Juvêncio, que já tinha ido a uma representação, e que a achou
insuportável (era Hamlet) iria a esta outra por causa de estar ao pé de
Cecília, a quem ele amava deveras; mas por desgraça apanhou uma
constipação, e ficou em casa para tomar um suadouro, disse ele. E aqui
se vê a singeleza deste homem, que podia dizer enfaticamente — um
sudorífico; — mas disse como a mãe lhe ensinou, como ele ouvia à
gente de casa. Não sendo cousa de cuidado, não entristeceu muito a
moça; mas sempre lhe ficou algum pesar de o não ver ao pé de si. Era
melhor ouvir Romeu e olhar para ele...
Cecília era romanesca, e consolou-se depressa. Olhava para o pano,
ansiosa de o ver erguer-se. Uma prima, que ia com ela, chamava-lhe a
atenção para as toilettes elegantes, ou para as pessoas que iam
entrando; mas Cecília dava a tudo isso um olhar distraído. Toda ela
estava impaciente de ver subir o pano.
— Quando sobe o pano? perguntava ela ao pai.
— Descansa, que não tarda.
Subiu afinal o pano, e começou a peça. Cecília não sabia inglês nem
italiano. Lera uma tradução da peça cinco vezes, e, apesar disso, levou-a
para o teatro. Assistiu às primeiras cenas ansiosa. Entrou Romeu,
elegante e belo, e toda ela comoveu-se; viu depois entrar a divina Julieta,
mas as cenas eram diferentes, os dous não se falavam logo; ouviu-os,
porém, falar no baile de máscaras, adivinhou o que sabia, bebeu de
longe as palavras eternamente belas, que iam cair dos lábios de ambos.
Foi o segundo ato que as trouxe; foi aquela cena imortal da janela que
comoveu até às entranhas a pessoa de Cecília. Ela ouvia as de Julieta,
como se ela própria as dissesse; ouvia as de Romeu, como se Romeu
falasse a ela própria. Era Romeu que a amava. Ela era Cecília ou Julieta,
ou qualquer outro nome, que aqui importava menos que na peça. "Que
importa um nome?" perguntava Julieta no drama; e Cecília com os olhos
em Romeu parecia perguntar-lhe a mesma cousa. "Que importa que eu
não seja a tua Julieta? Sou a tua Cecília; seria a tua Amélia, a tua
Mariana; tu é que serias sempre e serás o meu Romeu."
A comoção foi grande. No fim do ato, a mãe notou-lhe que ela estivera
muito agitada durante algumas cenas.
— Mas os artistas são bons! explicava ela.
— Isso é verdade, acudiu o pai, são bons a valer. Eu, que não entendo