tomou inteiramente no Pati do Alferes, de onde ele acaba de chegar. Antes disso, podia
ficar um pouco lisonjeado das maneiras dela, e ter mesmo alguns pensamentos; mas o
que se chama sensação amorosa não a teve antes. Foi ali que ele mudou de opinião a
respeito dela, e se deixou cair nas graças de uma dama, que diziam ter matado o marido
com desgostos.
A viúva Sobral não tinha menos de vinte e sete anos nem mais de trinta; ponhamos vinte
e oito. Já vimos o que eram os olhos; — podiam ser singulares, como eles diziam, mas
eram também bonitos. Vimos ainda um certo jeito da boca, mal aceito ao Cesário,
enquanto as narinas o eram ao Brandão, que achou nelas o indício da teima e da
perversidade. Resta mostrar a estatura, que era muito elegante, e as mãos, que nunca
estavam paradas. No baile não lhe notou o Brandão esta última circunstância; mas no
Pati do Alferes, na casa da prima, familiarmente e a gosto, achou que ela movia as mãos
sempre, sempre, sempre. Só não atinou com a causa, se era uma necessidade, um
sestro, ou uma intenção de mostrá-las, por serem lindas.
No terceiro dia, começou o Brandão a perguntar onde estava a maldade do gênio de D.
Candinha. Não achava nada que pudesse dar indício dela; via-a alegre, dada,
conversada, ouvindo as coisas com muita paciência, e contando anedotas do Norte com
muita graça. No quarto dia, os olhos de ambos andaram juntos, não se sabendo
unicamente se foram os dele que procuraram os dela, ou vice-versa; mas andaram juntos.
De noite, na cama, o Brandão jurava a si mesmo que era tudo calúnia, e que a viúva tinha
mais de anjo que de diabo. Dormiu tarde e mal. Sonhou que um anjo vinha ter com ele e
lhe pedia para trepar ao céu; trazia a cara da viúva. Ele aceitou o convite; a meio
caminho, o anjo pegou das asas e cravou-as na cabeça, à laia de pontas, e carregou-o
para o inferno. Brandão acordou transpirando muito. De manhã, perguntou a si mesmo:
— Será um aviso?
Evitou os olhos dela, durante as primeiras horas do dia; ela, que o percebeu, recolheu-se
ao quarto e não apareceu antes do jantar. Brandão estava desesperado, e deu todos os
sinais que podiam exprimir o arrependimento e a súplica do perdão. D. Candinha, que era
uma perfeição, não fez caso dele até à sobremesa; à sobremesa começou a mostrar que
podia perdoar, mas ainda assim o resto do dia não foi como o anterior. Brandão deu-se a
todos os diabos. Chamou-se ridículo. Um sonho? Quem diabo acredita em sonhos?
No dia seguinte tratou de recuperar o perdido, que não era muito, como vimos, tão-
somente alguns olhares; alcançou-o para a noite. No outro estavam as coisas
restabelecidas. Ele lembrou-se então que, durante as horas de frieza, notara nela o mau
jeito da boca, o tal, o que lhe dava indício da perversidade da viúva; mas tão depressa o
lembrou, como rejeitou a observação. Antes era um aviso, passara a ser uma