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Risco e gênero: medindo a tolerância ao risco e as diferenças entre os gêneros
Revista de Ciências da Administração
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v. 10, n. 20, p. 116-140, jan./abr. 2008
A literatura sugere que um instrumento para avaliar a tolerância ao risco deve
incluir no mínimo cinco elementos: algum conceito central de risco; permitir a deri-
vação de uma medida de risco; relevância para os respondentes; fácil administração;
e validade e confiabilidade adequadas.
Além destes elementos o instrumento deve atender a vários outros requerimentos
como, por exemplo, cobrir uma variedade de situações de risco de uma maneira mul-
tidimensional, ou seja, deve incluir eventos financeiros e naturais, comportamentos,
atitudes, ameaças, oportunidades e situações simples e complexas (MACCRIMMON;
WEHRUNG, 1986, apud GRABLE; LYTTON, 1999).
A partir destas considerações Grable e Lytton (1999) desenvolveram um instru-
mento de pesquisa composto de 20 itens selecionados a partir das medidas reportadas
pela literatura. Cada um dos itens, tomados individualmente, tendem a medir uma ou
mais dimensões do risco. São estipuladas oito dimensões do risco, quais sejam: jogos
garantidos versus prováveis; propensão para assumir risco geral; tolerância ao risco
financeiro; risco como experiência e conhecimento; risco como nível de conforto;
risco especulativo; teoria do prospecto; e risco do investimento.
Para explorar a multidimensionalidade do instrumento foi aplicada uma análise
fatorial. Dos vinte itens descritos originalmente sete foram retirados por apresenta-
rem cargas fatoriais inferiores a 0,45. Os treze itens que permaneceram na análise
fatorial foram distribuídos em três fatores: risco do investimento (5 itens), risco como
conforto e experiência (5 itens) e risco especulativo (3 itens). Estes fatores englobam
todas as dimensões propostas originalmente. Especificamente, os 13 itens, quando
combinados trabalham juntos para avaliar a probabilidade de ganhos; a probabili-
dade de perdas; os potenciais ganhos em moeda; os potenciais perdas em moeda; a
probabilidade mínima de sucesso dada uma ação de risco; e o retorno mínimo dada
uma ação de risco. Estas situações são avaliadas pela inclusão de itens que medem
escolhas e tolerâncias para jogos garantidos e prováveis, dilemas da teoria do pros-
pecto e ganhos e perdas potenciais versus prováveis.
Para determinar a validade do instrumento os autores realizaram um teste de
validade concorrente, testando o instrumento contra a medida do SCF. O coeficiente
de correlação entre a questão do SCF e a o escore do instrumento foi de 0,5383,
indicando que o único item da questão do SCF não é capaz de medir as variações
em todas as dimensões do instrumento.
Para aprofundar os testes de validade, Grable e Lytton (2001) aplicam o instru-
mento numa nova amostra e avaliam os coeficientes de correlação. São calculados
coeficientes de correlação relacionando cada um dos três fatores (risco do investimen-
to, risco como conforto e experiência e risco especulativo) do instrumento à questão
do SCF. Foram obtidos, respectivamente, os seguintes coeficientes 0,51, 0,21, 0,17.
Estes resultados indicam que a questão do SCF pode não ser uma medida completa
da tolerância ao risco financeiro.