Download PDF
ads:
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
ads:
James Ribeiro de Azevedo
SISTEMA DE MANEJO DE ACAIZAIS NATIVOS
PRATICADO POR RIBEIRINHOS
São Luís/MA
2010
Universidade Federal do Maranhão
Gabinete da Reitoria - Administração Natalino Salgado Filho
Diretor da Imprensa Universitária: Ezequiel Antonio Silva Filho
Conselho Editorial para a edição
Osvaldo Ryohei Kato (UFPA)
Laura Angélica Ferreira (UFPA)
Gladys Ferreira de Sousa (EMBRAPA)
Projeto gráfico: Jeferson Francisco Selbach
Edição desenvolvida através do projeto e-ufma
Visite www.eufma.ufma.br
e saiba mais das nossas propostas de inclusão digital
Capa: Açaí natural
Impresso no formato eletrônico - e-book
Adaptação da Dissertação de Mestrado Tipologia do sistema de manejo
de açaizais nativos praticado pelos ribeirinhos em Belém, estado do Pará,
defendida no Programa de Pós-Graduação em Agriculturas Amazônicas
da Universidade Federal do Pará e na Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária Amazônia Oriental, sob orientação do professor Dr.
Osvaldo Ryohei Kato, em abril de 2005.
Este livro foi autorizado para domínio público e está disponível para
download nos portais Domínio Público do MEC e do
Google Pesquisa de Livro
De acordo com a Lei n.10.994, de 14/12/2004,
foi feito depósito legal na Biblioteca Nacional
CDD 630 Agricultura e tecnologias relacionadas
AZEVEDO, James Ribeiro de. Sistema de manejo de açaizais
nativos praticado por ribeirinhos. São Luís/MA: EDUFMA,
2010, 98p. il.
ISBN 978-85-7862-095-0
Aos ribeirinhos das ilhas situadas aos redores de Belém,
capital do estado do Pará, que manejam açaizal nativo para
produzirem de forma sustentável o fruto do açaí e o palmito para
alimentarem suas famílias e muitas pessoas no Brasil e em outros
países e ainda contribuem para minimizar os problemas
de aquecimento global com o uso de sistemas agroflorestais.
SUMÁRIO
Apresentação 7
Introdução 9
Material e métodos 19
Resultados e discussões 29
Considerações finais 89
Bibliografia 93
APRESENTAÇÃO
Na Amazônia brasileira moram milhares de famílias de ribeirinhos que vivem do
extrativismo. Estas populações tradicionais vêm ao longo de anos desenvolvendo formas de
manejo da floresta como forma de sobrevivência. Entre vários produtos manejados da
floresta, o açaizeiro, uma palmeira em que se aproveita o fruto e o palmito, é uma importante
fonte de alimentação e renda para os ribeirinhos do estuário amazônico.
O açaí, bebida extraída do fruto açaizeiro, é um alimento básico dos ribeirinhos e
da população de Belém que vem ganhando mercados no Brasil e em vários países pelas suas
características funcionais que possui, d o interesse de vários órgãos de pesquisa e
desenvolvimento em elaborar propostas de intervenção com o objetivo de aumentar a
produção de frutos dos açaizais nativos a partir de seu manejo.
Neste sentido, James Ribeiro de Azevedo, apesar de estudar o sistema de manejo
de açaizal nativo em apenas duas ilhas, nos trás reflexões sobre as propostas de
desenvolvimento que se propõe a aumentar a produtividade de frutos de açaizal nativo
manejados por ribeirinhos.
Nesta publicação são abordados os aspectos, sociais, econômicos e ambientais
revelando aspectos importantes da vida dos ribeirinhos como exemplo a dificuldade de se
obter água potável, mesmo morando ao redor de uma imensa quantidade de água doce.
Ao identificar diferentes formas e estratégias de manejo de açaizal, o autor
argumenta com base nesta complexidade que propostas únicas de manejo podem ter
dificuldades de serem incorporadas por muitos ribeirinhos.
James Ribeiro de Azevedo faz um importante alerta que a busca permanente por
aumento da produtividade de frutos pode levar ao “monocultivo”, reduzindo a biodiversidade
o que pode provocar a redução da produção de frutos.
Sua contribuição está em estudar o sistema de manejo de açaizais nativos realizado
pelos ribeirinhos, identificando as diferentes formas e estratégias, dentro de um “sistema de
produção” e em consonância com essa complexidade encontrada, em identificar algumas
propostas que podem auxiliar no desenvolvimento de formas de manejos sustentáveis de
açaizais nativos.
Osvaldo Ryohei Kato
INTRODUÇÃO
O extrativismo tem desempenhado um grande papel no desenvolvimento
econômico da região Amazônica brasileira. Dentre os principais produtos extrativos vegetais
oriundos da floresta amazônica que foram economicamente importantes, estão o cacau
(Theobroma cacao) e a seringueira (Hevea brasiliensis), hoje cultivados e outros que ainda
são importantes como a castanha-do-brasil (Bertholettia excelsa), a madeira e o açaizeiro
(Euterpe oleracea Mart.) (HOMMA, 1989, 1993).
Nas últimas três décadas, o açaizeiro vem se destacando por seu impacto positivo
na economia local principalmente para o estado do Pará, com a exploração extrativa do
palmito e nos anos 80 com o aumento do consumo do suco ou “vinho” de açaí, uma bebida
feita do fruto. Enquanto o palmito é principalmente exportado para fora do país, o suco do
açaí é um dos principais produtos da alimentação do povo paraense, com destaque para o
município de Belém que constitui o seu principal mercado consumidor (NOGUEIRA, 1997;
GUIMARÃES et al., 2004).
Nos últimos anos, o suco do açaí está deixando de ser consumido apenas na região
Amazônica e vem ganhando novos mercados do Brasil e no exterior (ENRÍQUEZ; SILVA;
CABRAL, 2003). A entrada das indústrias exportadoras de polpa e suco de açaí no mercado
local e o aumento da população de Belém estão provocando um aumento da demanda de
10 James Ribeiro de Azevedo
frutos (ENRÍQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003). A conseqüência direta desse aumento na
demanda dos frutos é uma alteração no sistema de produção dos ribeirinhos. Estes situados
próximos ao principal centro consumidor, anteriormente tinham sua exploração orientada para
a extração de palmito. Atualmente o sistema de manejo é direcionado para a produção de
frutos.
Apesar do açaizeiro poder ser aproveitado como palmito e como fruto, e ainda ser
possível aproveitar os dois produtos, simultaneamente, de uma touceira, a maioria das
indústrias trabalha especializando-se em um ou outro produto. No entanto, os ribeirinhos do
município de Belém estão trabalhando em um tipo de sistema de manejo orientado
principalmente para a produção de frutos. O palmito é um subproduto. Neste sistema, eles
obtêm uma renda maior do que se estivesse explorando apenas um destes produtos.
Esse sistema de manejo de açaizais nativos, praticados por ribeirinhos, já foi
estudado por Anderson et al. (1985), Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004). Estes
relatam que os ribeirinhos estão realizando um tipo de manejo que permite o aumento da
produção de açaí fruto. Segundo Grossmann et al. (2004) esses manejos são realizados de
diferentes formas.
Identificar e caracterizar os diferentes tipos de manejo dos açaizais nativos
realizados pelos ribeirinhos é o principal objetivo deste trabalho, o qual pretende alimentar as
reflexões em torno de manejos de açaizais nativos, assim como orientar ações de
desenvolvimento que venham a apoiar esses ribeirinhos.
A área do estuário do rio Amazonas é de 2,5 milhões de hectares (LIMA, 1956),
na qual o açaizeiro pode ser encontrado habitando toda a região. Considerado uma espécie
componente da floresta nativa, se apresenta em formas de verdadeiros maciços naturais
conhecidos como açaizais, com predominância em áreas de várzeas (NOGUEIRA, 1997).
Neste ecossistema, o açaizeiro é uma das espécies mais abundantes, freqüentes, e de maior
importância econômica (LIMA, 1956; CALZAVARA, 1972; SILVA; ALMEIDA, 2004). O
estado do Pará possui a maior área do estuário do rio Amazonas, propiciando uma maior
concentração de açaizeiro, embora o mesmo possa ser encontrado em todo o Estado. Em
Belém, as suas mais de 39 ilhas fazem parte deste ecossistema de várzea, onde o açaizeiro
também é encontrado.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 11
A grande concentração de açaizeiro faz do Pará o maior produtor extrativo de fruto
e do palmito
1
de açaí do Brasil (Tabela 01). A produção extrativa do açaizeiro representa uma
renda de R$ 86.774.000,00 para o Estado (Tabela 02).
Tabela 01 - Produção extrativa de palmito e de frutos de açaizeiro no Brasil e no Pará no ano
de 2002
Produção de palmito
Produção de frutos
Brasil (t)
Pará (t)
Pará (%)
Brasil (t)
Pará (t)
Pará (%)
14.529
13.430
92,4
131.958
122.322
92,7
Fonte: IBGE (2002).
Tabela 02 - Valor da produção extrativa de palmito e frutos de açaizeiro no Brasil e no Pará
no ano de 2002
Valor da produção de palmito (R$
1.000,00)
Valor da Produção de frutos (R$
1.000,00)
Brasil
Pará
Brasil
Pará
11.352
8.234
82.899
78.540
Fonte: IBGE (2002).
A região produtora de palmito concentra-se nos municípios de Afuá, Anajás,
Breves, Bagre, e Muaná e a produção de fruto de açaizeiro é oriunda dos seguintes
municípios, os quais são os maiores produtores: Cametá, Limoeiro do Ajuru, Ponta de Pedras,
Abaetetuba e Igarapé - Miri (IBGE, 2002).
Embora possam ser aproveitados os dois produtos: palmito e fruto
simultaneamente em uma mesma planta, a qual é formada por vários estipes (caules de forma
cilíndrica típico das palmeiras), deixando-se alguns para produção de frutos e outros para
extração dos palmitos. No entanto, a maioria das indústrias está trabalhando com apenas uma
linha de produção.
1
Em relação ao palmito obtido de plantios, o estado do Pará representa apenas 0,98% da produção brasileira, que
é de 41.119 toneladas (IBGE, 2002).
12 James Ribeiro de Azevedo
Para as indústrias que iniciaram a exploração do açaizeiro, com a produção de
palmitos, é provável que não haja interesse em trabalhar com os dois produtos em razão de
diminuir a sua principal matéria-prima: o palmito. Muitas destas indústrias, situadas em áreas
de grandes concentrações de açaizais, estão longe dos centros consumidores de frutos,
tornando-se inviável sua comercialização (NOGUEIRA, 1997). pouco registro de
indústrias que trabalham com as duas linhas de produção. Como exemplo, o caso da
Muaná Alimentos, citada por Enríquez, Silva e Cabral (2003). Trabalhar com as duas linhas
de produção requer mais capital, pois se trata de linhas de produções diferentes e exigem
unidades de beneficiamento distintas, uma para cada produto.
No caso dos ribeirinhos
2
, situados próximos aos centros consumidores de frutos de
açaizeiros, eles estão aproveitando simultaneamente os dois produtos: fruto e palmito,
priorizando a produção de frutos para o consumo e o excedente para a comercialização e
obtendo o palmito como subproduto para a comercialização. Tal estratégia permite uma maior
renda anual, a qual para produção de palmito é de R$ 0,80 a unidade. Essa renda é baseada em
razão de se aproveitar, de cada estipe, um único palmito, cuja extração exige-se o seu corte.
No caso da produção de frutos, a renda anual por estipe é de R$ 23,28. Levando-se em
consideração que um estipe adulto de açaizeiro produz em média 24 kg de frutos maduros por
ano (CALZAVARA, 1972) a preço médio de R$ 0,97/kg.
Enquanto a produção de palmito é exportada para outros países, o suco é voltado
basicamente para o consumo interno, onde o Paé o maior mercado consumidor. Nesses
últimos anos, a polpa de açaí foi exportada para outros estados, principalmente para o Rio de
Janeiro (NOGUEIRA, 1997; GUIMARÃES et al. 2004) e para o mercado internacional como
os Estados Unidos e a Austrália (ENRÍQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003).
2
Ribeirinho é considerado neste trabalho como uma das formas de agricultura familiar. Segundo Vanderley
(1999), a agricultura familiar é aquela em que a família, ao mesmo tempo em que é proprietária dos meios de
produção, assume o trabalho no estabelecimento produtivo. Ribeirinho é aquele que mora às margens do rio ou
baía e vive basicamente do açaí e da pesca.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 13
Em Belém, município maior consumidor de suco de açaí, são consumidos mais de
400 mil litros de suco de açaí por dia, segundo a Sectam (1996 citado por MOURÃO, 2004).
Corresponde a um consumo médio de 0,34 litro por habitante/dia. É o prato principal das
refeições diárias das famílias de baixa renda, complementado por farinha d’água, peixe ou
camarão frito, perdendo apenas para a farinha de mandioca (NASCIMENTO, 1992).
Entretanto, deve-se considerar que atualmente, o suco de açaí não é um produto consumido
apenas pelas classes mais baixas, pois o mesmo foi encontrado nos maiores supermercados a
preço de R$ 5,00 o litro, em novembro de 2004, preço superior ao do frango abatido. O suco,
também denominado de “vinho” ou simplesmente açaí, é produzido em vários pontos da
cidade, identificados por placas vermelhas. O açaí também é consumido, em menor
quantidade, na forma de sorvetes e picolés.
A crescente demanda por suco de açaí, nos grandes centros consumidores, tem
provocado uma mudança no sistema de produção dos ribeirinhos, que estão situados próximos
a estes. O açaí fruto, que anteriormente era destinado principalmente para a subsistência das
suas famílias (NOGUEIRA, 1997), passou a ser uma das suas principais fontes de renda e
também o principal alimento consumido (ANDERSON et al. 1985; JARDIM; ANDERSON,
1987; ANDERSON; IORIS, 2001; QUEIROZ; MOCHIUTTI, 2001a; ARZENI; JARDIM,
2004; SIMONIAN, 2004).
Para aumentar a renda familiar, a partir do açaí fruto, os ribeirinhos segundo
Anderson et al. (1985), Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al (2004) estão
desenvolvendo práticas que permitem o aumento na produção, como por exemplo, o desbaste
do número de estipes (caule do açaizeiro) de açaizeiro por touceira. Nesta prática são
desbastados alguns estipes, obtendo-se assim, um subproduto: o palmito. Ao mesmo tempo,
um raleamento da mata, favorecendo o açaizeiro e deixando outras espécies florestais que
tenham alguma utilidade. É provável que alguns ribeirinhos possam, além do manejo, ter
também aumentado o número de açaizeiros através de enriquecimento com muda ou através
de semeio. Entretanto, essa hipótese merece ser melhor investigada.
14 James Ribeiro de Azevedo
Estudos realizados por Anderson et al. (1985), Nogueira (1997) e Anderson e Ioris
(2001) relatam que o controle dos estipes e o raleamento da mata têm influência no aumento
da produção de açaí fruto. Anderson et al. (1985) em trabalho realizado na Ilha das Onças,
município de Barcarena PA, relatam que na área, é feito um controle das touceiras, ficando
entre 2-3 caules maduros, e segundo os informantes, produzem mais frutos. O restante é
cortado para extração de palmitos.
Em estudo sobre o manejo e exploração de açaizeiro nativo realizado em Igarapé
Miri - PA, Nogueira (1997, p. 27) relata que “nas áreas destinadas à produção de frutos,
normalmente, são eliminados os estipes de açaizeiros excedentes das touceiras e também
algumas plantas de outras espécies existentes na área, com vistas a reduzir a grande
concorrência entre elas”.
Anderson e Ioris (2001) descreveram o manejo florestal realizado pelos ribeirinhos
na ilha do Combu, município de Acará
3
- PA, onde são eliminadas espécies indesejáveis,
através do corte seletivo, e realizada a propagação e a introdução de espécies desejáveis,
resultando em ganhos econômicos. Segundo os autores, os habitantes dessa ilha e de outras
áreas do estuário amazônico conciliam a extração do açaí fruto e do palmito, sendo que o açaí
fruto é o principal produto. Estudos mais precisos para avaliar a influência do manejo no
aumento da produção de açaí fruto foram realizados por Jardim e Anderson (1987), Hamp
(1991 citado por NOGUEIRA, 1997), Nogueira (1997) e Jardim e Rombold (1994).
Na experiência realizada por Jardim e Anderson (1987, p. 15-17) na Ilha das
Onças, município de Barcarena - PA, os autores chegaram às seguintes conclusões:
O desbaste na touceira de açaizeiro não produziu efeitos significativos sobre a
produtividade de frutos, embora tenha havido uma tendência de acréscimo nas
produções em parcelas sujeitas apenas a desbaste, em comparação com as
testemunhas. Isto mostra que a extração racional de palmitos (equivale ao desbaste
seletivo na touceira realizado no experimento) pode ser feita em populações nativas
de açaí, sem prejudicar a colheita de frutos.
3
. Para outros autores a ilha do Combu faz parte do território do município de Belém (BELÉM, 1996;
TEIXEIRA, 2001).
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 15
O desbaste seletivo das espécies competidoras da floresta proporcionou um aumento
significativo na produtividade de frutos por estipe. Em combinação com o desbaste
seletivo na touceira de açaizeiro, este tratamento concentrou a produção de frutos em
um número menor de estipes, facilitando, assim, a colheita de frutos. O desbaste
seletivo entre espécies serviu, também, para melhorar o acesso, facilitando a
obtenção de outros produtos da floresta dos quais as populações ribeirinhas
dependem, tais como madeira, fibras, látex, frutos comestíveis, remédios, etc.
Nesse trabalho houve um aumento não-significativo de 60,1% de produtividade de
açaí fruto (kg/ha/ano) ao fazer o desbaste seletivo entre outras plantas e desbaste nas touceiras
de açaí e a área não manejada. A produtividade em kg/ha/ano foi de 1.491,8 com desbaste
seletivo na touceira de açaí; 2.437,60 com desbaste seletivo entre as outras espécies; 1.854,8
com desbaste seletivo na touceira de açaí e outras espécies e 1.158,8 na área não-manejada.
Hamp (1991 citado por NOGUEIRA, 1997) comparou a produção de açaí fruto em
áreas manejadas (onde foi controlado o número de estipes de açaizeiro) e não-manejadas,
localizadas na ilha do Combu, município de Acará, onde verificou que a produção é três vezes
maior nas áreas onde deixou menor número de plantas por touceira, atribuindo esse fato à
menor competição das plantas por luz e nutrientes.
Nogueira (1997), em sua experiência realizada no município de Igarapé-Miri - PA,
com cinco sistemas de exploração de açaizais, sendo dois para extração de açaí fruto
(manejado e não-manejado) e três para extração de palmito (manejados com corte trienal,
manejados com corte anual e não-manejado com corte trienal), obteve melhor resultado
econômico obedecendo à seqüência acima. A produção de açaí fruto manejado com roçagem
e desbaste seletivo dos estipes foi 100% maior do que a não-manejada, obtendo uma produção
de 8.400 kg/ha/ano de açaí fruto e 200 unidades de palmito. As não-manejadas apresentaram
4.200 kg/ha/ano de açaí fruto e 100 unidades de palmito.
Jardim e Rombold (1994) obtiveram na ilha do Combu, município de Acará PA,
um aumento de 23% na produção de frutos em relação à área não-manejada ao realizar o
desbaste seletivo em açaizais nativos.
16 James Ribeiro de Azevedo
Baseado na possibilidade do manejo de açaizeiro nativo aumentar a produtividade
de fruto, Nogueira (1997) propõe um modelo de manejo de açaizal na forma de um
sistema agroflorestal, fazendo-se raleamento (eliminação de espécies de baixo valor
comercial) e enriquecimento (plantio de mudas de açaizeiro, essências florestais e frutíferas).
Este modelo é constituído de 400 a 500 plantas adultas de açaizeiro, 100 a 150 plantas de
espécies frutíferas, e 50 a 60 árvores de essências florestais por hectare. Queiroz e Mochiutti
(2001a) propõem um manejo semelhante ao de Nogueira (1997), que produz mais açaí fruto e
palmitos, madeira e outros produtos com melhor qualidade, deixando-se 400 touceiras de
açaizeiro, 50 palmeiras de outras espécies e 200 árvores.
Apesar dessas propostas aumentarem a produtividade de açaí fruto, a possibilidade
de sua implantação pelos ribeirinhos deveria ser melhor investigada, pois os mesmos realizam
diferentes formas de manejo e, portanto, têm diferentes estratégias. Segundo Grossmann et al.
(2004, p. 127-129), em pesquisa realizada no município de Abaetetuba - PA, as famílias de
ribeirinhos, para usufruir o açaí fruto e o palmito, desenvolveram diferentes práticas de
manejo.
Manejo Intensivo: no manejo intensivo elimina-se toda a vegetação, deixando-se
apenas o açaí [...].
Manejo Intermediário: nesse caso, deixam-se em média 3-4 estipes/touceira e
elimina-se a vegetação representada pelas espécies sem valor econômico e preserva-
se no meio do açaizal, as que apresentam algum valor monetário e/ou utilidade para
as famílias [...].
Manejo Moderado: nesse caso, o agricultor retira apenas algumas espécies da flora,
consideradas indesejáveis, [...] para facilitar o trânsito das pessoas pela floresta [...].
Sem Manejo: nesse caso levantamos a hipótese de que o principal responsável é a
falta de garantia da posse da terra.
De acordo com o estudo de Grossmann et al. (2004), no qual existem diferentes
formas de manejo de açaizais nativos realizados pelos ribeirinhos em Abaetetuba, parte-se do
pressuposto de que apesar da aparente homogeneidade dos sistemas de manejo de açaizais
realizados pelos ribeirinhos nas ilhas do estuário amazônico, é provável que as populações das
ilhas de Paquetá e Ilha Grande, do município de Belém, realizem também diferentes forma de
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 17
manejo de açaizais nativos. Segundo Castellanet, Simões e Filho (1994, p. 3, grifo nosso) [...]
“já foi observado em todos os trabalhos sobre sistemas de produção, que os agricultores
rurais nunca formam uma categoria homogênea, e que é importante a diversidade das
situações para entender porque um agricultor tem uma estratégia diferente do outro”.
O entendimento dos diferentes tipos de manejo de açaizais nativos realizados pelos
ribeirinhos e, conseqüentemente, das diferentes estratégias pode contribuir para que as
implantações das propostas de manejo de açaizal nativo possam ter maiores êxitos. Man Yu e
Sereia (citado por VILAR et al., 2001) ressaltam que a tipologia dos agricultores permite que
a adequação da tecnologia ao tipo de agricultor reduza os riscos, em termos de apresentação
de propostas iguais para produtores diferentes, pois as proposições genéricas são ineficazes,
por não levarem em conta as diferentes estratégias adotadas pelos produtores.
O interesse deste trabalho foi identificar os diferentes tipos de manejo de açaizais
nativos desenvolvidos pelos ribeirinhos e suas diferentes estratégias, avaliar sua influência na
produção de açaí fruto e contribuir para a implantação das propostas de manejo a serem
incorporadas pelos ribeirinhos.
De forma geral, objetivávamos identificar e caracterizar os diferentes tipos de
manejo de açaizais nativos praticados pelos ribeirinhos de duas ilhas do município de Belém,
analisando sua influência na produção e na economia familiar. Especificamente, tivemos por
objetivo: descrever e relacionar as diferentes formas de manejo com as estratégias das
famílias de ribeirinhos, tanto para a produção de frutos como para a de palmito; entender os
fatores que influenciam na diferenciação das formas do sistema de manejo de açaizais;
analisar a influência dos manejos nas produções obtidas; e avaliar a evolução dos sistemas de
manejo de açaizais nativos a partir de 1970.
MATERIAL E MÉTODOS
CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
Meio Envolvente
A ilha de Paquetá e a Ilha Grande pertencem ao município de Belém, capital do
estado do Pará. Belém e os municípios de Ananindeua, Marituba, Benevides e Santa Bárbara
fazem parte da Região Metropolitana de Belém (BELÉM, 1996) (Figura 01).
A população atual de Belém é de 1.280.614 habitantes (IBGE, 2004). Sua
superfície é de 505, 8231 km
2
ou 50.582,30 ha. O total das áreas das ilhas é de 33.203,67 ha e
a área continental é de 17.378,63 ha (BELÉM, 1996). A área insular, que compreende mais da
metade do território, é formada por mais de 39 ilhas. A maioria delas são habitadas. Com
exceção das ilhas de Mosqueiro e Caratateua, os ribeirinhos são a maioria da população nas
demais ilhas e vivem basicamente do açaí e da pesca (BELÉM, 2001 a).
Localização da Área de Estudo
O município de Belém está localizado a 01º 27’20” de latitude Sul e 48º30’15” de
longitude W-Gr. A ilha de Paquetá ocupa uma área de 789 ha. Está a 13,8 km a oeste do
município de Belém (BELÉM, 1996), na baía do Guajará, às proximidades da baía do Marajó.
Sua população é estimada em 384 habitantes. O acesso a ilha de Paquetá é realizado por
barcos de passageiros que partem diariamente do Porto de Icoaraci com destino para a ilha de
Cotijuba. O tempo percorrido entre Icoaraci e Paquetá é de cerca de 30 minutos.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 19
A Ilha Grande ocupa 929,16 ha. Está situada a 12,2 km, ao sul de Belém (BELÉM,
1996), à margem esquerda do rio Guamá (Figura 02). Sua população é estimada em 323
habitantes. O acesso a Ilha Grande é realizado por barcos de ribeirinhos da própria ilha,
quando vem comercializar seus produtos no Porto da Palha (Bairro do Guamá). O tempo
percorrido entre o Porto da Palha e a Ilha Grande é de cerca de 40 minutos.
Figura 01 Mapa da região Metropolitana de Belém-PA
Fonte: Belém (1996).
20 James Ribeiro de Azevedo
Figura 02 Mapa de localização geográfica das ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de
BelémPA
Fonte: Belém (2001a).
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 21
Meio Biofísico - Clima
Segundo a classificação de Köppen, o clima de Belém é do tipo Af. Os dados
pluviométricos de 2003 apresentam média anual de 2.749,4 mm, (Figura 03), caracterizando
dois períodos: o mais chuvoso, denominado regionalmente de inverno, que vai de janeiro a
maio, e o menos chuvoso ou verão, que vai de junho a dezembro.
Apresenta variação de temperatura do ar em ºC médias das mínimas de 22,0 e
médias das máximas de 32,3. Umidade relativa do ar em % variando de 84 a 93 (BELÉM,
1996).
Figura 03 - Dados de precipitação mensal do município de Belém-PA, no ano de 2003
Fonte: EMBRAPA (2004).
Meio Biofísico - Vegetação
A vegetação dessas ilhas é classificada de floresta densa de planície e manguezal.
Na floresta densa de planície na várzea alta, a vegetação é constituída principalmente de
açaizeiro, ucuúba (Virola surinamensis) assacu (Hura crepitans), sumaumeira (Ceiba
pentandra), seringueira (Hevea brasiliensis) (BRASIL, 1974). Na várzea baixa encontram-se
açaizeiro, Astrocaryum murumuru, Pseudobombax munguba e Quaribea guianensis. No
0
100
200
300
400
500
600
jan
fev
mar
abr
maio
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Precipitação (mm)
meses
22 James Ribeiro de Azevedo
manguezal, localizado na parte mais baixa da ilha e freqüentemente inundado, a vegetação é
composta por mangue vermelho (Rhizophora mangle), siriúba (Avicennia nítida) e aninga
(Montrichardia linifera) (BRASIL, 1974).
Meio Biofísico - Regime das Marés
As ilhas de Paquetá e Ilha Grande são ilhas de várzeas, sofrem influência do
oceano e são banhadas pelas águas das marés diariamente. Apenas nas maiores marés é que as
ilhas ficam quase completamente cobertas por águas. Segundo Lima (1956), dá-se o nome de
marés aos movimentos alternados de ascensão e abaixamento das águas do mar. Esse
movimento tem duração de 6 horas e 12 minutos e chega à altura máxima, denominada de
preamar, a qual permanece parada durante 7 minutos e, em seguida, inicia o refluxo ou
vazante com mesma duração. Esses movimentos são realizados quatro vezes ao dia. As marés,
a cada 24 horas, ocorrem 50 minutos mais tarde em relação ao dia anterior, por influência da
lua. A cada semana, ocorre uma maré grande de águas vivas (“maré de lanço”, denominação
local) e uma maré pequena de águas mortas (“maré de quebra”, denominação local). Nos
meses de março e setembro, ocorrem as maiores marés do ano.
Os ribeirinhos dessas ilhas conhecem muito bem o movimento das marés, pois elas
orientam o seu deslocamento nos rios ou baías e também por ocasião da pesca do peixe ou da
captura do camarão.
Nos meses de setembro a dezembro, as águas dos rios diminuem de volume e a
água do oceano penetra com mais força, tornando a água dos rios um pouco salgada, ficando
inapropriada para o consumo.
Meio Biofísico - Relevo
A ilha de Paquetá possui área de várzea alta e baixa, enquanto que a Ilha Grande
possui áreas de várzea alta, baixa e igapó. Várzea alta é a denominação dada aos trechos da
floresta temporariamente inundáveis pelas águas dos rios, e igapós são as áreas que
permanecem todo o ano inundáveis (LIMA, 1956). As águas da preamar, que cobrem a várzea
alta, não permanecem mais que duas horas sobre o solo. É nesse momento em que se
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 23
depositam as partículas de limo e argila translocadas pelas marés (LIMA, 1956). Segundo
Sampaio (1988), citado por Jardim (2000), a diferença topográfica da várzea alta para a baixa
é de aproximadamente 1,5 a 2,0 metros.
Meio Biofísico - Solo
Encontram-se nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, solos hidromórficos
indiscriminados eutróficos e distróficos e solos de mangue (solos halomórficos) (BRASIL,
1974). Os solos hidromórficos apresentam perfis de horizonte superficial orgânico e orgânico-
mineral, com grande variação em espessura, nos quais a matéria orgânica está total ou
parcialmente decomposta ou em ambas as formas. Segundo Falesi (1986), esses solos são
resultantes do acúmulo de sedimentos deixados pelas águas das marés, são mal drenados, com
elevados teores de argila, baixa saturação de bases e pH de 4,5 a 5,0. Os solos de mangue
(solos halomórficos) são constituídos por sedimentos translocados pelas águas das marés não-
consolidados, recentes, geralmente gleyzados, formados por material misto, fino, misturado a
materiais orgânicos provenientes, principalmente da decomposição dos detritos de mangue e
da atividade biológica provocada por caranguejos (BRASIL, 1974).
Em geral esses solos são quimicamente bons, embora alguns apresentem elevados
teores de alumínio trocável, mas não são dotados de boas propriedades físicas, devido às
condições de hidromorfismo (SILVA, 1975). Esses tipos de solos dificultam a produção de
vários cultivos agrícolas importantes como a mandioca e o milho.
Descrições dos Métodos
O método utilizado neste trabalho foi baseado no diagnóstico de sistemas agrários
(OBANO; MORA, 1992; FILHO, 1999). Segundo Mazoier (1987) citado por Filho (1999, p.
21) “um sistema agrário é, antes de tudo, um modo de exploração do meio historicamente
constituído, um sistema de forças de produção, um sistema técnico adaptado às condições
bioclimáticas de um espaço determinado, que responde às condições e às necessidades sociais
do momento”.
24 James Ribeiro de Azevedo
O ponto de partida foi o levantamento de informações gerais existentes sobre a
região Metropolitana e do município de Belém abrangendo as ilhas estudadas, através de
mapas, dados socioeconômicos e ambientais.
O segundo momento foi à realização de entrevistas com as famílias, buscando
caracterizar o sistema de produção.
No terceiro momento, foram coletadas informações mais detalhadas sobre o
manejo de açaizais realizado atualmente e as transformações ocorridas desde 1970. Período de
implantação das indústrias de palmito. Após essa etapa, demarcou-se a unidade de amostra de
açaizal.
O cruzamento do conjunto de variáveis (intensidade de mão-de-obra, renda,
consórcio do açaizeiro com o cacaueiro, número de essências florestais preservadas no açaizal
e rendimento de frutos de açaí/ha) permitiu a elaboração de uma matriz de indicadores
socioeconômicos, tecnológicos e ambientais que serviu para identificar as similaridades e
heterogeneidades das práticas (OBANO; MORA, 1992; FILHO, 1999), constituindo a
tipologia dos sistemas de manejo de açaizais nativos. A classificação da tipologia foi baseada
no trabalho de Grossmann et al. (2004), na qual foram identificados os seguintes tipos de
manejo de açaizais nativos: intensivo, intermediário, moderado e sem manejo. As variáveis
utilizadas foram: o número de estipes/touceira; o espaçamento e a eliminação das outras
espécies.
Elaboração do Questionário
O questionário foi elaborado com perguntas abertas e fechadas. Os itens abordados
compreendem: a família, a habitação, o patrimônio, a situação fundiária, a renda, o manejo de
açaizal e a comercialização.
Definição da Amostragem das Famílias
As ilhas de Paquetá e Ilha Grande foram escolhidas em razão de estarem em duas
regiões distintas do município de Belém, uma a oeste e outra ao sul, mas com ecossistema
semelhante.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 25
Foram entrevistadas 22 das 63 famílias da Ilha Grande, o equivalente a 35% do
total e 31 das 74 famílias da ilha de Paquetá, o que corresponde a 42% do total.
Em cada área diferente nas ilhas foram entrevistadas algumas famílias, sendo uma
escolhida para cada grupo de três a cinco.
Teste do Questionário
O questionário foi testado anteriormente com quatro famílias, sendo duas por ilha
e não houve necessidade de ajuste do mesmo.
Aplicação dos Questionários
Foram entrevistadas no máximo quatro famílias por dia, utilizando-se um morador
local como guia.
Definição das Unidades de Amostragem de Açaizais
Foi demarcada uma área de 10 x 20 m (0,02 ha) nos açaizais de cada família para
coletar os dados do sistema de manejo como: número de estipes de açaizeiros
jovens
4
/touceira; estipes de açaizeiros adultos
5
/touceira; número de touceiras de açaizeiros;
número e identificação de outras espécies florestais a partir de 2m de altura, uma vez que
plantas inferiores a essa medida podem ser roçadas. As espécies foram identificadas pelo
herbário IAN da Embrapa. O método utilizado nessas parcelas foi baseado nos trabalhos de
Nogueira (1997), Calzavara (1972) e Silva e Almeida (2004). Essas unidades foram
localizadas em uma área representativa da floresta de açaizal, que é um gradiente entre o
quintal florestal (área ao redor das habitações onde geralmente encontram-se plantas
frutíferas) e a mata, segundo Anderson et al. (1985) e Anderson e Ioris (2001). Estes dados
foram anotados no momento das entrevistas com as famílias, portanto, não houve
acompanhamento de tais unidades.
4
Estipe jovem é aquele que apresenta caule formado, mas que ainda não produziu.
5
Estipe adulto é aquele que já produziu
26 James Ribeiro de Azevedo
Tabulação e Análise dos Dados
Os dados quantitativos que não serviram para identificar os diferentes tipos de
manejo foram agrupados por localidade e tabulados com o auxílio de um programa de
planilha eletrônica, o excel.
Com base na combinação dos dados qualitativos e quantitativos, foram agrupados
os diferentes tipos de manejo de açaizais. Após essa etapa, os dados que serviram para
diferenciar os tipos de manejo foram tabulados com o mesmo programa e analisados.
Os dados estatísticos analisados foram às médias, os valores mínimos e máximos e
o coeficiente de variação.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O Processo de Ocupação e a Situação Fundiária
O processo de ocupação nessas ilhas, a partir dos ribeirinhos entrevistados,
começou provavelmente a partir da década de 1930. Inicialmente em Paquetá e depois na Ilha
Grande (Tabela 03).
Tabela 03 - Média de anos de moradia dos ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Ilha
Média
de anos
Mínimo
(Mín)
Máximo
(Máx)
Coeficiente
de
Variação
% (CV)
Paquetá
29
5
66
47,90
Ilha Grande
16
1
37
77,68
Coeficiente de variação > = a 30% significa que os dados são muitos heterogêneos.
As famílias que vieram habitar essas ilhas são originadas principalmente do
município de Barcarena (Ilha das Onças e Arapiranga), que corresponde a 33% das famílias
de Paquetá e de dois municípios da ilha do Marajó: Muaná que corresponde a 10% de Paquetá
e 23% da Ilha Grande e São Sebastião da Boa Vista que correspondente a 18% das famílias da
Ilha Grande (Tabela 04 e 05).
28 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 04 - Origem das famílias da Ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Origem
%
Paquetá
37
Outras localidades de Belém
17
Barcarena
33
Muaná
10
Abaetetuba
3
Total
100
Tabela 05 - Origem das famílias da Ilha Grande, município de Belém-PA
Origem
%
Ilha Grande
27
Outras localidades de Belém
18
Muaná
23
São Sebastião da Boa Vista
18
Bujaru
9
Acará
5
Total
100
Esse fluxo de migração, no qual todas as pessoas nasceram no estado do Pará, e de
ecossistema semelhante, é completamente diferente, comparando-se com o processo de
migração de outras regiões do estado do Pará como a Sudeste e a região da Transamazônica,
nas quais muitas pessoas vieram de outros estados do Brasil (VELHO, 1981; HÉBETTE;
ALVES; QUINTELA, 2002) e de ecossistemas diferentes do amazônico. O que
possivelmente causou dificuldades iniciais de adaptação das famílias migrantes ao novo meio.
A ocupação nos lotes se deu a partir da orla para o interior da ilha. As famílias que
chegavam depois construíram suas habitações, a uma distância lateral, em concordância com
as ocupações mais antigas. Os lotes iniciais eram maiores e depois foram divididos por
herança para garantir a reprodução dos filhos. Isso aconteceu em maior intensidade em
Paquetá, onde as famílias são mais antigas (Tabela 06). A compra do direito de posse nos
lotes na Ilha Grande foi menor, em razão da entrada controlada de famílias pelo fazendeiro
que se dizia proprietário da ilha, o qual obrigava as famílias a venderem, ou mais
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 29
precisamente trocarem, suas produções na cantina da fazenda. Por ocasião da troca, os
ribeirinhos pagavam uma taxa que na prática, era o pagamento da renda da terra para o
fazendeiro. Essa forma de uso da terra também foi encontrada por Nugent (1991 citado por
SIMONIAN, 2004) na ilha do Combu.
Tabela 06 - Formas de acesso à terra dos ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Tipos
Paquetá
Ilha Grande
Posse
10
68
Herança
57
27
Compra de posse
33
5
Legenda: posse = ocupação inicial de uma área; Herança = divisão da área dos pais para os filhos; Compra de
posse = compra de uma área já ocupada.
Os ribeirinhos pagavam ao fazendeiro a terça parte (1/3) dos seguintes produtos:
açaí fruto, palmito, folha de guarumã (Ischnosiphon arouma (Aubl.) Körn.) e borracha, e meia
parte (1/2) de cacau e suínos, produtos vendidos em menores quantidades (Tabela 07). Há oito
anos, extinguiu-se o pagamento de uso da terra. Essa conquista foi resultado do enfrentamento
ao fazendeiro por uma liderança da ilha, conhecida por Dona Quinha. Ela recebeu a
informação de sua filha, que foi morar na cidade de Belém, onde tomou conhecimento que a
ilha pertencia à União.
Tabela 07 - Quantitativo do pagamento da renda da produção dos ribeirinhos ao fazendeiro,
Ilha Grande, município de Belém-PA
Produto
Renda da terra
Açaí fruto
1/3
Palmito
1/3
Folha de Guarumã
1/3
Borracha
1/3
Cacau
1/2
Suíno
1/2
30 James Ribeiro de Azevedo
De fato, a Ilha Grande e Paquetá pertencem à União, pois são consideradas
terrenos de marinha
6
, e estes são bens da União (BRASIL, 1988). Os ribeirinhos dessas ilhas
têm apenas a posse da área ocupada, pois até o momento, não procuraram a Secretaria de
Patrimônio da União para requererem alguma forma de regularização de suas posses. Apesar
de estarem em áreas não-regularizadas, os ribeirinhos estão mais de 15 anos nessas ilhas e
acreditam que a União não vai retirálos de suas ocupações. A estabilidade dessas ocupações,
tida como certa, permitirá que eles possam investir mais mão-de-obra no manejo de açaizais.
Segundo Castro (2000) e Grossmann et al. (2004), o coletor de não mudará do
extrativismo para um sistema de manejo se não possuir a garantia de ficar em suas terras.
Os lotes de Paquetá, que têm em média 16 ha, são menores do que os da Ilha
Grande, que têm em média 21 ha (Tabela 08), pois muitas famílias de Paquetá têm na pesca
uma boa fonte de renda e não necessitam de áreas maiores. Outro fator que influenciou a Ilha
Grande a ter lotes maiores foi a menor entrada de famílias para ocupação da terra, que era
controlada pelo fazendeiro.
As delimitações dos lotes são feitas por picos (abertura realizada na vegetação de
aproximadamente um metro de largura), onde geralmente colocam-se estacas de madeiras e
por igarapés.
Os lotes apresentam uma cobertura vegetal praticamente dividida em açaizal e
mata. O açaizal apresenta-se em duas formas: o nativo e o manejado
7
. As áreas ocupadas com
açaizeiro não são contínuas, encontram-se distribuídas na mata próxima às habitações,
ocupando cerca de 0,5 a 1,0 ha em Paquetá e 0,5 a 1,5 ha na Ilha Grande (Tabela 09).
6
Terrenos de marinha são todas as terras banhadas pelas águas do mar ou de rios navegáveis que sofrem a
influência da maré, em uma profundidade de 33 m a partir do preamar médio do ano de 1831 para dentro da
terra, acrescentando-se 33 m (BRASIL, 2004).
7
Açaizal manejado é aquele em que o ribeirinho realiza pelos menos uma das seguintes práticas:
enriquecimento, desbaste dos estipes, roçagem e raleamento da mata que serão detalhadas a seguir.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 31
Tabela 08 - Área dos lotes de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
Área dos
lotes (ha)
Mín.
Máx.
CV %
Paquetá
16
0,48
50
81,66
Ilha Grande
21
3
100
123,08
Tabela 09 Área ocupada com açaizeiros nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de
Belém-PA
Ilha
Área com açaizeiros (ha)
Paquetá
0,5 a 1,0
Ilha Grande
0,5 a 1,5
Aspectos Sociais
Composição da População
Em Paquetá, a população é formada principalmente de adultos, (19 a 59 anos)
seguida da categoria de crianças (0 a 12 anos). Os idosos (mais de 60 anos) e os jovens (13 a
18 anos) são, como na Ilha Grande, a minoria da população. As mulheres são a maioria da
população de um modo geral e maior na categoria jovem, adulto e idoso (Figura 04).
Figura 04 Composição da população, por faixa etária, dos ribeirinhos da ilha de Paquetá,
município de Belém-PA
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
0 - 6
7 - 12
13 - 18
19 - 59
+ 60
%
anos
Masculino
Feminino
32 James Ribeiro de Azevedo
A população da Ilha Grande é formada pela maioria da categoria de adultos (19 a
59 anos) e crianças de (0 a 12 anos), ambas com percentuais iguais. Os idosos (com mais de
60 anos) e os jovens (13 a 18 anos) são a minoria da população. Os homens são a maioria da
população de um modo geral e nas categorias de crianças de 7 a 12 anos e de jovens (Figura
05).
Figura 05 Composição da população, por faixa etária, dos ribeirinhos da Ilha Grande,
município de Belém-PA
Em relação ao número de pessoas por família, ambas têm, em média, cinco
pessoas (Tabela 10). Essas famílias têm necessidades de serem numerosas em razão de
precisarem de mão-de-obra para as diversas atividades de produção agroextrativista.
Tabela 10 - Número médio de pessoas por família de ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, município de Belém-PA
Ilha
Média do nº de
pessoas/família
Mín.
Máx.
CV
Paquetá
5
1
12
51,04
Ilha Grande
5
2
10
39,53
0
10
20
30
40
50
60
0 - 6
7 - 12
13 - 18
19 - 59
+ 60
%
anos
Masculino
Feminino
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 33
Educação
Paquetá possui três escolas de à série, sendo duas municipais e uma estadual.
Na Ilha Grande duas escolas municipais de à série. Para continuarem seus estudos, a
partir da série, as pessoas de Paquetá freqüentam escola na cidade de Belém ou na ilha de
Cotijuba. No caso da Ilha Grande, os estudantes continuam seus estudos na cidade de Belém.
O transporte dos estudantes para Belém era pago pela Prefeitura. Na Ilha de Paquetá havia
turma do “Movimento de Alfabetização de Adultos” (Mova) da Prefeitura, mas nem todas as
famílias participam, pois ainda existem pessoas não-alfabetizadas. Poucas pessoas concluíram
ou estavam cursando o segundo grau e a maioria cursou ou estavam cursando o ensino
fundamental (Figura 06). Foi observada apenas uma pessoa na Ilha de Paquetá com o curso
superior.
A possibilidade das famílias matricularem seus filhos para continuarem seus
estudos é considerada um fator muito importante para a permanência dessas famílias nas
localidades.
Figura 06 Grau de escolaridade da população da ilha de Paquetá, município de Belém-PA
0
5
10
15
20
25
30
35
40
7 - 12
13 - 18
19 - 59
60 +
nº de pessoas
anos
analfabeto
alfabetização
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
2º grau
3º grau
34 James Ribeiro de Azevedo
Figura 07 Grau de escolaridade da população da Ilha Grande, município de Belém-PA
Saúde
A população das duas ilhas é atendida em suas residências por agentes
comunitários de saúde, enfermeiros e médicos e do programa “Família Saudável” da
Prefeitura
8
. Quando necessidade de procurar os serviços de saúde mais especializados, as
pessoas de Paquetá vão consultar os médicos na Unidade de Saúde da Ilha de Cotijuba ou no
Distrito de Icoaraci, na cidade de Belém e as da Ilha Grande vão até a Unidade de Saúde da
ilha do Combu, ou no Distrito do Guamá, situado em Belém.
Infra-Estrutura (água, energia e transporte)
Apesar dessas ilhas serem banhadas por bastante água, contraditoriamente, existe
uma grande dificuldade de abastecimento de água potável. As famílias de Paquetá utilizam
água na Ilha de Cotijuba e as da Ilha Grande em Belém e no Município de Acará. Para
beberem água gelada e conservar por pouco tempo algum alimento, as famílias compram gelo
de pessoas que vendem diariamente em suas embarcações, oferecendo o produto nas casas
dos ribeirinhos. Na Ilha Grande foi construída uma cisterna para aproveitar a água da chuva. É
8
O Programa Família Saudável da Secretaria Municipal de Saúde (SESMA), da Prefeitura Municipal de Belém,
foi criado em 1998 para realizar prevenção e promoção de saúde, mudando radicalmente o modelo tradicional de
assistência médica que dá prioridade apenas às atividades curativas (BELÉM, 2001 b).
0
5
10
15
20
25
30
35
7 - 12
13 - 18
19 - 59
60 +
nº de pessoas
anos
analfabeto
alfabetização
1ª a 4ª série
5ª a 8ª série
2º grau
3º grau
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 35
uma experiência piloto, para tentar diminuir o problema da falta de água potável, cuja
experiência é bastante difundida no nordeste do Brasil (BRASIL UM PAÍS DE TODOS,
2004).
Durante o inverno, ou período mais chuvoso, algumas vezes, a água do rio é
utilizada para o consumo, mas no período do verão, ou período menos chuvoso, a água não é
consumida, pois fica salgada.
As residências das duas ilhas não são servidas por rede de energia elétrica. Durante
a noite, elas são iluminadas com lâmpadas fluorescentes através de energia fornecida por
bateria de automóveis (recarregadas em Belém) ou por pequenos grupos geradores. Estes
equipamentos também servem para fornecer energia para os aparelhos de televisão. Em
Paquetá, 65% das famílias entrevistadas possuem baterias, 6% possuem grupos geradores e
71% possuem aparelhos de televisão. Na Ilha Grande, 86% das famílias entrevistadas
possuem baterias, 14% possuem grupos geradores e 86% possuem aparelhos de televisão. As
famílias, que não possuem baterias ou grupos geradores, utilizam candeeiros para iluminarem
suas residências.
Os barcos e as canoas são os principais meios de transporte das famílias e de suas
produções. Aprender a remar é tarefa obrigatória desde criança, pois é fundamental para o
deslocamento das famílias. Conhecer o regime das marés é vital para quem utiliza este tipo de
transporte nas ilhas. O transporte a pé, entre as residências, é realizado principalmente no
verão, quando os caminhos estão mais secos.
Tabela 11 Fontes de energia elétrica e aparelhos de TV utilizados pelos ribeirinhos das Ilhas
de Paquetá e Ilha Grande, Município de Belém-PA
Fonte de
energia e
aparelho de TV
Ilha de Paquetá
Ilha Grande
Nº de famílias
que possuem
%
Nº de famílias
que possuem
%
Grupo gerador
2
6
3
14
Bateria
20
65
19
86
Candeeiro
9
29
0
0
Aparelho de TV
22
71
19
86
36 James Ribeiro de Azevedo
Moradia
As casas estão situadas em cada lote. São do tipo palafitas
9
, construídas de madeira
e cobertas por telhas de cerâmicas, palha e fibra de cimento (Tabela 12). Possuem, em média,
dois compartimentos em Paquetá e três na Ilha Grande (Tabela 13). As palhas utilizadas para
cobrir as casas são de uma palmeira encontrada nessas ilhas denominada de ubuçu (Manicaria
saccifera). As famílias da Ilha Grande estão investindo mais em suas residências, pois
apresentam um maior número de compartimentos e maior percentual de cobertura com telhas
de cerâmicas (95%), que é um tipo de material de valor mais elevado e de melhor qualidade,
pois transmite menos calor em relação à telha de fibra de cimento.
Tabela 12 Percentual dos tipos de coberturas das residências das ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, município de Belém-PA
Tipo de cobertura
Paquetá (%)
Grande (%)
Cerâmica
35
95
Palha
35
5
Fibra de Cimento
30
0
Tabela 13 - Número médio de compartimentos das residências das ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, município de Belém-PA
Ilha
Nº médio de
compartimentos
Mín.
Máx.
CV%
Paquetá
2
1
4
37,72
Ilha Grande
3
2
6
40,47
9
Palafitas são casas construídas sobre estacas para evitar a inundação provocada pela subida das marés.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 37
Evolução do Sistema de Produção
Segundo Filho (1999), o estudo da evolução permite compreender as conseqüentes
modificações que acarretaram os sistemas de produção. Para Dufumier (1996 citado por
FILHO, 1999, p. 26) “na escala de um estabelecimento agrícola o sistema de produção pode
ser definido como uma combinação (no tempo e no espaço) dos recursos disponíveis para a
obtenção das produções vegetais e animais”.
Nesse sentido, alguns produtos como o látex da seringueira e a folha de guarumã
que foram importantes para a reprodução familiar destes ribeirinhos, perderam sua
importância devido a vários fatores. Outro que tinha menor importância no passado, como o
açaí fruto, atualmente está em destaque (Tabela 14).
Tabela 14 - Evolução dos principais componentes do sistema de produção das ilhas de
Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Componentes
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Cacau
++
++
-
-
Peixe
+++
++
+
-
Camarão
+++
++
+
-
Látex da
seringueira
++
+
0
0
Suíno
+++
++
-
-
Açaí fruto
-
+
++
+++
Palmito
+++
++
+
-
Folha de
guarumã
+
-
0
0
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Seringueira
O látex retirado da seringueira foi um importante componente do sistema de
produção nas duas ilhas, mas o baixo preço (Figura 08) desestimulou a sua extração, que foi
paralisada nos anos 90 (Tabela 15). O declínio do extrativismo da seringueira, segundo
Homma (1983, 1999), deve-se ao alto custo de extração, a fabricação sintética da borracha e à
maior produtividade dos plantios racionais.
38 James Ribeiro de Azevedo
Apesar das famílias não estarem extraindo o látex, as seringueiras ainda não foram
derrubadas, elas estão ainda no meio do açaizal. Talvez os ribeirinhos estejam esperando uma
retomada de preços.
Tabela 15 - Evolução da extração do látex da seringueira nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Componente
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Látex da
seringueira
++
+
0
0
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Figura 08 - Evolução do preço do látex da seringueira na Região Amazônica
Fonte: FIBGE (1974, 1976, 1982, 1986 citado por Anderson; Ioris, 1992); IBGE (2002),
modificado pelo autor.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
1974
1976
1982
1986
2002
Preço em US$ (1,000)/t
anos
látex coagulado
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 39
Cacau
O cacau, encontrado em maior quantidade na Ilha Grande, teve seu declínio de
preço na década de 90 (Figura 09) que ocasionou uma queda na produção colhida (Tabela 16).
O preço atual, apesar de estar se recuperando, não tem estimulado a ampliação de seu plantio,
uma vez que não é um produto nativo dessas ilhas. Sua produção ainda é comercializada,
mesmo a preço pouco satisfatório pelas famílias. A semente atualmente foi comercializada
verde a R$ 1,20/kg e seca por R$ 4,00/kg.
Tabela 16 - Evolução da produção de cacau na Ilha Grande, município de Belém-PA
Componente
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Cacau
++
++
-
-
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Figura 09 - Evolução do preço do cacau no Brasil
Fonte: BRASIL Coopercacau (1980, 1990 citado por CEPLAC, 1994), modificado pelo
autor, com preços corrigidos pelo INPC do IBGE.
0
1
2
3
4
5
6
7
8
1980
1990
2004
Preço da semente em
R$/kg
anos
cacau
40 James Ribeiro de Azevedo
Peixe e Camarão
O peixe e o camarão estão com suas produções diminuindo a cada década (Tabela
17). Segundo as famílias das duas ilhas, as causas do declínio da produção devem-se ao
aumento do número de pescadores, a pesca de arrasto realizada pelas indústrias de pesca, a
poluição das águas provocada pelos dejetos de esgotos de Belém e pelas indústrias de alumínio
localizadas em Barcarena. Apesar do declínio, a pesca ainda é um dos principais componentes
da renda das famílias de Paquetá.
Tabela 17 - Evolução da produção de peixe e camarão nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Componentes
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Peixe
+++
++
+
-
Camarão
+++
++
+
-
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Guarumã
A folha de guarumã, (Ischnosiphon arouma (Aubl.) Körn.), encontrada em maior
quantidade na Ilha Grande, era comercializada para embrulhar produtos comercializados como
farinha, carne, peixes e outros. Teve seu declínio nos anos 80 (Tabela 18) devido o surgimento
de sacolas plásticas. Esse produto seguiu a trajetória da teoria de Homma (1983, 1999), sobre a
substituição de determinados produtos extrativos por sintéticos.
Tabela 18 - Evolução da produção de folha de guarumã nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Componente
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Folha de
guarumã
+
-
0
0
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 41
Suínos
A criação de suínos, ainda presente nas duas ilhas, é realizada de forma altamente
extensiva. Os animais vão buscar alimentos no açaizal e na mata e ficam quase semi-
selvagens. Com o aumento do número de pessoas nas ilhas e como os animais são criados
soltos na mata, muitos deles são furtados, o que está desestimulando a maioria dos ribeirinhos
a continuar com essa criação, que está diminuindo a cada década (Tabela 19).
Tabela 19 - Evolução da criação de suínos nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de
Belém-PA
Componente
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Suíno
+++
++
-
-
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Palmito e Fruto de Açaizeiro
No início da década de 70, com a instalação das primeiras indústrias de
beneficiamento de palmito (BRABO, 1979; POLLAK; MATOS; UHL, 1996), os ribeirinhos
começaram a explorar o açaizal existente, realizando corte de todos os estipes das touceiras,
para comercializar o palmito. Essa prática colocava em risco a manutenção dos açaizais
(BRABO, 1979; POLLAK; MATOS; UHL, 1996; BOVI, 2004; SIMONIAN, 2004). Uma
pequena parte do açaizal era destinado para a produção de açaí fruto como complemento da
alimentação, pois naquela época, havia o peixe e a farinha como os produtos mais
consumidos. As famílias começaram a manejar parte do açaizal para terem maior produção de
açaí fruto para o consumo familiar, que naquele momento era insuficiente. O consumo de açaí
fruto em Belém era muito pequeno, pois os ribeirinhos relataram que tinham muita
dificuldade para comercializá-los, por falta de compradores.
Nessa década, a renda do palmito era mais importante para as famílias do que o
açaí fruto (Tabela 20). O palmito era retirado de janeiro a setembro. Nos demais meses, o
trabalho era deslocado para a colheita dos frutos, destinados principalmente para a
alimentação.
Em meados da década de 80 e início dos anos 90, o consumo de açaí aumenta em
Belém (Figura 10). Esta alteração no mercado também provocou uma alteração no manejo do
42 James Ribeiro de Azevedo
açaizal que passou a ser orientado para a produção de açaí fruto. Desta forma, o palmito foi
deixando de ser produto principal para ser um subproduto do manejo. A extração do palmito
passa a ser mais equilibrada, retirando-se apenas o excesso de estipes por touceira, deixando
alguns estipes para produção de frutos. Segundo Anderson e Ioris (1992), em estudo realizado
na ilha do Combu, a produção de açaí fruto, por família de ribeirinhos, em 1984 passou de
2.634 kg para 16.017 kg em 1988.
Assim, o açaí fruto, que nas décadas anteriores, era considerado um complemento
alimentar, passou a ser o produto principal do açaizeiro, constituindo-se em um dos principais
produtos para o consumo e renda dos ribeirinhos.
Tabela 20 - Evolução da produção de açaí fruto e palmito de açaizeiro nas ilhas de Paquetá e
Ilha Grande, município de Belém-PA
Componentes
Década de
1970
Década de
1980
Década de
1990
Ano 2004
Açaí fruto
-
+
++
+++
Palmito
+++
++
+
-
Legenda: “0” ausência; -” menor produção; “+” maior produção.
Figura 10 - Evolução do consumo de açaí em Belém-PA
Fonte: Calzavara [197-]; Sectam (1996 citado por Mourão, 2004); Mourão (2004).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
1970
1989
1996
Consumo de açaí em
1000l/dia
anos
consumo de
litros de açaí
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 43
De acordo com essas transformações ocorridas, pode-se afirmar que apesar da
aparente estabilidade do sistema de produção agroextrativista dos ribeirinhos das ilhas de
Paquetá e Ilha Grande, houve bastantes modificações nestes últimos trinta anos, apesar de
ocorrerem lentamente.
Como se pôde observar anteriormente, a seringueira e o guarumã seguiram o rumo
traçado pela teoria de Homma (1983, 1999) sobre o extrativismo na Amazônia, mas o sistema
de manejo de açaizal nativo desenvolvido pelos ribeirinhos será superado pelo plantio
“racional” de açaizeiro e levará ao seu abandono como ocorreu com a seringueira? Apesar de
ser uma análise superficial, neste caso, provavelmente não! Quatro fatores serão aqui
analisados: a concentração de plantas/ha, o custo de produção, o rendimento de frutos/ha e o
modelo de produção.
No sistema de manejo realizado pelos ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, o número de touceiras adultas/ha observadas foi de 700 em Paquetá e 550 na Ilha
Grande (Tabela 21), sendo superior ao do plantio de açaizeiro que é de 400 touceira /ha
segundo Queiroz e Mochiutti (2001b) e superior, apenas no caso da ilha de Paquetá, à proposta
de Calzavara (1987) que é de 625 touceira/ha.
Em relação ao custo de produção, aparentemente, o sistema de manejo tem menor
custo. Neste caso, não é utilizado fertilizante sintético. O açaizeiro é adubado com a adição de
argila e matéria orgânica translocadas pelas águas das marés; pela reciclagem de nutrientes de
folhas e cachos do próprio açaizeiro e de partes vegetais de outras plantas. Segundo trabalho
realizado por Jardim e Rombold (1994), a adubação com fertilizante (N.P.K.) em área de
várzea, não influenciou no aumento da produção de frutos. No plantio racional em terra firme
é recomendada a adição de fertilizante (CALZAVARA, 1987; QUEIROZ; MOCHIUTTI,
2001b), tornando o custo de produção aparentemente mais elevado.
A comparação do rendimento de frutos é bastante dificultada, devido a grande
variação das informações. O maior rendimento de frutos/ha, observado no sistema manejado
pelos ribeirinhos da Ilha Grande foi estimado em 12.320 kg/ha e 9.660 kg/ha na ilha de
Paquetá. Conforme Oliveira, Carvalho e Nascimento (2000), em açaizais nativos manejados
com densidade de 1.500 plantas/ha com cerca de 53% delas em produção, foi registrada
produtividade de até 9.000 kg de frutos/ha. Hamp (1991 citado por NOGUEIRA, 1997)
44 James Ribeiro de Azevedo
chegou a uma produção de 24.000 kg/ha/ano em açaizais nativos manejados. No plantio
racional o rendimento é também bastante diferenciado, com produção de 12.000 kg/ha/ano
segundo Queiroz e Mochiutti (2001b) e de 46.875 kg/ha/ano conforme Calzavara (1987).
Tabela 21 Número de touceiras adultas de açaizeiros nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Ilhas
Número de touceiras
adultas de açaizeiro /ha
Paquetá
700
Ilha Grande
550
Um outro fator ainda a ser analisado é que a agricultura mundial estaria
começando a experimentar um novo processo de transição, denominado de ecologização ou
ambientalização (CAPORAL; COSTABEBER, 2000). Nesse processo, segundo os autores,
“[...] a ecologização não seria essencialmente orientada para o mercado, mas incorporaria
valores ambientais e uma nova ética de relação do homem com a natureza” (CAPORAL;
COSTABEBER, 2000, p. 29). Sendo assim, o manejo de açaizal nativo praticado por esses
ribeirinhos, possivelmente estaria adiantado nesse novo processo. No manejo praticado por
eles, não se utilizam agrotóxicos e nem fertilizantes sintéticos citados anteriormente,
mantém uma certa diversidade de plantas da mata no açaizal, realizam a extração de palmitos
de forma equilibrada e outras práticas de baixo impacto na natureza.
O fruto e o palmito do açaizeiro, obtidos pelo manejo orgânico
10
do açaizal nativo,
podem ser certificados como produtos orgânicos e terem um bom mercado. Segundo Toledo
(1997), o mercado para produtos orgânicos que começam a ter espaço nas cidades brasileiras,
já é um fenômeno consolidado nos países do chamado Primeiro Mundo.
10
Não encontrando uma definição de manejo orgânico, será utilizado o conceito de agricultura orgânica de
Altieri (2000, p. 68). Segundo o autor, “a agricultura orgânica é um sistema que sustenta a produção agrícola
evitando ou excluindo em grande parte o uso dos fertilizantes e agrotóxicos sintéticos”.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 45
Composição do Sistema de Produção
Segundo Dufumier (1996 citado por FILHO, 1999, p. 26), “o sistema de produção
pode ser concebido, como uma combinação, mais ou menos coerente, de diversos subsistemas
produtivos”. Neste sentido, o sistema de produção destes ribeirinhos é composto dos seguintes
subsistemas:
- manejo de açaizais (açaí fruto) - manejo de açaizais (palmito)
- extrativismo da caça - criação de aves
- criação de suínos - extrativismo do peixe
- extrativismo do camarão - cultivo de frutíferas
- extrativismo da mata
Subsistema de Manejo de Açaizais (açaí fruto)
Nessas ilhas foram observadas duas variedades de açaí: o açaí preto, em maior
quantidade, e o açaí branco. Essas duas variedades foram encontradas também por Jardim
(2000), na ilha do Combu. Segundo Jardim (2000, p. 3), “o açaí branco é uma etnovariedade
por apresentar características morfológicas que difere do açaí preto, considerado o aç
verdadeiro”.
Para aumentar a produção de açaí fruto e ainda obter o palmito como subproduto,
os ribeirinhos estão manejando seus açaizais de acordo com as seguintes práticas:
enriquecimento com açaizeiro, roçagem, desbaste dos estipes e raleamento da mata.
Enriquecimento
Para obterem maior produção de açaí fruto, os ribeirinhos das ilhas de Paquetá e
Ilha Grande aumentaram a concentração de açaizeiro, com o enriquecimento realizado através
do semeio a lanço ou pelo transplantio de mudas, produzidas naturalmente com a germinação
de sementes, que são depositadas sobre o solo. Enquanto o transplante de mudas é realizado
por 97% dos ribeirinhos de Paquetá e 100% dos ribeirinhos da Ilha Grande, o semeio é
realizado por 90% e 77% dos ribeirinhos da ilhas de Paquetá e Ilha Grande respectivamente.
Segundo os ribeirinhos, os frutos escolhidos para o semeio ou para a formação de mudas
apresentam uma boa quantidade de polpa. As mudas medem entre 30 a 50 cm de altura e são
transplantadas com torrão para o local definitivo (Figura 11). Elas são plantadas em sua
46 James Ribeiro de Azevedo
maioria, sem nenhum alinhamento e com distâncias desuniformes, variando entre 2 a 4 m. O
plantio das mudas, que ocorre normalmente no período de maior quantidades de chuvas, é
realizado em áreas selecionadas, com reduzida ou nenhuma ocorrência de açaizeiro e boa
entrada de raios solares. A muda produzida em saquinho foi observada apenas no caso do açaí
branco, que tem preço mais elevado no mercado. Em setembro de 2004, o mesmo foi
comercializado com preço 16% a mais que o açaí preto.
O resultado do enriquecimento permitiu observar, nas parcelas de 0,02 ha, uma
densidade estimada em 1.300 touceiras jovens e adultas de açaizeiro por hectare (Tabela 22).
Silva e Almeida (2004) encontraram número semelhante em uma floresta de várzea,
localizada as margens do rio Guamá, na região Metropolitana de Belém, com 1.384 touceiras
por hectare.
Tabela 22 - Número médio de plantas de açaizeiro em 31 e 22 parcelas de 0,02 ha, estimativa
para 1,00 ha, respectivamente nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
Nº de
touceiras
jovens
CV
Nº de
touceiras
adultas
CV%
Total 0,02
ha
Estimativa
em 1,0 ha
Paquetá
12
69,03
14
43,97
26
1300
Ilha Grande
14
42,92
11
41,26
25
1250
Roçagem
Essa forma de manejo é realizada por 97% e 100% dos ribeirinhos das ilhas de
Paquetá e Ilha Grande respectivamente, no período do verão. Na ilha de Paquetá, a mesma é
realizada em média de 4 horas por semana. Na Ilha Grande, a roçagem é realizada com maior
intensidade de mão-de-obra, sendo utilizada em média 6 horas de trabalho por semana. Um
grupo de 17 famílias (77%) dessa ilha faz este trabalho em regime de mutirão.
Os ribeirinhos fazem a roçagem com o objetivo de aumentar a produção de açaí
fruto e abrir caminhos para facilitar a colheita. Essa prática também foi observada por
Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004). A influência da mesma no aumento da
produção de açaí fruto, por reduzir a concorrência entre água, luz e nutrientes entre o
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 47
açaizeiro e outras plantas, foi comprovada pelo trabalho realizado por Jardim e Anderson
(1987).
Figura 11 Muda de açaizeiro com torrão, Ilha Grande, município de Belém-PA
48 James Ribeiro de Azevedo
Desbaste dos Estipes
O desbaste do número de estipes foi realizado por 97% e 100% dos ribeirinhos das
ilhas de Paquetá e Ilha Grande respectivamente, deixando-se na maioria das touceiras com um
a três estipes jovens e também de um a três estipes adultos, observadas nas parcelas de 0,02 ha
(Tabela 23). A função dos estipes jovens é a de substituir os estipes adultos ou aproveitá-los
para a produção de palmito.
Esse desbaste dos estipes influencia no aumento da produção de frutos. Segundo
Nogueira et al. (2004), quanto maior o número de estipes, maior é a concorrência por água,
luz e nutrientes entre os estipes em uma mesma touceira. Hamp (1991 citado por
NOGUEIRA, 1997), obteve em seu trabalho maior produção de açaí frutos deixando menor
número de estipes por touceira e atribuiu tal fato à menor competição das plantas por luz e
nutrientes. Em trabalho realizado na ilha do Combu, Jardim e Rombold (1994) demonstraram
que o desbaste seletivo de touceira de açaizeiro surtiu efeito no aumento da produção de
frutos. Anderson e Jardim (1987) não encontraram efeitos significativos no aumento de
produção de açaí fruto com o desbaste nas touceiras, embora chegasse à interessante
conclusão de que a extração racional de palmitos não prejudica a produção de açaí frutos.
Tabela 23 - Percentual de plantas jovens e adultas de açaizeiro por touceira em 31 e 22
parcelas de 0,02 ha respectivamente nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-
PA
Ilha
Número de estipes por touceira em %
% de estipes jovens/touceira
% de estipes adultos/touceira
1 estipe
2 estipes
3 estipes
4 a 9
estipes
1 estipe
2 estipes
3 estipes
4 a 5
estipes
Paquetá
46
25
16
13
69
23
5
3
Ilha
Grande
41
33
17
9
73
20
6
1
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 49
Raleamento da Mata
O excesso de sombreamento no açaizeiro, segundo os ribeirinhos, reduz a
produção de frutos, diminui o número de cachos por planta e o tamanho dos cachos, retardam
o início da produção de frutos e os estipes ficam altos e finos, aumentando o perigo de
quebrar durante a subida de pessoas para realizar a colheita dos frutos. Tais informações se
confirmam com as de Calzavara (1972). Segundo o autor, o açaizeiro é uma planta heliófila e
em condições de sombreamento, o estipe cresce fino e tem baixa produção. Por outro lado,
para os ribeirinhos, o açaizeiro em condições de pouco sombreamento, produz mais rápido,
com estipe de menor porte e com maior diâmetro, apresentando cachos em maior número e
tamanho.
O raleamento da mata é realizado por 97% e 100% dos ribeirinhos das ilhas de
Paquetá e Ilha Grande respectivamente, para propiciar o maior aumento da entrada de raios
solares. São derrubadas árvores que têm pouco valor econômico, de uso ou que estão fazendo
muito sombreamento. As mais comumente eliminadas na Ilha Grande são: o mututi
(Pterocarpus amazonicus Huber), o ipê (Macrolobium anugustifolium (Benth.) Cowan.) e o
murumuru (Astrocaryum murumuru Mart.). Em Paquetá são: o pracaxi (Pentaclethra
macroloba (Willd.) Kuntze.), o anani (Symphonia globulifera L. f.) e o mututi.
O efeito do raleamento da mata na produção de frutos foi comprovado pelo
trabalho realizado por Jardim e Anderson (1987) e foi relatado por Anderson et al. (1985),
Anderson e Ioris (2001) e Grossmann et al. (2004).
A derrubada das árvores é realizada com o anelamento
11
(Figura 12) do tronco a
uma altura aproximada de um metro do solo. Essa técnica, aplicada em árvore com mais de
um metro de D.A.P (diâmetro a altura do peito), tem pouco efeito segundo os ribeirinhos. Por
essa razão, é ateado fogo no local do anelamento. A vantagem de tal técnica é que a árvore
seca, diminuindo consideravelmente seu peso e quando cai, reduz a quebra de açaizeiros.
11
Anelamento é a retirada da casca em torno do tronco das árvores, atingindo até o cerne que é a parte mais dura
do tronco. Retira-se um anel de casca de aproximadamente 30 cm de largura. Isto impede a circulação da seiva e,
conseqüentemente, provoca a morte da árvore.
50 James Ribeiro de Azevedo
Apenas um ribeirinho na Ilha Grande, que possuía um motorserra, fazia a derrubada de
árvores com esse equipamento.
Figura 12
Árvore com
anelamento,
ilha de
Paquetá,
município de
Belém-PA
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 51
Entre as árvores que não são eliminadas, as mais citadas pelos ribeirinhos nas duas
ilhas foram: virola (Virola michelii Heckel.), andiroba (Carapa guianensis Aubl.), seringueira
(Hevea brasilienis (Willd. ex A. Juss.) Mill. Arg.) e taperebá (Spondias mombin L.).
Nas parcelas, delimitadas de 0,02 ha, foram observadas algumas essências
florestais com mais de 2m de altura, sendo um número maior em Paquetá (250 árvores/ha)
devido à menor intensidade de manejo (Tabela 24). Na proposta de manejo de açaizais nativos
de Nogueira (1997) que é um sistema agroflorestal com açaizeiro, são deixadas entre 50 a 60
árvores por hectare. Queiroz e Mochiutti (2001a) propõem um modelo deixando-se 50
palmeiras de outras espécies e 200 árvores, sendo esta última, uma proposta semelhante ao
atual estágio dos açaizais destes ribeirinhos.
Tabela 24 - Número médio de essências florestais em 25 e 19 parcelas de 0,02 ha, estimativa
para 1,00 ha, respectivamente nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
Nº de árvores
(área 0,02 ha)
CV%
Nº de árvores
(estimativa em
1,00 ha)
Paquetá
5
77,64
250
Ilha Grande
4
63,32
200
As essências florestais observadas nas parcelas que apresentaram o maior número
de indivíduos foram: seringueira, andiroba, virola, murumuru, jarandeua (Pithecelobium
cauliflorum Aubl.), e marajá (Bactris sp.). No total foram encontradas 18 espécies na Ilha de
Paquetá e 19 na Ilha Grande (Tabela 25).
52 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 25 - Essências florestais observadas em 26 e 19 parcelas de 0,02 ha respectivamente
nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Espécie
Nome
Popular
Número de
indivíduos
Paquetá
Ilha Grande
Hevea brasiliensis Willd. ex A.
Juss.) Mill. Arg.)
Seringueira
40
4
Carapa guianensis Aubl.
Andiroba
13
19
Virola michelii Heckel.
Virola
12
7
Pithecellobium cauliplorum
Mart.
Jarandeua
11
0
Bactris sp.
Marajá
11
0
Astrocaryum murumuru Mart.
Murumuru
10
7
Spondias mombin L.
Taperebá
2
9
Symphonia globulifera L. f.
Anani
7
1
Pentaclethra macroloba (Willd.)
Kuntze.
Pracaxi
7
2
Inga cinnamomea Spruce ex
Benth.
Ingá-batelão
6
0
Pterocarpus amazonicus Huber.
Mututi
5
2
Genipa americana L.
Jenipapo
3
1
Inga edulis Mart.
Ingá
2
0
Cedrela odorata L.
Cedro
0
2
Swartzia sp.
Pitaíca
1
0
Chrysophyllum sp.
Guajará
1
0
Raphia taedigera (Mart.) Mart.
Jupati
1
0
Platymiscium filipes Benth.
Macacaúba
1
0
Sarcaulus brasiliensis (A. DC.)
Eyma.
Guajaraí
1
0
Pseudobombax munguba
(Mart.& Zucc) Dugand.
Munguba
0
1
Protium pallidum Cuatrec.
Breu-branco
0
1
Ficus maxima Mill.
Caxinguba
0
1
Attalea maripa (Aubl.) Mart.
Inajá
0
1
Quararibea guianensis Aubl.
Inajarana
0
2
Sterculia speciosa K. Schum.
Remela-de-
cachorro
0
1
Guazuma ulmifolia Lam.
Mutamba
0
1
Trichanthera gigantea (Bonpl.)
Nees
Campo-verde
0
1
Licaria sp.
Macucu
0
1
Total de indivíduos
133
64
Total de espécies
18
19
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 53
As espécies mais preservadas são utilizadas principalmente para madeira e
remédio (Quadro 01).
Quadro 01 - Uso das espécies preservadas nos açaizais das ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Espécie
Nome Popular
Uso
Pentaclethra macroloba
(Willd.) Kuntze.
Pracaxi
Óleo para garganta inflamada,
prisão de ventre, cólica e picada
de inseto
Carapa guianensis Aubl.
Andiroba
Óleo para machucado e garganta
inflamada
Symphonia globulifera L. f.
Anani
Madeira para assoalho e para
construção de casa em geral
Pithecellobium cauliflorum
Mart.
Jarandeua
Lenha
Virola michelii Heckel
Virola
Madeira, e alimento para suíno
(semente)
Hevea brasiliensis Willd. ex A.
Juss.) Mill. Arg.)
Seringueira
No momento sem uso. Serve
para extração do látex, utilizado
na produção de borracha
Cedrela odorata L.
Cedro
Madeira
Astrocaryum murumuru Mart.
Murumuru
Alimento para suínos
Spondias mombin L.
Taperebá
Fruto para comercialização e
alimento para suíno
A presença dessas espécies (Tabela 25) significa que esses ribeirinhos não têm, no
momento, a estratégia de transformar o açaizal diversificado em uma monocultura de
açaizeiro como observado por Grossmann et al. (2004) em Abaetetuba PA. A
monocultura do açaizeiro poderá causar desequilíbrio ecológico, observados em diversos
monocultivos como o aumento de pragas e doenças. Essa preocupação é também
compartilhada por Lopes (2003). A diversidade pode ter uma garantia maior, se for possível
valorizar os produtos de outras espécies, além do açaizeiro, como o látex da seringueira, o
fruto do taperebazeiro, a semente de andiroba, do pracaxi e do cacau, por exemplo.
A combinação das três práticas de manejo: a roçagem, o desbaste dos estipes e o
raleamento da mata, permitiram aos ribeirinhos obterem rendimento de açaí fruto estimado
em 12.320 kg/ha/ano, em áreas mais intensivas de manejo, que corresponde a um aumento de
67,53% em relação à área não manejada com rendimento estimado em 4.000 kg/ha/ano e
aumento de 21,59% em relação à área com menor intensidade de manejo, cujo rendimento foi
54 James Ribeiro de Azevedo
estimado em 9.660 kg/ha/ano (Tabela 26). Jardim e Anderson (1987) realizaram desbaste nos
estipes de açaizeiro e o raleamento na mata e chegaram a uma produção de 1.854,8 kg/ha/ano,
e a área não manejada, uma produção de 1.158,8 kg/ha/ano, o que corresponde a um aumento
de produção de 37,54%. Hamp (1991), citado por Nogueira (1997), obteve produção em área
manejada de 24.000kg/ha/ano e em área não manejada de 8.000 kg/ha/ano, isso correspondeu
a um aumento de 200%. Nogueira (1997) realizou a roçagem, o raleamento da mata e o
desbaste dos estipes obtendo uma produção de 8.400 kg/ha/ano em área manejada e 4.200
kg/ha/ano em área não manejada, que correspondeu a um aumento de produção de 100% em
relação à área não manejada. Essa variação de resultados deve-se provavelmente a grande
heterogeneidade dos açaizais nativos.
Tabela 26 Rendimento de açaí fruto nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém
- PA
Tipo de área de manejo
Rendimento de açaí fruto kg/ha/ano
Paquetá
Ilha Grande
Mais intensiva
0
12.320
Menos intensiva
9.660
9.660
Sem manejo
4.000
0
Legenda: 0 = ausência.
Época de Produção
A produção de açaí fruto, observada no período de agosto de 2003 a julho de 2004,
nas duas ilhas é maior durante o verão, embora tenha produção o ano todo. Na ilha de
Paquetá, 93% da produção distribui-se nos meses de agosto a dezembro e na Ilha Grande, no
mesmo período, representou 77% da produção. Dessa forma, na Ilha Grande, a produção é
menos concentrada neste período e melhor distribuída durante o ano. O pico da produção nas
duas ilhas foi observado nos meses de setembro e outubro. Na Ilha Grande, um grupo de
cinco famílias, que representam 22% da amostra, apresentou um período de produção
diferente, com pico de maior produção nos meses de maio a setembro, representando 69% da
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 55
produção. Essa diferença poderia ser em razão de estarem localizadas em terreno de várzea
baixa (Figura 13) em transição para o igapó. Essa hipótese tem referência também no estudo
de Hamp (1991), citado por Jardim (2000), em que o tipo de ambiente (várzea baixa e alta)
influencia a produção de frutos.
Figura 13 - Distribuição da média mensal da produção total de açaí fruto por família nas ilhas
de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Legenda: VA = várzea alta e VB = várzea baixa.
A maior produção de açaí fruto por família foi encontrada na Ilha Grande (Tabela
27), haja vista que nessa ilha, os ribeirinhos estão se dedicando mais ao manejo de açaí,
realizando maior quantidade de horas de trabalho em roçagem (4 horas de trabalho por
semana em Paquetá e 6 horas na Ilha Grande) e raleando a mata com maior intensidade, sendo
observado menor número de árvore/ha (250 árvores/ha em Paquetá e 200 árvores/ha na Ilha
Grande).
No período da maior produção, segundo relato dos ribeirinhos, um estipe produz
de três a dez cachos e no período menor cai para dois a três cachos.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
Açaí fruto em kg
Paque
Grande VA
Grande VB
56 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 27 - Produção média anual de açaí fruto em kg por família nas ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, município de Belém-PA
Ilha
Açaí fruto
kg /ano/família
Mín.
Máx.
CV%
Paquetá
6.455
952
13.860
67
Ilha Grande
10.096
1.960
19.964
60
Consumo
O açaí fruto é consumido pelos ribeirinhos nas duas ilhas na forma de uma bebida.
A qual é preparada colocando-se os frutos em água quente para amolecerem, depois são
batidos com água em uma máquina manual, em sua grande maioria, ou elétrica, e ainda em
menor escala, com uma garrafa. É extraída uma polpa grossa que é servida normalmente sem
açúcar e com farinha, acompanhada de charque, peixe, camarão etc. Outra forma observada é
roer os frutos, amolecidos em água quente e consumidos com farinha. No período do inverno,
o consumo por família é, em média, de 7 kg de açaí fruto por dia ou a cada dois dias. A
proporção de açaí fruto para litros de polpa é de 15 kg para 6 a 8 litros. No verão, o consumo
por família sobe para 14 kg de açaí fruto por dia, fazendo-se três refeições diárias, o que faz
do açaí o principal alimento consumido por esses ribeirinhos.
Pragas e Doenças
Na Ilha de Paquetá, 80% dos açaizais estão sendo atacados por uma broca das
palmeiras. Essa praga é provocada pela larva do besouro (Rhynchophorus palmarum) que se
alimenta do palmito de estipes jovens, provocando a sua morte. Segundo o relato de um
ribeirinho, o mesmo eliminou no ano de 2004, cerca de 300 estipes atacados.
Segundo Oliveira, Carvalho e Nascimento (2000), essa é a principal praga do
açaizeiro e de outras palmeiras cultivadas como o coqueiro (Cocos nucifera) e o dendezeiro
(Elaeis guineensis).
Algumas aves como o papagaio, o sabiá e o tucano se alimentam de açaí fruto, mas
não chegam a afetar a produção.
Até o momento, nenhuma doença foi verificada nos açaizeiros pelos ribeirinhos,
mas um fato que os preocupa é a secagem e queda dos frutos que ocorrem sempre no período
do verão, mas que no ano de 2004 ocorreram em maior intensidade nas duas ilhas Por
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 57
enquanto, ainda não se conhece a causa. Para não perderem a produção, os ribeirinhos
colheram os frutos rapidamente, levaram ao porto uma quantidade maior do que normalmente
levam, e provocaram uma diminuição do preço.
Colheita
O fruto do açaí quando está maduro, apresenta uma cor preta ou acinzentada, é
denominado localmente de “tuira”. A colheita é realizada subindo-se no estipe do açaizeiro
com o auxílio de uma peconha
12
(Figura 14) e corta-se o cacho com um terçado. Algumas
vezes o coletor passa de um estipe para outro, sem descer ao solo.
A colheita de frutos, em estipe fino, ou muito alto e torto, é realizada por crianças
ou adolescentes de pouco peso. Essa medida é para evitar a quebra do açaizeiro durante a
colheita, pois muitos já se acidentaram caindo do açaizeiro.
O coletor desce com o cacho na mão para não derrubar os frutos. O cacho é
debulhado em um pano, onde os frutos são selecionados e depositados em uma rasa
13
. Os
cachos após a debulha são colocados em montes. Em alguns deles as ráquis (ramo central do
cacho) são partidas ao meio. Os ribeirinhos acreditam que estas medidas produzirão, no
futuro, cachos maiores. Essa medida pode ser explicada, pois os cachos ao serem amontoados,
passam por um processo de decomposição, tornando-se um adubo para o açaizeiro. Ao partir
ao meio as ráquis, facilita-se a entrada de microorganismos, acelerando o processo de
decomposição.
12
Peconha: círculo formado por saco de aniagem, corda ou folha de açaí, onde o ribeirinho coloca seus pés e os
prende no estipe do açaizeiro.
13
Rasa: paneiro confeccionado com fibras de duas espécies vegetais, o guarumã (Ischnosiphon arouma (Aubl.)
Körn.) e a jacitara (Desmoncus sp.), com capacidade de duas latas de 15 litros. Pesa em média 28 kg de frutos de
açaí e tem durabilidade média de um ano. Na Ilha Grande, duas famílias confeccionam e comercializam ao preço
de R$ 3,00 as rasas. Em Paquetá, as rasas são compradas geralmente fora da ilha, pois há pouco guarumã.
58 James Ribeiro de Azevedo
Figura 14 Colheita do açaí, ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 59
As mulheres normalmente fazem a debulha do açaí e a seleção dos frutos, que são
postos na rasa. Frutos imaturos ou “paral”, como denominam os ribeirinhos, são aproveitados
para a alimentação de suínos.
Até o ano de 2002, as famílias que tinham pouca mão-de-obra, realizavam a
colheita “na meia”, ou seja, a produção era dividida ao meio entre o coletor e o proprietário do
açaizal. Atualmente, as famílias estão pagando em moeda ao coletor, que recebe entre R$ 2,00
a R$ 5,00 por cada rasa colhida, dependendo do preço no porto. Essa mudança deve-se ao
preço da rasa de açaí fruto, que aumenta consideravelmente durante os meses de menor
produção, chegando ao preço de R$ 60,00 em julho de 2004. Desta forma, o coletor ganharia
R$ 30,00 por rasa se colhesse na meia.
Em cada ilha, encontrou-se uma família de mulheres viúvas com falta de mão-de-
obra para a colheita, a qual era realizada por um filho casado que morava em outra casa e
dividia a produção ao meio com sua mãe.
A colheita era feita normalmente pela manhã, pois o estipe fica muito quente pela
tarde e o coletor pode não suportar a temperatura do estipe devido ao contato com o corpo.
Quando a manhã é chuvosa não colheita, pois o estipe fica muito liso, dificultando à
subida.
Quando vão fazer a colheita, os ribeirinhos retiram os cachos que têm poucos
frutos (ainda imaturos), isso provoca o deslocamento de nutrientes para outros cachos que têm
maiores quantidades de frutos.
Comercialização
Os frutos, colhidos pela manhã, foram vendidos normalmente pela manhã do dia
seguinte ou, em menor quantidade, pela tarde do mesmo dia. Os ribeirinhos deslocam-se
ainda de madrugada, por volta de 4 horas da manhã, pois os frutos se deterioram rapidamente
e os mais frescos têm melhor preço. Segundo os ribeirinhos, o açaí fruto tem que ser
comercializado em no máximo 48 horas, informação também confirmada por Rogez (2000).
As pessoas e o açaí são transportados em barcos motorizados de propriedade de
ribeirinhos das próprias ilhas. Na ilha de Paquetá é mais comum pagar a passagem da pessoa
no valor de R$ 1,00 e uma pequena contribuição para o combustível da embarcação. Na Ilha
Grande paga-se a passagem no valor de R$ 1,00 e o frete da rasa por R$ 1,50.
60 James Ribeiro de Azevedo
Os ribeirinhos de Paquetá comercializam seus produtos no porto localizado em
Icoaraci e os da Ilha Grande no Porto da Palha, localizado no final da Rua Padre Eutíquio com
a Avenida Bernardo Sayão.
Ao chegar ao porto, as rasas são retiradas das embarcações por carregadores, que
cobram R$ 0,50 por unidade, e são descobertas para exposição do produto. As de Paquetá são
cobertas por sacos plásticos (sacos de acondicionar cebolas) e são reaproveitados. Outra
vantagem é a maior rapidez para cobrir a rasa. As da Ilha Grande são cobertas com folhas de
açaizeiro e são jogadas no rio, em baixo do trapiche, causando assoreamento. Por esse motivo,
as embarcações estão ficando ancoradas cada vez mais afastadas do porto, dificultando o
desembarque e embarque.
As rasas expostas servem para avaliação da qualidade do produto e são compradas
à vista por dezenas de compradores: maquineiros (aqueles que têm a máquina de despolpar o
açaí fruto) e atravessadores que revendem o produto para outros.
A maioria dos ribeirinhos não tem contratos de entrega com os compradores, pois
a variação do preço é muito alta, alcançando até 100%. Em observação feita num único dia do
mês de setembro de 2004, uma rasa foi comercializada por preço de R$ 10,00 (dez reais) a R$
20,00 (vinte reais). Essa alta variação dificulta o estabelecimento de um preço para contrato
de entrega do produto.
A variação do preço do açaí é determinada principalmente pela oferta e pela
procura ou, em outras palavras, pela quantidade de açaí que no porto e pela quantidade de
compradores. Outro fator que influencia o preço é o tempo de pós-colheita, pois quanto mais
fresco for o açaí fruto, maior é seu preço. Por essa razão, o açaí fruto produzido nas
proximidades de Belém tem maior preço. Um fator que também diferencia o preço é o
rendimento de polpa. O preço do açaí fruto produzido nas localidades próximas de Belém é
maior do que o preço do açaí fruto originado de Muaná (Figura 15). Segundo os ribeirinhos,
isto se deve ao fato de que, o açaí fruto produzido próximo de Belém tem maior rendimento
de polpa, em relação ao produzido em Muaná.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 61
O preço estabelecido diariamente nos portos é repassado entre os ribeirinhos
através de uma rede de comunicação entre os que vão comercializar o produto e aqueles que
ficam nas ilhas.
Figura 15 - Evolução do preço mensal do açaí fruto em Belém no ano de 2003.
Fonte: SIMA (2004).
venda durante toda a semana, mas é no sábado que os ribeirinhos vão fazer a
feira, ou seja, comprar produtos não-produzidos no estabelecimento e também para conversar
e divertir-se com os amigos.
Subsistema de Manejo de Açaizais (Palmito)
Corte dos Estipes para Produção de Palmitos
O açaizeiro, além do fruto, produz um palmito que é comercializado e raramente é
consumido pelos ribeirinhos.
A extração do palmito é realizada com o corte do açaizeiro a uma altura
aproximada de 40 cm do solo, utilizando-se o machado e com o auxílio de um terçado (facão),
com o qual, corta-se o palmito. A extração é realizada no açaizal de cada família, mas na Ilha
Grande, três famílias retiram palmito no igapó, que é uma área coletiva da localidade, situada
no centro da ilha.
0,00
5,00
10,00
15,00
20,00
25,00
30,00
35,00
40,00
jan
fev
mar
abr
maio
jun
jul
ago
set
out
nov
dez
Preço R$ rasa de 28 kg
meses
Localidades
Próximas de
Belém
Muaná (Marajó)
62 James Ribeiro de Azevedo
uma seleção de estipes para serem cortados para extração de palmito. Cortam-
se os estipes adultos e jovens de acordo com alguns critérios (Quadro 02).
Quadro 02 - Critérios de seleção de estipes para extração de palmito estabelecidos pelos
ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Estipe adulto
Estipe jovem
Estipe alto e torto
Estipe fino
Estipe alto e fino
Estipe que pode dificultar a subida em estipe
adulto para colher o fruto
Estipe “macho” (emitem cachos que não
produzem frutos)
Touceira com muitos estipes jovens
O palmito é classificado pelas indústrias em três categorias (Tabela 28), mas o
comumente mais vendido pelos ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande é o palmito
classificado como de terceira categoria.
Tabela 28 - Medidas das categorias do diâmetro do palmito comprado pelas indústrias no Pará
Categoria
Diâmetro do palmito (cm)
> 3,0
2,5 3,0
< 2,5
Fonte: Brabo (1979), modificado pelo autor.
A prática desenvolvida pelos ribeirinhos permite, previamente, distinguir a
classificação do palmito, fazendo uma relação com a circunferência do estipe. Essa correlação
foi confirmada pelos trabalhos de Pollak, Matos e Uhl (1996), Bovi (2004) e Nogueira et al.
(2004).
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 63
Comercialização
O palmito é comercializado nas ilhas para atravessadores que o repassam para as
indústrias de palmito localizadas em Belém. O preço do palmito é estabelecido de acordo com
a categoria, variando de R$ 0,05 (cinco centavos de real) a R$ 0,80 (oitenta centavos de real)
a unidade (Tabela 29). Enquanto o açaí fruto é vendido à vista, o pagamento do palmito
somente é realizado quando a indústria paga ao atravessador, pois como é comercializado
ilegalmente, o atravessador corre o risco de ter o produto apreendido pelo Instituto Brasileiro
de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Tabela 29 - Preço do palmito no ano de 2004, de acordo com as categorias, nas ilhas de
Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Categoria
Preço unitário R$
0,60 0,80
0,18 0,50
0,05 a 0,15
A dificuldade encontrada pelos ribeirinhos é que o palmito de terceira categoria,
com medidas inferiores a 1,6 cm de diâmetro, tem sua extração proibida pela portaria do
Ibama de 02 de 09 de janeiro de 1992 que exige um diâmetro mínimo de 2 cm do palmito
na sua parte comestível, com redução de até 20% (o que equivale a 1,6 cm) e, para efeito de
manejo florestal, uma rotação mínima de 3 anos (IBAMA, 1992). Para atender a essa portaria,
os ribeirinhos teriam que aguardar por mais tempo o corte dos estipes para que os palmitos
alcancem a medida prevista na mesma. A ilegalidade prejudica também os ribeirinhos de
outra forma, pois os mesmos com receio de terem suas produções apreendidas
comercializaram os palmitos por preços mais baixos aos atravessadores.
A portaria do Ibama foi determinada para coibir à derrubada indiscriminada de
açaizeiros pela indústria palmiteira, mas atinge os ribeirinhos, uma categoria de produtores de
palmito, que não foi levada em consideração, quando na sua elaboração e que não tem
nenhum interesse em fazer uma derrubada indiscriminada de estipe para extração de palmito,
pois o manejo é prioritário para a produção de açaí fruto, uma vez que apenas uma pequena
64 James Ribeiro de Azevedo
parte de palmitos são comercializados (Tabela 30). Por essa razão, essa portaria deveria ser
modificada para atender os ribeirinhos que realizam o manejo de açaizal orientado para a
produção de açaí fruto.
Tabela 30 - Número médio de extração anual de palmito por família nas ilhas de Paquetá e
Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
de palmitos
comercializados
(média anual)
Mín.
Máx.
CV%
Paquetá
444
100
800
46,89
Ilha Grande
717
160
2.400
99,01
Apesar da pouca participação na renda familiar, o palmito tem sua importância por
contribuir com a renda nos meses de janeiro a março, período de pouca produção de açaí e
pescado, considerado o mais difícil para os ribeirinhos. Portanto, para eles que extraem o
palmito anualmente e não o reservam para qualquer eventualidade, não deveria ser
considerado como uma poupança como citou Nogueira (1997).
Subsistema de Extrativismo da Caça
A caça é pouco importante no sistema de produção nas duas ilhas. O principal
animal caçado é a mucura. Outros menos caçados são: preguiça, paca, tatu, capivara e jacaré.
A mucura, a preguiça, a paca e o tatu são encontrados no açaizal e na mata, enquanto que a
capivara e o jacaré são encontrados nas margens dos rios e igarapés.
Subsistema de Criação de Aves
A criação de galinhas é a mais importante nessas ilhas, seguida da criação de
patos. Estes, apesar de serem mais adaptados às condições de várzea, são menos criados, pois
sua criação é extensiva, assim, como a de galinhas, mas muitos se deslocam nadando nos
igarapés e são capturados por outras pessoas ou animais. As galinhas são destinadas
principalmente para o consumo. Os patos são comercializados principalmente no período do
Círio de Nazaré, realizado no mês de outubro na cidade de Belém.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 65
A principal limitação dessas criações é a dificuldade de produzir alimento como o
milho, devido às condições de encharcamento do solo e também a dificuldade de alojar os
animais durante a subida das marés. A alimentação dessas aves é basicamente o milho, que é
comprado na cidade, e complementada com resíduo do açaí fruto, beneficiado para o consumo
familiar, além de pequenos insetos, minhocas e capim.
A maior parte das famílias cria aves, cerca de 70% (Tabela 31). A Ilha Grande
apresenta, em média, maior número de galinhas, por família, em razão de ter área de várzea
mais alta, que facilita a criação destas aves. As atividades dessa criação são realizadas pelas
mulheres e requer pouca mão-de-obra.
Tabela 31 - Número médio de aves/família e percentual de famílias que criam aves na ilhas de
Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
Nº médio
de
aves/família
Mín.
Máx.
CV %
Famílias que criam
aves (%)
Paquetá
9
2
21
67,17
71
Ilha Grande
16
4
70
109,21
72
Subsistema de Criação de Suínos
A criação de suínos é realizada extensivamente. Muitas vezes, os animais vão para
a mata, não retornam (“arribam” como dizem os ribeirinhos) e são capturados por outras
famílias. Esse é o principal fator que leva a maioria dos ribeirinhos a desistir dessa criação. Os
animais, que vão para a mata e não retornam, são capturados com auxílio de cachorros como
se fossem caças.
Trata-se de uma criação de baixo custo, pois a alimentação é quase na sua
totalidade obtida na própria mata ou no açaizal. Os animais se alimentam de frutos de árvores,
que são preservadas no meio do açaizal como o murumuru (Astrocaryum murumuru),
jenipapo (Genipa americana), taperebá (Spondias mombin Urb.), caxinguba (Ficus maxima
Mill), matamatá (Eschweilera spp.), atanã (Parkia multijuga Benth.) e ingá (Inga spp.), além
de açaí fruto e minhoca. Diariamente é servido resíduo de açaí fruto beneficiado para o
consumo familiar. A complementação da alimentação com farelo de trigo é realizada apenas
para as fêmeas que estão em lactação.
66 James Ribeiro de Azevedo
A criação de suínos apresenta duas condições desfavoráveis: dificulta a
propagação de plantio de açaizeiro através do semeio, uma vez que os animais se alimentam
dos frutos semeados e podem estar contribuindo para a transmissão de verminoses para as
pessoas, através do consumo de açaí frutos, que caem no solo durante a colheita, e podem ser
contaminados pelas fezes dos suínos.
Essa criação é utilizada para o consumo e comercialização, cujo preço varia entre
R$ 40 e R$ 60,00 a unidade. Os animais são mais consumidos durante o inverno, período de
menor renda das famílias. Os ribeirinhos têm a estratégia de castrar e comercializar os machos
e consumirem as fêmeas, que são mais difíceis de serem comercializadas. Os machos
castrados são consumidos pelos ribeirinhos em ocasiões especiais, como casamentos,
aniversários e festas religiosas.
A criação de suínos está mais presente na Ilha Grande, são 68% das famílias,
contra 39% das famílias de Paquetá (Tabela 32). Talvez, isso seja em razão da Ilha Grande ter
lotes com maior área, propiciando uma condição favorável para a criação extensiva.
Tabela 32 - Número dio de suínos por família e percentual de famílias que criam suínos
nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Ilha
Nº médio de
suínos/família
Mín.
Máx.
CV%
Famílias que
criam suínos (%)
Paquetá
3
1
30
198,00
39
Ilha Grande
9
1
30
110,84
68
Subsistema de Extrativismo do Peixe
Os ribeirinhos da Ilha de Paquetá, que têm acesso privilegiado à área de maior
concentração de pescado, a baía do Guajará e do Marajó, pescam em embarcações
motorizadas e em menor quantidade em barcos à vela, utilizando-se a rede e espinhel
14
. A
tripulação é composta, geralmente, por mais de duas pessoas e a pescaria pode durar de um
dia até duas semanas, armazenando-se o pescado no gelo. casos em que o ribeirinho passa
14
Espinhel é uma linha grossa em que são amarradas dezenas de anzóis com iscas, que são colocados na água e
algumas horas depois, são retirados.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 67
até um mês pescando em embarcações de maior porte de pescadores que moram fora da ilha.
Os ribeirinhos, que possuem canoas ou pequenos barcos, retornam diariamente da pescaria e
colocam o pescado no gelo em suas residências, sendo vendido a cada três dias a preço que
varia entre R$ 1,30 a R$ 3,00/kg.
Durante o verão, período em que a água está mais salgada, é o período de maior
ocorrência de pescado.
Os ribeirinhos dedicam-se mais à pesca no inverno, período de menor produção de
açaí fruto, e no verão, dedicam-se à pesca e ao açaí fruto.
A pescaria é realizada, principalmente, para a comercialização e o consumo. Em
média, os ribeirinhos de Paquetá pescam, por família, 936 kg/ano de peixe.
Os ribeirinhos da Ilha Grande, que estão situados às margens do rio Guamá e mais
distantes da baía do Guajará e do Marajó, têm menor acesso ao pescado. Nessa ilha, a pescaria
é realizada com canoas, utilizando-se linhas. Outro tipo de pescaria realizada é a represa em
alguns pontos nos igarapés, na qual retira-se a água e capturam-se os peixes. Esse tipo de
pescaria é denominado pelos ribeirinhos de gapuia.
Na Ilha Grande, os ribeirinhos pescam, em média, 87 kg/ano de peixe por família,
que são destinados basicamente para o consumo familiar (Tabela 33).
Tabela 33 - Produção média anual de peixe por família nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Ilha
Peixe
kg/ano/família
Mín.
Máx.
CV%
Paquetá
936
64
4.800
61
Ilha Grande
87
20
200
46
68 James Ribeiro de Azevedo
Subsistema de Extrativismo do Camarão
A captura de camarão regional de água doce, o Macrobrachium amazonicum, é
realizada com uma armadilha, um cilindro com duas aberturas que vão afunilando para o seu
interior, confeccionado artesanalmente por fibras de jupati (Raphia taedigera Mart.),
denominada de matapi. No seu interior, é colocada uma isca, que recebe o nome de puqueca,
contendo farelo de babaçu (Orbignya pharelata), o qual é enrolado por folha de guarumã
(Ischnosiphon arouma (Aubl.) Körn.). O farelo de babaçu é comprado na cidade de Belém por
R$ 0,60/kg, visto que o babaçu não é uma planta encontrada nessas ilhas.
Os matapis são colocados durante a noite e coletados pela manhã do dia seguinte,
nas marés de águas mortas. Nas marés de águas vivas, os matapis são retirados, pois a força
das marés pode destruí-los. Os camarões, capturados diariamente, são transferidos para
viveiros, confeccionados também de fibras vegetais e são colocados no rio para manterem os
camarões vivos, por no máximo uma semana, até serem comercializados por preço de R$ 1,00
a R$ 2,00/kg. Maio e junho são os meses de maior captura. Trata-se do período de maior
reprodução dessa espécie.
Em Paquetá, o camarão é destinado para a comercialização e o consumo. Esse
recurso é mais abundante em Paquetá do que na Ilha Grande, talvez por ser Paquetá uma ilha
com maior ocorrência de mangue, uma vegetação muito importante para a alimentação e
reprodução de crustáceos (BARBIERI; TOMASINO 1998; MENEZES; PEIXOTO, 2000).
Nessa ilha são capturados, em média, 255 kg/ano de camarão por família e na Ilha Grande,
apenas 79 kg/ano por família (Tabela 34).
Essa tarefa é realizada por homens, mulheres ou crianças, pois exige pouca força
física, porém em algumas famílias, ela é realizada exclusivamente por mulheres.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 69
Tabela 34 - Produção média anual de camarão por família nas ilhas de Paquetá e Ilha Grande,
município de Belém-PA
Ilha
Camarão
kg /ano/família
n.
Máx.
CV%
Paquetá
345
120
750
25
Ilha Grande
94
24
180
27
Subsistema de Cultivo e Extrativismo de Frutíferas
As frutíferas estão plantadas próximas às habitações. A mais importante delas,
para a renda familiar na Ilha Grande, é o cacau, que apresentou média de 261 plantas por
família, mas oito famílias tiveram em média 575 plantas e comercializaram, em média, 357 kg
de semente/ano, obtendo renda de R$ 771,00. Resultando um rendimento de 0,62 kg/planta. O
espaçamento utilizado fica em torno de 4 m entre plantas, consorciado com algumas plantas
de açaizeiros utilizadas como sombreamento. Após a colheita dos frutos, as sementes são
depositadas em lonas plásticas e secas ao sol. As sementes são comercializadas verdes a R$
1,20/kg e secas por R$ 4,00/kg. Seu preço não é considerado satisfatório pelas famílias, por
isso nem toda a produção é colhida.
Outra frutífera que tem um bom mercado e adaptada as condições de várzea é o
cupuaçu, porém é pouco cultivado. Uma família da Ilha Grande, que tem 50 plantas, obteve
uma produção de 1.000 frutos por ano, propiciando uma renda anual de R$ 500,00.
O fruto do taperebazeiro, nativo na mata das duas ilhas, foi comercializado em
pequena escala. O baixo preço (R$ 0,30/kg) não tem incentivado sua comercialização.
Em média, foram observadas 21 plantas por família em Paquetá e 369 plantas na
Ilha Grande (Tabela 35), onde tem maior porção de várzea alta, que é mais favorável ao
cultivo dessas frutíferas.
As frutas mais comuns encontradas na ilha de Paquetá são: cacau, jambo e manga.
Na Ilha Grande, as mais importantes são: cacau, cupuaçu e biribá.
70 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 35 - Número médio de frutíferas por família de ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha
Grande, município de Belém-PA
Nome
Popular
Espécie
Número Médio/Família
Paquetá
Ilha Grande
Cacau
Thebroma cacao
8
261
Cupuaçu
Theobroma grandiflorum
3
28
Biribá
Rollinia mucosa
0
26
Banana
Musa spp
3
16
Pupunha
Bactris gasipaes
0
12
Limão
Citrus limonia
2
6
Manga
Mangifera indica
4
5
Coco
Cocos nucifera
1
5
Jambo
Eugenia malaccensis
4
3
Goiaba
Psidium guayava
0
3
Caju
Anacardium ocidentale
0
3
Ajuru
Chysobalanus icaco
0
1
Total
29
369
Subsistema de Extrativismo da Mata
Esse subsistema compreende a mata, de onde se extrai madeira para uso de
construção de habitações, embarcações e abrigo para criações de animais. Serve também para
comercialização da madeira, mas neste período esta prática foi raramente utilizada. É utilizada
como abrigo e fonte de alimentação para animais silvestres e suínos. Os ribeirinhos ainda
utilizam a mata para obtenção de frutas e remédios.
Tipologia do Sistema de Manejo de Açaizais Nativos
Os diferentes tipos de manejo de açaizais foram estabelecidos de acordo com o
método descrito por Obano e Mora (1992), Filho (1999) e Grossmann et al (2004), fazendo-se
o cruzamento de alguns indicadores econômicos e ambientais como: o número de essências
florestais/ha, a intensidade de mão-de-obra aplicada na roçagem do açaizal, a composição da
renda familiar, o rendimento de açaí fruto e o consórcio do açaizeiro com o cacaueiro.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 71
Tipo Intensivo
É aquele que está intensificando o uso da mão-de-obra na roçagem do açaizal e
vive basicamente do açaí fruto. O açaí fruto é a sua principal fonte de renda, contribuindo
com mais de 60%. Faz as seguintes práticas de manejo: enriquecimento com açaizeiro
(semeio e mudas), roçagem (em mutirão), desbaste dos estipes e raleamento da mata. Tem
rendimento de açaí fruto estimado em 12.320 kg/ha/ano. O açaizal contém, em média, 200
essências florestais/ha e apresenta um ambiente de boa entrada de luz solar, provocada pelo
raleamento da mata e pela roçagem do sub-bosque (Figura 16).
Figura 16 Açaizal do tipo intensivo, Ilha Grande, município de Belém-PA
72 James Ribeiro de Azevedo
Esse tipo está intensificando o uso de mão-de-obra, na roçagem do açaizal, para
aumentar a produção de açaí fruto. Realiza esse trabalho em regime de mutirão, iniciado
seis anos, no qual trabalham, no máximo, dez pessoas por grupo. No dia do mutirão, sempre
realizado em um dia por semana, é anotada a freqüência de seus membros por uma pessoa
eleita, denominada de presidente. Quando uma pessoa falta um dia no mutirão, o trabalho no
seu lote será realizado por último. Para iniciar o trabalho no ano, normalmente no mês de
julho, após o período mais chuvoso, eles sorteiam o lote no qual deve iniciar a roçagem. Caso
uma pessoa decida entrar no mutirão, após seu início, o trabalho no seu lote será por último. O
trabalho dura de 8 até às 14 horas e cada pessoa leva a sua alimentação. Dessa forma, eles
estão dedicando seis horas de trabalho semanal nesta atividade, nos meses de julho a
dezembro.
O mutirão ao envolver o grupo social, fortalece os laços de solidariedade entre os
ribeirinhos, propiciando uma coesão social muito forte. Analisando-se sobre o aspecto do
rendimento do trabalho, o trabalho em mutirão tem melhor resultado. O rendimento do
trabalho de duas pessoas realizado separadamente é inferior se realizado por duas pessoas
trabalhando juntas. Ao estarem trabalhando em grupo e conversando ao mesmo tempo,
diminui o desestímulo quando estiverem cansados.
Este tipo tem renda anual concentrada principalmente nos meses do verão, período
de maior produção de açaí fruto (Tabela 36). No inverno, período de menor renda familiar,
consome e comercializa os animais (suínos e galinhas) em maior quantidade, comercializa o
palmito, a semente de cacau e pescam com mais freqüência. As atividades extralotes e os
benefícios sociais, ainda que pequenos, têm uma importante contribuição na renda nesse
período do ano.
Em síntese, este tipo apresenta uma estratégia de aumentar a renda familiar,
principalmente, a partir do aumento da produção de açaí fruto, por isso estão intensificando
mais mão-de-obra na roçagem do açaizal e fazendo um razoável raleamento da mata, pois tem
limitação na renda com outros subsistemas, principalmente com o peixe e camarão e não tem
outras fontes de renda satisfatória.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 73
Tabela 36 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do tipo intensivo,
Ilha Grande, município de Belém-PA
Itens
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Açaí fruto
-
-
-
-
-
-
+
+++
+++
+++
+++
++
palmito
-
-
-
-
-
0
0
0
0
0
0
0
Camarão
-
-
-
+
+
+
+
-
-
-
-
-
Cacau
+
+
+
-
-
-
-
0
0
0
0
0
Peixe
+
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
Animais
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
Extralote
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Benefício
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Outras
rendas
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Legenda: benefício = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote =
atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira etc.); outras rendas = madeira,
frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de semente de cacau; “0” =
ausência; “-menor quantidade; “+” maior quantidade.
O sistema de manejo intensivo encontra-se apenas na Ilha Grande e representa 17
famílias (77%). É dividido em dois subtipos: o subtipo intensivo com extralote e o subtipo
intensivo com cacau.
Subtipo Intensivo com Extralote
Este é o principal subtipo, representando 14 (63%) famílias da Ilha Grande. Possui,
em média, apenas 52 pés de cacau. O açaí fruto contribui com 67,48% da renda bruta anual,
que é, em média, de R$ 8.372,20 por família (Tabela 37). A atividade extralote participa com
12,35% da renda, mas não requer muita mão-de-obra. O peixe e o camarão são destinados
basicamente para o consumo familiar.
74 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 37 Composição média anual da renda bruta do tipo intensivo extralote na Ilha
Grande, município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
9.740
0,58
5.649,20
67,48
Palmito
cabeça
258
0,45
116,10
1,39
Camarão
l
78
2,00
156,00
1,86
Cacau
Kg
65
1,20
78,00
0,93
Peixe
Kg
118
1,20
141,60
1,69
Animais
329,50
3,94
Extralote
1.034,00
12,35
Benefícios
512,50
6,12
Outras rendas
355,00
4,24
Total
8.372,20
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
Subtipo Intensivo com Cacau
Este subtipo representa três famílias (14%), foi observado apenas na Ilha Grande.
O açaizal apresenta, no geral, as mesmas características, diferenciando-se por apresentar parte
dele, uma área com consórcio de açaizeiro com o cacaueiro (Figura 17), com média de 785
pés de cacau por família, que chega a participar com 14,91% da renda bruta anual, que é, em
média, de R$ 10.797,30 por família (Tabela 38). O açaí fruto é a principal fonte de renda e
participa com 65,86%.
Na área em que se encontra o consórcio de açaizeiro com o cacaueiro, os
ribeirinhos diminuem a concentração de açaizeiro para reduzir a concorrência por nutrientes e
permitir uma pequena entrada de luz para o cacaueiro. Como o preço do cacau não está sendo
compensatório, o mesmo não está sendo bem manejado pelos ribeirinhos, mas uma melhoria
do preço pode transformar este subtipo em um tipo.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 75
Figura 17 Açaizal do subtipo intensivo com cacau, Ilha Grande, município de Belém-PA
76 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 38 Composição média anual da renda bruta do subtipo intensivo com cacau na Ilha
Grande, município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
12.260
0,58
7.110,80
65,86
Palmito
cabeça
400
0,20
80,00
0,74
Camarão
l
192
2,00
384,00
3,56
Cacau
Kg
1.238
1,30
1.610,00
14,91
Peixe
Kg
325
1,30
422,50
3,91
Animais
440,00
4,08
Extralote
200,00
1,85
Benefícios
90,00
0,83
Outras rendas
460,00
4,26
Total
10.797,30
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
Tipo Moderado
É aquele que aplica pouca mão-de-obra na roçagem do açaizal e tem outras
importantes fontes de renda. Completa sua renda, além do açaí fruto que representa no
máximo 40,75%, com peixe e camarão, trabalho assalariado ou recebimento de benefícios
sociais (aposentadoria). Faz as seguintes práticas de manejo: enriquecimento com açaizeiro
(semeio e mudas), roçagem (individual ou de forma contratada), desbaste dos estipes e
raleamento da mata. Tem rendimento de açaí fruto estimado em 9.660 kg/ha/ano. O açaizal
contém em média 250 essências florestais/ha e apresenta um ambiente de razoável entrada de
luz solar, provocada pelo pouco raleamento da mata e pela pouca roçagem do sub-bosque.
Em síntese, este tipo apresenta uma estratégia de aplicar menos mão-de-obra,
obtendo uma menor produção de açaí fruto, em razão de trabalhar com outras atividades que
propiciam renda complementar, ou até maior que a renda com o açaí fruto, ou porque tem
limitação de mão-de-obra.
Para reduzir a necessidade de fazer roçagens, o ribeirinho deixa o açaizal com
maior quantidade de sombra (Figura 18). Com isso, evita o crescimento de plantas do sub-
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 77
bosque, estratégia também identificada por Anderson et al. (1985), mas que em contrapartida
reduz a produção de açaí fruto.
O sistema de manejo moderado encontra-se principalmente em Paquetá,
representando 31 (97%) famílias. Na Ilha Grande representa cinco famílias (23%). É dividido
em três subtipos: o subtipo moderado com peixe e camarão, o subtipo moderado com
extralote e o subtipo moderado com cacau.
Figura 18 Açaizal do tipo moderado na ilha de Paquetá, município de Belém-PA
78 James Ribeiro de Azevedo
Subtipo Moderado com Peixe e Camarão
Esse subtipo representa 31 (97%) famílias da Ilha de Paquetá, tornando-se o
principal subtipo dessa ilha. Possui, em média, apenas oito pés de cacau por família. Contém
300 essências florestais por hectare. O açaí fruto participa com menos de 40,75% da renda
bruta anual que é de R$ 8.392,28 por família (Tabela 39). A complementação da renda é
realizada, principalmente, com peixe e camarão. Somados, eles contribuem com 34,39%, que
são destinados para a comercialização e o consumo. Os benefícios complementam a renda
para aqueles que têm limitações de mão-de-obra.
Em média, trabalham 4 horas por semana nos meses de verão para roçar o açaizal.
Alguns realizam a roçagem, abrindo apenas caminho, para realizar a colheita do açaí fruto.
A estratégia deste subtipo é de complementar a renda familiar com o peixe e o
camarão, por essa razão, está aplicando menos mão-de-obra na roçagem do açaizal e fazendo
pouco raleamento da mata.
Tabela 39 Composição média anual da renda bruta do subtipo moderado com peixe e
camarão na ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
5.897
0,58
3.420,26
40,75
Palmito
cabeça
311
0,25
77,75
0,93
Camarão
l
273
2,00
546,00
6,51
Peixe
Kg
936
2,50
2.340,00
27,88
Animais
150,00
1,79
Extralote
568,08
6,77
Benefícios
1.290,19
15,37
Total
8.392,28
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 79
Esse tipo tem uma renda anual concentrada principalmente nos meses do verão
(Tabela 40), período de maior produção de açaí fruto e pescado. No inverno, período de
menor renda familiar, consome e comercializa os animais (suínos e galinhas) em maior
quantidade e comercializa o palmito. Os benefícios sociais e a pesca têm uma grande
contribuição na renda neste período do ano.
Tabela 40 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do subtipo
moderado com peixe e camarão na ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Itens
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Açaí fruto
-
-
-
-
-
-
+
+++
+++
+++
+++
+
Palmito
-
-
-
-
-
0
0
0
0
0
0
0
Camarão
-
-
-
++
++
++
++
-
-
-
-
-
Cacau
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Peixe
+
+
+
+
+
+
++
++
++
++
++
++
Animais
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
Extralote
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Benefício
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
+
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau; “0” = ausência; “-” menor quantidade; “+” maior quantidade.
Subtipo Moderado com Extralote
Esse subtipo encontra-se apenas na Ilha Grande, representa apenas 3 famílias
(14%). No açaizal encontram-se 300 árvores/ha de essências florestais. Contém, em média,
160 pés de cacau por família. O peixe é apenas para o consumo familiar, pois está situado em
área de pouco recurso pesqueiro. A atividade extralote com trabalho assalariado é sua maior
fonte de renda que correspondem a 58,47% da renda bruta anual por família, que é, em média,
de R$ 15.119,24 (Tabela 41). São realizadas as seguintes atividades: frete de barco para o
transporte escolar, serviço de roçagens de açaizal, colheita de açaí fruto, carpintaria naval,
estiva e de professor. Duas dessas famílias pagam para roçar o açaizal e aplicam por ano 4
homens/dia nesta atividade.
80 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 41 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do subtipo
moderado com extralote na ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
9.248
0,58
5.363,84
35,48
Palmito
cabeça
1.120
0,25
280,00
1,85
Camarão
l
24
2,00
48,00
0,32
Cacau
Kg
207
1,20
248,40
1,64
Peixe
Kg
20
1,20
24,00
0,16
Animais
90,00
0,6
Extralote
8.840,00
58,47
Benefícios
225,00
1,48
Total
15.119,24
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
A estratégia desse subtipo é dedicar a maior parte de sua mão-de-obra para as
atividades extralotes, que representam a maior parte na renda familiar, por isso realiza o
manejo de açaizal com menor intensidade, tendo o açaí fruto como complemento da renda.
Esse subtipo tem uma renda anual melhor distribuída durante o ano, pois o seu
maior componente, a atividade extralote, ocorre durante todo os meses (Tabela 42). No
inverno, período em que a renda é um pouco menor, consome e comercializa os animais
(suínos e galinhas) em maior quantidade, comercializa o palmito, a semente de cacau e pratica
a pesca em pouquíssima quantidade.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 81
Tabela 42 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do subtipo
moderado com extralote na Ilha Grande, município de Belém-PA
Itens
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Açaí fruto
-
-
-
-
-
-
+
+++
+++
+++
+++
++
Palmito
-
-
-
-
-
0
0
0
0
0
0
0
Camarão
-
-
-
+
+
+
+
-
-
-
-
-
Cacau
+
+
+
-
-
-
-
0
0
0
0
0
Peixe
+
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
Animais
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
Extralote
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
Benefício
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau; “0” = ausência; “-” menor quantidade; “+” maior quantidade.
Subtipo Moderado com Cacau
O subtipo moderado com cacau representa duas famílias da Ilha Grande (9%). No
açaizal encontram-se 250 árvores/ha de essências florestais. Possui, em uma parte do açaizal,
um consórcio de açaizeiro e cacaueiro com mais de 750 pés de cacau, que chega a participar
com 4% da renda bruta anual cujo valor é, em média, de R$ 10.298,10 por família (Tabela
43). Recebe benefício social (aposentadoria), que contribui com 41,95% da renda bruta anual,
sendo o mais importante componente da renda. A pesca é realizada apenas para o consumo.
Este subtipo aplica pouca mão-de-obra para roçar o açaizal, em torno de 6
homens/dia/ano, em razão de serem idosos e tem pouca mão-de-obra disponível.
Sua renda anual é melhor distribuída durante o ano, pois o seu maior componente,
o benefício social, ocorre durante todo os meses (Tabela 44). No inverno, período de renda
um pouco menor, consome e comercializa os animais (suínos e galinhas) em maior
quantidade, comercializa o palmito, a semente de cacau e pratica a pesca em maior
intensidade, porém consegue pouca produção.
82 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 43 - Composição média anual da renda bruta do subtipo moderado com cacau na Ilha
Grande, município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
7.070
0,58
4.100,60
39,82
Palmito
Cabeça
350
0,20
70,00
0,68
Camarão
L
120
2,00
240,00
2,33
Cacau
Kg
337
1,30
438,10
4,25
Peixe
Kg
48
1,30
62,40
0,61
Animais
692,00
6,72
Extralote
375,00
3,64
Benefícios
4.320,00
41,95
Total
10.298,10
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
Tabela 44 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do subtipo
moderado com cacau na Ilha Grande, município de Belém-PA
Itens
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Açaí fruto
-
-
-
-
-
-
+
+++
+++
+++
+++
+
Palmito
-
-
-
-
-
0
0
0
0
0
0
0
Camarão
-
-
-
+
+
+
+
-
-
-
-
-
Cacau
+
+
+
-
-
-
-
0
0
0
0
0
Peixe
+
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
Animais
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
Extralote
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
Benefício
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau; “0” = ausência; “-” menor quantidade; “+” maior quantidade.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 83
Tipo Sem Manejo
É aquele que faz apenas a colheita do açaí fruto e vive basicamente da atividade
extralote. Compra o açaí fruto de outros ribeirinhos, beneficia o fruto e comercializa a polpa,
que contribui com 81,57% da renda familiar (Tabela 45). O açaí fruto, produzido no lote,
participa com apenas 8,91% da renda. Tem rendimento de açaí fruto estimado em 4.000
kg/ha/ano. O açaizal contém em média 350 essências florestais/ha, é bastante sombreado,
apresentando açaizeiros altos e finos, pois não faz manejo. Contém apenas cinco cacaueiros.
Essa família apesar de ter acesso a recurso pesqueiro, não pratica a pesca. Captura
o camarão, pois exige pouca mão-de-obra.
Há quatro anos, a família decidiu trabalhar com uma máquina elétrica de despolpar
açaí fruto na Ilha de Cotijuba, que está localizada ao lado de Paquetá. Para obter matéria-
prima durante todo o ano, além da produção de seu lote, o açaí fruto é comprado de outros
ribeirinhos de Paquetá e também no Porto de Icoaraci. O trabalho com o beneficiamento do
açaí fruto para produção de polpa é menos penoso e permite obter renda satisfatória para a
família.
Tabela 45 - Composição média anual da renda bruta do tipo sem manejo na ilha de Paquetá,
município de Belém-PA
Itens
Unidade
Quantidade
Valor R$
% Renda
Unitário
Total
Açaí fruto
Kg
1.173
0,58
680,34
8,91
Camarão
L
240
2,00
480,00
6,28
Animais
240,00
3,14
Extralote
6.240,00
81,67
Total
7.640,34
100,00
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau.
84 James Ribeiro de Azevedo
Esse tipo tem uma renda anual melhor distribuída durante o ano, pois o seu maior
componente, a atividade extralote, ocorre em todos os meses (Tabela 46). No inverno, período
de renda um pouco menor, consome e comercializa os animais (suínos e galinhas) em maior
quantidade e captura o camarão.
Tabela 46 Distribuição mensal dos componentes da renda dos ribeirinhos do tipo sem
manejo na ilha de Paquetá, município de Belém-PA
Itens
Jan.
Fev.
Mar.
Abr.
Maio
Jun.
Jul.
Ago.
Set.
Out.
Nov.
Dez.
Açaí fruto
-
-
-
-
-
-
+
++
++
++
++
-
Camarão
-
-
-
++
++
++
++
-
-
-
-
-
Animais
+
+
+
+
+
-
-
-
-
-
-
-
Extralote
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
+++
Legenda: benefícios = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; animais = suínos, galinhas e patos; extralote
= atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.); outras
rendas = madeira, frutas (jambo, cupuaçu e graviola), confecção de rasa e comércio de compra e venda de
semente de cacau; “0” = ausência; “-” menor quantidade; “+” maior quantidade.
Este tipo não é representativo em nenhuma das duas ilhas, sendo encontrado
apenas na ilha de Paquetá e representa simplesmente uma família (3%).
Comparando-se os três tipos de manejo, o tipo intensivo apresenta o menor
número de essências florestais 200 árvores/ha, aplica mais mão-de-obra na roçagem do
açaizal 18 homens/dia/ano, o açaí fruto apresenta-se com maior percentual (66.67%) na renda
familiar e com maior rendimento 12.320 kg/ha/ano (Tabela 47).
O tipo sem manejo apresenta a menor renda (R$ 7.640,34) (Tabela 48). O tipo
moderado apresenta uma renda maior (R$ 11.269,87), mas não superior a 15% ao tipo
intensivo. A pouca presença de peixe e camarão no tipo intensivo é compensado pelo aumento
da produção de açaí fruto. O subtipo moderado extralote, que tem trabalho assalariado, foi o
que apresentou a maior renda (R$ 15.119,24). Com essa exceção, a renda entre os tipos foi
semelhante.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 85
Em relação à renda com açaí fruto, o tipo intensivo tem, em média, uma renda
maior (R$ 6.380,00), em razão de ter maior rendimento de açaí fruto (12.320 kg/ha/ano) e
maior área de açaizeiro (0,5 1,5 ha). A maior renda com açaí fruto foi verificada no subtipo
intensivo com cacau (R$ 10.797,30). São famílias antigas no lote (30 anos de ocupação) e tem
maior área de açaizal (1,0 - 1,5 ha). O tipo sem manejo tem menor renda (R$ 680,34), pois
tem menor área (0,5 ha) e tem menor rendimento (4.000 kg/ha/ano), visto que não faz manejo.
Tabela 47 Síntese comparativa dos tipos de manejo de açaizal nativo realizado pelos
ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Manejo
de
essências
florestais/ha
Mão-de-obra
p/ roçagem no
açaizal em
h/d/ano
Participação
dos principais
componentes na
renda familiar
Rendimento
de açaí fruto
em
kg/ha/ano
de
pés de
cacau
Tipo intensivo
200
18
açaí fruto = 66,67%
12.320
Subtipo
intensivo
extralote
200
18
açaí fruto = 67,48%
extralote = 12,35%
52
Subtipo
intensivo com
cacau
200
18
açaí fruto = 65,86%
cacau = 14,91%
785
Tipo moderado
250
7
açaí fruto = 38,68%
9.660
Subtipo
moderado com
peixe e camarão
250
12
açaí fruto = 40,75%
peixe = 27,88%
8
Subtipo
moderado
extralote
300
4
açaí fruto = 35,48%
extralote = 58,47%
160
Subtipo
moderado com
cacau
250
6
açaí fruto = 39,82%
benefício = 41,95%
750
Tipo sem
manejo
350
0
açaí fruto = 8,91%
extralote = 81,67%
4.000
5
Legenda: h/d/ano = homem/dia/ano, benefícios sociais = aposentadorias, bolsa escola e bolsa família; extralote =
atividades assalariadas (frete de barco, agente de saúde, professor, merendeira, roçagem de açaizal etc.).
86 James Ribeiro de Azevedo
Tabela 48 Síntese comparativa da renda bruta anual dos tipos de manejo nativo realizado
pelos ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande, município de Belém-PA
Tipo
Ilha
Renda
bruta
média
anual R$
Renda bruta
média anual
com açaí
fruto R$
Rendimento
açaí fruto
kg/ha/ano
Área com
açaizeiro
em ha
Intensivo
Ilha Grande
9.584,75
6.380,00
12.320
0,5 1,5
Subtipo intensivo extralote
Ilha Grande
8.372,20
5.649,20
0,5 1,0
Subtipo intensivo com cacau
Ilha Grande
10.797,30
7.111,80
1,0 1,5
Moderado
Ilha Grande
e Paquetá
11.269,87
4.294,49
9.660
0,5 1,0
Subtipo moderado com peixe
e camarão
Paquetá
8.392,28
3.420,26
0,5 1,0
Subtipo moderado extralote
Ilha Grande
15.119,24
5.363,84
1,0
Subtipo moderado com cacau
Ilha Grande
10.298,10
4.100,60
0,5 - 1,0
Sem manejo
Paquetá
7.640,34
680,34
4.000
0,5
CONSIDERAÇOES FINAIS
O açaizeiro é economicamente um dos mais importantes recursos naturais do
estuário amazônico (LIMA, 1956; CALZAVARA, 1972; SILVA; ALMEIDA, 2004). Tem
uma significativa contribuição na economia do estado do Pará, com seus dois produtos: o
palmito e o fruto (IBGE, 2002). O açaí (fruto) é um produto que faz parte da cultura do povo
paraense, principalmente na alimentação.
Nos últimos anos, o açaí deixou de ser consumido na Amazônia, para ganhar
outros mercados no Brasil e no exterior (ENRÍQUEZ; SILVA; CABRAL, 2003). A elevação
da demanda por frutos tem provocado uma alteração no sistema de manejo dos açaizais
praticados por ribeirinhos, que estão situados próximos aos centros consumidores de açaí.
Esse sistema, na década de 70, era direcionado principalmente para a exploração do palmito.
Atualmente, estes ribeirinhos estão manejando os açaizais para a produção de frutos para a
comercialização e o consumo, atribuindo ao palmito um complemento da renda.
Pesquisas têm comprovado o efeito do manejo no aumento da produção de frutos
(JARDIM; ANDERSON, 1987; HAMP, 1991 citado por NOGUEIRA, 1997; NOGUEIRA,
1997), contribuindo na elaboração de propostas de manejo que estão sendo difundidas por
órgãos de desenvolvimento.
Os ribeirinhos das ilhas de Paquetá e Ilha Grande realizam as seguintes formas de
manejo de açaizal com objetivo de aumentar a produção e a produtividade de açaí fruto:
enriquecimento com semeio e mudas de açaizeiro, desbaste dos estipes, roçagem e raleamento
da mata.
88 James Ribeiro de Azevedo
Os tipos de manejos realizados pelos ribeirinhos foram classificados em três:
intensivo, moderado e sem manejo.
A estratégia de quem realiza o manejo intensivo é de aumentar a renda familiar,
principalmente, com o aumento da produção de açaí fruto, pois as outras fontes de renda
apresentam limitações como no caso da Ilha Grande, em que não há peixe e camarão em
abundância. No manejo moderado é utilizada pouca mão-de-obra no manejo do açaizal, pois
são aproveitadas outras fontes, que complementam a renda, além do fruto, como a pesca
do peixe e da captura do camarão, ambos abundantes em Paquetá, e rendas maiores como o
trabalho extralote assalariado e benefício social (aposentadoria), estes dois últimos, presentes
na Ilha Grande. No tipo sem manejo é realizada no açaizal apenas a colheita do açaí fruto,
tendo como principal fonte de renda a atividade extralote (compra de açaí fruto de outros
ribeirinhos, beneficia e comercializa a polpa).
Levando-se em consideração que esses ribeirinhos realizam diferentes tipos de
manejo de açaizal, resultado também encontrado por Grossmann et al. (2004), as propostas
genéricas de manejo, oriundas das agências de desenvolvimento, dificilmente serão
incorporadas pela maioria dos ribeirinhos, pois os mesmos têm diferentes estratégias.
Conforme Man Yu e Sereia citado por Vilar et al. (2001), as propostas para terem maiores
êxitos, deveriam ser adequadas para cada tipo. Segundo Filho (1999, p. 51), “[...] um
agricultor só implementa um determinado sistema produtivo se ele corresponder ao seu
interesse ou às suas estratégias”.
Um ponto importante a ser levado em consideração para os ribeirinhos que ainda
estão praticando o extrativismo do açaí de mudarem para um sistema de manejo, que requer
maior intensidade de mão-de-obra, é a garantia de estabilidade nas terras ocupadas,
consideração também compartilhada por Castro (2000) e Grossmann et al. (2004). Os
ribeirinhos decidem em investir seus recursos quando têm garantia de permanecerem em seus
lotes. Outro fator necessário é a quantidade de mão-de-obra familiar disponível, a ser aplicada
no açaizal. Por último, o ribeirinho decidirá em aumentar cada vez mais a sua renda com o
açaí fruto, se a renda total não for satisfatória para atender as necessidades da família e as
outras atividades apresentarem limitações.
Sistema de manejo de açaizais nativos praticado por ribeirinhos 89
O atual sistema de manejo desenvolvido pelos ribeirinhos mantém uma
considerável diversidade nos açaizais, mas a possível intensificação do manejo para aumentar
a produção de frutos, poderá levar a sua redução e se transformar em um monocultivo de
açaizeiro. Concordando com Lopes (2003), o desequilíbrio ecológico poderá advir como o
aumento de pragas e doenças e uma possível redução da produtividade, pois poderá reduzir a
reciclagem de nutrientes. Uma das alternativas para se ter um sistema mais equilibrado seria a
valorização de outros produtos como a andiroba, o taperebá e o consórcio com o cacaueiro,
como exemplo, ou valorizar outros subsistemas de produção, até porque, o açaí não é ainda
um produto consolidado no mercado externo (GUIMARÃES et al., 2004) e caso não seja,
poderá causar uma diminuição do seu preço no mercado local e afetar consideravelmente a
renda dos ribeirinhos, que é um dos seus mais importantes componentes.
Para concluir. O manejo de açaizais nativos, praticado por esses ribeirinhos,
passou por três fases: o extrativismo de coleta de açaí frutos para consumo familiar; a
extração de palmito para a comercialização e o manejo de açaí fruto para comercialização e
consumo familiar.
As alterações ocorridas no sistema de manejo, para aumentar a produção de açaí
fruto, foram provocadas pelo mercado e para atender o consumo familiar.
Os fatores que determinam a intensidade de mão-de-obra, a ser aplicada pelos
ribeirinhos no açaizal, para aumentar a produção de açaí fruto são: a estabilidade na terra
ocupada, a quantidade de mão-de-obra familiar disponível e as limitações de renda das outras
atividades.
Para aumentar o rendimento de açaí fruto, os ribeirinhos estão enriquecendo os
açaizais através do semeio e de transplantes de mudas de açaizeiro, raleando a mata, fazendo
o desbaste dos estipes e intensificando a mão-de-obra na roçagem.
Considerando que o tipo intensivo está em uma estratégia de intensificação de
mão-de-obra, as propostas de manejo de açaizal para aumentar a produção de açaí fruto são
bem-vindas. Das práticas recomendadas para aumentar a produção de frutos, faltaria apenas
fazer o desbaste de algumas touceiras jovens para se ter em torno de 400 a 600 touceiras
adultas/ha. Entretanto, deve-se ter o cuidado de propiciar outra fonte de renda, com os
recursos existentes e subutilizados como a extração do óleo da semente da andiroba e do
pracaxi, como exemplo. Ou aumentar as outras rendas existentes como o consórcio com o
90 James Ribeiro de Azevedo
cacaueiro, utilizando-se espaçamento maior do que os 4 metros entre plantas para diminuir a
concorrência com o açaizeiro e instalando-se unidades de secagem de semente do cacau para
obter um produto com melhor qualidade. Outro consórcio com o açaizeiro pode ser com o
cupuaçuzeiro. É uma planta bem adaptada a condição da várzea, pode ficar no extrato arbóreo
inferior ao açaizeiro, utilizando-se o mesmo espaçamento indicado ao cacaueiro.
Para o tipo moderado, que não está em uma estratégia de intensificação de mão-
de-obra para obter uma maior produção de açaí fruto, uma vez que tem outras importantes
fontes de renda, proposta de manejo de açaizal que requer maior quantidade de mão-de-obra,
pode ser pouco incorporada. A possibilidade de extração do óleo da andiroba e do pracaxi
pode ser também uma boa alternativa para as famílias desse tipo.
BIBLIOGRAFIA
ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura
sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000.
ANDERSON, A. B.; GELY, A.; STRUDWICK, J.; SOBEL, G. L.;
PINTO, M. das G. C. Um sistema agroflorestal na várzea do estuário
amazônico (Ilha das Onças, município de Barcarena, estado do Pará).
Acta Amazônica, Manaus, v. 15, n. 1/2, p. 195-224, mar./jun., 1985.
Suplemento.
ANDERSON, A. B.; IORIS, E. M. A lógica do extrativismo: manejo de
recursos e geração de renda por produtores extrativistas no estuário
amazônico. In: DIEGUES, A. C.; MOREIRA, A. de C. C. (Org.).
Espaços e recursos naturais de uso comum. São Paulo: NUPAUB
USP, 2001. p. 163-179.
ANDERSON, A. B.; IORIS, E. M. The logic of extraction: resource
management and income generation by extractive producers in the
Amazon. In: REDFORD, K. F.; PADOCH, C. (Ed.). Conservation of
neotropical forests. New York: Columbia University Press, 1992. p. 175
199.
ARZENI, S.; JARDIM, M. A. G. Estratégias de sobrevivência em
comunidades agroextrativistas do estuário amazônico. In: JARDIM, M.
A. G.; MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e
limites para o desenvolvimento sustentável no estuário amazônico.
Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 253 265. (Coleção
Adolpho Ducke).
92
BARBIERI, E. TOMASINO, J. Ameaça no mangue. Cidade Nova,
Vargem Grande Paulista, n.10, p. 16-17, out.1998.
BELÉM, 2001. Coordenadoria de Comunicação Social. Família
saudável reduz internações e estimula aleitamento. 2001 b. Disponível
em: <http://www.prefeituradebelem.com.br/portal2001/pefamili.html>.
Acesso em: 4 mar. 2005.
BELÉM. Secretaria Municipal de Economia. Diagnóstico da
agricultura familiar das ilhas do Município de Belém. Belém:
SECON, 2001 a (mimeo).
BELÉM. Secretaria Municipal de Planejamento e Gestão. Anuário
estatístico do Município de Belém. Belém: SEGEP, 1996. v. 3.
BOVI, M. L. A. Resultados de pesquisa referentes à exploração, manejo
e cultivo do açaizeiro. In: JARDIM, M. A. G.; MOURÃO, L.
GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites para o
desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém: Museu
Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 53 78. (Coleção Adolpho Ducke).
BRABO, M. J. C. Palmiteiros de Muaná estudo sobre o processo de
produção no beneficiamento do açaizeiro. Boletim do Museu Paraense
Emílio Goeldi, Belém, n.73, p. 1-29, 25 jan. 1979. Série Antropologia.
BRASIL UM PAÍS DE TODOS. Fome zero. Brasília, ano 2, n. 3, jul.
2004.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa
do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Art. 20. Belém: Banco
da Amazônia S/A, 1988. vi. 272p.
BRASIL. Ministério das Minas e Energia. Departamento Nacional de
Produção Mineral. Projeto Radambrasil. Folha SA.22. Brasília: DNPM,
1974. v.5.
93
BRASIL. Secretaria de Patrimônio da União. Os terrenos de marinha e as
atividades imobiliárias da SPU. 2004. Disponível em:
<http://www.spu.planejamento.gov.br/conteudo/apresentação/terrenos.
htm>. Acesso em: 24 mar. 2005.
CALZAVARA, B. B. G. Açaizeiro. Recomendações Básicas da
Embrapa, Belém, n. 3, set., 1987.
CALZAVARA, B. B. G. Açaizeiro: fonte inesgotável de palmito.
[Belém]: Embrapa, [197-]. (mimeo).
CALZAVARA, B. B. G. As possibilidades do açaizeiro no estuário
amazônico. Boletim da FCAP, Belém, n. 5, 1972.
CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia e
desenvolvimento rural sustentável: perspectiva para nova extensão rural.
Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, v. 1,
n. 1, p. 16-37, jan./mar. 2000.
CASTELLANET, C.; SIMÕES, A.; FILHO, P. C. Diagnóstico
preliminar da agricultura familiar na Transamazônica: indicadores para
pesquisa desenvolvimento. Belém: LAET, 1994. (mimeo).
CASTRO, A de. O extrativismo do açaí na Amazônia Central. In:
EMPERAIRE, L. (Editora científica). A floresta em jogo: o extrativismo
na Amazônia central. São Paulo: UNESP, 2000. p. 129 138.
CEPLAC. Anuário estatístico do cacau. Sinopse estatística do cacau,
Brasília, v. 1. 1994.
EMBRAPA. Laboratório de Climatologia da Embrapa Amazônia
Oriental. Precipitação mensal do município de Belém do ano de 2003.
Belém: EMBRAPA, 2004. (mimeo).
ENRÍQUEZ, G; SILVA, M. A. da; CABRAL, E. Biodiversidade da
Amazônia: uso e potencialidades dos mais importantes produtos naturais
do Pará. Belém: UFPA, 2003.
94
FALESI, I. C. Estado atual de conhecimento de solos da Amazônia
brasileira. In: Simpósio do Trópico Úmido, 1., 1984, Belém. Anais...
Belém: EMBRAPA-CPATU, 1984.
FILHO, D. P. G. Guia metodológico: diagnóstico de sistemas agrários.
Brasília: INCRA/FAO, 1999.
GROSSMANN, M.; FERREIRA, F. de J. C.; LOBO, G.; COUTO, R. C.
do. Planejamento participativo visando a um manejo sustentável dos
açaizais amazônicos e regulamentações oficiais. In: JARDIM, M. A. G.;
MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites
para o desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém:
Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 123 134. (Coleção Adolpho
Ducke).
GUIMARÃES, L. A.; SANTOS, T. M.; RODRIGUES, D. M.;
FRAHAN, B. H. A produção e comercialização do açaí no município de
Abaetetuba, Pará. In: JARDIM, M. A. G.; MOURÃO, L.
GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites para o
desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém: Museu
Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 159 179. (Coleção Adolpho Ducke).
HÉBETTE, J; ALVES, J. M.; QUINTELA, R. da S. Parentesco,
vizinhança e organização profissional na formação da fronteira
amazônica. In: HÉBETTE, J.; MAGALHÃES, S. B.; MANHESCY, M.
C. (Org.). No mar, nos rios e na fronteira: faces do campesinato no Pará.
Belém: EDUFPA, 2002. p. 175 202.
HOMMA, A.K.O. A extração de recursos naturais renováveis: o caso do
extrativismo vegetal na Amazônia. 1989. 575 f. Tese (Doctor Scientiae)
Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1989.
HOMMA, A.K.O. Uma tentativa de interpretação teórica do extrativismo
amazônico. In: HOMMA, A.K.O. Extrativismo vegetal na Amazônia.
Belém: Embrapa SPI, 1993. p. 1-15.
95
IBAMA. Portaria 02 de 09 de janeiro de 1992. 2005. Disponível em:
<http://www.amazonia.org.br/documentos/pt/manejo/legislação/portarias
/portaria02de92.doc.>. Acesso em: 04 mar. 2005.
IBGE (Rio de Janeiro, RJ). Censo demográfico de 2000. 2004.
Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/população/censo2000/universo
>. Acesso em: 21 abr. 2004.
IBGE (Rio de Janeiro, RJ). Produção da extração vegetal e da
Silvicultura. 2002. Disponível em :
<http://www.ibge.gov.br/home/estatística/economia/pevs/2002/pevs2000
.pdf>. Acesso em: 7 maio 2004.
JARDIM, M. A G.; ROMBOLD, J. S. Effects of adubation and thinning
on açaí palm (Euterpe oleracea Mart.) fruit yield from a natural
population. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi: Série Botânica,
Belém, 10 (2), p. 283 293, 1994.
JARDIM, M. A. G. Morfologia e ecologia do açaizeiro Euterpe oleracea
Mart. e das etnovariedades espada e branco em ambientes de várzea do
estuário. 2000. 119 f. Tese (Doutorado em Ciências Biológicas)
Universidade Federal do Pará, Belém, 2000.
JARDIM, M. A. G.; ANDERSON, A. B. Manejo de populações nativas
de açaizeiro no estuário amazônico - resultados preliminares. Boletim de
Pesquisa Florestal, Curitiba, (15): 1-18, dez. 1987.
LIMA, R. R. A. Agricultura nas várzeas do estuário do Amazonas.
Boletim Técnico, Belém, IAN, n. 33, 1956.
LOPES, M. L. B. Distribuição dos retornos sociais do manejo do açaí no
Estado do Pará. In: GRAÇA, H. (Org.). O meio amazônico em
desenvolvimento: exemplo de alternativas econômicas. Belém: Banco da
Amazônia, 2003. p. 19-46.
96
MENEZES, L. F. T. de; PEIXOTO, A. L. A riqueza ameaçada dos
mangues. Ciências Hoje, Rio de Janeiro, n. 158, mar. p. 63-67, 2000.
MOURÃO, L. Açaizeiro: açaí e palmito no estuário amazônico. In:
JARDIM, M. A. G.; MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí:
possibilidades e limites para o desenvolvimento sustentável no estuário
amazônico. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 181 204.
(Coleção Adolpho Ducke).
NASCIMENTO, M. J. M. Mercado e comercialização de frutos de açaí.
Belém: UFPA- CFCH/Word Wildlife Fund WWF, 1992. Tomo III
(Relatório de Pesquisa).
NOGUEIRA, O. L. GALVÃO, E. U. P.; OLIVEIRA, R. P. de;
MOREIRA, D. A. Relações entre caracteres fenotípicos quantitativos e a
produção de palmito de açaizeiro (Euterpe oleracea Mart.) In: JARDIM,
M. A. G.; MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades
e limites para o desenvolvimento sustentável no estuário amazônico.
Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 27 36. (Coleção
Adolpho Ducke).
NOGUEIRA, O. L. Regeneração, manejo e exploração de açaizais
nativos de várzea do estuário amazônico. 1997. 149 f. Tese (Doutorado
em Ciências) - Universidade Federal do Pará, Museu Paraense Emílio
Goeldi, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Belém, 1997.
OBANO, S.; MORA, H. Guia metodológico para o planejamento
sustentável dos sistemas agrários. Brasília: FAO/INCRA, 1992. (mimeo).
OLIVEIRA, M. do S. P. de; CARVALHO, J. E. U. de; NASCIMENTO,
W. M. O do. Açaí (Euterpe oleracea Mart.). Jaboticabal: FUNEP, 2000.
52p.
POLLAK, H.; MATOS, M.; UHL, C. O perfil da extração de palmito no
estuário amazônico. Belém, Imazon, 1996. 42p. il.
97
QUEIROZ, J. A L. de; MOCHIUTTI, S. (Org.). Guia prático de manejo
de açaizais para produção de frutos. Macapá, Embrapa/IEPA, 2001 a.
58p.
QUEIROZ, J. A L. de; MOCHIUTTI. Plantio de açaizeiro. Comunicado
Técnico da Embrapa, Belém, n. 55, nov., 2001 b.
ROGEZ, H. Açaí: preparo, composição e melhoramento da conservação.
Belém: EDUFPA, 2000. 313p. il.
SILVA, B. N. R. da. Levantamento de reconhecimento detalhado dos
solos da Ilha de Mosqueiro (Pará) com auxílio de fotointerpretação.
1975. Dissertação (Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas) - Escola
Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo,
Piracicaba, 1975. 156p.
SILVA, P. J. D. da; ALMEIDA, S. S. de. Estrutura ecológica de açaizais
em ecossistemas inundáveis da Amazônia. In: JARDIM, M. A. G.;
MOURÃO, L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites
para o desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém:
Museu Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 37 51. (Coleção Adolpho
Ducke).
SIMA. Boletim anual de média mensal do Sima - PA. Belém: 2004.
(mimeo).
SIMONIAN, L. T. L. Devastação e impasse para a sustentabilidade dos
açaizais no vale do rio Maracá, AP. In: JARDIM, M. A. G.; MOURÃO,
L. GROSSMANN, M. (Ed.). Açaí: possibilidades e limites para o
desenvolvimento sustentável no estuário amazônico. Belém: Museu
Paraense Emílio Goeldi, 2004. p. 233 252. (Coleção Adolpho Ducke).
TEIXEIRA, E. (Ed.). Travessia, redes e nós: complexidade do cuidar
cotidiano de saúde entre ribeirinhos. Belém: Grafia e Gráfica, 2001.
170p.
98
TOLEDO, L. R. Endereço novo: produtos orgânicos saltam do circuito
alternativo para as prateleiras dos supermercados e vendem mais. Globo
Rural, São Paulo, abr. p. 49-51, 1997.
VANDERLEY, M. N. B. Raízes históricas do campesinato brasileiro. In:
TEDESCO, J. C. (Org.). Agricultura familiar: realidade e perspectivas.
Passo Fundo: EDIUPF, 1999. p. 21-55.
VELHO, O G. Frentes de expansão e estrutura agrária: estudo do
processo de penetração numa área da Transamazônica. Rio de Janeiro:
Zahar Editores, 1981. Segunda edição.
VILAR, R. R. L. et al. Tipificação de unidades agrícolas familiares: o
caso da comunidade de Nova Califórnia, Capitão Poço, Pará. In:
ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE SISTEMAS DE
PRODUÇÃO, 4., 2001, Belém. Anais ... Belém : SBSP/UFPA-NEAF/
EMBRAPA, 2001. 1 CD- ROOM.
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição Uso Não-Comercial Obras Derivadas Proibidas 3.0 Brasil
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo