Oliveira Lima não vem cá ao Rio, e portanto não podemos ter a nossa grande sessão.
Estou a ver se faremos uma sessão ordinária, para cuidar de dar execução a uma parte
da Lei e cuidar de outro expediente. Quanto à casa, parece que está em dúvida a Escola
de Belas-Artes, na Glória, e portanto, la coupole. Alguns dizem, porém, que o Bernardelli
não perdeu as esperanças. Quero ver se lhe falo e ouço os fundamentos destas. Ainda
ontem, conversando com o Rodrigo Otávio, reconhecíamos que a casa era difícil, mas
acrescentei que não seria impossível, e em todo caso devíamos ter a persuasão de estar
fazendo obra que dure, e esperar algum tempo. / Não li o livro do F... O Dr. Heráclito
[Graça], com quem estive ontem, é da sua mesma opinião, e expô-la com igual vigor.
Disse-me ele que o Graça voltará da Inglaterra até o fim do ano; sabe alguma coisa? /
Falei da sessão ordinária que devemos fazer na Academia. Convém que se sigam outras.
O Nabuco, escrevendo-me há tempos, observou que elas darão sinal da nossa vida, e é
verdade. Para elas temos a sala da Biblioteca Fluminense, ponto central que não obrigará
a andar nada; basta ir para casa, parar à porta da Biblioteca, subir, deliberar sair e tomar
o bonde. As distâncias matam-nos. Lembre-se do que lhe contei um dia e se não se
lembra, aqui vai. Foi no tempo da Constituinte, que se reunia no palácio de S. Cristóvão.
Uma vez, indo eu para lá, encontrei no bonde um membro daquela assembléia, que me
falou queixoso, aborrecido, zangado com a estafa e morto por que acabasse a
Constituição e voltassem as câmaras para baixo. Eu refleti comigo que, se para fundar um
regímen, não havia da parte de alguns paciência bastante, pouca haverá para outras
obras menos relevantes. Certo é que a Academia é mais que muitas. Basta advertir que a
francesa (notre soeur ainée) viu já monarquias de vária casta, legítimas e liberais, e
repúblicas, e consulados e impérios, e vai sobrevivendo a todas as instituições. / Eis-me
aqui a pregar a um convertido; mas releve-me a candura de falar assim a Você, que
repousa sub tegmine fagi, lembrando-se de que também isto é acadêmico. / Adeus, meu
caro amigo; continue a lembrar-se de mim, que eu faço o mesmo. Minha mulher agradece
as suas lembranças, e eu assino-me como sempre / O velho am.° admirador / M. DE
ASSIS. Um abraço ao am.° Rodolfo.
[95] [RJ, 16 fev. 1901.]
Meu caro J. Veríssimo. / Esta carta é apertada para caber, não no papel, mas no tempo
de que posso dispor. E desde já lhe digo que cumpri as suas ordens, mandando a carta
ao Diretor dos Correios. Este respondeu-me logo, e infelizmente não tenho aqui a carta
para lhe remeter com esta; mas como ele me disse que lhe escreveu diretamente, é
natural que saiba já das explicações e das providências. / Pela outra sua ví que está
passando bem, tão bem que até me quisera lá. Eu não menos quisera subir, apesar de
carioca enragé; ao Sancho Pimentel, que há dias me convidava a acompanhá-lo, respondi
com a verdade, isto é, que não posso deixar o meu posto. O céu, reconhecendo esta
situação, mandou-me um verão, e particularmente um fevereiro, que nunca jamais aqui
houve. Já tivemos frio! Verdade é que ter frio não é ter Nova Friburgo. A prova do
benefício que lhe faz esse clima delicioso, com a vida que lhe corresponde, cá temos tido
nas suas Revistas Literárias, que são para gulosos. Vejo que não aceitou o meu conselho
e, como eu ganhei com isso, fez muito bem, e melhor fará continuando. Li o que me diz
do Oliveira Lima, e tanto melhor se vamos ter a nossa sessão solene. Há cerca de duas
semanas recebi carta dele pedindo autorização da Academia para pôr em um livro a
designação de membro dela. Já lá foi. Antes da grande sessão precisamos de uma, pelo
menos, para assentar sobre vários pontos. Vou cuidar da comunicação ao John Fiske.
Convém acudir a quem nos quer bem. / Aguardo as coisas que lhe escreveu o Aranha. Eu
devo a este amigo uma carta, que já devia estar a caminho. O Magalhães de Azeredo,
que me não escreve há tempo, queixou-se de mim na última carta. Eu quisera poder
escrever todas a todos, não para ouvir de Você epítetos que não mereço, como esse de
Mérimée, mas para, ao menos, agradecer às leituras dos meus livros, como a das
Histórias Sem Data. Adeus. Um grande abraço que responda à distância e alcance o