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sociais sobre a região” (1996, p. 23). Fronteira a conquistar na construção do “Brasil desejado”, como
salientou Candice Vidal e Souza (1997), na “penetração civilizadora sobre o Brasil inculto – sertão
e selva”; daí, que “O bom lugar é aquele que se qualifica como sertão vazio, os desertos do Brasil
Central, o sertão não utilizado” (p. 133). Ou, ainda, o sertão aparecia como o “oeste inocupado”,
segundo Denise Maldi (1992, p. 58).
25 A “raça forte de aventureiros gaúchos, que no futuro deverá dominar todo o Estado de Mato
Grosso”, foi expresso no jornal “O Debate”, de Cuiabá, em nove de agosto de mil novecentos e doze!
(Galetti, 1996, p. 23).
26 Ana não está sozinha na produção de um imaginário sobre partes do território brasileiro; partes
do sertão. Segundo Antonio Carlos Robert Moraes (2002), a conquista do sertão foi parte da própria
construção da nacionalidade, que, durante o Império, pautou-se sobre o mote da civilização, e na
era republicana sobre o mote da modernização: “modernizar é, entre outras coisas, reorganizar e
ocupar o território, dotá-lo de novos equipamentos e sistemas de engenharia, conectar suas partes
com estradas e sistemas de comunicação” (p. 121), com a atuação fundamental do Estado. Ainda para
o autor, hodiernamente, o mote sobre o qual se sustentaria as políticas do Estado brasileiro seria a
globalização. Ver, também, Ideologias geográficas (1988), do mesmo autor.
27 As cidades, fundadas ou re-ocupadas pela lógica da racionalização engendrada pela expansão
agropecuária e “modernização da agricultura”, em especial por gentes do sul, parecem dissolver
o passado, em grande medida, porque esse estaria associado, justamente, a índio e mato. Sérgio
Martins (s/d), discutindo este processo em cidade do Mato Grosso do Sul, apontou que “Chapadão
do Sul emerge como uma cidade “sem infância”, uma cidade que nasceu adulta porque privada de
espontaneidade, pois provida, em essência, de uma racionalidade sem nenhum compromisso que
não seja o da valorização das Coisas pela desumanização do homem” (p. 44). Em perspectiva
semelhante, fizemos (Goettert, 2003) uma análise de um histórico da cidade de Primavera do Leste,
no Mato Grosso, e constatamos que esta “cidade sem passado” aponta para uma “história” que
justifica e legitima uma “ordem” de “progresso”, “desenvolvimento econômico”, “empreendimento”
e “trabalho”, em especial do que foi e ainda é definido por fronteira” (p. 21).
28 Para Paul Thompson (1998, p. 306), “algumas incoerências são inteiramente normais”. E ainda:
“É muito comum que se encontre um conflito entre os valores gerais que se acredita serem verdadeiros
no passado e o registro mais preciso sobre a vida do dia-a-dia; essa contradição, porém, será por si
só extremamente reveladora, pois pode representar uma das dinâmicas da mudança social – e uma
percepção que, de fato, raramente é possível mediante qualquer outra fonte que não a evidência
oral”.
29 Ver, sobre a migração sulista para projetos de colonização no Mato Grosso, Iselda Corrêa
Ribeiro (1987) e José Vicente Tavares dos Santos (1993); sobre a mobilidade e territorialização do
capital e trabalho no Mato Grosso do Sul e no Mato Grosso, ver Márcio Antonio Teixeira (1989) e
Jones Dari Goettert (1999, 2000 e 2001), dentre outros.
30 Sobre a migração do Paraná para o “extremo oeste brasileiro”, em especial na década de
1970-1980, Celso Amorim Salim (1988) apontou que “O migrante da Região Oeste, que teve como
última etapa migratória o Paraná, basicamente se origina da Região Sul, em termos de naturalidade
(67,3%). Já os migrantes que tiveram tanto a última etapa quanto a naturalidade no Estado do Paraná,
representam um percentual um pouco abaixo, ou seja, 59,9%” (p. 23). Ver também, sobre a colonização
do Paraná e, a partir da década de 1960, de “êxodo”, Tânia Navarro Swain (1988).
31 Ver, sobre a origem e expansão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST –, no
Brasil e no Mato Grosso, Bernardo Mançano Fernandes (1996 e 2000), Leida Maria de Souza Lima
(2000 e 2002), Plínio José Feix (2001 e 2002) e Maria Elza Markus (2002a e 2002b).
32 Ver, sobre a urbanização em Rondonópolis, Tereza Coni Aguiar (1980), Júlio César Suzuki
(1996) e Antonia Marilia Medeiros Nardes (1997a e 1997b).
33 Conforme Tereza Coni Aguiar (1980, p. 122).
34 Em Jean-Paul de Gaudemar (1979, p. 15): “la “movilidad” pone realmente en juego: el uso
capitalista de la disponibilidad de los hombres, de la docilidad (Foucault) de sus cuerpos”.
35 A discutir rapidamente o “fechamento” das fronteiras (Goettert, 2000, p. 56), salientávamos
as dificuldades do estabelecimento de momentos de ruptura na abertura e fechamento de áreas de
expansão e ocupação de frentes de expansão e frentes pioneiras (a partir de José de Souza Martins,
1997) e, por outro lado, movimentos sociais tem rompido com o “fechamento” na medida em que
abrem possibilidades de luta e territorialização alternativos à exclusão do campo e da cidade dadas
pela expansão capitalista agropecuária e urbana. Contudo, segundo Luiz Antonio Pinto de Oliveira
(1995, p. 65-66), “Do ponto de vista demográfico o crescimento da fronteira amazônica parece ter
sido limitada, em parte, pelo “fechamento” da fronteira agrícola” – um crescimento urbano que,
na essência, é um crescimento da pobreza. Por seu turno, George Martine (1985, p. 81) ressaltou