O ser humano não apenas vive, ele convive. E este é um ponto de
partida fundamental, que durante algum tempo ficou esquecido. Mas, se nós
pensarmos, alargarmos um pouco esta observação, vamos ver que não é só por
necessidades materiais que as pessoas convivem. Assim, por exemplo, um ponto
que é fundamental, é a necessidade afetiva. Todos querem amar, todos querem
ser amados, e em grande parte os problemas da nossa época, de violência, de
desajuste da infância e da juventude, são devidos a carências afetivas. Eu me
lembro, eu estudante visitando presídios, acompanhado de um grande professor
de Direito Penal, Basileu Garcia, e várias vezes no presídio eu ouvi o presidiário
dizer: ‘se eu tivesse uma mãe que cuidasse de mim, que gostasse de mim, muito
provavelmente eu não estaria aqui’. Eu acho que em muitos casos era verdadeiro.
E também nessas minhas andanças tenho tido muito contato com jovens, com
adolescentes, muitos deles infratores: é muito comum a queixa da falta de apoio
afetivo, são as famílias que não vivem como famílias. Então, vem uma série de
fatores influindo nisso, as condições sociais, as condições econômicas, a mãe que
muda de companheiros uma porção de vezes – ainda há poucos dias apareceu
em minha casa, um adolescente vivendo na rua, num bandinho em que havia
meninos e meninas, e a companheira dele engravidou, e agora, o que vai
acontecer? É um caso bem expressivo de carência afetiva, com quem eu tenho
procurando dar alguma orientação, mas é exatamente o caso: a mãe trocou de
companheiro uma porção de vezes, alguns companheiros bêbados, e agredindo a
mãe, e o menino, para não ver mais isso, foi para a rua.