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O sagrado tem uma importância capital na cultura celta, daí a im-
portância que os sacerdotes (druidas) possuem nas suas narrativas tanto
como personagens quanto como narradores. A palavra druida foi latiniza-
da por Cícero como druidae e acredita-se que a tradução mais correta para
a palavra tenha analogia à sabedoria, ou sabedoria profunda.
Druida pode também significar sabedoria do carvalho, árvore que
na cultura celta representa a divindade, sendo, portanto apropriada para
homens que eram os intermediários entre o homem e o meio sobrenatu-
ral
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. A essência do conhecimento druídico do sobrenatural apresenta uma
graduação na escala dos saberes que pode ser assim interpretada: vates,
os profetas ou poetas inspirados. Este vocábulo passou a designar, já no
tempo cristão, o vidente. Além dessa categoria, considerada a mais baixa,
havia ainda os bardos (músicos) e os druidas propriamente ditos. Sobre o
assunto diz H. D´Arbois Jubainville, em obra supracitada que:
Os gauleses tiveram duas categorias principais de sacerdotes: os druidas,
druidas = dru-uides, ‘muito sábios’, dos quais todo mundo já ouviu falar,
e os Gutuatri, que são bem menos conhecidos. Não diremos nada ainda
sobre os Uatis, ou seja, os adivinhos profissionais que, na Irlanda, São
Patrício não considerou sacerdotes e que subsistiram oficialmente nessa
ilha durante a Idade Média, em meio à população cristianizada, diante de e
com a proteção do clericato cristão (JUBAINVILLE, 2003:19).
Segundo Cláudio Crow Quintino, em obra supracitada, na socie-
dade celta, os bardos eram os grandes responsáveis pela poesia e pela
transmissão e preservação da cultura. Os Vates seriam mais importantes
que os bardos por uma razão básica: eles eram os responsáveis pela in-
terpretação dos oráculos que continham os desígnios dos deuses, aliás,
e segundo o mesmo autor, a palavra “vaticínio”, ou previsão do futuro,
estaria relacionada a esta categoria de poetas, a qual só perdia em impor-
tância para os druidas (QUINTINO: 2002, 76)
58
.
Os druidas são figuras proeminentes na sociedade celta atuando
como árbitros e mágicos e o respeito por eles era tão vasto que nem mes-
57 Segundo as informações que se referem aos sacerdotes druidas e seus hábitos, os nemeton (bosques
sagrados) são os lugares por excelência onde eles realizavam seus ritos e sacrifícios. Cabe ressaltar
ainda que os celtas não possuíam templos, preferindo cultuar seus deuses nesses bosques sagrados.
Segundo informação de Cláudio Crow Quintino, na obra O livro da mitologia celta, um dos nemeton
mais importantes para a realização das assembléias druidícas era o de Carnutes, no coração da Gália.
Ainda segundo o mesmo autor, Carnutes foi dessacralizado primeiro pelos romanos e depois pelos
cristãos, mas não deixou de ser um importante local de culto, uma vez que ali hoje se levanta a catedral
de Chartres. (QUINTINO, 2002: 182).
58 A poesia possui para os celtas um signicado muito especial. Suas leis, cultura, religião, sua
história, enm todos os elementos que representavam sua sociedade, eram retratados através de poemas,
que eram passados através da tradição oral de geração para geração.