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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Centro de Economia e Administração
Faculdade de Ciências Econômicas
A PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA NO
PERÍODO DE 1994-2008
Campinas, São Paulo
2008
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2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS
Centro de Economia e Administração
Faculdade de Ciências Econômicas
A PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA NO
PERÍODO DE 1994-2008
André Luis de Oliveira Castello Branco
Monografia apresentada à Faculdade de
Ciências Econômicas do Centro de
Economia e Administração da PUC
Campinas, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel em
Ciências Econômicas sob a orientação
do Prof. Dr William Massei.
Campinas, São Paulo
2008
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3
DEDICATÓRIA
À minha família e meus amigos.
4
AGRADECIMENTOS
Meus sinceros agradecimentos a todos aqueles que contribuíram de
alguma forma para a conclusão deste trabalho, minha família, amigos da
faculdade pela troca de informações sobre o assunto e também ao meu
orientador, professor Dr. William Massei pela atenção e ensinamentos que foram
determinantes para que eu pudesse concluir esta monografia.
5
SUMÁRIO
RESUMO..................................................................................................................9
INTRODUÇÃO........................................................................................................10
CAPÍTULO 1 – CARACTERIZAO DO MERCADO DE COMMODITIES, SUA
ESTRUTURA E RELAÇÃO COM O BRASIL.
1.1. Conceito de commodities......................................................................12
1.2. As Bolsas de Mercadorias e Futuros....................................................13
1.3. Participação do Brasil no mercado global de commodities agrícolas e
alimentícias..................................................................................................14
CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA NO BRASIL E
NO MUNDO.
2.1. O histórico da produção mundial...........................................................19
2.2. A importância da produção de soja para economia mundial................19
2.3. A estrutura do mercado mundial de soja...............................................21
2.3.1. Soja em grão no mundo.....................................................................21
2.3.2. Farelo de soja no mundo...................................................................25
2.3.3. Óleo de soja no mundo......................................................................30
CAPÍTULO 3 – A PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL, UMA TENTATIVA PARA
EXPLICAÇÃO DA PRODUÇÃO ATRAVÉS DE UM MODELO ECONOMETRICO.
3.1. Metodologia...........................................................................................32
3.1.1. O modelo teórico................................................................................32
3.1.2. Fontes de dados.................................................................................33
3.1.3. A cotação do dólar.............................................................................34
3.1.4. O preço da soja no mercado internacional.........................................36
3.1.5. O preço do milho no mercado internacional.......................................37
3.1.6. O custo do fertilizante.........................................................................39
6
3.2. O modelo econométrico........................................................................41
3.3. Discussão dos resultados / Análise econométrica................................42
3.3.1 – O R – Quadrado...............................................................................42
3.3.2 – O Teste F.........................................................................................43
3.3.3 – O Teste T.........................................................................................44
3.3.4 – Multicolinearidade............................................................................45
3.3.5 – Durbim-Watson................................................................................46
3.4 – Análise Econômica..............................................................................47
CONCLUSÃO.........................................................................................................49
ANEXOS.................................................................................................................50
BIBLIOGRAFIA......................................................................................................52
7
SUMÁRIO ÍNDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1. Valor bruto da produção.........................................................................17
Gráfico 2. Faturamento nominal da agricultura.......................................................18
Gráfico 3. Soja em grão: produção e área plantada no mundo..............................22
Gráfico 4. Principais importadores de soja em grão em 2008 (%).........................23
Gráfico 5. Soja em grão: principais exportadores (%)............................................24
Gráfico 6. Principais exportadores de farelo de soja (milhões de t).......................29
Gráfico 7. Consumo interno de óleo de soja 2008 (milhões de t)...........................31
Gráfico 8. Evolução, em %, do preço dos fertilizantes desde janeiro 2007............40
Gráfico 9. Evolução, em US$, do preço do petróleo desde janeiro 2007...............40
8
SUMÁRIO ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. A crescente participação do Brasil nas exportações mundiais de
commodities agropecuárias, ranking de 2005........................................................15
Tabela 2. Exportações brasileiras – principais commodities agropecuárias..........16
Tabela 3. Participação média na produção mundial de soja –1961-03 (em %).....21
Tabela 4. Produção mundial de farelo de soja (milhões de t).................................27
Tabela 5. Farelo de soja no Brasil 2008 (milhões de t)..........................................27
Tabela 6. Consumo de farelo de soja no mundo (milhões de t).............................28
Tabela 7. Produção mundial de óleo de soja (milhões de t)...................................30
Tabela 8. Soja grão - ano comercial - valores em 1000 toneladas.........................37
Tabela 9. Semelhanças nas culturas de soja e milho.............................................38
Tabela 10. Resultados econométricos da regressão estimada..............................42
Tabela 11. Teste F..................................................................................................43
Tabela 12. Teste T..................................................................................................44
Tabela 13. Matriz de correlação.............................................................................45
Tabela 14. Teste de Durbin-Watson.......................................................................46
9
RESUMO
O presente trabalho teve por objetivo estudar a cultura da soja no Brasil,
principalmente o que diz respeito a sua produção. Percebeu-se que essa
“commodity” está inserida em um importante mercado no qual o Brasil possui hoje
o segundo lugar entre os maiores exportadores do mundo. Também foi verificado
que a produção de soja tem ganhado destaque no país, obtendo crescentes
aumentos na quantidade ofertada do grão nas últimas safras e assim devendo
assumir a primeira colocação como produtor e exportador nos próximos anos. Na
parte final deste trabalho, buscou-se entender através de um modelo
econométrico as principais variáveis que determinam a produção total de soja no
Brasil. Conclui-se que a principal causa que fez com que os preços da soja em
todo o mundo e não diferentemente no Brasil subissem, atraindo novos produtores
e estimulando o aumento das produções a cada ano foi a crescente demanda
mundial por commodities gerada principalmente pelo forte aumento do consumo
desses produtos nos países asiáticos.
10
INTRODUÇÃO
A soja é uma das culturas agrícolas mais antigas do mundo. Nascida a mais
de cinco mil anos, passou a ser cultivada inicialmente pelos Ásiaticos mas hoje a
oleaginosa ja é produzida e consumida em diversos paises do globo.
Com o total da produção quase atingindo 250 milhões de toneladas por
ano, essa cultura vem ganhando grande importância no cénario mundial num
momento em que o mercado mundial de alimentos tem ocupado o centro das
atenções das discussões atuais, principalmente no que diz respeito aos riscos de
uma crise de abastecimento global.
Dessa forma a soja se configura hoje como uma das mais importântes
commodities para a economia mundial, essa importância está ligada a produção
de óleo e de farelo que são os principais subprodutos do processo de moagem do
grão. O óleo, com participação de 30% da demanda mundial por soja é
direcionado ao consumo humano enquanto o farelo que representa 69% dessa
demanda é utilizado como um componente proteico em formulações de rações,
sendo destinado ao consumo animal.
Dentro desse contexto, a soja aparece com uma tedência de alta de
produção nos paises em desenvolvimento, no qual soma-se a isso às boas
condições de demanda e preço do produto nos mercados internacionais.
Assim, especialmente no Brasil que é hoje o segundo maior produtor do
mundo, a produção deverá crescer mais do que o consumo mundial nos próximos
anos, o que colocará o país em posição favorável entre os principais produtores
de soja no mundo.
11
Esta monografia aborda no primeiro capítulo algumas caracteristicas com
relação ao mercado em que a soja está inserida, abrangendo todo o mercado de
commodities agrícolas, buscando explicar a forma em que esse mercado está
estruturado e a sua importância para o Brasil.
Posteriormente, no segundo capítulo, analisa-se mais especificamente a
produção da soja no Brasil e também no mundo, focando-se na sua importância
para a economia mundial, expondo algumas perspectivas para os próximos anos
como também explicando mais detalhadamente as formas com que a soja é
comercializada no mercado internacional: grão, farelo e óleo.
Por último, busca-se nesta monografia uma tentativa para explicar os
possíveis fatores que influenciam nas decisões de produção da soja no Brasil
através da elaboração de um modelo econometrico.
12
CAPÍTULO 1 CARACTERIZACÃO DO MERCADO DE COMMODITIES, SUA
ESTRUTURA E RELAÇÃO COM O BRASIL.
1- Conceito de Commodities
Commodities é o termo utilizado para se referir aos produtos de origem
primária que são transacionados nas bolsas de mercadorias. São normalmente
produtos em estado bruto ou com pequeno grau de industrialização, com
qualidade quase uniforme e são produzidos e comercializados em grandes
quantidades do ponto de vista global. Tamm podem ser estocados sem perda
significativa em sua qualidade durante determinado período. Podem ser produtos
agropecuários, minerais ou até mesmo financeiros.
A negociação dessas mercadorias é realizada com entrega futura. Diferente
do que acontece no porto, nãomovimento físico de produtos nas bolsas. O que
se negocia são contratos futuros, ou seja, garantias de compra e venda dos
produtos em uma data no futuro.
A grande importância atribuída a commodities na economia se deve ao fato
de que podem ser uma forma de investimento, uma opção entre as tantas opções
de aplicação no mercado, como poupança ou Fundos de Investimento. Assim as
possíveis oscilações nas cotações desses produtos no mercado internacional
podem causar perdas a agentes econômicos que os transacionam.
As principais commodities negociadas atualmente no mundo são: ca,
trigo, soja, milho, algodão, açúcar, álcool, boi, ouro, prata, cobre, aço e petróleo,
dólar, euro, ações de grandes empresas, títulos de governos nacionais, etc.
Entretanto para um dos produtos citados ser considerado uma “commodity”, é
necessário que exista uma estrutura de mercado, onde vendedores e
compradores se encontram e onde se torne possível essa forma de investimento.
(www.credifinance.pt/glossario_letra_C.htm).
13
1.1 - As Bolsas de Mercadorias e Futuros
Como mencionado anteriormente, a negociação de commodities se da via
bolsas de mercadorias e futuros. Nelas o principal objetivo, além de negociar
contratos a termo, de opções e swaps, é organizar, desenvolver e operacionalizar
um transparente e livre mercado de futuros. Um mercado que possa proporcionar
aos agentes econômicos oportunidades para realização de operações de hedge
como forma de proteção contra as flutuações de preços dos mais variáveis tipos
de commodities, taxas de juros, taxas de cambio, índices de ações ou qualquer
outra variável macroeconômica cuja incerteza quanto ao seu futuro possa
influenciar de maneira negativa a atividade econômica.
Através dos contratos futuros são firmados compromissos de compra e
venda de ativos nos quais são especificados as quantidades negociadas, os
prazos de entrega, os valores e datas de pagamento. São chamados de contratos
futuros porque os negociantes definem um preço hoje para uma determinada
quantidade de produto que será entregue apenas posteriormente. O dinheiro pode
ser recebido na data de entrega do produto ou antecipado. Uma operação no
mercado de futuros determina que o comprador deve comprar uma quantidade de
produto em uma data futura e o vendedor tem que vender, mas com o preço que
foi combinado no dia de fechamento do contrato.
Dessa forma, podemos dizer que este mercado existe para tornar mais fácil
a distribuição / transferência do risco envolvido entre os agentes econômicos:
produtores primários, comerciantes, industriais, investidores e instituições
financeiras, no mesmo momento em que graças a saudável lei da oferta e da
demanda, passa a influenciar de maneira direta na formação dos preços futuros
das mercadorias e ativos financeiros transacionados nessas bolsas.
A partir daí, a sua utilidade para os participantes desse mercado é no
sentido de reduzir determinados riscos a que possam estar expostos. Além dos
14
hedgers, operadores do chamado hedge, existem também os especuladores que
não têm a intenção de reduzir o risco de uma operação e apenas realizam
operações de compra e venda de contratos futuro para ganhar na diferença das
cotações. Os especuladores não necessariamente precisam ser produtores;
compram e vendem os contratos ou as opções de maneira parecida com os
investidores em papéis de empresas. Apesar de os especuladores se
aproveitarem das bolsas simplesmente como forma de realizar lucros no curto -
prazo, eles cumprem um papel importante ao garantir a liquidez do mercado, na
medida em que, como estão sempre comprando ou vendendo, asseguram a
existência de contratos com vencimento em datas futuras durante todo o ano.
(www.bmfbovespa.com.br/portugues/QuemSomos.asp).
1.2 Participação do Brasil no mercado global de commodities agrícolas e
alimentícias
O Brasil se desenvolveu como uma superpotência agrícola no mercado
global de alimentos graças à estabilidade econômica e comercial e às reformas
que incentivaram o investimento na agricultura. Tornou se assim um importante
produtor e o maior exportador de açúcar, álcool etílico, carnes, café, laranja e de
tabaco. (www.ers.usda.gov/November06/Features/Brazil).
O aumento da renda global e a pronta disponibilidade de terras, água, e
trabalho para aumentar a produção da colheita e de carnes, conduziram as
exportações. O Brasil exporta produtos agrícolas e alimentícios, tais como grãos
de soja, carne de porco, e aves domésticas, para a maioria dos países do mundo,
incluindo grandes mercados na União Européia (UE) e os Estados Unidos, apesar
da demanda crescente da China ter sido a principal explicação ao crescimento das
exportações brasileiras. (www.ers.usda.gov/November06/Features/Brazil).
15
Nos últimos anos de acordo com o USDA, o Brasil –11° maior economia do
mundo, vem consolidando sua posição como importante produtor e maior
fornecedor para o mercado internacional. A expansão da produção excedeu a taxa
de crescimento da demanda domestica, deixando a produção em excesso para
mais exportações. Algumas políticas agrícolas se desenvolveram, incluindo as que
incentivaram o investimento no setor, alargando ainda mais os canais de
exportação. Pode-se observar esse movimento nas tabela 1 e 2:
Tabela 1
A crescente participação do Brasil nas exportações mundiais de commodities
agropecuárias, ranking de 2005.
Commodity
Ranking Mundial
Participação
nas exportações
mundiais
Total de
exportação
Taxas de
crescimento na
exportação
2000-05
Exportação Produção
Percentagem 2005
milhões de
US$
Percentagem
Açucar 1 1 42 3,919 20
Ethanol 1 1 51 766 79
Café 1 1 26 2,533 11
Suco de laranja 1 1 80 796 4
Tabaco 1 1 29 1,380 15
Carne de boi 1 2 24 2,944 32
Frango 1 3 35 3,770 31
Soja 2 2 35 5,345 22
Milho 4 3 35 121 48
Carne de porco 4 4 13 1,252 40
Fonte: USDA
16
Tabela 2
EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS - PRINCIPAIS COMMODITIES AGROPECUÁRIAS
Produto
2006 2007 jan / mar 2007 jan / mar 2008
ton mil US$ ton mil US$ ton mil US$ ton mil US$
Açucar
19.054.541 6.347.522 19.500.230 5.284.290 4.135.189 1.257.590 3.380.001 933.412
Álcool
2.736.508 1.610.803 2.828.036 1.485.399 616.205 361.230 691.967 374.356
Algodão
484.624 1.229.556 602.774 1.399.113 102.861 277.772 151.304 319.190
Café
1.556.075 3.361.209 1.573.274 3.887.294 394.079 945.212 375.742 1.082.476
Boi
1.431.286 3.787.072 1.502.945 4.232.188 404.441 1.035.346 302.961 1.082.136
Milho
3.978.271 504.350 10.967.938 1.943.353 1.131.559 183.848 1.383.836 316.813
Soja
39.709.701 9.311.250 38.550.499 11.386.108 6.123.994 1.660.933 5.010.563 2.238.311
Trigo
652.840 64.992 105.180 30.721 468 244 490.783 146.110
Fonte: Secex – Secretaria de Comércio Exterior
17
De acordo com a consultoria Lafis (2008, p.2), ao longo dos últimos anos,
os preços de commodities agrícolas tiveram valorização com destaque para os
preços do milho, da soja e do trigo que foi motivada pela forte procura pelo milho
como insumo alternativo para o processo de fabricação do etanol nos EUA e pelo
aquecimento da demanda por alimentos nos países emergentes. Nesse cenário
internacional as cotações do trigo foram impulsionadas e as dos outros grãos
também com a finalidade de serem utilizados para a fabricação de ração para
animais. Soma-se a isso problemas localizados de oferta ao redor do mundo.
Como consequência do aumento do preço desses produtos, o valor bruto de suas
produções também seguem tendência de alta no país como pode-se observar no
gráfico abaixo:
Gráfico 1
Fonte: IBGE. FGV
18
Conforme estudos da consultoria Lafis (2008, p.3), em 2007 apesar das
dificuldades financeiras enfrentadas pelos agricultores, os preços na agricultura
tiveram um movimento de ascensão que ao lado do aumento na produção de
cereais refletiu-se em um aumento no faturamento nominal agrícola. A Lafis
estima um aumento de 20,4% no faturamento global do setor em comparação com
o ano de 2006, para o valor de 111,3 bilhões de reais.
Para o ano de 2008 é esperado que as receitas do segmento agrícola se
mantenham em alta, entretanto em um ritmo mais lento como resultado de uma
desaceleração das cotações dos cereais. É possivel observar no gráfico abaixo o
movimento do faturamento nominal agrícola do Brasil ao longo dos últimos anos:
Gráfico 2
(p) Projeção Lafis
Fonte: IBGE. FGV
19
CAPÍTULO 2 – A PRODUÇÃO/COMERCIALIZAÇÃO DE SOJA NO BRASIL E
NO MUNDO.
2.1 – O histórico da produção mundial
mais de cinco mil anos a soja é cultivada, sendo assim, uma das
culturas agrícolas mais antigas do mundo. Nascida na Ásia, desenvolveu-se com
maior importância na agricultura chinesa, onde era considerada grão sagrado. Sua
cultura no ocidente, somente passou a ser mais conhecida quando os Estados
Unidos iniciaram a exploração comercial da soja forrageira no início do século XX,
tendo a área plantada para grãos ganhando maior força a partir da década de
1940 e área cultivada para forragem declinando até acabar na década de 1960,
quando a área destinada à produção de grãos crescia não somente nos EUA
como no restante do mundo. (www.gradualinvestimentos.com.br/portal/pdfs/soja)
2.2 – A importância da produção de soja para economia mundial
A importância da soja para a economia mundial conforme estudo do
BNDES (2003, p.131) esta relacionada à produção de farelo e óleo, principais
produtos do processo de moagem. O primeiro utilizado como componente protéico
em formulação de rações, representando 69% do consumo mundial, enquanto o
óleo, direcionado ao consumo humano, participa com 30% da demanda mundial.
Assim a soja é utilizada nas indústrias de produtos alimentícios, cosméticos e
farmacêuticos e na pecuária (bovinocultura, suinocultura e avicultura).
O principal fator que explica a superioridade competitiva da soja em relação
aos demais vegetais oleaginosos e protéicos é a sua facilidade de adaptação a
regiões diversas. Entretanto, embora a produção tenha apresentado expressivo
crescimento nas últimas décadas, seu consumo no mundo ainda é baixo,
possibilitando muito espaço para novos aumentos da produção. A soja se
apresenta como um produto bastante acessível, inclusive aos consumidores de
20
baixa renda dos países em desenvolvimento. É importante destacar, contudo, que
como a maior parte dessa produção se destina ao consumo animal, a parcela de
produção destinada ao consumo humano direto reduz-se substancialmente. Se
essa parcela fosse ampliada, a soja teria o poder de contribuir fortemente para
acabar com a fome no mundo.
“A expansão da produção de soja proporciona a
geração de emprego e renda em várias partes
do mundo, especialmente em países em
desenvolvimento como o Brasil, com problemas
de desemprego, baixo nível de renda e elevados
índices de desnutrição. Portanto, o
fortalecimento da competitividade dos pólos de
produção existentes e a formação de novos
pólos é uma questão estratégica não apenas
para resolver tais problemas, como também
para melhorar o abastecimento alimentar e
reduzir a fome no mundo”.¹
Outro fator que garante uma boa perspectiva para a expansão da produção
mundial de soja é baseado no consumo per capita mundial de carnes, que ainda é
baixo e que, certamente irá promover uma elevação da demanda por soja
derivada do aumento do consumo de carnes, possibilitando assim uma ampliação
do cultivo desse grão em todo mundo, principalmente nos países que possuem
maior competitividade no setor.
___________________________
¹ BNDES Setorial, Desempenho da Cultura da Soja entre 1961 e 2003. Rio de Janeiro, n. 20, p. 127-222, set. 2004.
21
Na tabela abaixo, pode-se verificar o crescente aumento de participação
dos paises da América do Sul na produção mundial de soja com relação aos
demais continentes do mundo.
Tabela 3
Participação Média na Produção Mundial de Soja por
Continente - 1961/2003 (Em %)
CONTINENTE 1961/70 1971/80 1981/90 1991/2000 2001/03
África 0,25 0,29 0,48 0,54 0,57
Ásia 25,95 14,98 14,95 15,42 13,29
América Central 0,00 0,00 0,02 0,05 0,02
América do Norte 71,66 68,54 56,70 50,99 41,42
América do Sul 2,03 15,48 26,19 31,42 43,59
Europa 0,10 0,62 1,57 1,53 1,08
Oceania 0,00 0,09 0,09 0,05 0,03
Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00
Fonte: BNDES
2.3 – A estrutura do mercado mundial de soja
O mercado de soja no mundo está estruturado pela a produção de soja em
grãos, que é destinada ao esmagamento e refino, de onde são extraídos o farelo
de soja para o consumo animal (69% da demanda mundial de soja) e do óleo de
soja para o consumo humano (30% da demanda mundial de soja). Onde temos
como principais paises exportadores os EUA e o Brasil e como importadores
China e paises da União Européia.
2.3.1 – Soja em grão no mundo
A tendência da produção mundial de soja de longo prazo é crescente de
acordo com estudos da consultoria especializada Austin Asis. Nos últimos dez
anos (1998 – 2007) o avanço da área plantada chegou a 37,6%, passando de 68,6
milhões de hectares para 94,3 milhões em 2006/07. Com isso, a colheita de soja
subiu 50,2% no período em todo o mundo, média de 6,3% de crescimento ao ano.
22
Para os próximos anos, espera-se que a produção mundial continue a subir
devido às boas condições de demanda e preço dos produtos nos mercados
internacionais. Conforme análises da consultoria Austin Asis (2008, p.4) a China,
em especial, deve ser o foco dos produtores agrícolas no médio prazo. Até mesmo
mais importante do que a produção voltada aos biocombustíveis. Isso ocorre
porque a demanda pelo álcool apesar de crescente é menor, em termos
absolutos, do que o consumo de grãos para a indústria de farelo e refino do óleo.
Em termos regionais, a ampliação da demanda asiática pode ser suprida
em grande parte por produtores sul-americanos, a Argentina e principalmente o
Brasil. Apenas esses paises dispõem de competitividade natural e condições reais
de acompanhar o crescimento das importações chinesas. Entretanto, para isso é
necessário que novos investimentos sejam feitos nos campos de infra-estrutura
(transporte e portos) para garantir o atendimento aos chineses. Segue gráfico 3
que mostra o aumento da produção e das áreas plantadas no mundo para a
cultura da soja. É possível verificar também o aumento da produtividade:
Gráfico 3
Soja em grão: Produção e Área Plantada no Mundo
0
25
50
75
100
125
150
175
200
225
250
1997/98
2004/05
Área Plantada (milhões de há) Produção (milhões de t)
Fonte: USDA e Austin Asis
23
O consumo da soja em grão continua sendo estimulado principalmente pela
China, principal importadora mundial do produto. O país é responsável por 45,1%
de todas as importações de soja em grão do mundo, o equivalente a 34 milhões
de toneladas.
O segundo maior importador de soja em grão no cenário global é a União
Européia (UE), responsável por 19,8% do total de volume de importações, mas
vem perdendo espaço entre os principais importadores ao longo dos anos em
resposta à substituição da soja por outras culturas, como o milho e outras
sementes oleaginosas.
Conforme estudos da consultoria Austin Asis (2008, p.5), no ano de 2008,
as importações mundiais de soja devem atingir 75,3 milhões de toneladas,
crescimento de 9,3% em relação a 2007. Desde 2003, as importações cresceram
39,5% ou 21,3 milhões de toneladas. Desse total, a China é responsável por 17,1
milhões de toneladas, ou 80% do aumento.
Gráfico 4
Principais Importadores de Soja em Grão em
2008 (%)
5,4%
5,2%
3,3%
21,1%
45,1%
19,8%
China UE Japão México Taiwan Demais
Fonte: USDA e Austin Asis
24
Os Eua, Brasil e Argentina, continuam sendo os principais exportadores de
soja em grão do mundo. Os três paises juntos respondem hoje por 90% do volume
total exportado. É um mercado ofertante bastante concentrado.
De acordo com a Austin Asis (2008, p.6), consultoria especializada em
análises setoriais. Entre os anos de 2004 e 2008 as exportações mundiais
deverão crescer de 34,3% de 56,2 milhões de toneladas para 75,4 milhões de
toneladas em 2008. Desse total 38,8%, ou 29,3 milhões de toneladas,
correspondem à participação americana. O Brasil, segundo maior exportador,
detém 35,8% do mercado, com exportações estimadas em 27 milhões de
toneladas para o ano de 2008. A Argentina deverá exportar 11,5 milhões de
toneladas este ano, o que faz com que o país detenha 15,2% do mercado global.
De 2004 pra cá, as exportações argentinas subiram 70% em volume, ao passo
que as brasileiras aumentaram 32,2% e as americanas 21,3%. Abaixo segue
gráfico que indica os principais exportadores de soja em grão no mundo:
Gráfico 5
Soja em Grão: Principais Exportadores (%)
10,2%
38,8%
35,8%
15,2%
EUA Brasil Argentina Demais
Fonte: USDA e Austin Asis
25
2.3.2 – Farelo de soja no mundo
Entre os países que mais processam a soja em grão, os destaques ficam
por conta de Argentina, China e Índia. É esperado conforme análises da
consultoria Austin Asis (2008, p.7) que esses três paises juntos contribuam com
6,6 milhões de toneladas extras de farelo de soja do total de 8 milhões que são
esperados a mais para 2008. A produção média de farelo de soja dos 3 países
tem crescido, em média, a taxa de 10,5% ao ano.
As importações chinesas de soja em grão têm ligação direta com o
aumento de sua produção da qual o destino do farelo de soja é o mercado interno,
mais especificamente com a missão de suprir o segmento de ração animal. Com a
finalidade de evitar maiores custos com importações, a China importa o grão, que
tem menor valor agregado e processa a soja para fabricação de farelo e óleo, que
são produtos de maior valor agregado, gerando emprego e renda internamente.
O único crescimento da produção que pode ser comparado ao da China é o
da Argentina, onde os produtores de soja encontram incentivos governamentais
para o esmagamento do grão. Criando assim um produto com maior valor de
mercado e o farelo produzido tem um destino certo: a exportação. Diferentemente
da China que produz farelo para suprir o mercado interno, a Argentina destina
98% da sua produção ao mercado externo.
A Austin Asis (2008, p.7) também projeta que entre os anos de 2003 e
2008, a produção Argentina cresça 49,3%, o mesmo percentual de crescimento da
produção da China. Além disso, o valor absoluto da produção é praticamente o
mesmo. Enquanto estima-se que a China produzirá 30,2 milhões de toneladas de
farelo de soja em 2008, espera-se da Argentina 29,5 milhões.
26
O que determina essa equiparação entre o pequeno país sul americano e o
grande asiático é a capacidade de esmagamento. Em ambos os paises, a
capacidade de esmagamento é de aproximadamente 38 milhões de toneladas por
ano.
A Índia não fica para trás de China e Argentina em termos relativos no
avanço da produção do farelo de soja. A consultoria Austin Asis (2008, p.7) revela
que nos últimos 4 anos a produção cresceu 43% no país. Porém o valor absoluto
é menor: 6,3 milhões de toneladas esperadas em 2008 devido ao atraso dos
investimentos do país em relação aos demais grandes produtores mundiais.
Em primeiro lugar na tabela dos principais produtores de farelo de soja
encontram-se os Estados Unidos. Produzindo cerca de 40 milhões de toneladas
de farelo por ano, o país se destaca com 32% a mais do que a China ou Argentina
e 62% a mais do que o Brasil. Esse desempenho adquirido pelos EUA, de acordo
com a Austin Asis é decorrente de uma capacidade de esmagamento de
aproximadamente 50 milhões de toneladas de soja por ano, obtendo uma
vantagem de 32% em comparação a Argentina e a China e uma vantagem de
59% em relação ao Brasil.
No Brasil, diferentemente de China, Argentina e Índia, a produção de farelo
de soja cresceu menos que 10% nos últimos 4 anos, se configurando como o
terceiro menor crescimento entre os sete maiores produtores e o menor entre os
BRICs. Além disso, a consultoria Asis (2008, p.8) acredita que a expectativa não é
favorável se considerarmos que a China e a União Européia são os principais
clientes do Brasil no consumo de soja em grão e dado que esses países
possuem sólidas estruturas de esmagamento instaladas o que leva o país
descartar a possibilidade de exportar soja com maior valor agregado (farelo/óleo)
de forma significativa. Como se pode verificar nas tabelas 4 e 5, a produção de
farelo de soja vem obtendo crescimento ao longo dos últimos anos não somente
no Brasil como em outros países do mundo
27
Tabela 4
Produção Mundial de Farelo de Soja (milhões de t)
Média
Anual (%)
Participação
2008 (%)
2003/04 2007/08 Var.(%)
1. EUA 33,0 39,9 20,9 5,2 24,7
2. China 20,2 30,2 49,4 12,4 18,7
3. Argentina 19,8 29,5 49,3 12,3 18,2
4. Brasil 22,4 24,5 9,6 2,4 15,2
5. EU 11,1 11,4 2,9 0,7 7,1
6. Índia 4,4 6,3 42,8 10,7 3,9
7. México 3,1 3,2 2,8 0,7 2,0
8. Demais 14,7 16,7 13,4 3,4 10,3
Total
128,7 161,7 25,7 6,4 100,0
Fonte: USDA e Austin Asis
Tabela 5
Farelo de Soja no Brasil 2008 (milhões de t)
Produção 24.510
Exportação 12.900
Consumo 11.840
Estoques 1.603
Fonte: USDA e Austin Asis
28
Conforme estudos da consultoria Austin Asis (2008, p.8), com crescimentos
na ordem de 5% ao ano na produção mundial do farelo de soja, os produtores
conseguem suprir a demanda mundial desse produto em sua totalidade. Desde
2003, enquanto a produção cresceu 25%, o consumo mundial aumentou 24,7%.
Assim os estoques ficaram em níveis baixos e inalterados no período: em torno de
5,5 milhões de toneladas.
Entre os países que mais consomem farelo de soja estão: União Européia,
os Eua, a China e o Brasil. Apesar de o Brasil estar em quarto maior consumidor
do produto, com uma distancia representativa em relação ao terceiro colocado, o
consumo brasileiro é o que mais cresceu entre os quatro países nos últimos 5
anos, com 54% de crescimento e China, UE e EUA com 53%, 8% e 12%
respectivamente.
Tabela 6
Consumo de Farelo de Soja no Mundo (milhões de t)
2003/04 2007/08 Var. 2010/11 (p)
1. UE 32.735 35.352 8,0 36.059
2. EUA 28.530 32.024 12,2 32.985
3. China 19.547 29.920 53,1 33.510
4. Brasil 7.696 11.840 53,8 16.822
5. México 3.865 5.025 30,0 5.327
6. Japão 4.175 3.973 -4,8 3.894
7. Tailândia 2.766 3.516 27,1 3.586
8. Coréia Sul 2.194 2.645 20,6 2.698
9. Canadá 2.191 2.372 8,3 2.419
10. Indonésia 1.650 2.290 38,8 2.336
11. Vietnã 963 2.199 128,3 2.243
12. Índia 1.123 2.102 87,2 2.144
13. Taiwan 1.719 1.845 7,3 1.882
14. Irã 1.631 1.755 7,6 1.790
15. Pilipinas 1.376 1.674 21,7 1.707
16. Demais 16.320 21.731 33,2 21.948
Total 128.481 160.263 24,7 171.350
Fonte: USDA e Austin Asis
29
Nos últimos quatro anos, de acordo com a Austin Asis (2008, p.10), as
exportações mundiais de farelo de soja cresceram 27% e espera-se para 2008 um
crescimento em linha com os anos anteriores na ordem de 7% ao ano. O volume
exportado deve atingir 57,8 milhões de toneladas de farelo no final de 2008, contra
54,1 milhões em 2007.
Argentina e Brasil são os principais exportadores do farelo de soja, com
exportações de aproximadamente 29 milhões de toneladas de farelo, a Argentina
apresentará um crescimento estimado de 13,1% em relação a 2007.
No Brasil, as exportações do farelo de soja estão em recuperação se
considerarmos que nos últimos 3 anos o país teve retração nas vendas e o volume
vendido ao exterior deve chegar ao fim de 2008 em 12,9 milhões de toneladas,
conforme a consultoria Austin (2008, p.10), representando um ligeiro aumento de
1,5% em relação a 2007. A queda das exportações brasileiras de farelo de soja
nos últimos anos foi justificada pelo aumento crescente do consumo interno com a
intensificação da demanda na avicultura de corte e na suinocultura. Abaixo os
principais exportadores de farelo de soja e suas produções nos últimos anos:
Gráfico 6
Principais Exportadores de Farelo de Soja
(milhões de t)
0
5
10
15
20
25
30
2004 2005 2006 2007 2008
Argentina Brasil EUA Índia Demais
Fonte: USDA e Austin Asis
30
2.3.3 – Óleo de soja no mundo
Entre os países que mais produzem óleo de soja no mundo a consultoria
Austin Asis (2008, p.11) destaca: Eua, Argentina, China, Brasil, UE, e Índia nessa
ordem. No Brasil que vem em quarto lugar no ranking, é esperado um aumento na
produção da ordem de 3% na comparação de 2007 com 2008. Um crescimento
abaixo da média do mercado para 6,1 milhões de toneladas.
O Brasil é também o país que possui menor crescimento do parque
industrial segundo a Austin Asis (2008, p.11). Desde 2003 a produção cresceu
apenas 8,5%, superando somente a União Européia, que está estagnada.
Também nesse período, a produção entre Brasil e Argentina dobrou de tamanho.
A Argentina obteve o maior crescimento do ranking: 53,8%, maior até que o
chinês, que cresceu 49,9%.
A produção também cresceu de forma significativa nos Estados Unidos,
obtendo 24,4% nos últimos 4 anos. Entretanto estima-se que a China venha tomar
a posição americana como maior produtor de óleo de soja em um espaço de 5
anos. Segue tabela que apresenta as taxas de crescimento na produção de óleo
de soja entre os principais países produtores:
Tabela 7
Produção Mundial de Óleo de Soja (milhões de t)
2003/04 2007/08 Var.(%) Var. Média (%)
1. EUA 7.748 9.638 24,4 6,1
2. Argentina 4.729 7.275 53,8 13,5
3. China 4.535 6.800 49,9 12,5
4. Brasil 5.588 6.065 8,5 2,1
5. UE 2.531 2.600 2,7 0,7
6. Índia 996 1.415 42,1 10,5
8. Demais 4.046 4.537 12,1 3,0
Total
30.173 38.330 27,0 6,8
Fonte: USDA e Austin Asis
31
China e Estados Unidos se configuram hoje como os maiores consumidores
de óleo de soja no mundo segundo as análises da consultoria especializada Austin
Asis (2008, p.12). Juntos correspondem por 48% da demanda mundial do produto.
Em terceiro lugar, encontra-se o Brasil, porém seu mercado é de apenas 1/3 em
comparação ao chinês e alcança apenas 10% do total mundial. Na quarta posição
segue a União Européia logo atrás do Brasil.
A Índia e a Argentina também estão entre os maiores consumidores de óleo
de soja, entretanto o consumo desses dois paises juntos chega a cerca de 3,6
milhões de toneladas por ano, o que equivale ao consumo brasileiro. No gráfico
abaixo é possível observar o consumo interno de óleo de soja nos principais
países onde esse produto é consumido:
Gráfico 7
Consumo Interno de Óleo de Soja
2008 (miles de t)
9,2
9,8
8,5
3,6
3,3
2,6
1,0
China EUA Brasil UE Índia Argentina Demais
Total Mundial: 38,0 milhões de toneladas
Fonte: USDA e Austin Asis
32
CAPÍTULO 3 – A PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL, UMA TENTATIVA PARA
EXPLICAÇÃO DA PRODUÇÃO ATRAVÉS DE UM MODELO ECONOMÉTRICO.
3.1 – Metodologia
A fim de tentar explicar o que influência a produção de soja no Brasil, neste
último capítulo será desenvolvido um modelo econométrico utilizando-se a técnica
de análise de regressão. Nesse modelo, a variável explicada / dependente Y será
a produção total de soja por safra no Brasil. Para compor as variáveis
independentes usaremos cinco principais fatores que foram escolhidos por serem
prováveis influenciadores nas decisões de produção da soja e também por serem
fatores com valores disponíveis e portanto com histórico registrado.
3.1.1 – Modelo teórico
No presente trabalho adota-se a seguinte especificação:
PTSt = f (PTSt-1, TCt-1, CSMIt-1, CMMIt-1, IPFt-1)
em que:
PTSt é a produção total de soja por safra em mil toneladas
PTSt-1 é a produção total de soja por safra do ano anterior em mil
toneladas.
TCt-1 é a taxa de câmbio média do ano anterior
33
CSMIt-1 é a cotação média anual da soja referente ao ano anterior no
mercado internacional (US$)
CMMIt-1 é a cotação média anual do milho referente ao ano anterior no
mercado internacional (US$)
IPFt-1 é o índice médio anual do preço dos fertilizantes referente ao ano
anterior
Espera-se sinais positivos para os coeficientes PTSt-1, TCt-1, CSMIt-1 e
sinal negativo para CMMIt-1, IPFt-1
3.1.2 – Fontes de dados
É importante destacar que o período de abrangência de todas as séries é
de 1994 a 2008. Alem disso as fontes dos dados para as variáveis especificadas
provêm de instituições distintas conforme segue:
Os dados referentes às médias anuais do índice de preços pagos pelos
produtores por fertilizantes como também os preços internacionais das
commodities soja e milho, foram calculados com base nas informações obtidas no
site do IPEADATA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada)
www.ipeadata.gov.br.
Os dados para o lculo das taxas médias anuais do dólar provêm do site
www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao que mantém o histórico
das taxas de câmbio divulgadas pelo Banco Central do Brasil.
os dados que se referem à produção da soja por safras foram extraídos
da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais - ABIOVE através do
site www.abiove.com.br.
34
O histórico das variáveis que será considerado nesse modelo abrange o
período (1994 2008). A seguir são apresentados os efeitos esperados das
variáveis independentes sobre a variável dependente, ou seja, como cada uma
das variáveis escolhidas poderia influenciar a produção total de soja no Brasil.
3.1.3 – A cotação do dólar
A cotação do dólar no mercado doméstico é uma variável que foi
selecionada para fazer parte do modelo porque ela tem o poder de impactar o
mercado da soja de duas maneiras, que o elas: pelo lado da receita e/ou pelo
lado dos custos de produção. A primeira maneira possível, analisando pelo lado
da receita, seria imaginar que o “preço” do dólar poderia afetar também o preço
final da soja, uma vez que a soja na condição de commodity é uma mercadoria
comercializada internacionalmente e por isso possui um preço no mercado
internacional que é cotado em dólares americanos. Se a cotação do dólar contra
reais estiver desfavorecendo o agricultor nacional, ou seja, se nosso cambio
estiver em processo de valorização do real, isso significa que a cada tonelada
vendida no mercado internacional o produtor brasileiro estará recebendo menos
reais por dólar o que pode desestimular-lo a aumentar ou até mesmo a manter o
seu atual nível de produção. Por outro lado, um processo de desvalorização do
cambio que resulta em um dólar mais atraente para o vendedor pode fazer com
que o agricultor no Brasil decida por aumentar sua produção de soja para receber
agora cada vez mais reais por dólar adquirido no mercado internacional.
Assim podemos entender como a cambio pode impactar as decisões de
produção de soja olhando pelo lado da receita, na medida em que a cotação pode
significar mais ou menos reais a receber por parte do vendedor. Agora vamos
entender como essa cotação do dólar também pode afetar o produtor olhando pelo
lado dos custos de produção.
35
Segundo a empresa de consultoria Tendências Consultoria Integrada
(2008, p.12), os fertilizantes, dependendo da cultura, podem representar até pouco
mais de 40% do custo de produção. Considerando que hoje 75% a 80% do preço
final do fertilizante ao produtor dependem de custos externos conforme estudos da
Agroconsult, e que esse fertilizante também “vem de fora” cotado em dólares,
podemos afirmar que a cotação do dólar no mercado doméstico também tem forte
influência na formação dos custos de produção para agricultor brasileiro.
Para a produção de fertilizantes, as companhias que fabricam esse insumo
importam matérias-primas da América do Norte, Europa e África. Como os custos
com matéria-prima estão normalmente associados aos preços de mercado em
dólares, variações na taxa de câmbio entre o Real e o Dólar podem impactar de
maneira adversa os seus custos de produção, e o repasse, parcial ou total, desse
aumento de custos para os seus clientes.
Dessa forma, tem-se a seguinte situação: Em um cenário de alta do dólar, o
produtor que necessita comprar adubo para seu plantio irá gastar mais reais para
comprar a mesma quantidade de fertilizante que comprava antes da valorização
da moeda internacional. Por isso, caberá a ele avaliar se ao pagar mais caro para
produzir conseguirá também repassar esse custo maior para o comprador final da
soja. Caso ele ache que perderá lucratividade na produção porque não conseguirá
repassar o preço, esse produtor tomará a decisão de diminuir sua produção a
esperar que os preços voltem a patamares mais favoráveis.
Da mesma forma, uma queda na cotação do dólar também deve impactar
as decisões do agricultor, uma vez que um dólar mais “barato” o favorece para a
compra de mais adubo com a mesma quantidade de reais, aumentando assim a
lucratividade de seu negócio.
36
No modelo econométrico que será apresentado foi utilizado para expressar
a cotação do dólar, as médias anuais da taxa de cambio com base nas taxas
diárias extraídas do Ptax 800, cuja apuração é feita pelo Branco Central do Brasil.
Importante destacar que para o cálculo da taxa média anual do primeiro ano
da série que iremos utilizar: o ano de 1994, as taxas diárias consideradas desse
ano foram as registradas somente a partir de julho, uma vez que nos meses
anteriores a essa data a moeda vigente não era o atual Real.
3.1.4 – O preço da soja no mercado internacional
Neste ano de 2008, segundo previsões feita pela Associação Brasileira das
Indústrias de Óleos Vegetais, estima-se que o Brasil exporte cerca de 24,8
milhões de toneladas de soja em grão contra uma produção de 59,9 milhões de
toneladas, ou seja, 41% do total produzido de soja em grão devem ser destinadas
ao exterior. Isso significa que esse percentual relevante estará por tanto sujeito as
oscilações nas cotações da soja em grão no mercado internacional cotado em
dólares americanos.
Com base no que foi informado no parágrafo anterior podemos deduzir que
a cotação da soja em grão no mercado internacional também irá impactar nas
decisões dos produtores no Brasil, uma vez que conforme as cotações subam ou
caiam no exterior ele pode decidir por aumentar ou diminuir o total de sua
produção.
Abaixo seguem previsões feitas pela Associação Brasileira das Indústrias
de Óleos Vegetais - ABIOVE para o mercado da soja em grão em 2008 e também
projeções para 2009.
37
Tabela 8
Soja Grão - Ano Comercial - valores em 1000 toneladas
GRÃO 2009/10(p) 2008/09(p) 2007/08 2006/07
Estoque Inicial 1.500 2.027 2.289 1.220
Produção 61.400 59.900 58.726 56.942
Importação 50 100 108 40
Sementes - Perdas/Front. 2.700 2.700 2.700 2.500
Exportação 26.700 24.800 23.805 24.768
Processamento 33.000 32.100 31.511 28.756
Estoque Final 1.500 1.500 2.027 2.289
(p) Previsão - 06 de novembro de 2008.
Fonte: Abiove
3.1.5 – O preço do milho no mercado internacional
O fato de o milho ser uma cultura parecida com a cultura da soja em termos
de técnicas de plantio e colheita, clima semelhante para o cultivo e terem também
quase o mesmo mercado consumidor de grãos torna muito simples a opção de
troca de produção entre essas culturas. O mesmo agricultor pode migrar, por
exemplo, de um plantio de soja para passar a plantar milho em poucos meses.
Muitas vezes esse agricultor possui terras para ambas as culturas apenas cabe
a ele a decisão de qual delas terá produção maior.
38
Essa certa facilidade que o agricultor tem de migrar de uma cultura para a
outra faz com que as cotações do milho no mercado também sejam importantes
para influenciar no total da produção da soja no Brasil. Por isso foi escolhida para
fazer parte do modelo essa variável e que para estar em coerência com as demais
variáveis do modelo também esta cotada em dólares americanos.
Na tabela a seguir, elaborada pelo Laboratorio de Engenharia Ecológica e
Informática Aplicada da FEA – Unicamp; estão algumas semelhanças com relação
ao plantio da soja e do milho. Nesta tabela foi estudada uma das principais formas
de produção: Herbicidas (a mais promovida atualmente).
Tabela 9
Semelhança nas culturas de Soja e Milho
Recursos Naturais Soja Milho Unidades
Renováveis
chuva 0,9 0,9
Recursos da economia
Materiais
sementes 70,0 70,0 kg/(ha.ano)
calcário 650,0 650,0 kg/(ha.ano)
fertilizante 250,0 250,0 kg/(ha.ano)
pesticida 3,0 3,0 kg/(ha.ano)
herbicida 5,1 5,1 kg/(ha.ano)
combustível 180,0 180,0 litros/(ha.ano)
aço(depreciação) 14,2 14,2 kg/(ha.ano)
Serviços
m.obra técnica 0,8 0,8 horas/(ha.ano)
administração 4,8 4,8 horas/(ha.ano)
manutenção 43,1 43,1 dol.(ha.ano)
s.público(impostos) 14,5 14,5 dol.(ha.ano)
custeio 5,0 5,0 reais/(ha.ano)
seguro 1,0 1,0 reais/(ha.ano)
Fonte: FEA – Unicamp
39
3.1.6 – O custo do fertilizante
Por último, mas não menos importante iremos utilizar no modelo uma
variável que tem impacto no custo de produção da soja. A variável escolhida para
essa finalidade foi o índice de preço dos fertilizantes, pois os fertilizantes
representam na grande maioria dos casos o componente mais custoso para o
plantio da soja. Esse insumo chega a representar mais de 40% dos custos totais
para essa cultura, dessa forma o seu preço possui grande influencia nas decisões
de produção dos sojicultores.
Como exemplo disso tem-se o caso de Sorriso no Mato Grosso, maior
município produtor de grãos do país no qual o Centro de Estudos Avançados em
Economia Aplicada - (Cepea/Esalq/USP apurou que o sojicultor deve gastar no
próximo plantio 2008/2009, só com adubos, quase metade do custo de produção.
É importante destacar que mesmo pelo fato da maior parte dos fertilizantes
ser importada, o seu preço não depende apenas da cotação do dólar. Ele depende
também dos preços das matérias-primas necessárias para sua produção,
especialmente uréia, cloreto de potássio e fertilizantes básicos à base de potássio
que na grande maioria são derivadas do petróleo.
Desde janeiro de 2007 e até meados de 2008, por exemplo, o preço dos
fertilizantes foi fortemente afetado pelo aumento constante no preço do barril de
petróleo. Veja essa relação entre a evolução dos preços do petróleo e dos
fertilizantes conforme gráficos abaixo:
___________________________
² RABELLO, T. Alta do adubo preocupa produtor. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 28 maio 2008. Agrícola, p. 10.
40
Gráfico 8
FERTILIZANTES
Evolução, em %, do preço dos fertilizantes desde janeiro 2007
Janeiro/2007 = A 100%
100
110
120
130
140
150
160
170
180
190
200
JAN. F M A M J J A S O N D JAN. F M A M
Fonte: SCOT CONSULTORIA
Gráfico 9
PETRÓLEO
Evolução, em US$, do preço do barril de petróleo desde janeiro 2007
50
60
70
80
90
100
110
120
130
JAN. F M A M J J A S O N D JAN. F M A M
Fonte: Fundo Monetário Internacional, International Financial Statistics (FMI/IFS).
41
3.2 – O modelo econométrico
Utilizou-se para estimar a função da produção de soja no Brasil no período
de 1994 a 2008 o método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) que busca
obter a minimização da variância dos dados através da minimização da soma dos
quadrados dos resíduos, apresentada na sua forma logaritimizada para obter os
coeficientes de elasticidade.
LnPTSt = β1 + β2lnPTSt-1 + β3lnTCt-1 + β4lnCSMIt-1 + β5lnCMMIt-1 + β6lnIPFt-1 + e
em que:
LnPTSt = Variável dependente;
PTSt-1, TCt-1, CSMIt-1, CMMIt-1, IPFt-1 = Variáveis independentes;
e = Erro aleatório com média zero e variância constante;
β1, β2, β3, β4, β5, β6 = Parâmetros do modelo
42
3.3 – Discussão dos resultados / Análise econométrica
A regressão estimada para a função de produção de soja no Brasil,
apresentou os seguintes resultados visualizados na tabela 10.
Tabela 10
Resultados Econométricos da Regressão Estimada
Variável Coeficientes Erro padrão Stat t
Interseção
4,5984 1,5802 2,9101
LogPTSt-1 0,4392 0,1822 2,4111
LogTCt-1 0,0558 0,1200 0,4647
LogCSMIt-1 -0,3105 0,1645 -1,8880
LogCMMIt-1 0,2878 0,1735 1,6586
LogIPFt-1 0,3168 0,1260 2,5148
R-Quadrado 0,9785
F-Statistc 63,9661
Durbin-Watson 3,1577
Fonte: Resultado do modelo
3.3.1 – O R – Quadrado
O coeficiente de determinação R-Quadrado foi de 0,98 que indica um ótimo
ajustamento do modelo, ou seja, 98% das variações nas quantidades produzidas
de soja são explicadas pelas variáveis independentes.
43
3.3.2 – O Teste F
O teste F confirma que o modelo do ponto de vista estatístico é significativo
a 5% de significância, indicando que no conjunto as variáveis explicativas têm
forte influência estatística sobre a variável explicada.
Tabela 11
Teste F
H0: β2 = β3 = β4 = β5 = β6 = 0 Fc = INVF (0,05;5;7) = 3,9715
H1: pelo menos 1 coeficiente é ≠ de zero F = 63,9661
Resultado do Teste
Como Fc < F, deve-se rejeitar H0 e aceitar H1
Fonte: Resultado do modelo
44
3.3.3 – O Teste T
O teste t indicou que os parâmetros β1, β2 e β6 são significativos a 5% ,
porém β3, β4 e β5 não foram significativos ao teste t.
Tabela 12
Teste T
H0: Bi = 0
H1: Bi ≠ de zero
Tc = INVF (0,05;7) = 2,3646
t1 = ( I β1 I - 0) / ep (β1) t1 = 2,9101
t2 = ( I β2 I - 0) / ep (β2) t2 = 2,4111
t3 = ( I β3 I - 0) / ep (β3) t3 = 0,4647
t4 = ( I β4 I - 0) / ep (β4) t4 = -1,8880
t5 = ( I β5 I - 0) / ep (β5) t5 = 1,6586
t6 = ( I β6 I - 0) / ep (β6) t6 = 2,5148
Resultado do Teste
Podemos afimar que os coeficientes β1, β2 e β6 são significativos pois
apresentam o valor t em modulo maior que o valor do Tcrítico, enquanto os
coeficientes β3, β4 e β5 são do ponto de vista estatistico não significativos.
Fonte: Resultado do modelo
45
3.3.4 – Multicolinearidade
No modelo em análise se verificou a presença de multicolinearidade,
conforme indicou a matriz de correlação entre as variáveis explicativas abaixo.
Tabela 13 Matriz de Correlação
LnPTSt-1 LnTCt-1
LnCSMIt-
1 LnCMMIt-1 LnIPFt-1
LnPTSt-1 1
LnTCt-1 0,8959 1
LnCSMIt-1 -0,0844 -0,3213 1
LnCMMIt-1 -0,2868 -0,4664 0,7556 1
LnIPFt-1 0,9414 0,9037 -0,0561 -0,2115 1
Fonte: Resultado do modelo
Com o objetivo de eliminar a presença de multicolinearidade entre as
variáveis explicativas, tentou-se transformar os dados trabalhando com valores
percentuais de variação em relação aos anos anteriores. Essa experiência, apesar
de diminuir a correlação entre algumas variáveis impactou de forma negativa o R ²
obtido na regressão o que passaria a prejudicar ainda mais o poder explicativo do
modelo. Por esse motivo, decidiu-se descartar essa transformação e trabalhar
com o modelo obtido anteriormente.
De acordo com Blanchard³, a multicolinearidade é essencialmente um
problema de dados e às vezes não temos escolha quanto aos dados disponíveis
para a análise empírica. Além disso, não se trata de que todos os coeficientes do
modelo de regressão sejam estatisticamente insignificantes, ou seja, como se
pode ver na tabela 13, na maioria das variáveis não se detectou a existência de
multicolinearidade.
___________________________
³ Blanchard, O. J. Comentário. Journal of Business and Economic Statistics, vol. 5, 1967, p. 449-451.
46
3.3.5 – Durbim-Watson
Por último deve-se fazer mais um teste. Este para detectar a possível
presença de autocorrelação de primeira ordem dos resíduos. A autocorrelação
pode ser verificada através do teste de Durbim-Watson.
Para o caso em que a hipótese nula é a ausência de autocorrelação
positiva, o teste é executado comparando-se o valor da estatística d de DW com
os valores críticos upper bound (dU) e lower bound (dL), ao nível de significância
5%. Se 0 < d < dL, a hipótese nula é rejeitada. Se dU < d < 4 dU, a hipótese nula
não é rejeitada. No entanto, se dL ≤ d ≤ dU, o teste é inconclusivo. No caso em que
a hipótese nula é a ausência de autocorrelação negativa, se 4 - dL < d < 4, a
hipótese nula é rejeitada. Se dU < d < 4 dU, a hipótese nula não é rejeitada. Por
outro lado, se 4 - dU ≤ d ≤ 4 – dL, o teste é inconclusivo (JUNIOR, 2005).
Aplicado o Teste de DW, obteve-se a seguinte situação:
Tabela 14
d = ∑(ut - ut-1)^2/∑(ut^2)
Inconclusivo
Rejeitar H0 :
Dependência
Não Rejeitar H0:
independência
Rejeitar H0 :
Dependência
α = 5% dL = 0,445
[0 ─ dL ] [dU ─ 4- dU] [4- dL ─ 4]
K = 5 dU = 2,390
N = 13
[0 ─ 0,445] [2,390 ─ 1,61] [3,555 ─ 4]
d =
3,15
77
Fonte: Resultado do modelo
Observa-se na regressão estimada que a estatística d foi de 3,1577, a
tabela de Durbin-Watson a 5% mostra que dL = 0,445 e dU = 2,390, com 13
observações. O d estimado caiu numa região inconclusiva, portanto não se pode
dizer que há ou não a autocorrelação.
47
3.4 – Análise Econômica
A análise econômica parte da análise da elasticidade-preço da oferta, que
indica neste caso que uma variação de 1% na cotação internacional da soja, tende
a ocasionar uma variação negativa de 0,031% na oferta do produto. A primeira
vista, podemos avaliar essa informação como incoerente, mas por traz dela está a
cotação do dólar que acabou por distorcer a aparente situação. Na verdade a
elasticidade-preço da oferta seria positiva se estivéssemos analisando os preços
da soja convertidos em reais. O que acontece é que no período estudado
tivemos no Brasil principalmente entre os anos 2002 e 2004 uma taxa de cambio
extremamente desvalorizada no qual a cotação do dólar ultrapassou R$ 3,00 e
atingiu quase R$ 4,00. Essa forte desvalorização da moeda nacional permitiu que
a exportação de commodities mesmo a preços internacionais mais baixos fosse
atrativa ao produtor, dessa forma explicando o continuo aumento da produção.
A elasticidade da oferta em relação à oferta da safra dos anos anteriores
indicou que uma variação de 1% na produção do ano anterior tende a ocasionar
uma variação positiva de 0,439% na produção de soja da safra seguinte. Isso
porque altas produções passadas tendem a gerar boas expectativas para novos
aumentos nas produções futuras.
Com relação à elasticidade-preço dos insumos, indicou que uma variação
de 1% no custo dos fertilizantes, tende a ocasionar uma variação positiva de
0,316% na oferta de soja. Novamente aparenta-se existir contradição entre as
variáveis, mas o que ocorre é que durante o período estudado, mesmo com os
contínuos aumentos no preço dos fertilizantes a produção de soja ainda se
apresentava altamente lucrativa devido ao forte crescimento da demanda por soja
no Brasil e em todo mundo conforme foi exposto nos capítulos 1 e 2 desta
monografia.
48
A elasticidade da oferta com relação à cotação internacional do milho
indicou que uma variação de 1% no preço em dólares do milho, tende a ocasionar
uma variação positiva de 0,287% na oferta de soja. A variável-milho pode ser
considerada um produto que permite ser substituído pela soja com facilidade, o
que nos levaria a pensar que aumentos no preço do milho causariam quedas na
produção de soja. Entretanto, o que se percebe no período analisado é que a
crescente demanda mundial por alimentos fez com que praticamente qualquer
commodity tivesse seu preço em trajetórias crescentes, assim atraindo a entrada
de novos produtores e estimulando o aumento das produções tanto de soja como
de milho.
Por último, ao analisar a elasticidade da oferta com relação à taxa de
câmbio, pode-se verificar que uma variação de 1% na cotação do dólar, tende a
ocasionar uma variação positiva de 0,056% na oferta de soja. Essa relação pode
ser explicada pelo fato de aumentos na taxa de cambio, representarem para o
produtor, mais reais a se trocar por dólares recebidos. Dessa forma estimulando
as exportações na medida em que o real se desvaloriza.
49
CONCLUSÃO
O que se pode concluir deste trabalho e do modelo econométrico
apresentado é que de fato a produção de soja no Brasil aumentou constantemente
nos últimos anos. Enquanto na safra 1995/1996 o país produziu em torno de 23
milhões de toneladas do grão, na safra 2007/2008 esse valor atingiu quase a
marca dos 60 milhões.
Foi visto que apesar de aumentos nos custos de produção, com a
disparada no preço dos fertilizantes e também nos preços do produto substitutivo
(milho) que chegou a ser cotado a US$ 121 na última safra, a produção de soja no
país permaneceu crescente.
A explicação encontrada é que grande parte do período estudado na
amostra que se utilizou foi marcado por forte crescimento da economia mundial,
que trouxe como conseqüência expressivos aumentos no consumo por parte de
diversos países. Assim, tornando possível entender o porquê de algumas das
variáveis escolhidas para compor o modelo não terem o poder de explicar através
da análise econômica a oferta da soja no Brasil.
Outro fator que impactou os resultados obtidos com o modelo foi o fato de o
número de observações usado para compor a amostra dos dados não ser muito
significativo. Teve-se que utilizar por indisponibilidade de informações uma
amostragem com simplesmente 13 observações em que algumas variáveis não
apresentaram o efeito esperado.
Assim é possível concluir que a crescente demanda mundial por
commodities gerada principalmente pelo forte aumento do consumo desses
produtos nos países asiáticos foi a principal causa que fez com que os preços da
soja em todo o mundo e não diferentemente no Brasil subissem, atraindo novos
produtores e estimulando o aumento das produções a cada ano.
50
ANEXOS
Anexo 1 – Dados originais para o modelo
Safras
Y PTSt-1 TCt-1 CSMIt-1 CMMIt-1 IPFt-1
1995/1996 23.189,70 25.934,10 0,881 229,58 107,78 69,59
1996/1997 26.160,00 23.189,70 0,918 224,17 123,45 111,21
1997/1998 31.369,90 26.160,00 1,009 277,42 164,52 132,05
1998/1999 30.765,00 31.369,90 1,083 280,67 117,17 136,85
1999/2000 32.890,00 30.765,00 1,166 223,17 101,62 137,11
2000/2001 34.127,00 32.890,00 1,817 174,92 90,29 165,99
2001/2002 39.058,00 34.127,00 1,830 183,00 88,22 186,49
2002/2003 42.769,00 39.058,00 2,351 168,75 89,61 201,32
2003/2004 51.875,00 42.769,00 2,921 188,75 99,33 234,05
2004/2005 50.085,00 51.875,00 3,078 233,25 105,19 310,65
2005/2006 53.053,00 50.085,00 2,926 276,83 111,78 358,26
2006/2007 56.942,00 53.053,00 2,435 223,17 98,41 348,81
2007/2008 58.726,00 56.942,00 2,176 217,42 121,59 323,57
51
Anexo 2 – Dados transformados para método log-log
Safras LnY LnPTSt-1 LnTCt-1 LnCSMIt-1 LnCMMIt-1 LnIPFt-1
1995/1996
10,05146 10,16331 -0,12670 5,43626 4,68009 4,24262
1996/1997
10,17199 10,05146 -0,08590 5,41239 4,81586 4,71139
1997/1998
10,35360 10,17199 0,00914 5,62552 5,10305 4,88318
1998/1999
10,33413 10,35360 0,07988 5,63717 4,76364 4,91890
1999/2000
10,40092 10,33413 0,15349 5,40792 4,62121 4,92081
2000/2001
10,43784 10,40092 0,59715 5,16431 4,50307 5,11191
2001/2002
10,57280 10,43784 0,60447 5,20949 4,47982 5,22840
2002/2003
10,66357 10,57280 0,85468 5,12842 4,49546 5,30488
2003/2004
10,85659 10,66357 1,07198 5,24042 4,59849 5,45553
2004/2005
10,82148 10,85659 1,12435 5,45211 4,65573 5,73867
2005/2006
10,87905 10,82148 1,07360 5,62341 4,71651 5,88126
2006/2007
10,94979 10,87905 0,89003 5,40792 4,58909 5,85452
2007/2008
10,98064 10,94979 0,77753 5,38182 4,80065 5,77941
52
BIBLIOGRAFIA
ANÁLISE setorial. Austin asis, São Paulo, maio 2008. 18 p.
BNDES Setorial, Desempenho da Cultura da Soja entre 1961 e 2003. Rio de
Janeiro, n. 20, p. 127-222, set. 2004.
CONHEÇA a bm&f. São Paulo: Departamento de Educação e Cultura, 2006. 15 p.
DICIONÁRIO de economia. Disponível em: <http://www.economiabr.net/dicionario/
economes_c.html>. Acesso em: 8 out. 2007.
FUTUROS de soja e milho. Bolsa de mercadorias e futuros, jun. 2005. 19 p.
GUJARATI, D. N. Econometria Básica, São Paulo: Makron Books, 2000.
IPEADATA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Disponível em:
<http://www.ipeadata.gov.br/fvg-agroanalysis.htm>. Acesso em 10 Out. 2008.
MONITOR setorial mensal. Lafis, São Paulo, jan. 2008. 9 p.
RABELLO, T. Alta do adubo preocupa produtor. O Estado de S. Paulo, São
Paulo, 28 maio 2008. Agrícola, p. 10.
RELAÇÃO com investidores. Disponível em: <http://www.mzweb.com.br/heringer/
web/conteudo_pt.asp?idioma=0&tipo=2264&conta=28>. Acesso em: 15 ago. 2008.
SAFRAS maiores exigem mais fertilizantes, e preço aumenta. Revista Portos e
Navios, maio 2008.
53
TENDÊNCIAS setoriais. Tendências consultoria integrada, São Paulo, jun.
2008. 12 p.
VALDES, C. Brazil's booming agriculture faces obstacles. Disponível em:
<http://www.ers.usda.gov/AmberWaves/November06/Features/Brazil.htm>.
Acesso em: 30 out. 2007.
54
Autorização
Eu, André Luis de Oliveira Castello Branco, portador da carteira de identidade:
43.733.331-0, CPF: 315.898.928-01, autorizo a publicação em formato digital, sem ônus,
da(s) obra(s):
A PRODUÇÃO DE SOJA NO BRASIL: UMA ANÁLISE ECONOMÉTRICA NO PERÍODO DE 1994-2008
de minha autoria, pelo Portal Domínio Público, biblioteca digital do Ministério da
Educação, no endereço de internet www.dominiopublico.gov.br . É de meu conhecimento
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