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luzes sobre o comparatismo, abordando-o por uma ótica sociológica e realizando pesquisas com
o público ledor, que antecipam questões posteriormente retomadas e reelaboradas pelos teóricos
da Estética da Recepção, e Claudio Guillén e Guillermo de Torre, que, situados, pela sua origem
hispânica, fora do eixo central da Literatura Comparada, ergueram-se como críticos combatentes
do etnocentrismo.
3. Tanto a pretensão de universalidade, expressa pela crença de que, a despeito da diversidade e
multiplicidade do fenômeno literário, era possível construir-se um discurso homogêneo sobre ele,
uma espécie de “poética universal”, quanto o discurso de apolitização, que envolvia a literatura em
uma espécie de aura, conferindo-lhe um prestígio especial e distanciando-a de outras formas de
discurso, foram noções que dominaram não só os estudos literários, mas toda a Weltanschauung
de meados do século XX.
4. Sobre esta questão do eurocentrismo, ver, entre outros, Samir Amin, Eurocentrism (Trad. Russell
Moore. N. York: Monthly Press, 1989); Jonh Tomlison, Cultural Imperialism (Baltimore: John
Hopkins Univ. Press, 1991); Aijaz Ahmad, In Theory: Classes, Nations, Literatures (Londres:
Verso, 1992); e Susan Bassnett Comparative Literature: a Critical Introduction (Oxford:
Blackwell, 1993).
5. Ver Homi Bhabha, The Location of Culture (Londres: Routledge, 1994).
6. Sobre o redimensionamento dos conceitos de “nação” e “idioma”, ver Benedict Anderson, Imagined
Communities: Reflections on the Origin and Spread of Nationalism (Londres: Verso, 1983); Eric
Hobsbawm, Nations and Nationalism since 1780: Programme, Myth, Reality (Londres: 1989);
Homi Bhabha (ed.), Nation and Narration (Londres: Routledge, 1994); Montserrat Guibernau,
Nationalisms: the Nation-State and Nationalism in the Twentieth Century (Cambridge: Polity
Press, 1996); e Sarah M. Corse, Nationalism and Literature (Cambridge: Cambridge Univ. Press,
1997).
7. Sobre esta questão da reconfiguração de identidades, ver sobretudo Frederick Buell, National
Culture and the New Global System (Baltimore: John Hopkins Univ. Press, 1994); Vered Amit-
Talai & Caroline Knowles (eds.), Re-Situating Identities: the Politics of Race, Ethnicity, Culture
(Peterborough, Ontario: Broadview Press, 1996); V. Y. Mudimbe (ed.), Nations, Identities,
Cultures (Durham: Duke Univ. Press, 1997); and Richard Jenkins, Rethinking Ethnicity (Londres:
Routledge, 1998).
8. Ver sobretudo Edward Said, Orientalism (N. York: 1978); Homi Bhabha, The Location of Culture
(nota 6); e Gayatri Spivak, “Can the Subaltern Speak?”, in P. Williams & L. Chrisman (eds.),
Colonial Discourse and Post-Colonial Theory: a Reader (N. York: Columbia Univ. Press, 1994).
9. Sobre a questão do cânone, ver, entre outros Charles Bernheimer (ed.), Comparative Literature in
the Age of Multiculturalism (Baltimore: John Hopkins Univ. Press, 1994); e Eduardo F. Coutinho
(ed.), Cânones e contextos. 5o Congresso ABRALIC – Anais (3 vols.; Rio de Janeiro: ABRALIC,
1997-98). Uma postura distinta é a assumida por Harold Bloom, em seu The Western Canon (N.
York: Harcourt, Brace and Co., 1994).
10. Para maiores informações sobre o debate que se vem travando em torno dos Estudos Culturais,
hoje já um tanto afastados, em algumas de suas formas, da Escola de Birmingham, na Inglaterra,
onde se originaram, ver Simon During (ed.), The Cultural Studies Reader (Oxford: Blackwell,
1994).
11. Empregamos o termo “pós-colonial” neste ensaio não no sentido cronológico de posterioridade a
um processo de colonização, mas antes como um conceito teórico marcado pelo questionamento
de todo tipo de discurso que camufla relações de dominação, naturalizando-as, ou, como o
define J. M. Moura em seu Littérature francophones et théorie postcoloniale (Paris: PUF, 1999,
p. 4), como toda estratégia do discurso que rejeita a visão colonial, mesmo durante o período da
colonização. O discurso pós-colonial opõe-se ao discurso colonial na medida em que desmascara o
primeiro, denunciando conseqüentemente a relação de poder que aquele encobria, e inclui formas
que se estendem desde o discurso feminista e dos grupos minoritários étnicos até o discurso dos
povos ditos periféricos. É somente neste sentido que podemos falar de um discurso pós-colonial