No dia seguinte foi visitar Isabel; achou-a triste; falou-lhe; mas quando
quis dizer-lhe alguma cousa do sucesso, a moça afastou-se dele, talvez
porque adivinhasse o que ia ele dizer-lhe, talvez porque já estivesse
aborrecida de o ouvir.
Júlio foi a casa de Luísa, achou-a no mesmo estado, as mesmas
circunstâncias se deram.
"É claro que descobriram o segredo uma da outra, dizia ele consigo. Não
há remédio senão desfazer a má impressão de ambas. Mas como se me
não querem ouvir? Ao mesmo tempo desejava explicação do ato atrevido
que ontem praticaram, salvo se foi sonho meu, o que é bem possível. Ou
então estarei doudo..."
Antes de ir adiante, e não será longe porque a história é pequena,
convém dizer que este Júlio não tinha paixão real por nenhuma das duas
moças. Começou o namoro com Isabel por ocasião de uma ceia de
Natal, e travou relações com a família que o recebera muito bem. Isabel
correspondeu um pouco ao namoro de Júlio, sem todavia lhe dar
grandes esperanças porque então andava também à corda de um oficial
do exército que teve de embarcar para o Sul. Só depois que ele
embarcou foi que Isabel de todo se voltou para Júlio.
Ora, o nosso Júlio já então lançara as suas baterias contra a outra
fortaleza, a formosa Luísa, amiga de Isabel, e que desde princípio
aceitou o namoro com ambas as mãos.
Nem por isso rejeitou a corda que lhe dava Isabel; manteve-se entre as
duas sem saber qual delas devia preferir. O coração não tinha a este
respeito opinião assentada. Júlio não amava, repito; era incapaz de
amar... Seu fim era casar com uma moça bonita; ambas o eram, restava-
lhe saber qual delas lhe convinha mais.
As duas moças, como vimos pelos retratos, eram amigas, mas falavam-
se de longe em longe, sem que nessas poucas vezes houvessem
comunicado os segredos atuais do seu coração. Ocorreria isso agora e
seria essa a explicação da cena dos retratos? Júlio pensou efetivamente
que elas haviam enfim comunicado o seu namoro com ele; mas custava-
lhe a crer que tão atrevidas fossem ambas, que saíssem da casa
naquela singular noite. À proporção que o tempo se passava, Júlio
inclinava-se a crer que o fato não passasse de uma ilusão sua.
Júlio escreveu uma carta a cada uma das duas moças, quase do mesmo