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Ocidental misturou com regras de controle, como misturar opostos, somando partes, dispondo
do que se gosta, aprendendo com Vico.
Nos anos setenta, a despeito da decretação do fim do Tropicalismo por Caetano
Veloso, a Contracultura Tupiniquim se assume Tropicalista, mesmo sem a presença de seus
dois representantes mais famosos. É que a Contracultura no Brasil havia se tornado arma de
resistência: sensualismo, arte, cultura, carnaval, drogas e natureza - uma quizumba
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na
ordem para o progresso da ditadura.
O poema segue em balanço malandro, fazendo rima suingada, lembrando o fim da
bossa nova que louvava a „fossa‟ existencialista, tão chique, tão enfarada, brincando com
duplos opostos que, neste momento, se tocam. A antiga roça bronca, do Jeca, da barriga-
d‟água, é cenário de novas experiências, estreitando opostos, os cogumelos psicodélicos, e os
„speed nos cano‟ em plena zona rural - bucólica? Não - invasora. Os choques são recíprocos:
ambos modelos são chacoalhados com a interpenetração.
O hippiesmo no Brasil, aqueles que resolvem abandonar seu destino por uma „vida
alternativa‟, não atingiu as classes médias como nos EUA, mas o proletariado. Fugitivos da
linha de produção partem para o artesanato, produzindo e alimentando as chamadas „feiras
hippies‟, algumas remanescentes até hoje. Tentativas de comunidades rurais foram muito
mais raras, e de curta duração. Mas havia o desejo no ar: “Eu quero uma casa no campo [...]
onde possa plantar meus amigos, meus livros e discos, e nada mais”, faria coro até Tom
Jobim. Pegar no pesado mesmo, nem pensar! E viva Macunaíma, viva a preguiça!
Segue o poeta, com um pé na realidade mais simplória do capital, abandonando a
paranoia da acumulação de riquezas, solapando a ética, reescrevendo a moral: a riqueza do
nada, caída do céu, sem esforços. E brincar é o mote do poema todo: a troça, o jogo sonoro
como o pular de corda numa roda de amigos...
O poema desmonta muitas imagens, jogando com linhas de fuga de poder,
portanto nem tão inocente assim, nem tão puro assim. Foi como se deixar levar pelas
sensações que adormeciam nos corpos cristãos, assépticos, asseados, purificados, que foram
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Na capa do livro Quizumba, uma reprodução da significação do verbete, explica: Bras. Pop. Conflito em que
se envolvem numerosas pessoas. [Sin. (nesta acepç.), quase todos eles bras. E pop.: arruaça, confusão,
embrulhada, desordem, banzé, rixa, água-suja, alteração, angu, angu-de-caroço, arranca-rabo, arregaço,
arrelia, bagaço, banzé-de-cuia, banzeiro, bruega, chinfrim, coisa-feita, cú-de-boi, esparramo, esporro,
estalada, estripulia, estrago, estrupício, fecha, fecha-fecha, forrobodó, furdúncio, fusuê, pega, pega-pega,
quebra-quebra, salseiro, sarapatel, sarrabulho, surumbamba, tempo-quente, aperta-chico, arranca-toco,
baderna, bafafá, bafa, banguelê, berzabum, destranque, fandango, frevo, fubá, gangolina, grude, pampeiro,
perequê, perereco, pipoco, porqueira, quebra-rabicho, safarrascada, sangangu, sururu, trança, trovoada,
turundundum, rififi].