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Dilemas e Diálogos Platinos: FRONTEIRAS
são reproduzidas a partir de um único lugar, as agências transnacionais de
notícias
6
, que têm o Estado como principal fonte de informação
7
.
A apropriação, pela mídia, de acontecimentos e discursos geopolíticos
e a reconversão em acontecimentos jornalísticos resulta em uma produção
do espaço geopolítico subsumida pela produção midiática. Por outro lado,
temas e questões conjunturais geopolíticas passam a se estabelecer com
base em espaços comunicativo-discursivos
8
.
Os discursos geopolíticos da mídia definem e segmentam públicos
a partir do modo como se apresentam. E esse modo é também in-
terdiscursivo – uma forma de apropriação dos discursos geopolíti-
cos pelas instituições midiáticas e dos discursos midiáticos pelas
instituições geopolíticas. A relação que um discurso mantém com
outro faz parte de suas condições de produção (STEINBERGER,
2005, p.271).
Nem o jornalismo nem o geopolítico conformam-se,
contemporaneamente, alheios ao conjunto de práticas, posicionamentos
e enunciados de um e outro. O conjunto encontra-se delineado dia após
dia nos noticiários. Steinberger (2005) denomina essa movimentação de
geopolítica da mídia ou lógica social da mídia.
O jornalismo participa da instituição de um imaginário geopolítico
(ou de uma representação da ordem do geopolítico) e este se traduz
6 As pesquisas de D’Azevedo (1980) e Leal (1984) constroem entendimentos sobre o jornalismo internacional que se
repetem em trabalhos posteriores, como Sant’Anna (2001) e Barbosa (2005), quais sejam: a origem das informações
está localizada em agências transnacionais, logo, a fonte é a mesma para todos os veículos e é externa; são as agências
que decidem o que é notícia, o que se deve ou não saber, e quando a América Latina é noticiável; afinal, as notícias
sobre os “vizinhos latino-americanos não nos chegam, diretamente, através de uma agência latino-americana, mas
fluem, através de um filtro estrangeiro que nos libera apenas aquilo que convém” (LEAL, 1984, p.66). As agências
transnacionais são as principais fontes de configuração dos acontecimentos internacionais, por isso, responsáveis pela
discursivização do internacional a partir de fora e sob orientações também externas.
7 No campo do jornalismo internacional, o “Estado aparece multiplicado pelas principais potências hegemônicas”
(STEINBERGER, 2005, p.232).
8 Fragmentos desses dispositivos de produção jornalística, hoje, encontram-se dispersos para além da esfera mediáti-
ca. É a lógica da mediatização que dinamiza essa apropriação, a partir do seu interior. Outros campos sociais [...]
roubam-lhe, assim, a ‘posse’ sobre certas operações e regras com as quais institui a construção da realidade. Estas,
sendo apropriadas por outros campos sociais, possibilitam que os fatos tenham, assim, formas de existência, de fun-
cionamento e de legitimidade (FAUSTO NETO, 2007, p.2).