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Geração Jovem PG ok 12/13/04 17:54 Page 1
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JUVENTUDE PRESENTE
Lições do Projeto Geração Jovem
Geração Jovem PG ok 12/13/04 17:50 Page 3
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PELOS DIREITOS DA
CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
DIRETORIA EXECUTIVA
Diretor-presidente
:Rubens Naves
Diretora Vice-presidente
:Isa Maria Guará
Diretor-tesoureiro
:Synésio Batista da Costa
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
Presidente
:Carlos Antonio Tilkian
Secretário
:Ismar Lissner
Membros efetivos
:Aloísio Wolff,Audir Queixa Giovani,Carlos Rocha Ribeiro da
Silva,Daniel Trevisan,Emerson Kapaz,Guilherme Peirão Leal,Hans Becker,José
Berenguer,José Eduardo P.Pañella,Lourival Kiçula,Maria Ignês Bierrenbach,Oded
Grajew,Ricardo Sayon,Sérgio E.Mindlin e Therezinha Fram
Membros suplentes
:Antônio Carlos Ronca,Edison Ferreira,João Nagano Júnior,
Márcio Ponzini,Natânia do Carmo Sequeira e Ricardo Vacaro
CONSELHO FISCAL
Membros efetivos
:José Francisco Gresenberg Neto e Mauro Antônio Ré
Membros suplentes
:Alfredo Sette,Erika Quesada Passos,Rubem Paulo Kipper e
Vítor Aruk Garcia
CONSELHO CONSULTIVO
Presidente
:Therezinha Fram
Vice-presidente
:Isa Maria Guará
Membros efetivos
:Aldaíza Sposati,Aloísio Mercadante Oliva,Âmbar de Oliveira
Barros,Antônio Carlos Gomes da Costa,Araceli Martins Elman,Benedito Rodrigues
dos Santos,Dalmo de Abreu Dallari,Edda Bomtempo,Helena M.Oliveira Yazbeck,
Hélio Pereira Bicudo,Ilo Krugli,João Benedicto de Azevedo Marques,Joelmir
Betting,Jorge Broide,Lélio Bentes Corrêa,Lídia Izecson de Carvalho,Magnólia
Gripp Bastos,Mara Cardeal,Marcelo Pedroso Goulart,Maria Cecília C.Aranha Lima,
Maria Cecília Ziliotto,Maria Cristina de Barros Carvalho,Maria Cristina S.M.
Capobianco,Maria Machado Malta Campos,Marlova Jovchelovitch Noleto,Marta
Silva Campos,Melanie Farkas,Munir Cury,Newton A.Paciulli Bryan,Norma Jorge
Kyriakos,Oris de Oliveira,Pedro Dallari,Rachel Gevertz,Ronald Kapaz,Rosa Lúcia
Moysés,Ruth Rocha,Sandra Juliana Sinicco,Sílvia Gomara Daffre,Tatiana Belinky,
Valdemar de Oliveira Neto e Vital Didonet
SECRETARIA EXECUTIVA
Gerente Executiva Operacional:
Ely Harasawa
Gerente Executivo de Relacionamento:
Luis Vieira Rocha
Área Administrativo-Financeira:
Victor Alcântara da Graça
Área de Comunicação:
Ricardo Prado
Área de Informação:
Walter Meyer Karl
Área de Mobilização e Políticas Públicas:
Itamar Batista Gonçalves
Área de Captação de Recursos:
Lygia Fontanella-Deadman
Área de Planejamento e Avaliação:
José Claudio Barros
Assessoria da Presidência:
Ana Maria Wilheim
JUVENTUDE PRESENTE:LIÇÕES DO PROJETO GERAÇÃO JOVEM
A presente publicação foi concebida pela equipe do Projeto Geração Jovem,da
Fundação Abrinq,e por integrantes de treze organizações sociais de São
Paulo e Campinas que participaram do projeto
Equipe:
Márcia Quintino,Maria do Carmo Krehan e Nelma dos Santos Silva
Textos e sistematização
:Liliane Petris (Ação Educativa)
Revisão:
Renato Potenza Rodrigues
Edição:
Fernanda Favaro e Ricardo Prado (Área de Comunicação da Fundação Abrinq)
Projeto Gráfico:
Link EGF Estúdio Gráfico
Impressão:
Graphbox Caran
PROJETO GERAÇÃO JOVEM
Os seguintes representantes das organizações sociais do Projeto Geração
Jovem participaram deste processo de sistematização:
Genilva S.Borges,Perla Assunção Santos,Renato Queiroz dos Santos (Aldeia do
Futuro);Ivy Silva Moreira da Silva (Arrastão Movimento de Promoção Humana);
Cristiano Monteiro,Elidiane Borges S.Calesco (Associação Beneficente Madre
Cândida);Ana Luisa Benelli,Benigna Alves Siqueira,Marília Moreira,Antônio Rainha
(Associação Cultural Comunitária Pró-Morato);Vanessa E.M.Perez,Marcelo Piva,
Willian Bispo Pereira (CEAK Educandário Eurípides);Antonio Marcos da Silva (Centro
Cultural Vila Prudente);Graziela T.Mancini,Maria Goreth de Lima Teixeira (Centro de
Educação Especial Síndrome de Down);Weverton Ultramar de Matos (Centro de
Profissionalização de Adolescente “Pe.Bello”);Walter Aparecido Santos (Centro
Educacional Sal da Terra);Paula Roberta Rocha,Rosana de Araújo Borges (Círculo dos
Trabalhadores Cristãos da Vila Prudente);Andrea Rondinelli,Mônica Zagallo,Cesar
Negro (Fundação Gol de Letra);Sérgio Oliveira,Eliciana Holanda de Lucena (Mamãe
Associação de Assist.Criança Santamarense);Fabiana S.B.Bersocano (Unibes)
JOVENS - GRUPO FOCAL
Adriano da Silva do Nascimento (Círculo dos Trabalhadores);Ana Paula de Almeida
(Abamac);Anderson Pegnoratto (CPA);André de Souza (Centro Cultural Vila
Prudente);Carlos Henrique Aparecido de Oliveira (Fundação Gol de Letra);
Caroline de Santana Moreira (Aldeia do Futuro);Daniel Alves,Dienen Leite da Silva
(Unibes); Fernandes Pereira da Silva (Centro Cultural Vila Prudente); Izabel Cristina
Vieira de Souza (Mamãe Associação de Assist.Criança Santamarense),Jaqueline
Cristina Machado (CEAK); Leonardo Ferreira Andrade (Centro Assistencial Vedruna);
Luciana Aparecida Durigan (CEESD); Mariana Teixeira de Lima (Associação Cultural
Comunitária Pró-Morato);Marlon Rogério Santana (CPA);Natália Custódio dos
Santos (Associação Cultural Comunitária Pró-Morato); Priscila Manoel Barbosa
(Círculo dos Trabalhadores da Vila Prudente); Priscila da Silva Oliveira (Fundação
Gol de Letra);Priscila Martins (Arrastão);Thiago Vinícius de Paula Silva (Arrastão)
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OPerfil da Juventude Brasileira,pesquisa realizada pelo Instituto da Cidadania no final
de 2003,quantificou uma percepção comum sobre o acesso dos jovens a espaços e
serviços de cultura e lazer.Entre outros dados,o estudo mostrou que mais de 60% nunca
haviam ido a um teatro,exposição fotográfica ou museu; mais de 50% jamais estiveram
em um show de música ou em uma biblioteca sem ser a da escola;e quase 90% deles
nunca participaram de projetos culturais realizados por governos ou organizações não-
governamentais ou integraram centros de juventude.
A mesma pesquisa mostrou que,se por um lado,esses jovens são reféns da
carência generalizada de serviços que lhes garantam o direito à cultura e ao lazer,eles
demonstram uma vontade latente de participação e transformação.Quando perguntado
se gostariam de fazer parte de espaços comunitários,de 42 a 57% dos jovens
entrevistados acenaram positivamente para a possibilidade de freqüentar locais que vão
de associações de amigos de bairro a grupos de defesa do meio ambiente.Além disso,
92% deles afirmaram acreditar que sua vida pessoal vai melhorar nos próximos cinco
anos.Esses dados mostram que há uma dimensão da condição do jovem que está
sendo ignorada:a do sonho.A mensagem desses jovens é que não basta somente
alcançar o binômio estudo e trabalho.Para eles,a felicidade e a realização pessoal
passam também por exercitar a criatividade,expressar seus sentimentos e idéias,ser
reconhecidos por seus potenciais e esforços.
Foi exatamente com o olhar na dimensão do sonho que a Fundação Abrinq,em
parceria com a International Youth Foundation e a Lucent Foundation,desenvolveu o
Projeto Geração Jovem,ora apresentado nesta publicação.De 2001 a 2003,jovens de
15 organizações sociais da região metropolitana de São Paulo e de Campinas
A dimensão do sonho
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desenvolveram,com o apoio de educadores,oficinas e projetos sobre arte e pluralidade
cultural,meio ambiente,memória e história,e saúde – os cincos temas do projeto.As
organizações receberam apoio financeiro da Fundação Abrinq para realizar os projetos.A
idéia central era desenvolver iniciativas que,utilizando as diferentes linguagens e
temáticas propostas,gerassem impacto na comunidade e participação ativa do jovem –
da concepção do projeto à sua avaliação.
Ao propor dar asas à livre expressão do jovem e à sua contribuição como agente
transformador do local onde vive,o Projeto Geração Jovem alcançou resultados
surpreendentes.Revelou lideranças jovens e novos talentos,gerou intervenções louváveis
no dia-a-dia das comunidades,energizou as organizações,abriu espaço para o novo e
para a mudança.Apontou para uma nova maneira de enxergar o adolescente,de
entendê-lo,de valorizá-lo.Uma riqueza que pode ser conferida nas fotos feitas
voluntariamente por Pedro Rubens e Sendi Moraes nos dois encontros que a turma
realizou para apresentar os resultados de seus trabalhos.
Diante de tantas e tamanhas carências a que o jovem brasileiro está exposto,a
capacitação para a competitividade do mercado de trabalho e da vida é uma conquista
para poucos.Por isso,é inegável a contribuição de grande parte das iniciativas que
oferecem preparação para o trabalho a esses meninos e meninas.Mas esta não deve
substituir ou se transformar em sinônimo de educação e alcance de cidadania.A busca
da qualificação profissional não pode ofuscar a dimensão do sonho,componente
indissociável da formação do indivíduo.Devemos,definitivamente,garantir aos jovens a
possibilidade de sonhar.De enxergar as cores e a música que se escondem,muitas
vezes,sob a realidade.
Rubens Naves
Diretor-presidente da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e do Adolescente
Ao propor dar asas à livre
expressão do jovem e à sua
contribuição como agente
transformador do local onde
vive,o Projeto Geração
Jovem alcançou resultados
surpreendentes
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Sumário
INTRODUÇÃO
Um panorama do Projeto Geração Jovem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
CAPÍTULO 1
Organizações e projetos apoiados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
CAPÍTULO 2
Onde sobram sonhos,faltam direitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
CAPÍTULO 3
Os passos da sistematização. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
CAPÍTULO 4
Conteúdos e aprendizagens do Projeto Geração Jovem. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
CAPÍTULO 5
Temas ainda pouco explorados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
CAPÍTULO 6
Considerações finais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
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O Projeto Geração Jovem foi elaborado e desenvolvido pela
Fundação Abrinq entre os anos de 2002 e 2004,com o apoio
técnico e financeiro das organizações internacionais International
Youth Foundation e da Lucent Foundation.O principal objetivo do
Geração Jovem foi subsidiar técnica e financeiramente iniciativas
e projetos de organizações sociais que atendessem adolescentes
entre 12 e 18 anos na perspectiva da participação e atuação
juvenil.Esses projetos deveriam trabalhar com um ou mais dos
seguintes temas:pluralidade cultural,arte,meio ambiente,
saúde,memória e história.Para participar do projeto,os jovens
deveriam freqüentar a escola e participar ou ter participado de
atividades da organização.
O projeto teve duração de dois anos e foi estruturado em
duas fases.Na primeira,realizada de abril de 2002 a março de
2003,apoiou seis projetos da região metropolitana de São
Paulo e beneficiou 243 adolescentes.Na segunda,iniciada em
dezembro de 2002 e finalizada em dezembro de 2003,apoiou
nove projetos,sendo seis da cidade de São Paulo e três da
cidade de Campinas,beneficiando 308 adolescentes.Todas as
organizações foram selecionadas por trabalharem com projetos
de educação complementar para jovens.As instituições de São
Paulo,em especial,foram selecionadas entre as que são
vinculadas ao Programa Nossas Crianças,da Fundação Abrinq
(quadro ao lado)
.
Um panorama do Projeto Geração Jovem
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O que é o Programa Nossas Crianças?
O Programa Nossas Crianças,da Fundação Abrinq,nasceu em 1993 com o objetivo de aproximar pessoas e empresas – que
queiram apoiar a causa da infância – de organizações sociais que prestam atendimento a crianças e adolescentes de
famílias de baixa renda.Esse encontro de interesses se dá por meio do sistema de adoção financeira,que acontece em três
etapas:o indivíduo ou empresa destina um valor mensal ao programa,que repassa o recurso à organização social,que por
sua vez abre uma nova vaga para que mais uma criança ou grupo de crianças de famílias de baixa renda passe a receber
atendimento de qualidade.Atualmente,mais de cem organizações sociais estão ligadas ao Programa Nossas Crianças por
meio de uma rede de compromisso social,a Rede Nossas Crianças,pela qual as instituições articulam,mobilizam e
potencializam recursos materiais e humanos em benefício dos direitos de crianças e adolescentes.
• Associação Beneficente e Assistencial
Madre Cândida (Abamac)
• Aldeia do Futuro
• Arrastão Movimento de Promoção
Humana
• Centro Espírita Allan Kardec (CEAK)
– Educandário Eurípedes
• Centro de Defesa dos Direitos
da Criança e do Adolescente
Casa 10
• Centro de Defesa dos Direitos da
Criança e do Adolescente Mônica
Paião Trevisan
• Círculo dos Trabalhadores Cristãos
de Vila Prudente
• Associação Cultural Comunitária
Pró-Morato
• Centro Cultural Vila Prudente
• Centro de Educação Especial
Síndrome de Down (CEESD)
• Centro Educacional Sal da Terra
• Centro de Profissionalização de
Adolescentes (CPA) Padre José Bello
dos Santos
• Fundação Gol de Letra
• Associação de Assistência à Criança
Santamarense (Mamãe)
• União Brasileiro-Israelita do
Bem-Estar Social (Unibes).
Participaram do Geração Jovem as seguintes organizações:
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A idéia central que moveu o Geração Jovem é que cada projeto apoiado deveria
desenvolver, durante um ano,atividades e oficinas que proporcionassem aos jovens
aquisição ou entensão de conhecimentos nas temáticas escolhidas.As atividades
também deveriam buscar o estreitamento das relações desses jovens com a
comunidade e criar maneiras de eles intervirem nesse espaço.Dessa forma,tendo os
cinco temas como referenciais,os adolescentes voltaram seus olhares para os locais
onde vivem e foram estimulados a se perceberem como
pertencentes a essas comunidades e como portadores de
potencial para mudar suas realidades.
Para concretizar os projetos do Geração Jovem,as
organizações e os adolescentes criaram atividades relacionadas
ao folclore,à cultura nordestina,à saúde,aos direitos humanos,
ao meio ambiente,às artes,à pluralidade cultural,à
comunicação,à cidadania e à mobilização comunitária,e à
elaboração de projetos de intervenção na comunidade.Esses
conteúdos foram desenvolvidos por meio de oficinas de teatro,
música,dança,educação ambiental,fotografia,vídeo,mosaico,confecção de máscaras,
confecção de bonecos,grafite e artes plásticas e arte-educação.
Ao final dos projetos,os jovens apresentaram o domínio nos conteúdos
trabalhados e melhorias na capacidade de expressão,trabalho em grupo,respeito ao
próximo,consciência ecológica,autonomia,posicionamento crítico etc.
Na avaliação final realizada pelos jovens da primeira fase,também foi bastante
recorrente a afirmação de que,com o projeto, eles passaram a olhar a comunidade
de outra forma,reconhecendo a sua capacidade de movimentar e transformar a
realidade do contexto social,como mostra o depoimento da jovem Suzana Alzira
Vicente,de 17 anos:
Com o projeto,os jovens
passaram a olhar a comunidade
de outra forma,reconhecendo
a sua capacidade de
movimentar e transformar
a realidade do contexto social
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Para as comunidades,o projeto teve impactos não menos importantes.Muros de
diversos locais foram decorados com mosaico,grafite e pintura,e a população de vários
bairros assistiu a apresentações de teatro e dança,exposições de fotografia,oficinas e
debates sobre o meio ambiente.Comunidades como as de Vila Albertina,de Campo
Limpo e da favela de Vila Prudente,tiveram suas histórias e realidades descritas em
vídeos elaborados pelos próprios jovens.Moradores de um albergue do centro de São
Paulo tiveram cartas escritas por jovens e enviadas para seus familiares.
Para maior integração e troca de experiência entre os jovens beneficiados pelos
projetos,foram realizados dois grandes encontros.O primeiro,em abril de 2003,
contou com a participação de 250 adolescentes das seis organizações da primeira
fase do Geração Jovem.O segundo,em novembro do mesmo ano,contou com a
participação de 270 adolescentes da segunda fase.Nesses encontros,meninos e
meninas desenvolveram,a partir do que aprenderam nos projetos,oficinas e
apresentações de teatro,dança, música, máscaras e hip hop.Para a realização dos
encontros,a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM),de São Paulo,cedeu
voluntariamente suas instalações.
Hoje enxergo o mundo com outro olhar,passei a acreditar que meus sonhos podem ser possíveis e desejo que o espaço onde
vivo se modifique.É necessário que a mudança comece dentro de mim,que avalie as minhas atitudes.Parei de me sentir
inferior por ter nascido na periferia,acredito que sou capaz de mudar minha história,terei moradia digna,cursarei uma
faculdade,meus filhos serão gerados de acordo com as minhas condições financeiras.Tive a oportunidade de conhecer a arte,
aquela que me trouxe a conscientização,que me proporcionou cultura;tive acesso a lugares diferentes de onde vivo,aprendi
a ter amor no coração,lutar pelos meus ideais e principalmente nunca me sentir inferior.A arte me trouxe brasilidade.Como
você imagina uma pessoa que não possuía sonhos,que não possuía esperança de ter um futuro melhor,alguém que não
acreditava no poder de transformar? Acho que já deu para notar as mudanças que em mim ocorreram.
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As duas reuniões foram momentos extremamente ricos,que evidenciaram o talento
e a capacidade dos jovens.Em sua avaliação sobre os eventos,um representante da
ESPM afirmou que “com poucos recursos,os jovens nos mostraram que é possível fazer
diferença na comunidade dando exemplo de cidadania.Cidadania,aliás,foi a palavra de
ordem:ficamos maravilhados com a beleza das apresentações,a cultura,os sorrisos,os
coletores de lixo,a organização e,principalmente,o respeito recíproco entre crianças,
projetos,educadores,organizadores.Enfim,o respeito entre as pessoas.Gostaria de
registrar a reflexão positiva que este evento gerou em nossos alunos voluntários e em
todos os envolvidos por parte da escola”.
Além de apoiar financeiramente,a Fundação Abrinq acompanhou o
desenvolvimento dos projetos com um monitoramento participativo e formativo,
principalmente no que se referiu às dificuldades encontradas por cada organização e à
identificação de resultados.
Com esse acompanhamento,foi possível descobrir que os jovens não foram os
únicos aprendizes do projeto,mas também os gestores,técnicos e educadores envolvidos
nas iniciativas.Esses profissionais puderam questionar suas práticas,metodologias e
estratégias e redimensionar o lugar do jovem nas ações realizadas.
A presente publicação,produto de um processo de sistematização que durou quatro
meses no ano de 2004,retrata justamente essas aprendizagens.A expectativa com este
trabalho é contribuir com a prática daqueles que hoje atuam com adolescentes e jovens.
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De 2001 a 2003,15 organizações sociais
participaram do Projeto Geração Jovem.Elas
escolheram uma ou mais entre as cinco temáticas
propostas pelo Geração Jovem e elaboraram
projetos que promovessem e aprofundassem a
discussão sobre esses assuntos.Algumas instituições
também incentivaram os jovens a propor uma
intervenção dirigida e participativa na comunidade.
As páginas seguintes apresentam um resumo das
propostas,produtos e resultados das 13 iniciativas
que participaram do processo de sistematização.
ORGANIZAÇÕES E PROJETOS APOIADOS
Os jovens foram
incentivados a pensar
e participar ativamente
da produção de mudanças
em suas comunidades
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Associação Beneficente e Assistencial Madre Cândida (Abamac)
Localizada na cidade de Campinas,a Abamac atende crianças e adolescentes de quatro
meses a 14 anos e oferece atividades lúdicas monitoradas,oficinas de arte popular,
música,computação,esportes,artesanato e acompanhamento escolar.
Projeto: Fazendo Arte Dançando e Representando
O projeto foi concretizado por meio de oficinas de teatro,dança e música (percussão).O
eixo que integrou as três atividades foi o folclore,por meio do trabalho com o “coco”,um
ritmo nordestino extremamente popular.O projeto alcançou adolescentes de 12 a 14
anos que freqüentavam a Abamac e adolescentes de 14 a 18 anos que residiam nas
proximidades da organização.Além das atividades artísticas,também foi realizado o
acompanhamento do rendimento escolar dos 25 jovens atendidos.Como muitos desses
jovens apresentavam dificuldades em relação à leitura e à escrita,foi realizado um
trabalho para aprimorar essas habilidades.
Produtos finais:apresentações de dança e percussão em escolas e
organizações da cidade de Campinas e formação de um grupo permanente
de percussão com 23 adolescentes.
Destaque:a maioria dos adolescentes que participaram do projeto
demonstrou domínio em,pelo menos,uma das três linguagens trabalhadas:
percussão,teatro ou dança.Eles passaram a se posicionar mais criticamente
e melhoraram seu rendimento escolar.
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A Aldeia do Futuro é uma organização que atua no bairro de Americanópolis,região sul
de São Paulo.Atende adolescentes,jovens e adultos em atividades e oficinas
profissionalizantes,culturais e de geração de renda.
Projeto: Alicerce. Protagonizando uma vida melhor
O projeto foi elaborado por quatro jovens que participavam das atividades da Aldeia do
Futuro e tinha como objetivo formar um grupo de adolescentes que pudessem atuar na
comunidade.O projeto atendeu 30 adolescentes entre 15 e 18 anos e tinha como eixo o
protagonismo juvenil,com o desenvolvimento de atividades nas áreas da Saúde,Direitos
Humanos,Artes e Meio Ambiente.O ciclo de implementação do projeto compreendeu a
formação dos adolescentes nas quatro temáticas e no processo de elaboração de
projetos sociais.A aplicação prática dos aprendizados foi feita por meio da elaboração de
oito projetos de intervenção local,com a implantação de seis deles em 2003.Os projetos
elaborados trabalhavam com mediação de leitura para crianças e
adolescentes,recreação para crianças a partir de quatro anos,
formação de um núcleo de vídeo,oficinas sobre sexualidade e sobre
o Estatuto da Criança e do Adolescente,formação de um grupo de
teatro,aulas de informática para adultos em processo de
alfabetização e formação de uma rede de apoio a projetos de jovens.
Produtos finais:oito projetos desenvolvidos pelos jovens.
Destaque:a maioria dos jovens continuou desenvolvendo seus projetos
após o término do Geração Jovem.
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Aldeia do Futuro
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O Arrastão desenvolve projetos socioeducativos que beneficiam crianças e adolescentes,
suas famílias e moradores de Campo Limpo,região sul de São Paulo.O atendimento aos
adolescentes é desenvolvido pelo Programa Jovem em Ação e seus projetos:Programa
de Educação Ambiental (PEA),Arrasta Lata e Capacitação para o Mercado de Trabalho –
Sanduíches com Arte e Gente Jovem Fazendo Arte no Dia-a-Dia.
Projeto: Educação Ambiental
O projeto atendeu 30 adolescentes entre 12 e 15 anos com o objetivo de torná-los
multiplicadores e atuantes na comunidade do Campo Limpo,implementando ações que
possibilitassem a melhoria das condições socioambientais do bairro.Foram realizadas
oficinas temáticas sobre educação ambiental,oficina de fotografia e vídeo e uma
pesquisa diagnóstica sobre a realidade socioambiental do local.Com o objetivo de criar
um canal de comunicação com a comunidade e desenvolver a habilidade da escrita dos
adolescentes,foram elaborados boletins informativos.
Produtos finais:foi desenvolvida uma pesquisa sobre
questões do meio ambiente na região e dois projetos de
intervenção na comunidade.Foram realizadas oficinas de
meio ambiente,utilizando contos e o teatro para as
crianças atendidas pela organização,e oficinas de
educação ambiental em duas escolas públicas da região.
Destaque:os jovens passaram a conhecer e se interessar
mais pelas questões do meio ambiente.
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Arrastão Movimento de Promoção Humana
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O Educandário Eurípedes,de Campinas,atende adolescentes e familiares em situação
de vulnerabilidade social,oferecendo diversos cursos de iniciação e qualificação
profissional:instalações elétricas residenciais,panificação e confeitaria,básico de
informática,auxiliar de educação infantil e auxiliar em serviços administrativos.Além
disso,realiza um programa de educação complementar por meio do desenvolvimento
de atividades na área de orientação sexual,preservação do meio
ambiente e discussão do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Projeto: Educação Social como Prática da
Cidadania Juvenil
O projeto direcionou as atividades em quatro eixos temáticos:
artes,meio ambiente,pluralidade cultural e saúde.Esses eixos
foram trabalhados por meio das seguintes oficinas
socioeducativas:Música; Educação Ambiental;Noções de Política
e Cidadania Juvenil;Identidade Juvenil; Cultura Hip Hop;Vivência
Corporal;Educação Alimentar e Educação Sexual.
Essas oficinas complementaram a formação profissional de 80 jovens atendidos
pela organização.
Produtos finais:apresentação sobre a cultura hip hop e uma apresentação de música
com voz e violão.
Os jovens apresentaram mudanças na capacidade de se expressar e trabalhar em
grupo,adquiriram mais autonomia e apreenderam os conteúdos trabalhados.
Centro Espírita Allan Kardec (CEAK )
Educandário Eurípedes
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O Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente atua desde 1940 no bairro da Vila
Prudente,região leste de São Paulo,desenvolvendo atendimento em educação infantil e
educação complementar para adolescentes,em projetos que envolvem produção
artística,reforço escolar,entre outros.Para desenvolver seus vários programas sociais,
articula-se com as principais lideranças locais.
Projeto: A Cara no Muro
O projeto atendeu 26 adolescentes da favela de Vila Prudente que já haviam
participado da oficina pedagógica de mosaico e do Projeto Construindo o Futuro.
Os jovens tiveram formação em comunicação,trabalho em grupo e mosaico.Depois,
foram estimulados a contribuir para o embelezamento da comunidade por meio da
utilização dessa técnica nos muros do bairro.Também atuaram como multiplicadores e
desenvolveram quatro oficinas de mosaico para
pais,educadores e pessoas da comunidade.
Produtos finais:aplicação de mosaico em 16 muros da
comunidade de Vila Prudente e produção do livro A
Voz da Cara do Muro;
Destaques:os jovens participaram da definição,
desenvolvimento e avaliação dos conteúdos,
passaram a se interessar mais pelas antigas histórias
do bairro,a reconhecer seus direitos em
relação ao uso dos espaços públicos e promoveram
dez eventos.
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Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente
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22
Formado por moradores locais que buscavam o respeito à cidadania e a melhoria da
qualidade de vida do município de Francisco Morato,região metropolitana de São Paulo,
o Movimento Pró-Morato foi iniciado em 1996.Em 1998,o movimento transformou-se
na Associação Cultural Comunitária Pró-Morato.A Pró-Morato é municipalista e
filantrópica e tem seus programas e projetos focalizados em ações de intervenção e
fortalecimento da comunidade.
Projeto: Multiplicando Idéias
O Projeto teve como objetivo formar 25 jovens como agentes ambientais e multiplicadores
para atuar nas suas comunidades.O Multiplicando Idéias foi subdividido em quatro
núcleos:educação ambiental,iniciação teatral,cidadania/mobilização comunitária e arte.
Produtos finais:pintura de muros e paredes de espaços na Pró-Morato e na
comunidade,organização e realização do 1º Fórum de Educação Socioambiental da
cidade de Francisco Morato,construção da horta orgânica em uma escola estadual,
realização do Recicla Bazar,desenvolvimento do projeto Reciclarte com alunos de
uma escola estadual,adaptação,produção e apresentação da peça “O Lixode Luiz
Fernando Verissimo.
Parte dos jovens do projeto tem uma participação ativa em suas comunidades para
além das atividades desenvolvidas no Multiplicando Idéias.
Associação Cultural Comunitária Pró-Morato
O nome Multiplicando Idéias foi a gente que escolheu,porque a gente
queria multiplicar tudo que aprendesse.
Nathália Custódio dos Santos,18 anos
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O Centro Cultural oferece oficinas culturais e artísticas para crianças e adolescentes
dentro da favela de Vila Prudente,região leste de São Paulo.O centro realiza atividades
de capoeira,circo,artes plásticas,música,cerâmica,teatro,dança e atendimento
psicológico.Também organiza uma série de visitas a museus e parques da cidade.Como
desdobramento do resultado alcançado no Geração Jovem,hoje a organização mantém
13 jovens participando de uma oficina profissionalizante de Moda e Estilo.
Projeto: Campus das Artes
O projeto teve como proposta atuar na área de artes plásticas,incluindo o universo
estético e ético da comunidade na formação dos adolescentes e no seu trabalho artístico.
Dessa forma,a arte foi uma ferramenta para inserir os jovens na sua comunidade.
Produtos finais:produção de um vídeo sobre a vida de alguns moradores da Favela de
Vila Prudente;exposição das obras produzidas durante o projeto em um restaurante e
na organização.
Destaques:os jovens puderam aprender mais sobre arte,alguns passaram a ter
orgulho de morar na favela e outros deixaram de ter vergonha do lugar onde vivem.
Centro Cultural Vila Prudente
23
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Na cidade de Campinas,o CEESD desenvolve um trabalho com pessoas portadoras da
síndrome de Down,tendo como principal objetivo contribuir para que se integrem de
forma plena à sociedade.A instituição atende desde bebês até adultos,oferecendo
atividades que contribuam para a sua escolarização,independência e preparação para
o mercado de trabalho.
Projeto: Máscara e Dança
O principal objetivo do projeto foi contribuir para a inclusão das pessoas com síndrome
de Down e,simultaneamente,informar a comunidade sobre a síndrome.Cinco jovens
com Down atendidos pelo CEESD se tornaram multiplicadores da oficina de máscara e
dança para 12 adolescentes atendidos por outra organização de Campinas,o Centro
Assistencial Vedruna.
Produtos finais:três apresentações de música e dança
com uso de máscaras.
Destaques:os jovens com síndrome de Down se tornaram
mais autônomos na realização das atividades diárias e
ampliaram sua capacidade de expressão e aprendizado,
suas habilidades manuais e sua postura profissional.
Os adolescentes da instituição parceira passaram a ter
um outro olhar em relação à síndrome de Down.
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Centro de Educação Especial Síndrome de Down (CEESD)
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O Sal da Terra atende crianças em educação infantil e adolescentes entre 12 e 18 anos
de Taboão da Serra,município da região metropolitana de São Paulo.Oferece projetos de
informática,inglês e teatro.
Projeto: A arte que liberta
O projeto proporcionou,a 39 adolescentes,oficinas de confecção de bonecos,
construção de cenários,dinâmicas de grupo,leitura e técnicas da linguagem
teatral e diversas atividades culturais como visitas a museus e idas a espetáculos
teatrais e ao cinema.
Produtos finais:realização de 29 atividades na comunidade,principalmente
apresentações de peças teatrais.
Destaques:por meio da educação e do teatro,os jovens puderam ampliar sua
autonomia e espírito crítico;após o término do projeto, o grupo continua se reunindo
para ensaios e realizando apresentações em escolas,além de ter participado de um
Festival de Teatro.
25
Centro Educacional Sal da Terra
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O Centro de Profissionalização de Adolescentes atua na zona leste da cidade de São
Paulo,oferecendo capacitação para cerca de 300 adolescentes,por meio dos Programas
de Qualificação Profissional,Formação Humana e Cidadã,Central da Juventude e
Desenvolvimento Institucional.A instituição também realiza projetos extracurriculares em
parceria com outras organizações e instituições da cidade.
Projeto: Venaar – Vencendo com a Arte
Um dos diferenciais do Venaar é que ele foi elaborado por quatro jovens grafiteiros que
freqüentavam o CPA.O projeto trabalhou a temática do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) nas artes visuais,especialmente o grafite,escolhido como instrumento
para divulgar os direitos das crianças e dos adolescentes.
Produtos finais:12 muros grafitados com temas relacionados aos
direitos da criança e do adolescente,33 pinturas em tela e 32 pinturas
em camiseta.Realização de dois workshops sobre a cultura do grafite,
o ECA e formas alternativas de geração de renda.
Destaques:12 jovens do projeto passaram a participar de grupos de
grafite da comunidade e 16 se formaram em grafite e em pintura.
Associação Comunitária Jardim Colonial
Centro de Profissionalização de Adolescentes (CPA) Pe. JoBello dos Santos
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A Fundação Gol de Letra atua desde 1998 em São Paulo e desde 2001 em Niterói,Rio de
Janeiro,com a missão de contribuir para a formação educacional e cultural de crianças e
jovens.O objetivo é fazer com que possam atuar com autonomia na transformação das
suas realidades.A organização desenvolve três programas em São Paulo:
Virando o Jogo,que reúne 240 crianças e adolescentes de 7 a 14 anos,em atividades de
complementação escolar baseadas na arte-educação,leitura e escrita e educação física.
Biblioteca Comunitária, que realiza formação permanente de monitores e mediadores
de biblioteca,leitura e de brinquedoteca,além de manter um acervo de 7 mil livros e
postos de acesso à internet para os moradores da comunidade.Atualmente,são 930
pessoas cadastradas.
Formação de Agentes Comunitários,que reúne 200 jovens de 13 a 21 anos com
atividades para formação de agentes comunitários da Vila Albertina.
Fundação Gol de Letra
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Projeto: Formação de Agentes Comunitários – FAC
Estruturado em três núcleos – artes,comunicação e esportes – e dirigido para jovens
de 13 a 21 anos,o FAC tem como objetivo proporcionar o aprendizado em linguagens
como dança,música, teatro,grafite,artes visuais,fotografia e jornal,e nas modalidades
esportivas de futebol,handebol,voleibol,futsal e tênis.O objetivo do projeto é
transformar os jovens em multiplicadores de conhecimento na comunidade e apoiá-los
na construção de uma visão crítica sobre o seu cotidiano. Hoje,o FAC atende 400
jovens da comunidade.
Produtos finais:as oficinas de grafite,música,artes visuais,teatro e dança realizam
atividades ou apresentações na instituição e na comunidade;a exposição de fotografia
organizada pelos jovens circulou por algumas escolas da região.
Destaques:os jovens passaram a conhecer mais a comunidade e a enxergar sua
realidade de uma forma mais crítica.Além disso,passaram a ter mais conhecimentos
na linguagem da oficina que participaram.Alguns jovens se interessaram em
multiplicar esses conhecimentos no entorno social.
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Fundada em 1965 na região de Santo Amaro,região sul de São Paulo,a Mamãe iniciou
suas atividades com uma creche que atendia as mães operárias da região.A
organização funciona em cinco unidades que desenvolvem atividades educativas em
três áreas distintas,porém integradas:Educação Infantil;Arte e Educação; Núcleo
Profissionalizante.Mais recentemente,assumiu uma nova unidade em parceria com a
Febem,onde é prestado atendimento a adolescentes inseridos no artigo 120 do ECA.
Projeto: Cidarte: Cidadania com Arte
O projeto trabalhou com a cultura nordestina a partir da idéia do protagonismo juvenil.
Foram realizadas oficinas de teatro,dança e artes plásticas que envolveram cerca de 50
adolescentes.A interação entre as diferentes linguagens a partir de um
eixo,a cultura nordestina,possibilitou que os adolescentes tivessem
acesso a uma formação articulada.
Produtos:Apresentação da peça A Casa de Bernarda Alba e da Toada do Cavalo
Marinho;
Destaques:os adolescentes desenvolveram a expressão oral e corporal,
conheceram melhor os conteúdos trabalhados nas oficinas e alguns passaram a
atuar diretamente na comunidade.
Associação de Assistência à Criança Santamarense (Mamãe)
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Localizada na região oeste da cidade de São Paulo,a Unibes desenvolve atividades
socioeducativas com crianças e jovens de 7 a 15 anos desde 1973.Aos jovens de 12 a
15 anos,oferece uma programação em horário complementar ao da escola formal,
visando à permanência e ao bom rendimento escolar.São realizadas atividades
artísticas,culturais e esportivas a partir das oficinas de música,artesanato,arte-
educação,leitura,meio ambiente,recreação,centro de interesse e caratê.
Projeto: Registrando a nossa história
O projeto previa que os jovens valorizassem a cultura e desenvolvessem o sentimento de
pertencer a partir da escrita de cartas.A formação dos jovens foi fundamentada nas
oficinas pedagógicas,de música,teatro e arte-educação.Os jovens montaram banca de
escrita de cartas para atender a comunidade e,dessa forma,puderam estreitar a sua
relação com o local onde moram e seus habitantes.
Produtos finais:confecção e envio de 160 cartas,a maioria delas elaborada para
moradores de um albergue do centro da cidade de São Paulo.
Destaques:os jovens passaram a ser mais solidários e compreenderam que podem
ajudar outras pessoas;melhoraram o vocabulário,a leitura e a escrita;passaram a
olhar a comunidade de forma diferente;também se perceberam mudanças pessoais,
como a capacidade de ouvir e respeitar o outro.Um grupo de jovens permanece na
organização dando continuidade ao projeto.
União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (UNIBES)
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Quem é o jovem brasileiro? Como vive? Quais
são suas condições de acesso à educação,saúde,
cultura e trabalho?
É impossível entender o Projeto Geração Jovem
dissociado do olhar sobre a realidade em que vive o
adolescente.Durante todo o projeto,os dados sobre as
condições de educação,saúde,trabalho e acesso à
cultura e ao lazer da juventude foram fonte importante de
apoio ao trabalho das equipes.A observação do contexto
socioeconômico em que vivem esses meninos e meninas
também norteou fortemente as concepções e propostas
das iniciativas apoiadas pelo Geração Jovem.
Este capítulo dedica algumas páginas aos dados
mais recentes e importantes sobre a realidade do jovem
brasileiro,que podem servir de fonte de apoio para outros
projetos com enfoque nesse público.
População, escolaridade e renda
O Brasil,especialmente o estado de São Paulo,
entrou no século 21 com a maior população juvenil da
sua história demográfica (Madeira,1998).Como pode
ser observado na tabela 1,é na faixa etária entre 15 e 19
ONDE SOBRAM SONHOS, FALTAM DIREITOS
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anos que está localizado o maior agrupamento da pirâmide etária brasileira.Também é
interessante observar que a partir dos 20 anos o número de mulheres supera o número
de homens.Isso em razão de as mulheres possuírem uma expectativa
de vida maior,em parte explicada pelo fato de os homens jovens
serem mais atingidos por mortes violentas
(tabela 1)
.
A tabela 2 evidencia que ainda existe um número considerável
de jovens com defasagem série-idade,porém não podemos
desconsiderar que o país vem vivenciando aumento do tempo de
escolaridade e massificação do acesso ao ensino formal.
No caso específico da juventude,o acesso mais amplo ao
ensino formal ocorre no mesmo momento histórico em que o
desemprego juvenil aumenta e que muitos dos postos de trabalho disponíveis no
mercado são de baixa qualificação (Sanchis,1997).Outro dado importante é que a
33
Fonte:IBGE,Censo Demográfico 2000.
Grafite sobre o direito
à educação produzido
por jovens do CPA
Tabela 1 : População por grupo etário e sexo
(em milhões)
GRUPO SEXO SEXO
TOTAL
ETÁRIO MASCULINO FEMININO
0 a 4 8,3 8,1 16,4
5 a 9 8,4 8,2 16,6
10 a 14 8,8 8,6 17,4
15 a 19 9,0 8,9 17,9
20 a 24 8,0 8,1 16,1
25 a 29 6,8 7,0 13,8
30 a 34 6,4 6,7 13,0
35 a 39 6,0 6,3 12,3
mais de 40 anos 21,8 24,4 46.4
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34
porcentagem dos jovens que freqüentam a escola cai
consideravelmente à medida que eles alcançam grupos
etários mais elevados.Pesquisas realizadas por Felícia
Madeira e Eliana Rodrigues (1998) apontam que a
maioria dos motivos que levam ao abandono da escola
está ligada a problemas internos ao universo escolar,
como excesso de repetências,dificuldade de manter
um relacionamento amigável com os professores,não
gostar de estudar. Na maioria dos casos,as dificuldades
econômicas só motivam o abandono da escola a partir
dos 18 anos e este abandono é acompanhado do
ingresso, ou tentativa de ingresso,no mercado de
trabalho
(tabela 4)
.Outro dado alarmante relacionado à
falta de escolaridade é o fato de que 30% dos jovens
brasileiros são analfabetos funcionais,conforme mostra
a tabela 3.
Tabela 3: Taxa de analfabetismo funcional da população jovem
(15 a 24 anos de idade), por sexo, segundo as grandes regiões (1991 e 2000)
1991 2000
REGIÃO HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES
Brasil 30,1 23,3 18,5 12,8
Norte 41,3 32,8 26,8 20,0
Nordeste 51,5 37,9 34,3 22,4
Sudeste 18,9 15,2 9,9 7,2
Sul 15,4 13,4 7,6 6,1
Centro-Oeste 24,9 18,7 13,2 9,5
Tabela 2 : Estudantes, por faixa etária e grau que
freqüentavam (2001, em milhões)
IDADE FUNDAMENTAL MÉDIO SUPERIOR TOTAL
15 2,1 0,9 - 3,1
16 e 17 2,3 3,0 - 5,3
18 e 19 1,1 2,1 0,5 3,7
20 a 24 0,9 1,6 1,6 4,1
Total 6,4 7,6 2,1 16,2
Fonte:IBGE,Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD),2001.
Fonte:IBGE,Censos Demográficos de 1991 e 2000.
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35
A maioria dos jovens trabalhadores não possui registro em carteira,o que significa
que,apesar de estarem empregados,não têm acesso a diversos benefícios que são
garantidos por lei e constituem (ou deveriam constituir) uma parte de seus direitos
elementares.Mesmo quando o jovem consegue um emprego e o registro em carteira,
depara-se com mais um obstáculo:o baixo salário.
Tabela 4: Distribuição proporcional dos jovens brasileiros por ocupação e freqüência à escola,
segundo grupos de idade (2001)
IDADE
ESTUDA E TEM SÓ TEM APENAS NÃO ESTUDA NEM
OCUPAÇÃO OCUPAÇÃO ESTUDA TEM OCUPAÇÃO
Homens 15-17 26,1 10,6 56,0 7,3
Homens 18-19 24,4 34,8 27,5 13,2
Homens 20-24 15,8 60,4 9,8 14,0
Homens 15-24 20,9 39,2 28,1 11,8
Mulheres 15-17 15,3 5,6 64,7 14,4
Mulheres 18-19 16,5 20,0 34,2 29,2
Mulheres 20-24 13,2 35,3 13,6 37,9
Mulheres 15-24 14,5 23,0 33,6 28,8
Fonte:Camarano et al.,2003.
Tabela 5: Distribuição da população de 15 a 24 anos de idade, por classes de
rendimento médio mensal e por região – Renda em salários mínimos (SM)
REGIÃO SEM RENDIMENTO ATÉ 2 SM DE 2 A 5 SM MAIS DE 5 SM
Norte 18,0% 67,5% 11,6% 3,0%
Nordeste 19,4% 72,5%
6,5% 1,5%
Sudeste 4,4% 59,9%
28,9% 6,8%
Sul 10,8% 62,0% 22,7% 4,5%
Centro-Oeste 5,2% 70,5% 19,1% 5,2%
Brasil 10,4% 64,9% 20,0% 4,6%
Fonte:IBGE,Censo Demográfico 2000.
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Esporte, cultura e lazer:
outros grandes desafios
Além do desemprego juvenil,da alta taxa de analfabetismo
funcional da população jovem e da defasagem idade-série,as pesquisas
mostram que o jovem também não tem acesso a serviços e
equipamentos de esporte,cultura e lazer.
Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Cidadania sobre o
Perfil da Juventude Brasileira no final de 2003,62% dos jovens nunca
foram a um teatro,52% nunca foram a uma biblioteca sem ser a da
escola,75% nunca foram a uma exposição de fotografia,69% nunca
foram a um museu de arte,59% nunca foram a um show de música.
Em relação à participação em projetos e atividades,58% dos
jovens afirmaram que nunca participaram de shows ou atividades
culturais nas praças de seu bairro ou cidade,71% nunca participaram de
atividades esportivas gratuitas no seu bairro ou cidade,88% nunca
participaram de projetos culturais realizados por governos ou
organizações não-governamentais,89% nunca participaram de centros
de juventude.
Esses dados indicam a necessidade da criação de mecanismos
que possibilitem aos adolescentes e jovens freqüentar esses espaços e
ter o direito ao acesso à cultura e ao lazer respeitado.
Essa mesma pesquisa também apontou a grande exposição dos
jovens à violência:46% afirmaram que já perderam uma pessoa próxima
em morte violenta,sendo que destes jovens 38% perderam amigos,24%
perderam primos ou primas e 20% perderam tios.
Visitas a centros culturais,
como o Sesc Pompéia por
ocasião de exposição sobre
o escritor Graciliano
Ramos,fizeram parte da
experiência do Projeto
Geração Jovem
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Desde a escolha dos projetos,a Fundação Abrinq optou por um modelo de
acompanhamento participativo e formativo.Este formato propicia a participação das
organizações na discussão e elaboração dos instrumentais e estratégias de
acompanhamento, e possibilita que as equipes técnicas envolvidas nos diferentes
projetos possam se apropriar dessa maneira de acompanhar e intervir nas iniciativas
de forma processual.
Para pôr em prática essa forma de acompanhamento foram utilizadas as seguintes
estratégias:
Relatório quadrimestral de atividades elaboradas pelos projetos,com a descrição das
atividades desenvolvidas,as dificuldades,as soluções encontradas e as lições aprendidas.
Seis encontros com os projetos,três com os da Fase 1 e três com os da Fase 2.Esses encontros
propiciaram a troca de experiências,a discussão e a partilha das dificuldades e soluções
encontradas.
Duas visitas técnicas aos projetos.Na primeira,foram identificadas as dificuldades
encontradas durante a implantação e discutidas formas possíveis de superá-las.Na segunda,
foram discutidos e avaliados os resultados alcançados.
Matriz avaliatória.Os projetos da Fase 2 participaram da construção de uma matriz
avaliatória para cada projeto,a qual explicitou os resultados esperados,os indicadores e seus
meios de verificação,e sua coerência com os objetivos propostos.Veja modelo de matriz
avaliatória nas páginas 78 e 79.
Os passos da sistematização
1
2
3
4
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É importante salientar que as visitas e encontros por si só não são suficientes para
gerar um acompanhamento e posterior sistematização de qualidade.Essas estratégias
devem vir acompanhadas do registro,um instrumento fundamental da construção da
memória do projeto.
Durante a execução das estratégias de monitoramento do Projeto Geração Jovem
gerou-se uma série de aprendizagens.Estas foram registradas e partilhadas por meio de
sínteses dos encontros entre os projetos,relatórios de visitas,relatórios de atividades e
relatórios enviados à International Youth Foundation e à Lucent Foundation.
Os instrumentos podem ser outros e variados.O importante é que o grupo não
perca as oportunidades de encontros para registrar falas,opiniões e informações que
podem servir de subsídio para a documentação escrita da história,das riquezas,dos
mecanismos e das aprendizagens da iniciativa.
A sistematização como processo coletivo
O acompanhamento comprovou o que as equipes já sentiam por meio de
vivências individuais e coletivas:o Projeto Geração Jovem foi um processo rico de
descobertas e superação de dificuldades e,como tal,sua experiência poderia ser
inspiradora de outras.Assim,com o apoio dos atores envolvidos no projeto,a Fundação
Abrinq realizou a sistematização da iniciativa.
No entanto,antes de avançar nos resultados desta experiência,é preciso situar
rapidamente o conceito e a importância da sistematização.Em linhas gerais,sistematizar
significa revelar o aprendizado de determinada experiência,cujo conteúdo possa ser
repassado como conhecimento útil para formulação de uma nova iniciativa ou
aprimoramento da experiência que é objeto da sistematização.Trata-se,portanto,de um
processo que produz conhecimentos sobre a prática,ordena esses conhecimentos,
39
O importante é que
o grupo não perca as
oportunidades de encontros
para registrar falas,
opiniões e informações
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levanta e fundamenta aprendizagens,legitima e valida uma determinada opção
metodológica,retroalimenta a prática e estimula o surgimento de novas experiências.
Por isso,a sistematização é,por excelência,uma atividade coletiva,que deve
envolver diferentes sujeitos e olhares.Deve ter como fio condutor a produção e a
apropriação coletiva do conhecimento,que não fica detido em uma só pessoa,mas
circula e é de domínio de todos.E o foco e o objeto de observação devem ser a
experiência concreta,aquilo que já foi vivido e testado.
Para sistematizar e disseminar a experiência,o projeto Geração Jovem optou pelas
seguintes estratégias:
Realização de um seminário de avaliação com os seis primeiros projetos apoiados.
Organização de um Grupo de Trabalho entre projetos da Fase 1 e projetos da Fase
2 que,durante o primeiro semestre de 2004,identificou conceitos e estratégias
utilizadas com os jovens que contribuíram para o alcance dos resultados esperados
e possibilitaram que as organizações consolidassem o trabalho desenvolvido.
Realização de visitas técnicas em três organizações,que possibilitaram a reflexão
sobre as mudanças ocorridas com o desenvolvimento do Geração Jovem e um
aprofundamento de algumas temáticas levantadas pelo Grupo de Trabalho.
Realização de dois grupos focais com adolescentes que participaram de projetos
do Geração Jovem.
Realização de dois seminários,um na cidade de São Paulo e outro em Campinas,
para apresentação e discussão das reflexões do Grupo de Trabalho.
O processo de sistematização contou com seis encontros do Grupo de Trabalho
formado pelas organizações participantes,pela Fundação Abrinq e por um profissional da
Ação Educativa,que teve o papel de mediador.Na discussão sobre articulação de
Apresentação de
teatro no Encontro
Geração Jovem
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Bem,finalmente chega ao fim o meu relato sobre este dia tão produtivo,espero que
eu tenha dado conta de tantos detalhes.Tive receio,no início,de representar as falas do
grupo,detalhes,emoções,expressões,olhares,arrepios e sorrisos,receio de não dar conta do
recado.Mas ao final foi um exercício delicioso,relembrar e refletir um pouco mais como ser
participativo pessoal e profissionalmente.
Diário de Bordo – Relato escrito por Rosana Borges – Círculo do Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente
conteúdos,o grupo teve a participação dos educadores que trabalharam com as
diferentes linguagens utilizadas nos projetos.Nas discussões sobre sexualidade e
políticas públicas,houve a contribuição de profissionais das organizações Ecos
Comunicação em Sexualidade e Ação Educativa.
Para que o processo de sistematização pudesse acolher outras vozes e olhares,
optou-se pela metodologia da tarefa,pela qual,ao final de cada encontro do Grupo de
Trabalho,as organizações ficavam responsáveis por colher,com outros membros dos
projetos,informações,posicionamentos e conteúdos complementares às discussões
desenvolvidas nos encontros.
A tarefa foi o instrumento utilizado para fazer a ligação entre o Grupo de Trabalho e
a prática da organização e para permitir que a reflexão sobre a experiência do Geração
Jovem pudesse ser enriquecida.Para a discussão de alguns conteúdos,os
representantes das organizações entrevistaram educadores e jovens e organizaram a
experiência da equipe em algumas temáticas específicas.
Os encontros do Grupo de Trabalho também foram registrados em um diário,
apelidado de
Diário de Bordo
.Em cada encontro,uma organização ficava responsável pelo
registro do dia e imprimia o seu olhar e sua marca no processo vivenciado coletivamente.
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Organizados os grupos e os encontros,a primeira etapa do processo de
sistematização foi levantar,com as organizações,que conteúdos deveriam ser
sistematizados e quais aprendizagens deveriam ser relatadas.
As organizações estabeleceram o objetivo geral e os objetivos específicos do
processo de sistematização do Geração Jovem e uma indagação que deveria permear a
reflexão de todos.
Objetivo geral:
Discutir e refletir sobre a experiência das iniciativas que integraram o Projeto Geração Jovem.
Objetivos específicos:
• Aprimorar o trabalho com jovens desenvolvido pelas organizações;
• Discutir e subsidiar o processo de formação das equipes de trabalho das organizações e a gestão dos projetos;
• Pensar no projeto e suas relações no sentido de ampliar o seu alcance;
• Subsidiar a discussão sobre os resultados dos projetos e apontar meios/estratégias de difusão dessa experiência.
Indagação
O que nos levou a criar os nossos projetos?
Depois de estabelecer os objetivos,o Grupo de Trabalho discutiu e identificou os
conteúdos que atenderiam aos objetivos traçados e que seriam relevantes para o
processo coletivo de sistematização.Assim,foi possível chegar a alguns consensos,
clarificar conceitos,ouvir e aprender com a experiência do outro,repensar práticas e
formular novas questões.
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Para identificar,na experiência,os conteúdos que precisariam ser aprofundados
(ou sistematizados),a equipe levou em conta aquelas práticas que:
Produziram muitas aprendizagens;
Levaram a descobrir caminhos que podem ser uma referência para outras experiências;
Estão relacionados a problemas vivenciados e enfrentados durante a experiência;
Permitiram repensar as práticas dos diferentes sujeitos envolvidos na experiência.
Os conteúdos foram divididos em cinco grandes eixos.Cada eixo compreendia
uma série de temáticas que foram consideradas relevantes no resgate da experiência de
implementação do Geração Jovem.São elas:
Concepções:
Juventude
Protagonismo juvenil
Que jovem queremos formar através dos projetos? O que o jovem deseja ser?
Metodologia do trabalho com jovens
Articulação entre os diferentes conteúdos.O trabalho com temas transversais;
A relação entre teoria e prática no desenvolvimento dos projetos;
As implicações e relações do contexto nos projetos;
Participação dos jovens nos projetos;
Possibilidades proporcionadas pelo uso de diferentes linguagens nos projetos
voltados para jovens;
A afetividade e a sexualidade juvenis.
1
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Formação da equipe de trabalho e gestão do projeto
Papel da equipe no protagonismo juvenil.Papel do educador no
desenvolvimento do projeto;
A estrutura e o funcionamento da equipe de trabalho.Gestão participativa;
O processo de acompanhamento do projeto:discussão,reflexão e avaliação
processual.
O Projeto e suas relações
O projeto e suas relações:família,escola,organizações sociais.
O estabelecimento de redes;
Estratégias que possibilitam que os projetos atinjam o entorno;
A inserção do jovem na comunidade.
Avaliação dos projetos e disseminação da experiência
Definição de resultados;
Instrumentos de avaliação dos projetos.Os diferentes olhares envolvidos na
avaliação dos projetos;
Disseminação da experiência.
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Este capítulo apresenta o produto da sistematização do Projeto Geração Jovem.A
partir dos cinco eixos de trabalho citados no capítulo anterior,os resultados foram
agrupados nas seguintes temáticas:1. Concepções de Juventude e de Protagonismo
Juvenil; 2. Participação dos jovens nos projetos do Geração Jovem; 3.Articulação entre
os conteúdos trabalhados nos projetos; 4.O uso de diferentes linguagens nos projetos
do Geração Jovem; 5.Papel do educador e funcionamento da equipe de trabalho;
6.Ação articulada com a comunidade; 7.Disseminação de experiências dos projetos;
8.Avaliação dos projetos.
Concepções de Juventude e de Protagonismo Juvenil
O trabalho com jovens é uma experiência recente para algumas organizações.
Dessa forma,pensar sobre os significados da juventude e entender o protagonismo
juvenil foram ações fundamentais para iniciar a sistematização.Não se pode
desconsiderar,no desenvolvimento dos projetos,que eles são dirigidos para sujeitos
reais,com características,desejos,potencialidades e limites que não devem ser
obscurecidos ou esquecidos.O diálogo entre a organização e os jovens deve ser
diário,assim como a busca de um equilíbrio entre o que a instituição quer e busca e
o que os jovens buscam.
Antes de se discutirem as concepções de juventude e de protagonismo,optou-se
por saber como as organizações caracterizavam a juventude.A visão que se possui sobre
um determinado grupo é fundamental.Ela determina,em grande medida,o tipo de
CONTEÚDOS E APRENDIZAGENS DO PROJETO GERAÇÃO JOVEM
1
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relação que será estabelecida.Em muitos casos,o sucesso de um projeto passa por
desconstruir a visão que a organização carrega sobre juventude,o que não é uma tarefa
simples nem rápida.
As organizações e os jovens possuem muitos pontos de aproximação quando se
discute que jovem elas querem formar e que jovem eles querem ser.Há uma correlação
entre o que as organizações e os jovens querem.Essa correlação é um dos resultados
visíveis do processo de aprendizagem das organizações que redimensionaram seus
objetivos ouvindo os adolescentes e percebendo o que eles querem e com o que sonham.
No geral,tanto as organizações como os jovens apontaram que trabalham para o
desenvolvimento da autonomia,da participação,da responsabilidade,da tolerância,da
aprendizagem,da capacidade de sonhar,de mudar a sua vida e a vida da comunidade.
Também há um desejo comum de que possam ser eles mesmos,que consigam construir
projetos de vida e ser felizes.
As falas evidenciaram que as expectativas dos dois agrupamentos são alicerçadas
numa visão realista de possibilidades,que trabalham com objetivos que são possíveis de
se alcançar.Isso é importante,pois,no desenvolvimento de projetos com jovens,é
fundamental saber redimensionar e alinhar objetivos e expectativas,para que os
obstáculos sejam superados e para que se possa lidar com possíveis frustrações dos
adolescentes ou das próprias organizações.
Além desse jovem que consegue sonhar,estabelecer objetivos e vislumbrar um
futuro,as organizações também se deparam com aqueles que não acreditam em si
mesmos,não acreditam que possam aprender,que tenham capacidade de subir em um
palco e cantar,tocar,dançar ou representar.É aí que o educador e a organização
cumprem um papel fundamental:o de levar esses meninos e meninas a olhar para si
mesmos com outros olhos,percebendo suas capacidades e descobrindo que são
capazes,sim,de produzir,criar,intervir.
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A organização é um local que possibilita ao jovem se redescobrir e ampliar suas
habilidades e sua visão de mundo,porém não é o único espaço por onde esses jovens
circulam e convivem. Aí se coloca uma questão:não há o jovem da organização,o
jovem da família ou o jovem da escola – há,simplesmente,o jovem.Isso coloca o
desafio de criar um trabalho articulado e de constituir canais de diálogo e de trabalho
conjunto entre esses diferentes espaços.
Uma geração de múltiplas cores
Algumas características da juventude e dos jovens apontadas pelos
representantes das organizações,durante o processo de sistematização*:
Ocorre a descoberta da sexualidade;possuem dúvidas em relação ao seu
corpo;são questionadores e curiosos,ousados,dinâmicos,carismáticos,
inovadores,criativos;têm liberdade de expressão;são solidários,unidos;
buscam sua identidade;têm medo da novidade;têm dúvidas e conflitos
existenciais;são solitários,imediatistas;têm carência afetiva;são radicais;não possuem identificação com a comunidade em que
vivem;são apáticos,discriminados;vivenciam conflitos,medos,contradições,incertezas e confusões;valorizam excessivamente os
bens materiais;são individualistas;passam por problemas de auto-estima;vivem a vida intensamente;às vezes são apreensivos;
são egocêntricos,desconfiados,sonhadores idealistas e revolucionários;têm um grande potencial que pode ser canalizado para
direções diferentes;estão em um momento da vida em que várias perspectivas estão abertas;envolvem-se com pequenos
grupos de interesse;são desbravadores da sua própria vida;a juventude é um momento de conflito puro;viver a adolescência é
um peso muito grande;quando o jovem acredita em alguma coisa,ele não tem medo de se expor,de ir atrás,de agir;a juventude
é uma fase de experimentação;alguns jovens têm vergonha da comunidade onde vivem,muitos não gostariam de estar lá”.
* Para chegar a essas características,foi adotada uma técnica utilizada no Projeto Culturas Juvenis da ONG Ação Educativa.Os grupos levantavam as características da juventude,
que depois foram agrupadas em positivas,negativas e neutras.No texto,as características não estão divididas porque foi uma opção do grupo de trabalho.
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O jovem: concepção e imagem histórica
Enquanto condição biológica é possível delimitar a juventude nos segmentos
etários dos 15 aos 24 anos,sendo que dos 15 aos 19 anos temos a adolescência,e dos
20 aos 24 anos temos a juventude propriamente dita (Sposito,1997).Para Helena
Abramo (1997),“a juventude só se torna objeto de atenção quando representa uma
ameaça de ruptura com a continuidade social:ameaça para si própria ou
para a sociedade”.Essa postura é evidenciada pela forma como a produção
teórica pensou a juventude e pela formulação de algumas políticas públicas
e projetos de organizações direcionados a essa parcela da população.
Nos anos 90,a atenção dos pesquisadores e da mídia voltou-se
para os jovens envolvidos ou atingidos pela violência,ou em condição de
marginalização/exclusão social.Ganharam força as teorizações acerca
das gangues e das galeras que proliferam nos grandes centros urbanos e
as políticas e projetos baseados na idéia de vulnerabilidade ou risco
social.Essa linha de interpretação limitou-se a construir uma imagem da
juventude como vítima do destino e do sistema,como um problema,
deixando de lado sua positividade e não os enxergando como sujeitos capazes de
ações propositivas (Abramo,1997) e atores sociais potencialmente portadores de
novas identidades coletivas (Sposito,1994).
Para Melucci e Sposito,os jovens são um espelho da sociedade inteira,uma
espécie de paradigma dos problemas cruciais dos sistemas complexos.Representam
tensões entre a expansão das chances de vida e o controle difuso;entre possibilidade de
individuação e definição externa da identidade.Assim,a mobilização juvenil torna-se
elemento revelador,trazendo à luz as demandas profundas,os problemas e as tensões
que percorrem toda a sociedade (Melucci,Apud e Sposito,1993:175-176).
Essa linha de interpretação
sobre gangues e galeras
limitou-se a construir uma
imagem da juventude como
vítima do destino e do sistema,
como um problema,deixando
de lado sua positividade
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Além da delimitação etária,a juventude também seria marcada por cinco formas
de transição:o abandono da escola,o ingresso no mercado de trabalho,o abandono da
família de origem,o casamento e o estabelecimento de uma nova unidade doméstica
(Madeira,1986).Porém,alguns estudos apontam que estaríamos vivenciando um
prolongamento da juventude em decorrência de transformações sociais,econômicas e
culturais (Feixa,1998).Esse prolongamento da juventude permite que possamos incluir
indivíduos de 12 e 13 anos e de 27 e 28 anos na categoria juventude,embora esses
grupos vivenciem a juventude de formas distintas.Tanto os adolescentes como esses
“jovens mais velhos”sofrem a influência das “culturas juvenis”,seja por meio da sua
participação em grupos informais ou dos meios de comunicação.
A peculiaridade da condição da juventude – a vivência de uma espécie de
“moratória social”– permite que o sujeito possa vivenciar experiências diferenciadas e
produzir novas alternativas de vida social (Foracchi,1972).Essa possibilidade de
questionar está relacionada ao fato do jovem estar em uma fase de demarcação do
próprio território e de uma identidade mais singularizada (Salem,1986).
O trabalho com jovens é marcado por uma via de mão dupla.O jovem mostra que a gente se acomodou demais,pondera
demais,vê limites demais,tem medo demais.A nossa experiência faz com que o nosso freio de mão esteja excessivamente
puxado.A lição quando a gente trabalha com jovens é que a gente percebe que o nosso freio de mão está travado.
O jovem no seu vôo,leva a gente junto.Essa ousadia,esse olhar para o futuro sem medo,sem temer nada,completamente
entregue,é um antídoto contra o nosso medo,contra o nosso receio.
Antonio Marcos,coordenador do Centro Cultural Vila Prudente
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A potencialidade que os jovens possuem de recusar valores e normas
consideradas fundamentais pela sociedade pode não se concretizar,ou apenas ser
provisória,já que os jovens reivindicam o direito à provisoriedade e à reversibilidade das
escolhas,assim como o direito à individualidade e de mudar a própria existência
(Marques,1997).
A idéia de que os jovens podem optar por diversos caminhos é complementada
pela noção de liminaridade.Os jovens vivem entre códigos de regras distintos,entre a
família,a escola,a organização,a atração exercida pela rua e os grupos que a povoam.
Os limites que separam a adesão entre um modo de vida compatível com um modelo
ideal e outro que foge às expectativas dominantes são tênues e nem sempre facilmente
perceptíveis (Sposito,1992).
É legítimo dizer,portanto,que a juventude é uma construção cultural que possui os
traços da sociedade onde ela está inserida.Cada grupo social organiza,à sua maneira,a
passagem da infância para a vida adulta e,dentro de uma mesma sociedade,existem
diversas formas e meios de transitar de uma condição para a outra (Feixa,1998),o que
confere à idéia de juventude uma intensa maleabilidade.
Existem juventudes e nem sempre essa diferenciação se encontra relacionada à
condição social,ao gênero,ou à raça.Dentro de um mesmo grupo,com características
socioeconômicas semelhantes,desenvolvem-se comportamentos distintos.A demonstração
de que os jovens,mesmo os pertencentes às camadas sociais mais desfavorecidas,podem
trilhar caminhos diferentes reforça a concepção de que eles possuem uma margem de
escolha e de autonomia para traçar seus próprios destinos.Os jovens possuem uma lógica
própria,o que significa que eles são sujeitos das suas próprias ações.
Outra característica que marca fortemente a juventude é a experimentação.É de
sua natureza a vivência de diversas e intensas experiências,e estas são fundamentais
para o processo de constituição da identidade,concebida como relação social
Os jovens possuem uma
lógica própria,o que
significa que eles
são sujeitos das suas
próprias ações
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permeada pelo auto-reconhecimento e pelo hetero-reconhecimento,o que só é
possível por meio da experiência grupal (Dayrell,1999).Como afirma Dayrell:“Para
Melucci,a noção de identidade remete a três características centrais:a permanência
no tempo, isto é,a continuidade de um sujeito, para além das variações no tempo e
sua adaptação no ambiente;a delimitação da unidade que estabelece os limites do
sujeito, permitindo distingui-lo de outro e,finalmente,a relação entre as duas
características anteriores,ou seja, a capacidade de reconhecer-se e de ser
reconhecido”(Dayrell,1999:14).
Peça criada por jovens
de diferentes
organizações na oficina
de teatro do Encontro
Geração Jovem
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Concepção de Protagonismo Juvenil
No Brasil,a idéia de protagonismo juvenil vem ganhando espaço nas discussões
sobre a juventude e nas organizações que atuam direta ou indiretamente com esse
agrupamento.Dentro dessa discussão,o estudioso Antonio Carlos Gomes da Costa traz o
protagonismo juvenil como “a participação do adolescente em atividades que extrapolam
o âmbito de seus interesses individuais e familiares e que podem ter como espaço a
escola,a vida comunitária (igrejas,clubes,associações) e até mesmo a sociedade em
sentido mais amplo,através de campanhas,movimentos e outras formas de mobilização
que transcendem os limites de seu entorno sócio-comunitário”(Costa,2000).
A idéia de protagonismo está intrinsecamente ligada à idéia de participação,que
acontece em níveis diferentes.Para mostrar essa gradação,Costa construiu uma “escada
da participação do jovem”,com dez degraus:
Participação manipulada;
Participação decorativa;
Participação simbólica;
Participação operacional;
Participação planejadora e operacional;
Participação decisória,planejadora e operacional;
Participação decisória,planejadora,operacional e avaliadora;
Participação colaborativa plena;
Participação plenamente autônoma;
Participação condutora.
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Na escada proposta por Costa,temos numa ponta as experiências em que os
jovens são determinados e controlados pelos adultos e,em outra,as iniciativas em que
eles são responsáveis por realizar todas as etapas do projeto e orientam a própria
participação dos adultos.
Outras concepções defendem que não existe um processo
com etapas lineares que defina a participação juvenil.Mais: que
essa participação é anterior aos projetos educativos desenvolvidos
pelas organizações sociais e não está,necessariamente,atrelada
a eles.(
Sistematização do Programa Jovens Escolhas.
São Paulo:
Ação Educativa,2004)
No caso dos projetos do Geração Jovem,houve a busca por
uma participação juvenil que não fosse apenas simbólica ou
operacional.No decorrer do processo,as organizações foram
percebendo que os jovens deveriam participar das decisões,da elaboração,do
planejamento e da avaliação das atividades – “sétimo degrau da escada”proposta por
Costa.Porém,esse processo foi gradual e,em determinados momentos,algumas
organizações vivenciaram situações em que essa participação do jovem era limitada.
Entre a teoria e a prática ainda existe uma distância que,a partir da
implementação do Projeto Geração Jovem,vem sendo questionada e refletida.Falar de
protagonismo e de participação juvenil é uma coisa,criar meios para que isso aconteça
é outra.A idéia de protagonismo não pode estar apenas escrita no projeto,ela deve estar
concretizada em todo o processo de elaboração e implementação,nas ações cotidianas,
na relação entre educadores e jovens,na relação entre jovens e
organização/organizações e nas relações entre os pares.
No decorrer do processo,as organizações
foram percebendo que os jovens
deveriam participar das decisões,da
elaboração,do planejamento e da
avaliação das atividades
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Foi consenso na avaliação da nossa equipe que para incentivar e possibilitar o protagonismo do jovem na comunidade foi
necessário que este fosse primeiro protagonista em nosso projeto.Aprendemos com eles que as atividades cujos temas e
propostas de intervenção partiram do grupo tiveram resultados efetivos com o envolvimento e compromisso de todos.
Relatório Final do Projeto Multiplicando Idéias
É difícil pensar em protagonismo juvenil quando o próprio educador não possui
autonomia na condução do seu trabalho.A organização social deve criar condições
para que todos sejam protagonistas e autônomos,e isso só pode ser obtido com
relações mais democráticas e criação de espaços,momentos e canais de diálogo,
discussão e reflexão.
Dentro dessa concepção de participação juvenil,o principal papel do educador é
agir como facilitador,criando espaço para que os jovens exerçam sua autonomia.Isso
implica negociar com os adolescentes,com a própria organização e com a comunidade
para que essa autonomia seja estimulada e reconhecida.Cabe também ao educador
fomentar a idéia de que participação implica direitos e deveres.
Considerando a existência de diferentes caminhos de participação e que
participar é um aprendizado,os jovens precisam experimentar essas diferentes formas
no projeto,na organização e na vida da comunidade.Cada um pode descobrir e
desenvolver potencialidades distintas,por exemplo:o mesmo jovem que tem
dificuldade de falar em público ou defender suas idéias numa discussão pode ser o
que vai expressar seu pensamento por meio da escrita ou da arte.
Uma das descobertas mais fecundas e belas de algumas organizações foi ter a
coragem de abrir mão de um roteiro preestabelecido,de deixar de fazer pelos jovens e
aprender a fazer com os jovens.Essa descoberta é expressa no relato de uma educadora:
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A descoberta de que era necessário dar a autoria do projeto aos jovens
possibilitou que eles se envolvessem mais com as atividades,fortalecessem seus
vínculos com o trabalho proposto e com a equipe,e que pudessem,por meio da
discussão e da negociação,criar os laços que os uniam enquanto grupo e permitiam
vislumbrar a idéia do “nós”.
O jovem deve ser sujeito e protagonista da própria vida e além de atuar “na”e
“para”a comunidade,deve atuar para si mesmo,atuar para obter conquistas individuais.
Como o jovem está envolvido em diferentes espaços e redes de relacionamento,a sua
atuação não pode estar limitada à organização.Ele deve atuar com autonomia na
organização,na comunidade,na escola,nos grupos juvenis...
O grupo foi reunido e com muita sinceridade falamos sobre as dificuldades encontradas para o andamento do projeto e
sobre a nossa dedicação para encontrar um caminho que fosse o melhor – mas que não existia ninguém melhor que eles
para traçar o caminho.O projeto foi entregue nas mãos deles.
De início ninguém se manifestou,então,foi sugerido que o grupo se dividisse de forma que se sentissem melhor para
discutir.Dividiram-se em dois grupos,um de meninos e outro de meninas.Fomentei algumas discussões nos grupos e saí do
campo de visão deles para deixá-los mais à vontade.
Após alguns minutos,os dois grupos estavam discutindo as opiniões e resolveram formar um grupo só,pois qualquer coisa
que decidissem seria para o grupo todo e era importante decidirem juntos (sugestão da Antônia e da Jana).
Esta foi apenas a primeira vitória.Sempre trabalhei esperando ver este momento e senti que pela primeira vez o grupo
se apoderou do projeto.
Discutiram o que era possível ou não,dentro do que queriam,respeitando limites e sempre respeitando a opinião da maioria.
Ninguém se sentiu contrariado,pois todos puderam contribuir com suas sugestões e nada ficava decidido sem que todos
votassem pelo sim ou não.Essa foi a forma com que o grupo resolveu mudar o andamento do projeto.
Relatório de Paula Roberta Rocha,educadora do Círculo dos Trabalhadores Cristãos de Vila Prudente
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Participação dos jovens nos projetos do
Geração Jovem
Como um dos eixos fundamentais do Geração Jovem era o protagonismo juvenil,
refletir sobre as diferentes formas como os jovens participaram dos projetos era um
passo fundamental na recuperação do processo de implementação dessa experiência de
trabalho.Dentro da relação entre a organização e os grupos,essa participação foi sendo
negociada e adquiriu diferentes formas e dimensões.
Em algumas organizações,os jovens não participaram inicialmente da elaboração
do projeto,mas no decorrer do processo isso foi se modificando.Assim,eles começaram,
em parceria com os educadores,a repensar o projeto,participar da
elaboração e realização das atividades,ministrar oficinas,incentivar o
contato da organização com as escolas,planejar e avaliar.Em suma,os
jovens se apropriaram dos projetos e isso contribuiu para que eles tivessem
uma participação mais ativa e autônoma dentro das organizações.
Em dois dos projetos apoiados pelo Geração Jovem,a elaboração e
a execução couberam a grupos de adolescentes que já participavam das
atividades das organizações.Nesses dois casos,os adolescentes
ocupavam os dois extremos da relação educativa:eram educadores e
educandos.Essa experiência é interessante para reflexão,pois o conflito
gerador que normalmente marca a relação educativa está ausente.Porém,num primeiro
momento,há uma tendência do jovem educador de seguir o modelo do educador adulto,
deixando de lado seu jeito de ser e fazer.Em alguns casos há uma repetição de modelos
já consagrados em detrimento de novas experiências.Isso ocorre principalmente porque
atuar como educador ainda é uma experiência nova para esses adolescentes.No
decorrer do processo,os educadores juvenis aos poucos perceberam que podiam e
Os jovens se apropriaram
dos projetos e isso contribuiu
para que eles tivessem
uma participação mais ativa
e autônoma dentro das
organizações
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deviam ir além do que estava programado e que também tinham que abrir canais
participativos para que os outros jovens tivessem um papel mais ativo.
Em um desses dois projetos,o principal fruto do processo de abertura para os outros
jovens foi transformar um grupo inicial de apenas quatro jovens (os que elaboraram o
projeto apresentado para a Fundação Abrinq) em um agrupamento que incluía 30 pessoas.
Já no outro projeto,os educadores passaram a não atuar mais diretamente na instituição,
mas tiveram o apoio da organização para montar um estúdio de comunicação visual.
Em termos de participação,para além dos projetos pontuais,é necessário
destacar algumas experiências.Dois dos jovens que elaboraram um dos projetos do
Geração Jovem participam do conselho da organização,ou seja,estão na instância
máxima de tomada de decisões.Em outra organização,foi instituída uma comissão em
que os jovens se reúnem para discutir assuntos do interesse deles,participar mais
ativamente da vida da instituição e planejar e organizar ações como fóruns da
juventude,saraus e atividades culturais externas.Cada oficina possui representantes
que também são responsáveis por fazer a articulação entre os jovens e a equipe de
trabalho e disseminar informações.
A participação dos jovens nos projetos deu a possibilidade de eles criarem uma
relação mais sólida com a organização.Assim,mesmo com o final do Geração Jovem,
vários se mostraram dispostos a dar continuidade às atividades e às ações e a criar
novas experiências.
Com o projeto,os jovens passaram a ver o lado do educador e perceber o quanto repetiam coisas que criticavam.
Perla Assunção Santos,jovem educadora do projeto Alicerce – Aldeia do Futuro
O melhor de tudo é ver boa parte desses jovens continuar os trabalhos com a comunidade,concretizando seus sonhos e
projetos,utilizando o que aprenderam e mantendo vínculo com a instituição e com os educadores.
Regiane Ribeiro Rodrigues,educadora – Pró-Morato
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Eles também ganharam autonomia para participar de outros projetos e
desenvolver iniciativas na comunidade.Alguns jovens foram incorporados à equipe de
trabalho da organização e se tornaram educadores.Uma das organizações está
implementando a experiência de ter um educador jovem que faça a articulação e
mobilização com os outros adolescentes.
A experiência da participação ativa dos jovens na elaboração e implementação
dos projetos trouxe importantes inovações e aprendizados para outras iniciativas dentro
das organizações.Para os participantes do Grupo de Trabalho,o Geração Jovem deixou
nas organizações uma semente e uma forma de ver diferente.
Articulação entre os conteúdos trabalhados
nos projetos
Como já mostrado,para concretizar os projetos do Geração Jovem,as
organizações e os adolescentes criaram atividades relacionadas a cultura,saúde,direitos
humanos,meio ambiente,artes,comunicação,cidadania e mobilização comunitária.
Esses conteúdos foram desenvolvidos por meio de oficinas de teatro,música,dança,
educação ambiental,fotografia,vídeo,mosaico,confecção de máscaras,confecção de
bonecos,grafite,artes plásticas e arte-educação.No entanto,algumas organizações
começaram a perceber que não havia uma integração entre o que era trabalhado pelos
diferentes educadores de um mesmo projeto.Isso fazia com que os jovens não
conseguissem estabelecer relações entre as propostas de cada orientador,dificultava a
construção de um sentido para o trabalho realizado e tornava fragmentado e parcial o
acesso dos grupos ao conhecimento.
A reflexão sobre a necessidade de integrar o que era trabalhado levou as
organizações a repensar sua prática e a reformular o que estava sendo feito.Em alguns
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casos,a demanda de que houvesse essa articulação foi feita pelos próprios jovens.
No decorrer do processo,várias das organizações foram descobrindo que tinham
que integrar as diversas oficinas e os conteúdos.Algumas experiências nesse sentido
foram muito interessantes.
Uma organização trabalhou com a articulação entre os conteúdos que envolviam a
questão ambiental e as linguagens da arte e do teatro.Os jovens sugeriram a inclusão
de um educador social no projeto para fazer a articulação entre os diferentes conteúdos.
Teve uma parte no meio do projeto que foi o que eu mais gostei...quando juntou as três partes,as três coisas que a gente
aprendeu sobre meio ambiente,teatro e artes.A gente fez uma e juntou o meio ambiente com a arte e tudo que a gente
aprendeu.Eu gostei muito...daí foi uma das partes que o projeto praticamente cresceu...
Mariana Teixeira de Lima,18 anos – Multiplicando Idéias
Outra organização,a partir das experiências do Geração Jovem e com a reflexão
da equipe interna,intensificou a articulação entre os conteúdos e as oficinas.
Anteriormente,eram desenvolvidas algumas parcerias entre educadores para a
concretização de trabalhos pontuais e,hoje,a organização desenvolve:
O conteúdo como elemento articulador de diferentes linguagens artísticas e de
comunicação.Exemplo:a fotografia e o vídeo interligados por meio do trabalho com
a sexualidade.
A integração das oficinas de dança,música e teatro,cujos educadores trabalham com
um mesmo agrupamento e criam aproximações e um projeto comum.A idéia dessa
articulação nasce nos espaços de discussão,reflexão e tomada de decisão que agregam
os jovens que participam dos diferentes projetos e oficinas.
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Temas geradores.A organização está tendo a experiência de trabalhar com um único
tema que será abordado em todas as oficinas/atividades.O tema escolhido, para
agosto de 2004,foi eleições”.
Articular conteúdos pressupõe que a organização crie espaços para que os
educadores possam discutir o que está sendo feito e planejado,e descubram o que
articular e como.A articulação só é possível quando existe realmente uma equipe de
trabalho na organização.
O Projeto Multiplicando Idéias ofereceu aos jovens de Francisco Morato uma nova percepção do que é meio ambiente
e como se pode trabalhar o tema.Acredito que isso aconteceu especialmente pela integração dos diversos conteúdos
(educação ambiental,cidadania e mobilização comunitária etc.) com a possibilidade de utilização prática dos
conhecimentos nas intervenções na comunidade.
Ana Luisa Benelli,educadora – Associação Cultural Comunitária Pró-Morato
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O uso de diferentes linguagens
nos projetos do Geração Jovem
Uma das marcas dos projetos do Geração Jovem
foi o uso de diferentes linguagens.Assim,os jovens
puderam ter contato com o teatro,a dança,a música,o
grafite,a fotografia,o vídeo,as artes plásticas etc.As
linguagens foram entendidas como importantes
elementos na formação dos jovens e na sua atuação
na comunidade.
O uso desses meios de expressão foi
fundamental para o desenvolvimento e apreensão dos
conteúdos dos projetos.Isso porque essa forma de
trabalho amplia o universo cultural dos jovens e
desenvolve a liberdade de expressão,a capacidade de
concentração, a reflexão sobre valores,a formação do
grupo,a expressão de sentimentos e o despertar do
senso crítico.Por meio dessas linguagens,os jovens
elevaram sua auto-estima,passaram a olhar a
comunidade de outra forma e as famílias mudaram
sua visão sobre os jovens e suas capacidades.
Os grupos juvenis possuem uma forma peculiar de
comunicação e de posicionamento diante do mundo,
que pode ser ampliada e valorizada pelo trabalho com
essas diferentes linguagens. Quando os jovens
produzem peças,telas,músicas e danças,eles têm uma
Jovem grafita
painel no Encontro
Geração Jovem
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oportunidade única de perceber a concretização de todo um trabalho,de
“aparecer”no espaço público,de ser reconhecidos e valorizados pela família e
pela comunidade.
Eu achei muito legal porque aprendi várias coisas novas como,por exemplo,que as
pessoas podem mudar.Antigamente os vizinhos passavam por nós e não cumprimentavam,
olhavam com cara feia,acho que tinham preconceito,achei incrível que com a arte e a nossa
postura conseguimos mudar isso.Hoje em dia,eles dizem: ‘Oi!’,chamam a gente de sobrinhos,
fazem muitas brincadeiras e muitos elogios...Descobri que podemos mudar as coisas.
Vanessa da Silva Souza,14 anos – Projeto A Cara do Muro
Jovens aplicam
mosaico nos muros
da comunidade
Os educadores frisaram o fato de que algumas famílias não entendiam por que
seus filhos aprenderam teatro,dança etc.;que preferiam que eles tivessem algo “mais
útil”,como informática.Mas,no momento que vêem os jovens no palco,se emocionam e
percebem que seus filhos têm capacidades e potencialidades até então obscuras.
A escola também passa a ver seus alunos com outros olhos quando eles expõem
os produtos dos projetos.Muitos professores chegam a questionar a organização para
entender como é possível que aquele menino ou menina que “dá tanto trabalho”tenha a
capacidade de se envolver em um projeto durante um ano e ainda produzir coisas tão
No orçamento do projeto deve estar previsto um produto final e sua divulgação porque isso é algo importante para os jovens.
Elidiane Borges Calesco,psicóloga da ABAMAC
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belas.O uso de diferentes linguagens é capaz de transformar os jovens,dar um novo
sentido para a sua existência e possibilitar que eles se enxerguem como pertencentes
àquela comunidade.
Avaliação das atividades dos projetos pelos jovens
Durante o processo de sistematização do Geração Jovem,os participantes do
Grupo de Trabalho entrevistaram alguns jovens sobre as atividades desenvolvidas pelos
projetos das organizações.As respostas dos jovens dão pistas interessantes sobre o
funcionamento dos projetos e sobre o que eles gostaram ou não.
No geral,os jovens valorizaram as atividades que significaram a saída da
organização e o contato com outros espaços,instituições e experiências.Isso fica
evidente na valorização das intervenções na escola,na participação no encontro
organizado pela Fundação Abrinq e nas conferências regionais de juventude.Também há
uma valorização do trabalho com linguagens como a música,a dança e o vídeo,de
atividades que proporcionam a participação deles,de momentos nos quais podem expor
seus trabalhos e que envolvem alguma forma de desafio.
Nas atividades avaliadas como negativas,cabe destacar a presença marcante das
que exigem o domínio de habilidades de leitura e escrita.Como vários dos jovens
possuem dificuldades nesses dois campos de conhecimento e não querem evidenciá-
las para o grupo,é natural que avaliem negativamente.Aqui cabe destacar que os
projetos atenderam vários jovens que traziam um histórico escolar marcado pelo
fracasso e/ou freqüentavam instituições de ensino de baixa qualidade.Assim,a
organização não pode desconsiderar essa característica quando elabora projetos ou
planeja atividades e oficinas.
Também há uma recusa do que é teórico demais,daquilo que relembra o espaço e
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a organização escolar.Algumas organizações baseavam muitas das suas práticas na
escola:“a aula”,“o professor”.Os jovens reivindicam que a organização seja um outro
espaço,com lógica e funcionamento próprios.
Papel do educador e funcionamento da
equipe de trabalho
Dentro das organizações sociais,o educador tem um papel fundamental.É ele que
tem um contato mais direto com os jovens e faz a ponte entre eles e o restante da
equipe de trabalho.Apesar dessa importância,ainda existem obstáculos para que possa
cumprir bem sua função dentro do projeto e da organização:
Oficina do Centro de
Educação Especial
Síndrome de Down
5
Ter participado de um projeto como esse foi muito válido,tanto pela experiência adquirida quanto pela transformação
profissional.O contato direto com os jovens ofereceu uma infinidade de experiências,favorecendo todos os lados.
Marília Moreira Guijo,educadora – Associação Cultural Comunitária Pró-Morato
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Algumas organizações não possuem um quadro fixo de educadores; como são
contratados por projetos,não acumulam aprendizados e não possuem uma
familiaridade com a trajetória da instituição;
Como há uma rotatividade grande de educadores em algumas organizações,eles
iniciam o trabalho sem conhecer bem a comunidade e os jovens com quem trabalharão;
Na carga horária de alguns educadores não está incluído tempo para planejamento
e/ou para reuniões pedagógicas;
Muitos educadores não conhecem o trabalho desenvolvido por seus colegas,o que
dificulta a integração entre conteúdos e linguagens;
Alguns oficineiros não assumem seu papel como educadores,ficam presos apenas à
dimensão técnica do seu trabalho.
Um dos pontos levantados sobre o educador de projetos de organizações sociais
foi o seu perfil.Existe um perfil de educador social? Qual é esse perfil? No geral,as
organizações contratam profissionais que trabalham com as diferentes linguagens ou
que são ligados à educação.A formação dos educadores ocorre na própria organização
e durante a implementação dos projetos,assim,é importante que haja espaço para essa
formação contínua e que o coordenador pedagógico assuma o seu papel de interlocutor
do educador,discuta com ele o que ocorre no projeto,estabeleça contato devolutivo de
seu planejamento e dos seus relatórios.
Para trabalhar com jovens é fundamental ter abertura para ouvir,entender que o
jovem deve ocupar seu espaço,é um parceiro na concretização do projeto.O educador
tem que estar atento às demandas desses jovens e criar vínculos com eles e entre eles.
O educador não está na organização apenas para passar informações,está ali para
mediar um diálogo entre os jovens.
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Em muitos casos,o que faz a diferença na realização das atividades e na
implementação do projeto é o educador.Ter recursos e infra-estrutura é importante,mas
isso não significa que o projeto será bem-sucedido nem que os jovens avaliarão
positivamente o que está sendo feito.
Para que o projeto seja bem-sucedido,a organização tem de contar com uma
equipe de trabalho que realmente funcione como equipe,tem que criar condições para
que haja a concretização do trabalho coletivo.A equipe tem que ter clareza do processo
educativo e da proposta pedagógica (ver quadro) que se pretende concretizar.Assim,as
ações/intervenções são pensadas e planejadas dentro de um quadro comum,havendo
uma integração entre o que é feito pelos diferentes membros dessa equipe.A proposta
pedagógica deve apontar as concepções de educação,criança e jovem que a
Do latim projectu,o termo projeto significa "lançar para diante".Desenvolver o projeto político pedagógico de uma
organização social,portanto,é planejar o que se tem a intenção de fazer,antever um futuro diferente do presente.Esse
esforço passa essencialmente pela capacidade da instituição delinear a própria identidade enquanto espaço público,lugar
de debate e de diálogo fundado na reflexão coletiva.Mas a tarefa vale a pena,pois a construção do projeto resulta na
estruturação do trabalho pedagógico da instituição como um todo,que deve ser fundamentada nos jovens que ela atende
cotidianamente.Uma vez desenhado,o próximo passo é viver este desenho de futuroem todos os momentos e por todos
os envolvidos no processo educativo da organização.
Adaptado de VEIGA,(1995)
Não ‘informamos’os jovens disso ou daquilo,mas sim discutimos para que juntos cheguemos a uma conclusão.
É surpreendente o quanto de experiências (vividas ou não) eles trazem e,quando colocados à prova,como eles
conseguem tratar e resolver muitas questões...
César Negro,educador – Fundação Gol de Letra
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organização quer trabalhar e indicar as estratégias e instrumentais a serem utilizados,
além de conter a visão de mundo que se quer construir por meio do processo educativo.
Outra discussão fundamental é sobre quem constitui essa equipe de trabalho.As
diferentes equipes de uma organização devem ter alguma forma de diálogo entre si,para
que seja possível trocar informações,experiências e descobertas.A articulação do projeto
não deve ser apenas interna,ela deve perpassar todas as esferas da organização,como
também pode ser ampliada para fora.Nesse aspecto,temos que pensar nas experiências
que incorporam no trabalho os próprios jovens,a família,os voluntários,a comunidade etc.
As reuniões são espaços privilegiados para superar problemas e melhorar o
funcionamento da equipe de trabalho.Mas,para que isso ocorra,elas precisam ser
organizadas,marcadas com antecedência e não devem se restringir aos informes.Todos
têm que ter clareza do seu objetivo,sentir que são ouvidos,que podem colaborar com a
pauta,que aquele é um espaço de reflexão e de tomada de decisões.
Estratégias para melhorar o funcionamento da
equipe de trabalho
Algumas organizações que participaram do Geração Jovem criaram estratégias
para melhorar o funcionamento da equipe de trabalho e para melhorar as condições da
atividade dos educadores:
Criação de uma carga horária para o educador que inclua horas para as reuniões da
equipe de trabalho;
Criação de momentos em que as oficinas dos projetos sejam apresentadas para a equipe;
Instituição da figura de um profissional que lide exclusivamente com as dificuldades
da equipe;
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Compromisso de cada membro da equipe de levar uma proposta para a reunião e que
a pauta seja construída coletivamente;
Garantia de espaços/momentos para a avaliação do que esteja sendo feito;
Constituição de uma equipe de trabalho que agregue todos os funcionários da
organização e que se reúna nos fechamentos mensais.
Ação articulada com a comunidade
Todos os projetos apoiados pelo Geração Jovem tinham como principais objetivos
estreitar a relação dos jovens e da organização com a comunidade e criar formas de
intervir nesse espaço.Para se aproximar da comunidade e suas instituições,as
organizações elegeram dois públicos prioritários,as escolas e as famílias,e adotaram as
seguintes estratégias para integrá-las às iniciativas:
6
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Aproximação com a família:reuniões com as famílias,apresentações dos jovens,
entrevista,participação da família em eventos,passeios,questionários,plantão
psicológico,mudança do nome de reunião para encontro,oficina para pais.
Aproximação com as escolas:oficinas para os alunos;auxílio na resolução de
problemas com alunos que freqüentam a instituição e a escola;
organização de cafés-da-manhã com diretores e coordenadores de escola
para discussão de parcerias; implementação dos projetos elaborados pelos jovens
nas escolas da região.
As organizações ainda têm dificuldades para estreitar essa aproximação com a
família e com as escolas.Muitos jovens não querem que os pais participem das
reuniões,eles dizem que podem se “virar sozinhos”.Por outro lado,o não envolvimento
de alguns pais revela uma determinada concepção de jovem,a de que ele não precisa
mais de apoio de nenhuma instituição para seu desenvolvimento,pois “já é adulto”.
Essa idéia fica ainda mais explícita quando algumas organizações relatam que a
participação dos pais das crianças é maior e mais sistemática.
A relação escola-organização também é difícil porque parece existir uma certa
competição entre as duas instituições.Muitas escolas vêem as organizações como um
lugar de brincar ou ainda não entenderam qual o papel que elas desempenham.É
preciso abrir um canal de diálogo,para que a escola conheça e entenda a organização
e vice-versa.A escola não pode dar conta de tudo sozinha,como a organização
também não é auto-suficiente;deve existir uma articulação e os jovens podem
desempenhar um papel ativo nessa tentativa de aproximação.
Nesse sentido,as organizações procuram superar parcerias pontuais com as
escolas:a organização faz apresentações,realiza oficinas no espaço da escola e não
dá continuidade ao trabalho.Uma parceria efetiva entre a organização e a escola
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poderia contribuir para que gestores escolares e professores mudassem sua visão sobre
os jovens e sobre a comunidade.
A aproximação com a comunidade tem de ir além da família e da escola e deve
incluir outras instituições,agrupamentos e atores.A organização pode e deve contribuir
para o estabelecimento de uma rede que possa atender às necessidades dos jovens de
forma integral.Essa rede de atendimento integral (ou rede de proteção social) deve
incluir bens públicos como postos de saúde,bibliotecas,centros culturais,equipamentos
de esporte,escolas,organizações sociais,Conselho Tutelar,Polícia Militar,empresas
privadas,grupos juvenis etc.
Por meio da rede é possível construir projetos integrados que atendam mais
diretamente às necessidades do jovem e transformem a comunidade.A rede é um
importante passo para a constituição de uma cidade educadora,ou seja, tornar o
espaço da cidade um espaço educativo e de desenvolvimento das potencialidades
dos seus moradores.
Quando a organização faz parcerias com a escola,
com o Conselho Tutelar e com a Polícia Militar,ela
contribui para desconstruir imagens que já estão
consolidadas e que,muitas vezes,prejudicam o próprio
jovem.As parcerias que algumas organizações do
Geração Jovem fizeram com a Polícia Militar foram
frutíferas.Além dos jovens terem a possibilidade de
conhecer um outro lado dessa instituição,os policiais
puderam entender melhor os jovens e a comunidade
onde atuavam.
Maquete da Vila
Albertina (SP)
construída pelos
jovens da Fundação
Gol de Letra
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Duas organizações que participaram do Geração Jovem fazem parte das redes
locais que congregam as organizações da região e alguns equipamentos públicos,
mas ainda há uma dificuldade generalizada de integrar os projetos sociais.Alguns
estudos têm demonstrado que as políticas sociais devem ser baseadas na idéia de
território,ou seja, deve haver um esforço para articular e integrar todas as iniciativas a
partir do local (
Folha de S.Paulo
,setembro de 2004).E para que essa articulação
Cotidiano de luta para maioria
Estudar numa escola da periferia
Preconceito desrespeito tem por todo lado
Professor humilha a negra de cabelo espetado
Devia ensinar é o mais despreparado
Briga em casa com a mulher,vem pra escola injuriado
Ontem na escola derrubaram o portão
Violência sem controle,não vejo solução
Segurança na escola vai de mal a pior
Guarda municipal espanca de menor
Merenda por lá não tem pra todo mundo
Fria,sem higiene,num caldeirão imundo
Ladrões e traficantes apavoram o dia inteiro
A droga e a maldade se encontram no banheiro
Refrão:
Escola da periferia muita correria
Derrotas e vitórias esse é o dia-a-dia
Na semana só estudo,sábado jogo bola
Só quero o melhor,periferia,escola
O Educandário faz parte do nosso dia-a-dia
Ensino,Educação,Atenção,Sabedoria
Professores são bons e não humilham ninguém
Respeito de todos não se importa o que se tem
Panificação,informática,elétrica
A Escola da Periferia (rap)
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ocorra é necessário que a comunidade/organização inicie ou invista numa
aproximação com o poder público.
Um dos projetos do Geração Jovem em Campinas já foi iniciado com a parceria
com uma outra organização,o Centro Assistencial Vedruna,que atende cerca de 150
crianças e adolescentes entre 7 e 16 anos em programas socioeducativos.A partir da
concretização dessa parceria,uma organização passou a conhecer mais profundamente
Terça-feira rap,eu faço rima métrica
Break,grafite,educação social
Violão,nutrição,vivência corporal
A coordenação é firmeza que legal
Tudo isso junto reforça meu moral
Só quero o melhor para a maioria
Educandário sem palavras,sou periferia
Escola da periferia,muita correria
Derrotas e vitórias esse é o dia-a-dia
Na semana só estudo,sábado jogo bola
Só quero o melhor,periferia,escola
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o trabalho da outra,houve grande troca de experiências entre as equipes e integração
entre os jovens.Essa experiência rendeu frutos e,atualmente,as duas organizações
discutem o estabelecimento de novas parcerias e desenvolvimento de projetos comuns.
Durante o processo de concretização do Geração Jovem também houve uma
aproximação maior entre as organizações participantes.Além dos encontros propiciados
pelo projeto,ocorreram algumas visitas de uma organização a outra e acreditamos que
esse contato ainda pode propiciar o desenvolvimento de novas parcerias e iniciativas.
A organização social tem um papel importante na articulação do que existe na
comunidade.Ela pode desempenhar esse papel de formas simples:criando um mural
com as atividades e eventos existentes na comunidade;divulgando o trabalho das outras
organizações e dos equipamentos públicos;cedendo seu espaço para reuniões de
interesse da comunidade,fazendo parcerias etc.
Quando falamos em participação não podemos desconsiderar que existem
diversos níveis de participação:a participação dentro da própria instituição,tanto dos
jovens,como dos próprios funcionários e equipe; a participação na comunidade; e uma
esfera maior que envolve a formulação de políticas públicas.As organizações precisam
olhar para esses diferentes níveis e perceber como se inserem neles.
Disseminação de experiências dos projetos
Apesar dos projetos do Geração Jovem terem financiamento de apenas um ano,
a idéia era que eles deixassem frutos nas organizações ao contribuir para o
desenvolvimento de um trabalho com jovens,que houvesse alguma forma de
continuidade e que as experiências e conhecimentos adquiridos ao longo do processo
de implementação dos projetos pudessem ser disseminados para outras organizações,
instituições e para a própria comunidade.
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O sentido de disseminar é semear uma forma de fazer e pensar nova,é difundir o
que foi feito para que outras pessoas possam se apropriar dessa experiência e multiplicá-
la.Ainda não temos uma tradição na disseminação das experiências das organizações
sociais e,nesse sentido,disseminar os projetos do Geração Jovem foi uma oportunidade
de romper com a cultura do isolamento,divulgar a organização e seu trabalho e
estabelecer contatos para futuras parcerias e desenvolvimento de projetos em comum.
Como disseminar e para que disseminar foram algumas das descobertas das
organizações que participaram do Geração Jovem.
As organizações optaram por diferentes formas de disseminar os projetos e as suas
experiências:apresentação dos espetáculos de dança,música e teatro,exposição de
trabalhos e realização de oficinas em espaços da região;organização de álbuns de
fotografias,catálogos e portfólios que registravam as diferentes etapas do desenvolvimento
dos projetos;a produção de vídeos,de um CD e de um livro; a organização de eventos
abertos à comunidade;participação em conferências dos direitos da criança e do
adolescente;concretização dos projetos elaborados pelos jovens;divulgação do projeto
através de sites,banners,folders,pôsteres,reportagens na mídia etc.
As organizações encontraram várias dificuldades nesse processo de
disseminação:custeio dos gastos com transporte dos jovens e confecção de materiais;
o estabelecimento dos contatos com outras instituições;a realização dos eventos,
oficinas e apresentações; o envolvimento de toda a organização; a capacitação da
equipe para sistematizar e disseminar os projetos.Essas dificuldades podem ser
atenuadas ou superadas quando a disseminação está prevista desde o momento inicial
de elaboração do projeto.
A disseminação dos projetos do Geração Jovem possibilitou que as organizações
tivessem mais abertura nas instituições e equipamentos da comunidade;que as
pessoas passassem a ter uma outra visão dos jovens; que se entendessem a
Disseminar:1.Semear ou
espalhar por muitas partes.
2.Difundir, propagar.
3.Dispersar-se,espalhar-se.
(Dicionário Michaelis)
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importância e a necessidade da disseminação para divulgar e dar visibilidade ao
projeto;que houvesse uma maior integração da equipe com as famílias;elevação da
auto-estima dos jovens; valorização de todo o processo pelos jovens e pela própria
organização;mudança da postura dos jovens em relação à comunidade;aumento do
interesse em dar continuidade ao projeto.
Os registros das formas de disseminação utilizadas são importantes fontes para a
construção de uma memória do que foi produzido pelos jovens e pela organização.
Esses adolescentes de 12 a 18 anos aprendem a fazer arte ao mesmo tempo que descobrem suas raízes e tentam
entender a estética do lugar onde moram:a favela.Eles freqüentam o projeto Campus das Artes...
“Com a intenção de dirigir o olhar para a favela,os
alunos tiveram aulas de roteiro,fotografia e edição com
voluntários mobilizados por Rachel (...) Depois de assistir
a alguns filmes de referência e aprender a manusear o
equipamento,os adolescentes saíram a campo.O
resultado é o documentário Histórias da Vida Real,de
pouco mais de dez minutos,no qual os personagens
escolhidos,entrevistados e gravados pelos próprios alunos,
contam um pouquinho da chegada a São Paulo,das
mudanças pelas quais a favela passou e do Centro
Cultural,que eles já não conseguem mais ver como algo
separado do ambiente.
Trechos da matéria “Com as próprias mãos”,publicada na revista Educação em dezembro de 2002
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Avaliação de projetos
Dentro do Geração Jovem foi adotada uma concepção de avaliação alicerçada em
três funções básicas:
1. Diagnosticar:caracterizar os jovens,a comunidade e a própria organização e
identificar causas de dificuldades e avanços na implementação do projeto;
2. Retroinformar:evidenciar os resultados alcançados no processo,apoiando o
replanejamento do trabalho com base nas informações obtidas;
3. Favorecer o desenvolvimento dos jovens e da organização.
Os participantes da Fase 1 e os da Fase 2 passaram por experiências diferenciadas
em relação à avaliação dos projetos do Geração Jovem.Os participantes dos projetos da
Fase 1 se encontraram em dois encontros:um para discutir avaliação e outro para
discutir se os resultados haviam sido alcançados.Os participantes dos projetos da Fase 2
trabalharam com uma matriz avaliatória.Para esta publicação,selecionamos um modelo
de matriz com indicadores importantes para um projeto de participação juvenil:
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PROJETO GERAÇÃO JOVEM - FASE 2
MATRIZ AVALIAtiva (exemplo ilustrativo)
Objetivo Geral: contribuir para a formação de jovens como agentes ambientais e multiplicadores,pela ação
mobilizadora e participativa junto à sua comunidade
1) Preparar o jovem
para atuar de forma
cooperativa,
participando e
contribuindo para a
transformação da
comunidade local,
através de ações e
trabalhos com o
meio ambiente
Atuação do jovem na
comunidade em uma
das áreas
relacionadas ao meio
ambiente
Auto-estima do
jovem resgatada
Nº de jovens que participam e
freqüentam as diferentes
modalidades propostas X nº de
jovens beneficiados
Nº de jovens capacitados nas
áreas propostas X nº de jovens
beneficiados
Nº de jovens atuando na
comunidade X nº de jovens
beneficiados
Nº de jovens que passaram a ter
mais facilidade de se expressar
Nº de jovens que passaram a ter
mais cuidados com a higiene
Nº de jovens que passaram a se
posicionar e participar das
atividades
Lista de presença
Acompanhamento das
atividades
Avaliação do desempenho
de cada jovem
OBJETIVOS ESPECÍFICOS RESULTADOS INDICADORES MEIOS DE VERIFICAÇÃO
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2) Promover o
fortalecimento do
grupo familiar e a
atuação deste na
comunidade
3) Promover a
melhoria da
qualidade de vida
dos jovens e da
comunidade,a partir
das intervenções no
meio ambiente:
hortas comunitárias,
jardins,e coleta
seletiva
4) Possibilitar a
geração de renda
dos jovens e seus
familiares
Grupo familiar
fortalecido
Famílias com maior
participação na
comunidade
Melhoria da
qualidade de vida
dos jovens e da
comunidade
Melhoria do aspecto
visual dos bairros
envolvidos no projeto
Jovens e familiares
gerando renda
através de atividades
relacionadas ao
projeto
Interesse das famílias pelo
desenvolvimento dos jovens
Freqüência dos pais no projeto
Nº de pais que passaram a
colaborar com as atividades do
projeto
Nº de pais que passaram a
colaborar com as atividades da
comunidade
Nº de muros com pintura em
diferentes espaços/bairros
Nº de hortas e jardins construídos
nas casas e na comunidade
Nº de famílias que passaram a
desenvolver coleta seletiva de lixo
Nº de parceiros envolvidos nas
ações dos projetos
Nº de jovens e familiares que
passaram a desenvolver
atividades de geração de renda
Acompanhamento do
desenvolvimento de cada
jovem
Depoimento dos pais nos
encontros mensais
Registro dos encontros
Atendimento individual
dos pais
Lista de presença dos pais
nos encontros mensais
Registro por escrito das
ações desenvolvidas
Registro fotográfico das
ações
Entrevistas individuais
Pesquisas durante os
encontros com os
jovens e pais
OBJETIVOS ESPECÍFICOS RESULTADOS INDICADORES MEIOS DE VERIFICAÇÃO
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Cabe destacar aqui que a avaliação ainda é vista por algumas organizações e
financiadores apenas como uma forma de prestar contas,colocando num segundo
plano o imenso potencial educativo que ela abarca.O processo de avaliação do
Geração Jovem tentou superar essa visão e se converter em um processo de reflexão
e aprendizagem.
Projetos da Fase 1:
No início,as organizações se preocupavam mais com os objetivos do que com os
indicadores de resultados,isso ocorreu principalmente por causa da falta de experiência
na avaliação de projetos.Os encontros das organizações para discutir foram momentos
ricos nesse processo de avaliação,pois possibilitaram partilhar dificuldades e estratégias
e construir uma concepção de avaliação comum aos projetos.As próprias organizações
perceberam que os resultados esperados haviam sido superdimensionados e estavam,
no geral,além das capacidades dos projetos.
Projetos da Fase 2:
A partir da experiência de avaliação realizada com os projetos da Fase 1,a Fundação
Abrinq propôs às organizações a utilização de uma matriz avaliatória,o que trouxe
pontos positivos e dificuldades:
Pontos positivos:
Facilita a compreensão e a visualização do projeto;
Facilita a avaliação do projeto;
Temos que desconstruir a idéia de avaliação como algo que aponta os erros.O erro é uma pista para irmos para a frente.
Vanessa Eduarda Moreno Perez,coordenadora de projetos do CEAK – Educandário Eurípedes
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Leva à busca de produtos do projeto;
Permite a avaliação dos objetivos e resultados durante o processo;
É um instrumento de padronização.
Dificuldades encontradas na utilização da matriz:
Houve uma confusão entre resultados e indicadores;
A questão da subjetividade:muito dos resultados esperados não eram palpáveis,não se
podia mensurá-los;
Repetição dos meios de verificação;
Dificuldade com a linguagem técnica.
A maneira de avaliar proposta pelo Geração Jovem mudou o andamento das
instituições e a metodologia de uso da matriz foi incorporada.Todos os atores envolvidos
no projeto devem se apropriar da matriz avaliatória:a equipe,os jovens,as famílias,a
comunidade.Trabalhar com uma proposta de avaliação participativa permite que todos
se apropriem do projeto.
Indicadores são sinalizadores de processos e de resultados relativos a uma dada ação planejada.São como um termômetro
criado para orientar e aferir a observação,registro e avaliação de planos,programas,projetos e ações pretendidas.
(Brant, 2004)
Durante o nosso processo,os jovens foram sendo incorporados aos momentos de avaliação e isso foi outra grande
aprendizagem do grupo.
Graziela Trefiglio Mancini,arte-educadora do CEESD
Oficina de máscaras
do Centro Cultural
Vila Prudente,no
encontro dos jovens
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O registro cumpre um importante papel dentro do processo avaliatório.Ele deve
conter todas as informações necessárias e as explicações sobre as situações vivenciadas
durante a concretização do projeto.Mas o registro só cumpre totalmente sua função se
ele for lido,discutido e for de alguma forma objeto devolutivo aos educadores.O registro
não deve ser uma obrigação burocrática nem ficar esquecido em alguma gaveta.
O educador possui um papel estratégico no processo de
avaliação.É por meio dele que se percebem problemas,falhas e
dificuldades,e por isso é importante que ele conheça a fundo o
projeto.Apesar de várias organizações terem criado estratégias para
incorporar os jovens no processo de avaliação,seja por meio da
participação de representantes nas reuniões da equipe ou com a
constituição de fóruns,ainda existe uma dificuldade para que jovens
e educadores avaliem conjuntamente.Mas acreditamos que só é possível constituir uma
relação mais próxima entre jovem e educador se eles participarem juntos dos momentos
avaliatórios.O conflito possibilita diversos aprendizados e ele é inerente a qualquer
processo que se pretenda participativo.
Uma outra dificuldade encontrada pelas organizações foi que o tempo hábil que elas
tiveram para elaborar e apresentar o projeto dificultou a realização de um diagnóstico sobre
o perfil do jovem,o que poderia contribuir para a construção da matriz e,principalmente,
para o estabelecimento de resultados possíveis de serem alcançados.Como nem sempre
se pode diagnosticar antes do início do projeto,ele pode ser incorporado como a primeira
atividade realizada com os jovens,o que possibilitará maior participação de todos.
Dentro do processo de elaboração e implementação do projeto tem de haver uma
negociação entre o que é importante para a organização,o que é importante para os
jovens,o que é importante para as famílias e para a comunidade.Temos que criar canais
para que esses interesses se cruzem.
Registramos para quê?
Registro para memória;
Registro para divulgação do projeto;
Registro para reflexão e avaliação da prática.
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Geração Jovem PG ok 12/13/04 17:50 Page 83
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Durante a oficina de escolha de conteúdos para o processo de sistematização do
Geração Jovem,alguns participantes destacaram duas temáticas que não tinham
sido muito exploradas pelos projetos e nas quais ainda não se acumulavam
aprendizados,mas que eram desafios postos para as organizações que desenvolvem
projetos com jovens.Essas temáticas eram a questão da afetividade/sexualidade
juvenil e as políticas públicas de juventude.Como havia necessidade de
discutir esses temas,optou-se por incluí-los entre os conteúdos do processo
de sistematização.
Sexualidade juvenil
Muitas organizações só trabalham com a questão da sexualidade em oficinas
específicas,e o responsável por discutir essa temática com os jovens é um educador
especializado,normalmente um psicólogo ou um biólogo.Porém,essa questão está
presente a todo momento e não é colocada apenas para o
profissional especializado,mas para todos os educadores,
tenham eles ou não formação na área.A organização tem
de ser um espaço onde o jovem possa expor suas dúvidas,
questionamentos,anseios.É preciso trabalhar com o jovem
como um todo;o menino e a menina não estão
fragmentados,na oficina de meio ambiente aparece a
questão da sexualidade,na oficina sobre cidadania
aparece a discussão sobre drogas e assim por diante.
TEMAS AINDA POUCO EXPLORADOS
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Quando colocamos como objetivo dos nossos projetos elevar a auto-estima dos
jovens,pois acreditamos que é isso que possibilita que façam escolhas e enfrentem as
conseqüências dessas escolhas,não podemos esquecer que só é possível trabalhar
auto-estima se trabalhamos o autoconhecimento e,portanto,não podemos ser omissos
em relação à discussão da afetividade e da sexualidade.
O trabalho com sexualidade e afetividade deve estar voltado para o
autoconhecimento,para que o jovem possa entender melhor as transformações pelas
quais está passando e não apenas para tratar das doenças sexualmente transmissíveis
ou informar sobre métodos anticoncepcionais.
Dentro da discussão sobre sexualidade temos de levantar a questão das relações
de gênero.Como educadores,não podemos reforçar uma submissão feminina em
relação aos homens nem reforçar estereótipos masculinos e femininos.Temos de
trabalhar com a idéia de que existem diferentes formas de ser homem e de ser mulher,e
abrir espaço para a discussão sobre a diversidade sexual.
Gênero é a organização social da diferença sexual percebida.O que não significa que gênero reflita ou implemente diferenças
físicas fixas e naturais entre homens e mulheres,mas sim que gênero é o saber que estabelece significados para as diferenças
corporais.Esses significados variam de acordo com as culturas,os grupos sociais e no tempo,já que nada no corpo (...)
determina univocamente como a divisão social será estabelecida. (Scott,1994: 13)
Para as instituições que lidam com jovens,sejam escolas ou organizações,a
discussão sobre diversidade sexual está posta.O jovem precisa ter uma fonte de apoio
para lidar com a sua orientação sexual,seja ela qual for,e perceber que aquele é um
espaço onde essa orientação é respeitada.
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Algumas organizações que participaram do Geração Jovem já desenvolvem um
trabalho com a questão da sexualidade.Entre elas,cabe destacar a experiência de uma
organização que atende jovens e adultos com síndrome de Down.A equipe foi
percebendo que havia a necessidade desses jovens e adultos exporem suas indagações,
dúvidas,medos e necessidades.A partir dessa constatação,foi criado um espaço para
que se pudesse discutir sexualidade e afetividade.Todas as sextas-feiras,os participantes
das oficinas se reúnem com a psicóloga da organização para bater papo,ouvir,falar.A
partir daí,os jovens se sentiram mais tranqüilos para lidar com a questão nas suas vidas
e a organização passou a incorporar essa temática nas suas atividades cotidianas.
A necessidade de discutir sexualidade na organização e com os jovens fez com
que outra organização desenvolvesse uma experiência interessante de parceria com o
posto de saúde da região.Os profissionais do posto iam todas as semanas à organização
desenvolver um projeto de “Sexualidade e Saúde do Adolescente”.Posteriormente,o
projeto passou a ser desenvolvido no posto para atingir mais jovens e envolver toda a
comunidade,utilizando música,teatro,dança e debates.Essa forma de trabalhar com a
questão da sexualidade é inovadora,pois permite que o espaço público de saúde passe,
também,a ter a “cara”do jovem e não apenas da criança ou da mulher que é mãe.
A organização não pode fazer a discussão sobre sexualidade esquecendo da
família.Não é suficiente discutir relação de gênero, sexualidade,afetividade e corpo
A questão sexualidade/afetividade interfere no trabalho com os jovens quando eles não têm um espaço para falar e discutir sobre
esse tema.Aqui no CEESD,quando não havia este espaço,percebíamos que a ansiedade,a tensão e a preocupação dos usuários
decorrentes de dúvidas e conflitos aumentavam,interferindo no rendimento escolar,no trabalho e nas relações entre eles.
Alessandra Cardoso Pinto Dias da Costa,psicóloga responsável pelo grupo de Orientação Sexual – CEESD
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apenas com o jovem porque ele vai chegar em casa e,muitas vezes,encontrar
uma forma diferente de ver e lidar com essa temática.A família precisa estar
envolvida na discussão.
Jovens e Políticas Públicas
A juventude se tornou tema da agenda pública recentemente.Há um movimento
de criação de Coordenadorias de Juventude nas prefeituras e de Comissões de
Juventude em algumas Câmaras Municipais.Recentemente essa temática chegou ao
âmbito federal com a criação do Grupo Interministerial e da Comissão de Juventude da
Câmara Federal que tem a responsabilidade de elaborar o Plano Nacional de Juventude.
A partir dessa discussão,constata-se que ainda persiste uma visão estereotipada
no país,que vê os jovens e a juventude a partir do olhar adulto.Um olhar adulto que não
consegue apreender quem são esses jovens e que se concentra mais naquilo que os
jovens “não são”.Existe uma generalização para o conjunto da juventude de questões e
situações de alguns agrupamentos de jovens,principalmente aqueles que são
considerados em situação de maior vulnerabilidade,termo muito recorrente na
justificativa de projetos de órgãos públicos e de organizações não-governamentais.
Porém,alguns setores já questionam a utilização dessa terminologia:
Um conceito muito utilizado para a formulação das ações tem sido o de “jovens em situação de vulnerabilidade.No
entanto,seu uso indiscriminado também passa a ser objeto de crítica,pois desloca a idéia de estruturas geradoras da
vulnerabilidadee,assim,pode ignorar que os jovens vulneráveis são portadores de capital cultural e social,capazes de
ação coletiva,de criar alternativas e respostas aos seus dilemas. (Sposito,2003: 28)
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Não podemos pensar a juventude e os jovens apenas a partir da idéia de
vulnerabilidade,mas entendê-los como sujeitos.Pensar nos jovens enquanto sujeitos
implica discutir as diferentes concepções de juventude que orientam a formulação das
políticas públicas.Nesse sentido,parece haver uma idéia disseminada de juventude
apenas como fase de preparação para a vida adulta e de que os percursos de vida são
todos lineares.
No geral,os projetos e políticas orientados pela visão de jovens como problemas
são voltados para adolescentes em situações de extrema vulnerabilidade (deixando de
lado os jovens com mais de 18 anos e que também encontram dificuldades para a
inserção no mercado de trabalho,acesso à escola,cultura,lazer,saúde...) e são ações
setorizadas,realizadas de forma descontínua e que apresentam resultados insatisfatórios.
A discussão atual é de que esse tipo de ação e de política pública deve ser
questionado e repensado.Os jovens possuem demandas integrais e,portanto,as políticas
não devem ser pensadas setorizadamente.No processo de discussão do Plano Nacional
de Juventude,houve um movimento em âmbito nacional de discussão de uma política
para a juventude e um dos produtos dessa discussão foi o documento Projeto Juventude
ao defender que:
A integração e a transversalidade devem ser assumidas e praticadas como elementos
fundamentais de todas as políticas públicas de juventude,exigindo um novo
amálgama de sentidos,enfoque gerador e meios apropriados de validação,
implementação,gestão e avaliação.
Os eixos centrais de uma inovadora política nacional de juventude devem combinar
mecanismos de proteção social,expedientes que gerem novas oportunidades de
inserção profissional e sócio-cultural (sic) e incentivem a participação dos jovens.
(Projeto Juventude,2004: 21)
Os jovens possuem
demandas integrais e,
portanto,as políticas não
devem ser pensadas
setorizadamente.
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As políticas de juventude devem partir das demandas dos sujeitos e por isso
precisam incluir a participação juvenil no seu processo de discussão e construção.Uma
iniciativa importante desse processo de inclusão dos jovens na discussão de políticas e
ações é a idéia de constituição de fóruns municipais de juventude,que poderiam ser um
importante canal de participação e atuação juvenis.
O Geração Jovem e a discussão sobre políticas públicas
para a juventude
Para as organizações que participaram do Geração Jovem,a discussão sobre
políticas públicas para a juventude também é recente.Existe uma dificuldade em se
posicionar em relação aos temas da juventude porque as organizações não participaram
nem acompanharam de perto todo esse processo de discussão e formulação de
propostas.
A relação com o poder público e com os movimentos e agrupamentos juvenis
ainda é distante e,assim,muitas organizações desconhecem os caminhos para a
participação do jovem nas esferas mais amplas.O grande desafio que se coloca é a
presença tanto da organização como dos jovens nas macroinstâncias e discussões.
Outro desafio posto para as organizações que trabalham com jovens é a relação
com as diferentes formas associativas juvenis.As organizações precisam se aproximar
desses agrupamentos não institucionalizados,aprender a lidar com eles como coletivos
e reconhecê-los como interlocutores fundamentais e necessários.Além disso,a
instituição pode ser um importante ponto de apoio para constituir novos agrupamentos
juvenis,cedendo seu espaço e infra-estrutura para organização,discussão ou
simplesmente encontro de jovens.
Na discussão sobre essa temática foi consenso de que é imprescindível
O grande desafio que se
coloca é a presença tanto
da organização como dos
jovens nas macroinstâncias
e discussões.
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constituir uma rede de organizações que trabalhem com jovens (o que já ocorre com
organizações que trabalham com crianças) para a troca de experiências,o apoio
mútuo e uma presença mais atuante na discussão sobre a formulação de políticas
públicas de juventude.
Também temos de pensar na implementação de formas de financiamento que
possibilitem aos jovens criar seus próprios projetos.Existe uma discussão sobre a criação
de um fundo de apoio que concentre recursos que possam ser repassados diretamente
aos jovens sem a necessidade de que eles criem uma
ONG.No Geração Jovem,duas organizações
intermediaram a relação entre os jovens e a Fundação
Abrinq,mas todo o projeto foi gerido pelos próprios
jovens que,nesse processo,acumularam importantes
aprendizados e tiveram acesso a um “saber fazer”que
possibilitou maior autonomia e participação mais
intensa dentro da própria organização.
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Talvez estas não sejam considerações finais,pois
acreditamos que o Geração Jovem e o seu processo de
sistematização foram um primeiro passo para que todas
as organizações participantes da experiência pudessem
aprimorar o trabalho com jovens,acumulassem novos
saberes,descobrissem novas formas de atuação,
ampliassem sua relação com a comunidade e se
impusessem novos desafios.
Ter a oportunidade (muitas vezes rara) de discutir e
refletir sobre um processo de trabalho coletivo fez com
que essas organizações tivessem a possibilidade de olhar
seus projetos e perceber o quanto haviam aprendido e
como esses aprendizados tinham modificado os jovens,a
equipe de trabalho e a própria organização.Aprendemos
e ensinamos,falamos e ouvimos.Aos poucos ganhamos
novas feições e trilhamos caminhos antes desconhecidos.
O Geração Jovem gerou descobertas simples,
porém essenciais:trabalhar com os jovens e não para os
jovens,ampliar os mecanismos de participação dentro da
organização,envolver a família e a comunidade,integrar
conteúdos e linguagens,avaliar coletivamente tudo que é
realizado e não ter medo de replanejar e começar a fazer
de outro jeito.
Considerações finais
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Passamos a olhar a juventude de forma diferente.E acreditamos que eles também
passaram a ver a organização e a comunidade de outra forma.Construímos
coletivamente novas relações entre adultos e os jovens.Convivemos e juntos ousamos
construir e reconstruir projetos,criar ações e intervir no nosso entorno.
Como no Brasil a atuação para e com a juventude ainda é recente,sistematizar e
disseminar essa experiência significa contribuir para um debate que precisa ganhar
visibilidade.Mas não a visibilidade do problema,do risco.A juventude deve se tornar
pauta da agenda pelo que ela cria,produz,sonha.E cabe a organizações sociais,grupos
juvenis e demais esferas da sociedade contribuir para que isso aconteça.
O Geração Jovem gerou uma
descoberta simples,porém
essencial:trabalhar com os
jovens e não para os jovens
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Vila Prudente Vila Prudente 6191-2254
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CONTATO DAS ORGANIZAÇÕES QUE PARTICIPARAM DO GERAÇÃO JOVEM
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ORGANIZAÇÃO ENDEREÇO TELEFONE E-MAIL
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