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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE ARTES E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS
CIÊNCIA EM DEBATE? UMA ANÁLISE DAS VOZES
NO GÊNERO NOTÍCIA DE POPULARIZAÇÃO
CIENTÍFICA
TESE DE DOUTORADO
Patrícia Marcuzzo
Santa Maria, RS, Brasil
2011
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CIÊNCIA EM DEBATE? UMA ANÁLISE DAS VOZES NO
GÊNERO NOTÍCIA DE POPULARIZAÇÃO CIENTÍFICA
Patrícia Marcuzzo
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Letras,
Área de Concentração em Estudos Linguísticos, da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito
parcial para obtenção do grau de
Doutor em Letras
Orientadora: Prof
a
. Dr. Désirée Motta-Roth
Santa Maria, RS, Brasil
2011
M322c Marcuzzo, Patrícia
Ciência em debate? Uma análise das vozes no gênero notícia de
popularização científica / por Patrícia Marcuzzo. 2011.
173 f. ; il. ; 30 cm
Orientador: Désirée Motta-Roth
Tese (doutorado) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de Artes e
Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras, RS, 2011
1. Debate 2. Posições enunciativas 3. Gênero notícia de popularização da
ciência I. Motta-Roth, Désirée II. Título.
CDU 81’42
Ficha catalográfica elaborada por Cláudia Terezinha Branco Gallotti CRB 10/1109
Biblioteca Central UFSM
Este trabalho foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - Não Comercial -
SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
AGRADECIMENTOS
À Universidade Federal de Santa Maria e, em especial, ao Programa de Pós-
graduação em Letras, pela minha formação.
À North Carolina State University, por ter me aceitado como pesquisadora-
visitante.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela
concessão de bolsa para a realização do estudo no Brasil e nos Estados Unidos.
À Prof
a
. Dr. Désirée Motta-Roth, minha orientadora desde a Iniciação
Científica, por ser meu melhor exemplo de pesquisadora e por sua dedicação a mim.
À Prof
a
. Dr. Carolyn Miller, minha orientadora durante o doutorado-sanduíche,
por ter aceitado me orientar, pela acolhida calorosa, pelas orientações e por toda
sua ajuda para a conclusão deste trabalho.
À Prof
a
. Dr. Graciela Rabuske Hendges, por toda sua ajuda durante a
realização deste trabalho, pela generosidade e pela amizade.
Às Prof
a
. Dr. Maria Eduarda Giering e Prof
a
. Dr. Cristiane Fuzer, pelas
excelentes sugestões fornecidas no exame de qualificação e na defesa.
À Prof
a
. Dr. Catherine Warren, por permitir que eu assistisse a suas aulas e
pelas orientações valiosas sobre jornalismo científico.
À Prof
a
. Dr. Robin Robin Dodsworth, pela ajuda com a análise estatística.
Aos colegas Ashley Kelly e Zach Rash, pela ajuda com a análise cruzada.
À Monica Marcuzzo e ao Rubens Belusso, pela ajuda com a compilação dos
dados quantitativos deste trabalho.
À minha família, em especial, aos meus pais, Marileila e Jo Carlos
Marcuzzo, pela educação que recebi em casa, e às minhas irmãs, Simone e Monica
Marcuzzo, pela amizade e por compartilharem sempre de todos os momentos.
Ao Marcus De Martini, pela ajuda e pelo apoio.
Aos amigos e colegas do Laboratório de Leitura e Redação, em especial, à
Susana Cristina dos Reis e Vanessa Ribas Fialho, pelo incentivo constante durante
a realização deste trabalho.
À Fernanda da Costa Portugal Duarte, pela amizade durante a realização do
doutorado-sanduíche e pelo seu apoio.
RESUMO
Tese de Doutorado
Programa de Pós-graduação em Letras
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil
CIÊNCIA EM DEBATE? UMA ANÁLISE DAS VOZES NO GÊNERO NOTÍCIA DE
POPULARIZAÇÃO CIENTÍFICA
AUTORA: PATRÍCIA MARCUZZO
ORIENTADORA: DÉSIRÉE MOTTA-ROTH
Data e Local: Santa Maria, 11 de abril de 2011.
No âmbito da mídia, há vários gêneros que disseminam o conhecimento científico
para a sociedade, tais como os documentários televisivos, as notícias ou as
reportagens impressas (MOTTA-ROTH, 2007, p. 3). Este trabalho enfoca o gênero
notícia de popularização da ciência (PC), que apresenta descobertas científicas e
cita fontes escritas e entrevistas realizadas principalmente com cientistas. Em função
disso, textos de PC geralmente o organizados na forma de um debate entre as
fontes/vozes mencionadas, sendo alternadas avaliações positivas e negativas do
estudo popularizado (PARKINSON; ADENDORFF, 2005, p. 293). O objetivo deste
trabalho é investigar em que medida as vozes apresentadas nas notícias de PC
instauram um debate sobre descobertas científicas. O corpus é formado por 60
notícias de PC publicadas em inglês, as quais foram analisadas à luz da Análise
Crítica de Gênero (MOTTA-ROTH, 2005; 2008c), incluindo a análise do texto e do
contexto. Os resultados indicam que uma multiplicidade de vozes agrupadas em
cinco posições enunciativas: pesquisador responsável pelo estudo, pesquisador
colega/técnico/instituição, governo, público e jornalista. No entanto, a análise indica
que duas dessas posições enunciativas são mais frequentes e proeminentes que
outras: o pesquisador responsável pelo estudo e o pesquisador
colega/técnico/instituição. As declarações são inseridas com o objetivo de fornecer
informação relevante relacionada ao estudo reportado na notícia e raramente
promovem um debate. A análise aponta que os jornalistas têm uma perspectiva
tradicional acerca da PC (HILGARTNER, 1990, p. 519). Desse modo, parece que
ainda estamos vivenciando a segunda fase da PC, que iniciou no século XX e é
chamada de “Conhecimento Público da Ciência”, em que o público o participa do
processo de PC, e o processo de comunicação é principalmente unidirecional, da
ciência para a sociedade (JIANMIN, 2005).
Palavras-chave: debate; posições enunciativas; gênero notícia de popularização da
ciência
ABSTRACT
Doctoral Dissertation
Ph.D. Program in Languages
Federal University at Santa Maria, RS, Brazil
SCIENCE UNDER DEBATE?: AN ANALYSIS OF VOICES IN SCIENCE
POPULARIZATION NEWS
AUTHOR: PATRÍCIA MARCUZZO
SUPERVISING PROFESSOR: DÉSIRÉE MOTTA-ROTH
Date and Place of the Defense: Santa Maria, April 11
th
2011.
There are several genres that disseminate scientific knowledge to society in the
media sphere, such as television documentaries, printed news and reportages
(MOTTA-ROTH, 2007, p. 3). This work focuses on the science popularization news
genre, which presents scientific discoveries and quotes written published sources
and interviews mainly with scientists. Therefore, science popularizartion texts are
often framed as a debate between the source/voices, in which positive and negative
evaluations of the popularized study are alternated (PARKINSON; ADENDORFF,
2005, p. 293). The objective of this work is to investigate to what extent the voices
presented on science popularization news promote a debate on scientific
discoveries. The corpus is formed by 60 science popularization news published in
English, which were analyzed in the light of Critical Genre Analysis (MOTTA-ROTH,
2005; 2008c), including textual and contextual analysis. The results indicate that
there is a multiplicity of voices that can be grouped into five enunciative standpoints:
scientist/researcher, fellow researcher/technician/institution, government, public and
the journalist himself/herself. However, the analysis indicates that two of these
enunciative standpoints are more frequent and more prominent than the others: the
scientist/researcher and the fellow researcher/technician/institution. The statements
are inserted with the purpose of adding relevant content somehow related to the
study reported in the news and rarely promote debate. The analysis points out that
the journalists have a traditional perspective on science popularization
(HILGARTNER, 1990, p. 519). Thus, it seems that we are still experiencing the
second phase of science popularization, which began in the 20
th
century and is called
Public Understanding of Science”, in which the public is by no means truly
participants, and the communicating process is mainly unidirectional, from science to
society (JIANMIN, 2005).
Key-words: debate; enunciative standpoints; science popularization news genre
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 Contextos de circulação do conhecimento científico (HILGARTNER,
1990, p. 528) ............................................................................................................. 26
FIGURA 2 Fontes da Análise Crítica de Gênero (MARCUZZO, 2010) .................. 46
FIGURA 3 Concepção tridimensional do discurso (FAIRCLOUGH, 2001, p. 102). 52
FIGURA 4 Representação da estratificação dos planos comunicativos (MOTTA-
ROTH, 2008, p. 352) ................................................................................................. 57
FIGURA 5 Representação da organização dos gêneros ....................................... 64
FIGURA 6 Página da seção About ABC Science ................................................... 93
FIGURA 7 Página de abertura do site ABC Science .............................................. 94
FIGURA 8 Tópicos das notícias publicadas no site ABC Science .......................... 95
FIGURA 9 Página de abertura do site BBC News .................................................. 96
FIGURA 10 Página da seção About the BBC ......................................................... 97
FIGURA 11 Seções do site BBC News .................................................................. 98
FIGURA 12 Página de abertura do site Nature ...................................................... 99
FIGURA 13 Seções do site Scientific American ................................................... 100
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Distribuição dos textos em tópicos .................................................. 103
GRÁFICO 2 Representação de cada função no corpus ...................................... 149
GRÁFICO 3 Distribuição da função retórica no corpus ........................................ 150
GRÁFICO 4 Distribuição da função epistêmica no corpus .................................. 152
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Fases da PC a partir de Jianmin (2005) ............................................. 25
QUADRO 2 Resepresentação esquemática de textos de PC em inglês (NWOGU,
1991) ......................................................................................................................... 28
QUADRO 3 Representação esquemática da organização retórica de notícias de
PC em inglês e português (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 246) ........................ 30
QUADRO 4 Posições enunciativas identificadas (adaptado de MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 525) ....................................................................................... 39
QUADRO 5 Processos verbais nos textos do corpus (MOTTA-ROTH; MARCUZZO,
2010, p. 528) ............................................................................................................. 42
QUADRO 6 Processos mentais e relacionais nos textos do corpus (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 529) ....................................................................................... 42
QUADRO 7 Relação entre posições enunciativas e processos (adaptado de
MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010, p. 530) ............................................................. 43
QUADRO 8 Níveis de representação intertextual (BAZERMAN, 2004, p. 88-9) .... 51
QUADRO 9 Relação do contexto de situação com o texto (HALLIDAY, 1989, p.
26). ............................................................................................................................ 56
QUADRO 10 Oração material ................................................................................ 58
QUADRO 11 Oração mental. ................................................................................. 59
QUADRO 12 Oração mental com Fenômeno em elipse ........................................ 59
QUADRO 13 Oração mental projetante e oração projetada por hipotaxe. ............. 59
QUADRO 14 Oração mental projetante e oração projetada por parataxe. ............ 60
QUADRO 15 Oração relacional de atribuição ........................................................ 60
QUADRO 16 Oração comportamental ................................................................... 61
QUADRO 17 Oração verbal ................................................................................... 62
QUADRO 18 Oração verbal projetante e oração projetada ................................... 62
QUADRO 19 Oração existencial ............................................................................ 63
QUADRO 20 Formas de representação dos atores (adaptado de FUZER, 2008) . 67
QUADRO 21 Notícias de PC da ABC Science ....................................................... 77
QUADRO 22 Notícias de PC da BBC News ........................................................... 77
QUADRO 23 Notícias de PC da Nature ................................................................. 78
QUADRO 24 Notícias de PC da Scientific American ............................................. 78
QUADRO 25 Categorias analíticas selecionadas para a análise dos dados ......... 81
QUADRO 26 E-mail de apresentação e convite para participação da pesquisa ... 85
QUADRO 27 Instrumento de coleta de dados (MOTTA-ROTH, 2008a, p. 21-2).... 87
QUADRO 28 Questionário enviado aos jornalistas ............................................... 88
QUADRO 29 Funções e categorias analíticas da análise textual .......................... 90
QUADRO 30 Tópicos das notícias de PC da ABC e da BBC .............................. 102
QUADRO 31 Tópicos das notícias de PC da NAT e da SCIAM .......................... 103
QUADRO 32 Pergunta 1 e respostas dos jornalistas .......................................... 105
QUADRO 33 Pergunta 3A e respostas dos jornalistas ........................................ 111
QUADRO 34 Respostas dos jornalistas para a pergunta 3B ............................... 112
QUADRO 35 Respostas dos jornalistas para a pergunta 3C ............................... 115
QUADRO 36 Representação da citação.............................................................. 135
QUADRO 37 Processos verbais nos textos do corpus ........................................ 137
QUADRO 38 Processos mentais e relacionais nos textos do corpus .................. 138
QUADRO 39 Relação entre posições enunciativas e processos ......................... 143
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Posições enunciativas nos textos da BBC News (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 526) ....................................................................................... 40
TABELA 2 Posições enunciativas nos textos da Scientific American (MOTTA-
ROTH; MARCUZZO, 2010, p. 526) ........................................................................... 41
TABELA 3 Notícias de PC publicadas entre 15 e 21/06/2008, na BBC News ..... 104
TABELA 4 Posições enunciativas nos textos da ABC Science ............................ 107
TABELA 5 Posições enunciativas nos textos da Nature ...................................... 108
TABELA 6 Posições enunciativas nos quatro subcorpora ................................... 109
TABELA 7 Estratégias utilizadas para referência às posições enunciativas ........ 129
TABELA 8 Processos verbais que introduzem vozes .......................................... 139
TABELA 9 Tipos de processos verbais que introduzem vozes ............................ 139
TABELA 10 Quantificação dos processos mentais que introduzem vozes .......... 140
TABELA 11 Quantificação dos processos relacionais que introduzem vozes ...... 141
TABELA 12 Quantificação dos processos que introduzem vozes ........................ 142
TABELA 13 Quantificação dos processos localizados no corpus ........................ 144
TABELA 14 Tipos de processos associados a cada posição enunciativa ............ 144
TABELA 15 Excertos que introduzem vozes associados a cada posição
enunciativa .............................................................................................................. 146
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
CAPÍTULO 1 REVISÃO DA LITERATURA .......................................................... 18
1.1 Vulgarização, divulgação ou popularização ................................................... 18
1.2 Duas visões sobre a PC: visão tradicional e visão contemporânea ............ 23
1.3 O gênero notícia de PC .................................................................................... 26
1.4 As vozes em notícias de PC ............................................................................ 33
1.5 A Análise Crítica de Gênero ............................................................................. 45
1.5.1 A Análise Sócio-histórica do Discurso ............................................................. 47
1.5.2 A Análise Crítica do Discurso .......................................................................... 52
1.5.3 A Sócio-retórica ............................................................................................... 63
1.6 A representação dos atores sociais ................................................................ 65
1.6.1 Categorias de exclusão dos atores sociais ...................................................... 68
1.6.2 Categorias de inclusão dos atores sociais ....................................................... 69
CAPÍTULO 2 METODOLOGIA ............................................................................. 74
2.1 Delimitação do universo de análise ................................................................ 74
2.2 Seleção do corpus ............................................................................................ 75
2.3 Procedimentos de coleta e análise dos dados .............................................. 79
CAPÍTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................... 92
3.1 Notas sobre o contexto de distribuição dos textos ....................................... 92
3.1.1 ABC Science .................................................................................................... 93
3.1.2 BBC News ....................................................................................................... 95
3.1.3 Nature .............................................................................................................. 98
3.1.4 Scientific American ........................................................................................ 100
3.2 O tópico das notícias de PC .......................................................................... 101
3.3 As posições enunciativas identificadas nas notícias de PC ...................... 106
3.4 Como as posições enunciativas são representadas nas notícias de PC .. 117
3.5 Como o discurso das posições enunciativas é introduzido nas notícias de
PC ........................................................................................................................... 131
3.6 As funções das posições enunciativas nas notícias de PC ....................... 146
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 155
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 161
INTRODUÇÃO
Pesquisas na área dos estudos linguísticos têm investigado o uso da
linguagem em contextos diversos. Neste trabalho, o enfoque recai sobre o uso da
linguagem no contexto da mídia, a qual tem divulgado as descobertas científicas
para o público em geral (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 149). De fato,
a mídia assumiu para si a função de explicar as descobertas científicas às pessoas
(SILVA, 2007, p. 5) e tem contribuído para o processo de produção do conhecimento
e a elaboração de opiniões sobre a ciência e os cientistas (CALSAMIGLIA; VAN
DIJK, 2004, p. 371).
No âmbito da mídia, vários gêneros que disseminam o conhecimento
científico para a sociedade, tais como os documentários televisivos, as notícias ou
as reportagens impressas (MOTTA-ROTH, 2007, p. 3). Nesta tese de doutoramento,
o enfoque recai sobre um desses gêneros, o qual é denominado notícia de
popularização da ciência (doravante PC) e definido como
um conjunto de manchete, lide, evento principal, nesse caso, a realização
de uma nova pesquisa, o contexto, os eventos prévios, as expectativas e a
avaliação do significado e da relevância da pesquisa para a vida do leitor
leigo (MOREIRA; MOTTA-ROTH, 2008, p. 4).
As notícias de PC são textos dialógicos e intertextuais: dialógicos porque se
definem pelo diálogo que estabelecem com outros textos (BARROS, 1996, p. 24) e
resultam do embate de muitas vozes (Ibid., 2003, p. 5-6); intertextuais porque fazem
referência a outros textos (BAZERMAN, 2004), tais como ao próprio artigo
acadêmico que deu origem à notícia e ao discurso de vozes chamadas a expressar
sua opinião acerca da pesquisa popularizada. Desse modo, nesses textos, assim
como nos artigos de PC analisados por Parkinson e Adendorff (2005, p. 287), são
mencionadas fontes escritas e também entrevistas realizadas principalmente com
cientistas. Isso está relacionado à necessidade jornalística de citar autoridades e, no
caso da notícia de PC, estas são geralmente os pesquisadores que realizaram a
pesquisa (Ibid., p. 298). “Ao citar uma autoridade, o jornalista mostra objetividade
porque ele/ela não está manifestando sua opinião subjetiva, mas sim declarações de
uma autoridade científica” (Ibid.). Em função dessas declarações, os textos de PC
geralmente são organizados na forma de um debate entre as vozes mencionadas
14
(Ibid.), ou seja, os personagens que representam alguma função dentro do discurso
reportado (MEY, 2001, p, 239), sendo alternadas avaliações positivas e negativas do
estudo popularizado (PARKINSON; ADENDORFF, 2005, p. 293). De fato, estudos
prévios realizados pelo GT-LABLER com parte do corpus desta tese de
doutoramento (15 notícias de PC) (MARCUZZO, 2008; MARCUZZO; MOTTA-ROTH,
2008; MOTTA-ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH, 2009a e b; MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009; PRATES et al., 2008) apontaram uma multiplicidade de vozes
mencionadas pelo jornalista na notícia de PC, o qual “constrói a representação de
um mundo de referência por meio de uma combinação [dessa] variedade de vozes”
(CALSAMIGLIA; FERRERO LÓPEZ, 2003, p. 156). De acordo com os resultados
dos estudos prévios, essas vozes podem ser agrupadas em posições enunciativas,
ou seja, lugares de fala, tais como o pesquisador que coordenou o estudo e o
pesquisador colega/técnico/instituição.
Portanto, o objetivo geral deste trabalho é investigar em que medida os
resultados dos estudos prévios se confirman na análise do corpus como um todo e
também se as posições enunciativas instauram um debate sobre descobertas
científicas. Esse objetivo se desdobra em outros dois específicos, os quais são:
1) verificar a presença das posições enunciativas em exemplares de
notícias de PC publicados em Língua Inglesa; e
2) identificar e interpretar o papel dessas posições enunciativas para a
construção do sentido da notícia de PC, a avaliação das descobertas científicas e a
constituição do gênero notícia de PC.
A realização deste estudo foi guiada por cinco perguntas de pesquisa:
1) Em que medida uma multiplicidade de posições enunciativas nas
notícias de PC analisadas?
2) Como as posições enunciativas se manifestam linguisticamente em
notícias de PC (ou, mais especificamente, como elas o representadas nos textos?
Como estas são introduzidas nesses textos, por exemplo, por citação direta/indireta,
etc.? Quais são os processos associados a elas?)?
3) Em que medida essas posições enunciativas promovem um debate
acerca das descobertas científicas na mídia?
4) Que papel as posições enunciativas desempenham na avaliação das
descobertas científicas e no gênero notícia de PC?
15
5) Em que medida posições enunciativas que recebem mais/menos
destaque nos textos?
Neste trabalho, o debate é entendido como pontos de vista contrários sobre a
pesquisa popularizada na notícia de PC. Além disso, é importante esclarecer que
são analisadas as posições enunicativas explicitamente mencionadas nessas
notícias e o possível debate instaurado no interior dos textos investigados. Portanto,
é importante destacar que não é considerada a posterior repercussão dessas
pesquisas, por exemplo, por meio dos comentários que os leitores postam nos sites
onde os textos do corpus foram coletados. Este trabalho se justifica pelo fato de que
poucas pesquisas que enfocam gêneros de PC, como os artigos e as notícias,
em comparação com outros gêneros, tais como o artigo acadêmico, que tem sido
amplamente explorado em várias pesquisas (PARKINSON; ADENDORFF, 2005, p.
281).
Este trabalho está inserido na linha de pesquisa “Linguagem no Contexto
Social”
1
do Programa de Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de
Santa Maria, a qual tem se dedicado à investigação interdisciplinar acerca da
produção de conhecimento sobre linguagem, práticas discursivas e letramento em
contextos sociais/institucionais específicos. As pesquisas desenvolvidas visam a
descrever, analisar e interpretar a linguagem em uso nos vários contextos,
especificados por sua configuração epistemológica, social e/ou cultural, pela
especialização de estruturas e recursos de organização social, pelos papéis sociais,
pelas práticas identitárias e pelas relações constituídas entre os sujeitos. Dentro
dessa linha de pesquisa, este trabalho se insere em um dos três Grupos de Trabalho
(GT) existentes, o GT do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Leitura e Redação
(LABLER), coordenado pela orientadora desta tese de doutoramento. Este estudo foi
desenvolvido como um subprojeto do projeto guarda-chuva do GT-LABLER para o
quadriênio 2007-2011 intitulado Análise crítica de gêneros de artigos de
popularização da ciência (MOTTA-ROTH, 2007), o qual reúne pesquisas de
Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado e tem por objetivo investigar diferentes
aspectos da PC, com enfoque na notícia de PC.
1
Informações coletadas na página do PPGL na Internet (http://www.ufsm.br/mletras/intro.htm) em 2
de maio de 2008.
16
O referido projeto tem duas dimensões interconectadas (Ibid., p. 1):
1) investigar o contexto da notícia de PC (quem escreve para quem,
com que objetivo, etc.) e os textos produzidos, distribuídos e consumidos
nesse contexto (em termos de estrutura, conteúdo e efeitos de sentido); e
2) propor uma sistematização dos procedimentos analíticos que podem
ser implementados no estudo de gêneros discursivos escritos a fim de
subsidiar o ensino de leitura e redação em inglês como língua estrangeira e
redação em língua materna.
O presente trabalho busca se somar aos esforços de pesquisa desse GT no
sentido de contribuir com a primeira dimensão: a descrição do gênero notícia de PC.
Além desta pesquisa, outros subprojetos dentro do projeto guarda-chuva
(MOTTA-ROTH, 2007) que também se dedicam à descrição desse gênero: Santos
(2010), por exemplo, investiga o uso de metáforas, metonímias e personificações em
notícias de PC publicadas em Língua Inglesa. Lovato (2010) explora a organização
retórica de notícias de PC em Língua Portuguesa; e Motta-Roth, a organização
retórica das notícias de PC em Língua Inglesa (MOTTA-ROTH, 2009b; MOTTA-
ROTH; LOVATO, 2009). O trabalho de Gerhardt (2010) se dedica a explorar o uso
de aposto e glosa em notícias de PC em Língua Inglesa, e o de Motta-Roth (2010), a
intertextualidade e a recontextualização do discurso da ciência na mídia.
O trabalho está organizado em quatro capítulos, além desta Introdução. No
capítulo 1, reviso a literatura prévia na área, enfocando a perspectiva teórico-
metodológica que fundamenta esta pesquisa. O capítulo traz a diferenciação entre
três termos-chave para a compreensão do processo de disseminação do
conhecimento científico a uma audiência de não especialistas: vulgarização,
divulgação e PC e as diferentes perspectivas acerca desse processo. Além disso,
traz também uma revisão acerca do gênero investigado neste trabalho, das vozes no
gênero notícia de PC e da Análise Crítica de Gênero. No capítulo 2, descrevo o
percurso metodológico seguido para a realização do estudo, incluindo desde a
delimitação do universo de análise investigado até os procedimentos de coleta e
análise dos dados textuais e contextuais. No capítulo 3, apresento e discuto os
dados obtidos a fim de responder as cinco perguntas que guiaram a realização desta
pesquisa. Esse capítulo traz a descrição do contexto de distribuição dos sites
investigados (ABC Science, BBC News, Nature e Scientific American); uma visão
geral do corpus em termos de tópicos; as posições enunciativas identificadas nas
notícias de PC; o modo como estas são representadas nos exemplares do corpus e
17
como o discurso das vozes é introduzido nos textos; além disso, descrevo a função
das vozes nesse gênero. Os dados contextuais são apresentados em conjunto com
os textuais. Por fim, no capítulo 4, à guisa de conclusão, são feitas algumas
considerações finais acerca deste estudo.
CAPÍTULO 1 REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo, apresento a perspectiva teórico-metodológica que fundamenta
esta pesquisa. A apresentação da perspectiva teórico-metodológica inicia, na seção
1.1, com a diferenciação de três termos-chave para a compreensão do processo de
disseminação do conhecimento científico a uma audiência de não especialistas:
vulgarização, divulgação e PC. Na seção 1.2, discorro sobre duas diferentes
perspectivas acerca desse processo, uma tradicional e outra contemporânea. Na
seção 1.3, exploro o gênero investigado neste trabalho, a notícia de PC, destacando
seu objetivo comunicativo, seu conteúdo ou sua temática e sua organização retórica.
Na seção 1.4, abordo o tópico deste estudo: as vozes no gênero notícia de PC. Na
seção 1.5, apresento a Análise Crítica de nero, perspectiva que adoto para
analisar os dados textuais e contextuais desta pesquisa. Por fim, na seção 1.6,
apresento o inventário sócio-semântico proposto por van Leeuwen (1996; 2008) para
análise das formas de representação dos atores sociais no discurso.
1.1 Vulgarização, divulgação ou popularização?
Trabalhos desenvolvidos no Brasil sobre diferentes aspectos acerca do
processo de disseminação do conhecimento científico a uma audiência de não
especialistas (por exemplo, ALBAGLI, 1996; COLUSSI, 2002; FUZER, 2002;
GUIMARÃES, 2001; MASSARANI; 1998; NUNES, 2001; OLIVEIRA, 2005;
ORLANDI, 2001; PAGANO, 1998; VOGT, 2001) utilizam indiscriminadamente os
termos vulgarização, divulgação e PC para designar tal processo. Além disso, o
sentido que os autores desses trabalhos dão a esses termos é diverso (GERMANO,
2005, p. 12). Albagli (1996, p. 397), por exemplo, usa os termos divulgação e PC
como sinônimos. Massarini (1998, p. 18) reúne no mesmo universo conceitual os
termos vulgarização, divulgação e PC. Colussi (2002), Fuzer (2002), Oliveira (2005)
e Pagano (1998) adotam o termo PC. Por sua vez, Guimarães (2001), Nunes (2001),
Orlandi (2001) e Vogt (2001) preferem o termo divulgação da ciência. Em vista
19
disso, acredito que é importante tentar compreender o sentido desses termos,
conforme exploro a seguir.
O termo vulgarização da ciência surgiu no início do culo XIX, na França, de
acordo com Raichvarg e Jacques (1991 apud MASSARANI, 1998, p. 14). Esses
mesmos pesquisadores afirmam que Camille Flammarion, astrônomo francês, na
década de 1960, havia apontado dificuldades existentes por trás desse termo,
destacando inclusive a sua conotação pejorativa (apud MASSARANI, 1998, p. 14-5).
Embora possa estar relacionado às ideias de difundir(-se) de um grupo restrito para
círculos mais amplos; tornar(-se) comum; popularizar(se), de acordo com a primeira
definição disponibilizada no Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa
(2001), o verbo vulgarizar pode também ser associado à ideia de vulgar
(GERMANO; KULESZA, 2007, p. 9), indicando, nesse caso, algo relativo ou
pertencente à plebe, ao vulgo; popular e também algo que não se destaca; comum;
de qualidade inferior (HOUAISS, 2001). Em razão disso, pode ter uma conotação
pejorativa, conforme Camille Flammarion já havia indicado. Assim, na mesma época,
surgiu, também na França, o termo popularização como uma alternativa ao termo
vulgarização, embora não tenha sido muito aceito na comunidade científica francesa
(GERMANO; KULESZA, 2007, p. 9) e não tenha conseguido suplantar a designação
anterior (MASSARANI, 1998, p. 14-15). No entanto, as razões para tal não são
explicitadas por Massarani (1998) e Germano e Kulesza (2007).
Talvez por causa da grande influência francesa na cultura brasileira à época,
o termo vulgarização foi utilizado no Brasil em várias publicações do século XIX e do
início do século XX (Ibid., p. 10). Nas décadas de 1960 e 1970, também se
mencionava o termo popularização frequentemente (Ibid.). Atualmente, o termo
vulgarização da ciência é pouco utilizado no Brasil em razão de sua conotação
pejorativa mencionada anteriormente, embora ainda seja usado em algumas
publicações (Ibid.). Em lugar deste, o termo divulgação tem sido empregado com
frequência nas esferas acadêmica e não acadêmica, a ponto de Massarani (1998, p.
15) e Germano e Kulesza (2007, p. 11) afirmarem que seu uso é hegemônico no
contexto brasileiro.
O termo divulgação da ciência pode ser compreendido a partir da palavra
divulgação, que significa o ato ou a ação de divulgar; do Latim divulgare, tornar
conhecido; propalar, difundir, publicar, transmitir ao vulgo, ou ainda, dar-se a
conhecer; fazer-se popular (GERMANO; KULESZA, 2007, p. 14). Segundo Authier-
20
Revuz (1998, p. 107), pesquisadora cujo trabalho tem sido umas das referências em
estudos acerca do processo de divulgação da ciência, esse termo designa
uma atividade de disseminação, em direção ao exterior, de conhecimentos
científicos produzidos e em circulação no interior de uma comunidade
mais restrita; essa disseminação é feita fora da instituição escolar-
universitária e não visa à formação de especialistas, isto é, não tem por
objetivo estender a comunidade de origem [grifo da autora].
Nesse caso, a divulgação científica busca alcançar a “coletividade como um
todo”, o “grande público”, a partir da “fortaleza da ciência” (Ibid.). Desse modo, o
objetivo da divulgação da ciência, de acordo com Authier-Revuz, seria o de “fazer
penetrar no grande público os novos conhecimentos, “ao colocar sob forma
acessível ao público o resultado das pesquisas científicas” (Ibid., p. 108). Nesse
processo, ocorre então uma mediação no nível do discurso, ou seja, uma prática
de reformulação de um discurso-fonte em um discurso segundo (Ibid.). Assim, para
Authier-Revuz (Ibid.), a divulgação da ciência compreende “tradução, resumo,
resenha e também textos pedagógicos adaptados a este ou àquele nível, análises
políticas reformuladas ‘na direção de’ tal ou tal grupo social, mensagens publicitárias
reescritas em função do ‘alvo’ visado, etc”. Uma crítica que pode ser levantada
acerca do objetivo da divulgação científica, conforme apresentado pela
pesquisadora, é: em que medida se pode dizer que esta alcança, de fato, a
coletividade como um todo e consegue fazer penetrar no grande público o
conhecimento científico?
Por sua vez, o termo PC vem sendo muito utilizado principalmente nos países
de língua inglesa, conforme afirma Nelkin (1995 apud MASSARANI, 1998, p. 15), e
uma rápida busca por trabalhos publicados nessa língua sobre os mais diversos
aspectos envolvendo o discurso de PC confirma isso (ver, por exemplo, BEACCO et
al., 2002; CALSAMIGLIA; VAN DIJK, 2004; GIANNONI, 2008; HILGARTNER, 1990;
MYERS, 2003). Destaca-se que os trabalhos citados anteriormente são publicados
em língua inglesa, mas não necessariamente realizados em países anglófonos.
A PC pode ser definida então, segundo Bueno (1984 apud ALBAGLI, 1996, p.
397), como “o uso de processos e recursos cnicos para a comunicação da
informação científica e tecnológica ao público em geral”. Portanto, a PC “inclui
apenas textos sobre ciência que não são endereçados a outros cientistas
especialistas” no assunto (MYERS, 2003, p. 265).
21
O objetivo da PC é socializar o conhecimento científico, ao colocar a ciência
no “campo da participação popular” (GERMANO, 2005, p. 12). Albagli (1996, p. 397)
desdobra o objetivo geral da PC em três objetivos específicos:
1) educacional;
2) cívico; e
3) de mobilização popular.
O objetivo educacional se refere à “ampliação do conhecimento e da
compreensão do público leigo a respeito do processo científico e sua lógica” (Ibid.).
O objetivo cívico está voltado para “o desenvolvimento de uma opinião pública
informada sobre os impactos do desenvolvimento científico e tecnológico sobre a
sociedade, particularmente em áreas críticas do processo de tomada de decisões”
(Ibid.). Por fim, a mobilização popular busca a ampliação “da possibilidade e da
qualidade de participação da sociedade na formulação de políticas blicas e na
escolha de opções tecnológicas” (Ibid.).
Para Hilgartner (1990, p. 528), posteriormente corroborado por Giannoni
(2008, p. 213), a PC é uma questão de grau em termos de precisão da informação
apresentada (Ibid., p. 525), de modo que, nos textos considerados científicos, o grau
de precisão da informação é maior do que nos textos considerados não científicos.
Calsamiglia e van Dijk (2004, p. 371) destacam que a PC não é apenas uma
reformulação, mas também uma recontextualização do conhecimento científico e do
discurso que foram produzidos com o objetivo de serem divulgados em contextos
especializados, aos quais o público em geral tem acesso limitado. Tal concepção é
corroborada por Oliveira e Pagano (2006, p. 628) e Motta-Roth (2009a, p. 181). No
entanto, no presente trabalho, o conceito de recontextualização é entendido a partir
da definição de Motta-Roth (Ibid.).
Para Motta-Roth (Ibid.), tal conceito pode ser compreendido com base na
definição de recontextualização proposta pelo sociólogo britânico Basil Bernstein, o
qual aborda a questão da recontextualização de discursos no campo educacional,
entretanto, sua formulação parece servir adequadamente à recente discussão sobre
PC. Para Bernstein (1996, p. 113), a recontextualização é, grosso modo, o processo
de transformação do discurso do campo de produção (onde o conhecimento novo é
produzido) em discurso pedagógico. Tal processo envolve o deslocamento (de-
location, no original, em inglês), ou seja, a apropriação seletiva de um discurso ou
parte de um discurso do campo de produção, e a realocação (re-location, no original,
22
em inglês) desse discurso dentro do campo da recontextualização (Ibid.). No caso
da notícia de PC, a mídia atua como o contexto recontextualizador do discurso da
ciência” (MOTTA-ROTH, 2009b).
Desse modo, pode-se dizer que os termos divulgação da ciência e PC são
realmente muito próximos na medida em que estão relacionados “à questão do
acesso ao conhecimento científico, fio condutor que liga todos os termos à palavra
ciência (GERMANO; KULESZA, 2007, p. 9). No entanto, esses termos se
distanciam na medida em que são analisados os objetivos da divulgação da ciência
e da PC, conforme apresentado por Authier-Revuz (1998) e Germano (2005),
respectivamente. A divulgação da ciência busca “fazer penetrar no grande público os
novos conhecimentos, “ao colocar sob forma acessível ao público o resultado das
pesquisas científicas”, por meio de uma tradução da ciência (AUTHIER-REVUZ,
1998, p. 108). a PC tem um objetivo voltado para a questão da socialização da
ciência, ao colocá-la no “campo da participação popular” (GERMANO, 2005, p. 12),
de modo que membros de diferentes camadas sociais possam exercer a cidadania
ao participarem efetivamente das decisões públicas sobre ciência e tecnologia”
(MEDEIROS, 2003, p. 85 apud MOTTA-ROTH et al., 2008).
Portanto, parece que o termo PC é
o que mais se aproxima de uma prática fundamentada na comunicação
reflexiva e no respeito inegociável do outro como sujeito da construção de
seu próprio conhecimento e do entendimento da ciência como uma das
várias manifestações da cultura (GERMANO, 2005, p. 12).
Assim, a popularização pressupõe a aproximação da ciência e do público não
especialista, na medida em que se entende que 1) a ciência não é popular; e 2) é
possível romper a barreira entre a ciência e o público (Ibid.). Por isso, tal termo vem
sendo adotado no projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007) e,
consequentemente, neste trabalho. O processo de popularizar a ciência pode ser
visto a partir de pelo menos duas perspectivas distintas: uma tradicional e a outra
contemporânea, tema que será explorado na próxima seção.
23
1.2 Duas visões sobre a PC: visão tradicional e visão contemporânea
No seu artigo clássico, Hilgartner (1990) aponta que a perspectiva tradicional
e dominante acerca da PC se baseia em um modelo formado por dois estágios bem
definidos: “primeiro, os cientistas desenvolvem conhecimento puro, genuíno;
subsequentemente, versões simplificadas são disseminadas ao público” (p. 519).
Assim, na melhor das hipóteses, a PC é vista como uma “simplificação apropriada”
necessária para fins educacionais de simplificar a ciência a uma audiência de não
especialistas (Ibid.). Na pior das hipóteses, a PC é uma distorção da ciência
realizada por jornalistas e pelo público que interpreta mal o que lê (Ibid.).
Essa visão reducionista recebeu críticas por parte de vários pesquisadores.
Dentre eles, destacam-se o próprio Hilgartner (1990) e também Moirand (2003) e
Myers (2003). Hilgartner (1990, p. 520) aponta que essa visão apresenta problemas
conceituais e simplifica o processo de PC. Moirand (2003) complementa a ideia de
Hilgartner (1990) ao argumentar que a PC não é linear, ou seja, partindo do cientista
(da ciência) para o público, mas sim cíclica, de modo que público e cientistas fazem
parte desse processo. Myers (2003, p. 266) afirma que várias suposições que
acompanham a visão tradicional: 1) os cientistas e as instituições científicas são
autoridades que decidem o que é ou não é ciência; 2) o público é uma “tábua rasa
em termos de conhecimento científico; 3) o conhecimento científico viaja em uma via
de mão única, mais especificamente, da ciência para a sociedade; 4) o conteúdo da
ciência é a informação apresentada em declarações escritas; e 5) a informação é
simplificada e distorcida no processo popularização.
A partir de estudos na área da sociologia do conhecimento científico, a
perspectiva tradicional da PC tem se mostrado cada vez mais inadequada quando
considerados pelo menos três aspectos apontados por Hilgartner (1990, p. 522).
Primeiro, o conhecimento popularizado realimenta o processo de pesquisa, uma vez
que os cientistas aprendem sobre outros campos de pesquisa por meio de textos
que popularizam o conhecimento cienfico, e isso molda suas crenças acerca do
conteúdo e da conduta da ciência (Ibid.). Segundo, a simplificação é uma parte
importante no trabalho científico para que haja comunicação dentro de diferentes
esferas, tais como no próprio laboratório em que a pesquisa está sendo realizada e
na conversa com pesquisadores de outras áreas (Ibid.). Terceiro, o conhecimento
24
científico é produzido pela transformação coletiva das afirmações científicas, e a PC
pode ser vista como uma extensão desse processo, ao invés de um processo
totalmente diferente (Ibid., p. 522 e 524). De fato, tem se observado que o alto grau
de especialização na pesquisa tem cada vez mais exigido a popularização
intracientífica para se obter auxílio de especialistas de outras áreas, colaborar com o
trabalho de colegas de outras áreas e obter reputação e recursos de grupos não
especialistas responsáveis pela alocação de fundos para pesquisa” (WHITEY 1985
apud KYVIK, 2005, p. 290).
Jianmin (2005), no seu artigo de revisão da literatura sobre a PC em cidades
modernas, destaca que a perspectiva tradicional é, na verdade, uma das fases da
PC, uma vez que esta, segundo o autor, se desenvolveu em três fases distintas, as
quais são definidas com base na participação pública no processo de popularização
do conhecimento científico. A primeira fase, que teve início no século 17, é
denominada “aceitação pública da ciência” e corresponde à perspectiva dominante e
tradicional apontada por Hillgartner (1990); a segunda, com início no século 20, é
denominada “conhecimento público da ciência”; e a terceira, uma continuação da
segunda fase, é denominada “participação pública na ciência. Cada uma dessas
fases, segundo o pesquisador, tem enfoques e visões diferentes acerca do que é
popularizar a ciência. Na primeira fase, os principais envolvidos na PC são os
cientistas e as associações científicas, e a PC é um processo unidirecional, partindo
dos cientistas (aqueles que detêm o conhecimento científico) para o público (aqueles
considerados ignorantes em termos científicos). Na segunda fase, o público não é
mais visto como ignorante, mas sim é enfatizado; no entanto, não participa de fato
da PC, uma vez que o processo é ainda unidirecional, partindo da ciência para a
sociedade. Na terceira fase, uma expansão e continuação do movimento de
“entendimento público da ciência”, fazendo com que a PC se torne cada vez mais
socializada. As tecnologias de informação e as mídias interativas têm sido uma
contribuição importante nesse processo. Nessa fase, a PC é um processo
bidirecional. O Quadro 1 resume as principais características dessas três fases a
partir do período de início, do enfoque e da visão da PC de cada uma.
25
Fase da PC
Início
Enfoque
Aceitação pública da
ciência
Século 17
Cientista e leigo
Conhecimento público
da ciência
Século 20
O público é enfatizado
Participação pública na
ciência
Continuação da
2ª fase
Participação do
público nos rumos da
ciência
Quadro 1 Fases da PC a partir de Jianmin (2005).
A partir da proposta de Jianmin (2005), pode-se dizer que
“contemporaneamente, a PC tem sido vista como um processo político de
democratização do conhecimento científico e do acesso ao debate sobre esse
conhecimento, seus produtos e suas consequências” (MOTTA-ROTH et al., 2008).
Nessa perspectiva, a PC parte da ideia de que a
ignorância de fatos básicos da ciência produz cidadãos ingênuos,
propensos a acreditar facilmente em fatos pseudocientíficos, potencialmente
prejudiciais a si próprio e à sociedade. Por outro lado, acredita-se que um
cidadão bem informado seria capaz não de orientar melhor a sua vida,
mas também influir, como membro da sociedade, nos rumos da própria
ciência (MUELLER, 2002, p. 2).
Desse modo, a PC busca colocar a ciência no campo da participação popular
(GERMANO; KULESZA, 2007, p. 20), que atualmente a cultura científica é vista
como um direito social (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 148).
A PC é uma atividade social rotinizada que levou à criação de vários gêneros
relativamente estáveis (MYERS, 2003, p. 267), que foram caracterizados por
Hilgartner (1990, p. 528) em um continuum (Figura 1).
26
upstream
downstream
technical seminars
grant proposals
policy reports
lab shop talk
scientific papers
research news
mass media
meetings
literature reviews
journal editorials
textbooks
books
Figura 1 Contextos de circulação do conhecimento científico (HILGARTNER, 1990,
p. 528).
Em um dos extremos desse continuum, à esquerda, Hilgartner (Ibid.)
posiciona os gêneros upstream, ou seja, aqueles que estão mais próximos do
contexto de produção da ciência ou da sua fonte, em referência à palavra upstream,
que significa “em direção à fonte”. Nesse extremo, Hilgartner coloca os artigos
científicos, as conversas que ocorrem dentro do laboratório de pesquisa em que a
pesquisa está sendo realizada, os encontros científicos (congressos, palestras, etc.)
e os seminários técnicos. No outro extremo, à direita, Hilgartner (Ibid.) coloca os
gêneros downstream, ou seja, aqueles dirigidos a audiências não científicas, como
os livros didáticos e as notícias publicadas na mídia de massa. Entre os dois
extremos, há, por exemplo, os projetos de pesquisa.
Um dos gêneros downstream citados por Hilgartner (1990) é a notícia de PC,
gênero estudado nesta tese de doutoramento e que será explorado na próxima
seção.
1.3 O gênero notícia de PC
De fato, a partir do continuum proposto por Hilgartner (1990), podemos
distinguir pelo menos três linhas diferentes na comunicação científica: 1) os
discursos científicos primários; 2) os discursos didáticos; e 3) os discursos de
divulgação científica (MASSARANI; MOREIRA, 2005, p. 1). Um exemplo de discurso
científico primário é o gênero artigo acadêmico, o qual é escrito por e para
pesquisadores de uma determinada área do conhecimento com o objetivo principal
de reportar os resultados de um estudo realizado por um pesquisador ou grupo
27
(SWALES, 1990, p. 93). Como exemplo de discurso didático, podemos citar os livros
destinados ao ensino de línguas, matemática, ciências, etc. utilizados nas escolas,
os quais têm como objetivo “apresentar uma proposta pedagógica de um conteúdo
selecionado no vasto campo de conhecimento em que se insere a disciplina a que
se destina” (SOARES, 2003, p. 9). Por fim, um exemplo de discurso de divulgação é
a notícia de PC publicada em revistas e jornais impressos e/ou eletrônicos, a qual é
escrita para outros jornalistas/cientistas, pessoas o especialistas no assunto e
cientistas envolvidos no processo de PC (OLIVEIRA; PAGANO, 2006, p. 643).
O principal objetivo do gênero notícia de PC é expandir o conhecimento
científico para o público em geral, “transformando o conhecimento especializado em
conhecimento acessível a leitores não especialistas” (CALSAMIGLIA; VAN DIJK,
2004, p. 370 apud MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 238). Em termos de tópicos, “a
cobertura da ciência tende a favorecer certas áreas da pesquisa científica” (ALLAN,
2009, p. 154); de fato, as notícias sobre ciência têm se pautado,
predominantemente, em resultados científicos referentes a duas áreas do
conhecimento: saúde (cuidados com a vida humana) e tecnologia (desenvolvimento
tecnológico) (GUIMARÃES, 2001, p. 19; ALFERES; AUGUSTINI, 2008, p. 2). Desse
modo, parece que a ciência é notícia na mídia “enquanto parte de uma cena em que
os fatos narrados podem ser vistos sob um aspecto utilitário” (GUIMARÃES, 2001, p.
20). Isso indica que a ciência tem valor diferente quando considerados o cientista e o
público. Para o cientista, o valor da ciência é imanente; para o blico, o valor é
externo, na medida em que o importante é a aplicação da ciência, sua utilidade e
sua consequência para a vida das pessoas (CALSAMIGLIA, 2003, p. 140).
Em termos de organização retórica, estudos (NWOGU, 1991; MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009) têm apontado que esses textos apresentam pelo menos cinco
movimentos retóricos, os quais:
1) contextualizam a pesquisa;
2) apresentam a pesquisa propriamente dita;
3) narram a metodologia adotada;
4) apresentam os resultados; e
5) destacam as conclusões da pesquisa popularizada.
Mais especificamente, Nwogu (1991), com base na perspectiva teórico-
metodológica da Análise de Gênero proposta por Swales (1990), analisou 15
exemplares de textos de PC da área dica denominados por ele de “versões
28
jornalísticas de artigos acadêmicos” (em inglês, jornalistic reported version), os quais
foram coletados em duas revistas: The NewScientist e Newsweek, sendo a primeira
voltada para a PC, e um jornal (The Times). Nwogu (1991) concluiu que esses textos
apresentam um padrão de organização formado por nove movimentos retóricos
(Quadro 2).
Movimento 1 Apresentar informação prévia
Fazer referência ao conhecimento estabelecido na área
Fazer referência ao problema de pesquisa
Enfatizar a perspectiva local
Explicar princípios e conceitos
Movimento 2 Destacar os principais resultados da pesquisa
Fazer referência aos principais resultados
Movimento 3 Revisar pesquisas relacionadas ao assunto
Fazer referência à pesquisa prévia
Fazer referência às limitações da pesquisa prévia
Movimento 4 Apresentar a pesquisa
Fazer referência aos autores
Fazer referência ao objetivo da pesquisa
Movimento 5 Indicar observações consistentes
Declarar resultados importantes
Fazer referência a observações específicas
Movimento 6 Descrever os procedimentos da coleta de dados
Fazer referência aos autores
Fazer referência à fonte dos dados
Fazer referência ao tamanho da amostra de dados
Movimento 7 Descrever os procedimentos experimentais
Relatar principais processos experimentais
Movimento 8 Explicar resultados da pesquisa
Declarar um resultado específico
Explicar princípios e conceitos
Indicar comentários e perspectivas
Indicar a significação do resultado principal
Contrastar resultados atuais e prévios
Movimento 9 Apontar conclusões da pesquisa
Indicar implicações da pesquisa
Encorajar pesquisas futuras
Enfatizar a perspectiva local
Quadro 2 Representação esquemática de textos de PC em inglês (NWOGU,
1991)
2
.
O Movimento 1 Apresentar informação prévia contextualiza a pesquisa
que está sendo popularizada por meio da referência ao conhecimento estabelecido
2
A tradução da representação esquemática é de Désirée Motta-Roth e foi publicada em Motta-Roth;
Lovato (2009, p. 241).
29
na área e/ou ao problema de pesquisa. No movimento de contextualização, também
é enfatizada a perspectiva local da pesquisa e são explicados princípios e conceitos
fundamentais para o entendimento do assunto da notícia.
O movimento 2 Destacar os principais resultados da pesquisa
apresenta os principais resultados da pesquisa popularizada na notícia.
O movimento 3 Revisar pesquisas relacionadas ao assunto apresenta
outras pesquisas relacionadas ao assunto da notícia, por meio da referência à
literatura e às limitações da pesquisa prévia.
O movimento 4 Apresentar a pesquisa divulga a pesquisa popularizada,
por meio da referência os autores/pesquisadores que a desenvolveram e da
referência ao objetivo da pesquisa.
O movimento 5 Indicar observações consistentes aponta observações
relevantes, tais como resultados importantes e observações específicas da pesquisa
popularizada.
O movimento 6 Descrever os procedimentos da coleta de dados
apresenta os procedimentos de coleta dos dados, por meio da referência aos
autores, à fonte dos dados e ao tamanho da amostra.
O movimento 7 Descrever os procedimentos experimentais apresenta
os principais procedimentos adotados na pesquisa popularizada.
O movimento 8 Explicar resultados da pesquisa apresenta explicações
acerca dos resultados da pesquisa, por meio da declaração de um resultado
específico, da explicação de princípios e conceitos, da indicação de
comentários/perspectivas, da indicação da significação do resultado principal e do
contraste dos resultados atuais e prévios.
Por fim, o movimento 9 Apontar conclusões da pesquisa apresenta as
conclusões da pesquisa, por meio da indicação de implicações, do encorajamento
de pesquisas futuras e da ênfase na perspectiva local.
Uma análise mais recente (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009) de um gênero
considerado próximo das “versões jornalísticas de artigos acadêmicos” analisadas
por Nwogu (1991), a notícia de PC, aponta que estas apresentam seis movimentos
retóricos (Quadro 3).
30
Movimentos e passos
Elementos recursivos
Move 1 LIDE/Conclusão da pesquisa
(previsão)
A Alternância de vozes (para comentários e
opiniões mais positivas ou negativas) que pode
incluir, além da voz do próprio Jornalista que
subjaz a toda notícia de PC, a voz do ou de
um/a:
a. Cientista/pesquisador (ou
metaforicamente do estudo);
b. Colega/Técnico/Instituição;
c. Governo;
d. Público.
B Explicação de princípios e conceitos (por
meio de recursos de reescritura como aposto,
glosa e metáfora).
Move 2 Apresentação da pesquisa por:
a. identificação dos pesquisadores (ou)
b. detalhamento dos resultados (e)
c. referência ao objetivo da pesquisa (ou)
d. alusão ao artigo científico publicado
(ou à tese/dissertação)
Move 3 Referência a conhecimento prévio
(contextualização) por:
a. referência ao conhecimento
estabelecido na área
b. ênfase na perspectiva social
c. alusão a pesquisas prévias
d. indicação das limitações no
conhecimento estabelecido
Move 4 Descrição da metodologia por:
a. identificação do procedimento
experimental
b. referência aos dados (fonte,
amplitude, data, local, categoria)
Move 5 Explicação dos resultados da
pesquisa por:
a. exposição dos resultados
b. comparação das pesquisas atuais
eanteriores quanto a/à:
(1) conhecimento estabelecido
(2) metodologia utilizada
(3) resultados obtidos
Move 6 Indicação de conclusões da
pesquisa por:
a. menção a implicações da pesquisa
b. sugestão de futuras pesquisas
c. ênfase na perspectiva local
d. indicação das limitações da pesquisa
popularizada
Quadro 3 Representação esquemática da organização retórica de notícias de PC
em inglês e português (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 246).
Para elaborar essa representação, Motta-Roth e Lovato (2009) analisaram 15
notícias da BBC News (corpus em inglês do projeto guarda-chuva) e 15 da Ciência
Hoje (corpus em português desse projeto), com base na Análise de Gênero
(SWALES, 1990; 2004), e partiram da descrição proposta por Nwogu (1991). No
entanto, diferentemente da proposta de Nwogu (1991), a representação proposta
pelas pesquisadoras é composta por movimentos e passos (coluna da esquerda no
Quadro 3) e elementos recursivos (coluna da direita no Quadro 3), ou seja, que
aparecem mais de uma vez no texto, sem seguir uma ordem rígida (HASAN, 1989,
31
p. 56). Na coluna da esquerda, o movimento 1 LIDE/Conclusão da pesquisa
apresenta as principais conclusões da pesquisa.
O movimento 2 Apresentação da pesquisa expõe a pesquisa
popularizada propriamente dita, ao identificar os pesquisadores que a
realizaram/detalhar os resultados e fazer referência ao objetivo da pesquisa ou
então ao fazer alusão ao artigo científico em que a pesquisa foi inicialmente
publicada (ou à tese/dissertação, no caso das notícias publicadas em português).
O movimento 3 Referência a conhecimento prévio contextualiza a
pesquisa, por meio da referência ao conhecimento prévio, da ênfase na perspectiva
social da pesquisa, da alusão a outras pesquisas prévias realizadas e da indicação
das limitações no conhecimento estabelecido.
O movimento 4 Descrição da metodologia apresenta a metodologia
adotada na pesquisa popularizada, por meio da identificação do procedimento
experimental e da referência aos dados.
O movimento 5 Explicação dos resultados da pesquisa destaca os
resultados da pesquisa ao expor os resultados e comparar as pesquisas atuais e
prévias quanto ao conhecimento estabelecido, à metodologia utilizada e aos
resultados obtidos.
O movimento 6 Indicação de conclusões da pesquisa apresenta as
principais conclusões da pesquisa, por meio da menção a implicações da pesquisa,
da sugestão de futuras pesquisas, da ênfase na perspectiva local e da indicação das
limitações da pesquisa popularizada.
Na coluna da direita, há dois elementos recursivos que não haviam sido
identificados por Nwogu em meados de 1990: a alternância de vozes (do jornalista,
do cientista/pesquisador, do colega/técnico/instituição, do governo e do público
(elemento recursivo A)) e a explicação de princípios e conceitos (elemento recursivo
B).
Desse modo, o estudo de Motta-Roth e Lovato (2009), assim como outros
estudos do GT-LABLER sobre o gênero notícia de PC (MARCUZZO, 2008;
MARCUZZO; MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010), destacam que várias vozes são mencionadas ao longo desses
textos. Assim, nas notícias de PC, “o jornalista não desempenha mais o papel de
mediador entre o cientista e o público: ele constrói a informação a partir de vários
discursos” (BEACCO et al., 2002, p. 281). Desse modo, vários saberes entram em
32
cena na mídia, os quais não provêm necessariamente de comunidades científicas
(os próprios pesquisadores responsáveis pela pesquisa reportada ou outros colegas
pesquisadores), mas de diversas procedências: “dos indivíduos afetados por
problemas de várias naturezas, dos especialistas não científicos, dos leitores, das
famílias, de grupos como os idosos, os adolescentes, os homens, as mulheres ou
outros segmentos sociais” (NUNES, 2003, p. 45).
Com a presença de várias vozes em artigos de PC, Moirand (2003, p. 197)
afirma que, no contexto midiático francês, os jornalistas têm atuado como
mobilizadores de debates públicos. Consequentemente, esses textos têm
desempenhado uma função social importante, ao permitirem um maior engajamento
dos sujeitos nas conversações correntes (conversations, nos termos de Gee (2000,
p. 13)) na sociedade e ao conscientizarem o público acerca do impacto da ciência na
vida cotidiana (MEDEIROS, 2003, p. 90).
Dessa forma, a análise do objetivo comunicativo, do conteúdo e da
organização retórica do gênero notícia de PC apresentada nesta seção indica que a
notícia de PC se diferencia do gênero notícia jornalística propriamente dita em pelo
menos dois pontos: o objetivo comunicativo e o conteúdo. A notícia jornalística tem
como objetivo relatar “um fato novo” (FRANCESCHINI, 2004, p. 148). Portanto, a
notícia não é o evento em si, mas o relato de um evento (CALDAS-COULTHARD,
1997, p. 35). Em termos de conteúdo, a notícia jornalística cobre os mais variados
assuntos, como política, economia, acontecimentos e esporte (Ibid., p. 36-7). No
entanto, pontos de contato entre esses dois gêneros. A notícia jornalística
apresenta uma estrutura semelhante à estrutura da notícia de PC, conforme
apresentada por MOREIRA e MOTTA-ROTH (2008), uma vez que também é
composta pelo título, pelo lide, pelo evento central, pelo contexto, pelos eventos
prévios, pelas consequências/reações, pelas expectativas e pela avaliação (VAN
DIJK, 1988 apud BONINI, 2009, p. 208). Além disso, outro ponto de contato entre os
dois gêneros é a presença de vozes que se manifestam sobre o assunto
apresentado na notícia de PC e na notícia jornalística. A discussão acerca da
presença de vozes especificamente no gênero notícia de PC será aprofundada na
próxima seção.
33
1.4 As vozes em notícias de PC
Em algumas publicações, produzidas na fase inicial do projeto guarda-chuva
(MOTTA-ROTH, 2007) que abarca esta tese de doutoramento, denominamos o
fenômeno das vozes nas notícias de PC de polifonia (ver, por exemplo,
MARCUZZO; MOTTA-ROTH, 2008; MOREIRA; MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-
ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH; GERHARDT; LOVATO, 2008; PRATES et al.,
2008). Em outras, produzidas posteriormente, nos referimos a esse fenômeno como
“A alternância de vozes semelhante à polifonia” (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p.
247) ou Semelhantemente à polifonia proposta por Bakhtin (2008) (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 517). A oscilação acerca da denominação desse fenômeno
indica que parece não haver consenso em relação ao modo como este deve ser
denominado e, em vista disso, é importante discorrer sobre isso, uma vez que o
tópico deste estudo é justamente as vozes em notícias de PC. No presente trabalho
e, mais especificamente, nesta seção, argumento que, de fato, o termo polifonia,
conforme proposto por Bakthin, parece não encapsular o fenômeno das vozes
encontrado nas notícias de PC. O argumento se baseia, principalmente, na análise
de Problemas da poética de Dostoiévski (BAKTHIN, 2008), obra em que Bakhtin
introduz o conceito de polifonia, e também em Faraco (2008) e Brait (comunicação
pessoal
3
).
Em Problemas da poética de Dostoiévski, Bakhtin (2008) faz uma crítica
original à obra desse romancista, contrapondo-se aos críticos anteriores de
Dostoiévski e destacando que nenhum deles teria sido capaz de enxergar aquilo que
realmente poderia distinguir a obra de Dostoiévski e que seria a sua grande
contribuição para a arte do romance: a polifonia. Esse termo foi retirado por Bakhtin
(Ibid., p. 48) do contexto da Música.
Na linguagem musical, o termo diz respeito a um conjunto de vozes ou
instrumentos que, juntos, compõem harmonicamente uma determinada
linha melódica e rítmica, em contraste à monofonia, na qual existe apenas
uma voz ou, se outras, elas seguem a principal ou fazem linhas
melódicas para floreá-la, sem fazer, entretanto, qualquer contraponto
(GOMES; FERRAZ, 2010, p. 3).
3
No Curso de Atualização Leitura e análise dialógica de textos”, ministrado no Centro Universitário
Franciscano (UNIFRA), em Santa Maria, Rio Grande do Sul, no período de 9 a 11 de setembro de
2009.
34
Bakhtin recontextualizou o termo polifonia para se referir ao modo como as
personagens de Dostoiévski são construídas em suas obras. Para ele (BAKTHIN,
2008, p. 5), as personagens principais do romancista são, em realidade, não
apenas objetos do discurso do autor mas os próprios sujeitos desse discurso
diretamente significante [Grifo do autor]. Desse modo, as obras de Dostoiévski
marcam
O surgimento de um herói cuja voz se estrutura do mesmo modo como se
estrutura a voz do próprio autor no romance comum. A voz do herói sobre si
mesmo e o mundo é tão plena como a palavra comum do autor; não está
subordinada à imagem objetificada do herói como uma de suas
características mas tampouco serve de intérprete da voz do autor. Ela
possui independência excepcional na estrutura da obra, é como se soasse
ao lado da palavra do autor, coadunando-se de modo especial com ela e
com as vozes plenivalentes de outros heróis (BAKTHIN, 2008, p. 5).
A polifonia pressupõe uma multiplicidade de vozes e de mundos em conflito
(Ibid., 38-9) e sua essência reside no fato de que essas vozes permanecem
independentes no discurso (Ibid., p. 23). Essas vozes são “representantes de um
determinado universo e marcadas pelas peculiaridades desse universo” (BEZERRA,
2008, p. 195). Nesse caso, o autor seria então um orquestrador nesse universo
plural, tendo as vozes liberdade para concordar ou discordar dele” (GOMES;
FERRAZ, 2010, p. 3).
Bakhtin (2008, p. 39) afirma que apenas Dostoiévski pode ser reconhecido
como criador da autêntica polifonia” e, ao analisar as obras de Balzac e
Shakespeare, complementa essa ideia, destacando que nessas obras pode-se falar
de “elementos ou embriões de polifonia”, mas não de polifonia propriamente dita.
Trazendo a discussão para o campo jornalístico, Gomes e Ferraz (2010, p. 4)
defendem a ideia de que se “o ‘conjunto da obra’ das mídias tivesse um caráter
semelhante ao romance de Dostoiévski”, o conceito de polifonia talvez pudesse ser
adotado na análise de textos jornalísticos. Eles complementam essa ideia ao
afirmaram que
O campo jornalístico trabalha numa outra lógica, às vezes totalmente
oposta. Em vez de personagens fictícios e uma realidade imaginária, a
imprensa elabora os seus discursos com entrevistados de “carne e osso” e
fatos ligados à realidade social. Além disso, o jogo de vozes não se
assemelha à polifonia observada no romance de Dostoiévski, embora
pareça à primeira vista. Ou seja, as vozes não participam do diálogo da
matéria em pé de igualdade absoluta. Em vez disso, parece haver um
35
centro de sentido subjacente que regula de forma sutil a interação das
vozes, definindo tempo, espaço e falas pré-determinadas (Ibid.).
Faraco (2008, p. 48) destaca ainda outra questão: depois de apresentar o
conceito de polifonia em Problemas da poética de Dostoiévski,
Bakhtin nunca voltou (salvo em observações esparsas em seus
apontamentos) a essa discussão. Ele sequer enquadrou o conceito de
polifonia na sua teoria do romance da década de 1930. O conceito ficou
como que em suspenso, valendo aparentemente apenas para a relação
autor/herói nos grandes romances de Dostoiévski.
Em vista disso, Faraco (Ibid., p. 49) aponta que “o termo vale hoje mais pela
sedução derivada de livres associações do que como categoria coerente de um
certo arcabouço teórico”. De fato, ao revisar pesquisas prévias acerca da
multiplicidade de vozes em diferentes gêneros de PC (MARCUZZO, 2009),
identifiquei que estas nomeiam esse fenômeno de modos diferentes e fazem livres
associações para o termo. Beacco et al. (2002), por exemplo, se referem ao
fenômeno como pluralidade de vozes (p. 283). Calsamiglia e Ferrero López
(2003) se referem a várias vozes (polifonia) (p. 153) e utilizam como referência
para seu estudo a obra de Ducrot (1984), e não Bakhtin. Moirand (2003), assim
como Calsamiglia e Ferrero López (2003), também se refere a “diferentes vozes” (p.
204) como sinônimo de polifonia, sem explicar o conceito de polifonia adotado em
sua pesquisa. Por fim, Oliveira (2005) e Oliveira e Pagano (2006) se referem a esse
fenômeno como “diferentes vozes” (p. 59 e p. 629, respectivamente), sem mencionar
o termo polifonia. Além disso, Brait (comunicação pessoal, em 11/09/2009)
argumenta que o termo polifonia se popularizou e foi apropriado para diferentes fins
e provavelmente o que ocorre, em gêneros jornalísticos, não é a polifonia de
Bakhtin.
Assim sendo, essa breve revisão revela que realmente não consenso em
torno do uso do termo polifonia para nomear o fenômeno da multiplicidade de vozes.
Uma vez que neste trabalho busco 1) verificar a presença das posições enunciativas
em exemplares de notícias de PC publicados em Língua Inglesa; e 2) identificar e
interpretar o papel dessas posições enunciativas para a construção do sentido da
notícia de PC, a avaliação das descobertas científicas e a constituição do gênero
notícia de PC, o me preocuparei em nomear esse fenômeno de polifonia, e sim
identificá-lo e compreendê-lo, para depois talvez nomeá-lo.
36
Neste trabalho, o fenômeno da multiplicidade de vozes nas notícias de PC é
entendido a partir de dois conceitos-chave: o conceito de voz de Mey (2001),
adotado por Oliveira (2005), e de posições enunciativas, proposto por Beacco et al.
(2002) e Moirand (2003). A voz é “um personagem societal que representa alguma
função e algum interesse dentro da comunidade” (MEY, 2001, p, 239) e “expressa o
modo como está organizada a posição do personagem na sociedade” (Ibid., p, 80).
“Uma voz pressupõe um papel [role] (cf. latim rotula
4
), um personagem; portanto,
uma atividade, uma ação” (Ibid., p. 19). As vozes são os “instrumentos constitutivos
sobre os quais se funda, em última instância, a orquestração da sociedade” (Ibid., p.
27). Esse conceito é dialético, a ser compreendido como algo que é dado pela
produção individual e social e ao mesmo tempo dela emerge” (Ibid., p. 239). A
posição enunciativa é o “lugar de dizer no discurso” (MUTTI; AXT, 2008, p. 353), ou
seja, corresponde à posição que uma única voz ou um conjunto de vozes ocupa nos
discursos correntes na sociedade. A relação entre esses dois conceitos é estreita,
na medida em que uma voz ou um então um conjunto de vozes pode ser associado
a uma determinada posição enunciativa. Assim, neste trabalho, adoto o termo voz
para me referir a um “personagem” específico nesse discurso, por exemplo, Dr.
Sarah Palmer (BBC#2), e adoto o termo posição enunciativa para me referir à
posição que essa personagem ocupa no discurso reproduzido na notícia de PC, ou
seja, se o discurso dela é de uma pesquisadora que coordenou o estudo ou então
de uma pesquisadora que não se envolveu com o estudo.
O fenômeno da multiplicidade de vozes em gêneros de PC foi investigado por
vários pesquisadores a partir de diferentes perspectivas. Dentre eles, pode-se citar:
Calsamiglia e Ferrero López (2003) e Oliveira e Pagano (2006). O primeiro estudo
buscou determinar a presença e a função do conhecimento científico em razão da
deflagração da doença da vaca louca na Europa e explorar o papel da informação
científica por meio da análise do discurso reportado utilizado pelos jornalistas. Para
tanto, foram investigados textos sobre o tema publicados em várias mídias, em
espaços de tempo diferentes. As pesquisadoras concluíram que as vozes científicas
tiveram menor espaço na mídia que as vozes políticas (CALSAMIGLIA; FERRERO
LÓPEZ, 2003, p. 170). Além disso, as autoridades científicas representadas
4
A revisora da tradução do livro de Jacob Mey intitulado As vozes da sociedade: seminários de
pragmática esclarece o seguinte: “o autor sugere que se confira o latim rotula em relação ao original
inglês role (papel)”.
37
individualmente (VAN LEEUWEN, 1996; 2008) nos textos estavam em uma posição
inferior às autoridades científicas representadas em classe ou àquelas que
desempenhavam um papel administrativo/cívico (CALSAMIGLIA; FERRERO
LÓPEZ, 2003, p. 70). Os jornalistas atribuíram uma postura neutra ou de
popularização aos cientistas representados individualmente e uma posição polêmica
aos cientistas representados em classe (Ibid.). Já os agentes sociais com uma
função política tiveram uma posição positiva na mídia (Ibid.). Isso aconteceu porque,
naquele momento, a ciência o tinha respostas imediatas para necessidades
sociais (Ibid.).
Oliveira e Pagano (2006) investigaram o modo como o artigo acadêmico e
a notícia de PC são construídos a partir da presença de diferentes vozes,
procurando identificar características similares e idiossincráticas de cada gênero na
representação do discurso direto (DD). As pesquisadoras identificaram que o DD
associado ao verbo de relato é mais frequente em notícias de PC que em artigos
acadêmicos.
Os estudos desenvolvidos dentro do projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH,
2007) apresentam resultados acerca das vozes no gênero notícia de PC. O trabalho
de Prates et al. (2008), realizado no segundo semestre de 2008, com 15 notícias
publicadas pela BBC News, apontou, na representação esquemática das notícias de
PC, que esses textos apresentavam várias vozes, as quais marcavam cinco
posições enunciativas:
1) jornalista;
2) pesquisador;
3) colega pesquisador;
4) técnico; e
5) público.
Em uma análise realizada no segundo semestre de 2008, os dados foram
confrontados, e os mesmos textos foram analisados novamente. A partir disso,
foram produzidos os seguintes trabalhos: Marcuzzo e Motta-Roth (2008) e Motta-
Roth et al. (2008), os quais destacaram, além das cinco posições enunciativas
identificadas em Prates et al. (2008), mais uma posição enunciativa: o governo. O
trabalho de Motta-Roth, Gerhardt e Lovato (2008), também realizado no 2º semestre
de 2008, indicou uma possível junção da posição enunciativa de colega com a
posição enunciativa de técnico, “indicando os comentários provenientes do âmbito
38
técnico-científico” (p. 10). Essa mudança foi efetivada no artigo publicado por Motta-
Roth e Lovato (2009), o qual apresenta a representação esquemática da
organização retórica de notícias de PC, sendo destacadas cinco posições
enunciativas:
1) cientista/pesquisador (ou metaforicamente o estudo);
2) colega/técnico/instituição;
3) governo;
4) público; e
5) jornalista.
O cientista/pesquisador é o responsável pela realização do estudo reportado
na notícia de PC. Geralmente, os estudos reportados foram realizados por uma
equipe, então o cientista/pesquisador mencionado no texto é o coordenador ou
então o autor principal ou coautor do artigo no qual o jornalista se baseou para
escrever a notícia. Na posição enunciativa colega/técnico/instituição, o colega é
aquele pesquisador que não tem relação direta com o estudo, pois não participou da
sua realização, então sua função parece ser a de um “avaliador externo” do estudo
reportado. Nessa mesma posição enunciativa, foi reunida a voz do técnico,
profissional menos especializado, por exemplo, um nutricionista ou então o
executivo-chefe de uma determinada instituição que também atua como um
avaliador externo do estudo reportado. Nesse mesmo grupo, foi incluída também a
instituição, que representa a voz institucional de hospitais, associações, sindicatos,
instituições de caridade, etc. mencionados nos textos. A posição enunciativa do
governo representa a administração central de um determinado país ou a
administração local, dependendo do assunto reportado. O público representa a
população em geral, que não atua como realizador do estudo nem é um especialista,
tal como o colega/técnico/instituição, mas tem alguma relação com o assunto do
estudo reportado na notícia de PC, sendo direta ou indiretamente afetado pelo
estudo. O jornalista é aquele que escreve a notícia de PC, sendo o responsável por
orquestrar os discursos das quatro posições enunciativas mencionadas
anteriormente.
As análises realizadas no final de 2008 e em 2009 (MARCUZZO, 2009;
MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010) com os mesmos 15 textos da BBC News e mais
15 textos da Scientific American confirmam que há várias vozes nesses textos,
marcando as cinco posições enunciativas identificadas: cientista/pesquisador;
39
colega/técnico/instituição; governo; público; e jornalista. Além disso, Motta-Roth
(2009a), no primeiro semestre de 2009, identificou o modo como a posição
enunciativa do jornalista se revela nas notícias de PC, o que até então não havia
sido identificado. Para Motta-Roth (Ibid., p. 182-183), a presença do jornalista
nesses textos é
demarcada linguisticamente em certos pontos de alguns dos textos do
corpus (como da Sci Am, por exemplo). Sua voz é ouvida apenas por meio
da interpelação do leitor, sinalizada por vocativo (couch potatoes) ou uma
preposição complexa como By the way, ambos associados a interpelação e
interação oral, respectivamente (Motta-Roth, 2009a). A interpelação
também é marcada pelo modo verbal imperativo (try) e pelo uso de
pronome de pessoa (you/your). Assim, ao dar ciência da existência do
leitor, o jornalista se mostra para o público, revelando assim sua posição
enunciativa em relação ao leitor (Ibid.).
O jornalista apresenta comentários e opiniões de segmentos da sociedade
que mantêm alguma relação com o tema da pesquisa reportada, conforme ilustra o
Quadro 4.
Posições
enunciativas
Exemplos retirados do corpus
Pesquisador
(BBC#5) Professor Malcolm Dunlop, at the Institute of Genetics and Molecular
Medicine at the University of Edinburgh and who led the research, said: "This is the
first time that a race-specific effect has been found for a genetic marker.
(SCIAM#5) The key to the discovery was applying the pure math concept of mean
width, which is trickier to measure than its cousins surface area and volume,
says materials scientist David Srolovitz of Yeshiva University in New York City,
who, along with mathematician Robert MacPherson of the Institute for Advanced
Study in Princeton, N.J., published the finding online today in Nature.
Pesquisador
colega/técnico/
instituição
(BBC#10) Fellow researcher James Joseph of Tufts University said the effect was
likely to be the same in humans.
(SCIAM#10) "We hypothesize that there must be a source population, that it might
be in the tropics," he says [Eddie Holmes, a biologist at Pennsylvania State
University], "and that's where you should concentrate monitoring and surveillance."
Governo
(BBC#4) A UK government spokesman said of the Bright findings: "It's valuable
research, and complements the Farm-Scale Evaluations.
(SCIAM#4) Kathleen Kelly, a cancer biologist at NCI, is optimistic that the work will
enhance understanding of the basic mechanism of the disease.
Público
(BBC#4) More than half of Britons who took part in the "GM Nation" survey last
year said GM crops should never be introduced in the UK under any
circumstances.
Jornalista
(SCIAM#4) By the way, don't expect the prostate-making mice to spark
regeneration schemes for the reproductive gland.
Quadro 4 Posições enunciativas identificadas (adaptado de MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 525).
40
Essas posições enunciativas se manifestam em diversas vozes. Nas Tabelas
1 e 2, apresento a ocorrência e a distribuição dessas cinco posições enunciativas
nos textos da BBC News e da Scientific American, respectivamente.
Tabela 1 Posições enunciativas nos textos da BBC News (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 526).
Texto
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
TOTAL
(N.)
BBC#1
+
+
+
-
-
3
BBC#2
+
+
-
-
-
2
BBC#3
+
+
-
+
-
3
BBC#4
+
+
+
+
-
4
BBC#5
+
+
-
-
-
2
BBC#6
+
+
-
-
-
2
BBC#7
+
+
-
-
-
2
BBC#8
+
+
-
-
-
2
BBC#9
+
+
-
-
-
2
BBC#10
+
+
-
-
-
2
BBC#11
+
+
-
-
-
2
BBC#12
+
+
-
-
-
2
BBC#13
+
+
+
-
-
3
BBC#14
+
-
+
-
-
2
BBC#15
+
+
+
-
-
3
41
Tabela 2 Posições enunciativas nos textos da Scientific American (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 526).
Texto
Pesquisador
Pesquisador-
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
TOTAL
(N.)
SCIAM#1
+
-
-
-
-
1
SCIAM#2
+
+
-
-
-
2
SCIAM#3
+
+
+
-
-
3
SCIAM#4
+
+
+
-
+
4
SCIAM#5
+
+
-
-
-
2
SCIAM#6
+
-
-
-
-
1
SCIAM#7
+
-
-
-
-
1
SCIAM#8
+
+
-
-
-
2
SCIAM#9
+
+
-
-
-
2
SCIAM#10
+
+
+
-
+
4
SCIAM#11
+
-
-
-
+
2
SCIAM#12
+
-
-
-
+
2
SCIAM#13
+
+
-
-
+
3
SCIAM#14
+
+
-
-
-
2
SCIAM#15
+
+
-
-
+
3
As Tabelas 1 e 2 indicam que os 30 textos (100%) apresentam a posição
enunciativa de pesquisador responsável pelo estudo. A posição enunciativa de
pesquisador colega/técnico/instituição também é bastante recorrente nesse corpus,
uma vez que foi identificada em 24 textos (80%). Em menor proporção, aparecem a
posição do governo, mencionada em oito textos (26,66%), e depois a posição
enunciativa do jornalista, que se revela em seis textos (20%) da Scientific American.
A posição enunciativa do público é a que menos aparece, mais especificamente, em
apenas dois textos (6,66%).
Conforme indicado em Marcuzzo e Motta-Roth (2008), as vozes se
manifestam linguisticamente nos textos analisados por meio de dois nexos
oracionias principais (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 444-452):
42
1) pelo nexo de projeção hipotática (relato) (Dr Michael Hastings […] said the
study results were "spectacular".); ou
2) pelo nexo de projeção paratática (citação), como em And Dr Mark Avery
[…] said: "This research tells us nothing about the impacts GM will have on
wildlife).
Além disso, as análises realizadas indicaram que as vozes são introduzidas,
nas notícias de PC, predominantemente pelo processo say. No entanto, outros
processos verbais que introduzem essas vozes, os quais podem ser agrupados em
três tipos, conforme a proposta de Halliday (1994, p. 252):
1) verbos específicos para declarações e perguntas;
2) verbos relacionados ao verbo say com algum elemento circunstancial; e
3) verbos com conotações variadas.
No Quadro 5, apresento os processos verbais identificados no corpus.
Tipos de processos
Processos identificados no corpus
Verbos específicos para
declarações e perguntas
announce, make claims, note, point (to), report, reveal, show,
suggest, tell
Verbos relacionados ao
verbo say com algum
elemento circunstancial
add (say in addition), explain (say in explanation), predict (say in
advance), promise (say in compromise), recommend (say positively),
stress (say emphatically), warn (say undesirable consequences),
welcome
Verbos com conotações
variadas
write
Quadro 5 Processos verbais nos textos do corpus (MOTTA-ROTH; MARCUZZO,
2010, p. 528).
As vozes também o introduzidas por processos mentais e relacionais. No
Quadro 6, apresento os processos mentais e relacionais identificados.
Tipos de processos
Exemplos retirados do corpus
Mentais
admit, agree, believe, concede, conclude, estimate, find, speculate
Relacionais
have, indicate, is
Quadro 6 Processos mentais e relacionais nos textos do corpus (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 529).
43
Ao associarmos processos utilizados para introduzir vozes com suas
respectivas posições enunciativas (Quadro 7), foi possível vislumbrarmos a função
dessas vozes para a construção do sentido do texto.
Posições enunciativas
Processos associados
Pesquisador
add, admit, announce, believe, concede, conclude, estimate,
explain, find, indicate, note, point to, predict, report, reveal, say,
show, speculate, suggest, tell, warn, write
Pesquisador
colega/técnico/instituição
add, agree, announce, argue, explain, have (a more blunt
assessment), is (skeptical), note, point to, recommend, report, say,
stress, tell, warn, welcome
Governo
add, (seem) to agree, announce, argue, indicate, is (optimistic),
promise, say, warn
Público
say
Quadro 7 Relação entre posições enunciativas e processos (adaptado de MOTTA-
ROTH; MARCUZZO, 2010, p. 530).
Assim, as funções do pesquisador, nas notícias de PC, são:
a) anunciar a pesquisa: Size may not be everything when it comes to brain
evolution, say experts (BBC#6);
b) explicar o estudo: We had been studying the area of land that would be
available to grow crops for energy and we were curious to discover ...,"
explains environmental engineer Elliott Campbell of the University of
California, Merced, who led the study (SCIAM#3);
c) fazer advertências: She [Researcher Dr Sarah Palmer] also warned that
failing to take prescribed medication raised the risk that HIV could begin to
develop resistance, rendering future treatment less effective (BBC#2); ou
então
d) oferecer ao público as conclusões obtidas: The project concluded that the
GM varieties, used in this way, did not deplete the soil of weed seeds needed
by many birds and other wildlife (BBC#4).
Já ao pesquisador colega/técnico/instituição cabe:
a) avaliar a pesquisa reportada (have a more blunt assessment, is skeptical
that): A spokesman for the charity Bowel Cancer UK also welcomed the
findings (BBC#5);
44
b) explicar a pesquisa: These experiments show that, practically, it will be
very difficult to grow GM with non-GM - the issue of co-existence," FoE's Clare
Oxborrow explained (BBC#4); e
c) fazer advertências: Dr David Haslam, clinical director of the National
Obesity Forum, warned that it could take many years to develop genetic
treatments for obesity (BBC#7) e recomendações (recommend): Guidance
from the National Institute for Health and Clinical Excellence (NICE) in 2001
recommended donepezil, rivastigmine and galantamine should be used as
standard.
O governo, por sua vez, usa o espaço na mídia para:
a) debater a pesquisa: The Obama administration seems to agree, granting
$786 million in 2009 for biofuels research (SCIAM#3);
b) fazer anúncios à população a partir dos resultados da pesquisa
popularizada: Following the FSE results, Environment Secretary Margaret
Beckett announced that companies wishing to bring GM crops into the UK
would have to go through a long approval process (BBC#4); e também
c) fazer promessas e advertências à população e avaliar os resultados da
pesquisa: Kathleen Kelly, a cancer biologist at NCI, is optimistic that the work
will enhance understanding of the basic mechanism of the disease. But she
warns that "it is still hard to say what this work means for therapy," because
the function of CD117 is not yet known (SCIAM#4).
Por fim, com menor espaço nas notícias e uma posição mais tímida, o público
tem a função de:
a) declarar suas opiniões acerca do assunto da notícia de PC: More than
half of Britons who took part in the "GM Nation" survey last year said GM
crops should never be introduced in the UK under any circumstances
(BBC#4).
As posições enunciativas ajudam a textualizar os três eixos do processo de
PC apontados por Motta-Roth (2009b):
1) o dever dos meios de comunicação (mais e menos acadêmicos) de
informar a sociedade sobre o avanço do conhecimento;
45
2) a responsabilidade do mediador (seja jornalista ou autor de livros) em
explicar princípios e conceitos para que a sociedade avance na
transformação conjunta do conhecimento; e
3) a necessidade de a sociedade entender a relevância da pesquisa
para que continue financiando a empreitada científica (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 518).
Os comentários do pesquisador responsável pelo estudo textualizam os três
eixos do processo de PC [..]
as declarações do colega vão na direção dos eixos 2 e 3 porque a
pesquisa não é noticiada pela voz do colega, mas apenas examinada
externamente. O jornalista busca a voz do governo para conectar a
pesquisa às condições concretas do mundo da vida em sociedade. Ao
público, cabe uma posição ainda tímida no discurso de popularização
científica corrente (MARCUZZO, 2009), demonstrando a hegemonia da voz
da ciência e a pouca penetração da perspectiva popular na análise da
relevância das pesquisas para a sociedade (MOTTA-ROTH; MARCUZZO,
2010, p. 532).
Estes e outros resultados de estudos desenvolvidos dentro do projeto guarda-
chuva e de outros estudos prévios apresentados nesta seção serão confrontados
com os resultados da análise do corpus como um todo (as 60 notícias de PC) no
capítulo de Resultados e Discussão.
As quatro primeiras seções deste capítulo tiveram como objetivos delinear o
enfoque deste estudo (o processo de PC) e apresentar o gênero e o tópico do
estudo (as vozes nas notícias de PC). As próximas duas seções são dedicadas a
explorar o enfoque teórico-metodológico que fundamenta esta pesquisa. Na próxima
seção, apresento as principais contribuições da Análise Crítica de Gênero,
abordagem teórico-metodológica que fundamenta o projeto guarda-chuva e este
trabalho.
1.5 A Análise Crítica de Gênero
A Análise Crítica de Gênero, proposta inicialmente por Meurer (2002; 2003
5
;
2005)
6
e defendida por Bhatia (2004) e Motta-Roth (2005; 2008c), dentre outros
5
Não tive acesso a esse texto, que se trata do projeto de pós-doutorado do professor José Luiz
Meurer intitulado Análise crítica de gêneros textuais: texto e contexto a partir da lingüística sistêmico-
46
pesquisadores, combina aportes de diferentes fontes para o estudo da linguagem.
Neste trabalho, adoto a perspectiva proposta por Motta-Roth (2008c), a qual
combina aportes de três fontes principais: Análise Sócio-histórica do Discurso
7
,
Análise Crítica do Discurso e Sócio-retórica (Ibid.) (Figura 2).
Figura 2 Fontes da Análise Crítica de Gênero (MARCUZZO, 2010).
Cada uma dessas três fontes oferece contribuições para a realização desta
pesquisa. A primeira fonte, a Análise Sócio-histórica do Discurso, cujo maior
representante é Bakhtin, é adotada por oferecer subsídios para a análise dos textos
como exemplares de práticas discursivas socialmente situadas (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 520). a Análise Crítica do Discurso, principalmente a partir
dos trabalhos de Fairclough (1992; 2003) e de van Leeuwen (1996; 2008), é adotada
por oferecer subsídios teórico-metodológicos para uma análise do discurso crítica,
com vistas não apenas a descrever as práticas discursivas, mas também mostrar
como o discurso é condicionado por ideologias e relações de poder (CALDAS-
COULTHARD, 2008, p. 28). Por fim, a Sócio-retórica será adotada neste trabalho
funcional com ênfase no componente sociológico da linguagem, mas o título faz menção a sua
proposta de Análise Crítica de Gênero, por isso incluí essa referência aqui.
6
Agradeço ao colega bio Santiago Nascimento (UFSM/PPGL/LABLER), pela indicação dessas
duas referências.
7
Análise Sociológica ou Análise Sócio-histórica do Discurso são alguns dos termos utilizados por
diferentes pesquisadores para referência à análise do discurso na perspectiva de Bakhtin. Neste
trabalho, adoto o termo Análise Sócio-histórica do Discurso.
47
por oferecer subsídios teórico-metodológicos para a análise da linguagem como
exemplar de um gênero, a partir da perspectiva da Análise de Gênero, conforme
proposta por Bhatia (1993) e Swales (1990; 2004).
Nas próximas três subseções, passo a explorar mais detalhadamente a
contribuição de cada uma dessas fontes para o presente trabalho, destacando as
principais contribuições teórico-metodológicas destas para o estudo da linguagem.
Na próxima seção, apresento a contribuição da Análise Sócio-histórica do Discurso.
1.5.1 A Análise Sócio-histórica do Discurso
A partir da Análise Sócio-histórica do Discurso, os gêneros são definidos
como “tipos relativamente estáveis de enunciados” (BAKHTIN, 2003, p. 262). Estes
são infinitos porque “são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade
humana e porque, em cada campo dessa atividade, é integral o repertório de
gêneros do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se
complexifica um determinado campo” (Ibid.). O discurso, por sua vez, é entendido
como
a língua em sua integridade concreta e viva e não a língua como objeto
específico da linguística, obtido por meio de uma abstração absolutamente
necessária de alguns aspectos da vida concreta do discurso. Mas são
justamente esses aspectos, abstraídos pela linguística, os que têm
importância primordial para nossos fins (BAKHTIN, 2008, p. 207).
Para Bakhtin, a verdadeira substância da língua é constituída justamente nas
relações sociais, via interação verbal, realizada por meio da enunciação ou das
enunciações (Ibid., p. 123). A partir disso, o discurso (a língua em sua integridade
concreta e viva) o é individual porque se constrói entre, pelo menos, dois
interlocutores, seres sociais; e se constrói como um “diálogo entre discursos”, ou
seja, mantém relações com outros discursos que o precederam (BARROS, 1996, p.
33). A língua vista como discurso não pode ser dissociada de seus falantes e de
seus atos, das esferas sociais, dos valores ideológicos (RODRIGUES, 2005, p. 156).
Desse modo, a ordem metodológica para o estudo da língua/do discurso, de acordo
com Bakhtin (1981, p. 93), deve ser a seguinte:
48
1. As formas e os tipos de interação verbal em ligação com as condições
concretas em que se realiza.
2. As formas das distintas enunciações, dos atos de fala isolados, em
ligação estreita com a interação de que constituem os elementos, isto é, as
categorias de atos de fala na vida e na criação ideológica que se prestam a
uma determinação pela interação verbal.
3. A partir daí, exame das formas da língua na sua interpretação linguística
habitual.
Portanto, para Bakhtin, o estudo da linguagem deve estar relacionado ao
contexto social em que a linguagem se processa e deve levar em conta as relações
sociais e ideológicas envolvidas na prática discursiva. De fato, a ordem
metodológica para o estudo da língua/do discurso é uma importante contribuição de
Bakhtin para os estudos da linguagem, pois, conforme afirma Faraco (1996, p. 121),
Bakhtin é considerado o primeiro pensador contemporâneo a tratar e analisar a
linguagem sem a necessidade de divorciá-la da materialidade da vida social.
Além dos conceitos de gênero e discurso e da ordem metodológica para o
estudo da língua/do discurso, outros conceitos da Análise Sócio-histórica do
Discurso são pertinentes para o desenvolvimento deste trabalho, tais como
dialogismo, intertextualidade e polifonia
8
.
Dialogismo pode ser compreendido a partir do conceito de monologismo. O
monologismo se refere a um discurso único. Os textos monológicos o deixam
revelar os outros discursos que permeiam a prática discursa. Na análise de Bakhtin
sobre os romances, aqueles considerados monológicos apresentam uma única voz,
a do próprio autor do romance.
o conceito de dialogismo em Bakhtin não está atrelado à ideia de um
diálogo face a face entre interlocutores, mas sim entre discursos, que “o
interlocutor existe enquanto discurso” (FIORIN, 2006, p. 166). Fiorin ainda
acrescenta que, por isso, “todo enunciado possui uma dimensão dupla, pois revela
duas posições: a sua e a do outro” (Ibid., p. 170).
O dialogismo é explicado por Bakhtin a partir da análise dos romances de
Dostoiévski. Nesses romances, não o apagamento de vozes em detrimento da
voz autoritária do autor. Como afirma Bakhtin:
Assim, pois, nas obras de Dostoiévski não um discurso definitivo,
concluído, determinante de uma vez por todas. (...) A palavra do herói e a
8
O conceito de polifonia é discutido na seção 1.4 deste capítulo.
49
palavra sobre o herói são determinadas pela atitude dialógica aberta face a
si mesmo e ao outro. (...) No mundo de Dostoiévski não há discurso sólido,
morto, acabado, sem resposta, que pronunciou sua última palavra
(BAKHTIN, 2008, p. 291-292).
Desse modo, as obras do romancista russo são dialógicas, na medida em que
resultam do embate de muitas vozes sociais (BARROS, 2003, p. 5-6). Essas vozes
são manifestações discursivas sempre relacionadas a um tipo de atividade humana
e sempre axiologicamente orientadas (atitude valorativa dos participantes do
acontecimento a respeito do que ocorre), que se entrecruzam, se complementam,
duelam entre si e assim por diante (FARACO, 1996, p. 124).
os estudos de Bakhtin acerca da intertextualidade nos textos m início a
partir da publicação de Marxismo e filosofia da linguagem (BAZERMAN, 2007, p.
93), obra assinada por Volochinov, mas posteriormente atribuída a Bakhtin
(BAKHTIN, 1981). De acordo com Bazerman (2007, p. 95), em Marxismo e filosofia
da linguagem, Volochinov/Bakhtin destaca que “todo enunciado se vale da história
do uso da linguagem, é responsivo a enunciados anteriores e continuidade a
essa história. Na interação com enunciados passados, cada novo enunciado
assume uma posição diante dos enunciados anteriores” (Ibid.). Volochinov/Bakhtin
“reconheceu que, enquanto criaturas linguísticas, os seres humanos são
inevitavelmente envolvidos no drama social das redes abertas de enunciados, às
quais acrescentamos apenas nosso próximo turno” (Ibid., p. 108).
No entanto, conforme afirma Bazerman (Ibid., p. 94), esse termo não aparece
em nenhuma obra de Volochinov ou de Bakhtin, sendo cunhado por Kristeva em seu
trabalho Desire in language: a semiotic approach to literature and art (Desejo em
linguagem: uma abordagem semiótica da literatura e da arte)
9
, para sugerir que
qualquer texto é um “mosaico de citações”. Mais especificamente, Kristeva usa esse
conceito para
se posicionar contra a originalidade radical de qualquer texto e para situar a
experiência cultural comum no compartilhamento dos textos, em vez de
qualquer outro estado intersubjetivo compartilhado dos textos, pois sempre
assumimos posições de sujeito individual. A orientação para enunciados
comuns, argumenta a autora, cria a cultura contínua e evoca objetos
comuns de desejo. A intertextualidade, para Kristeva, é um mecanismo
através do qual escrevemos a nós próprios no texto social, desse modo, o
texto social nos escreve (Ibid.).
9
Publicado na tradução inglesa em 1980.
50
No presente trabalho, o caráter intertextual dos textos seanalisado a partir
de Bazerman (2004; 2007), o qual incorpora os princípios propostos por Bakhtin e
Kristeva e apresenta uma proposta metodológica para a análise intertextual. Para
Bazerman (2004, p. 87), a intertextualidade é a relação que um texto tem com textos
prévios, contemporâneos e futuros. “Por meio de tais relações, um texto evoca uma
representação da situação discursiva, dos recursos textuais que tem ligação com a
situação e como o texto corrente se posiciona e se aproxima de outros textos” (Ibid.,
86). dois tipos de intertextualidade: manifestada ou constitutiva. Na
intertextualidade manifestada, outros textos estão presentes de forma explícita no
texto sob análise e se manifestam por meio de pistas, tais como aspas duplas
(FAIRCLOUGH, 1992, p. 104). No entanto, a intertextualidade constitutiva de um
texto é a configuração das convenções do discurso que entram na sua produção
(Ibid.). Neste trabalho, será analisada a intertextualidade manifestada.
Bazerman (2004, p. 88-9) propõe seis níveis de intertextualidade; no entanto,
neste trabalho, apresento apenas quatro deles, aqueles que considero serem os
mais relevantes para os objetivos deste estudo. Os quatro níveis estão organizados,
no Quadro 8, a partir do nível mais explícito, a citação direta.
51
Níveis de intertextualidade
Como se realizam
linguisticamente
Exemplos identificados no
corpus
Citação direta
É identificada por aspas, pelo
adentramento ou por outro
recurso tipográfico que a
destaca do restante do texto.
(NAT#5) “I have not seen a
combination of properties this
good in anything other than
very high-alloy steel,” says John
Morris, a metallurgist at the
University of California at
Berkeley.
Citação indireta
Faz referência a uma fonte e
reproduz as ideias
apresentadas nessa fonte, mas
nas palavras do próprio autor
do texto.
(ABC#12) Dr Katherine High of
the Children's Hospital of
Philadelphia and the Howard
Hughes Medical Institute and
colleagues say all three of their
volunteers had improved vision
after the treatments.
Referência a uma pessoa, um
documento ou declarações
Evoca outro texto sem explicitar
os enunciados.
(BBC#7) The study is published
in the journal Cell Metabolism.
Referência a expressões
reconhecíveis e uso de
terminologia associada a
pessoas específicas ou
grupos de pessoas ou
documentos particulares
Manifesta-se por meio do uso
de expressões reconhecíveis
ou de terminologia associada a
pessoas específicas ou grupos
de pessoas ou documentos
particulares mencionados em
outros textos.
(BBC#1) They were broken
down into three sub-sections:
planned home births,
unplanned home births - when
a mother intended to go to
hospital but was caught
unawares, and a "transferred
group" - when women who had
planned a homebirth ended up
giving birth in hospital.
Quadro 8 Níveis de representação intertextual (BAZERMAN, 2004, p. 88-9).
Além desses níveis propostos por Bazerman (2004), serão investigados mais
dois níveis propostos por Calsamiglia e López Ferrero (2003, p. 155), os quais são a
citação integrada e a citação inserida. A citação integrada manifesta-se “na forma de
citação indireta, mas com segmentos de maior ou menor extensão sinalizados
como sendo citados diretamente/literalmente com marcação tipográfica ou gráfica
clara, principalmente com marcas de citação ou fontes marcadas (negrito ou itálico)”
(Ibid.). Esta mistura traços sintáticos da citação direta e da citação indireta e é
utilizada frequentemente por jornalistas (Ibid.), como o exemplo retirado do texto
NAT#5 ilustra: Because the amount of other metals added to the alloy is low, says
Morris, “the material would, potentially, be much less expensive than the competitive
ultra-high-strength alloys with comparable toughness”.
Na citação inserida, as palavras da fonte citada são introduzidas por meio de
marcadores como “segundo X” ou “para X”, “nas palavras de X”, “de acordo com X”,
os quais têm a função de atribuir a declaração a um determinado agente (Ibid.),
como o exemplo retirado do texto SCIAM#9 ilustra: According to Kraus, 30 to 40
52
percent of children who have learning and reading problems do not transcribe sound
well.
Portanto, neste trabalho, a análise da intertextualidade será realizada a partir
de seis níveis de representação intertextual apresentados por Bazerman (2004) e
Calsamiglia e López Ferrero (2003). Com essa análise, buscar-se-á reconhecer as
dimensões da intertextualidade nesses textos.
A Análise Sócio-histórica do Discurso de Bakhtin, conforme apresentada
nesta subseção (1.5.1), busca analisar os textos como exemplares de práticas
discursivas socialmente situadas e, para tanto, lança mão de conceitos como
dialogismo, intertextualidade e polifonia. Essa proposta para o estudo da linguagem
ressoa em várias outras abordagens dos estudos da linguagem, inclusive na Análise
Crítica do Discurso proposta por Fairclough, tema da próxima subseção.
1.5.2 A Análise Crítica do Discurso
Como exemplares de práticas discursivas socialmente situadas gêneros ,
os textos veiculam os diferentes discursos correntes na sociedade, por exemplo, os
discursos científico, político, religioso, feminista e machista. Para a Análise Crítica do
Discurso, o discurso é “um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem
agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um modo de
representação” (FAIRCLOUGH, 2001, p. 91). Este é uma “prática não apenas de
representação do mundo, mas também de significação do mundo, constituindo e
construindo o mundo em significado” (Ibid.). Desse modo, o discurso contribui para a
construção das identidades sociais e posições de sujeito, das relações sociais entre
as pessoas e de sistemas de conhecimento e crença (Ibid.). Quando estudamos o
discurso, estudamos a maneira pela qual um texto cria sentidos e reflete a visão e a
ideologia de seus escritores e da sociedade à qual ele pertence” (CALDAS-
COULTHARD, 2008, p. 36). Portanto, a Análise Crítica do Discurso, como uma
abordagem para o estudo da linguagem,
preocupa-se em examinar o texto como algo que reflete o social e, pelo
menos em parte, o constrói. Ao nível textual, a analista crítica do discurso
descreve um texto em termos linguísticos, ao vel discursivo e da prática
53
social, pretende interpretá-lo, tentando entender os aspectos textuais em
relação aos enquadramentos sociais e ideológicos (Ibid., p. 35).
A Análise Crítica do Discurso inclui a análise textual e a análise de outros dois
níveis: a análise discursiva e da prática social, formando a bastante conhecida
concepção tridimensional do discurso proposta por Fairclough (Figura 3).
Figura 3 Concepção tridimensional do discurso (FAIRCLOUGH, 2001, p. 102).
Na sua concepção tridimensional do discurso, Fairclough entende texto (oral
ou escrito) como a forma linguística na qual se manifesta a prática discursiva
(FAIRCLOUGH, 2001, p. 99) e propõe quatro categorias para a análise textual: o
vocabulário, a gramática, a coesão e a estrutura textual, as quais podem ser
pensadas a partir de uma escala ascendente, na qual
o vocabulário trata principalmente das palavras individuais, a gramática das
palavras combinadas em orações e frases, a coesão trata da ligação entre
orações e frases e a estrutura textual trata das propriedades
organizacionais de larga escala dos textos (Ibid., p. 103).
A análise da prática discursiva enfoca os processos de produção, distribuição
e consumo textual, os quais são processos sociais e exigem referência aos
ambientes econômicos, políticos e institucionais particulares nos quais o discurso é
gerado (Ibid., 2001, p. 99). A produção e o consumo de um texto são de natureza
parcialmente sócio-cognitiva, uma vez que envolvem processos cognitivos de
TEXTO
PRÁTICA DISCURSIVA
(produção, distribuição,
consumo)
PRÁTICA SOCIAL
54
produção e interpretação textual baseados nas estruturas e nas convenções sociais
interiorizadas (Ibid.). Desse modo, “não se pode nem reconstruir o processo de
produção nem explicar o processo de interpretação simplesmente por referência aos
textos: eles são respectivamente traços e pistas desses processos e não podem ser
produzidos nem interpretados sem os recursos dos membros” (Ibid., p. 100).
Fairclough aponta então para a importância de se investigar o contexto (de
produção, distribuição e consumo) dos textos. Além disso, a análise da prática
discursiva também inclui as seguintes categorias: “a força’ dos enunciados, isto é,
os tipos de atos de fala (promessas, pedidos, ameaças, etc.) por eles constituídos; a
‘coerência’ dos textos; e a ‘intertextualidade’ dos textos” (Ibid., p. 103-4), ou seja, as
relações dialógicas existentes entre o texto analisado e outros textos (RESENDE;
RAMALHO, 2004, p. 187), conforme explicado na seção 1.5.1. Esses itens formam
“um quadro para a análise textual que abrange aspectos de sua produção e
interpretação como também as propriedades formais dos textos” (FAIRCLOUGH,
2001, p. 104).
A “prática social (política, ideológica, etc.) é uma dimensão do evento
discursivo, da mesma forma que o texto” (Ibid., p. 99) e pode ser definida como
“aquilo que as pessoas fazem, isto é, as atividades em que se engajam ao conduzir
a vida social”, incluindo as atividades do dia-a-dia (MEURER, 2004, p. 138). A
análise da prática social está relacionada aos
aspectos ideológicos e hegemônicos na instância discursiva analisada. Na
categoria ideologia, observam-se os aspectos do texto que podem ser
investidos ideologicamente, como os sentidos das palavras, as
pressuposições, as metáforas, o estilo. Na categoria hegemonia, observam-
se as orientações da prática social, que podem ser orientações econômicas,
políticas, ideológicas e culturais. Procura-se investigar como o texto se
insere em focos de luta hegemônica, colaborando na articulação,
desarticulação e rearticulação de complexos ideológicos (FAIRCLOUGH,
1997) (RESENDE; RAMALHO, 2004, p. 188).
Para análise dos textos, Fairclough usa a Gramática Sistêmico-funcional
proposta por Halliday (1994; 2004, com Matthiessen) porque essa abordagem
relaciona a linguagem com outros elementos e aspectos da vida social e está
orientada para o caráter social dos textos (FAIRCLOUGH, 2003, p. 5).
Para Halliday, a linguagem é uma semiótica social (CALDAS-COULTHARD,
2008, p. 27). Desse modo, na Gramática Sistêmico-funcional, a linguagem e o
contexto são vistos como interdependentes (THOMPSON, 2004, p. 9), de modo que
55
a forma linguística é afetada sistematicamente pelas circunstâncias sociais
(CALDAS-COULTHARD, 2008, p. 28). Portanto, uma das preocupações mais
importantes da Gramática Sistêmico-funcional é estabelecer relações claras entre
linguagem e contexto (MEURER, 2004, p. 151).
A Gramática Sistêmico-funcional distingue dois contextos: o “contexto de
situação” e o “contexto de cultura”. O contexto de situação é “o ambiente imediato
em que o texto está de fato operando” (HALLIDAY, 1989, p. 46), e o contexto de
cultura é “o ambiente institucional e ideológico que valor ao texto e determina a
sua interpretação (Ibid., p. 49). Este é formado por um conjunto compartilhado de
contextos de situação (MOTTA-ROTH, 2007, p. 8). Os dois contextos, por sua vez,
constituem o ambiente não verbal de um texto (HALLIDAY, 1989, p. 47).
O contexto de situação é formado por três variáveis (Ibid., p. 12):
1) campo: se refere ao que está acontecendo, à natureza da prática social
que está em andamento;
2) relação: se refere a quem está participando, à natureza dos participantes,
suas posições sociais e seus papéis; e
3) modo: se refere ao papel da linguagem.
Essas três variáveis do contexto são realizadas linguisticamente no texto por
três metafunções da linguagem: ideacional, interpessoal e textual (MOTTA-ROTH;
HEBERLE, 2005, p. 15). As metafunções podem ser assim definidas (Ibid.):
Metafunção ideacional, que expressa o conteúdo do texto, possibilitando,
assim, ao sujeito observador tirar partido da capacidade da linguagem de
representar as experiências do mundo interior e exterior;
Metafunção interpessoal, que expressa as interações sociais das quais o
sujeito participa, possibilitando-lhe, assim, representar ações sobre os
outros dentro da realidade social e desencadear novas ações;
Metafunção textual, que expressa a estrutura e o formato do texto,
possibilitando, assim, ao sujeito estruturar a experiência em textos coesos e
coerentes a partir do sistema da língua.
Desse modo, para a Gramática Sistêmico-funcional, uma relação dialética
entre texto e contexto, de modo que o texto cria o contexto, e o contexto cria o texto
(HALLIDAY, 1989, p. 47). “O significado resulta do atrito entre os dois” (Ibid.). As
relações entre o contexto e o texto são sintetizadas no Quadro 9:
56
SITUAÇÃO:
Traço do contexto
(realizado por)
TEXTO:
Componente funcional do sistema
semântico
Campo do discurso
(o que está acontecendo)
Significados experienciais
(transitividade, nomeação, etc.)
Relação do discurso
(quem está participando)
Significados interpessoais
(modo, modalidade, pessoa, etc.)
Modo do discurso
(papel atribuído à linguagem)
Significados textuais
(tema, informação, relações
coesivas)
Quadro 9 Relação do contexto de situação com o texto (HALLIDAY, 1989, p. 26).
O texto/a linguagem, por usa vez, apresenta cinco estratos ou planos: a
fonética (expressão), a fonologia (expressão), a léxico-gramática (conteúdo), a
semântica (conteúdo) e o contexto, os quais são diferenciados a partir do nível de
abstração (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 25). A “semântica, ou o sistema de
significado, é realizado pela léxico-gramática, ou o sistema de fraseado (isto é,
estruturas gramaticais e itens lexicais); e a léxico-gramática é realizada pela
fonologia, ou sistema de som (Ibid., 1999, p. 4).
Por sua vez, Martin (1992 apud MOTTA-ROTH, 2007, p. 10-1) prevê seis
estratos da linguagem: fonologia, gramática, semântica, registro, gênero e ideologia,
a fim de descrever uma semântica discursiva ou semântica do discurso, um
estudo da linguagem que enfoca os significados do texto (como unidade de análise)
e não da oração. A partir da proposta de Martin (1992) e Hendges (2005), Motta-
Roth (2008, p. 352) reorganiza essa representação também em seis estratos:
fonologia e grafologia, léxico-gramática, semântica e pragmática, registro: contexto
de situação, gênero: contexto de cultura e discurso: ideologia (Figura 4).
57
Figura 4 Representação da estratificação dos planos comunicativos (MOTTA-
ROTH, 2008, p. 352).
A Figura 4 mostra “um contínuo entre o extremo da instância imediata de uso
da linguagem a fonologia/grafologia até o extremo mais abstrato o discurso”,
relacionando os elementos da linguagem ao contexto (MOTTA-ROTH, 2007, p. 1).
Nesse caso,
o discurso, como categoria linguística, serve de metáfora para o contexto
ideológico e vice-versa, o gênero serve de metáfora para o contexto de
cultura e vice-versa, o registro, para o contexto de situação e vice-versa. Os
círculos concêntricos expressam a capacidade da linguagem em se
expandir em planos cada vez mais abstratos e mais amplos que
recontextualizam os planos menores (Ibid., 11).
De fato, a representação da estratificação dos planos comunicativos proposta
por Motta-Roth encapsula a essência da Análise Crítica de Gênero, uma vez que
esta propõe a análise contextualizada da léxico-gramática a partir de seus contextos
de produção, distribuição e consumo, conforme manifestada em diferentes gêneros,
até se chegar ao nível mais abstrato da linguagem: os discursos veiculados nos
textos.
Outra contribuição da Gramática Sistêmico-funcional para este estudo é a
descrição da léxico-gramática, que servirá de apoio para análise da linguagem. A
descrição léxico-gramatical será realizada a partir da unidade básica de análise da
Linguística Sistêmico-funcional, a oração, que será analisada a partir da metafunção
58
ideacional. “Na perspectiva da metafunção ideacional, a oração é vista como
representação, ou seja, a oração tem significado como construção de processos
baseados na experiência humana” (FUZER, 2008, p. 91). As orações serão
analisadas a partir do sistema de transitividade, “que especifica os tipos diferentes
de processos reconhecidos na língua e as estruturas pelas quais eles se expressam”
(Ibid.). Os processos, por sua vez, podem ser reconhecidos dentro de seis tipos de
orações propostos por Halliday, os quais serão descritos a seguir a partir de suas
principais características e de seus participantes diretamente associados.
Para Halliday (1994), os três principais tipos de oração são: materiais,
mentais e relacionais. “As orações materiais são orações de fazer-&-acontecer”
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 179). “Elas expressam a noção de que
alguma entidade ‘faz’ alguma coisa a qual pode ser ‘direcionada’ a alguma outra
entidade” (Ibid., 181). Nas orações materiais, pelo menos dois participantes: o
Ator e a Meta. O Ator é o participante que pratica a ação e está sempre presente na
oração (Ibid., p. 179). No entanto, “o desenrolar do processo pode se estender a
outro participante, a Meta, impactando-a de alguma forma” (p. 180). O Quadro 10
traz um exemplo de uma oração material retirada do texto BBC#3.
Many European countries, including the UK,
have yet to implement
Legislation
Participante: Ator
Processo:
Material
Participante:
Meta
Quadro 10 Oração material.
O segundo principal tipo de oração são as orações mentais, nas quais um
participante que apresenta traços que o identificam ao humano, ou seja, é dotado de
características tipicamente humanas (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 201).
Esse participante é chamado de Experienciador, e o que é sentido, pensado,
desejado e percebido pelo Experienciador é chamado de Fenômeno (Ibid., p. 203).
O Quadro 11 apresenta uma oração mental
10
típica retirada do texto BBC#1.
10
Exemplo do mesmo corpus, extraído da dissertação de Santos (2010).
59
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Participante: Experienciador
Processo:
Mental
Participante:
Fenômeno
Quadro 11 Oração mental.
Além das orações formadas pelo Experienciador, Processo Mental e
Fenômeno, ainda outras orações mentais que apresentam esse último
participante em elipse, como exemplificado no Quadro 12, com exemplo retirado do
texto BBC#3:
Jeremy Sweet, a former head of the UK's National Institute of Agricultural Botany and
now an independent consultant on biotech crops
agreed
Participante:
Experienciador
Processo:
Mental
Quadro 12 Oração mental com Fenômeno em elipse.
As orações mentais podem projetar outras orações, como no exemplo retirado
do texto ABC#2:
Wu
speculates
that the social interaction with younger flies could have helped the
mutant flies compensate for the genetic defect that makes the
insect particularly vulnerable to oxidative-stress induced aging.
Participante:
Experienciador
Processo:
Mental
Oração Projetada
Quadro 13 Oração mental projetante e oração projetada por hipotaxe.
O Quadro 13 apresenta uma oração mental projetante (Wu speculates),
introduzindo uma oração projetada pelo nexo de projeção hipotática: that the social
interaction with younger flies could have helped the mutant flies compensate for the
genetic defect that makes the insect particularly vulnerable to oxidative-stress
induced aging. A oração também pode ser projetada pelo nexo de projeção
paratática, como no exemplo retirado do texto NAT#7:
60
“I immediately triggered observations at all the telescopes I
could get my hands on,”
recalls
She
Oração Projetada
Processo:
Mental
Participante:
Experienciador
Quadro 14 Oração mental projetante e oração projetada por parataxe.
O exemplo do Quadro 14 inicia com a oração projetada (“I immediately
triggered observations at all the telescopes I could get my hands on,”) e termina com
a oração projetante (recalls she), portanto não está em ordem direta.
O terceiro principal tipo de oração apresentado por Halliday são as orações
relacionais, as quais servem para categorizar e identificar (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004, p. 210). Estas podem ser atributivas, que são utilizadas para
caracterizar, conforme o exemplo: “Sara é inteligente”, e identificadoras, que servem
para “identificar uma entidade em termos de outra”, conforme o exemplo “Tom é o
líder” (THOMPSON, 2004, p. 96). Os dois participantes da oração relacional
atributiva são o Portador (a entidade que “carrega” o atributo) e o Atributo (Ibid.).
os participantes das orações relacionais identificadoras são o Identificado, o próprio
elemento identificado na oração, e o Identificador, o elemento que serve como
identidade (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 227). No Quadro 15, é
apresentado um exemplo de oração relacional de atribuição
11
.
Professor Mark Westoby, a plant ecologist from
Macquarie University in Australia,
had
a more blunt
assessment
Participante: Portador
Processo: Relacional de
Atribuição
Participante:
Possuído
Quadro 15 Oração relacional de atribuição.
Nesse caso, a voz (Professor Mark Westoby), o Portador, avalia a descoberta
reportada na notícia de PC (had a more blunt assessment), por isso esse processo
foi considerado como introdutor do discurso. Além deste, outros exemplos, no
corpus, de orações relacionais de atribuição que também introduzem a avaliação
das vozes acerca do estudo reportado na notícia de PC.
11
Exemplo do mesmo corpus, extraído da dissertação de Santos (2010).
61
Além desses três principais tipos de oração, outros três tipos auxiliares
apresentados por Halliday, os quais são as orações comportamental, verbal e
existencial (HALLIDAY, 1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004). Estas são
auxiliares porque ficam na fronteira das orações materiais, mentais e relacionais
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 248).
As orações comportamentais se situam na fronteira entre as orações
materiais e mentais, por isso não têm características próprias claramente definidas
(Ibid.). Elas apresentam “processos de (tipicamente humanos) comportamento
fisiológico e psicológico, como respirar, tossir, sorrir” (ibid.). O participante dessa
oração é chamado de Comportante e é tipicamente um ser consciente (Ibid., p. 250).
No Quadro 16, apresento um exemplo de oração comportamental retirado do texto
BBC#7.
Mice with experimentally increased
adipose activity
ate
as much or more than normal
mice.
Participante: Comportante
Processo:
Comportamental
Participante: Circunstância
Quadro 16 Oração comportamental.
Outro tipo de oração que fica na fronteira entre outras duas orações é a
oração verbal, a qual está entre as orações mentais e relacionais (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004, p. 248). Os processos verbais incluem os verbos de “dizer”
(THOMPSON, 2004, p. 100). As orações formadas a partir de processos verbais
“são um importante recurso em vários tipos de discurso” (HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004, p. 252). Elas contribuem, por exemplo, para a construção de
narrativas, pois possibilitam a elaboração de diálogos (Ibid.). “Na notícia, as orações
verbais permitem que o jornalista atribua informações a diferentes fontes” (Ibid.).
Uma oração verbal típica apresenta quatro participantes: o Dizente, o Receptor, a
Verbiagem e o Alvo (Ibid., p. 255). O Dizente é o participante responsável por
realizar a ação verbal (EGGINS, 1994, p. 251). O Receptor é o beneficiário da
mensagem verbal, aquele a quem a mensagem é dirigida (Ibid., p. 252), e a
Verbiagem é a declaração, o que é dito (Ibid.). o Alvo é o participante não
62
humano a quem o processo verbal é dirigido (THOMPSON, 2004, p. 101). O Quadro
17 apresenta uma oração verbal
12
típica retirada do texto BBC#4.
This research
tells
us
nothing
about the impacts GM will
have on wildlife
Participante:
Dizente
Processo:
Verbal
Participante:
Receptor
Participante:
Verbiagem
Circunstância: projeção:
assunto
Quadro 17 Oração verbal.
“Os processos verbais podem formar um complexo oracional, projetando uma
segunda oração” ou várias orações (Ibid.), conforme o Quadro 18 ilustra com um
exemplo também retirado do texto BBC#4:
And Dr Mark Avery, the director of
conservation at the bird group RSPB
said
this research tells us nothing about the
impacts GM will have on wildlife
Participante:
Dizente
Processo:
Verbal
Oração Projetada
Quadro 18 Oração verbal projetante e oração projetada.
No Quadro 18, o trecho: And Dr Mark Avery, the director of conservation at
the bird group RSPB said é uma oração projetante, que foi utilizada para introduzir a
oração projetada This research tells us nothing about the impacts GM will have on
wildlife. Nesse caso, a oração foi projetada pelo nexo de projeção paratática
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 444-452). A projeção também pode ocorrer
pelo nexo de projeção hipoática (Ibid.), como a do Quadro 14.
Por fim, o último tipo de orações que fica na fronteira entre outras duas
orações é a existencial, a qual faz fronteira entre as orações relacionais e materiais
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 248). “Estas representam que algo existe ou
acontece” (Ibid., p. 256). “As orações existenciais tipicamente apresentam o verbo
be(Ibid., p. 258). O participante diretamente envolvido nessa oração é chamado de
Existente (Ibid.).
12
Exemplo do mesmo corpus, extraído da dissertação de Santos (2010).
63
There were
fewer insect groups, such as bees and butterflies, recorded among the novel plants.
Processo:
Existencial
Participante:
Existente
Quadro 19 Oração existencial.
O conhecimento pvio sobre o assunto desta pesquisa indica que os
principais tipos de oração que introduzem vozes são as mentais e as verbais, os
resultados prévios, obtidos com o corpus parcial deste trabalho (MARCUZZO;
MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH; MARCUZZO,
2010), indicam que estas são mentais, verbais e relacionais; no entanto, isso deverá
ser verificado a partir da análise do corpus como um todo, a qual seapresentada
no capítulo de Resultados e Discussão.
A descrição léxico-gramatical apresentada aqui se constitui na principal
contribuição da Gramática Sistêmico-Funcional para este estudo, a qual serve de
ferramental teórico-metodológico da Análise Crítica do Discurso, apresentada nesta
subseção (1.5.2) como uma das três fontes da Análise Crítica de Gênero, assim
como a Análise Sócio-histórica do Discurso, apresentada na seção 1.5.1, e a Análise
Sócio-retórica, que será explorada na próxima seção.
1.5.3 A Sócio-retórica
Nesta pesquisa, neros são entendidos, a partir da Sócio-retórica, como
“ações retóricas tipificadas fundadas em situações recorrentes” (MILLER, 2009, p.
34) que “servem para estabilizar a experiência e dar a ela coerência e significado”
(BERKENKOTTER; HUCKIN, 1995, p. 4). “Um gênero é um meio retórico para a
mediação das intenções privadas e da exigência social; ele é motivador ao ligar o
privado com o público, o singular com o recorrente” (MILLER, 2009, p. 41).
Os gêneros, a partir do trabalho de Devitt (1991), se acomodam em conjuntos
de gêneros, sistema de gêneros e sistema de atividades humanas (Figura 5).
64
Figura 5 Representação da organização dos gêneros.
“Um conjunto de gêneros é a coleção de tipos de textos que uma pessoa num
determinado papel tende a produzir” (BAZERMAN, 2005, p. 32). “um sistema de
gêneros compreende os diversos conjuntos de gêneros utilizados por pessoas que
trabalham juntas de forma organizada, e também as relações padronizadas que se
estabelecem na produção, na circulação e no uso desses documentos (Ibid., p. 32).
A relação entre conjunto de gêneros, sistema de gêneros e sistema de atividades
pode ser elucidada a partir dos gêneros que circulam em um Programa de Pós-
graduação, no contexto universitário brasileiro, conforme exemplifiquei anteriormente
na dissertação de Mestrado (MARCUZZO, 2006, p. 14). Por exemplo, um professor
ligado a um Programa de Pós-graduação tende a produzir determinados gêneros
durante a sua trajetória na universidade: projetos e relatórios de pesquisa, artigos,
resenhas, palestras, pareceres para revistas acadêmicas, etc., formando o conjunto
de gêneros produzidos por um professor/pesquisador (Ibid.). Seus orientandos de
Mestrado e Doutorado, por sua vez, tendem a produzir outro conjunto de gêneros:
relatórios para a coordenação do Programa de Pós-graduação, suas próprias
dissertações ou teses, artigos, anotações das orientações do professor, anotações
das aulas assistidas, anotações sobre o que foi dito em palestras durante
congressos na área e assim por diante (Ibid.). Esses dois conjuntos formam um
sistema de gêneros, o qual, por sua vez, é parte do sistema de atividades de um
Programa de Pós-graduação específico dentro do contexto universitário brasileiro.
Uma das correntes existentes dentro da Sócio-retórica é a Análise de Gênero,
a qual é assim denominada a partir dos trabalhos desenvolvidos por John Malcolm
Swales (1990, 2004), principalmente a partir da publicação do seu livro Genre
Analysis, em 1990 (MOTTA-ROTH, 2008c). A Análise de Gênero busca descrever,
explicar e interpretar aspectos textuais e contextuais da linguagem no seu papel de
sistema constitutivo da interação humana (BHATIA, 1993, p. 13). Desse modo, essa
abordagem investiga o gênero a partir do contexto amplo do evento comunicativo
65
(RUIYING; ALLISON, 2004, p. 265). Para alcançar tal objetivo, as pesquisas têm
sido realizadas a partir de uma perspectiva emic (êmica), isto é, de uma visão de
dentro do contexto que gerou o texto, incluindo a visão dos participantes daquele
grupo social (MOTTA-ROTH, 2003, p. 172), obtida por meio de entrevistas com os
participantes envolvidos, observações e descrições das interpretações desses
participantes e/ou outras informações sócio-culturais relevantes (DAVIS, 1995, p.
434). Esse procedimento é importante porque, como uma ação retórica, o gênero
“adquire significado da situação e do contexto social em que essa situação se
originou” (MILLER, 2009, p. 41). Portanto, o gênero deve “ser estudado em seu
contexto de uso efetivo” (BERKENKOTTER; HUCKIN, 1995, p. 2). Desse modo, a
Análise de Gênero aponta para uma interdependência entre o texto (sua estrutura,
seu conteúdo e seus traços característicos) e o contexto (a comunidade discursiva,
seus valores, suas práticas e suas expectativas) (HEMAIS; BIASI-RODRIGUES,
2005, p. 128).
Nesta seção (1.5), tentei delinear o que atualmente se entende por Análise
Crítica de Gênero, conforme a proposta de Motta-Roth (2008c). Além da proposta de
Fairclough, este trabalho também se vale das contribuições de van Leeuwen (1996;
2008) para a Análise Crítica do Discurso, mais precisamente em relação ao seu
inventário sócio-semântico do modo como os atores sociais podem ser
representados nos discursos. Acredito que essa perspectiva seja útil para identificar
em que medida vozes que se sobressaem em meio às outras (em termos de
ocorrência e importância que ocupam no discurso). Tal proposta será apresentada a
seguir.
1.6 A representação dos atores sociais
Van Leeuwen (1996) propõe um inventário para analisar as formas de
representação dos atores sociais no discurso, o qual busca responder às seguintes
perguntas (Ibid., p. 32):
1) de que modo os atores sociais podem ser representados no discurso?; e
2) que escolhas a Língua Inglesa nos oferece para nos referirmos às
pessoas?
66
Na sua proposta, van Leeuwen não parte de categorias essencialmente
linguísticas, tais como nominalizações e apagamento do agente da passiva para
esboçar um inventário sócio-semântico do modo como os atores sociais podem ser
representados (Ibid.). Ele parte de categorias sociológicas porque, conforme
destaca, “não há uma correferência exata entre categorias sociológicas e
linguísticas” (BARROS, 2009, p. 4). Desse modo, “a agência sociológica (o agente
da prática social) nem sempre é realizada pela agência linguística, pelo papel
gramatical participante (Ator, Experienciador, Comportante, Dizente) (Ibid.). O
agente gramatical pode ser realizado de vários modos como, por exemplo, pelos
pronomes possessivos ou sintagmas preposicionais (VAN LEEUWEN, 1996, p. 32).
Portanto, as categorias sociológicas propostas por van Leeuwen (1996) têm como
elemento centralizador a noção de ator social, e não um conceito linguístico como,
por exemplo, grupo nominal” (FUZER, 2008, p. 134). O próprio termo “ator social”
reflete a perspectiva de Van Leeuwen (1998; 2006), uma vez que combina a noção
gramatical de Halliday, por meio do termo “ator”, ou seja, o participante em uma
oração material, conforme apresentado na seção 1.5.2, e sua perspectiva
sociológica, por meio do termo “social” (VAN LEEUWEN, em 06/10/2010). Portanto,
a noção de ator social de van Leeuwen não parte, por exemplo, da Psicologia Social,
que adota o mesmo termo (VAN LEEUWEN, em 12/10/2010).
As duas grandes categorias propostas por van Leeuwen (1996; 2008) para a
análise da representação dos atores sociais são: a exclusão e inclusão, as quais se
organizam em subcategorias, conforme apresento no Quadro 20.
67
Categoria sociológica
Tipo e/ou definição
Como se realiza linguisticamente
EXCLUSÃO
Supressão
Exclusão total do ator social.
- apagamento do agente da passiva;
- orações infinitivas que funcionam como um participante gramatical;
- nominalizações;
- adjetivos;
Encobrimento
(segundo plano)
Exclusão parcial do ator social.
- apagamento do agente da passiva;
- orações infinitivas que funcionam como um participante gramatical;
- nominalizações;
- adjetivos;
- elipses.
INCLUSÃO
Genericização
Atores sociais representados como classes.
- plural sem artigo definido;
- singular com artigo definido;
- tempo presente (ações habituais, universais).
Especificação
Individualização
- singularidade;
- dados identificadores.
Assimilação
Coletivização
- pluralidade;
- substantivo que denota grupo de pessoas;
Agregação
- quantificação (maioria, grande parte, minoria, etc.)
Personalização
Indeterminação atores sociais não especificados, anônimos.
- pronomes indefinidos com função nominal (todos, alguém, ninguém, etc.)
Diferenciação
indivíduos
ou grupos
identificados
Nomeação
- nomes próprios (primeiro nome, sobrenome);
- honoríficos.
Categorização
Funcionalização
- papéis participantes e processos que denotam determinada ocupação, profissão, função
relativa à data atividade;
- possessivação;
- circunstancialização.
Parentesco
- papéis participantes e processos que denotam filiação, tipo de parentesco, etc.;
- possessivação;
- circunstancialização.
Espacialização
- papéis participantes e processos que denotam lugares específicos.
- possessivação;
- circunstancialização.
Impersonalização
Abstração atores sociais representados por uma qualidade.
- papéis participantes (Atributos);
- circunstancialização.
Objetivação
atores sociais
representados por
uma referência
metonímica.
Somatização
- papéis participantes;
- circunstancialização;
- possessivação.
Autonomização do enunciado
- papéis participantes;
- circunstancialização.
Referência à instituição
- papéis participantes;
- circunstancialização.
Quadro 20 Formas de representação dos atores (adaptado de FUZER, 2008).
68
O Quadro 20 traz aquelas categorias que têm uma relevância provável para
esta pesquisa, tais como a supressão, o encobrimento, a genericização, a
especificação, a personalização e a impersonalização.
Nas próximas subseções, apresento as categorias de exclusão (subseção
1.6.1) e inclusão (subseção 1.6.2) dos atores sociais.
1.6.1 Categorias de exclusão dos atores sociais
Van Leeuwen (1996; 2008) propõe que os atores sociais podem ser excluídos
do discurso de dois modos: por supressão ou por encobrimento. A supressão inclui a
exclusão total do ator social, ou seja, não referência ao(s) ator(es) social(is) na
oração nem em qualquer outra parte do texto (Ibid., 1996, p. 39). Nesse caso, a
exclusão não deixa traços, sendo excluídos os atores sociais e suas atividades e,
para localizá-la, é preciso comparar vários textos que representem a mesma prática
social (Ibid., 2008, p. 29). No caso do encobrimento, o ator social fica em segundo
plano. Nesse caso, “a exclusão é menos radical: os atores sociais excluídos podem
não ser mencionados em relação a uma dada atividade, mas são mencionados em
outra parte do texto, e nós podemos inferir com razoável (embora nunca total)
segurança quem eles são” (Ibid., 1996, p. 39). O encobrimento também acontece
“quando ações relevantes [...] são incluídas, mas alguns ou todos os atores
envolvidos nessas ações [...] são excluídos” (Ibid., 2008, p. 29).
A exclusão por supressão ou por encobrimento se realiza linguisticamente do
seguinte modo (FUZER, 2008, p. 136):
a) apagamento do agente da passiva;
b) orações infinitivas que funcionam como um participante gramatical;
c) substantivos processuais (nominalizações);
d) adjetivos; e
e) elipses (somente para os casos de encobrimento).
Por meio dessas duas categorias (supressão e encobrimento), Van Leeuwen
(2008, p. 28) mostra que a exclusão é, de fato, um aspecto importante a ser
considerado na Análise Crítica do Discurso. Na próxima subseção, serão
69
apresentadas as categorias de representação dos atores sociais que são
efetivamente incluídos no discurso.
1.6.2 Categorias de inclusão dos atores sociais
Van Leeuwen (1996; 2008) propõe seis categorias de inclusão dos atores
sociais: ativação, passivação, genericização, especificação, personalização e
impersonalização, as quais, por sua vez, apresentam suas subcategorias (ver
Quadro 20). No entanto, considerando os objetivos deste trabalho, nesta subseção,
apresento quatro dessas categorias: genericização, especificação (por
assimilação/coletivização e assimilação/agregação), personalização (por
diferenciação/nomeação e diferenciação/categorização/funcionalização) e
impersonalização (por objetivação).
Na genericização, os atores sociais são representados como classes (VAN
LEEUWEN, 1996, p. 46). A genericização pode ser realizada pelo plural sem artigo
ou pelo singular com artigo definido ou indefinido (Ibid., p. 47), como os exemplos 1
e 2 ilustram:
Exemplo 1
(BBC#1) Childbirth in the UK, experts stress, remains very safe.
Exemplo 2
(SCIAM#6) For HD 149026 b to reach such blistering heat, researchers say,
it must suck up nearly all the energy it receives from its big bluish star.
Nos exemplos 1 e 2, o plural sem artigo constrói a representação de duas
classes: especialistas no assunto que está sendo debatido e pesquisadores,
respectivamente. Esses exemplos se diferenciam de, por exemplo, The researchers
said that even though levels of the virus that remain are low, they are high enough to
rekindle infection if treatment is interrupted(BBC#2), em que a palavra researcher,
no plural, acompanhada do artigo definido (the), indica que a declaração foi feita
pelos pesquisadores que realizaram a pesquisa popularizada.
Na especificação, os atores sociais são representados como indivíduos
específicos, identificáveis (Ibid., 46). Na especificação por assimilação, os atores
70
sociais são representados como grupos (Ibid., 48), por meio da pluralidade. Nesta
subseção, destaco dois tipos de assimilação relevantes para este estudo:
assimilação por coletivização e assimilação por agregação.
A assimilação por coletivização representa os atores sociais como um grupo,
mas sem quantificá-los, como demonstram os exemplos 3 e 4 a seguir:
Exemplo 3
(BBC#15) But the staff said the technology did not link in properly with other
IT systems, and that many had given up using it "until it works better".
Exemplo 4
(SCIAM#6) The researchers say their next goal is to study the planets at
other infrared frequencies in order to get more accurate readings and
possibly learn about their atmospheres' constituents.
Os exemplos 3 e 4 ilustram o modo como os pesquisadores que realizaram os
estudos são apresentados como grupos homogêneos, com o objetivo de dar uma
ideia de consenso desses grupos acerca do que está sendo expresso. Em outras
partes do texto, esses pesquisadores ou pelo menos alguns deles são
individualizados, por meio da referência ao seu nome completo, suas credenciais,
sua função, etc., como será exemplificado mais adiante, nesta subseção.
a assimilação por agregação “quantifica os grupos de participantes,
tratando-os como ‘estatística’” e é “frequentemente usada para regulamentar a
prática e produzir uma opinião de consenso” (Ibid., p. 49). “A agregação é realizada
pela presença de um quantificador definido ou indefinido, que funciona quer como
numeral, quer como núcleo do grupo nominal” (Ibid.), como ilustrado pelo exemplo 5:
Exemplo 5
(BBC#4) More than half of Britons who took part in the "GM Nation" survey
last year said GM crops should never be introduced in the UK under any
circumstances.
No exemplo 5, a agregação representada por More than half of Britons dá
uma ideia de consenso dos participantes do levantamento acerca da não introdução
de sementes geneticamente modificadas no Reino Unido.
Outra categoria de inclusão dos atores sociais é a personalização. A
personalização ocorre pela diferenciação por nomeação e pela diferenciação por
categorização. “A diferenciação explicitamente diferencia um ator social particular ou
um grupo de atores sociais de um ator social ou grupo semelhante, criando a
71
diferença entre o ‘eu’ e o ‘outro’, ou entre ‘nós’ e ‘eles’” (Ibid., 52). Na diferenciação
por nomeação, os atores sociais são “representados em termos de sua identidade
única, ao serem nomeados” (Ibid., p. 53). A nomeação se realiza linguisticamente
por meio de nomes próprios, os quais podem ser formais (apenas o sobrenome, com
ou sem honoríficos), semiformais (prenome e sobrenome) ou informais (apenas o
prenome) (Ibid.). Além disso, as nomeações podem ser tituladas na forma de
honoríficos ou de afiliações (Ibid.).
Exemplo 6
(BBC#3) I wouldn't say that the transgenic varieties are able to survive
better," said Dr D'Hertefeldt.
Exemplo 7
(SCIAM#4) Kathleen Kelly, a cancer biologist at NCI, is optimistic that the
work will enhance understanding of the basic mechanism of the disease.
No exemplo 6, o ator social, nesse caso, a pesquisadora que coordenou o
estudo, é referido por meio de uma nomeação formal (sobrenome com o honorífico
Dr.). A nomeação formal é muito utilizada na referenciação de professores e
pesquisadores inseridos no contexto acadêmico. De fato, o texto BBC#3 menciona
que essa pesquisadora trabalha em uma universidade (Lund University). no
exemplo 7 foi utilizada a nomeação semiformal para fazer referência à pesquisadora
que participou da realização do estudo. Nesse caso, a pesquisadora não trabalha
em uma universidade, e sim no Instituto Nacional do Câncer, nos Estados Unidos.
Na diferenciação por categorização, os atores sociais o representados em
termos de “identidades e funções que eles compartilham com os outros” (Ibid.).
três formas de categorização: funcionalização, parentesco e espacialização. No
entanto, tendo em vista os dados deste estudo, apresento apenas a categorização
por funcionalização. A categorização por funcionalização “ocorre quando os atores
sociais são referidos em termos de uma atividade, em termos de algo que eles
fazem, por exemplo, uma ocupação ou um papel” (Ibid., p. 54). É tipicamente
realizada por 1) um substantivo formado a partir de um verbo e composto pelos
seguintes sufixos: -er, -ant, -ent, -ian, -ee, -or; 2) um substantivo formado a partir de
outro substantivo e composto pelos seguintes sufixos: -ist, -eer; e 3) um substantivo
composto que indica ocupação, como chairperson, spokesperson, spokesman,
spokeswoman.
72
Exemplo 8
(BBC#1) "Essentially women who opt for a home birth face either a very
successful, satisfying outcome, or a potentially disastrous one - there isn't
the greyer area that you see with hospital births," says Professor Philip
Steer, the editor of the BJOG.
Exemplo 9
(BBC#1) A spokesperson for the Department of Health said: "The
department welcomes this article, whose findings will add to the much larger
and more detailed study we have already commissioned on safety of place
of birth."
No exemplo 8, o ator social é referido pelo seu nome completo (Philip Steer)
ou pela nomeação semiformal, nos termos de van Leeuwen (1996; 2008), pela sua
profissão (professor) e pela sua ocupação (editor). No exemplo 9, o ator social é
referido apenas pela sua ocupação (spokesperson), seu nome não aparece em
nenhuma outra parte do texto.
Quando o ator social é representado por outros meios que não incluem a
característica semântica humana, tem-se a impersonalização (FUZER, 2008, p.
143). A impersonalização por objetivação ocorre quando os atores sociais são
representados por meio de uma referência metonímica a sua ocupação ou algo
associado a sua pessoa (VAN LEEUWEN, 1996, p. 59), conforme os exemplos 10 e
11 ilustram:
Exemplo 10
(BBC#4) Earlier this year another major trial, the Farm-Scale Evaluations or
FSEs, found that two GM varieties, a sugar beet and a spring rape, were
more damaging to biodiversity than conventional crops.
Exemplo 11
(SCIAM#3) The new study shows that burning biomass to produce electricity
rather than converting it to ethanol (made from corn kernels or the other
parts of the plant, so-called cellulosic ethanol) delivers 81 percent more
miles per acre of transportation in electric vehicles than ethanol burned in
internal combustion, even taking into account the lifetime costs of the
expensive batteries available today.
No exemplo 10, o ator social é representado por meio de uma referência
metonímica à instituição onde trabalha (Farm-Scale Evaluations). no exemplo 11
o ator social, nesse caso, o pesquisador que realizou a pesquisa popularizada, é
representado por meio da referência metonímica a sua atividade, nesse caso, a
realização da pesquisa que está sendo popularizada (The new study).
O inventário de van Leeuwen (1996; 2008) será adotado na análise do modo
como as diferentes vozes identificadas são representadas nos exemplares de notícia
73
de PC investigados com o objetivo de categorizar os diferentes modos de
representação das vozes nos textos e, a partir disso, identificar se alguma voz
aparece mais/menos nos textos que outras. Para ilustrar a análise, serão
apresentados os dados retirados dos textos dos quatro subcorpora.
Neste capítulo, busquei fundamentar teoricamente este trabalho, incluindo os
conceitos pertinentes ao projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007) e os conceitos
específicos deste trabalho, como, por exemplo, a revisão em torno do termo polifonia
para nomear o fenômeno da multiplicidade de vozes e a revisão acerca do inventário
de van Leeuwen (1996; 2008). Primeiro, tentei distinguir os termos vulgarização,
divulgação e PC, a fim de inserir o presente estudo em um nicho dentro dos estudos
acerca do processo de disseminação do conhecimento cienfico a uma audiência de
não especialistas. Na sequência, busquei distinguir as duas visões acerca desse
processo: uma “tradicional” e outra “contemporânea”. Depois, explorei a notícia de
PC a partir de três aspectos definidores de um gênero: o objetivo comunicativo, o
conteúdo/a temática e a organização retórica. Em seguida, busquei explorar o
fenômeno da multiplicidade de vozes ao revisar estudos prévios acerca do tema,
inclusive aqueles realizados dentro do projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007).
A última parte deste capítulo foi dedicada a explorar as principais contribuições
teórico-metodológicas da Análise Crítica de Gênero para este trabalho, a qual, a
partir da proposta de Motta-Roth (2005; 2008), combina aportes de três fontes: a
Análise Sócio-histórica do Discurso, Análise Crítica do Discurso e cio-retórica. A
última seção deste capítulo traz o inventário cio-semântico proposto por van
Leeuwen (1996; 2008) acerca das formas de representação dos atores sociais no
discurso. Acredito que o ferramental teórico-metodológico escolhido permite analisar
a presença de vozes nos textos como uma estratégia do jornalista não apenas para
transmitir a informação, mas também para dar uma orientação ao texto por meio das
escolhas realizadas no nível léxico-gramatical.
O capítulo que segue apresenta os procedimentos metodológicos adotados
para a realização desta pesquisa.
CAPÍTULO 2 METODOLOGIA
No presente capítulo, descrevo as etapas de realização deste estudo. A
descrição inclui desde a delimitação do universo de análise investigado até os
procedimentos de coleta e análise dos dados textuais e contextuais. O capítulo
apresenta três seções. Na seção 2.1, apresento os critérios observados para
delimitar o universo de análise. Na seção 2.2, descrevo os critérios adotados para
selecionar o corpus e apresento a referência dos textos que o compõem. Por fim, na
seção 2.3, apresento os procedimentos adotados para coletar e analisar os dados
deste estudo.
2.1 Delimitação do universo de análise
O universo de análise do projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007) e,
consequentemente, desta pesquisa compreende quatro sites, a saber: ABC
Science
13
, BBC News
14
, Nature
15
e Scientific American
16
. Os critérios adotados para
selecioná-los foram estabelecidos: 1) no projeto guarda-chuva; 2) no decorrer da
etapa de seleção do corpus, à medida que se começava a entender o contexto de
distribuição do gênero notícia de PC; e 3) em função da terceira e última fase do
projeto guarda-chuva (Ibid.). Essa fase compreende a elaboração de um plano de
curso e material didático de “Introdução à Leitura para Fins Acadêmicos”, com base
nos subsídios levantados nas duas primeiras fases do projeto, as quais incluem a
identificação de unidades de análise (primeira fase) e a interpretação semântico-
discursiva de expoentes linguísticos (segunda fase) (Ibid., p. 19). Portanto, para a
seleção dos sites, foram observados os seguintes critérios
17
:
13
Disponível em http://www.abc.net.au/science/.
14
Disponível em http://www.bbc.co.uk/.
15
Disponível em http://www.nature.com/.
16
Disponível em http://www.scientificamerican.com/.
17
Os critérios foram fornecidos por Anelise Scotti Scherer e Fábio Santiago Nascimento, assistentes
de pesquisa que participaram da etapa de delimitação do universo de análise. Estes foram enviados
via e-mail, em 15 de setembro de 2009, e foram reorganizados e reescritos por mim.
75
a) publicação de textos em Língua Inglesa, uma vez que o material didático
a ser elaborado, na terceira fase do projeto, está voltado para o ensino de
leitura nessa língua;
b) política de publicação, pois buscou-se selecionar sites com pelo menos
dois perfis diferentes: aqueles que têm uma política editorial voltada para a
popularização/educação científica e aqueles mais populares, que, em
princípio, não têm uma preocupação imediata com a popularização/educação
científica (Ibid., p. 18-19);
c) acesso gratuito ao conteúdo do site, pois buscou-se selecionar sites que
permitem o acesso irrestrito a todos ou a grande parte dos textos publicados,
uma vez que o pagamento para o acesso aos textos dificultaria ou até mesmo
inviabilizaria a realização da pesquisa;
d) presença de seções específicas dedicadas à ciência e tecnologia, pois a
seleção de notícias relacionadas a esses dois temas foi um dos critérios de
seleção do corpus previsto no projeto guarda-chuva (Ibid., p. 19);
e) frequência de atualização da publicação porque buscou-se coletar
notícias de PC sobre temas atuais; e
f) extensão das notícias de PC publicadas, pois, uma vez que os textos do
corpus serão utilizados para a elaboração de material didático, aqueles muito
longos, com mais de três ginas, por exemplo, seriam muito extensos para
serem explorados em sala de aula. Assim, foram selecionados sites que
publicam textos com extensão média de duas páginas.
Depois de delimitado o universo de análise com base nos critérios
apresentados, a etapa seguinte consistiu na seleção do corpus, a qual passo a
relatar na próxima seção.
2.2 Seleção do corpus
Os textos foram selecionados por uma equipe coordenada pela professora
Désirée Motta-Roth e composta por quatro assistentes de pesquisa: Anelise Scotti
Scherer, Fábio Santiago Nascimento, Natália Dellagnese Prates e Simone Fátima
Novakoski época todos bolsistas de Iniciação Científica vinculados ao GT-
76
LABLER). Essa equipe foi auxiliada pelas mestrandas Rogéria Lourenço dos Santos
e Thaiane da Silva Socoloski e pela doutoranda Liane Beatriz Gerhardt e por mim.
Os textos foram selecionados a partir dos seguintes critérios previstos no projeto
guarda-chuva (Ibid., p. 18-19):
a) escritos para uma audiência leiga no assunto da notícia;
b) disponíveis na mídia eletrônica, com gratuidade e acessibilidade on-line;
c) retirados de publicações escritas em Língua Inglesa mais cientificamente
orientadas e mais popularmente orientadas;
d) publicados entre 2004 e 2008, com preferência pelos textos mais recentes;
e
e) temas relacionados à saúde, a meio ambiente e à tecnologia, conforme os
temas transversais apresentados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil,
1997).
Com bases nesses critérios, foram selecionados 60 textos, sendo 15 de cada
site, os quais são dispostos a seguir nos Quadros 21 (ABC Science), 22 (BBC
News), 23 (Nature) e 24 (Scientific American). Para a identificação e posterior
referência ao longo deste trabalho, os textos receberam um código, o qual é
composto por uma sigla, um símbolo e um mero. As siglas ABC, BBC, NAT e
SCIAM foram utilizadas para identificar os nomes das revistas (ABC Science, BBC
News, Nature e Scientific American, respectivamente), e o símbolo # foi utilizado
para designar número. Depois, os textos foram numerados de 1 a 15, como no
exemplo: ABC#1.
77
Código
Referência do texto
ABC#1
ABC SCIENCE. New mosquito repellents cause a buzz. ABC Science, Austrália, 27 mai. 2008. Disponível
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ABC#2
ABC SCIENCE. Hanging with the young lengthens lifespan. ABC Science, Austrália, 27 maio. 2008.
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15 set. 2010.
ABC#3
STEENHUYSEN, J.. Starving yourself may fend off jet lag. ABC Science, Austrália, 23 mai. 2008.
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15 set. 2010.
ABC#4
BLAND, E. Carbon coming to a TV screen near you. ABC Science, Austrália, 26 mai. 2008. Disponível em:
<http://www.abc.net.au/science/articles/2008/05/26/2251759.htm?site=science&topic=tech>. Acesso em: 15
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ABC#5
SALLEH, A. Rocky microbes push back life's origins. ABC Science, Austrália, 29 mai. 2008. Disponível em:
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ABC#6
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ABC#7
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ABC#8
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ABC#9
PINCOCK, S. Megaherbs flourished in Antarctica. ABC Science, Austrália, 19 mar. 2008. Disponível em:
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ABC#11
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Código
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Quadro 24 Notícias de PC da Scientific American.
79
Depois de apresentar o universo de análise, os critérios de seleção do corpus
e os 60 textos que o compõem, na próxima seção, relato os procedimentos adotados
para a coleta e análise dos dados.
2.3 Procedimentos de coleta e análise dos dados
A coleta e a análise dos dados envolveram a análise do texto e do contexto. A
análise textual compreendeu os elementos textuais/discursivos do gênero
investigado e envolveu “dois procedimentos básicos em Linguística Sistêmico-
funcional, a ‘Identificação’ de unidades de análise ou expoentes linguísticos e a
‘Interpretação’ semântico-discursiva desses expoentes” (MOTTA-ROTH, 2007, p.
19). Destaca-se que todos os dados textuais desta pesquisa, incluindo as notícias de
PC e as entrevistas, foram analisados a partir desses dois procedimentos, ou seja,
identificação e interpretação de expoentes linguísticos. A análise contextual, por sua
vez, compreendeu os contextos de produção e distribuição dos textos, nos termos
de Fairclough (1992). As duas etapas foram realizadas com base nas orientações
apresentadas no projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007) e serão relatadas de
acordo com a ordem cronológica em que foram realizadas.
No semestre de 2008, foi analisado um corpus-piloto composto por 15
notícias da BBC News, correspondendo a 25% do total de textos do corpus. O
procedimento de análise do corpus-piloto consistiu em examinar um conjunto
reduzido de textos, nesse caso, 25% deles, a fim de que os resultados levantados
orientassem a seleção de categorias analíticas e/ou procedimentos de pesquisa a
serem adotados na análise do corpus como um todo (MARCUZZO, no prelo). O
corpus-piloto foi analisado em dois momentos distintos. Num primeiro momento, que
teve início no semestre de 2007, a equipe formada pela orientadora deste estudo
de doutoramento e pelos assistentes de pesquisa (todos os bolsistas de Iniciação
Científica citados na seção 2.2 deste capítulo), com a colaboração da professora
Roséli Gonçalves do Nascimento
18
em alguns trabalhos, analisou o corpus-piloto
18
Professora do Departamento de Letras Estrangeira Modernas (DLEM) da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) e integrante do GT-LABLER.
80
com o objetivo principal de identificar a organização retórica do gênero notícia de
PC, conforme a proposta de Swales (1990; 2004).
Na segunda etapa da análise do corpus-piloto, realizada no início do
semestre de 2008 e reportada em Marcuzzo (2008, p. 1), os mesmos 15 textos da
BBC News foram então analisados com o objetivo de investigar:
1) o modo como as vozes se manifestam linguisticamente nesses textos; e
2) a função destas na construção do sentido da notícia e na avaliação das
pesquisas reportadas
19
.
Os resultados prévios dessa segunda de análise do corpus-piloto resultaram
no trabalho final da disciplina Teorias de Gêneros Discursivos
20
(LTE 839). Nesse
momento, foram selecionados indutivamente procedimentos de pesquisa e
categorias analíticas que foram adotados na análise das vozes. Em termos de
procedimentos, os textos foram lidos várias vezes a fim de que eu pudesse
inicialmente entender o assunto da notícia de PC e posteriormente identificar as
vozes. Para localizar os expoentes linguísticos indicativos de vozes, li cada oração
do texto, concentrando-me, principalmente, nos elementos léxico-gramaticais que
pudessem indicar a presença de vozes, tais como grupos nominais com núcleo de
substantivos próprios indicativos de nomes de pesquisadores, instituições, etc., com
ou sem honoríficos, acompanhados ou não de elementos pré e pós-modificadores.
Além disso, também observei o processo associado a essas vozes (HALLIDAY,
1994; HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004), conforme ilustro no Quadro 25, com um
exemplo retirado do texto BBC#10:
19
Agradeço à Professora Roséli Gonçalves do Nascimento (UFSM/DLEM/LABLER), pelo auxílio na
análise inicial da função das vozes.
20
Ministrada pela orientadora deste estudo no Programa de Pós-graduação em Letras da
Universidade Federal de Santa Maria, no primeiro semestre de 2008.
81
Quadro 25 Categorias analíticas selecionadas para a análise dos dados.
Procurei identificar, principalmente, se havia processo mental e verbal
associado a essas vozes e descartei da análise as orações materiais (aquelas que
envolvem ações físicas) (THOMPSON, 2004, p. 90). No corpus, essas orações
geralmente se referem à atividade de pesquisa, tais como coletar e analisar os
dados, conforme ilustrado pelo exemplo retirado do texto SCIAM#9: Kraus's team
conducted experiments on 29 subjects averaging 25 years of age, 16 of whom had
been playing instruments from the age of five. Nesse exemplo, o grupo que realizou
a pesquisa é mencionado (Kraus's team), e o processo associado a essa voz é
conducted (conduct, no tempo verbal passado), o qual está relacionado aos
procedimentos de pesquisa. Nesse caso, o processo faz referência aos atos de
pesquisa dos agentes da ciência (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 158).
Depois de localizar os excertos dos textos em que são mencionadas vozes,
associadas a processos verbais ou mentais, identifiquei se o discurso era introduzido
por relato ou citação (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004). Em resumo, nesse
momento, foi realizado o levantamento quantitativo e, principalmente, qualitativo das
vozes presentes nesses textos, dos processos utilizados para introduzi-las e
também do modo como estas são introduzidas nos textos.
Com base nos dados levantados, foi realizada uma comparação de parte dos
resultados obtidos com os resultados de análises prévias (PRATES et al., 2008).
Além disso, os dados também foram revisados e analisados novamente por mim e
pela orientadora deste estudo com vistas à publicação de resultados parciais. Os
resultados dessa etapa foram publicados em Marcuzzo; Motta-Roth (2008) e Motta-
Roth et al. (2008).
Posteriormente, no primeiro semestre de 2009, o corpus foi ampliado para 30
notícias, sendo mantidos os mesmos 15 textos da BBC News e acrescentados mais
Fellow researcher
James Joseph
of Tufts
University
said
the effect was likely to be
the same in humans.
Elemento pré-
modificador
Grupo nominal
com núcleo de
substantivo
próprio
indicativo de
nome de
pesquisador
Elemento pós-
modificador
Processo
associado
Relato
82
15 textos da Scientifc American. Nessa etapa, inicialmente busquei ampliar a análise
realizada no corpus-piloto, ou seja, analisar os textos da Scientifc American a
partir das mesmas categorias e dos mesmos procedimentos adotados na análise
dos textos da BBC News. Depois, busquei identificar o modo como as vozes
identificadas são representadas ao longo dos textos, sendo adotadas, para tanto, as
categorias sócio-semânticas de van Leeuwen (1996; 2008). É importante destacar
que essa análise não havia sido realizada anteriormente com o corpus-piloto. Para
tanto, foram selecionadas quatro categorias de inclusão do ator social no discurso:
generalização, especificação, personalização e impersonalização e uma categoria
de exclusão: a supressão (ver mais detalhes sobre essas categorias no capítulo de
Revisão da Literatura). Essa análise possibilitou que eu categorizasse os diferentes
modos de representação das vozes nos textos e, a partir disso, identificasse se
alguma voz aparece mais/menos nos textos que outras. Nessa fase, também realizei
a análise semântico-interpretativa dos processos utilizados para introduzir as vozes
e do que é dito por essas vozes a fim de começar a vislumbrar o papel destas no
gênero notícia de PC (MARCUZZO, 2009). Parte dos resultados obtidos foi
analisada novamente pela orientadora deste estudo e resultou em uma publicação
em conjunto: Motta-Roth; Marcuzzo (2010).
De janeiro a março de 2010, o corpus foi ampliado para 60 notícias, sendo
mantidos os mesmos 30 textos da BBC News e da Scientifc American e
acrescentados mais 30 textos da ABC Science e da Nature, totalizando os 60 textos
do corpus. Nessa etapa, busquei:
1) analisar esses novos 30 textos a partir das mesmas categorias e dos
mesmos procedimentos adotados na análise dos textos da BBC News e da Scientific
American;
2) contrastar os dados obtidos (análise dos textos da BBC News e Scientifc
American com a análise dos textos da ABC Science e Nature); e
3) interpretar os dados do corpus como um todo.
Além disso, no início do ano de 2010, também foi analisado o contexto de
distribuição das notícias de PC (com checagens realizadas também em outros
momentos durante esse ano) e consistiu na exploração dos sites nos quais o corpus
foi coletado. Essa análise foi realizada com base na proposta de Motta-Roth (2008a,
p. 19-20) e contrastada com os resultados obtidos por Hendges (2009), que fez a
observação e descrição inicial dos sites da BBC News e Scientific American. Com
83
base nessa proposta (MOTTA-ROTH, 2008a, p. 19-20), os sites foram analisados
com o objetivo de identificar:
como estes se identificam/intitulam;
sobre o que publicam;
com que objetivo;
para quem;
quem são seus editores; e
como os textos são selecionados;
Em abril de 2010, foi realizado o exame de qualificação, quando a banca
apontou aspectos a serem revisados e também fez sugestões para a continuidade
do trabalho, e os quatro meses seguintes (maio a agosto de 2010) foram dedicados
a fazer as alterações apontadas pela banca. Nesse período, foi feita a análise
quantitativa de todos os dados obtidos aentão, a qual incluiu a contagem dos
processos que introduzem as vozes por meio da ferramenta eletrônica Wordsmith
21
,
um software destinado a identificar a frequência das ocorrências léxico-gramaticais
em um corpus textual.
De setembro de 2010 a fevereiro de 2011, foi realizado o doutorado-
sanduíche na North Carolina State University, na cidade de Raleigh, nos Estados
Unidos, sob a orientação da professora Carolyn Miller. Nesse período, foi refinada a
análise da função das vozes no gênero notícia de PC e também realizada parte da
análise contextual, mais especificamente, o contexto de produção das notícias de
PC, por meio de entrevistas com alguns dos jornalistas que assinam as notícias do
corpus. Destaca-se que a proposta de realização da análise do contexto de
produção foi submetida pela orientadora desta tese do doutoramento e
coordenadora do projeto guarda-chuva ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM,
sendo aprovada em 13 de maio de 2008 e identificada pelo número 0069.0.243.000-
08. O trabalho realizado durante o doutorado-sanduíche é reportado a seguir.
Em setembro de 2010, foi iniciada a análise do contexto de produção das
notícias de PC, a qual consistiu na coleta de dados etnográficos e na realização de
entrevistas. Os dados etnográficos foram coletados com a professora Catherine
Warren, da North Carolina State University, especialista em jornalismo científico e
estudos da mídia e editora da revista da American Association of University
21
Agradeço ao colega Eliseu Alves da Silva (Bolsista PIBIC/CNPq-UFSM), pelas instruções de como
utilizar o software.
84
Professors
22
(AAUP). As entrevistas foram realizadas, por e-mail, com alguns dos
jornalistas responsáveis pela publicação das notícias do corpus. A coleta de dados
etnográficos possibilitou que eu tivesse uma “visão de dentro” do jornalismo
científico, uma vez que Catherine Warren trabalhou como jornalista e atualmente
é editora de uma revista, e a entrevista com os jornalistas me possibilitou “interpretar
os traços do texto por meio dos traços do contexto” (MOTTA-TOTH, 2007, p. 19).
A tentativa de localizar os jornalistas e editores iniciou do seguinte modo: a
professora Catherine Warren me colocou em contato, via e-mail, com três jornalistas
que talvez pudessem ter o contato dos jornalistas e editores dos quatro sites (ABC,
BBC News, Nature e Scientific American), uma vez que não foi possível localizar o
contato destes por meio de seus respectivos sites. Um dos jornalistas contatados
respondeu que não poderia ajudar porque não conhecia jornalistas e editores que
trabalham nesses sites; outro jornalista contatado não respondeu; e por fim um
jornalista respondeu que conhecia alguns nomes em três desses sites (BBC News,
Nature e Scientific American), mas que esse contato não era muito próximo, por isso
indicou um quarto nome que talvez pudesse ajudar a entrar em contato com os
jornalistas e editores dos sites. No entanto, mesmo com as indicações desse quarto
jornalista, o qual permitiu que eu usasse seu nome para fazer esses contatos, os
jornalistas e editores contatados não responderam aos e-mails enviados. Então,
parti para a procura pelo contato (endereço de e-mail) dos jornalistas que assinam
as notícias de PC do corpus, uma vez que o corpus comporta notícias assinadas e
não assinadas. Inicialmente, listei todas as notícias de PC do corpus que são
assinadas, incluindo o código de identificação do texto e o nome do jornalista, o que
resultou em uma lista com 43 notícias assinadas. Entre essas notícias, algumas
que m a autoria repetida, resultando então em uma nova lista com 29 nomes de
jornalistas a serem contatados. Depois disso, foi feita uma busca pelo nome de cada
um desses 29 jornalistas, por meio do Google.com, com o objetivo de localizar seus
prováveis endereços de e-mail. Para tanto, utilizei duas possibilidades de busca para
cada um dos nomes a serem contatados: “e-mail + nome completo do jornalista” e
“contact + nome completo do jornalista”. A busca resultou em 18 endereços de e-
mail e em um formulário, disponibilizado na página pessoal de um dos jornalistas,
pelo qual é possível entrar em contato com ele. A mensagem de apresentação e
22
Associação Americana de Professores Universitários.
85
convite para a participação da pesquisa foi enviada a 19 jornalistas no dia 30 de
setembro de 2010 e é disponibilizada no Quadro 26.
Dear XXX:
I am a doctoral student at the Federal University at Santa Maria (Brazil) and a visiting researcher at
the North Carolina State University (United States). I am doing a dissertation on the popularization
of science news and I have developed a questionnaire which takes only 20 minutes to answer. If
you agree, I would send you the questions, which ask for brief responses. I will send you the final
results. If it is easier for you to do this by phone, I am happy to call you.
Thank you so much.
Sincerely,
Patricia Marcuzzo
Quadro 26 E-mail de apresentação e convite para participação da pesquisa.
A mensagem disponibilizada no Quadro 26 foi enviada a 19 possíveis
endereços de e-mail dos jornalistas, mas um e-mail enviado retornou; então, ao
todo, 18 endereços de e-mail receberam a mensagem de apresentação e convite
para a participação da pesquisa. Desse total, 11 jornalistas (61,11% dos 18
endereços de e-mail) responderam que aceitariam participar da pesquisa e, depois
de aproximadamente um mês do contato inicial, realizado em 30 de setembro de
2010, todos os 11 jornalistas enviaram suas respostas, de modo que consegui
contatar jornalistas de três sites desta pesquisa, assim distribuídos: ABC Science
(três jornalistas), Nature (cinco jornalistas) e Scientific American (três jornalistas).
Vale destacar que não como garantir que todas as 18 mensagens enviadas
chegaram, de fato, nas caixas de e-mail dos jornalistas que eu queria contatar, pois
alguns endereços que localizei podem estar desatualizados ou ainda a mensagem
pode ter sido direcionada a um endereço de e-mail que não corresponde ao
endereço do jornalista, ou seja, minha busca pelos endereços pode ter falhado em
alguns casos. Além disso, deve ser considerada a possibilidade de o jornalista ter
86
recebido a mensagem, mas não ter manifestado interesse em participar da
pesquisa.
Para preservar a identidade dos jornalistas que responderam o questionário,
o conjunto das respostas de cada um recebeu um código, o qual foi composto por
uma sigla (J), para identificar jornalista, e um símbolo (#), para designar número, e
então foi numerado de 1 a 11, formando, por exemplo, o código J#1. Cada conjunto
recebeu esse código a partir da ordem de envio das respostas; assim, o primeiro
conjunto de respostas que recebi foi identificado por J#1; o segundo, por J#2 e
assim sucessivamente.
Também vale destacar que uma segunda tentativa de entrar em contato com
os editores dos sites foi feita por meio de alguns dos jornalistas que aceitaram
participar da pesquisa, solicitando que estes (aqueles que julguei subjetivamente
serem mais solícitos em responder o questionário) enviassem os nomes e os
endereços de e-mails dos editores dos sites para os quais trabalham ou
trabalharam. Esses jornalistas informaram o contato de seus editores, então pude
enviar-lhes o convite de apresentação e participação da pesquisa, mas novamente
não obtive retorno. Portanto, essa pesquisa inclui apenas a visão dos jornalistas
responsáveis pelas notícias de PC do corpus em razão de que não foi possível
contatar os editores dos sites. Mesmo assim, acredito que a contribuição dos
jornalistas tenha sido significativa para a compreensão das notícias de PC como
exemplares de um gênero.
O questionário enviado aos jornalistas foi elaborado a partir de três perguntas
(números 5, 12 e 13) do instrumento de coleta de dados desenvolvido por Motta-
Roth (2008, p. 21-2) e submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da UFSM (ver
Quadro 27). Estas foram adaptadas do instrumento de coleta elaborado por Motta-
Roth, em 2008, para o questionário desenvolvido especificamente para esta
pesquisa, em setembro de 2010.
87
Quadro 27 Instrumento de coleta de dados (MOTTA-ROTH, 2008a, p. 21-2).
As perguntas 5, 12 e 13 foram negritadas no Quadro 27. A pergunta 5 do
instrumento de coleta de dados resultou na pergunta 1 do questionário; a pergunta
12 do instrumento resultou na pergunta 2a do questionário; e a pergunta 13 resultou
nas perguntas 3b e 3c (ver Quadros 27 e 28). Além destas, foram incluídas, no
INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS EM INGLÊS
Questionário em inglês para os editores de
ABC Science, BBC News International, Nature, Newsweek, Scientific American e
New York Times
The Reading and Writing Laboratory (LabLeR) at the Universidade Federal de Santa Maria
(Brazil) is presently developing a research project on popularization of science news (pop
science news). We would like to ask for your collaboration as an editor in order to collect data
about the publication process of such news.
1. What is the aim of your newspaper/magazine/site in publishing pop science news?
2. What is your target audience?
3. Which topics are more often explored in the pop science news published by your
newspaper/magazine/site?
4. How are these topics selected?
5. How do you select the research studies that get popularized in your
newspaper/magazine/site?
6. Do you need consent from authors (or academic journals in case of research that has been
previously published) in order to popularize these studies?
7. In relation to the editorial policy:
a. Do authors of pop science news have to follow a list of instructions in order to format
and organize/structure their texts?
b. What kind of instructions do you adopt?
c. Can we have access to them? How?
8. Your newspaper/magazine/site receives comments/feedback from readers in response to
pop science news? What kind of impact does pop science news exert on the public?
9. When browsing your website, we have observed that the most recurrent topics are those
referring to biological sciences, while themes related to linguistic studies and communication
appear less often. Is there a special reason for this discrepancy?
10. How do you evaluate your target audience’s interest for pop science news about themes in
linguistic studies and communication?
11. What is the profile for authors that publish in your newspaper/magazine/site?
( ) the very researchers/scientists of the research study that gets popularized.
( ) peer researchers/scientists in the same area of the research study that gets popularized.
( ) specialized journalists in each specific area (e.g., biochemistry, medicine, biology).
( ) specialized journalists in popularization of science in general.
( ) non-specialized journalists in popularization of science, who also write material not
classified as pop science news.
( ) readers of your newspaper/magazine/site.
( ) other authors. Specify: ____________________________________________
12. When authors are not the very researchers/scientists of the research study that gets
popularized, the texts tend to present various points of view about the same scientific
discovery, including that of the original researcher. In this case, how is this researcher
contacted? Who gets them to collaborate in the process of science popularization?
How hard is to get this collaboration?
13. In addition to the point of view of the original researcher, pop science news also
presents other people’s opinions about the research study that gets popularized. How
are these people chosen and contacted? How are the opinions to be quoted selected?
88
questionário da presente pesquisa, outras quatro perguntas que foram elaboradas
com base nos resultados da análise dos dados textuais deste trabalho, mais
especificamente, as perguntas 2b, 3a, 3d e 4 (ver Quadro 28). Todas as perguntas
foram reescritas várias vezes, submetidas à apreciação da orientadora nos Estados
Unidos e também à professora Catherine Warren, que as adequou ao registro
jornalístico a fim de que as perguntas fossem mais facilmente compreendidas pelos
entrevistados.
Dear XXX;
Thank you so much. I really appreciate your help. I will keep it anonymous, OK?
Here are the questions:
1. How do decide which studies to cover in your newspaper/magazine/site?
2. The stories tend to present the point of view of the scientist who conducted the research study
that gets popularized.
a) How hard is to get his or her cooperation?
b) Do you ever have difficulty contacting the scientists or getting his or her cooperation with the
story?
3. The stories also present other people’s opinions about the research study that gets popularized,
including institutional and governmental voices and the general public. However, my analysis has
showed that the general public’s voice tend to be comparatively underrepresented (out of 60 stories
the scientist is mentioned in 60 stories and the public’s voice is mentioned only in 3 stories).
a) Why?
b) How are your sources (institutional and governmental voices and the general public voice)
chosen and contacted?
c) How do you choose what to quote?
d) Why do the stories tend to present more direct quotations instead of indirect quotations?
4. Is it a goal of newspaper/magazine/site to try to represent multiple points of view on scientific
discoveries? If so, what are the limitations to get those points of view?
Best,
Patricia Marcuzzo
Quadro 28 Questionário enviado aos jornalistas.
Seguindo a recomendação da professora Catherine Warren de que o
questionário fosse breve, este foi formado por quatro perguntas principais, sendo
duas subdivididas. A pergunta 1 foi formulada com o objetivo de entender como os
89
jornalistas selecionam os estudos que são popularizados dentro de um vasto
contexto de produção científica. A pergunta 2 foi elaborada com o objetivo de
entender o grau de cooperação do pesquisador responsável pelo estudo reportado
com a produção da notícia de PC. A pergunta 3 foi formulada a fim de que as
respostas a essa pergunta pudessem me ajudar a interpretar os dados textuais da
pesquisa, em termos de a) presença de vozes do governo e do público; b) modo
com estas são contatadas; c) como o jornalista escolhe os comentários que insere
em seus textos; e c) razão pela qual os textos parecem incluir mais citação do que
relato. A pergunta 4 foi elaborada a fim de entender em que medida é objetivo do
site para o qual os jornalistas trabalham ou trabalharam representar um debate nas
notícias de PC. As respostas obtidas foram tabuladas, lidas, quantificadas (partindo
da recorrência em que as mesmas respostas foram dadas) e cruzadas com os
dados da análise textual e a literatura prévia.
A análise textual realizada durante o doutorado-sanduíche se concentrou em
refinar a análise preliminar da função das vozes (MARCUZZO, 2009; MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010), que não foi tão precisa nem indicou expoentes linguísticos que
pudessem orientar a análise do corpus como um todo. Para tanto, foi desenvolvido
um “coding scheme” ou esquema de codificação, o qual buscou analisar três
funções dos excertos que apresentam vozes: epistemológica, retórica e textual. A
função epistemológica corresponde especificamente à posição dos excertos que
apresentam vozes em relação à avaliação da pesquisa que está sendo popularizada
na notícia de PC e está distribuída, em uma escala Likert de quatro pontos, em:
concordo plenamente, concordo parcialmente, discordo parcialmente e
discordo plenamente com o estudo que está sendo popularizado. A função retórica
corresponde à posição dos excertos que apresentam vozes e acrescentam conteúdo
relevante relacionado à notícia de PC ou explicam a relevância da pesquisa ou de
seus resultados para a audiência, nesse caso, os leitores desses textos. Essa
função se divide em três categorias: adicionar informação, esclarecer algum ponto
ou alguma informação e acrescentar espontaneidade ao texto. Por fim, a função
textual está relacionada à posição de todos os excertos que apresentam vozes na
estrutura global do texto e visa a identificar qual posição o excerto ocupa no texto:
lead, desenvolvimento ou conclusão. Desse modo, cada excerto que introduz uma
voz foi analisado ou como correspondente à função epistemológica ou à função
retórica e também como correspondente à função textual.
90
Funções
Epistemológica:
posição dos excertos em
relação à avaliação da
pesquisa que está sendo
popularizada
Retórica:
posição dos excertos que
acrescentam conteúdo
relevante relacionado à
notícia de PC ou explicam a
relevância da pesquisa ou de
seus resultados para a
audiência
Textual:
posição de todos os excertos
na estrutura global do texto
Categorias
- concordo plenamente
- concordo parcialmente
- discordo parcialmente
- discordo plenamente
- adicionar informação
- esclarecer alguma
informação
- acrescentar
espontaneidade ao texto
- lead
- desenvolvimento
- conclusão
Quadro 29 Funções e categorias analíticas da análise textual.
As três funções foram pensadas a partir de uma das perguntas de pesquisa
deste estudo e também dos resultados prévios obtidos nas análises textual e
contextual. A função epistemológica foi pensada para tentar responder a seguinte
pergunta de pesquisa: em que medida as vozes promovem um debate acerca das
descobertas científicas apresentadas na mídia? As funções retórica e textual, por
sua vez, foram pensadas a partir dos resultados prévios da análise dos dados
textuais e das respostas dos jornalistas ao questionário. Dentro da função retórica, a
categoria adicionar informação foi gerada pelo seguinte critério mencionado pelos
jornalistas, na entrevista, para a inclusão de um determinado comentário em seus
textos: comentários que sejam informativos e relevantes. A categoria esclarecer um
ponto específico ou alguma informação foi gerada pelo seguinte critério mencionado
pelos jornalistas para a inclusão de um comentário em seus textos: comentários que
fornecem precisão, e a categoria comentário espontâneo
23
foi gerada pelos
seguintes critérios mencionados pelos jornalistas: comentários que sejam
espontâneos, interessantes, usem uma boa metáfora e podem simplificar a pesquisa
e são não técnicos. a função textual enfoca o papel desempenhado pelo
comentário em estruturar o texto e inclui três categorias: lead, desenvolvimento e
conclusão, que, por sua vez, foi gerada pelo seguinte critério mencionado pelos
23
Uma jornalista e um editor do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, foram consultados com o objetivo
de apontar o termo, em português, utilizado para se referir a lively quotes”, um dos critérios
mencionados pelos jornalistas para selecionar os comentários que serão incluídos nos textos. Como
eles informaram que não um termo, em português, utilizado para designar esse tipo de citação,
neste trabalho, foi adotada uma tradução livre: “citações espontâneas”.
91
jornalistas para a inclusão de um comentário em seus textos: os comentários são
escolhidos de acordo com o fluxo/a estrutura do texto.
Antes de analisar o corpus como um todo, as categorias foram testadas várias
vezes, quando analisei 10 textos do corpus, representando um terço do corpus ou
16,66%. Estas se mostraram significativas e então foi realizada a análise cruzada
dos dados (em inglês, inter-coder analysis), que foi executada do seguinte modo: foi
solicitado que uma doutoranda do primeiro ano do Programa de Pós-graduação em
Comunicação, Retórica e Mídia Digital da North Carolina State University, com
experiência no Mestrado em Análise de Gênero, analisasse os mesmos 10 textos.
Para tanto, foi realizada uma reunião de instrução, no dia 12 de novembro de 2010,
para familiarizá-la com a pesquisa e também explicar o esquema de codificação e as
categorias que foram previstas. Depois disso, a segunda avaliadora analisou os
textos independentemente e posteriormente a minha análise e a dela foram
cruzadas por meio do coeficiente Kappa de Cohen
(http://www.graphpad.com/quickcalcs/kappa1.cfm), resultando em um escore de
0.149, o qual é considerado “pobre”. Em vista disso, as instruções escritas que
foram dadas à segunda avaliadora foram revisadas, e foi solicitado que outro aluno
do ano do curso de Doutorado do mesmo programa analisasse os mesmos 10
textos. A reunião de instrução foi realizada no dia 13 de dezembro de 2010. Os
textos foram analisados independentemente por esse avaliador, e os resultados
foram novamente cruzados por meio do coeficiente Kappa de Cohen, originando um
escore de 0.680, o qual é considerado “bom”. Uma vez que o escore da análise
cruzada foi considerado “bom”, analisei cada um dos excertos dos outros 50 textos
do corpus a partir das três funções propostas: epistemológica, retórica e textual e de
suas respectivas categorias. Os dados obtidos foram então quantificados por meio
de testes do tipo chi-quadrado e interpretados qualitativamente.
No próximo capítulo, apresento e discuto os dados textuais e contextuais
obtidos.
92
CAPÍTULO 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Neste capítulo, discuto os resultados de uma análise crítica do gênero
(conforme capítulo de Revisão da Literatura) notícia de PC com enfoque nas vozes
apresentadas nesse gênero. O capítulo apresenta seis seções. Na seção 3.1,
descrevo o contexto de distribuição dos quatro sites investigados (ABC Science,
BBC News, Nature e Scientific American). Na seção 3.2, apresento uma visão geral
do corpus em termos de tópicos. Na seção 3.3, apresento as posições enunciativas
identificadas nas notícias de PC. Na seção 3.4, descrevo o modo como estas são
representadas nas notícias de PC a partir do inventário sócio-semântico proposto
por van Leeuwen (1996; 2008). Na seção 3.5, apresento o modo como o discurso
das vozes é introduzido nos textos a partir dos níveis de intertextualidade propostos
por Bazerman (2004), das formas de citação apresentadas por Calsamiglia e López
Ferrero (2003) e dos processos escolhidos (HALLIDAY, 1994; HALLIDAY;
MATTHIESSEN, 2004). Por fim, na seção 3.6, descrevo a função das vozes nesse
gênero. Os dados textuais serão apresentados em conjunto com os contextuais, na
medida em que busco interpretar os resultados da análise textual a partir da
literatura prévia e dos resultados levantados na análise do contexto.
3.1 Notas sobre o contexto de distribuição dos textos
A Análise Crítica de Gênero, a partir das suas três fontes: Análise Sócio-
histórica do Discurso, Análise Crítica do Discurso e Sócio-retórica, prevê a análise
contextualizada da linguagem, de modo que o texto é analisado e interpretado com
base nos contextos de produção, distribuição e consumo, nos termos propostos por
Fairclough (2001) e apresentados no capítulo de Revisão da Literatura.
Nesta seção, relato a análise do contexto de distribuição dos textos do
corpus, ou seja, dos sites da ABC Science, BBC News, Nature e Scientific American,
respectivamente, com base na proposta de Motta-Roth (2008a) e em dados obtidos
por Hendges (2009), na análise prévia de dois desses sites: BBC News e Scientific
93
American. Conforme relatado no capítulo de Metodologia, a análise foi realizada com
o objetivo de identificar:
como os sites se identificam/intitulam;
sobre o que publicam;
com que objetivo;
para quem;
quem são seus editores; e
como os textos são selecionados.
A seguir, inicio a análise do contexto de distribuição com uma breve descrição
do site da ABC Science.
3.1.1 ABC Science
A seção About ABC Science
24
(ver Figura 6), embora bastante resumida,
apresenta algumas informações relevantes acerca desse contexto de publicação,
conforme Figura 6.
Figura 6 Página da seção About ABC Science.
24
Levantamento realizado no dia 13 de janeiro de 2010.
94
O site ABC Science (Figura 7) foi criado em 1997, a partir de uma doação
feita por um programa do governo australiano dedicado a promover a ciência e a
tecnologia e é mantido pela Australian Broadcasting Corporation (ABC), a rede de
televisão pública da Austrália. O site já recebeu vários prêmios e continua recebendo
financiamento por meio do Science Connections Program, mantido pelo governo
australiano.
Figura 7 Página de abertura do site ABC Science.
O objetivo do site é reportar os avanços da ciência, tendo como público-alvo
os jovens australianos. O endereço http://www.abc.net.au/science/ disponibiliza
programas de rádio e TV da ABC e também material eletrônico original, incluindo
notícias diárias sobre ciência, jogos, material de áudio, fóruns, etc.
As notícias de PC publicadas nesse endereço cobrem os seguintes assuntos:
Ancient Worlds, Being Human, Energy & Transport, Environment & Nature, Health &
Medical, Innovation & Technology e Space & Astronomy (ver Figura 8).
95
Figura 8 Tópicos das notícias publicadas no site ABC Science.
A análise da seção About ABC Science não permitiu identificar quem são os
editores da ABC Science nem, por exemplo, quais são os critérios utilizados para
selecionar os tópicos cobertos nas notícias de PC.
A seguir, reporto a análise do segundo contexto investigado o site da BBC
News.
3.1.2 BBC News
O site BBC News (ver Figura 9) é propriedade da British Broadcasting
Corporation (BBC), emissora pública de rádio e televisão do Reino Unido fundada
em 1922.
96
Figura 9 Página de abertura do site BBC News.
Conforme já apontado por Hendges (2009), a BBC se intitula, na seção About
the BBC
25
(ver Figura 10), como a maior corporação de rádio e TV do mundo, cuja
missão é enriquecer a vidas das pessoas com programas e serviços que informam,
educam e divertem. Os objetivos da BBC são: amparar a cidadania e a sociedade
civil; promover a educação e a aprendizagem; estimular a criatividade e a excelência
cultural; representar o Reino Unido, seus países, suas regiões e comunidades; levar
o Reino Unido para o mundo e o mundo para o Reino Unido; e oferecer ao público o
benefício das tecnologias e dos serviços de comunicação (Ibid.). Diferentemente da
ABC Science, que tem como blico-alvo o jovem australiano, a BBC busca servir a
todas as audiências, principalmente “older audiences” (Ibid.).
25
Levantamento realizado em 5 de novembro de 2009 e em 3 de fevereiro de 2010.
97
Figura 10 Página da seção About the BBC.
O endereço (http://www.bbc.co.uk/) acesso a um site que se desdobra em
14 seções assim intituladas: News, Sport, Business & Money, Weather,
Entertainment, Music, Arts & Culture, Science & Nature, Gardening, Food, Learning
English, Religion & Ethics, International TV e Radio, cada uma com diferentes
subseções (ver Figura 11). Destas, apenas a seção News (http://news.bbc.co.uk/)
publica notícias de PC.
98
Figura 11 Seções do site BBC News.
A seção News apresenta 13 subseções assim intituladas: Africa, Americas,
Asia-Pacific, Europe, Middle East, South Asia, UK, Business, Health, Science &
Environment, Technology, Entertainment e Also in the news. A análise da seção
About the BBC também o permitiu identificar quem são os editores da BBC News
nem quais são os critérios utilizados para selecionar os tópicos cobertos nas notícias
de PC.
Na próxima seção, reporto a análise do terceiro contexto investigado o site
da Nature.
3.1.3 Nature
A Nature
26
(ver Figura 12), a partir das informações disponibilizadas na sua
seção About NPG, se intitula a primeira revista científica semanal do mundo, sendo
sua primeira edição publicada em 4 de novembro de 1869. Segundo o site, a missão
original da revista ainda guia as ações do grupo e pode ser resumida nos seguintes
objetivos: oferecer ao público em geral os resultados do trabalho científico e da
descoberta científica; levar as descobertas científicas a um maior reconhecimento na
26
Levantamento realizado em 13 de janeiro de 2010.
99
educação e na vida diária; e auxiliar cientistas, ao fornecer informações sobre os
avanços da ciência no mundo, e oferecer uma oportunidade de discutir as várias
questões científicas que surgem.
O site é mantido pela Nature Publishing Group (NPG), que publica periódicos
científicos e também notícias diárias sobre ciência nas seguintes seções: Life
Sciences, Physical Sciences, Chemistry, Clinical Practice & Research e Earth &
Environment.
Figura 12 Página de abertura do site Nature.
Assim como a análise dos sites ABC Science e BBC News, a análise da
seção About NPG da Nature também não permitiu identificar quem são os editores
desse site nem quais são os critérios utilizados para selecionar os tópicos cobertos
nas notícias de PC publicadas.
A seguir, reporto a análise do quarto contexto investigado o site da Scientific
American.
100
3.1.4 Scientific American
Na seção About Us: History, a Scientific American se apresenta como a mais
antiga revista publicada continuamente nos Estados Unidos. Ela foi criada em 1845
e busca divulgar os desenvolvimentos na área de ciência e tecnologia aos seus
leitores, tendo como público-alvo leitores “a frente do seu tempo” (HENDGES, 2009).
Atualmente, o editor-chefe da Scientific American é John Rennie.
O site da revista publica textos de vários gêneros, tais como notícias,
reportagens, enquetes semanais, etc. e tem sete seções assim intituladas: Basic
Science, Energy & Sustainability, Evolution, Health and Medicine, Mind & Brain,
Space & Cosmos e Technology (Figura 13).
Figura 13 Seções do site Scientific American.
Todas essas seções publicam notícias de PC. As notícias de PC publicadas
nesse site concentram-se em torno de cinco temas: astronomia (Space & Cosmos),
biologia (Basic Science e Evolution), saúde (Health and Medicine e Mind & Brain),
meio ambiente (Energy & Sustainability) e tecnologia (Technology). Assim como nos
outros três sites desta pesquisa, a análise da seção About Us: History também não
permitiu identificar quem são os editores da Scientific American nem quais são os
critérios utilizados para selecionar os tópicos cobertos nas notícias de PC.
101
Portanto, nesse caso, os dados levantados no contexto de distribuição dos
textos e apresentados nesta seção não são suficientes para “interpretar os traços do
texto por meio dos traços do contexto(MOTTA-TOTH, 2007, p. 19). Em visto disso,
serão apresentados também os dados do contexto de produção desses textos. No
entanto, a análise apresentada nesta seção permitiu compreender o contexto de
distribuição dos textos em termos de temas das notícias de PC publicadas e revelou
que os sites buscam atingir públicos-alvo diferentes e isso, consequentemente, pode
influenciar os enfoques de cada um. O site da BBC News, por exemplo, busca atingir
a “população em geral”, com enfoque em “older audiences” (HENDGES, 2009). O
site da Scientific American, por sua vez, tem como público-alvo “leitores a frente do
seu tempo” (Ibid.). O site da ABC Science busca atingir o público jovem e isso talvez
justifique o enfoque em áreas como Innovation & Technology e Space & Astronomy,
possíveis temas de interesse do jovem australiano. O site da Nature é o mais
cientificamente orientado, na medida em que é o único que define como seu público-
alvo os cientistas, diferentemente dos outros sites analisados. Portanto, pode-se
dizer que o site da Nature tem um grau de especialização diferente dos demais
(GIERING, comunicação pessoal
27
).
Desse modo, a análise do contexto de produção, por meio da realização de
entrevistas com os responsáveis pela publicação das notícias (jornalistas e/ou
editores), se mostra essencial para 1) checar as informações levantadas na análise
do contexto de distribuição; 2) obter outras informações relevantes; e 3)
compreender e interpretar elementos textuais ricos em significação
28
identificados na
análise textual (BARTON, 2004, p. 66).
No entanto, antes de relatar os dados textuais e do contexto de produção, na
próxima seção, apresento uma visão geral dos textos do corpus em termos de
tópicos cobertos pelas notícias de PC.
3.2 O tópico das notícias de PC
As notícias de PC deste estudo cobrem oito tópicos diferentes:
1. antropologia;
27
Durante o exame de qualificação, realizado no dia 6 de abril de 2010.
28
Tradução do termo rich text features proposta por Motta-Roth (2005, p. 191).
102
2. astronomia/espaço;
3. biologia;
4. matemática;
5. meio ambiente;
6. saúde/medicina;
7. química; e
8. tecnologia.
Nos Quadros 30 e 31, agrupei, respectivamente, as 30 notícias de PC dos
sites ABC Science e BBC News e as 30 notícias de PC dos sites Nature e Scientific
American e identifiquei o tópico de cada uma. Os quadros estão divididos em três
colunas, que trazem o código dos textos, o título destes e o tópico.
Código
Título da notícia de PC
Tópico
ABC#1
New mosquito repellents cause a buzz
saúde/medicina
ABC#2
Hanging with the young lengthens lifespan
saúde/medicina
ABC#3
Starving yourself may fend off jet lag
saúde/medicina
ABC#4
Carbon coming to a TV screen near you
tecnologia
ABC#5
Rocky microbes push back life's origins
meio ambiente
ABC#6
Life reaches deeper beneath seabed
astronomia/espaço
ABC#7
Green tea may help snorers sleep easy
saúde/medicina
ABC#8
Healthy breakfast? Your baby may be a boy
saúde/medicina
ABC#9
Megaherbs flourished in Antarctica
meio ambiente
ABC#10
Long-term pill use risks atherosclerosis
saúde/medicina
ABC#11
Crabs wave the long arm of love
meio ambiente
ABC#12
Gene therapy helps blind see the light
saúde/medicina
ABC#13
Researchers leap a nano hurdle
astronomia/espaço
ABC#14
Cosmic rays start in violent black holes
astronomia/espaço
ABC#15
Drudgery really does numb the brain
saúde/medicina
BBC#1
Home birth to ward increases risk
saúde/medicina
BBC#2
HIV 'hides from drugs for years'
saúde/medicina
BBC#3
GM seeds can ‘last for 10 years’
meio ambiente
BBC#4
Study finds benefits in GM crops
meio ambiente
BBC#5
Racial clues in bowel cancer find
saúde/medicina
BBC#6
Brain size ‘not key to intellect’
saúde/medicina
BBC#7
Gene ‘controls body fat levels’
saúde/medicina
BBC#8
Fat scan shows up ‘true’ obesity
saúde/medicina
BBC#9
Alzheimer’s drugs impact hailed
saúde/medicina
BBC#10
Berries ‘help prevent dementia’
saúde/medicina
BBC#11
Light therapy ‘can slow dementia’
saúde/medicina
BBC#12
Gene ‘links breastfeeding to IQ’
saúde/medicina
BBC#13
Breast milk ‘may be allergy key’
saúde/medicina
BBC#14
Toll of teenage drinking revealed
saúde/medicina
BBC#15
NHS staff dub e-records 'clunky'
saúde/medicina
Quadro 30 Tópicos das notícias de PC da ABC e da BBC.
103
Código
Título da notícia de PC
Tópico
NAT#1
Doughnut-shaped Universe bites back
astronomia/espaço
NAT#2
Not so noble
química
NAT#3
Stamp out common virus to beat brain cancer
saúde/medicina
NAT#4
Your belly’s very own body clock
saúde/medicina
NAT#5
Steel toughened by pancakes
tecnologia
NAT#6
How low can life go?
biologia
NAT#7
Stellar blast watched in real time
astronomia/espaço
NAT#8
The hot new nanotech: testing chillies
química
NAT#9
Epilepsy drug may help alcoholics
saúde/medicina
NAT#10
Unexpected origin of an early Eskimo
saúde/medicina
NAT#11
Computer model knows what you're thinking
saúde/medicina
NAT#12
Monkeys move robotic arm using brain power
tecnologia
NAT#13
Plasma twisters seen on the Sun
astronomia/espaço
NAT#14
Climate anomaly is an artifact
meio ambiente
NAT#15
Why we should love logarithms
matemática
SCIAM#1
When it comes to photosynthesis, plants perform quantum computation
biologia
SCIAM#2
Whole lotta shakin’ on asteroid itokawa
astronomia/espaço
SCIAM#3
What is the best way to turn plants into energy?
meio ambiente
SCIAM#4
Growing prostates from adult stem cells--but who would want one?
saúde/medicina
SCIAM#5
Mathematics points the way to a perfect head of beer
matemática
SCIAM#6
A tale of two exoplanets: one incredibly hot, the other extremely windy
astronomia/espaço
SCIAM#7
Genetically modified crops survive weed-whacking herbicide
biologia
SCIAM#8
Is the out of Africa theory out?
antropologia
SCIAM#9
Did Sesame Street have it right?
saúde/medicina
SCIAM#10
That flu you caught? It came from East and Southeast Asia
saúde/medicina
SCIAM#11
Monkey think, robot do
tecnologia
SCIAM#12
Work it out: more activity = slower aging
saúde/medicina
SCIAM#13
Wireless energy lights bulb from seven feet away
tecnologia
SCIAM#14
Cave speak: did Neanderthals talk?
antropologia
SCIAM#15
Is human growth hormone the key to eternal youth?
saúde/medicina
Quadro 31 Tópicos das notícias de PC da NAT e da SCIAM.
Uma rápida leitura vertical da terceira coluna dos Quadros 30 e 31 indica que
o tópico que se destaca entre as notícias de PC do corpus é saúde/medicina e, de
fato, essa leitura se confirma a partir da análise do Gráfico 1, que mostra a
distribuição das notícias de PC em tópicos.
Gráfico 1 Distribuição dos textos em tópicos.
104
Os resultados apresentados no Gráfico 1 confirmam a literatura prévia
(GUIMARÃES, 2001, p. 19; ALFERES; AUGUSTINI, 2008, p. 2, dentre outros), uma
vez que mais da metade dos textos do corpus (51,66%) cobre a área de
saúde/medicina. A maioria desses textos foi coletada no site da BBC News, o que
pode ser justificado pelo grande volume de notícias de PC da área de
saúde/medicina publicado nesse site (MARCUZZO, 2008, p. 6). Em levantamento
diário
29
, realizado durante uma semana (de 15 a 21 de junho de 2008), a fim de
verificar o número de notícias de PC publicadas no site da BBC News, por meio de
uma amostragem por projeção, observei que foram publicadas 27 notícias de PC
nesse período, as quais são distribuídas em notícias de saúde/medicina, meio
ambiente e tecnologia, conforme apresento na Tabela 3.
Tabela 3 Notícias de PC publicadas entre 15 e 21/06/2008, na BBC News.
Tópicos das
notícias
Notícias de PC
Publicadas
N.
%
Saúde/medicina
23
85,18%
Meio ambiente
4
14,81%
Tecnologia
0
0%
TOTAL
27
100%
O levantamento apresentado na Tabela 3 indica que o site da BBC News
prioriza a publicação de notícias de PC sobre saúde/medicina (85,18%), em
comparação com notícias sobre meio ambiente (14,81%) e tecnologia (nenhum
exemplar publicado no período). Acredito que a publicação de um número maior de
notícias de PC sobre saúde/medicina pode ser explicada pelo interesse do público
leitor nesse tópico (Ibid.). Pesquisas realizadas com leitores de notícias apontam
que “o público leitor de notícias da área de saúde é pelo menos tão grande quanto o
público leitor de notícias sobre esportes” (RENSBERGER, 1997, p. 7), e a razão
para isso é simples: “as notícias da área de saúde lidam com o corpo humano, que
29
O resultado desse levantamento e do levantamento realizado pelos demais integrantes do projeto
guarda-chuva sobre os outros sites do corpus e também de editais do CNPq foi apresentado pela
orientadora deste trabalho na mesa-redonda Identidade, impacto e visibilidade de Letras e Linguística
(MOTTA-ROTH, D. Identidade, impacto e visibilidade de Letras e Linguística. In: ENCONTRO
NACIONAL DA ANPOLL, 23., 2008b, Goiás. Mesa-redonda. Goiás: Universidade Federal de Goiás,
2008).
105
todo leitor possui, e com as esperanças e os medos acerca do bem-estar desse
corpo” (Ibid.).
A literatura prévia (GUIMARÃES, 2001, p. 19; ALFERES; AUGUSTINI, 2008,
p. 2, dentre outros) aponta que o segundo tópico mais recorrente das notícias sobre
ciência é tecnologia, o que não se confirmou nesse corpus, uma vez que o segundo
tópico mais recorrente é astronomia/espaço (13,33%), seguido por meio ambiente
(11,66%), tecnologia (8,33%), biologia (5%) e antropologia, matemática e química,
sendo 3,33% atribuídos a cada um desses três últimos tópicos. As oito notícias de
PC que cobrem o tópico astronomia/espaço foram coletadas nos sites da ABC
Science (três notícias), Nature (três notícias) e Scientific American (duas notícias),
fato que pode ser justificado pelo enfoque desses sites, que buscam atingir o público
jovem ou então, conforme relatado por Hendges (2009), “leitores a frente do seu
tempo”, como é o caso da Scientific American.
As respostas dos jornalistas para a pergunta número 1 (ver Quadro 32) não
indicaram exatamente a razão pela qual o tópico saúde/medicina é o mais recorrente
do corpus, mas apontaram algumas pistas. Os jornalistas responderam que
observam cinco critérios diferentes para decidir quais estudos cobrir:
Pergunta: 1. How do decide which studies to cover in your newspaper/magazine/site?
Respostas
N.
Interest/relevant to audience
4
New/groundbreaking
4
Interest value/interesting
2
Relevant
2
Study coverage (Was it already covered widely? Is it worthy of an additional coverage?)
2
Quadro 32 Pergunta 1 e respostas dos jornalistas.
Pode-se dizer que os critérios mencionados estão relacionados com os
valores-notícia (news value, em inglês), que são valores observados pelos
jornalistas/editores para definir que assunto deve/merece ser noticiado. Rensberger
(1997, p. 11) aponta cinco critérios que são geralmente utilizados por jornalistas que
escrevem textos sobre descobertas científicas:
valor de “encantamento” (o assunto deve despertar a atenção dos
leitores);
106
tamanho da audiência (número de leitores que estejam interessados
em um determinado tópico);
importância para a sociedade e os leitores;
confiabilidade dos resultados; e
senso de oportunidade.
Pelo menos três desses critérios apontados por Rensberger (Ibid.)
correspondem aos critérios mencionados pelos jornalistas na entrevista. Os
jornalistas mencionaram que o estudo deve ser interessante/relevante para a
audiência, o que corresponde ao valor de “encantamento”. Além disso, também
mencionaram que o estudo deve ser novo/inovador, o que corresponde ao senso de
oportunidade do assunto e, por fim, mencionaram que o estudo deve ser relevante,
ou seja, deve ser importante para a sociedade e para os leitores.
No entanto, os critérios mais recorrentemente mencionados pelos jornalistas
são que o estudo deve ser interessante/relevante e novo/inovador para a audiência
dos sites. Isso indica que os jornalistas entendem que o tópico saúde/medicina é
interessante/relevante para seus leitores, o que vai ao encontro do que Rensberger
(1997) aponta como sendo o principal tópico de interesse dos leitores de notícias,
conforme apontado anteriormente nesta seção.
A análise apresentada aqui aponta que o principal tópico das notícias é
saúde/medicina, com 51,67% das notícias do corpus. Além disso, os critérios mais
recorrentemente mencionados pelos jornalistas para selecionar que estudos cobrir
são que o estudo deve ser interessante/relevante e novo/inovador para a audiência
dos sites.
As duas primeiras seções deste capítulo apresentaram um breve panorama
do contexto de publicação e das notícias de PC. A partir da próxima seção, passo a
relatar a análise dos dados propriamente dita. O primeiro enfoque da análise é a
distribuição das vozes nos textos do corpus, que reporto na próxima seção.
3.3 As posições enunciativas identificadas nas notícias de PC
A revisão da análise das 30 notícias de PC da BBC News e da Scientific
American e a análise de mais 30 notícias da ABC Science e Nature confirmam que
107
estas apresentam diferentes vozes, as quais podem ser agrupadas nas cinco
posições enunciativas identificadas em análises prévias (MARCUZZO, 2008;
MARCUZZO; MOTTA-ROTH, 2008; MARCUZZO, 2009; MOTTA-ROTH et al., 2008;
MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010 e PRATES et al., 2008):
1) cientista/pesquisador;
2) colega/técnico/instituição;
3) governo;
4)blico; e
5) jornalista.
No entanto, essas cinco posições enunciativas não se manifestam em cada um
dos 60 textos do corpus nem nos quatro subcorpora investigados. A distribuição das
posições enunciativas nos sites da ABC Science e Nature é apresentada nas
Tabelas 4 e 5. A distribuição das posições enunciativas nos textos da BBC e da
Scientific American foi apresentada na seção 1.4 do capítulo de Revisão da
Literatura e será retomada na Tabela 6 deste capítulo, quando apresento um resumo
da distribuição das posições nos textos dos quatro subcorpora.
Tabela 4 Posições enunciativas nos textos da ABC Science.
Texto
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
TOTAL
(N.)
ABC#1
+
-
-
-
-
1
ABC#2
+
-
-
-
-
1
ABC#3
+
-
-
-
-
1
ABC#4
+
+
-
-
-
2
ABC#5
+
+
-
-
-
2
ABC#6
+
+
-
-
-
2
ABC#7
+
-
-
-
-
1
ABC#8
+
-
-
-
-
1
ABC#9
+
-
-
-
-
1
ABC#10
+
+
-
-
-
2
ABC#11
+
-
-
-
-
1
ABC#12
+
+
-
+
-
3
ABC#13
+
-
-
-
-
1
ABC#14
+
-
-
-
-
1
ABC#15
+
-
-
-
-
1
108
Tabela 5 Posições enunciativas nos textos da Nature.
Texto
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
TOTAL
(N.)
NAT#1
+
+
-
-
-
2
NAT#2
+
+
-
-
-
2
NAT#3
+
+
-
-
-
2
NAT#4
+
+
-
-
-
2
NAT#5
+
+
-
-
-
2
NAT#6
+
+
-
-
-
2
NAT#7
+
+
-
-
-
2
NAT#8
+
-
-
-
-
1
NAT#9
+
+
-
-
-
2
NAT#10
+
-
-
-
-
1
NAT#11
+
+
-
-
-
2
NAT#12
+
-
-
-
-
1
NAT#13
+
+
-
-
-
2
NAT#14
+
+
-
-
-
2
NAT#15
+
-
-
-
+
2
Os 30 textos da ABC Science e da Nature (100%) mencionam a posição
enunciativa de pesquisador responsável pelo estudo. A posição enunciativa de
pesquisador colega/técnico/instituição também se manifesta nesses dois
subcorpora, mas é mais recorrente nos textos da Nature do que nos textos da ABC
Science (11 e cinco ocorrências, respectivamente, 73,33 e 33,33%). O público é
mencionado em apenas um texto da ABC Science (6,66%), tendo uma presença
inexpressiva na notícia de PC, assim como revelou a análise dos textos da BBC
News e da Scientific American, em que tal posição se manifestou em apenas dois
textos da BBC News (MARCUZZO, 2009; MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010). A
posição enunciativa do governo não se revela nesses 30 textos da ABC Science e
da Nature, e a posição enunciativa do jornalista se revela em um texto da Nature
(6,66%).
Na Tabela 6, apresento a ocorrência dessas cinco posições enunciativas nos
quatro subcorpora.
109
Tabela 6 Posições enunciativas nos quatro subcorpora.
Sites
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
TOTAL
N.
%
N.
%
N.
%
N.
%
N.
%
N.
ABC
Science
15
100%
5
33,33%
0
0%
1
6,66%
0
0%
21
BBC
15
100%
14
93,33%
5
33,33%
2
13,33%
0
0%
36
Nature
15
100%
11
73,33%
0
0%
0
0%
1
6,66%
27
Scientific
American
15
100%
10
66,66%
3
20%
0
0%
6
40%
34
TOTAL
60
100%
40
66,66%
8
13,33%
3
5%
7
11,66%
118
Em resumo, os dados apontam que a presença da posição enunciativa do
pesquisador responsável pelo estudo é onipresente no corpus, uma vez que foi
identificada em todos os 60 textos (100%). A presença da posição enunciativa do
pesquisador colega/técnico/instituição também é bastante recorrente, sendo
identificada em 40 textos (66,66%). O governo é mencionado em oito textos
(13,33%), apenas nos textos da BBC News (BBC#1, BBC#4, BBC#13, BBC#14 e
BBC#15) e da Scientific American (SCIAM#3, SCIAM#4 e SCIAM#10). O blico se
revela em apenas três textos (BBC#3, BBC#4 e ABC#12), o que representa 5% do
corpus como um todo. Isso pode ser justificado pelo fato de que o público não se
encontra no mesmo domínio reservado ao especialista, nesse caso, os cientistas
(GIERING, comunicação pessoal
30
). A posição de jornalista se revela em sete textos
(11,66%), sendo um texto da Nature (NAT#15) e seis da Scientific American
(SCIAM#4, SCIAM#10, SCIAM#11, SCIAM#12, SCIAM#13 e SCIAM#15),
confirmando a análise de Motta-Roth (2009a) nos textos da Scientific American, que
identificou essa posição enunciativa em alguns dos textos desse subcorpus.
Portanto, a análise indica que o site da Scientific American é o que apresenta mais
posições enunciativas que têm a voz explicitada na notícia de PC. Desse modo, os
resultados vão de encontro aos resultados do estudo de Calsamiglia e Ferrero López
(2003, p. 170), uma vez que, no corpus, as vozes científicas têm mais espaço na
mídia que as vozes políticas, enquanto que, no estudo realizado pelas
30
Durante o exame de qualificação, realizado no dia 6 de abril de 2010.
110
pesquisadoras, as vozes científicas tiveram menor espaço na mídia que as vozes
políticas.
Em apenas 10 textos do total de 60 do corpus (16,66%) é apresentada a
opinião das posições enunciativas que têm realmente a sua voz explicitada nas
notícias de PC: os cientistas responsáveis pela pesquisa popularizada e/ou colegas,
o governo e o público, uma vez que os jornalistas não expressam sua opinião acerca
da pesquisa popularizada, pois o sujeito empírico do jornalista não se dá a conhecer
como sujeito discursivo, pois sua voz não é textualmente explícita” (MOTTA-ROTH;
MARCUZZO, 2010, p. 532). Como consequência, o debate sobre descobertas
científicas, nas notícias de PC do corpus, fica mais restrito ao âmbito acadêmico-
científico, na medida em que os jornalistas apresentam mais frequentemente as
opiniões do pesquisador e/ou pesquisador colega/técnico/instituição. Isso indica que
a visão um tanto otimista acerca da existência de um processo de democratização
da ciência pela mídia pode ser considerada infundada (HENDGES, comunicação
pessoal
31
).
Quando os textos apresentam uma maior diversidade de posições
enunciativas, o debate se amplia para diferentes setores da sociedade que mantêm
alguma relação com a pesquisa reportada, embora, muitas vezes, não sejam
especialistas no assunto, como o público, por exemplo. De fato, a presença de
diferentes posições enunciativas permite que várias vozes sejam representadas nas
notícias de PC, constituindo-se em “uma oportunidade para representar as opiniões
dos vários atores sociais de acordo com o seu conhecimento acerca do assunto e
sua posição dentro da comunidade discursiva a qual pertencem” (BEACCO, et al.,
2002, p. 283). Além disso, a presença de diferentes posições enunciativas permite
que os leitores das notícias de PC tenham acesso a diferentes pontos de vista sobre
o assunto reportado, sejam eles divergentes ou não.
A análise contextual (entrevistas por e-mail com 11 jornalistas da ABC
Science, Nature e Scientific American) pode ajudar a entender a razão pela qual as
posições enunciativas do governo e do público são sub-representadas no corpus. Ao
analisar as respostas para as perguntas 3A e 3B do questionário, é possível dizer
que os jornalistas pressupõem que as fontes que devem ser contatadas para
31
Durante o exame de qualificação, realizado no dia 6 de abril de 2010.
111
comentar as descobertas científicas são os cientistas. O Quadro 33 apresenta a
pergunta 3A e suas respectivas respostas.
Pergunta: 3. The stories also present other people’s opinions about the research study that gets
popularized, including institutional and governmental voices and the general public. However, my
analysis has showed that the general public’s voice tend to be comparatively underrepresented (out
of 60 stories the scientist is mentioned in 60 stories and the public’s voice is mentioned only in 3
stories).
a) Why?
Respostas
N.
General public is not able to comment on it.
7
Scientists are able to comment on it.
6
It is not part of the culture of science reporting/editor would not welcome it.
3
Public can talk about policy stories; Stories with direct real world consequences; Stories with strong
ethical implications; Stories about technology; Stories about genetic modification of crops; Stories about
assisted reproduction; Stories about government policy; Stories about medical advance.
8
Quadro 33 Pergunta 3A e respostas dos jornalistas.
Sete respostas para a pergunta 3A (J#1, J#4, J#5, J#7, J#8, J#9 e J#11)
indicam que o blico é sub-representado nas notícias de PC porque os jornalistas
julgam que este não é capaz de comentar as descobertas científicas, e eles explicam
as razões para tal:
adding the public’s voice will not likely increase the scientific literacy of
readers (J#4);
the general public is not called to comment on other news stories (J#4 e
J#5);
the issues are too technical (J#5);
public is not versed/informed on/about scientific topics (J#7 and J#8);
people do not have a single opinion about the issue being discussed (J#8);
the general public cannot add to that story (J#1 and J#9); e
it’s hard to nail down relevant reaction (J#11).
Os jornalistas apontaram sete razões, as quais incluem o fato de que os
comentários do público provavelmente não aumentarão o letramento científico dos
leitores até o fato de que é difícil obter comentários relevantes dessa posição
enunciativa. Pelo menos duas razões apresentadas pelos jornalistas (J#4/J#5 e J#8)
merecem ser discutidas aqui. Os jornalistas J#4 e J#5 justificam a pouca presença
do público nos textos com o fato de que este também não é mencionado em outros
112
gêneros jornalísticos, assim eles não devem ser incluídos na notícia de PC, o que,
de fato, não é uma justificativa, uma vez que justamente são gêneros diferentes e,
portanto, com objetivos, públicos-alvo, etc. distintos. A outra razão apresentada pelo
jornalista J#8 é que o público não tem uma opinião única sobre as questões que são
apresentadas, ou seja, as pessoas têm na verdade diferentes opiniões sobre o
mesmo assunto. Isso me leva a concluir que os jornalistas acreditam que o público
pode ser representado nos textos apenas por uma única pessoa, representante da
sociedade civil, quando, de fato, poderia ser representado nos textos por
associações, instituições não governamentais, etc., que representariam um grupo de
pessoas de alguma forma relacionado com o estudo reportado na notícia de PC e
dariam voz ao que esse segmento da sociedade tem a dizer sobre o assunto.
Outra razão para a pouca presença do blico nos textos é mencionada em
três respostas, quando os jornalistas disseram que inclusão da voz do público não
faz parte da cultura do processo de publicação de notícias de PC (J#2, J#3 e J#5) e,
portanto, isso não seria bem-vindo pelo editor(a) (I think the most honest answer is
that it is not generally within the culture of science reporting to ask views of members
of the public - editors would not welcome it) e também pelos leitores das notícias de
PC (My impression is that readers want to hear what the “experts” think - they are
generally not very interested in what Joe Bloggs thinks) (J#5).
Um dos jornalistas (J#4) acrescentou também que nunca havia pensado em
entrevistar o blico: I have never thought to obtain it for my work. I believe that the
purpose of science reporting is to convey recent findings or the general scientific
consensus on topics that affect our lives and environment (J#4), o que indica que
isso realmente não faz parte da sua prática.
As respostas para a pergunta 3A também mostram que o papel do público
parece ser predeterminado pelos jornalistas em termos de tópicos sobre os quais ele
poderia opinar. De acordo com as respostas, o público poderia opinar sobre:
policy stories (J#1 and J#5);
stories with direct real world consequences (J#3);
stories about medical advance (J#5).
stories with strong ethical implications (J#5);
stories about technology (J#7);
stories about assisted reproduction (J#8); e
113
stories about genetic modification of crops (J#8).
De fato, ao relacionar tópico dos textos e posição enunciativa, a voz do
público aparece em dois textos do corpus que relatam estudos sobre modificação
genética de sementes destinadas à agricultura (BBC#3 e BBC#4) e em um texto que
relata os avanços da medicina (ABC#12), o que parcialmente confirma o que os
jornalistas responderam. No entanto, o corpus também inclui outras notícias sobre
modificação genética de sementes destinadas à agricultura (SCIAM#7, por exemplo)
ou avanços da medicina (NAT#3, por exemplo) que não mencionam a voz do
público. Além disso, o corpus também inclui cinco textos sobre tecnologia (ABC#4,
NAT#5, NAT#12, SCIAM#11 e SCIAM#13), um dos tópicos mencionados pelos
jornalistas (J#7) sobre o qual o público poderia opinar, mas eles também não
mencionam a voz do público. Além disso, em uma das respostas para a pergunta
3B: How are your sources (institutional and governmental voices and the general
public voice) chosen and contacted?, um dos jornalistas entrevistados (J#7) deixa
claro que o papel do público parece ser outro: We see our role more as educating
the general public on issues they might not necessarily be following, so we don't see
it as a priority to interview them for stories. Isso me leva a concluir que os jornalistas
não mencionam a voz do público em seus textos com base, principalmente, em seu
modelo prévio de jornalismo científico, que inclui apenas vozes científicas para
comentar os estudos reportados, e ao público cabe ser educado por meio da leitura
de notícias de PC.
Em vez do público, os jornalistas entendem que os cientistas são capazes de
oferecer comentários sobre as descobertas científicas porque:
they have factual information and therefore are credible sources (J#2); e
they can comment on it most knowledgeably and meaningful (J#1).
Assim, com base nas razões apresentadas pelos jornalistas, é possível
afirmar que eles entendem que o blico é uma tábua rasa em termos de
conhecimento científico, e os cientistas são autoridades acerca do que constitui
ciência (MYERS, 2003, p. 266), assim eles podem oferecer comentários sobre o
estudo reportado nas notícias de PC.
As respostas para a pergunta número 3B corroboram essa questão e também
ajudam a entender a razão pela qual o governo é também sub-representado nesses
textos (apenas 13,33%) (ver Quadro 34).
114
Quadro 34 Respostas dos jornalistas para a pergunta 3B.
Quando perguntados sobre como eles escolhem e entram em contato com
fontes institucionais e governamentais e o público em geral, os jornalistas
conseguiram explicar apenas como escolhem e contatam fontes científicas, e isso
mostra que realmente não faz parte da rotina diária deles entrar em contato com
outras fontes além dos cientistas. Na verdade, os cientistas são as fontes que os
jornalistas pressupõem que devem ser contatadas em sete respostas (J#1, J#3, J#4,
J#5, J#6, J#9 e J#11).
Em relação às fontes governamentais, apenas dois jornalistas reportaram
suas experiências em entrar em contato com essas fontes. Um dos jornalistas
respondeu que ele contata funcionários do governo se “the story deals directly with a
federal agency (i.e. FDA, NOAA)” (J#4), e o outro respondeu que raramente cobre
“stories on which some governmental comment would be needed, and in my limited
experience this is hard to get without lots of red tape, and tends to be a very bland
assessment even if you do” (J#5). Assim, a pouca presença do governo no corpus
pode-se justificar pelo fato de ser difícil entrar em contato com cientistas que
trabalham em instituições governamentais porque estes podem precisar de
autorização prévia dos órgãos para os quais trabalham para comentar os resultados
das pesquisas, o que está em desacordo com a literatura prévia, a qual destaca que
geralmente é mais fácil entrar em contato com cientistas que trabalham para o
Pergunta: 3. The stories also present other people’s opinions about the research study that gets
popularized, including institutional and governmental voices and the general public. However, my
analysis has showed that the general public’s voice tend to be comparatively underrepresented (out
of 60 stories the scientist is mentioned in 60 stories and the public’s voice is mentioned only in 3
stories).
b) How are your sources (institutional and governmental voices and the general public voice) chosen
and contacted?
Respostas
N.
Scientists are the presupposed sources by the journalists
7
Scientists who have previously published papers on the field
5
Expertise
3
Relevance to the topic
3
Credibility/authoritativeness/experience
3
Ability to communicate
2
Journalist's familiarity with the scientists
2
Scientists are indicated by another colleague
2
115
governo ou em universidades do que, por exemplo, os cientistas que trabalham em
empresas privadas (DUNWOODY, 1986, p. 4).
No corpus, as vozes governamentais são incluídas em oito textos, seis sobre
questões de saúde (BBC#1, BBC#13, BBC#14, BBC#15, SCIAM#4 e SCIAM#10) e
dois sobre questões ambientais (BBC#4 e SCIAM#3). Alguns deles m implicações
político-sociais, tais como o consumo de bebidas alcoólicas entre adolescentes
(BBC#14), e/ou têm um tópico controverso, tais como o parto realizado em casa
(BBC#1), o uso de células-tronco (SCIAM#4) ou a modificação genética de sementes
destinadas à agricultura (BBC#4). Assim, acredito que as vozes governamentais são
mencionadas no corpus apenas quando o tópico é controverso.
Quando perguntados sobre como escolhem quais comentários incluir em seus
textos, os jornalistas responderam que se orientam pelo o que consideram
informativo, interessante, relevante, etc., conforme apresento no Quadro 35.
Pergunta: 3. The stories also present other people’s opinions about the research study that gets
popularized, including institutional and governmental voices and the general public. However, my
analysis has showed that the general public’s voice tend to be comparatively underrepresented (out
of 60 stories the scientist is mentioned in 60 stories and the public’s voice is mentioned only in 3
stories).
c) How do you choose what to quote?
Respostas
N.
Quotes that are lively
5
Quotes are chosen according to the text structure/flow
3
Quotes that are relevant
3
Quotes that are informative
2
Quotes that are interesting
2
Quotes which uses a good metaphor
2
Quotes that can simplify the research/uses non-technical language
2
Quotes are chosen to provide accuracy
2
Quadro 35 Respostas dos jornalistas para a pergunta 3C.
Em cinco respostas, os jornalistas afirmaram que escolhem comentários que
são lively ou espontâneos, ou seja, que trazem vida à notícia, proporcionam
perspectiva e são o oposto de comentários formais, são diferentes, incomuns e
116
bastante orais, parecendo estarem “vivos” e prendendo a imaginação do leitor
(MILLER, comunicação pessoal
32
; WARREN, comunicação pessoal
33
).
Os jornalistas também disseram que escolhem os comentários de acordo com
a estrutura/o fluxo do texto e se baseiam no critério de relevância. Os jornalistas
também selecionam comentários que são informativos e interessantes. Outros
jornalistas mencionaram que eles escolhem comentários que podem simplificar a
pesquisa e fornecer precisão para a notícia, e outros disseram que escolhem
comentários que têm uma boa metáfora. Assim, os resultados indicam que os
jornalistas usam vários critérios diferentes para decidir qual comentário incluir em
seus textos. As respostas também revelaram que todos esses critérios devem ser
analisados com base no tópico das notícias de PC, ou seja, eles são dependentes
do contexto e às vezes também subjetivos.
Os resultados indicam que, para os jornalistas, a PC é um processo linear e
não cíclico, como proposto por Moirand (2003), porque parecem entender que o
conhecimento viaja em uma via de mão única, da ciência para a sociedade
(MYERS, 2003, p. 266). Além disso, os cientistas parecem ser as figuras-chave
nesse gênero, o que confirma a análise de Parkinson e Adendorff (2005, p. 287) de
artigos de PC, os quais apontam que esses textos destacam os pesquisadores. O
público, por sua vez, não faz parte do processo de produção da PC e é sub-
representado na notícia de PC. Ele apenas consome ciência produzida por cientistas
e popularizada por cientistas e jornalistas. Isso evidencia que esses jornalistas
entrevistados têm uma perspectiva bastante tradicional acerca da PC, em que os
cientistas desenvolvem conhecimento e depois versões simplificadas são lançadas
ao público (HILGARTNER, 1990, p. 519).
Além disso, esses jornalistas parecem agir como “disseminadores”, que
buscam obter os fatos e transmiti-los ao público rapidamente, e não como
“mobilizadores populistas”, os quais procuram atrair audiências com histórias
interessantes que dão voz ao público e estabelecem agendas políticas (WEAVER &
WILHOIT, 1996, p. 138-140 apud STOCKING; HOLSTEIN, 2009, p. 32). Esse
resultado está relacionado às quatro fontes onde o corpus deste estudo foi coletado:
ABC Science, BBC News, Nature e Scientific American, que o bastante
32
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
33
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
117
estabelecidas e tradicionais no âmbito do jornalismo (MILLER, comunicação
pessoal
34
). Isso também está relacionado à questão da busca pela objetividade no
jornalismo. Se questionados, os jornalistas provavelmente responderão que eles
estão interessados em reportar objetivamente os fatos, não em estabelecer agendas
políticas (WARREN, comunicação pessoal
35
).
Com base nessas questões, embora estejamos no século XXI e na fase
cronológica chamada de “Participação pública na ciência”, de acordo com as três
fases propostas por Jianmin (2005) e apresentadas no capítulo de Revisão da
Literatura, parece que ainda estamos vivenciando a segunda fase, que teve início no
século XX e é chamada de “Conhecimento público da ciência”. Nessa fase, o público
não participa do processo de PC, e o processo de comunicação é ainda
principalmente unidirecional (JIANMIN, 2005), o que significa da ciência para a
sociedade.
É importante destacar que a análise apresentada nesta seção não considerou
apenas as menções às posições enunciativas indicadas pelo nome e sobrenome da
voz; ao contrário, considerou diferentes formas que os jornalistas utilizaram, nas
notícias de PC, para se referir a elas. De fato, os jornalistas utilizam estratégias
variadas para fazerem referência a cada uma das cinco posições enunciativas
identificadas nesta seção. O enfoque da próxima seção é justamente este: a análise
do modo como as posições enunciativas são representadas nos textos do corpus a
partir do inventário sócio-semântico de van Leeuwen (1996; 2008). A análise foi
realizada com o objetivo de categorizar os diferentes modos de representação das
posições enunciativas nos textos e, a partir disso, identificar se alguma posição
aparece mais/menos nos textos que outras.
3.4 Como as posições enunciativas são representadas nas notícias de PC
Van Leeuwen (1996; 2008) propõe várias categorias para a análise da
representação dos atores sociais no discurso, conforme apresento no capítulo de
34
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
35
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
118
Revisão da Literatura. Neste trabalho, sua proposta foi utilizada para identificar como
as posições enunciativas são representadas ao longo dos textos. A análise revela
que o utilizadas diferentes estratégias para fazer referência às posições
enunciativas identificadas no corpus (MARCUZZO, 2009). Nesta seção, são
apresentadas as estratégias utilizadas para a referência às cinco posições
enunciativas identificadas, respectivamente: pesquisador responsável pelo estudo
reportado na notícia de PC, pesquisador colega/técnico/instituição ligada ao assunto
reportado, governo, público em geral e jornalista, respectivamente.
A posição enunciativa onipresente nos textos do corpus, o pesquisador
responsável pelo estudo, é geralmente representada por meio de cinco estratégias:
1) funcionalização (professor, pesquisador, etc.) e/ou nomeação (prenome
e/ou sobrenome com ou sem honoríficos);
2) coletivização;
3) genericização;
4) objetivação (referência metonímica); e
5) agregação.
Os exemplos a seguir ilustram o modo como os pesquisadores responsáveis
são representados por meio de funcionalização e/ou nomeação:
Exemplo 12
(BBC#2) Researcher Dr Sarah Palmer said: "It is extremely important that
new drugs are developed to eradicate HIV infection as the side effects
associated with long-term HIV treatment can be severe."
Exemplo 13
(SCIAM#2) The finding implies that "things are happening even on this little
cluster of rock," says space researcher Daniel Scheeres of the University of
Michigan at Ann Arbor.
Exemplo 14
(ABC#2) According to the lead author of the paper, Professor Chun-Fang
Wu, the results show that social interaction with younger members of the
species confers physiological benefits in mutant fruit flies.
Exemplo 15
(NAT#2) Leonid Khriachtchev, from the University of Helsinki, Finland, who
led the research, says that this is the smallest known neutral molecule
containing two xenons ever made.
Nos exemplos 12 e 13, essa posição enunciativa é representada por meio de
funcionalização (no exemplo 12 researcher e no exemplo 13 space researcher) e
nomeação semiformal, com honoríficos apenas no exemplo 12. nos exemplos 14
119
e 15 são apresentados os nomes dos pesquisadores (nomeação semiformal). Nesse
caso, as posições enunciativas são mencionadas de forma específica, evidenciando
que são pessoas reais que estão sendo citadas (PARKINSON; ADENDORFF, 2005,
p. 287). Além disso, a nomeação ao leitor a ideia de que os pesquisadores são
pessoas reais (Ibid., p. 288). Essas posições enunciativas são apresentadas como o
autor principal do artigo científico que deu origem à notícia de PC (exemplo 14) e
coordenador do estudo (exemplo 15), respectivamente. No entanto, geralmente essa
posição enunciativa é apresentada por meio das seguintes funções: professor
universitário ou então pesquisador ligado a uma instituição universitária ou a um
centro de pesquisa. Ao apresentar a função e/o nome do pesquisador, o jornalista
também menciona a instituição na qual esse pesquisador trabalha, como nos
exemplos 13 e 15. Desse modo, a referência à função que o pesquisador exerce se
constitui em um recurso de autoridade utilizado pelo jornalista para conferir
credibilidade à pesquisa que está sendo popularizada (MOTTA-ROTH; LOVATO,
2009; MOTTA-ROTH, 2009a) e, consequentemente, à notícia de PC, assim como a
referência à instituição na qual esse pesquisador trabalha também se configura em
um recurso de autoridade. Além disso, a nomeação se constitui em uma estratégia
ideológica poderosa, uma vez que nomes e títulos utilizados na referência a uma
pessoa representam diferentes maneiras de percebê-la (CALDAS-COULTHARD,
1997, p. 97).
A posição enunciativa de pesquisador responsável pelo estudo também é
mencionada por meio de coletivização, como em the staff (BBC#15), the researchers
(BBC#2, BBC#3, BBC#7, BBC#10, BBC#12, BBC#13, SCIAM#3, SCIAM#6,
SCIAM#8, SCIAM#10, SCIAM#12, ABC#10, ABC#12, ABC#13, ABC#15 e NAT#12)
e team, como em The New Zealand team (BBC#10); Professor Wallace's team
(ABC#13); the team (NAT#3 e NAT#10); a team led by Clifford Saper from Harvard
Medical School in Boston, Massachusetts (NAT#4); e Kimura and his team (NAT#5).
No entanto, a análise indica que a coletivização se manifesta mais recorrentemente
no corpus pelo substantivo researchers acompanhado do artigo definido the, para
designar o grupo de pesquisadores que realizaram o estudo, conforme os exemplos
a seguir:
120
Exemplo 16
(BBC#10) The researchers said: "The extracts of boysenberry and
blackcurrant containing anthocyanins and phenolic compounds displayed
significant inhibition against the oxidative challenge of hydrogen peroxide."
Exemplo 17
(SCIAM#10) The researchers report in Science that they sussed out the
bug's travel plans by studying 13,000 samples of the virus collected from
every continent (except Antarctica) over the past five years.
Exemplo 18
(ABC#10) While the European study suggests long-term pill users may
therefore be at increased risk of heart attack or stroke, the researchers say
their findings are no need for alarm.
Exemplo 19
(NAT#12) As the researchers report in Nature, the two monkeys achieved
success rates of 61% and 78%, respectively.
Desse modo, os pesquisadores são apresentados como um grupo
homogêneo cuja função é apresentar e avaliar as descobertas científicas e suas
consequências para o leitor (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 161).
A posição enunciativa de pesquisador responsável pelo estudo também é
mencionada pela genericização, por meio dos seguintes substantivos no plural:
experts (BBC#1, BBC#6, BBC#9, BBC#13 e NAT#3), researchers (BBC#11,
BBC#14, SCIAM#2, SCIAM#4, SCIAM#5, SCIAM#6, SCIAM#7, SCIAM#9,
SCIAM#11, SCIAM#12, SCIAM#15, ABC#3, ABC#6, ABC#12, ABC#13, ABC#14,
NAT#3, NAT#4 e NAT#9) e scientists (BBC#7, BBC#8, BBC#13, BBC#14, ABC#6,
ABC#8, ABC#9, ABC#12 e ABC#14). Nesse caso, os experts, researchers e
scientists da área são tratados como uma classe sem um referente específico (Ibid.).
Eles são apresentados por meio de uma genericização e o simbolicamente
removidos do mundo de experiência imediata dos leitores e tratados como uma
classe distante (Ibid.), o que pode provocar um efeito de distanciamento entre a
ciência, representada pelos pesquisadores, e a audiência, os leitores das notícias de
PC.
A genericização é utilizada ao longo dos textos e também no lead da notícia,
conforme os exemplos 20 a 22. Destaca-se que os textos da ABC Science não
apresentam lead, por isso não foi possível identificar um exemplo nesse site.
Exemplo 20
(BBC#6) Lead: Size may not be everything when it comes to brain evolution,
say experts.
121
Exemplo 21
(SCIAM#10) Lead: Scientists figure out the yearly travel plans for seasonal
flu, which could lead to better vaccines.
Exemplo 22
(NAT#) Lead: Astronomers say Universe is small and finite.
A genericização é utilizada no lead para dar mais destaque à pesquisa e aos
seus resultados, chamando a atenção do leitor para a pesquisa e não
necessariamente para quem realizou o estudo. Posteriormente, ao longo dos textos,
os pesquisadores são individualizados, pela nomeação.
O pesquisador responsável pelo estudo também é mencionado por meio de
uma metonímia à atividade por ele realizada, conforme apontado anteriormente por
Brasil et al. (2008), que identificaram a referência metonímica ao pesquisador nos
seguintes caso: a pesquisa (research) e o trabalho (work) em referência ao
pesquisador ou aos pesquisadores. Além desses casos identificados por Brasil et al.
(2008) na análise-piloto de 10 textos da BBC News, nos 60 textos, identifiquei que a
referência ao pesquisador (ou pesquisadores) também pode ser realizada pelos
seguintes grupos nominais organizados a seguir em ordem alfabética:
1) discovery (SCIAM#14);
2) evidence [Archaeological] (NAT#10);
3) examination (SCIAM#8);
4) finding (SCIAM#14);
5) project (BBC#4);
6) research (BBC#2, BBC#6, BBC#9, BBC#10, BBC#13 e SCIAM#15);
7) study (BBC#1, BBC#6, BBC#10, BBC#14, SCIAM#3, SCIAM#6, SCIAM#9,
SCIAM#15, ABC#1, ABC#2, ABC#3, ABC#7, ABC#8, ABC#10, ABC#15 e
NAT#4); e
8) work (BBC#7 e SCIAM#4).
Essa posição enunciativa também é mencionada por meio de uma metonímia:
1) ao periódico em que seu estudo foi publicado (The Journal Nature
Genetics (BBC#5)); ou então
2) ao próprio artigo publicado pelos pesquisadores que realizaram o estudo
(report (BBC#14 e BBC#15) e paper (ABC#1)).
Nesses dois últimos casos, de referência ao periódico e ao artigo publicado, é
dada credibilidade às palavras escritas, que representam o conhecimento aceito
122
pela comunidade científica publicado no formato de um artigo publicado em um
periódico da área (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 164).
Santos (2010, p. 72), na sua pesquisa sobre metáforas lexicais em notícias de
PC, realizada com parte do corpus desta pesquisa (os 30 textos da BBC News e da
Scientific American), identificou os seguintes casos: research, report, study, inclusive
finding, o único que não havia sido identificado por mim no presente estudo de
doutoramento. Para a autora, esses casos são metonímias do tipo pesquisa pelo
pesquisador”, em que termos que metonimizam pesquisadores são nomeados em
detrimento dos cientistas” (Ibid.).
Por fim, em um texto do subcorpus da ABC Science, os pesquisadores
responsáveis pelo estudo são mencionados por meio de agregação, conforme indica
o exemplo 23:
Exemplo 23
(ABC#12) Two separate teams of doctors report successes in using gene
therapy to treat Leber's congenital amaurosis, or LCA.
Nesse caso, a agregação, que quantifica grupos de participantes (VAN
LEEUWEN, 1996, p. 49), foi utilizada porque essa notícia de PC reporta os
resultados de dois estudos diferentes acerca do mesmo assunto: a amaurose
congênita de Leber, uma variedade hereditária de cegueira.
Essas mesmas cinco estratégias utilizadas para fazer referência ao
pesquisador responsável pelo estudo (funcionalização, coletivização, genericização,
objetivação e agregação) também são utilizadas pelos jornalistas para fazer
referência à segunda posição enunciativa mais recorrente no corpus: o pesquisador
colega/técnico/instituição. Portanto, foram identificadas as seguintes estratégias para
fazer referência a essa posição:
1) funcionalização e/ou nomeação;
2) coletivização;
3) genericização;
4) objetivação (referência metonímica); e
5) agregação.
Por meio da funcionalização, como o próprio nome sugere, é mencionada
apenas a função que a posição enunciativa exerce, como no exemplo a seguir:
123
Exemplo 24
(BBC#5) A spokesman for the charity Bowel Cancer UK also welcomed the
findings.
No exemplo 24, a função desempenhada é de porta-voz de uma instituição, a
Bowel Cancer UK. Geralmente, quando o pesquisador colega/técnico/instituição é
representado apenas pela sua função, ele é um porta-voz de uma instituição, como
nesse caso do exemplo 24.
na nomeação é mencionado apenas o nome do
pesquisador/colega/instituição, sem menção à função da voz mencionada, como nos
dois exemplos a seguir:
Exemplo 25
(BBC#1) The Royal College of Midwives said the research was "welcome
but inconclusive"."The nature of transfer means that complications are
anticipated or evident. This principle applies irrespective of place of birth,
whether this is at home, in a birth centre or in hospital," said Dame Karlene
Davis.
Exemplo 26
(ABC#6) The Intergovernmental Panel on Climate Change says that burial of
carbon dioxide may be one of the main tools this century to slow global
warming that could bring more floods, droughts and rising seas.
No exemplo 25, pode-se recuperar, pela leitura do excerto, que Dame Karlene
é funcionária da Royal College of Midwives (instituição mencionada na primeira linha
do exemplo). No entanto, não é possível identificar, pela leitura do excerto ou do
texto todo, a função dela nessa instituição. no exemplo 26 é nomeada apenas a
instituição porque, nesse caso, o que é importa é a opinião institucional, e não a de
um pesquisador ou de um pesquisador colega apresentado individualmente ou
coletivamente. Essa estratégia é utilizada, principalmente, quando são mencionadas
instituições de destaque no cenário do assunto reportado na notícia. Destaca-se
que, apesar de o nome dessa instituição (Intergovernmental Panel on Climate
Change
36
) sugerir que se trata de um órgão governamental, a análise do site dessa
instituição
37
revela que essa instituição reúne especialistas de diferentes países que
revisam e avaliam informações científicas, técnicas e sócio-econômicas que sejam
relevantes para entender os riscos da mudança climática, causada por ações
humanas e seus potenciais impactos e opções para a adaptação e a mitigação.
36
Em português, Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Tradução retirada da
Wikipedia (http://pt.wikipedia.org).
37
Disponível em http://www.ipcc.ch/.
124
Quando essas estratégias aparecem em conjunto, são mencionados a função
e o nome do pesquisador/colega/instituição, como os exemplos 27 a 30 ilustram:
Exemplo 27
(BBC#7) Dr David Haslam, clinical director of the National Obesity Forum,
warned that it could take many years to develop genetic treatments for
obesity.
Exemplo 28
(SCIAM#5) It's very universal. It will touch everything" in materials design,
says mathematician David Kinderlehrer of Carnegie Mellon University in
Pittsburgh, who studies materials.
Exemplo 29
(ABC#4) "[So] it's important that people are starting to find applications for
graphene," says Pablo Jarillo-Herrero, an assistant professor at the
Massachusetts Institute of Technology who studies graphene but was not
involved in the UK research.
Exemplo 30
(NAT#4) “On the face of it, it’s almost the final nail in saying DMH is the
pacemaker, but under the surface there are people who strongly disagree,”
says neuroscientist Masashi Yanagisawa of University of Texas
Southwestern Medical Center in Dallas, who was not involved in the work.
Nos exemplos 27 e 29, as funções: clinical director of the National Obesity
Forum (no texto BBC#7) e an assistant professor at the Massachusetts Institute of
Technology who studies graphene but was not involved in the UK research (no texto
ABC#4) são mencionadas depois do nome do pesquisador colega; nos exemplos 28
e 30, a função é mencionada antes do nome do pesquisador colega, como um
elemento pré-modificador do grupo nominal com núcleo de substantivo próprio
(mathematician David Kinderlehrer, no texto SCIAM#5, e neuroscientist Masashi
Yanagisawa, no texto NAT#4).
Além disso, a posição enunciativa de pesquisador colega/técnico/instituição
também é representada por meio de coletivização, conforme os exemplos 31 a 33
ilustram:
Exemplo 31
(BBC#1) Home birth advocates say the study does not consider women who
develop problems in hospital. And the deaths of babies numbered just 65,
from 10,752 cases.
Exemplo 32
(BBC#4) GM opponents have also pointed to results in the study which
highlighted the emergence of multi-herbicide-resistance in "volunteer" plants.
Exemplo 33
125
(NAT#4) At this week's Society for Research on Biological Rhythms
conference in Florida, other researchers reported that Bmal1 -deficient mice
still maintain food-entrained rhythms.
Nesses exemplos, os pesquisadores colegas/técnicos/instituições são
reunidos em grupos. No exemplo 31, os pesquisadores colegas/técnicos/instituições
são reunidos em um grupo que defende o parto realizado em casa. No exemplo 32,
são reunidos em um grupo que se opõe ao uso de sementes transgênicas na
agricultura e, no exemplo 33, são reunidos em um grupo responsável por reportar os
resultados de um estudo. Nesse caso, parece que não é interessante
individualizar/especificar um determinado pesquisador colega, um técnico ou uma
instituição. Essa posição enunciativa parece ser coletivizada para dar uma ideia de
consenso acerca do assunto debatido.
A posição de pesquisador colega/técnico/instituição também é representada
por meio de genericização, como ilustram os exemplos 34 e 35:
Exemplo 34
(BBC#1) Childbirth in the UK, experts stress, remains very safe.
Exemplo 35
(BBC#9) Experts said the study was interesting but small and inconclusive
as a result.
Nos exemplos 34 e 35, a referência ao pesquisador colega/técnico/instituição
foi realizada pelo substantivo expert, para conferir uma ideia de que a voz, embora
não seja a responsável pelo estudo, é de um/uma especialista no assunto, o que
confere mais credibilidade a ela para se manifestar sobre a pesquisa popularizada.
A posição enunciativa de pesquisador colega/técnico/instituição também é
representada por meio da metonímia a uma publicação de sua autoria, como no
exemplo 36.
Exemplo 36
(BBC#9) Guidance from the National Institute for Health and Clinical
Excellence (NICE) in 2001 recommended donepezil, rivastigmine and
galantamine should be used as standard.
Por fim, essa posição enunciativa também é representada por meio de uma
agregação, como nos exemplos a seguir:
126
Exemplo 37
(ABC#5) Some scientists do not believe the ancient stromatolites found in
the Pilbara were made by microbes but are a product of chemical process
instead. They say similar structures have been produced in the laboratory
without microbes.
Exemplo 38
(NAT#6) Some experts think that microbes could potentially set up home as
far down as 5 kilometres below the sea floor.
Nesse caso, os pesquisadores colegas não são nomeados, mas são
apresentados em uma agregação, identificada por meio dos substantivos scientists e
experts acompanhados do quantificador indefinido some.
A terceira posição enunciativa mais recorrente no corpus é o governo, que
geralmente tem sua opinião transmitida no corpus por um porta-voz. Este, na
maioria das vezes, não tem o seu nome revelado, pois a nomeação, nesse caso,
não é importante, e sim a mensagem da instituição para a qual esse porta-voz
trabalha. No entanto, observei que, quando a posição do governo se revela por meio
de uma voz que desempenha um papel de destaque na instituição onde trabalha,
por exemplo, um diretor de um órgão governamental, o secretário do meio ambiente,
etc., o seu nome e sua função são apresentados. Assim, a declaração da voz do
governo tem mais destaque na notícia e chama mais a atenção do leitor para a
declaração dada.
Desse modo, a posição enunciativa do governo é representada de quatro
modos diferentes no corpus:
1) por objetivação (referência metonímica);
2) por funcionalização;
3) por funcionalização e nomeação; e
4) genericização.
A objetivação faz referência a uma instituição governamental, como ilustrado
pelo exemplo 39:
Exemplo 39
(SCIAM#4) This year, more than 186,000 menmostly over age 65will be
diagnosed with this form of cancer, according to the National Cancer
Institute (NCI) in Bethesda, Md; some 28,000 men lose their battle with the
disease each year.
a funcionalização faz referência ao porta-voz do governo, como no
exemplo 40:
127
Exemplo 40
(BBC#14) A Department of Health spokesperson said: "Tackling the culture
of harmful and binge drinking is a priority for Government and we are
working with the alcohol industry and other stakeholders to implement a
comprehensive strategy to tackle it.
Nesse caso, o porta-voz não tem seu nome revelado, apenas sua função é
mencionada, pelas razões mencionadas anteriormente.
A funcionalização e nomeação são utilizadas para a referência a uma pessoa
que desempenha um papel de destaque na instituição governamental onde trabalha,
como os exemplos 41 e 42:
Exemplo 41
(BBC#4) Following the FSE results, Environment Secretary Margaret
Beckett announced that companies wishing to bring GM crops into the UK
would have to go through a long approval process.
Exemplo 42
(BBC#14) Dominic Harrison, deputy regional director of public health in
North West, said the research confirmed the "almost daily experience" of
people who saw the rising problem of young, drunk people across the
region.
Nesses dois casos, foi utilizada a nomeação semiformal, incluindo nome e
sobrenome.
Por fim, o governo é nomeado de forma genérica, sem menção a um
determinado departamento, ministério ou uma secretaria específica, como o
exemplo 43 ilustra:
Exemplo 43
(BBC#1) Less than 2% of women currently opt for a home birth, but the
government has promised all prospective mothers the choice by 2009.
No entanto, pela leitura do texto BBC#1, pode-se inferir que o substantivo
government refere-se ao governo do Reino Unido, uma vez que o jornalista
ênfase ao local de abrangência do estudo (Childbirth in the UK, experts stress,
remains very safe) (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 259). Além disso, o jornalista
faz referências a outras instituições do Reino Unido, como National Collaborating
Centre for Women's and Children's Health e The Royal College of Midwives.
A posição enunciativa menos representada no corpus, o público, é nomeada
em apenas um texto (ABC#12), embora seja mencionada em três de um total de 60
textos (BBC#3, BBC#4 e ABC#12). Desse modo, o público é apresentado por meio
128
de três estratégias diferentes: genericização, agregação e nomeação, conforme
ilustrado pelos exemplos 44, 45 e 46, respectivamente:
Exemplo 44
(BBC#3) No GM crop has been found to endure so long; and critics say it
shows that genetically modified organisms cannot be contained once
released.
Exemplo 45
(BBC#4) More than half of Britons who took part in the "GM Nation" survey
last year said GM crops should never be introduced in the UK under any
circumstances.
Exemplo 46
(ABC#12) One volunteer in Ali's trial, Steven Howarth, says he has
significant improvement in night vision, allowing him to navigate a simulation
of a night-time street. "Now, my sight when it's getting dark or it's badly lit is
definitely better. It's a small change but it makes a big difference to me,"
Howarth says.
No exemplo 44, o público não foi nomeado, sendo referenciado de forma
genérica, a qual é indicada pelo substantivo “critics”. No exemplo 45, o público foi
nomeado por meio de agregação, que busca quantificar os grupos de participantes,
tratando-os como um dado estatístico obtido a partir de uma pesquisa de opinião,
pesquisa de marketing, etc. (VAN LEEUWEN, 2008, p. 37). Essa estratégia foi
utilizada para conferir uma ideia de consenso do público acerca do assunto em
debate na notícia de PC (Ibid.), nesse caso, o uso de sementes transgênicas na
agricultura. O texto ABC#12 (exemplo 46) apresenta o relato de um dos quatro
pacientes voluntários que testou a terapia gênica para tratar uma variedade
hereditária de cegueira (a amaurose congênita de Leber). Nesse texto, o público,
representado pelo paciente voluntário, relata que teve uma melhoria na visão
noturna, avaliando positivamente os resultados da pesquisa. Assim, nesse caso, o
público é nomeado para dar credibilidade à avaliação apresentada na notícia de PC.
A análise realizada indicou que, nos outros textos do corpus, o público é suprimido
do debate acerca das descobertas científicas, uma vez que não qualquer forma
de referência a ele em qualquer parte do texto (Ibid., 1996, p. 39). Vale destacar que
a estratégia de supressão se revelou em 57 textos do corpus (95%) porque há esses
três exemplares (BBC#3, BBC#4 e ABC#12) que mencionam o público,
correspondendo a apenas 5% do corpus.
A quinta posição enunciativa identificada no corpus foi a do jornalista, a qual é
nomeada no lead do texto NAT#15:
129
Exemplo 47
(NAT#15) Lead: The tendency of 'uneducated' people to compress the
number scale for big numbers is actually an admirable way of measuring the
world, says Philip Ball.
Nesse caso, foi utilizada a nomeação semiformal (nome e sobrenome) para a
referência a essa posição enunciativa. Além de fazer referência ao seu nome no
lead, o jornalista também utiliza a pessoa em outras passagens do texto. No
entanto, assim como nos outros textos do corpus, o jornalista é suprimido do debate
acerca das descobertas científicas, pois ele não expressa a sua opinião acerca da
pesquisa popularizada.
Na Tabela 7, apresento um resumo das estratégias de inclusão utilizadas na
referência às cinco posições enunciativas identificadas.
Tabela 7 Estratégias utilizadas para referência às posições enunciativas.
Estratégias de
inclusão
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
Jornalista
Agregação
+
+
-
+
-
Coletivização
+
+
-
-
-
Funcionalização
+
+
+
-
-
Genericização
+
+
+
+
-
Nomeação
+
+
+
+
+
Objetivação
+
+
+
-
-
TOTAL (N.)
6
6
4
3
1
Os resultados da Tabela 7 mostram que as posições enunciativas do
pesquisador responsável pelo estudo e do pesquisador colega/técnico/instituição
são representadas pelo jornalista por meio do maior número de estratégias,
totalizando seis (agregação, coletivização, funcionalização, genericização,
nomeação e objetivação), enquanto o governo é representado por meio de quatro
(funcionalização, genericização, nomeação e objetivação); o público, por três
(agregação, genericização e nomeação); e o jornalista é representado por meio de
uma única estratégia: a nomeação. Além disso, por meio da leitura horizontal da
130
Tabela 6, é possível identificar que a funcionalização e a nomeação foram utilizadas
na referência aos “especialistas no assunto”, aqueles responsáveis pelo estudo ou
os colegas, e o “governo”, figurado pelos representantes que exercem uma função
de destaque nas instituições onde trabalham. Portanto, a análise da representação
das vozes apresentada nesta seção indica que principalmente a funcionalização foi
utilizada na referência a atores sociais, nesse caso, posições enunciativas que m
um alto prestígio social, o que está de acordo com os dados levantados por van
Leeuwen (2008, p. 45), o qual também identificou que atores sociais com alto
prestígio social são mencionados pela sua função. Isso também explica porque o
nome e a função do público são pouco ou não são mencionados nos textos do
corpus.
Desse modo, a análise da representação das vozes apresentada nesta seção
permitiu identificar que, principalmente, as posições enunciativas de pesquisador
responsável pelo estudo e de pesquisador colega, além de serem as mais
recorrentes do corpus (ver dados apresentados na seção 3.3 deste capítulo), são
também as mais destacadas por duas razões:
1) o modo como são representadas nesses textos, conforme apontado
anteriormente; e
2) a recorrência em são mencionadas ao longo dos textos, pois não são
apresentadas apenas pelo seu nome próprio ou então por expressões referenciais,
mas também por estratégias variadas, como agregação, coletivização,
funcionalização, genericização e objetivação.
As estratégias identificadas são utilizadas pelo jornalista para se referir às
posições enunciativas que reúnem vozes variadas, as quais têm seu discurso
reproduzido na notícia de PC. O enfoque da análise apresentada a seguir se
concentra no modo como essas vozes m seu discurso introduzido nas notícias, a
partir dos níveis de intertextualidade propostos por Bazerman (2004), das formas de
citação apresentadas por Calsamiglia e López Ferrero (2003) e dos processos
escolhidos (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004).
131
3.5 Como o discurso das posições enunciativas é introduzido nas notícias de
PC
A partir da proposta de Bazerman (2004, p. 88-9) e Calsamiglia e López
Ferrero (2003, p. 155), nas notícias de PC, a intertextualidade se manifesta por meio
de quatro tipos diferentes de citação: direta, indireta, integrada e inserida (ver
capítulo de Revisão da Literatura, seção 1.5.1). Teoricamente, o jornalista usa os
diferentes tipos de citação quando julga que o que foi dito e quem disse possuem
relevância para o cenário em questão” (SILVA, 2007, p. 9), configurando-se nas
“forma[s] mais explícita[s] de inclusão do discurso do outro em um discurso”
(CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 147).
No corpus, foram identificados ao todo 633 excertos
38
atribuídos a diferentes
posições enunciativas, sendo 424 (66,98%) atribuídos ao pesquisador responsável
pelo estudo, 168 (26,54%) atribuídos ao pesquisador colega, 29 (4,58%) atribuídos
ao governo e 12 (1,89%) atribuídos ao público. Essa análise corrobora os dados
referentes à distribuição das posições enunciativas nos quatro subcorpora (ver
seção 3.3), uma vez que o pesquisador responsável pelo estudo, onipresente no
corpus, é aquele que tem mais excertos associados; o pesquisador colega, segunda
posição enunciativa mais recorrente no corpus, é a segunda posição em termos de
excertos associados; e isso também ocorre com o governo e o público, sendo a
terceira e quarta posições enunciativas em termos de ocorrência e excertos
associados a elas. Esses excertos são introduzidos por citação direta, indireta,
integrada ou inserida, conforme reporto a seguir.
A citação direta é a forma mais recorrente com que o discurso das vozes é
introduzido (303 ou 47,86%) e se manifesta pelo recurso da citação, nos termos da
Gramática Sistêmico-funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 444-452),
conforme ilustrado pelo exemplo 48:
Exemplo 48
(BBC#4) And Dr Mark Avery, the director of conservation at the bird group
RSPB, said: "This research tells us nothing about the impacts GM will have
on wildlife.
38
As categorias adotadas para identificar o número total de excertos foram os tipos de citação (direta,
indireta, integrada e inserida).
132
A partir do exemplo 48, a citação não precisa estar ajustada à oração
projetante em termos de referência, registro, etc. (THOMPSON, 2004, p. 210). No
exemplo 48, a oração projetante (sublinhada) tem um nexo de projeção paratática,
cujo núcleo é um processo verbal no passado (said), e a oração projetada (itálico)
representa a locução, o que é dito (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 445), e seu
processo principal está no presente simples (tells us).
Nos textos do corpus, foram identificadas três formas de introdução dos
processos na citação direta: estes são introduzidos no final, antes da citação e ainda
em uma oração intercalada no interior da citação.
Os exemplos 49 e 50 ilustram o modo como os processos são introduzidos no
final da citação:
Exemplo 49
(ABC#1) "It would be good to have more effective repellents that protect
against a greater number of insect species," says Dr Ulrich Bernier, a
research chemist with the Mosquito and Fly Research Unit of the US
Department of Agriculture (USDA) who worked on the project.
Exemplo 50
(NAT#1) Philosophically, I like the idea that the Universe is finite and one
day we could fully explore it and find out everything about it,” Starkman says.
Nesses exemplos, a citação é introduzida pelas aspas duplas. Além disso, ela
é sinalizada pelo processo colocado no final (say), associado às vozes dos
pesquisadores responsáveis pelo estudo reportado.
A análise realizada também indica que os processos podem ser inseridos
antes da citação, como no exemplo a seguir.
Exemplo 51
(BBC#6) Professor Seth Grant, one of those leading the study, said: "Our
simple view that 'more nerves' is sufficient to explain more brain power is
simply not supported by our study.
No exemplo 51, depois do nome (Professor Seth Grant), são apresentadas
informações sobre a posição que essa voz ocupa no discurso, nesse caso, um dos
coordenadores do estudo (one of those leading the study). Em seguida, o processo
say no passado seguido de dois pontos introduz o discurso.
Os processos também podem ser inseridos em uma oração intercalada no
interior da citação, conforme o exemplo 52 ilustra:
133
Exemplo 52
(SCIAM#13) "The big showstopper for this," says theoretical physicist
Douglas Stone of Yale University, who was not part of the study, "would be if
people, entities or devices that are not supposed to absorb the radiation do
absorb it."
O exemplo 52 inicia com parte da oração na forma de citação: The big
showstopper for this", que é intercalada por uma oração introduzida pelo processo
say no presente, o nome da voz (Douglas Stone of Yale University), as credenciais
da voz (theoretical physicist) e a indicação da posição dessa voz no discurso (who
was not part of the study). Nesse caso, Douglas Stone é o pesquisador colega que
não participou do estudo. O exemplo é finalizado com o restante da oração também
na forma de citação would be if people, entities or devices that are not supposed to
absorb the radiation do absorb it..
No entanto, Silva (2010, p. 15), na análise do mesmo corpus desta pesquisa,
embora não tenha fornecido dados quantitativos, destaca que a forma mais
recorrente com que os processos são introduzidos é no final da citação. Isso aponta
para uma “tendência em guiar a atenção do leitor primeiro para os comentários e as
opiniões e depois para o Dizente” (Ibid.).
Além disso, foi identificada outra forma de introdução da citação, em que os
parágrafos aparecem em sequência, sem conjunções que sinalizem a natureza/o
tipo de relação lógica estabelecida entre eles (MOTTA-ROTH et al., 2008), de
acordo com o exemplo 53, retirado de Motta-Roth et al. (2008):
Exemplo 53
(BBC#6) Dr Hugo Spiers, a neuroscientist from University College London,
said that while the size of the brain could not explain all the differences in the
abilities of the organ, it still had a major role to play.
He said: "We know that size isn't everything - for example, whales and
elephants have much larger brains than we do.
"This new research is right in saying that there is a lot more we can learn
about how synapses work to improve our understanding of the brain's
complexities.
"However, it's also true that, if you are dealing with intelligence, there are
certain parts of the brain which are disproportionately bigger in humans, and
which do appear to make a difference."
No primeiro parágrafo do exemplo 53, o jornalista introduz o nome da voz cujo
discurso será citado (Dr Hugo Spiers), as credenciais dessa voz (a neuroscientist
from University College London) e o processo verbal say no tempo verbal passado.
Em seguida, ele introduz o relato. No parágrafo seguinte, o jornalista usa uma
134
expressão referencial (He) para se referir a Hugo Spiers, mencionado na primeira
linha do exemplo, utiliza novamente o processo verbal say no tempo verbal passado
e introduz o discurso citado pela citação, sinalizada pelo uso de dois pontos e pelas
aspas duplas. No entanto, nos dois parágrafos seguintes, não há menção à voz nem
é utilizado um processo para introduzir o discurso. A citação é sinalizada por uma
marca tipográfica: as aspas duplas inseridas no início do penúltimo parágrafo e no
início e no final do último parágrafo. De fato, Halliday (1994, p. 251) destaca que “se
o assunto da citação se estende para um novo parágrafo, as aspas são geralmente
repetidas”. Desse modo, os parágrafos são ligados pelas cadeias logogenéticas
garantidas pelas escolhas dos elementos lexicais nas cadeias de referência (Dr
Hugo Spiers/He) e nas de coesão lexical (is right/is true, brain)(MOTTA-ROTH et
al., 2008), conforme sinalizado no exemplo 53, sublinhado e em negrito,
respectivamente.
A segunda forma mais recorrente de introdução do discurso das vozes é a
citação indireta (285 ou 45,02%), que faz referência a uma fonte e reproduz as
ideias apresentadas nessa fonte, mas nas palavras do próprio autor do texto
(BAZERMAN, 2004, p. 88-9) e se manifesta pelo relato (HALLIDAY; MATTHIESSEN,
2004, p. 444-452), como no exemplo 54:
Exemplo 54
(ABC#2) Wu speculates that the social interaction with younger flies could
have helped the mutant flies compensate for the genetic defect that makes
the insect particularly vulnerable to oxidative-stress induced aging.
Nesse caso, não reprodução ipsis litteris das palavras originais, mas sim a
projeção, na forma de uma paráfrase, do sentido da locução apresentada no texto-
fonte (HALLIDAY, 1994, p. 255; THOMPSON, 2004, p. 210). A citação indireta
permite que o discurso seja inserido de várias maneiras, como os exemplos a seguir
ilustram:
Exemplo 55
(BBC#15) A spokesman for NHS Connecting for Health, which
commissioned the report, said that roll-out of the scheme across England
would not happen until the issues brought up by the report had been
resolved.
Exemplo 56
(SCIAM#15) Liu notes that the biggest surprise was the dearth of data in this
area, given the widespread popularity of GH as a supposed anti-aging
therapy.
135
Exemplo 57
(ABC#15) Human errors are, therefore, not the result of momentary blips in
brain activity or concentration, as some suspect, the researchers say.
Exemplo 58
(NAT#15) Stanislas Dehaene of the Federative Institute of Research in Gif-
sur-Yvette, France, and his co-workers report in Science
1
that both adults
and children of an Amazonian tribe called the Mundurucu, who have had
almost no exposure to the linear counting scale of the industrialized world,
judge magnitudes on a logarithmic basis.
Nos exemplos 55, 56 e 58, o relato se manifesta na sua forma canônica, ou
seja, o discurso citado é apresentado sob a forma de uma oração projetada,
introduzida por uma oração projetante com processo verbal, como o Quadro 36
representa.
Y
diz/disse
que X
Dizente
Processo Verbal
Oração Projetada
“Proposição X”
Quadro 36 Representação da citação.
O relato se manifesta pela menção ao nome da voz cujo discurso será citado,
o Dizente em uma oração verbal, nos termos da Gramática Sistêmico-funcional
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 254), seguido de uma oração projetante com
um processo verbal e da oração projetada, que contém o discurso citado. No
entanto, no exemplo 57, a oração está invertida, uma vez que inicia com o discurso
citado (Human errors are, therefore, not the result of momentary blips in brain activity
or concentration, as some suspect) e é finalizada pela voz do Dizente, nesse caso,
os pesquisadores que realizaram o estudo apresentados coletivamente.
A terceira forma mais recorrente de introdução do discurso das vozes, nas
notícias de PC, é a citação integrada (31 ou 4,89%), que mistura traços sintáticos da
citação direta e da indireta (CALSAMIGLIA; LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 155),
conforme os exemplos abaixo ilustram:
136
Exemplo 59
(BBC#1) The Royal College of Midwives said the research was "welcome
but inconclusive".
Exemplo 60
(SCIAM#2) The finding implies that "things are happening even on this little
cluster of rock," says space researcher Daniel Scheeres of the University of
Michigan at Ann Arbor.
Exemplo 61
(ABC#6) "If there is a substantial subsurface biosphere on earth there could
also be substantial biospheres on other planets," says Parks, estimating that
such microbes could survive temperatures down to about 4 kilometres below
the seabed on earth.
Exemplo 62
(NAT#3) But even if it merely exists side by side with the cancer, “its unique
antigens look like the perfect way for the immune system to go about
attacking the tumour,” explains Cobbs.
Nesses casos, parte dos excertos está em citação indireta e parte está em
citação direta, sinalizada pela aspas duplas.
Além disso, os jornalistas também adotam a citação inserida (14 ou 2,21%),
quando as palavras da fonte citada são introduzidas por meio de marcadores como
“segundo X” ou “para X”, “nas palavras de X”, “de acordo com X(CALSAMIGLIA;
LÓPEZ FERRERO, 2003, p. 155). Esses marcadores são denominados por Halliday
e Matthiessen (2004, p. 276) de circunstância de projeção do tipo ângulo/fonte.
Essa forma de citação é mais recorrentemente manifestada nos textos pelo
marcador “de acordo com X”, conforme os exemplos a seguir ilustram:
Exemplo 63
(SCIAM#9) According to Kraus, 30 to 40 percent of children who have
learning and reading problems do not transcribe sound well.
Exemplo 64
(ABC#5) According to Walter, the recent findings are relevant to
understanding the construction of 3.5-billion-year-old stromatolites in the
Pilbara region of Western Australia - believed to be the oldest convincing
evidence of life on earth.
O marcador “de acordo com X” é utilizado em 14 (23,33%) ocorrências num
total de 60 textos assim distribuídas: sete ocorrências nos textos da Scientific
American, seis ocorrências nos textos da ABC e uma ocorrência nos textos da
Nature, não sendo localizada nenhuma ocorrência nos textos da BBC News.
137
No exemplo 65, também foi utilizada uma circunstância de projeção do tipo
ângulo/fonte (as) (Ibid.), por isso incluo essa forma de inserção do discurso na
categoria de citação inserida.
Exemplo 65
(SCIAM#6) As Harrington notes, "we're at the beginning of understanding
how planets handle their heat."
Nesse caso, a circunstância foi seguida da nomeação da voz em questão (de
fato, apenas o sobrenome: Harrington) e de um processo verbal no presente (note),
introduzindo o discurso por meio de citação. Essa forma de citação pode ser
resumida por “como X diz” (Ibid.). Nesse caso, diferentemente do marcador “de
acordo com X”, essa forma de citação apresenta um processo introdutor do discurso,
o qual, dependendo da escolha do autor do texto, pode auxiliar na interpretação do
que é dito. De fato, a investigação das reações das vozes sobre o estudo reportado
na notícia de PC manifestadas por meio dos processos permite identificar quem é
representado no texto reagindo a alguém ou a alguma coisa (VAN LEEUWEN, 2008,
p. 56).
Em termos de processos introdutores do discurso das vozes, por meio da
análise qualitativa dos textos da textos da ABC e da Nature, foi possível identificar
que, assim como no corpus parcial de 30 textos da BBC News e Scientific American,
os processos que introduzem as vozes são verbais, mentais e relacionais, a partir da
Gramática Sistêmico-funcional.
Nos textos da ABC e da Nature, além do processo say, considerado o
membro geral da classe dos processos verbais (HALLIDAY, 1994, p. 252), foram
identificados outros três tipos de processos verbais (ver Quadro 37).
Tipos de processos
Exemplos retirados do corpus
Verbos específicos para declarações e
perguntas
call, note, notice, point (to/out), report, reveal, show,
suggest, tell, unveil
Verbos relacionados ao verbo say com
algum elemento circunstancial
add (say in addition), confirm (make certain), explain
(say in explanation)
Verbos com conotações variadas
write
Quadro 37 Processos verbais nos textos do corpus.
138
Desse modo, assim como a análise anterior havia apontado, os processos
verbais identificados podem ser agrupados em:
1) verbos específicos para declarações e perguntas;
2) verbos relacionados ao verbo say com algum elemento circunstancial; e
3) verbos com conotações variadas.
Principalmente esse último tipo de verbos identificado por Halliday (1994)
apresenta pistas de como o discurso pode ser interpretado, conforme o exemplo
retirado do texto SCIAM#4 ilustra: But she warns that "it is still hard to say what this
work means for therapy," because the function of CD117 is not yet known. Nesse
caso, o leitor da notícia de PC de onde esse exemplo foi retirado deve interpretar o
comentário como uma advertência. o processo say é considerado um processo
verbal não marcado (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 252) ou neutro, na
medida em que introduz uma locução sem avaliá-la (CALDAS-COULTHARD, 1994,
p. 305).
Além desses processos verbais, foram identificados os seguintes processos
mentais e relacionais:
Tipos de processos
Exemplos retirados do corpus
Mentais
agree, believe, estimate, expect, like, recall, speculate, think
Relacionais
be
Quadro 38 Processos mentais e relacionais nos textos do corpus.
Com a análise quantitativa, realizada por meio do software Wordsmith, foi
possível identificar a recorrência desses processos nos 60 textos. Nas Tabelas 8 a
11, apresento os resultados dessa análise.
139
Tabela 8 Processos verbais que introduzem vozes.
Processos verbais
Total de
ocorrências
N.
%
add
14
2,82%
announce
3
0,60%
argue
1
0,20%
call
1
0,20%
confirm
2
0,40%
convince
1
0,20%
explain
15
3,03%
make claims
1
0,20%
note
12
2,42%
point to
3
0,60%
predict
1
0,20%
promise
1
0,20%
recommend
1
0,20%
report
22
4,44%
reveal
3
0,60%
say
346
69,89%
show
18
3,63%
stress
2
0,20%
suggest
28
5,65%
tell
6
1,21%
warn
6
1,21%
welcome
1
0,20%
write
7
1,41%
TOTAL
495
100%
Tabela 9 Tipos de processos verbais que introduzem vozes.
Verbo say
Total de
ocorrências
N.
%
346
100%
TOTAL
346
100%
Verbos específicos para
declarações e perguntas
Total de
ocorrências
N.
%
announce
3
3%
argue
1
1%
call
1
1%
make claims
1
1%
note
12
12%
notice
2
2%
point to
3
3%
report
22
22%
reveal
3
3%
show
18
18%
suggest
28
28%
tell
6
6%
TOTAL
100
100%
Verbos combinados ao
verbo say com algum
elemento circunstancial
Total de
ocorrências
N.
%
add
14
31,81%
confirm
2
4,54%
convince
1
2,27%
explain
15
34,09%
predict
1
2,27%
promise
1
2,27%
recommend
1
2,27%
stress
2
4,54%
warn
6
13,63%
welcome
1
2,27%
TOTAL
44
100%
Verbos com conotações
variadas
Total de
ocorrências
N.
%
write
7
100%
TOTAL
7
100%
140
A Tabela 8 mostra que o processo say tem 346 ocorrências (69,47%) no
corpus, num universo de 495 processos verbais identificados. O processo suggest é
o segundo mais recorrente entre os verbais, totalizando 28 (5,65%) ocorrências e foi
interpretado como verbal porque, nos textos do corpus, introduz uma declaração
(HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2004, p. 448). Depois do suggest, o processo report é
o terceiro mais recorrente entre os verbais, somando 22 ocorrências (4,44%).
outros processos verbais que também introduzem o discurso das vozes, mas com
uma ocorrência muito baixa (entre 3,63 e 0,20%), portanto inexpressiva. Desse
modo, o verbo say é o mais utilizado para introduzir o discurso das vozes.
Os processos verbais foram organizados, na Tabela 9, a partir de Halliday
(1994), em: verbo say, como categoria geral dentro dos processos verbais; verbos
específicos utilizados para declarações e perguntas; verbos relacionados ao verbo
say com algum elemento circunstancial; e verbos com conotações variadas. Depois
do say, os verbos específicos para declarações e perguntas são os mais recorrentes
entre os verbais, com 100 ocorrências (20,20%), e dentro dessa categoria o suggest
é o mais recorrente, com 28 ocorrências (28%).
Na Tabela 10, apresento a quantificação dos processos mentais identificados.
Tabela 10 Quantificação dos processos mentais que introduzem vozes.
Processos mentais
Total de
ocorrências
N.
%
admit
2
4,16%
agree
5
10,41%
believe
9
18,75%
concede
1
2,08%
conclude
4
8,33%
estimate
2
4,16%
expect
1
2,08%
know
6
12,5%
like
1
2,08%
predict
2
4,16%
recall
1
2,08%
reckon
2
4,16%
speculate
5
10,41%
surprise
3
6,25%
suspect
1
2,08%
think
2
4,16%
want
1
2,08%
TOTAL
48
100%
A Tabela 10 mostra que o processo believe tem nove ocorrências (18,75%), e
os processos agree e speculate têm cada um cinco ocorrências (10,41%), num
141
universo de 48 processos mentais identificados. Depois destes, os outros processos
mentais identificados têm uma ocorrência baixa (entre 8,33 e 2,08%). Portanto, o
processo believe é o mais recorrente entre os mentais e caracteriza incerteza em
relação ao que está sendo declarado. A seguir, a Tabela 11 traz a quantificação dos
processos relacionais identificados.
Tabela 11 Quantificação dos processos relacionais que introduzem vozes.
Em relação aos processos relacionais, a Tabela 11 mostra que a ocorrência
destes é realmente muito pequena (apenas nove casos ao todo), se comparada, por
exemplo, à ocorrência de processos verbais (495 ocorrências), sendo identificadas
quatro ocorrências do processo indicate (44,44%), quatro do processo be (44,44%) e
uma do processo have (11,11%). O processo have (nesse caso, no tempo verbal
passado, had) foi classificado como introdutor de voz porque está acompanhado do
Atributo a more blunt assessment”, cujo núcleo assessment é uma metáfora
gramatical por nominalização, a qual, na sua forma não metafórica, poderia ser
substituída por Professor Mark Westoby assesses/evaluates the research”,
configurando-se, assim, em uma oração mental que introduz o discurso da voz.
Além disso, o cotexto dessa oração é o seguinte: “Professor Mark Westoby, a plant
ecologist from Macquarie University in Australia, had a more blunt assessment. This
study confirms that GM crops are difficult to confine,” he said”. De fato, a oração
apresentada no parágrafo seguinte: This study confirms that GM crops are difficult
to confineexerce papel de oração projetada de Professor Mark Westoby, a plant
ecologist from Macquarie University in Australia, had a more blunt assessment”.
Além desse caso, o processo relacional be (“Kathleen Kelly, a cancer biologist at
Processos relacionais
Total de
ocorrências
N.
%
have [had a more blunt
assessment]
1
11,11%
Indicate
4
44,44%
be [is optimistic, are not sure,
was skeptical e was more
cautious]
4
44,44%
TOTAL
9
100%
142
NCI, is optimistic that the work will enhance understanding of the basic mechanism of
the disease” and However, Emily Diamand, senior farming researcher with the anti-
GM Friends of the Earth (FoE), was sceptical that Bright really had mimicked normal
farming practice”.) também foi interpretado como introdutor de voz porque poderia
ser substituído por “Dr. Joe Bloggs said he is optimistic/skeptical....
A Tabela 12 traz a distribuição de todos os processos identificados entre
verbais, mentais e relacionais.
Tabela 12 Quantificação dos processos que introduzem vozes.
Tipos de processos identificados no
corpus
Total de
ocorrências
N.
%
verbais
495
89,67%
mentais
48
8,69%
relacionais
9
1,63%
TOTAL
552
100%
Dos 552 processos que introduzem o discurso das vozes, 495 (89,67%) são
verbais, seguidos dos mentais, com 48 (8,69%), e dos relacionais, com apenas nove
ocorrências (1,63%). Portanto, o discurso das vozes, nas notícias de PC, é
predominantemente introduzido por processos verbais, destacando-se o processo
say. Silva (2010, p. 15) credita esse resultado à condição não marcada ou neutra do
processo say, possibilitando que o jornalista transfira a responsabilidade do que é
dito para a posição enunciativa e assuma uma condição neutra em relação ao que é
reportado. Além disso, os dados levantados corroboram os resultados do estudo
realizado por Oliveira e Pagano (2006, p. 643), que investigaram a representação da
citação em artigos acadêmicos e em notícias de PC publicadas em português e
identificaram que a citação associada ao verbo de relato é mais frequente em
notícias de PC que em artigos acadêmicos. Segundo as pesquisadoras, essa forma
de introdução do discurso do outro confere mais credibilidade e dramatização à
notícia de PC (Ibid., p. 641).
Isoladamente, esses processos não o significativos para vislumbrar o papel
das vozes nesses textos. Desse modo, depois de identificá-los e quantificá-los,
busquei associar processos e respectivas posições enunciativas (ver Quadro 39).
143
Destaca-se que essa análise havia sido realizada com os 30 textos da BBC News
e da Scientific American, conforme relatada em Marcuzzo (2009) e Motta-Roth;
Marcuzzo (2010).
Posições enunciativas
Processos associados
Pesquisador
add, admit, agree, announce, believe, call, concede, conclude, confirm,
estimate, expect, explain, indicate, be (not sure), note, notice, point
to/out, predict, recall, report, reveal, say, show, speculate, suggest, tell,
unveil, warn, write
Pesquisador
colega/técnico/instituição
add, agree, announce, argue, be (skeptical), estimate, explain, have (a
more blunt assessment), note, point to, recommend, report, say,
speculate, stress, suggest, tell, think, warn, welcome
Governo
add, (seem) to agree, announce, argue, be (optimistic), indicate,
promise, say, warn
Público
say
Jornalista
Say
Quadro 39 Relação entre posições enunciativas e processos.
Uma vez que os processos utilizados para introduzir o discurso citado nos 30
textos da ABC e da Nature são praticamente os mesmos identificados na análise
dos 30 textos da BBC News e Scientific American (ver capítulo de Revisão da
Literatura, seção 1.4), também não variação significativa nos processos
associados a cada uma das cinco posições enunciativas identificadas. Os processos
sublinhados no Quadro 39 são aqueles que ainda não haviam sido identificados
anteriormente, na análise dos 30 textos da BBC News e Scientific American. Além
disso, alguns deles são sinônimos de processos que haviam sido identificados
anteriormente, como os processos note/notice utilizados para introduzir o discurso
do pesquisador responsável pelo estudo. No Quadro 38, é apresentado o único
processo associado à voz do jornalista: say, que não havia sido identificado
anteriormente porque essa posição enunciativa não havia sido explicitamente
textualizada nos textos da BBC News e Scientific American.
Como o pesquisador responsável pelo estudo é onipresente no corpus (ver
seção 3.3 deste capítulo) essa posição enunciativa é a que mais tem processos
associados, conforme mostra a Tabela 13.
Tabela 13 Quantificação dos processos localizados no corpus.
144
Posições enunciativas
Processos
associados
N.
%
Pesquisador
29
48,33%
Pesquisador
colega/técnico/instituição
20
33,33%
Governo
9
15%
Público
1
1,66%
Jornalista
1
1,66%
TOTAL
60
100%
O pesquisador responsável pelo estudo tem quase metade dos processos
associados a ele (48,33%), enquanto o pesquisador colega/técnico/instituição tem
um pouco menos do que isso (33,33%). O governo, o público e o jornalista, do
mesmo modo como aparecem menos nos textos, também têm menos processos
associados, totalizando, respectivamente, 15; 1,66 e 1,66% dos processos.
Esses processos podem ser divididos entre verbais, mentais e relacionais,
conforme mostra a Tabela 14:
Tabela 14 Tipos de processos associados a cada posição enunciativa.
Posições enunciativas
Processos
verbais
Processos
mentais
Processos
Relacionais
N.
%
N.
%
N.
%
Pesquisador
17
28,33%
10
16,66%
2
3,33%
Pesquisador
colega/técnico/instituição
14
23,33%
3
5%
3
5%
Governo
6
10%
1
1,66%
2
3,33%
Público
1
1,66%
0
0%
0
0%
Jornalista
1
1,66%
0
0%
0
0%
TOTAL
39
65%
14
12,33%
7
11,66%
A Tabela 14 mostra que o associados ao pesquisador e ao pesquisador
colega/técnico/instituição principalmente processos verbais e mentais, confirmando o
resultado do estudo de Parkinson e Adendorff (2005, p. 288) de artigos de PC. Os
processos mentais são associados principalmente ao pesquisador responsável pelo
estudo. Esses processos, em sua maioria, são do tipo mentais cognitivos, que
indicam decisão, conhecimento, compreensão/entendimento sobre algo
(THOMPSON, 2004, p. 94), como, por exemplo, believe, estimate, expect, recall e
145
think. Os processos mentais cognitivos associados ao pesquisador responsável pelo
estudo indicam que mais poder é atribuído a essa posição enunciativa no debate
sobre descobertas científicas, uma vez que os atores sociais mais poderosos têm
mais reações cognitivas atribuídas a eles, em vez de afetivas (VAN LEEUWEN,
2008, p. 58).
A análise prévia de 15 exemplares coletados na BBC News (MARCUZZO;
MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-ROTH et al., 2008) apontou que o discurso das vozes
era introduzido predominantemente por citação direta (citação, nos termos da
Gramática Sistêmico-funcional). No entanto, a análise do corpus como um todo
indicou que o número de citações diretas (303 ou 47,86%) e indiretas (285 ou
45,02%) é praticamente o mesmo, variando apenas 2,84%, portanto não é possível
elaborar conclusões acerca das razões pelas quais as citações diretas ou indiretas
foram escolhidas. Além disso, a análise dos 60 exemplares também indicou outros
dois tipos de citação: a citação integrada e a citação inserida, que ainda não haviam
sido identificadas na análise dos 15 textos da BBC News, mas que têm uma
ocorrência inexpressiva no corpus. No entanto, a análise dos 60 textos confirma a
análise anterior (MARCUZZO; MOTTA-ROTH, 2008; MOTTA-ROTH et al., 2008),
uma vez que as vozes são predominantemente introduzidas pelo verbo say.
A próxima seção explora a função das vozes no gênero notícia de PC e busca
cobrir o segundo objetivo deste trabalho, que o de é identificar e interpretar o papel
dessas vozes para a construção do sentido da notícia de PC, a avaliação das
descobertas científicas e a constituição do gênero notícia de PC.
3.6 As funções das posições enunciativas nas notícias de PC
Para a análise da função das vozes no gênero notícia de PC, todos os
excertos em que são mencionadas vozes foram identificados com base nos critérios
apresentados no capítulo de Metodologia, agrupados de acordo com as posições
enunciativas as quais pertencem e então analisados a partir do esquema de
146
codificação desenvolvido especificamente para esta pesquisa de doutoramento e
também descrito no capítulo de Metodologia.
De um total de 625 excertos
39
identificados, 416 (66,56%) são atribuídos ao
pesquisador que conduziu o estudo que está sendo popularizado; 168 (26,88%) são
atribuídos ao pesquisador colega/técnico/instituição que não está envolvido
diretamente com o estudo; 29 (4,64%) são atribuídos ao governo; e 12 (1,92%) são
atribuídos ao público, conforme a Tabela 15 resume.
Tabela 15 Excertos que introduzem vozes associados a cada posição enunciativa.
Pesquisador
Pesquisador
colega/
técnico/
instituição
Governo
Público
N.
%
N.
%
N.
%
N.
%
Excertos (625)
416
66,56%
128
26,88%
29
4,64%
12
1,92%
Com base no número de excertos atribuídos a cada posição enunciativa, a
análise apresentada na Tabela 15 confirma que as vozes científicas são dominantes
nesses textos, enquanto que o governo e o público são sub-representados no
corpus. Destaca-se que a análise da distribuição das vozes reportada na seção 3.3
considerou apenas se a posição enunciativa era mencionada ou não nas notícias de
PC, a qual poderia ser sinalizada por alguma das estratégias de representação
identificadas no corpus (ver seção 3.4), e a análise apresentada nesta seção
considerou todos os excertos atribuídos às posições enunciativas.
Ao correlacionar as três funções: retórica, epistêmica e textual, identifiquei
que os 18 textos (30%) que iniciam com um excerto atribuído a alguma posição
apresentam um excerto atribuído ao pesquisador (metonimicamente ou não,
conforme apontado na seção 3.4), cuja função é acrescentar informação relevante à
notícia de PC, conforme ilustrado pelo exemplo 66.
Exemplo 66
(BBC#6) Size may not be everything when it comes to brain evolution, say
experts.
39
A análise apresentada aqui considerou o número total de excertos.
147
Como havia sido apontado por Motta-Roth e Lovato (2009, p. 233) na
análise das mesmas 15 notícias de PC da BBC e mais 15 da Ciência Hoje, a função
do lead nos textos do corpus é sintetizar os resultados gerais da pesquisa. Dos 18
textos que iniciam com um excerto atribuído a uma posição enunciativa no lead, a
maioria deles (12) é da BBC News (BBC#1, BBC#2, BBC#6, BBC#7, BBC#8,
BBC#9, BBC#10, BBC#11, BBC#12, BBC#13, BBC#14 e BBC#15), e os seis
restantes são da Nature (NAT#1) e da Scientific American (SCIAM#6, SCIAM#8,
SCIAM#9, SCIAM#14 e SCIAM#15). Portanto, o lead foi adotado, principalmente
pelos sites BBC News e Scientific American, como uma estratégia para captar a
atenção do leitor para a leitura da notícia de PC (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p.
250). Como fechamento, os textos geralmente terminam com um excerto atribuído
ao pesquisador ou ao pesquisador colega. De 50 textos (83,33%) que terminam com
um excerto atribuído a uma posição enunciativa na conclusão, 21 (35%) terminam
com um excerto atribuído ao pesquisador, cuja função é acrescentar informação à
notícia de PC, conforme o exemplo 67.
Exemplo 67
(SCIAM#6) As Harrington notes, "we're at the beginning of understanding
how planets handle their heat."
Além disso, 17 textos (28,33%) terminam com um excerto atribuído ao
pesquisador colega, cuja função também é adicionar informação à notícia de PC,
conforme o exemplo 68.
Exemplo 68
(NAT#11) We could look at what the neural encoding is for this,” says
Mitchell.
Os demais excertos apresentados no último parágrafo da notícia de PC são
atribuídos ao pesquisador responsável pelo estudo (cinco textos ou 8,33%), em que
ele/ela esclarece algum ponto ou alguma informação, conforme o exemplo 69.
Exemplo 69
(ABC#2) "This study shows that the lifespan of Sod flies is plastic and can
be conditioned by social interactions, corroborating the enduring notion that
human patients of certain age-dependent neurological diseases may be
benefited by an appropriate social environment," the authors write.
148
Além disso, cinco textos também terminam com excertos atribuídos ao
pesquisador colega em que ele concorda parcialmente com os resultados do estudo
reportado na notícia de PC ou então esclarece algum ponto ou alguma informação
(um texto), conforme ilustram os exemplos 70 e 71, respectivamente.
Exemplo 70
(BBC#6) "This new research is right in saying that there is a lot more we can
learn about how synapses work to improve our understanding of the brain's
complexities.
"However, it's also true that, if you are dealing with intelligence, there are
certain parts of the brain which are disproportionately bigger in humans, and
which do appear to make a difference."
Exemplo 71
(BBC#9) Rebecca Wood, chief executive of the Alzheimer's Research Trust,
said: "Although the scientists looked at Lewy Body disease rather than
Alzheimer's, the two conditions have much in common and this study shows
how a class of drugs, restricted by NICE for so-called performance reasons,
do help to prevent the physical progression of dementia."
outros três textos que terminam com um excerto atribuído ao governo, em
que a voz governamental adiciona conteúdo relevante à notícia de PC (três textos),
conforme o exemplo 72:
Exemplo 72
(BBC#14) "Our guidance to schools is clear that pupils' education about
alcohol and its effects should start in primary school, before drinking patterns
become established and should be revisited as pupils' understanding and
experience increases."
Além disso, outro exemplo em que o texto termina com a voz
governamental concordando plenamente com a pesquisa apresentada na notícia de
PC, conforme ilustrado pelo exemplo 73:
Exemplo 73
(BBC#1) A spokesperson for the Department of Health said: "The
department welcomes this article, whose findings will add to the much larger
and more detailed study we have already commissioned on safety of place
of birth."
Desse modo, a correlação das três funções: retórica, epistêmica e textual
revela que nenhum dos textos do corpus termina com uma citação em desacordo
com o estudo, seja do tipo discordo parcialmente ou discordo plenamente, e isso
talvez indique que os textos não estão promovendo um debate nas notícias de PC.
149
Mais especificamente em relação a essa questão, as análises prévias de
parte do corpus desta pesquisa (MARCUZZO, 2008; MARCUZZO; MOTTA-ROTH,
2008; MOTTA-ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH, 2009a e b; MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009; PRATES et al., 2008) revelaram que são mencionadas várias vozes
nesses textos, o que apontava para a existência de um possível debate nessas
notícias. No entanto, a análise realizada a partir do esquema de codificação apontou
que, dos 625 excertos analisados, 560 (89,6%) são retóricos, os quais buscam
acrescentar conteúdo relevante relacionado à notícia de PC ou explicam a
relevância da pesquisa ou seus resultados para a audiência, enquanto que os
excertos que correspondem à função epistêmica, a qual foi pensada para identificar
o debate nas notícias de PC, são apenas 67 (10,72%). O Gráfico 2 mostra a
distribuição de cada uma das funções: epistêmica, retórica e textual no corpus.
Retórica e epistêmica Textual
Gráfico 2 Representação de cada função no corpus.
Por meio do Gráfico 2, é possível visualizar a disparidade da distribuição das
funções retórica e epistêmica no corpus, pois a maioria dos excertos se encaixa na
função retórica, enquanto poucos se encaixam na função epistêmica. Destaca-se
que todos os excertos foram analisados em relação à função textual porque esta foi
investigada para ser correlacionada com as demais funções (retórica e epistêmica),
de modo a indicar a posição dos excertos no texto.
Em relação especificamente à função retórica, a categoria identificada com
mais recorrência foi adicionar informação, com 495 excertos (88,70%), enquanto que
150
esclarecer algum ponto ou alguma informação representa apenas 63 excertos
(11,29%) do corpus, conforme ilustrado pelo Gráfico 3.
Adicionar informação Esclarecer informação Espontânea
Gráfico 3 Distribuição da função retórica no corpus.
Os dados apresentados no Gráfico 3 indicam que o principal objetivo dos
excertos atribuídos a diferentes posições enunciativas, no gênero notícia de PC, é
acrescentar conteúdo relevante de alguma forma relacionado com o estudo
reportado, e não promover um debate sobre descobertas científicas. Desse modo,
as notícias de PC revelam o seu caráter dialógico, na medida em que abrem espaço
para diferentes vozes se manifestarem; no entanto, ao mesmo tempo, também
revelam o seu caráter monológico, uma vez que não abrem espaço para o debate
acerca das descobertas científicas, deixando que os leitores tenham acesso apenas
ao relato do estudo, e não à avaliação dele.
Em relação aos excertos considerados “espontâneos”, apresentados na
terceira coluna do Gráfico 3, a análise mostra que de 625 excertos apenas 11
(1,76%) se encaixam nessa categoria, embora este tenha sido o principal critério
mencionado pelos jornalistas para escolher quais comentários incluir em seus
textos. Os excertos considerados “espontâneos” são de dois tipos: adicionar
informação ou esclarecer informação, conforme os respectivos exemplos.
151
Exemplo 74
(NAT#1) You can think of the Universe as a musical instrument - it cannot
sustain vibrations that have a wavelength that is bigger than the length of the
instrument itself,” explains Frank Steiner, a physicist at Ulm University in
Germany.
Exemplo 75
(ABC#10) "We might be at the foot of a wave. But the wave might be a small
ripple," he says.
De fato, a maioria deles são excertos que adicionam informação e são ao
mesmo tempo espontâneos (nove excertos), e apenas dois são excertos que
esclarecem informação e são espontâneos, conforme os exemplos. Isso pode estar
relacionado ao fato de que a maioria dos excertos do corpus é do tipo “adicionar
informação”, então consequentemente a maioria dos excertos espontâneos também
é desse tipo.
A análise dos excertos considerados espontâneos indica que parece haver
uma diferença entre o que os jornalistas dizem e o que de fato eles fazem (MILLER,
comunicação pessoal
40
), e isso pode ser motivado por limitações de tempo. Ao
serem questionados acerca das principais limitações para se obterem comentários
acerca do estudo popularizado, sete jornalistas entre os 11 entrevistados apontaram
o fator “tempo”, e esse fator pode ser decisivo para entrar em contato com as fontes
e obter bons comentários para serem incluídos nos textos. A literatura prévia
corrobora isso, ao apontar que os jornalistas à vezes têm apenas algumas “horas
para coletar informações e escrever uma nocia sobre um assunto que a fonte, por
exemplo, um cientista, levou décadas trabalhando” (FJÆSTAD, 2007, p. 130).
Ao associar excertos considerados “retóricos” e posições enunciativas, foi
possível identificar que, ao pesquisador e ao pesquisador colega, são associados
principalmente excertos do tipo adicionar informação e, em menor proporção, do tipo
esclarecer informação. Já o governo e o público têm apenas excertos do tipo
adicionar informação, o que mais uma vez confirma que têm uma posição tímida nas
notícias, pois têm apenas um tipo de excerto retórico associado a elas.
Em relação à função epistêmica, a categoria identificada com mais
recorrência foi concordo plenamente, com 36 excertos identificados (53,73%), o
que indica que mais da metade das citações (e consequentemente das vozes) estão
de acordo com os estudos que estão sendo popularizados nos textos. As outras
40
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
152
categorias da função epistêmica representam quase metade dos excertos dessa
função: concordo parcialmente, com 19 excertos (28,35%); discordo
parcialmente, com nove excertos (13,43%); e discordo plenamente, com três
excertos (4,47%). O Gráfico 4 ilustra a distribuição das categorias dentro da função
epistêmica.
Concordo plenamente Concordo parcialmente Discordo parcialmente Discordo plenamente
Gráfico 4 Distribuição da função epistêmica no corpus.
Assim, mesmo com os excertos classificados como “epistêmicos, os quais
foram pensados para identificar o debate nas notícias, novamente a análise indica
que este é tímido nesses textos, visto que mais da metade dos excertos estão de
acordo com os estudos popularizados nos textos. Na análise contextual, dois
jornalistas reportaram que às vezes é difícil obter entrevistas com cientistas quando
o assunto é controverso: Sometimes an unwilling scientist is concerned about
speaking out about a controversial issue (J#2) ou então quando comentários
negativos a serem feitos sobre o estudo: Very occasionally, a researcher may
decline to speak about a story. But if that is so, it's generally when someone does not
wish to comment on another group's work, because they do not want to make
negative views public (J#5). Isso pode indicar que os jornalistas não inserem
153
comentários negativos acerca dos estudos porque encontram certa dificuldade para
obtê-los.
Ao associar excertos “epistêmicos” e posições enunciativas, foi possível
identificar que governo e público concordam parcialmente ou plenamente com o
estudo. O pesquisador responsável pelo estudo concorda plenamente, concorda
parcialmente ou discorda parcialmente da pesquisa popularizada. Desse modo, o
pesquisador colega é a única posição enunciativa que tem todas as categorias da
função epistêmica associadas a ele. Ele principalmente concorda plenamente ou
parcialmente com a pesquisa e, em menor proporção, discorda parcialmente ou
plenamente do estudo. Portanto, o pesquisador colega é a posição responsável por
estabelecer o pouco debate que nas notícias de PC. O pesquisador responsável
pelo estudo tem poucas excertoss epistêmicos porque seu papel, nas notícias de
PC, parece ser esclarecer ou fornecer informações sobre a pesquisa. o
pesquisador colega pode ser solicitado justamente para avaliar o estudo de outro
grupo. De fato, as respostas dos jornalistas apontam para isso. Quando perguntados
sobre a razão pela qual as vozes do blico são sub-representadas nas notícias de
PC do corpus, quatro jornalistas responderam que os pesquisadores colegas são
aqueles que devem comentar os estudos:
[…] the people who are going to be able to comment on it most
knowledgeably and meaningfully are other scientists. (J#1)
Much better to consult another scientist or someone else with expertise in
the area. (J#6)
[…] we speak to the main researchers and then anyone who might provide
an expert outside perspective (typically a researcher who has not worked
on a project but knows the subject). (J#7)
[…] other scientists or governments are the ones who are in the best
position to pick holes in a scientific argument or have to act on it. (J#11)
A literatura prévia (DUNWOODY, 1986, p. 8) confirma isso, ao apontar que os
principais alvos dos jornalistas para comentar os estudos são justamente os
pesquisadores que não fizeram parte da equipe que realizou o estudo popularizado
na notícia de PC. Isso pode ser explicado pelo fato de que geralmente são enviados
154
releases dos estudos aos jornalistas, e estes contêm alguns comentários dos
pesquisadores responsáveis pelo estudo (WARREN, comunicação pessoal
41
).
Quanto à função textual, os 625 excertos identificados estão distribuídos:
no lead (o parágrafo introdutório da notícia de PC que fornece uma
síntese prévia do estudo (MOTTA-ROTH; LOVATO, 2009, p. 249)): 18
excertos;
no desenvolvimento (todas os excertos apresentados entre o lead e o
último parágrafo da notícia de PC): 558 excertos; e
na conclusão (os excertos localizados no ultimo parágrafo da notícia de
PC): 49 excertos.
Com base nesses dados, os excertos são distribuídos principalmente no
desenvolvimento dos textos, o que se justifica pelo fato de que esta é a principal
parte da notícia de PC. Nessa parte, o jornalista apresenta o estudo popularizado,
faz referência a conhecimento prévio (contextualização), descreve a metodologia,
explica os resultados da pesquisa e aponta as conclusões (MOTTA-ROTH;
LOVATO, 2009, p. 246).
No entanto, o resultado mais relevante dessa seção se refere à análise do
tipo de excertos identificados, revelando a função destes no gênero notícia de PC. A
análise aponta que a principal função dos excertos atribuídos a diferentes funções
enunciativas é adicionar informação à notícia de PC, e não promover um debate
acerca das descobertas científicas. No próximo capítulo, à guisa de fechamento do
trabalho, faço um resumo dos principais resultados, partindo das perguntas de
pesquisa.
41
Durante o período de doutorado sanduíche na North Carolina State University (setembro de 2010 a
fevereiro de 2011).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos capítulos deste trabalho de doutoramento, reportei uma análise crítica de
notícias de PC com enfoque nas vozes manifestadas em exemplares desse gênero.
O objetivo geral do estudo foi investigar em que medida as posições enunciativas
instauram um debate sobre descobertas científicas. Esse objetivo se desdobra em
outros dois específicos, os quais são:
1) verificar a presença das posições enunciativas em exemplares de notícias
de PC publicados em Língua Inglesa; e
2) identificar e interpretar o papel dessas posições enunciativas para a
construção do sentido da notícia de PC, a avaliação das descobertas científicas e a
constituição do gênero notícia de PC.
Para tanto, foi feita uma análise do texto e do contexto de 60 exemplares do
corpus em inglês do projeto guarda-chuva (MOTTA-ROTH, 2007). Na análise
textual, além de oferecer um breve panorama das notícias em termos de tópicos,
foram analisadas a presença e a distribuição das vozes nesses textos; o modo como
estas, agrupadas em posições enunciativas, são representadas nas notícias de PC;
as formas de introdução do discurso das posições enunciativas e a função destas no
gênero notícia de PC. Na análise contextual, foram investigados dois contextos: o de
distribuição a análise dos sites onde o corpus foi coletado e o de produção, por
meio de entrevistas com 11 jornalistas que assinam 16 notícias (26,66% do corpus).
O contexto de consumo ainda precisa ser explorado em pesquisas futuras.
Neste capítulo de fechamento, as “considerações finais” consistem em
responder as cinco perguntas de pesquisa que guiaram a realização deste trabalho,
tentando estabelecer um debate com a literatura prévia publicada na área. A
primeira pergunta a ser respondida é:
1) Em que medida uma multiplicidade de vozes nas notícias de PC
analisadas?
A análise revela que realmente uma multiplicidade de vozes nas 60
notícias de PC do corpus, ou seja, há várias fontes que são mencionadas nas
notícias e tecem comentários sobre o estudo popularizado. Para fins de análise, as
vozes foram agrupadas em posições enunciativas, o que corresponde à posição que
156
uma voz ou um conjunto de vozes ocupa no discurso. A partir de resultados prévios
(MARCUZZO, 2008; MARCUZZO; MOTTA-ROTH, 2008; MARCUZZO, 2009;
MOTTA-ROTH et al., 2008; MOTTA-ROTH; MARCUZZO, 2010 e PRATES et al.,
2008) e da análise realizada, foram identificadas cinco posições enunciativas no
corpus: pesquisador responsável pelo estudo, pesquisador
colega/técnico/instituição, governo, público e jornalista. Portanto, uma
multiplicidade de vozes nos textos, mas apenas cinco posições enunciativas.
O pesquisador é mencionado em todos os textos do corpus; o pesquisador
colega/técnico/instituição é citado em 40 textos (66,66%); o governo, em oito textos
(13,33%); o público se revela em apenas três textos; e o jornalista, em sete textos
(11,66%). Assim, as posições do pesquisador responsável pelo estudo e
pesquisador colega/técnico/instituição são as mais presentes nesses textos. Por sua
vez, o governo e o público são sub-representados nas notícias de PC. A análise do
contexto revela que isso se deve ao fato de que os jornalistas pressupõem que o
pesquisador responsável pelo estudo e o pesquisador colega/técnico/instituição são
as fontes que devem ser contatadas para comentar as descobertas científicas, já em
relação ao público estes entendem que ele o é capaz de comentar tais
descobertas. Além disso, segundo os jornalistas entrevistados, não faz parte da
cultura jornalística incluir os comentários desse segmento na notícia de PC e isso
provavelmente não seria bem recebido pelos editores e leitores dessas notícias. Em
relação à pouca presença da posição enunciativa do governo, a análise contextual
indica que isso pode se justificar pelo fato de ser difícil entrar em contato com
cientistas que trabalham em instituições governamentais, uma vez que estes
precisam de consentimento prévio para comentar os resultados de suas pesquisas e
esse processo tende a ser burocrático.
A segunda pergunta de pesquisa foi formulada para investigar:
2) Como as vozes se manifestam linguisticamente em notícias de PC (ou,
mais especificamente, como as vozes são representadas nos textos? Como estas
são introduzidas nesses textos, por exemplo, por citação direta/indireta, etc.? Quais
são os processos associados a essas vozes?)?
As vozes, agrupadas em cinco posições enunciativas, o representadas por
meio de diferentes estratégias, e não apenas por meio do seu nome e/ou
sobrenome. A partir do inventário de van Leeuwen (1996; 2008), o pesquisador
responsável pelo estudo e o pesquisador colega/técnico/instituição são
157
representados por seis estratégias diferentes: agregação, coletivização,
funcionalização, genericização, nomeação e objetivação; o governo é
representado por quatro estratégias: funcionalização, genericização, nomeação e
objetivação; e o público por apenas três: agregação, genericização e nomeação.
Portanto, o pesquisador responsável pelo estudo e o pesquisador
colega/técnico/instituição são representados pelo maior número de estratégias e
pelas mais significativas, o que confere mais destaque e, consequentemente, poder
a essas posições enunciativas ao se manifestarem na notícia de PC.
A partir da proposta de Bazerman (2004) e Calsamiglia e López Ferrero
(2003), as vozes são introduzidas, de acordo com a ordem de ocorrência no corpus,
por citação direta, indireta, integrada e inserida. Essas formas de citação são
acompanhadas, também a partir da ordem de ocorrência, por processos verbais,
mentais e relacionais, destacando-se o processo verbal say, com 346 ocorrências no
corpus (ou 69,89%).
Em relação aos processos associados à posição enunciativa, o pesquisador
responsável pelo estudo mais uma vez se destaca, visto que tem mais processos
associados a ele e também os mais significativos, como os mentais cognitivos. O
pesquisador responsável pelo estudo tem quase metade dos processos associados
a ele (48,33%), enquanto o pesquisador colega/técnico/instituição tem um pouco
menos do que isso (33,33%). O governo, o público e o jornalista, do mesmo modo
como aparecem menos nos textos, também m menos processos associados a
eles, totalizando, respectivamente, 15; 1,66 e 1,66% dos processos.
As respostas para as duas primeiras perguntas de pesquisa indicam que o
pesquisador responsável pelo estudo é a posição enunciativa mais importante nas
notícias de PC pelo modo como é representado e pelo número/tipo de processo
associado a ele.
A terceira pergunta de pesquisa é central para este trabalho de doutoramento,
uma vez que se concentra em revelar:
3) Em que medida essas vozes promovem um debate acerca das
descobertas científicas na mídia?
A análise realizada a partir do esquema de codificação apontou que a maioria
dos excertos atribuídos às posições enunciativas corresponde à função retórica, a
qual indica a posição dos excertos que acrescentam conteúdo relacionado à notícia
de PC ou explicam a relevância da pesquisa ou seus resultados para a audiência,
158
enquanto que os excertos que correspondem à função epistêmica, os quais
identificam em que medida as posições promovem um debate acerca das
descobertas científicas na mídia, o a minoria no corpus. Então, muito antes de
instaurar um debate, os comentários das posições enunciativas são inseridos, na
notícia de PC, para fornecer informação relacionada ao tópico da notícia. Desse
modo, os resultados deste trabalho vão de encontro aos resultados do estudo de
Parkinson e Adendorff (2005, p. 293), uma vez que o inseridos comentários das
posições enunciativas, mas não é estabelecido efetivamente um debate entre elas.
Assim, pode-se dizer que não é função do gênero notícia de PC promover um
debate acerca das descobertas científicas. É preciso considerar que provavelmente
um conjunto de restrições situacionais que exercem pressão para que a notícia
de PC não apresente a controvérsia, como, por exemplo, o envio de realeases aos
jornalistas apenas com os comentários dos pesquisadores responsáveis pelo estudo
(GIERING, comunicação pessoal
42
).
A quarta pergunta de pesquisa complementa a pergunta anterior, que busca
revelar:
4) Que papel as vozes desempenham na avaliação das descobertas
científicas e no gênero notícia de PC?
A análise indica que as posições enunciativas têm um papel muito tímido na
avaliação das descobertas científicas, que seus comentários são inseridos
principalmente com o objetivo de fornecer informação relacionada ao tópico da
notícia de PC. Na verdade, os resultados apontam que o debate é incipiente no
gênero notícia de PC. O pouco debate que é promovido por uma única posição
enunciativa: o pesquisador colega. Com base nesse resultado, pode-se dizer que as
funções das posições enunciativas, no gênero notícia de PC, são as seguintes:
o pesquisador responsável pelo estudo fornece informação adicional
sobre a descoberta científica reportada na notícia de PC e, em menor proporção,
também esclarece informação e debate a pesquisa;
o pesquisador colega/técnico/instituição principalmente debate as
descobertas científicas e também fornece informação adicional sobre a descoberta
científica reportada na notícia de PC e esclarece alguma informação;
42
Durante a defesa, realizada no dia 11 de abril de 2011.
159
o governo e o público fornece mais detalhes sobre a descoberta
científica reportada na notícia de PC e também debatem a pesquisa popularizada.
o jornalista não se manifesta na notícia de PC como as demais
posições enunciativas; seu papel é dar voz ao discurso das demais posições
enunciativas.
Esse resultado ajuda a responder a última pergunta de pesquisa:
5) Em que medida há vozes que recebem mais/menos destaque nos
textos?
A análise realizada indica que duas posições enunciativas centrais nesse
gênero: o pesquisador responsável pelo estudo e o pesquisador
colega/técnico/instituição. A primeira tem espaço em todos os textos do corpus, é
representada por várias estratégias diferentes e daquelas que têm mais prestígio e,
além disso, têm mais processos associados a ela. A segunda é o pesquisador
colega, que exerce diferentes funções, ao comentar os resultados dos estudos. O
governo e o público não são posições enunciativas significativas nesse gênero
porque têm espaço flutuante e exercem funções menos importantes. Isso evidencia
que os jornalistas têm uma perspectiva tradicional acerca da PC, em que os
cientistas desenvolvem conhecimento e depois versões simplificadas dessas
descobertas científicas são lançadas ao público (HILGARTNER, 1990, p. 519), que
não participa da PC.
Por fim, destaco as limitações deste estudo. Conforme apontei no capítulo de
Metodologia (seção 2.3.), não foi possível localizar o contato dos jornalistas/editores
por meio de seus respectivos sites e, mesmo com a ajuda de outros jornalistas, não
consegui seus respectivos contatos, nesse caso, endereços de e-mail. A análise do
contexto foi possível pela minha iniciativa de procurar o endereço de e-mail dos
29 jornalistas que assinam as notícias de PC do corpus no Google.com. A busca
resultou em 19 endereços, mas um e-mail enviado retornou, então a mensagem de
apresentação e convite para a participação da pesquisa foi enviada a 18 jornalistas.
Desse total, 11 jornalistas responderam que aceitariam participar da pesquisa e
todos enviaram suas respostas, de modo que consegui contatar jornalistas de três
sites desta pesquisa: ABC Science, Nature e Scientific American. A maioria desses
jornalistas foi bastante solícita em aceitar participar da pesquisa e responder as
perguntas enviadas. No entanto, não consegui localizar nem metade dos jornalistas
do corpus, apenas 37,93% deles. Além disso, não consegui localizar os editores
160
desses sites. Mesmo assim, acredito que a análise contextual realizada tenha sido
significativa para este estudo.
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