuga de la población
civil que huye de las fuerzas militares atacantes. Desde los distintos pueblos
las gentes escapan, y se nuclean alrededor del comandante Ignacio Mbaibé,
que encabeza la migración hacia lo profundo de Corrientes, donde incluso
llegan a fundar pueblos nuevos como Loreto y San Miguel hacia el norte,
y otros como San Roquito próximo a Yapeyú, y Asunción del Cambay.
Merece consignarse que los dos primeros existen hasta hoy.
Excursus:
INFORMES DEL JEFE PORTUGUÉS
BRIGADIER FRANCISCO DAS CHAGAS SANTOS
SOBRE LA INVASIÓN A MISIONES EN 1817
8
8 Se publicaron originalmente en el “Boletín de la Comisión Nacional de Museos y Monumentos Históricos”, Año
IX, Nº 9, Buenos Aires 1948, pp. 121 – 132, con el título de ‘Cómo fueron destruidos los pueblos de las Misiones
Occidentales del Uruguay en 1817’.
301
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Traducción y notas de José Luis Busaniche
1
Ocio del Brigadier portugués Francisco das Chagas Santos, dirigido
al Teniente General Curado para dar cuenta del incendio y destrucción de los
pueblos de las antiguas Misiones Jesuíticas situadas en territorio argentino.
(Febrero 1817)
Ilustrísimo y Exmo. Señor:
Después de recibir los dos ocios de V. E. datados el 23 de diciembre,
con orden del Exmo. Señor Marqués [de Alegrete], gobernador y capitán
general, por los que se me encomienda atacar a viva fuerza a los pueblos de los
insurgentes, destruirlos y quemarlos, no perdí tiempo en hacer preparar todo
lo que me pareció necesario para ese n, a cuyo respecto me dice el mismo señor
Marqués que espera ansioso mis noticias, una vez ejecutadas por mí las órdenes
que me transmite por intermedio de V. E.
En consecuencia, salí de San Borja el 14 del mes pasado con once buenas
canoas, nueve carretas para conducir las canoas y con ellas municiones de cinco
bocas de fuego, llevando también quinientos cincuenta hombres, incluso ciento
cincuenta de infantería escogidos, con el n de atacar a Andrés Artigas que se
hallaba en el pueblo de La Cruz con gran número de insurgentes. El 19 pasé el
Uruguay, una legua abajo
9
de dicho pueblo, en la barra del Aguapey, para lo
que mandé antes al teniente Carvalho con una guardia avanzada, a que pasara
media legua arriba del Itaquy, para cubrir el paso en la dicha barra. Estando
prontas las canoas, al amanecer oímos tiros de artillería del enemigo, que en
número de más de cien hombres del escuadrón del capitán Vicente Tiraparé
10
(Agrego unas pocas aclaraciones para una mejor comprensión del texto. A. N.)
9 Debe ser “arriba de dicho pueblo”, porque la barra del Aguapey está al norte de la Cruz, es decir, “arriba”, según el
curso del río Uruguay. Quizás se trate de un error de copia.
10 El capitán Vicente Tiraparé pertenecía al regimiento de guaraníes de Misiones y en ocasión del sitio de San Borja,
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
302 |
querían impedir el paso en Itaquy. Mandé, sin embargo, que inmediatamente
se embarcase la compañía de granaderos y seguidamente la demás infantería, la
que de inmediato pasó a este lado para atacar la retaguardia de los insurgentes,
los cuales, viéndose repelidos en Itaquy por nuestros milicianos –que les mataron
cinco y les tomaron una pieza calibre 1, y una canoa, aparte de los heridos que
escaparon, incluso el capitán Vicente que se supone haya fallecido- se desbandaron
y queriendo algunos ganar el paso de dicha barra, huyeron, heridos por nuestra
infantería, que tomó tres canoas. Siguióse el pasaje de los milicianos, la artillería
y los caballos y todo quedó listo de este lado
11
.
El 20 por la mañana me puse en marcha con poco más de quinientos
hombres, dos piezas de a 9, y un obús para atacar al referido pueblo [La Cruz],
en donde entramos y me dijeron haber huido de allí en aquella madrugada
para Yapeyú, Andrés Artigas, con más de cuatrocientos insurgentes, y muchas
familias. Mandé dar de comer a los caballos y al anochecer destaqué al capitán
de granaderos con trescientos treinta hombres de caballería para atacar al mismo
Artigas en Yapeyú, ocho leguas más abajo y destruir aquel pueblo, en el cual,
habiendo llegado nuestra partida al amanecer del día 21, no halló más que un
portugués desertor de dragones. Antes había matado cinco espías del enemigo y
tomado tres canoas. Por la tarde mandó el mismo capitán al alférez Eleuterio
dos Santos con sesenta hombres a perseguir la retaguardia de los insurgentes, a
los cuales no pudiéndolos alcanzar por falta de caballos, mató ocho espías y se
retiró haciendo arrear los caballos que encontró y destruyendo las chacras del
campo.
Destruidos los pueblos de Yapeyú y de La Cruz, me puse en marcha el día 26
por la costa occidental del Uruguay, mientras nuestras canoas me acompañaban
por el río. El 31 llegamos a Santo Tomé, en donde no encontré sino al corregidor
y cuatro indios. En esta marcha, la vanguardia tomó cuatro espías del enemigo
pasóse a los insurgentes con otros rebeldes de la provincia.
11 [Se refiere al occidental]
303
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
que dijeron había retrocedido una partida de doscientos insurgentes para unirse
a Andrés Artigas en el Aguapey al saber que nos encontrábamos de este lado. El
día 1º del corriente llegó una partida nuestra de cincuenta hombres mandados
por el teniente Carvalho, con seiscientos animales entre caballos, mulas y ganado
vacuno. Había encontrado varias partidas de insurgentes que procuraban unirse
a Andrés, a las cuales dispersó, matando e hiriendo a algunos. El 2 mandé
desde aquí al mismo teniente con ciento veinticinco hombres bien armados, a
n de derrotar varias partidas de insurgentes y hostilizar la campaña. Ya me
consta que el referido teniente ha hecho grandes estragos al enemigo y arreado
muchos caballos. Otra partida de cincuenta hombres se nos reunió con doscientos
caballos.
Cuando salí de San Borja, expedí orden al comandante de la ontera
de San Nicolás para que hiciese botar canoas en el Uruguay y atacase el paso
y guardia de San Fernando, lo que hizo en seguida quedando mortalmente
herido el comandante de aquella guardia y varios insurgentes muertos. El resto
huyó. Siguieron los nuestros al pueblo de Concepción que fue saqueado y a esta
hora estará destruido. Al ayudante Mello, lo mandé a San Nicolás [a buscar
refuerzos] para que con ochenta milicianos de aquella ontera, destruyese los
pueblos de Santa María, San Javier y Mártires, próximos a esta margen del
Uruguay. Los cuarteles de este pueblo de Santo Tomé, que podían considerarse
como un buen fuerte, ya están demolidos; lo que en breve se hará con los demás.
Una partida de insurgentes que se hallaba en Candelaria, me consta que, al
saber que estábamos aquí, se desbandó y huyó para los distritos de Corrientes. Un
gran número de correntinos que se juntaron para unirse a [Andresito] Artigas,
han hecho lo mismo. Otra partida de trescientos insurgentes que marchaban con
mucho ganado vacuno y caballar para incorporarse a Andrés Artigas, ha sido
perseguida y batida por la partida de Carvalho, según las noticias que tengo. En
suma, las hostilidades y daños que hemos hecho y continuamos haciendo en este
país, que va a quedar destruido (excepto los pueblos de la costa del Paraná que
pertenecen al Paraguay), es, sin duda, el golpe más sensible para [José] Artigas.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
304 |
Este malado, cada vez más enfurecido contra los portugueses, había mandado
orden a Andrés Artigas de que, juntando el mayor número de insurgentes que
pudiese, pasase el Uruguay, no para atacarme directamente, sino para devastar,
incendiar todos los edicios y establecimientos portugueses y matar a los que
encontrase y a todos los animales que no pudiese llevar de las estancias. El mismo
Andrés Artigas, me consta que se halla en Rosario, del lado del río Miriñay,
reuniendo gente. En estas circunstancias en que me hallo en territorio enemigo
y nuestras partidas destacadas en número de más de doscientos hombres, cubren
y hostilizan este país, recibo el ocio de V. E. datado el 2 del corriente en que
me participa la orden del Señor Marqués y capitán general para que mande
reunir a ese ejército doscientos hombres del regimiento de Santa Catalina y la
cuarta compañía del regimiento de guaraníes mandada por el teniente Chará,
que se halla con cincuenta milicianos guaraníes unida a la partida del teniente
Carvalho. Sin embargo, me parece que, en vista de lo que tengo expuesto, el
mismo Exmo. Señor no tomará a mal la imposibilidad en que me veo de cumplir
la orden de S. E. que no dejará de reconocer la importancia de las ventajas
obtenidas con felicidad, y de las cuales resultará el total aniquilamiento de los
principales recursos de [José] Artigas. Dios guarde a V. E. Cuartel General de
Santo Tomé, el 13 de febrero de 1817. Illmo. y Exmo. Señor Joaquín Xavier
Curado. – (Firmado): Francisco das Chagas Santos.
2
Ocio del mismo Brigadier Chagas, al teniente general Curado, sobre el
resultado de la expedición al occidente del Uruguay y las operaciones hechas en
aquel territorio.
(Marzo 1817)
Illmo. y Exmo. Señor:
305
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Recibí con placer y satisfacción la de V. E. datada el 22 de febrero, cuyas
expresiones a mi respecto agradezco, estimando innito que mis pormenores hasta
nes de febrero hayan sido del agrado de V. E. a quien hubiera dado cuenta antes
sobre la continuación e importantes resultados de las operaciones que felizmente
hemos practicado, si la falta de salud no me hubiera impedido cumplir este deber
que ahora cumplo utilizando los datos del mismo parte que acabo de comunicar
al Exmo. Señor Marqués, capitán general.
Los insurgentes que trataban de unirse a Andrés Artigas, quedaron
separados por el arroyo Aguapey, donde pasamos el Uruguay, retrocedieron, y
el nuevo comandante de Candelaria, Ignacio Mbaivé, con su partida de 300
hombres, estaba encargado de reunir gente para eniar a dicho [Andresito]
Artigas.
Así que llegué a Santo Tomé, no perdí tiempo, como ya participé a V.
E., en destacar 125 hombres escogidos y bien armados a cargo del teniente Luis
de Carvalho, por la parte de la campaña, con el n de atacar y destruir a los
insurgentes que encontrase; y por la parte del Uruguay encargué al ayudante
Manuel José de Mello, que con 80 hombres bien armados, de la guarnición de
la ontera de San Nicolás, destruyese los cuatro pueblos de la costa del Uruguay,
desde la Concepción hasta San Javier, quedando el capitán Elías Antonio con
las canoas en el paso de San Isidro.
Algunos días después mandé al capitán Alejandro José de Campos con
treinta hombres a la capilla de Tararí con una carreta a n de conducir la plata
que allí se hallaba, perteneciente a la iglesia del pueblo de San Borja, de donde
los españoles la habían llevado en la guerra de 1801.
La mencionada partida de Carvalho, al encaminarse para el Aguapey,
y siguiendo por la banda occidental, mató, hasta el día 8 de febrero, 38 de los
insurgentes, en diversos encuentros, y caminando toda aquella noche veinticinco
leguas hasta el amanecer del siguiente día 9, sorprendió en la tranquera de Loreto
una partida de veinte hombres que marchaban a unirse con el comandante
Mbaivé. A éste lo encontcon cien hombres mientras buscaban a la partida
nuestra, a ocho leguas más allá de la dicha tranquera, donde después de pelear
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
306 |
por espacio de media hora, los insurgentes se pusieron en fuga dejando treinta y
tres muertos, incluso un capitán, un ayudante, y un sargento sin que peligrara
ninguno de nuestra parte. Fueron perseguidos en distancia de cinco leguas hasta
su campamento de Ibiratingahy, donde el mismo Mbaivé se presentó en batalla
con doscientos insurgentes armados de carabinas y lanzas, los cuales, viendo
que nuestra partida los atacaba con denuedo, se pusieron en retirada corriendo
cuanto podían. Pero, habiendo sido perseguidos hasta media noche por los
nuestros, que les mataron cuarenta y cuatro, atropellaron los más por entre las
guardias correntinas de Santa Lucía e Ibiratingahy, donde quedaron veintiocho
muertos, a más de los heridos que huyeron por la costa del Paraná. La mayoría
se dispersó con su comandante Mbaivé que dicen fue gravemente herido y se
internó con diez y ocho hombres por los territorios de Corrientes, cuyos habitantes
destacados en las dichas guardias, protestaron en esta ocasión que ellos no eran
del partido de Artigas y que preferían unirse y ayudar a los portugueses contra la
tiranía de [Andresito] Artigas que, además de empobrecerlos, los había privado
de sus mujeres e hijas. Lo mismo decían los habitantes de la campaña, dando
vivas a S. M. F. [Su Majestad Fidelísima el rey de Portugal] y a los portugueses,
quejándose de los paraguayos porque no habían querido socorrerlos.
Habiéndome trasladado hasta la costa del Uruguay, ente al paso de San
Borja, donde acampamos para esperar y dar lugar a que fuese destruido el pueblo
de Santo Tomé y los cuatro que se encuentran más arriba, se nos reunió el 26 de
febrero nuestra partida al mando del teniente Carvalho que se había demorado
en razón de conducir tres carretas con alguna yerba mate, 740 caballos, 130
mulas y 308 reses de ganado vacuno, habiendo dejado recomendado en una casa
conocida a un miliciano guaraní que se quebró una pierna.
El comandante Castro, de la ontera del Paraguay, así que recibió mi
carta y la que dirigí al dictador supremo [del Paraguay, Dr. Francia] y cuando
supo que había sido derrotada la partida de Mbaivé por nuestras tropas, pa
el Paraná con dos compañías de milicianos paraguayos en número de 140 y
se acuarteló en Candelaria, desde donde me escribió el ocio adjunto al que
respondí con otro de que incluyo copia. Después me escribió el mismo comandante
307
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
diciéndome, para mi gobierno, que me eniaba una carta y proclama de Andrés
Artigas, interceptada.
En el campamento de Santo Tomé, creí coneniente expedir la proclama
que acompaño, de la cual remití copias en español y guaraní al mencionado
comandante, que en seguida la desparramó por territorio de Corrientes, y me
consta ha sido aplaudida por paraguayos y correntinos, entre los que ha causado
el mejor efecto porque están divididos en partidos, siendo mayor el de los que
niegan obediencia a las órdenes de [Andresito] Artigas. Y un gran número de
habitantes de la ciudad de Corrientes y de los campos, han pasado al Paraná,
trasladándose a Santa Fe, Buenos Aires y distritos del Paraguay, a lo que ha de
haber contribuido también la inasión y hostilidades hechas por nuestras tropas
que han producido el mayor respeto y terror a los insurgentes que se habían
reclutado para prestar socorro a [Andresito] Artigas. Todos se han dispersado
huyendo a los bosques, a la costa del Paraná y a Corrientes, al par que casi todos
los moradores españoles y guaraníes de la margen occidental de Uruguay, con la
presencia de nuestras tropas, han estimado que se veían libres del yugo artigueño
y han pasado a nuestro territorio en número de 1.800 almas, poco más o menos,
con sus ganados, vacuno y caballar, según me consta.
Tengo noticias de que, desde que pasamos el Uruguay, el 19 de enero, el
comandante Castro, de la ontera del Paraguay, ha juntado más de quinientos
fusiles del gran número de insurgentes fugitivos que han pasado el Paraná por
los pasos de Itapúa y Candelaria; y es tan grande el odio que los paraguayos les
tienen, como inhumano y atroz el procedimiento que observan con ellos; pues a
medida que van apareciendo, en virtud de las órdenes dadas por el comandante
para que se presenten, examina a los que han sido soldados de Artigas y los hace
pasar a la otra banda del Paraná, donde son degollados; y a los otros les manda
dar doscientos azotes y los enía para los pueblos del interior.
Al refugio Mbaivé, que se había refugiado con 80 insurgentes en el
pueblo de Itatí, los correntinos lo retuvieron allí, no obstante las reclamaciones
de Artigas, hasta que lograron huir.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
308 |
José Artigas mandó al correntino Méndez, gobernador que fue de
Corrientes, a San Roque, para reunir gente y sosegar aquellos habitantes; sin
embargo, en Curuzú Cuatiá estaban cuatrocientos correntinos que intimaron
a Andrés Artigas que no pasase adelante y se retirase: en efecto, consta que el
dicho Andrés salió del Paso de las Yeguas, donde se hallaba, y acampó cerca de
la barra del Miriñay, por la parte occidental, ente a la capilla de San Pedro y
de la barra del uarehim.
Destruidos y saqueados los siete pueblos de la margen occidental del
Uruguay, y saqueados solamente los pueblos de Apóstoles, San José y San Carlos,
quedando hostilizada y talada toda la campaña adyacente a los mismos pueblos
por espacio de cincuenta leguas que recorrió nuestra partida de Carvalho
para perseguir y derrotar a los insurgentes como queda dicho, no pudiendo yo
continuar para perseguir y atacar a Andrés Artigas en su propio campamento,
como era mi deseo, por falta de caballos, el 13 del mes pasado olimos a pasar
el Uruguay y nos reunimos en este pueblo, quedando nuestras patrullas del otro
lado del río a n de dar parte de cualquier noedad en territorio enemigo. De
este territorio se saquearon y fueron traídas a esta banda, más de cincuenta
arrobas de plata, muchos y ricos ornamentos, muchas y buenas campanas, tres
mil caballos, poco más o menos, igual número de yeguas, parte de 1 : 130$000
porque se han rematado los animales que no se perdieron o se robaron, y los
demás que constan de las relaciones que enié al Exmo. Señor Marqués, capitán
general, quien decidirá lo que se debe repartir, cómo y en qué proporciones; y si ha
de tocar solamente a los individuos que pasaron el Uruguay, y no han desertado,
o si también ha de entrar en el mismo reparto la tropa que permaneció de este
lado. El capitán correntino de milicias León Esquivel
12
, me escribió, después que
regresé a este pueblo, pidiéndome socorro de trescientos hombres. Le respondí
diciéndole que me mandara dos mil caballos. Me olió a escribir con muchos
agradecimientos y vino después a hablarme aquí, dejando del otro lado cien
12 Este León Esquivel era del partido del Director Pueyrredón, y por lo tanto enemigo de Artigas y aportuguesado.
309
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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correntinos que lo acompañaron con el capitán Francisco Antonio Fernández,
y me participó que no había podido conducir los caballos que deseaba porque
una partida artigueña se lo había impedido. Preguntóme lo que debía hacer
en caso de ser atacado por los insurgentes y le respondí que debía defenderse con
toda la gente de su distrito que pudiese reunir (distrito que dicen ser grande) y
que en último extremo podía ganar los bosques del Paraná y pasarse a la otra
banda si fuese necesario; de lo contrario quedaría sujeto, no sólo a las crueldades
de los artigueños, sino a las hostilidades de nuestras partidas. Conino en todo
y me pidió doscientos cartuchos que le hice dar para veinte armas de fuego que
había en su partida, y me dejó trescientos sesenta y ocho caballos, que en seguida
mandé juntar.
El mencionado capitán Fernández, me dio noticias de que en Lima ya
no había virrey, y de que todas aquellas proincias se habían confederado con
las de Buenos Aires; que a nes del año pasado se había instalado en la ciudad
de Tucumán el nuevo congreso soberano peruano, teniendo como presidente al
conde de Toro, chileno, congreso que había nombrado como supremo dictador
de Buenos Aires al brigadier don Juan Martín de Pueyrredón, quien ejercía
el poder ejecutivo de aquel congreso, por ser Buenos Aires la llave del Perú y
hallarse allí la marina y el ejército
13
. Que después del ataque de Santa Ana,
habían pasado a Buenos Aires don Miguel Barreiro y don José Durán para
pedir en nombre de Artigas cuatro mil hombres de auxilio, a lo que respondió
el sobredicho director supremo que Artigas y sus tropas jurasen primero y
reconociesen al congreso peruano para que éste después tratase con la corte del
Brasil sobre la presente guerra y que, en caso de continuar, se daría el socorro
pedido. Que a esto respondió Barreiro que no estaba autorizado para sancionar
tales condiciones, y entonces el supremo director había ordenado que Barreiro
saliese de Buenos Aires en el término de tres horas.
13 Excusaría decir que estos informes son absurdos pero quizás se daban intencionalmente y por orden superior.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
310 |
Juzgo haber cumplido la orden del Exmo. Señor Marqués, gobernador
y capitán general, que me fue dirigida el 23 de diciembre por V. E., y la hubiera
cumplido mucho mejor si la falta de caballos no me hubiese impedido continuar
la persecución de Andrés Artigas, aparte de los estragos que me hubieran podido
hacer, llegando hasta Corrientes.
Me dicen que en la Cruz vuelen a aparecer los rebeldes y que Andrés
Artigas está reuniendo gente.
A vista de lo que acabo de exponer con respecto a los paraguayos, bien
puede comprobar V. E. que no ha existido la menor razón para que el lebre
capitán embustero Francisco Soares Leiria inentara la fabulosa noticia de que
los paraguayos habían tomado muy a mal el saqueo y destrucción de los pueblos
de los insurgentes en la margen occidental del Uruguay, noticia semejante
a la que dio el mismo Leiria en carta al capitán Braga, diciendo que en la
batalla del Catalán habían muerto diez y seis o diez y ocho ociales nuestros,
lo que es notoriamente falso. El referido Leiria, sabiendo que le conocía V. E.,
se ha retirado para la Cachoeira o Río Pardo. Dios guarde a V. Ex. Illmo.
Señor Joaquín Xavier Curado. (Firmado) FRANCISCO DAS CHAGAS
SANTOS.
(Apéndice a la MEMORIA DA CAMPANHA DE 1816 por DIEGO
AROUCHE DE MORAES LARA. Revista trimestral de Historia e
Geographia ou Jornal do Instituto Historico e Geographico Brasileiro. N. 27,
outubro de 1845. Tomo VII. Río de Janeiro. [Hay reedición de 1931].
Capítulo segundo
Tal el texto completo de dos informes del brigadier Chagas Santos. Por
esas contradicciones de la historia, este militar, comúnmente conocido
por Chagas, que menciona las llagas de San Francisco de Asís –de allí su
nombre que en castellano sería Francisco de las Llagas Santos--, resultó
un feroz destructor, al que, al decir de Jorge Machón la historia siempre
lo recuerda como el Atila del Uruguay” (1996, p. 8).
311
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Literatura militar
Es muy amplia la literatura militar, que incluye diversos géneros.
Clásico y hermoso texto latino es el De bello gallico, en el que César relata
su campaña y batallas en la conquista de la Galia, Germania y Gran
Bretaña. Clásicas son entre nosotros las Memorias del general José María
Paz, referidas principalmente a su actuación militar. O las proclamasde
San Martín explicando a los habitantes el sentido de su guerra.
Más modestos pero no menos importantes por la información
que consignan son los ‘partes’, ‘detalles’, diarios de marcha’, ‘oficios’,
comunicaciones escritas que los jefes militares debían enviar rápidamente
a sus superiores haciendo conocer sus actuaciones. La objetividad
de la información es en ellos una necesidad básica, puesto que para la
organización de la guerra se hace imprescindible conocer la situación y
condiciones del enemigo, así como los éxitos o fracasos propios. Por otra
parte, el contenido ideológico de esos informes está teñido de parcialidad,
propia del enfrentamiento a muerte entre lo que se siente como obligado y
correcto y la rechazada visión del adversario.
Estos ‘oficios’ de Chagas Santos no son partes de batalla, sino
informes más amplios referidos a la orden recibida de “atacar a viva
fuerza las poblaciones misioneras, arruinarlas y quemarlas”, como ya cité
anteriormente. Abarcan lo actuado durante casi dos meses y son verídicos
y contundentes. La orden de trasladar a la población al otro lado del río
se disimula como si fuera voluntaria (“han pasado a nuestro territorio”,
se escribe, cuando debería decir “hemos forzado el traslado a nuestro
territorio”...), pero el robo de ganado, el saqueo y el incendio se narran
con crudeza: se han cumplido las órdenes.
Se disimula el robo de numerosas imágenes religiosas no
mencionándolas, y se habla de cincuenta arrobas de plata”, como si fueran
lingotes, cuando son atributos que adornan las imágenes y alto relieves y
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
312 |
adornos de los altares. se mencionan con claridad los muchos y ricos
ornamentos” –o sea vestimentas de los santos y las santas, y sacerdotales—
y “muchas y buenas campanas” que lo son, claro está, de las iglesias.
Extrañamiento y transtierro
Está todo dicho allí: saqueo y destrucción de los pueblos sobre el
Uruguay; también de los intermedios San José, San Carlos y Apóstoles.
Robo de sus iglesias, afectando los valores más entrañables de esos pueblos.
Robo de todo el ganado de la región (se confiesan caballos, vacunos,
mulares..., seguramente en cantidad menor a la verdadera). Y lo principal,
extrañamiento de toda su población hacia la región portuguesa.
Paralelamente, Paraguay saquea los pueblos sobre el Paraná
–Candelaria, Santa Ana, San Ignacio, Loreto y Corpus— y también
traslada la población hacia la otra margen del río, asesinando a los soldados
que caen en su poder.
La epopeya del pueblo misionero, forzado a trasladarse a zona
considerada enemiga, constituye un verdadero hecho heroico. Se diferencia
de otros episodios de significativa dimensión –como el Éxodo uruguayo,
antes mencionado--, porque no es un traslado deseado, fruto de una
decisión de dejarle tierra baldía al enemigo y al mismo tiempo de buscar
un ámbito de libertad, un lugar donde podamos ser libres”, en frase de
Artigas. Aquí es una mudanza forzada, un ataque a la libertad de elección,
una impuesta sustitución del suelo patrio por otro arbitrariamente elegido
por el dominador.
14
Un oficio de Chagas Santos al marqués de Alegrete con fecha 19 de
mayo, comentando los mismos episodios aquí mencionados, dice así:
14 El destierro voluntario, el irse a otra tierra” distante --tan vivido en la Argentina del XX--, aun en su dolor, es una
elección para salvar la libertad y la vida. Aquí no existe este acto deliberado.
313
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
[...] À 17 do mes passado me puz em marcha para o povo de São
Nicolao, onde enviei para o Rio Pardo pelo cabo de Milicia João
Alves, 52 índios dos que passaram do territorio Espanhol para o
nosso, e 3 Espanhois todos com suas familias, que fariam o numero
de 200 almas. Para o povo de Santo Anjo remeti 268 almas e suas
familias, viuvas, velhas e filhos de menor idade; 20 espanhois com
suas familias, algums escravos, viuvas e filhos de menor idade em
numero de pouco mais de 200 almas ficaram pelas nossas Estan-
cias com seus animais. Logo que cheguei ao dito povo, e v[e]i a
maior parte da gente que dos povos Espanhois passaram ao nosso
territorio, mandei apartar 62 indios que eram os mais capazes de
trabalho, e com suas familias em numero de 219 almas enviei para
o Rio Pardo pelo miliciano Antonio Nunes.
As viuvas, solteiras e filos de menor idade em numero de 260 al-
mas, foram repartidos pelos povos de São Luiz, São Lourenço São
Miguel e São João, alem de muitas que ficaram em São Nicolas
onde tambem haviam mais de 23 Espanhois, que com suas familias
fariam o numero de 147 almas alem de 103 indios velhos e indias
seus serventes, 3 destes Espanhois, e suas familias ja se acham no
povo de São Luiz, e os mais foram avisados para se retirarem para o
interior do Pais, logo que os seus animais se acharam guarnecidos.
(MACHÓN 96, p. 25 – 26
15
).
Paralelamente se dio en los habitantes misioneros que lograron huir,
un transtierro forzado: quedaron dentro de la región guaranítica, en zonas de
Corrientes, pero fueron allí escapando de la violencia y el rapto impuestos
por portugueses y paraguayos. Permanecieron en la misma tierra
16
, pero
dejaron sus hogares y sus bienes en un nuevo nacimiento necesariamente
traumático, al que llegaron, como es el caso de los emigrados con Mbaibé,
perseguidos de cerca por la tropa invasora.
Estas heroicas epopeyas son un sello propio de la configuración de
nuestra Provincia de Misiones, característica peculiar diferente de otras
vividas por jujeños o uruguayos.
15 La fuente que Machón indica es el Archivo Histórico de Rio Grande do Sul, Autoridades Militares, Lata 172, ma-
ço 01, doc. 220 A.
16 De allí el neologismo transtierro (transitar la misma tierra), creado por el filósofo español José Gaos, que exiliado
en México se sentía dentro de su propio mundo hispánico.
Extrañamiento y transtierro de los misioneros
314 |
Trágico es también el destino de Artigas hasta su lejana muerte,
y del federalismo argentino por esos años. Portugueses y porteños lo
consideraban enemigo principal, y esa lucha ocupa los dos o tres años
siguientes, hasta que el gran caudillo se refugia en el Paraguay, donde vivirá
30 años y donde morirá.
Estos hechos históricos son parte del proceso mediante el cual
los pueblos de las antiguas misiones guaranís pasaron a pertenecer a
tres nacionalidades diferentes (Paraguay, Brasil y Argentina), cada una
con sus características propias, que también fueron impregnando a sus
poblaciones, y diferenciándolas, aunque mantuvieran un sello común.
Pero que constituye la cultura compartida entre el Rio Grande do Sul,
las tradiciones campesinas guaranítico-pampeanas argentinas –lo gaúcho
y lo gaucho--, y la cultura guaraní del Paraguay, tan marcante hasta hoy.
Características estas que son, si se quiere, regionales, pero que han tenido
una importancia decisiva en la conformación nacional de los tres países.
En suma: diferencias fronterizas que han llevado hasta a una
cruel guerra, pero que al mismo tiempo han establecido usos culturales
compartidos y sentidos como propios en todas las partes involucradas.
Pero no terminan allí las desgracias... Andresito no baja la guardia,
reordena su ejército, recorre la zona, recupera pueblos que están destruidos.
Chagas Santos vuelve a invadir, y ocurre la Batalla de Apóstoles (2 de julio
del 17), en la que triunfa el jefe guaraní. Y en marzo del 18 nuevamente
Chagas Santos cruza el Uruguay y avanza sobre San Carlos, que es
incendiado, y sobre Apóstoles, que también es destruido e incendiado.
Completa así el Atila del Uruguay el incendio de dos pueblos que le faltaban
a su campaña de aniquilación.
En abril del 19 Andresito intenta reunificar a los pueblos orientales
con la Provincia de Misiones
17
, y ataca con una tropa estimada entre
17 Por su ubicación oriental, Artigas consideraba los Siete Pueblos parte de su Banda o Provincia. Por recuerdos
ancestrales e históricos, todas las misiones habían sido consideradas configurando una unidad geográfico-cultural.
315
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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1.600 y 2.000 combatientes. Toma San Nicolás y San Luis, pero en junio
son derrotados tanto Andresito Artigas como Tiraparé, que muere en
combate.
El 24 de junio del 19, intentando regresar al occidente, es apresado
Andrés Artigas en el paso de San Lucas. Y se inicia la etapa final de su vida,
preso hasta poco antes de su muerte, conducido en condiciones inhumanas
a Rio de Janeiro.
Referencias Bibliográficas
BARRÁN, J. P.; NAHUM, B. Bases econômicas de la revolución artiguista. Montevideo:
Banda Oriental, 2007.
BUSANICHE, J. L. História argentina. Bueno Aires: Taurus, 2005.
BUSANICHE, J. L. Cómo fueron destruídos los pueblos de las Misiones occidentales del
Uruguay em 1817. In: Boletin de la Comisión Nacional de Museos y Monumentos
Históricos. Buenos Aires, Año IX, n.9, 1948.
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Extrañamiento y transtierro de los misioneros
316 |
317
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
LA GOBERNABILIDAD
DE LOS SISTEMAS METROPOLITANOS.
UNA PROPUESTA DE INDICADORES
Mabel Causarano
Introducción
Los cambios experimentados en el modelo de desarrollo económico
y en la articulación de las nuevas demandas sociales encuentran, en el
Paraguay, barreras políticas e institucionales en las formas de organización
territorial, pensadas en función a un modelo de división político
administrativa del Estado que no contempla las dinámicas socioeconómicas
dominantes (VÁZQUEZ, 2006). Esta situación adquiere relevancia y
visibilidad en las tres regiones metropolitanas que se han conformado en
las últimas décadas, siendo particularmente aguda en la que tiene como
centro a la capital del país (CAUSARANO, 2006).
En los sistemas metropolitanos vive actualmente cerca de la mitad
de la población total y el 70% de la población urbana paraguaya. El desfase
entre una institucionalidad que se abstrae de la realidad territorial y los
flujos de oferta y demanda de empleo, bienes y servicios, que se expresan
con intensidad creciente, no permite aprovechar las potencialidades
y fomenta la ingobernabilidad de los sistemas metropolitanos. Estos
presentan las mayores tasas de crecimiento demográfico, de cambio de uso
y de densidad de ocupación del suelo, así como la mayor concentración
de población joven y de la población económicamente activa, a la par que
un progresivo aumento de la percepción de inseguridad, el deterioro de
la calidad ambiental (contaminación del aire por fuentes fijas y móviles,
degradación de los cursos de agua superficiales y subterráneas, aparición
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
318 |
y/o reaparición de enfermedades como el dengue, la fiebre amarilla, la
rabia, la leishmaniosis, la meningitis) y formas variadas de fragmentación
y exclusión social, que tienen sus correlatos espaciales en la menguada
calidad de los espacios públicos.
En los conglomerados metropolitanos se van configurando actores y
demandas sociales que adquieren expresiones políticas (colectivos urbanos
organizados en torno a un variado espectro de reivindicaciones) y requieren
innovaciones en las formas de gobierno. De ahí que la gobernabilidad de
las metrópolis adquiera relevancia en el país y en el continente, en donde
se vive un proceso de urbanización sostenido y expansivo, con realidades
complejas que se ven profundamente afectadas por la mundialización
tecnológica y financiera.
Al no disponerse en el Paraguay de un marco institucional que
reconozca el fenómeno de la metropolización y le otorgue la respectiva
forma de gobierno, los territorios metropolitanos se configuran como un
conjunto de realidades municipales, a las que se atribuye engañosamente
connotaciones “locales
1
, que abarcan partes y sectores de la totalidad
urbana, y que, para su análisis y gestión, acostumbran ser ordenadas
según criterios estadísticos, electorales o funcionales, con prescindencia
de las características morfológicas y de las dinámicas territoriales. En
consecuencia, el área metropolitana es una ciudad que no aparece como
objeto específico de gobierno, sino como parte de las atribuciones de las
municipalidades y de las gobernaciones departamentales que la integran
y/o de organismos del gobierno central (CAUSARANO, 2006).
La organización estatal que define el gobierno del territorio,
establecida con la reforma constitucional de 1992, responde a un criterio
1 Dicha connotación, aplicada a los municipios que integran un sistema metropolitano, no facilita la integración su-
pramunicipal a nivel de políticas intermunicipales. En consecuencia, la integración funcional, que se da de hecho,
no es acompañada por acciones coherentes con los flujos que despliegan e intensifican, abarcando ámbitos cada vez
más extensos.
319
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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de reconocimiento jurídico de carácter formal, en función al cual se
definen las unidades político administrativas descentralizadas, como
resultado de una decisión de la autoridad legislativa. Por tanto, la ciudad,
en cuanto fenómeno territorial – real, no está reconocida como objeto de
gobierno (PIREZ, 2001). Esta situación ensancha la brecha entre la oferta
institucional gubernamental y la demanda social.
La gobernabilidad
Adentrase en el concepto de gobernabilidad implica necesariamente
remitirse a los estudios que, desde la década de los ‘70s, se vienen realizando
en torno al mismo. Varios autores señalan que el origen del interés hacia
la definición y los alcances de la gobernabilidad fue, en primera instancia,
su opuesto, la “ingobernabilidad” de los sistemas políticos y sociales y
sus efectos críticos en el ámbito del Estado, en el modelo democrático
y en la racionalidad dominante. La ingobernabilidad sería así “la suma
del debilitamiento de la eficacia del gobierno simultánea al debilitamiento
del consenso ciudadano, lo que también se ha definido como democracia
embotellada’, en donde ‘la demanda es fácil y la respuesta difícil’”. (PICARDO,
1998)
2
La gobernabilidad define Picardo (1998) como el:
[…] acatamiento voluntario y legitimado de las manifestaciones
tangibles (acciones y políticas públicas) de la autoridad del Go-
bierno, por parte de la mayoría de la población y de los grupos
sociales relevantes. Este acatamiento depende en gran medida de la
capacidad de gestión gubernamental, de la aptitud y oportunidad
del gobierno en atender las demandas básicas de la población, de la
compatibilidad de las creencias y valores de la mayoría de la pobla-
2 Picardo se refiere al planteamiento de Gianfranco Pasquino, Xavier Arbós y Salvador Giner
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
320 |
ción con el proyecto socio-político de los gobernantes, y de la per-
cepción de los individuos sobre lo que hace y no hace el gobierno y
de cómo ella afecta a sus vidas...
3
.
El autor reproduce la definición de gobernabilidad propuesta por
Arbós y Giner, entendida como,
[…] la cualidad propia de una comunidad política según la cual
sus instituciones de gobierno actúan eficazmente dentro de su espa-
cio de un modo considerado legítimo por la ciudadanía, permitien-
do así el libre ejercicio de la voluntad política del poder ejecutivo
mediante la obediencia cívica del pueblo. (PICARDO, 1998)
Finalmente, Picardo enuncia las cuatro claves de lectura de
gobernabilidad: política (eficiencia del gobierno), económica (sustentación
social), institucional (capacidad decisoria) y la que se expresa frente al reto
de la globalización (adecuación de ajustes)
4
.
El Programa para el Desarrollo de las Naciones Unidas describe
la gobernabilidad como el ejercicio de autoridad económica, política y
administrativa para manejar los asuntos de un país a todos los niveles,
incluyendo los mecanismos, procesos e instituciones a través de las cuales
se ejerce esta autoridad”. (PNUD, 2006)
Prats i Catalá, J. (2001) define la gobernabilidad democrática
como la capacidad de un sistema social democrático para auto gobernarse
y enfrentar positivamente los retos y oportunidades para satisfacer las
expectativas y necesidades de sus miembros, conforme a un sistema de
reglas y procedimientos formales e informales dentro del cual formulan sus
expectativas y estrategias. Es – prosigue - el equilibrio entre las demandas
sociales y la capacidad de respuesta de los gobiernos, expresada en la
3 El autor cita el estudio de Briones-Ramos, “Gobernabilidad en Centroamérica”.
4 Picardo extrae esta clasificación de la obra de Achard – Flores “Gobernabilidad: un reportaje de América Latina”.
321
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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formulación y aplicación de políticas públicas. La gobernabilidad sólo es
democrática cuando se sustenta en el ejercicio de la democracia. Es decir,
cuando estimula la práctica de la libertad política, potencia la pluralidad y
la diversidad de la sociedad, busca la igualdad de oportunidades de todos
los ciudadanos y promueve la acción cooperativa.
Rojas Bolaños (1995) sostiene que:
[…] la gobernabilidad democrática no es solo el producto de la
capacidad de un gobierno para ser obedecido por sus propios atri-
butos (transparencia, eficacia, accountability), sino de la capacidad
de todos los actores políticos estratégicos para moverse dentro de
determinadas reglas de juego - una especie de concertación-, sin
amenazas constantes de ruptura que siembren la incertidumbre en
el conjunto de la sociedad...”.
5
Por su pertinencia, cabe reportar la definición de Garófalo (sf):
La gobernabilidad es el equilibrio entre los requerimientos y las
capacidades de un sistema político para autorregularse y retroali-
mentarse en su sistema y este mismo en otros más amplios a través
de las instituciones, con el fin de reforzarse. El nivel de equilibrio
alcanzado entre requerimientos y capacidades influirá sobre las re-
glas de juego (mientras éstas posean la calidad suficiente), apunta-
lándolas e incrementando la fuerza de las instituciones reflejada en
el tipo de políticas públicas implementadas.
Al analizar la gobernabilidad metropolitana, el investigador
encuentra un vacío: la falta de indicadores eficaces, como, en cambio, han
sido propuestos y utilizados para evaluar la gobernabilidad a nivel nacional
y a nivel local o municipal.
5 Citado en Filmus, D. (2005)
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
322 |
Este trabajo presenta una propuesta de indicadores de la
gobernabilidad metropolitana, elaborados en el marco de un proyecto
ejecutado por la Corporación REMA, con el apoyo del Fondo de Población
de las Naciones Unidas (UNFPA), que fue aplicado, a través de entrevistas
y de una encuesta, a la población que habita el sistema metropolitano de
Encarnación, ubicado al sur del país, en la frontera con la Argentina.
6
Los sistemas metropolitanos
La ciudad que se configura a partir de la metropolización abarca un
conjunto de circunscripciones político – administrativas que cuenta, cada
una, con su propio gobierno municipal, constituyendo la suma algebraica
de instancias gubernamentales.
El fenómeno metropolitano impone redefiniciones conceptuales en
diversos campos de la Ciencias del Territorio. Como ya se expresó, en
dicho sistema no cabe identificar lo “local” con la esfera municipal. Es un
territorio que se expande y cambia continuamente, fragmentado en diversos
gobiernos locales, provinciales, estaduales o departamentales y hasta entre
países, como ocurre con los sistemas metropolitanos transfronterizos.
Estos últimos ponen en entredicho el concepto de frontera,
7
porque
contradicen los principios políticos de la soberanía, que demanda que
las sociedades estén contenidas dentro de un país y sub sociedades
dentro de departamentos, distritos, municipios o unidades geográficas
bien definidas. En consecuencia, las identidades territoriales también se
fragmentan y, a la vez, se complejizan. Castells (2001) expresa que la forma
6 La Corporación REMA para el Desarrollo sostenible de la Región Metropolitana de Asunción, es una asociación
civil sin fines de lucro que, durante el 2007, recibió apoyo del UNFPA para la ejecución de un proyecto que abarcó
los tres sistemas metropolitanos paraguayos. La encuesta fue diseñada por el Econ. Óscar Carvallo y ejecutada por la
empresa GEO. La dirección del proyecto estuvo a cargo de la autora de esta presentación.
7 Como en la conurbación tri nacional de la llamada “Triple fronteraen la cual la integración socioeconómica – a
través de las transacciones legales e ilegales procede a una velocidad mucho mayor que la integración política. Lo
mismo puede afirmarse de la conurbación Pedro Juan Caballero – Ponta Porã.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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urbana metropolitana se caracteriza por “la difusión de las actividades y
funciones en el espacio y la interpenetración de dichas actividades según
una dinámica independiente de la contigüidad geográfica”.
Un error conceptual, que también induce errores metodológicos en
el análisis del fenómeno territorial y en la gestión pública metropolitana,
es la asimilación de la ciudad al municipio. Este último corresponde a
una comunidad y un territorio con gobierno propio, que puede o no
coincidir con el territorio y el gobierno de una ciudad. En la medida que
la conurbación libere a la ciudad del ámbito municipal que le dio origen
como ocurre con todos los municipios que integran las conurbaciones
y aglomeraciones urbanas -, la institucionalidad pública queda desfasada,
al no tener correspondencia con la forma urbana que se va configurando
ni con la unidad de los procesos que la caracterizan y definen. (PIREZ,
2001)
Los sistemas metropolitanos son territorios altamente dinámicos,
cuyos flujos complejizan la gestión pública, al cruzar variables físicas
(ambientales, de infraestructura y equipamientos), económicas, sociales,
político –institucionales y culturales, proceso que evidencia la necesidad
de nuevos enfoques de gobierno, nuevos instrumentos de gestión pública
y de indicadores de gobernabilidad.
Pirez (2001) señala que un área metropolitana implica una gran
heterogeneidad y diferenciación de población y de actividades. En ella
habitan y trabajan grupos sociales diferenciados por sus definiciones
socioeconómicas, culturales y étnicas. La metrópolis acoge una gran
diversidad de actividades de producción, de consumo, de intercambio y de
gestión y presenta una distribución territorial diferencial de la diversidad o
heterogeneidad de actividades y población.
Se manifiesta - nos dice el citado autor - una heterogeneidad
global en lo que atañe a las actividades y grupos sociales, a la vez que una
homogeneidad particular, en cuanto a la localización de esas actividades
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
324 |
y población en territorios diferenciados, conformando unidades
relativamente homogéneas (periferias, ciudades dormitorio, territorios de
residencia diferenciados por condiciones económicas, territorios destinados
a actividades administrativas, comerciales o financieras, industriales,
etc.)
A nivel económico, se configura un mercado metropolitano. La
ausencia de un ámbito político territorial que se corresponda con ese ámbito
de mercado, favorece el predominio de los actores económicos y, como
consecuencia, la tendencia a una subordinación a niveles gubernamentales
superiores nacional, en el Paraguay -, que constituyen el referente del
mercado metropolitano y de sus actores (PIREZ, 2001).
a. Participación de bajo impacto
La caracterización arriba citada induce a que, en los sistemas
metropolitanos la participación ciudadana y sus instrumentos operativos
reducen sensiblemente su impacto, ya que la calidad de la oferta de los
servicios urbanos está condicionada por las dinámicas intermunicipales
e interdepartamentales que la afectan, como el transporte público, el
saneamiento básico, el manejo y disposición final de los residuos sólidos,
entre otros.
Pirez (2001) resalta la contradicción entre el ámbito territorial de las
necesidades o los problemas y el ámbito territorial de la representación política.
Los ámbitos territoriales de las dinámicas metropolitanas no coinciden con
los correspondientes a los de las representaciones políticas, organizadas,
estas últimas, de acuerdo a los territorios formalmente definidos que, para
el caso paraguayo, son los departamentos y municipios. En su condición
de electora, dice el autor, la población metropolitana no coincide con la
población metropolitana usuariadel espacio y de los servicios urbanos. La
contradicción se extiende al ámbito territorial de las necesidades, el ámbito
territorial de los recursos y el ámbito de territorial de la representación
política.
325
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
El proceso electoral se desdibuja, porque el ciudadano elige
administradores y representantes de una parte del sistema total, sin incidir
en las demás, a pesar de que sus actividades cotidianas se despliegan en un
territorio regido por gobiernos distintos. Las más de las veces, el derecho
al voto lo ejerce en el municipio en donde tiene su vivienda, es decir, en
donde transcurre la menor parte del tiempo, y no tiene posibilidades de
influir en el gobierno de aquéllos en donde trabaja, estudia y/ o transcurre
el tiempo libre.
b. Profundización de las asimetrías
En las dos últimas décadas, se ha incentivado en el mercado
inmobiliario metropolitano la oferta de urbanizaciones, llamadas “barrios
cerrados”, de alto valor, baja densidad poblacional y de ocupación del
suelo, dirigida a los sectores de ingresos medios o altos. Se favorece así
la diferenciación entre los municipios metropolitanos en términos de
recaudación y, en consecuencia, se genera otro factor de asimetría en lo
referente a los ingresos y a los respectivos presupuestos.
Pirez (2001) resalta que la realidad metropolitana muestra la
tendencia a concentrar las necesidades en ciertos territorios y los recursos
en otros, dualidad que se ve fortalecida por los procesos de polarización:
las necesidades se concentran donde los recursos son menores y los recursos
donde las necesidades son menores.
Los indicadores socio demográficos muestran la profundización
de los desequilibrios territoriales. Las asimetrías afectan a la dotación y
calidad de la infraestructura, los equipamientos, el acceso a los bienes y
servicios, en general. Algunos municipios enfrentan tasas explosivas de
crecimiento demográfico, cercanas al 10% anual o que lo superan, mientras
que otros registran disminución de su población; hay partes del territorio
con dificultades en el acceso al agua potable, a la atención en salud y a la
educación públicas, a la recolección domiciliaria y disposición final de los
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
326 |
residuos sólidos, así como son marcadas las diferencias en la capacidad de
gestión municipal. (CAUSARANO, 2006)
La complejidad metropolitana, que combina factores sociales,
económicos, políticos, institucionales y medioambientales, se acentúa
en la medida que las actuaciones responden a enfoques sectoriales y
fragmentados geográficamente. Se justifica, por tanto, la necesidad de
ajustar el concepto de gobernabilidad a una realidad que no es la suma de
realidades municipales, porque incluye procesos de alto dinamismo que
permiten asimilarla a ámbitos regionales, en donde la gestión municipal
va encarada y evaluada en su condición de componente o parte de una
totalidad sistémica.
Como punto de partida (PICARDO, 1998), cabe plantearse
entonces el tema de la “ingobernabilidad”; a tal efecto, se precisa definir las
condiciones actuales del ámbito metropolitano, de manera a distinguir los
factores que contribuyen a la ingobernabilidad.
4. Condiciones de la ingobernabilidad
En el Paraguay se han conformado tres sistemas metropolitanos
que tienen como cabecera a tres ciudades fronterizas con la Argentina
y el Brasil: el de Asunción, el de Ciudad del Este y el de Encarnación,
caracterizados por condiciones que fomentan la ingobernabilidad, entre
las que se destacan: a. la ausencia de enfoque sistémico del conjunto bi
y tri nacional; b. la visión de corto plazo; c. la persistencia de acciones
parciales y sectoriales, sin el soporte de una planificación integral; d. las
deficiencias en materia de regulación y gestión del territorio metropolitano,
en ausencia de un ente de gobierno ad hoc; e. el bajo desempeño de la
cabecera metropolitana, que no ejerce el rol de ordenador del territorio; f.
la incapacidad del subsistema urbano para crear sinergia a través de redes
de cooperación y mancomunión de esfuerzos.
327
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Las relaciones políticas se desarrollan siguiendo múltiples
articulaciones: a. entre los actores sociales locales y los gobiernos
municipales que actúan en el territorio metropolitano; b. entre los actores
locales y el gobierno departamental; c. entre los gobiernos municipales;
d. entre los gobiernos municipales y el gobierno departamental; e. entre
los actores sociales locales y las empresas de servicios urbanos, públicas
y/o privadas; f. entre los gobiernos municipales y dichas empresas; g.
entre los actores sociales locales y el gobierno central, en particular, las
organizaciones que demandan tierra y vivienda.
a. Construcción de indicadores
de gobernabilidad metropolitana
La gobernabilidad de las metrópolis se refiere a un tipo específico
de gobierno cuyo ejercicio se en condiciones de legitimidad, eficiencia
y apoyo ciudadano. La gobernabilidad metropolitana es la capacidad del
gobierno de la metrópoli de orientar y conducir los procesos urbanos. Sin
embargo, los territorios metropolitanos aparecen como ingobernables, al
no estar contenidos dentro de límites definidos (BORJA, 2004).
Generalmente, nos encontramos con la inexistencia de un gobierno
metropolitano y con una gran fragmentación de instancias estatales y
municipales de planeación y gestión de problemas que no conocen límites
administrativos. Los administradores públicos disponen de competencias
sectoriales y localizadas, pero no cuentan con capacidades institucionales
para gobernar el sistema que, como bien se sabe, es más que la suma de
sus partes. La gobernabilidad de un municipio metropolitano o sea, su
gobernabilidad “local”- está fuertemente regulada por las condiciones del
entorno urbano con el cual interactúa.
La gobernabilidad local tiene una lógica y dinámica propias,
caracterizadas por los conflictos muy puntuales y la instrumentación de
políticas muy acotadas que incidan en la satisfacción de necesidades de
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
328 |
la comunidad”. En cuanto a las políticas que afectan a la gobernabilidad
local, el autor Garófalo cita las que se desarrollan desde los niveles estatales,
regionales o nacionales y las representadas de manera indirecta por la lucha
de poder constituida por los partidos políticos, desde el exterior o incluso
directamente desde la municipalidad, que incurren en la vida pública o
bien, las de índole totalmente local, como puede ser la autonomía local”.
Estas variables dependientes de los diversos niveles de gobierno subordinan
aún más la vida social” municipal, en cuanto que la gobernabilidad local
sólo podrá hallar su propio equilibrio si, y sólo si, las políticas locales se
formulan desde lo local”. (GARÓFALO, sf).
A nuestro entender, esta visión, que valida la autonomía local,
entendida como la capacidad de formular y aplicar políticas de desarrollo
propias, en el marco de las interrelaciones que la legislación establece para
la organización y gobierno del territorio, puede volverse operativa en el
sistema metropolitano en la medida que los municipios que lo integran
reconozcan la interdependencia sistémica y definan la modalidad adecuada
para gobernar el territorio compartido.
En esta perspectiva, recuperamos la propuesta del PNUD (2006)
para evaluar la gobernabilidad local, que incluye: a. la participación
ciudadana, como factor clave de la democracia y no como mero instrumento
de legitimación gubernamental de sus políticas; b. los liderazgos diferentes;
c. los nuevos espacios intermedios de participación democrática; y d. el
desarrollo de capacidades de la comunidad para gestionar estos escenarios
de forma calificada.
b. Buscando respuesta a un interrogante
A pesar de los efectos perniciosos de la ingobernabilidad metropolitana
en la calidad de vida ciudadana, no ha avanzado la indagación sobre los
instrumentos de medición, cuantitativos y cualitativos, de la gobernabilidad.
Los procedimientos a través de los cuales se mide la gobernabilidad de
329
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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un país no son aplicables a espacios regionales funcionales, dinámicos y
cambiantes en su configuración. Y, como se señaló, tampoco resultan
operativos los criterios utilizados para medir la gobernabilidad local.
En el intento de cubrir dicho vacío, se diseñó una propuesta que
combina la Guía metodológica de Gobernabilidad Local del PNUD- Proyecto
Regional y los criterios de calidad urbana propuestos por Indovina (1992)
expuestos en “El Libro verde para el ambiente urbano en la Europa de
la CEE”. El análisis asume tres indicadores generales, los cuales, a su
vez, están compuestos por un grupo de indicadores particulares, con sus
respectivos atributos. A tal efecto, se utilizan como indicadores generales
los criterios propuestos por Indovina y como indicadores particulares los
utilizados por el PNUD.
Indovina (1992) define los tres elementos de la calidad urbana que
actúan en forma interdependiente: a. la calidad del medio físico (el genius
loci); b. la calidad del gobierno de la ciudad (el genius rei publicae); c. la
calidad del sistema social (el genius gentis). Estos indicadores generales
evalúan el componente físico – ambiental, el funcionamiento de la ciudad
y de su gobierno y el comportamiento de los habitantes.
Para medir la gobernabilidad local, el PNUD recurre a las cinco
condiciones que hacen posible la implementación de la estrategia
de desarrollo local: 1) la visión de largo plazo; 2) la legitimidad y el
liderazgo transformacional; 3) las relaciones constructivas entre actores;
4) las capacidades institucionales o buen gobierno; 5) la participación
ciudadana.
El resultado de la combinación de estos elementos o factores de
gobernabilidad se recoge en el esquema siguiente.
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
330 |
Francesco Indovina PNUD
Calidad del gobierno
Visión estratégica/Proyecto político
Liderazgo transformacional
Capacidad institucional
Calidad de la ciudadanía
Relación propositiva entre actores
Participación ciudadana
Calidad del territorio
Desarrollo humano
Componentes del medio ambiente
La Calidad de gobierno tiene como indicadores particulares:
la Visión estratégica o Proyecto político, el Liderazgo transformacional y la
Capacidad institucional. Son indicadores de la Calidad de la ciudadanía
la Relación propositiva entre actores y la Participación ciudadana, mientras
que para la Calidad del territorio se asumen los criterios que definen el
Desarrollo Humano y los indicadores medioambientales. Para cada indicador
particular se establecen atributos, mediante los cuales se alcanza una
caracterización más acotada al sistema analizado.
c. Descripción de los indicadores generales y particulares
El indicador general Calidad del gobierno de la ciudad es
entendido como la contribución que el aparato público, en el ejercicio de
sus funciones y en una vasta gama de prestaciones – desde el aseo urbano,
a las regulaciones sobre el uso del suelo -, otorga a la calidad urbana
(INDOVINA, 1992).
El indicador particular Proyecto político o proyecto de gobierno registra
si la autoridad de gestión
8
ha definido y explicitado un enfoque conceptual
8 Dado que no existe un gobierno metropolitano, la evaluación se realiza en los diferentes municipios que integran
331
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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que identifique la orientación de las políticas y programas de gobierno,
la dirección hacia la cual apunta el territorio metropolitano (enfoque o
paradigma, contenido, prioridades, etc.). El proyecto de gobierno hace
referencia al conjunto de opciones de acción que un determinado decisor”
propone para materializar sus objetivos, a partir de las circunstancias en
que se encuentra, de su ideología, de sus intereses y motivaciones. Según
Carlos Matus (sf), el proyecto político responde a una ideología, es un
compromiso concreto, una propuesta de intercambio de problemas, tiene
que resolver el conflicto de valores, tiene que ser viable, tiene que ser
operacional y tiene que ser aceptable”.
La Visión de largo plazo surge de un acuerdo entre los múltiples
actores territoriales, una vez valorados sus intereses e identificadas las
potencialidades del territorio metropolitano en el contexto global, nacional
y regional. Es una declaración concisa de lo que el gobierno y la sociedad
desean y espera ser en el futuro. La visión señala el camino que permite
establecer el rumbo para lograr el desarrollo esperado en el futuro.
El Liderazgo transformacional alude a la dirigencia metropolitana,
a los actores estratégicos con capacidad para convocar, concertar y
movilizar a otros actores en pro de un objetivo.
9
Es un liderazgo basado
en la legitimidad, la credibilidad y la confianza, que procede no de las
cualidades personales del líder sino de la percepción de consistencia entre
su discurso, sus acciones y los resultados. Un liderazgo transformacional
puede provenir de actores políticos o económicos, sociales, culturales. Lo
importante es su capacidad para generar respuestas positivas por parte de
los actores locales y lograr cambios de comportamiento en los mismos
(CARVALLO, 2007). El apoyo ciudadano expresa la correspondencia de
los objetivos de la iniciativa con el interés general. “La emergencia de
el sistema, en un grupo seleccionado o, en su defecto, en la cabecera metropolitana.
9 Para los sistemas metropolitanos, en ausencia de una autoridad única de gobierno, este indicador registra la existen-
cia de organizaciones intermunicipales departamentales o metropolitanas y los respectivos liderazgos.
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
332 |
los nuevos modelos mentales, percepciones o aprendizajes, el cambio de
actitudes, la adquisición de nuevas competencias, son procesos que pueden
darse más rápidamente y mejor cuando se dispone de liderazgo(PRATS;
CATALÁ, 2001 ).
La Capacidad institucional se refiere específicamente a la estructura
y al funcionamiento del aparato de gobierno, en el marco de las reglas
establecidas, y al cumplimiento de sus funciones orgánicas. Se valora
la eficiencia, la eficacia y transparencia de las actuaciones públicas, la
racionalidad organizativa, la accesibilidad, la rendición de cuentas, la
competencia y calidad de los funcionarios. Examina las condiciones
financieras y fiscales de las entidades territoriales y la sostenibilidad de
una iniciativa. Da cuenta de las condiciones de la infraestructura y del
equipamiento urbano, como el estado de la red vial y de los espacios
públicos.
El indicador general Calidad de la ciudadanía se refiere al
comportamiento de los actores sociales, económicos y políticos en cuanto
productores” y en cuanto consumidores” de la ciudad. Recoge, en
particular, las modificaciones en las conductas personales y colectivas
causadas por las nuevas tecnologías de información y comunicación, el
peso del poder económico en las transformaciones urbanas, tanto de orden
físico como en los modos de uso y gestión de la ciudad.
La Relación propositiva o de cooperación entre los actores define una
forma específica de relación entre actores estratégicos, aquélla que permite
mancomunar esfuerzos para el logro de objetivos estratégicos. La medición
incluye a los actores públicos municipales, departamentales y nacionales,
de las tres esferas del Estado Poderes Ejecutivo, Legislativo y Judicial - así
como a los actores sociales y económicos.
La Participación ciudadana es entendida como la capacidad social
de influir, a través de los procedimientos formales y no formales, en las
decisiones que afectan al futuro del grupo o sector e indica la calidad
333
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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democrática de la gobernabilidad. Una movilización en defensa de un
espacio público o de un edificio histórico influyen directamente, y en
forma positiva, en la calidad urbana, así como también influye, pero para
causar un perjuicio, la movilización para impedir el cierre de un vertedero
municipal que contamina el ambiente, cuyo objetivo es mantener las
fuentes de trabajo de las personas que reciclan la basura en condiciones de
insalubridad y con sensibles daños a la salud de las mismas.
El Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo define el
Desarrollo humano (DH) como el proceso gracias al cual una sociedad
mejora la calidad de vida de sus ciudadanos, mediante un incremento de los
bienes con los que puede cubrir sus necesidades básicas y complementarias,
y de la creación de un entorno en el que se respeten los derechos humanos.
El DH se refiere a la cantidad de opciones que tiene un ser humano, en su
propio medio, para ser o hacer lo que desea ser o hacer.
El Índice de Desarrollo Humano (IDH) mide los siguientes
aspectos:
Vida larga y saludable (medida según la esperanza de vida al
nacer).
Educación (medida por la tasa de alfabetización de adultos y la tasa
bruta combinada de matriculación en educación primaria, secundaria y
superior, así como los años de duración de la educación obligatoria).
• Nivel de vida digno (medido por el PIB per cápita PPA en
dólares).
Con el indicador general Calidad de territorio se mide el
componente físico: las características geomorfológicas, las condiciones de
los recursos hídricos superficiales y profundos, del aire, de la vegetación y la
fauna, las características específicas de los ecosistemas urbanos, las tipologías
arquitectónicas, edilicias y la organización del espacio, en general. Es, por
tanto, un indicador compuesto, que releva tanto las variables cuyo valor
puede medirse con precisión como aquellas que dependen de juicios de
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
334 |
valor, como pueden serlo los referentes a las características arquitectónicas
de determinados edificios o espacios públicos (INDOVINA, 1992).
Los indicadores muestran el engranaje de la gobernabilidad
territorial; una vez relevados y procesados, deben ser analizados en sus
interacciones sistémicas. Un paso sucesivo es, pues, la integración matricial
de las variables resultantes, para el análisis de las influencias y dependencias
recíprocas y de sus respectivos flujos.
d. La Zona y la Región Metropolitana
de Encarnación (ZOME y REME)
A manera experimental, el método propuesto se aplicó a la Zona
metropolitana de Encarnación, capital del departamento de Itapúa, al
sur del país. Para el efecto, se diseñó y aplicó una encuesta, se realizaron
entrevistas estructuradas a informantes calificados, diversos relevamientos
de campo, se analizó y procesó la información obtenida de fuentes
secundarias, en particular, los datos del Censo de Población y Vivienda de
2002 y la Encuesta Integrada de Hogares, que se realiza con periodicidad
anual.
La encuesta aplicada a la ZOME, que se realizó en setiembre de
2007, tomó como universo una muestra 522 habitantes de zonas urbanas y
rurales de los municipios de Encarnación, Cambyretá y Capitán Miranda.
El nivel de confianza fue del 95% y el margen de error del 4,2%
Dado el carácter piloto del proyecto, se eligió el sistema
metropolitano que presenta, con relación a los otros dos, menores niveles
de complejidad. Es el que tiene menor población total y también el menor
número de municipios conurbados, una relativa menor heterogeneidad y
también asimetrías menos marcadas.
Encarnación es una ciudad histórica que ocupa parte del territorio
evangelizado por las Misiones jesuíticas en los siglos XVII y XVIII. Aun
siendo un centro comercial importante, su economía es dependiente de
Posadas, ciudad argentina ubicada en la margen izquierda del río Paraná.
335
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Con Posadas conforman un eje metropolitano binacional, que tiene sus
polos en ambas ciudades. El fenómeno del pendularismo se da en los dos
sentidos, sea para el intercambio comercial referido a una amplia variedad
de productos – como en lo que atañe a las ofertas en materia de educación,
salud y tiempo libre.
El impacto físico directo de la represa de Yacyreta, una vez alcanzada
la cota de 83 m, incluye 165 mil hectáreas inundadas, de las cuales, el 80%
se encuentra en territorio paraguayo, siendo uno de los más afectados el
casco urbano de Encarnación, de cuya zona bajadeberá desplazarse la
actividad comercial.
La Zona Metropolitana (ZOME) ocupa un territorio de 731 km2,
en donde viven 129.972 habitantes. Reúne a Encarnación, Cambyreta y
Capitán Miranda, mientras que la Región metropolitana incluye a San Juan
del Paraná
10
y Carmen del Paraná. La ZOME enfrenta una transición de
las actividades agropecuarias hacia las comerciales. Capitan Miranda actúa
como la interfaz con la zona más próspera, liderada por las cooperativas
agrícolas que reúnen a los productores mecanizados (CAUSARANO,
2006).
En la conurbación encarnacena, que ocupa el 4% de la superficie
de Itapúa, vive el 51% de la población urbana y el 29% de la población
total departamental. Encarnación, polo central, tiene 93.497 habitantes,
equivalentes al 20.60% del total departamental; el 72% vive en el área
urbana y el 28% se encuentra en el área rural. Cambyretá, con 27.808
habitantes actúa como subpolo, habiendo registrado una tasa de crecimiento
demográfico del 6.8%, de acuerdo con el Censo de Población y Vivienda
de 2002; el 2% de su población vive en el área urbana y el 98% en la rural.
Por último, Cap. Miranda cuenta con 8.667 habitantes, de los cuales, el
22% vive en el área urbana y el 78% en la rural.
10 En la época de la encuesta se incluyó este municipio, dado el sostenido avance del proceso de conurbación con
Encarnación.
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
336 |
e. Resultados preliminares
El análisis corroboró las hipótesis asumidas en trabajos anteriores,
que ponen en evidencia los efectos de los efectos de la ingobernabilidad de
los sistemas metropolitanos paraguayos (CAUSARANO, 2006).
• Calidad del gobierno
Ninguno de los municipios que integran la ZOME ha definido su
Visión Estratégica, ni posee planes integrales de desarrollo: algunos cuentan
con proyectos puntuales o sectoriales.
Asumen en forma pasiva los efectos de la conurbación; no existen
instancias de coordinación entre las municipalidades, ni entre éstas, en su
carácter de entidades metropolitanas, con la gobernación departamental,
con los organismos del Estado central ni con las entidades privadas, se trate
de organizaciones sociales o empresariales. Cada municipalidad actúa en
forma aislada de su contexto metropolitano.
La Municipalidad de Encarnación no asume el liderazgo que cabe a
la cabecera metropolitana.
Bajos niveles de eficiencia enmarcan la gestión municipal y, hasta la
fecha de las entrevistas con las autoridades locales, ninguna contaba con
mecanismos de rendición de cuentas. La capacidad técnica es dispar, dado
que los funcionarios encarnacenos poseen mayor nivel de capacitación
que sus pares de los otros municipios. La disponibilidad de recursos se
sustenta en los ingresos tributarios y en los royalties recibidos de la Entidad
Binacional Yacyreta. No se relevaron iniciativas para la captación de recursos
de otras fuentes, incluyendo los provenientes de la cooperación externa.
• Calidad de la ciudadanía
Las organizaciones vecinales y gremiales de la ZOME concentran
su interés en el impacto que causará la represa en la configuración física y
social del área, una vez que se alcance la cota máxima de inundación. Por
337
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
tanto, son las indemnizaciones y los proyectos de relocalización los temas
focales en torno a los cuales se movilizan las organizaciones. Al no estar
definido el objetivo estratégico de gobierno, no se desarrollan relaciones
propositivas entre los actores metropolitanos y la participación social
adquiere carácter preferentemente reactivo.
• Calidad del sitio
Las asimetrías entre los municipios de la ZOME se expresan
también en el IDH (PNUD, 2006). Las condiciones medioambientales
serán drásticamente alteradas una vez que se alcance la cota máxima de
inundación, convirtiendo una parte importante del territorio encarnaceno
en una isla circundada de aguas estancadas.
Conclusiones
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos paraguayos es un
tema postergado a nivel político e institucional, no obstante el peso creciente
de los mismos en el territorio nacional. Prima en los administradores
públicos y en los legisladores una concepción de la autonomía municipal
que no favorece la sinergia entre los gobiernos locales que integran la ciudad
intermunicipal. En consecuencia, no se aprovechan las potencialidades
sistémicas ni las oportunidades del entorno para encarar proyectos comunes
que generen beneficios compartidos y mejoren la calidad de vida regional.
En el caso de la ZOME, resulta llamativo que la terminación de
las obras complementarias de la represa de Yacyreta no haya despertado
un interés colectivo hacia la ciudad ni hacia su región de influencia, ni
haya transformado la tradicional actitud reactiva, encaminando a las
organizaciones sociales, gremiales y políticas hacia un proceso proactivo
que apunte a repensar las formas de gestión territorial. El modus operandi
de las autoridades públicas refleja la inexistencia de un proyecto político;
La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
338 |
las municipalidades, la Gobernación y Entidad Binacional Yacyreta (EBY)
no coordinan sus acciones.
La EBY se ha convertido en un factor de distorsión en el proceso
de metropolización. Invierte en obras e indemniza a los afectados sin
atender a la complejidad de los impactos culturales, identitarios, en el
tejido social, en las redes familiares y de vecindad, situación que aumenta
la ingobernabilidad territorial. Una preocupación percibida en los
entrevistados es el financiamiento y mantenimiento de las grandes obras
de infraestructura urbana construidas por la EBY. Los presupuestos y
recursos actuales son apenas suficientes para financiar los gastos corrientes.
La estructura financiera actual y las coparticipaciones municipales son
insuficientes.
En lugar de transformadores, los liderazgos políticos y sociales
son transaccionales, lo cual refuerza la desconfianza entre los actores. La
distribución de recursos a las municipalidades por parte de la Gobernación
departamental no se ajusta a las demandas territoriales. Las organizaciones
civiles o sociales tienen, en general, un carácter circunstancial, reivindicativo
y de presión, ya que emergen para obtener concesiones ante los efectos
de la inundación. La debilidad de las organizaciones civiles impide el
desarrollo de sectores competitivos que apunten a desarrollar las ventajas
comparativas regionales.
Las municipalidades se sienten superadas por los problemas urbanos.
La calidad de municipios damnificados, a la espera de las inversiones
solamente de la EBY, ha generado pereza fiscal”. Los catastros están
incompletos o desactualizados.
Los resultados numéricos del análisis confirman las hipótesis que
la justificaron: prima en las municipalidades la visión de corto plazo y
las acciones coyunturales, en ausencia de liderazgos transformadores y de
capacidad de gestión articulada intermunicipal. Es comprensible la razón
por la cual la evaluación de la gobernabilidad territorial de la ZOME se
ubique por debajo del 40% (1,9 sobre 5).
339
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Las metrópolis demandan políticas públicas y servicios, es decir,
condiciones básicas de gobernabilidad. El sistema actual de descentralización
no contempla el gobierno de la metrópolis. La concepción vigente de
gestión pública descentralizada es la de esparcir competencias, sin atender
la funcionalidad de los territorios afectados por dicha medida política, lo
cual, más que distribuir el poder y aumentar la capacidad de gestión de los
ámbitos descentralizados, induce niveles crecientes de ingobernabilidad.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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La gobernabilidad de los sistemas metropolitanos
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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ILUSÕES, DURAS REALIDADES E ESPÍRITO DE
INICIATIVA NA CONSTITUIÇÃO DO OESTE PLATINO
Paulo Marcos Esselin
1
Tito Carlos machado de Oliveira
2
Introdução
Mato Grosso do Sul é o estado mais platino do Brasil.
Mesopotaneamente cravado entre os rios platinos Paraguai (oeste) e Paraná
(leste), foi separado do velho Mato Grosso 32 anos e possui uma ligação
histórica e geográfica com a América espanhola através de seus vizinhos
(Paraguai e Bolívia) e com o estado de São Paulo mais do que com qualquer
outro lugar.
Desde sua ocupação, sua composição histórica foi marcada por
busca de metais, caça aos índios, criatório bovino e moderna agricultura,
que se entrelaçaram em uma simbiose conjugada de otimismo, violência,
ilusões e movimentos concretos de expansão das relações capitalistas em
direção ao oeste platino brasileiro como efeito, ao oeste do continente
sul-americano. A história da colonização e conquista da bacia platina e
das regiões do médio e alto Paraguai estão diretamente ligadas à busca das
riquezas do Peru e a rivalidade luso-espanhola no século XVI.
O uso de objetos de prata entre os índios da região, obtidos
através das relações econômicas que mantinham com as populações
incaicas, despertou a cobiça entre os primeiros navegantes europeus que
1 Historiador. Pós - Doutor em História pela Universidade de São Paulo.
Atuação em História da América, com ênfase em História Latina Americana. Professor Adjunto IV, da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Pesquisador do Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CADEF/
UFMS).
2 Geógrafo. Doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo. Atuação em Geografia Humana, com
ênfase em Geografia Econômica. Professor Titular da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Pesquisador e
Coordenador do Centro de Análise e Difusão do Espaço Fronteiriço (CADEF/UFMS).
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
344 |
incursionavam por esses territórios. Assim como o terreno plano, as terras
de qualidade a baixos valores e a proximidade com São Paulo (o centro
dinâmico da economia brasileira), que moveram fluxos de capitais e
correntes migratórias para o sul do velho Mato Grosso, a partir dos anos
cinqüenta do século XX, em quantidades sempre crescentes.
Estes movimentos moldaram a face produtiva, as demandas culturais
e as relações políticas do jovem Mato Grosso meridional. Este texto tem a
pretensão de discorrer sobre a importância da localização territorial para a
dilatação do modo ocidental de agir e fazer história, no qual o nascimento
do Mato Grosso do Sul como estado é, senão, apenas um exemplo.
Ilusões e duras realidades
As primeiras embarcações que navegaram sobre as águas do rio da
Prata ocorreram ainda na primeira etapa dos descobrimentos e conquista
da América.
No começo do século XVI, mais precisamente a partir de 1502, os
espanhóis estavam empenhados na busca por um caminho marítimo que
os conduzisse à Molucas, objetivo maior do comércio mercantilista. Foi
essa busca que os trouxe ao estuário do rio da Prata.
A princípio o continente não despertou muito interesse entre os
navegantes europeus, que constituía um obstáculo aos que procuravam
o monopólio das ricas especiarias orientais. À medida que as embarcações
espanholas foram se aproximando da costa meridional atlântica da América
do Sul, seus ocupantes passaram a explorá-la e manter contatos com os
nativos, colhendo deles histórias e lendas sobre as supostas riquezas que
existiam na terra, o que constituiu em poderoso incentivo para a exploração
do continente americano.
Os indígenas faziam referência à existência de uma serra situada
a longa distância do litoral, pertencente a um rei branco, cujo reino de
345
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Paytiti continha um centro produtor de prata muito utilizada pelos nativos
na costa de Santa Catarina.
Esses relatos exerceram considerável fascínio no imaginário dos
conquistadores, que, sonhando com o enriquecimento fácil e rápido,
passaram a acreditar que a quantidade de prata existente, segundo esse
mito, fosse considerada como o equivalente ao volume de uma serra. Assim,
o mito da Serra de Prata, pertencente a um rei branco, transformou-se
gradativamente no principal objetivo da conquista européia. (NOVAIS,
2004, p. 36).
As divulgações na Corte portuguesa da possibilidade de riquezas
provocaram a imediata reação da Coroa. Naturalmente se aguçaram as
rivalidades entre lusos e espanhóis em torno da posse daquela área.
Imediatamente, uma expedição deixou o porto de Lisboa sob o comando
de Martim Afonso de Souza. Antes de retornar a Lisboa, Martim Afonso
de Souza, contrariando determinações reais, fundou em 1532 São Vicente
e Piratininga, que não se situavam na Costa do Pau Brasil.
Isto revela o prioritário interesse dos portugueses, ou seja, a busca
por metais preciosos, que o local escolhido para a fundação das vilas
favorecia, mais que a Costa do Pau-Brasil, o acesso ao Paraguai e às minas
do Peru.
Por outro lado, a preocupação dos espanhóis com as expedições
portuguesas na região platina acabou por acelerar o processo de sua
ocupação. Além disso, Francisco Pizarro, que havia se apoderado do
império Inca em 1531, retornou à Espanha, levando grande tesouro do
Peru.
O quinto real ficou exposto nas salas da Casa de Contratação
por vários dias, impressionando a todos os visitantes. Desse modo, as
lendas do Reino do Rei Branco, da Serra de Prata e outras, adquiriram
maior veracidade e não era de se espantar que chovessem as propostas dos
desejosos em repetir os feitos de Pizarro (GADELHA,1980, p.70).
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
346 |
Havia também a preocupação da Coroa espanhola pelo fato de que
Portugal não parecia disposto a aceitar os termos do Tratado de Tordesilhas
e procurava incluir o rio da Prata na linha de demarcação. Esta situação
provocou por parte dos espanhóis a imediata ocupação da região, visando
não apenas o controle da área em torno da foz rio da Prata, mas também
os caminhos que demandavam as lendárias riquezas do Peru.
Em fevereiro de 1535, os espanhóis aportaram à margem ocidental
do rio da Prata, onde levantaram alguns pequenos fortes, aos quais deram
o nome de Santa Maria de Buenos Aires.
Ao contrário de suas experiências anteriores, no México com os
Astecas e no Peru e Bolívia com os Incas, onde encontraram uma fonte
inesgotável de riquezas em ouro e prata, além de uma população indígena
densa, aqui os índios não se submeteram. Tratavam-se de povos nômades,
vivendo da caça, da pesca e da coleta, que ofereceram dura resistência aos
espanhóis.
Em pouco tempo a nova colonização estava derrotada, tanto pela
falta de alimentos como também pelos constantes ataques promovidos
pelos indígenas. Buenos Aires, centro da conquista da Serra de Prata, teve
que ser despovoada e praticamente todos os expedicionários da armada de
Dom Pedro de Mendonza
3
transferidos para Assunção.
Em Assunção os espanhóis encontraram condições mais favoráveis
para o início da colonização. Nas margens do rio homônimo, no local
denominado pelos indígenas de Lambaré, eles entraram em contato com
os cários, índios agricultores e sedentários que estavam em condições de
produzir os alimentos necessários para a subsistência dos espanhóis.
Muito cedo se desfez o sonho da conquista da Serra de Prata.
Quando em 1548 os espanhóis radicados no Paraguai percorreram o
mesmo caminho trilhado por Aleixo Garcia
4
e chegaram ao território de
3 Nobre espanhol encarregado pelo rei Carlos I da Espanha para conquistar e povoar as terras e províncias do rio da
Prata.
4 Náufrago português da expedição do navegador espanhol Juan Diaz de Solis, que partiu da Ilha de Santa Catarina à
347
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Charcas, em terras peruanas, constataram que as mesmas haviam sido
ocupadas por patrícios seus, vindos da costa ocidental, que ali chegaram e
haviam organizado núcleos de povoamento e se apossado das riquezas.
Dessa forma, desfez-se o sonho dos colonizadores de Assunção de se
apossarem delas.
O fracasso das expedições ao Peru fez com que o colonizador
direcionasse seus movimentos em direção a Guairá, Itatim e à Ilha de Santa
Catarina, na tentativa de encontrar meios para desenvolver suas atividades
de produção de maneira lucrativa e estabelecer contato com a metrópole –
já que o Paraguai estava fora das rotas oficiais que colocavam a metrópole
em contato com as suas colônias americanas.
O Itatim estava localizado na Planície Pantaneira, na região
banhada pelo rio Mbotetey, na área compreendida atualmente pela bacia
hidrográfica dos rios Miranda e Aquidauana, na parte não inundável do
Pantanal Sul-Mato-Grossense.
Para os espanhóis radicados em Assunção, estabelecer-se no Itatim
era muito importante, pois se tratava de região estratégica, a porta de
entrada ao Peru, e o sonho acalentado pelos assuncenhos era participar do
comércio na região mais próspera das colônias espanholas.
Outro fator importante estava relacionado à questão do trabalho, a
questão das encomendas. A predominância da população guarani nessas
áreas, além da facilidade do trato, assegurava a manutenção dos europeus.
A mão de obra indígena representava a única riqueza que podia o colono
possuir, em território pobre de minério como o Paraguai e onde devido à
relativa abundância, as terras não eram compradas e nem adquiridas e sim
obtidas por real doação. Assim a riqueza e prestígio de um indivíduo eram
medidos pelo número de encomendas por ele possuídas (GADELHA,
1980, p. 77).
frente de uma expedição composta por índios guarani e que logrou atingir antes de Pizarro, o Império dos Incas, em
plena região andina.
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
348 |
No ano de 1600 os espanhóis resolveram fundar uma pequena
cidade em território do atual estado de Mato Grosso do Sul; o espaço
selecionado localizava-se na região banhada pelo rio Mbotetey, na área
compreendida atualmente pela bacia hidrográfica dos rios Miranda e
Aquidauana. (MARTINS, 2002, p. 246). A cidade recebeu o nome de
Santiago de Xerez.
Apesar de ser um povoado extremamente pobre, sem um produto
que despertasse interesse nas demais colônias espanholas, o rebanho bovino
e eqüino se desenvolveu muito bem. ”Possuía vultosa gadaria, além de
fartas lavouras” (TAUNAY, 1961, p. 62, T.I.). A ajuda vinda de Assunção
parece que era freqüente não em armamentos, mas também em gado
bovino, o que permitiu a rápida estruturação desse rebanho em Santiago
de Xerez.
A cidade, porém, enfrentou muitas dificuldades, pois mesmo
sendo à época a via mais fácil e rápida para atingir os tesouros peruanos, a
presença dos guaicurus e paiaguáses nas rotas impediam a livre circulação
e o comércio regular. Afastada dos demais núcleos espanhóis, a cidade não
conseguiu prosperar e seus habitantes sobreviveram enfrentando privações
e os constantes ataques dos nativos.
A necessidade indispensável de mão-de-obra indígena domesticada
para a economia agrícola colonial motivou a vinda de missionários jesuítas
para a região. A catequese dos índios guaranis itatins, assentados no âmbito
dos campos de Xerez, resultou na constituição da província jesuítica do
Itatim ou do Pantanal Católico.
Os padres receberam amplos poderes para reunir os naturais em
povoados e governarem-nos sem qualquer dependência das cidades e
fortalezas vizinhas. O propósito dos jesuítas era fazer dos indígenas,
cristãos.
A necessidade de mão-de-obra indígena domesticada também
exerceu forte atração sobre os bandeirantes paulistas, que desde meados
349
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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do século XVI já excursionavam pela região e a partir de 1630 passaram a
assediar os pólos castelhanos.
Desde 1632 até 1649, a província jesuítica do Itatim foi transformada
em um grande palco, onde se encontraram jesuítas a serviço da Espanha,
colonos espanhóis e os bandeirantes paulistas lutando pelo controle da
mão-de-obra indígena. Estes últimos impuseram fragorosa derrota; as
frentes de colonização espanhola assaltaram os aldeamentos, escravizaram
os nativos e destruíram as reduções dos padres jesuítas.
À medida que as frentes de colonização dos espanhóis foram
destruídas, deixaram de constituir empecilho à entrada dos portugueses
na região. A contínua penetração dos bandeirantes em direção ao sul e ao
oeste rumo às fronteiras castelhanas levou à descoberta de minas de ouro
em Cuiabá, o que atraiu milhares de portugueses e seus escravos africanos
para a região. No afã de preservar os sítios auríferos, as atenções da Coroa
portuguesa se voltaram exclusivamente para o norte de Mato Grosso, onde
foram sendo constituídos fortes e vilas na fronteira com a Bolívia.
Por outro lado, os espanhóis voltaram as suas atenções para o sul
de Mato Grosso, onde os portugueses não tinham pontos de ocupação e
fundaram então o forte de Vila Real da Conceição, acima da boca do rio
Ipané, na margem esquerda do Paraguai.
Em resposta, os portugueses mandaram executar um minucioso
levantamento das vias navegáveis da bacia do Paraguai, com o objetivo
de implantar pontos estratégicos militares visando atender a expansão
colonialista lusa e estancar o avanço de súditos espanhóis. A partir de
1775, foi fundado o forte de Coimbra, às margens do rio Paraguai; em
1776, a cidade de Albuquerque; e em 1778, Corumbá. Assim, asseguraram
o domínio da margem direita do rio Paraguai, garantindo o controle da sua
navegação.
Com a fundação de vilas, presídios e fortes na fronteira, era intenção
também formar colônias com soldados e suas famílias e, quando possível,
estimular a aproximação, amizade e o casamento talvez, melhor dizendo,
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
350 |
acasalamento” – com as nativas, com o objetivo de aumentar a população
e, consequentemente, a ocupação territorial.
Os fortes construídos para a defesa da Capitania contra eventuais
ataques do incômodo vizinho acabaram por agregar os indígenas.
Tornaram-se esses fortes pólos atrativos, permitindo mais tarde a formação
dos primeiros núcleos urbanos, como Corumbá, Miranda e Albuquerque.
Quando da emancipação das colônias espanholas e portuguesas
com o surgimento de duas novas pátrias independentes, Bolívia e Paraguai,
as tensões e as relações comerciais não se mantiveram como foram ao
longo do século XIX se ampliando com todas as suas contradições. Para
o produtor sul-mato-grossense, até 1856
5
era muito mais fácil e rápido
comercializar nas praças do Paraguai e da Bolívia do que com São Paulo e
Rio de Janeiro.
As autoridades do Império assistiram por muito tempo a província
de Mato Grosso gravitar economicamente em torno dos círculos comerciais
paraguaios, com tendência a se desligar da precária unidade monárquica e
se juntar à República Paraguaia.
Essa facilidade de se chegar às terras do país vizinho permitiu que
o contrabando de gado desempenhasse importante papel na economia
sulina: o gado era vendido no país guarani. Na volta os criadores traziam
sal, medicamentos, produtos alimentícios e outros produtos de difícil
obtenção para os isolados fazendeiros sulistas.
O Brasil manifestava constante preocupação com a integridade de
seus territórios a oeste, o que levou a manter conversações freqüentes com
o governo paraguaio.
O segundo presidente republicano do Paraguai, Antonio Carlos
Lopes, não se negava a abrir a navegação do rio homônimo para os navios
5 Em 1856 foi assinado um acordo de comércio e navegação entre o império do Brasil e a república do Paraguai, que
liberou a navegação do rio Paraguai até o porto de Corumbá, ligando Mato Grosso ao Rio de Janeiro e ao comércio
mundial via estuário do rio da Prata.
351
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
brasileiros, desde que fosse a troca de um tratado que dessem fronteiras
seguras ao país guarani”. (POMER, 1979, p. 70). As diplomacias do
império do Brasil e da república do Paraguai foram incapazes de resolver as
contendas entre os dois países e com isso a guerra foi deflagrada.
A Guerra do Paraguai interrompeu um período promissor de
desenvolvimento econômico na região do Pantanal sul de Mato Grosso.
Durante quase cinco anos, desapareceu a livre navegação no rio Paraguai,
o que comprometeu a economia de toda a província, atingiu duramente o
sul e se constituiu num verdadeiro desastre para a população pantaneira.
Após a guerra, as atenções do governo imperial se voltaram para
Mato Grosso, sobretudo para a região do Pantanal sul, e medidas foram
sendo tomadas para estimular a economia local. Como efeito, empresas
nacionais e estrangeiras se estabeleceram e passaram a prestar serviços de
navegação entre Corumbá e as cidades do Prata, com o estabelecimento de
linhas de cargas e de passageiros.
A cidade de Corumbá passou a desempenhar o papel de capital do
rio Paraguai. Era o entreposto entre os portos platinos e europeus e de toda
a província, tornado-se a principal porta de embarque da exportação dos
bens produzidos no Pantanal e da entrada da cultura platina, com todas as
suas decorrências (Cf. ALVES, 1984; CORRÊA, 1999; ESSELIN, 2003).
Apesar de escassamente povoada, a província de Mato Grosso atraiu
investimentos estrangeiros. A abertura do rio Paraguai para navegação
constituiu-se importante fator para o desenvolvimento de diversas
atividades econômicas.
Uma delas foi a exploração da erva-mate, na região em que hoje é
Mato Grosso do Sul. Teve início em 1878, com vistas ao fornecimento
para o mercado platino, através da formação da Companhia Matte
Laranjeira. Esta tomou grande impulso em 1902, quando se associou a
capitais argentinos e formou a Companhia Laranjeira, Mendes e Cia., com
sede em Buenos Aires.
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
352 |
Um novo empreendimento importante para a economia estadual
foi a concessão dada pelo Governo do Estado para a exploração dos
minérios de ferro e manganês, a Societé Anonyme d’Ougree Mariharye e à
Societé Metallurgique d’ Esperance Langdoz, para a fabricação do aço, tendo
iniciado o processo de aproveitamento industrial das jazidas de Corumbá
com capital belga.
O período que se estendeu de 1870 a 1910 foi marcado pela lenta
integração do Pantanal sul de Mato Grosso ao mercado nacional, quando
foram sendo construídas as bases para o desenvolvimento da pecuária de
corte.
Ao final do século XIX e princípio do XX, o estado de Mato Grosso
e sobretudo a região sul recebeu grande impulso com a modernização
do porto de Corumbá; a instalação da indústria da carne e siderúrgica;
a compra de grandes extensões de terra por empresas estrangeiras e a
construção da rede ferroviária federal. Tudo isso foi mudando as feições
da região. Em 1912, a iluminação pública foi inaugurada em Corumbá e
depois dela veio a rede de telefonia. (AMORIM, 1917). Em 1904, estava
concluída a ligação telegráfica de praticamente todo o sul do Estado, com
a inauguração da estação de Corumbá.
A melhora do preço do gado bovino e a absorção do excedente
produzido no interior das fazendas pelo mercado aumentaram os
rendimentos dos produtores rurais, os quais estreitaram relações com seus
pares, sobretudo de Minas Gerais, e começaram a incorporar novas técnicas
ao processo de produção, cresce a especialização da própria pecuária, com
o contínuo aumento da produção. Com relação ao manejo, muito pouco
mudou, mas a grande reavaliação foi o melhoramento do padrão racial do
rebanho na busca do aumento do desfrute e da produtividade.
Desde o último quartel do século XIX, os produtores de Uberaba
passaram a importar da Índia o gado reprodutor zebuino, cuja característica
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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era a rusticidade. Os animais se adaptavam muito bem ao clima tropical,
podiam ser criados extensivamente, não dependiam de muitos cuidados
e se revelaram extremamente precoces, fortes para o trabalho do campo
e de rápida reprodução. “Onde os animais das chamadas ‘raças finas’ se
extinguiram ele prosperava”. (VALVERDE, 1972, p. 116).
Ao lado da melhoria do padrão racial, no inicio dos anos trinta
o arame farpado começou a aparecer nas propriedades do Pantanal
como condição essencial para o azebuamentodo rebanho. As fazendas
foram sendo cercadas e as pastagens divididas, propiciando a seleção dos
animais. Com isso, o rebanho foi sendo direcionado e preparado para
a produção de carne. “O rebanho regional era conhecido na época por
sua inferior qualidade e, exatamente por dispor de exígua quantidade de
carne, poderia ter aproveitamento industrial lucrativo nos saladeiros e
charqueadas(ALVES, 1984.) Por isso, aos poucos substituído pelo gado
graúdo de forma arredondada, muito andejo e com visível acúmulo de
carne no posterior.
De todo modo, os elementos destacados, aludidos anteriormente,
consolidaram uma paisagem produtiva muito diferenciada entre a parte
norte da parte sul do velho Mato Grosso. O sul, com Campo Grande à
frente, foi indelevelmente consolidando uma modernidade sensivelmente
superior àquela existente na pecuária tradicional do norte.
Esta diferença se acelerou com muita intensidade a partir dos anos
cinqüenta: a chegada de paulistas minimamente capitalizados (nos 50s) para
as terras das vacarias de Dourados; dos gaúchos (nos 60s) já capitalizados,
substituindo tradicionais ervais no cone sul; e de super-capitalizados nos
início dos anos 70. Todos ligados à moderna agricultura, consolidaram
uma condição de desconforto institucional entre o sul e norte do velho
Mato Grosso, como veremos a seguir.
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
354 |
O espírito de iniciativa e a moderna agricultura
na compleição do Mato Grosso meridional
É praticamente impossível identificar qualquer setor da economia,
na história recente do velho Mato Grosso e atual Mato Grosso do Sul,
que tenha se desenvolvido independentemente ou se divorciado da
moderna agricultura, mais especificamente a sojeicultura. O crescimento
de indústrias como frigoríficos, cimento, destilarias, moinhos de trigo,
peças e equipamentos, calcário moído, etc.; e o crescimento populacional
no setor urbano, com o nascimento de cidades, estão ligados direta ou
indiretamente à modernização do setor rural. O que significa estarem
ligados à sojeicultura.
Consolidada no estado pouco mais de vinte anos, a soja
movimentou a economia, modificou a política e criou uma nova história.
Esse feijão, que hoje alimenta as máquinas esmagadoras locais, enriqueceu
e empobreceu homens; destruiu mitos e realidades; moveu máquinas e
capitais. Noutras palavras, impôs-se como símbolo de uma nova sociedade,
símbolo do capitalismo e da reprodução do espaço.
O volume de terras com capacidade produtiva ociosa e seus preços,
pelo menos dez vezes mais baixos que no Sul e Sudeste do país, atraíram
para a região Centro-Oeste e especialmente para o sul de Mato Grosso os
principais investimentos durante os anos setenta. Inicialmente, foram os
pequenos arrendatários oriundos do Rio Grande do Sul e do Paraná que,
no final da década de 1960, em conjuntura desfavorável aos ervateiros e
pecuaristas, plantaram soja com sucesso no vale do Ivinhema.
Os resultados favoráveis de boa safra do feijão-soja e a própria
conjuntura internacional da valorização do produto motivaram o grande
capital do Sul e do Sudeste, sedento de lucros, a investir maciçamente na
sojoeicultua, modificando por inteiro a geografia sulina do velho Mato
Grosso. A movimentação de capitais no extremo sul de Mato Grosso
alterou por completo as relações produtivas vigentes até então.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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A circulação de volumosos fluxos de mercadorias (humanas e não-
humanas) adicionou estranhos artefatos à natureza local, engendrando
uma destruição constante da economia natural desenvolvida séculos.
A penetração de capitais constantes como máquinas agrícolas, adubos,
pesticidas, dentre outros, provocou a ascensão de novas relações entre os
homens.
O movimento dado pelo avanço do cultivo monocultural da soja
aumentou o volume e a importância dos fluxos, criando, como efeito, novas
formas de consumo e inaugurando novas formas diferenciadas de vivência.
Modificou a estrutura dos estabelecimentos agropecuários em menos
de cinco anos (70-74) houve uma redução significativa no seu número;
triplicou áreas de lavouras temporárias o percentual de proprietários e
arrendatários sofreu uma redução de mais de 50% e 20%, respectivamente
(IBGE, 1989).
A necessidade de movimentação cada vez mais acelerada de capitais
constantes e circulantes ampliou o fluxo de investimentos, provocando
a expansão para áreas produtivas ainda não ocupadas. Grandes grupos
econômicos foram atraídos, carregando altos investimentos.
Em seguida, grandes levas de capitalistas promoveram o avanço
dos limites do cone sul do Estado, chegando às áreas tradicionalmente
pastoris de Campo Grande. Antes do terceiro quartel da década de
setenta, invadiram os sertões de Camapuã, Cassilândia e Paranaíba. Os
comerciantes locais capitalizados, que antes investiram no plantio de café,
motivados pelo crédito fácil, pelos bons-ares do mercado internacional,
e, principalmente, prejudicados pelas grandes perdas dos cafezais com as
freqüentes geadas, juntaram-se aos bem-sucedidos sojeicultores, fazendo
nascer São Gabriel do Oeste.
O afluxo de capitais ao Mato Grosso do Sul durante os anos setenta,
orientado para a ampliação e manutenção da sojeicultura, criou um
complexo sistema de intercâmbio inter-regional (entrada de mercadorias
principalmente do Sudeste e Sul) e internacional (a cultura da soja no Mato
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
356 |
Grosso desde seus primórdios visava o mercado internacional). Também
ampliou circuitos produtivos auxiliares (comércio urbano, produção
agrícola para o consumo urbano, produção industrial de calcário moído)
e promoveu, com efeito, a implantação de rígidos blocos estruturais fixos,
como a modernização e construção de estradas e pontes.
Foram construídos silos e armazéns que caracterizavam um aumento
de mais mil por cento em dez anos. Os aeroportos e campos de pouso
tornaram-se comuns na paisagem do cerrado.
O crescimento da sojeicultura demandou novas necessidades de
caráter científico-técnico: a eletrificação rural; a comunicação telefônica e a
informatização. Organizou-se inclusive, um centro de pesquisa (Embrapa)
voltada para as necessidades da produção, reunindo, em 1976, mais de 200
pesquisadores em trabalho efetivo na região.
A edificação dos arranjos espaciais fixos exigiu a co-participação do
Estado (tanto em nível regional quanto nacional). Os investimentos do
setor privado na construção e na manutenção da estrutura fixa do espaço
permaneceram próximos de zero, corroborando com um padrão recorrente
na História brasileira de utilizar os benefícios estatais para beneficiamento
de interesses específicos.
Nesse quadro, a participação do Estado foi muito além da construção
da chamada infra-estrutura e das linhas especiais de crédito. Em nome
da ajuda aos pequenos proprietários, o estado (regional) investiu na
organização de um aparato técnico constituído de tratores, adubos,
colhedeiras e técnicos, a serem utilizados por pequenos, médios e grandes
agricultores, capitalizados ou não.
Essa atuação incrementou a ampliação do modo de cooperação
capitalista na agricultura; promoveu a aceleração do processo de
concentração fundiária e solidificou e ampliou o mercado interno, além de
possibilitar a formação de uma consciência nova, anti-autonomista.
357
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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À medida que se expandiu a área de plantio, abriu-se um leque de
investimentos que alcançaram número de setores cada vez mais expressivos.
No campo, em regiões “imprópriasà sojeicultura como Água Clara, Rio
Pardo, Três Lagoas – grandes grupos empresariais (CICA, Reflorest Invest,
Seiva, Faber Castel, Transparaná, etc.) investiram pesado na silvicultura
(eucaliptos e pinus). Com a primeira febre do álcool, grandes canaviais
foram plantados, e, com eles, modernas destilarias.
Culturas tradicionais tomaram novo impulso; cresceram as
plantações de milho, arroz e feijão. O trigo, enquanto parceiro da soja em
quase todo o país, logo conquistou a posição de terceira maior cultura do
estado (ao lado do milho), atrás apenas da soja e do arroz. No setor urbano,
o crescimento do volume e a velocidade de circulação das mercadorias
atraíram contingentes populacionais do Sudeste, Sul e Nordeste, resultando
na implantação de novos núcleos urbanos.
O Mato Grosso meridional cresceu 6,1% ao ano, um percentual
muito superior à média nacional, em decorrência das atividades
econômicas.
Foi uma derradeira época de ouro. Vendedores de toda espécie,
engenheiros, trabalhadores volantes, médicos, aventureiros e lúmpen-
proletariado de toda ordem chegaram em busca de empregos ou de
uma situação perdida em seus lugares de origem. Essa força de trabalho,
produzindo, construiu monumentos que se volatizaram ou perpetuaram,
acotovelando-se” em múltiplas formas de viver e habitar.
Um caudaloso movimento de pessoas desaguou em brutal descontrole
do uso do solo urbano e descontrolada especulação imobiliária. A rede
urbana que nasceu desse movimento representou um entrelaçamento do
complexo sistema de intercâmbio implantado na região.
Não restam dúvidas de que em Mato Grosso produzia-se mercadorias.
Todavia, não podemos dizer que tais mercadorias eram produzidas dentro
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
358 |
de um modo de produção capitalista claramente delineado. Também não
podemos afirmar que toda a produção ali existente era pré-capitalista. Na
verdade, havia no antigo Mato Grosso uma conjugação de diferentes (e até
antagônicos) modos de produção e circulação.
A situação começou a se alterar irreversivelmente a partir do final
dos anos 50 e início de 1960. A migração de considerável volume de força
de trabalho para a região localizada entre os rios Dourados e Naviraí deu
origem a um processo de circulação de mercadorias diferenciado existente
até então no extremo sul do velho Mato Grosso.
Empresas colonizadoras, como Viação São Paulo Mato Grosso,
Vera Cruz, Someco, entre outras, investiram na compra de grandes glebas
de terras, dividindo-as em pequenos lotes (8 a 25ha.) e vendiam com preços
reduzidos e parcelados a pequenos produtores despojados de suas terras na
região Sul, principalmente, no Sudeste e no Nordeste. Incentivados pela
política de expansão dos cafezais”, esses sitiantes iniciaram sua culturas
pelo plantio de café e extração de madeira (PÈBAYLE e KOECHLIN,
1981).
A implantação de serrarias, o nascimento de uma pequena produção
mercantil e as necessidades de serviços urbanos (educação, saúde, comércio,
etc.) fez nascer em 1963, no Planalto Mato-grossense, cinco municípios
e oito vilas. Campo Grande foi o pólo de ligação entre essa região e os
grandes centros produtores (São Paulo, sobretudo), além de constituir-
se em tradicional centro de comércio de gado desde os anos vinte. Por
conseqüência, gerou em seu útero uma pequena e dinâmica burguesia
mercantil.
Todo o dinamismo alcançado pouco representou se o compararmos
ao processo desencadeado pela chegada dos granjeiros
6
, a partir de 1968/69.
6 Pequenos proprietários de terras expropriados pelo processo de concentração fundiária no Rio Grande do Sul que
se aventuraram a arrendar terras no sul de Mato Grosso.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Arrendando terras de pecuaristas e ervateiros, os primeiros granjeiros
como eram chamados, embora não trabalhassem com aves chegaram
ao cerrado mato-grossense em 1968, a tempo de preparar a terra para o
plantio daquele ano.
Como estavam acostumados com a sojeicultura, com base mínima
de capitalização, plantaram soja, resistindo, inclusive, a uma orientação
técnica inicial que indicava o cultivo do algodão e, à revelia, alcançaram
sucesso. Arrendatários de 1968/69 já eram proprietários de terras em
1970/71 e capitalizados para adquirir (ou arrendar) outras áreas. A notícia
de boa colheita atraiu novos granjeiros e capitalistas para a região, além de
levar fazendeiros locais a redimensionarem seus investimentos para a soja.
O desdobrar do processo é conhecido.
A soja, ou seja, a moderna agricultura, promoveu uma verdadeira
revolução no espaço; transfigurou completamente a paisagem e o modo
de produção existente. Noutras palavras, permitiu a construção de uma
nova história e, como efeito, suscitou o florescer de uma nova unidade
federativa.
Com a intensificação do plantio da soja a partir de 1971, a
agricultura passou a assumir progressivamente um caráter comercial. O
antigo agricultor ou pecuarista foi, pari passu, cedendo lugar à empresa
rural moderna. O modo capitalista de produção da soja suplantou as
técnicas tradicionais da economia natural rotineira ali existente há séculos;
os instrumentos primitivos de produção agrícola foram cedendo lugar a
técnicas, instrumentos e máquinas cada vez mais aperfeiçoadas.
Noutros termos, a antiga forma imobilista de se produzir mercadoria
foi vencida por procedimentos dinâmicos e modernos que impulsionaram
o desenvolvimento das forças produtivas e do trabalho social.
A introdução e ampliação do cultivo da soja possibilitou a um
grande número de trabalhadores produzissem a mesma espécie de
mercadorias, isócrono e espacialmente, utilizando modernos instrumentos
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
360 |
e máquinas sob o comando único capitalista. Agrupou, conjuntamente,
trabalhadores sem nenhuma especialização com trabalhadores altamente
especializados. (tratoristas motoristas, técnicos agrícolas, agrimensores,
mecânicos, aviadores, etc.). No mesmo processo, desencadeou a necessidade
de recrutadores de mão-de-obra, contabilistas, escriturários, fiscais de
produção e uma série de gerentes de produção.
A rapidez com que a soja se desenvolveu promoveu também,
paralelamente, (i) a ampliação do caráter comercial nas diversas propriedades
agrícolas; (ii) a expulsão e a expropriação de pequenos produtores, forçando-
os a migrarem para regiões mais ao norte; a ampliação do mercado interno;
(iii) a transformação gradativa de grandes latifundiários em empresários
agrários e (iv) o enriquecimento precoce de comerciantes locais.
Por fim, dilatou o processo de prostrar rígidas barreiras arcaicas,
aprofundou gigantescamente as contradições intra-relações humanas e
intra-regiões e passou a substituir, pari passu, o espírito estreito e provinciano
pelo espírito de iniciativa.
Todavia, é importante ressaltar o caráter não-uniforme da
exploração. Apesar do avanço proveniente da sojeicultura, não se configurou
qualquer uniformização do espaço. Relações atrasadas e pré-desenvolvidas
continuaram a existir e ter função dentro do processo geral da acumulação
capitalista.
Não temos dúvidas do fato de que, se não houvesse uma mudança
substancial na estrutura produtiva da grande propriedade latifundiária
pastoril não haveria acontecido o velho Mato Grosso.
Campo Grande há muito se constitui uma cidade de comerciantes.
A presença política desse setor era sentida desde a criação da Associação
Comercial, em 1926. Todavia, a partir dos anos 50, os comerciantes
assumiram a administração municipal e não mais foram desalojados do
poder. Evidentemente que, ao nos referirmos aos comerciantes, não estamos
falando dos grandes latifundiários (também comerciantes). Referimo-nos
361
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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a uma pequena “burguesia comerciante ligada ao centro dinâmico da
economia brasileira, ativos no comércio de exportação de matérias-primas
(gado em primeiro plano) e importação de produtos manufaturados do
Sudeste (São Paulo, principalmente) para Mato Grosso.
Os grandes projetos de migração promovidos por grandes empresas
que permitiram a ocupação do interior do Estado (direção Sul), no final
da década de 1950 e sua intensificação durante anos da década de sessenta,
suscitaram – como vimos – um vigoroso movimento de fluxo e refluxo de
mercadorias. Os comerciantes constituíram-se nos principais beneficiados
pelo processo, auferindo expressivos lucros.
As administrações dos governos após 1965 deixavam transparente
o projeto político de um novo tempo. A construção de estradas para o
transporte de mercadorias direcionava seus intentos (em menos de dois
anos – 1966-68 se construiu mais de 800 km em uma região que possuía
pouco mais de 2.000 km). Implantou-se mais de 1.400km de estradas
vicinais no sul do Mato Grosso.
Paralelamente à construção de estradas, os governos construíram
outros grandes fixos, como hidrelétrica; expansão da rede de transmissão
de energia; silos e armazéns; e principalmente escolas, praças e avenidas.
Intensificou-se ainda mais a circulação de fluxos de capital e mercadorias.
Nota-se que tanto Pedro (Pedrossian) quanto os Josés (Fragelli e
Garcia Neto) administraram doisestados. Observando os Relatórios de
Governo dos três governadores percebe-se que: para todos os km de estrada
construída no norte do Estado, mais de 15 km foram construídos no sul;
para cada tijolo assentado no norte, mais de duzentos foram assentados
no sul.
Com a força política concentrada majoritariamente no sul
onde também estavam 70% da população foram sugados para a parte
meridional do estado 80 a 90% dos investimentos da área federal. Esse fato
deixava o norte desprovido de investimentos estruturais essenciais para o
desenvolvimento da região.
Ilusões, duras realidades e espírito de iniciativa na constituição
362 |
Concluindo – o Mato Grosso do Sul
Tais atitudes minaram, por fora, a grande prioridade pastoril.
Com o advento da moderna agricultura, a velha oligarquia terminou
sendo minada por dentro”. Como efeito, tradicionais pecuaristas foram
obrigados a promover a modernização mais intensa nas formas de produção
de suas propriedades. A emergência de um capitalismo rural foi inevitável
no sul de Mato Grosso, e com ele a reorientação de toda uma mentalidade
oligárquica.
Neste contexto, o sul se separava do norte de Mato Grosso em
diversos níveis e formatos. Ambas as partes se viam amarradas em seus
intentos desenvolvimentistas. Sem ações pró nem reações contra, em 1976
o então Presidente da República General Geisel solicitou ao seu ministro
do interior, Rangel Reis, um estudo sobre a viabilidade da divisão de Mato
Grosso.
Contudo, não podemos desconsiderar outro fato: a intenção
geo-estratégia dos governos militares em conquistar definitivamente
a Amazônia”. Neste cenário, a posição territorial do velho Mato Grosso
colocava-se como entrave burocrático (a capital distante da parte
mais desenvolvida), político (força política ao sul e o poder ao norte),
institucional (as instituições estavam manietando o movimento de ambas
as partes), econômico (como relatado em parágrafos anteriores) e geográfico
(a floresta do norte necessitava ser dominadas e não apenas domadas como
no sul).
Não se pode considerar coincidência o fato de que o nascimento
do novo Estado esteja dentro de uma década em que as estradas Belém-
Brasília, Porto Velho-Manaus e Cuiabá-Porto Velho estavam sendo asfaltadas;
as estradas Cuiabá-Santarém e Transamazônica estavam sendo construídas;
os pólos agro-minerias de Trombetas, Serra Pelada, Carajás e mais outros
seis estavam em plena evolução; o projeto Calha Norte estava sendo
363
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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implementado; a usina de Tucur iniciava sua construção; o Território de
Rondônia se transformava em Estado, entre vários outros que se perdem
(ou se perderam) no verde da grande Hiléia.
Destarte, colhendo o resultado desta conformidade de elementos
novo modo de ser da historia na economia-política regional e os interesses
nacionais engendrados, em especial, pelo frenesi da modernização do
campo e suas intercessões, a constituição de Mato Grosso do Sul ocorreu
de direito em 11.10.77 e de fato em 1° de Janeiro de 1979.
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365
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
DESARROLLO LOCAL, COTIDIANO
Y PARTICIPACIÓN POPULAR:
UNA PERSPECTIVA TERRITORIAL
Sérgio Ricardo Oliveira Martins
Introducción
La observación directa de las experiencias y de las iniciativas dirigidas
para el desarrollo local ha demostrado que la concepción, realización y
continuidad de cualquier proyecto, por mejor que sea, depende directamente
de la calidad y continuidad del envolvimiento de los segmentos sociales
implicados. Por otra parte, la discontinuidad de estas iniciativas y acciones,
especialmente cuando estas se originan fuera de la comunidad, producen
un paradójico histórico: las buenas ideas tenidas sin éxito.
El esfuerzo por despertar en la gente la voluntad de participar
activamente del desarrollo de su comunidad, como demuestran las
experiencias observadas en la provincia de Mato Grosso del Sur, ha
sido dificultado por un comportamiento sociopolítico marcado por una
clara postura pasiva y aparentemente desinteresada en lo referente a las
discusiones de problemas y soluciones.
Sin embargo, la participación sociopolítica es un hecho complejo,
sobretodo porque tiene implicaciones multidimensionales y multiescalares
(en términos del tiempo y espacio). A la participación se asocian tomas
de decisión que nunca son estanques, aisladas o individuales. Esto
implica considerarla un fenómeno con manifestaciones que solamente
son comprensibles cuando verdaderamente analizadas como un conjunto
de relaciones en que se mezclan factores sociopolíticos, económicos y
espaciales concretamente situados en el cotidiano de la gente. En lo
cotidiano observamos un verdadero obstáculo a la participación popular:
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
366 |
poca disponibilidad y disposición de la gente se envolver en acciones
colectivas, donando parte de su tiempo o dejando de trabajar por sus
intereses individuales o sectarios.
En la perspectiva asumida aquí, se entiende que la conquista de la
participación activa se debe desarrollar en lo cotidiano, es decir, a partir de
prácticas socio espaciales cotidianas y significativas. Teniendo en cuenta
una de las más significativas experiencias observadas y participadas por
el grupo de investigadores del programa de postgrado en desarrollo local,
el más importante objetivo de este artículo es demostrar que el efectivo
envolvimiento social y político de cualquier persona en acciones colectivas
depende básicamente de una conciencia que se desarrolla con la vivencia
y enfrentamiento de problemas cotidianos, proceso en el cual operan
variables como la percepción de valor, el sentimiento de pertenencia y la
perspectiva de alcanzar resultados.
1. Cotidiano en una perspectiva territorial
Mirar lo cotidiano a través del territorio puede revelar mucho más
que su materialidad, porque tal perspectiva requiere necesariamente el
abordaje integrado y sistémico de sus elementos constitutivos. ¿Pero qué es
lo cotidiano? ¿Qué significa tratarlo por una perspectiva territorial?
Para Kosik (1989), lo cotidiano es expresión de la propia existencia
humana en el mundo. Se trata, por lo tanto, de la realización de las tareas
diarias, repetición de las actividades vitales. En sus preocupaciones,
la persona organiza su día a día, creando una red de relaciones que la
influencian; la manera como vive (“la existencia”) expresa su cotidianeidad.
En las palabras de Kosik (1989, p. 69), “La vida cotidiana es, antes de
todo, organización, día a día, de la vida individual; la repetición de sus
acciones vitales está fijada en la repetición de cada día, en la distribución
del tiempo en cada día”.
367
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Lo cotidiano es la dimensión constituida por lo “vividoy la vida
cotidiana no ocurre sin el “uso” que se hace del espacio y del cuerpo, pero
también de la repetición de las tareas diarias (SEABRA, 1996; SILVA,
1997). Tareas simples que son ejecutadas diariamente siempre de la misma
manera, como despertar”, desayunar” o “leer el periódico”, componen
el día y contienen las dimensiones de la existencia. Pero si lo cotidiano
es repeticiónde tareas, también incluye el conflicto y lo imprevisible,
algo como una rebelión del uso”. En el medio de las actividades y tareas
rutinarias, lo inesperado recupera la conciencia de la vida y sus desafíos,
ejercita la creatividad, la imaginación y los sentimientos. En este contexto,
el uso del territorio, que implica en relaciones (o prácticas) sociales
y espaciales, es la esencia de la territorialidad, genera percepciones y
constituye la base para la comprensión del mundo.
El espacio cotidiano surge como campo de posibilidades donde
ocurre la práctica socialque corresponde a una practica espacial. Sin omitir
el mundo verdadero, la conciencia construye un espacio de “virtualidades”,
un objeto de representaciones (LUFTI, 1996, p. 96-97).
Según Certeau (1999, p. 201), el espacio local es un campo
de posibilidades para las personas. Del uso del lugar que subvierte su
geometríasurge el espacio (“... el espacio es un lugar practicado.”). En
esta fenomenología de la existencia en el mundo”, en el cotidiano, el lugar
(lo material, el orden construido) y el espacio (la opinión, la representación,
la subversión) se confrontan. De esta manera, el lugar seria el campo de lo
permitidomientras el espacio seria el campo de lo posible”. En la esencia
de esta distinción hecha por Certeau, está su concepto de cotidiano, que se
constituye de la práctica que sigue el orden establecido, pero sobretodo de
la práctica que descumple este mismo orden y va más allá de lo permitido
porque se orienta por lo posible.
Para Certeau, el espacio es construido por el ciudadano en un teatro
objetivoy, de esta manera, el espacio sería producto de la percepción de
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
368 |
la gente con base en su vivencia. Una mirada más crítica de este concepto
revela precisamente que el espacio no será más que un producto de la
conciencia humana. En las palabras del autor, existen tantos espacios
cuántas experiencias espaciales distintas(1999, p. 202). Tal concepto del
espacio, que lo convierte en algo dependiente de la conciencia para existir
(“espacio mental”), sirve poco a la comprensión de la realidad. Nuestra
interpretación considera el espacio y la conciencia en interacción, es decir,
en una dinámica recíproca de causa y efecto. El lugar mezcla la materialidad
construida con el sentimiento y la emoción. La materialidad (configuración
territorial) también trae en su interior la idea y las intenciones de quién
la concibió en un plan antes de producirla. El orden construido es, no
solamente orden preconcebido por la conciencia, sino que también
condiciona el surgimiento de nuevas conciencias. Según la fenomenología
de Husserl, toda conciencia es conciencia de algo(PENHA, 1986, p.
30).
Sin embargo, lo cotidiano es una importante categoría territorial,
sobretodo porque está hecho de prácticas espaciales y resulta de la interacción
entre las personas y las cosas: lo cotidiano es fundamentalmente situación de
proximidad. Para Santos (1996a, p. 255-256), en un análisis del cotidiano,
la proximidad cumple un importante papel en la socialización, generación
de solidaridad y identidad.
La situación (y sensación) de proximidad con base en un “territorio
compartidoes la dimensión espacial propia de lo cotidiano. De esta manera
se puede aprehender la importancia del territorio en la comprensión de lo
cotidiano (SANTOS, 1996a). En sus palabras,
A través del contenido geográfico de lo cotidiano, quizás nosotros
podemos contribuir para el entendimiento necesario (y quizás te-
orizar) de la relación entre el espacio y los movimientos sociales,
mirando en la materialidad lo que es un componente esencial del
espacio geográfico y también una condición para la acción; una
estructura para control, un limite a la acción; una invitación a la
369
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
acción. No se hace hada hoy sino a partir de los objetos a cerca de
nosotros (p. 257).
En la interpretación de este estudio, lo cotidiano no consiste en
una simple categoría sociológica, sino en una categoría socioespacial. El
análisis de lo cotidiano es básico para la comprensión de la territorialidad,
porque es en la cotidianeidad, en el plan de la confrontación diaria de los
problemas, de la búsqueda incesante de la satisfacción de sus necesidades,
que la gente adquiere entendimiento de todo (percepción y comprensión).
Por lo tanto, es en lo cotidiano que las condiciones de existencia de la
gente son verificadas concretamente. Solamente en la escala humana las
necesidades, expectativas, alegrías y frustraciones funcionan como variantes
básicas en la constitución de los juicios del valor y en la pertenencia al
lugar, que son factores determinantes de la disposición individual de
envolvimiento en acciones colectivas. Es con este sentido precisamente que
camina el desarrollo local, una concepción del desarrollo que incorpora
no solamente la perspectiva humanística de valorización del ser humano
(como ciudadano activo) como también toma el lugar como referencia
territorial. Entendemos que el desarrollo local es mas que una estrategia, es
una filosofía de desarrollo y tiene en lo cotidiano, en la real existencia de
la gente, una dimensión básica de la comprensión y confrontación de los
desafíos. Esto es lo que trataremos a seguir.
2. Desarrollo local y cotidiano:
no solamente una cuestión de escala
Respecto a los conceptos de desarrollo, una transición es cada
vez más evidente: de fundamentos exclusivamente económicos y de una
gestión centralizada y ampliamente técnica, orientada por la creencia
implícita en el progreso material e ilimitado, a la conciencia ecológica y a
la comprensión de que creer en la gente, reconocer y valorar la ciudadanía
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
370 |
son indispensables. El sentido de esta transición es claro: la adopción de
la perspectiva humanística, es decir, la valorización del ser humano con la
intención de promover las condiciones para el ejercicio de una verdadera
ciudadanía.
La discusión actual sobre el desarrollo, además de volverse para el ser
humano, ha evidenciado cada vez más la importancia del territorio como
totalidad multiescalar y multidimensional. Mucha importancia también
se ha dado a la cultura, esta dimensión insistentemente descuidada por
la teoría y práctica de desarrollo de la posguerra (“desarrollismo”). En
gran parte esta profunda revisión teórico-metodológica tiene como punto
de partida las reflexiones de los desastrosos impactos de la planificación
tradicional fundamentada en una visión simplificadora y fragmentaria,
causadora de desequilibrios sociales y ambientales (VERHELST, 1992).
Sin embargo, el territorio adquiere un destacado papel como
condición y factor de desarrollo. No se trata todavía de mero palco de las
acciones humanas, sino de un agente que puede favorecer o dificultar el
desarrollo, según sus potencialidades y limitaciones (GONZÁLEZ, 1998).
Ésta es la idea del territorio como medio interactivo con la capacidad
humana de pensar, entender y actuar sobre los problemas, amenazas,
oportunidades y desafíos.
Parece elementar que toda reflexión, investigación o acción a la
escala humana se deben realizar a través de lo cotidiano sin perder de vista
las múltiplas determinaciones e interacciones con otras escalas. El lugar
es, por lo tanto, el escenario interactivo de los acontecimientos, donde
los fenómenos naturales y humanos suceden y producen sus efectos. Por
eso el lugar no es solamente porción sino también síntesis de la totalidad
socioespacial. Hay un orden local” que está directamente asociado a
lo cotidiano de las personas y cuyos parámetros son la co-presencia,
proximidad, intimidad y cooperación. La escala humana se identifica por la
relación directa e interdependiente entre la gente, ambiente e instituciones,
371
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
como también por la dialéctica entre cooperación y conflicto, necesidades
y capacidad de satisfacerlas, deseos y posibilidades. Lo cotidiano es la
dimensión de la existencia humana concreta (lo que es expreso por los
límites impuestos a la posee de la materialidad y dominio de la técnica) y
fluida (expresa en la capacidad de soñar y sobrepasar todos los límites).
La fuerza del lugar habita el territorio compartido e identificado
por una conciencia socioespacial del entorno y su esencia es la propia
historia vivida en común (SANTOS, 1996A, LE BOURLEGAT, 2000).
El lugar se presenta a la gente a través de su materialidad, pero también
por el aspecto familiar de los elementos que lo componen casas, calles,
campos, la vecindad, el clima habitual, etc. Así el enfoque socioespacial
debe superar la representación del espacio y la simple ubicación de los
hechos y aprehender el proceso donde estos mismos hechos adquieren
significación social. Fuera del territorio la ciudadanía no pasa de ficción,
pues el ciudadano no es simplemente todo aquél que tiene derechos y
deberes asegurados por ley, sino aquél que tiene con eficacia condiciones
para realizar sus derechos y deberes. En este sentido, Santos (1996b, p. 123)
afirma que las condiciones del acceso a los recursos necesarios para la vida
dependen, en gran parte, de cómo las personas están ubicadas en el lugar,
concluyendo que “El ciudadano es el individuo en un lugar”. Esto significa
decir que al implicar prácticas espaciales, en localizaciones distintas y en
una sociedad de personas social y económicamente desiguales, la ciudadanía
puede ser llena para unos y parcial (o mismo nula) para otros.
Actualmente las relaciones entre global y local adquieren gran
importancia para el entendimiento de ambos. Local y global son dos
órdenes imbricados, esencialmente contradictorios y seguramente
dialécticos (BENKO, 1996, p. 65). El orden global es representante de
los intereses extraños al lugar y a la comunidad. La noción de extrañeza,
cada vez más evidente entre las acciones (ordenes, decisiones) y los lugares
(en esto incluyendo la gente), se tornó esencial al análisis del mundo de
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
372 |
hoy. Otra vez es Santos (1996a, p. 65) que hace resaltar el hecho que,
en nuestros días, se debe considerar que las acciones” son cada vez más
extrañas al lugar, a la gente, creando dos escalas: una de realización” y otra
de comando”. Esta es la razón porque la sustentabilidad, que presupone
una ética de compromiso y responsabilidad social, es necesariamente un
desafío multiescalar.
El estudio del lugar (escenario interactivo de la cotidianeidad)
requiere observarlo en los distintos niveles del análisis. En este entendimiento
hay una clara cuestión de escala, siendo esta mejor entendida como unidad
de concepción” y no como unidad de medida limitada a un mero ejercicio
matemático. Se entiende que el espacio local se define por un contenido
ecológicamente dinámico y históricamente elaborado y vivido por la
gente que lo habita (o habitará). En general, las personas consideradas
por sus distintas posibilidades sociales y económicas, se relacionan con las
condiciones de habitación y de vida en el lugar, con lo cual se identifican,
del cual se apropian y en el cual se enraízan. Se insiste que ésta es la esencia
del lugar, la clave para comprensión de su identidad. En la perspectiva de
lo cotidiano, a la medida que el objetivo más importante es la conquista del
bienestar, dimensionar el lugar solamente tiene algún sentido si es hecho
en función de la amplitud y contigüidad espaciales de los intereses, de los
problemas de la comunidad y de los recursos existentes.
La significación de la escala se asienta en su carácter cualitativo y
no solamente cuantitativo. Distintas escalas no corresponden solamente
a diferencias cuantitativas”, sino igualmente a diferencias cualitativas”.
Fundamental es concienciarse de las limitaciones y posibilidades que se
presentan al análisis a través de la escala (LACOSTE, 1988, p. 74-90). La
realidad no será la misma si se cambia la escala, lo que es debido al hecho
de ser una realidad multidimensional y multiescalar. Dicho de otra manera,
ningún fenómeno sigue siendo el mismo en las distintas escalas en las que
sea observado. La seriedad de la cuestión de la escala está necesariamente
373
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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en las distorsiones posibles (y las ocultaciones”) que ella puede producir
en la observación de la realidad. La elección de la escala es, por lo tanto,
dependiente del problema o de la acción que se intenta practicar. Se debe
observar que el número de variantes se eleva en la medida que el tamaño
del espacio se reduce. Como dice Santos, “Cuanto más pequeño el lugar
examinado, más grande es el número de niveles y determinaciones externas
que lo afectan, lo que explica la complejidad del estudio de lo más pequeño
(1988, p. 3)
Aunque el desarrollo local sea referente a la micro escala, se entiende
aquí, en conformidad con Souza (1996, p. 16), que es necesario adoptar
una especie de raciocinio multiescalar” para mejor percibir y alcanzar
mayor capacidad de clarificación de la magnitud de los fenómenos. En
lo cotidiano, la segregación socioespacial es un movimiento forzado
de familias pobres para las áreas urbanas periféricas, poco valorizadas y
ecológicamente frágiles. En esta escala, el problema de la segregación no
es solamente de carácter socioeconómico o político, sino esencialmente
ecológico. En la meso o macro escalas (niveles regionales y nacionales, por
ejemplo), no se puede percibir la segregación. La opción por lo cotidiano
como categoría fundamental para la comprensión de la realidad local no
es únicamente una cuestión de escala, sino de reconocimiento de que
solamente a través de esta dimensión es posible aprehender el sufrimiento,
las angustias, frustraciones y expectativas de la gente.
Sin embargo, lo cotidiano es una categoría analítica integradora,
socioespacial y potencialmente reveladora de la naturaleza sistémica de
la existencia humana. En esta dimensión, especialmente, la capacidad de
aprender y sobrepasar los problemas es desarrollada, construyéndose a
partir de los medios y condiciones disponibles a la búsqueda de soluciones.
Si, por una parte, la promoción de la ciudadanía es un vector básico del
desarrollo local, por otra parte, este esfuerzo ha sido ineficaz, quizás por
carecer de una visión más pragmática y de una praxis establecida en el
cotidiano.
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
374 |
3. Territorio, ciudadanía y participación activa de la gente
La cara humana del desarrollo está básicamente en la valorización
de las personas en su plenitud (TORRAS, 1995). Volverse hacia la gente y
no los objetos es el principio básico del desarrollo a escala humana (MAX-
NEEF et al, 1986; ELIZALDE, 2000). Todavía, tener en cuenta a la gente
y proponer mejorías en sus condiciones materiales de vida no es suficiente
para asegurar la continuidad del proceso de desarrollo. La diferencia del
desarrollo local no se encuentra en sus objetivos, sino en sus principios,
especialmente en la postura que promueve la participación activa de las
personas y no solamente les asegura los beneficios del desarrollo. Sin
embargo, el verdadero desarrollo local debe romper con cualquier tipo de
asistencialismo.
El desarrollo local, por lo tanto, es básicamente un proceso de la
expansión de la capacidad individual o colectiva de cooperar en favor de
la realización material e inmaterial. Tratando precisamente de la expansión
de capacidades, Sen (1993; 2000) evidencia los equívocos de los modelos
del desarrollo que utilizan el aumento de la renta como criterio de éxito,
y clarifica que el problema no está en la busca de prosperidad económica,
sino en considerar el progreso material como objetivo más importante de
la vida humana.
Como ya fue observado, la discusión alrededor del concepto del
desarrollo incorpora los aspectos básicos de la transición de paradigmas,
que implica la superación de la concepción cartesiano-mecanicista por
la ecológico-humanista de la realidad. Para Capra (1982, p. 14), una
comprensión apropiadadel mundo actual, de sus problemas, no puede
ser dado sin una “... nueva visión de la realidad, un cambio fundamental
en nuestros pensamientos, percepciones y valores.
En la esencia del desarrollo local, la participación popular es la
fuerza motriz necesaria a su implantación y continuidad. Actualmente,
375
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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la participación es cada vez considerada más imprescindible en los
planeamientos y ejecución de políticas públicas. Aunque, en muchos
casos, la participación popular sea un factor de legitimación de las acciones
y decisiones de los gobiernos, lo que se observa es la exigencia cada vez más
grande de medios que viabilicen el diálogo con la sociedad civil. Por otra
parte, la participación popular ha sido indispensable en los proyectos que
buscan apoyo financiero de organismos internacionales.
En la perspectiva del desarrollo local, objetivase la conquista de la
participación activa, que no está limitada a presencias esporádicas, eventuales
y sin compromiso. La participación popular activa equivale a la ciudadanía
real y pode definirse esencialmente como la capacidad de comprensión y
transformación de la realidad en favor de intereses individuales y colectivos.
La ciudadanía es mucho más que derechos y deberes previstos en leyes. Si
la ciudadanía es considerada sin relación con las condiciones reales del
ciudadano de ejercerla, ella no pasa de ficción. Para ser real, verdadera,
la ciudadanía debe ser social, económica y territorialmente conquistada
(DEMO, 1988; SANTOS, 1996b). Tan importante cuanto la persona
tener derechos y deberes constitucionales, es ella tener condiciones para
ejercerlos completamente, lo que implica calidad de vida y libertad.
Así, es indispensable visualizar la participación como resultado del
proceso de construcción social, sujeta a factores históricos, culturales y
espaciales. En este sentido, la participación parece mantener una relación
directa con la capacidad individual o colectiva de interaccionar, cooperar,
asociarse y confiar, es decir, con el capital social. Sin duda, el capital social
evidencia la dimensión cultural y no solamente sociológica y espacial del
desarrollo (KLIKSBERG, 1999).
Se entiende que la participación activa requiere esfuerzo personal en
el aprendizaje de las reglas y los medios de hacerse escuchar, comprender
y atender. La evaluación hecha por Fernández (1995) de los grupos
locales de la iniciativa comunitaria Leader 1, en España, cuyos resultados
indican una participación escasa de la población local, hace acreditar que
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
376 |
la participación activa de la gente es el desafío más grande de cualquier
estrategia del desarrollo local.
Un obstáculo verdadero a la conquista de la participación popular
activa ha sido la disponibilidad y la disposición pequeña (o nula) de la
gente en formar parte de acciones colectivas y donar una parte de su tiempo
o abdicar, aunque fuese mínimamente, de sus intereses individuales o
grupales (de grupos pequeños, como la familia). Sin embargo, la disposición
individual para participar activamente, cooperar, responsabilizarse y
compartir los beneficios y problemas del desarrollo son indispensables para
las acciones colectivas.
4. La experiencia de desarrollo local
en Dois Irmãos do Buriti
Al exhibir aquí la experiencia de Dois Irmãos de Buriti, el objetivo
es analizarla con los presupuestos teóricos discutidos en este trabajo, no
para llegar a una conclusión a partir de criterios de éxito o fracaso, sino
para ofrecer una evaluación critica del proceso participativo.
4.1. Dois Irmãos do Buriti: el lugar y la gente
Dois Irmãos do Buriti está situado en la porción central de la
provincia brasileña de Mato Grosso do Sul, distante 120 kilómetros de
la capital, Campo Grande (figura 1). Tiene origen como colonia agrícola
establecida por inmigrantes japoneses, en 1959. Su área de 2.351 km²
está ocupada por un distrito (Palmas), tres asentamientos rurales (Marcos
Freire, Pablo Freire y Santa Amélia), tres aldeas indígenas Terena (Aldea
Buriti, Aldea Agua Azul y Aldea Recanto), dos pueblos rurales (Pueblo
de Arrozal y Pueblo de Oro Verde) y la sede de la municipalidad, donde
ocurre la única situación de residencia urbana propiamente. Tal división
expresa las distintas comunidades, algunas en proceso de formación, como
377
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
en el caso de los asentamientos. En el proceso de formación y organización
del Consejo Municipal de Desarrollo Rural (CMDR) y del Foro de
Desarrollo Local, la integración de las comunidades, con el objetivo de
romper las posturas sectarias y solamente reivindicativas, ha sido el desafío
más grande, aunque muchas de las demandas de los distintos grupos son
similares y hasta idénticas.
El territorio municipal se encuentra en la bacía hidrográfica del río
Paraguay y las aguas son drenadas principalmente por los ríos Dois Irmãos
y Aquidauana. El relieve no presenta variación altimétrica significativa,
pero merece destacarse la localmente conocida “Sierra de Aquidauana”, en
verdad una formación escarpada que se impone en el paisaje, una formación
de cuestas de gran belleza escénica. La vegetación natural más observada
es el cerrado (savana), pero en el paisaje local, ampliamente desmatada, los
pastos predominan.
En la área urbana de Dois Irmãos de Buriti reside la mayoría de
la población del municipio, cerca de 10.000 habitantes. Su evolución
demográfica en la década pasada ha revelado dos tendencias tímidas: el
crecimiento reducido de la población y la urbanización. De 1991 a 2000,
de acuerdo con el Instituto Brasileño de Geografía y Estadística (IBGE), la
población tuve el incremento de 574 habitantes, lo que corresponde a un
crecimiento anual alrededor de 1,0%.
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
378 |
Figura 1 – Localización de Dois Irmãos do Buriti, Mato Grosso do Sul,
Brasil.
La economía local está básicamente formada por las actividades
agropecuarias que son responsables por cerca de 45% de la recaudación
municipal de ICMS (Impuesto sobre la Circulación de Mercaderías y
Servicios). Además de predominante en el paisaje, el ganado de corte se
encuentra en grandes haciendas. En efecto, la realidad agraria de Dois
Irmãos do Buriti, como en la parte más grande de la provincia de Mato
Grosso do Sul, está marcada por una fuerte concentración de las tierras.
Así las propiedades con 1000 ha o más representan 9.5% del número de
establecimientos agrícolas y 67.5% de el área ocupada.
Dois Irmãos do Buriti es una municipalidad rural, donde
predominan el paisaje y el aroma de la granja. Aún en el la pequeña área
urbana, la ruralidad es significativa, lo que se observa en el comercio de
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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productos agropecuarios o dirigido a la atención de los negocios rurales. El
aspecto pobre del lugar es una evidencia genérica, que pone en contraste la
abundancia en el campo. Con el IDH en 0.686, la ciudad hace frente a las
limitaciones socioeconómicas e infraestructurales. Un hecho común en las
comunidades es la ociosidad de buena parte del potencial de trabajo de los
jóvenes que son forzados a migrar en búsqueda de trabajo o continuación
de los estudios.
La búsqueda local más importante del momento es por la generación
de renta y trabajo, por la diversificación de las actividades productivas.
Pero el desafío percibido es bien más grande que esto, cuando se entiende
cada vez más que la solución no puede venir del exterior, de fuera, como
una receta preparada previamente. La constitución reciente del Foro de
Desarrollo Local ha revelado la necesidad urgente de movilizar y organizar
las comunidades contra la pasividad, el individualismo y el utilitarismo en
beneficio del colectivo.
4.2. De la sensibilización a la creación
del Foro de Desarrollo Local
La creación de un órgano articulador y deliberativo, constituido de
representantes de los varios segmentos sociales, es un paso fundamental
de la organización de la sociedad civil para acciones colectivas. Según la
metodología DLIS (Desarrollo Local, Integrado y Sostenible), las ciudades
integrantes de este programa gubernamental (del gobierno federal), la
formación del foro siguió los procedimientos estandardizados y dirigidos
por SEBRAE (Servicio Brasileño de Apoyo a las Micro y Pequeñas
Empresas). En el caso de Dois Irmãos, el principio de este proceso no siguió
la metodología DLIS, sino del programa de posgrado en el Desarrollo
Local de la Universidad Católica Don Bosco. Aunque los objetivos fuesen
prácticamente los mismos, la distinción metodológica más significativa
entre las dos metodologías era a respecto de la postura referente a la
comunidad. Las acciones del programa de posgrado eran dirigidas a la
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
380 |
motivación y cooperación, pautadas en el principio de la endogeneização
(o tornar algo endógeno), que propone romper con todas las modalidades
del asistencialismo y clientelismo político.
La sensibilización, realizada a través de reuniones con los
representantes y los miembros de las comunidades, tuvo el propósito de
clarificar los principios y las bases del desarrollo local, como también de
motivar a la gente para las acciones colectivas. El esfuerzo más grande
fue dirigido, sobretodo, en el sentido de confrontar las posturas sectarias
y utilitaristas y defender la necesidad de cooperar y dialogar sobre las
diferencias. En general, las reuniones fueron realizadas con la presencia de
pocas personas, casi las mismas, no obstante el esfuerzo en las invocaciones
y las invitaciones a la población.
Con el objetivo a realizar un diagnostico participativo, elaborar
el plan y la agenda de desarrollo local, así como coordinar la ejecución
de ambos, el Foro de DLIS de Dois Irmãos de Buriti fue integrado por
22 miembros activos, representantes de los varios segmentos sociales y
comunidades locales relacionados para seguir:
• 1 representante del alcalde (agente municipal de desarrollo local);
• 2 representantes de Palmeiras (Distrito)
• 1 representante de la Asociación de Jóvenes
• 2 representantes del sindicato de los maestros
• 1 representante de los evangélicos
• 2 representantes del servicio pastoral de los niños
1 representante del programa bolsa-escuela (un programa del
gobierno federal de donación de recursos a las familias con niños
en escuelas)
• 1 representante del Consejo Tutelar
• 2 representantes de los Agentes Comunitarios de Salude
• 2 representantes de la Vigilancia Sanitaria
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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• 2 representantes del Conjunto Habitacional Jandira Moura
• 2 representantes de la escuela de la provincia
• 2 representantes de la escuela municipal
• 1 representante de la comunidad Oro Verde
Hay en esta composición una presencia fuerte del grupo del sector
educativo, lo que se traduce en la participación de 8 maestros. De cierta
manera, el Foro contiene en su composición las características del proceso
que lo creó, o sea, las personas que lo integran son en general las que
habían participado más de las reuniones o, como parece en el caso de los
maestros, las que tenían poca dificultad para entender la terminología y los
procedimientos que implica el Foro. Aunque no exclusivamente, el Foro
de Dois Irmãos ha reproducido una distorsión importante: el predominio
de las representaciones de segmentos sociales y sectores económicos sobre
las representaciones comunitarias. Además de requerir un número más
grande de representantes, tal composición sectorizada hace más difícil la
formación de una conciencia de la totalidad y percepción de la interrelación
y interdependencia.
En la elaboración del plan de desarrollo local, el Foro de DLIS
buscó oír la gente que representa, pero tuvo mucha dificultad para
movilizar y comprometer a sus propios miembros. Se verifica que la
urgencia de sus tareas no confiere ritmo al proceso, sobretodo porque los
resultados dependen de la participación popular, de la motivación y del
envolvimiento de las comunidades. Tratándose de la participación popular
en la perspectiva del desarrollo local, la preferencia por (o valorización
de) la cantidad, como factor de legitimización, en efecto, no satisface la
necesidad de confrontar una cultura política marcada por el paternalismo
asistencialista de los gobiernos, que suscita y mantiene la pasividad política
de la gente.
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
382 |
4.3. La participación popular en el ámbito
del Foro de Desarrollo Local
El Foro de Desarrollo Local, como instrumento de gestión
participativa, constituye un órgano imprescindible para la impulsión y
articulación del poder público local y demás segmentos sociales, instituciones
aliadas y comunidades existentes en la ciudad; también constituye el
espacio del ejercicio democrático y llano privilegiado de observación y
conocimiento de los problemas y las potencialidades locales.
Las reuniones del Foro ocurrieron siempre en la sede urbana del
municipio, donde la mayoría de los miembros habitaban y había mejor
infraestructura. La presencia de los miembros que habitaban en los otros
espacios estaba garantizado con el pago de los costos de transporte por la
alcaldía. Como se observa en las actas, la presencia media de los miembros
en las reuniones del Foro (participación presencial) ha sido del 40 al 60%.
De hecho, la distancia representa un onus más grande para participación
de los miembros residentes en la área rural, incluyendo los representantes
indígenas. Estos, que presenciaron el inicio, pronto dejaron de participar
de las reuniones. De acuerdo con la coordinación del Foro, los indios
solamente comparecían a los eventos más importantes y solamente cuando
el pago de los gastos estaba garantizado. Este comportamiento político,
quizás asociado al descrédito en lo gobierno local, muy presente en las
acciones del Foro, continúa mereciendo un análisis refinado.
Fue observado que la distancia y las condiciones del acceso
no constituyen impedimento a la participación, aunque pesan en las
motivaciones individuales. De modo general, en Dois Irmãos do Buriti,
las comunidades no están muy distantes de las jefaturas, ni el acceso es
dificultoso en los caminos no pavimentados, excepto durante los períodos
más lluviosos (cuadro 1).
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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COMUNIDADES DISTANCIA DEL SITIO URBANO (Km)
Distrito de Palmeiras 40
Arrozal 25
Oro Verde 11
Asentamiento Marcos Freire 30
Asentamiento Santa Amélia 06
Asentamiento Paulo Freire 04
Aldea Buriti 33
Aldea Água Azul 35
Aldea Recanto 37
Cuadro 1 – Distancia de las comunidades y localidades existentes de la
área urbana en Dois Irmãos do Buriti/ Mato Grosso do Sul, Brasil.
Todavía fue verificado que la distancia más grande no solamente
representa mayor dificultad relativa para la presencia en las reuniones,
como también, cuando sobrepasada, se vuelve factor de motivación,
asociándose a un perfil más crítico y comprometido con la colectividad
representada. Está claro que la participación es una práctica sociopolítica
que se realiza territorialmente y constituye el cerne de la ciudadanía
(SANTOS, 1996b).
Sea por el contenido de las actas, sea por la observación simple de
las reuniones, la participación en el ámbito del Foro de DLIS de Dois
Irmãos do Buriti fue fuertemente reivindicativa, es decir, pautada en la
afirmación de necesidades y indicaciones de carencias. Las demandas eran
siempre dirigidas al gobierno y con frecuencia eran referentes a promesas
de campañas electorales. Es necesario considerar que la mayor parte de las
demandas expresaba carencias reales y urgentes de las comunidades o de los
segmentos y sectores organizados. Todavía, si está dirigida solamente para las
demandas, la participación tiende a agotarse en las necesidades y cobranzas,
además de consolidar posiciones corporativas y poco conciliatorias con
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
384 |
un ambiente cooperativo. Realizar esto requiere mirar la participación
como proceso verdadero de construcción social, de organización socio
comunitaria (ROZAS, 1998). En todo caso, la disposición (individual o
colectiva) de reivindicar es energía social y política que puede (y debe) ser
canalizada contra la pasividad de los “que esperan solamente para suceder”
y se han acostumbrado a hacer responsable el gobierno por todo.
Retomase en este punto el comentario hecho sobre la composición
del Foro, en el cuál se señaló el predominio de las representaciones
sectoriales sobre las comunitarias. Tal estructura es típica de consejos en
una democracia representativa. En la perspectiva del desarrollo local, sin
embargo, tal estructura desfavorece las acciones integradas en la búsqueda
de soluciones para problemas comunes, además de presentar limitaciones
en la propia representatividad. La verdad es que la participación no se
puede delegar, sino solamente la presencia.
En la determinación de lo qué realmente lleva la gente a participar
(no para atender solamente a las convocatorias, sino verdaderamente
comprometerse con el proceso), resaltan el interés, la satisfacción y
el optimismo, lo que es un proceso intrínsecamente racional. En esta
racionalidad juegan el entendimiento y percepción de la gente referente a
lo que acontece a su alrededor. De hecho, la percepción es un fenómeno
racional e intuitivo, sensorial y fundamentalmente cultural, que expresa
la manera como comprendemos la realidad y como en ella estamos
insertos. Así, débese considerar que el envolvimiento efectivo pasa por esta
racionalidad acostumbrada al inmediatismo y al utilitarismo. Es, por lo
tanto, indispensable que la persona tenga en cuenta lo que desea para
y su familia. Esto es el parámetro básico para evaluar las alternativas y
caminos, incluso las condiciones para establecer una relación saludable y
productiva con los agentes externos.
La participación activa en un proyecto colectivo como el desarrollo
local está asociada a la claridad de los resultados positivos (los beneficios
esperados) que sucedieron de la participación. Para comprometerse con
385
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
una acción colectiva, la persona debe convencerse de que sus intereses (en
favor de mismo, de su familia o comunidad) pueden ser mejor o más
rápidamente alcanzados colectivamente que individualmente (OLSON,
1999). Ésta es la racionalidad de cualquier individuo común.
En Brasil, y no solamente en Dois Irmão do Buriti, la participación
popular en la administración pública es, generalmente, escaso. Por varias
razones, la gente no atiende las convocatorias y, tampoco llegan a estar
implicados en las peleas o toma de decisiones. Los que comparten la idea
de que la gente es desinteresada o acomodada no son pocos. Hay los que
consideran (estos también no son pocos) que los individuos, especialmente
la gente más simple, es incapaz de comprender los problemas y de contribuir
a la búsqueda de soluciones. Los primeros pecan por generalización,
reduccionismo y superficialidad. Los segundos, por tecnicismo y la postura
egocéntrica. Ambos casos no se confirman en la realidad de Dois Irmãos do
Buriti, pero están muy lejos de constituir ejemplos solamente de ignorancia
o entendimientos desinteresados. La construcción de una conciencia social
proactiva requiere una formación educativa que desarrolle en la gente la
capacidad de observar, entender y interaccionar en la realidad a su alrededor
VILA, 2000). Sin embargo, la participación depende menos del grado
de instrucción o información que la capacidad de racionalizar sacrificios y
beneficios en relación a las decisiones e acciones emprendidas en favor de
la satisfacción de sus necesidades.
5. Consideraciones finales
Aunque el desarrollo local sea muchas veces entendido como una
reacción a los efectos de la explotación económica externa, la movilización
y organización de las comunidades formadas o en formación, debe
todavía crear las condiciones para generar competencias para la gestión
de los recursos, establecer cooperaciones internas e externas y promover
la satisfacción prioritaria y sostenible de las demandas y necesidades de
Desarrollo local, cotidiano y participación popular
386 |
producción y consumo locales. Es cada vez más evidente la fuerza que
representa una comunidad organizada y movilizada, sobretodo cuando
está consciente de sus limitaciones, objetivos y posibilidades.
Parece que la redescubierta del territorio muestra la unidad
dialéctica entre la sociedad humana y la naturaleza, y se vincula a la
búsqueda de estrategias para satisfacer sosteniblemente las necesidades
humanas fundamentales. En este sentido, los crecientes desafíos para
satisfacer las necesidades y reducir las desigualdades socioeconómicas han
forzado a los municipios brasileños a buscar alternativas que permitan la
gestión local y la participación activa de la población.
En Dois Irmãos do Buriti el proceso de desarrollo local ha avanzado
poco, pero ha sido importante la participación popular, una mezcla de
participación simbólica, pasiva o presencial con la participación activa de
carácter reivindicativo. La movilización, que siempre exige un gran esfuerzo
de la coordinación del Foro de Desarrollo Local, enfrenta la poca eficacia
de los medios formales de difusión y comunicación, especialmente cuando
dirigidas a la gente más carente y poco escolarizada.
Teniendo en cuenta la realidad local, donde lo cotidiano está
predominantemente marcado por las relaciones sociales primarias (en Dois
Irmãos, casi todos se conocen), la movilización popular puede llevarse a
cabo a través de un proceso de convencimiento personal o familiar y por los
medios de invitaciones tradicionales. Solamente así se puede aprovechar,
valorizar y fortalecer la vecindad y la pertenencia al lugar.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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CAMPO GRANDE NA ROTA
DA “MARCHA PARA OESTE”
Carlos Martins Junior
1
Carlos Alexandre Barros Trubiliano
2
As últimas décadas do século XIX e as primeiras do séc. XX foram
marcadas por esforços, por parte do Estado brasileiro, em definir bem
como nacionalizar as suas fronteiras, integrando regiões limítrofes como
Mato Grosso ao corpo da pátria (MAGNOLI, 1997).
Em trinta e um de dezembro de 1937, durante a saudação de
fim de ano ao povo brasileiro, o presidente Getúlio Vargas anunciou
o programa de colonização denominado “Marcha para Oeste”. Em
mensagem radiofônica transmitida para todo o território nacional, o chefe
de governo conclamava os brasileiros a rumarem para o Oeste em busca
das oportunidades de descoberta de um novo Brasil que, anteriormente
explorado pelos bandeirantes, encontrava-se agora esquecido. Para ele:
O verdadeiro sentido da brasilidade é a Marcha para Oeste. No
século XVIII de jorrou a caudal de ouro que transbordou na
Europa e fez da América o continente das cobiças e tentativas aven-
turosas. E teremos de ir buscar: os vales férteis e vastos, o produto
das culturas variadas e fartas; das estradas de terra, o metal com
que forjara os instrumentos da nossa defesa e de nosso progresso
industrial. (VARGAS
, 1938, p. 124)
Da perspectiva do governo Vargas, um dos caminhos para o progresso
nacional estaria na efetiva ocupação e integração (territorial, racial, moral,
1 P rofessor Titular em Teoria da História do Departamento de História da Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, campus de Aquidauana.
2 Mestre em História pela Universidade Federal da Grande Dourados, professor da rede pública de ensino de Campo
Grande.
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
390 |
cultural e política) das várias regiões do interior do país, bem como na
exploração de suas riquezas. Nas palavras de Alcir Lenharo,
a construção da Marcha atina para a imagem da nação em movi-
mento à procura de si mesma, de sua integração e acabamento. O
movimento é de conquista, de expansão; visa estimular a sensação
de participação de todos na política, na qual, por sinal, os canais
institucionais de participação coletiva se encontram vedados (LE-
NHARO, 1986, p. 15).
Através de uma série de representações, geradas no bojo da campanha
da Marcha para Oeste, surgiu uma imagem homogênea da nação e do Estado
como elemento de superação dos conflitos sociais (GUILLEN, 1991, p.
72-98), permitindo que o Estado Novo falasse pelos outros, ou seja, pelo
conjunto dos brasileiros, de quem precisava interpretar corretamente seu
pensamento e para quem precisava encaminhar diretrizes políticas, que
todos, supostamente, desejam e aprovam” (LENHARO, 1986, p. 53). Foi
nesse contexto que Vargas lançou o lema da campanha: “O verdadeiro
sentido da brasilidade é a Marcha para o Oeste”.
Retomando Alcir Lenharo, a Marcha para Oeste representou um
projeto para fazer frente à crise econômica e política na qual o Brasil estava
envolvido, devido aos efeitos do crack da bolsa de valores de Nova York,
em 1929, os quais percorreram toda a década de 1930, período conhecido
como a Grande Depressão. Contribuindo para tornar mais complexo
e instável o cenário internacional tal conjuntura fez com que crescesse,
perigosamente, o descrédito quanto à possibilidade de políticas de
orientação democrático-liberal em resolver questões como o desemprego e
a falta de moradia (LENHARO, 1986, p. 53).
No plano nacional, a crise que se abateu sobre a produção do café
foi acompanhada pelo êxodo rural, provocando uma pressão populacional
sobre as grandes cidades do país, as quais, sob a perspectiva das autoridades
públicas, não ofereceriam condições de subsistência para os novos
contingentes chegados do campo.
391
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Uma das conseqüências do rápido crescimento populacional dos
centros urbanos do país foi o acúmulo de pessoas sem ocupações fixas
ou mal remuneradas”. Eram ladrões, prostitutas, lavadeiras, capoeiras,
costureiras, dançarinas, malandros, desertores do exército, ciganos,
ambulantes, trapeiros, criados, serventes de repartições públicas, engraxates,
carroceiros, floristas, bicheiros, jogadores, receptadores e pivetes, entre
tantos outros. Classificados pelas autoridades públicas como “indesejáveis”,
tais pessoas, pertencentes às chamadas classes perigosas”, eram as que mais
compareciam nas estatísticas criminais da época, especialmente aquelas
referentes às contravenções do tipo desordem, vadiagem, embriaguez e
jogo.
Transformados nos antípodas do escopo do novo-homem
idealizado pelo Estado Novo, tornava-se necessária a demarcação dos
limites que os separavam do trabalhador ordeiro, forte e saudável, ou seja, o
cidadão-trabalhador”, símbolo do crescimento e do progresso econômico
da nação.
Anote-se ainda, em relação ao impacto do rápido crescimento
populacional sobre as condições de vida, o agravamento quantitativo e
qualitativo, de muitos problemas de habitação e abastecimento de água, de
saneamento e de higiene que, a exemplo do ocorrido no início do século
XX, poderiam agravar os surtos de epidemias (CARVALHO, 1987, p. 18-
19).
Diante dessa gama de problemas, iniciou-se, por parte do Estado,
uma política de colonização centralizada e nacionalista, marcada pela
conquista e ocupação dos ‘espaços vazios’ ou sertõesdo interior do país
e sua definitiva integração espacial ao restante da nação.
Vale destacar que, para os ideólogos da Marcha para Oeste, os
sertões” do interior do Brasil eram apontados como espaços vazios
porque careciam da proteção e das vistas dos governos, dos meios de
comunicação e do elemento homem para povoamento conveniente do
solo e cultura dos seus campos” (SILVA, 2003, p. 183).
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
392 |
Dessa forma, sua efetiva integração ao corpo da nação ocorreria,
inicialmente, com o provimento de estradas e caminhos”, após o
que passaria a zona a receber os demais benefícios”, como a vinda do
“homem do Nordeste e do europeu, a quem necessariamente se dariam
os elementos de primeira instalação e terras para o trabalho”. Para tanto,
era imprescindível que não se mantivessem, sobretudo na fronteira, os
latifúndios que prejudicavam o povoamento do solo(SILVA, 2003, p.
191).
Assim, a partir de 1938, regiões do Brasil Central, e mais
especificamente o Mato Grosso, tornaram-se objeto das atenções estatais.
Referindo-se a elas como espaços vazios”, a propaganda da “Marcha
ocultava que a área estava ocupada por complexas relações de poder
(LENHARO, 1985, p. 60).
Noutros termos, contrastando com a imagem propagada de vazio
populacional, o território mato-grossense – em especial as terras da região
sul do estado estava ocupado por grandes propriedades de companhias
agropecuárias estrangeiras, como e Miranda Estância Company Limited,
detentora de 219.506 hectares, ou a Brazil Land Cattle & Packing Company,
empresa franco-britânica que possuía fazendas de gado no sul do Pantanal
(BENEVIDES e LEONZO, 1999, p. 8). Socialmente, a região comportava
várias etnias indígenas, migrantes, camponeses e sertanejos, os quais, em
sua maioria, constituíam um grande contingente de trabalhadores sem-
terra
3
.
Como mencionado, na retórica dos ideólogos da Marcha para Oeste
tornava-se necessário desarticular o latifúndio na região sul de Mato Grosso,
uma vez que este era tido como fator que emperrava o desenvolvimento
3 Para uma visão de quem era essa gente do sertão”, consultar: SEREJO, H. Ciclo da erva-mate em Mato Grosso do
Sul – 1883/1947. Campo Grande: Instituto Euvaldo Lodi, 1986; SODRÉ, N. W. Oeste: ensaio sobre a grande pro-
priedade pastoril. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1941; ARRUDA, G. Frutos da terra. Os trabalhadores da
Companhia Matte Larangeira. Londrina: Editora UEL, 1997.
393
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
da agricultura, ao mesmo tempo em que impedia a extensão ao campo das
conquistas sociais alcançadas nas cidades (BENEVIDES e LEONZO,
1999, p. 8).
Nessa medida, a ocupação deveria ser ancorada na pequena
propriedade e no corporativismo agrícola, a exemplo do que ocorreria na
Colônia Agrícola Nacional de Dourados (CAND), criada em 1943, para a
qual se dirigiram migrantes de inúmeras partes do país.
Com efeito, atraídos pelos baixos preços das terras, pelo incremento
da agricultura e das atividades comerciais a ela vinculadas, migrantes
paulistas, catarinenses, nordestinos, paranaenses e sobretudo gaúchos
(GRESSLER e SWENSSON, 1994, p. 105), promoveriam uma lenta
modificação estrutural no estado de Mato Grosso, em geral, e na região
sul, em particular.
Além de contribuírem para a composição do contingente
populacional, e de introduzirem na região novos elementos culturais e
sociais (cosmovisões, hábitos e costumes, além de novas relações, normas
de conduta e de integração com o meio), esses novos agentes pressionaram
reformulações na esfera política, que se refletiam na maior presença do
poder federal na região.
No que se refere ao processo de provimento de estradas e caminhos”,
considerado elemento fundamental para a efetiva integração da região ao
corpo da nação, em 1938 o governo federal retomou as obras da Estrada
de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), dando início à construção de seu
prolongamento até Corumbá e de um ramal dirigido a Ponta Porã, nas
fronteiras com as Repúblicas da Bolívia e do Paraguai, respectivamente
(QUEIROZ, 1997).
Tais medidas representavam simultaneamente ações de caráter
estratégico e ideológico. Estratégico porque, desde o início da República, as
ferrovias enquanto empresas foram significativas no jogo político, fazendo
parte de compromissos e alianças oligárquicas. Por outro lado, diante da
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
394 |
polarização ideológica e do aumento da demanda de segmentos sociais
urbanos divergentes, os quais desembocaram nos movimentos tenentistas
da década de 1920 e nos chamados movimentos revolucionários da década
de 1930, tais empresas assumiriam caráter político-estratégico vinculado à
idéia de Segurança Nacional.
Explicitamente, num país marcado pela grande diversidade social
e que, apesar das enormes dimensões geográficas, ainda apresentava
deficiências de vias de comunicação, as ferrovias assumiram o caráter
estratégico de levar a presença física do Estado às regiões mais remotas do
interior (POSSAS, 2002, p. 39).
O caráter ideológico se deu na medida em que a ferrovia
consolidada institucionalmente a partir da segunda metade do século
XIX no bojo do movimento de idéias que fomentava a crença de que a
técnica, materializada nas máquinas, pudesse construir um novo mundo
foi defendida também como uma das exigências primordiais frente à
Revolução Técnica e Científica. Agora, transmutada em “monumento
móvel”, sendo portadora de uma sólida dimensão cultural entranhada nas
relações sociais que construiu.
A respeito do efeito mágico da ferrovia no imaginário popular
durante o século XIX, destacou E. J. Hobsbawm:
Nenhuma outra inovação da revolução industrial incendiou tanto
a imaginação quanto a ferrovia, como testemunha o fato de ter
sido o único produto da industrialização do século XIX totalmente
absorvido pela imagística da poesia erudita e popular. Mal tinham
as ferrovias provado ser tecnicamente viáveis e lucrativas na Ingla-
terra (por volta de 1825-1830) e planos para a sua construção
eram feitos na maioria dos países do mundo ocidental, embora
sua execução fosse geralmente retardada. (...) Indubitavelmente,
a razão é que nenhuma outra invenção revelava para o leigo de
forma tão cabal o poder e a velocidade da nova era; (...) (Veloci-
dades de até 60 milhas-96 quilômetros- por hora, por exemplo,
eram perfeitamente praticáveis na década de 1830, e não foram
substancialmente melhoradas pelas posteriores ferrovias a vapor.) A
395
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Estrada de Ferro, arrastando sua enorme serpente emplumada de
fumaça, à velocidade do vento, através de países e continentes, com
suas obras de engenharia, estações e pontes formando um conjun-
to de construções que fazia as pirâmides do Egito e os aquedutos
romanos e até mesmo a Grande Muralha da China empalidecer de
provincianismo, era o próprio símbolo do triunfo do homem pela
tecnologia (1982, p. 61).
Frente ao exposto, a referida ampliação do ramal ferroviário da
NOB pode ser associada à idéia de modernidade que, paulatinamente,
tomava conta do cotidiano e do imaginário coletivo das pessoas no sul de
Mato Grosso. Apesar de todas as contradições e conflitos sociais que gerou,
tanto pelas novas formas de dominação e exclusão quanto pela repressão
que proporcionou, o apito do trem trazia a reconfortante sensação para as
pessoas - por mais distantes que estivessem - de estarem ligadas ao mundo,
de serem civilizadas, de serem contemporâneas” (ARRUDA, 1995, p. 38-
39).
Portanto, a conclusão e ampliação da estrada de ferro foram
implementos significativos à consolidação do projeto colonizador do
Estado Novo em Mato Grosso, uma vez que ela teve por objetivo desbravar
a sua porção sul e abrir novas possibilidades de contatos e comunicações
com outros Estados, bem como com as repúblicas vizinhas, além de
proporcionar um maior controle da região. Tais benefícios, propagados
por Vargas, vinculavam-se a questões de estratégia políticas e econômicas,
bem como de ocupação e de nacionalização das fronteiras. Dessa forma, a
NOB foi um dos meios que possibilitaram entrelaçar as fronteiras políticas
às fronteiras econômicas (OLIVEIRA, 2002, p. 22).
De fato, a construção da Ferrovia Noroeste do Brasil pode ser
destacada como fator decisivo da consolidação econômica e demográfica
do sul de Mato Grosso. Articulando essa região com São Paulo, a NOB
impulsionou fortemente o fluxo migratório, permitindo a implantação de
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
396 |
um importante pólo agropecuário e de industrialização de seus derivados,
assim como o surgimento de vários municípios ao longo de seu traçado
e o aumento gradativo da importância econômica de Campo Grande,
tendo como impactos mais visíveis desse processo de transformações a
consolidação desta cidade como área de atração de investimentos e de
contingentes populacionais provenientes das mais diversas regiões do
Brasil, bem como de países vizinhos.
Hoje, capital do Estado de Mato Grosso do Sul, com cerca de 800
mil habitantes, Campo Grande tem suas origens remetidas ao ano de
1872 quando, vindo de Minas Gerais, José Antônio Pereira e sua comitiva
acamparam em terras da região central do planalto da Serra de Maracaju,
mais precisamente na confluência dos atuais córregos Prosa e Segredo.
4
Nascido como pouso de boiadeiros, o Arraial de Santo Antonio de
Campo Grande, fundado em 1872, cresceu rapidamente. Em 1889, a Lei
Estadual 792 transformou o lugarejo no Distrito de Paz de Campo
Grande, pertencente à Comarca de Nioaque. Emancipando de Nioaque,
em 26 de agosto de 1899 foi elevado à categoria de cidade pela Lei n
o
772,
de 16 de julho de 1918
(Campo Grande: 100 anos de construção, 1999,
p. 274).
Com cerca de 2.000 habitantes e aproximadamente 200 casas no
início do século XX, em 1912 o novo município já somava “5.000 almas
(Álbum Gráfico de Mato Grosso, 1914, p. 412). Em 1920 essa população
subiu para 21.000 habitantes, saltando para 40.000 habitantes em 1933
(Folha da Serra, 1933) e para 49.629 sete anos mais tarde (IBGE, 1996).
Entre 1920 e 1940 a população da zona urbana cresceu de 6.000 para
24.479 habitantes, praticamente igualando à população rural (IBGE,
1996).
4 Durante a guerra com o Paraguai ficou conhecida como campo grande a encruzilhada do Nioaque, na região cen-
tral do planalto da Serra de Maracaju, onde hoje se localiza o distrito de Indubrasil. Ver a respeito em: OLIVEIRA
NETO, Antonio Firmino de. Ruas e calçadas de Campo Grande – MS: uma contribuição ao estudo dos espaços públi-
cos urbanos. São Paulo, 1997. Dissertação (Mestrado em Geografia), Universidade de São Paulo, 1997, p. 18.
397
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
Entre os fatores capazes de explicar esse rápido crescimento
populacional, pode ser arrolada a intensa migração decorrente da chegada,
em maio de 1914, dos trilhos da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil,
que facilitou a vinda de um grande contingente de migrantes do Sul e do
Sudeste; de imigrantes japoneses, alemães, russos e búlgaros, os quais se
instalaram em terras do atual município de Terenos, passando a constituir
importante pólo de desenvolvimento agrícola (Campo Grande: 100 anos
de construção, 1999, p. 278).
Por outro lado, atrelando o município aos pólos mais dinâmicos do
capitalismo do Sudeste, a Noroeste do Brasil também teria contribuído
com a transferência do foco comercial de Corumbá para Campo Grande,
atraindo para essa cidade as comunidades libanesa, síria, armênia e turca,
que se destacariam na ampliação do comércio local (MACHADO, 1991,
p. 106).
Na medida em que Campo Grande configurava-se como um novo
cenário urbano, havia no imaginário de suas elites o perigo da “invasão”,
circulação e misturados antigos habitantes da cidade com a nova leva
de migrantes de toda casta(O Estado de Mato Grosso, 01 jun.1914, p.
1), que acompanhariam a chegada do progresso trazido pelos trilhos de
ferro, ou seja, estranhosque, devido às suas origens, poderiam significar
um verdadeiro flagelo para a sociedade [e] a tranqüilidade pública. Em
razão disso, desde o início do século XX as elites locais passaram a elaborar
mecanismos voltados para o ordenamento e o controle do espaço da cidade
e sua população.
Nos 12 capítulos e 54 artigos presentes no primeiro Código de
Posturas da Vila de Santo Antonio de Campo Grande, aprovado em 1905,
nota-se que as idéias de higienização urbana vinham acompanhadas de
uma concepção política, de divisão social e fiscalização sobre os membros
das camadas subalternas da sociedade, considerados perigosos.
É imprescindível ressaltar que a ordenação do espaço, neste contexto,
tem para com a formação do homem uma relação de simbiose, em que
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
398 |
homem e espaço físico se influenciam mutuamente. Portanto, ordenar o
espaço tem um aspecto político muito mais relevante do que propriamente
geográfico. Essa ordenação é de cunho pedagógico que, dentre outros
intuitos, visa ensinar o homem a se comportar na nova sociedade, que
estava se constituindo em sintonia com o ideário republicano.
Exemplo nesse sentido reside no fato de que, além de regulamentarem
a “economia e o asseio dos açougues”, de modo a evitar que o mau cheiro
e os miasmas contaminassem o ar da cidade contribuindo assim para
a disseminação de doenças as autoridades públicas não deixavam de
manifestar o temor pela concentração de pessoas nas tavernas, pelo risco
de propagação de doenças e de “idéias indesejáveis”, proibindo, em razão
disso, consentir-se, nas tavernas ou casas de bebidas, ajuntamento de
pessoas que não estejam comprandoe também conservar-se abertas as
casas de negócio depois do toque de silêncio” (ARRUDA, 1995, p. 42).
Paralelamente, no anseio de incorporar Campo Grande ao mundo
moderno, suas elites procuraram remodelar a cidade, através da introdução
na tradicional paisagem de povoado de uma rua de elementos
urbanísticos convencionalmente chamados, na época, de operações de
embelezamento e saneamento, os quais, utilizados pelas maiores cidades
do mundo, formulavam outras relações no espaço urbano pela criação de
uma nova simbologia.
Em 1909, chegou à cidade o engenheiro Nilo Javari Barém com
o intuito de elaborar uma planta de Campo Grande, de acordo com os
interesses da ferrovia - um dos símbolos maiores da modernidade à época.
Conforme o seu projeto, as ruas foram traçadas em direção aos pontos
cardeais e ortogonais entre si, ficando as quadras em formato de xadrez.
O objetivo era colocar a cidade no universo da vida civilizada,
que contivesse elementos da racionalidade urbanística, materializada na
construção de ruas largas e de uma ampla avenida central ajardinada,
pressupondo o sentido do fluxo intenso, bem como na edificação de
399
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
|
uma praça central que se apresentaria como núcleo da vida em sociedade
(GARDIN, 1997, p. 37-38).
Com base nesses pressupostos urbanísticos, o novo Código
de Posturas, lançado em 1921, teve como principais preocupações o
arruamento, a delimitação dos terrenos e o tipo das construções do centro
da cidade. Caberia a Arlindo de Andrade Gomes, como Intendente da
cidade a partir de 1921, não somente o papel de decorá-la(conforme
Paulo Coelho Machado, foi ele quem arborizou as ruas e cuidou das
praças e jardins e também de seu arruamento”. MACHADO, 1988,
p. 47), mas de reformá-la, uma vez que as construções de taipa na área
urbana central foram demolidas, cumprindo as condições de salubridade
e de higiene impostas pelo Código de Posturas de 1921, que obrigava a
demolição de imóveis de taipa e sua substituição por outro de alvenaria de
tijolos (ARRUDA, 2003).
Como observou Gilmar Arruda, “a urbanização, ou melhor, o
arruamento como foi chamado em Campo Grande, significava delimitar
espaços de circulação e moradia entre os habitantes” (ARRUDA, 1995, p.
43). Ainda para esse autor, a lógica que presidiria as diversas regulamentações
de “higienização” e ordenamento da cidade
era a de manter os ambientes arejados e iluminados. [...] A inten-
ção era a de construir um novo tipo de moradia para um novo
tipo de morador. As casas de taipa, por exemplo, não poderiam ser
mais reformadas e as fachadas de zinco ou tábua deveriam ser tro-
cadas por tijolos. Os mais atingidos, conseqüentemente seriam os
mais pobres, cujas casas não poderiam seguir as especificações dos
Códigos de Posturas. Mais um resultado do drama do progresso
(ARRUDA, 1995, p. 43).
“Drama do progressoque permaneceria pelas décadas seguintes.
De passagem pelo sul de Mato Grosso em 1939, Rezende Rubim, um
entusiasta do Estado Novo e do programa de colonização varguista Marcha
para Oeste, teceu o seguinte comentário sobre a cidade:
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
400 |
Campo Grande e uma cidade importante, núcleo de conver-
gência de diversos municípios próximos. A cidade é bem traçada
em ruas largas, sendo algumas calçadas em Mac Adam. Possui um
jardim muito gracioso e residências de primeira ordem. Nada fica a
dever às cidades paulistas do ciclo do café. Sendo Campo Grande a
sede da Região Militar e lá estando localizados alguns milheiros de
soldados, o elemento de farda avulta dentro da população civil. [...]
A localização em Campo Grande da Região Militar trouxe grandes
benefícios ao lugar. Derrama-se assim, mensalmente, uma soma
respeitável de dinheiro no comércio local. [...] a cidade possui
elementos bastantes para esperar do futuro uma situação invejá-
vel. As cercanias com todas as fazendas e a localização de algumas
colônias de japoneses têm concorrido para melhorar o padrão de
vida dos habitantes, até bem pouco tempo dependentes do produto
paulista. A região campo-grandense, aliás como toda essa parte do
sul do Estado, é cosmopolita. Quase todo o contingente humano
é nascido em outras plagas. Para tanto, concorre a facilidade de
acesso por intermédio de São Paulo [...]. Além disso, as fronteiras
próximas, principalmente a do Paraguai, contribuem muito para
que o sul do Estado seja, como é, uma região onde o elemento de
fora esteja sempre em maioria (RUBIM, 1939, pp. 126-127).
Das observações de Rezende Rubim emerge um dado novo para a
compreensão do desenvolvimento de Campo Grande: a presença do grande
contingente militar, em razão da localização, na cidade, da 9
o
Região Militar.
5
Se, do ponto de vista econômico, esse dado podia ser considerado positivo,
sob a perspectiva política, embora a presença dos militares fosse valorizada
pelas elites locais como elemento de garantia da ordem e segurança aos
que quisessem investir e se fixar na cidade, o mesmo poderia apresentar -se
como desvantajoso, uma vez que, segundo Rubim, nem todos os chefes
militares têm sabido guardar a posição a cavaleiro das rixas políticas locais,
abrindo espaço para que as forças federais concorressem”.
5 Esse aumento do contingente militar começaria a ocorrer com a chegada e a fixação definitiva na cidade, em 8 de
março de 1914, do 5° Regimento de Artilharia Montada, vindo de Aquidauana. Em 1922, instalou-se a Circunscrição
Militar que se transformaria na 8
a
Região Militar, à qual, a partir de 1932, ficou subordinado o Regimento de
Aviação. Campo Grande - 100 Anos de Construção. Op. cit., p. 390-393.
401
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Para amparar o espírito separatista de alguns políticos sem escrúpulos,
criando destarte sérios embaraços à administração do Estado (RUBIM,
1939, p. 125-126), ressaltou o autor que:
[...] o fato de permanecer em Campo Grande a sede da Região
Militar, faz com que os habitantes de se julguem com direitos
que as outras partes do Estado, no seu entender, não possuem. A
força federal influi em tal estado de coisas à maneira de ação ca-
talítica ou ação de presença, pois nem sempre o elemento militar
participa diretamente para a situação do espírito de regionalismo
dominante no lugar.
Outros dados de transformações em Campo Grande ocorreram
com a chegada da luz elétrica e da rede de água urbana, ambos na década
de 1920, gerando, segundo o arquiteto Ângelo Arruda, mudanças de
hábitos e, portanto, de organização no espaço da casa campo-grandense”
(ARRUDA, 2003). As obras de encanamento tubulado da água começaram
na administração de Arlindo Gomes, sendo concluídas, ao menos no
perímetro urbano de Campo Grande, em 1926, durante o mandato de
Arnaldo Figueiredo. Neste período chegaram à cidade as primeiras torneiras
e registros importados da Inglaterra ou dos Estados Unidos. Deste modo,
segundo Ângelo Arruda (2003):
O layout da casa muda: antes, a latrina era externa (já que a ativida-
de de tomar banho podia ser exercida dentro do quarto, com latões
de água), nos quintais e com a chegada desse serviço muito caro
pela importação do material, forçou que banheiro e cozinha ficas-
sem próximos para economizar na tubulação. Com essa moderni-
dade foi erguida a primeira casa de Campo Grande com banheiro
tubulado e interno: a residência do próprio Intendente da época
das benfeitorias, Arnaldo Figueiredo, projetada pelo engenheiro
Camillo Boni em 1922.
Outra transformação ocorrida em Campo Grande diz respeito
à instalação da Companhia Mato-grossense de Eletricidade (CME), na
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
402 |
década de 1920, substituindo o ciclomóvel
6
- gerador a vapor de potência
desconhecida, que supria as necessidades de energia elétrica no perímetro
urbano de Campo Grande. A CME construiu, em 1924, na região do
Inferninho, próximo à fazenda do Dr. Vespasiano Martins, a Usina do
Ceroula, com turbinas Pelton Voigt/ Siemens e um sistema de “11,4 kV,
com cerca de 15 quilômetros. A transmissão e distribuição era feita a partir
de um prédio em uma empresa à Rua General Rondon, esquina da Avenida
Calógeras, de onde derivavam os alimentadores pioneiros e se situavam as
balanças de série da iluminação pública em 2,2 kV” (Campo Grande: 100
anos de construção, 1999, p. 274).
Com a instalação da usina e a ampliação da potência elétrica, os
habitantes de Campo Grande viram a chegada de novos aparelhos de
caráter doméstico, como a vitrola e os refrigeradores (vale a pena frisar que
houve a possibilidade de uso desses aparelhos e não a sua popularização)
e os de caráter mais público, como o cinema, com tecnologia sonora e
visual, que promoveram enormes transformações sociais e arquitetônicas
na cidade.
Com efeito, por um breve período durante a chamada Revolução
Constitucionalista de 1932, Campo Grande transformou-se em capital do
Mato Grosso Civil, com as forças revolucionárias nomeando o prefeito
Vespasiano Martins, governador do estado. Contudo, as intenções
separatistas do sul ou, no mínimo, o desejo de transformar Campo Grande
na capital de Mato Grosso foram frustrados com a vitória das forças
legalistas, durando apenas 82 dias (Correio do Estado, 23 ago.1997).
Por essa época, a cidade contava com cerca de 50 estabelecimentos
comerciais, com destaque para as lojas especializadas na venda de carros
6 A respeito do ciclomóvel sabe-se que era um gerador de energia elétrica instalado pelo Sr. Antônio Veronese, na
rua 26 de Agosto, em Campo Grande. Durou até 1924, quando foi substituído pela Usina do Ceroula. O que não se
sabe é quando o ciclomóvel começou a entrar em funcionamento. Campo Grande: 100 anos de construção. Campo
Grande: Matriz Editora, 1999.p.149.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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e autopeças, vestuário, materiais de construção, alimentos, jóias; além
de aproximadamente 73 oficinas e indústrias de bebidas, calçados,
chapéus, derivados de leite, torrefação e moagem de café, artefatos de
couro, conservas, ladrilhos e mosaicos, fogões, vinagre, especialidades
farmacêuticas” e “artefatos e tecidos”, entre outras que davam a conotação
do forte crescimento econômico de Campo Grande durante a década de
1930 (Folha da Serra, 1933).
Segundo consta, no final da década de 1930 a cidade de Campo
Grande gerava mais renda do que as demais cidades do estado. Em 1937,
por exemplo, a receita arrecadada foi de 1.192:406$, ao mesmo tempo em
que a de Cuiabá, capital do Estado, atingia a cifra de 682:726$. No ano
seguinte, enquanto a arrecadação de Campo Grande cresceu 387:478$ em
relação a 1937, a renda da capital caiu para 585:529$ (Álbum de Campo
Grande, 1939, p. 95).
A tentativa de veicular uma imagem positiva de Campo Grande como
centro urbano econômico, político e culturalmente dinâmico, moderno e
civilizado” aparece de forma nítida no Álbum de Campo Grande. Editado
em 1939, durante as comemorações dos 40 anos de emancipação do
município, pode-se afirmar que, em linhas gerais, essa obra seguia critérios
e intenções semelhantes aos do Álbum Gráfico de Mato Grosso. Porém, ao
contrário de seu congênere, publicado em 1914 uma alentada obra de
quinhentas e duas páginas em tamanho 30 x 40 cm, e pesando 4,5 kg, por
isso mesmo considerada de difícil manuseio o Álbum de Campo Grande
parecia pretender, para si, a praticidade de um guia geral da cidade, breve e
sucinto, de modo a ser apreciado e lido no decorrer de uma viagem.
7
Nem por isso essa publicação era menos pobre em imagens
fotográficas, as quais estavam dispostas, de maneira geral, nos seguintes
7 Um estudo pormenorizado do Álbum Gráfico de Mato Grosso pode ser encontrado em: ZORZATO, Osvaldo.
Conciliação e identidade: considerações sobre a historiografia de Mato Grosso 1904/1983. São Paulo, 1998. Tese
(Doutorado em História Social), Universidade de São Paulo,1998, p. 38-60.
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
404 |
eixos temáticos básicos: paisagens naturais, remetendo às áreas do entorno
da cidade; construções, com destaques para a edificação de novos prédios,
casas, pontes; atividades econômicas, ressaltando a pecuária, a agricultura,
o comércio e a indústria local; vias de comunicação e meios de transportes,
evidenciando a modernização das ruas, a presença do transporte individual
e coletivo; vida social e cultural, com ênfase para cenas de família, bailes,
clubes, cinemas, escolas, ambientes de trabalho, esportes, piqueniques, etc.;
personalidades, enfocando indivíduos dos mais diversos segmentos sociais,
mas com especial reverência às autoridades civis e militares, empresários e
personagens ligados aos segmentos sociais emergentes, como funcionários
públicos e profissionais liberais, advogados, médicos, engenheiros, entre
outros.
Os progressos materiais da cidade apareciam assinalados nas imagens
relativas às atividades econômicas e nas referentes às vias de comunicação
e meios de transportes. Nas primeiras, além do registro das inúmeras
casas comerciais, a exemplo da Casa Mansour, definida como o maior e
mais bem sortido estabelecimento comercial de Mato Grosso” (Álbum de
Campo Grande, 1939, p. 71), o Álbum também destacava, enquanto marca
da modernização econômica do município, a maquinaria utilizada em
indústrias como a Fábrica Mandetta de bebidas, a Panificadora Esperança,
única em Mato Grosso a possuir os afamados fornos contínuos Pensotti”,
e oficinas” como a da Tipografia O Progressista, onde o próprio Álbum
fora impresso (Álbum de Campo Grande, 1939, p. 71).
Paralelamente, a obra dava grande destaque às ações da “numerosa e
hoje unida classe dos fazendeiros da parte meridional do Estado”, sublinhado
a incorporação, por parte dos pecuaristas, de novas raças e de técnicas
modernas de criação, observando, além disso, a prosperidade da lavoura
de café - produto introduzido no município em 1911 pelo imigrante sírio
Antonio Abdo, proprietário da fazenda Mateira, definida como a maior
organização agrícola” do Estado. Conforme aparece anotado no Álbum de
Campo Grande (1939, p. 30-31):
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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O cafezal vinga e aumenta de muitos milhares de pés, acrescidos to-
dos os anos. Em 1930, contava a Mateira com 140.000 pés de café,
fora plantações de cana e mandioca, excelentes pastos e criação de
gado bovino e suíno e galináceo. [...] Digno de nota, juntamente
com o cafezal, é o canavial, que ocupa uma área de 10 hectares, fora
o belíssimo pomar de laranjeiras, abacateiros, ameixeiras, limoeiros
e outras árvores frutíferas. Tem a Mateira modernos maquinismos
de descascar café, com produção diária de 40 sacos, de beneficia-
mento de arroz, limpando 25 sacos, e de cana, moendo oito carros
por dia da mesma plantação. Este ano (1939) calcula-se a safra do
café da Mateira em 2.500 sacos de 60 quilos cada um.
Essa dinâmica econômica refletia-se, segundo pretendia atestar o
Álbum, na modernização do equipamento urbano de Campo Grande,
materializada na ampliação de ruas e avenidas como a 13 de Maio, a Barão
do Rio Branco e a Avenida Mato Grosso, ao longo das quais podiam ser
vistas modernas casas recentemente construídas (Álbum de Campo
Grande, 1939, p. 94 e 117).
Outros reflexos estavam na expansão da própria área urbana, expressa
na oferta de venda de lotes em bairros como a Vila Planalto, cuja aquisição
era apontada como o melhor emprego de capital”, e o bairro Amambaí,
sentinela avançada de Campo Grande”, onde estavam localizados os
projetos de construção da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e
da residência dos padres redentoristas (Álbum de Campo Grande, 1939,
p. 46), bem como na implantação de novos meios de comunicação e
transportes, a exemplo da instalação da primeira linha telefônica (Álbum
de Campo Grande, 1939, p. 139), da presença do auto-ônibus que
circulava em alguns bairros de quatro em quatro horas durante o dia e
parte da noite” (Álbum de Campo Grande, 1939, p. 46), dos caminhões
que passavam a trafegar as rodovias, da própria ferrovia, e até mesmo do
avião (Álbum de Campo Grande, 1939, p. 138).
Não obstante esses traços do progresso, o Álbum também dava
destaque para algumas tradições que não morrem”, enfatizando a
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
406 |
freqüência nas estradas velhasdo sul de Mato Grosso, dos carros de boi
mineiros, dos quais nem mesmo os caminhões da marca “Internacional”
conseguiam tirar a realeza(Álbum de Campo Grande, 1939, p. 110).
Nesse sentido, sugeria-se que progresso e tradição constituíam faces da
mesma moeda, a partir da qual se configurava a identidade regional, o
passado e o futuro que deveriam irmanar todos os mato-grossenses, filhos
da terra ou não.
De todo modo, em decorrência das transformações econômicas e
urbanas, a própria vida social e cultural da cidade se vitalizava. Para atender
às expectativas de lazer e cultura que uma cidade moderna deveria possuir,
foram surgindo em Campo Grande praças; sorveterias; bares como o “Para
Todos e o Parque Balneário, com regras estabelecidas para os horários
de banhos de piscina para homens e mulheres; o Rádio Clube, local de
encontro e de bailes freqüentados pelas elites campo-grandenses, além dos
cines-teatro como o Santa Helena e, em especial, o Alhambra, criado em
1937 e definido como palácio encantado das mil maravilhas do som e da
luz”. De acordo com o Álbum de Campo Grande (1939, p. 76):
A não ser São Paulo, Rio e outras capitais dos estados, nenhuma
cidade do interior tem uma casa de espetáculos, no gênero, tão
luxuosa e grandiosa. Rara é a noite em que o Cine Teatro Alham-
bra, nas suas duplas sessões, não se enche da fina flor de Campo
Grande. A par do mais refinado bom gosto e da comodidade que
oferece o amplo salão com as suas muitas centenas de cadeiras, as
fitas que são passadas no ECRAN são das mais afamadas marcas do
mundo e maior retumbancia em aplausos na atualidade. A “Metro
Goldwyn Mayer”, a “Paramount Films”, a “RKO Radio Pictures”,
a Warner Bros First”, a “Columbia Pictures”, etc., nomes célebres
em produção, todas as semanas exibem no Alhambra os filmes de
maior notoriedade. Os aparelhos, tanto de som, Western Electric,
como o de graduação de luzes multicolores, Traynon, este o único
usado na América do Sul, são a última palavra nas técnicas cine-
matográficas.
407
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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Contudo, o Álbum advertia que, diferente das grandes cidades do
país, Campo Grande não era só “a urbes que impressiona o forasteiro pela
harmonia retilínea de suas ruas, elegância de seus prédios, febricidade de
seu comércio e operosidade crescente de seus habitantes”; tinha também a
graciosidade sempre primaveril dos seus arrabaldes, povoados de poéticas
chácaras e convidativos sítios, que são remansos de gozo para a luta diurna
citadina” (Álbum de Campo Grande, 1939, p. 17).
Novamente aqui o embricamento entre o progresso e a tradição: antes
de se constituir um espaço marcado pela natureza selvagem, os arredores
de Campo Grande eram representados como lugares de convivência,
refletindo, por outro lado, o que o meio ambiente poderia oferecer em
termos de exploração econômica.
É assim que, em muitas fotografias, famílias inteiras são retratadas
em piqueniques à beira de rios como o Aquidauana e o Taquari, com
destaque para o potencial de suas quedas d’águas e para as possibilidades
do garimpo, especialmente em Rochedo. Representações dessa natureza
muito praticamente domada pela gente mato-grossense também se faziam
presentes nas imagens de animais selvagens, como as onças, tidos como de
estimação.
Dado fundamental nesse processo de domesticação da natureza é a
presença sempre marcante nas fotografias das mulheres em primeiro plano.
Nesse quadro, insinua-se a interação entre a mãe natureza e a mulher mãe,
ao mesmo tempo civilizada e civilizadora, e a cidade de Campo Grande
como a grande mãe acolhedora, no sul de Mato Grosso, de indivíduos
vindos dos mais diversos lugares do país e do mundo e das mais diferentes
classes sociais.
Assim, embora o Álbum procurasse destacar as figuras mais relevantes
da sociedade local, não deixava, contudo, de mencionar a presença de
indivíduos marginalizados como engraxates e mendigos:
Campo Grande na Rota da Marcha para Oeste
408 |
A nossa cidade, não podendo fugir a regra geral, também tem seus
tipos populares [...] figuras anônimas, sofredoras, que ora nos ar-
rancam gargalhadas com seu grotesco, como nos compungem o
coração com a sua desdita erradia. [...] Campo Grande é a terra fa-
vorita dos pequeninos engraxates e dos grandes pedintes, todos eles
ganham a vida, porque o povo campo-grandense é bom e generoso
(Álbum de Campo Grande, 1939, p. 65)
Surgido num momento de transição, em que Mato Grosso deixava
de ser representado pelo “estigma da barbárie
8
para se incorporar à
nacionalidade como reserva de brasilidade”, o Álbum de Campo Grande,
produzido com o objetivo explícito de ser “verdadeiro o espelho das
atividades de seus filhos, tanto os nativos como os adotivos, nos diversos
labores humanos”(Álbum de Campo Grande, 1939, p. 30), elaborava, por
outro lado, sutilmente, um objetivo implícito: o de edificar um quadro
indentitário que colocava os habitantes do sul de Mato Grosso, em
particular os campo-grandenses, como elementos plenamente incorporados
à nacionalidade, porém como brasileiros distintos.
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Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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II SEMINÁRIO INTERNACIONAL
AMÉRICA PLATINA :
“DIALOGO REGIONAL E DILEMAS
CONTEMPORÂNEOS”
Campo Grande, 5 a 8 de novembro de 2008
Uma avaliação
Organizado pelo Prof. Tito Carlos Machado de Oliveira, o II
Seminário Internacional América Platina realizou-se na Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, em Campo Grande, entre os dias 5 e 8 de
novembro de 2008.
A organização material do evento foi perfeita. O acolhimento aos
participantes foi eficiente e simpático e os transportes entre os hotéis e
o campus da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, rápidos. Para
divertir os participantes, os Trovadores do Tempo ofereceram um concerto
de música latinoamericana na tarde do dia 5 de novembro.
O interesse do evento resultou de duas características principais:
ele foi pluridisciplinar e internacional. Pluridisciplinar, pois geógrafos,
historiadores, sociólogos, etnólogos, economistas e linguistas realizaram
comunicações. Uma parte dos participantes foi brasileira Mato Grosso,
São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul. Participaram também muitos
argentinos e paraguaios, assim como alguns uruguaios, bolivianos, chilenos,
mexicanos e europeus.
A idéia de organizar seminários sobre os problemas da América
Platina é excelente por variadas razões: 1- É uma parte do continente
dividida entre cinco países, mas 2- Unida pelas facilidades de navegação
sobre os rios Paraná, Paraguai e Uruguai. 3- Esses rios oferecem também
possibilidades de irrigação, um recurso muito importante hoje – o Paraná
e seus afluentes produzem muita energia hidroelétrica. 4- A presença
Uma avaliação
414 |
indígena permaneceu forte, mas desigual, numa parte da América Platina
(Angel Núñez). 5- O Mercosul introduziu uma dinâmica de aproximação
depois de meio século de políticas de nacionalismos econômicos, que
haviam afastado os estados platinos.
Os dilemas contemporâneos resultam da configuração natural dessa
área (uma zona de planícies e planaltos, no limite do mundo tropical ao
Norte e do mundo temperado ao Sul, com áreas chuvosas na parte oriental
e uma zona árida na parte ocidental, além de uma rede fluvial imensa),
das heranças históricas (fronteira entre o Império Espanhol e o Império
Português; a forte presença indígena; dois séculos de histórias nacionais;
de guerras no século XIX), de liberalismo econômico (entre os anos 1870 e
1930, e depois os anos 1980) e de nacionalismos econômicos (entre 1930
e 1980). Esses dilemas traduzem também a mobilidade mais forte na escala
local, que aproxima as populações das zonas fronteiriças, e a dinâmica geral
da globalização, com relações mais direitas e mais fáceis com as realidades
mundiais.
Muitas foram as apresentações fascinantes: a dinâmica das regiões
transfronteiriças, com o exemplo das cidades gêmeas de Rivera e Sant’Ana
do Livramento (Gladys Bentancor); a transformação do Chaco Paraguaio e
de sua rede urbana no tempo da globalização, graças aos Menonites (Fabricio
Vásquez); a rede das mercociudades(Nahuel Oddone); a dinâmica das
regiões metropolitanas e sua governabilidade (Mabel Causarano).
O interesse de um seminário transdisciplinar é integrar em uma
problemática fundamentalmente geográfica e histórica perspectivas
culturais sobre as territorialidades (Francisco er Rios), as identidades,
o papel das línguas na sua construção, a gênese de dialetos nas zonas de
fronteiras como o portunhol da fronteira entre Uruguai e Brasil, que
resultou de dois séculos de troca e de miscigenação (Gladys Bentancor).
As literaturas regionais oferecem perspectivas interessantes para
entender a percepção que os grupos tinham, e têm, de suas posições
415
Dilemas e Diálogos Platinos: RELAÇÕES E PRÁTICA SOCIOCULTURAIS
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geográficas e de suas especificiades culturais (Biagio d’Angelo).
Numa zona de fronteira, os problemas da economia, do
conhecimento e da aprendizagem aparecem como fundamentais (Arlindo
Villaschi; Reinaldo Fleuri). A análise das políticas de integração também é
fascinante (Jose Luis Rhi-Sausi; Maria Medianeira Padoin).
O balanço do II Seminário Internacional América Platina me
parece excelente: uma temática interessante e muitos participantes jovens
e entusiasmados.
Paul Claval
Professeur émérite
Université de Paris-Sorbonne
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