DIFICULDADES PARA A IMPLEMENTAÇÃO
DE POLÍTICAS DE COMBATE AO
DESEMPREGO
As dificuldades para a implementação de
políticas de combate ao desemprego, no
entanto, não são pequenas. Desde há muito
tempo, autores dos mais renomados afirmam
que o desemprego é, acima de tudo, um
problema político. Dentre eles destacam-se
Marx, Kalecki e Keynes. É de Marx a célebre
expressão do "exército industrial de reserva".
Segundo estes autores, quanto maior o nível
de emprego maior se torna a escassez de
trabalhadores. Pela lei da oferta e da procura,
a escassez acaba elevando o preço da força
de trabalho e, conseqüentemente, os custos
de produção. Por esse motivo, seria de
interesse dos empresários manter sempre um
certo nível deliberado de desemprego, de
modo a não permitir que os salários atingissem
certos níveis, indesejáveis do ponto de vista
do capital.
Estes níveis, no entanto, foram se alterando
ao longo do tempo. Até 1920, "os americanos
tendiam a pensar que qualquer nível de
desemprego seria um desastre social." (4). No
final dos anos 20, imaginava-se que dois por
cento seria um percentual aceitável, de acordo
com Elderton. (5) Os autores de uma pesquisa
britânica, publicada em 1935, sugeriam que
a taxa
normal
de desemprego na Grã-Bretanha
seria em torno de 4 por cento. (6) Em 1963,
Walter Heller, "um otimista para os padrões
americanos, ainda descrevia o nível de 4 por
cento como aceitável". (7) O que se percebe,
portanto, é que a taxa minimamente aceitável
foi crescendo ao longo dos anos.
A dificuldade metodológica para a definição
de desempregado é outro entrave possível
para a implementação de urna boa política
no combate ao desemprego. É preciso levar-
se em conta que existe uma grande
diversidade nas metodologias e critérios
através dos quais o desemprego é
contabilizado. Nos Estados Unidos, por
exemplo, dependendo do método usado, este
nível pode variar de 5 a 13 por cento. Segundo
Rifkin, nas estatísticas não são mostrados todos
os trabalhadores que perderam seus empregos
e não mais procuraram por colocação. Se
forem contabilizadas estas pessoas, a taxa
alcançaria 9,5%. Se fossem contabilizados
ainda os trabalhadores que perderam seus
empregos integrais e passaram a ser
trabalhadores parciais, a taxa subiria para 14%.
Aqui não estaria sendo considerada a
população encarcerada, que alcança 3% da
população masculina adulta.(8)
Segundo Tonge, somente na Grã-Bretanha,
"mais de trinta mudanças de método de
contagem de desempregado foram feitas entre
1979 e 1994, todas, com exceção de uma,
reduzindo o tamanho do registro de
desemprego. (...) Tem-se desenvolvido uma
política de estatística que dá margem a que se
argumente que a contabilidade do
desemprego oficial subestima a verdadeira
extensão do desemprego". (9)
A ideologia neo-liberal também pode dificultar
a implementação de uma política mais
consistente em relação ao desemprego.
Normalmente ela culpa o próprio trabalhador
pelo desemprego. Num nível mais primário,
ouve-se a alegação de que o trabalho existe,
o trabalhador é que não tem disposição para
ocupá-lo, seja por preguiça pura e simples,
seja por não aceitar o preço a ser pago pelo
seu trabalho. Mas tem também um nível mais
sofisticado de raciocínio. Neste nível, o
problema do desemprego para a ser uma
questão de não empregabilidade, ou seja, as
vagas existiriam, mas os trabalhadores, de um
modo geral, não estariam devidamente
qualificados para seu preenchimento. Então
o treinamento e a requalificação passam a ser
a solução primária do desemprego.
A dificuldade de implementação de políticas
de combate ao desemprego pode ser também
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