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As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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AS PROFECIAS DE DOM BOSCO
E A ERA DO PRÉ-SAL
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João GilBerto pArenti couto
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AS PROFECIAS DE DOM BOSCO
E A ERA DO PRÉ-SAL
JOÃO GILBERTO PARENTI COUTO
OS NOVOS TEMPOS PROFETIZADOS PARA O BRASIL E
A AMÉRICA DO SUL E O APOCALÍPTICO ARMAGEDOM E
SUAS CONSEQUÊNCIAS
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João GilBerto pArenti couto
Copyright © 2011 by
João Gilberto Parenti Couto
Todos os direitos reservados
Terceira edição
Diagramação:
Elizabeth Miranda
Proibida a reprodução total ou parcial.
Os infratores serão processados na forma da lei.
Mazza Edições Ltda.
Rua Bragança, 101 – Bairro Pompeia – Telefax: (31) 3481-0591
30280-410 Belo Horizonte – MG
www.mazzaedicoes.com.br
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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Quero aqui registrar os meus agradecimentos à Maria Mazarello
Rodrigues que, nos últimos quinze anos, franqueou a sua editora – A Mazza Edições
Ltda. – para que eu, como cidadão, pudesse expressar minhas
preocupações com os destinos do País. Estes agradecimentos são extensivos a
todos os que participaram desta empreitada, em particular as prezadas Elizabeth
Miranda, que deu forma a essas obras e Ana Emília de Carvalho, que sempre
colaborou corrigindo textos e cartas que as compõem. A todas estas pessoas
amigas o meu muito obrigado.
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João GilBerto pArenti couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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SUMÁRIO
PREFÁCIO............................................................................................11
PARTE I
AS PROFECIAS DE DOM BOSCO........................................................13
PARTE II
A MENSAGEM CODIFICADA SOBRE O BRASIL..................................31
PARTE III
A FERROVIA TRANSCONTINENTAL DOM BOSCO..............................43
PARTE IV
PROFECIAS E OUTROS ENÍGMAS......................................................50
PARTE V
O PAPEL DE MINAS GERAIS NAS PROFECIAS...................................57
PARTE VI
APOCALIPSE, ARMAGEDOM E O FIM DOS TEMPOS.........................69
PARTE VII
A PRIMEIRA BATALHA DO ARMAGEDON E A DESTRUIÇÃO
DO TEMPLO DE JERUSALÉM.............................................................79
PARTE VIII
A BOMBA ATÔMICA ISRAELENSE E AS ADVERTÊNCIAS
DO PROFETA ISAÍAS.......................................................................87
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João GilBerto pArenti couto
PARTE IX
A SEGUNDA BATALHA DO ARMAGEDOM E A
DESTRUIÇÃO DE ISRAEL...............................................................105
PARTE X
PREPARANDO O BRASIL E A AMÉRICA DO SUL
PARA OS NOVOS TEMPOS.............................................................116
PARTE XI
A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA REGIÃO SUDESTE
DO BRASIL....................................................................................133
PARTE XII
A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA, A EXPLORAÇÃO
DAS JAZIDAS DE MINÉRIO DE FERRO DO PAÍS E A
IMPLANTAÇÃO DE UM EFICIENTE E ESTRATÉGICO
SISTEMA FERROVIÁRIO NACIONAL ...........................................158
PARTE XIII
O COLAPSO DO SISTEMA FINANCEIRO INTERNACIONAL E AS
OPORTUNIDADES QUE SE ABREM PARA O BRASIL
E A AMÉRICA DO SUL...............................................................170
PARTE XIV
ONDE ESTARÁ A ECONOMIA MINEIRA NOS PROXIMOS
15 ANOS?....................................................................................182
PARTE XV
TEMAS POLÍTICOS RELEVANTES.....................................................215
PARTE XVI
AS REFORMAS CIDADÃS E AESCOLA PÚBLICA DE
TEMPO INTEGRAL.......................................................................231
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
9
PARTE XVII
UM CHAMADO À SOCIEDADE...........................................................253
PARTE XVIII
AS CAUSAS DO FRACASSO DA ESCOLA PÚBLICA
NO BRASIL....................................................................................276
BIBLIOGRAFIA...................................................................................299
O AUTOR...........................................................................................301
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João GilBerto pArenti couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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PREFÁCIO
Os novos tempos que se anunciam para o Brasil, assinalados
pelas descobertas de gigantescas reservas de petróleo e gás natural
na Plataforma Continental brasileira, numa camada estratigráfica de-
nominada de Pré-Sal, foram profetizados por Dom Bosco no final do
Século XIX. Outras riquezas minerais, igualmente fabulosas, também
foram profetizadas, não só para o Brasil, mas, também, para a América
do Sul, muitas das quais ainda estão para serem descobertas. Os anos
decisivos para realização dessas profecias situam-se entre 2003/2063.
Este livro trata desses assuntos e do contexto global em que
vivemos neste início do Século XXI, quando os tempos tenebrosos
do Apocalipse bíblico se instalarão no Velho Mundo, com epicentro
no Oriente Médio, mais particularmente na “terra santa”, onde será
deflagrado o Armagedom, razão porque o Brasil e outros países da
América do Sul devem, desde já, se precaverem para evitar o pior. Para
isso os políticos e governantes do continente devem se abster de se
envolverem em tais acontecimentos, os quais tragarão num vórtice de
fogo, não só os países do Oriente Médio e da Ásia Menor, os chama-
dos países do “stão” (Afeganistão, Cazaquistão, Paquistão, etc.), mas,
também, a Índia, China, Rússia e União Europeia; isso sem contar os
Estados Unidos da América e Israel, os deflagradores dessa hecatombe
nuclear que terá, como pano de fundo, petróleo, poder de mando, do-
mínio territorial e promessas messiânicas.
O Brasil deve estar preparado para enfrentar esses novos tem-
pos, mas, para isso, é preciso resolver de imediato um problema até
hoje insolúvel: a educação pública – o calcanhar de Aquiles da so-
ciedade brasileira. Sem uma população educada, será inútil acumular
riquezas, seja do pré-sal, ou de qualquer outra fonte, pois ela se dis-
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João GilBerto pArenti couto
persará em obras inúteis, como fizeram os faraós do Egito, com suas
pirâmides mortuárias, os atuais potentados árabes, com suas torres
monumentais, ou, no caso brasileiro, os políticos ignorantes, como o
prefeito de uma paupérrima cidade nordestina, que construiu na sede
do município uma estátua religiosa maior do que a Estátua da Liberdade
em Nova York, ou do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Somente uma
população ignorante permite que recursos públicos sejam desviados
de setores prioritários, como a educação, para satisfazer interesses
demagógico-eleitoreiros.
Esta ignorância das massas, como se diz, compromete os
alicerces de qualquer nação, fazendo-a desaparecer ao primeiro
contratempo, como aconteceu com o Império Inca, que desapareceu
quando os espanhóis massacraram o imperador e sua corte, a elite diri-
gente, reunidos numa pequena praça. O que sobrou foi uma população
imensa, totalmente ignorante e incapaz de esboçar qualquer resistência
ou saber realmente o que se passava. Ao contrário, uma nação instruí-
da, como era a Alemanha nazista, que mesmo após ter sido derrotada
numa guerra de terra arrasada, e ter sua elite científica levada como
prisioneira pelos vencedores, pôde se levantar das cinzas como uma
fênix, e construir a nação mais rica e poderosa da Europa num curto
espaço de tempo.
A educação pública deve ser uma prioridade do Estado, pois se
trata do primeiro passo para edificar uma potência, como fizeram os pa-
íses do Primeiro Mundo, no Século XIX, e a Rússia e a China, no Século
XX. Estas nações, ao priorizarem a escola pública, colheram no tempo
oportuno os frutos de uma estratégia de Estado: tornarem-se potências
globais. Neste particular, o Brasil está longe de atingir esse objetivo, a
não ser que faça uma reforma radical no sistema educacional, e outras
ligadas à cidadania, como saúde, transporte urbano, saneamento bá-
sico, erradicação das favelas, geração de empregos e, principalmente,
a do Sistema Judiciário, um sistema falido e senil, fonte de todos os
males que transformaram o Brasil num país de injustiçados, onde a
corrupção e a impunidade grassa nos três poderes da República.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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PARTE I
AS PROFECIAS DE DOM BOSCO
Comentários
Embora mais de um século se tenha passado desde a chegada
dos Salesianos ao Brasil e do sonho de Dom Bosco, no qual vaticinou
um futuro brilhante para a congregação que fundou e para a terra que
os acolheu, a Terra Brasilis, esta secular ordem religiosa ainda não se
dignou a brindar o povo brasileiro com uma versão em português do
texto integral desse sonho, anotado pelo Padre Lemoyne e corrigido
pelo próprio Dom Bosco. Na falta desse texto, e como diz o dito popu-
lar – Quem não tem cão caça com gato –, vamos ao gato, no caso, o
econômico artigo do Padre José de Vasconcellos, O Centenário de um
sonho, publicado no Boletim Salesiano (edição brasileira, ano 33, n.4,
jul./ago. 1983, p. 6-11). Neste artigo, com cinco capítulos, o então Di-
retor do Centro Salesiano de Documentação e Pesquisa, de Barbacena-
MG, dedica os três primeiros para analisar esse Sonho no contexto
dos Sonhos de Dom Bosco e os últimos para o Sonho propriamente
dito. Estes dois capítulos finais – Um sonho de Dom Bosco e Dom
Bosco Sonhou Brasília? – estão a seguir reproduzidos na integra com
os mesmos títulos.
Dom Bosco – João Belchior Bosco – nasceu em Becchi (Castel-
nuevo d’Asti), norte da Itália, a 16 de agosto de 1815. Fundou a Ordem
dos Salesianos (Sociedade Salesianos de Dom Bosco e Filhas de Maria
Auxiliadora). Faleceu em Turim, a 31 de janeiro de 1888, aos 72 anos.
Foi canonizado em 1º de abril de 1934, pelo Papa Pio XI.
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João GilBerto pArenti couto
Um Sonho de Dom Bosco
“Na noite que precede a festa de Santa Rosa de Lima (30 de
agosto) tive um sonho”. Assim começa Dom Bosco a narrar um de
seus sonhos mais famosos, tido em 1883, um mês e pouco depois da
chegada dos primeiros Salesianos ao Brasil.
Cecília ROMERO publicou, em 1978, esplêndido estudo sobre
“Os Sonhos de Dom Bosco”. Porque se tratava de edição crítica, res-
tringiu-se a estudar somente 10 sonhos, tidos entre 1870 e 1887, por-
que deles poderia ter à mão versão manuscrita atribuível a Dom Bosco,
por dois títulos: ou porque inteiramente redigida de próprio punho, ou
porque chegada até nós em manuscritos de outrem, mas cuja revisão
final é garantida por apostilas da mão de Dom Bosco.
Esse é exatamente o caso do sonho de 30 de agosto: manuscrito
do P. Lemoyne com correções do próprio punho de Dom Bosco; e é
sobre o texto crítico de Romero que nos basearemos para a tradução
de alguns trechos do sonho. Porque é quase impossível publicá-lo aqui
na íntegra; ele sozinho ocuparia boa parte deste Boletim Salesiano: são
quase dez páginas das Memórias Biográficas, formato 210 x 140 mm,
tipo 6 com as linhas não intercaladas (Vol. XVI, p. 385-394).
Contou-o Dom Bosco numa reunião do Capítulo Geral da Con-
gregação, no dia 4 de setembro daquele ano. O Pe. Lemoyne, que reco-
lhia as memórias do Santo, transcreveu-o imediatamente e submeteu-o
à correção de Dom Bosco.
“Percebi que estava dormindo e parecia-me, ao mesmo tempo,
correr a toda velocidade, a ponto de me sentir cansado de correr. (...)
Enquanto hesitava se se tratava de sonho ou realidade, pareceu-me
entrar em um salão, onde se achavam muitas pessoas, falando de as-
suntos vários”.
E o Santo reproduz profusamente o assunto da conversa.
“Nesse ínterim, aproxima-se de mim um jovem de seus dezes-
seis anos, amável e de beleza sobre-humana, todo radiante de viva luz,
mais clara que a do sol”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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O misterioso guia o acompanhou durante toda a fantástica via-
gem e se apresenta como amigo seu e dos Salesianos; vem, em nome
de Deus, dar-lhe um pouco de trabalho.
“Vejamos de que se trata. Que trabalho é este?”.
– Sente-se a esta mesa e puxe esta corda.
“No meio do salão havia uma mesa, sobre a qual estava enrolada
uma corda. Vi que a corda estava marcada com linhas e números, como
se int uma fita métrica. Percebi mais tarde que o salão estava situado na
América do Sul, exatamente sobre a linha do Equador, correspondendo
os números impressos na corda aos graus geográficos de latitude”.
Segue a narração de uma vista de conjunto da América do Sul,
esclarecendo o Santo:
“Via tudo em conjunto, como em miniatura. Depois, como direi,
pude ver tudo em sua real grandeza e extensão. Foram os graus mar-
cados na corda, correspondentes exatamente aos graus geográficos de
latitude, que me permitiram gravar na memória os pontos sucessivos
que visitei na segunda parte do sonho.
Meu jovem amigo continuava: Pois bem, estas montanhas são
como balizas, são um limite. Entre elas e o mar está a messe oferecida
aos Salesianos. São milhares, são milhões de habitantes que esperam
o seu auxílio, aguardam a fé. Aquelas montanhas eram as cordilheiras
da América do Sul e o mar o Oceano Atlântico.”
Prossegue o sonho mostrando a Dom Bosco como conseguiria
guiar tantos povos ao rebanho de Cristo.
“Eu ia pensando: mas, para se conseguir isso, vai ser preciso
muito tempo. Exclamei, então, em voz alta: não sei o que pensar. Po-
rem, o moço ajuntou, lendo meus pensamentos:
– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– E qual será a segunda geração, perguntei.
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
– E quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
– E depois?
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João GilBerto pArenti couto
– Quer ver o que sucederá depois?
Venha cá.
E, sem saber como, encontrei-me numa estação ferroviária. Ha-
via muita gente. Embarcamos.
Perguntei onde estávamos. Respondeu o jovem:
– Note bem! Observe! Viajaremos ao longo da cordilheira. O sr.
Tem estrada aberta também para leste, até ao mar. É outro dom de N.
Senhor. Assim dizendo, tirou do bolso um mapa, onde vi assinalada a
diocese de Cartagena. Era o ponto de partida.
Enquanto olhava o mapa, a máquina apitou e o comboio se pôs
em movimento. Viajando, meu amigo falava muito, mas nem tudo eu
podia entender, por causa do barulho do trem. Aprendi, no entanto,
coisas belíssimas e inteiramente novas sobre astronomia, náutica, me-
teorologia, sobre a fauna, a flora e a topografia daqueles lugares, que
ele me explicava com precisão maravilhosa.
Ia olhando através das janelas do vagão e descortinava variadas
e estupendas regiões. Bosques, montanhas, planícies, rios tão grandes
e majestosos que eu não era capaz de os crer assim tão caudalosos,
longe que estavam da foz. Por mais de mil milhas, costeamos uma
floresta virgem, inexplorada ainda agora. Meus olhos tinham uma po-
tência visual surpreendente, não encontrando óbice que os detivesse
de estender-se por todas aquelas regiões. Não só as cordilheiras, mas
também as cadeias de montanhas isoladas naquelas planuras inter-
mináveis eram por mim contempladas (o brasil?) [Sic: com ponto de
interrogação e com inicial minúscula, no manuscrito original].
Tinha debaixo dos olhos as riquezas incomparáveis deste solo
que um dia serão descobertas. Via numerosas minas de metais precio-
sos, filões inexauríveis de carvão,
depósitos de petróleo tão abundantes como nunca se encontra-
ram em outros lugares.
Mas não era ainda tudo. Entre o grau 15 e o 20 havia uma en-
seada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde
se forma um lago. Disse então uma voz repetidamente: quando se vier
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
17
cavar as minas escondidas no meio destes montes (desta enseada),
aparecerá aqui a terra prometida, que jorra leite e mel. Será uma riqueza
inconcebível”.
Continua a viagem, ao longo da cordilheira, rumo ao sul; conti-
nua a descrição das regiões da bacia do Prata, dos Pampas e da Pata-
gônia, até Punta Arenas e o Estreito
de Magalhães. “Eu olhava tudo. Descemos do trem”. Voltando-
se para o jovem guia, Dom Bosco lhe diz:
“Já vi bastante. Agora leva-me a ver os meus Salesianos da
Patagônia. Levou-me. Eu os vi. Eram muitos, mas eu não os conhecia
e entre eles não havia nenhum dos meus antigos filhos. Todos me
olhavam admirados e eu lhes dizia: “Não me conheceis? Não conheceis
Dom Bosco?
– Oh Dom Bosco! Nós o conhecemos, mas só de retrato. Pes-
soalmente, é claro que não.
– E D. Fagnano, D. Lasagna, D. Costamagna, onde estão?
– Não os conhecemos. São os que para cá vieram em tempos
passados, os primeiros Salesianos que vieram da Europa. Mas já mor-
reram há muitos anos!
A esta resposta eu pensava cheio de espanto: – Mas isto é um
sonho ou uma realidade? E batia as mãos uma contra a outra, tocava
os braços, me sacudia todo, e ouvia o barulho das mãos e sentia o meu
corpo. Estava nesta agitação quando me pareceu que Quirino tocasse
às Ave-Marias da manhã; mas tendo despertado, percebi que eram
os sinos da paróquia de São Benigno. O sonho tinha durado a noite
toda”.
Dom Bosco Sonhou Brasília?
Como podemos observar, no que possa aplicar-se a Brasília, o
sonho fixa, com clareza pouco freqüente nas chamadas visões imaginá-
rias, três pontos: tempo, lugar, evento anunciado. Só para o terceiro
a linguagem é simbólica:
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João GilBerto pArenti couto
a) Tempo
Recordemos o diálogo do sonho:
– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– Qual será a segunda geração?
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
(E Dom Bosco, querendo ainda mais clareza):
– Quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
Se a primeira destas gerações começou em 1883, ano do sonho,
a segunda teve início sessenta anos depois, em 1943, e se estende até
o ano 2003. A construção e consolidação de Brasília estão assim bem
dentro do período anunciado: entre 1943 e 2003.
b) Lugar
Dom Bosco localizou o evento na faixa compreendida pelos pa-
ralelos 15 a 20, entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Atlântico.
Exatamente onde foi instalada a nova Capital do Brasil.
c) Evento anunciado
Embora o Leit-motiv do sonho seja o futuro missionário da Con-
gregação na América do Sul, Dom Bosco viu incidentalmente também
outras coisas, tanto rios caudalosos e florestas imensas, como minas
de ouro, de pedras preciosas, depósitos de petróleo. (Monteiro Lobato,
a este respeito, cita o sonho numa de suas obras). Creio, pois, poder
afirmar que ele viu, em 1883, o que hoje começamos a ver no Brasil.
Reforça a convicção o teor mesmo do texto, embora em estilo
simbólico; em nenhum outro ponto da referida faixa continental um
acontecimento como a construção de Brasília obteve repercussão maior
no progresso e na riqueza de um país.
Convém, no entanto, recordar aqui, como elemento para a His-
tória, o nascedouro desta interpretação do sonho. Não é devida aos
Salesianos, como poderia parecer.
No início da construção da nova Capital, quando a proeza parecia
estranha e temerária à maioria dos brasileiros, o Dr. Segismundo Mello,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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Procurador do Estado de Goiás, e residente hoje em Brasília, bateu à
porta do Ateneu Dom Bosco de Goiânia com uma dúvida e um pedido:
era verdade que Dom Bosco, em sonho, havia antevisto Brasília? Onde
obter o texto do sonho?
Nenhum salesiano do Ateneu sabia de nada!
O fato é menos estranhável do que poderia parecer à primeira
vista: a biografia completa de Dom Bosco, com o título de Memorie
Biografiche, tem 16.130 páginas e ocupa 19 alentados volumes escri-
tos em italiano; não há tradução portuguesa. Nada de admirar, portan-
to, se a maior parte dos atuais Salesianos não a tenha lido nunca por
inteiro, ou por falta de tempo ou (os das gerações mais novas) por já
não dominarem completamente a língua. As pequenas biografias escri-
tas em português não contam senão um ou outro dos sonhos de Dom
Bosco. Não este, que é muito grande.
Mas o Diretor do Ateneu, P. Cleto Caliman, posse a vasculhar
nas Memórias Biográficas e lá encontrou, no vol. XVI, o texto integral
do sonho de 1883. Nele, sob a guia de um jovem amigo já falecido,
Luiz Colle, Dom Bosco fez a fantástica viagem pela América do Sul,
resumida no item 4 deste estudo.
Ao verificar que Brasília estava situada justamente entre os pa-
ralelos 15 e 20 e que o tempo coincidia com o previsto no sonho, os
defensores de Brasília, com o Dr. Segismundo à frente, encheram-se
de entusiasmo e de certezas. Bernardo Sayão, um dos pioneiros, logo
arranjou ocasião e pretexto para uma Missa, que os salesianos do Ate-
neu celebraram, sem alarde, no desértico planalto entrevisto no sonho.
Foi, na realidade, a primeira Missa de Brasília.
Israel Pinheiro que, por intermédio de um tio Padre, Mons. Pi-
nheiro, Cooperador salesiano, tinha velhas afinidades com Dom Bosco,
vibrou, e imediatamente comunicou a descoberta ao Presidente Jusce-
lino Kubitschek. Este, dramaticamente necessitado de apoios para sua
obra grandiosa, tratou logo de fazer expor na sala principal do Catetinho
o trecho do Sonho possivelmente referente a Brasília, emoldurado em
quadro que ainda lá se acha e parece ter-se inspirado no texto para a
20
João GilBerto pArenti couto
frase famosa que se encontra gravada no seu monumento da Praça dos
Três Poderes: “Deste Planalto central...
A fim de colocar sob a proteção do Santo os trabalhos da cons-
trução da nova Capital, Israel Pinheiro fez questão de empregar o pri-
meiro ferro e o primeiro cimento chegados ao canteiro de obras na
construção de uma ermida votiva a Dom Bosco, desenhada por Nie-
meyer. Fê-la reproduzir, anos mais tarde, em escala menor, na sua
residência oficial de Prefeito de Brasília, a Granja do Ipê. Bom mineiro,
quis em seguida conferir, com os próprios olhos, o manuscrito original
do sonho, cuja cópia xerox me fez requisitar à Casa Mãe dos Salesianos
na Itália.
Como consequência de tudo isto, a cidade nasceu embalada na
certeza de ter sido sonhada por um santo e é por isso que a devoção a
Dom Bosco é tão popular entre os brasilienses.
Quando, em 1961, chegou a hora de escolher Patrono litúrgico
para ela, a Autoridade eclesiástica local, com muito acerto, pensou em
Nossa Senhora Aparecida. Mas, por coincidência (ou “elegância da Di-
vina Providência”, como costumava dizer o Papa Pio XI), nesta data,
eram ex-alunos salesianos o Presidente da República, Jânio Quadros
(ex-aluno do Colégio S. Joaquim, de Lorena, SP), o Prefeito Paulo de
Tarso (ex-aluno do Colégio Dom Bosco, do Araxá, MG) e o Presidente
da Novacap Randall Espírito Santo Ferreira (ex-aluno do Ginásio Sale-
siano de Silvânia, GO). Os três ex-alunos, atendendo também a apelo
unânime da população em minuta preparada por quem escreve este
estudo, firmaram juntos petição à Santa Sé para que S. João Bosco
fosse declarado Co-Patrono da Cidade, o que veio a acontecer.
Deste modo, no último domingo de agosto, dia festivo mais
próximo à data do famoso sonho, os brasilienses, tendo à frente o seu
Arcebispo, organizam, todos os anos, piedosa romaria à ermida de
Dom Bosco.
Em conclusão, se repetirmos a pergunta: “Dom Bosco Sonhou
Brasília?”, creio se possa responder:
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
21
1) É certo que o Santo, no “sonho” de 1883, pensou no Brasil:
lá está explicita a alusão, embora em forma interrogativa, no manuscri-
to do sonho tido pelos entendidos como o mais autêntico. (Há vários
outros)
2) É igualmente certo que o lugar e o tempo coincidem plena-
mente, sem qualquer ginástica exegética, com os da construção de
Brasília.
3) Quanto ao evento anunciado (grande riqueza, progresso),
estou atento à advertência da lógica escolástica sobre a falácia possível
no argumento: “depois disto, logo, por causa disto”: Post hoc, ergo
propter hoc. Mas há, inegavelmente, relação de causa e efeito entre a
transferência da Capital e o surto de progresso que se deu no País a
partir daquela realização, não só na região Centro-Oeste, como seria
de esperar, mas no Brasil como um todo. Só não o vêem os que não
querem ver; os dados e as estatísticas estão aí, à vista de todos.
4) Seria indevido pedir maior clareza e mais especificação num
sonho-visão. Manifestações como estas, como as dos profetas da Es-
critura, são de sua natureza imaginárias, envoltas em expressões ora
obscuras, ora simbólicas, que se prestam a mais de uma interpretação.
Mas ainda assim, sobre o essencial, como vimos, há mais clareza neste
“sonho” do que em geral nas previsões deste tipo.
5) Convém ainda não esquecer que Dom Bosco nunca esteve na
América, não tinha maiores estudos de Geografia, e que os mapas da
época, sobretudo os das regiões extra-européias, eram bastante incom-
pletos e vagos.
Em tempo:
a) Os representantes mais altos da Congregação Salesiana e
seus melhores estudiosos jamais se pronunciaram sobre o assunto e a
reação de seus Superiores Maiores a este respeito foi sempre de reti-
cência. O escrito acima representa opinião estritamente pessoal.
b) Uma advertência aos angustiados com a situação atual do
País: – a segunda geração, preanunciada no sonho para o advento de
22
João GilBerto pArenti couto
uma era de prosperidade e riqueza, só termina no ano 2003. Até lá...
nada se perde em esperar para conferir.
Outras Profecias sobre Brasília
Sobre Brasília eis o que escreve Eduardo Bueno, em seu livro
Brasil: Uma História (BUENO, 2002, p. 352-353): Era uma cidade lon-
gamente profetizada. Já em 1883, ela aparece reluzente, nas visões do
santo italiano João Bosco. Um século antes, fizera parte dos sonhos
libertários dos inconfidentes, fulminados em 1789. Em 1813, o jorna-
lista Hipólito José da Costa, redator do Correio Brasiliense, editado em
Londres, deu novo alento à idéia de transferir a capital do Brasil para o
interior, “junto às cabeceiras do Rio São Francisco”. No início de 1822
surgiria, em Lisboa, um livreto, redigido nas Cortes, determinando que,
“no centro do Brasil, entre as nascentes dos confluentes do Paraguai
e do Amazonas fundar-se-á a capital do Brasil, com a denominação
de Brasília”. No mesmo ano, após a Independência, José Bonifácio
defenderia, na Constituinte, a idéia de erguer a nova capital “na latitude
de 15º, em sítio sadio, ameno, fértil e regado por um rio navegável”.
Em 1852, o historiador Francisco Adolfo de Varnhagen tornou-se o
principal defensor de Brasília e, em 1877 seria o primeiro a viajar ao
Planalto Central tentando demarcar o ponto ideal. Achou-o “no triân-
gulo formado pelas lagoas Formosa, Feia e Mestre d’Armas, pelo fato
de fluírem para o Amazonas, o São Francisco e o Prata”. Proclamada
a República, o artigo 3º da nova Constituição estabeleceu que a capital
de fato seria mudada para o Planalto Central. Por isso, em 1892, à
frente da recém-formada Comissão Exploradora do Planalto Central, o
cientista Luís Cruls demarcou “um quadrilátero de 14.400 quilômetros
para nele ser erguida a nova cidade”. Em 1922, o presidente Epitácio
Pessoa baixou um decreto determinando que no dia 7 de setembro
daquele ano (centenário da Independência) fosse assentada a pedra
fundamental da nova capital, na cidade de Planaltina (GO), localizada
no “quadrilátero Cruls”, hoje perímetro urbano de Brasília. A idéia de
transferir a capital para os longínquos descampados do cerrado seria
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
23
mantida nas constituições de 1934 e de 1946. Mas só começou de
fato a sair do papel no dia 4 de abril de 1955, num comício em Jataí
(GO), quando o então candidato à Presidência Juscelino Kubitscheck
decidiu fazer a mais óbvia das promessas de campanha: jurou que iria
“cumprir a Constituição”. Então, como o próprio JK conta no livro Por
que construí Brasília, algo de surpreendente aconteceu – e mudou os
destinos do Brasil. De acordo com JK, ao final do comício em Jataí,
“uma voz forte se impôs” e o interpelou. “O senhor disse que, se eleito,
irá cumprir rigorosamente a Constituição. Desejo saber se pretende
pôr em prática a mudança da capital federal para o Planalto Central”.
JK olhou para a platéia e identificou o interpelante: era um certo To-
quinho. Embora considerasse a pergunta embaraçosa e já tivesse seu
Plano de Metas pronto, JK respondeu que construiria a nova capital. A
partir daí, Brasília virou a “meta-síntese” de seu governo. Ao assumir
a Presidência, apresentou o projeto ao Congresso como fato consu-
mado. Em setembro de 1956, foi aprovada a lei nº 2.874 que criou a
Cia. Urbanizadora da Nova Capital. As obras se iniciaram em fevereiro
de 1957, com apenas 3 mil trabalhadores – batizados de “candangos”.
Os arquitetos Oscar Niemeyer e Lúcio Costa foram encarregados de
projetar a cidade “futurista”.
A Realização das Profecias
As visões de Dom Bosco sobre a Terra Brasilis, a exemplo de
Brasília, parecem que já se estão tornando uma realidade, como indi-
cam as recentes descobertas de petróleo e gás natural na Plataforma
Continental, na camada geológica conhecida como pré-sal, e de gás na
Bacia do Rio São Francisco, no Estado de Minas Gerais, além dos dois
maiores reservatórios de água doce subterrâneas do mundo: o Aquífero
Guarani, na Bacia do Rio Paraná, e o Aquífero Alter do Chão, na Bacia
do Rio Amazonas.
24
João GilBerto pArenti couto
O Aquífero Alter do Chão
Segundo dados disponíveis na Internet, o Aqüífero Alter do Chão,
localizado nos estados do Amazonas, Pará e Amapá, na Amazônia, tem
o maior volume de água potável do mundo, suficiente para abastecer
a população mundial em cerca de 100 vezes. Estudos preliminares da
Universidade Federal do Pará (UFPA) indicam volume de 86 mil km³
de água doce, o qual poderá ser ainda maior do que o calculado ini-
cialmente pelos geólogos. Em termos comparativos, a reserva Alter do
Chão tem quase o dobro do volume de água potável que o Aquífero
Guarani – com 45 mil km³ de volume –, até então considerado o maior
do país e que passa pela Argentina, Paraguai e Uruguai.
O Aquífero Guarani
Sobre o Aquífero Guarani, a jornalista Danielle Nogueira (Jornal
do Brasil, 6/8/2000, p. 21) divulgou o seguinte: “Metade da água doce
do planeta disponível para consumo – apenas 2,5% do total – se en-
contra em reservatórios subterrâneos. Um dos maiores do mundo está
sob os pés de milhões de brasileiros e, a partir de 2001, estará sob os
olhos atentos de representantes dos quatros países do Mercosul. No
primeiro semestre do ano que vem, será implantado o Programa Gua-
rani, projeto que pretende proteger e promover a exploração racional
dos 45 quatrilhões de litros d’água armazenados no Aqüífero Guarani.
Com 1.194.800 quilômetros quadrados de extensão, o Aqüífero Guarani
abrange oito estados e parte do Paraguai, do Uruguai e da Argentina.
[...] O Aqüífero Guarani é estratégico, pois está localizado na parte mais
rica do Cone Sul. Por isso deve ser preservado, completou. Além de
dispensarem tratamento, as águas do Aqüífero Guarani também não
precisam ser aquecidas artificialmente, o que permite grande economia
de energia. O líquido leva décadas para percorrer centenas de metros. A
cada 30m que desce, a temperatura da água é elevada em 1º C. Quando
ela chega lá embaixo, está fervendo”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
25
O Gás de Petróleo da Bacia do
Rio São Francisco
A respeito das ocorrências de gás de petróleo da Bacia do Rio
São Francisco, quem escreve é o ex-Ministro de Minas e Energia, Pau-
lino Cícero de Vasconcelos, em interessante artigo publicado no Jornal
Estado de Minas (4/6/2003, p.9), sob o título O gás do São Francisco,
que liga esse fato ao sonho de Dom Bosco: “Um dos maiores geólogos
do País, Carlos Walter Marinho Campos, que no ano passado recebeu
post-mortem, a medalha Eschwege do governo mineiro, foi o homem
que levou a Petrobrás para o mar. [...] Quando assumi a Secretaria de
Minas do governo Itamar, já aposentado da Petrobrás, Carlos Walter,
com minha presença, instalou em Ouro Preto o Núcleo de Engenharia
de Petróleo (Nupetro), que somava o notório potencial de duas reno-
madas instituições: a Escola de Minas, na área de geologia, e a Escola
Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI), em eletricidade e mecânica.
Neste dia, com a simplicidade que contrastava os títulos tantos que
acumulara no Brasil e no exterior, Carlos Walter me dizia que a bacia
hidrográfica do São Francisco pode esconder um oceano de gás. É uma
unidade geotectônica proterozóica – dizia-me. Não deve ter óleo, mas
certamente conterá muito gás natural de petróleo, exatamente como
ocorre na Sibéria e no Mar Amarelo da China, que são, também, bacias
proterozóicas, formada a mais de 500 milhões de anos. [...] É rezar
para que as coisas se apressem e aconteçam. Aliás, falando em rezar,
isso me lembra o jornalista Jorge Faria, como eu, ex-aluno salesiano.
Ele diz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário de Dom Bosco
sobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é o gás do São
Francisco”.
“Gás descoberto em Minas equivale
a ‘meia Bolívia’”
As afirmações do Geólogo Carlos Walter Marinho Campos e a
interpretação do Jornalista Jorge Faria, estão se confirmando, como
26
João GilBerto pArenti couto
informa o Jornal Estado de Minas em artigo publicado em sua edição
de 3/9/2010, sob o título Gás descoberto em Minas equivale a ‘meia
Bolívia’: “O gás natural descoberto em Morada Nova de Minas, na Re-
gião Central do estado, será explorado comercialmente a partir do ano
que vem. O volume descoberto num único poço pode chegar à metade
do fornecido ao Brasil pela Bolívia, estimou ontem o governador minei-
ro Antônio Augusto Anastasia. [...] Desde a confirmação da existência
do combustível, porém, os indícios do potencial da reserva durante a
perfuração estão cada vez mais robustos, informou o governador. A
presença de gás natural em Minas significa a redenção econômica para
a Bacia do Rio São Francisco porque, além de atrair indústrias, repre-
senta a possibilidade de aumento de arrecadação para os pequenos
municípios locais na forma de royalties, sem contar o fato de que o
estado tem participação em cinco dos 43 blocos licitados pela ANP na
região. [...] Além do consórcio formado pela iniciativa privada e a Code-
mig, empresas como Petrobrás, Shell e British Petroleum também são
donas de blocos e estão desenvolvendo pesquisas na área licitada”.
Histórico das descobertas de gás de petróleo
na Bacia do Rio São Francisco em Minas Gerais
Por oportuno, é bom esclarecer que as descobertas de gás natu-
ral na Bacia do Rio São Francisco em Minas Gerais, foram feitas a partir
de informações de moradores da região sobre ocorrências de gás em
poços artesianos e relatos de fatos curiosos como o que se passava no
local denominado Remanso do Fogo, no Rio Paracatu, próximo à foz
com o Rio São Francisco. Neste sítio, podia-se observar diversos focos
de surgência de gás, tanto na praia, onde se fazia a queima, como na
água, onde borbulhava, fato que constatei pessoalmente em companhia
de geólogos da Petrobras, durante visita a esta ocorrência e outros
locais onde esta companhia já havia feito sondagens exploratórias. O
resultado desta visita foi a assinatura de um acordo entre a Petrobras
e a Metamig, uma estatal mineira, para fazer um levantamento de tais
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
27
ocorrências em toda a Bacia do São Francisco em Minas Gerais. O que
se comentava nessa ocasião, cerca de 30 anos atrás, é que este tipo
de ocorrência – a surgência natural de gás de petróleo –, é fenômeno
raro, e que também poderia ser um indicativo de reservas promissoras
na região, levando-se em conta fatos semelhantes ocorridos em outras
partes do mundo.
A voz misteriosa que anunciou as descobertas
Quanto à interpretação do Jornalista Jorge Faria, é bom recordar
que a zona de ocorrência de gás natural na Bacia do Rio São Francisco,
em Minas Gerais, situa-se entre os paralelos 15 e 20, na região do
lago de Três Marias, encaixando-se perfeitamente na profecia de Dom
Bosco: “Mas não era ainda tudo. Entre o grau 15 e o 20 havia uma
enseada bastante longa e bastante larga, que partia de um ponto onde
se forma um lago. Disse então uma voz repetidamente: quando se vier
cavar as minas escondidas no meio destes montes (desta enseada),
aparecerá aqui a terra prometida, que jorra leite e mel. Será uma riqueza
inconcebível”.
As descobertas e o apadrinhamento dos
profetas Oséas e Amós
Significativamente, os poços pioneiros recentemente locados
pela Petrobrás na Bacia do São Francisco foram batizados com nomes
de profetas bíblicos, como informa o Jornal Estado de Minas em sua
edição de 12/1/2011 (p.12): “O primeiro poço definido pela Petrobrás
foi batizado de Oséas, contemplando Brasilândia de Minas, no Noroeste
do estado, onde as obras foram iniciadas no fim de 2010. O poço está
em perfuração a uma profundidade de 2,2 mil metros e deverá chegar
a 3,3 mil metros. Já o segundo poço, chamado Amós, será perfurado
a partir de abril em João Pinheiro, também no Noroeste do estado,
com uma profundidade de investigação prevista para 2,3 mil metros. O
batismo dos dois poços com nomes de profetas, segundo a Petrobras,
28
João GilBerto pArenti couto
representa uma homenagem às obras de Antônio Francisco Lisboa, o
Aleijadinho”.
O significado da escolha dos profetas Oséas e
Amós
O histórico da vida dos Profetas Oséas e Amós retrata bem o que
se passava em Israel, ou Reino do Norte, no tempo de Jeroboão II, e a
situação atual da Palestina; razão porque a ligação desses profetas com
a descoberta de gás natural na Bacia do São Francisco em Minas Gerais
pode transcender a um simples ato de homenagem a um escultor – que
gravou em pedra lisa e escorregadia a alma profética dos mineiros –,
mas conter uma mensagem cifrada de otimismo e confiança para os
brasileiros, frente aos tempos apocalípticos que estão por vir, segundo
as profecias bíblicas.
Oséas
Oriundo do reino do Norte, Oséas é contemporâneo de Amós,
pois começou a pregar no tempo de Jeroboão II; seu ministério se pro-
longou pelos reinados dos sucessores deste rei, mas não parece ter ele
presenciado a ruína de Samaria em 721. Foi um período sombrio para
Israel: conquistas assírias de 734-632, revoltas interiores – quatro reis
assassinados em quinze anos – corrupção religiosa e moral. (A Bíblia
de Jerusalém. p. 979).
Amós
Amós era pastor em Técua, nos limites do deserto de Judá. [...]
Prega no reinado de Jeroboão II (783-743), época gloriosa, humana-
mente falando, em que o reino do Norte se estende e se enriquece, mas
na qual o luxo dos grandes insulta a miséria dos oprimidos, enquanto
o esplendor do culto disfarça a ausência de uma religião verdadeira. (A
Bíblia de Jerusalém. p. 978).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
29
As descobertas de Petróleo e Gás Natural do
Pré-Sal
Para completar essas observações, poderíamos acrescentar que,
na faixa de Dom Bosco (15º/ 20ºS), existem outros sítios que se encai-
xam, também, nas descrições do sonho, como o Pantanal Mato-Gros-
sense e a região andina do Lago Titicaca, os quais, se pesquisados,
poderão apresentar surpresas agradáveis. Mas é no litoral Atlântico
brasileiro que as visões proféticas de Dom Bosco estão se realizando
de forma espetacular, como mostram as recentes descobertas de gi-
gantescas reservas de petróleo e gás natural na Plataforma Continental
brasileira, numa faixa, denominada de pré-sal, de cerca de 800km de
comprimento por 200km de largura; faixa esta que vai da costa capixa-
ba à catarinense, segundo as primeiras avaliações, não se descartando
a possibilidade de estender-se para o norte, rumo ao litoral nordestino,
e para o sul, além do litoral gaúcho, possivelmente até as Ilhas Malvi-
nas, na costa argentina.
As reservas estimadas para essa faixa, até agora conhecida, gira
em torno de 100 bilhões de barris de petróleo e gás, podendo, com
os trabalhos de pesquisas em andamento, atingir a casa dos trilhões
de barris, marca que equivale ao total das reservas mundiais até agora
conhecidas. Essas descobertas provam que as profecias de Dom Bosco
são dignas de fé: “Via numerosas minas de metais preciosos, filões ine-
xauríveis de carvão, depósitos de petróleo tão abundantes como nunca
se encontraram em outros lugares”. Além disso, é bom ressaltar, a
localização das reservas de petróleo e gás do pré-sal foram aí colocadas
de forma providencial, pois estão protegidas por um oceano, e longe
da cobiça de outros países, porém bem próximas do principal centro
consumidor do País, a Região Sudeste.
A Localização Privilegiada das Descobertas
Segundo o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, (entre-
vista ao Jornal Estado de Minas, 18/10/2008, p.16), 85% das reservas
30
João GilBerto pArenti couto
da companhia e 80% de suas refinarias estão localizadas nessa região.
É uma situação privilegiada, em todos os sentidos, inclusive para mon-
tagem de um sistema defensivo contra quaisquer ameaças externas.
Esse quadro sinaliza que a exploração das reservas de petróleo e gás
do pré-sal, e também do chamado pós-sal, além de outras, como as
que podem ocorrer nos gigantescos domos de sal descobertos na foz
do Rio Amazonas, cujo potencial petrolífero ainda não foi pesquisado, e
em outras descobertas no continente, como as do Estado do Maranhão,
e na fronteira com o Peru, Colômbia e Bolívia, é um assunto econômico
de alta relevância para o nosso País; fazendo crer que as profecias de
Dom Bosco estão realmente se concretizando e a época escolhida é a
da Terceira Geração.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
31
PARTE II
A MENSAGEM CODIFICADA SOBRE O BRASIL
“Porém, o moço ajuntou, lendo em meus pensamentos:
– Isto acontecerá antes que passe a segunda geração.
– E qual será a segunda geração, perguntei.
– A presente não conta. Será uma outra, depois outra.
– E quantos anos compreendem cada geração?
– Sessenta anos.
– E depois?
– Quer ver o que sucederá depois?
Venha cá.”
A Geração Excluída (1823/1883)
(“A presente não conta”)
“A colonização européia, iniciada no período imperial, respondia
a uma atitude comum da oligarquia das nações latino-americanas, al-
çada ao poder com a independência: sua alienação cultural que a fazia
ver sua própria gente com olhos europeus.” (RIBEIRO, Darcy. O Povo
Brasileiro, 1995, p. 433.)
A Primeira Geração (1883/1943)
(“Será uma outra”)
“Há uma situação de contradição que é: os descendentes de
imigrantes que vieram no fim do século, subvencionados, vieram no
32
João GilBerto pArenti couto
fundo dos navios, como gado, porque não cabiam na economia da
Europa, que enfrentava uma crise de desemprego como a nossa hoje.
Nós absorvemos uma dezena de milhões desses imigrantes. Tem mui-
tos que são excelentes, mas outros acreditam que fizeram o Brasil.
Eles vieram subsidiados, o Brasil já existia com suas dimensões, já era
independente. Eles vieram outro dia, mas tinham uma atitude muito
besta e começam alguns problemas quando esses bestinhas, que havia
muito em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, começam a falar
dos baianos ou dos pernambucanos ou da gente antiga de sua própria
região. Então o Brasil está vivendo um momento de tensões que vão
dar em diferenças.” (Darcy Ribeiro, entrevista para o Jornal do Brasil,
3/11/1996, Cad. B, p. 5.)
A Segunda Geração (1943/2003)
(“Depois outra”)
“Se a primeira destas gerações começou em 1883, ano do so-
nho, a segunda teve início sessenta anos depois, em 1943, e se estende
até o ano 2003. A construção e consolidação de Brasília estão assim
bem dentro do período anunciado: entre 1943 e 2003.” (Padre José de
Vasconcellos).
A Terceira Geração (2003/2063)
(“Quer ver o que sucederá depois? – Venha cá.”)
O que se segue ao diálogo que abre este capítulo está descrito
no anterior, mas o que queremos ressaltar com essa análise é o que
está acontecendo no presente e o que está para acontecer nos próxi-
mos anos. Segundo o Padre José de Vasconcellos, “se a primeira des-
tas gerações começou em 1883, ano do sonho, a segunda teve início
sessenta anos depois, em 1943, e se estende até o ano 2003”.
Com base nessa interpretação, podemos concluir que, quando
o jovem guia de Dom Bosco, “de beleza sobre-humana, todo radiante
de viva luz, mais clara que a do sol”, diz o que acontecerá depois da
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
33
segunda geração – “Quer ver o que sucederá depois? – Venha cá.” –,
ou seja, depois do ano 2003, é que a viagem ferroviária de Dom Bosco,
que se segue a esse diálogo, passa-se no tempo atual, época da terceira
geração (2003/2063), a escolhida para construir essa ferrovia e ocupar
o território onde, segundo as profecias, “aparecerá a terra prometida,
que jorra leite e mel”.
A Escolha das Gerações
A escolha dessa geração não foi casual, pois, de acordo com a
narrativa de Dom Bosco, o emissário divino excluiu uma geração – “a
presente não conta” (1823/1883), ou seja, a dos imigrantes que aqui che-
garam quando o Brasil já era independente, porém escravocrata. A partir
desta geração, Imperial, seguem-se outras três, Republicanas, cada uma
com uma missão: a primeira (1883/1943) a de fazer uma revolução para
mudar a face escravocrata do Brasil – a Revolução de 30 –; a segunda
(1943/2003), a de edificar Brasília e ocupar o Centro-Oeste; e a terceira
(2003/2063), com o encargo de construir a ferrovia profetizada por Dom
Bosco e povoar sua rota e a Amazônia, e administrar o Brasil com com-
petência, cumprindo assim os desígnios de Deus.
As Gerações Privilegiadas
Estas privilegiadas gerações já vêm atuando nesse sentido,
como demonstra a presença de gaúchos, catarinenses e paranaenses
no Centro-Oeste, no Brasil Central, na Amazônia, no Nordeste, no Pa-
raguai (brasiguaios) e na Bolívia, descendentes dos imigrantes que não
conheceram a escravidão e nem foram responsáveis por suas mazelas,
magistralmente descritas por Gilberto Freire, em sua monumental obra
Casa- Grande & Senzala. Por esta razão, estão livres do ranço escravo-
crata que domina certas elites, principalmente as nordestinas, pois es-
tas, diferentemente das mineiras, paulistas e fluminenses, que tiveram
suas mentalidades escravistas modificadas pelas levas de imigrantes
que aportaram ao País no final do século XIX e início do século XX, ain-
da adotam uma postura retrógrada no quadro político nacional, como
34
João GilBerto pArenti couto
bem demonstram as atuações de políticos como José Sarney, Renan
Calheiros e Fernando Collor de Mello.
A Missão da Terceira Geração
O Brasil, portanto, encontra-se num momento decisivo de sua
história, cabendo à terceira geração a missão de definir os rumos do
País e quem sairá vencedor nessa disputa: a Casa-Grande & Senzala,
que se atém a um passado que não volta mais, ou o Brasil dos Imigran-
tes, que marcha para frente em busca de novos horizontes?
A resposta está na maneira de como a terceira geração de imi-
grantes equacionará os problemas seculares que retardam o desenvol-
vimento econômico e social do País, principalmente os relacionados
às secas que afetam o Nordeste e mantém seus habitantes presos à
miséria e à ignorância. Várias tentativas têm sido feitas para solucionar
este problema, a última delas de iniciativa do nordestino Presidente
Lula, com o projeto de transposição do Rio São Francisco, assunto
tratado a seguir.
Mas, com as eleições presidenciais de 2010, um fato novo apon-
ta que daqui para frente o Brasil entrará nos eixos. Isto acontecerá
porque, a partir de 1º de janeiro de 2011, a terceira geração passará a
governar o Brasil, com a posse da Presidenta Dilma Roussef, filha de
imigrante búlgaro, e do Vice-Presidente, Michel Temer, filho de imi-
grantes Libaneses. Um dos desafios a serem enfrentados por estes
filhos da Terceira Geração está na redivisão dos Estados brasileiros,
assunto abordado em carta dirigida a Presidente Dilma Rousseff, tam-
bém transcrita a seguir.
A Transposição do Rio São Francisco e a Grande
Adutora Tucuruí-Nordeste.
Belo Horizonte, 23 de outubro de 2010.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
35
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Gui-
marães; Governadores dos Estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do
Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais;
Deputados(as) Federais e jornais Estado de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: A Transposição do Rio São Francisco e a Grande Adutora
Tucuruí-Nordeste.
Prezado Senhor Presidente,
Considerando que o polêmico projeto de transposição das águas do
Rio São Francisco, idealizado para matar a sede dos nordestinos, não
será concluído a tempo de ser inaugurado por V. Exa., antes de deixar
a Presidência da Republica, e levando-se em conta o arcaísmo dessa
proposta, tomo a liberdade de tecer algumas considerações a respeito
e dar algumas sugestões, como cidadão, para que essa ideia generosa
não caia no esquecimento, mas seja revigorada, ainda no seu governo,
por uma mudança estratégica na abordagem dessa questão.
O arcaísmo na concepção desse projeto reside no fato de que, em ple-
no século XXI, tenta-se levar água de uma região para outra por meio
de canais a céu aberto, fato que nos remete aos tempos anteriores
aos romanos, que construíram aquedutos por todo o seu império para
transportar a água de que necessitavam. Isto há mais de dois mil anos.
Na atualidade, versões modernas desses aquedutos, as adutoras, que
utilizam tubulações de aço, podem levar água para toda parte, a um
custo bem menor e sem perdas de qualquer espécie ou danos ao meio
ambiente. Exemplos são muitos, destacando-se pela grandiosidade os
sistemas de abastecimento das regiões metropolitanas de Belo Horizon-
te, São Paulo e Rio de Janeiro.
Além de transportarem água de grandes distâncias e na quantidade
que se desejar, evita também a ação predatória dos gatos, tipo de
roubo que vai inviabilizar os canais do Projeto São Francisco. Como
36
João GilBerto pArenti couto
as autoridades responsáveis por esse projeto vão proibir gente seden-
ta, miserável, com água à porta de suas casas de utilizá-la da forma
que julgarem mais conveniente ou contaminá-la com dejetos de toda
ordem? Os políticos nordestinos vão impedi-las? Claro que não! Isto,
sem contar que a própria Bacia do Rio São Francisco necessita de toda
a sua água para tornar produtivas as férteis terras de seu vale, como já
está provado em vários pontos deste imenso território, principalmente
nos Estados da Bahia e de Pernambuco, os mais afetados pelo projeto
de transposição.
A água de que o Nordeste necessita, principalmente os Estados do
Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, os mais afetados pelas
periódicas secas que assolam esta região, está disponível na Bacia do
Rio Amazonas, mais precisamente, no seu afluente, o Rio Tocantins.
Estações de bombeamento podem transportar esse precioso líquido,
por meio de adutoras, da Represa de Tucuruí, o ponto mais favorável
para sua captação, até seus destinos no Nordeste, distribuindo-a por
meio de uma rede capilar por toda essa região, sem diminuir a vazão
do Amazonas, ou de seus afluentes, e sem causar danos ao meio am-
biente.
Uma rede de adutoras, com cerca de 700 km de extensão, poderá
ligar essa barragem diretamente a Teresina, capital do Piauí, de onde
se dividirá em três ramais principais: um, com 500 km de extensão,
para Fortaleza, capital do Ceará; outro, com 850 km, para Natal, capital
do Rio Grande do Norte, e o terceiro, com 900 km, para João Pessoa,
capital da Paraíba. Essas adutoras cortarão as regiões mais secas do
Nordeste, abrindo amplas oportunidades para aumentar a produtividade
dessas terras e a renda de seus habitantes, além de mudar radicalmen-
te as condições sanitárias da população, principalmente das camadas
mais pobres.
A primeira rede dessas adutoras deve abastecer as capitais desses Esta-
dos e suas regiões metropolitanas e, à medida que novos dutos forem
acrescentados ao sistema, também outros centros urbanos poderão
ser atendidos. Em todos esses casos, a água do Tocantins deve ser
reservada, prioritariamente, para o consumo humano, destinando as
águas superficiais da região e o potencial de águas subterrâneas, para
emprego em atividades agropastoris e industriais. Mas, para que isto
aconteça, é necessário que se estabeleça um ambicioso programa de
reflorestamento das nascentes e recomposição das matas ciliares, para
que todos os rios da região beneficiada pelas adutoras se tornem pe-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
37
renes e livres da poluição, reforçando, portanto, todo o conjunto de
abastecimento para fins diversos.
Quanto ao projeto da transposição do Rio São Francisco, deve ser refor-
mulado para atender apenas aos Estados ribeirinhos, como Pernambuco,
Bahia, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais, substituindo o sistema de canais
a céu aberto por adutoras. Com essas medidas, os Estados mais ao norte
do polígono das secas deixarão de receber a água do Rio São Francisco,
mas, em contrapartida, serão atendidos pelas do Rio Tocantins, muito
mais volumoso e de pureza superior, qualidade que diminuirá substan-
cialmente os custos de tratamento para o consumo humano. Durante as
cheias deste rio, o excesso de água vazada pelo vertedouro da usina, por
falta de serventia, poderá ser enviado para um grande reservatório locali-
zado em Teresina (PI), que funcionará como regulador de abastecimento
durante as épocas das secas no Tocantins.
Esta medida beneficiará também toda a região a jusante da Barragem
de Tucuruí, que ficará livre das cheias sazonais, que sérios prejuízos
trazem aos ribeirinhos, que nessas épocas veem seu patrimônio levado
por água abaixo. Outros benefícios serão acrescentados aos paraenses
com a execução desse gigantesco projeto, como, por exemplo, o rece-
bimento de royalties pelas águas cedidas ao Nordeste, pois se trata de
um bem mineral como o petróleo, gás natural, minério de ferro, etc.,
regulados pelo código de mineração. Quanto aos Estados do Nordeste,
beneficiados com essa cessão, deverão pagar pelo seu uso, não só para
amortizar esse investimento, como também para valorizar um produto
que se torna, a cada dia, mais escasso em escala global, fato que co-
nhecem de perto.
No que diz respeito aos recursos financeiros para viabilizar a reformula-
ção do Projeto São Francisco e a execução da Grande Adutora Tucuruí-
Nordeste, eles podem vir de duas fontes principais: o Fundo Soberano,
criado para estocar os ganhos com a exploração do petróleo da Plata-
forma Continental, mais precisamente do Pré-Sal, e do Baú da Dívida
Pública, que recebe os “papagaios” emitidos pelo Governo Federal para
pagar juros aos banqueiros. A maneira mais racional de colocar parte
dessa dinheirama toda na execução dessas obras, sem acarretar efeitos
colaterais indesejáveis, será trocar esses papéis por ações emitidas por
empresas de economia mista criadas para executar e administrar essas
obras. Uma vez criadas essas companhias, capitalizadas com esses
recursos financeiros, não faltarão interessados, do Brasil e do exterior,
em comprar suas ações, pois se trata de um projeto ecologicamente e,
38
João GilBerto pArenti couto
também, politicamente correto, merecedor de apoios de ambientalistas
e entidades de porte, como o Banco Mundial, ONU, FAO, etc.
Outro aspecto que deve ser considerado na formulação desses projetos
será a criação de um comitê para superar entraves burocráticos ligados
à defesa do meio ambiente, para que não se repita os casos citados por
V. Exa. como absolutamente ridículos e inaceitáveis: o da “perereca”, que
atrasou a execução de uma barragem na Região Sul; o do “bagre”, que
quase inviabilizou a construção de outras no Rio Madeira, e o tal falso
“machadinho”, que atrasou a execução do projeto de transposição do Rio
São Francisco. Este comitê poderá ser formado pelas partes interessadas
na análise e execução desses projetos, como o IBAMA, membros do
Poder Judiciário, etc., os quais analisarão em conjunto todos os questio-
namentos feitos por quem quer que seja, de tal forma que não haja pa-
ralisação das obras sem um motivo comprovadamente pertinente. Com
isto será possível evitar a concessão de “liminares” que travam as obras
por quaisquer motivos, mesmo nos casos em que uma simples análise
poderá esclarecer a questão, como os citados por V. Exa.
Além disso, é necessário, também, que os congressistas façam as leis
apropriadas para viabilizar a implantação desses dois projetos estra-
tégicos para o desenvolvimento econômico e social do País, e fiquem
atentos para que erros e más intenções na sua elaboração não as in-
viabilizem ou distorçam o seu conteúdo, pois nestes casos acabarão no
Supremo Tribunal Federal (STF), onde seus ministros as reformularão
ao seu bel-prazer, agindo não como magistrados, mas sim como le-
gisladores. Esta aberração só acabará no dia em que os congressistas
mudarem a Constituição Federal para que o STF devolva ao Congresso
Nacional as leis questionadas, nas quais pode haver algum conflito de
interpretação, para que os próprios congressistas promovam as mu-
danças necessárias. Com isto, casos como os da chamada Ficha Limpa
e da Reserva Indígena Raposa Terra do Sol seriam reanalisados por
quem de direito: Os deputados e os senadores eleitos pelo povo para
o exercício do poder em seu nome e não por meros funcionários pú-
blicos, como são os ministros do STF e todos os demais membros do
chamado “Poder Judiciário”.
Para finalizar essas considerações, seria de bom alvitre que o Gover-
no Federal criasse um grupo de trabalho para planejar e acompanhar
a execução dessas obras, a fim de evitar conflitos entre os diversos
órgãos públicos federal, estadual ou municipal direta ou indiretamen-
te envolvidos no processo, os quais, por questões diversas, podem
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
39
travar o andamento dos trabalhos. Este drama o governo de V. Exa.
conhece bem, pois constantemente se tem queixado, por intermédio
da imprensa, dos atrasos nas obras do PAC, que não saem do papel
devido à lentidão do aparelho burocrático, em todos esses três níveis
da administração pública.
Na expectativa de que V. Exa. realize o ambicioso projeto de levar água
aos nordestinos, sem conflitos com a sociedade, mas em sintonia com
ela, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Uma nova divisão territorial do Estado brasileiro
Belo Horizonte, 3 de janeiro de 2011 (data errada, a data certa é 3 de
fevereiro de 2011)
Exma. Sra.
Dilma Rousseff
Presidenta da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, Michel
Temer; Ministro de Assuntos Estratégicos, Moreira Franco; Diretores do
IPEA e FGV; Revistas Veja e Época e jornais Estado de Minas e Folha
de S. Paulo.
Assunto: Uma nova divisão territorial do Estado brasileiro, como ins-
trumento de correção das desigualdades regionais e promoção mais
equilibrada do desenvolvimento econômico e social do País.
Prezada Senhora Presidenta,
Os novos tempos pelos quais o Brasil vem passando no campo eco-
nômico e social, particularmente com as descobertas das gigantescas
reservas de petróleo e gás natural do pré-sal, delineiam um horizonte
de prosperidade para o País que está a exigir um planejamento estra-
40
João GilBerto pArenti couto
tégico, a médio e longo prazos, para corrigir as desigualdades regio-
nais e promover um desenvolvimento mais equilibrado entre os entes
federativos. Um mecanismo eficaz para atingir estes objetivos é a de
se promover uma nova divisão territorial do Estado brasileiro, razão
porque gostaria de dar algumas sugestões.
A primeira delas diz respeito à divisão do território brasileiro em regiões,
que esta a merecer uma reformulação no agrupamento dos Estados.
Se, de um lado, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste apresentam um
quadro bem equilibrado, o mesmo não acontece com as Regiões Norte
e Nordeste. A Região Nordeste, por exemplo, só atingirá um equilíbrio
geográfico, econômico e social, respeitando suas peculiaridades, se o
Estado do Maranhão for retirado deste agrupamento e incorporado à
Região Amazônica com a qual se identifica em muitos aspectos, princi-
palmente econômico. Um exemplo significativo está na exploração das
reservas de minério de ferro da Serra dos Carajás, no Estado do Pará,
que encontrou seu desaguadouro natural no litoral maranhense.
A Região Amazônica, por sua vez, deve ser dividida em Amazônia Oci-
dental e Oriental. Nesta, além dos Estados do Tocantins, Pará e Amapá,
seria incorporado o Estado do Maranhão, formando um conjunto har-
mônico, facilitando assim todos os trabalhos de planejamento a cur-
to, médio e longo prazos. Politicamente também forma um conjunto
equilibrado, com muitas afinidades, inclusive culturais, como mostra
a escolha do Senador José Sarney, que procurou o Estado do Amapá
para conquistar e manter uma cadeira no Senado, ao invés de se can-
didatar por um Estado nordestino onde, considerando a divisão atual,
seria mais apropriada. Quanto à Região Amazônia Ocidental, o conjunto
seria formado pelo agrupamento dos Estados do Amazonas, Roraima,
Rondônia e Acre.
Uma vez redefinidas as Regiões Nordeste, Amazônia Ocidental e Ama-
zônia Oriental, o passo seguinte seria a divisão dos Estados destas duas
regiões amazônicas para a formação de novos estados e territórios
federais. O Estado do Pará, por exemplo, poderia ser dividido em três
novos estados e um território federal. Este seria formado pela Ilha de
Marajó, pois se trata de um ecossistema que precisa ser preservado,
não só por sua posição estratégica na foz do Amazonas, mas também
para ser explorado de forma racional, evitando o adensamento popu-
lacional e, consequentemente, a degradação do meio ambiente. Além
do Estado do Pará propriamente dito, que seria mantido com novas
fronteiras, seriam criados o Estado do Trombetas, formado pela região
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
41
a norte da margem esquerda do Rio Amazonas, e o Estado do Tapajós
pela região da margem direita, a sul deste rio e a oeste do Rio Xingu.
Outro Estado que poderia ser dividido em várias unidades federativas
– estados e territórios federais –, com real proveito à administração
pública e proteção do meio ambiente seria o do Amazonas. Neste caso,
a divisão seria mais complexa devido às características geográficas e
ecológicas da região, razão porque os estudos devem ser feitos levan-
do-se em conta as reservas indígenas, florestais e outros ecossistemas
sob proteção da lei, para que o conjunto da cobertura vegetal e dos
rios sejam preservados, mas possibilitando seu desenvolvimento eco-
nômico e social.
Para isto deve-se considerar, na elaboração do projeto de divisão ter-
ritorial desse Estado, uma revisão das fronteiras dos Estados do Acre,
Rondônia e Roraima, e a implantação de futuras vias de acesso ter-
restres, como a Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, sonhada para
ligar Cartagena, na Colômbia, a Punta Arenas, no Chile, passando por
Caracas, na Venezuela, Boa Vista, em Roraima, já no Brasil, e daí, em
linha reta, até Manaus, no Amazonas, seguindo para Porto Velho, em
Rondônia, Cuiabá, em Mato Grosso, Campo Grande, no Mato Grosso
do Sul, Assunção, no Paraguai, Bueno Aires, na Argentina, e, finalmen-
te, Punta Arenas, no Chile. Mais detalhes sobre esta ferrovia de integra-
ção continental, V. Exa. poderá encontrar em um resumo, que segue
em anexo, extraído de um livro de minha autoria, no momento em fase
de análise por uma editora com vistas a uma eventual publicação, e em
outros quatro livros, também de minha autoria, disponíveis na Bibliote-
ca Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br).
Antes de terminar, gostaria de ressaltar que a redivisão do Estado do
Amazonas se impõe não só por questões estratégicas de defesa de
nossas fronteiras, mas, também, pelo progresso que advirá com a
construção das hidroelétricas do Rio Madeira e outras que poderão
ser instaladas nos rios da região. Antes que a ocupação humana se
torne um problema nos Estados do Acre, Rondônia e Amazonas, é
preciso, desde já, que se faça um planejamento minucioso das áreas
que serão franqueadas e as que serão protegidas e, principalmente,
as vias de acesso terrestre para controlar essa ocupação humana, que
virá por bem ou por mal. A melhor maneira de conter o adensamento
populacional dessa região será construir ferrovias em vez de rodovias
ou hidrovias. Neste contexto a construção da Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco se coloca como peça fundamental, não só para promover o
42
João GilBerto pArenti couto
desenvolvimento econômico e social desta região, mas, também, para
a integração da América do Sul, objetivos prioritários do Mercosul e
da Unasul.
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
43
PARTE III
A FERROVIA TRANSCONTINENTAL DOM BOSCO
O Eixo Central
O eixo central imaginado para a Ferrovia de Dom Bosco (Figura
1), com base no sonho visionário, tem início na cidade de Cartagena,
na Colômbia, e a partir daí segue em direção a Caracas, na Venezuela,
de onde toma o rumo sul, passando sucessivamente pelas cidades
brasileiras de Boa Vista-RR, Manaus-AM, Porto Velho-RO, Cuiabá-MT e
Campo Grande-MS. Desta cidade continua rumo sul para Assunção, no
Paraguai, e Buenos Aires, na Argentina, de onde prossegue até atingir
seu ponto final em Punta Arenas, no Chile. São cerca de 10.777 km de
um percurso que, começando no Mar das Antilhas, no extremo norte
da América do Sul, termina no Estreito de Magalhães, no seu extremo
Sul, passando por um território de topografia favorável, pois em Boa
Vista, no extremo norte da Bacia Amazônica, a altitude é de 85 metros;
altitude que se repete no extremo sul, em Porto Velho, distante cerca de
1.686 km. Em Cuiabá, o centro geográfico da América do Sul e divisor
de águas das bacias do Amazonas e do Prata, distante 1.456 km de
Porto Velho, a altitude é de apenas 176m. De Cuiabá para o Sul, a cota
é descendente, pois a região a ser percorrida até Buenos Aires situa-se
na Bacia do Rio da Prata.
A Importância Estratégica da Ferrovia
Não bastassem esses fatores extremamente importantes para o
traçado da ferrovia – fato notado por Dom Bosco: “Não só as cordilhei-
44
João GilBerto pArenti couto
ras, mas também as cadeias de montanhas isoladas naquelas planuras
intermináveis eram por mim contempladas (o brasil?)” –, acresce ainda
que, em ambas as extremidades, ela faz junção com os dois maiores
oceanos do globo, o Atlântico e o Pacífico. No extremo sul, esses oce-
anos estão ligados pelo Estreito de Magalhães, onde se localiza Punta
Arenas. No extremo norte, em território colombiano, está projetada a
construção de um canal para ligar esses dois oceanos ao nível do
mar.
O valor estratégico combinado desses fatores, o Estreito de Ma-
galhães, o Canal Colombiano e a Ferrovia de Dom Bosco, faz crer que
realmente esta ferrovia transcontinental, que supera a famosa Transibe-
riana com seus 9.000 km (de Moscou a Vladivostok), é de inspiração
divina e foi concebida para colocar os países da América do Sul num
plano superior no concerto das nações, e protegê-los de ameaças exter-
nas, como a Quarta Frota americana, reativada para patrulhar as águas
latino-americanas, tornando-as inseguras ao tráfico marítimo.
Esta ferrovia abrirá rotas alternativas para o comércio sul-ameri-
cano com os paises da região e de outros continentes, como o trecho
Porto Velho/Manaus, por exemplo, com cerca de 900 km, que se co-
necta com a “Via Leste” e Variante “A”. Outro segmento importante para
o agronegócio e o comércio em geral é o que liga Manaus a Caracas,
com cerca de 1.200 km, que tornará acessível aos produtos brasileiros,
por via terrestre, os portos do Mar da Antilhas e o Canal do Panamá,
possibilitando, assim, uma ligação mais rápida com os mercados da
Ásia, América do Norte e Europa.
Roteiro da Viagem
(Kilometragens aproximadas)
Cartagena (Colômbia)/Caracas (Venezuela)
Cartagena/Fronteira Colômbia-Venezuela......................................300km
Fronteira Colômbia-Venezuela/Caracas.........................................800km
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
45
Caracas (Venezuela)/Boa Vista(Roraima-Brasil)
Caracas/Fronteira Venezuela-Brasil...............................................200km
Fronteira Venezuela-Brasil/Boa Vista-RR......................................220km
Boa Vista (Roraima)/Manaus (Amazonas)
Boa Vista/Manaus-AM..................................................................785km
Manaus (Amazonas)/Porto Velho (Rondônia)
Manaus/Porto Velho-RO...............................................................901km
Porto Velho (Rondônia)/Cuiabá (Mato Grosso)
Porto Velho/Cuiabá-MT..............................................................1.456km
Cuiabá (Mato Grosso)/Campo Grande (Mato Grosso do Sul)
Cuiabá/Campo Grande-MS...........................................................694km
Campo Grande (Mato Grosso do Sul)/Assunção(Paraguai)
Campo Grande/Ponta Porá – MS (FronteiraParaguai).................336 km
Ponta Porã – MS (Fronteira com o Paraguai)/Assunção..............340km
Assunção (Paraguai)/Buenos Aires (Argentina)
Assunção/Buenos Aires.............................................................1.345km
Buenos Aires (Argentina)/Punta Arenas (Chile)
BuenosAires/PuntaArenas....................................................2.400km
Resumo
Colômbi...................................................................................300km
Venezuela.............................................................................2.000km
Brasil....................................................................................4.392km
Paraguai..................................................................................340km
Argentina..............................................................................3.620km
46
João GilBerto pArenti couto
Chile........................................................................................125km
Total...................................................................................10.777km
A Via Leste
A Via Leste, pelo que disse o jovem guia de Dom Bosco, faz
parte do mesmo plano superior: “Note Bem! Observe! Viajaremos ao
longo da cordilheira. O sr. Tem estrada aberta também para leste, até o
mar. É outro dom de N. Senhor”. Para seguir para o mar, rumo ao leste,
percorrendo em sua maior extensão esse “outro dom de N. Senhor”, o
ponto de partida situa-se em Porto Velho, em Rondônia, a cidade mais
a oeste do eixo central, e o ponto final na cidade portuária do Recife,
em Pernambuco, no extremo leste do continente.
Este trajeto, praticamente em linha reta, tem cerca de 3.200 km
e a topografia também é favorável, pois em Palmas, capital do Esta-
do do Tocantins, situada a meio caminho desses pontos extremos, a
altitude gira em torno de 200m. A distância Porto Velho-Palmas é de
aproximadamente 1.700 km e de Palmas a Recife cerca de 1.500 km.
Alem disso, Palmas esta situada no eixo da Ferrovia Norte-Sul, a qual
com seus 1.550 km, quando prontos, ligará os Estados do Maranhão,
Tocantins e Goiás ao sistema ferroviário sul. No seu extremo norte, no
Estado do Maranhão, a conexão se faz com a Estrada de Ferro Carajás,
que termina no Porto de Itaqui, em São Luís.
A sinergia entre essas três importantes ferrovias e seus termi-
nais portuários, somada às demandas do agronegócio, serão fatores
determinantes para transformar o Brasil Central e o Nordeste, em regi-
ões privilegiadas para produzirem alimentos para um mundo faminto.
Como disse o guia de Dom Bosco: “É outro dom de N. Senhor”.
Kilometragens
(Aproximadas)
Porto Velho/Palmas............................................................1.700 km
Palmas/cife......................................................................... 1.500 km
Total....................................................................................3.200 km
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
47
A Variante “A
A Variante “A” é uma alternativa que possibilitará incluir a Bolívia
e norte da Argentina na área de influência da Ferrovia de Dom Bosco.
Essa ligação poderá ser feita a partir da cidade de Porto Velho, no esta-
do de Rondônia, onde tem início a Via Leste, seguindo um traçado que
cortará de norte a sul a região sub-andina da Bolívia, sua nova fronteira
agrícola, passando por Santa Cruz de la Sierra até atingir a cidade Ar-
gentina de Salta, onde fará ligação com o sistema ferroviário desse país
que demanda a Buenos Aires.
É uma variante importante, pois de Porto Velho a Santa Cruz são
cerca de 1.000 km, e desta cidade até a divisa com a Argentina outros
600 km. Desta divisa até Salta, deve-se acrescentar 300 km e, a partir
daí, até Buenos Aires, mais 1.800 km. No total são 3.700 km, sendo
1.900 km de novas ferrovias (625 km no Brasil, 975 km na Bolívia e
300 km na Argentina).
Como fator adicional para valorizar a Variante “A”, deve-se res-
saltar que, em Santa Cruz de la Sierra, essa variante fará junção com
a ferrovia que, partindo desta cidade, liga o leste boliviano ao sistema
ferroviário brasileiro, em Corumbá, no Estado de Mato Grosso do Sul, e
com o Eixo Central, em Campo Grande, no mesmo Estado. O percurso
total até este ponto é de 1.000 km, sendo 625 km na Bolívia e 375 km
no Brasil.
Kilometragens
(Aproximadas)
PortoVelho(Brasil)/SantaCruz (Bolívia).....................................1.000 km
Santa Cruz/Salta(Argentina)....................................................... 900 km
Salta/Buenos Aires (Argentina).................................................1.800 km
Total.........................................................................................3.700 km
Resumo
Brasil...........................................................................................625 km
Bolívia..........................................................................................975 km
48
João GilBerto pArenti couto
Argentina.............................................................................2.100 km
Total....................................................................................3.700 km
A Variante “B”
A Variante “B” é uma via que já está pronta. Formada pelo sis-
tema ferroviário brasileiro, ela parte de Campo Grande, no Estado de
Mato Grosso do Sul, rumo ao sul, atravessando os estados de São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul até atingir a fronteira
com a Argentina, em Uruguiana/Passo de los Libres, num percurso de
2.832 km. Desta cidade, onde se conecta com o sistema ferroviário
argentino, segue para Buenos Aires cumprindo um trajeto de aproxima-
damente 900 km.
A partir de Campo Grande, portanto, a Ferrovia de Dom Bosco
bifurca-se, seguindo o Eixo Central para Assunção e Buenos Aires num
percurso de 2.021 km, e a variante “B” pelo sistema ferroviário brasi-
leiro/argentino até atingir o mesmo destino, totalizando cerca de 3.732
km, onde voltam a se encontrar para prosseguir numa só via até Punta
Arenas, no Chile.
Um ramal adicional, com cerca de 890 km, ligando Porto Alegre
a Montevidéu, colocará também o Uruguai no roteiro da Ferrovia de
Dom Bosco, aumentando ainda mais o poder de integração continental
desta ferrovia e fortalecendo os laços econômicos do Mercosul.
Kilometragens
(Aproximadas)
Campo Grande/São Paulo..........................................................1.014km
São Paulo/Curitiba....................................................................... 408km
Curitiba/Floroanópolis............................................................300km
Florianópolis/Porto Alegre.............................................................476km
Porto Alegre/Uruguaiana...............................................................634km
Uruguaiana/Passo de los Libres/Buenos Aires............................... 900km
Porto Alegre/Montevidéu...............................................................890km
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
49
Figura 1
A Ferrovia Transcontinental Dom Bosco
50
João GilBerto pArenti couto
PARTE IV
PROFECIAS E OUTROS ENÍGMAS
Uma Visão Profética do Descobrimento do Brasil
O Brasil, se levarmos em conta os fatos ligados à sua história,
parece ser um país marcado para ser uma nova Canaã, terra onde mana
leite e mel, pois, além da bíblica terra prometida, é o único território
cuja ocupação foi precedida de sinais e procurado por povos peregrinos
que ansiavam por uma terra abençoada e cuja posse foi assegurada por
promessas divinas. No caso da terra de Canaã, este compromisso está
no livro do Gênesis (Gn 12, 1-9) e, no que diz respeito à Terra Brasilis,
a partilha foi referendada pelo Tratado de Tordesilhas e sacramentada
pela bula do Papa Júlio II, investido de poderes celestiais (Mt 16, 18-
19). Em ambos os casos, os novos posseiros portavam bandeiras que
os identificavam, como está registrado no Livro dos Números (Nm 2) e
nos anais da história do Brasil.
Do livro A Viagem do Descobrimento (BUENO, 1998), extraímos
os seguintes trechos, para que tal colocação seja bem compreendida:
“Os indígenas, com os quais Nicolau Coelho travou o primeiro
contato, eram, se saberia mais tarde, da tribo tupiniquim. Pertenciam
à grande família Tupi-Guarani que, naquele início do século XVI, ocu-
pava praticamente todo o litoral do Brasil. Os tupiniquins eram cerca
de 85 mil e viviam em dois locais da costa brasileira: no sul da Bahia,
da altura de Ilhéus até a foz do rio Doce (já no atual estado do Espírito
Santo), e numa estreita faixa entre Santos e Bertioga, no litoral norte de
São Paulo. Como os demais tupis-guaranis, tinham chegado às praias
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
51
do Brasil, movidos não apenas por um impulso nômade, mas por seu
envolvimento em uma ampla migração de fundo religioso. Partindo de
algum ponto da bacia do rio Paraná, no território hoje ocupado pelo
Paraguai (ainda que alguns estudiosos acreditem que o movimento
talvez tenha começado na Amazônia), os tupis-guaranis iniciaram uma
longa marcha em busca da Terra Sem Males. Liderados por profetas
– chamados de Caraíbas –, eles haviam chegado à costa brasileira ao
redor do ano 1000 da Era Cristã”. (p. 91).
“A ilha do Brasil, ou ilha de São Brandão, ou ainda Brasil de São
Brandão, era uma das inúmeras ilhas que povoam a imaginação e a
cartografia européias da Idade Média, desde o alvorecer do século IX.
Também chamada de “Hy Brazil”, essa ilha mitológica, “ressonante de
sinos sobre o velho mar”, se “afastava” no horizonte sempre que os
marujos se aproximavam dela. Era, portanto, uma ilha “movediça”, o
que explica o fato de sua localização variar tanto de mapa para mapa.
Segundo a lenda, Hy Brazil teria sido descoberta e colonizada por São
Brandão, um monge irlandês que partiu da Irlanda para alto-mar no ano
de 565. Como São Brandão nascera em 460, ele teria 105 anos quando
iniciou sua viagem. O nome “Brazil” provém do celta bress, que deu ori-
gem ao verbo inglês to bless (abençoar). Hy Brazil, portanto, significa
“Terra Abençoada”. Desde 1351 até pelo menos 1721 o nome Hy Brazil
podia ser visto em mapas e globos europeus, sempre indicando uma
ilha localizada no oceano Atlântico. Até 1624, expedições ainda eram
enviadas à sua procura”. (p. 13).
Mas para todos os efeitos legais, essa mitológica ilha já havia
sido “achada” pelos portugueses em 1500, que a batizaram de “Ilha de
Vera Cruz” – Cabral, ao avistá-la, chamara-a de “Terra de Vera Cruz” –,
posteriormente rebatizada de “Terra de Santa
Cruz”. O duplo nome atribuído à nova terra tem ligação com
sua dupla unção batismal, pois a primeira missa foi celebrada numa
ilha (Coroa Vermelha), no dia 26 de abril (domingo da Pascoela), e a
segunda, no continente no dia 1º de maio.
O rito de sagração da nova terra está descrito em detalhes na
carta que Pero Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal. Este docu-
52
João GilBerto pArenti couto
mento, único na literatura universal, e que todo brasileiro deveria ter
uma cópia, representa na verdade a Certidão de Nascimento do Brasil,
pois foi lavrada por um funcionário público no desempenho de suas
funções.
Nela é narrado, passo a passo, tudo o que se passou a partir
de 21 de abril, quando se notou os primeiros sinais de terra, as algas
chamadas de botelho e rabo-de-asno, até o dia 1º de maio, quando foi
celebrada a missa no continente e encerrada a missão do “achamento”.
Pelos trechos seguintes, extraídos dessa carta, pode-se notar o quanto
o sagrado prevaleceu sobre o profano nesses dias cerimoniosos, quan-
do a deposição de armas e o desarmamento de espíritos assinalaram o
encontro pacífico entre povos belicosos, prenunciando assim a vocação
brasileira de integrar raças diferentes em um convívio harmonioso, no
qual a miscigenação será seu traço mais marcante.
A narrativa da segunda missa exemplifica o espírito de paz e
confiança mútua, reinantes nesse encontro entre povos de formação e
origens diferentes, e da própria humanidade com suas raízes. Na rea-
lidade, o que os portugueses descobriam foi o paraíso perdido, ainda
intacto e habitado pelos filhos de Adão e Eva sem vestígios da queda;
portanto, um convite à miscigenação, a qual foi praticada sem muita
hesitação, tornando o Brasil um caso singular na história universal,
conforme narra Caminha (TUFANO, 1999):
“Plantada a cruz, com as armas e a divisa de Vossa Alteza, que
primeiramente lhe pregaram, armaram um altar ao pé dela. Ali disse
missa o padre Henrique, a qual foi cantada e oficiada pelos religiosos
e sacerdotes. Ali na missa estiveram conosco cerca de cinquenta ou
sessenta deles, que ficaram de joelhos, assim como nós. E quando se
chegou ao Evangelho, que nos erguemos todos em pé, com as mãos
levantadas, eles se levantaram conosco e alçaram as mãos, ficando
assim até que se acabasse; e então tornaram-se a assentar como nós.
E quando levantaram a Deus, que nos pusemos de joelhos, eles se
puseram todos assim como nós estávamos, com as mãos levantadas e
em tal maneira sossegados, que, certifico a Vossa Alteza, nos fez muita
devoção” (p. 56).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
53
“Acabada a pregação, como Nicolau Coelho trouxesse muitas
cruzes de estanho com crucifixos, que lhe ficaram ainda da outra via-
gem (alusão à viagem de Vasco da Gama às Índias, em 1498, da qual
Nicolau Coelho participara), decidimos colocar uma no pescoço de cada
um. Para isso, o padre frei Henrique se assentou ao pé da cruz e ali
passou a colocar no pescoço de cada um deles uma cruz atada em um
fio, fazendo que primeiro a beijassem e levantassem as mãos. Muitos
vieram e foram assim colocadas todas as cruzes, umas quarenta ou
cinqüenta” (p.58).
Pelo que se deduz dessa cerimônia, não só a nova terra foi
consagrada a Deus, mas seus habitantes também o foram, tudo sob
um céu onde uma grande cruz presidia esse ritual cheio de significado,
a qual, nessa ocasião, fora batizada por Mestre João, o astrônomo da
missão, como informa Bueno (1998, p. 105): “De fato, naquela noite,
ao observar as estrelas do Hemisfério Sul, Mestre João chamaria sua
principal constelação de Cruzeiro do Sul”. Tais acontecimentos indicam,
também, que tanto o continente como a plataforma continental brasi-
leira foram abençoados em nome de um Deus que presidiu a conquista
dos portugueses, congregados que estavam na Ordem de Cristo, sob
cujo pavilhão e símbolo tomaram posse da nova terra, em uma ilha
(Coroa Vermelha) situada na faixa de Dom Bosco (15/20ºS), onde foi
celebrada a primeira missa.
De acordo com Pero Vaz de Caminha (TUFANO,1999): “No do-
mingo da Pascoela, pela manhã, determinou o Capitão de ir ouvir missa
e pregação naquele ilhéu. Mandou a todos os capitães que se arran-
jassem nos batéis e o acompanhassem. E assim foi feito [...] Naquele
ilhéu, mandou armar um pavilhão e, dentro dele, um altar muito bem
preparado. E ali, na presença de todos, mandou rezar missa, a qual foi
rezada pelo padre frei Henrique, em voz entoada, e acompanhada com
aquela mesma voz pelos outros padres e sacerdotes. A missa segundo
meu parecer, foi ouvida por todos, com muito prazer e devoção. O Ca-
pitão estava com a bandeira da Ordem de Cristo, com a qual saiu de Be-
lém. Ela esteve sempre levantada, da parte do Evangelho” (p. 38-39).
54
João GilBerto pArenti couto
Contrastando com essa estada tranquila e a perenidade do sím-
bolo que marcou o nascimento de uma nação predestinada, a conste-
lação do Cruzeiro do Sul, a continuação da viagem dos portugueses ao
Oriente foi atribulada e assinalada pela fugaz passagem de um cometa,
como informa um dos tripulantes da esquadra cabralina (relação do
piloto anônimo): “Aos 12 dias do dito mês de maio, apareceu em nosso
trajeto, rumando em direção à Arábia, um cometa com uma cauda mui-
to comprida, que nos acompanhou durante oito ou dez noites”.
A simbologia dos eventos que marcaram a rápida passagem
(Páscoa) dos portugueses pela Terra Brasilis, que teve início no Bairro
de Belém em Lisboa, com um ritual de bênção da bandeira da Ordem
de Cristo, e término nas costas brasileiras, após uma travessia que
durou toda uma quaresma (Tempo de Penitência – quarenta dias que
representam os 40 anos da caminhada dos hebreus pelo deserto), pode
ser resumida num ato singelo: a distribuição aos nativos da nova terra
das “muitas cruzes de estanho com crucifixos”, portadas por Nicolau
Coelho. Se essas cruzes sobraram no Oriente, onde não prosperaram,
aqui, ao contrário, foram todas plantadas e produziram abundantes fru-
tos, tornando o Brasil a maior nação cristã do mundo.
Concluindo, é bom lembrar que a primeira missa não foi cele-
brada no continente e sim no seu vestíbulo, o Ilhéu de Coroa Vermelha,
onde foi desfraldada a bandeira da Ordem de Cristo, e a segunda, no
continente, onde foi plantada a Cruz de Cristo, reproduzindo assim o
ritual de sagração da Terra de Canaã, ocorrida por ocasião da viagem
dos israelitas pelo deserto (Êxodo) e a parada que aí fizeram para serem
purificados, antes de entrarem nessa Terra Prometida. Este ritual está
simbolizado nas duas tendas erguidas no deserto (Hb 9, 1-5), onde um
vestíbulo, “o Santo” (primeira tenda, onde se encontrava o candela-
bro), precedia “o Santo dos Santos” (segunda tenda, abrigo da arca da
aliança), e repetido com os mesmo detalhes no Templo de Jerusalém e
nas igrejas católicas. Esse duplo ritual de sagração se repetiu também
por ocasião da construção de Brasília, quando foram celebradas duas
missas. A primeira, no “deserto”, a pedido de Bernardo Sayão (vide
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
55
capitulo seguinte), e a segunda, “oficial”, na inauguração da cidade, a
mando do seu construtor-mor, o Presidente Juscelino Kubitschek.
O Simbolismo de Brasília
Além disso, existem outros fatos relacionados com a cidade de
Brasília que também merecem ser citados pelo simbolismo que en-
cerram, como a data de sua inauguração, 21 de abril, a mesma da
antevisão das terras brasileiras pelos descobridores e do sacrifício de
Tiradentes, prelúdio da independência; a realização do projeto dos in-
confidentes de interiorização da capital; a cruz que assinala, como um
marco de posse, seu plano urbanístico; o cruzamento em seu sítio dos
paralelos de Dom Bosco com o meridiano de Tordesilhas, formando
uma grande cruz sobre a Terra Brasilis; meridiano este que se posiciona
como eixo de uma nova civilização, a civilização miscigenada do tercei-
ro milênio, que tem neste ponto o seu centro de gravidade.
Outros Eventos Premonitórios
A história do Brasil apresenta, além desses fatos, uma série de
eventos premonitórios que precisa ser analisado no contexto das profe-
cias. Segundo Couto (2000), o Brasil deve repensar as crises políticas
pelas quais passou desde que foi declarada a Independência, para evi-
tar a repetição de erros do passado e se posicionar como nação líder
na defesa da democracia e dos interesses dos países sul-americanos.
Como se pode ver na Figura 2, extraída dessa obra, esse período his-
tórico é marcado por uma série de crises políticas que encontram seu
termo em 2002 com a celebração de um novo pacto social; previsão
esta confirmada pela vitória dos trabalhadores nas eleições desse ano.
Além disso, a troca de comando no mundo político em 2003, coincide
com o início do processo de construção de uma nova era para o Brasil,
e para a América do Sul, profetizada por Dom Bosco, que se estenderá
até 2063.
56
João GilBerto pArenti couto
FIGURA 2
As Crises Políticas do Brasil Independente
(Segundo Couto, 2000)
7
6
5
4
3
2
1
CRISES
CAUSAS
EFEITOS
AGENTES
DO
PROCESSO
ATORES
EXTERNOS
INTERVALOS
1792
1822
INCONFIDÊNCIA
MINEIRA
ELITE
REVOLUÇÃO
FRANCESA
INDEPENDÊNCIA
ELITE
CORTE
PORTUGUESA
66/67 ANOS
40/41 ANOS
24/34 ANOS
9/21 ANOS
7/9 ANOS
3/8 ANOS
1888
1889
ABOLIÇÃO
REPÚBLICA
ELITE
ELITE/
MILITARES
1929
1930
BOLSA
REVOLUÇÃO
CRISE GLOBAL
ELITE DIVIDIDA/
FACÇÕES MILITARES
ESPECULADORES
1954
1964
SUICÍDIO
DE VARGAS
ELITE/
MILITARES
CAPITAL
ESTRANGEIRO
DITADURA
MILITAR
MILITARES/ELITE
CLASSE MÉDIA
GOVERNO
AMERICANO
1973
1985
PETRÓLEO
REDEMOCRA-
TIZAÇÃO
CRISE GLOBAL
ELITE/
CLASSE MÉDIA
OPEP
1992
1994
IMPEACHMENT
DE COLLOR
ELITE/
CLASSE MÉDIA
CRIAÇÃO
DO REAL
ELITE/
CLASSE MÉDIA
1997
2002
BOLSA CRISE GLOBAL ESPECULADORES
NOVO PACTO
SOCIAL
CLASSE MÉDIA/
EXCLUÍDOS
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
57
PARTE V
O PAPEL DE MINAS GERAIS NAS PROFECIAS
Enigmas
No meio de tanto simbolismo, não de todo decodificado, que
marcou a rápida passagem (Páscoa) dos portugueses pela Terra Bra-
silis, e tendo em mente os sonhos visionários de Dom Bosco sobre
o Brasil e Brasília, outros enigmas relacionados com o Estado de Mi-
nas Gerais precisam ser analisados, pois dizem respeito aos interesses
maiores da nação brasileira. São eles: O Eixo do Poder, A Fatalidade, A
Má Notícia, A Má Noticia e o Governador Aécio Neves, A Má Noticia e
o Vice-Presidente José Alencar, A Má Notícia e o Governador Eduardo
Azeredo, A Vaquinha da Leopoldina, Os incêndios do Colégio Caraça e
da Igreja do Carmo, A Pedra de Tropeço, O Rito de Passagem.
O Eixo do Poder
A implantação do eixo do poder num determinado território é
um fato marcante e cercado de toda uma liturgia e sua remoção implica
em conseqüências nefastas, como bem exemplifica a transferência do
eixo do poder do Palácio da Liberdade para o Palácio dos Despachos
em 1967, evento que marcou a gestão do último governador de Minas
Gerais eleito democraticamente e início do período de trevas dos inter-
ventores da ditadura militar. Além do mais, o Palácio da Liberdade tem
forças que assustam os menos avisados, enquanto outros as respeitam,
como o ex-Governador Itamar Franco, que disse aos jornalistas: “Pode
58
João GilBerto pArenti couto
ser que eles não existam, mas há uma força que faz bem a governan-
tes que se sentam naquele lugar. Por isso, nunca quis despachar no
Palácio dos Despachos. São espíritos bons, que estão no Palácio para
ajudar” (Estado de Minas, 18/12/2002, p. 5). Mas o melhor exemplo
das conseqüências catastróficas que advêm da remoção do eixo do po-
der de um lugar para outro é dado pelo Império Romano, pois a partir
do momento em que Constantino transferiu o eixo do poder de Roma,
cravado em 700 AC, para Constantinopla, no ano 330 DC, o milenar
império entrou em declínio e desapareceu um século depois.
As Transferências do Eixo do Poder
No Brasil não foi diferente, pois por duas vezes esse fato se
repetiu e deixou suas marcas. Tudo começou com a transferência do
eixo do poder da cidade de Salvador para o Rio de Janeiro, fato que
marca o início do fim do período colonial e o advento do Império e o
conseqüente declínio do Nordeste e ascensão do Sudeste como centro
gerador de riquezas. Esse processo encontrou seu termo quando o Rei
de Portugal transferiu o eixo do poder de Portugal para o Brasil, evento
que assinala também o crepúsculo deste império colonial e a ascensão
de outro, o Império Britânico.
O Eixo do Poder em Brasília
Igualmente a transferência do eixo do poder da cidade do Rio de
Janeiro para Brasília, além de referendar a queda do Império do Brasil
e a consolidação da República brasileira, assinala também o fim dos
domínios regionais litorâneos e o surgimento no planalto central de um
centro de poder verdadeiramente nacional, pois passou a incorporar
neste núcleo de decisões as regiões antes periféricas do Centro-Oeste
e da Amazônica.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
59
As Mudanças em Minas Gerais
Em Minas Gerais, a história registra fato semelhante, pois a
transferência do eixo do poder da colonial, clerical e maçônica Ouro
Preto, para a republicana e positivista Belo Horizonte, marcou não só o
fim do período escravocrata, como também
o nascimento de uma nova ordem social. Aqui também a dicoto-
mia queda/ascensão acompanhou todo o processo, pois a velha capital
mineira acabou virando museu, enquanto a nova ampliava os horizonte
das gerais, que, ao transpor a muralha da Serra do Curral, deixou para
trás as estreitas trilhas da Estrada Real e passou a caminhar pelas lar-
gas veredas do Grande Sertão, onde seria plantado o novo centro de
poder do Brasil: Brasília.
O Papel do Governador Aécio Neves
Em que pese esse passo importante rumo ao futuro, um outro,
em sentido contrário, ameaça essa caminhada. Trata-se do projeto do
Governador Aécio Neves, anunciado no início de seu governo em 2003,
de transferir o eixo do poder da Praça da Liberdade para outro local
da cidade. Como todas as mudanças feitas ao longo da história, esta
também traz consigo consequências nefastas, como ficou demonstrado
pelas denúncias de corrupção feitas pelo deputado Roberto Jefferson,
as quais, como um terremoto, com epicentro na capital mineira, aba-
laram os alicerces do governo Lula, fazendo ruir toda estrutura petista
montada para sustentá-lo no poder, levando conseqüentemente o Brasil
para uma crise institucional.
No último ano de seu segundo mandato, o Governador Aécio
Neves conclui esse projeto, transferindo o eixo do poder do Palácio da
Liberdade para o novo centro administrativo, construído no local do
antigo Hipódromo Serra Verde, na região norte da capital mineira. Neste
evento mudancista, preparado com pompas e galas para uma platéia
selecionada, Aécio Neves pretendia lançar sua candidatura à Presidên-
cia da República, mas, o que aconteceu, foi um ato falho, pois os pau-
60
João GilBerto pArenti couto
listas roubaram-lhe a cena, apresentando o seu candidato preferido: o
governador de São Paulo José Serra. Como premio de consolação, este
candidato a candidato, ofereceu-lhe a vice-presidência em sua chapa;
oferta que recusou, para não ser totalmente humilhado, restando-lhe
como única alternativa, para se manter na política, a candidatura ao
Senado da República.
Nenhuma justificativa racional suporta esse projeto mudancis-
ta do Governador Aécio Neves, a não ser o medo dos maus fluidos
que acompanha certos ocupantes do Palácio da Liberdade, e as más
recordações ligadas ao seu avô, o presidente eleito e não empossado
Tancredo Neves, que faleceu em circunstancias dramáticas, e que neste
palácio fez a sua derradeira parada rumo a ultima morada.
A Fatalidade
A tragédia que se abateu sobre Tancredo Neves é muito seme-
lhante a que fulminou Tiradentes e seus ideais de liberdade. As simili-
tudes situam-se mais no campo dos enigmas do que meras coincidên-
cias, a começar pela data de suas mortes, 21 de abril; o retalhamento
de seus corpos após o desenlace fatal; a mesma região de nascimento,
o vale do rio das Mortes, onde localiza-se o Capão da Traição que
marcou profundamente a história de Minas, e a luta de ambos pela
liberdade pela qual se sacrificaram.
Além disso, seu vice e sucessor, José Sarney, conhecido pelas
ligações atávicas com Portugal e que erigiu um mausoléu como coro-
amento de sua obra, tem origem no mesmo estado, o Maranhão, onde
morreu e foi sepultado o responsável pela desdita de Tiradentes e dos
inconfidentes e da qual tirou o melhor proveito, o traidor Joaquim Sil-
vério dos Reis Montenegro.
A Má Notícia
O exercício do poder, pela sua natureza efêmera, provoca nos
seus detentores uma sensibilidade ao desconhecido que os levam, mui-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
61
tas vezes, a temer certos objetos, como acontece com o quadro de
Belmiro Almeida, intitulado A má notícia, que foi retirado do Palácio da
Liberdade pelo receio de seus ocupantes com seus presumidos maus
fluidos. A respeito do mistério que cerca esse quadro, eis o que es-
creveu Walter Sebastião, no Caderno “Divirta-se” do Jornal Estado de
Minas (1º/7/2005, p. 22):
“Um dos quadros mais cercados de lendas e crendices da his-
tória da arte brasileira está, até 10 de julho, em exposição no segundo
piso do Minas Shopping. Trata-se da tela A má notícia, de Belmiro de
Almeida (Serro, 1858; Paris, 1935). Pintura primorosa, de composição
ousada, luminosidade e atmosfera envolvente foi considerada tela aza-
renta até se tornar tesouro celebrado do acervo do Museu Mineiro. As
andanças de A má notícia estão num divertido texto chamado 100 anos
de preconceito, do jornalista e prefeito de Ouro Preto Ângelo Oswaldo.
A primeira vez que a pintura veio a público foi em setembro de 1897,
apresentada no Liceu de Artes e Ofícios de Ouro Preto. Três meses
depois, em 12 de dezembro, a capital do Estado era transferida para
Belo Horizonte. Má notícia para os ouro-pretanos, segundo a lenda, os
primeiros a conhecer o poder dos (maus) presságios trazidos pela peça
que ficou alojada no Palácio da Liberdade. Há quem atribua à praga
jogada por velhas (que tiveram sua choupana demolida para a cons-
trução do Palácio da Liberdade) as mortes de moradores do famoso
endereço: Silviano Brandão (em 1901), João Pinheiro (em 1908), Raul
Soares (em 1924) e até a de Olegário Maciel (em 1933). Mas existe
quem garanta que tudo se deve às más vibrações do quadro de Belmi-
ro Almeida, que foram confirmadas por um vidente chamado Pascoal,
como informa Delso Renault, no livro Chão e alma de Minas (1988).
Retirada do Palácio da Liberdade, A má notícia perambula por reparti-
ções (secretarias de Finanças, da Educação e Saúde, Palácio da Justiça,
etc.) sempre acompanhada da suspeita de ser fonte de infortúnios. Em
junho de 1942, é entregue ao Arquivo Público que, dizem, viveu longo
período de abandono e quase viu seu prédio ruir. Em maio de 1982,
com a inauguração do Museu Mineiro, o quadro é transferido para o
62
João GilBerto pArenti couto
local. E, pouco depois, o telhado da instituição ameaçou desabar, sem
falar que o próprio museu (por culpa do quadro?) ainda não conseguiu
desenvolver todo seu potencial”.
A Má Notícia e o Governador Aécio Neves
Mas a ligação desse fetiche com os governantes parece que não
foi exorcizado com essa medida, pois continua presente lá onde eles
se encontram, mesmo que seja em passagens subterrâneas, como se
depreende de duas pequenas notas que aparecem no Jornal Estado de
Minas de 19/12/2004. A primeira delas, Detalhes (Caderno “Masculino
& Feminino”, p. 3), dizia o seguinte: O jantar oferecido pelo Governo
de Minas aos integrantes das comitivas participantes da Cúpula do
Mercosul, na quinta-feira, foi mais uma prova de que a sofisticação
mora mesmo é nos detalhes. Além do saboroso jantar, preparado pela
competente Maria Eny, do Maciellina, mereceu elogios a exposição Ter-
ra de Minas, com a curadoria de Rodrigo Faleiro, do Museu Mineiro.
A pequena mostra, com 12 peças do acervo do próprio museu, foi
montada no túnel que liga os dois prédios do Museu de Artes e Ofícios,
onde aconteceu o jantar. Entre as obras que encantaram os olhares, A
má noticia, de Belmiro Almeida (1897), Ponta de Umbu, de Inimá de
Paula, Ponte do Rosário, de Celso Renato, e um desenho, sem título,
de Amílcar de Castro, num belo panorama da arte mineira do último
século. A segunda nota, Diálogo no jantar (p.2), informava: Foi logo na
hora em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Museu
de Artes e Ofícios para o jantar da Cúpula do Mercosul. Ele foi recebido
pelo governador Aécio Neves e pelo ex-presidente Itamar Franco. O
diálogo começou com Lula:
– Ô Itamar, você esta querendo voltar?
Ao que o ex-presidente respondeu:
– Pois estou aqui pedindo emprego ao Aécio...
O governador não perdeu a caminhada:
– No meu governo, o Itamar tem o que quiser.
Lula também não perdeu o rebolado:
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
63
– No meu também, desde que não seja o meu cargo.
Mas o que restou dessa caminhada ao longo do túnel do tempo,
presidido pelo quadro da má noticia, foi que o Estado de Minas Gerais
acabou relegado a um segundo plano durante os dois mandatos do
Presidente Lula, restando ao Governador Aécio Neves um papel de
mero espectador da política nacional, ao contrário de seus antecesso-
res que participavam ativamente desse processo, tanto a nível regional
como nacional. Este encontro, no Museu de Artes e Ofícios, portanto,
só trouxe para Minas más notícias, como apontava o quadro de Belmiro
Almeida, pois nem a presença de um mineiro na vice-presidência da
República mudou esse panorama negativo.
A Má Notícia e o Vice-Presidente José Alencar
Aliás, o comportamento do Vice-Presidente José Alencar, ao lon-
go dos dois mandatos do Presidente Lula, mais se pareceu a um tição
sem brasas, coberto de cinzas. Foi uma atuação apagada, cinzenta, sem
nenhum calor. Juntos, o Governador Aécio Neves e o Vice-Presidente
José Alencar, não fizeram nada por Minas no contexto federal; não
levantaram uma palha sequer em favor do Estado. Nem mesmo se em-
penharam em trazer para Minas Gerais, pelo menos uma, das inúmeras
siderúrgicas plantadas no litoral capixaba e carioca sob o patrocínio do
Presidente Lula. Isto sem contar outras graves omissões, como na con-
dução do processo de elaboração do novo marco regulatório do setor
mineral, assunto de vital importância para o Estado e que foi conduzido
por políticos de outros estados, sem nenhum interesse no assunto.
A Má Notícia e o Governador Eduardo Azeredo
Este desinteresse dos políticos mineiros, já está custando caro
ao Estado, como a lei Kandir, que liquidou com a tributação advinda
do setor mineral, prejudicando substancialmente as finanças do Estado
e dos municípios mineradores. É bom lembrar que esta lei a só foi
aprovada no governo FHC, graças à cumplicidade do então governador
64
João GilBerto pArenti couto
de Minas Eduardo Azeredo, que ao deixar o governo foi contemplado
com o cargo de diretor de uma empresa do setor mineral, o grande
beneficiado por esta lei. O resultado é que, desde que assumiu o go-
verno em 2003, o governador Aécio Neves vem correndo atrás desse
prejuízo, implorando de joelhos ao Presidente Lula para pagar ao Es-
tado as migalhas que sobraram desse acordo espúrio. Mas ele chora
baixinho para não despertar a atenção dos mineiros, pois estes políticos
pertencem ao mesmo partido do Governador Aécio neves – o PSDB –,
que promoveu a privatização da Companhia Vale do Rio Doce, que hoje
despreza Minas e os mineiros.
A Vaquinha da Leopoldina
Criada por artistas, essa figura bizarra, não menos enigmática e
cheia de singularidades, é desde sua aparição em 1980, no Bairro Santo
Antônio da capital mineira (Estado de Minas, 2/8/98, p. 41), uma refe-
rência para os belo-horizontinos e alvo de manifestações extravagantes
por parte de desconhecidos.
Assim, vez por outra, essa vaca enigmática aparece pintada de
cores e padrões diferentes, caracterizando fatos marcantes que ocorrem
em nosso país, ou alternativamente ausência de cores com o mesmo
propósito, como foi o caso da desastrosa Copa do Mundo de futebol
de 1998.
O Presidente Sarney
No governo do Presidente Sarney, por exemplo, para assinalar o
fracasso do Plano Cruzado e as conseqüências negativas daí advindas,
ela apareceu pintada de negro e com seu esqueleto desenhado em cor
branca, o que lhe dava um aspecto fantasmagórico e faminto.
O Presidente Itamar Franco
No governo do Presidente Itamar Franco, como conseqüência
dos êxitos do Plano Real, ela apareceu coberta de flores, expressando
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
65
assim o sentimento de alívio e alegria do povo com o fim da infla-
ção crônica e dos descalabros e escândalos do governo do Presidente
Collor de Melo.
O Presidente Fernando Henrique Cardoso
No primeiro governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso,
a cor escolhida foi o amarelo-ouro, reforçado pelo desenho de um
lingote desse metal com a inscrição “18 quilates”. Sucedendo esse
bezerro de ouro, que caracteriza muito bem a submissão desse gover-
no aos banqueiros e ao capital internacional, apareceu, no final desse
mandato e na passagem para seu segundo governo, uma vaca pintada
de vermelho tendo em seu dorso a inscrição “Coca-Cola”, prenuncian-
do assim um período sangrento (Sangue de Coca-Cola), conseqüência
da opção dourada.
O Governador Itamar Franco
Em que pesem esses presságios de mau agouro, um fato novo
surgido no mês março de 1999 quando Itamar Franco, como Governa-
dor de Minas, passou a controlar a situação de desgoverno que recebeu
de seu antecessor, parece indicar mudanças na história dessa vaquinha
simbólica. Até então as mensagens eram passadas na calada da noite,
por anônimos pintores, mas nesse momento, à luz do dia, apareceu um
grupo de jovens que meteu mãos à obra para modificar essa trajetória
cheia de significados.
O Presidente Lula
Como a confirmar a vocação premonitória dessa vaca enigmáti-
ca, em junho de 2004, uma mão invisível pintou-a de azul escuro, com
cascos negros, dando-lhe um aspecto sombrio, refletindo assim o es-
tado de espírito da sociedade com o governo petista, no momento em
que a popularidade de Lula despencava em Belo Horizonte e era vaiado
e chamado de traidor no velório do indomável Brizola, de onde sairia
66
João GilBerto pArenti couto
direto para Nova Iorque, para aí confirmar sua sujeição à banca inter-
nacional. Essa situação faz lembrar um pesadelo em que uma pequena
nuvem branca se transforma numa gigantesca massa cambiante entre
um azul escuro e uma cor de chumbo de aspecto assustador.
A História da Vaquinha
Para que o leitor possa avaliar a atitude desses jovens e refletir
sobre o seu significado, é transcrito a seguir o artigo da jornalista Fabia-
na Lemos, intitulado Vaquinha da Leopoldina passa por transformação,
publicado no Jornal Estado de Minas de 21/3/99 (p. 16): “A vaquinha
da rua Leopoldina, patrimônio histórico e marco de Belo Horizonte, vai
ganhar roupa nova. Com pelo menos 24 anos de idade – assim con-
tam os moradores do bairro Santo Antônio – a obra do artista plástico
paulista Marcelo Nitsche já vestiu várias cores. E depois de uma vota-
ção dos moradores e da autorização da prefeitura, uma turma de nove
amigos juntou argamassa, tinta e boa vontade para lembrar à cidade
que ela sobrevive aos vândalos e ao esquecimento. A idéia de renovar a
cara da vaquinha foi do ex-morador do bairro, Alexandre Leite Batista,
18 anos, que percebeu que na Copa do Mundo passada ninguém se
habilitou a pintá-la de verde e amarelo, como de costume. Amigos de
escola de Alexandre toparam a idéia e começaram a pesquisar a his-
tória do monumento, o que acabou rendendo uma página na Internet.
A turma tomou o cuidado de colocar a nova roupagem em votação no
Santo Antônio. Sugerimos vaca de pijama, o mapa da vaca, napolitana,
vaca amarela, malhada e sistema circulatório, conta. O resultado foi
a tradicional vaca malhada, em branco e marrom. Outra preocupação
dos amigos foi consultar a prefeitura para conseguir uma autorização,
cuidado que o último pintor não teve. Ela estava toda de vermelho e
tinha o símbolo da Coca-Cola. Alguns moradores rasparam a escrita,
diz. Um fato polêmico, que acabou rendendo à vaca o título de patrimô-
nio histórico, foi o fato da construtora do edifício Princesa Leopoldina
tentar derrubar a vaca, localizada à porta do prédio. Alexandre Batista
tem um carinho especial pelo animal. Além de ter seis vacas miniaturas
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
67
em seu quarto, os amigos costumam brincar que ele saía das aulas no
Dom Silvério e pegava o caminho mais longo só para passar perto dela.
O pai de Alexandre, Levi Leite, também ajudou no trabalho, levando
argamassa para retocar a estrutura de ferro e concreto, que estava um
pouco destruída por vândalos. Enquanto raspava a pintura, a turma
pôde rever algumas roupagens antigas como a de esqueleto, verde e
amarela, malhada em preto e branco”.
Os Incêndios do Colégio do Caraça e da Igreja
do Carmo em Mariana
Para bem entender o significado da vaca ensangüentada que
apareceu no governo FHC, é preciso recorrer a outros símbolos mi-
neiros e os eventos associados que anunciam tempos nefastos para
Minas e para o Brasil. Entre esses eventos premonitórios, destacam-se
os incêndios que ocorreram no Colégio do Caraça, em maio de 1968, e
na Igreja do Carmo, em Mariana, em 1999.
O incêndio que destruiu o Colégio do Caraça ocorreu quando
era maior o cerco da ditadura militar ao Governador Israel Pinheiro,
que defendia as liberdades individuais e a autonomia do Estado, num
quadro de adversidades que prenunciavam um período de trevas para
o País, materializado em dezembro daquele ano com a edição do Ato
Institucional nº 5.
Em janeiro de 1999, um outro incêndio atingiu as raízes de Mi-
nas, desta vez um templo sagrado – a Igreja de Nossa Senhora do
Carmo, em Mariana. Este fato aconteceu num momento muito pare-
cido, quando o Governador Itamar Franco lutava contra a tentativa do
governo FHC de “sitiar” o Estado para esmagar sua autonomia, o que
prenunciava tempos tenebrosos para o Brasil.
A Pedra de Tropeço
Das águas tormentosas do nascente, por entre rochedos fran-
camente perigosos, que sinaliza perigos à vista, a nau da esperança,
68
João GilBerto pArenti couto
cantada em prosa e verso, portava a semente, apreciada pelos nobres
ancestrais do continente, que, transportada do recanto celestial e acli-
matada no solo sagrado dos mineiros, floresce à sombra sinistra do
templo da liberdade, mirando ao poente sua origem primeva, a meio
caminho da qual completa seu ciclo vital.
O Rito de Passagem
Para ajudar a decifrar esse enigma chamado Brasil e traçar ru-
mos para a nação brasileira, nada mais apropriado do que refletir sobre
um fato que guarda um simbolismo todo especial para Minas Gerais e
para o País. Trata-se do fechamento da Mina de Morro Velho, evento
que marca, a um só tempo, o fim do Ciclo do Ouro, que se desen-
volveu desde o século XVII, e o início da nova era (2003) profetizada
por D. Bosco para a Terra Brasilis. Segundo o Jornal Estado de Minas
(19/9/2002, p. 1-15), a Mina de Morro Velho será desativada em 2003.
Sob o título Página virada, informa: “Depois de 168 anos, a mais antiga
exploração de ouro em operação no mundo será desativada e dará
lugar a um empreendimento que inclui uma estrutura destinada ao tu-
rismo e lazer”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
69
PARTE VI
APOCALIPSE, ARMAGEDOM E O FIM DOS TEMPOS
As Profecias
Levando-se em conta as profecias de Dom Bosco, que prevêem
uma era de prosperidade para o Brasil e a América do Sul, que será
implantada entre os anos 2003 e 2063, é preciso tecer algumas consi-
derações sobre o fim do mundo, previsto por Isaac Newton para o ano
2060, e outros eventos apocalípticos, os quais, ao que tudo indica, não
afetarão o continente sul-americano, ficando restrito ao Velho Mundo.
O fim do mundo previsto por Isaac Newton
Conforme noticiou o Jornal Estado de Minas (18/6/2007, p. 16):
“Isaac Newton, um dos cientistas mais influentes de todos os tempos,
previu o fim do mundo para 2060, segundo manuscritos do famoso
físico apresentados ontem pela Universidade Hebraica de Jerusalém.
Os documentos, herdados pela universidade de um colecionador, são
exibidos ao público pela primeira vez desde 1969 na exposição Os
segredos de Newton. Numa carta datada de 1704, Isaac Newton, fí-
sico e astrônomo inglês que era interessado em teologia e alquimia,
fez um cálculo baseado num fragmento da Bíblia, retirado do Livro de
Daniel. Segundo ele, 1.260 anos se passariam entre a refundação do
Santo Império Romano por Carlos Magno, no ano 800, e o final dos
tempos. Nascido em 4 de janeiro de 1643, em Woolsthorpe, Inglaterra,
e considerado o pai da matemática moderna, Newton acreditava que a
70
João GilBerto pArenti couto
Bíblia era a chave para as leis ‘secretas’ que Deus havia estabelecido
para o universo, e indicava também a data da segunda vinda de Cristo
à Terra e a do fim do mundo. Por isso, dedicou boa parte de sua vida
a tentar decifrar o código em que ela teria sido escrita. Ele morreu em
Londres, em 31 de março de 1727. A previsão de Newton já havia
sido divulgada em 2003, no documentário Newton: the dark heretic,
produzido pela britânica BBC a partir dos estudos de Stephen Snobe-
len, professor de história da ciência da Universidade de King’s College,
no Canadá, um dos maiores especialistas em Newton do mundo. Foi
Snobelen quem descobriu o documento original em que o cientista faz
a previsão. Newton afirmou que os dramáticos acontecimentos descri-
tos no Livro das revelações, inclusive a terrível batalha do Armagedon,
entre o bem e o mal, aconteceriam em 2060. Na época da exibição do
documentário, seu produtor, Malcolm Neaum, declarou ‘Newton rezava
diariamente pelo fim do mundo, que, para ele, precederia a segunda
vinda de Cristo’”.
Apressando o Armagedom
Essa ansiedade de Newton, e de outros personagens modernos,
foram profetizadas por Isaías (Is 5, 19-22): “Dizem ‘que Deus ande
depressa! Faça logo o que tem a fazer, para que a gente possa ver! E
comecem logo a realizar os planos do Santo de Israel, para a gente ficar
sabendo!’”. Na atualidade quem está trabalhando para antecipar esses
acontecimentos, para dele tirarem o melhor proveito, são o presidente
dos EUA, George Bush, os judeus e certos cristãos americanos, que
querem vivenciar o Armagedon. No caso do Presidente Bush, esse
empenho visa dominar os campos petrolíferos do Oriente Médio e da
Ásia Central; empreitada que parece estar dando certo, considerando
a guerra contra o Iraque e a ameaça de estendê-la ao Irã, o que aca-
bará por mergulhar essas regiões num vórtice de fogo, cujo desfecho
Newton calculou para 2060.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
71
Prenúncio do Armagedom
Esses acontecimentos foram denunciados por Gore Vidal, para
quem Bush “está engajado numa Guerra Santa”, como disse em entre-
vista à jornalista Tina Evaristo, publicada pelo Jornal Estado de Minas,
sob o título Prenúncio do Armagedom (número especial, 6/4/2003, p.
6): “Direto, provocador e polêmico. Essas são algumas características
de Gore Vidal, de 77 anos, um dos maiores escritores norte-americanos
da atualidade e crítico do expansionismo de seu país. Depois das elei-
ções de 2000, não hesitou em declarar que Geoge W. Bush roubou
o assento na Casa Branca e transformou o governo da nação mais
poderosa do mundo numa junta de mercenários belicosos, cujo prin-
cipal objetivo é roubar o petróleo do Oriente Médio a qualquer custo.
A guerra ao terrorismo e a caça a Bin Laden, afirma, não passaram de
pretextos para as invasões do Afeganistão e do Iraque. Dono de uma
fina ironia, Vidal destaca que Bush também está engajado numa Guerra
Santa. Na visão do escritor, o conflito pelo petróleo é também uma
guerra por Jesus. Ele diz que a ‘junta Bush’ – assim batizada por ele –
é integrada por fanáticos religiosos que, além do petróleo, buscam o
Armagedon. Numa mistura de referências políticas e religiosas – quase
sempre presentes em suas obras –, o escritor passa a ideia de que
o presidente dos Estados Unidos quer antecipar a batalha Final dos
Tempos por se considerar, ele próprio, o exército de Jesus. ‘Bush não
está interessado no futuro do planeta porque sua crença lhe dá a cer-
teza de que, se destruir o mundo, ganhará a plenitude celestial’, disse
Vidal, que não descarta a hipótese de que a ‘junta’ tenha intenções de
dominar o mundo, mas antecipa que esses planos serão frustrados por
falta de recursos financeiros, já que o presidente e seus aliados estão
conduzindo o país à falência”.
Preparando-se para o Armagedom
Mas as investidas do Presidente George Bush em direção do
Armagedom não param por aí e já atingem a Rússia, que se prepara
72
João GilBerto pArenti couto
para esse enfrentamento, como comenta o editorialista do Jornal Esta-
do de Minas (6/6/2007, p. 10): “De sua parte, o presidente da Rússia,
Vladimir Putin, que já tem o apoio da China, quer discutir a questão dos
mísseis balísticos que os EUA pretendem instalar na República Tcheca
e na Polônia, como anteparo à possível ameaça do Irã. Putin tem repe-
tido que o governo Bush está desencadeando uma nova guerra fria, que
terminou com a dissolução da União Soviética em 1991. [...] O governo
soviético confirmou que apontará seus mísseis para a Europa e vai dizer
ao presidente Bush que será em resposta à nova posição americana.
Quer dizer: mísseis por mísseis, a Rússia responde com a mesma moe-
da, tendo qualificado a intenção de Washington de Imperialista”.
As Causas do Armagedom
A razão dessa rixa está na disputa pelo domínio de campos pe-
trolíferos, conforme ressaltou o jornalista Dídimo de Paiva (COUTO,
2006, p. 223): “Está em jogo uma tese que o polonês-norte-americano
Zibgniew Brzezinski (assessor para assuntos de Segurança Nacional
do governo Jimmy Carter) traçou em 1997: os EUA devem controlar a
rota do petróleo, especialmente as repúblicas soviéticas da Ásia Central,
chamadas de ‘repúblicas do stão’: Turcomenistão, Tadjiquistão, Uzbe-
quistão e Quirquistão, argumentando que elas são ambicionadas pela
Rússia, Turquia e Irã, sem esquecer a China. Bush encampou a velha
tese revivida por Brzezinski desde a criação do Clube de Roma (1970):
quem tiver o domínio do petróleo e do gás do Mar Cáspio mandará no
mundo. O grupo Bush/Cheney/Rumsfeld/Wolfowitz afirma que, desde
que os continentes começaram a interagir (há 500 anos), a Eurásia tem
sido o centro do poder mundial”.
As Bestas do Apocalipse
Dando prosseguimento a essa estratégia, os Estados Unidos, em
meados de 2007, anunciaram um plano decenal de vendas de armas
sofisticadas para Israel, Arábia Saudita e Egito, totalizando cerca de 60
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
73
bilhões de dólares para, segundo dizem, fazerem frente às ameaças
do Irã. Na verdade, essa manobra visa a atiçar a corrida armamentista
no Oriente Médio, com vistas a elevar as tensões aí existentes a níveis
insuportáveis e tornar inevitável um confronto bélico, o qual ensejaria
a oportunidade para uma intervenção militar maciça dos Estados Uni-
dos na região e na Ásia Central, o objetivo geopolítico principal. Já se
preparando para essa empreitada, o presidente Bush já fala em Terceira
Guerra Mundial, como informa o Jornal Estado de Minas (18/10/2007,
p. 22): “O presidente George W. Bush afirmou em entrevista coletiva,
ontem, que os líderes mundiais precisam impedir o Irã de obter armas
nucleares se quiserem evitar uma terceira guerra mundial. ‘Temos um
líder que anunciou que deseja destruir Israel. Então digo às pessoas
que, se vocês estiverem interessados em evitar uma terceira guerra
mundial, me parece que vocês devem impedir que (os iranianos) te-
nham conhecimento necessário para fabricar a arma nuclear’, afirmou
ele”.
Segundo o Jornal Estado de Minas (21/10/2007, p. 14): “O por-
ta-voz oficial do governo do Irã, Aiatolá Ahmad Khatami, em resposta
a essa declaração do presidente norteamericano, disse que ‘os EUA
preparam o terreno para uma terceira guerra mundial’, acusando os
EUA de terem planos expansionistas”.
A Ordem de Batalha
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, por sua vez, não deixou
por menos, ao responder perguntas de cidadãos russos sobre questões
estratégicas de seu país, e das ameaças de uma Terceira Guerra Mun-
dial, feitas pelo presidente dos Estados Unidos, como noticiou o Jornal
Estado de Minas (19/10/2007, p. 22): “E aproveitou a ocasião para rea-
gir às declarações do presidente George W. Bush, feitas no dia anterior,
em Washington, de que o Irã, se lhe for permitido alcançar a tecnologia
para produção de armas nucleares, poderá desencadear uma terceira
guerra mundial. Durante o programa, Putin disse que, em certos as-
pectos, a Rússia e o Iraque se parecem, porque são países cobiçados
74
João GilBerto pArenti couto
pelas potências ocidentais por causa de suas imensas reservas de hi-
drocarbonetos. Mas as semelhanças ficam por aí. [...] Respondendo a
uma pergunta de um cientista russo sobre a cobiça que existe em torno
das imensas reservas de petróleo e gás da Rússia, Putin disse que ‘este
tipo de ideia circula na cabeça de alguns políticos’ do Ocidente. [...] ‘O
melhor exemplo são os fatos no Iraque, um país que tinha problemas
para se defender e que tinha enormes reservas de petróleo’, afirmou.
‘E o que aconteceu? Vimos Bem. Eles (os americanos) aprenderam a
disparar. Mas por enquanto não conseguiram instaurar a ordem. E há
poucas possibilidades de que consigam, porque combater contra um
povo é um objetivo absolutamente sem futuro. A Rússia, graças a Deus,
não é o Iraque. A Rússia tem meios e força suficientes para se defender
e defender seus interesses’. [...] Em resposta a um soldado que serve
no Cosmódromo de Plesetek, no extremo norte, onde horas antes havia
sido testado um míssil de longo alcance, Putin disse que os planos de
defesa incluem uma nova tecnologia de armamentos nucleares. ‘Vamos
desenvolver uma tecnologia de mísseis que inclua complexos (nucle-
ares) estratégicos completamente novos. O trabalho continua, e com
sucesso. Não só vamos dar atenção a toda a tríade nuclear – forças
estratégicas de foguetes, aviação estratégica e a frota de submarinos
nucleares – como também a outros tipos de armas’”.
Outros Eventos Apocalípticos
Além dessas ameaças à paz mundial, outros eventos apocalíp-
ticos previstos por cientistas e profetas para a primeira metade do
século XXI reforçam as profecias sobre o Armagedom. Nesse contexto,
enquadram-se os alertas sobre a fome mundial que se avizinha; a es-
cassez de água para atender à demanda para a produção de alimentos e
biocombustíveis, a qual deverá ser, em 2050, da ordem de 20 a 30 mi-
lhões de quilômetros cúbicos, quantidade impossível de ser atendida,
segundo os cientistas; a antecipação para 2030 do derretimento total
do gelo ártico, nas épocas de verão, uma das consequências do efeito
estufa, e a disputa que se delineia entre a Rússia e o Canadá pela posse
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
75
de prováveis depósitos gigantes de petróleo e gás natural do Ártico, os
quais, segundo noticiário da imprensa, pode ser um dos motivos para
uma futura guerra mundial. Essa disputa, inclusive, tornar-se-á cada
vez mais belicosa à medida que o degelo do Ártico avançar, facilitando,
consequentemente, a exploração desses e de outros bens minerais su-
postamente lá existentes.
O Armagedom e o Pomo da Discórdia
O que está levando a humanidade à beira do precipício do Ar-
magedom é a ambição desenfreada de Israel de dominar a palestina, o
pomo da discórdia, e seus vizinhos do Oriente Médio e da Ásia Menor,
como informa o noticiário do Folha Online (29/12/2010), sob o título,
Israel dá ultimato e diz que Ocidente tem três anos para conter plano
nuclear do Irã: “Os Estados Unidos e seus aliados têm até três anos
para frear o programa nuclear iraniano, que tem sofrido com problemas
técnicos e com a imposição de sanções, disse o vice-primeiro-ministro,
Moshe Yaalon. Yaalon afirmou que o Irã segue sendo a principal priori-
dade do governo israelense, mas não mencionou possíveis ataques mi-
litares unilaterais por parte de Israel – rumor que ganha cada vez mais
força. O vice-primeiro-ministro disse esperar que as medidas lideradas
pelos Estados Unidos contra o Irã tenham sucesso. ‘Acredito que este
esforço vai crescer, e vai incluir áreas além das sanções, para conven-
cer o regime iraniano de que, efetivamente, ele tem de escolher entre
continuar a buscar capacidades nucleares e sobreviver’, disse Yaalon à
Rádio Israel. ‘Não sei se isso vai acontecer em 2011, ou em 2012, mas
estamos falando sobre os próximos três anos.’ Yaalon, um ex-chefe das
Forças Armadas, disse que os planos de enriquecimento de urânio do
Irã sofreram reveses. Alguns analistas viram sinais de sabotagem ex-
terna em incidentes como a invasão de computadores iranianos por um
vírus. ‘Essas dificuldades adiaram o cronograma, é claro. Deste modo,
não podemos falar de um ponto sem volta. O Irã não tem a capacidade
de fazer uma bomba nuclear por si próprio’, disse. Yaalon já havia sido
duro com o Irã anteriormente, afirmando que era preferível que Israel
76
João GilBerto pArenti couto
atacasse a República Islâmica em vez de permitir que o país consiga a
bomba atômica. Outras autoridades têm mantido silêncio sobre a opção
militar em relação ao Irã, que traria obstáculos táticos e diplomáticos
ao país. O primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, já pedira
no começo de novembro ao Ocidente que convença o Irã sobre o risco
de sofrer uma ação militar caso mantenha seu programa nuclear. Em
discurso a uma conferência judaica nos Estados Unidos, Netanyahu
disse que as sanções econômicas não demoveram Teerã, e que só uma
ameaça crível de ação militar iria convencer os ‘tiranos de Teerã’ a não
desenvolverem armas atômicas. ‘A única vez que o Irã suspendeu seu
programa nuclear foi por um breve período durante 2003, quando o re-
gime acreditava enfrentar uma ameaça crível de ação militar contra si’,
disse ele. ‘O simples paradoxo é: se a comunidade internacional lidera-
da pelos EUA espera conter o programa nuclear do Irã sem recorrer à
ação militar, terá de convencer o Irã de que está preparada para adotar
tal ação’. Israel e Irã são inimigos declarados na região. Acredita-se que
Israel seja o único país do Oriente Médio a ter uma bomba nuclear, já
que o país adota uma política de silêncio – não nega, nem confirma
manter um programa nuclear com fins nucleares. O Irã nega ter a inten-
ção de desenvolver armas atômicas, mas afirma que não abrirá mão de
um programa nuclear que seja voltado para objetivos pacíficos. Israel já
atacou reatores nucleares de países vizinhos antes. Em julho de 1981,
lançou um ataque aéreo contra reator do Iraque. Em setembro de 2007,
um bombardeio israelense destruiu suposto reator nuclear na Síria.
Israel nunca confirmou oficialmente o misterioso bombardeio aéreo à
Síria, que elevou a tensão regional. Doze dias depois do ataque, con-
tudo, o então chefe da oposição e atual primeiro-ministro deixou claro
o envolvimento de seu país no incidente. A Síria, por sua vez, sempre
desmentiu que o local bombardeado era uma planta nuclear e admitia
apenas que era ‘uma instalação militar em construção’. Atualmente,
contudo, especialistas temem que um ataque israelense às instalações
iranianas causaria uma guerra na região”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
77
As festividades do Purim: o “Dia D” fixado por
Israel para desencadear o ataque atômico ao
Irã, antiga Pérsia.
Tais advertências estão embasadas em um plano estratégico dos
judeus para dominarem seus vizinhos, no plano territorial e comercial,
e, consequentemente, fazerem de Israel o centro mercantil e financeiro
do Oriente Médio, Ásia Menor e África, repetindo, assim, a tática usada
na Europa até o advento do nazismo, e nos Estados Unidos da América,
até a primeira década do século XXI, quando seu sistema financeiro
entrou em colapso. No entanto, como adverte o dito popular, “a his-
tória não se repete, senão como farsa”, razão porque este é um plano
fadado ao fracasso, pois as regras do jogo financeiro mundial muda-
ram radicalmente com a ascensão da China como potência econômica
global e o colapso do sistema monetário internacional, devido à quebra
da banca norte-americana e, consequentemente, o fim do dólar como
moeda de reserva dos bancos centrais de todos os continentes. A data
escolhida pelos extremistas judeus para desencadear o ataque atômico
ao Irã, antiga Pérsia, já foi escolhida em função de seu caráter religioso:
as festividades do Purim.
PURIM
(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
O nome “Purim” vem da palavra hebraica “pur”, que significa
“sorteio”. Esse era o método usado por Haman, o primeiro-ministro do
Rei Achashverosh da Pérsia, para escolher a data na qual ele pretendia
massacrar os judeus do país. Os judeus estavam exilados na Babilônia
desde a destruição do Templo de Salomão pelos babilônios e dispersão
do Reino de Judá. A Babilônia, por sua vez, foi conquistada pela Pérsia.
Purim é celebrado anualmente no 14º dia do mês hebraico de Adar,
o dia seguinte à vitória dos judeus sobre seus inimigos (13 de Adar).
Em cidades que eram muradas no tempo de Josué, incluindo Shushan
78
João GilBerto pArenti couto
(Susã) e Jerusalém, Purim é celebrado no 15º dia do mês, conhecido
como Purim Shushan. Assim como todas festas judaicas, Purim tem
início ao pôr-do-sol da véspera no calendário secular.
As Profecias de São Malaquias e o
Fim dos Tempos
Para arrematar tais previsões apocalípticas sobre o Armagedon,
existe ainda a profecia atribuída a São Malaquias sobre os papas, des-
de Celestino II, eleito em 1130, até o “final dos tempos”. São 112 ao
todo e nomeados cada um com um lema enigmático. Segundo algu-
mas interpretações, o fim dos tempos seria marcado pelos três últimos
papas, como registra René Bartillac, em seu livro As Profecias – São
Malaquias, Nostradamus e o fim do mundo (BARTILLAC, 2005). A con-
tagem final começa com o Papa João Paulo II, o numero 110 da lista
(De Labore Solis), que “seria o último papa prévio ao fim dos tempos”,
de acordo com mensagens da Virgem. Segue o atual, Bento XVI, o
número 111 (De Gloria Olivae) e, finalmente, o último, o 112, cujo lema
é Petros Romanus.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
79
PARTE VII
A PRIMEIRA BATALHA DO ARMAGEDOM E A
DESTRUIÇÃO DO TEMPLO DE JERUSALÉM
Tempos de Violência
Os novos tempos profetizados por Dom Bosco para Brasil, tra-
zem consigo, além de promessas alvissareiras, alertas para a violência
que a humanidade sofrerá na primeira metade do Século XXI, em fun-
ção da crise que se instalou no Oriente Médio, vale dizer, no mundo
mulçumano, desde a volta dos judeus à Palestina, e para a qual o País
precisa estar preparado para se defender. Esse estado de coisas, que
ameaça todos os países sul-americanos e a paz mundial, resulta de um
ato falho – a criação, pela Organização das Nações Unidas (ONU), do
Estado de Israel à custa do povo palestino.
A Raiz da Violência no Oriente Médio
A raiz da violência que se instalou nessa região reside fundamen-
talmente no comportamento dos judeus, que, por não se conformarem
com a destruição do terceiro templo de Jerusalém no ano 70 d.C., e
sua expulsão desse território pelos romanos, procuram, de todas as
maneiras possíveis, manter-se fiéis à filosofia que os norteou até essa
data – a de povo eleito por Deus para dominarem todas as nações –, in-
clusive sonhando com a reconstrução desse templo. Esse atavismo traz
consigo, como norma de conduta, a lei de talião – “Olho por olho, dente
por dente” –, ignorando que essa lei foi revogada pelos cristãos, que,
80
João GilBerto pArenti couto
além disso, souberam valorizar o conceito de cidadania praticado pelos
romanos, incorporando-o à sua própria filosofia humanista, a qual, a
partir daí, tornou-se a base moral da civilização cristã ocidental.
Os Benefícios para a Humanidade da destruição
do Templo de Jerusalém
Os benefícios para a humanidade da destruição do terceiro templo
de Jerusalém transcendem, portanto, a remoção física desse edifício,
pois eliminou, também, uma mensagem filosófica racista, discriminatória
e prenhe de violência que agora estão tentando reinstalar na Palestina,
à custa de mortes, destruição e violências de toda ordem, contra os ha-
bitantes dessa terra que durante séculos a povoaram. Esse retrocesso é
um atentado aos direitos dos cidadãos e vai de encontro aos princípios
básicos da Carta das Nações Unidas, os quais, desde meados do século
XX, passaram a regular as relações entre povos civilizados para evitar
novas guerras e salvar o mundo da destruição; com exceção de Israel,
que, com seu atavismo dinossáurico, arrogância messiânica, arsenal atô-
mico próprio e apoio interesseiro dos norte-americanos, investe pesado
no Armagedom para apressar a vinda do seu Messias, que lhes dará,
acreditam, o domínio do mundo, ignorando que as promessas divinas
dizem respeito ao plano espiritual e não material.
A Destruição do Templo de Jerusalém por Tito
Para se ter uma ideia do que está em jogo na Palestina, com
reflexos no Oriente Médio e países da Ásia Menor, os chamados “istão”
(Afeganistão, Paquistão, etc.), e o que está por vir em escala global, é
preciso um retorno ao ano 70 do século I, quando os romanos, coman-
dados por Tito (Titus Flavius Sabinus Vespasianus – Roma 39/Aquae
Cutiliae, Sabina/81 d.C.), destruíram o terceiro templo, arrasaram Jeru-
salém até os alicerces, eliminando toda a sua população, inclusive os
sacerdotes que foram executados, acabando, consequentemente, com
os sacrifícios e rituais que tinham lugar na colina de Sião, razão de
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
81
ser da religião que professavam. Esta tragédia coletiva, a expulsão da
terra prometida do chamado povo eleito, o fim de uma religião milenar
e dos símbolos que a sustentavam, foi minuciosamente descrita por
Flávio Josefo, testemunha ocular da história, em sua obra Guerra dos
Judeus.
Flávio Josefo
Flávio Josefo (em latim, Flavius Josephus, ou Iossef bem Matitah
ha-Cohen, em hebraico), historiador de origem judaica (Jerusalém 37/
Roma 100 d.C), descendente de antiga família de sacerdotes, lutou
contra os romanos na fase inicial da guerra, sendo por estes derrota-
do, a quem se entregou, e salvo graças a uma profecia que proferiu
na presença de Vespasiano, general das legiões, segundo a qual este
se tornaria imperador de Roma. Protegido por Vespasiano, que viu
cumprida suas profecias, e por seus filhos Tito e Domiciano, mais tarde
também imperadores, recebeu a cidadania romana, o nome da família
do imperador, Flavius, e bens que lhe permitiram dedicar o resto da
vida à atividade de historiador. Teve papel ativo no cerco de Jerusalém
por Tito, como assessor desse general romano e profetizando em favor
de seu povo, por inspiração divina, a quem advertia das desgraças por
vir, clamando para que buscassem a paz com os romanos.
A Destruição de Jerusalém pelos Romanos no
Ano 70 d.C.
Tito, por sua vez, não se cansava de apelar para as facções ju-
daicas, que se digladiavam dentro das muralhas, numa luta sangrenta
pelo domínio do poder, matando seu próprio povo pela fome e pela
espada, e destruindo tudo que construíram durante séculos, inclusive o
próprio templo, que não respeitaram. Para evitar a destruição da cidade
e do templo, que queria preservar, pois aos romanos interessava mais
dominar sobre uma cidade viva do que sobre um território deserto,
Tito, mais de uma vez, retardou o avanço de suas legiões à cidadela
82
João GilBerto pArenti couto
e ao templo na esperança de que os insurretos se entregassem. Tudo
em vão. Pesaroso, como narra Josefo, Tito ordenou o assalto final e os
legionários romanos agiram como mandavam as leis da guerra: incen-
diar e saquear a cidade, matar todos os seres vivos e arrasar tudo que
encontrassem pela frente. Esse ataque fatídico foi feito sem hesitação
pelas disciplinadas legiões sob seu comando, no que contaram com a
ajuda dos próprios judeus, que, desnorteados, acabaram pondo fogo
no templo para se defenderem. Como em Cartago, os romanos, após a
luta, aplicaram o que aprenderam ao longo do tempo: arrasar o terreno
até os alicerces e escravizar os sobreviventes, não dando chance para
novas rebeliões na terra conquistada. O resultado dessa primeira bata-
lha do Armagedom foi que os judeus não pisaram nesse local por quase
dois mil anos. Essa vitória arrasadora é lembrada no Arco do Triunfo de
Tito, ainda existente em Roma, onde se pode ver o candelabro de sete
braços (menorah), uma das peças mais importantes do Tabernáculo e
do Templo, sendo carregado no desfile triunfal.
As Profecias sobre a Destruição do Terceiro
Templo de Jerusalém
Os fatos narrados por Flávio Josefo, em seu livro Guerra dos
Judeus, não deixam dúvidas de que todo o processo de destruição do
terceiro templo, da cidade de Jerusalém e da eliminação ou expulsão
do povo judaico da terra prometida não se deveu apenas a uma das
muitas guerras de conquistas que os romanos levaram a cabo com
sucesso durante os mais de mil anos de duração de seu império. Foi o
cumprimento de profecias conhecidas de Josefo, e descritas nessa sua
obra, como o incêndio que destruiu o Templo (“Fazia tempo que Deus o
havia condenado ao fogo, e havia chegado, na sucessão dos séculos, o
dia fixado pelo Destino, dia dez do mês de Loos, data também em que
outro templo havia sido queimado pela obra do rei babilônico”) e outras
proferidas pelo próprio Messias, narradas nos Evangelhos (Mt 24, 1-2):
Jesus saiu do templo e foi caminhando. Os discípulos se aproximaram
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
83
para lhe mostrar as construções do templo. Ele, então, declarou: “Não
estais vendo tudo isto? Em verdade vos digo: não ficará pedra sobre
pedra. Tudo será destruído”. Em que pesem essas profecias, os judeus
que sobreviveram a essa catástrofe e os outros que viviam espalhados
pelo Império Romano se apegaram aos seus livros sagrados como se
nada houvesse acontecido. Traumatizados pelo que se passou, queda-
ram-se deslocados no tempo e no espaço, alimentando a ilusão de que
um dia voltariam à terra prometida, revivendo os tempos bíblicos.
O Testemunho de Flávio Josefo
É bom frisar que o testemunho de Flávio Josefo sobre os acon-
tecimentos que redundaram na queda de Jerusalém e na destruição do
Templo não foi casual, mas obra da Divina Providência, pois se tratava
de um homem de fé. Foi criado na melhor tradição judaica, dominando
os textos tradicionais da Tora e versado nos ensinamentos dos sadu-
ceus, fariseus e essênios. Viveu, na qualidade de discípulo, três anos
no deserto, alimentando-se de frutas e lavando-se com água fria, várias
vezes, ao dia e à noite para purificar o espírito. Não era um judeu co-
mum, mas um praticante de sua religião, um visionário que anteviu não
só o destino de Vespasiano, mas sua própria captura pelos romanos.
Trata-se, portanto, de um testamento digno de fé que os judeus não
podem contestar, o que poderia ser feito se outro fosse o historiador
desses acontecimentos. Diante de tudo isso, é pouco provável que um
quarto templo seja construído no lugar do terceiro, e um ressurgir do
Judaísmo venha a se repetir na história da humanidade, pois, como se
diz, “a história não se repete, senão como farsa”.
O Amargo Regresso
Reza o dito popular que “quem foi ao vento perde o assento”.
No caso dos judeus, quando voltaram, quase dois mil anos depois,
encontraram os primitivos donos da “terra prometida”, os palestinos,
de posse de seu patrimônio ancestral, que agora querem expulsar. É aí
84
João GilBerto pArenti couto
que mora o perigo, pois sobre os alicerces do templo arrasado pelos
romanos, outra religião, a mulçumana, construiu seu próprio templo;
além disso, é bem provável que essa mesquita tenha sido colocada
sobre as ruínas do terceiro templo como uma pedra para encerrar o
assunto, uma pedra de tropeço para os mais afoitos. Portanto, é so-
mente pela força que serão removidos, no que os judeus da atualidade
se empenham; preliminarmente com astúcia, ao proibir os jovens de
frequentarem esse templo, para assim fazê-los esquecer as tradições
de seus pais, mas, num segundo momento, aproveitando uma rebelião
ou guerra, para destruí-lo de vez.
Esse processo de repressão aos palestinos é incentivado pelos
líderes religiosos judaicos que, descaradamente, pregam seu aniqui-
lamento total, como informa a Folha Online (29/8/2010 – da Reuters,
em Jerusalém): “Um influente rabino israelense disse que Deus deveria
enviar uma praga contra os palestinos e seu líder, pedindo sua morte
num violento sermão antes do início das negociações de paz no Oriente
Médio na próxima quinta-feira (2), em Washington. ‘Abu Mazen [Mah-
moud Abbas, líder palestino] e todas essas pessoas malignas deveriam
desaparecer da terra’, disse o rabino Ovadia Yosef, líder espiritual do
partido religioso Shas – que forma parte do governo israelense –, num
sermão na noite de sábado, chamando o presidente palestino pelo seu
nome popular. ‘Deus deveria atacá-los e a esses palestinos – malva-
dos que odeiam Israel – com a praga’, declarou o rabino de 89 anos
em seu sermão semanal frente aos fiéis, que teve partes transmitidas
pelo rádio israelense no domingo. O clérigo israelense fez comentários
semelhantes antes. O mais conhecido foi em 2001, quando pediu a ani-
quilação dos árabes e disse que era proibido ter piedade deles. Depois
ele afirmou que estava se referindo apenas a ‘terroristas’ que atacam os
israelenses. Seus comentários mais recentes não tiveram comentários
imediatos de líderes palestinos nem israelenses. O primeiro-ministro
israelense Binyamin Netanyahu e Abbas devem retomar negociações
diretas de paz na quinta-feira em Washington, na primeira reunião do
tipo em 20 meses, num processo de paz que inclui compromissos de
ambas as partes para evitar provocações”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
85
A Reconstrução do Templo de Jerusalém
Todo o processo em andamento na Palestina, posto em prática
pelos judeus desde o seu retorno à Palestina na década de 40 do século
passado, visa, em última análise, à reconstrução do templo e restaura-
ção do Império de Salomão. Para isso, acreditam, é preciso desencade-
ar o Armagedom, que antecederá a vinda de seu Messias que lhes dará
o domínio de todas as nações da terra. É um projeto messiânico, esse.
Só que o Messias já veio e ficaram a ver navios por falta de discerni-
mento, como rezam as Escrituras; além disso, é bom ter em mente que
as promessas divinas dizem respeito ao plano espiritual e não material.
A terra prometida, bem como o domínio das nações, são elementos
simbólicos de uma promessa já cumprida, não pelos judeus, mas pelos
cristãos, que receberam prazerosamente o Messias prometido. Deve-se
recordar, ainda, de que o reino universal prometido pelo Messias se
tornou realidade para a humanidade desde o momento em que os ro-
manos se tornaram herdeiros dessa promessa, e a civilização ocidental
por extensão, como profetizou o próprio Cristo, e dela tomaram posse
no ano 70, ao transformarem a Judeia em província imperial, confiada
ao legado da décima legião aquartelada em Jerusalém.
A Parábola dos Vinhateiros Homicidas
Essa profecia está explicitada na parábola dos vinhateiros homi-
cidas, como consta da Bíblia Sagrada (Mateus 21, 33-46): Escutai outra
parábola. Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com
uma sebe, abriu nela um lagar e construiu uma torre. Depois disso,
arrendou-a a vinhateiros e partiu para o estrangeiro. Chegada a época
da colheita, enviou os seus servos aos vinhateiros, para receberem os
seus frutos. Os vinhateiros, porém, agarraram os servos, espancaram
um, mataram outro e apedrejaram o terceiro. Enviou de novo outros
servos, em maior número do que os primeiros, mas eles os trataram
da mesma forma. Por fim, enviou-lhes o seu filho, imaginando: “Irão
poupar o meu filho”. Os vinhateiros, porém, vendo o filho, confabula-
86
João GilBerto pArenti couto
ram: “Este é o herdeiro: vamos! Matemo-lo e apoderemo-nos da sua
herança.” Agarrando-o, lançaram-no para fora da vinha e o mataram.
Pois bem, quando vier o dono da vinha, que irá fazer com esses vi-
nhateiros?” Responderam-lhe: “Certamente destruirá de maneira hor-
rível esses infames e arrendará a vinha a outros vinhateiros, que lhe
entreguem os frutos no tempo devido. Disse-lhes então Jesus: “Nunca
lestes nas Escrituras: A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se
a pedra angular; pelo Senhor foi feito isso e é maravilha aos nossos
olhos? Por isso vos afirmo que o Reino de Deus vos será tirado e con-
fiado a um povo que produza frutos.” Os Chefes dos sacerdotes e os
fariseus, ouvindo as suas parábolas, perceberam que se referia a eles.
Procuravam prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões, pois que
elas o consideravam um profeta.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
87
PARTE VIII
A BOMBA ATÔMICA ISRAELENSE E AS
ADVERTÊNCIAS DO PROFETA ISAÍAS
As Sementes da Destruição
Analisando as lições da história, a conclusão a que se chega é
que os judeus estão plantando as sementes de sua própria destruição,
pois se a diáspora escapou dos romanos, por astúcia ou sorte, agora
o mundo todo está de olho nos seus propósitos, já que o Cristianismo
vem repassando essa história de geração em geração nos últimos vinte
séculos. E, neste mundo de Deus, tem de tudo, principalmente opor-
tunistas à espera de despojos dos derrotados. Cristo veio ao mundo
para pregar a paz e o mataram. Mas, ainda há tempo para refletirem a
respeito e evitarem o apocalipse. Para uma nação pequena, de território
diminuto, densamente povoado, como Israel, a posse de armas nu-
cleares não significa segurança, mas vulnerabilidade, pois em caso de
guerra nuclear, toda sua população e instalações vitais estarão expostas
a ataques semelhantes por parte de outros países possuidores de tais
armas. Um fato que pôs em evidência essa fraqueza foi o recente anún-
cio feito pelo Irã, de que havia testado com êxito um foguete capaz de
atingir o território de Israel. Bastou essa notícia para que a população
judaica entrasse em pânico e os mais prevenidos já falavam em deixar
esse território, como mostrou pesquisa de opinião pública, temendo o
dia em que os iranianos também venham a possuir a tão temida bomba
atômica.
88
João GilBerto pArenti couto
As advertências do Profeta Isaías
Para se ter ideia da inutilidade de se tentar chamar os israelen-
ses à realidade, basta consultar o Capítulo 6 do Profeta Isaias (6,9-
13): Ele disse: “Vai dizer a esse povo: ‘Ouvi, bem, mas sem entender,
vede bem, mas sem perceber’. Torna pesado o raciocínio desse povo,
ensurdece-lhe os ouvidos, cega-lhes os olhos, que não tenha olhos
para ver, ouvidos para ouvir, coração para entender, converter-se e
ser curado”. Perguntei: “Até quando, Senhor?” – Respondeu-me: “Até
ficarem desertas as cidades, sem habitante algum, as casas vazias, sem
moradores, e os terrenos abandonados, desocupados”. O Senhor terá
levado para longe o cidadão, só o abandono crescerá na terra. Mas se
sobrar apenas uma décima parte, se, mais uma vez, for cortado como
carvalho, que, depois de derrubado, só deixa o toco, esse toco ainda
será uma semente sagrada. (Bíblia Sagrada. CNBB. 2001).
Essas advertências proféticas estão se materializando, como in-
forma o Folha Online (06/09/2010): “O ministro de Relações Exteriores
israelense, Avigdor Lieberman, afirmou que a paz no Oriente Médio
é um ‘objetivo inalcançável nesta geração’ e por isso não vê sentido
no renovado esforço com as conversas diretas por um acordo de paz
com os palestinos. O prazo para um acordo desta nova empreitada é
um ano, apesar de analistas serem pessimistas. ‘Assinar um acordo de
paz global é um objetivo inalcançável neste ano e nesta geração’, sus-
tentou Lieberman, presidente do partido ultradireitista Yisrael Beiteinu,
a segunda maior formação na coalizão de governo, atrás apenas do
Likud, partido do premiê Binyamin Netanyahu. O chanceler foi afas-
tado do reinício, no dia 2 setembro em Washington, das negociações
diretas israelense-palestinas. Lieberman advertiu ainda que impedi-
rá qualquer prorrogação do congelamento parcial da colonização na
Cisjordânia ocupada, que termina em 26 de setembro. ‘Não há nenhum
motivo para prolongar o bloqueio. O Israel Beitenu tem influência e
poder suficientes no governo e no Parlamento para conseguir impedir
a aprovação de qualquer proposta de ampliação do congelamento’. A
moratória foi adotada sob a pressão do presidente americano, Barak
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
89
Obama. A Autoridade Nacional Palestina anunciou que abandonará as
negociações no caso de um reinício da colonização. Em seu discur-
so, Lieberman disse com ironia que não conhece ‘nenhum mago que
possa fechar a brecha entre nossas posições e as dos palestinos em
um ano”, algo que não poderá mudar nenhum ‘compromisso histórico
ou concessão dolorosa’. ‘Estamos dispostos a falar de tudo, mas não
haverá mais gestos unilaterais. Não aceitaremos nenhuma moratória
(da ampliação) dos assentamentos, nem de seis meses, nem de três,
nem de um minuto’, assinalou. Para Lieberman, a única solução viável
é um acordo temporário de longa duração, ao contrário do objetivo do
diálogo de paz iniciado na quinta-feira em Washington: um acordo glo-
bal e definitivo de paz que represente a criação de um Estado palestino
nos territórios ocupados por Israel. O chefe da diplomacia israelense
defendeu que não seja feita nenhuma nova concessão unilateral aos
palestinos. ‘Temos de nos perguntar por que, apesar das concessões
no passado e de toda a boa vontade exibida por (Shimon) Peres, (Ehud)
Barak, (Ariel) Sharon, (Ehud) Olmert, (Tzipi) Livni e Bibi (Binyamin Ne-
tanyahu) nenhum acordo foi alcançado’, refletiu. ‘Todos tentaram o me-
lhor possível, mas nada passou. Vimos muitas produções grandiosas,
uma próspera indústria da paz internacional, mas nenhum resultado:
somente coquetéis e reuniões. Não nos opomos a um acordo de paz,
só às aventuras e utopias’, acrescentou. As declarações de Lieberman
geraram uma onda de respostas tanto entre os palestinos quanto em
seu próprio país. O ministro de Minorias, o trabalhista Avishay Braver-
man, falou de sabotagem à política de Netanyahu e pediu que entregue
a pasta de Exteriores a alguém que apoie o processo. O porta-voz da
Autoridade Nacional Palestina (ANP), Ghassan Khatib, assegurou que a
presença de Lieberman no Executivo de Netanyahu ‘é uma das coisas
que impede qualquer progresso em direção à paz’. ‘A paz significa o fim
da ocupação, enquanto Lieberman é um fã da ocupação e dos assenta-
mentos’, acrescentou. Um dos assessores de Abbas pediu a Netanyahu
que critique publicamente essas palavras e deixe claro o caráter opina-
tivo individual, que não representa a política oficial”.
90
João GilBerto pArenti couto
A situação atual na Terra Santa
As advertências do Profeta Isaías, portanto, explicam, perfeita-
mente, o que se passa hoje em dia na terra santa, e é também um
aviso dos acontecimentos apocalípticos que estão por vir, os quais
estão sendo preparados em ritmo acelerado, dada a pressão do presi-
dente norte-americano Barack Obama para que os judeus se entendam
com os árabes, na questão da partilha da palestina, assunto que não
admitem discutir seriamente, pois o seu objetivo maior é restaurar, em
toda sua plenitude, o reino de Israel dos tempos bíblicos. Para isso
confiam em seu arsenal nuclear, que lhes tem dado a ilusão de serem
poderosos o suficiente para desafiar seus vizinhos e toda a comunidade
internacional. Essa arrogância se faz sentir em todas as atividades nas
quais se envolvem, inclusive no trato com os palestinos, com os quais
se comprazem de irem à forra das humilhações sofridas na Europa
desde que foram derrotados pelos romanos no ano 70 dC, e quase
exterminados pelos nazistas no século XX, que radicalizaram o pro-
cesso de rejeição. Para satisfazer seu ego ofendido e descarregarem
todos os seus complexos de inferioridade, milenares, criaram até um
gueto, como o de Varsóvia, na faixa de Gaza, onde mantêm confinados
milhões de palestinos maltrapilhos. Neste contexto, as ações do Presi-
dente Barack Obama em favor da paz na Palestina, ao contrário do que
deseja, podem trazer consequências negativas para a humanidade, ante
a resistência dos judeus de abrirem mão de seus objetivos estratégicos,
que, em última análise, visam a apressar o Armagedom para acelerar a
vinda do seu messias que lhes dará o poder universal.
Gestos Extremos e a reeleição do
Presidente Barack Obama em 2012
A prova de que são capazes de gestos extremos para atingirem
tais objetivos está no trágico fim de Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de
Israel assassinado em 1995 por um fanático judeu, que não concordava
com suas gestões em favor de paz com os palestinos. A propósito, é
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
91
bom lembrar que dezembro de 2012 é o último mês do primeiro man-
dato do Presidente Barack Obama, coincidentemente a data prevista,
segundo certas profecias, para desencadear o Armagedom. Portanto,
todo cuidado é pouco, recomendando a esse presidente cautela, tanto
no caso de ser reeleito, como, também, na possibilidade ser impedido
de se reeleger pela ação combinada da direita norte-americana e sua
aliada, a direita judaica, e os fanáticos religiosos de ambos os lados que
lhes dão sustentação.
A propósito dessa simbiose, é bom frisar que a comunidade ju-
daica tem um pé no território norte-americano e outro em Israel, agindo
sempre em sintonia para manter o mundo em suspense a espera dessa
catástrofe anunciada. Para isso não medem as consequências de seus
atos, que vão desde o sequestro e assassinato de seus desafetos onde
quer que estejam, violando acordos e tratados internacionais, até fre-
quentes ameaças de atacar preventivamente o Irã, como fizeram com
o Iraque e a Síria, isso sem contar com a manipulação de notícias por
parte da mídia norte-americana, controlada que é pela comunidade ju-
daica.
Trata-se, portanto, de um bando de celerados, descolados da ci-
vilização cristã ocidental, à qual nunca se integraram, os quais, para se
vingarem dos traumas do passado em solo europeu, desde os tempos
dos romanos, copiam as práticas mais abjetas dos nazistas alemães do
Terceiro Reich, seus algozes implacáveis, numa clara evidência de que
padacem da Sindrome de Estocolmo. Esse desvio de comportamento
os leva a ressussitar as práticas mais primitivas de relacionamento com
os habitantes e vizinhos da chamada “terra santa”, registradas em seus
livros sagrados; práticas estas totalmente em desacordo com o atual
estágio da civilização ocidental, alicerçada no conceito de cidadania dos
romanos, na filosofia humanista do cristianismo e na Declaração Uni-
versal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU),
cujas resoluções procuram sempre ignorar.
Segundo a Enciclopedia Livre Wikipédia, “As ideias e valores
dos direitos humanos são traçadas através da história antiga e crenças
92
João GilBerto pArenti couto
religiosas e culturais ao redor do mundo. O primeiro registro de uma
declaração dos direitos humanos foi o Cilindro de Ciro, escrito por
Ciro, o grande, rei da Pérsia (atual Irã) por volta de 539 a.C.. Filósofos
europeus da época do iluminismo desenvolveram teorias da lei natural
que influenciaram a adoção de documentos como a Declaração de Di-
reitos de 1689 da Inglaterra, a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão de 1789 da França e a Carta de Direitos de 1791 dos Estados
Unidos”.
Os Planos de Israel para atacar o Irã
Os planos de Israel para atacar o Irã estão prontos, como a im-
prensa internacional tem noticiado, e são usados, também, como um
instrumento de chantagem para continuarem dando as cartas no jogo
de guerra praticado pelas potências no Oriente Médio. Como as pres-
sões da comunidade internacional em favor da paz e por um Oriente
Médio livre de armas nucleares estão aumentando, e a ação dos países
árabes para discutir este assunto tornado-se cada vez mais efetiva, pois
já conseguiram a convocação de uma conferência mundial com esse
objetivo, marcada para 2012, torna-se claro que este ano fatídico talvez
seja o escolhido por Israel para atacar o Irã e continuar sendo o coringa
desse jogo viciado.
Os Planos dos Norte-Americanos para
atacar o Irã
Mas esse ataque pode ocorrer antes, se prevalecerem os planos
de seus mentores, os norte-americanos, que foram pegos de surpresa
com o vazamento de petróleo em um poço da BP no Golfo do México,
fazendo com que mudassem seus planos estratégicos para garantir um
suprimento confiável desse recurso energético. Esse assunto foi tratado
em carta dirigida ao Presidente Lula, a seguir transcrita:
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
93
Belo Horizonte, 3 de agosto de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim e jornais Estado de Minas e
Folha de S. Paulo.
Assunto: O vazamento de petróleo no Golfo do México e o ataque norte-
americano ao Irã.
Prezado Senhor Presidente,
O acidente ocorrido em uma das plataformas da BP no Golfo do Méxi-
co, que explodiu e afundou em 20 de abril, provocando um vazamento
de petróleo que afetou profundamente a costa sul dos Estados Unidos
da América, já apresenta efeitos colaterais que vão muito além dos
danos causados ao meio ambiente. Num primeiro momento, o Gover-
no norte-americano suspendeu todas as licenças para a exploração de
petróleo em águas profundas ao longo de todo seu litoral marítimo,
de leste a oeste e de norte a sul, inclusive as reservas do Alaska, que
também foram incluídas na atual moratória. Dadas às dimensões dessa
tragédia ambiental e do impacto de seus efeitos junto da opinião pú-
blica norte-americana, é pouco provável que essas autorizações sejam
restabelecidas num prazo relativamente curto. O mais provável é que
sejam jogadas para as colendas gregas; o que deve acontecer, também,
com a exploração das reservas do Ártico.
Diante disso, a estratégia do atual Presidente norte-americano de in-
crementar a produção doméstica para se ver livre da dependência do
petróleo do Oriente Médio fica seriamente comprometida. Como con-
sequência, esta fonte generosa, mais as reservas da Ásia Menor, loca-
lizadas em torno do Mar Cáspio, e as da Venezuela voltam a ocupar a
mente dos estrategistas do Pentágono, que agora aceleram os planos
do governo anterior para atacar o Irã; a pedra de tropeço que os impede
de terem livre acesso às gigantescas reservas de petróleo dos países
94
João GilBerto pArenti couto
ditos do “istão” (Cazaquistão, etc.). Este ataque, pelo andar da carrua-
gem, parece que não vai demorar muito, como informa o noticiário da
Folha Online (1/8/2010): “Um alto comando do Pentágono disse hoje
que os Estados Unidos contam com um plano de ataque contra o Irã
caso haja necessidade de usá-lo para evitar que o país asiático construa
uma arma nuclear. Apesar disso, a fonte diz que o país gostaria de não
precisar recorrer a esse recurso. O chefe do Estado-Maior Conjunto das
Forças Armadas dos EUA, o almirante Mike Mullen, confirmou hoje em
entrevista no programa dominical ‘Meet the Press’, da rede de televi-
são ‘NBC’, que o Governo dispõe de um plano que foi preparado nos
últimos meses. O Governo americano deixou claro que prioriza a estra-
tégia diplomática e de sanções com o Irã, mas nunca deixou de fora a
opção militar, segundo advertiu Mullen. ‘As opções militares estiveram
sobre a mesa e seguem firmes’, assinalou o funcionário na entrevista.
Afirmou, no entanto, que ‘espera que não tenhamos de chegar a esse
ponto, mas é uma opção importante e é uma questão que é bem en-
tendida’ por Teerã. Questionado se o Exército dispõe de um plano de
ataque contra o Irã, o chefe do Estado-Maior Conjunto respondeu, ‘sim,
temos’. Mullen disse que a decisão de um eventual ataque militar teria
de ser tomada pelo presidente Barack Obama”.
Mas os movimentos dos estrategistas norte-americanos vão mais longe,
pois visam também garantir um suprimento de petróleo mais próximo
de seu território, e de fácil acesso, como as reservas inesgotáveis da
Venezuela. Os primeiros passos neste sentido já se fazem notar, como
a presença de tropas norte-americanas em território colombiano, e o
acirramento das demandas deste país com a Venezuela. Esses prepara-
tivos foram denunciados pelo Presidente Hugo Chaves, como noticiou
o Folha Online em 14/7/2010, sob o título Chávez alerta para “guerra
atômica iminente” dos EUA contra o Irã: O presidente venezuelano,
Hugo Chávez, pediu nesta quarta-feira aos seus simpatizantes para que
fiquem ‘alertas’ diante um eventual ataque nuclear contra o Irã, após a
análise feita nesse sentido pelo ex-líder cubano Fidel Castro. ‘É neces-
sário que estejamos alertas’, disse Chávez após citar que Fidel falou da
possibilidade de ‘uma iminente guerra atômica por causa da irrespon-
sabilidade dos Estados Unidos’. O aviso do governante venezuelano foi
feito durante um comício em Caracas para as eleições parlamentares de
26 de setembro. ‘Não vamos ficar atentos apenas às eleições e deixar
que um acontecimento de grandes proporções nos surpreenda’, pediu
Chávez. Segundo o presidente venezuelano, os indícios de que há uma
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
95
mobilização não estão apenas no Oriente Médio, mas também são vi-
síveis na América Latina e outras partes do mundo. ‘Tenho informação
de amigos panamenhos, costarriquenhos e de outras partes da América
Central de que a ofensiva imperial sobre a América Latina vai conti-
nuar’, disse. ‘Na Costa Rica anunciaram a assinatura de um convênio
para receber milhares de marines (fuzileiros navais americanos) e 46
navios de guerra, porta-aviões, submarinos, armas sofisticadas, até 31
de dezembro, com a desculpa de sempre: o narcotráfico’, acrescentou
Chávez. Com isso, houve ‘aumento dos voos de aviões de guerra desde
Aruba e Curaçao, onde o império ianque tem bases militares’, disse
o presidente da Venezuela. ‘Ontem enviamos uma nota de protesto à
Holanda pela violação de nosso espaço aéreo, temos as provas, porque
agora temos capacidade de detecção e de resposta para garantir nossa
soberania’, afirmou Chávez”.
Nesse jogo de xadrez global praticado pelos norte-americanos, o Brasil,
a exemplo do que fazem as demais potências globais, deve movimentar
suas peças para não levar um xeque-mate. O primeiro movimento nesse
sentido é se afastar dos conflitos do Oriente Médio e da Ásia Menor e
concentrar seus esforços e atenções na América do Sul, a começar por
impedir que os colombianos e venezuelanos caiam na armadilha pre-
parada pelos estrategistas do Pentágono. Uma peça fundamental nessa
jogada de contenção será incentivar a Venezuela e a Colômbia a parti-
ciparem da construção do primeiro trecho da Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco, ligando Cartagena, na Colômbia, a cidade de Manaus, no
Brasil, passando por Caracas na Venezuela. Os atrativos econômicos
daí resultantes serão de tal ordem que levarão esses países a desistirem
de querelas artificiais e se concentraram no desenvolvimento regional e
na integração com os demais países sul-americanos.
Além disso, o Brasil deve fazer sentir aos Estados Unidos da América e
à União Europeia, que suas reservas de petróleo, principalmente as do
pré-sal, são suficientes para garantir a esses países um abastecimento
confiável, em caso de fechamento do Estreito de Ormuz, do Canal de
Suez e de outros pontos estratégicos que serão afetados num conflito
com o Irã, como o Bósforo e Gibraltar. Mas, para isso, é necessário
que se abstenham de interferir nos assuntos internos dos países sul-
americanos, principalmente na Venezuela, a mais visada. Outros assun-
tos pendentes de soluções, que devem ser logo resolvidos para não
comprometer a segurança nacional, é a compra de aviões de caça para
as Forças Armadas, que inclui transferência de tecnologia, e a constru-
96
João GilBerto pArenti couto
ção das centrais atômicas para produção de energia elétrica, pois, em
caso de estourar o conflito com o Irã, as regras do jogo global mudam
e podem afetar entendimentos promissores, e esses projetos acabarão
dando em nada.
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
O Papel da Turquia
Acresce a esses indicativos, o fato de que a Turquia também
move seus interesses estratégicos para países chaves da região, como
o Líbano, Síria e Jordânia, com os quais pretende firmar um tratado
de livre comércio, e com o Irã, seu vizinho problemático que precisa
de seu apoio para furar o bloqueio das grandes potências. Esta união,
se avançar, colocará em xeque o domínio destas potências na região,
mudando o eixo do poder de Israel para esse bloco emergente.
A Bomba Atômica Iraniana
Além disso, é tido como certo que o Irã terá sua bomba atômica
dentro de dois anos, no máximo, ou seja, para o ano 2012. Ou, an-
tes deste prazo, segundo informa o Jornal Estado de Minas (13/7/2010,
p.10), em pequena nota intitulada, Irã está perto de obter armas nuclea-
res: “Dmitri Medvedev, presidente da Rússia, em uma declaração firme
e surpreendente a respeito do programa nuclear iraniano, dizendo que a
República islâmica se aproxima da posse de um potencial nuclear que,
em principio, pode ser usado para a produção de armamento atômico”.
As Eleições presidenciais Norte-Americana de
2012
Todos esses fatos convergem para o ano apocalíptico de 2012,
que será dominado pela campanha presidencial norte-americana, oca-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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sião de incertezas políticas que os insensatos que governam Israel, em
pânico, serão tentados a aproveitar como uma janela de oportunidades,
para desfechar o ataque ao Irã, ou se meterem em outras aventuras te-
merárias. Com isso tentarão mudar não só o curso dos acontecimentos
em seu favor, mas, também, provocar a hecatombe que tanto esperam:
o Armagedom – as trombetas de Jericó que anunciarão a vinda do seu
messias e a destruição de todos os seus inimigos.
As provocações premeditadas
As inúmeras provocações aos russos, como o escudo antimíssil
a ser instalado na europa central, e a insistência de demonizar o Irã,
também fazem parte desse processo de sabotagem da paz. Dois exem-
plos recentes ilustram esse trabalho de sapa. O primeiro foi a rejeição
do acordo nuclear firmado pelo Presidente Lula, o primeiro-ministro
turco, Recep Tayyip Erdogan, e o presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, que visava romper o cerco imposto a este país pelos
norte-americanos e seus alidados; e o segundo, o ataque da Marinha
de Israel aos navios da “Frota da Liberdade”, que causou a morte de
nove ativistas turcos e afetou profundamente as relações bilaterais en-
tre turcos e israelenses. Esses fatos são sinais inequívocos de que a
paz na região tem seus dias contados e data marcada para terminar: 12
de dezembro de 2012.
O Acordo de Teerã
Como aconteceu às vésperas da Segunda Guerra Mundial, quan-
do o premiê britânico, Neville Chamberlain, agitou ao vento um papel
que garantiria a paz – o Acordo de Munique –, Lula e seus parceiros
da Turquia e do Irã repetiram esse gesto, ao exibir, de mãos dadas, o
Acordo de Teerã. Levando em conta esses fatos premonitórios, o Brasil
e a América do Sul devem se preparar para os tempos turbulentos que
se avizinham. Além do mais, dois traços marcantes do comportamento
dos dirigentes judeus reforçam essa precaução, pois são muito pare-
98
João GilBerto pArenti couto
cidos com aqueles dos líderes nazistas: a falta de escrupulos no trato
da coisa pública e o desrespeito e desprezo aos tratados e acordos
intenacionais, como mostram dois artigos do Folha Online, a seguir
transcritos, datados de 07/07/2010 (Dados secretos apontam parceria
nuclear entre EUA e Israel, diz rádio militar) e 28/05/2010 (Todos sa-
bem há décadas que Israel tem arma nuclear, diz historiador).
O Arsenal Nuclear de Israel
(Folha Online – 07/07/2010)
“A rádio do Exército israelense anunciou nesta quarta-feira que
teve acesso a um documento secreto enviado pelos Estados Unidos
ao governo israelense afirmando um comprometimento de cooperação
nuclear entre os dois países, apesar de Israel não ser signatário do Tra-
tado de Não Proliferação Nuclear (TNP). De acordo com a rádio militar
oficial, o governo americano deixou claro que venderá a Israel materiais
usados para produzir eletricidade, tecnologia nuclear e outros supri-
mentos necessários ao setor. O assunto também foi tema de reporta-
gem do principal jornal israelense, o “Haaretz”. Israel tradicionalmente
opta por uma política de ambiguidade quanto ao seu arsenal nuclear. O
país não assume nem nega à comunidade internacional o fato de pos-
suir armas nucleares, não assina pactos mundiais sobre o setor (como
o TNP), e não se submete às inspeções da AIEA (Agência Internacional
de Energia Atômica), ligada à ONU (Organização das Nações Unidas).
A comunidade internacional vem pressionando Israel para que assine
o TNP. A Turquia e países árabes deixaram claro que a paz no Oriente
Médio depende deste passo do governo israelense.
A reportagem da rádio militar israelense foi ao ar um dia após
o encontro entre o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, e o presi-
dente americano, Barack Obama, em Washington. Além de afirmar que
não há divergências entre os dois países e ressaltar a necessidade de
conversações diretas entre israelenses e palestinos, Obama disse que
é necessário fortalecer o sistema de não proliferação de armas nucle-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
99
ares e mostrou-se preocupado com a questão, numa clara alusão ao
programa nuclear iraniano, indica o “Haaretz”. Os dois líderes também
discutiram a possibilidade de realizar um encontro internacional para
pedir por um “Oriente Médio livre de armas nucleares”, sugerida pela
conferência mundial do TNP no início deste ano. Netanyahu deixou
claro que não participaria porque o objetivo é “perseguir” Israel. Em
Washington, Obama afirmou ao premiê israelense que uma conferência
do tipo somente faria sentido se todos os países da região participas-
sem, e que os EUA, como patrocinadores e organizadores do encontro,
fariam de tudo para que a agenda fosse ampla e não tivesse como foco
a política de ambiguidade de Israel. O presidente americano afirmou
ainda que os EUA estão comprometidos com Israel para garantir que
tratados e políticas internacionais sobre não proliferação de armas não
coloquem a segurança dos israelenses em risco.
No início deste mês os países árabes presentes ao Fórum Eco-
nômico Árabe-Turco sinalizaram apoio à posição turca frente ao ataque
israelense à ‘Frota da Liberdade’ que deixou nove ativistas mortos, cri-
ticaram as sanções da ONU sobre o Irã e exigiram que Israel assine o
TNP. As nações árabes indicaram ainda que Israel deve submeter-se às
inspeções da AIEA. As declarações foram feitas um dia após a ONU ter
aprovado uma quarta rodada de sanções contra o programa nuclear do
Irã. Estima-se que Israel seja o único país do Oriente Médio que detém
um arsenal nuclear. ‘Israel continua a desafiar a comunidade internacio-
nal por meio de sua recusa em juntar-se ao TNP’, disse o enviado do
Sudão Mahmoud El-Amin no início de junho durante uma reunião da
AIEA em Viena. Também um dia após a aprovação da quarta rodada de
sanções contra o programa nuclear iraniano, representantes árabes no
conselho da AIEA comemoraram o primeiro debate sobre o programa
nuclear de Israel em quase 20 anos. Sob o título de ‘capacidades nu-
cleares de Israel’, o bloco de 18 Estados árabes colocou o assunto na
agenda da reunião, apesar da rejeição dos Estados Unidos e da União
Europeia (UE), entre outros. Ao contrário do Irã, que está sob inspe-
ções da AIEA, Israel não assinou o Tratado de Não Proliferação Nuclear
100
João GilBerto pArenti couto
(TNP), por isso não está exposto a controles de não-proliferação, da
mesma forma que a Índia, o Paquistão e a Coreia do Norte. O documen-
to final na conferência de revisão do TNP do dia 28 de maio pedia que
Israel se tornasse signatário do tratado e convocou uma conferência
para 2012, com o objetivo de criar uma zona livre de armas nucleares
no Oriente Médio. O Estado judeu mantém uma política de ambiguida-
de: não confirma nem desmente seu arsenal nuclear, cuja existência a
comunidade internacional dá por certa e que foi revelada por um ex-
técnico da central de Dimona, que teve que enfrentar uma pena de 18
anos de prisão. Estima-se que Israel tenha entre 200 e 300 ogivas. Em
comunicado após a reunião da AIEA, Israel lembrou que não assinou
o TNP e que, portanto, o país ‘não é obrigado’ a cumprir as decisões
tomadas na conferência, qualificada de ‘bem-sucedida’ pelo secretário-
geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Ainda no fim de maio o historiador americano Sasha Polakow-
Suransky concedeu entrevista ao correspondente da Folha em Jerusa-
lém, Marcelo Ninio, após a notícia de que Israel tentou vender armas
nucleares ao regime do apartheid sul-africano. A oferta teria sido feita
em 1975, pelo então ministro da Defesa, Shimon Peres (hoje presidente
de Israel), e seria uma clara confirmação de que o Estado judeu possui
um arsenal nuclear. A revelação da oferta foi publicada num livro de
Polakow-Suransky após seis anos de pesquisa. Para ele, o objetivo da
potencial venda de armamentos era principalmente financeiro. ‘Peres
sugeriu a Pieter Botha [então ministro da Defesa] que a África do Sul fi-
nanciasse entre 10% e 5% de um projeto de um jato leve e 33% de um
sistema balístico de cognome “Assaltante”. Israel tinha o know-how, a
África do Sul tinha dinheiro. Além disso, os israelenses queriam fazer
pesquisas conjuntas e desenvolver produtos com os sul-africanos’, dis-
se o historiador à Folha. Questionado se seu livro seria a prova mais
contundente da existência do arsenal de Israel, ele respondeu que as
fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense condenado por
traição] em 1986 seriam muito mais “definitivas. ‘O significado desses
documentos não é provar que Israel tem armas nucleares. Isso o mun-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
101
do inteiro sabe há décadas. A notícia aqui é que a possível transferência
de tecnologia nuclear foi discutida no altos escalões’, concluiu”.
A Bomba Atômica Israelense
(Folha Online – 28/05/2010)
“Toda nova informação sobre o suposto programa nuclear de
Israel desperta enorme interesse, dada a ambiguidade que envolve o
tema. Não foi diferente com a notícia divulgada nesta semana, de que
em 1975 o ministro da Defesa israelense, Shimon Peres (hoje presiden-
te), teria oferecido armas nucleares ao regime do apartheid sul-africano.
A revelação está num livro que consumiu seis anos de pesquisa do his-
toriador americano Sasha Polakow-Suransky, e é considerada uma rara
prova do arsenal atômico de Israel – que o país não nega nem admite
ter. Leia abaixo a íntegra da entrevista:
FOLHA + Em que medida os documentos revelados em seu livro
comprovam a oferta israelense?
SASHA POLAKOW-SURANSKY + Peres está sendo evasivo. Ele
está certo quando diz que sua assinatura não aparece nas minutas
das reuniões, mas ela aparece no documento que garante sigilo para
esta e outras negociações sobre defesa, quatro dias depois da primeira
discussão sobre os mísseis Jericó. Além disso, Peres não negou, pelo
que eu saiba, sua presença nessas discussões ou afirmou que os do-
cumentos sul-africanos são falsos. Os jornalistas deveriam perguntar a
ele se assinou o documento de 3 de abril; se estava presente na reunião
ocorrida na Suíça no dia 4 de junho; e se irá revelar documentos ofi-
ciais israelenses dessas reuniões para comprovar sua negativa. Até que
ele diga sim a esta última questão, podemos assumir que ele esconde
algo. Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema
dos mísseis Jericó foi discutido em uma série de encontros em 1975,
primeiro em 31 de março, depois em 4 de junho. As frases usadas para
descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de nego-
ciação. A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão
102
João GilBerto pArenti couto
como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do
Estado-Maior, R. F. Armstrong, escrita no mesmo dia 31 de março, que
detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul,
mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que
aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em
termos concretos. O memorando Armstrong foi tornado público seis
anos atrás e citado num artigo acadêmico escrito por Peter Liberman.
Até eu revelar os registros dos encontros de 31 de março e 4 de junho,
era difícil contextualizar o memorando. Com os três documentos e o
pacto de sigilo do dia 3 de abril assinado por Peres, o quadro fica mais
claro. Quando você olha esses documentos juntos, fica muito claro que
a possibilidade de a África do Sul comprar mísseis nucleares foi discu-
tida no dia 31 de março e de novo no dia 4 de junho de 1975, quando
Peres se encontrou com Pieter Botha [então ministro da Defesa] na
Suíça e que essas discussões foram colocadas sob pesado sigilo no
dia 3 de abril de 1975. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão
ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense
como oferta nuclear.
+ Qual era o objetivo de Israel?
+ Principalmente financeiro. Peres também estava buscando fi-
nanciamentos conjuntos e precisava oferecer algo em troca à África do
Sul. No encontro de 4 de junho, Peres sugeriu a Pieter Botha [então
ministro da Defesa] que a África do Sul financiasse entre 10% e 5% de
um projeto de um jato leve e 33% de um sistema balístico de cognome
“Assaltante”. Israel tinha o know-how, a África do Sul tinha dinheiro.
Além disso, os israelenses queriam fazer pesquisas conjuntas e desen-
volver produtos com os sul-africanos pagando parte da conta.
+ Há outras revelações sobre a relação entre Israel e o regime do
apartheid em seu livro?
+ Muitas. As principais são a continuação do projeto do mísseis
Jericó na África do Sul nos anos 80, quando especialistas israelenses
ajudaram a construir projéteis de segunda geração para carregar ogivas
nucleares; e a venda de “yellow cake” [concentrado de urânio para pro-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
103
dução do combustível nuclear] da África do Sul para Israel em 1961,
sob um acordo bilateral de salvaguardas para uso pacífico. Em 1976,
quando um estoque de 500 toneladas havia sido acumulado em Israel,
a inteligência israelense pediu ao governo sul-africano que as salva-
guardas fossem suspensas. O ministro sul-africano de Minas, Fanie
Botha, viajou a Israel em julho de 1976, onde se encontrou com Peres,
[Yitzhak] Rabin, além de generais e cientistas nucleares. Em entrevista
a mim, Fanie Botha admitiu que durante a viagem ele suspendeu as
salvaguardas, liberando Israel para usar o “yellow cake” para fins mili-
tares. Em troca, Israel forneceu à África do Sul tritium, uma substância
que aumenta o rendimento de armas termonucleares e Israel enviou di-
nheiro para Fanie Botha por meio de um intermediário [Jan Blaauw, um
general reformado da Força Aérea] para mantê-lo financeiramente vivo
e para que ele não perdesse sua pasta no gabinete até o acordo ser con-
cluído. As salvaguardas foram suspensas e o tritium foi enviado à África
do Sul. A visita de Fanie Botha a Israel é confirmada em um documento
do Ministério da Defesa israelense que eu tenho. O resto da história foi
confirmado nos autos do processo do Estado contra Jan Blaauw, um
julgamento secreto da Suprema Corte sul-africana de 1988. É uma lon-
ga história que está detalhada no capítulo 7 do meu livro. Basicamente,
Fanie Botha prometeu a Blaauw concessões de exploração de minas de
diamantes em troca de seu trabalho para o Estado; quando Blaauw não
recebeu seus diamantes, ameaçou ir a público com todos os detalhes
nucleares e Fanie Botha (‘o Estado’) o processou por extorsão.
+ Israel manteve negociações nucleares com outros países,
como o Irã?
+ Israel manteve relações com vários outros regimes repulsivos,
mas não tenho conhecimento de negociações sobre assuntos sensíveis
como esse com outros países fora a África do Sul. Havia relações pró-
ximas entre Israel e o Irã até a Revolução Islâmica de 1979, que incluiu
cooperação em tecnologia de mísseis.
+ Os documentos revelados em seu livro são a evidência mais
clara até hoje do arsenal nuclear israelense?
104
João GilBerto pArenti couto
+ Não. As fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense
condenado por traição] em 1986 são muito mais definitivas. O signifi-
cado desses documentos não é provar que Israel tem armas nucleares.
Isso o mundo inteiro sabe há décadas. A notícia aqui é que a possível
transferência de tecnologia nuclear foi discutida nos altos escalões.
+ Qual era o estágio do programa nuclear israelense em 1975?
+ A maioria dos especialistas concorda com que Israel alcançou
capacidade operacional de ogiva nuclear em 1975, ou seja, armas mi-
niaturizadas. O país pode ter concluído a produção dessas armas na
época da Guerra do Yom Kippur [1973] mas provavelmente elas não
eram ainda operacionais.
+ Como evoluiu o programa nuclear sul-africano após a suposta
oferta israelense? Por que a oferta foi recusada?
+ A África do Sul tinha sua própria tecnologia de enriquecimen-
to de urânio. Pretória desenvolveu um método autóctone de enrique-
cimento em 1970, cortesia do eminente cientista sul-africano Wally
Grant, que começou sua pesquisa secreta em um galpão no centro de
Pretória e que mais tarde foi transferida para a central da Comissão de
Energia Atômica. O premiê Vorster anunciou isso em 1970 e a África do
Sul começou a construir um reator de enriquecimento. Os sul-africanos
só tomaram uma decisão formal de produzir armas nucleares até 1974.
Quando a decisão foi tomada, comprar de outros países não só era
caro, mas representava um custo adicional ao investimento que haviam
feito no desenvolvimento de sua própria capacidade nuclear”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
105
PARTE IX
A SEGUNDA BATALHA DO ARMAGEDOM E A
DESTRUIÇÃO DE ISRAEL
A Posição do Brasil em face da Segunda Batalha
do Armagedom
O Brasil, em face dessa realidade apocalíptica e do colapso do
sistema financeiro bancado pelos Estados Unidos da América, que
basculou o plano de relacionamento das potências dominantes, deve
encarar o segundo Armagedom como um processo em andamento,
inevitável, com epicentro no Oriente Médio. O alcance desse processo
poderá ficar circunscrito ao chamado Velho Mundo, se, para tanto, o
Brasil estiver armado com bombas atômicas e montar, com os demais
países sul-americanos, um sistema defensivo capaz de desencorajar
quaisquer nações portadoras de artefatos nucleares a envolverem o
continente nessa hecatombe que se aproxima de forma acelerada.
Com esse objetivo, o Brasil deve, desde já, não se meter nesse
drama criado pelos europeus e norte-americanos. Os primeiros, para se
verem livres dos judeus, devido ao seu autoisolamento mafioso, o que
vêm tentando desde os tempos do Império Romano, passando pelos
reis cristãos, Fernando e Isabel, até Hitler, que radicalizou o processo;
e os segundos, usando-os como testa de ferro para dominarem os
campos petrolíferos do Oriente Médio. A esse respeito, como cidadão,
enviei aos políticos e governantes, e à imprensa, as seguintes cartas:
106
João GilBerto pArenti couto
A Visita do Presidente Iraniano ao Brasil e as
Reações da Comunidade Judaica
Belo Horizonte, 13 de maio de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília – DF
Com cópias para os jornais Estado de Minas, Folha de São Paulo e para
os Ministros de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger; da Defesa,
Nelson Jobim; das Relações Exteriores, Celso Amorim e da Secretaria
Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
Assunto: A abortada visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad
e as reações negativas da comunidade judaica no Brasil.
Prezados(as) Senhores(as),
O recente cancelamento da visita do presidente do Irã ao Brasil e os
protestos da colônia judaica pela sua presença entre nós, por se tratar
de um político que nega o holocausto, merece algumas reflexões pelas
implicações com a segurança nacional, já que se trata de grupos orga-
nizados e orquestrados do exterior, para atingir objetivos alheios aos
interesses do País; mas em consonância com o novo governo israelen-
se que elegeu o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, como alvo
preferencial de seus ataques para justificar sua política expansionista na
Palestina e no Oriente Médio.
O tema escolhido para obstaculizar essa visita, o holocausto, é assunto
tabu em Israel, onde existe um memorial para lembrar o genocídio
de seis milhões de judeus nas mãos dos nazistas. Mas, em outros
países, como o Irã, ele é simplesmente negado, ou questionado em
sua real extensão por alguns, com fez recentemente o bispo britânico
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
107
Richard Williamson, que reduziu o número de vítimas para trezentos
mil, advertindo que só mudaria sua colocação se fossem apresentados
dados comprobatórios que contrariassem sua estimativa. Além disso,
dentro da própria comunidade judaica há os que contestam essa tragé-
dia coletiva, como um judeu radicado nos Estados Unidos da América,
que recentemente escreveu um livro denunciando a existência de uma
indústria do holocausto explorada por seus membros. Para o governo
brasileiro, essa disputa não faz sentido, pois a defesa dos interesses
do País deve se sustentar em fatos, e não em dados manipulados por
terceiros para atingirem seus próprios objetivos.
A lógica dos fatos, portanto, impõe uma reflexão mais aprofundada
para encarar esse problema do ponto de vista do Brasil. Para isso, nada
melhor do que repassar o significado da palavra “lógica”, consultando
a enciclopédia livre Wikipédia:
“Ao procurarmos a solução de um problema quando dispomos de da-
dos como um ponto de partida e temos um objetivo a estimularmos,
mas não sabemos como chegar a esse objetivo temos um problema.
Mas se depois de examinarmos os dados chegamos a uma conclusão
que aceitamos como certa, concluímos que estivemos raciocinando.
Se a conclusão decorre dos dados, o raciocínio é dito lógico. A lógica
(do grego clássico λογική logos) é uma ciência de índole matemática
e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação
do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso
estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida cor-
retamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Podemos,
então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a
que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam.
O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com sua obra
chamada Organon.”
Partindo do pressuposto básico de que “é preciso estabelecer algumas
regras para que essa meta possa ser atingida corretamente a fim de
chegar a conhecimentos verdadeiros”, o primeiro passo para clarificar
essa questão do holocausto, é saber se os fornos crematórios dos
nazistas tinham capacidade para incinerar seis milhões de pessoas,
ou mais, considerando que não só judeus foram sacrificados pelos
alemães, nos dois anos de duração desse processo; isto levando-se em
conta as fotos desses fornos divulgadas pela imprensa. Colocar seres
humanos, aos milhões, nesses fornos, que mais se parecem com os de
padaria, com uma só boca e de pequena dimensão, cremá-las, e retirar
suas cinzas, requer uma logística industrial.
108
João GilBerto pArenti couto
Considerando apenas os judeus, seis milhões, e dando a cada um peso
de 50 kg, são, segundo simples cálculos aritméticos, cerca de 300
milhões de quilos de carne e ossos para serem queimados. Em dois
anos (730 dias), portanto, foram incinerados algo em torno de 82.190
indivíduos, por dia. Em turno de 24 horas, seriam 3.424 pessoas/hora.
Aliás, todo esse processo teria que ser muito bem calculado – cálculos
matemáticos –, abrangendo logística, energia térmica – usaram o quê?
O descarte dos resíduos – onde? A poluição ambiental – usaram filtros
para disfarçar o mau cheiro? E o apagamento de pistas, pois não foram
encontradas nenhuma prova material, nem pedaços de ossos calcida-
dos, além de galpões abandonados com prisioneiros esquálidos, mor-
tos ou vivos; fato que contraria a mortandade em massa e sistemática
dos judeus tão logo chegassem a esses campos.
Como são muitas as perguntas que requerem respostas precisas, como
exige o bispo britânico, a posição do governo brasileiro deve ser de
cautela, pois quem deve mostrar essas provas são as três potências
vencedoras da Segunda Guerra Mundial – Estados Unidos da América,
Inglaterra e Rússia – que, em seus arquivos, possuem documentos
comprobatórios de todos os fatos ocorridos naquele período, como
fotografias aéreas e relatórios minuciosos de seus serviços secretos,
que sabiam tudo o que se passava em território inimigo, inclusive nas
instalações dos campos de concentração, pois poderiam produzir ar-
mas, munições ou serem disfarces para outros fins bélicos. No entanto,
essas potências, a quem Israel deveria recorrer para comprovar sua
assertiva, até hoje não mostraram ao mundo nada que justificasse essa
paranóia judaica – nem mesmo um documentário com imagens da
época, fato comum em se tratando daquela guerra –, que agora querem
impor ao mundo como verdade absoluta, um dogma de fé, exigindo
que se puna quem disso duvidar, ou constrangendo países, como o
Brasil, a adotarem, na marra, seus questionados pontos de vistas.
Neste particular é bom lembrar que os judeus violam nossa Consti-
tuição (Art. 5º , IV e IX), quando apelam para o antissemetismo toda
vez que seus interesses são contrariados,pois espertamente misturam
assuntos de Estado com questões de sua religião, como estão fazendo
agora com o Irã, a bola da vez de sua estratégia de dominação da Pa-
lestina e do Oriente Médio, este em parceria com os norte-americanos.
Esta conduta dúbia foi há tempos denunciada pelo falecido presidente
francês, De Gaulle, que exigiu que se decidissem a respeito, para evitar
contradições perniciosas à paz mundial; fato que se repete na atualida-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
109
de, como informa o Jornal Estado de Minas (12/5/2009, p.17): “Uma
nova guerra entre Israel e países árabes ou islâmicos poderá ocorrer
em 12 a 18 meses se não houver progressos nas negociações de paz
para o Oriente Médio, afirmou o rei Abdullah, da Jordânia, em entrevista
publicada no jornal The Times. Ele participa da elaboração de um plano
de paz americano para a região, que prevê uma ambiciosa ‘solução de
57 estados’, com o envolvimento de todos os membros da Organização
da Conferência Islâmica.”
Essa iniciativa, como tantas outras, está destinada ao fracasso, pois
os judeus tudo farão para sabotá-la, inclusive bombardeando o Irã.
A eles só interessa o Armagedom, prelúdio da vinda do seu Messias,
como comentei em três livros de minha autoria, disponíveis na Internet
(www.dominiopublico.gov.br). É só esperar para ver, pois, segundo
diversas profecias, esse apocalipse ocorrerá em 2012, último ano do
primeiro mandato do presidente Barack Obama dos Estados Unidos,
que, como seus antecessores, tudo fará para conquistar um segundo
mandato, inclusive ir à guerra total contra os mulçumanos.
Diante desses fatos, é bom o governo brasileiro se precaver, evitando
qualquer tipo de envolvimento com os países dessa região e dedi-
cando seus recursos e energia para defender a América do Sul, único
continente que escapará ileso dessa conflagração mundial. Para isso é
necessário que nossos estrategistas elaborem um ambicioso plano de
defesa continental, envolvendo todos os países da região, que leve em
conta a ação de países nuclearmente armados dispostos a quaisquer
aventuras para atingirem seus objetivos.
Agradecendo a atenção de V. Exas., e desejando-lhes sucesso em seus
afazeres, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
PS: Constituição Federal – Artigo 5º.: [...] IV – é livre a manifestação
do pensamento, sendo vedado o anonimato. IX – é livre a expressão da
atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independen-
temente de censura ou licença.
110
João GilBerto pArenti couto
Telavive de Olho na América Latina
Belo Horizonte, 2 de junho de 2009.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Exmos.(as) Srs.(as) Senadores(as) e Deputados(as) Federais
Congresso Nacional
Brasília –DF
Com cópias para os Jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo,
e para os Ministros de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger; da
Defesa, Nelson Jobim; das Relações Exteriores, Celso Amorim e da
Secretaria Especial dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi.
Assunto: “Telavive de olho na América Latina”.
Prezados (as) Senhores (as),
No dia 13 de maio p.p., enviei a V.Exas. uma correspondência tratando
da abortada visita do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad e as
reações negativas da comunidade judaica no Brasil; tema este rela-
cionado com assunto em epígrafe, que serviu de chamada para uma
notícia publicada pelo Jornal Estado de Minas (31/5/2009, p. 21), que
acrescenta o seguinte comentário a esta manchete: Estratégia – Israel,
como tem status de observador na OEA, quer maior aproximação com
países latino-americanos para afastar Irã.
O que chama a atenção neste artigo, é o fato de o Estado de Israel ten-
tar intrometer-se nos assuntos internos do Brasil e dos demais países
latino-americanos, trazendo para este continente as intrigas que espa-
lha no Oriente Médio, infernizando o mundo mulçumano para atingir
seus objetivos estratégicos, como se observa no seguinte trecho deste
artigo: “Israel lançará na próxima assembléia da Organização dos Es-
tados Americanos (OEA) uma campanha para fortalecer a relação com
a América Latina e resistir à ‘influência’ do Irã na região, disse ontem
o vice-chanceler israelense, Dani Ayalon. Uma delegação liderada por
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
111
Ayalon participará com essa meta da Assembléia Geral da Organiza-
ção dos Estados Americanos (OEA) de terça-feira, em Honduras, onde
buscará restaurar a ‘histórica amizade’ entre o povo judeu e os países
latino-americanos, que, segundo ele, é anterior ao estabelecimento do
Estado de Israel, em 1948. ‘A América Latina é um continente muito es-
pecial para nós. Nossos melhores amigos e aliados estão lá. A maioria
dos países que nos apoiaram na votação da ONU em 1947 que aprovou
a criação de Israel foram da América Latina’, destacou Ayalon.”
Essas observações merecem alguns comentários, como preliminar a
esta carta e para complementar o que foi tratado na correspondência de
13 de maio. O primeiro deles é que, na América Latina, os judeus nunca
foram bem recebidos, seguindo determinações da Espanha e Portugal,
fato histórico sobejamente conhecido, e razão porque não criaram raí-
zes nesta parte do continente americano. O segundo é sobre a votação
na ONU em 1947 sobre a criação de Israel. Esta votação, como mui-
tas outras ocorridas no processo de fundação dessa organização, foi
presidida pelo Chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, que simplesmente
bateu o martelo para confirmar uma decisão da Assembleia. Nada de
especial, portanto, nesse gesto mecânico. O que valeu foi o voto dos
países participantes que criaram não apenas um Estado na Palestina,
mas sim dois: um para os judeus e outro para os palestinos. Assim
sendo, a existência de um está ligada umbilicalmente ao do outro. São,
afinal de contas, irmãos siameses. Esta solução, que os judeus aceita-
ram num primeiro momento, pois lhes era favorável, passaram, com o
correr do tempo, a renegar, tão logo perceberam que poderiam mani-
pular, em benefício próprio, os conflitos existentes nessa região e dos
advindos dessa partilha equivocada.
Desde então, o que fizeram foi espalhar intrigas de toda ordem, tor-
nando o Oriente Médio num caldeirão do diabo, onde a paz não tem
vez. Esse proceder maléfico agora querem repetir na América Latina.
Portanto, é bom que os políticos e governantes deste continente se
precavenham dessa estratégia maligna, ainda mais que a bonança bate
às portas do Brasil e da América do Sul, um continente que cultua a
paz, com o início da exploração das reservas de petróleo e gás natural
do pré-sal, as quais se podem estender pela costa atlântica do Uruguai
e Argentina, inclusive das Malvinas. Essa possibilidade alvissareira au-
mentará a tensão entre os países de outros continentes, que estão com
suas reservas em declínio ou em fase final de exploração, os quais pas-
sarão a cobiçar essas e outras riquezas da América do Sul. É com esse
112
João GilBerto pArenti couto
objetivo que os judeus se estão movimentando em direção à América
Latina, ou seja, dominar o poder econômico dos países dessa região,
ou servir de testa de ferro para as potências dominantes, como estão
fazendo no Oriente Médio. O Irã, no caso latino-americano, é apenas
um pretexto para se posicionarem estrategicamente na região e estarem
preparados para eventos futuros.
É bom ter em mente que os judeus, como povo, esperam um Messias
que lhes dará o domínio das nações, o qual virá precedido pelo Arma-
gedon, apocalipse que os israelenses estão preparando para detonar
com suas armas atômicas, pretextando um conflito com o Irã, país
que sequer faz fronteira com o indefinido território de Israel. Este Es-
tado, criado artificialmente pela ONU, por pressão dos britânicos, que
queriam ficar livres dos judeus em seu território, transferindo-os para
a Palestina, pode desaparecer do mapa não por um ataque do Irã, com
suas inexistentes armas atômicas, mas sim por uma resolução da ONU,
a pedido dos países árabes, tornando sem efeito o que foi decidido na
Assembleia de 1947, já que o que ficou acertado até hoje não foi cum-
prido. O que a ONU decidiu naquela ocasião, pelo voto de seus mem-
bros, inclusive do Brasil, atendendo a um pedido da Grã-Bretanha, foi
pela partilha da Palestina em dois Estados separados, judeu e palestino,
com estatuto internacional especial para Jerusalém.
Esse acordo entre nações, que deu aos judeus, de mão beijada, esse
território, eles agora o sabotam de todas as formas possíveis, como
bem enfatizou em editorial – Israel persiste no erro – o Jornal Folha
de São Paulo (30/5/2009, p. A2): “Há 42 anos, desde que derrotou vi-
zinhos árabes na Guerra dos Seis Dias e ocupou, entre outras áreas, o
território palestino na margem ocidental do rio Jordão, Israel deslancha
ali um programa de assentamentos injustificável, que agride o direito
internacional. Sob Barack Obama, a Casa Branca volta a insistir no
óbvio: o abandono dessa anexação sorrateira é crucial para a existência
do Estado Palestino. [...] Para dar segurança aos assentados, o Exército
israelense ali sustenta uma miríade de bloqueios rodoviários e postos
de controle, que transtornam o cotidiano dos palestinos. [...] O premiê
Binyamin Netanyahu, entretanto, afirma que vai permitir o ‘crescimento
natural’ dessas colônias. Uma provocação irresponsável, além de cinis-
mo na perpetuação do esbulho.”
Agradecendo a atenção de V. Exas. e desejando sucesso em seus afa-
zeres,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
113
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A Visita do Chanceler Israelense e a Participação
do Brasil no Processo de Paz no Oriente Médio
(GUILA FLINT – BBC Brasil, de Tel Aviv –Folha Online – 20/7/2009):
“Em visita ao Brasil, chanceler israelense quer “alertar” país so-
bre o Irã. As discussões sobre o Irã devem ser o principal assunto da
visita ao Brasil do chanceler de Israel, Avigdor Lieberman, a partir desta
terça-feira. O ministro israelense das Relações Exteriores deverá se en-
contrar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o chanceler
Celso Amorim. Segundo a embaixadora Dorit Shavit, diretora-geral do
departamento de América do Sul do Ministério das Relações Exteriores
de Israel, ‘um dos assuntos mais importantes, que com certeza Lieber-
man abordará, é o problema do Irã’. ‘Queremos alertar o Brasil sobre
a ameaça iraniana. O Irã exporta o terrorismo para a América Latina e
esteve por trás dos ataques à embaixada israelense e ao centro judaico
Amia, em Buenos Aires’, disse a embaixadora à BBC Brasil. ‘Estamos
cientes de que o Brasil tem interesses econômicos no Irã, mas é neces-
sário abrir os olhos. O Irã não vem [ao Brasil] só por interesses eco-
nômicos. Grupos terroristas como o Hamas e o Hizbollah, sustentados
pelo Irã, podem vir a se infiltrar na América Latina’, afirmou.
Processo de paz – Sobre o interesse brasileiro de participar no
processo de paz no Oriente Médio, a embaixadora disse que “’é difícil
saber se, no futuro, o Brasil terá uma maior participação no processo
de paz, mas esse assunto certamente será abordado durante as reu-
niões do ministro Lieberman com os líderes brasileiros’. Os represen-
tantes do Brasil e de Israel ouvidos pela BBC Brasil concordam que,
apesar das divergências políticas, a visita é sinal de uma aproximação
114
João GilBerto pArenti couto
significativa entre os dois países. A visita do ministro Avigdor Lieber-
man é a primeira de um chanceler israelense ao Brasil em 22 anos e
ocorre pouco tempo depois que o Ministério das Relações Exteriores de
Israel adotou mudanças estratégicas, que incluem a decisão de fortale-
cer a colaboração com os países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia
e China). Além da visita do chanceler, o ministério israelense decidiu
reabrir o consulado do país em São Paulo, que foi fechado em 2002.
Também está programada uma visita ao Brasil do presidente de Israel,
Shimon Peres, em novembro, que deverá ser retribuída por uma visita
do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Israel em 2010. De acordo
com o diplomata Sidney Leon Romeiro, encarregado do setor político
da embaixada do Brasil em Tel Aviv, ‘existem divergências políticas
entre os dois países, mas é para isso que existe o diálogo’.
Colaboração – Apesar de divergências no âmbito internacional,
principalmente ligadas às relações com o Irã e ao conflito israelense-
palestino, a colaboração bilateral Brasil-Israel cresceu significativamen-
te nos últimos anos. O ministro Celso Amorim fez três visitas a Israel
desde 2005, e o total do comércio entre os dois países mais que tri-
plicou nos últimos quatro anos, crescendo de US$ 500 milhões para
US$ 1,6 bilhão. ‘O lado brasileiro deverá levantar a questão do conflito
israelense palestino’, disse Romeiro à BBC Brasil. ‘Consideramos que
existe uma nova janela de oportunidade na região que deve ser explo-
rada. Recentemente houve uma série de fatos positivos que podem
facilitar a retomada do processo de paz, como a atitude do governo
[de Barack] Obama, a aproximação entre os Estados Unidos e a Síria
e as últimas declarações do premiê israelense Binyamin Netanyahu,
reconhecendo a solução de dois Estados’, acrescentou. O Brasil vem
sinalizando há anos que tem interesse em participar do processo de paz
no Oriente Médio. No entanto, para o cientista político Jonathan Ry-
nhold, da Universidade de Bar Ilan, ‘essa é uma ilusão’. ‘As chances de
que o Brasil possa se transformar em um fator importante no processo
de paz são praticamente nulas’, disse Rynhold à BBC Brasil. ‘O Brasil
não tem os instrumentos necessários para exercer uma influência real
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
115
nesta questão, pois não tem uma cadeira permanente no Conselho de
Segurança da ONU, não está envolvido militarmente no Oriente Médio
e não tem um capital diplomático para que possa se transformar em
um agente importante no processo de paz’, afirmou o analista. Segundo
Rynhold, ‘a colaboração bilateral pode amenizar o efeito das divergên-
cias políticas’. ‘Boas relações bilaterais e econômicas são uma receita
para amenizar confrontos no âmbito diplomático. Israel tem interesse
em se aproximar de países importantes, como o Brasil, que têm uma
força econômica e política crescente e estão distantes do conflito no
Oriente Médio’, afirma. ‘Para o ministro Lieberman, que está bastante
enfraquecido tanto internamente como no nível internacional, a visita ao
Brasil confere prestígio e legitimidade’, acrescentou o analista. Avigdor
Lieberman enfrenta uma investigação policial por suspeitas de fraude
e lavagem de dinheiro e, no âmbito internacional, é considerado uma
figura polêmica por suas posições de extrema-direita e por morar em
um assentamento na Cisjordânia”.
116
João GilBerto pArenti couto
PARTE X
PREPARANDO O BRASIL E A AMÉRICA DO SUL
PARA OS NOVOS TEMPOS
2003/2063 – Os Anos Decisivos para o Brasil e a
América do Sul
Essas questões apocalípticas são discutidas nesta obra para aler-
tar os políticos, os governantes e a sociedade sobre a necessidade de
estarem atentos para os anos decisivos para o Brasil e a para a América
do Sul – 2003/2063, segundo as profecias de Dom Bosco –, para disso
tirarem o melhor proveito. Além disso, estarem também precavidos
para as tragédias que se abaterão, nesse período, sobre os povos que
vivem fora do continente, quando uma conjunção de fatores negati-
vos mudará os destinos da humanidade, fazendo da primeira metade
do século XXI o período mais dramático para a sobrevivência do ser
humano na face da terra desde a última glaciação. Para essa ocasião,
o Brasil deve estar muito bem preparado, militarmente, inclusive com
bombas atômicas, para se defender, e também a América do Sul, a
Antártida e oceanos adjacentes, de invasões de povos desesperados,
famintos e despedaçados, mas nuclearmente armados, que tudo farão
para conquistar um território habitável, por pequeno que seja, do que
restou intacto do Armagedon, para poderem sobreviver nesse espaço
vital, da destruição total.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
117
América do Sul – Um Continente Ameaçado pela
Invasão dos Judeus
Israel, por exemplo, que tem sua existência contestada pelos pa-
íses árabes e outros estados mulçumanos, em caso do Armagedom se
instalar na Terra Santa, como rezam as escrituras, e saírem derrotados
dessa batalha bíblica, procurarão safar-se buscando países pequenos
e estratégicos, como o Uruguai, para ali se refugiarem e sobrevirem
da hecatombe profetizada, e continuarem esperando o “Messias”, que
lhes dará, conforme acreditam, a supremacia sobre as nações. Para
dominarem esse país, basta colocarem suas bombas atômicas nos sub-
marinos que possuem e assaltarem a banda oriental na calada da noi-
te, numa invasão silenciosa, e se proclamarem donos desse território.
Nesse momento, os uruguaios, desarmados, nada poderão fazer para
detê-los, e muito menos o Brasil e demais países sul-americanos, que
sem bombas atômicas para confrontá-los ficarão à mercê desse povo
apátrida, cujo carma, ao longo da história, é invadirem terras alheias
para sobreviverem, ocasião em que procuram não só destruir seus
habitantes, como também se apropriarem de seus bens, fato que se
repete na atualidade com os palestinos.
Nessa fuga desesperada, rumo à foz do Rio da Prata, os hebreus
contarão não só com o apoio das comunidades judaicas instaladas em
Buenos Aires, Porto Alegre e Montevidéu, as maiores do continente, e
células regionais da rede mundial de informações do Mossad, o ser-
viço secreto de Israel, mas também com o que restar, após a batalha
do Armagedom, do poderio bélico dos seus patrocinadores: os norte-
americanos, que têm interesse nessa aventura.
A exemplo do que aconteceu no final da Segunda Guerra Mun-
dial, quando o Presidente Truman instalou os israelitas, fugitivos do
holocausto nazista, no Oriente Médio, para desalojarem seus competi-
dores – ingleses e franceses – e se apossarem do petróleo dos países
árabes, os yankees desta vez estarão interessados em utilizar o Uruguai
como cabeça de ponte para dominarem o cone sul e, a partir daí, o
restante do continente, a Antártida e o Atlântico sul e o Oceano Pací-
118
João GilBerto pArenti couto
fico, e dessa forma continuarem a existir como nação, pois a América
do Norte e o Ártico, devastados pelos artefatos nucleares, químicos e
biológicos do Armagedon, ficarão inabitáveis por milênios.
Porto Alegre (RS) sanciona lei que torna
obrigatória aula de Holocausto
Os primeiros passos nesse sentindo já se fazem sentir, como
a preparação de uma quinta-coluna no Rio Grande do Sul e, por ex-
tensão, na tríplice fronteira, a partir de uma “lavagem cerebral” da ju-
ventude porto-alegrense; assunto abordado na carta abaixo enviada ao
Presidente da República em 19 de outubro de 2010.
Belo Horizonte, 19 de outubro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Deputados(as) Federais e
Partidos Políticos. Com cópias também para os jornais Estado de Mi-
nas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: Porto Alegre (RS) sanciona lei que torna obrigatória aula de
Holocausto.
Prezado Senhor Presidente,
Sob o título acima, a Folha Online (18/10/2010) traz uma notícia, trans-
crita a seguir, que merece uma reflexão maior por parte dos políticos e
governantes do País, pelas implicações que tem, na formação intelec-
tual da juventude brasileira, mercê que está de manipulações por parte
de entidades estrangeiras que pregam ideias e conceitos estranhos à
cultura brasileira, e para a defesa nacional, em face das implicações ge-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
119
opolíticas que encerra. Para atingirem objetivos estratégicos de poder
e mando, em escala global, os judeus usam o chamado “holocausto”
como arma de propaganda; situação esta bem exemplificada na luta
para se imporem na Palestina e no Oriente Médio, fatos discutidos à
exaustão pela imprensa. Agora, usam esses mesmos argumentos para
semearem a discórdia na chamada tríplice fronteira, zona de fraqueza
onde podem meter uma cunha de intrigas para se tornarem, como no
Oriente Médio, testas de ferro dos norte-americanos, aos quais servem
caninamente. Para isto, nada mais apropriado do que começarem por
Porto Alegre, cidade que, juntamente com Montevidéu, no Uruguai, e
Buenos Aires, na Argentina, aloja a maior concentração de judeus da
América do Sul.
Além desses aspectos, é bom frisar que o ensino do holocausto será
ministrado com o apoio da Federação Judaica, segundo o noticiário em
questão. Neste caso, outras implicações devem ser consideradas. Em
primeiro lugar, é saber qual o papel dos rabinos nesse processo? A
religião entrará na pauta das aulas? Como ficará a laicidade do ensino,
uma opção republicana? Será revogada? Como ficam os mulçumanos
brasileiros em face dessa questão, principalmente os da tríplice frontei-
ra? A questão da criação do estado judaico na Palestina será conside-
rada? E a posição dos descendentes dos alemães no sul do País, será
confrontada? Haverá discussão envolvendo essas comunidades? Quem
levantará a controvérsia sobre esse assunto? Ou só um lado dessa
questão controvertida, que é o holocausto, será ensinado nas escolas?
A intenção em colocar essa matéria no currículo escolar não esconde
objetivos racistas, como levantar a “posição anti-semita” de certos alu-
nos e de seus pais, ou de professores ou professoras? Qual o papel
do Mossad, o serviço secreto israelense, nesse processo, já que os
membros da comunidade judaica vivenciam de forma intensa o drama
que se desenrola na palestina, onde seu destino está sendo jogado e os
habitantes dessa terra monitorados a cada passo, inclusive com seus
DNAs arquivados em banco de dados? O que nós brasileiros temos
com isso, e por que as crianças porto-alegrenses devem sofrer uma
lavagem cerebral para se alinharem com uma filosofia racista e prenhe
de ódio?
Todas estas questões devem merecer por parte de V.Exa., Sr. Presi-
dente, e dos demais políticos e governantes brasileiros, uma atenção
redobrada, pois dizem respeito aos interesses maiores da Nação, que
não pode assumir o drama de uma comunidade que nada faz em favor
120
João GilBerto pArenti couto
da paz; pelo contrario, só age para semear ódio e vingança por onde
passa, como registra os anais da história e estes acontecimentos em
Porto Alegre.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Porto Alegre (RS) sanciona lei que torna
obrigatória aula de Holocausto
“O prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT), sancionou
nesta segunda-feira uma lei que torna obrigatório o ensino do Holo-
causto na rede municipal de ensino. Será formado um grupo técnico da
Secretaria da Educação com o apoio da Federação Judaica, e a obriga-
toriedade começa a valer a partir de 2011. O projeto estabelece que o
ensino sobre o Holocausto – extermínio de judeus na Europa durante
o regime nazista (1933-45) – seja desenvolvido junto ao conteúdo de
história. “É uma visão humanista, plural e libertária. O Holocausto foi
o maior massacre de pessoas inocentes. Queremos que as crianças
conheçam a história e reflitam sobre os valores da vida”, afirmou o
autor da proposta, vereador Valter Nagelstein (PMDB). Porto Alegre,
onde já houve registros de casos de violência envolvendo neonazistas
e “skinheads”, é a primeira cidade do país a aprovar um projeto nesse
sentido, de acordo com a Confederação Israelita do Brasil. “Uma das
maneiras de combater a violência é através de políticas de paz, com
reflexão, para buscarmos a convivência plural e harmônica entre todos.
Nesta cidade queremos conviver com a tolerância, respeitando as dife-
renças, disse o prefeito em cerimônia no Paço Municipal. O cônsul de
Israel em São Paulo, Ilan Sztulman, comemorou a iniciativa de Porto
Alegre. “Em nome do Estado de Israel, agradeço à cidade pela grande
demonstração de aceitar a multicultura. É um momento de muita co-
moção.”
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
121
A Invasão da Europa
Essa história de derrotas e fugas é fruto da ambição desme-
dida e arrogante dos norte-americanos e israelitas de conquistarem
a supremacia das nações, adotando, para isso, estratégias equivoca-
das e desastradas. Entre os objetivos imediatos dos judeus, por exem-
plo, está a consolidação e ampliação de seus domínios na Palestina,
para restaurar o Grande Israel e reconstruir o Templo. Num segundo
momento, aproveitando-se das mazelas da seca e da fome mundial,
fomentar a rivalidade dos mulçumanos contra os cristãos europeus,
com vistas a formar uma aliança revanchista, visando a um só tempo,
além da busca de água e alimentos: a) irem à forra da derrota sofrida
com a invasão dos romanos, quando o templo foi destruído e foram
expulsos da palestina; b) permitirem aos mulçumanos uma revanche
dos massacres dos cruzados; c) darem aos árabes a oportunidade de
se vingarem dos ibéricos pela sua expulsão deste território europeu no
fim da Idade Média; d) vingarem-se das fogueiras da Santa Inquisição,
particularmente da espanhola; e) permitirem aos turcos a sua própria
revanche contra os europeus pela perda do Império Otomano, e rejei-
ção ao seu ingresso na comunidade europeia; f) meterem os alemães
numa fornalha atômica para se vingarem do holocausto nazista; e g)
finalmente, juntos – israelitas e mulçumanos – destruírem o Vaticano,
síntese do Cristianismo, da civilização ocidental e de todos os males
que julgam terem sofrido ao longo da Era Cristã.
As Profecias de Nostradamus
A invasão da Europa, segundo as profecias de Nostradamus,
começa pela Itália, com a destruição de Roma e seus monumentos e a
fuga do papa, seguida de ocupação da França e incêndio de Paris, cul-
minando com a morte do último papa neste país (FONTBRUNE, 1982).
Todavia, como o próprio Nostradamus previu (SEXTILHA 34), o que
vão conseguir, com tal “ato enorme e execrável”, será a ruína econô-
mica. Com esse plano estratégico, os judeus pretendem abrir caminho
122
João GilBerto pArenti couto
para a vinda do seu “Messias”, que lhes dará o domínio do mundo e a
supremacia das nações, esquecendo-se de que as promessas messiâ-
nicas dizem respeito ao plano espiritual e não material.
A Decodificação da Mensagem Bíblica
A chave para decodificação desta mensagem bíblica começa pela
história de Abraão e Sara, que geraram Isaac na velhice, prossegue na
de Zacarias e Isabel, que na mesma faixa etária geraram João Batista, o
último profeta do Velho Testamento, e termina na de José e Maria que
geraram o Messias cristão, na força da juventude, marcando o início de
uma nova era para a humanidade. A confirmação desse ciclo renovador
está sintetizada na destruição dos dois velhos templos construídos na
colina de Sião, e na edificação de um novo templo na colina do Vatica-
no, como o próprio Cristo profetizou; fato sacramentado na queda de
Jerusalém e na ascensão de Roma como centro universal de fé, e o
Papa, Pontífice Máximo dos cristãos, como sucessor do Sumo Sacer-
dote Judeu, que se dedicava exclusivamente a seu povo, dito “eleito”.
Cartas ao Exmo. Sr. Presidente da República Luiz
Inácio Lula da Silva
Para finalizar esses comentários sobre os conflitos no Orien-
te Médio, prenúncio do apocalíptico Armagedom, e os novos tempos
profetizados por Dom Bosco para o Brasil e a América do Sul, trans-
crevo a seguir três cartas dirigidas ao Presidente Lula abordando essas
questões, datadas de 11 e 4 de junho e 23 de janeiro de 2010. Mais
informações a respeito, inclusive sobre a Era do Pré-Sal, o leitor poderá
encontrar em quatro livros de minha autoria, disponíveis na Biblioteca
Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br), intitulados:
Decifrando um enigma chamado Brasil (2006, 2ª ed.), O Brasil das
Profecias – 2003/2063 – os anos decisivos (2008), A mensagem codi-
ficada sobre o Brasil nas profecias de Dom Bosco (2009, 3ª ed.), e A
viagem dos sonhos – de Cartagena, na Colômbia, a Punta-Arenas, no
Chile (2010, 3ª ed.).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
123
As Mensagens Proféticas de Aleijadinho
Belo Horizonte, 11 de junho de 2010.
Ao
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José Alen-
car, e Exmos. Srs. Ministros da Defesa, Nelson Jobim; e de Assun-
tos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães. Com cópias também
para os Exmos.(as) Srs.(as) Governadores(as) dos Estados da União;
Deputados(as) Federais; Senadores Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e
Demóstenes Torres, e Jornais Folha de S. Paulo e Estado de Minas.
Assunto: As eleições presidenciais de 2010 e os conflitos no Oriente
Médio.
Prezado Senhor Presidente,
No último dia 4, enviei a V. Exa. carta tratando do assunto em epígra-
fe, cuja cópia vai em anexo. Agora, com o desfecho desfavorável ao
Brasil, em suas iniciativas para levar a paz ao Oriente Médio, volto a
tratar deste assunto, porém baseado em profecias bíblicas que regem
os destinos daquela região, marcada que é pela religiosidade, mas que
contém mensagens esclarecedoras do que se passa e o caminho que
o Brasil deve seguir para ficar longe desse drama apocalíptico que mal
começou. Estas mensagens estão gravadas nos escudos das imagens
de três dos profetas esculpidos por Antônio Francisco Lisboa, dito o
Aleijadinho, e que se encontram no adro da Igreja de Bom Jesus de
Matosinhos, em Congonhas, no Estado de Minas Gerais.
São elas, as constantes do Capítulo 35 do Profeta Jeremias, que trata
dos nômades (recabitas) que não bebiam vinho e que se refugiaram em
Jerusalém, centro religioso desqualificado por este profeta, que não se
cansava de “proferir oráculos contra a falsa confiança posta no templo
de Jerusalém (7, 1-15)”, como reza a Bíblia Sagrada da CNBB (2001);
124
João GilBerto pArenti couto
as do Capítulo 6, do Profeta Isaias, que traça o trágico destino do povo
judeu: “Até ficarem desertas as cidades, sem habitante algum, as casas
vazias, sem moradores, e os terrenos abandonados, desocupados”; e
as do Capítulo 6, do Profeta Daniel, que registra a benevolência como
foram tratados os judeus pelos reis dos persas, e que agora querem
retribuir com agressões, inclusive atômicas.
Em síntese, essas mensagens ensinam: que os árabes mulçumanos
(os nômades que não bebiam vinho) continuarão habitando em tendas,
como sempre fizeram, nas areias do deserto, que engolirá todos os
monumentos aí erguidos tão logo as reservas petrolíferas se esgotem;
que o povo judeu não fixará raízes na Palestina, de onde será nova-
mente expulso, desta vez de forma definitiva, em virtude da hecatombe
atômica que os aniquilará; e, finalmente, que o Irã, antiga Pérsia, mais
uma vez dará acolhida aos sobreviventes, que não terão mais para onde
ir, pois nenhum país do mundo irá recebê-los. Isto acontecerá porque
conhecem a trajetória européia do povo judeu, marcada por expulsões
desde os tempos dos romanos; expulsões estas que só encontraram
seu termo com o advento do nazismo e o fim da Segunda Guerra Mun-
dial, quando, finalmente, viram-se livres de sua presença indesejável,
como registra os anais da história.
O que o Brasil deve fazer neste momento de perplexidade, para sair com
honra e prestigiado dessa região de conflitos, e da enrascada em que
se meteu, é estimular a Turquia e o Irã, com os quais formou o “trio
parada dura” de confronto com as grandes potências, a firmarem um
tratado de defesa e de livre comércio, incluindo a Síria e o Líbano, para
poderem enfrentar com êxito as maquinações dos norte-americanos e
judeus visando ao domínio dos campos petrolíferos do Oriente Médio
e da Ásia Menor. Este bloco de livre comércio, uma vez consolidado,
poderá estabelecer vínculos com o Mercosul, numa parceria que será
benéfica a todos os participantes. O primeiro passo nesse sentido já foi
dado pela Turquia, como informa a Folha Online (10/6/2010): “Em um
discurso realizado diante de um fórum de ministros árabes e turcos, o
primeiro-ministro Tayyip Erdogan também anunciou planos para formar
uma zona de livre comércio regional com três Estados árabes – Jordâ-
nia, Líbano e Síria. A medida aumenta as preocupações, expressadas na
quarta-feira pelo secretário de Defesa dos EUA, Robert Gates, de que a
Turquia, aliada do Ocidente, corre o risco de inclinar-se para o Oriente
devido à resistência na Europa à sua proposta de se tornar membro da
União Européia”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
125
Uma vez se desvencilhado dos conflitos do Oriente Médio, o governo
brasileiro deve voltar sua atenção para os problemas que realmente in-
teressam ao nosso País, como, por exemplo, os relacionados à divisão
dos royalties do pré-sal, tema de vital importância para os municípios
brasileiros e sobre o qual V. Exa. se opõe, como informa a Folha Online
(10/6/2010): “Contrariando determinação do presidente Lula, o Senado
aprovou nesta madrugada emenda do senador Pedro Simon (PMDB-
RS) que divide de forma igualitária os dividendos da exploração do
petróleo dos atuais contratos e das áreas a serem licitadas. O governo
foi derrotado por 41 votos a favor da proposta e 28 contra. Os sena-
dores definiram ainda que caberá à União compensar as perdas de
Estados produtores como Espírito Santo e Rio de Janeiro, os principais
prejudicados pela emenda. Há três meses, o governo já havia sofri-
do a mesma derrota na Câmara dos Deputados, que aprovou emenda
dividindo os royalties do petróleo entre os fundos de participação de
Estados e Municípios”.
O Congresso Nacional está agindo corretamente, pois esses benefícios
não se destinam a cobrir gastos com a recuperação do meio ambiente,
em caso de acidentes na exploração de petróleo ou gás, como fal-
samente alegam alguns Estados litorâneos. Como está ocorrendo no
Golfo do México, quem paga a conta é a empresa petrolífera diretamen-
te envolvida neste acidente, e o governo norte-americano, que tem a
responsabilidade pelas concessões. Nenhuma unidade federativa ame-
ricana do Golfo do México irá arcar com os eventuais prejuízos. Aqui
no Brasil, no litoral sudeste, todos os danos ao meio ambiente têm sido
pagos pela Petrobras e o Governo Federal, que se apressa em prestar
assistência tão logo algum acidente grave ocorra.
Além do mais, é preciso considerar que os Estados litorâneos da Re-
gião Sudeste estão recebendo investimentos maciços para a exploração
das reservas de petróleo e gás da Plataforma Continental, arcando os
demais Estados da federação com os custos desses projetos, inclusive
com os generosos incentivos fiscais e creditícios, que nem de longe
sonham em receber. Portanto, são Estados privilegiados que não de-
vem amesquinhar-se negando a outros entes federados os direitos que
lhes são assegurados pela Constituição, de receberem os royalties pela
exploração destes bens da União. Aliás, as compensações previstas
pela emenda do senador Pedro Simon (PMDB-RS), para os Estados
dito “produtores”, já são pagas na forma desses pesados investimentos
em portos, transportes ferroviários, siderurgias, estaleiros e incentivos
de toda a ordem.
126
João GilBerto pArenti couto
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As eleições presidenciais de 2010 e os conflitos
no Oriente Médio.
Belo Horizonte, 4 de junho de 2010.
Ao
Exmo. Sr.
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José
Alencar, e Exmos. Srs. Ministros da Defesa, Nelson Jobim; das Re-
lações Exteriores, Celso Amorim; e de Assuntos Estratégicos, Samuel
Pinheiro Guimarães. Com cópias também para os Exmos.(as) Srs.(as)
Deputados(as) Federais; Senadores Pedro Simon, Jarbas Vasconcelos e
Demóstenes Torres, e jornais Folha de S. Paulo e Estado de Minas.
Assunto: As eleições presidenciais de 2010 e os conflitos no Oriente
Médio.
Prezado Senhor Presidente,
A imprensa tem noticiado o empenho do governo brasileiro em se meter
nos assuntos internos de outros países, onde a presença do Brasil não
se faz necessária, e cujos resultados podem prejudicar o nosso País a
curto, médio e longo prazos. Este desvio de comportamento, abordei
em carta dirigida a V. Exa., datada de 23 de janeiro do corrente ano,
cuja cópia vai em anexo, razão por que tratarei nesta correspondência,
como cidadão, da fatídica herança legada ao próximo presidente, ou
presidenta, da República, dessa política equivocada, em seus dois focos
principais: o Oriente Médio e a América do Sul.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
127
No primeiro caso, o Oriente Médio, onde um processo apocalíptico
está em andamento, o risco que o Brasil corre, nele se envolvendo, é
o mesmo experimentado por V. Exa. como metalúrgico: sair mutilado
por acidente de trabalho. Essa engrenagem perigosa, manipulada com
luvas de pelica pelos atores diretamente interessados nessa região – Os
Estados Unidos da América, a União Europeia, a Rússia, a China e a Ín-
dia –, parece-se muito com um engenho de açúcar, como os existentes
em Pernambuco, terra de V. Exa. Neste ambiente de trabalho cheio de
armadilhas, pessoas estranhas circulando desatentas podem se aciden-
tar, inclusive ser tragada pela moenda, caso dela se aproxime sem os
devidos cuidados. Fato muito semelhante ocorre com Vossa Excelência
que circula no Oriente Médio, um ambiente estranho aos brasileiros,
cavalgando um corcel fogoso chamado Brasil, portando um chicote do
qual faz uso para domar as feras que nessa arena se digladiam, razão
por que deve ter muito cuidado, pois qualquer descuido a ponta do
chicote pode entrar nessa engrenagem arrastando não só o chicote e
o cavaleiro, mas também o próprio cavalo. Na melhor das hipóteses,
numa manobra de emergência, para evitar o pior, alguém sairá mutilado
desse acidente, que, espera-se, não seja o cavalo.
Dois exemplos sintetizam a complexidade dos interesses em jogo nessa
região, conturbada por séculos de disputas de todas as espécies e nas
quais o Brasil nada tem que ver: a luta dos judeus para se apossa-
rem integralmente da “Terra Prometida” e a do Irã para dominar os
segredos do átomo. Os judeus, desde o retorno à Palestina, têm-se
comportado como um dinossauro redivivo que não se adapta aos no-
vos tempos, agredindo indiscriminadamente todos os outros animais,
mais evoluídos, que agora ocupam o espaço em que então habitava.
Isto acontece porque os judeus vivem em função de seu livro sagrado
– a “Tora” – compilado em eras remotas para orientar comunidades
primitivas. Desde então, a humanidade evoluiu criando novas normas
de relacionamento entre pessoas e nações, a principal delas abolindo a
“Lei de Talião” (olho por olho, dente por dente), que os judeus copia-
ram de povos mais antigos ainda, mas que na atualidade só serve para
incentivar o ódio e os conflitos, como se vê no território artificial criado
pela ONU no Oriente Médio.
Como nem os judeus, nem os palestinos, têm seus territórios demar-
cados, com limites reconhecidos pelos seus vizinhos e a comunidade
internacional, o que ocorre nessa região é uma luta regida por essa lei;
luta esta que só terá fim quando o “messias” dos judeus aparecer e
128
João GilBerto pArenti couto
colocar em suas mãos o domínio do mundo, como esperam há milê-
nios. Até lá, a ultrapassada “Lei de Talião”, escudada na bomba atômica
judaica, prevalecerá, a menos que o Irã construa sua própria bomba e
mude essa lei por outra, também retrograda: a prescrita no “Alcorão”, o
livro sagrado dos mulçumanos. É neste ambiente de complexas dispu-
tas religiosas, ambições territoriais, domínio de recursos naturais e po-
der de mando que o Brasil se está intrometendo. Competirá, portanto,
ao vencedor das próximas eleições presidenciais, retirar o nosso País
desse atoleiro insano, pois essas batalhas infindáveis somente encon-
trarão seu termo, segundo os profetas bíblicos, quando o Armagedom
aí se instalar, um evento espetacular que porá fim à atual civilização
terrena. Para alguns crédulos, isto acontecerá em dezembro de 2012,
coincidentemente o último mês do mandato do atual presidente norte-
americano, que por certo fará como seu antecessor para se reeleger:
detonar uma guerra no Oriente Médio.
No segundo caso, a América do Sul, as questões levantadas na carta
anexa continuam de pé. Deve-se apenas acrescentar que a provável
vitória do candidato da situação nas eleições colombianas trará para o
continente mais elementos de desestabilização, sabotando os esforços
do Brasil e de outros países sul-americanos para fortalecer o Mercosul,
a Unasul e o Conselho de Defesa Sulamericano (CDS), como informa o
Jornal Estado de Minas (2/6/2010, p. 17): “O candidato a presidente da
Colômbia Juan Manuel Santos defendeu que seu país se junte a Chile e
México em desempenhar um papel mais ativo no cenário internacional,
deixando seu violento passado para trás. Em entrevista, Santos propôs
o envolvimento da Colômbia em organismos internacionais como a Or-
ganização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE)
e na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan)”. Esta postura
tem tudo que ver com a ingerência dos norte-americanos nos assuntos
internos da Colômbia, os quais moverão céus e terra para barrar a lide-
rança do Brasil na América do Sul, principalmente agora que o nosso
País resolveu confrontar essa grande potência num território caro aos
seus objetivos estratégicos: o Oriente Médio. É um desafio que nos
poderá custar caro, se o próximo Presidente da República não redefinir
os objetivos estratégicos da nação brasileira, concentrando os esforços
no fortalecimento de nosso relacionamento com os vizinhos da América
do Sul, relegando para um segundo plano os assuntos de países de
outros continentes.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
129
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A estratégia global das grandes potências
Belo Horizonte, 23 de janeiro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente, José Alencar, e Exmos.
Srs. Ministros da Defesa, Nelson Jobim; das Relações Exteriores, Celso
Amorim; e de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guimarães. Com
cópias também para os jornais Folha de São Paulo e Estado de Minas.
Assunto: A estratégia global das grandes potências e as três pedras
de tropeço nas relações Brasil/Estados Unidos da América: América
Central, América do Sul e Oriente Médio.
Prezado Senhor Presidente,
O Brasil, no governo de V. Exa., em matéria de política externa, está se
comportando como uma prostituta que fica na praça oferecendo seus
dotes a quem interessar possa. Esta dura comparação é feita em função
do posicionamento equivocado do País nos casos de Honduras, do
Haiti e nas disputas infindáveis do Oriente Médio. Em nenhuma dessas
situações, os interesses maiores da nação brasileira estão em jogo,
mas, para as grandes potências, particularmente os Estados Unidos da
América, são de vital importância para a manutenção de seu poderio
econômico e militar.
No Oriente Médio, onde o nó iraniano será desatado pelos Estados
Unidos da América, da mesma forma como fez Alexandre, “o Grande”,
130
João GilBerto pArenti couto
com o nó górdio – um golpe certeiro, neste caso, atômico –, tem um
objetivo bem claro, e do qual não fazem nenhum segredo: terem livre
acesso ao petróleo da Ásia Menor e do Oriente Médio e se colocarem
em posição de mando diante dos países-chave da região, os chamados
“istão” (Paquistão, etc.), para assim estarem em condições de enfrentar
as potências regionais que visam ao mesmo objetivo: Rússia, China e
Índia. É a repetição, pelos norte-americanos, em pleno limiar do tercei-
ro milênio, do vitorioso “Golpe de Foice” dos nazistas. Portanto, é uma
jogada para cachorro grande, como se diz. E o Brasil, o que tem a ver
com isso? Nada! Absolutamente nada! É um enxerido que é tratado
com desprezo e chacota pelos países envolvidos nesse drama apoca-
líptico, como fez recentemente o Premiê Netanyahu, de Israel (jornal
Folha de São Paulo, 21/1/2010, p. A22): “Questionado pela Folha sobre
a pretensão brasileira de ter parte no processo de paz, durante entre-
vista coletiva em Jerusalém, Netanyahu primeiro reagiu com humor,
propondo ‘compartilhar também o território e a água’. Após arrancar
gargalhadas dos jornalistas, respondeu: ‘Como o Brasil pode ter um
papel aqui? Acho...’”.
No caso de Honduras e do Haiti, o que está em jogo são os interesses
vitais dos norte-americanos na América Central, os quais consideram
as regiões do Golfo do México e do Mar das Antilhas extensões de seu
próprio território continental, o famoso “quintal americano”, e das quais
não abrem mão de seu poder de mando a quem quer que seja, muito
menos a países que mal podem caminhar com as próprias pernas,
como Cuba, Venezuela e o Brasil; embora nosso País tenha um grande
potencial, apenas potencial, nada de concreto, por enquanto... Digo,
por enquanto, porque os Estados Unidos da América estão tecendo
uma teia estratégica para imobilizar o nosso País, e em seguida sugar
nossas riquezas, a começar pelo petróleo do pré-sal, que reativou o seu
apetite, até então adormecido, pelos recursos naturais do continente
sul-americano.
Para isto, estão pondo em prática um plano com várias etapas, visando
a objetivos a curto, médio e longo prazos. Em um primeiro momento,
sorrateiramente, reativaram a Quarta Frota, tão logo vazaram informa-
ções sobre o potencial do pré-sal. A seguir, em função da perda de
uma base militar no Equador, implantaram várias na Colômbia, também
sem fazer muito alarde. O passo seguinte foi sabotar, nos bastidores,
a interferência do Brasil em Honduras, que, inocentemente ou desa-
visado, agiu como pau-mandado de Hugo Chávez, ao dar guarida ao
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
131
presidente deposto. O resultado é que enquanto Chávez se cala, o Brasil
sai derrotado e humilhado, com o rabo entre as pernas, dessa aventura
inconsequente. Agora os norte-americanos investem, ostensivamente
e maciçamente, recursos financeiros e militares para “salvar” o Haiti e
dar um “chega pra lá” nos militares brasileiros que estão nesse país a
serviço da ONU.
Todas essas peças de xadrez são movimentas em um tabuleiro que
abrange também a América do Sul. Esta, sim, interessa ao Brasil. É
aqui que se prepara as próximas jogadas para o xeque-mate, e sobre
ela é que nosso País deve concentrar esforços e atenções, agora, mais
do que nunca, pois uma etapa importante da estratégia norte-americana
de nos cercar e nos imobilizar ganhou mais um reforço: a eleição de
Sebastián Pinera para presidente do Chile. Este político já sinalizou,
antes mesmo da posse, que quer alinhar-se com os norte-americanos,
ao disparar críticas a Hugo Chávez. Olhando o mapa da América do
Sul, pode-se ver as implicações estratégicas desse alinhamento para o
Brasil, pois o Chile, juntamente com os outros dois aliados dos Estados
Unidos – o Peru e a Colômbia –, formam um cinturão contínuo ao lon-
go da costa sul-americana do Pacifico, desde a Antártida até o Mar das
Antilhas. A única exceção é o Equador que já está isolado.
Diante de um panorama estratégico como esse, de vital importância
para o nosso País, o que faz o governo brasileiro? Dispersa-se em
disputas alheias, como o Oriente Médio, Honduras e Haiti, criando atri-
tos desnecessários com a maior potência da atualidade – os Estados
Unidos da América. Acorda, Brasil! Como ensina a sabedoria bíblica:
“Mateus, primeiro os teus”! Com este objetivo em mente, o governo
brasileiro tem duas opções para neutralizar esse cerco norte-americano.
A primeira delas é de cunho pacífico, a qual, além de neutralizar esse
cerco norte-americano, pode melhorar substancialmente nossas rela-
ções políticas e econômicas com os nossos vizinhos sul-americanos:
construir a Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, ligando a cidade de
Cartagena, na Colombia, a Punta Arenas, no Chile, cortando a porção
central da América do Sul, de norte a sul. Esta ferrovia está descrita em
um livro de minha autoria, intitulado A mensagem codificada sobre o
Brasil nas profecias de Dom Bosco, disponível na Biblioteca Digital do
Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br).
A segunda opção, de caráter bélico, visa a romper esse cinturão sanitá-
rio em dois pontos estratégicos, para isolar os países da costa do Pací-
fico e garantir ao Brasil acesso e bases militares nessa costa oceânica,
132
João GilBerto pArenti couto
com vistas a reforçar as defesas de nossas fronteiras, a oeste, de um
ataque nesse flanco. Isto é estrategicamente necessário, pois os Andes,
uma barreira natural, não é suficiente para nos proteger, como bem
demonstrou Aníbal, ao transpor os Alpes e atacar os romanos por onde
menos esperavam: sua retaguarda desguarnecida. O primeiro desses
pontos situa-se na divisa do Chile com o Peru. Neste caso, apoiando
a Bolívia em suas demandas pela recuperação dos territórios perdidos
que lhes davam acesso ao Pacífico. A contrapartida exigida pelo Brasil,
para dar esse apoio, seria ter direito a um porto livre nesse território,
inclusive para montar uma base aeronaval, e acesso ferroviário ligando
essa base ao território brasileiro, passando por Santa Cruz de La Sierra.
O segundo ponto a ser rompido seria na fronteira do Peru com a Co-
lômbia. Neste caso, apoiando o Equador em sua pretensão de ter uma
saída para o Oceano Atlântico através do Rio Amazonas. Para isto, o
Brasil apoiaria a criação de uma zona de acesso, separando o Peru da
Colômbia (erro no original enviado: “separando o Peru do Equador”)
desde Letícia, na tríplice fronteira, até o território equatoriano. Esta
faixa compreenderia toda a região entre os Rios Putumayo, que separa
o Peru da Colômbia, e Napo, este em território Peruano. Neste caso
também, a contrapartida do Brasil seria ter livre acesso ao Oceano
Pacífico por meio de uma ferrovia ligando Letícia ao litoral equatoriano,
onde poderia, também, construir uma base aeronaval servida por essa
ferrovia.
De todas as opções, para defender o Brasil e a América do Sul do cerco
norte-americano e manter a paz e a integridade no continente, a mais
indicada é a construção da Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, a
qual possibilitará, também, o desenvolvimento econômico e social dos
povos sul-americanos, a exploração racional de seus recursos naturais
e a implantação definitiva do Mercosul e da UNASUL.
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
133
PARTE XI
A IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA DA REGIÃO
SUDESTE DO BRASIL
As Novas Ferrovias da Região Sudeste do Brasil
Para dar sustentação à construção da Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco, e torná-la um instrumento eficaz para promover o desen-
volvimento econômico e social da América do Sul, é necessário que se
faça um estudo abrangente de todo o sistema ferroviário brasileiro e
sul-americano, visando a uniformizar bitolas e outros procedimentos,
que as tornem uma malha ferroviária unificada, rápida e eficiente, ligan-
do o interior do continente aos portos do Atlântico e do Pacifico.
Uma das regiões brasileiras, prioritária para esse tipo estudo é
a Região Sudeste, onde se concentra o principal das atividades indus-
triais, comerciais e portuárias do País, e do continente, mas carente de
uma infraestrutura de transportes eficiente, fato que pode comprometer
a realização dos sonhos de Dom Bosco. Isso acontecerá porque nessa
região se concentram, também, as maiores reservas de minério de
ferro, petróleo e gás natural do planeta, as quais farão dessa região o
motor do desenvolvimento econômico e social do Brasil e da América
do Sul, desde que haja ferrovias e portos de primeira linha.
Para alertar o Presidente da República para tais fatos e colocar o
empresariado a par desse alerta, escrevi ao Presidente Lula doze cartas,
datadas de 17, 23 e 27 de julho, 1, 17 e 22 de setembro, 16 e 26 de
outubro, e 10, 13, 14 e 21 de novembro de 2010 . Além disso, escrevi,
também, ao Governador de Minas Gerais, Antônio Augusto Anastásia
134
João GilBerto pArenti couto
outras oito cartas, datadas de 14, 19, 24 e 28 de agosto; 10 e 25 de
novembro e 17 e 22 de dezembro de 2010, reforçando os argumentos
expostos nessas correspondências, e cobrando dos políticos mineiros
uma atuação mais firme na defesa do desenvolvimento econômico e
social de Minas Gerais, Estado chave no contexto federativo. Essas vin-
te cartas, bem como outras quatro dirigidas aos políticos e governantes
do País, tratando da atualidade brasileira, datadas de 26 de setembro,
7 de outubro, 16 e 19 de novembro de 2010, compõem este e os pró-
ximos quatro capítulos desta obra.
A Construção da Ferrovia
Belo Horizonte-São Paulo
Belo Horizonte, 17 de julho de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores de Minas
Gerais, Antônio Augusto Anastasia, e de São Paulo, Alberto Goldman;
Presidentes da FIEMG, Olavo Machado Júnior; da FIESP, Benjamin
Steinbruch, e da CNI, Robson de Andrade e jornais Estado de Minas e
Folha de S.Paulo.
Assunto: A construção da Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo.
Prezado Senhor Presidente,
Ultimamente a imprensa tem noticiado o empenho do Governo Federal
para agilizar o processo de implantação do Trem de Alta Velocidade,
ligando as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, porém, até agora,
um projeto de alta relevância para o País não tem recebido a mesma
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
135
atenção. Trata-se da construção da Ferrovia Belo Horizonte- São Paulo,
um projeto antigo, engavetado e esquecido, projetada para transportar
cargas e passageiros de forma rápida e eficiente, sem pretensões a
altas velocidades. Uma Ferrovia com estas características, muito mais
cara, poderá ser construída no futuro, dependendo da demanda de
passageiros. No momento, o que interessa é bem servir à indústria, ao
comércio e à população em geral, todos prisioneiros da desbravadora,
sobrecarregada e ultrapassada Rodovia Fernão Dias, que o dinâmico
Presidente JK construiu em tempo recorde.
A Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo, se construída, influenciará for-
temente a economia da Região Sudeste, o motor do desenvolvimento
econômico e social do País, e os três pilares de sustentação deste
progresso: a mineração de ferro, a indústria siderúrgica e a exploração
petrolífera. Segundo o presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli
(entrevista ao Jornal Estado de Minas, 18/10/2008, p.16), 85% das
reservas da companhia e 80% de suas refinarias estão localizadas nes-
sa região. Quanto à siderurgia, a concentração das jazidas de ferro em
Minas Gerais fala por si.
São estas três indústrias – a petrolífera, a siderúrgica e a mineração
– que responderão no século XXI pelo principal das atividades econô-
micas e financeiras do País, todas concentradas na zona de influência
da Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo. Portanto, é um crime de lesa-
pátria ignorar esta ferrovia. Implantá-la é uma questão de bom senso
e inteligência, que não faltam aos políticos e governantes brasileiros,
liderados por V. Exa.
Para terminar, gostaria de sugerir, a propósito do Trem-Bala, que,
como um incentivo aos eventuais vencedores da concorrência para
sua implantação, fosse permitido inaugurarem primeiro o trecho São
Paulo-Campinas e operá-lo antes do término das obras. Com isto terão
condições de faturarem algum para fazerem caixa, e o Governo Federal
inaugurar este trecho antes da Copa de Futebol de 2014. Esta prévia
serviria não só para se processar os ajustes necessários, para que
todo o projeto funcione bem, inclusive treinamento do pessoal, como
também para dar suporte às operações dos aeroportos de São Paulo,
Guarulhos e Campinas, funcionando como uma espécie de metrô de
alta velocidade.
136
João GilBerto pArenti couto
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A Reestruturação do Sistema Ferroviário/
Portuário da Região Sudeste
Belo Horizonte, 23 de julho de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores de Minas
Gerais, Antônio Augusto Anastasia, e de São Paulo, Alberto Goldman;
Presidentes da FIEMG, Olavo Machado Júnior; da FIESP, Benjamin
Steinbruch, e da CNI, Robson de Andrade e jornais Estado de Minas e
Folha de S.Paulo.
Assunto: Reestruturação do Sistema Ferroviário/Portuário da Região
Sudeste.
Prezado Senhor Presidente,
No dia 17 do corrente mês, enviei a V. Exa. uma carta tratando da
construção da Ferrovia Belo Horizonte-Sâo Paulo, cuja cópia segue em
anexo. Hoje, a intenção é ampliar os comentários feitos nessa corres-
pondência e abordar um tema correlato: o sistema ferroviário/portuário
da Região Sudeste, onde se concentra o principal destas atividades no
País. Mas, antes, gostaria de enfatizar que a Ferrovia Belo Horizonte-
São Paulo está fadada a ser tornar a mais rentável das ferrovias bra-
sileiras, pois permitirá ligar dois polos industriais e comerciais que se
completam: as regiões metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
137
Do lado mineiro, fornecendo produtos siderúrgicos para as indústrias
de base, principalmente as ligadas ao setor petrolífero, e do paulista,
uma gama variada de produtos industrializados, com destaque para
o setor de máquinas e equipamentos. Esta complementaridade, em
grande parte baseada na indústria siderúrgica, permitirá, num futuro
próximo, que os parques industriais de Minas Gerais e São Paulo do-
minem vastos setores da economia nacional, e possam competir com
vantagens no comércio exterior.
Para se ter uma ideia da importância dessa ferrovia para dinamizar as
economias mineiras e paulista, basta traçar um círculo com eixo na
Praça da Sé e verificar que a capital paulista está mais próxima do Sul
de Minas do que a maioria das regiões do Estado de São Paulo. O Sul
de Minas é um enclave dentro da parte mais desenvolvida do território
paulista, razão por que está atraindo cada vez mais indústrias que visam
ao mercado da Região Metropolitana de São Paulo e daí exportarem
para o resto do País. Por enquanto, as cidades limítrofes como Extre-
ma, Camanducaia, Estiva e Pouso Alegre, no eixo da Rodovia Fernão
Dias, atendem a essa demanda, mas, com a Ferrovia Belo Horizonte-
São Paulo, todas as cidades de seu eixo se tornarão polos industriais
privilegiados, pois têm ótimo clima, água e energia em abundância,
nível educacional elevado, ausência de problemas sociais, como favelas
e violência urbana, e mão de obra qualificada disponível.
Além disso, o transporte de passageiros ganhará um impulso signifi-
cativo, pois o turismo será incrementado nos dois sentidos, inclusive
o de negócios, levando-se em conta os múltiplos atrativos das regiões
metropolitanas de Belo Horizonte e São Paulo. Aqui é bom lembrar que
essa rota foi aberta pelos bandeirantes paulistas que enriqueceram e se
capitalizaram com o ouro das Minas Gerais, com o qual financiaram as
bandeiras que desbravaram o Brasil Central. A trilha aberta por esses
pioneiros, em território mineiro, foi mais tarde utilizada por JK para
construir a Rodovia Fernão Dias.
Isto posto, passo a considerar a razão principal desta carta, que é
tratar do sistema ferroviário/portuário da Região Sudeste, atualmente
sucateado e funcionando de maneira precária sem atender à deman-
da existente; deficiências que se prolongarão por muito tempo se não
forem tomadas medidas práticas e urgentes para mudar esse quadro.
Num primeiro momento, o remédio está em se recuperar as ferrovias
existentes, pois o sistema rodoviário está próximo do colapso. Quanto
à recuperação dos portos, deve-se aguardar um diagnóstico completo
138
João GilBerto pArenti couto
do que deve ser feito no sistema ferroviário da Região Sudeste, com-
preendendo toda a malha que cobre os Estados de São Paulo, Rio de
Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais, para, então, propor medidas
que os tornem mais rápidos e eficientes. O diagnóstico a ser feito deve
ser elaborado por um grupo de trabalho formado por empresas dos
setores siderúrgico, ferroviário, portuário e de mineração de ferro, que
operam na Região Sudeste, e representantes do Governo Federal e dos
governos estaduais desta região.
Este grupo de trabalho deve propor soluções imediatas para tornar
essas ferrovias mais rápidas e eficientes, estabelecendo metas para
serem cumpridas pelas empresas num prazo determinado, como, por
exemplo, dobrar a atual capacidade de transporte de cargas em um ano
e triplicá-la em dois. Para isso deve sugerir, entre outras medidas, um
aumento significativo no número de comboios despachados diariamen-
te; aquisição de novas locomotivas e vagões de cargas e de passagei-
ros, otimizar os sistemas de embarque e desembarque das mercadorias
e pessoas; priorizar o transporte de produtos siderúrgicos, automóveis,
cargas perigosas e outros que hoje são transportados por gigantescas
carretas, inclusive nas chamadas cegonheiras, que retardam o tráfe-
go nas rodovias, muitas vezes provocando graves acidentes; acidentes
estes que trazem sérios prejuízos à economia do País e traumatiza a
sociedade pelo número de mortes que causam, espalhando, na popu-
lação, o medo de viajarem pelas rodovias brasileiras, principalmente na
Região Sudeste, onde o trafego é mais pesado.
Para dar sustentação ao aumento de carga a ser transportada, para
atingir as metas propostas no diagnóstico, as ferrovias devem manter
equipes de manutenção operando 24 horas por dia, para que não haja
atrasos nos horários programados. Outras medidas devem ser propos-
tas, como executar um estudo minucioso do traçado de cada ferrovia,
para eliminar curvas e gargalos que retardam a velocidade dos com-
boios; reduzir o número de estações; construir pontes e viadutos; evitar
a passagem por centros urbanos; construir terminais distantes desses
locais, inclusive nas indústrias de grande porte, neste caso com ramais
de apoio; reforçar o leito das ferrovias, substituindo trilhos e dormentes
por outros mais apropriados para suportar o aumento da carga trans-
portada; enfim, tudo que possa tornar as composições mais rápidas e
capazes de transportar mais cargas, aumentando, consequentemente, a
produtividade e reduzindo os custos operacionais.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
139
Todas essas medidas podem ser postas em prática sem a necessidade
de se construir novas ferrovias, bastando um programa bem feito para
melhoria da malha existente. Além disso, paralelamente, deve ser feito
estudos para duplicar as linhas nos percursos mais críticos, eletrificar
onde esta solução for a mais recomendada para agilizar o processo e
reduzir custos, e outras medidas capazes de aumentar a carga trans-
portada num prazo relativamente curto e a custos menores. Este tipo
de medida pode ser adotado pela VALE, no caso da Ferrovia Vitória-
Minas e de toda a malha interligada a esta ferrovia de bitola estreita,
simplesmente colocando mais um trilho para permitir que composições
de bitola larga transitem por ela livremente. Com isto, todo o sistema
ferroviário e portuário da Região Sudeste passaria a operar interligado.
Para agilizar a ampliação da capacidade da Vitória-Minas, esse trabalho
poderá ser feito em etapas. A primeira delas no trecho compreendido
entre as cidades de Ipatinga e Belo Horizonte, onde se concentra o
transporte de produtos siderúrgicos por rodovia, principalmente bobi-
nas de aço, as quais, frequentemente, se soltam das carretas acarretan-
do acidentes de grandes proporções e com vítimas fatais.
Para facilitar a reestruturação do sistema ferroviário e portuário da Re-
gião Sudeste, o Governo Federal deve incentivar as empresas interessa-
das a participarem efetivamente dessa operação de guerra à inércia, por
meio de incentivos fiscais e creditícios, redução de tarifas e outros pri-
vilégios, de tal forma que transportar cargas e passageiros por ferrovia
será um ótimo negócio, tanto para as empresas transportadoras como
para os usuários. Esses privilégios devem ser seletivos, priorizando
certos tipos de mercadorias que sobrecarregam as rodovias ou que as
tornem perigosas, como, por exemplo: bobinas de aço, vergalhões e
outros produtos siderúrgicos; máquinas e equipamentos de grande por-
te; material para a construção civil, como cimento, areia, brita e tijolos,
quando transportados por longas distâncias, e, principalmente, minério
de ferro. Neste caso medidas adicionais devem ser tomadas para que
esse tipo de matéria-prima mineral seja transportado exclusivamente
por ferrovias, proibindo seu transporte por rodovias e minerodutos.
Uma maneira legal de impedir este último tipo de transporte, que con-
corre de forma desleal com o ferroviário, pelos baixos custos com que
opera, é taxar pesadamente o uso da água utilizada, pois ela compõe
cerca de 30% da polpa a ser transportada. Esta água, por enquanto,
é gratuita para esta atividade, o que por si só constitui numa afronta
ao bom senso, pois todo cidadão mineiro paga caro pela água que
140
João GilBerto pArenti couto
bebe ou dela faz uso pessoal. Digo, por enquanto, porque as entidades
ambientalistas dos países consumidores do minério de ferro brasileiro
e as empresas mineradoras concorrentes, do País e do exterior, vão,
mais cedo o mais tarde, questionar nos foros internacionais, inclusive
na ONU, esse desperdício de um recurso natural em escassez no mun-
do todo. Isto sem contar a propaganda negativa que recairá sobre a
mineração de ferro brasileira no mercado internacional, já penalizada
pelos danos que causa ao meio ambiente. Portanto, não adianta uma
mineradora, como a VALE, propalar aos quatro ventos que protege o
meio ambiente, se está empenhada em construir novos minerodutos
para transportar sua produção, isto num quadro em que detém um
verdadeiro monopólio do transporte ferroviário de minério de ferro na
Vitória-Minas.
Além disso, o Governo Federal deve eliminar a ação nefasta da buro-
cracia estatal, que inibe todas as iniciativas visando à modernização da
infraestrutura ferroviária e portuária do País, como mostra a história
do GEIPOT, disponível na Internet e transcrita abaixo. O que este órgão
público se propunha a fazer é exatamente o que é tratado nesta carta,
mas o que gerou foi novos órgãos públicos, tão ineficientes como ele
próprio. A síntese desta ineficiência está no “Viaduto das Almas”, um
simples pontilhão na BR-040 que retrata a mediocridade do DNIT e seu
quadro técnico. Se realmente os empresários querem reduzir o “custo
Brasil”, devem assumir a liderança do processo, pois os tempos glo-
riosos de JK já se passaram e com ele os memoráveis Grupos Execu-
tivos da Indústria Automobilística (GEIA) e da Indústria da Construção
Naval (GEICON). Agora o que prevalece no setor público é a inércia e
a mediocridade, com exceção do Ministério da Defesa e das Forças
Armadas, que mantêm uma postura moderna e atuante, contribuindo
efetivamente para a modernização da sociedade brasileira, como bem
exemplifica a implantação da Estratégia Nacional de Defesa. A propó-
sito, na composição do Grupo de Trabalho para a Reestruturação dos
Sistemas Ferroviário e Portuário da Região Sudeste, o Ministério da
Defesa deve jogar um importante papel, seja como coordenador do
grupo de trabalho, ou analisando as propostas para sintonizá-las com
os objetivos da Estratégia Nacional de Defesa.
Um dos pontos que este ministério poderá questionar é o uso de mine-
rodutos para transportar minério de ferro, pois este tipo de transporte
inviabiliza a construção de ferrovias por ser mais barato, empregar
pouca mão de obra, ser mais simples de operar e, uma vez esgotadas
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
141
as jazidas, simplesmente são deixados apodrecer, pois, para eles, não
existe nenhuma outra utilidade. Em contrapartida, uma ferrovia, nas
mesmas condições, continua prestando relevantes serviços à socie-
dade, como bem exemplifica o sistema ferroviário canadense, que foi
construído para atender à exploração de jazidas minerais e que até hoje
estão em atividade.
Além do mais, minerodutos não transportam tropas e equipamentos
militares; inúteis, portanto, a movimentação das Forças Armadas, que
deve ter amplo espaço de manobra para a defesa nacional, principal-
mente para proteger os portos. No caso dos portos que recebem mi-
nério de ferro por meio de minerodutos, a sua defesa fica compro-
metida, pois não há como levar tropas rapidamente para armar uma
defesa eficaz contra invasores. Neste particular, é bom lembrar o papel
da Ferrovia Transiberiana na Segunda Guerra Mundial, quando salvou
Moscou do assalto final das tropas alemãs, ao transportar rapidamente
os exércitos estacionados na frente oriental para a capital russa. Estas
reservas mudaram o curso da guerra, levando os alemães à derrota e
o russos à vitória final.
Aqui no Brasil fato semelhante ocorreu nas batalhas da Revolução de
30, quando o sistema ferroviário que cobria o Sul de Minas permitiu as
tropas federais vencerem as paulistas no túnel da Mantiqueira e con-
quistarem a cidade de Campinas, a última etapa para o assalto final à
capital bandeirante. Mais recentemente, na Revolução de 1964, o fator
decisivo na movimentação de tropas e, consequentemente na definição
dos vitoriosos, foi um simples entroncamento ferroviário, situado no
Vale do Paraíba, que controlava os acessos às capitais mineiras e pau-
listas. Uma vez dominado este ponto estratégico, a derrota das tropas
legalistas já estava sacramentada. Portanto, a disputa entre mineroduto
e ferrovia não é só uma questão econômica, mas sim um assunto es-
tratégico que interessa a defesa nacional.
A presença do Ministério da Defesa na reestruturação dos sistemas
ferroviário e portuário da Região Sudeste deve ser encarada pelo em-
presariado, políticos e governantes, como uma questão vital para os
destinos do País.
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
142
João GilBerto pArenti couto
Geipot
O GEIPOT foi criado pelo Decreto nº 57.003, de 11 de outubro
de 1965, com a denominação de Grupo Executivo de Integração da Po-
lítica de Transportes e com sua direção superior formada pelo Ministro
da Viação e Obras Públicas, Ministro de Estado da Fazenda, Ministro
Extraordinário para o Planejamento e Coordenação Econômica e pelo
Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, conforme foi sugerido pelo
Acordo de Assistência Técnica firmado naquele ano entre o governo
brasileiro e o Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvi-
mento (BIRD). O Decreto-Lei nº 516, de 7 de abril de 1969, transfor-
mou esse grupo interministerial em Grupo de Estudos para Integração
da Política de Transportes, subordinando-o ao Ministro de Estado dos
Transportes. Essa subordinação foi mantida pela posterior Lei nº 5.908,
de 20 de agosto de 1973, que transformou esse Grupo de Estudos
em Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes, preservando a
sigla GEIPOT. Os objetivos do GEIPOT, estabelecidos por lei, foram o de
prestar apoio técnico e administrativo aos órgãos do Poder Executivo
que tenham atribuições de formular, orientar, coordenar e executar a
política nacional de transportes nos seus diversos modais, bem como
promover, executar e coordenar atividades de estudos e pesquisas ne-
cessários ao planejamento de transportes no País. Portanto, durante
36 anos, o GEIPOT assessorou o Poder Executivo sob a orientação e
aprovação do Ministério dos Transportes, no planejamento, na formu-
lação e na avaliação das políticas públicas do setor, o que lhe permitiu
constituir um corpo técnico altamente qualificado, com visão global do
processo decisório do Estado, e um valioso acervo de informações e
conhecimentos, transformando-o em centro de referência internacional
para os estudos de transportes no Brasil. Com a reestruturação do Se-
tor Transportes no ano de 2001, o GEIPOT colaborou no acompanha-
mento e na realização de análises técnicas do projeto de Lei nº 1615/99,
consolidado na Lei nº 10.233, de 5 de junho de 2001, que criou o
Conselho Nacional de Integração de Política de Transportes Terrestres
(CONIT), a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), a
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
143
Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e o Departamento
Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (DNIT). Com a instalação
das Agências reguladoras e do DNIT, o GEIPOT entrou em processo
de liquidação, de acordo com o Decreto n° 4.135, de 20.2.2002, pu-
blicado no Diário Oficial da União do dia 21 subseqüente. O processo
de liquidação, com prazo inicialmente previsto para durar 180 dias, foi
posteriormente prorrogado, por iguais períodos. O GEIPOT foi extinto
pela Medida Provisória nº 427, de 9 de maio de 2008 (convertida na
Lei nº 11.772/2008), oportunidade em que foi instituída a inventariança,
cujos procedimentos estão disciplinados no Decreto nº 6.485, de 17 de
junho de 2008.
A Síndrome do Sapo Fervido
(Revista Tecnologia e Treinamento, n. 31, p. 45)
Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado num
recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo o
tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não reage
ao gradual aumento da temperatura (mudanças do ambiente) e morre
quando a água ferve. Inchadinho e feliz. No entanto, outro sapo, jogado
nesse mesmo recipiente já com água fervendo, salta imediatamente
para fora, meio chamuscado, porém, vivo!
Existem pessoas que têm comportamento similar ao do SAPO
FERVIDO. Não percebem as mudanças, acham que está tudo bem, que
vai passar, que é só dar um tempo... e, muitas vezes, fazem um gran-
de estrago em si mesmas, “morrendo” inchadinhas e felizes, sem, ao
menos, ter percebido as mudanças. Outras, ao serem confrontadas
com as transformações, pulam, saltam, em ações para implementar as
mudanças necessárias. Encorajam-se diante dos desafios, buscam a
melhor saída para a solução dos problemas, tomam atitudes.
Há muitos “sapos fervidos” que não percebem a constante mu-
dança do ambiente a sua volta e se acomodam, à espera de que al-
guém resolva tudo por eles; esquecem-se de que mudar é preciso,
principalmente se essa mudança beneficia toda uma coletividade. Essa
144
João GilBerto pArenti couto
teoria se encaixa em todas as situações de nossa vida: pessoal, afetiva
e profissional.
Devemos ter a consciência de que, além de sermos eficientes
(fazer certo as coisas), precisamos ser eficazes (fazer as coisas certas),
criando espaços para o diálogo, o compartilhamento, o planejamento,
o espírito de equipe, delegando, sabendo ouvir, favorecendo o nosso
próprio crescimento e o daqueles com quem convivemos, seja na famí-
lia, no trabalho ou na comunidade em geral.
O desafio maior, nesse mundo de mudanças constantes, está na
humildade de atuar de forma coletiva. Precisamos estar atentos para
que não sejamos como os Sapos Fervidos. Pulemos fora, antes que a
água ferva. O mundo precisa de nós, meio chamuscados, mas vivos,
abertos para mudanças e prontos para agir.
A Construção de Uma Nova Ferrovia Belo
Horizonte-Vitória
Belo Horizonte, 27 de julho de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores de Minas Ge-
rais, Antônio Augusto Anastásia; de São Paulo, Alberto Goldman, e do
Espírito Santo, Paulo Hartung; Presidentes da FIEMG, Olavo Machado
Júnior; da FIESP, Benjamin Steinbruch, e da CNI, Robson de Andrade e
jornais Estado de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: A construção de uma nova Ferrovia Belo Horizonte-Vitória e
sua importância para a indústria siderúrgica, mineração e reestrutura-
ção dos portos da Região Sudeste.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
145
Prezado Senhor Presidente,
Nos dias 17 e 23 do corrente mês, enviei a V. Exa. cartas tratando da
“Construção da Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo” e da “Reestrutura-
ção do Sistema Ferroviário/Portuário da Região Sudeste”, cujas cópias
seguem em anexo. Hoje volto a tratar destes assuntos para abordar
temas correlatos que transformarão a Região Sudeste no motor do
desenvolvimento econômico e social do Brasil no século XXI, como foi
a cidade de São Paulo no século XX, então apelidada de “locomotiva”,
que arrastava o resto do País para seu grande destino.
Como o traçado mais indicado para Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo
deve ser paralelo à Rodovia Fernão Dias, a BR-381, a nova Ferrovia Belo
Horizonte-Vitória também deve ser construída paralelamente à BR-262,
rodovia que liga essas duas capitais. As vantagens de se construir es-
sas ferrovias, seguindo o mesmo traçado dessas duas rodovias federais
são muitas. Em primeiro lugar, a topografia é favorável; além disso, as
estações ferroviárias podem operar em sintonia com terminais rodovi-
ários para receber e distribuir cargas para diferentes destinos ao longo
do seu percurso, e fora dele. No caso da Ferrovia Belo Horizonte-Vitória,
por exemplo, isto pode acontecer na conexão com a Rodovia BR-116, a
Rio-Bahia, que liga as Regiões Sudeste e Nordeste pelo interior do País,
e com a BR-101, que o corta de norte a sul pelo litoral.
Nestes casos, por exemplo, uma mercadoria despachada de São Pau-
lo para a Região Nordeste pode seguir por ferrovia até esses entron-
camentos e daí, por rodovia ou por mar, para seu destino final. O
mesmo é válido para mercadorias despachadas do Nordeste para Belo
Horizonte ou São Paulo. A redução dos fretes será considerável, isto
sem contar a inibição dos roubos de cargas e caminhões que trazem
sérios prejuízos às empresas. Outro fator positivo, com a redução do
tráfego de caminhões nas estradas, será a economia de combustíveis e
diminuição da emissão de gases poluentes. Acresce ainda que, tanto a
ferrovia Belo Horizonte-São Paulo como a Belo Horizonte-Vitória podem
ser eletrificadas, o que contribuirá ainda mais para a melhoria do meio
ambiente, pois além de não produzir gases poluentes, que contribuem
para o aquecimento global, reduz substancialmente o tráfego de ve-
ículos pesados nas rodovias, os maiores responsáveis pela emissão
desses gases.
Energia elétrica para eletrificar essas ferrovias não irá faltar, pois a
quantidade de gases de petróleo que a exploração dos depósitos da
146
João GilBerto pArenti couto
Plataforma Continental irão produzir será de tal monta que terá de ser
aproveitado de qualquer maneira, para não serem queimados em alto-
mar e consequentemente poluir ainda mais o meio ambiente. A melhor
forma de aproveitá-lo será utilizá-lo para gerar energia em termoelétri-
cas, a serem construídas no litoral do Estado do Espírito Santo, local
mais próximo das fontes produtoras e que dispensam transporte a
longas distâncias, reduzindo os custos e os riscos ambientais. As linhas
de transmissão dessa energia elétrica poderão ser construídas ao longo
do traçado dessas ferrovias e rodovias, utilizando o espaço entre elas,
ou paralelamente, desde o litoral capixaba até a capital paulista, passan-
do por Belo Horizonte. O espaço situado entre a ferrovia e a rodovia,
além do “Linhão”, pode, também, servir de rota de passagem para
gasodutos destinados a levar esta matéria-prima aos consumidores ao
longo do corredor Vitória-Belo Horizonte-São Paulo. A construção e a
manutenção dessa rede complexa será, portanto, facilitada pelo fato de
ocuparem uma mesma faixa de terreno em todo o seu percurso. Para
isto, é preciso, desde já, traçar esse corredor em mapas e desapropriar
a faixa a ser utilizada para evitar construções ou outros usos que po-
dem comprometer a execução desse projeto revolucionário, alem de
encarecê-lo, caso o terreno fique livre para os especuladores.
O Linhão, por sua vez, servirá não só para abastecer essas duas ferro-
vias, mas também as cidades ao longo de seu percurso, principalmente
as regiões metropolitanas de Vitória, Belo Horizonte e São Paulo, as
mais industrializadas do País. Outros grandes consumidores de energia
elétrica, concentrados no chamado Quadrilátero Ferrífero de Minas Ge-
rais, zona de influência da Ferrovia Belo Horizonte-Vitória, serão benefi-
ciados, principalmente as empresa de mineração e siderurgia. Será um
reforço considerável ao sistema elétrico desta região, pois o número de
termoelétricas que poderão ser construídas no litoral capixaba, todas
interligadas, não tem limites, considerando-se as disponibilidades de
gás de petróleo do pré-sal e pós-sal. Em todos os sentidos – estra-
tégico, econômico, etc. –, o Linhão Vitória-Belo Horizonte-São Paulo,
supera, de longe, a importância do Linhão de Itaipu, dada a capacidade
ilimitada da fonte de energia, o que afastará de vez, na sua zona de
influência e na Região Sudeste, o fantasma dos “apagões”.
Tais fatos tornarão o corredor ligando Belo Horizonte a Vitória, com
ferrovia, rodovia, linhas de transmissão de energia elétrica e gasodutos,
em alvo preferencial para grandes investimentos industriais, inclusive
para a implantação de parques especializados em produtos siderúrgicos
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
147
de grande porte, como locomotivas, vagões, motores para navios, tur-
binas para aviões a jato e hidroelétricas, guindastes para portos, con-
têineres, trilhos para ferrovias, pontes de aço pré-fabricadas e outros
bens da chamada indústria pesada, isto sem contar aqueles destinados
às Forças Armadas, como blindados, canhões, etc., e à industria pe-
trolífera e de construção naval. Todos esses produtos, e muito mais,
poderão abastecer em condições vantajosas tanto o mercado interno,
como exportar para outros países, principalmente os da América do
Sul e do continente africano. O eixo da Ferrovia Belo Horizonte-Vitória,
portanto, está fadado a desempenhar, na industrialização do Brasil no
século XXI, o mesmo papel que desempenhou a Bacia do Ruhr para a
industrialização da Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial. Neste
país o motor do desenvolvimento foi o carvão mineral, fonte de energia
e matéria-prima para a indústria química, que, juntamente com outros
bens minerais da região, sustentaram um vasto complexo siderúrgico e
químico que transformaram a Alemanha numa grande potência.
Aqui no Brasil, no eixo Belo Horizonte-Vitória, os bens minerais respon-
sáveis por algo semelhante serão o minério de ferro de Minas Geais e o
petróleo e o gás natural da Plataforma Continental. Isto se os governan-
tes brasileiros abrirem os olhos e sacarem que exportar matéria-prima
mineral em estado bruto é uma burrice típica de colônias retardas. Mas,
para evitar esse crime de lesa-pátria, é preciso que as companhias mi-
neradoras de minério de ferro de Minas Gerais, as indústrias siderúrgi-
cas situadas neste Estado e no Espírito Santo, as empresas que explo-
ram as reservas petrolíferas da Plataforma Continental, especialmente a
Petrobrás, e as que administram os portos do litoral capixaba se unam
para criarem condições para que todo o potencial representado pelas
reservas desses bens minerais seja racionalmente explorado e deixem
no seu rastro um legado de infraestrura ferroviária, rodoviária, portuária
e de energia elétrica, capaz de sustentar o desenvolvimento econômico
e social do País por várias gerações, como fez a exploração do carvão e
outras matérias-primas minerais da Bacia do Ruhr para os alemães.
Uma das maneiras práticas de agir nesse sentindo será a formação de
um consórcio de companhias mineradoras de minério de ferro, usinas
siderúrgicas e empresas portuárias, para construírem a Ferrovia Belo
Horizonte-Vitória, em via dupla, e reordenarem a distribuição de portos
pela costa capixada, de tal maneira que não haverá necessidade de se
construir portos privativos para exportar produtos siderúrgicos, e muito
menos minerodutos para transportar minério de ferro, pois o consór-
148
João GilBerto pArenti couto
cio se encarregará das operações de transporte ferroviário e portuário
desses bens para todos os sócios, acabando com monopólios, como o
da VALE, com sua longa, sinuosa e ultrapassada Ferrovia Vitória-Minas.
Além disso, é preciso que façam um planejamento para atender a ou-
tros tipos de usuários dos portos e ferrovias, como os exportadores de
soja e outros produtos agrícolas e bens industrializados, que utilizam
tanto o transporte a granel, como em contêineres. Para atender a todos
os usuários em potencial, será preciso criar no litoral capixaba um
complexo portuário com portos especializados para cargas específicas,
como também para múltiplos usos, todos interligados por essa ferrovia
e operando em águas profundas para receber navios de grande porte e
suportar uma demanda de que só fará crescer nas próximas décadas.
Neste contexto o Governo Federal, além de financiar tais projetos, deve
se empenhar para eliminar eventuais obstáculos burocráticos, criados
por diferentes órgãos governamentais envolvidos no processo, como
acontece com todas as grandes obras que patrocina, as quais ficam
anos esperando decisões de gabinete, muitas vezes para barganhas por
cargos públicos. Deve também reduzir ou eliminar taxas e impostos
que podem encarecer os projetos e, para agilizar sua realização, delegar
ao Ministério da Defesa a supervisão de todas as obras, desde o pla-
nejamento até sua conclusão. Esta medida tem também outro objetivo:
enquadrar todos os projetos dentro da lógica que norteia a execução da
Estratégia Nacional de Defesa.
Agradecendo a atenção e desejando sucesso ao governo de V. Exa.,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Lógica (Wikipédia)
“Ao procurarmos a solução de um problema quando dispomos
de dados como um ponto de partida e temos um objetivo a estimu-
larmos, mas não sabemos como chegar a esse objetivo temos um
problema. Mas se depois de examinarmos os dados chegamos a uma
conclusão que aceitamos como certa, concluímos que estivemos racio-
cinando. Se a conclusão decorre dos dados, o raciocínio é dito lógico.
A lógica (do grego clássico λογική logos) é uma ciência de índole
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
149
matemática e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a
manifestação do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade,
é preciso estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser
atingida corretamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros.
Podemos, então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das
conclusões a que chegamos através da apresentação de evidências que
a sustentam. O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles,
com sua obra chamada Organon.”
A construção de uma nova Ferrovia Belo
Horizonte-Vitória e sua importância para
a indústria siderúrgica, mineração e
reestruturação dos portos da Região Sudeste
Belo Horizonte, 1 de setembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores de Minas
Gerais, Antônio Augusto Anastásia, e do Espírito Santo, Paulo Har-
tung; Deputados(as) Estaduais de Minas Gerais; Senadores de Minas
no Congresso Nacional; Deputados Federais; Diretorias da FIEMG e das
indústrias siderúrgicas, Gerdau Açominas, Usiminas e CSN e jornais
Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: A construção de uma nova Ferrovia Belo Horizonte-Vitória e
sua importância para a indústria siderúrgica, mineração e reestrutura-
ção dos portos da Região Sudeste.
Prezado Senhor Presidente,
150
João GilBerto pArenti couto
No dia 27 de julho último, enviei a V. Exa. carta tratando do assunto em
epígrafe, à qual gostaria de ajuntar mais alguns comentários, motivado
por uma notícia publicada pelo Jornal Estado de Minas (31/8/2010, p.
17), sob o título Vale e Gerdau fecham contrato para transporte de aço
e carvão, da qual extraí os seguintes trechos: “Neste ano, o volume de
aço transportado pela Vale para a Gerdau Açominas deve atingir 4,5
milhões de toneladas e, em 2012, 6,2 milhões de toneladas. [...] Além
do aço, a Vale receberá o carvão que a Gerdau importa pelo Terminal
de Praia Mole e fará o transporte do insumo até a usina da siderúrgica
em Ouro Branco, também pela ferrovia. Esse contrato de movimentação
portuária prevê o transporte de cerca de 2,5 milhões de toneladas de
carvão neste ano, atingindo 3,2 milhões de toneladas em 2010”.
Os comentários que gostaria de acrescentar àquela correspondência diz
respeito à redução da quilometragem ferroviária ligando Ouro Branco a
Vitória, se uma nova ferrovia for construída para unir essas duas cida-
des. Esta nova ferrovia serviria também como alternativa para a Ferrovia
Vitória-Minas que, com seu traçado sinuoso e de bitola estreita, está no
limite de sua capacidade operacional. Naquela correspondência sugeri
como ponto inicial dessa nova ferrovia a cidade de Belo Horizonte, e
seu traçado paralelo a BR-262 até Vitória. Todavia, este ponto de par-
tida poderá ser Ouro Branco, pois entre esta cidade e Belo Horizonte já
existe o leito abandonado da ferrovia “dos mil dias”, com pontes, túneis
e viadutos prontos; trajeto este, de bitola larga, que para ser ativado
necessita apenas de obras complementares.
Considerando, então, o ponto de partida da nova ferrovia, a cidade de
Ouro Branco, este novo traçado, passando por Ponte Nova, seguirá em
linha reta até Manhuaçu e, daí, até Vitória acompanhando a BR-262,
como foi sugerido naquela correspondência. Este novo traçado, com
cerca de 450 km de extensão, reduzirá à metade o atual percurso de
905 km da Ferrovia Vitória-Minas. Será uma economia considerável de
frete e de tempo, abrindo novas perspectivas para as siderúrgicas e
mineradoras de minério de ferro da região sul da Serra do Curral e de
todo o Quadrilátero Ferrífero, onde novos projetos estão em andamen-
to. Deve-se acrescentar ainda que, a partir de Ouro Branco, passando
por Congonhas, esta nova ferrovia poderá ser conectada à Ferrovia Belo
Horizonte-São Paulo na altura Carmópolis de Minas.
Maiores detalhes sobre as Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo e Belo
Horizonte-Vitória encontram-se nas cartas dirigidas à V. Exa. nos dias
17, 23 e 27 de julho passado, cujas cópias anexo à presente. Finalmen-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
151
te, gostaria de acrescentar, para efeito de comparação, que estas duas
ferrovias, juntas, somam cerca de 1.036 km de extensão, considerando
os 586 km da primeira e 450 km da segunda. Esta distância é muito
menor do que a Ferrovia Transnordestina, obra prioritária do Governo
Federal. Segundo informações disponíveis na Internet, “a Transnordes-
tina liga o município de Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Suape
(PE) e Pecém (CE), através de 1.728 quilômetros de trilhos. Essa ex-
tensão equivale a quatro vezes a distância entre o Rio de Janeiro e São
Paulo”.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Tornado interdita porto em Vitória
Belo Horizonte, 21 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guima-
rães; Governadores dos Estados de Minas Gerais, Antônio Augusto
Anastásia, e do Espírito Santo, Paulo Hartung; Diretorias das indús-
trias siderúrgicas, Gerdau Açominas, Usiminas, CSN e Arcelor Mittal;
Diretores(as) do IPEA e da FGV; e jornais Estado de Minas e Folha de
S. Paulo.
Assunto: “Tornado interdita porto em Vitória”
Prezado Senhor Presidente,
O jornal Estado de Minas, em sua edição do dia 20 corrente (p.12), traz
uma reportagem, sob o título em epígrafe, que merece uma atenção es-
152
João GilBerto pArenti couto
pecial dos governantes e empresários, para evitar que desastres naturais
como esse venha a prejudicar as indústrias siderúrgicas da Região Su-
deste e, consequentemente, afetar negativamente a economia do País.
A reportagem em questão, parcialmente transcrita a seguir, informa:
“Uma tempestade com ventos de 118 km/h – equivalente a um tornado
classe 1 – destruiu na noite de quinta-feira dois descarregadores de
navio do terminal de carvão de Praia Mole, um dos cinco portos do
Complexo Portuário de Tubarão, em Vitória (ES). A perda dos dois
descarregadores levou o terminal portuário, que era operado pela Vale
e tinha três descarregadores operacionais, a parar de funcionar. [..]
Com capacidade de movimentar 14 milhões de toneladas, o Terminal
de Praia Mole (TPM) é especializado em descarga de insumos para
siderurgia e é o principal porto de movimentação de carvão mineral
do país. É exatamente por esta última característica que a parada da
instalação portuária preocupa: por ele chega todo carvão importado
para abastecer as principais siderúrgicas de Minas Gerais e do Espírito
Santo – Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Gerdau e Usiminas.
O prejuízo com a perda dos descarregadores foi estimado em R$ 7
milhões cada um e são equipamentos que não existem para pronta
entrega. Eles precisam ser encomendados e levam cerca de 1 ano para
ser entregues”.
Diante de uma situação como esta, uma ação preventiva para evitar preju-
ízos às indústrias siderúrgicas, e à economia do País, reside na formação
de estoques estratégicos, como fazem as grandes potências com os mi-
nerais vitais para as suas indústrias, como manganês, petróleo, etc., não
só para se precaverem de desastres naturais, mas, também, em casos de
conflitos bélicos ou crises no abastecimento.
O método mais prático, e barato, para estocar o carvão mineral de que as
siderúrgicas situadas no Estado de Minas Gerais precisam, seria a utili-
zação das cavas das minas de ferro abandonadas, devido à exaustão do
minério, em sua maioria localizadas próximas às siderúrgicas e servidas
por ferrovias, ou ainda, utilizar as que estão sendo exploradas, mas que
dispõem de espaço para receber o carvão importado. Nesses casos, os
vagões que levam minério de ferro ou produtos siderúrgicos até o Porto
podem retornar com o carvão mineral, tanto para o uso cotidiano das
siderúrgicas, como para formação de estoques estratégicos.
Para isso, o Governo Federal e os Estados interessados devem isentar
de impostos ou taxas todo o processo de formação desses estoques
reguladores, inclusive os relativos à importação, e providenciar, junto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
153
ao empresariado, a instalação de novos portos especializados, para
evitar situações como a parada anunciada com o terminal privativo da
VALE e, também, de novas ferrovias para viabilizá-los, livrando assim
da dependência das instalações desta companhia, que mal atende às
suas próprias necessidades. A este respeito, enviei à V. Exa. uma carta
datada de 1º de setembro último, que anexo à presente como subsídio
a essas sugestões.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
O ponto fraco da Estratégia Nacional de Defesa:
a lança sem cabo
Belo Horizonte, 17 de setembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores dos Estados
de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo; Deputados(as) Federais;
Diretorias da FIEMG, FIESP e das indústrias siderúrgicas, Gerdau Aço-
minas, Usiminas e CSN. Com cópias também para os jornais Estado de
Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: O ponto fraco da Estratégia Nacional de Defesa: a lança sem
cabo.
Prezado Senhor Presidente,
O Jornal Estado de Minas, em sua edição do último dia 15 (p.19),
informa, a propósito de um acordo militar firmado com o Reino Unido:
154
João GilBerto pArenti couto
“De acordo com o Programa de Reaparelhamento da Marinha (PRM),
de agosto de 2009, a força precisa de 18 fragatas para substituir as
nove que possui hoje, todas de fabricação britânica. Elas têm a finalida-
de de escoltar navios maiores, como os porta-aviões. Em relação aos
navios-patrulha, a Marinha estima precisar de até 12 unidades, com
capacidade para 1,8 mil toneladas – o Brasil não tem hoje embarcações
dessa classe, fundamentais para a segurança das jazidas petrolíferas na
camada pré-sal. [...] Assim como o processo de compra de 36 caças
para a Força Aérea Brasileira (FAB), a escolha das fragatas e patrulhas
para a Marinha vai priorizar as diretrizes apontadas pela Estratégia Na-
cional de Defesa, de dezembro de 2008”. Neste contexto bélico, deve-se
acrescentar a compra de submarinos convencionais e a construção de
um movido a energia nuclear, previsto no acordo Brasil/França.
Todo esse aparato bélico, visando à proteção das instalações petrolí-
feras na Plataforma Continental, no litoral da Região Sudeste, funciona
como uma poderosa lança para manter longe desse perímetro defen-
sivo quaisquer intrusos que possam representar algum tipo de peri-
go. Todavia, como está projetada, falta o principal para que possa ser
manipulada com eficiência: o cabo de sustentação. É como uma lança
partida, que tem tudo para funcionar, menos o principal. Esclarecendo
melhor, o ponto fraco desse sistema defensivo situa-se nas rotas de
abastecimento das bases militares e dos portos que devem dar susten-
tação às operações em alto-mar, principalmente aquelas servidas por
ferrovias.
Hoje em dia, as operações navais para cobrir o litoral da Região Su-
deste, dependem das bases militares e das instalações portuárias de
Santos e do Rio de Janeiro; abastecidas que são pelas indústrias dos
Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Este apoio logís-
tico se faz, principalmente por rodovias e, secundariamente, por ferro-
vias, como as que ligam São Paulo a Santos, pela Serra do Mar; São
Paulo ao Rio de Janeiro, pelo Vale do Paraíba; e as duas que ligam Belo
Horizonte ao Rio de Janeiro. Todas essas ferrovias estão saturadas e
cheias de problemas operacionais, como pontes velhas, túneis estreitos
e curvas frequentes, que limitam a capacidade de carga e velocidade
dos comboios; isto sem contar a favelização de suas margens, princi-
palmente nas regiões metropolitanas, o que as tornam vulneráveis a
todo tipo de sabotagem e limitações operacionais. Além disso, existem
entroncamentos estratégicos, como o do Rio Paraibuna, onde um pe-
queno destacamento militar pode paralisar todo o sistema ferroviário
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
155
São Paulo-Rio e Belo Horizonte-Rio, como aconteceu em abril de 1964.
Esse conjunto de transporte, fragilizado, representa a lança partida, o
ponto fraco da Estratégia Nacional de Defesa. Diante dessa situação é
preciso que seja aberta uma nova rota, segura e confiável, para abas-
tecimento da Marinha, deslocamento de tropas e equipamentos das
Forças Armadas, e apoio logístico as operações das companhias petro-
líferas, em caso de uma emergência qualquer, como, por exemplo, um
levante de favelados na Região Metropolitana do Rio de Janeiro ou na
Baixada Santista.
A esse respeito, é preciso considerar o fato de que a Estratégia Na-
cional de Defesa mira um horizonte de 50 anos e que, neste espaço
de tempo, é pouco provável, pelo andar da carruagem, que a situação
desses excluídos mude para melhor. O mais certo é que os conflitos
sociais se agravem, pois os meios de comunicação – tevês, celulares,
Internet – e a melhoria do acesso à educação tendem a conscientizá-los
e motivá-los para buscarem a justiça social, custe o que custar. Por-
tanto, é melhor prevenir do que remediar, ainda mais considerando um
agravante de peso: a postura hostil do Governador do Estado do Rio
de Janeiro para com outros entes federados, em face da distribuição
dos royaties do petróleo da Plataforma Continental, aprovada pelo Con-
gresso Nacional. Nada impede que sua atuação beligerante venha a ser
utilizada por grupos interessados em conflagrar a federação, levando o
País à secessão, para se apossarem das riquezas petrolíferas do litoral
atlântico. Massa de manobra para isso não falta, pois, da mesma for-
ma, nada impede que os marginais que operam nos morros cariocas,
mais cedo ou mais tarde, tenham maior consciência política e passem
a formar grupos guerrilheiros como as FARC da Colômbia. Este tipo
de instrumentalização de grupos marginalizados, é pratica rotineira por
parte das grandes potenciais para atingirem seus objetivos estratégi-
cos, como bem exemplifica os conflitos no Oriente Médio. A posse das
jazidas petrolíferas da Plataforma Continental compensa todos os riscos
que possam apresentar.
Imaginar que dentro de dez anos, com a ascensão de jovens mais es-
colarizados à chefia de grupos armados como a ADA e CV, continuarão
a ser painel de tiro ao alvo de uma polícia corrupta, ignorante e trucu-
lenta, é navegar na maionese, com se diz. O mais provável é que estes,
sim, virem alvos privilegiados daqueles. Deve-se ainda considerar que
os grupos armados que operam nos morros cariocas e na baixa flu-
minense, são, na verdade, grupos guerrilheiros bem organizados, que
156
João GilBerto pArenti couto
podem paralisar a região metropolitana do Rio de Janeiro num piscar
de olhos, pois todas as instalações das Forças Armadas – Exercito,
Marinha e Aeronáutica – concentradas nessa região, estão cercadas
por favelas, impedindo que as tropas saem em campo para dominar
o terreno à sua volta. Estes grupos armados estão muito melhor posi-
cionados para enfrentar as Forças Armadas do que os guerrilheiros da
Colômbia, que escolheram a selva e o isolamento da sociedade para
operar, fatores que garantem um fracasso antecipado dessa aventura,
como mostrou a guerrilha do Araguaia. Nos morros cariocas ocorre o
contrário. Os jovens armados não conquistaram um território estra-
nho, eles nasceram e cresceram aí, onde são estimados e respeitados,
fazendo parte da comunidade, de seus hábitos e costumes, inclusive
dando-lhes proteção para viverem em harmonia. Quando são abatidos
pela policia a comunidade chora sua perda, e se fecha em luto num
sinal de pesar.
A nova rota, que abrirá novos horizontes ao País, dando a sociedade o
tempo necessário para colocar as coisas em ordem e evitar o agrava-
mento dos conflitos sociais, é formada por duas ferrovias: uma ligando
Belo Horizonte a São Paulo e a outra Belo Horizonte a Vitória, ambas
partindo do Quadrilátero Ferrífero, o maior jazimento de minério de fer-
ro do mundo, que as viabilizará, sozinho, como empreendimento eco-
nomicamente lucrativo; assunto tratado em quatro cartas enviadas à V.
Exa. e outras quatro ao Governador de Minas Gerais, Antonio Augusto
Anastasia. Estas cartas seguem em anexo para facilitar uma releitura de
seus termos e compreensão da importância desse sistema ferroviário
para a Segurança Nacional, razão por que deve ser incluído entre os
objetivos prioritários da Estratégia Nacional de Defesa. Neste particular
é bom frisar que tanto o litoral capixaba, quanto a região adjacente,
que faz divisa com o Estado de Minas Gerais, particularmente na seção
entre os rios Doce e Paraíba do Sul, área de influencia da Ferrovia Belo
Horizonte/Vitória, são os locais mais indicado para se construir bases
alternativas para as Forças Armadas, para evitar a concentração hoje
existente na costa fluminense. Trata-se de uma região montanhosa,
com maciços rochosos escarpados, de geologia e relevo particular,
pouco habitada, muito diferente do litoral do Estado do Rio de Janei-
ro que é densamente povoado, favelizado e industrializado; isto sem
contar as centrais atômicas aí existentes que podem paralisar todas
as atividades nessa região, inclusive as militares, se acontecer algum
acidente grave em suas instalações.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
157
Finalmente, para efeito de comparação, as duas ferrovias que compõem
o corredor estratégico São Paulo-Belo Horizonte-Vitória somam cerca
de 1.036 km de extensão; distância muito menor que aquela da Ferrovia
Transnordestina, obra prioritária do Governo Federal, com seus 1.728
km de extensão, o que equivale a quatro vezes a distância entre o Rio
de Janeiro e São Paulo. Além disso, é bom lembrar que a Ferrovia
Belo Horizonte-Vitória pode, no litoral capixaba, lançar um ramal para
Campos (RJ), facilitando a ligação Vitória-Rio de Janeiro, e, consequen-
temente, abrindo para as Forças Armadas outra via de abastecimento
para a defesa do País, fechando o anel ferroviário Rio de Janeiro/São
Paulo/ Belo Horizonte/Vitória/Rio de Janeiro, o qual eliminará, se con-
cretizado, o ponto fraco da Estratégia Nacional de Defesa.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
158
João GilBerto pArenti couto
PARTE XII
A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA, A
EXPLORAÇÃO DAS JAZIDAS DE MINÉRIO DE
FERRO DO PAÍS E A IMPLANTAÇÃO DE UM
EFICIENTE E ESTRATÉGICO SISTEMA FERROVIÁRIO
NACIONAL
Belo Horizonte, 22 de setembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores dos Estados
de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo; Deputados(as) Federais;
Diretorias da FIEMG, FIESP e das indústrias siderúrgicas, Gerdau Aço-
minas, Usiminas e CSN. Com cópias também para os jornais Estado de
Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: A Estratégia Nacional de Defesa, a exploração das jazidas de
minério de ferro do País e a implantação de um eficiente e estratégico
Sistema Ferroviário Nacional.
Prezado Senhor Presidente,
No último dia 17, enviei a V. Exa. carta tratando do seguinte assunto: “O
ponto fraco da Estratégia Nacional de Defesa: a lança sem cabo”. Hoje
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
159
volto a este tema em função da seguinte notícia publicada pelo Estadão
Online, intitulada Mineradora ENRC amplia presença no Brasil (Agên-
cia Estado – Clarissa Mangueira, Londres, 21/9/2010): “Numa tentativa
de fortalecer sua presença no Brasil, a mineradora cazaque Eurasian
Natural Resources Corp. (ENRC) anunciou a compra dos 50% de parti-
cipação remanescente na mineradora brasileira Bahia Minerals BV, que
ainda não possuía, e adquiriu uma opção de comprar o ativo vizinho
de minério de ferro Greystone por R$ 1,24 bilhão em dinheiro. A ENRC
pagará R$ 1,16 bilhão em dinheiro à Zamin BM NV pela participação
restante na Bahia Minerals, depois de assumir uma dívida líquida de
cerca de R$ 112,6 milhões. A Bahia Minerals possui duas empresas de
minério de ferro: a Bahia Mineração Limitada e a Eire Mineração Limita-
da, ambas localizadas na região de Caetité, na Bahia. O projeto da Bahia
Mineração Limitada completou seu estudo de viabilidade em julho e de-
verá produzir 11 milhões de toneladas de minério de ferro concentrado
até 2011. A produção do ativo está prevista para ser ampliada para 19,5
milhões de toneladas por ano até 2014, a um custo de R$ 3,63 bilhões
em desenvolvimento. Os produtos de minério de ferro processado terão
um teor de minério de ferro entre 67% e 68,5%. O projeto deverá se
beneficiar dos baixos riscos de logística, visto que o governo brasileiro
ficará responsável por desenvolver a linha ferroviária para transportar o
minério até o porto. O prazo para a construção da ferrovia ainda precisa
ser definido, mas o governo espera conceder o contrato de construção
no quarto trimestre deste ano. A Bahia Minerals tem uma base de re-
cursos de minério de ferro de 1,81 milhão de toneladas, com um teor
médio de ferro de 32%. A ENRC comprou sua primeira participação de
50% na companhia brasileira da Zamin em maio de 2008, por R$ 530
milhões em dinheiro. A ENRC também garantiu uma opção de compra
de 100% da Greystone Mineração do Brasil da Zamin, por cerca de R$
250 milhões em dinheiro. As informações são da Dow Jones”.
A Folha online (21/9/2010) também noticiou essa transação com alguns
dados adicionais, transcritos a seguir por ilustrar de forma exemplar
como o Brasil está se comportando como certos países africanos, onde
as práticas coloniais ainda imperam, e onde os governantes só tomam
conhecimento do que será feito com seus recursos naturais pela im-
prensa. Não são consultados e nem cheirados, como está acontecendo
no Brasil, quando muito são agraciados com algumas propinas para
ficarem calados: “A ENRC estava negociando com siderúrgicas uma
possível venda da participação no projeto para ajudar no custo da cons-
160
João GilBerto pArenti couto
trução. ‘Temos mantido negociações preliminares com siderúrgicas da
União Europeia, indianas e chinesas’, disse o presidente do conselho de
administração da ENRC, Johannes Sittard, à Reuters. [...] Ano passado,
a ENRC pagou US$ 955 milhões em dinheiro pela Camec (Central Afri-
can Mining and Exploration) para obter ativos minerais na República do
Congo, Zimbábue e Moçambique”.
Para evitar que o Brasil volte a ser uma colônia, anulando tudo o que
foi feito desde que Dom Pedro I declarou nossa independência de Por-
tugal, por obra e graças de governantes frouxos e vacilantes e de mi-
nistros (as) corruptos (as), é bom que – no caso da exploração das
jazidas de minério de ferro do País, e da implantação de um moderno
e eficiente sistema ferroviário nacional –, estes dois assuntos passem
a ser considerados de interesse da Segurança Nacional e incorporados
à Estratégia Nacional de Defesa. Esta medida é imprescindível, pois se
trata do único diploma legal que tem funcionado com retidão e obje-
tividade, atendendo às necessidades da nação, graças à atuação com-
petente do Ministro da Defesa e dos comandantes militares que não se
deixaram contaminar pelos desvios de comportamento que já atinge o
núcleo central do governo federal e de onde emanam todas as decisões
do poder central, como a imprensa tem noticiado ultimamente: a Casa
Civil. Afinal de contas, qual a “mão negra”, ou interesses escusos, que
está retendo nos escaninhos do governo federal o novo Código de
Mineração que até hoje não foi enviado ao Congresso Nacional para ser
discutido e votado? Este instrumento legal, uma vez aprovado, poderá
acabar de vez com essa esculhambação toda que tomou conta do setor
mineral do País.
Para atingir esses objetivos estratégicos – a exploração racional dos ja-
zimentos de minério de ferro e a implantação de um sistema ferroviário
moderno e eficiente, que atenda às Forças Armadas e aos interesses
maiores da Nação –, o primeiro passo é suspender todas as conces-
sões e projetos em andamento nesses dois segmentos da economia,
para que sejam analisados à luz da Estratégia Nacional de Defesa. De
que adianta comprar ou construir navios, aviões, submarinos, inclusive
atômicos, modernizar as Forças Armadas, etc., se todo esse apara-
to bélico será empregado para defender um patrimônio que não nos
pertence, e sobre o qual não temos nenhum poder de mando? Os
verdadeiros donos do pedaço não são os cazaques, chineses, indianos,
etc., os únicos responsáveis pelas decisões empresariais a respeito do
que fazer com nossas jazidas de minério de ferro? Por que então não
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
161
assumem eles mesmos a defesa de seu patrimônio em terra até hoje
dos brasileiros? Neste caso o papel das Forças Armadas brasileiras será
o de reles cães de guarda de interesses alienígenas. Mas o que fazer, se
o Governo Federal quer assim? Calar ou agir, eis a questão!
Para que os militares, os empresários, os sindicatos, a mídia e a so-
ciedade brasileira como um todo não tire o corpo fora desse debate,
dizendo “Esse assunto não me diz respeito”, e assuma suas responsa-
bilidades perante a história, transcrevo a seguir uma fábula – a Fábula
do Rato –, contada pelo Frei Cláudio van Balen, da Igreja do Carmo,
de Belo Horizonte, para ilustrar o sermão da missa das 11 horas da
manhã, do último domingo (19/9/2010), mas que vem a calhar para
encerrar esta carta. Antes, porém, transcrevo o seguinte comentário –
Frases do Dia – veiculado pelo Jornal Estado de Minas (20/9/2010, p.
10), que sintetiza o que se passa hoje no Brasil: “A China é parceira
ou saqueadora do Brasil? Jornal britânico The Guardian, ao destacar a
construção de um enorme complexo portuário e industrial na costa do
Rio de Janeiro, apelidado de ‘Estrada para a China’, pelo qual será es-
coado principalmente minério de ferro, questionando se o país amarelo
é um parceiro ou predador do Brasil”.
Deve-se acrescentar a essas observações que o minério de ferro é mais
importante, estrategicamente, do que o petróleo; isto porque ainda vi-
vemos a Idade do Ferro, que continua imprescindível para a humani-
dade desde que foi utilizado pela primeira vez a cerca de 3.200 anos,
enquanto o petróleo, que mal começou a ser utilizado, já apresenta
sinais de esgotamento. Segundo as projeções mais otimistas, este fato
deverá ocorrer nos próximos 50 anos, quando, então, será substituído
pela energia atômica e outras fontes alternativas, como aconteceu com
o carvão mineral que viabilizou a Revolução Industrial e foi substitu-
ído pelo petróleo. A Idade do Ferro, ao contrário, não tem data para
terminar, mas as jazidas sim. Estas são poucas, em comparação com
os inúmeros jazimentos de petróleo espalhadas pelo mundo. Portanto,
conseguir a posse e controle das jazidas de minério de ferro é o ob-
jetivo estratégico número um de países como a China, que as adquire
no mundo todo para satisfazer seu apetite voraz de matérias-primas
minerais e garantir sua posição de grande potência do século XXI; isto
com a complacência de países sub-desenvolvidos, como o Brasil, ou
miseráveis, como os do continente africano. A entrada do Ministério da
Defesa na formulação de uma política de aproveitamento racional de
nossas reservas de minério de ferro e na implantação de um eficiente
162
João GilBerto pArenti couto
sistema ferroviário nacional, deve ser feito sem demora, não só para
impedir que interesses escusos venham a comprometer nossa cami-
nhada rumo ao pleno desenvolvimento econômico e social, mas, tam-
bém, para afastar os corruptos desse campo minado que é o domínio
dos recursos minerais não renováveis. Chega de amadorismo! Já está
mais do que na hora de se encarar essa questão com responsabilidade
e visão de futuro.
A FÁBULA DO RATO
Em uma fazenda havia um rato que se achava dono do pedaço. Certa
noite, por entre as frestas do assoalho, ouviu a fazendeira dizer ao seu
marido: “Precisamos comprar uma ratoeira”.
Apavorado, procurou a galinha no galinheiro e lhe disse: “A fazendeira
vai comprar uma ratoeira”. A galinha, ciscando, não lhe deu atenção.
Como insistisse, disse ao rato: “O que tenho com isso? Ratoeira é as-
sunto de rato. Vai se cuidar”, dispensando-o às gargalhadas.
Inconformado, procurou o porco no chiqueiro. Disse-lhe a mesma coi-
sa: “A fazendeira vai comprar uma ratoeira” A reação foi a mesma da
galinha: “O que tenho com isso? Este assunto não me diz respeito”. E,
chafurdando na lama, mandou que se retirasse, não antes de dar boas
gargalhadas ante o seu pavor.
Desanimado, procurou o boi no curral, na esperança de ser ouvido.
Que nada! O boi reagiu como a galinha e o porco, desprezando suas
advertências e, ainda por cima, despachando-o com gargalhadas, di-
zendo para não importuná-lo mais, pois era um assunto estranho às
suas preocupações.
Derrotado em suas andanças, quedou-se desanimado, mas atento aos
movimentos da fazendeira. Sequer conseguia conciliar o sono.
Certa noite, enquanto cochilava, sobressaltado, o rato ouviu um baque
surdo. Era uma cobra que, sorrateiramente, havia entrado na despensa
da fazenda, onde se escondia, e fora apanhada pela ratoeira, posta ali
pela fazendeira. Esta, apressada, no meio da noite, saiu correndo para
ver o que a ratoeira havia pegado. Mas, descuidada, esqueceu-se de
levar uma lanterna, pois era noite, e o resultado foi trágico. A cobra
havia sido pega pelo rabo, mas continuava viva e atenta a tudo que se
passava o seu redor. A fazendeira, desavisada, foi atacada pela cobra
e, aos gritos, chamou seu marido. O rato, na sua toca, tudo observava,
em silêncio.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
163
O marido, prestativo, tratou logo de levar a esposa para a cidade para
ser medicada. Todavia, a cobra era uma jararaca muito peçonhenta e a
fazendeira acabou morrendo no caminho. Inconsolável, o viúvo tratou
de preparar um enterro bem solene, como sua companheira merecia.
Para isso, chamou toda a vizinhança para o velório.
Era muita gente, e os criados pediram instruções de como deveriam
alimentá-los.
O fazendeiro prontamente mandou sacrificar a galinha, que se revelou
insuficiente para alimentar tanta gente. Voltaram, portanto, a ele para
saber o que fazer.
Disse, então, para matar o porco, o que fizeram imediatamente. Lá
pelas tantas, voltaram novamente com o mesmo problema: como ali-
mentar tanta gente que não parava de chegar.
Como estava muito pesaroso, não vacilou em mandar abater o boi para
resolver de vez o problema. Satisfeitos, os criados saíram para cumprir
a sua missão.
Moral da história: “Nunca diga a ninguém que não tem nada com isso,
quando lhe apresentarem uma questão qualquer, mesmo que seja es-
tranha aos seus interesses imediatos”. Em sociedade, o que afeta um
cidadão afeta a todos, não há como ignorar o que se passa ao seu lado.
Portanto, mãos à obra e nada de ficar parado e indiferente aos acon-
tecimentos cotidianos, pois, mais cedo ou mais tarde, todos acabarão
envolvidos por eles, para o bem ou para o mal.
Agradecendo a atenção, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A VALE e as Golden Shares
Belo Horizonte, 16 de outubro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
164
João GilBerto pArenti couto
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro da Defesa, Nelson Jobim; Governadores dos Estados
de Minas Gerais e Espírito Santo; Deputados(as) Federais e Partidos
Políticos. Com cópias também para os jornais Estado de Minas, O Tem-
po e Folha de S. Paulo.
Assunto: A VALE e as Golden Shares.
Prezado Senhor Presidente,
Nos últimos dias, a imprensa tem noticiado que o presidente da VALE
tem feito declarações sobre o comando da empresa, ou seja, “quem
manda no pedaço”, com diz o vulgo, as quais desagradaram tanto ao
governo federal, como a cúpula dirigente do PT, alvo das críticas desse
executivo. Para os políticos deste partido, a VALE deve vestir a camisa
verde e amarela sem constrangimentos e agir como todas as grandes
empresas multinacionais, que mesmo sendo globais não deixam de ser
controladas pelos governantes dos países sedes.
Um exemplo recente foi a intervenção do Primeiro Ministro britânico
na disputa por indenizações entre o governo norte-americano e a BP
pelos danos causados pelo desastre do Golfo do México. Neste caso,
e em muitos outros, como registra os anais da história, o destino das
grandes empresas petrolíferas e de outras grandes corporações, tanto
dos Estados Unidos da América como da Grã-Bretanha, embora priva-
das, foram sempre controladas pelos governantes dessas nações, pois
o que estava em jogo não era simplesmente uma questão de “dividendo
dos acionistas”, mas questões estratégicas de poder e mando em esca-
la global. Outros casos, bem conhecidos dos brasileiros, de intervenção
do Estado em empresas privadas, para atender aos interesses estra-
tégicos dessas nações, aconteceu na Segunda Guerra Mundial, quan-
do o governo norte-americano obrigou as siderúrgicas daquele país a
transferir tecnologia para construir a usina de Volta Redonda, fazendo
o mesmo com o governo britânico, para que seus súditos cedessem
o controle das jazidas de minério de ferro de Itabira para o governo
brasileiro, que, para isto, criou a Cia. Vale do Rio Doce.
No caso da VALE, é bom lembrar que o poder de mando desta compa-
nhia, embora privatizada, pertence à União, dona das chamadas Golden
Shares, ações que foram emitidas no processo de privatização para ga-
rantir que a empresa continuaria sendo verde-amarela; isto sem contar
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
165
o fato de que os fundos de pensão estatais são os maiores acionistas
dessa companhia, o que, por si só, seria suficiente para traçar sua
política empresarial. Neste caso, o papel da VALE na economia do País
deve ser traçado em conjunto com o da Petrobras, para evitar ações
desconexas, como, por exemplo, o empenho desta última companhia
em construir navios e plataformas no País, para uso próprio, enquanto
aquela foi comprar dezenas de navios na China para transportar minério
de ferro de suas jazidas, alegando questões de tempo e dinheiro.
Estas razões também poderiam ser invocadas pela Petrobras, que, no
entanto, optou por outro caminho por decisão do governo federal, ou
seja, priorizar o desenvolvimento do País, utilizando para isso das ri-
quezas que a natureza pôs no colo dos brasileiros; neste caso o petró-
leo e o gás natural. O mesmo pode e deve ser feito com as gigantescas
reservas de minério de ferro da VALE, mas para isso o Governo Federal
deve exercer os poderes que as Golden Shares lhe confere (vide ane-
xo), ou seja, ditar a política empresarial desta companhia, como vem
fazendo com a Petrobras. Mas, para isto, é necessário que, a exemplo
desta empresa, o Presidente da República indique não só o presidente
da VALE, mas também os diretores de áreas estratégicas da empresa.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Golden Shares
Informações disponíveis no Site da VALE
As ações preferenciais de classe especial, golden shares, devem
ser obrigatoriamente de titularidade da União Federal.
O detentor das ações preferenciais de classe especial tem os
mesmos direitos (incluindo àqueles relativos a voto e preferências de
dividendo) dos detentores de ações preferenciais Classe A.
Adicionalmente, o detentor das ações preferenciais de classe
especial tem o direito de vetar quaisquer propostas em relação aos
seguintes assuntos:
1. alteração de nossa denominação social;
166
João GilBerto pArenti couto
2. mudança de nossa sede social;
3. mudança do nosso objeto social relativamente à exploração
de jazidas minerais;
4. liquidação de nossa empresa;
5. qualquer alienação ou encerramento das atividades de uma ou
mais das seguintes etapas dos sistemas integrados de nossa explora-
ção de minério de ferro: Jazidas minerais, depósitos de minério, minas
Ferrovias Portos e terminais marítimos
6. qualquer modificação dos direitos atribuídos às espécies e
classes das ações de nossa emissão;
7. qualquer modificação de quaisquer dos direitos atribuídos por
nosso Estatuto Social à ação preferencial de classe especial.
Corrida ao ferro
Belo Horizonte, 26 de outubro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministro de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro Guima-
rães; Governadores dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo;
Deputados(as) Federais; Deputados(as) Estaduais de Minas Gerais; Di-
retores da FIEMG, IPEA, FGV e ESG e jornais Estado de Minas e Folha
de S. Paulo.
Assunto: Corrida ao ferro.
Prezado Senhor Presidente,
Sob o título acima, o jornalista Mário Fontana, em sua coluna no Jornal
Estado de Minas do dia 23/10/2010 (p. 3), informava: “Delegações
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
167
oficiais de compradores de minério de ferro de países asiáticos são
esperados em Belo Horizonte a partir da primeira semana do mês que
vem. Vão disputar a aquisição das últimas grandes jazidas do chamado
Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais. Elas se encontram nos muni-
cípios de Nova Lima, Sabará e Raposos. Anota-se que as transações
deverão ser realizadas sob o controle do Morgan Stanley Bank. As
delegações asiáticas serão integradas por representantes de grupos da
China, Japão, Coréia do Sul e Tailândia. Mais detalhes, dopo”.
Dois dias depois (25/10/2010, p. 3), em outra nota, sob o título “Miné-
rio”, o colunista fornecia mais detalhes sobre o assunto: “Empresários
de Taiwan farão parte da delegação de executivos de países asiáticos
que visitarão Minas Gerais, em novembro, com o objetivo de analisar
aquisições das últimas jazidas de minério de ferro do Quadrilátero Fer-
rífero, na Região Central. Vão analisar possibilidades de negócios junto
com representantes de mineradoras da China, do Japão e da Coréia do
Sul”.
Na mesma edição desse jornal, no Caderno Agropecuário, podia-se ler
a seguinte notícia (p.9): “Vale e UFV assinam protocolo de intenções
para auxiliar no desenvolvimento da fruticultura do país da Arábia. [...]
O diretor do Instituto Tecnológico Vale (ITV), Luiz Mello, explica que
a UFV foi escolhida pela Vale por ser referência mundial na pesquisa
agrícola. Ele conta que a mineradora decidiu investir na parceria para
ajudar no desenvolvimento da agricultura de Omã para desenvolver ali
uma política de boa vizinhança com o país. [...] A empresa está inves-
tindo US$ 1,35 bilhão na construção de uma usina de pelotização, com
capacidade nominal de 9 milhões de toneladas/ano, e de um complexo
portuário, que vai operar com navios Valemax, de 400 mil toneladas de
porte bruto”.
Para elaborar um raciocínio lógico sobre o conjunto dessas informa-
ções, é preciso adicionar mais uma, veiculada pela imprensa nessa
mesma semana, desta vez sobre o petróleo do Pré-Sal. Segundo o
jornal Estado de Minas (23/10/2010, p.13), “A Petrobrás concluiu a per-
furação do novo poço na área de Tupi, no pré-sal da Bacia de Santos,
e comprovou o potencial, anteriormente anunciado, de extração de óleo
leve e de gás natural recuperável, de 5 bilhões a 8 bilhões de barris”.
Considerando as estimativas publicadas pela imprensa de reservas su-
periores a 100 bilhões de barris nas áreas do pré-sal em fase de pes-
quisa, as quais poderão chegar a 1 trilhão de barris, tendo em vista o
potencial total da unidade estratigráfica hospedeira, que vai do litoral do
168
João GilBerto pArenti couto
Estado do Espírito Santo até o de Santa Catarina, os seguintes questio-
namentos se impõem, pela lógica das coisas:
Onde estão as autoridades competentes deste País, que não ligam um
fato a outro, e se perguntam: “Não está na hora de se juntar as peças
desse quebra-cabeça, que é a manipulação de minerais estratégicos,
como o ferro, petróleo e gás natural, para disso a nação brasileira tirar
o melhor proveito?” Vamos deixar que o mercado especulativo e as
multinacionais ditem os rumos de nossa economia e o desenvolvimen-
to econômico e social do País?
Não está passando da hora de se criar um grupo de trabalho para
formular uma política integrada para o aproveitamento econômico das
gigantescas reservas de minério de ferro do Estado de Minas Gerais
e do petróleo e gás natural da Plataforma Continental, com vistas a
dominar o mercado mundial de aço neste século?
Por que uma empresa como a VALE junta essas peças em Omã e não
é capaz de fazer o mesmo em terras brasileiras, ou melhor, associar
o minério de ferro do Estado de Minas Gerais com o petróleo e o gás
natural do Pré-Sal para produzir aqui, em nosso País, não só esses
milhões de toneladas de “pelets”, mas milhões de toneladas de aço,
tornando-se a líder mundial na fabricação e exportação deste produto?
O que está por detrás desse alheamento? Será descuido das autorida-
des “competentes”? Falta de visão de nossos governantes? Ação de
executivos apátridas? Ou bobeira mesmo, da atual geração de brasi-
leiros? Já se esqueceram das lutas de Artur Bernardes e Getúlio Var-
gas em defesa de nossos interesses? Não se forjam mais neste País
estadistas como estes, de pulso firme e mão de ferro? Só nos restam
babacas e interesseiros?
Por que o governo brasileiro não edita uma Medida Provisória (MP)
para sustar a venda das jazidas de minério de ferro do País, particu-
larmente as do Estado de Minas Gerais, até que o novo Código de
Mineração passe a vigorar? Será que essa corrida toda, dos asiáticos,
para comprar as jazidas de minério de ferro do Quadrilátero Ferrífero,
tem alguma relação com a atual política de “porteiras abertas”, que esse
código pode fechar?
Por que os políticos, governantes e empresários mineiros e brasileiros
ainda veem as riquezas minerais de nosso País pelo viés dos coloniza-
dores, como um produto de exportação em estado bruto para serem
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
169
processados no exterior? Ou vendê-las, em leilões especulativos, “sob
o controle do Morgan Stanley Bank”, como noticia a imprensa?
Não atinaram, ainda, que o Brasil já deixou para trás a Era Colonial e já
vive um novo tempo, no qual o domínio de suas riquezas pertence aos
brasileiros e aqui mesmo devem ser processadas e transformadas em
produtos de alto valor agregado? A ficha ainda não caiu?
Para estimular as “autoridades competentes”, os políticos, empresários
e governantes a raciocinarem em termos objetivos, tendo em vista os
interesses maiores da nação brasileira, nada melhor do que consultar
a Enciclopédia Digital Wikipédia, sobre o significado da “lógica das
coisas”.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Lógica (Wikipédia)
“Ao procurarmos a solução de um problema quando dispomos de da-
dos como um ponto de partida e temos um objetivo a estimularmos,
mas não sabemos como chegar a esse objetivo temos um problema.
Mas se depois de examinarmos os dados chegamos a uma conclusão
que aceitamos como certa, concluímos que estivemos raciocinando.
Se a conclusão decorre dos dados, o raciocínio é dito lógico. A lógica
(do grego clássico λογική logos) é uma ciência de índole matemática
e fortemente ligada à Filosofia. Já que o pensamento é a manifestação
do conhecimento, e que o conhecimento busca a verdade, é preciso
estabelecer algumas regras para que essa meta possa ser atingida cor-
retamente a fim de chegar a conhecimentos verdadeiros. Podemos,
então, dizer que a lógica trata dos argumentos, isto é, das conclusões a
que chegamos através da apresentação de evidências que a sustentam.
O principal organizador da lógica clássica foi Aristóteles, com sua obra
chamada Organon.”
170
João GilBerto pArenti couto
PARTE XIII
O COLAPSO DO SISTEMA FINANCEIRO
INTERNACIONAL E AS OPORTUNIDADES QUE SE
ABREM PARA O BRASIL E A AMÉRICA DO SUL
Belo Horizonte, 10 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministros da Fazenda, Guido Mantega; de Assuntos Estratégi-
cos, Samuel Pinheiro Guimarães; Secretário do Tesouro Nacional, Arno
Hugo Augustin Filho; Deputados(as) Federais; Governadores dos Esta-
dos da União; Diretores do IPEA e da FGV e jornais Estado de Minas, O
Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: O colapso do sistema financeiro internacional e as oportunida-
des que se abrem para o Brasil e a América do Sul.
Prezado Senhor Presidente,
As três notícias abaixo, veiculadas pela Folha Online, reproduzidas em
anexo, levaram-me a associá-las com o assunto em epígrafe, e daí
concluir que, para o Brasil e a América do Sul se livrarem das conse-
quências desse colapso, nas suas finanças, e reverter esse fracasso
em seu favor, devem agir como um lutador de Jiu-jitsu, que apara
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
171
os golpes de seus adversários, para em seguida devolvê-lo com mais
energia e força.
Folha Online – 9/11/2010: “Presidente do Banco Mundial surpreende
com ideia de padrão ouro”.
Folha Online – 9/11/2010: “Governo pode cobrir até R$ 5 bi se rentabi-
lidade do trem-bala decepcionar”.
Folha Online – 9/11/2010: “MP visa assegurar potencial de operação do
BNDES, diz governo”.
A primeira dessas notícias dá a dimensão da perplexidade da comuni-
dade financeira com o caos que se abate sobre a banca internacional.
Este fato faz com que a volatilidade do capital especulativo flutue ao
sabor das ondas de otimismo e pessimismo que alimentam, artificial-
mente, este tipo de jogo. Consequentemente, para o Brasil, o capital
disponível para investimentos em infraestrutura de obras públicas se
torna, a cada dia, mais escasso e o Governo Federal se vê em situação
difícil para tocar projetos importantes como o do trem-bala, assunto
abordado nesse noticiário da Folha Online. Para contornar esses pro-
blemas e a carência de poupança interna para financiar este projeto, e
outros de alta relevância para a economia do País e da América do Sul,
como as ferrovias Belo Horizonte-São Paulo, Belo Horizonte-Vitoria e a
Transcontinental Dom Bosco, e, também, da Grande Adutora Tucuruí-
Nordeste, a solução é transformar a poupança negativa, representada
pela divida pública, em poupança positiva.
Para isso o Governo Federal deve proceder como o governo norte-ame-
ricano que, para aquecer a economia daquele país, visando à criação de
empregos, emitiu dinheiro para recomprar cerca de US$ 600 bilhões de
dólares de papéis federais em poder dos bancos. No nosso caso, não
há necessidade de emitir dinheiro para financiar aqueles projetos. Basta
negociar com os bancos credores do Tesouro Nacional a troca parcial
ou total dos títulos da dívida pública por ações das companhias estatais
especialmente criadas para tocar tais projetos, como o do Trem-Bala,
cujo capital deverá ser da ordem de R$ 34.6 bilhões, segundo dados
divulgados pela imprensa. Neste caso, num primeiro instante, esta em-
presa seria formada com 100% de capital do Estado, para em seguida,
com essa permuta, tornar-se uma empresa privada controlada pelos
bancos, que poderiam negociar suas ações na bolsa para receber de
volta o seu capital, que dificilmente seria recuperado se continuassem
aplicados em títulos da dívida pública. Para viabilizar essa operação, a
172
João GilBerto pArenti couto
“taxa mínima de juros resultante dessa eventual repactuação será de
3% ao ano”, como prevê a Medida Provisória 511.
O lastro para a emissão dessas ações, por parte do Tesouro Nacional,
não virá, portanto, pela emissão de dinheiro, como no caso norte-
americano, mas sim do Fundo Soberano, criado para estocar os ga-
nhos com a exploração do petróleo da Plataforma Continental, mais
precisamente do Pré-Sal. Tais medidas, além de colocar os banqueiros
como parceiros do desenvolvimento econômico e social do País, con-
tribuirão também para combater a inflação, pois os investimentos em
infraestrura são anti-inflacionários por natureza, dado o longo período
de maturação, ao contrário do crédito consignado, o bezerro de ouro
da banca, que é 100% inflacionário, pois estimula o consumo por parte
daqueles que não têm poupança. Além disso, ao reduzir o estoque da
dívida pública, essa operação facilitará a queda dos juros, o que contri-
buirá significativamente para incrementar os investimentos e atividades
produtivas, gerando empregos e rendas.
Esse mesmo procedimento pode ser adotado para financiar a implan-
tação dos demais projetos citados anteriormente, ou seja, as ferrovias
Belo Horizonte-São Paulo, Belo Horizonte-Vitória e a Transcontinen-
tal Dom Bosco, além da Grande Adutora Tucuruí-Nordeste. A respeito
destes projetos, anexo à presente, para ilustração, cópias das cartas
enviadas à V. Exa. nos dias 17/7/2010 (A construção da Ferrovia Belo
Horizonte-São Paulo), 23/7/2010 (Reestruturação do Sistema Ferrovi-
ário/Portuário da Região Sudeste), 27/7/2010 (A construção de uma
nova Ferrovia Belo Horizonte-Vitória e sua importância para a indústria
siderúrgica, mineração e reestruturação dos portos da Região Sudeste)
e 23/10/2010 (A Transposição do Rio São Francisco e a Grande Adu-
tora Tucuruí-Nordeste). Quanto ao Projeto da Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco, os dados podem ser encontrados em quatro livros de mi-
nha autoria, disponíveis na Biblioteca Digital do Governo Federal (www.
dominiopublico.gov.br).
Voltando à primeira notícia da Folha Online, que trata da volta do padrão
ouro, a sugestão é que o Governo brasileiro retome a ideia de se criar o
“Peso Real”, moeda de troca entre os membros do Mercosul, para fazer
frente à guerra cambial detonada pelos Estados Unidos da América e a
China, protegendo, assim, a moeda de cada País do continente contra a
ação dos especuladores de todos os matizes. Para viabilizar esta ideia, a
sugestão é que V. Exa. se candidate, ao deixar a Presidência da Repúbli-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
173
ca, ao cargo de Presidente da Unasul, quando então terá oportunidade
de discutir com todos os membros desta união a melhor forma de se
adotar este padrão monetário e implantar a Ferrovia Transcontinental
Dom Bosco, um projeto que viabilizará de vez a integração da América
do Sul, fortalecendo a um só tempo a Unasul, o Mercosul e o sistema
de defesa do continente.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Folha Online – 9 /11/2010 – Presidente do Banco Mundial surpreende
com ideia de padrão ouro
As economias avançadas deveriam considerar a adoção de um padrão
ouro modificado para guiar as taxas de câmbio, disse nesta segunda-
feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, em uma proposta
inesperada antes da cúpula do G20 (o grupo das 20 maiores econo-
mias do mundo). Escrevendo no “Financial Times”, Zoellick defendeu a
criação de um sistema “Bretton Woods 2” de moedas flutuantes, como
sucessor do regime de taxas de câmbio fixas implementado no início
dos anos 1970. O ex-representante comercial dos Estados Unidos, que
participou de alguns governos republicanos no país, disse que uma
medida como essa “deve precisar envolver o dólar, o euro, o iene,
a libra e [um yuan] que caminhe para a internacionalização e, então,
a uma conta capital aberta.” “O sistema também deveria considerar
utilizar o ouro como um ponto de referência internacional de expecta-
tivas de mercado sobre inflação, deflação e valores cambiais futuros”,
acrescentou Zoellick. Analistas mostraram cautela. “Seguir em frente
com isso seria algo que nós poderíamos avaliar, mas não vai acontecer
num período curto de tempo”, disse Ong Yi Ling, analista da Phillip
Futures em Cingapura, acrescentando que os preços do ouro mal rea-
giram aos comentários. Zoellick disse que um novo sistema monetário
levaria tempo para se desenvolver e que deveria ser parte de um pacote
com possíveis mudanças nas regras do FMI, para revisar o capital e
políticas de conta corrente e ligar as análises monetárias do FMI (Fundo
Monetário Internacional) às obrigações da OMC (Organização Mundial
do Comércio).
174
João GilBerto pArenti couto
O ouro chegou a atingir a máxima recorde de US$ 1.398,35 a onça
(28,34 gramas) nesta segunda-feira, por preocupações com o enfra-
quecimento do dólar após a atuação do Fed (Federal Reserve, o BC dos
EUA) para voltar a comprar Treasuries.
Folha Online – 9/11/2010 – Governo pode cobrir até R$ 5 bi se renta-
bilidade do trem-bala decepcionar
O governo publicou nesta segunda-feira uma medida provisória para
garantir recursos de até R$ 20 bilhões para o financiamento do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) ao projeto
do trem-bala. A Medida Provisória 511 incluiu ainda uma cláusula que
permite que a União cubra um montante de até R$ 5 bilhões caso a
receita do projeto se mostre inferior ao previsto nos primeiros dez anos
de operação. Na prática, caso o operador do trem-bala não tenha o
desempenho esperado, ele terá direito a uma redução na taxa de juros
cobrada no empréstimo. O valor máximo de repactuação será de R$ 3
bilhões do primeiro ao quinto ano de operação e de R$ 2 bilhões do
sexto ao décimo ano. A taxa mínima de juros resultante dessa eventual
repactuação será de 3% ao ano. Se isso ocorrer, o governo cobre uma
parcela de até R$ 5 bilhões. Segundo a Folha apurou, a cláusula foi
incluída para garantir a atratividade do projeto para os investidores
estrangeiros. O BNDES tem conversado com investidores japoneses,
coreanos, chineses, espanhóis, alemães e franceses. O valor máximo da
tarifa será de R$ 199 para o trecho entre Rio e São Paulo. A viagem terá
duração de 1 hora e 30 minutos. Para Henrique Pinto, superintendente
da área de Estruturação de Projetos do banco, a cláusula não deverá
ser utilizada porque existe demanda para o empreendimento. Segundo
o BNDES, o trem de alta velocidade deve transportar inicialmente 32
milhões de passageiros/ano e gerar receitas superiores a R$ 2 bilhões/
ano. Os dados seguem previsão realizada pelo consórcio Halcrow-Si-
nergia, vencedor da licitação para a realização de estudo sobre o trem-
bala. O superintendente destaca que um dos sinais de demanda para o
projeto é o aumento do número de passageiros de avião. Ele afirma que
no ano passado o país registrou um total de 132 milhões de passagei-
ros e que até setembro deste ano o mercado doméstico mantém ritmo
de crescimento de dois dígitos. O custo médio mundial de projetos de
trem de alta velocidade é da ordem de US$ 32,7 milhões por quilôme-
tro. O custo do trem-bala brasileiro foi estimado em US$ 35,36 milhões
por quilômetro com base em uma taxa de câmbio de R$ 1,70. O BNDES
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
175
afirma que a diferença de preço pode ser atribuída ao relevo acidenta-
do da região. O BNDES anunciou hoje que a participação máxima de
recursos públicos no financiamento será de até R$ 19,977 bilhões, atu-
alizada pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) e limitada
a 80% dos itens financiáveis pelo BNDES ou 60,3% do investimento
total. Segundo o superintendente, a medida provisória publicada hoje
permite na prática que o banco conceda um empréstimo superior ao
limite determinado pelo patrimônio de referência da instituição. Sem a
autorização do governo, o banco poderia emprestar até cerca de R$ 15
bilhões. “É um empréstimo muito grande para o tamanho do banco”,
disse. Ele destacou que o banco tem ainda uma carteira de projetos que
inclui grandes hidrelétricas, como Belo Monte. O financiamento será
concedido integralmente com custo de TJLP (Taxa de Juros de Longo
Prazo, atualmente em 6% ao ano) mais uma taxa de risco de crédito de
1% ao ano. O prazo de pagamento será de 30 anos, com seis meses
de carência após a data prevista para o início das operações. A entrega
dos envelopes pelos consórcios ocorrerá no dia 29 de novembro de
2010. O leilão ocorrerá em 16 de dezembro e a assinatura do contrato
de concessão será no dia 11 de maio de 2011.
Folha Online – 9/11/2010 – MP visa assegurar potencial de operação
do BNDES, diz governo
A Medida Provisória 511, publicada nesta segunda-feira no “Diário
Oficial da União”, que trata de garantia da União ao BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o trem-bala
de Rio de Janeiro a Campinas, também visa assegurar o potencial de
operação da instituição financeira, informou o subsecretário de Política
Fiscal do Tesouro Nacional, Marcus Aucélio. O artigo 1º da MP permite
à União renegociar as operações de crédito firmadas com o BNDES em
relação ao TAV (Trem de Alta Velocidade), para compatibilizar o fluxo
de caixa do banco. Na prática, isso significa que, caso o Tesouro tenha
a receber um valor determinado do BNDES a partir de um empréstimo
para a concessionária do trem-bala e a empresa, por problemas de
caixa não possa realizar o pagamento integral, o governo pode flexi-
bilizar os recebimentos devidos do banco, estendendo os prazos ou
renegociando o valor das parcelas. Outro artigo da MP permite à União
abater, até o limite total de R$ 20 bilhões, parte do saldo devedor de
operações de crédito do BNDES para obras de infraestrutura. Contudo,
esse abatimento refere-se a operações assinadas a partir da MP, que
176
João GilBerto pArenti couto
entrou em vigor nesta segunda-feira, e cujo provisionamento do banco
para possível perda seja superior a R$ 8 bilhões. O abatimento deverá
compensar até 90% das perdas sobre o valor provisionado. Na prática,
a operação funciona da seguinte forma: o BNDES acerta, por exemplo,
quatro financiamentos de R$ 20 bilhões cada um, e faz provisionamen-
to de R$ 4 bilhões para o projeto A, R$ 8 bilhões para o projeto B, R$
10 bilhões para o projeto C e 15 bilhões para o projeto D. Em caso
de problemas de inadimplência das empresas, a atuação do Tesouro
seria: como o primeiro projeto tem provisão abaixo de R$ 8 bilhões,
não há abatimento. No segundo, o abatimento de 90% se daria sobre
o valor da provisão (no caso, R$ 7,2 bilhões). No terceiro projeto, esse
abatimento seria de R$ 9 bilhões. Como o teto de projetos é de R$ 20
bilhões, a União só poderia, no exemplo, abater o restante do saldo
devedor do quarto projeto, ou R$ 3,8 bilhões (R$ 20 bilhões menos
R$ 7,2 bilhões e R$ 9 bilhões). O BNDES restituirá à União os valores
que venha a recuperar através de execução judiciária, por exemplo.
Mas, enquanto busca essa reparação dos devedores, ele poderá con-
tinuar operando em decorrência desse abatimento autorizado à União.
“Na prática, é como se estivéssemos capitalizando o banco”, admitiu
Aucélio. Em relação às operações para o trem-bala, a MP autoriza a
União a garantir o financiamento de até R$ 20 bilhões do BNDES para
o TAV, condicionada à apresentação de contragarantias como as ações
da SPE (sociedade de propósito específico) da concessionária que cele-
brar o contrato para as obras e as receitas da operação do trem de alta
velocidade. A MP também ainda autoriza a União a conceder subsídio
econômico ao BNDES de até R$ 5 bilhões, por meio de equalização de
taxas de juros, para as operações de financiamentos destinadas ao TAV.
Na prática, caso as receitas estejam aquém do esperado pela conces-
sionária, o Tesouro pagaria até aquele limite de R$ 5 bilhões a diferença
dos juros da dívida da empresa com o banco.
Belo Horizonte, 13 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
177
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministros da Fazenda, Guido Mantega; de Assuntos Estratégi-
cos, Samuel Pinheiro Guimarães; Secretário do Tesouro Nacional, Arno
Hugo Augustin Filho; Deputados(as) Federais; Governadores dos Esta-
dos da União; Diretores do IPEA e da FGV e jornais Estado de Minas, O
Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: O colapso do sistema financeiro internacional e as oportunida-
des que se abrem para o Brasil e a América do Sul.
Prezado Senhor Presidente,
No último dia 10, enviei a V. Exa. uma carta tratando do assunto em
epígrafe, cuja cópia segue em anexo, a qual gostaria de ajuntar mais
alguns comentários; desta vez para sugerir outros projetos de infra-
estrura básica que podem ser financiados com recursos provenientes
da troca de títulos da dívida pública em poder do bancos, por ações
de empresas especialmente criadas para esses empreendimentos, os
quais, pela sua natureza, dinamizarão a economia do País, gerando em-
pregos e rendas, sem provocar a inflação. Estes projetos, voltados para
a melhoria do sistema de transporte ferroviário urbano e saneamento
básico das regiões metropolitanas, requerem investimentos vultosos e
de retorno a longo prazos, não disponíveis no sistema financeiro, hoje
voltado para a especulação a curto prazo, mas existente de sobra nos
cofres dos bancos, na forma de títulos da dívida pública federal, cujo
montante, segundo a imprensa, supera a casa dos R$ 2 trilhões de
reais.
O primeiro desses projetos diz respeito ao combate às enchentes que
assolam sazonalmente a capital paulista e sua região metropolita-
na, cujas providências, até hoje, segundo a imprensa, restringem-se
à construção dos chamados “piscinões”, cloacas assoreadas que se
prestam mais para criatórios de mosquitos da dengue do que qualquer
outra coisa. A solução está em se criar um sistema rápido de escoa-
mento das águas dos rios Tietê e Pinheiros, de tal forma que, durante
as chuvas, mesmo as torrenciais mais fortes, não transbordem para
fora de seus leitos. Para isto é preciso que se faça um levantamento
integral dessas duas bacias hidrográficas, a fim de que sejam removi-
dos todos os obstáculos que retardam o fluxo de suas águas, inclu-
sive eliminando, ou reprojetando, barragens de quaisquer naturezas,
178
João GilBerto pArenti couto
naturais ou artificiais, ao longo de seu percurso, até que suas águas
ganhem áreas livres para escoarem com rapidez de forma natural. Com
estes dados às mãos, será possível fazer um projeto integrado visando
ao alargamento e aprofundamento do leito desses dois rios para au-
mentar a capacidade de escoamento rápido, os quais serão revestidos
apropriadamente para evitar os problemas de erosão e assoreamento
que poderão comprometer a eficiência e durabilidade da obra. Sobre o
novo leito, num plano elevado, serão implantados trens urbanos para
transporte de passageiros, evitando, consequentemente, a construção
de novas rodovias que, em pouco tempo, estarão saturadas, como vem
acontecendo com todas as existentes.
Para tocar esses dois projetos, o combate às cheias e o trem metro-
politano, será criada, pelo governo federal, uma empresa nos moldes
daquela sugerida na carta do dia 10 para o caso do Trem-Bala, e outros
projetos nela citados, ou seja, com capital advindo da troca de títulos
da dívida pública federal, em poder dos bancos, por ações passíveis de
serem negociadas na Bolsa de Valores. Paralelamente, os municípios
da Região Metropolitana da capital paulista, juntamente com o Governo
do Estado de São Paulo, formarão um consórcio para fazer um levan-
tamento completo de todo o sistema de água e esgoto das bacias dos
rios Tietê e Pinheiros, diretamente influenciado por esse megaprojeto
do Governo Federal, de tal forma que o saneamento básico dessa im-
portante região se transforme num modelo a ser adotado em todas as
regiões metropolitanas do País. Para tocar esses projetos, de levanta-
mento e de renovação de toda a infraestrutura existente, esse consórcio
metropolitano paulista criará uma empresa que será capitalizada pelo
Governo Federal com a troca de títulos da dívida pública por ações,
como sugerido anteriormente.
Outros projetos de infraestrutura básica espalhados pelo País, paralisa-
dos ou em ritmo lento por falta de verbas, como os trens metropolita-
nos de diversas capitais, ferrovias, renovação e construção de portos e
aeroportos, podem igualmente ser financiados da mesma forma. Para
isto, basta o Governo Federal estudar a melhor maneira de financiá-los
dentro desta nova estratégia de aporte de capital, via renegociação da
dívida pública federal, e procurar implementá-los com apoio da inicia-
tiva privada e dos governos estaduais e municipais interessados. Além
desses projetos, outros, de cunho ambiental e social, podem também
ser financiados da mesma maneira, bastando que se crie uma empresa
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
179
específica para cada caso. Um exemplo é a erradicação das favelas que
cercam a Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, a terceira maior floresta
urbana do planeta, situada no Maciço da Tijuca, onde se localiza o Par-
que Nacional da Tijuca, criado para protegê-la.
Neste parque, e no seu entorno, proliferam favelas, como a da Roci-
nha, a maior da América do Sul, que continuam crescendo por entre a
vegetação que aos poucos vai sendo derrubada. Neste caso, como em
todos os outros projetos a serem financiados com recursos provenien-
tes da troca dos títulos da dívida pública federal em poder dos bancos,
por ações, deve ser criada uma empresa com finalidade específica. A
primeira missão desta empresa, que poderá incorporar o Parque Na-
cional da Tijuca, transformando-o numa empresa ambiental com ações
na Bolsa de Valores, será traçar os limites originais deste parque, para,
em seguida, começar o trabalho de recuperação, que terá início com
a construção, nas partes baixas e já degradadas do maciço, e junto de
vias urbanas consolidadas, de edifícios para abrigar os favelados, cujos
barracos e construções diversas serão demolidas e as respectivas áreas
reflorestadas. O passo seguinte será cercar toda a área de proteção
ambiental para conter novas invasões.
Com tais medidas, o ritmo da economia do País será acelerado, sem
aumento da inflação, e o cacife do Brasil para enfrentar a crise econô-
mica mundial que se avizinha será reforçado, possibilitando, inclusive,
proteger o mercado sul-americano das investidas do capital especula-
tivo, desde que todos os países deste continente passem a integrar o
Mercosul e adotar o “Peso-Real” como moeda de troca. Mas isto são
outros quinhentos, como se diz, pois depende da disposição de V.
Exa., Sr. Presidente, em se candidatar a Presidência da Unasul, para
promover a integração do continente e colocá-lo como parceiro do de-
senvolvimento econômico e social do Continente Africano, uma dívida
social que está no momento de ser resgatada.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Belo Horizonte, 14 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
180
João GilBerto pArenti couto
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José
Alencar; Ministros da Fazenda, Guido Mantega; de Assuntos Estratégi-
cos, Samuel Pinheiro Guimarães; Secretário do Tesouro Nacional, Arno
Hugo Augustin Filho; Deputados(as) Federais; Governadores dos Esta-
dos da União; Diretores do IPEA e da FGV e jornais Estado de Minas, O
Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: O colapso do sistema financeiro internacional e as oportunida-
des que se abrem para o Brasil e a América do Sul.
Prezado Senhor Presidente,
Nos dias 10 e 13 últimos, escrevi a V. Exa. duas cartas, cujas cópias
seguem em anexo, tratando do assunto em epígrafe; focadas na troca
de títulos da dívida pública em poder dos bancos, por ações emitidas
pelo Tesouro Nacional, lastreadas pelo Fundo Soberano, para capitali-
zar empresas criadas com finalidades específicas, algumas das quais
citadas nessas cartas.
Agora, volto ao assunto para esclarecer que esse processo de permuta
é muito semelhante ao adotado pelo Governo Federal para capitalizar a
Petrobras; neste caso utilizando as reservas de petróleo e gás natural
do Pré-Sal, fato recentemente ocorrido. A diferença entre estes dois
processos reside somente onde se guarda esses bens da União: no
primeiro caso, no Baú do Tesouro Nacional, e no segundo, no fundo
do Oceano Atlântico.
Consequentemente, estes patrimônios da União, um real, os títulos do
Tesouro, e outro virtual, as reservadas do Pré-Sal, podem ser trocados
por ações negociáveis na Bolsa de Valores, garantindo aos portadores
uma confiabilidade superior àquela dos títulos do Tesouro Norte-Ameri-
cano, que são resgatados com dólares emitidos sem lastro algum. Esta
liquidez atrairá não só o capital nacional, como, também, o internacio-
nal, sempre interessado em investimentos rentáveis e de longo prazo.
Por oportuno, é bom esclarecer que o capital de uma empresa específi-
ca, como, por exemplo, a que vier a ser criada para construir a Ferrovia
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
181
Belo Horizonte-São Paulo, estará embasado em uma concessão seme-
lhante à adotada nos casos das privatizações das rodovias federais, in-
clusive com o pagamento pela concessão, mas com um detalhe a mais:
haverá uma renda mínima pela sua exploração, como estabelecida no
caso do Trem-Bala.
O pagamento pela concessão também deverá ser feito pelo banco inte-
ressado, ou consórcios de bancos, com títulos da dívida pública, assim
como as novas chamadas de capital, em caso de necessidade, pois a
finalidade dessas empresas específicas, além de implantar esses proje-
tos, está em reduzir o estoque da dívida pública para baratear os juros
e, consequentemente, atrair investimentos em atividades produtivas.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
182
João GilBerto pArenti couto
PARTE XIV
ONDE ESTARÁ A ECONOMIA MINEIRA NOS
PROXIMOS 15 ANOS?
Belo Horizonte, 14 de agosto de 2010
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Deputados(as) Federais; Senadores de Minas no Con-
gresso Nacional; Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José Alencar
e jornais Estado de Minas e O Tempo.
Assunto: Onde estará a economia mineira nos próximos 15 anos?
Prezado Senhor Governador,
A pergunta acima, que abre um artigo publicado na edição de ontem,
dia 13, do Jornal Estado de Minas (p.14), intitulado “Economia mineira
enfrenta desafio”, está a merecer algumas reflexões por parte dos po-
líticos e governantes mineiros, dada a responsabilidade de cada um na
condução dos interesses do Estado no contexto federativo do qual faz
parte, e a omissão de alguns em cumprir com suas obrigações cívicas.
Neste caso, enquadram-se aquele governador que se omitiu quando
o Presidente FHC baixou a Lei Kandir, que prejudicou o Estado e os
municípios mineradores, prejuízo ainda não reparado; aquele outro que
permitiu a privatização da Cia. Vale do Rio Doce, em troca da duplica-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
183
ção da BR-381 entre Belo Horizonte e Governador Valadares, obra que
até agora não foi executada; ou, ainda, o último, que aceitou da VALE
3 milhões de reais, para pagar um projeto arquitetônico de uma obra
feita à revelia dos mineiros, em troca do silêncio sobre as atividades
predatórias desta companhia no Estado, cujo desprezo para com os
mineiros é conhecido de todos; desprezo este causado, entre outros
motivos, pela aceitação desses pratos de lentilhas, atitude própria de
pedintes. Este sentimento de repulsa é compartilhado pelo Presidente
Lula, que aqui venceu duas eleições, mas que deu as costas ao Estado,
pois, durante seu duplo governo, esteve com suas atenções voltadas
para o Nordeste, sua terra natal.
Esta indiferença presidencial não foi cobrada por ninguém, nem pela
mídia mineira, se existe; isto num quadro em que mineiros ilustres
estão aboletados em cargos do primeiro escalão do Governo Federal,
além de um Vice-Presidente da República muito badalado e incensado
nos meios políticos, empresariais e governamentais. Aqui uma pergun-
ta: o que estão fazendo no Congresso Nacional os senadores eleitos
para defenderem o Estado? Quem são eles, afinal de contas? E os
Deputados Federais, para que foram eleitos? Por que esses políticos,
e os Deputados Estaduais também, não lutam para trazer para Minas
Gerais pelo menos uma das quatro usinas atômicas projetadas pelo
Governo Federal? As regiões dos vales do Jequitinhonha, Mucuri, ou,
mesmo, o entorno de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, são
locais próprios para tal tipo de usina; isto sem contar que essas regiões
podem receber usinas termoelétricas movidas a gás, pois estão muito
próximas das jazidas do litoral Atlântico e carecem de energia para
impulsionar seu desenvolvimento econômico e social.
Voltando ao artigo citado, ele começa assim: “Onde estará a economia
mineira nos próximos 15 anos? Mais ou menos onde sempre esteve,
o que pode levar o estado a perder participação no cenário nacional
e a aumentar as desigualdades intrarregionais. Estudo realizado pela
Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da Universidade Federal de
Minas Gerais (UFMG) mostra que o aumento da participação dos seto-
res extrativistas, de metalurgia e siderurgia no Produto Interno Bruto
(PIB) estadual, combinado com a desaceleração das exportações, leva-
rão a uma queda de 0,6 ponto percentual – de 9,1% para 8,5% – na
participação do estado na economia nacional. [...] O cenário traçado
pelos professores da UFMG mostra que, nos próximos cinco anos, as
exportações ainda crescerão muito, mas a partir de 2015 a tendência
184
João GilBerto pArenti couto
é de desaceleração. ‘Não há dúvidas de que a economia mineira se
especializou no setor mínero-metalúrgico, porque isso trouxe uma van-
tagem importante para o estado. Mas, lá na frente, quando a economia
nacional mudar o seu foco, essa especialização pode não ser mais tão
benéfica’, diz Edson Domingues, professor da Face/UFMG e um dos
autores da pesquisa. [...] Para Jane Noronha, professora de economia
da Universidade Newton Paiva, as perspectivas traçadas pelo estudo da
UFMG fazem sentido. ‘Além de baixo valor agregado, o minério é vulne-
rável à cotação internacional. Não há alternativas para absorver eventu-
ais quedas do mercado externo dentro do mercado interno’, sustenta”.
A propósito, é bom lembrar que as Minas Gerais deram sustento a
Portugal no tempo do Brasil Colônia e, desde a independência, vem
fazendo o mesmo com o Brasil Imperial e Republicano com suas ri-
quezas minerais – ouro, diamante, ferro, manganês, bauxita, nióbio,
urânio, zinco, fosfato, calcário, etc.–, inclusive, financiando projetos em
outros Estados da federação, como o Pará e Maranhão, que foram be-
neficiados com os recursos da Cia. Vale do Rio Doce, auferidos de suas
jazidas do Quadrilátero Ferrífero, com os quais viabilizou a exploração
do minério de ferro da Serra dos Carajás, desde as minas até o porto,
passando por uma ferrovia de primeira linha. Estes projetos enriquecem
e transformaram as economias desses Estados, que, de outra forma,
continuariam pobres como sempre foram. Além disso, outros Estados
da federação têm sido beneficiados pela generosidade dos mineiros
que viabilizaram a siderurgia, ferrovias e portos nos Estados de São
Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Hoje em dia, a VALE, livre de
suas raízes, constrói no Estado do Pará uma gigantesca siderúrgica
por força das pressões dos políticos daquele Estado, liderados por
uma governadora muito esperta e atuante. Obra semelhante nunca foi
cobrada dessa companhia pelos omissos e acomodados políticos e
governantes mineiros, seja para Itabira, berço dessa empresa, ou para
o Estado onde continua se nutrindo. Esta atitude omissa faz jus ao que
deles disse Getulio Vargas, um estadista lúcido e de mão forte que fazia
as coisas acontecerem: “Uma cambada de bois mansos”.
Mas esse quadro de omissão pode mudar, se os políticos e governan-
tes mineiros quiserem, e agirem, pois as riquezas minerais do Estado,
e sua posição geográfica, permitem que daqui a quinze anos a resposta
à pergunta que abriu estas considerações – “Onde estará a economia
mineira nos próximos 15 anos?” – pode ser bem diferente do cenário
traçado pelos professores da UFMG. Os argumentos em favor desta
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
185
tese estão sintetizados em três cartas dirigidas ao Exmo. Sr. Presidente
da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tratando dos seguintes assun-
tos: “A construção da Ferrovia Belo Horizonte-São Paulo” (17/7/2010),
“Reestruturação do Sistema Ferroviário/Portuário da Região Sudeste”
(23/7/2010) e “A construção de uma nova Ferrovia Belo Horizonte-
Vitória e sua importância para a indústria siderúrgica, mineração e re-
estruturação dos portos da Região Sudeste” (27/7/2010).
Na expectativa de que os assuntos tratados nessas cartas, anexadas à
presente, sirvam para subsidiar projetos políticos a serem apresentados
aos eleitores nas eleições de outubro próximo, e desejando sucesso ao
governo de V. Exa., e na campanha à reeleição, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Belo Horizonte, 19 de agosto de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Srs.(as) Prefeitos(as) de Belo Horizonte e dos demais
municípios mineiros situados no eixo das rodovias BR-381 (Belo Hori-
zonte-São Paulo) e BR-262 (Belo Horizonte-Vitória); Diretorias da As-
sociação Mineira de Municípios (AMM) e da Associação dos Municípios
Minerados de Minas Gerais (AMIG); Exmos. Srs. Luiz Inácio Lula da
Silva, Presidente da República; José Alencar, Vice-Presidente da Repú-
blica; Nelson Jobim, Ministro da Defesa; Senadores por Minas Gerais
no Congresso Nacional, e Deputados Federais. Com cópias também
para os jornais Estado de Minas e O Tempo.
Assunto: Onde estará a economia mineira nos próximos 15 anos?
Prezado Senhor Governador,
No dia 14 último, enviei a V. Exa. uma carta tratando do assunto em
epígrafe, a qual gostaria de ajuntar mais alguns comentários, pois este
186
João GilBerto pArenti couto
tema interessa a todos os municípios mineiros, principalmente aque-
les produtores de minério de ferro. Mas, antes, gostaria de fazer dois
reparos no que foi exposto nessa carta, cuja cópia segue em anexo. O
primeiro deles foi um erro, ao nomear a rodovia que liga Belo Horizonte
a Governador Valadares, a BR-381, como BR-262. O segundo foi um
lapso, ao não informar que o “prato de lentilhas” que coube ao Gover-
nador do Estado que foi cúmplice na aprovação da Lei Kandir, que pre-
judicou os municípios mineradores para beneficiar as companhias de
mineração de ferro, foi o cargo de diretor em uma subsidiária de uma
empresa de mineração e siderurgia; cargo este que passou a exercer
tão logo foi apeado do poder pelo voto popular.
Voltando ao tema principal que motivou esta carta, começo transcre-
vendo alguns trechos dos noticiários disponíveis na Internet sobre a
Ferrovia Transnordestina, os quais reforçam os argumentos constan-
tes das cartas anexadas à correspondência do dia 14: “Criticado pelo
governo por não ter se ‘empenhado’ nas obras da ferrovia Transnor-
destina, o executivo Benjamin Steinbruch, que comanda o consórcio
do projeto, enfrentou saia-justa na viagem com o presidente Lula ao
canteiro no semiárido pernambucano. Em cima de um trecho de trilho
montado apenas para a produção de fotografias, Lula olhou para Stein-
bruch e perguntou: ‘Você sabe quem me disse que pode fazer trilhos?’.
E emendou: ‘O Roger Agnelli, da Vale. Ele disse que vai fazer trilhos na
siderúrgica que está construindo em Marabá’. Depois de ouvir o nome
do rival no mundo dos negócios, Steinbruch, desconcertado, disse: ‘Aí,
é covardia’”.
Essa notícia, a de que a VALE “vai fazer trilhos na siderúrgica que está
construindo em Marabá”, é um dos dados que gostaria de acrescentar
à carta do dia 14, juntamente com o seguinte questionamento: Os polí-
ticos mineiros, o que estão fazendo a respeito? Por que não cobraram,
até agora, dessa companhia, a construção de uma siderúrgica com
essa finalidade em Itabira, onde nasceu e cresceu? Seria por que, como
disse Vargas, são “uma cambada de bois mansos”?
Segundo informações disponíveis na Internet, “A Transnordestina liga
o município de Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Suape (PE) e
Pecém (CE), através de 1.728 quilômetros de trilhos. Essa extensão
equivale a quatro vezes a distância entre o Rio de Janeiro e São Paulo.
Sua conclusão está prevista para dezembro de 2012. O presidente da
Transnordestina Logística, Tufi Daher Filho, revelou que a empresa já
importou 170 mil toneladas de trilhos, de um total de 270 mil toneladas
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
187
que serão necessárias. ‘Hoje (ontem) é o dia em que comemoramos o
avanço das obras’, resumiu, convidando Lula a inaugurar alguns tre-
chos que, segundo ele, devem ficar prontos até o fim deste ano”.
A construção dessa ferrovia, que liga nada a coisa nenhuma, pois por
onde passa nada se produz, revela o espírito demagógico-eleitoreiro
do atual Presidente da República. Por que, ao invés de construir essa
ferrovia, não se constrói outra que realmente beneficiará o Nordeste e o
Brasil Central por várias gerações, e com menor extensão? Trata-se de
uma ferrovia, com cerca de 1.500 km ligando Recife, no Estado de Per-
nambuco, a Palmas, no Tocantins, onde se conectará com a Ferrovia
Norte-Sul. A sinergia entre esta duas ferrovias porá essas regiões num
plano elevado para investimentos no agronegócio, portos, etc., abrindo
novas perspectiva para os nordestinos; fato que não acontecerá com a
Transnordestina, que os manterá, pelo seu traçado, prisioneiros dentro
do mesmo círculo de giz em que vivem: a miséria.
Mas tal viés da personalidade do Presidente Lula, a tomada de decisões
polêmicas e irracionais para beneficiar o Nordeste a qualquer custo,
verifica-se também em outras obras igualmente polêmicas e inacaba-
das, como a transposição do Rio São Francisco e a Siderúrgica do
Ceará. Ora! Em pleno século XXI, levar água por meio de canais a
céu aberto, para matar a sede dos nordestinos, irrigação, ou outras
finalidades, remete-nos aos tempos anteriores aos romanos, que cons-
truíram aquedutos por todo o seu império para transportar a água de
que necessitavam. Na atualidade, versões modernas desses aquedutos,
as adutoras, que utilizam tubulação de aço, podem levar água para a
toda parte, a um custo bem menor, sem perdas de qualquer espécie
ou danos ao meio ambiente. Além de transportarem água na quanti-
dade que se desejar, evita a ação predatória dos gatos, tipo de roubo
que vai inviabilizar os canais do Lula. Como proibir gente sedenta,
miserável, com água à sua porta, de utilizá-la da forma que julgar mais
conveniente ou contaminá-la com dejetos de toda ordem? Os políticos
nordestinos vão impedi-las? Pois, sim! Isto, sem contar que a própria
Bacia do Rio São Francisco necessita de toda a sua água para tornar
produtivas as férteis terras de seu vale, como já está provado em vários
pontos deste imenso território, principalmente nos Estados da Bahia e
Pernambuco, terra do Presidente.
A água de que o Nordeste necessita está disponível na Bacia do Rio
Amazonas, de sobra, pois até navios estrangeiros já estão enchendo
seus tanques com ela. Estações de bombeamento, movidas por peque-
188
João GilBerto pArenti couto
nas centrais nucleares, que a Marinha do Brasil está apta a produzir,
podem transportar esse precioso líquido, por meio de adutoras, desde
os locais mais favoráveis para sua captação nessa vasta bacia até seus
destinos, distribuindo-o por meio de uma rede capilar por toda parte
deste território, sem diminuir a vazão do Amazonas, ou de seus afluen-
tes, e sem causar danos ao meio ambiente. É parar para pensar e agir
racionalmente, planejando antes de tomar decisões inconsequentes.
Neste caso, como foi dito anteriormente, enquadra-se a Siderúrgica do
Ceará. Por que no Ceará? Lá existem ferro, água ou outros insumos bá-
sicos para o seu funcionamento? Longe das fontes de matérias-primas,
em tudo em desvantagem com a Região Sudeste, principalmente em
relação ao Estado de Minas Gerais, por que esse ente federado foi es-
colhido? Será por que seus políticos não formam uma “uma cambada
de bois mansos”?
A propósito, é bom lembrar que o Estado de Minas Gerais, com área
total de 582.586 km², é maior do que a França (551 500 km²), ou
equivalente a Grã-Bretanha (229 850 km²) e Alemanha (357 050 km²)
juntas, e que a história da formação destas duas nações como potên-
cias mundiais são semelhantes, quando comparados os fundamentos
que lhes deram sustentação num momento crítico da ascendência delas
ao Primeiro Mundo. A musculatura que deu sustentação à Revolução
Industrial e à indústria ferroviária que fez da Grã-Bretanha um império
foi o carvão mineral de suas jazidas. No caso da Alemanha, ocorreu o
mesmo com suas jazidas desta matéria-prima mineral, gerando o nas-
cimento da siderurgia e indústria química no Vale do Rhur. Esta fonte
de energia permitiu também aos Estados Unidos da América a criação
de um poderoso parque siderúrgico na região de Pittsburgh. No final
do século XIX, e isto até meados da década de 1960, esta cidade foi o
maior polo siderúgico e o maior produtor de aço do mundo. Mais tarde
o petróleo do Texas desbancou essa fonte de energia fazendo da Amé-
rica uma potência mundial. Em todos esses casos, o polo irradiador
do desenvolvimento esteve concentrado numa região específica desses
países, onde se explorava uma determinada substância mineral.
A Região Sudeste, com área total de 927.286 km² e uma população
superior a 80 milhões de habitantes, embasada nas riquezas das Minas
Gerais, particularmente, o minério de ferro de suas jazidas, e nas vastas
reservas de petróleo e gás da Plataforma Continental, especialmente
as do Pré-Sal, tem tudo para repetir os êxitos alcançados pela Grã-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
189
Bretanha, Alemanha e pelos Estados Unidos da América nos seculos
passados. Musculatura para dar sustentação a essa ascenção não falta;
o que está faltando é cérebro. Sem cabeças pensantes, políticos ágeis
e operantes, e uma população instruída, o Estado de Minas Gerais, a
Região Sudeste e o restante do País continuarão sendo o que sempre
foram: meros fornecedores de matérias-primas para dar sustentação
a outras potências emergentes, no momento a China. Este lugar, de
potência do século XXI, caberia, por todos os méritos, ao Brasil, ocu-
pando Minas Gerais um lugar de destaque, mas o que se observa é a
mediocridade dos políticos, governantes e empresários para quem o
que importa é pagar juros para manter a moeda estável, garantindo
rendas aos banqueiros; o pagamento do “Bolsa-Família” para manter a
plebe calada; projetos como “Amigos da Escola” e “Criança Esperança”
da Rede Globo, como soluções para as graves deficiências na educação
pública, enfim, a prevalência da fantasia sobre a realidade.
Este quadro cinzento deve continuar, considerando as propostas da
primeira colocada na corrida presidencial: “Caso eu seja eleita, minha
função será concluir a Transnordestina e prolongar a Norte-Sul, que
são as questões mais estratégicas para o nosso país. Segundo ela, os
estados do Nordeste e do Centro-Oeste precisam escoar sua produção,
e terão um surto de crescimento e de desenvolvimento, com as duas
ferrovias”. Diante dessa situação é bom que os mineiros cobrem dos
candidatos a cargos eletivos propostas mais consistentes para o desen-
volvimento econômico e social do País, principalmente as relacionadas
com a Região Sudeste, e o papel de Minas Gerais nesse contexto. Os
jornais também devem cumprir com sua missão, já que as TVs minei-
ras são operadas por controle remoto de outros Estados. Por que não
colocam em suas páginas temas como a construção das ferrovias Belo
Horizonte-São Paulo e Belo Horizonte-Vitória? Argumentos para esta
discussão podem ser encontrados nas cartas anexadas à presente e
em quatro livros de minha autoria disponíveis na Biblioteca Digital do
Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br).
Desejando sucesso ao governo de V. Exa., e na campanha à reeleição,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
190
João GilBerto pArenti couto
Indústria Ferroviária
Belo Horizonte, 24 de agosto de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos. (as) Srs. (as) Deputados (as) Estaduais
de Minas Gerais; Srs. (as) Prefeitos (as) dos Municípios Minerados
de Minas Gerais; Diretorias daAssociação dos Municípios Minerados
de Minas Gerais (AMIG); da Associação Mineira de Municípios (AMM)
e da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG); Exmos. Srs.
Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República; José Alencar, Vice-
Presidente da República; Nelson Jobim, Ministro da Defesa; Senadores
por Minas Gerais no Congresso Nacional e Deputados Federais. Com
cópias também para os jornais Estado de Minas e O Tempo.
Assunto: Indústria Ferroviária.
Prezado Senhor Governador,
Nos dias 14 e 19 do corrente mês, enviei a V. Exa. duas cartas tratando
do seguinte assunto: “Onde estará a economia mineira nos próximos
15 anos?”; tema que serviu de abertura para uma reportagem publi-
cada pelo Jornal Estado de Minas. Na edição do dia 21/7/2010 (p.14),
esse mesmo jornal publica uma reportagem tratando do assunto em
epígrafe, que por ter relação com os tratados naquelas cartas, gostaria
de adicionar alguns comentários e, como mineiro, interessado no de-
senvolvimento do Estado, dar algumas sugestões.
Antes, porém, para facilitar esta exposição, transcrevo trechos deste ar-
tigo, intitulado Truques feitos no Vale do Aço: “A locomotiva que puxa
o mercado ferroviário de cargas no Brasil está em aceleração e já mo-
vimenta investimentos expressivos. Uma das empresas que não quer
perder o bonde desse momento de expansão do setor é a Usiminas Me-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
191
cânica, que acaba de fechar acordo de transferência de tecnologia com
a americana Standard Car Truck (SCT) para a fabricação de truques
ferroviários (conjunto de peças que compõem a base dos vagões, com
rodas, molas e eixos) em sua planta de Ipatinga, no Vale do Aço. [...]
‘A estratégia é de agregar valor ao aço e é isso que estamos fazendo
ao produzir truques para abastecer não só a nossa fábrica de vagões,
mas também o mercado com um todo’, afirma o superintendente de
Fundição, Forjaria e Vagões da Usiminas Mecânica, Jairo Andrade Cruz
Junior”.
Esta notícia permite que se faça a seguinte pergunta: por que não incen-
tivar todas as siderúrgicas que operam no Estado a copiarem o modelo
da Usiminas, que criou a Usiminas Mecânica em 1970 para produzir
artigos diversos a partir do aço que fabrica, agregando não só valor aos
seus produtos, como também gerando empregos e rendas em território
mineiro? Em seu Site na Internet, esta empresa dá a receita: “De forne-
cedora de equipamentos e estruturas metálicas para a construção civil
e mecânica, a Usiminas Mecânica se transformou em uma provedora
de soluções criativas e inovadoras para as indústrias siderúrgica, mine-
radora, automotiva, energética, petroquímica, naval e infraestrutura. A
capacidade de entender e se adaptar às necessidades dos clientes faz
com que a Usiminas Mecânica também esteja sempre preparada para
trabalhar em novos mercados. Para atender com excelência aos seus
clientes, a empresa se estruturou em unidades de negócios que atuam
de maneira independente ou em conjunto, desde a concepção do proje-
to à instalação. Atualmente, é referência na fabricação sob encomenda
de equipamentos, estruturas metálicas, pontes, viadutos, fundidos, for-
jados, vagões, blanks e montagens industriais”.
Esse é um exemplo que pode ser seguido, não só pelas demais si-
derúrgicas que operam no Estado, mas que ainda não diversificaram
sua produção, como também pelas companhias mineradoras que se
limitam a exportar minério de ferro em estado bruto, como é o caso da
VALE. O exemplo desta empresa deve ser citado, não só por ser uma
companhia extrativista por excelência que, ao longo dos seus mais de
60 anos de existência, limitou-se a exportar minério de ferro sem agre-
gar nada de valor à sua produção, como também pelo desprezo que de-
vota aos interesses econômicos do Estado, embora, no passado, foram
os mineiros que lutaram para salvar este patrimônio nacional do capital
especulativo internacional. Já esqueceram das lutas de Artur Bernardes
para conter as ações especulativas de Percival Farquhar, e de Getulio
192
João GilBerto pArenti couto
Vargas que, à frentre da Revolução de 30, encampou as reservas de
ferro deste capitalista? A VALE, privatizada e globalizada, conseguiu,
com sua atuação colonialista e imperialista em terras mineiras, realizar
as ambições de Farquhar: anular os ideais nacionalistas de Bernandes
e Vargas, e se apossar das riquezas minerais do Estado para utilizá-las
ao seu bel prazer. É um retrocesso inadimissivel!
A VALE, pela sua história, e pelo que representa para a economia minei-
ra, deveria ser chamada a explicar, na Assembleia Legislativa, a razão
de estar construindo uma siderúrgica gigante no Estado do Pará, onde
extrai minério de ferro na Serra do Carajás, e porque ainda não fez o
mesmo em Minas Gerais, onde nasceu e se fortaleceu. Além disso, é
bom saber, também, por que está projetando uma fábrica de trilhos
para ferrovia junto a essa siderúrgica, se aqui em Minas Gerais não pro-
duz nem prego; limitando-se a caçar macacos-prego pelos matos para
dizer que está contribuindo com projetos ecológicos relevantes para o
Estado? O que, afinal de contas, essa empresa tem feito para o Estado
de Minas desde que foi privatizada, além de aumentar sua produção
extrativista? Não está na hora de os deputados mineiros partirem para a
luta e exigirem a sua reestatização, mas dentro de um novo modelo no
qual o Estado de Minas passaria a ser acionista com direito a voto?
Para viabilizar este novo modelo, Minas Gerais entraria, como aporte de
capital, com as jazidas de nióbio e fosfato que possui em Araxá, hoje
exploradas pela CODEMIG em associação com uma empresa privada. A
incorporação deste patrimônio valiosíssimo do povo mineiro ao capital
da VALE será mais que suficiente para que o Estado de Minas possa ter
uma participação decisiva nos destinos desta companhia, inclusive para
promover um retorno à denominação original que a fez famosa: Com-
panhia Vale do Rio Doce. Para reforçar esta proposta, é bom lembrar
que a VALE está investindo pesado na aquisição ou participação em
jazidas de fosfato no Brasil e no exterior. Além disso, a incorporação
do Nióbio ao seu portfólio elevará o valor de suas ações a níveis nunca
alcançados, pois o aço, e outras ligas metálicas, fabricados com este
mineral estratégico, dominará o mercado nas próximas décadas.
Mas não é só a VALE que os deputados mineiros devem convocar para
se explicar. Existem outras mineradoras que estão agindo da mesma
forma, como as de um especulador, um Percival Farquhar redivivo,
que andou vendendo várias jazidas de minério de ferro localizadas em
território mineiro para grupos estrangeiros, com a única finalidade de
exportarem minério bruto, sem que os políticos do Estado fossem se-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
193
quer cheirados. Estas jazidas, inclusive, não foram por ele descobertas,
pois já eram conhecidas no setor mineral há décadas. Neste particular
seria interessante que os deputados mineiros analisassem a origem
dos Alvarás de Pesquisa dessas jazidas, e os respectivos Decretos de
Lavra, e como eles foram cair no colo desse felizardo de uma hora
para outra, tornando-o bilionário – em dólares! A única preocupação
desse especulador é distribuir aos políticos mineiros, para mantê-los
calados e fazerem de conta que não estão vendo nada, míseros “pires
de lentilhas”, na forma de “centros culturais”, como aquele instalado na
Praça da Liberdade, onde não precisou construir nada, exceto destruir
o interior de uma antiga secretaria de Estado, para aí instalar uma para-
fernália eletrônica, apelidada de “museu”. É uma afronta!
O que os deputados mineiros podem fazer para mudar este quadro
é elaborar leis que condicionem a exportação de minério de ferro em
estado bruto, ou em pelotas, à transformação em território mineiro de
igual quantidade em aço. Para tornar esta política viável economica-
mente e atrair investimentos não especulativos, deverá haver incentivos
diferenciados: taxas e impostos elevados para minério exportado em
estado bruto; incentivos fiscais crescentes para as mineradoras que
produzirem aço em território mineiro; incentivos maiores ainda quando
diversificarem sua produção de aço, como é o caso da USIMINAS, que
possui jazidas de minério de ferro, mas produz aço e derivados de alto
valor agregado. Além disso, devem rever todos os incentivos concedi-
dos pelo Poder Executivo às empresas exportadoras de minério de ferro
em estado bruto, principalmente aquelas que utilizam minerodutos.
Neste caso, para que esses incentivos sejam mantidos, essas empresas
devem associar-se para construírem a Ferrovia Belo Horizonte-Vitória,
pois o que interessa aos mineiros é que, uma vez exauridas as jazidas,
esta ferrovia continue prestando serviços à economia do Estado, o que
não acontecerá com os minerodutos, que simplesmente serão abando-
nados, apodrecendo e contaminando o solo por gerações. Empresas
mineradoras que poderão se interessar por esta solução, são aquelas
que vão explorar as jazidas de minério de ferro da Serra do Espinhaço,
entre Conceição do Mato Dentro e Serro, e as da região de Guanhães,
que adotaram este recurso para fugir do monopólio de transporte da
VALE, com sua exclusiva Ferrovia Vitória-Minas. Outras companhias
mineradoras que poderão se associar para construir a Ferrovia Belo
Horizonte-Vitória são aquelas com jazidas no Quadrilátero Ferrífero e
que não têm como levar sua produção aos portos do Espírito Santo
194
João GilBerto pArenti couto
por falta de transporte, recorrendo aos minerodutos como solução al-
ternativa.
O que deve ficar claro na atuação dos deputados mineiros é que, se
de um lado a União é detentora das riquezas do subsolo, e legislar a
respeito, o solo, e tudo que nele cresce e se movimenta, diz respeito
aos Estados e Municípios; entes federados que arcarão, ao final das
contas, com o passivo ambiental deixado pela mineração, que é muito
diferente daqueles deixados pelas empresas petrolíferas que extraem
petróleo a 300 km da costa, onde os danos, se houverem, não afeta-
rão um palmo de terra continental onde vivem as pessoas. Portanto,
os deputados estaduais, ao convocarem as mineradoras para darem
explicações de como estão utilizando, ou como vão utilizar, as rique-
zas minerais que ocorrem em território mineiro, estão exercitando um
direito constitucional que é o de salvaguardar os interesses de cada
cidadão e do Estado.
Não é possível continuar com a atual política mineral, onde a União
pode tudo e os Estados nada podem, sendo meros espectadores dos
predadores que agem em seus territórios sem darem a mínima satisfa-
ção do que fazem ou pretender fazer. Todas as medidas tomadas pelo
Governo Federal, em relação às empresas de mineração, são executa-
das à revelia dos Estados, que nada podem fazer para resguardar seus
interesses. Mas a hora dessa revisão chegou, pois está para ser votado
no Congresso Nacional um novo Código de Mineração. É o momento
certo para os deputados, estaduais e federais, e senadores mineiros
agirem no sentido de dividir com a União os direitos e deveres na
condução de uma política mineral que atenda a todos os entes federa-
dos – União, Estados e Municípios –, principalmente aqueles onde a
mineração é uma atividade relevante, em termos econômicos e sociais,
como é o caso de Minas Gerais. A propósito, os deputados estaduais de
Minas participaram da elaboração desse novo Código de Mineração, ou
simplesmente foram ignorados? Se não participaram, o que estão es-
perando para cobrar do governador uma ação concreta nesse sentido?
Afinal de contas, são os interesses maiores do Estado é que estão em
jogo. Ignorar este fato é uma irresponsabilidade sem tamanho.
A extração de uma riqueza mineral gera lucros para o investidor, mas
também prejuízos para o meio ambiente, fato inevitável. O balanço das
perdas e ganhos é que deve orientar uma política mineral consistente.
Neste caso, o Estado de Minas tem todo o direito de intervir nesse
processo para disso tirar o melhor proveito e não ser o maior prejudica-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
195
do. Se houver discordâncias a respeito, os deputados mineiros devem
procurar modificar as leis do Estado e da União, inclusive propor uma
revisão constitucional, se for o caso, para que os interesses de Minas e
dos mineiros sejam respeitados. Uma comissão Parlamentar de Inqué-
rito, criada pela Assembléia Legislativa do Estado, seria o foro adequa-
do para fazer um balanço da atuação da VALE e de todas as empresas
que exploram minério de ferro em Minas Gerais, e saber quais são seus
planos para as próximas décadas. Para subsidiar essa discussão, anexo
a presente as duas cartas enviadas ao Exmo.Sr. Governador do Estado,
datadas de 14 e 19 do corrente mês, e mais três dirigidas ao Exmo. Sr.
Presidente da Republica, nos dias 17, 23 e 27 do mês passado, pois os
temas nelas tratados dizem respeito ao que foi abordado nesta carta.
Desejando sucesso ao governo de V. Exa., e na campanha à reeleição,
subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Governo estuda a privatização de usinas
nucleares
Belo Horizonte, 28 de agosto de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Senadores de Minas no Congresso Nacional; Deputados
Federais; Diretoria da Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIE-
MG); Exmos. Srs. Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente da República;
José Alencar, Vice-Presidente da República e Nelson Jobim, Ministro da
Defesa. Com cópias também para os jornais Folha de S. Paulo, Estado
de Minas e O Tempo.
Assunto: Governo estuda a privatização de usinas nucleares.
196
João GilBerto pArenti couto
Prezado Senhor Governador,
Com chamada de primeira página, Governo estuda a privatização de
usinas nucleares, o Jornal Folha de S. Paulo, em sua edição de ontem,
dia 27 (p. Bi, B3 e B4), informa: “O Planalto estuda a privatizar a cons-
trução e a operação de usinas nucleares no país, em um arranjo que
acabaria com o monopólio do Estado no setor. O projeto prevê acordo
de concessão à iniciativa privada, mas mantém a propriedade em poder
do governo. Para que o modelo seja rentável, os consumidores, por
meio das distribuidoras, poderão ser obrigados a comprar energia sem
leilão. O custo para construir uma usina nuclear do porte de Angra 3
está entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões. O assunto divide o governo.
Ciência e Tecnologia é contra o projeto, e Minas e Energia e Casa Civil
defendem a proposta”.
Como cidadão interessado no desenvolvimento de Minas Gerais, e do
País, tomo a liberdade de sugerir a V. Exa. que entre nessa bola dividida
para serenar os ânimos e colocar o Estado como parte integrante na
resolução pacífica dessa disputa. O caminho para essa conciliação pas-
sa pela entrada da CEMIG nesse processo, como empresa responsável
pela operação, em regime de comodato, das novas usinas nucleares a
serem construídas em Minas Gerais – isto se o Estado for considerado
digno de recebê-las, pois, no governo Lula, Minas não vale nada –, e
das já construídas no Estado do Rio de Janeiro (Angra 1, 2 e 3), onde
uma associada dessa companhia, a Light, é a maior responsável pela
geração e distribuição de energia elétrica.
A CEMIG, hoje, no País, é a empresa de energia elétrica mais capacitada
para enfrentar esse desafio e permitir que o Brasil caminhe com as pró-
prias pernas na senda nuclear, sem necessidade de importar modelos
obsoletos disponíveis no mundo todo. Esta possibilidade existe, pois a
Marinha do Brasil está desenvolvendo uma usina nuclear de pequeno
porte para instalar em submarinos, a qual poderá ser usada na geração
de energia elétrica em áreas subdesenvolvidas do Estado, como os Va-
les do Jequitinhonha e Mucuri. A Marinha do Brasil e a CEMIG podem
caminhar juntas na formatação de uma usina nuclear de pequeno porte
que atenda não só a seus objetivos estratégicos, o domínio do átomo
para geração de energia elétrica, como também aqueles expressos na
Estratégia Nacional de Defesa elaborada pelo Ministério da Defesa. Nes-
te caso, as empresas estrangeiras poderão participar da construção
dessas usinas, desde que haja transferência de tecnologia. É melhor
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
197
fazer uma pequena usina, dominando toda a sua tecnologia, pois quem
faz um cesto faz um cento, como se diz, do que importar um produto
acabado, de grande porte, que em pouco tempo estará obsoleto e sobre
o qual não se poderá fazer nada, a não ser encostá-lo por imprestável.
Outra vantagem de o País optar pela construção de pequenas usinas
nucleares, ao invés das mastodantes Angra 1, 2 e 3, é que o capital
necessário é muito menor, cabendo perfeitamente no orçamento da
União; isto sem contar o interesse de empresas privadas, pois este tipo
de usina dominará o mercado mundial nas próximas décadas, não só
pela maior facilidade de operação e contenção de eventuais acidentes,
naturais em quaisquer tipos de empreendimentos, como também pela
menor complexidade na sua instalação e no tratamento dos resíduos
que produzem. Só para efeito de comparação: qualquer acidente numa
pequena usina construída na região pouco habitada do Vale do Jequi-
tinhonha não terá o mesmo impacto se tal fato ocorrer em umas das
usinas de Angra dos Reis. Neste caso, será uma catástrofe, pois não
só porá em perigo as outras duas usinas, que terão de ser desativadas,
como também toda a região litorânea, que terá de ser evacuada; região
esta onde existem instalações estratégicas que não podem ser parali-
sadas, além do impacto negativo no turismo, maior fonte de renda de
seus habitantes. Além disso, o Vale do Jequitinhonha se presta muito
bem para receber uma usina de tratamento, reciclagem e armazena-
mento de resíduos nucleares, inclusive, os tambores armazenados em
Angra dos Reis e os que contêm césio radioativo estocados em Goiás.
Esta usina, operada pelo Ministério da Defesa, poderá receber resíduos
radioativos de todo o território nacional, concentrando numa só área
produtos diversos que, se escaparem ao controle da União, poderão ser
usados para fins destrutivos, inclusive pelo terrorismo internacional.
Portanto, é um empreendimento estratégico para o País.
Ainda em relação às usinas nucleares Angra 1, 2 e 3, é bom que se diga
que o local escolhido para construí-las não poderia ser mais impróprio,
fato repisado pela imprensa e por diversas autoridades governamentais.
Para reparar este erro de origem, o remédio será transformá-las em
usinas térmicas movidas a gás natural, principalmente porque este pro-
duto estará disponível em escala crescente, à medida que a exploração
do petróleo da Plataforma Continental for incrementada, principalmente
as reservas do Pré-Sal. Isto poderá ser feito nos próximos vinte a trinta
anos, quando essas usinas terão de ser desativadas. É um processo
lento, que a CEMIG, associada com a Petrobrás e demais empresas
198
João GilBerto pArenti couto
petrolíferas, poderá encarregar-se, se a ela for atribuída a função de
operá-las em regime de comodato, pois dispõe de tecnologia, experiên-
cia e corpo técnico suficientes para levar a bom termo esse processo
de renovação e salvamento de um projeto condenado ao fracasso. Esta
medida corretiva deve ser tomada desde já, pois irá nortear todo o pla-
nejamento estratégico do País para aproveitamento do átomo e do gás
natural como fontes geradoras de energia elétrica, isto num quadro de
crescente oferta de gás, que, para não ser queimado na fonte produto-
ra, será colocado no mercado a preço de custo, tornando estas usinas
térmicas competitivas com as hidroelétricas.
A sugestão para que o Estado de Minas lute pela construção, em seu
território, de uma das quatros usinas originalmente previstas pelo Go-
verno Federal, assunto tratado na carta dirigida à V. Exa. no último dia
14, fica reforçada por essas informações veiculadas pela Folha de S.
Paulo. Na expectativa de que V. Exa. e os demais políticos mineiros,
empresários e a mídia lutem para que o Estado de Minas volte a ser
um centro de pesquisas nucleares avançado, como foi no passado com
o Grupo do Tório e outras iniciativas desenvolvidas na Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG) que colocaram o nosso País na Era
Atômica, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Caterpillar planeja instalar fábrica de
locomotivas de grande porte no País
Belo Horizonte, 10 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para o Exmo. Sr. Vice-Presidente da República, José Alen-
car; Deputados(as) Estaduais de Minas Gerais e jornais Estado de Mi-
nas e O Tempo.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
199
Assunto: Caterpillar planeja instalar fábrica de locomotivas de grande
porte no País.
Prezado Senhor Governador,
Para conhecimento de V. Exa., transcrevo em anexo o noticiário do Es-
tadão online (9/11/2010 – Economia & Negócios) que trata do assunto
em epígrafe, na expectativa de que tal notícia estimule os mineiros a
lutarem para que esta importante indústria seja instalada em nosso
Estado.
Por oportuno, é bom lembrar que existem empresas mineiras do ramo
siderúrgico que podem associar-se com a Caterpillar para implantar
essa fábrica de locomotivas de grande porte em Minas Gerais, como a
Usiminas Mecânica, que tem participação na indústria ferroviária. Além
disso, outras empresas instaladas no Estado podem, também, serem
estimuladas, por meio de incentivos diversos, a produzirem aqui loco-
motivas de grande porte, como a FIAT, que tem tradição no ramo.
A concentração em Minas Gerais, mais particularmente na Região Me-
tropolitana de Belo Horizonte, de um parque industrial especializado em
produtos ferroviários, como locomotivas, vagões, trilhos, dormentes,
etc., é de alto interesse para o Brasil, pois não só barateará os custos
de produção, dada a proximidade com os fornecedores de aço, como
permitirá exportá-los para outros continentes, principalmente para a
América do Sul e países da África Meridional, como Angola, Moçambi-
que e África do Sul. Além disso, é em Minas Gerais onde se concentra
os maiores consumidores destes produtos: as companhias minerado-
ras de minério de ferro e indústrias siderúrgicas, e onde, também, está
a maior malha ferroviária do País.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Estadão online – 9/11/2010 – Economia &Negócios
A Caterpillar, gigante global na fabricação de máquinas e equipamentos
pesados para setores como construção e mineração, prepara a abertura
de uma fábrica de locomotivas de grande porte no Brasil. De olho no
crescimento do transporte de minérios e grãos no País, o grupo quer
produzir entre 60 e 70 locomotivas de mais de 4 mil HP de potência
200
João GilBerto pArenti couto
por ano, praticamente metade da demanda estimada para os próximos
anos. O projeto está adiantado e deverá ser apresentado ao board da
divisão ferroviária da Caterpillar nos próximos 30 dias. “Ainda não te-
mos a aprovação formal, mas é muito grande a possibilidade de que
a gente tenha a nova fábrica”, diz Ronaldo Moriyama, diretor-geral da
MGE, empresa de reforma, manutenção e modernização de locomotivas
e trens que a Caterpillar comprou há dois anos no Brasil. A aquisição
marcou o primeiro passo do grupo no setor ferroviário fora dos Estados
Unidos. Por isso mesmo, foi estratégica: a MGE passou a ser a base
ferroviária da Caterpillar no Brasil e na América do Sul. Por enquanto,
Moriyama evita falar sobre valores do investimento previsto na nova
fábrica, alegando que o número não está fechado. Mas o executivo
adianta que o projeto garante abertura de 400 empregos diretos. Hoje,
a MGE emprega cerca de 420 pessoas. A localização da nova fábrica
também não está definida, embora a primeira opção seja o município
paulista de Hortolândia, na região de Campinas, onde a MGE está insta-
lada. A alternativa seria a região do interior paulista em que existe ma-
lha ferroviária, principalmente de ambas as bitolas, a larga e a estreita.
Essa região compreende os municípios de Itu, Campinas, Rio Claro,
Americana e Limeira, entre outros. A empresa projeta para os próximos
anos uma demanda crescente de 120 locomotivas pesadas por ano no
Brasil. Uma máquinas desse porte custa em média US$ 2,6 milhões.
Segundo Moriyama, só nos últimos cinco anos as concessionárias do
setor ferroviário brasileiro, como a Vale, All e MRS, compraram cerca
de 450 locomotivas novas de grande porte. Desse total, cerca de 30%
foram produzidos localmente e o restante importado. Hoje existe um
único fabricante de locomotivas no País, a General Electric (GE), cuja
fábrica fica em Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte. Des-
de a década de 1970, a GE fabrica locomotivas de até 3 mil HP, usadas
para fazer manobras. Há cerca de dois anos, a pedido do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, a empresa passou a produzir também loco-
motivas de maior porte, capazes de fazer viagens de longa distância
e de transportar carga pesada. Há quatro anos, a Caterpillar passou a
atuar no setor ferroviário em escala global. O grupo já investiu mais
de US$ 2,2 bilhões no setor. Em 2006, o grupo comprou a Progress
Rail, empresa americana, que passou a concentrar as aquisições do
grupo no setor, constituindo a divisão ferroviária do grupo. Além da
GE, também comprou no Brasil a Zeit, empresa instalada em Curitiba,
que faz produtos de automação de locomotivas. O lance mais recente,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
201
foi a aquisição, em agosto último, da fabricante de locomotivas Electro-
Motive Diesel (EMD). “O setor ferroviário de carga e de passageiros tem
um dos maiores potenciais de crescimento, não apenas no Brasil, mas
no mundo todo, em função do avanço dos países emergentes”, diz Mo-
riyama. Segundo ele, a decisão da Caterpillar de entrar nesse segmento
faz parte do plano estratégico do grupo de dobrar a sua receita global
de US$ 50 milhões para US$ 100 milhões nos próximos dez anos.
Desde quando Minas Gerais está perdendo a
corrida pelo domínio da tecnologia mineral para
outros Estados da Federação? E por quê?
Belo Horizonte, 25 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Reitores da Superuniversidade do Sudesteformada pela
união das federais de Alfenas (UNIFAL), Itajubá (UNIFEI), Juiz de Fora
(UFJF), Lavras (UFLA), São João del-Rei (UFSJ), Ouro Preto (UFOP) e
Viçosa (UFV); UFMG, jornais Estado de Minas e O Tempo.
Assunto: Desde quando Minas Gerais está perdendo a corrida pelo
domínio da tecnologia mineral para outros Estados da Federação? E
por quê?
Prezado Senhor Governador,
Duas notícias, a seguir transcritas, ajudam a responder ao questiona-
mento em epígrafe, e sobre o qual gostaria de fazer alguns comentários
e dar algumas sugestões. A primeira delas, veiculada pela Folha Online,
do último dia 22, intitulada Unesp inaugura centro de formação para
especialistas em pré-sal, diz o seguinte:
202
João GilBerto pArenti couto
“A Unesp (Universidade Estadual Paulista) e a Petrobras inauguram
nesta terça-feira, no campus de Rio Claro (SP), um centro de geociên-
cias direcionado à formação de especialistas e à realização de pesquisas
com ênfase na camada pré-sal. O UNESPetro (Centro de Geociências
Aplicadas ao Petróleo) deve focar os trabalhos sobre as chamadas ro-
chas carbonáticas – que formam a camada pré-sal e outros reservató-
rios petrolíferos. O centro terá 2.000 metros quadrados de área útil e
teve investimentos de R$ 10,5 milhões. De acordo com o coordenador
da UNESPetro, professor Dimas Dias Brito, o novo centro é o primei-
ro complexo de uma universidade brasileira concebido para reunir as
principais ciências que compõem a geologia sedimentar. A criação do
centro de geociências é uma das principais iniciativas para o desenvol-
vimento do SCTC (Sistema de Capacitação, Ciência e Tecnologia em
Carbonatos). O SCTC é um sistema criado após acordo firmado em
fevereiro de 2010 entre Petrobras, Unesp, Unicamp (Universidade Esta-
dual de Campinas), Uenf (Universidade Estadual do Norte Fluminense),
UFF (Universidade Federal Fluminense) e UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro)”.
A segunda notícia é mais antiga, do tempo do ex-Governador Itamar
Franco. Trata-se de interessante artigo publicado no Jornal Estado de
Minas (4/6/2003, p.9), pelo ex-Ministro de Minas e Energia, Paulino
Cícero de Vasconcelos, sob o título O gás do São Francisco, que liga
esse fato ao sonho de Dom Bosco:
“Um dos maiores geólogos do País, Carlos Walter Marinho Campos,
que no ano passado recebeu post-mortem, a medalha Eschwege do
governo mineiro, foi o homem que levou a Petrobrás para o mar. [...]
Quando assumi a Secretaria de Minas do governo Itamar, já aposentado
da Petrobrás, Carlos Walter, com minha presença, instalou em Ouro
Preto o Núcleo de Engenharia de Petróleo (Nupetro), que somava o
notório potencial de duas renomadas instituições: a Escola de Minas, na
área de geologia, e a Escola Federal de Engenharia de Itajubá (EFEI), em
eletricidade e mecânica. Neste dia, com a simplicidade que contrastava
os títulos tantos que acumulara no Brasil e no exterior, Carlos Walter
me dizia que a bacia hidrográfica do São Francisco pode esconder um
oceano de gás. É uma unidade geotectônica proterozóica – dizia-me.
Não deve ter óleo, mas certamente conterá muito gás natural de petró-
leo, exatamente como ocorre na Sibéria e no Mar Amarelo da China,
que são, também, bacias proterozóicas, formada a mais de 500 milhões
de anos. [...] É rezar para que as coisas se apressem e aconteçam. Ali-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
203
ás, falando em rezar, isso me lembra o jornalista Jorge Faria, como eu,
ex-aluno salesiano. Ele diz – e jura – que o verdadeiro sonho visionário
de Dom Bosco sobre o Centro-Oeste brasileiro não era Brasília. Era e é
o gás do São Francisco”.
Bem! Para dar resposta ao questionamento que abre esta carta, to-
mando por base essas duas notícias, é preciso repensar alguns pontos
importantes. Primeiro é saber o que aconteceu com o Núcleo de En-
genharia de Petróleo (Nupetro), instalado na UFOP? Ele está envolvido
com as pesquisas do Pré-Sal, como está acontecendo com o UNESPe-
tro (Centro de Geociências Aplicadas ao Petróleo) da UNESP? Ele che-
gou a ser implantado, ou foi sabotado por disputas internas dentro da
UFOP, ou por ciúmes de técnicos da Petrobras? Estes questionamentos
têm razão de ser, pois, antes dessa proposta de instalação do Nupetro,
na UFOP, acontecer, o que se comentava, nos meios geológicos, era
a recusa desta universidade de acolher o primeiro centro de geofísica
aplicada à pesquisa de petróleo que a Petrobras pretendia criar, o qual,
por este motivo, foi instalado na Universidade Federal da Bahia. Quanto
à ciumeira dos técnicos da Petrobras, o que acontecia, nessa época,
era uma rivalidade entre a nova geração de geólogos, formados pelas
primeiras escolas de Geologia do País, criadas a partir de 1957, e a
velha guarda oriunda da UFOF, em sua maioria engenheiros de minas;
profissionais estes que foram os responsáveis pelo lançamento dos
alicerces dessa empresa e pelo seu funcionamento. Esta disputa intra-
muros me foi revelada por colegas dessa empresa, geólogos como eu,
que comemoravam o fato de que restavam poucos desses engenheiros
oriundos da velha Escola de Minas de Ouro Preto, como Carlos Walter
Marinho Campos, formado em 1952, antes, portanto, da criação das
escolas de Geologia.
Mas não são só essas questões corporativistas que explicam o atraso e
desinteresse dos mineiros com o desenvolvimento científico e tecnoló-
gico, voltado para a valorização dos recursos minerais do Estado e do
País, e a formação de técnicos capacitados para liderarem essas pesqui-
sas no âmbito nacional e internacional, como aconteceu, no passado,
com o Grupo do Tório, do Instituto de Pesquisas Radioativas da UFMG,
hoje concentradas no Estado do Rio de Janeiro, por obra e graça dos
militares e omissão dos governantes mineiros. O grande responsável
por esse atraso deve-se, em primeiro lugar, a este tipo de omissão, e,
por via de consequência, da burocracia estatal, mais interessada em
manter posições do que se arriscar em novas empreitadas que podem
204
João GilBerto pArenti couto
abalar seus minifeudos. Este fato, testemunhei quando trabalhava na
extinta METAMIG. Nesta ocasião, os geólogos desta empresa insistiram
junto à presidência da companhia para que fosse implantado em Minas
Gerais um dos diversos centros de sensoriamento remoto que o INPE
estava instalando no País, para difundir o uso desta técnica, principal-
mente nas pesquisas geológicas. Logo nos primeiros contatos com o
INPE, a diretoria da empresa ficou sabendo que a proposta para instalar
um desses centros no Estado já fora feito a um centro de pesquisa mi-
neiro e que até aquele momento não havia recebido nenhuma resposta.
Ato contínuo, foi feito contato com este centro de pesquisa para saber o
que se passava a respeito. O que se constatou é que, devido a disputas
internas nesse órgão do governo mineiro, em torno de um computador,
uma novidade e tanto naquela época, o responsável pelo setor impedia
qualquer avanço no sentindo de fazer o acordo com o INPE, razão por
que a diretoria dessa instituição se via de mãos atadas para tomar uma
decisão a respeito.
Diante disso, os entendimentos entre a METAMIG e o INPE prospera-
ram e, finalmente, o tão desejado e importante centro de sensoriamento
remoto foi instalado na UFMG, com apoio financeiro dessa estatal mi-
neira. Hoje em dia, o uso dessa tecnologia está amplamente difundida
no País, graças ao empenho do INPE, que criou três centros regionais:
Centro Regional do Nordeste, em Natal –RN, em convênio com o gover-
no do Estado e da UFRN; Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais,
em Santa Maria – RS, em convênio com a UFSM, e Centro Regional
da Amazônia, em Belém – PA. Cada um deles voltado para atividades
específicas. Se os governantes mineiros abrissem os olhos, veriam que
o centro instalado na UFMG pode ser transformado em um Centro Re-
gional do Sudeste, para desenvolver nesta região pesquisas geológicas,
principalmente as relacionadas com a prospecção e pesquisa de novos
jazimentos minerais e mapeamento geológico básico.
Mas isto, como se diz, são outros quinhentos, pois, em se tratando
de bens minerais, parece que os governantes mineiros têm verdadeira
alergia pelo assunto, fugindo dele como o diabo foge da cruz. Senão
como explicar o que aconteceu com a METAMIG. Como disse, quando
trabalhava nesta empresa, como geólogo, juntamente com mais de vin-
te colegas de profissão, batalhávamos para desenvolver o setor mineral
do Estado em várias frentes. Uma delas, com repercussão positiva para
a economia mineira e a moralização no trato da coisa pública, foi a luta
para viabilizar financeiramente a METAMIG, que dependia de verbas
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
205
públicas, sempre escassas, para o seu funcionamento. Para isto foi pro-
posto à Diretoria da empresa a fusão com a CAMIG, que era proprietária
das jazidas de nióbio e fosfato de Araxá, exploradas em associação com
empresas privadas, recebendo, naquela época, só pela exploração do
nióbio cerca de US$ 1 milhão de dólares por mês, e com a Hidromi-
nas, que explorava as águas minerais das estâncias situadas no sul do
Estado, inclusive as do complexo hoteleiro de Araxá. Esta proposta foi
prontamente aceita pela diretoria, que imediatamente passou a trabalhar
junto ao governo do Estado e deputados da Assembleia Legislativa para
concretizar esse projeto.
Depois de muita luta, ocorreu a fusão da METAMIG com a CAMIG,
resultando na COMIG, posteriormente também a HIDROMINAS foi in-
corporada a esta empresa, concretizando assim a proposta original dos
geólogos. Como sempre acontece onde o dinheiro flui rapidamente, as
ambições dos governantes se voltaram para aplicar essa verba em obras
públicas, sem necessidade de passar pelo crivo da Assembleia Legisla-
tiva, e evitar, também, aplicá-la em pesquisas geológicas, sabidamente
de difícil retorno e que não dão nenhum dividendo político, pois se trata
de investimento de risco e de longa maturação. Para atingirem este
objetivo, mudaram o estatuto da COMIG, criando a CODEMIG, voltada
para a execução de obras públicas, como o novo Centro Administrativo
do Estado. Mas, para que essas manobras acontecessem, a diretoria
da nova empresa demitiu todos os geólogos, menos um, sabe-se lá
por quê? A verdade é que Minas Gerais, hoje em dia, não possui um
corpo de geólogos voltado para o desenvolvimento do setor mineral do
Estado; quando muito, a CODEMIG faz acordos setoriais com a CPRM,
um arremedo de Serviço Geológico Federal, que nem verba tem para
cumprir suas obrigações, para, talvez, passar a falsa impressão de que
está cuidando do desenvolvimento do setor mineral do Estado.
A primeira medida para mudar esse quadro de total omissão do Estado
no trato das questões voltadas para o desenvolvimento do setor mi-
neral e das pesquisas científicas e tecnológicas para agregar valor aos
bens minerais que ocorrem em solo mineiro, será destinar o total dos
lucros pagos pela CBMM pela exploração do nióbio de Araxá, para fi-
nanciar essas pesquisas, inclusive a fundo perdido, se necessário. Mas,
para isso, é preciso mudar a mentalidade hoje existente de que tais
pesquisas devem ser feitas pelos órgãos públicos do Estado, como o
CETEC, ou fundações como a FAPEMIG, uma instituição que dispõe de
verbas garantidas no orçamento do Estado, mas cujos governantes não
206
João GilBerto pArenti couto
podem sequer escolher seus dirigentes; atribuição estatutária exclusiva
de uma casta de iluminados que se autodenominam “cientistas”, do-
nos do saber e do que fazer com os projetos desta instituição. Isto é
uma aberração que a Assembleia Legislativa precisa rever e tornar mais
democrática o acesso à direção dessa instituição pública e na escolha
dos projetos a serem financiados com os recursos do Estado. A melhor
maneira de contornar essas instituições petrificadas, que atrasam o de-
senvolvimento científico e tecnológico de Minas Gerais, é em procurar
as universidades mineiras, em fase de formação de um consórcio uni-
versitário, para estabelecer convênios para o desenvolvimento científico
e tecnológico do setor mineral do Estado.
O primeiro passo nesse sentido é propor aos reitores da Superuniver-
sidade do Sudeste – formada pela união das federais de Alfenas (UNI-
FAL), Itajubá (UNIFEI), Juiz de Fora (UFJF), Lavras (UFLA), São João
del-Rei (UFSJ), Ouro Preto (UFOP) e Viçosa (UFV), para, em primeiro
lugar, criarem núcleos de pesquisa voltados para temas específicos,
como, por exemplo, o aproveitamento dos minerais de terras raras
ocorrentes em território mineiro e no País, para competir com a China
neste mercado restrito e altamente estratégico. Aqui é bom frisar que a
pesquisa cientifica e tecnológica de todos os bens minerais é livre, pois
o monopólio do Estado sobre certas substâncias não se aplica a esta
atividade. Além disso, o Estado de Minas não deve ficar esperando que
o Governo Federal tome a iniciativa de fazer tais pesquisas, pois este é
um assunto que interessa diretamente a economia mineira, diante da
demanda mundial por matérias- primas minerais, como informa o Bo-
letim Eletrônico do Movimento Solidariedade Íbero-americana (MSIa),
v. II, n. 20, 3 set.2010:
“Atualmente, a China é praticamente a única provedora dos chama-
dos metais de terras raras, dos quais o ítrio, usado na produção de
equipamentos de laser e ímãs, é o mais raro. Segundo a Comissão
Europeia, a China passou a cobrar impostos e taxas de exportação mais
altas sobre esses recursos raros. Embora a UE esteja negociando com
o governo chinês o comércio de matérias-primas, Pequim anunciou
recentemente uma redução de 40% nas exportações desses minérios
raros, pressionando os compradores estrangeiros a iniciar o processa-
mento industrial de tais matérias-primas dentro da própria China. «Os
chineses querem atrair para o país a tecnologia de processamento e
elevar, consequentemente, o valor agregado», comentou Hubertus Bar-
dt, especialista em matéria-prima do Instituto de Economia Alemã (IW),
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
207
sediado em Colônia. Para Bardt, a UE precisa assegurar, por meio de
pressão diplomática e negociações comerciais, que a China não explore
seu monopólio para além da medida”.
Além disso, é preciso criar nessas universidades centros especializados
para valorização de outros bens minerais, como o minério de ferro,
principalmente na produção de aços especiais destinados à indústria
petrolífera, diante da demanda do Pré-Sal; evitando com isto que em-
presas como a Usiminas procurem, como noticiou recentemente a
imprensa, os centros de pesquisas instalados na Ilha do Fundão, no
Rio de Janeiro, para aí desenvolverem suas pesquisas, fato que vem
ocorrendo, também, com diversas empresas do exterior. Nesta ilha,
onde se localiza a UFRJ, e em convênio com ela, várias empresas e
instituições já montaram seus centros de pesquisas, como o CENPES,
da Petrobras; o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (CEPEL); o
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF); o Instituto de Engenharia
Nuclear (IEN); e, por incrível que pareça, o Centro de Tecnologia Mi-
neral (CETEM). Este centro foi aí instalado por decisão política, pois a
produção mineral do Estado do Rio de Janeiro é insignificante, quando
comparada à de Minas Gerais, a maior do País.
Outro fato estranho é que existem nesse Estado três escolas de Ge-
ologia, enquanto em Minas Gerais, com território maior, diversidade
geológica incomparável e ocorrências minerais abundantes, só exis-
tem duas. Para que Minas Gerais assuma o lugar de vanguarda das
pesquisas científicas tecnológicas voltadas para a valorização de seus
recursos minerais, é preciso que se crie novas escolas de Geologia,
pois, com o concurso desses profissionais, os geólogos, é possível não
só fazer um levantamento detalhado da geologia do Estado e de suas
ocorrências minerais, como também criar cursos de pós-graduação,
em nível de mestrado e doutorado, especializados em diversas matérias
importantes para conhecimento da geologia do Estado, como a estra-
tigrafia, sedimentologia, petrografia, geologia estrutural, mineralogia,
geocronologia, etc.
A valorização de bens minerais é uma ciência que comporta várias face-
tas, que só o geólogo pode pesquisá-las em profundidade, como, aliás,
é feito no mundo todo, principalmente nos países desenvolvidos. A
descoberta de gás de petróleo na Bacia do São Francisco, por exemplo,
em fase de pesquisa pela CODEMIG e empresas privadas, traz consigo
implicações científicas diversas, pois contém o gás hélio associado, um
elemento estratégico em escala mundial, que pode indicar as condições
208
João GilBerto pArenti couto
de formação dessas reservas de gás natural e sua evolução no tempo
geológico. Outras ocorrências de minerais estratégicos, como as areias
monazíticas dos vales do Rio Sapucaí, no Sul de Minas, e do Rio Doce,
no leste mineiro, merecem ser pesquisadas com mais detalhes. Estas,
as do Rio Doce, inclusive, são responsáveis pelos grandes depósitos
de monazita do litoral capixaba – as conhecidas areias negras de Gua-
rapari. Aqui cabe uma pergunta, que só as pesquisas geológicas podem
responder: existem paleoplaceres aluvionares monazíticos na foz deste
rio? Em caso positivo, qual a sua importância econômica e área de
ocorrência?
Além dos depósitos aluvionares de monazita e de outros minerais de
terras raras, existem no Estado outras ocorrências que estão a merecer
um estudo mais aprofundado, como as dos solos lateríticos de Tapira/
MG (subproduto de titânio), e as que ocorrem em Araxá e Poços de
Caldas, diante da crescente demanda mundial dessas matérias-primas
estratégicas, como informa o Boletim Eletrônico do MSIa: “Recente es-
tudo realizado pela Comissão Europeia alertou que os países da região
estão enfrentando a carência de 14 matérias-primas “críticas”: antimô-
nio, berilo, cobalto, fluorita, gálio, índio, germânio, grafite, magnésio,
nióbio, metais do grupo da platina, terras raras, tântalo e tungstênio,
todas fundamentais para a fabricação de telefones celulares, computa-
dores e produtos análogos. Segundo o estudo, um dos motivos funda-
mentais para a carência é o fato de a produção desses minerais estar
concentrada em apenas quatro países: China, Rússia, Congo e Brasil.
Por outro lado, segundo observou a Comissão Européia, a China tem
garantido o acesso a commodities cobiçadas por meio de uma estraté-
gia dominadora, que inclui aquisições de mineradoras, compra de terras
e doações a governos africanos. Segundo a avaliação dos especialistas
europeus, a concentração da oferta também é problemática, dado que
há poucas mineradoras que exploram diretamente matérias-primas”.
A solução, portanto, para que Minas Gerais aproveite melhor suas ri-
quezas minerais, está, em primeiro lugar, na criação de centros es-
pecializados em pesquisas científicas e tecnológicas, voltadas para o
setor mineral, nas universidades federais de Alfenas (UNIFAL), Itajubá
(UNIFEI), Juiz de Fora (UFJF), Lavras (UFLA), São João del-Rei (UFSJ),
Ouro Preto (UFOP) e Viçosa (UFV), que estão se consorciando para
a formação da Superuniversidade do Sudeste. Em segundo lugar, a
criação de novos cursos para a formação de geólogos nestas univer-
sidades. Neste caso, não há necessidade de se criar uma escola de
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
209
Geologia em cada uma delas, basta que entrem em acordo sobre quais
as matérias que se vão especializar, criando para isto cursos de pós-
graduação em nível de mestrado e doutorado. Os departamentos res-
ponsáveis por estes cursos se encarregarão, por sua vez, de ministrar
essas matérias para os alunos de bacharelado. Assim, um estudante de
Geologia da UFOP pode cumprir os créditos em estratigrafia na UFV,
se esta especializar-se nesta matéria, enquanto outros alunos matricu-
lados nesta universidade, que optarem pelo curso de Geologia, poderão
cumprir seus créditos na UFOP ou em qualquer outra desse consórcio
que tiver vaga na matéria solicitada. Aliás, diga-se de passagem, esse
é o objetivo desse consórcio, pelo que se depreende pelo noticiário da
imprensa. Com isto, Minas Gerais poderá formar mais geólogos que as
três universidades do Estado do Rio de Janeiro diplomam juntas, ou,
da mesma forma, pelas outras três existentes em território paulista.
Para que tal aconteça, é necessário que tais centros de pesquisas se-
jam financiados pelo Governo do Estado, por meio da CODEMIG, que
investirá nesta atividade o total dos lucros auferidos com a exploração
do nióbio de Araxá, ao invés de aplicá-los em obras públicas que, por
lei, devem ser contempladas no orçamento do Estado, aprovado pela
Assembleia Legislativa.
Para finalizar, uma pergunta: por acaso, a CBMM e a CODEMIG já cria-
ram um centro de pesquisa para otimizar e difundir o uso do Nióbio de
Araxá e das terras raras associadas? Esta pergunta é feita, pois, no site
da CBMM na Internet, não há nenhuma referência a respeito, com se vê
pelas informações disponíveis: “A Companhia Brasileira de Metalurgia
e Mineração, do Grupo Moreira Salles, é uma empresa nacional que
extrai, processa, fabrica e comercializa produtos à base de nióbio. Uma
Conta de Participação nos Lucros entre a estatal CODEMIG e a CBMM
garante a exploração racional do depósito de nióbio localizado próximo
à cidade de Araxá, em Minas Gerais. O contrato concede 25% de par-
ticipação nos lucros operacionais da CBMM ao Governo do Estado de
Minas Gerais. A CBMM é a única produtora de nióbio com presença em
todos os segmentos de mercado”.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
210
João GilBerto pArenti couto
O Governo bifronte de Dilma Rousseff e os
interesses de Minas Gerais.
Belo Horizonte, 17 de dezembro de 2010.
Exmo. Sr.
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Vice-Presidente da República, José Alencar; Governador
de São Paulo, Alberto Goldman e jornais Estado de Minas e Folha de
S. Paulo.
Assunto: O Governo bifronte de Dilma Rousseff e os interesses de
Minas Gerais.
Prezado Senhor Governador,
No dia 25 de novembro passado, enviei a V. Exa. carta tratando do
seguinte assunto: “Desde quando Minas Gerais está perdendo a corrida
pelo domínio da tecnologia mineral para outros Estados da Federação?
E por quê?”. Agora volto a tratar de outro assunto que envolve não só
os interesses de Minas Gerais, mas também o destino do Brasil nos
próximos quatro anos, quando o País será governado em sistema de
parceria entre a Águia Bicéfala e o Sapo Barbudo. Serão anos turbulen-
tos, pois a Presidenta Dilma Rousseff dividirá o poder com seu vice,
Michel Temer, para honrar compromissos pré-eleitorais firmados entre
o PT e o PMDB, transformando-se, consequentemente, numa Águia Bi-
céfala que terá dificuldades de alçar vôo, devido a este defeito genético,
e anunciar sua presença, pois sequer pia. Este quadro bizarro pode ser
sintetizado em uma figura heráldica, o brasão de armas da nova presi-
denta. De asas abertas, pronta para levantar vôo, mas imóvel e de bico
fechado, esta Águia Bicéfala tem em suas garras um sapo barbudo, que
se debate coaxando para não ser destroçado pelo seu bico afiado. Em
resumo, este é o quadro que se desenha no panorama político brasilei-
ro nos próximos anos.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
211
Mas isto não é tudo. O pior é que o novo governo, a ser instalado no
País a partir de janeiro próximo, além desta anomalia genética, nasce
com outra deformação congênita: o bifrontismo, pois o atual Presiden-
te da República quer por que quer continuar governando o País, pois
se acha dono do poder, a seu modo, ou seja, por detrás do poder,
solapando a autoridade da Águia Bicéfala com acertos espúrios nos
bastidores. Para tanto, já criou até uma infraestrutura operacional em
território paulista, a ser ocupada por um ministério paralelo, já escolhi-
do, segundo a imprensa. São manobras que turvarão e envenenarão o
quadro político e econômico do País, em um momento de crise global
generalizada que poderá desaguar numa guerra mundial, pois visam,
em última análise, preparar seu retorno à Presidência da República em
2015.
Mas esta pretensão poderá ser barrada pela união dos Estados de Mi-
nas Gerais e São Paulo, numa ação coordenada para fazer frente a um
governante que fez do assistencialismo farisaico a pedra de toque de
seu governo; modelo que está sendo copiado por alguns governadores
e prefeitos inescrupulosos que veem neste tipo de expediente o meio
mais fácil de conquistarem ou se manterem no poder. Este procedi-
mento não é novidade na história universal, pois os pioneiros nessa
arte foram os romanos, há mais de dois mil anos, com o famoso “pão
e circo”. Todavia, Minas Gerais tem um motivo particular para conter
esse Sapo Barbudo, pois foi aqui que ele ganhou três eleições sucessi-
vas, que o tornaram presidente por dois mandatos e possibilitou eleger
sua sucessora. A paga, por tudo isto, foi o desprezo que sempre dedi-
cou ao Estado e aos políticos mineiros, sintetizado em um último ato
de perfídia: o desmembramento da FIAT para servir a seu Estado natal,
Pernambuco; isto com o apoio e sustentação de um Vice-Presidente
mineiro, um banana que não fez nada para o Estado e que foi traído no
momento em que agonizava num hospital paulista e o Presidente Lula
fazia um balanço de seus oitos anos de governo. Neste evento, quando
acabava de apunhalar Minas pelas costas, em conluio com o Governa-
dor de Pernambuco, discursava cinicamente: “Duvido que algum gover-
nante tenha um vice melhor que José Alencar” (Jornal Estado de Minas,
16/12/2010, p.8). Também pudera!
Mas é no encerramento de um editorial do Jornal Estado de Minas, in-
titulado Parceria golpeada (16/12/2010, p.6), que está a receita do bolo
a ser dado a esse ingrato: “Tanto os italianos da montadora de Turim
212
João GilBerto pArenti couto
como o governo federal do presidente Lula e de sua sucessora, Dilma
Rousseff, que obteve maioria dos votos aqui, seu estado natal, estão
em débito com os mineiros. E serão cobrados”. O momento oportuno
para esta cobrança será nas eleições presidenciais de 2014, quando
voltará a pisar em terras mineiras em busca de apoio para se eleger
presidente pela terceira vez. Dizem que “os mineiros não guardam ran-
cores, mas não se esquecem das ingratidões”. Que assim seja! Mas
para isso, é necessário que os políticos e governantes mineiros deixem
de ver a política como um arco-íris em cujas pontas estão enterrados
potes de ouro, ou, que, passando por baixo dele mudam de sexo. Têm
que ser realistas. Não podem deixar-se levar por fantasias, como se
estivessem anestesiados ou drogados. É preciso firmeza de propósito
e objetivos bem definidos.
Além disso, é preciso ter em mente que a mudança do eixo do poder
da Praça da Liberdade para a periferia da capital traz consigo consequ-
ências nefastas não só para Minas Gerais, exemplificada no caso FIAT,
mas também para o Brasil, como anuncia o governo bifronte da Águia
Bicéfala, que terá uma face mirando o futuro, ainda indefinido, pois a
nova presidenta não apresentou nenhum plano de governo, e outra
voltada para o passado, burocraticamente registrada em cartório, resul-
tando em uma paralisia que levará o Brasil a uma grave crise institucio-
nal. Um capítulo que trata deste enigma, a mudança do eixo do poder,
retirado de um livro de minha autoria, em análise e revisão por parte de
uma editora, com vistas a uma eventual publicação, é transcrito abaixo
para esclarecer essa assertiva.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Recordar é viver... Ascensão e Queda de Minas
Gerais: da Revolução de 30 ao governo JK,
subindo, e daí, descendo, até Lula, o fundo do
poço
Belo Horizonte, 22 de dezembro de 2010.
Exmo. Sr.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
213
Antônio Augusto Anastasia
Governador do Estado de Minas Gerais
Palácio da Liberdade
Belo Horizonte – MG
Com cópias para os Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Estaduais de
Minas Gerais; Vice-Presidente da República, José Alencar; Governador
de São Paulo, Alberto Goldman e jornais Estado de Minas e Folha de
S. Paulo.
Assunto: Recordar é viver... Ascensão e Queda de Minas Gerais: da
Revolução de 30 ao governo JK, subindo, e daí, descendo, até Lula, o
fundo do poço.
Prezado Senhor Governador,
Recordando o significado para Minas Gerais da união de gaúchos e mi-
neiros para mudar os destinos do Brasil, quando deflagraram a Revolu-
ção de 30, que durou até o Governo JK, pergunta-se: “Por que, a partir
do final deste governo, quando o poder passou a ser exercido por um
paulista mato-grossense, Minas Gerais vem descendo ladeira abaixo e
os políticos mineiros nada fazem para reverter essa situação”?
Depois de Jânio Quadros, ainda se tentou algum movimento que se re-
velou desastroso para os interesses do Estado, que foi a ascensão dos
militares, que precisaram de dois vices-presidentes mineiros para se
consolidarem no poder. A partir daí, é toda uma sucessão de tragédias
e erros por parte dos políticos mineiros, que vem alçando ao poder Pre-
sidentes da República que odeiam Minas Gerais, mas que aqui se vêm
nutrirem para sobreviverem politicamente, como aconteceu com o ma-
ranhense José Sarney, alçado ao poder pela morte de Trancredo Neves;
o alagoano Fernando Collor de Mello, que se apoiou no mineiro-baiano
Itamar Franco com o mesmo objetivo; o qual, por sua vez, sucedeu-o
e passou o poder ao paulista-carioca Fernando Henrique Cardoso, que
sempre desprezou Minas e os políticos mineiros, como Itamar Franco
e Aécio Neves, por exemplo.
Não bastasse este erro, Itamar Franco ainda abriu caminho para a as-
censão de um pernambucano à Presidência da República, ao ser o
único governador de um Estado da Federação a apoiar Lula nas eleições
214
João GilBerto pArenti couto
presidenciais de 2002, no início de sua campanha quando era rejeitado
por toda a sociedade. Mas não é só isto que levou Lula ao poder pela
primeira vez, pois outro mineiro foi decisivo nesta caminhada e pela
sua aceitação no meio empresarial: o seu vice, José Alencar. Agora, ao
final do Governo Lula, os políticos mineiros colhem os frutos podres
desses equívocos e estratégias políticas mal elaboradas: a transferência
da FIAT para Pernambuco, assunto tratado na carta enviada a V. Exa.
no último dia 17, que segue em anexo.
Para que Minas Gerais volte a ser respeitada no cenário político na-
cional e a sua economia não venha a ser sabotada por políticos ines-
crupulosos, é preciso que além de forjar uma aliança com o Estado
de São Paulo, para impedir a volta de Lula à Presidência da República
em 2015, como foi sugerida na carta do dia 17, ela englobe também
o Estado do Rio Grande do Sul, de onde sairá o próximo presidente
da República, oriundo do PMDB, que rejeita a banda podre nordestina
que se apoderou deste partido e foi responsável pelo afastamento do
ex-Presidente Itamar Franco de seus quadros.
Esta tríplice aliança terá de ser construída passo a passo, pois a “He-
rança Bendita” que o Governo Bifronte da Águia Bicéfala herdará do
hesitante e pusilânime Governo Lula encerra armadilhas que detonarão
esse governo em seu primeiro ano de existência, a partir do qual cada
partido buscará seu rumo próprio num quadro de grave crise institu-
cional. Entre os problemas que Lula empurrou com a barriga para o
colo de Dilma Rousseff, destacam-se: a Lei dos Royalties do Petróleo; a
compra dos aviões de caça para a Força Aérea Brasileira; o novo Marco
Regulatório do Setor Mineral; a reforma política; a reforma fiscal; a falta
de investimentos em infraestrutura de transportes, principalmente fer-
roviário; em saneamento básico; transportes urbanos; educação, saúde
pública, enfim, tudo o que o PT prometeu desde que foi fundado e que
no poder não cumpriu nada, exceto exacerbar o assistencialismo fari-
saico que não acaba com a pobreza, mas dela faz bom uso político.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
215
PARTE XV
TEMAS POLÍTICOS RELEVANTES
Palavras ao Vento (Mateus, 13)
Belo Horizonte, 26 de setembro de 2010.
Aos
Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Federais, Partidos Políticos, Gover-
nantes, empresários, a mídia, e a quem mais interessar possa.
Assunto: Palavras ao Vento (Mateus, 13) – a frouxidão moral do Poder
Judiciário e do Senado da República; o mandato-tampão da Presidente
Dilma Rousseff e a herança da corrupção endêmica do aparelho estatal
federal; a Estratégia Nacional de Defesa e a implantação das ferrovias
que mudarão os rumos da economia do Brasil e da América do Sul no
século XXI.
Prezados(as) Senhores(as),
A decisão tomada na madrugada do dia 24 de setembro de 2010, pelo
Supremo Tribunal Federal, dividindo-se ao meio numa decisão que não
comportava vacilação – o uso imediato da lei dita da “ficha limpa” – é
o retrato acabado do Brasil da atualidade, que se equilibra na corda
bamba da moral e dos bons costumes no trato da coisa pública, ten-
tando atravessar o fosso que nos separa do atraso colonial, cheio de
corrupção, para uma era realmente republicana, onde não haja desvios
de comportamento das autoridades constituídas; postura esta que, a
cada dia, distancia-se de nós, os brasileiros e brasileiras que não usam
toga e nem se encastelam em espaços públicos privilegiados.
216
João GilBerto pArenti couto
Segundo o noticiário da imprensa, esse empate se deu pelo fato de o
Exmo. Sr. Presidente da República ainda não se ter dignado a nomear
o 11º ministro dessa Corte Superior, em substituição ao que se aposen-
tou. Neste caso, o “voto de minerva”, como se diz, que desempataria
essa questão de vital importância para a moralidade no trato da coisa
pública do País, ficou prejudicado. Mas este argumento é falho, pois
o Presidente do Supremo poderia usar seu voto para desempatar essa
questão, se tivesse algum tipo de ligação com o povo que patrocinou
essa lei com mais de dois milhões de assinaturas, usando uma prerro-
gativa constitucional. Mas esta solução minaria o poder absoluto que
desfrutam, pois se julgam acima do populacho, como didaticamente
ensinou outro ministro ao dar seu voto: “A corte não pode ceder ao
populismo jurídico e, se a iniciativa popular tornar inútil nossa ativida-
de, melhor é fechar este tribunal”. (Jornal Estado de Minas, 24/9/2010,
p. 3).
Essa sugestão do Ministro Gilmar Mendes deve ser levada a sério pelos
Deputados Federais e pelos partidos políticos, pois o Supremo Tribunal
Federal se tornou em um Olimpo habitado por deidades vitalícias, aten-
didas por serviçais vestidos a caráter, treinados para massagear seus
egos movendo seus pesados tronos para que se assentem confortavel-
mente sem tocá-los e água para aplacar sua insaciável sede de poder,
fatores que os levam a ignorar a representação popular, base do regime
democrático. Todo o luxo e regalias que cercam esses semideuses
olímpicos são pagos pelo povo que desprezam, que, se atendidos em
seus pleitos, poderiam pôr em perigo o poder absoluto que desfrutam.
Esta reação do Ministro Gilmar Mendes não é novidade nos anais da
história, pois se trata da repetição de uma frase dita por alguém, alhu-
res, em idênticas circunstâncias: “O Estado sou Eu”. O resultado desta
arrogância deu no que deu.
Ao usar o seu voto para empatar essa votação, ao invés de decidi-la em
favor do povo como poderia ter feito, o Presidente do Supremo Federal
jogou o problema no colo do Presidente da República, que ainda não
nomeou o 11º ministro; neste caso, por conveniência política, pois a
cúpula de seu partido, o PT, está sendo julgada nesta Corte por atos
lesivos à administração pública (o escândalo do mensalão), e o ministro
responsável por este julgamento, que mal se sustenta de pé, assentou-
se nos autos para se recuperar dos males que o afligem. Esse jogo de
empurra, o lavar das mãos como Pilatos no Credo, remonta à votação
no Senado, uma casa dominada pela corrupção, quando um senador
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
217
malicioso, com a cumplicidade de seus pares, mudou o tempo de um
verbo na redação final da lei, para com isso abrir uma brecha por onde
os políticos corruptos poderiam escapar apelando para o Supremo Tri-
bunal Federal, anulando, consequentemente, o que havia sido decido
na Câmara do Deputados, o verdadeiro Parlamento do povo. Este ato
de sabotagem, ou “esperteza política”, foi praticado por esse senador
para atender um companheiro de partido, um deputado com ficha suja,
criminoso procurado pela Interpol, que se encontra na mesma situação
do corrupto que acionou o STF para se safar das malhas da Lei da
Ficha Limpa.
Voltando à sugestão do Ministro Gilmar Mendes, de que é “melhor
fechar este tribunal”, do que ceder à vontade popular, é bom recordar
o que diz a respeito a Constituição Federal no seu Artigo 1º, parágrafo
único : “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de repre-
sentantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Como
os membros do Supremo Tribunal Federal, que se arvoram defensores
da Constituição, não são eleitos pelo povo, mas escolhidos ao bel-
prazer pelo Presidente da República, eles não passam de funcionários
públicos como outros quaisquer, com seus direitos e obrigações, ou,
simplificando, são meros servidores públicos que tentam ser diferentes
dos outros ao se intitularem um “poder” e se cercarem de regalias e
rituais para se distanciarem do povo e se colocarem acima de tudo e
de todos.
Para baixar o facho dessa gente, e fazê-los cair na real, o melhor cami-
nho é se fundir o Supremo Tribuna Federal (STF) com o Superior Tribu-
nal de Justiça (STJ), criando uma única “Corte Superior de Apelação”,
cujos membros, cinco por Estado, seriam eleitos pelo voto popular em
eleições diretas com mandato de cinco anos sem direito à reeleição.
Esta medida acabaria com a vitaliciedade no cargo, um ranço colonial
que os magistrados usam para deitarem e rolarem nos cargos que des-
frutam, acarretando a morosidade nos julgamentos e outros artifícios
que usam para extorquir da sociedade todos os tipos de benesses e
privilégios. Da mesma forma deve-se acabar com o Senado, uma ins-
tituição falida como o Supremo, adotando-se o sistema unicameral no
qual a vontade do povo será sempre soberana, pois não haverá divisão
de poder, fazendo valer o que reza a Constituição: “Todo o poder emana
do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamen-
te, nos termos desta Constituição”. Estas sugestões se encontram mais
detalhadas em quatro livros de minha autoria, disponíveis na Biblioteca
Digital do Governo Federal (www.dominiopublico.gov.br).
218
João GilBerto pArenti couto
O resultado de todo esse processo de corrupção que envolve os três
poderes da República será herdado pelo próximo Presidente ou Pre-
sidenta da República, a ser eleito (a) em 3 de outubro próximo. Pelo
andar da carruagem, a candidata Dilma Rousseff será a escolhida. Neste
caso, uma particularidade marcará seu governo: a de ter sido indicada
pelo Presidente Lula e não pelo partido que pertence: o PT. Isto si-
naliza que exercerá um mandato-tampão, formatado para esquentar a
cadeira presidencial para a volta de seu mentor, mantendo intacta toda
a estrutura corrupta que marcou os oitos anos do governo Lula, que
começou e terminou na Casa Civil, com José Dirceu e Erenice Guerra.
Mas esta caminhada petista pela trilha da corrupção, que procura alar-
gar e pavimentar com atos escusos, ainda não terminou, como mostra
a seguinte noticia publicada pela Folha Online (24/9/2010): “O diretório
nacional do PT entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade no
STF (Supremo Tribunal Federal) contra a lei que exige dois documentos
(título de eleitor e outro documento oficial com foto) para que o eleitor
vote no dia 3 de outubro”.
Diante dessa perspectiva, inclusive considerando o escancarado pro-
jeto de Lula de repetir Vargas com um retorno triunfal ao poder, pois,
ao invés de preparar um sucessor dos quadros de seu partido para
sucedê-lo, escolheu uma auxiliar pouco ambiciosa que não complicará
seus planos, é bom que os partidos políticos comecem a trabalhar, tão
logo os resultados das próximas eleições sejam conhecidos, para faze-
rem frente a esse império fora da lei que se pretende perpetuar. Para
isto o PSDB deve formalizar a criação de um eixo de poder entre São
Paulo e Minas Gerais, Estados onde devem sair vencedores, e propor
uma aliança com os diretórios regionais do PMDB nas regiões Sul e
Sudeste, para juntos aglutinarem as lideranças políticas do País, com
ficha limpa, numa campanha pela moralidade no trato da coisa pública
e para promover o desenvolvimento econômico e social sem paterna-
lismo. Nesta aliança, visando as eleições de 2014, o PMDB indicaria o
candidato à Presidência da República e o PSDB a Vice-Presidência. Os
candidatos naturais para estes cargos seriam, respectivamente, o Mi-
nistros Nelson Jobim e o ex-Governador de Minas Gerais Aécio Neves.
A base para se promover o desenvolvimento econômico e social do
País, sem paternalismo, reside na geração de empregos e renda dos
brasileiros de todas as camadas sociais, ampliando a classe média C
em relação às classes superiores e inferiores, vale dizer, as A e B e
D e E, respectivamente. A execução deste projeto deve basear-se na
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
219
Estratégia Nacional de Defesa que foi formatado para integrar e dina-
mizar todos os segmentos relacionados com a Segurança Nacional,
desde as Forças Armadas, até as instituições de ensino e pesquisa,
passando pelo parque industrial brasileiro. Mas para que a Estratégia
Nacional de Defesa esteja completa, nos seus objetivos de garantir a
Segurança Nacional, é necessário também que inclua o monitoramento
de tudo o que já foi feito e esteja sendo planejado na infraestrutura de
transporte ferroviário no Brasil e na América do Sul, inclusive sobre a
Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, e no aproveitamento das jazidas
de minério de ferro, especialmente as do Quadrilátero Ferrífero de Mi-
nas Geais. Estes assuntos tratei em seis cartas dirigidas ao Presidente
Lula, datadas de 17, 23 e 27 de julho, e 1º, 17 e 22 de setembro de
2010, e quatro ao Governador Antônio Augusto Anastasia, datadas de
14, 19, 24 e 28 de agosto de 2010, que seguem em anexo, e em quatro
livros de minha autoria, disponíveis da Biblioteca Digital do Governo
Federal (www.dominiopublico.gov.br). Nestes livros a abordagem so-
bre a Ferrovia Transcontinental Dom Bosco é completa, inclusive com
os comentários deste santo que a percorreu pela primeira vez em seu
sonho profético.
Como complemento ao que foi tratado nessas cartas, gostaria de ajun-
tar alguns comentários aos do jornalista Mario Fontana, feito em sua
coluna no Jornal Estado de Minas (25/9/2010, p.3), sobre as declara-
ções do Ministro dos Transportes, Paulo Passos – que foi à Europa
negociar a implantação do projeto do trem-bala entre São Paulo e Rio
de Janeiro –, da possibilidade de futuros projetos ligando, por esse
meio de transporte, Campinas a Belo Horizonte e Campinas ao Triângu-
lo Mineiro. No que diz respeito à ligação Campinas a Belo Horizonte, é
bom frisar que essa alternativa de transporte, exclusiva para passagei-
ros, não se justifica diante da necessidade urgente de se implantar uma
moderna ferrovia ligando Belo Horizonte a São Paulo e outra ligando
Belo Horizonte a Vitória, para transporte de cargas e de passageiros,
assunto detalhado naquelas cartas. Deve-se acrescentar ainda que es-
tas ferrovias têm seu ponto inicial no Quadrilátero Ferrífero de Minas
Gerais, de onde partem outras duas ferrovias ligando Belo Horizonte
ao Rio de Janeiro. Todas elas operando num raio de 500 km a partir
de Belo Horizonte, região onde se concentra o principal das atividades
econômicas, culturais e cientificas do País e da América do Sul. Um
exemplo dessa liderança está no fato da criação de um consórcio de
universidades situadas nesse perímetro estratégico. Segundo noticiário
220
João GilBerto pArenti couto
da imprensa, sete universidades federais mineiras assinaram um pro-
tocolo que prevê uma maior integração entre as instituições, inclusive
no planejamento acadêmico, para atender às necessidades da região do
sudeste mineiro. O grupo reúne as universidades federais de Alfenas,
Itajubá, Juiz de Fora, Lavras, São João Del-Rei, Ouro Preto e Viçosa.
A Superuniversidade, como está sendo chamada, deve começar a fun-
cionar em 2011.
Outro assunto tratado pelo jornalista Mário Fontana, em sua coluna
(24/9/2010, p. 3), é sobre a exploração de minério de ferro. Como no
caso das ferrovias, aqui cabe também algumas considerações adicio-
nais, pelo teor das colocações feitas pelo Presidente do Ibram, Paulo
Camillo Vargas Penna, em resposta a uma nota do colunista publicada
no dia anterior: “Quanto à compra de jazidas no país por empresas
estrangeiras, Penna observa que se trata de fato comum no mercado
mundial. O Brasil, por exemplo, tem adquirido minas, empresas e jazi-
das na Austrália, nos Estados Unidos, no Canadá e na América do Sul,
por exemplo. De acordo com ele, essas transações de grande porte
incentivam a indústria mineral, criam empregos e estimulam a econo-
mia dos países envolvidos”. O que o Sr. Camillo Penna não disse, e é
preciso ficar bem claro, é como essas transações são controladas pelos
países estrangeiros e como as coisas acontecem entre nós. Todos se
lembram o trabalho que teve a VALE para adquirir uma jazida de níquel
no Canadá. Não só o governo canadense se envolveu a fundo nessa
transação, mas também o Parlamento e sindicatos mineiros daquele
país. Somente quando tudo foi esclarecido, inclusive a manutenção de
empregos, é que a autorização foi dada. Aqui não, como tentou escla-
recer o jornalista Mário Fontana, pois as coisas são feitas no exterior à
revelia das autoridades brasileiras, como se o Brasil fosse uma casa da
“Mãe Joana”. A luta do Presidente Lula, para readquirir o controle par-
cial da Petrobrás, perdido por obra e graça da política liberal do gover-
no FHC, defendida pelo Sr. Penna, ficou evidente no aumento de capital
ocorrido no último dia 24. Para aumentar a participação do governo
na empresa, foram investidos cerca de US$ 43 bilhões no processo de
capitalização. Este foi o custo que o Brasil teve de pagar para corrigir
um dos muitos erros do Governo Fernando Henrique Cardoso.
Agradecendo a atenção de todos, encerro esta carta com a Fábula do
Rato, pois ela transmite uma mensagem apropriada para os dias em
que vivemos e para o futuro de nossa pátria.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
221
A Fábula do Rato
Em uma fazenda havia um rato que se achava dono do pedaço.
Certa noite, por entre as frestas do assoalho, ouviu a fazendeira dizer
ao seu marido: “Precisamos comprar uma ratoeira”.
Apavorado, procurou a galinha no galinheiro e lhe disse: “A fa-
zendeira vai comprar uma ratoeira”. A galinha, ciscando, não lhe deu
atenção. Como insistisse, disse ao rato: “O que tenho com isso? Rato-
eira é assunto de rato. Vai se cuidar”, dispensando-o às gargalhadas.
Inconformado, procurou o porco no chiqueiro. Disse-lhe a mes-
ma coisa: “A fazendeira vai comprar uma ratoeira” A reação foi a mesma
da galinha: “O que tenho com isso? Este assunto não me diz respeito”.
E, chafurdando na lama, mandou que se retirasse, não antes de dar
boas gargalhadas ante o seu pavor.
Desanimado, procurou o boi no curral, na esperança de ser ou-
vido. Que nada! O boi reagiu como a galinha e o porco, desprezando
suas advertências e, ainda por cima, despachando-o com gargalhadas,
dizendo para não importuná-lo mais, pois era um assunto estranho às
suas preocupações.
Derrotado em suas andanças, quedou-se desanimado, mas aten-
to aos movimentos da fazendeira. Sequer conseguia conciliar o sono.
Certa noite, enquanto cochilava, sobressaltado, o rato ouviu um
baque surdo. Era uma cobra que, sorrateiramente, havia entrado na
despensa da fazenda, onde se escondia, e fora apanhada pela ratoei-
ra, posta ali pela fazendeira. Esta, apressada, no meio da noite, saiu
correndo para ver o que a ratoeira havia pegado. Mas, descuidada,
esqueceu-se de levar uma lanterna, pois era noite, e o resultado foi trá-
gico. A cobra havia sido pega pelo rabo, mas continuava viva e atenta a
tudo que se passava o seu redor. A fazendeira, desavisada, foi atacada
pela cobra e, aos gritos, chamou seu marido. O rato, na sua toca, tudo
observava, em silêncio.
O marido, prestativo, tratou logo de levar a esposa para a cidade
para ser medicada. Todavia, a cobra era uma jararaca muito peçonhen-
ta e a fazendeira acabou morrendo no caminho. Inconsolável, o viúvo
222
João GilBerto pArenti couto
tratou de preparar um enterro bem solene, como sua companheira
merecia. Para isso, chamou toda a vizinhança para o velório.
Era muita gente, e os criados pediram instruções de como de-
veriam alimentá-los.
O fazendeiro prontamente mandou sacrificar a galinha, que se
revelou insuficiente para alimentar tanta gente. Voltaram, portanto, a
ele para saber o que fazer.
Disse, então, para matar o porco, o que fizeram imediatamente.
Lá pelas tantas, voltaram novamente com o mesmo problema: como
alimentar tanta gente que não parava de chegar.
Como estava muito pesaroso, não vacilou em mandar abater o
boi para resolver de vez o problema. Satisfeitos, os criados saíram para
cumprir a sua missão.
Moral da história: “Nunca diga a ninguém que não tem nada com
isso, quando lhe apresentarem uma questão qualquer, mesmo que seja
estranha aos seus interesses imediatos”. Em sociedade, o que afeta um
cidadão afeta a todos, não há como ignorar o que se passa ao seu lado.
Portanto, mãos à obra e nada de ficar parado e indiferente aos acon-
tecimentos cotidianos, pois, mais cedo ou mais tarde, todos acabarão
envolvidos por eles, para o bem ou para o mal.
(Contada pelo Frei Cláudio van Balen, da Igreja do Carmo, de Belo
Horizonte, para ilustrar o sermão da missa das 11 horas da manhã, do
domingo, dia 19/9/2010)
O segundo turno das eleições presidenciais
Belo Horizonte, 7 de outubro de 2010.
À
Comissão Executiva Nacional do PSDB
Partido da Social Democracia Brasileira
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Governadores de Minas Gerais, Antô-
nio Augusto Anastasia, e de São Paulo, Alberto Goldman.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
223
Assunto: O segundo turno das eleições presidenciais e a discussão de
dois projetos prioritários para o desenvolvimento econômico e social
do Brasil e da América do Sul nas próximas décadas: a implantação de
novas ferrovias e da escola pública de tempo integral.
Prezados Senhores,
Encerrados os debates levados a efeito pelos candidatos à presidência
da República, o que restou intocado foram os projetos desenvolvimen-
tistas para o País, marca registrada do governo JK e, também, para a
América do Sul, uma preocupação do Governo Lula; neste caso sem
propostas concretas. No campo social, nenhum candidato falou objeti-
vamente sobre a implantação da Escola Pública de Tempo Integral, um
projeto que supera tudo o que o Presidente Lula fez no campo social
nos seus dois mandatos, como o Bolsa Família e outras medidas assis-
tencialistas de cunho passageiro.
Pelo noticiário da imprensa, os candidatos que disputarão o segundo
turno serão do PSDB e do PT. No caso deste partido, as propostas já
são conhecidas e serão reforçadas, segundo declarações da candidata
Dilma Rousseff à imprensa, pelo debate sobre as privatizações levadas
a efeito no governo FHC, particularmente da Petrobras. De qualquer
forma, o enfoque principal será um olhar para trás e não para o futuro.
Do lado do PSDB, o vazio é patente, pois o candidato não tem nada a
oferecer à sociedade brasileira que desperte seu interesse, já que não
existe um projeto de governo, como aquele apresentado pelo então
candidato JK, cuja meta síntese era a construção de Brasília, desafio
que empolgou a todos os brasileiros e brasileiras. No campo social,
então, a pobreza das propostas do candidato José Serra são simples-
mente ridículas, para quem pretende ser Presidente da República. Por
que não propor a implantação da Escola Pública de Tempo Integral, que
acabará de vez com o drama da infância e da juventude brasileira que,
por falta de um local apropriado para prepará-las para a vida cidadã,
são entregues à criminalidade ou internadas em campos de concentra-
ção disfarçados de “centros de recuperação de menores”?
Para preencher o vazio do primeiro caso, a minha sugestão é que o
candidato do PSDB, com apoio dos Governadores dos Estados de Mi-
nas Gerais e de São Paulo, proponha a implantação das Ferrovias Belo
Horizonte-São Paulo e Belo Horizonte-Vitória, assunto que colocará em
224
João GilBerto pArenti couto
alerta toda a população da Região Sudeste, a mais populosa do País
e onde se concentra a maioria dos eleitores, que estão cansados da
mesmice das propostas políticas levadas a efeito no primeiro turno.
O que toda sociedade brasileira quer são propostas inovadoras para o
desenvolvimento do País e geração de empregos. Algo semelhante ao
que foi feito por JK com seu plano de metas e o projeto da construção
de Brasília que mudou radicalmente a realidade brasileira. Esta mudan-
ça foi tão marcante que JK, mesmo sucedendo a Vargas, no auge de
sua popularidade, suplantou-o na mente e nos corações dos brasileiros
e das brasileiras.
Agora é necessário um projeto de impacto que supere tudo o que foi
feito nas chamadas eras FHC e Lula, fazendo com que o povo brasileiro
olhe para frente, para o futuro, animados pelas perspectivas da explo-
ração do Pré-Sal, que mudará radicalmente, de uma vez por todas, a
sociedade brasileira, colocando-a no patamar dos países do Primeiro
Mundo. O primeiro passo para que isto aconteça será a implantação
da Escola Pública de Tempo Integral e a construção das ferrovias Belo
Horizonte – São Paulo, Belo Horizonte – Vitória e a Transcontinental
Dom Bosco, que integrará o Brasil aos demais países sul-americanos,
viabilizando, de forma definitiva, o Mercosul e a Unasul, objetivos per-
seguidos, sem sucesso, pelo Presidente Lula ao longo dos seus dois
mandatos.
A Ferrovia Transcontinental Dom Bosco, ligando Cartagena, na Colôm-
bia, a Punta-Arenas, no Chile, passando por Caracas, na Venezuela,
Boa Vista, Manaus, Porto Velho, Cuiabá e Campo Grande, no Brasil,
Assunção, no Paraguai e Buenos Aires, na Argentina, tem um ramal – a
Via Leste – que, saindo de Porto Velho, em Rondônia, vai até Recife,
em Pernambuco, passando por Palmas, no Tocantins. Esta ferrovia,
se construída, mudará radicalmente a realidade das regiões Nordeste
e Centro-Oeste do País, permitindo, inclusive, dinamizar ainda mais a
Ferrovia Norte Sul, que poderá ser estendida até a cidade de Belém,
no Pará.
Por oportuno, é bom frisar que as ferrovias, ao contrário das rodovias,
permitem uma proteção eficaz do meio ambiente, ao evitar um acesso
indiscriminado de pessoas e veículos ao longo do seu traçado, inclusive
caminhões transportando ilegalmente madeiras retiradas clandestina-
mente de reservas indígenas, parques florestais, e outros tipos de áreas
de proteção ambiental. Sãos as ferrovias que vão permitir o desenvolvi-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
225
mento ecologicamente correto do País e viabilizar a exploração racional
da Bacia Amazônica e do Cerrado brasileiro.
Todas estas propostas já foram encaminhadas aos políticos e gover-
nantes por meio de inúmeras cartas que seguem em anexo para melhor
compreensão do que foi exposto nesta correspondência.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A distribuição dos royalties do petróleo e gás e
o veto presidencial
Belo Horizonte, 16 de novembro de 2010.
Exmos.(as) Srs.(as)
Deputados (as) Federais
Câmara dos Deputados
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Presidente da República, Luiz Inácio
Lula da Silva; Vice-Presidente da República, José Alencar; Ministros da
Fazenda, Guido Mantega; de Assuntos Estratégicos, Samuel Pinheiro
Guimarães; Secretário do Tesouro Nacional, Arno Hugo Augustin Filho;
Governadores(as) dos Estados da União; Diretores(as) do IPEA e da
FGV e jornais Estado de Minas, O Tempo e Folha de S. Paulo.
Assunto: A distribuição dos royalties do petróleo e gás e o veto presi-
dencial.
Prezados (as) Senhores (as) Deputados (as),
Em sua edição do dia 15/11/2010, o Folha Online informa: “O presiden-
te Lula quer finalizar a votação do novo marco regulatório do pré-sal
para garantir um reforço de caixa à sua sucessora, Dilma Rousseff, de
até R$ 20 bilhões no próximo ano. [...] Aprovadas as novas regras de
exploração de petróleo neste final de ano, o governo Dilma poderia co-
226
João GilBerto pArenti couto
locar em leilão no primeiro semestre de 2011 a primeira área do pré-sal
na bacia de Santos: o futuro campo de Libra”.
Além desse aspecto, o novo marco regulatório trata também da emen-
da do Senador Pedro Simon, que estabelece novos critérios para a
distribuição de royalties pela exploração de petróleo e gás natural da
Plataforma Continental. Essa emenda distribui esse benefício para to-
dos os Estados e municípios brasileiros, com base nos critérios de
distribuição dos fundos de participação dos Estados e dos municípios.
Todavia, tal benefício está ameaçado pelo veto presidencial à emenda
Simon, exigido pelo Governador do Estado do Rio de Janeiro, que se
autoproclamou proprietário desses bens da União, sob a alegação de
que a Plataforma Continental é parte integrante do território fluminense.
Além disso, outras questões ligadas ao novo marco regulatório estão
também sendo questionadas na Justiça por esse governador com o
mesmo argumento.
Essa pretensão do Governador Sergio Cabral, de que a Plataforma Con-
tinental pertence ao Estado do Rio de Janeiro, não encontra amparo
legal nem na Constituição Federal, que considera esta parte do terri-
tório nacional, e os bens aí ocorrentes, como propriedade da União, e
muito menos nos dados geográficos oficiais relativos à extensão ter-
ritorial desse Estado. Segundo o IBGE, a área do Estado do Rio é de
43.696,054 km2, toda ela em terra firme. Em momento algum, este
instituto acrescenta ao território dos Estados litorâneos, 1m2 sequer
dos milhões de quilômetros quadrados da Plataforma Continental. Por-
tanto, é puro delírio desse governador querer apropriar-se dos benefí-
cios com a exploração do petróleo e gás natural aí ocorrentes; e delírio
maior ainda do Presidente Lula, que negociou com essa autoridade os
royalties pela exploração desse bem da União, sem consultar os entes
federados diretamente interessados no assunto, que são os demais
Estados e todos os municípios.
Levando em conta que V. Exas. têm o poder de derrubar esse veto
presidencial, caso realmente ocorra, é de se esperar que o Presidente
Lula medite melhor sobre este assunto, que interessa de perto a toda
nação brasileira, e não apenas a um só Estado.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
227
O PMDB sanguessuga – um parasita que
enfraquece a democracia brasileira
Belo Horizonte, 19 de novembro de 2010.
Aos
Exmos. (as) Srs. (as)
Presidentes (as) dos Partidos Políticos brasileiros
Brasília – DF
Com cópias para os (as) Exmos. (as) Srs. (as) Deputados (as) Federais;
Governadores (as) dos Estados da União e jornais Estado de Minas e
Folha de S. Paulo.
Assunto: O PMDB sanguessuga – um parasita que enfraquece a demo-
cracia brasileira.
Prezados (as) Senhores (as),
Não bastassem os escândalos de corrupção que abalaram os dois
mandatos do Presidente Lula, patrocinados em sua maioria pela banda
podre do PMDB incrustada no Senado da República, fato noticiado à
exaustão pela imprensa, agora esse mesmo grupelho se prepara para
fincar suas tenazes no corpo administrativo da nova Presidenta da Re-
pública.
Segundo noticiário do jornal Estado de Minas (18/11/2010, p.4), “O Pla-
nalto reagiu à manobra do PMDB de formar um megabloco na Câmara
dos Deputados com outros partidos aliados para garantir sua influência
no futuro governo de Dilma Rousseff e ter o controle do Legislativo”.
Em outra matéria, na mesma pagina, esse jornal informa: “Numa reação
aos movimentos do PMDB, os partidos de esquerda, capitaneados por
PSB e PDT, ensaiam a formação de um bloco para rivalizar com as
intenções do líder peemedebista Henrique Eduardo Alves (RN)”.
O Estadão Online (18/11/2010), por sua vez, informa: “Nos bastido-
res da equipe de transição do governo Dilma, Temer seria a razão de
o PMDB insistir em indicar o candidato à Presidência da Câmara. ‘O
PMDB não quer o Senado porque o Temer não tem nenhuma influência
lá’, afirmou no dia 5 de novembro um deputado federal petista com
228
João GilBerto pArenti couto
alto trânsito nas negociações. ‘Os senadores (do PMDB) que estão lá
têm cabeça própria e o Temer não garantiu o apoio deles à Dilma nem
durante a campanha, que dirá no governo’, acrescentou. [...] Para o
senador Pedro Simon (PMDB-RS), ‘o PMDB tem um comando no Se-
nado com o José Sarney, Renan Calheiros e o Romero Jucá. Eles vêm
trabalhando juntos nessa campanha (pela disputa do Senado)’. Quanto
à esfera de influência do vice-presidente eleito, afirma: ‘O Michel não
tem no Senado a influência que tem na Câmara. Quem apita lá é o Sar-
ney e o Jucá, sem contar que o Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) seria
considerado ‘independente’”.
Já o Folha Online informa: “O líder do PT no Senado, Aloízio Merca-
dante (SP), descartou a formação de um bloco para superar o PMDB,
que elegeu 20 parlamentares e garantiu a maior bancada no Senado.
Assim, a presidência da casa caberia aos peemedebistas, enquanto a
primeira-secretaria ficaria com o PT. Ao todo, os petistas conquistaram
14 cadeiras. [...] ‘Nós queremos que seja respeitada essa vontade po-
pular. A presidência [do Senado] caberia ao PMDB. (...) Nós achamos
que na Câmara a presidência deveria ser do PT, que é a maior bancada’,
afirmou Mercadante após reunião, nesta quinta-feira, dos senadores
do PT eleitos em outubro. O petista afirmou que não haverá qualquer
resistência ao nome indicado pela legenda para assumir o comando do
Senado [...] ‘Se houver alguma alteração nesse princípio nós voltare-
mos a discutir. Vamos aguardar e ver o que acontece’, avisou Merca-
dante. Os petistas pretendem se reunir com o presidente da Câmara e
vice-presidente eleito, Michel Temer (PMDB-SP) para tratar do assunto.
No Senado, o PT já iniciou conversas para formar um bloco com PR,
PSB, PCB, PCdoB e PRB. Segundo Mercadante, ainda há possibilidade
de o PDT compor o grupo”.
Para superar esses impasses e promover uma faxina no Senado, reti-
rando de lá todo o lixo que se vem acumulando desde que o Senador
Sarney assumiu, pela primeira vez, a presidência dessa casa, fato no-
ticiado pela imprensa, o caminho mais correto seria a eleição do novo
Senador Aécio Neves para presidi-lo no próximo período legislativo.
Para isto seria necessário que o PSDB juntasse forças com os novos
senadores do PMDB não comprometidos com a banda podre deste par-
tido, e com a bancada do PT e de outros partidos que querem viabilizar
o Governo Dilma Rousseff e moralizar o Senado; evitando, consequen-
temente, a eleição do Senador José Sarney para um novo mandato,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
229
que, segundo declarações do Senador Pedro Simon ao Estadão Online,
seria o candidato do Planalto.
Para a nova Presidenta da República, a eleição do Senador Aécio Neves,
para presidir o Senado, seria a única maneira de se livrar da banda
podre do PMDB que vem chantageando presidentes para obter cargos
públicos desde o Governo Sarney, quando este político se apossou
deste partido e o transformou num partido sanguessuga. Desde então,
o PMDB se esquiva de apresentar candidato próprio à Presidência da
Republica, para, por trás dos bastidores, exercer sua ação parasitária,
fato comprovado agora pela ameaça de formar o tal “Blocão” para do-
minar o Congresso e obter cargos públicos.
Para os empresários, essa aliança, do PMDB Ficha Limpa, com a ala
do PSDB liderada pelo Senador Aécio Neves, seria benéfica, pois pos-
sibilitaria a Presidenta Dilma Rousseff promover as reformas estru-
turais exigidas pela indústria, como informa o jornal Estado de Minas
(18/11/2010, p. 16), em reportagem sobre a posse do novo presidente
da CNI: “‘Nosso país tem um compromisso inadiável e urgente com as
reformas estruturais, que vêm sendo postergadas ao longo de muitas
décadas, vitimadas pelo mais nocivo corporativismo. A Reforma tribu-
tária é a principal prioridade’, disse Robson Braga, eleito para um man-
dato de quatro anos. Lula fez uma brincadeira sobre a cobrança. ‘As rei-
vindicações de Robson são as mesmas de Armando (Monteiro) quando
ele tomou posse na CNI’. [...] ‘Existe um inimigo oculto que impede
essa reforma’, disse o presidente, que ontem teve um de seus últimos
encontros com o empresariado brasileiro como chefe da nação”.
Além disso, essa aliança, entre a Presidenta Dilma Roussef e o Senador
Aécio Neves, poderá influir nos novos rumos que o PSDB está procu-
rando, diante da derrota do grupo paulista, liderado pelo ex-presidente
FHC, nas últimas eleições, como informa o Folha Online (18/11/2010):
“O PSDB reuniu sua executiva nacional nesta quinta-feira pela primeira
vez desde as eleições para discutir os rumos da sigla após a derrota de
José Serra para a Presidência da República. Sem a presença de líderes
tucanos como Aécio Neves, Fernando Henrique Cardoso e o próprio
Serra, o partido decidiu fazer um plano de reestruturação do partido
para as eleições municipais de 2012 embora caminhe para manter o
senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) na presidência da legenda. Neutro na
disputa que marca o PSDB de São Paulo e Minas, Guerra tem o apoio
do grupo que teme um racha na legenda provocado pela disputa entre
230
João GilBerto pArenti couto
as alas ligadas a Serra e Aécio. O presidente tucano afirma, porém, que
a discussão sobre o comando da sigla só terá início às vésperas das
convenções partidárias do PSDB, marcadas para março (municipais),
abril (estaduais) e maio (nacional)”.
Para o PMDB Ficha Limpa, a mensagem é uma só: expurgue de seus
quadros os fichas sujas, e o grupelho incrustado no Senado da Re-
pública, para assim estar preparado para lançar candidato próprio às
eleições presidenciais de 2014, em aliança com o PSDB do Senador
Aécio Neves, e, talvez, com o próprio PT de Dilma Rousseff. O candida-
to natural para viabilizar esta aliança, que colocará o Brasil nos trilhos,
acabando, inclusive, com a corrupção no trato da coisa pública, hoje
endêmica e sem solução à vista, é o Ministro da Defesa Nelson Jobim,
que tem a confiança dos políticos e empresários, e livre trânsito nestes
partidos.
Para concluir essas considerações, nada mais oportuno do que trans-
crever a seguinte nota (Porteira fechada) do jornalista Baptista Chagas
de Almeida, em sua coluna no jornal Estado de Minas (19/11/2010, p.
2): “Tem gente na oposição que aposta que a presidenta eleita Dilma
Rousseff (PT), depois que assumir o governo, terá mais problemas
com o PMDB do que com a própria oposição. Um deputado tucano diz
ter ouvido de um colega peemedebista que o partido está exigindo mi-
nistérios com a porteira fechada. E ficou pasmo quando o parlamentar
do PMDB, dos mais pragmáticos, sentenciou: ‘Do jeito que estão sendo
negociados os espaços no governo Dilma, não há chance de o governo
dar certo’”.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
231
PARTE XVI
AS REFORMAS CIDADÃS E A
ESCOLA PÚBLICA DE TEMPO INTEGRAL
A educação pública, como foi dito no prefácio desta obra, deve
ser uma prioridade do Estado, pois se trata do primeiro passo para
edificar uma potência, como fizeram os países do Primeiro Mundo,
no Século XIX, e a Rússia e a China, no Século XX. Estas nações, ao
priorizarem a escola pública, colheram, no tempo oportuno, os frutos
de uma estratégia de Estado: tornarem-se potências globais. Neste par-
ticular, o Brasil está longe de atingir esse objetivo, a não ser que faça
uma reforma radical no sistema educacional e promova outras refor-
mas estruturais ligadas à cidadania, como saúde, transporte urbano,
saneamento básico, erradicação das favelas, geração de empregos e,
principalmente, a do Sistema Judiciário, fonte de todos os males que
transformaram o Brasil num país de injustiçados e onde a corrupção
grassa nos três poderes da República.
A Reforma do Sistema Judiciário
A corrupção, nódoa que se transformou numa marca registrada
do governo petista do Presidente Lula, do começo ao fim de seus dois
mandatos, ou seja, de José Dirceu, com os escândalos do mensalão, a
Erenice Guerra, com a máfia familiar, ambos atuando na Casa Civil, an-
tessala do gabinete presidencial, tem sua ancora no sistema judiciário
que garante impunidade aos poderosos de todos os matizes. Para se ter
232
João GilBerto pArenti couto
uma ideia dessa frouxidão moral que está enraizada no Sistema Judici-
ário, e que se espalhou pelos três poderes da República, basta atentar
para as colocações feitas pela nova corregedora do Conselho Nacional
de Justiça, a Ministra Eliana Calmon, em entrevista ao jornalista Rodri-
go Rangel, da Revista Veja (ed. 2184, nr.39, 29/9/2010, p. 110-112):
“A ministra Eliana Calmon é conhecida no mundo jurídico por
chamar as coisas pelo que elas são. Há onze anos no Superior Tribunal
de Justiça (STJ), Eliana já se envolveu em brigas ferozes com colegas
– a mais recente delas com o então presidente César Asfor Rocha.
Recém-empossada no cargo de corregedora do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ), a ministra passa a deter, pelos próximos dois anos, a
missão de fiscalizar o desempenho de juízes de todo o país. A tarefa
será árdua. Criado oficialmente em 2004, o CNJ nasceu sob críticas
dos juízes, que rejeitavam a ideia de ser submetido a um órgão de
controle externo. Nos últimos dois anos, o conselho abriu mais de 100
processos para investigar magistrados e afastou 34. Em entrevista a
VEJA, Eliana Calmon mostra o porquê de sua fama. Ela diz que o Ju-
diciário está contaminado pela politicagem miúda, o que faz com que
juízes produzam decisões sob medida para atender aos interesses dos
políticos, que, por sua vez, são os patrocinadores das indicações dos
ministros.
Por que nos últimos anos pipocaram tantas denúncias de cor-
rupção no Judiciário?
Durante anos, ninguém tomou conta dos juízes, pouco se fiscali-
zou. A corrupção começa embaixo. Não é incomum um desembargador
corrupto usar o juiz de primeira instância como escudo para suas ações.
Ele telefona para o juiz e lhe pede uma liminar, um hábeas corpus ou
uma sentença. Os juízes que se sujeitam a isso são candidatos naturais
a futuras promoções. Os que se negam a fazer esse tipo de coisa, os
corretos, ficam onde estão.
A senhora quer dizer que a ascensão funcional na magistratura
depende dessa troca de favores?
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
233
O ideal seria que as promoções acontecessem por mérito. Hoje
é a política que define o preenchimento de vagas nos tribunais superio-
res, por exemplo. Os piores magistrados terminam sendo os mais lou-
vados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém
porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo
do judiciário.
Esse problema atinge também os tribunais superiores, onde as
nomeações são feitas pelo presidente da República?
Estamos falando de outra questão muito séria. É como o braço
político se infiltra no Poder Judiciário. Recentemente, para atender a
um pedido político, o STJ chegou à conclusão de que denúncia anôni-
ma não pode ser considerada pelo tribunal.
A tese que a senhora critica foi usada pelo ministro César Asfor
Rocha para trancar a Operação Castelo de Areia, que investigou paga-
mentos da empreiteira Camargo Corrêa a vários políticos.
É uma tese equivocada, que serve muito bem a interesses políti-
cos. O STJ chegou à conclusão de que denúncia anônima não pode ser
considerada pelo tribunal. De fato, uma simples carta apócrifa não deve
ser considerada. Mas, se a Polícia Federal recebe a denúncia, investiga
e vê que é verdadeira, e a investigação chega ao tribunal com todas
as provas, você vai desconsiderar? Tem cabimento isso? Não tem. A
denúncia anônima só vale quando o denunciado é traficante? Há uma
mistura e uma intimidade indecente com o poder.
Existe essa relação de subserviência da Justiça ao mundo da
política?
Para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos. Nos tribu-
nais superiores, o critério é única e exclusivamente político.
Mas a senhora, como todos os demais ministros, chegou ao STJ
por meio desse mecanismo.
234
João GilBerto pArenti couto
Certa vez me perguntaram se eu tinha padrinhos políticos. Eu
disse: ‘Claro, se não tivesse, não estaria aqui’. Eu sou fruto de um sis-
tema. Para entrar num tribunal como o STJ, seu nome tem de primeiro
passar pelo crivo dos ministros, depois do presidente da República e
ainda do Senado. O ministro escolhido sai devendo a todo mundo.
No caso da senhora, alguém já tentou cobrar a fatura depois?
Nunca. Eles têm medo desse meu jeito. Eu não sou a única rebel-
de nesse sistema, mas sou uma rebelde que fala. Há colegas que, quando
chegam a montar o gabinete, não têm o direito de escolher um assessor
sequer, porque já está tudo preenchido por indicação política.
Há um assunto tabu na Justiça que é a atuação de advogados
que também são filhos ou parentes de ministros. Como a senhora
observa essa prática?
Infelizmente, é uma realidade, que inclusive já denunciei no STJ.
Mas a gente sabe que continua e não tem regra para coibir. É um pro-
blema muito sério. Eles vendem a imagem dos ministros. Dizem que
têm trânsito na corte e exibem isso a seus clientes.
E como resolver esse problema?
Não há lei que resolva isso. É falta de caráter. Esses filhos de
ministros tinham de ter estofo moral para saber disso. Normalmente,
eles nem sequer fazem uma sustentação oral no tribunal. De modo
geral, eles não botam procuração nos autos, não escrevem. Na hora do
julgamento, aparecem para entregar memoriais que eles nem sequer
escreveram. Quase sempre é só lobby.
Como corregedora, o que a senhora pretende fazer?
Nós, magistrados, temos tendência a ficar prepotentes e vaido-
sos. Isso faz com que o juiz se ache um super-homem decidindo a vida
alheia. Nossa roupa tem renda, botão, cinturão, fivela, uma mangona,
uma camisa por dentro com gola de ponta virada. Não pode. Essas
togas, essas vestes talares, essa prática de entrar em fila indiana, tudo
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
235
isso faz com que a gente fique cada vez mais inflado. Precisamos ter
cuidado para ter práticas de humildade dentro do Judiciário. É preciso
acabar com essa doença que é a ‘juizite’”.
A solução para esse estado de coisas está em se convocar uma
Assembléia Nacional Constituinte para reformar a atual Constituição.
Com esta medida será possível fundir o Supremo Tribunal Federal (STF)
com o Superior Tribunal de Justiça (STJ), criando uma única corte de
apelação, a Corte Superior de Apelação (CSA), cujos membros, cinco
por Estado, seriam eleitos pelo voto popular, direto e secreto, para um
mandato de cinco anos, sem direito a reeleição. Os candidatos a es-
ses cargos seriam os juízes de primeira instância que se inscreveriam,
por vontade própria, numa lista única preparada pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) para cada Estado da federação. Após cumprirem seus
mandatos, os juizes voltariam para seus Estados de origem para reas-
sumirem as funções que exerciam antes de serem eleitos para a CSA.
A Reforma do Sistema Educacional
A carta a seguir transcrita, dirigida ao Exmo. Sr. Presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, sintetiza os principais pontos que
devem ser abordados na implantação de uma reforma do sistema edu-
cacional brasileiro, imprescindível para que Era do Pré-Sal, profetizada
por Dom Bosco, realmente traga benefícios a todos os brasileiros e
brasileiras, acabando, consequentemente, com o secular quadro de in-
justiça social que marca a história do Brasil.
A Era do Pré-Sal e a Escola Pública de Tempo
Integral
Belo Horizonte, 11 de setembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
236
João GilBerto pArenti couto
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os Exmos. Srs. Vice-Presidente da República, José Alen-
car; Ministros da Educação, Fernando Haddad; de Ciência e Tecnologia,
Sergio Machado Rezende; da Defesa, Nelson Jobim; Governadores(as)
dos Estados da União; Prefeitos das Capitais; Deputados(as) Federais;
Senadores de Minas no Congresso Nacional; Deputados(as) Estaduais
de Minas Gerais; Partidos Políticos e jornais Estado de Minas, O Tempo
e Folha de S. Paulo.
Assunto: A Era do Pré-Sal e a Escola Pública de Tempo Integral.
Prezado Senhor Presidente,
Os novos tempos que se anunciam para o Brasil, assinalados pelas
descobertas de gigantescas reservas de petróleo e gás natural na Pla-
taforma Continental brasileira, numa camada estratigráfica denominada
de Pré-Sal, foram profetizados por Dom Bosco no final do século XIX.
Outras riquezas minerais, igualmente fabulosas, também foram profeti-
zadas, não só para o Brasil, mas também para a América do Sul, muitas
das quais ainda estão para serem descobertas.
Os anos decisivos para a realização dessas profecias situam-se entre
2003/2063, razão por que o Brasil deve estar preparado para aproveitar
este momento histórico. Mas, para isso, é preciso resolver de imediato
um problema até hoje insolúvel: a educação pública – o calcanhar de
Aquiles da sociedade brasileira. Sem uma população educada, será inútil
acumular riquezas, seja do pré-sal ou de qualquer outra fonte, pois ela
se dispersará em obras inúteis, como fizeram os faraós do Egito, com
suas pirâmides mortuárias, ou por políticos ignorantes, como o prefeito
de uma paupérrima cidade nordestina que construiu, na sede do mu-
nicípio, uma estátua religiosa maior do que a Estátua da Liberdade, em
Nova Iorque, ou do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Somente uma
população ignorante permite que recursos públicos sejam desviados da
educação ou saúde para satisfazer interesses demagógico-eleitoreiros.
Esta ignorância das massas, como se diz, compromete os alicerces de
qualquer nação, fazendo-a desaparecer ao primeiro contratempo, como
aconteceu com o Império Inca, que desapareceu quando os espanhóis
massacraram o imperador e sua corte, a elite dirigente, reunidos numa
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
237
pequena praça. O que sobrou foi uma população imensa, totalmente
ignorante e incapaz de esboçar qualquer resistência ou saber realmente
o que se passava. Ao contrário, uma nação instruída, como era a Ale-
manha nazista, que mesmo após ter sido derrotada numa guerra de
terra arrasada, e ter sua elite pensamente levada como prisioneira pelos
vencedores, pôde se levantar das cinzas como uma fênix, e construir a
nação mais rica e poderosa da Europa em um curto espaço de tempo.
A educação pública deve ser uma prioridade do Estado, pois se trata
do primeiro passo para edificar uma potência, como fizeram os países
do Primeiro Mundo, no século XIX, e a Rússia e a China, no século
XX. Estas nações, ao priorizarem a escola pública, colheram, no tempo
oportuno, os frutos de uma estratégia de Estado: tornarem-se potências
globais. Neste particular, o Brasil está longe de atingir este objetivo, a
não ser que faça uma reforma radical no sistema educacional e outras
reformas estruturais ligadas à cidadania, como saúde, transporte urba-
no, saneamento básico, erradicação das favelas, geração de empregos
e, principalmente, a do Sistema Judiciário. Este último, hoje, fonte de
injustiças e o maior responsável pela corrupção dos costumes, que
anula, na prática, os direitos dos cidadãos, fazendo da cidadania uma
palavra morta e sem sentido.
Mas a prioridade número 1 de um governo que vise transformar o
Brasil numa potência, e os brasileiros em cidadãos conscientes de seus
direitos e obrigações, é a educação; destacando-se a implantação da
Escola Pública de Tempo Integral, assunto abordado a seguir, na forma
de comentários e sugestões, acrescido de um estudo – Educação: O
Calcanhar de Aquiles da Sociedade Brasileira – que trata do porquê do
fracasso da escola pública no Brasil.
Agradecendo a atenção de V. Exa., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
A Escola Pública de Tempo Integral
A Escola Pública de Tempo Integral não é novidade no setor
educacional brasileiro, pois, na década de 40 do século XX, o educa-
dor Anísio Teixeira chegou a implantá-la na Bahia, a Escola Parque de
Salvador, e, em passado mais recente, o ex-Governador do Estado do
238
João GilBerto pArenti couto
Rio de Janeiro, Leonel Brizola, tentou e fracassou na implantação dessa
escola nos seus dois mandatos (83/86 e 91/94). Em 1999, o Gover-
nador Garotinho tentou ressuscitá-la, como informa o Jornal do Brasil
(10/10/1999, p. 3): “Símbolo máximo do governo Brizola, os Cieps
foram praticamente abandonados nos últimos quatro anos, durante o
governo Marcello Alencar. Inspirados na idéia da escola de tempo in-
tegral do educador Anísio Teixeira e implantados por Darcy Ribeiro, os
Cieps começaram a ser recuperados este ano, como projeto prioritário
do governo Garotinho”. Esta iniciativa, todavia, não prosperou, fracas-
sando como as demais.
A Implantação da Escola de Tempo Integral
O primeiro passo para implantar a Escola Pública de Tempo Inte-
gral, funcionando das 7 às 17 horas, abrangendo a Pré-Escola e o ciclo
básico infanto-juvenil (Ensino Fundamental e Médio), será de caráter
político-administrativo, pois algumas medidas fundamentais e estrutu-
rais terão de ser tomadas. A primeira delas será transferir do Ministério
da Educação, para o Ministério de Ciência e Tecnologia, a administração
das universidades e tudo o que se relacionar com o Ensino Superior.
Com esta separação de atribuições, o Ministério da Educação
passará a cuidar exclusivamente do ensino básico, monitorando e dan-
do apoio, o qual passará a ser de competência exclusiva dos Estados,
ficando os municípios com a responsabilidade de administrar as Cre-
ches Comunitárias, para crianças de 0 até 3 anos de idade, e o Sistema
Único de Saúde (SUS). Neste novo modelo, o ensino básico será divi-
dido em quatro ciclos: Pré-Escola (4 a 6 anos), Infantil (7 a 10 anos),
Juvenil (11 a 14) e Profissionalizante (15 a 18), totalizando quinze anos
de escolaridade de tempo integral, tempo suficiente para preparar as
crianças e os adolescentes para a vida adulta como cidadãos conscien-
tes de seus direitos e obrigações.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
239
O Período de Transição
Para implementar essas reformas, é preciso um planejamento
cuidadoso, com metas a curto, médio e longo prazos, a fim de que a
improvisação não venha a comprometer o projeto antes mesmo de ele
ser iniciado. Para isso, é necessário que sua adoção comece pelas ca-
pitais dos Estados, inclusive suas regiões metropolitanas, expandindo
a seguir para os centros mais populosos e, finalmente, para todas as
cidades e vilas do País. Durante esse período de transição, o modelo
atual continuará existindo, mas dentro de uma programação que vise à
sua extinção num determinado prazo.
Além disso, é preciso também que todas as outras escolas de
Ensino Fundamental e Médio, mantidas com o dinheiro público, em
nível federal, estadual e municipal, como os CEFETs, o Colégio Pedro
II, Institutos Federais, Escolas Técnicas vinculadas a Universidades, os
Colégios Militares, as Escolas Preparatórias de Cadetes do Exército,
Marinha e Aeronáutica, e também os estabelecimentos escolares das
polícias estaduais e outras entidades públicas, sejam incorporados à
Escola Integral, que será a única escola mantida com o dinheiro públi-
co para atender toda a população, sem discriminações, privilégios ou
exceções.
Nessa fase de transição, os colégios e as demais escolas mi-
litares adotarão o currículo da Escola Pública de Tempo Integral, e
substituirão seus uniformes por um uniforme padrão de uso obrigatório
na Escola de Tempo Integral, para diferenciá-la dos estabelecimentos
hoje existentes. Além disso, esses estabelecimentos militares de ensino
abrirão suas portas à população em geral e se desvincularão das Forças
Armadas, passando para o controle dos Estados onde se situarem. Essa
mudança será benéfica para a escola pública, hoje reservada aos po-
bres, pois, ao matricular seus filhos na Escola Integral, a classe média
exigirá, como sempre fez, ensino de qualidade. Este fato contribuirá
também para eliminar discriminações e privilégios existentes, fortale-
cendo, consequentemente, a democracia.
240
João GilBerto pArenti couto
As Forças Armadas, por sua vez, a partir dessa transformação
escolar, administrarão apenas as academias para a formação de oficiais,
as quais selecionarão seus alunos por meio de vestibular aberto a todos
os jovens, de ambos os sexos, eliminando quaisquer privilégios para
filhos de militares. Isto deve ser obrigatório, pois hoje em dia, segundo
a imprensa, cerca de 60% dos oficiais têm parentescos entre si, gerando
uma casta separada da sociedade e propiciando a formação de clãs fa-
miliares dominantes dentro das corporações, como os Geisel, que, entre
três irmãos generais, sendo um deles Ministro do Exército, escolheram
por conta própria, durante o regime militar, qual seria o Presidente da
República. O eleito por esse triunvirato foi o General Ernesto Geisel. Essa
mudança também reforçará o sentimento de democracia nos altos esca-
lões das Forças Armadas, beneficiando toda a sociedade.
Diretrizes Básicas para a Implantação
Para que a Escola Pública de Tempo Integral passe a ser res-
peitada pelos alunos e pela sociedade, é necessário também que sejam
traçadas diretrizes básicas para a sua implantação e funcionamento,
regulando desde os projetos arquitetônicos das escolas, passando pe-
los currículos, até um sistema de manutenção e segurança de suas
instalações. Neste planejamento, em que tudo deverá ser padronizado,
devem ser levadas em conta as características de cada ciclo educacio-
nal (Pré-Escola, Infantil, Juvenil e Profissionalizante), os quais deverão
funcionar em unidades escolares separadas e especialmente projetadas
para os fins a que se destinam, inclusive dotadas de cantinas, banhei-
ros, áreas de recreação e de esportes, bibliotecas, laboratórios, admi-
nistração, etc.
Quanto ao currículo, o ponto a destacar na Escola Integral será o
Ciclo Profissionalizante (15-18 anos), que priorizará a formação profis-
sional, absorvendo o Sistema S, os CEFETs e outras escolas técnicas,
que serão reformulados para se integrarem ao novo modelo. Além disso,
a critério de cada Unidade de Ensino, como poderão ser chamadas as
Escolas de Tempo Integral, terá a liberdade de escolher, em função da
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
241
demanda local, quais os cursos profissionalizantes que oferecerão aos
alunos. Neste caso, uma lei especial criará cursos técnicos para atender
às demandas da sociedade, como auxiliares de enfermagem, laborato-
ristas, monitores educativos, mão de obra qualificada para a indústria,
inclusive para a construção civil, etc. Assim, todo aluno que frequentar,
e concluir, o Ciclo Profissionalizante estará apto não só a concorrer aos
vestibulares para entrar nas universidades, como também para exercer
a profissão para a qual foi treinado, ou executar pequenos serviços de
manutenção da rede elétrica, água, esgoto, carpintaria, computadores,
etc., de suas próprias residências.
Além dos uniformes padronizados, os alunos da Escola Integral
receberão gratuitamente todo o material escolar, não gastando nada
para o seu aprendizado. Tudo será fornecido pelo Estado, inclusive
três alimentações diárias: café da manhã, ao chegar à escola; almoço,
ao meio-dia; e lanche reforçado ao final da jornada, antes de serem
liberados. O cardápio para essas refeições, próprio para a faixa etária
de cada ciclo, será elaborado por nutricionistas e preparado na cantina
da escola ou fornecido por empresas especializadas. Além disso, cada
aluno terá um armário privativo para guardar seus pertences escola-
res, devidamente protegidos por um sistema de segurança eletrônico,
evitando assim o transporte desse material em pesadas mochilas que
podem prejudicar sua formação corpórea.
Para cuidar da saúde dos alunos, dos professores e dos fun-
cionários administrativos, cada escola terá consultório médico, clínica
dentária e uma enfermaria para ocorrências rotineiras, cujos serviços
poderão ser prestados por profissionais autônomos ou clínicas espe-
cializadas mediante contrato de prestação de serviços, o que também
poderá ocorrer com os serviços de limpeza e segurança. Com isso
haverá um maior controle dos gastos, da qualidade, e da regularidade
dos serviços prestados.
Os Recursos Necessários
Na Era do Pré-sal, como se espera, não haverá falta de recur-
sos financeiros para a educação, mas, até que esse tempo chegue, há
242
João GilBerto pArenti couto
necessidade de se tomar algumas medidas para possibilitar a implan-
tação da Escola Pública de Tempo Integral no menor espaço de tempo
possível. A primeira delas será construir uma unidade padrão para cada
ciclo de ensino nas capitais dos Estados, para servir de modelo para
as novas construções e adaptação das existentes, como os CIEPs do
Rio de Janeiro. A segunda será fazer um levantamento de todos os re-
cursos financeiros públicos e privados destinados à educação, em nível
federal, estadual e municipal, inclusive as renúncias e incentivos fiscais.
Também devem ser incluídas neste levantamento as verbas direciona-
das para fins educacionais, esportes e lazer, por parte das loterias, das
ONGs, das empresas estatais e de economia mista, inclusive gastos
promocionais, que hoje são aplicadas de forma aleatória sem nenhuma
vinculação com um projeto básico de educação.
Creches Comunitárias
Com diz o dito popular, “a educação vem do berço”, razão por-
que a ele se deve dedicar especial atenção. Os cuidados que as crianças
de 0 a 3 anos de idade recebem nesta faixa etária é que definirão seu
desempenho na escola e seu lugar na sociedade quando adulto, pois é
nessa ocasião que todos os sinais vitais do ser humano são formados.
Antecedendo essa fase, igualmente importante, é a sua gestação. Por-
tanto, os cuidados com o pré-natal estão ligados à primeira infância, e
assim tanto a assistência às gestantes, quanto aos recém-nascidos, e
seu crescimento até 3 anos, devem ser acompanhados como se fosse
uma só etapa da vida. Para isso é preciso que as Creches Comunitárias
sejam projetadas para comportarem também uma clínica médica para
atender as gestantes durante a gravidez e conduzirem o processo pré-
natal com os cuidados devidos e acompanharem o período pós-parto e
a amamentação. Este tipo de atendimento facilitará as futuras e jovens
mamães a se familiarizarem com o trato dos recém-nascidos, evitando
problemas futuros.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
243
Centros de Atendimento Materno-Infantil
Esses Centros de Atendimento Materno-Infantil, se assim po-
demos chamá-los, devem ser projetados para atender a um número
limitado de gestantes e crianças, a fim de se evitar contaminações de
doenças próprias dessa fase, principalmente durante a amamentação.
Esses centros também devem ser padronizados, como sugerido para
as Escolas de Tempo Integral, bem como o seu sistema operacional,
o qual poderá empregar as próprias mães com tempo disponível para
cuidarem das crianças, após, evidentemente, serem treinadas para isso.
Para disseminar esse tipo de unidade padrão, o governo federal finan-
ciará um projeto piloto em cada capital, para que as prefeituras de
cada Estado copiem seu modelo e o adotem em seus municípios. A
verba para financiar a disseminação desses centros virá do Pré-sal, ou
pelo remanejamento de verbas públicas mal aplicadas ou dissipadas
em obras inúteis.
Resumo do Quadro
Em resumo, não basta a implantação pura e simples da Escola
Pública de Tempo Integral, e das creches comunitárias, ambas univer-
sais e obrigatórias, para que todos os brasileiros exerçam seus direitos
à cidadania e a violência urbana não prevaleça sobre as práticas civi-
lizadas de comportamento coletivo. É necessário mais do que isso, é
preciso que a implantação dessa escola se faça no bojo de uma reforma
radical do sistema educacional brasileiro, a começar pela separação
da educação básica do ensino universitário, cabendo ao Ministério da
Educação o monitoramento do ensino básico, e ao Ministério da Ciên-
cia e Tecnologia o gerenciamento do universitário. Neste novo mode-
lo, como foi sugerido anteriormente, os Estados se responsabilizariam
pelo Ensino Fundamental e Médio, os municípios pela administração
das Creches Comunitárias e o Governo Federal pelas Universidades.
Acompanhando essa revolução estrutural, é imperioso que se
faça, também, uma revolução pedagógica, que deve apoiar-se numa
244
João GilBerto pArenti couto
nova arquitetura dos prédios escolares, de tal forma que as escolas
públicas se tornem espaços acolhedores para a infância e a juventude,
estimulando-as a valorizarem esse espaço de cidadania, no qual seu fu-
turo estará sendo construído, e do País também. Além disso, é preciso
que esse espaço seja enriquecido com todos os recursos da informá-
tica, laboratórios para experimentos científicos, salão de jogos, como
xadrez, baralho, bingos, etc., ligados a uma orientação pedagógica para
estimular o desenvolvimento intelectual dos estudantes, bem como de
quadras esportivas e academias para educação física, e consultórios
para médicos, dentistas e oculistas para cuidar da saúde.
O Papel da Intelectualidade Brasileira
e a Classe Política
Para encerrar este capítulo trágico, que é a história da educa-
ção pública no Brasil, sujeita a vicissitudes de toda ordem, é preciso
fazer mais alguns comentários. O primeiro deles é sobre a capacidade
da intelectualidade brasileira de diagnosticar, com precisão, os males
do ensino público e sua total incapacidade de propor um modelo de
ensino padronizado para todo o território nacional, inclusive um progra-
ma pedagógico moderno. Diante desta incapacidade da elite pensante
brasileira, formada por muitos pedagogos e demagogos, de propor um
novo modelo para a escola pública, os políticos e governantes devem
assumir a vanguarda dessa empreitada e elaborar leis que deem à in-
fância e juventude de nosso País a chance de sonharem e realizarem
seus sonhos de dias melhores.
A revolução educacional de que o País precisa não virá do eixo
Rio-São Paulo, polos de saber do passado, hoje suportes podres de um
eixo enferrujado que serve de poleiro para intelectuais acomodados e
sem ideias, que mais se parecem com eunucos estéreis, mas sim por
meio de congressistas ágeis e competentes, com visão de futuro. Mais
uma vez, é bom lembrar: Educação é assunto de Estado, é um direito
do cidadão, e não uma questão menor a ser tratada por Organizações
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
245
Não Governamentais (ONGs) e entidades empresariais ou filantrópicas,
as quais transformaram esse direito em instrumento de marketing ou
de caridade, cujos beneficiados, agradecidos e submissos, passam a
lhes dever esse favor, pois, por falta de escola, desconhecem o signifi-
cado da palavra cidadania.
Balanço da Situação
Para se ter uma ideia do atraso do Brasil no campo educacional,
da Pré-Escola à Universidade, basta consultar o noticiário da imprensa
veiculado na primeira semana de julho de 2010. Para começar segue
trechos do editorial do jornal Estado de Minas do dia 2/7/2010 (p.10),
intitulado “O drama do ensino médio”: “Ninguém deve se iludir. Por
mais que o Brasil tenha avançado na oferta de educação básica, como
informa os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC), o país tem
de se preocupar com a dramática situação do ensino médio. Bastou a
economia acelerar o ritmo do crescimento para disparar os primeiros
alertas sobre o apagão de mão de obra. Falta gente em condições de
compreender um simples manual de instrução básico ou técnico na
indústria. Os resultados do Ideb para o ensino médio explicam em boa
parte essa situação. Afinal, as metas do governo para esse nível de
ensino eram modestas e, em vez de comemoração, o avanço de mísero
0,1 ponto entre 2007 e 2009 retrata a grave defasagem entre a prepara-
ção do jovem brasileiro para o trabalho e a realidade da demanda, o que
compromete a competitividade do país. [...] Além disso, os poucos que
cursam o ensino médio estão longe do aprendizado que lhes facilitará o
emprego. Menos de 10% dos alunos têm acesso ao ensino profissiona-
lizante, o que significa que a esmagadora maioria dos jovens está sendo
teoricamente preparada para ingressar numa universidade, quando se
sabe que a maioria deles não terá acesso ao terceiro nível de ensino.
Não à toa, a metade dos matriculados desistem por falta de interesse.
É estratégico encarar esse drama com urgência. [...] Nesse sentido, há
uma boa ideia em gestação no governo, que pode vir em socorro à falta
246
João GilBerto pArenti couto
de qualificação do jovem brasileiro para o trabalho. Os ministérios da
Fazenda e o da Educação estudam a concessão de incentivos fiscais a
empregadores que financiarem cursos do ensino médio profissional em
escolas particulares para seus funcionários. Já que o governo, apesar
da eloquência do discurso oficial, não tem sido capaz de ofertar a pre-
paração dos jovens no ritmo em que eles são chamados pela economia,
que se abra mão de tributos para viabilizá-la em instituições privadas
qualificadas. Mas que esses estudos não levem tempo demais”.
O Cacoete da Elite e seus Privilégios
Bem..., a respeito destes últimos comentários, é bom frisar um
cacoete da elite que já se tornou crônico: ao invés de olhar de frente
para os problemas do ensino público, e agir para resolvê-los, esses
mandarins da nação buscam atalhos para resolver seus problemas,
e disso tirarem o melhor proveito, mas nunca resolver o drama do
cidadão que não tem uma escola digna deste nome. A sugestão para
“que se abra mão de tributos para viabilizá-la em instituições privadas
qualificadas” resume essa postura elitista. Esta receita já vem sendo
aplicada, com resultados limitados, desde a década de 40 do século
passado, quando foi criado, na Era Vargas, o SENAI.
A historia desta instituição, disponível em seu portal na Internet,
esclarece este assunto: “Criado em 22 de janeiro de 1942, pelo decre-
to-lei 4.048 do então presidente Getúlio Vargas, o SENAI surgiu para
atender a uma necessidade premente: a formação de mão-de-obra para
a incipiente indústria de base. Já na ocasião, estava claro que sem edu-
cação profissional não haveria desenvolvimento industrial para o País.
Euvaldo Lodi, na época presidente da Confederação Nacional da Indús-
tria (CNI), e Roberto Simonsen, à frente da Federação das Indústrias
de São Paulo, inspiraram-se na experiência bem-sucedida do Centro
Ferroviário de Ensino e Seleção Profissional e idealizaram uma solução
análoga para o parque industrial brasileiro. Dessa maneira, o empresa-
riado assumiu não apenas os encargos, como queria o Governo, mas
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
247
também a responsabilidade pela organização e direção de um organis-
mo próprio, subordinado à CNI e às Federações das Indústrias”.
O Imposto Privado
Como complemento, é bom informar que, para viabilizar esse
projeto, o governo Vargas criou um imposto especial a ser arrecadado
pelos próprios empresários. Hoje em dia, estes recursos bilionários
sustentam o chamado Sistema “S”, uma gigantesca estrutura privada
que exerce seus amplos poderes sem controle do Estado. Trata-se, na
verdade, da única instituição privada, no mundo, que tem o direito de
arrecadar impostos e aplicá-los em benefício próprio. Para se ter uma
ideia do que representa esse imposto privado, basta atentar para a
seguinte matéria do Folha Online (10/7/2010), assinada pela jornalista
Julianna Sofia: “As empresas brasileiras recolherão neste ano o valor
recorde de R$ 11,3 bilhões aos cofres do Sistema S (entidades como
Senac, Sesi, Sesc). O valor das contribuições sociais – pagas princi-
palmente sobre a folha de salários- engordará o caixa do sistema, que
ainda contará com outras fontes de receita para chegar ao orçamento
estimado de R$ 16,1 bilhões. O montante supera os recursos dispo-
níveis para o programa Bolsa Família neste ano (R$ 14 bilhões). Já
o valor referente às contribuições sociais equivale a quase seis vezes
o total estimado para a receita do Imposto Sindical (R$ 2 bilhões).
Ligadas às confederações empresariais, as entidades do Sistema S se-
rão beneficiadas com a capitalização recorde em pleno ano eleitoral.
No ano passado, as contribuições sociais ao Sistema S renderam R$
10,3 bilhões. O aumento de 10% esperado para este ano decorre do
bom desempenho do mercado de trabalho formal. Nos primeiros cin-
co meses do ano, as contratações com carteira assinada registraram
números inéditos, aumentando a folha de salários das empresas e o
valor arrecadado pelo Sistema S. Dados do Ministério da Previdência
mostram que o repasse de contribuições ao sistema, entre janeiro e
abril, já alcançou R$ 3 bilhões. A contribuição compulsória para o sis-
tema é classificada como um dos componentes do “custo Brasil” e já
248
João GilBerto pArenti couto
foi colocada na berlinda pela área econômica do governo. A equipe do
ministro Guido Mantega (Fazenda) chegou a estudar a desoneração da
folha de pagamento via extinção da contribuição, mas a proposta não
resistiu ao lobby das entidades”.
A Hipocrisia Empresarial
Outros exemplos ilustram a hipocrisia empresarial no trato da
questão educacional e social, destacando-se, entre eles, os projetos
da Rede Globo de Televisão chamados “Criança Esperança” e “Amigos
da Escola”, pela propaganda subliminar que encerra: a de que atitudes
pontuais e ou pessoais podem resolver a questão educacional no Bra-
sil, que, antes de tudo, requer uma ação decisiva do Estado e recursos
financeiros substanciais. Como estes recursos são utilizados para pagar
os juros da dívida pública e manter a moeda estável, objetivos prioritá-
rios da elite e do empresariado, este tipo de propaganda visa desviar a
atenção da opinião publica, mantendo-a alienada e submissa aos dita-
mes de governos oportunistas, aos interesses de grupos empresariais
privados, entidades de classes e sindicatos corporativos.
Mas, mesmo com todas essas atitudes assistencialistas e privi-
légios, o quadro de deficiências estruturais na educação persiste, e se
agrava, prejudicando os próprios empresários, como noticia o jornal
Estado de Minas em sua edição do dia 4/7/2010 (p.16): “O descom-
passo entre a grande oferta de vagas para qualificação profissional e
emprego na construção civil e a baixa procura de candidatos pode estar
relacionado ao temor das famílias de perder o beneficio garantido todo
mês pelo Bolsa-Família. O nó que ata o próprio programa é uma das
pistas para explicar as mais de 10 mil vagas à espera de interessados
em Belo Horizonte e região metropolitana da capital mineira para os
cursos de formação de mão de obra ministrados pelo Serviço Nacional
de Aprendizagem Industrial (Senai-MG), que integram o chamado Plano
Setorial de Qualificação (Planseq) da construção, por meio de convênio
com o Ministério do Trabalho e Emprego”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
249
As Deficiências Estruturais
As deficiências no setor educacional brasileiro não se limitam à
escola pública. Ela atinge indistintamente tanto a escola pública como
a escola privada, como informa reportagem de Antônio Góis e Ângela
Pinha no site da Folha Online (5/7/2010), intitulada Rede pública está
3 anos atrás da particular: “Apesar de a distância que separa a rede
pública e a particular ter caído de 2005 a 2009, um aluno que completa
o ensino fundamental em colégio privado sabe, em média, mais que
um formado no ensino médio público, com três anos a mais de estudo.
Essas são constatações que podem ser feitas a partir dos resultados
do Ideb, principal indicador do MEC de avaliação da qualidade da edu-
cação brasileira. [...] A desigualdade entre as duas redes, no entanto,
é gritante ao comparar o quanto um aluno de escola pública aprendeu
ao final do ensino médio (antigo 2º grau), em comparação com um da
rede privada que finalizou o fundamental (antigo 1º grau). [...] O pre-
sidente da Undime (entidade que representa os secretários municipais
de educação), Carlos Eduardo Sanches, diz que, considerando o quanto
é gasto por aluno em cada rede, a distância deveria ser maior. Ele diz
que o Fundeb [fundo que distribui recursos públicos por estudante]
dá hoje R$ 1.415 por ano por aluno, enquanto uma mensalidade em
escola particular já fica, em média, em torno de R$ 800. ‘É claro que as
públicas precisam melhorar, mas, com essa quantidade de recursos, o
retrato do sistema privado é que é dramático’. Schwartzman concorda,
lembrando que o ensino particular no Brasil, quando comparado com o
de outros países no Pisa (exame internacional de avaliação do ensino),
deixa a desejar. ‘Mesmo as melhores particulares do Brasil são piores
do que as dos outros países. São muito orientadas para vestibulares,
têm muitas matérias e o mesmo problema com a má formação dos
professores no setor público’”.
Interesses Privados na Educação
Esse quadro de deficiências estruturais do setor educacional bra-
sileiro permite que interesses privados dele tirem o melhor proveito,
250
João GilBerto pArenti couto
pois está se tornando um bom negócio. Mais uma vez, é bom lembrar,
educação é assunto de Estado, é uma questão estratégica que visa à
formação de uma nação, e não um mero instrumento de investimentos
especulativos, apátridas, como informa o Folha Online (12/7/2010): “A
Abril Educação anunciou nesta segunda-feira a aquisição do grupo An-
glo, em um negócio que envolve o Anglo Sistema de Ensino, o Anglo
Vestibulares e a Siga, empresa focada na preparação para concursos
públicos. O negócio faz parte da estratégia da companhia para se tornar
a líder do setor no país. Com a compra do Anglo, a Abril Educação –
que já conta com as editoras Ática e Scipione – terá faturamento acima
de R$ 500 milhões neste ano. Guilherme Faiguenboim e Assaf Faiguen-
boim, membros de uma das famílias fundadoras do Anglo, vão per-
manecer à frente das operações da empresa, trabalhando em conjunto
com Manoel Amorim, presidente da Abril Educação desde o mês passa-
do. Atualmente, a Abril Educação, que possui a segunda maior rede de
sistema de ensino do país, conta com mais de 500 escolas associadas
ao Anglo e as 350 que já fazem parte do sistema de ensino SER, de
propriedade da empresa, criado em 2007. ‘O negócio irá permitir à
Abril Educação fortalecer sua presença junto às redes pública e privada
de ensino’, disse a companhia, em nota. O Anglo possui hoje 211 mil
alunos em 484 escolas da rede privada em 316 municípios brasileiros.
Outros 38 mil alunos estão na rede pública em 24 municípios. O SER já
conta com mais de 85 mil alunos da rede privada. Os dois sistemas de
ensino seguirão sua atuação com independência”.
O Colapso do Ensino Universitário
Esse quadro negativo de distorções focais não se limita ao ensi-
no básico, ele atinge, por via de consequência, também o universitário,
comprometendo a qualidade e a quantidade de profissionais de que
o País precisa, como tem noticiado a imprensa. O jornal Folha de S.
Paulo, em matéria intitulada Brasil forma mais doutores em humanas
(4/7/2010, p. A22), assinada por Ricardo Mioto, informa: “O doutora-
mento brasileiro está cada vez mais interessado em Machado de Assis
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
251
e menos em relatividade. Ao menos é isso que sugere um novo levan-
tamento do governo. Ele mostra que a expansão da pós-graduação
brasileira é puxada, em primeiro lugar, pelo aumento de doutores nas
humanidades, e não nas ciências exatas e biológicas. Em 1996, as ci-
ências exatas e da Terra ocupavam o segundo lugar entre as áreas que
mais formavam doutores no país, com 16,1%. Em 2008, caíram para o
sexto lugar, com 10,6%. [...] Para Carlos Aragão, presidente do CNPq
(Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico), a
queda relativa na formação de quadros em ciências exatas é preocu-
pante. ‘Formar cientistas e engenheiros é fundamental para que exista
inovação tecnológica nas empresas’, afirma. Além disso, pondera, áreas
estratégicas para o país precisam de pessoas, como o programa espa-
cial, o programa antártico, a política nuclear, as questões que envolvem
clima, energia e agricultura e o pré-sal. [...] ‘É necessário corrigir essa
distorção’, diz”.
As Consequências Negativas Imediatas
As consequências negativas imediatas desse estado de coi-
sas está escancarada em uma reportagem do jornal Estado de Minas
(2/7/2010, p.23) sobre o chamado Viaduto das Almas: “Adiada por seis
vezes, a inauguração do Viaduto Márcio Rocha Martins, como será
chamado o elevado que substituirá o macabro Vila Rica, mais conheci-
do como Viaduto das Almas, em Itabirito, na Região Central de Minas
Gerais, corre o risco de ser inaugurado só pelo sucessor do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A certeza de um novo adiamento foi
a tardia constatação do Departamento Nacional de Infraestrutura de
Transportes (Dnit) de que uma das montanhas rasgadas pela variante
que dará acesso à ponte está sob ameaça de desmoronamento. Os
engenheiros concluíram que será preciso eliminar a encosta ou pelo
menos retirar grande parte de terra. [...] Por seis vezes, a inauguração
foi adiada. O projeto executivo do complexo viário que substituirá o
Vila Rica – viaduto e variante – foi elaborado em 1998, mas a obra
só começou no fim de 2006, quando o Dnit estimou a primeira data
252
João GilBerto pArenti couto
para entregá-la à população: agosto de 2008. Mas, ainda em 2006, a
conclusão foi revista para novembro de 2008. Depois, nova data: abril
de 2009. Porém, naquele mês, apenas o viaduto estava concluído. A
construção da variante sequer havia sido iniciada. Uma falha geológica,
que causou uma erosão no km 593 da 040, obrigou o órgão a alterar o
traçado e o prazo de entrega para fevereiro de 2010. Porém, novamente
ele não foi cumprido. A projeção, então passou a ser março de 2010,
mas uma rachadura na mesma encosta que precisará ser eliminada
provocou um desmoronamento na pista. Na ocasião, a inauguração foi
revista para agosto de 2010. A previsão, contudo, não será cumprida”.
A Incapacidade da Engenharia Nacional
Imaginem só! Todo esse dramalhão para construir um simples
pontilhão, em linha reta, com 460 metros de extensão por 21 de largura,
ao lado de outro existente que deverá ser abandonado. Se a engenharia
nacional não é capaz de planejar e executar com segurança uma obra
como essa, dentro de uma programação pré-estabelecida, como poderá
assumir desafios maiores, como os enfrentados pelos engenheiros asi-
áticos que têm construído naquela região estruturas gigantescas e com-
plexas de saneamento básico, pontes em áreas de terremotos, túneis
em terrenos geológicos complicados, viadutos e edifícios portentosos,
etc., tudo dentro dos prazos estabelecidos?
Não é de se admirar, portanto, que o metrô da cidade de São
Paulo, em construção, tenha sofrido tantos desmoronamentos e outros
acidentes perfeitamente previsíveis, como a imprensa tem noticiado, e
que os engenheiros paulistas não sejam capazes de solucionar o crôni-
co problema das enchentes sazonais que arrasam a capital bandeirante,
e que graves prejuízos trazem à sua população. Neste caso, a “solução”
encontrada pela engenharia local é emblemática desse atraso profissio-
nal: os chamados “picinões”, cloacas de águas estagnadas. Quanto ao
Viaduto das Almas, a incompetência dos engenheiros deve ser investi-
gada, pois o que está em jogo é a formação destes especialistas que,
ao que parece, está bastante deficiente.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
253
PARTE XVII
UM CHAMADO À SOCIEDADE
Os novos tempos previstos por Dom Bosco, com a Era do Pré-
Sal, representam um chamado à sociedade para que medite sobre os
erros do passado, principalmente sobre “a questão social”, que, para o
ex-Presidente Washington Luis (1926-1930), era “caso de polícia”, mas
que na atualidade é tratada da mesma forma. As cartas abaixo transcri-
tas, datadas de 27 e 30 de novembro, 3, 6 e 8 de dezembro de 2010,
dirigidas ao Presidente da República e Deputados Federais, tratam des-
sa questão e contém sugestões para mudar radicalmente o quadro
de descalabro existente no sistema educacional brasileiro, abrangendo
desde as Creches Comunitárias até as universidades.
A hora da tomada de decisões é agora. Portanto, mãos à obra,
pois não há mais tempo a perder. Para terminar, mais um lembrete:
não adianta procurar atalhos para resolver as deficiências estruturais
da educação, como multiplicar escolas técnicas ou profissionalizantes,
pois a crise é mais grave, e o furo é mais embaixo, como se diz, como
mostra a guerra civil estabelecida nas favelas cariocas, assunto tratado
a seguir.
A questão social não é mais caso de polícia,
como dizia Washington Luis, agora é assunto
para as Forças Armadas.
Belo Horizonte, 27 de novembro de 2010
254
João GilBerto pArenti couto
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os(as) Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Federais;
partidos políticos; Governadores dos Estados da União e jornais Estado
de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: A questão social não é mais caso de polícia, como dizia Wa-
shington Luis, agora é assunto para as Forças Armadas.
Prezado Senhor Presidente,
Desde o governo do ex-Presidente Washington Luis (1926-1930), que
afirmava que a questão social no Brasil era assunto para ser resolvido
pela polícia, muitas coisas mudaram neste País no plano social, para
melhor, principalmente nos dois governos de V. Exa., um retirante nor-
destino, ex-favelado, ex-operário e ex-líder sindical, que vem lutando
para erradicar a fome nas camadas mais pobres da população, princi-
palmente as do Nordeste.
Todavia, na questão social, como se referia Washington Luis, as coisas
pioraram, e muito, pois agora a polícia não é mais capaz de resolver
este assunto sozinha, é preciso a intervenção das Forças Armadas; isto
após o Ministério da Defesa se posicionar contra este tipo de atitude,
por considerá-la inapropriada sob muitos aspectos, inclusive esclare-
cendo o porquê desta posição aos participantes da IX Conferência de
Ministros da Defesa das Américas (CMDA). Nesta ocasião, o Ministro
da Defesa, Nelson Jobim, “sugeriu a seus pares do continente ameri-
cano que assuntos de Defesa e de Segurança sejam tratados em estru-
turas diferentes, e manifestou a rejeição brasileira ao uso prioritário de
militares em atividades de segurança, como combate ao narcotráfico”.
As notas abaixo (Brasil propõe estruturas diferentes para tratar de Defe-
sa e de Segurança nas Américas / Defesa autoriza Marinha a transportar
policiais no Rio de Janeiro / Defesa envia Tropas e mais equipamen-
tos ao Rio de Janeiro), disponíveis no site do Ministério da Defesa
na Internet, esclarecem, de forma bastante clara, essa contradição,
provocada pelos eventos que vêm ocorrendo nas favelas da cidade
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
255
do Rio de Janeiro, e sua região metropolitana. Aqui é bom recordar
que o Governador Sérgio Cabral vem lutando, sem sucesso, até agora,
para envolver as Forças Armadas nos conflitos sociais provocados pela
existência dessas favelas, pois ele optou pelo emprego da força bruta
para resolvê-los, como pregava, a mais de 80 anos, o seu conterrâneo
Washington Luis.
Esta obsessão do Governador Sérgio Cabral tem traços de paranóia,
pois ele não apresentou, até agora, nenhuma alternativa racional para
resolver as questões sociais provocadas pela existência de milhões de
favelados em seu Estado, além do emprego da força bruta. Suas ati-
tudes autoritárias, e bitoladas, é muito semelhante a de um psicopata
com ideia fixa, que é incapaz de raciocinar e analisar alternativas para
resolução de um problema. Este desvio de comportamento acontece
em outros casos em que se vê envolvido, como, por exemplo, a ques-
tão dos royalties do petróleo, que teima em não aceitar uma decisão
soberana do Congresso Nacional, apegando-se a uma fórmula que só
ele acredita ser a mais correta.
Uma das opções que o Exmo. Sr. Governador Sérgio Cabral poderia
estudar, para resolver essa questão que envolve os favelados sem em-
prego da força, seria aquela que coloquei em carta dirigida a V. Exa. no
último dia 13, tratando do colapso do sistema financeiro internacional
e as oportunidades que se abrem para o Brasil e a América do Sul, que
transcrevo a seguir.
“Um exemplo é a erradicação das favelas que cercam a Floresta da
Tijuca, no Rio de Janeiro, a terceira maior floresta urbana do planeta,
situada no Maciço da Tijuca, onde se localiza o Parque Nacional da Ti-
juca, criado para protegê-la. Neste parque, e no seu entorno, proliferam
favelas, como a da Rocinha, a maior da América do Sul, que continuam
crescendo por entre a vegetação que aos poucos vai sendo derrubada.
Neste caso, como em todos os outros projetos a serem financiados
com recursos provenientes da troca dos títulos da dívida pública federal
em poder dos bancos, por ações, deve ser criada uma empresa com
finalidade específica. A primeira missão desta empresa, que poderá in-
corporar o Parque Nacional da Tijuca, transformando-o numa empresa
ambiental com ações na Bolsa de Valores, será traçar os limites originais
deste parque, para, em seguida, começar o trabalho de recuperação,
que terá início com a construção, nas partes baixas e já degradadas do
maciço, e junto de vias urbanas consolidadas, de edifícios para abrigar
os favelados, cujos barracos e construções diversas serão demolidas e
256
João GilBerto pArenti couto
as respectivas áreas reflorestadas. O passo seguinte será cercar toda a
área de proteção ambiental para conter novas invasões”.
Na expectativa de que V. Exa., como Presidente da República, faça o
bom senso prevalecer na abordagem das questões que envolvem os
favelados da cidade do Rio de Janeiro, e sua Região Metropolitana,
cuidando das causas e não de seus efeitos, e fazer valer os postulados
fundamentais da Estratégia Nacional de Defesa, posto em xeque pelas
decisões descritas nas três notas do Ministério da Defesa, transcritas
a seguir, inclusive evitando que a afoita e elitista Marinha do Brasil vá
à forra contra a “negrada” favelada que detesta, pois são descendentes
do líder da Revolta da Chibata, o marinheiro João Cândido, um sapo
que ainda não engoliu, subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Brasil propõe estruturas diferentes para tratar de Defesa e de Segu-
rança nas Américas
Brasília, 24/11/2010 – O ministro da Defesa do Brasil, Nelson Jobim,
sugeriu a seus pares do continente americano que assuntos de Defesa
e de Segurança sejam tratados em estruturas diferentes, e manifestou
a rejeição brasileira ao uso prioritário de militares em atividades de se-
gurança, como combate ao narcotráfico. “A corrupção das instituições
castrenses, decorrente do contato com a marginalidade, conjugada à
referida sobrecarga de atribuições, solapa não somente as suas capaci-
dades operativas, mas também a sua adesão às regras do jogo demo-
crático”, alertou Jobim em discurso pronunciado em 22 de novembro
na sessão Plenária da IX Conferência de Ministros da Defesa das Amé-
ricas (CMDA), em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. O ministro disse
que o Brasil não quer ditar normas para os demais países, pois cada
um é autônomo para decidir como tratar internamente suas questões,
mas deixou claro de que parte dos temas da Conferência referiam-se a
ministérios da Justiça ou de assuntos interiores, em muitos países. O
ministro observou que os países possuem conceitos diferentes sobre
Defesa e Segurança, que às vezes dificultam a identificação dos órgãos
e das ações. “Da perspectiva brasileira, esta conferência é de ministros
de Defesa, e não de Segurança”, observou. O ministro atribuiu a mis-
tura dos dois temas ao contexto em que foi criada a CMDA, em 1995:
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
257
“Naquela circunstância, em que os paradigmas da guerra fria esvane-
ciam, o pan-americanismo do início do século XX foi ressuscitado por
duplo movimento sintetizado nas cúpulas das Américas: o econômico-
comercial, conforme a proposta da Área de Livre Comércio das Améri-
cas (Alca); e o político-estratégico, por meio da institucionalização da
CMDA”. Segundo Jobim, naquele momento os Estados Unidos estavam
mais preocupados com outras partes do globo, e procuraram compar-
tilhar com o hemisfério suas preocupações com as chamadas “novas
ameaças”, como terrorismo, narcotráfico, catástrofes naturais, tráfico
de seres humanos, proliferação de armas de destruição em massa,
tráfico de armas e destruição do meio ambiente. “A partir dessa agen-
da fica subentendida, mas nunca explicitada, uma divisão de trabalho
informal: os EUA cuidariam da defesa do hemisfério (segundo seus
critérios unilaterais, como ocorreu durante a Guerra das Malvinas); os
demais países das Américas cuidariam de impedir que as ditas ‘novas
ameaças’ transbordassem em direção ao território norte-americano ou
que prejudicassem seus interesses”. Jobim deixou claro que o Brasil
não aceita esse modelo e prefere manter separadas as ações de Defesa
e de Segurança. “Se algum Estado julgar que o melhor modelo é o do
emprego das Forças Armadas em funções de segurança interna, que
assim o seja. No Brasil, as Forças Armadas podem exercer tais tarefas,
sem invasão da competência dos órgãos de segurança, e de forma sub-
sidiária e limitada. Esse é o modelo que atende ao Brasil.” A proposta
objetiva do Brasil foi a de criar um Grupo de Trabalho, com participa-
ção brasileira, para estudar a cisão da CMDA em duas Conferências
distintas: uma para temas de segurança, a serem secretariados pela
Secretaria de Segurança Multidimensional da Organização dos Estados
Americanos (OEA); e outra para os temas de Defesa da CMDA, a serem
secretariados pela Junta Interamericana de Defesa (JID). Texto: José
Ramos Assessoria de Comunicação Social Ministério da Defesa.
Defesa autoriza Marinha a transportar policiais no Rio de Janeiro
Brasília, 24/11/2010 – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, autorizou
na tarde desta quarta-feira (24/11) que o Comando da Marinha forneça
apoio logístico ao governo do Rio de Janeiro, em ações de combate à
onda de criminalidade que atinge aquele Estado. O pedido foi feito pelo
governador do Estado, Sérgio Cabral. O pedido não envolve mobiliza-
ção de tropas da Força, mas apenas meios de transporte e a guarnição
necessária à operação e manutenção dos veículos. Detalhes da opera-
258
João GilBerto pArenti couto
ção serão tratados oportunamente entre o governo do Rio e o Comando
da Marinha. Assessoria de Comunicação Social. Ministério da Defesa.
Defesa envia Tropas e mais equipamentos ao Rio de Janeiro
Brasília, 25/11/2010 – O ministro da Defesa, Nelson Jobim, assinou na
noite desta quinta-feira (25/11) a Diretriz Ministerial nº 14, que determi-
na às Forças Armadas o reforço do apoio ao Governo do Rio de Janeiro
nas operações de combate à onda de criminalidade que afeta a cidade.
A Operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) foi solicitada pelo
Governador do Rio de Janeiro e autorizada pelo presidente Luiz Inácio
Lula da Silva. Serão enviados 800 homens do Exército, para garantir a
proteção dos perímetros das áreas que forem ocupadas pelas polícias.
Também serão enviados dois helicópteros da Força Aérea e 10 blinda-
dos de transporte, com origem a ser definida em coordenação entre as
próprias Forças, inclusive a Marinha, que já se encontra com viaturas
em operação. Também serão fornecidos, temporariamente, equipamen-
tos de comunicação entre aeronaves e tropas em solo e óculos para
visão noturna. Leia a Diretriz Ministerial 14/2010, para as Forças Ar-
madas, assinada na noite desta quinta-feira 925/11) pelo Ministro da
Defesa, Nelson Jobim Brasília, 25 de novembro de 2010
DIRETRIZ MINISTERIAL N. 14/2010 O SENHOR PRESIDENTE DA RE-
PÚBLICA determinou o emprego das FORÇAS ARMADAS, para a garan-
tia da lei e da ordem, na cidade do Rio Janeiro. Tal decisão decorreu de
solicitação feita pelo SENHOR GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO JA-
NEIRO, nesta data. O SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA autorizou a
atuação das forças “nas condições e extensão solicitadas”. Assim, com
fundamento no art. 7, I, do Decreto n. 3.897/2001, e nos limites solici-
tados pelo SENHOR GOVERNADOR DETERMINO 1. Ao COMANDANTE
DO EXÉRCITO que acione efetivo de “800 militares”, do COMANDO
MILITAR DO LESTE (CML), para “serem utilizados na proteção de Perí-
metro de áreas conflagradas a serem tomadas pelas forças estaduais e
pela Polícia Federal”, além do efetivo necessário para o apoio da tropa
e sua defesa. Esse efetivo estará sob o comando do oficial designado
pela autoridade militar competente e deverá operar em coordenação e
articulação com as forças policiais estaduais e federais e com as demais
forças militares. 2. Ao COMANDANTE DA AERONÁUTICA que acione: a.
Uma aeronave de asa rotativa “Super Puma para transporte de tropa”
ou equivalente; e b. Uma aeronave de asa rotativa “H1H para utilização
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
259
com atiradores” ou equivalente. As aeronaves deverão ser operadas por
militares da Aeronáutica em coordenação e articulação com as forças
policiais estaduais e federais e com as demais forças militares.
3. Aos COMANDANTES DAS FORÇAS ARMADAS que, articuladamente,
acionem:
a. “Dez viaturas blindadas para transporte de pessoal”, incluindo as
respectivas guarnições que as conduzirão; b. “Equipamentos de co-
municação aeronave x solo”, para serem cedidos, temporariamente,
às forças estaduais; c. “Equipamentos de visão noturna”, para serem
cedidos, temporariamente, às forças estaduais; 4. Ao ESTADO MAIOR
CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS que designe oficial para: a. pro-
mover a integração dos comandos militares empregados na operação;
b. promover a ligação com as autoridades estaduais e federais; e c.
manter este Ministério informado das operações, via o Centro de Ope-
rações Conjuntas (COC). NELSON A. JOBIM Ministro da Defesa
Traficantes da Rocinha estariam montando
barricadas contra possível invasão da polícia.
Belo Horizonte, 30 de novembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os(as) Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Federais;
partidos políticos; Governadores dos Estados da União e jornais Estado
de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: Traficantes da Rocinha estariam montando barricadas contra
possível invasão da polícia.
Prezado Senhor Presidente,
No último dia 27, enviei carta a V. Exa., cópia em anexo, tratando do
seguinte assunto: “A questão social não é mais caso de polícia, como
260
João GilBerto pArenti couto
dizia Washington Luis, agora é assunto para as Forças Armadas”. Nesta
correspondência, dei algumas sugestões sobre a Favela da Rocinha
e do Parque Nacional da Tijuca, as quais gostaria de ajuntar outras
mais, tendo em vista a seguinte notícia veiculada pelo Globo Online
(29/11/2010): “Traficantes da Rocinha estariam montando barricadas
contra possível invasão da polícia”.
“O Setor de Inteligência da Secretaria de Segurança está investigando,
juntamente com policiais militares do Serviço Reservado da PM (P2),
as denúncias de moradores da Favela da Rocinha de que traficantes
estariam fazendo barricadas e trincheiras, em pontos da favela, contra
uma possível invasão da polícia na região. O tráfico da Rocinha também
estaria com bananas de dinamite, que foram roubadas ou desviadas
de clientes da empresa Dinacon Indústria e Comércio, localizada em
Estrela, Rio Grande do Sul. Em entrevista coletiva domingo, o secre-
tário estadual de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, mandou
um recado aos traficantes de áreas que ainda não foram ocupadas pela
polícia: – O estado do Rio de Janeiro tem (o setor de) Inteligência. E, se
chegamos ao Alemão, vamos chegar à Rocinha, vamos chegar ao Vidi-
gal e assim por diante... Moradores denunciaram que um bom número
de criminosos fugidos do Alemão e da Vila Cruzeiro já está na Rocinha.
A Travessa do Valão, um dos principais acessos à comunidade, foi blo-
queada por uma barricada de mais de um metro, feita com grades de
ferro, galões de gasolina e blocos de cimento. Vários homens armados
estão ocupando o Valão e a Via Apia. [...] Ela confirmou que traficantes
orientaram a comunidade a comprar velas e fósforos, já que a ilumi-
nação da rua seria cortada em caso de invasão. – Eles estão rápidos.
Continuam cavando buracos e instalando barreiras para uma eventual
invasão da polícia – concluiu a moradora. Um morador também contou
que, depois de um tempo sumido, o traficante Nem voltou à favela.
Agora, como cabelos e barba crescidos e mais forte”.
Esse preparativo todo para enfrentar uma invasão militar vinda do as-
falto nos remete ao que aconteceu na Segunda Guerra Mundial com
Cingapura, cidade que os britânicos consideravam inconquistável, em
um ataque vindo do mar para onde todos os canhões da grande forta-
leza apontavam. Mas, para desgraça desses colonizadores, a invasão
japonesa veio por terra, o que levou Winston Churchil a dizer que tal
falha na defesa nunca passou pela sua mente, pois seria o mesmo que
lançar um navio ao mar sem fundo (Documentário “The World at War
– 6. Banzai!” – GNT).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
261
Mas não é sobre ações bélicas, como as que ocorreram no Complexo
do Alemão, que gostaria de dar algumas sugestões, pois, se pirotecnia
valesse algumas coisa, o Iraque seria hoje uma nação pacificada e sua
população feliz e próspera. A sugestão que gostaria de acrescentar
àquelas feitas na carta do dia 27, que segue em anexo, para melhor
compreensão, não visa a uma guerra ao narcotráfico, ou aos marginais
que se refugiam nas favelas, mas sim a um combate à miséria e à ex-
clusão social desses guetos urbanos, raiz dos problemas enfrentados
no Complexo do Alemão e os latentes, na Rocinha, como noticiado
pelo Globo Online. Neste caso, tomando como exemplo a ação bélica
no Complexo do Alemão, o que fica claro é que o Exército falhou na
sua missão principal: o cerco a este complexo de favelas para impedir
a fuga dos narcotraficantes deste setor e os da Vila Cruzeiro que aí se
homiziaram. O que aconteceu é que eles “vazaram” sem deixar rastros,
quedando todos os que acompanharam pela televisão a movimentação
dessa máquina de guerra, de boca aberta. Como é que esses pés de
chinelo, vestidos de shorts, sem colete de aço ou qualquer outra prote-
ção, evaporaram-se diante desses guerreiros profissionais?
Agora o Governador Sérgio Cabral quer que eles fiquem aí por mais
sete meses, como informa o Folha Online (29/11/2010): “O governador
do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), anunciou na manhã desta
segunda-feira que já existe um acordo entre o governo do Estado e o
Ministério da Defesa para que o Exército policie os recém-reconquis-
tados territórios da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão até que
seja possível instalar duas UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas
comunidades. ‘Já está acordada [com o Ministério da Defesa] a perma-
nência das tropas, agora estamos na fase das tratativas técnicas, que
não passa por mim, passa pelo secretário Mariano, passa pelos oficiais
militares do Ministério da Defesa. Isso está sendo feito desde ontem
para que dê a paz e a tranquilidade, a garantia dessa transição para o
modelo UPP’, afirmou”.
Aqui algumas perguntas: para que esses militares vão ficar lá, se não
foram capazes de cumprir sua missão principal? Será que é para dar
coragem à polícia do Rio de Janeiro ou ao Governador Sérgio Ca-
bral, que não foram capazes de resolver esses enfrentamentos da Vila
Cruzeiro e do Complexo do Alemão? Ou por que têm medo de ficar
sozinhos? Seria uma questão de covardia, ou apenas uma jogada po-
lítica dos governos Estadual e Federal para convencer a comunidade
internacional de que a Cidade do Rio de Janeiro é um lugar seguro para
262
João GilBerto pArenti couto
receber a Copa de Futebol e as Olimpíadas? Senão, como explicar a
rapidez com que as Forças Armadas se envolveram nesse processo, se,
em outras ocasiões, esta presença só aconteceu em casos excepcionais
e após vários entendimentos entre as partes interessadas. Como “já
existe um acordo entre o governo do Estado e o Ministério da Defesa
para que o Exército policie os recém-reconquistados territórios da Vila
Cruzeiro e do Complexo do Alemão até que seja possível instalar duas
UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) nas comunidades”, como dis-
se o Governador Sérgio Cabral, se o Ministro da Defesa encontra-se
no exterior? Já estava tudo previamente acordado? Seria então uma
operação tipo “engana que eu gosto”? Ou tudo não passa de um circo
montado para um grande desfile militar com fins políticos?
Se houve uma emergência e o caso era grave, a ponto de o Exército
intervir com tropas de elite, e em número considerável, como explicar
o fato de o Ministro da Defesa, logo após anunciar essa participação,
em entrevista à imprensa, na presença do Governador e diversas auto-
ridades, viajar tranquilamente para o exterior para cuidar de assuntos
de sua pasta, onde permanecerá durante uma semana? Não seria o
caso de cancelar tais compromissos para cuidar de uma situação que
poderia se agravar a ponto de haver um banho de sangue, inclusive
entre a população civil, como os noticiários alarmistas das TVs adver-
tiam seguidamente, principalmente os da manipuladora Rede Globo
de Televisão? Como explicar essa intervenção das Forças Armadas no
combate ao narcotráfico, se esta medida vai de encontro a tudo o que
disse, dois dias antes, o Ministro Nelson Jobim na IX Conferência de
Ministros da Defesa das Américas (CMDA), assunto abordado na carta
anexa? Essa viagem ao exterior,agendada com muita antecedência, não
seria o momento escolhido para desencadear a “Operação Engana que
eu Gosto”, e assim evitar maiores constrangimentos? Essa fuga disfar-
çada do teatro de guerra não teria como objetivo escapar de cobranças
da sociedade? Ou, talvez, se esquivar de um engodo preparado pelo
Governador Sergio Cabral, que já declarou à imprensa que as Forças
Armadas ficarão mais sete meses no Complexo do Alemão, o que ga-
rante, com este compromisso, a oportunidade de passar uma argola no
nariz da futura Presidenta da República, Dilma Roussef, e assim, desde
já, mantê-la refém de seus caprichos, como fez, e está fazendo, com o
Presidente Lula, no caso dos Royalties do petróleo?
Não seria, então, tudo uma grande armação, desde os incêndios de
viaturas, até a fuga dos marginais da Vila Cruzeiro, transmitida “ao
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
263
vivo” pelo Sistema Globo de televisão, que se esmerou em dar uma
cobertura excepcional aos acontecimentos, inclusive narrando acon-
tecimentos não comprovados, como o tiro dado por um traficante na
perna de uma criança de 8 anos que se recusou a incendiar um carro?
E esses incêndios, por que acabaram repentinamente? Onde estão seus
autores? A fuga dos marginais do Complexo do Alemão foi por falha
do Exército, ou também estava tudo combinado? Se houve falha, como
ficam nossas fronteiras? E a pronta ação da Justiça, normalmente ler-
da, mandando prender mulheres de traficantes, exibidas nos noticiários
das TVs como troféus de guerra, confiscando bens dos traficantes sem
processos formais, e transferindo prisioneiros de um lado para outro,
não é estranho? A ampla cobertura jornalística da Rede Globo também
estava tudo combinado? Como dizia alguém alhures: “Há algo podre
no Reino da Dinamarca”, ou tudo é a mais pura verdade? Este é um
assunto que interessa mais à imprensa séria e aos políticos responsá-
veis, que discordam do General De Gaulle, do que a este cidadão que
vive escrevendo cartas a Deus e ao mundo, verdadeiras folhas soltas
ao vento. Mas, mesmo assim, vou tratar de dar as sugestões referidas
no início desta carta sobre a Favela da Rocinha e o Parque Nacional
da Tijuca
Mas, antes, voltando à estratégia militar adotada no Complexo do Ale-
mão, e aos problemas a serem enfrentados na Rocinha, se quiserem
“tomar de assalto” esta favela, alguns questionamentos se impõem: Se
no primeiro caso, como se viu, o cerco do Exército não foi capaz de
impedir a fuga de centenas de marginais, que segundo noticiário do
Globo Online já estão instalados nessa favela, o que farão para impedir
a fuga dos narcotraficantes deste local que tem na sua retaguarda a
Floresta da Tijuca? Tentarão novamente cercá-la, como no Complexo
do Alemão? Como? Vasculharão o Parque Nacional da Tijuca e matas
adjacentes à procura de marginais em fuga? Colocarão todo o efetivo
do Exército, Marinha e Aeronáutica para caçar meia dúzia de pés de
chinelo, analfabetos e mal vestidos, ou criarão brigadas de “capitães
do mato” para executarem essa nobre missão, que recusaram durante
a escravidão? Formarão “barreiras” para proteger a classe média alta
e a elite que habitam a Zona Sul da cidade, dos tiros de fuzil partindo
do alto da favela? Quem vai vender cocaína para esses consumidores
privilegiados? Eles vão concordar com a extinção da favela da Rocinha,
onde se abastecem? Como vão se tratar da síndrome da abstinência?
264
João GilBerto pArenti couto
Para evitar tudo isso, e propor uma abordagem cidadã, para erradicar
as favelas, principalmente a da Rocinha, e dar aos seus habitantes um
lugar digno para morar e prosperar, é que fiz a seguinte sugestão:
“Um exemplo é a erradicação das favelas que cercam a Floresta da
Tijuca, no Rio de Janeiro, a terceira maior floresta urbana do planeta,
situada no Maciço da Tijuca, onde se localiza o Parque Nacional da Ti-
juca, criado para protegê-la. Neste parque, e no seu entorno, proliferam
favelas, como a da Rocinha, a maior da América do Sul, que continuam
crescendo por entre a vegetação que aos poucos vai sendo derrubada.
Neste caso, como em todos os outros projetos a serem financiados
com recursos provenientes da troca dos títulos da dívida pública federal
em poder dos bancos, por ações, deve ser criada uma empresa com
finalidade específica. A primeira missão desta empresa, que poderá in-
corporar o Parque Nacional da Tijuca, transformando-o numa empresa
ambiental com ações na Bolsa de Valores, será traçar os limites originais
deste parque, para, em seguida, começar o trabalho de recuperação,
que terá início com a construção, nas partes baixas e já degradadas do
maciço, e junto de vias urbanas consolidadas, de edifícios para abrigar
os favelados, cujos barracos e construções diversas serão demolidos e
as respectivas áreas reflorestadas. O passo seguinte será cercar toda a
área de proteção ambiental para conter novas invasões”.
Como disse no início desta carta, a intenção é acrescentar mais algu-
mas sugestões a essa proposta. A primeira delas é traçar um perímetro
interno, dentro do Parque, livre de barracos de favelados e estudar a
melhor maneira de recuperar tudo que estiver alí dentro. O segundo
movimento é levantar todas as vias de acesso a esse perímetro, livre,
também, de construções ou invasões de qualquer espécie. O passo
seguinte será ampliar esse perímetro interno, removendo todos os in-
vasores que forem sendo encontrados, até que se sobreponha ao perí-
metro externo, o limite do Parque, completando todo o levantamento.
Nesse processo serão retirados todos os invasores das estradas que
levam ao Cristo Redentor e seu entorno, por exemplo, e, também, os
das Rocinha. Neste caso, começando da parte alta, os fundos da favela,
onde se localizam as encostas mais íngremes, portanto as áreas de
maior risco. Os moradores, por sua vez, serão retirados por cima, sem
necessidade de serem transportados encosta abaixo, pois a intenção
é reduzir o tamanho da favela, gradativamente, sem muito alarde, até
que reste apenas uma faixa nas baixadas para aí serem construídos
conjuntos para os favelados remanescentes. O mesmo processo deve
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
265
ser adotado para todos os núcleos favelados dentro e fora dos limites
do parque.
Nesse processo os narcotraficantes serão expulsos naturalmente, na
medida em que seus esconderijos vão sendo aos poucos demolidos.
Para que essa ação seja executada, a empresa privada, criada para ad-
ministrar o Parque Nacional da Tijuca, capitalizada por banqueiros, deve
assumir tudo o que estiver nos limites do Parque e procurar ampliar es-
ses limites, incorporando as áreas adjacentes florestadas que merecem
ser protegidas, como o Jardim Botânico. Deve também assumir a admi-
nistração de todos os acessos ao parque, inclusive a ferrovia do Cristo
Redentor, que deverá ser substituída por um teleférico ligando o Morro
do Vidigal aos pés dessa imagem, situada num ponto espetacular para
ser visitado por turistas do mundo todo. Tudo o que estiver dentro dos
limites do Parque deve ser transformado em fonte de renda, inclusive
o acesso e visitas ao parque, podendo também construir hotéis de luxo
nas áreas degradas dentro dos limites ou na periferia, como no Morro
do Vidigal, por exemplo.
Essa empresa deve ser um modelo de preservação ambiental e de forte
conteúdo social, pois contribuirá não só para erradicar as favelas na
sua área de atuação e dar aos seus moradores condições dignas de
vida, mas, principalmente, recuperar o meio ambiente e conservá-lo
de maneira permanente. Este perfil empresarial habilitará esta empresa
a receber financiamentos de entidades internacionais como o Banco
Mundial e outras instituições ambientalistas que se preocupam em re-
cuperar áreas degradadas ou ameaçadas pela urbanização descontrola-
da dos centros urbanos. Esse empreendimento será o selo verde dos
banqueiros perante o mundo todo. Mas como levar todo esse processo
a bom termo? Além do dinheiro, que os banqueiros podem aportar e
dos incentivos fiscais que podem receber, é preciso que a empresa
criada contrate um exército de seguranças particulares para atuar den-
tro dos limites do parque, principalmente na fase de implantação, e o
poder público faça a sua parte garantindo a execução de todas as fases
do projeto, que deverá ser elaborado com base no geoprocessamento,
técnica que utiliza imagens de satélites e os recursos da informática.
Com o geoprocessamento será possível mostrar à sociedade como
ficará o projeto uma vez concluído e todas as fases para sua implanta-
ção em tempo real via Internet. Além disso, os moradores das favelas
a serem removidas saberão para onde irão morar e em que condições.
Tudo deverá ser anunciado previamente, e demonstrado por meio de
266
João GilBerto pArenti couto
imagens virtuais, para evitar a ação de grupos interessados em impedir
sua execução, como os narcotraficantes e invasores de áreas nobres do
parque; estes, elementos da elite que constroem mansões nas encostas
voltadas para o mar, fato notório e facilmente observável, bastando
para isso circular pela zona sul da cidade e olhar para cima.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
As riquezas do Pré-Sal, a Guerra ao Narcotráfico
e a lenda do “Pomo da Discórdia”
Belo Horizonte, 3 de dezembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
Com cópias para os(as) Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Federais;
partidos políticos; Governadores dos Estados da União e jornais Estado
de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: As riquezas do Pré-Sal, a Guerra ao Narcotráfico e a lenda do
“Pomo da Discórdia”.
Prezado Senhor Presidente,
A lenda do “Pomo da Discórdia”, reproduzida abaixo, explica muito
bem as atitudes do Governandor Sérgio Cabral, e suas consequências,
relacionadas com os Royalties do petróleo da Plataforma Continental
e o combate ao narcotráfico na Cidade do Rio de Janeiro e Região
Metropolitana; questões estas que poderão levar à destruição do Brasil,
como aconteceu com Tróia, caso este “Páris” redivivo não seja contido
em suas atitudes insensatas, com respaldo de V. Exa.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
267
Para que V. Exa. e a futura Presidenta Dilma Rousseff meditem a res-
peito desse assunto e façam suas próprias comparações, transcrevo
dois noticiários do Folha Online (2/12/2010) para facilitar esta reflexão.
O primeiro deles diz o seguinte: “Contrários à proposta de divisão dos
royalties do pré-sal aprovada ontem pela Câmara, senadores do Rio de
Janeiro e Espírito Santo lideram um movimento pelo veto do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva ao projeto. Apesar de Lula já ter decidido nos
bastidores vetar a proposta, os parlamentares prometem fazer barulho
até que Lula efetive sua decisão”. O segundo, tem o seguinte teor: “O
Exército brasileiro vai implantar uma Força de Paz no Rio semelhante
à que atuou no Haiti. A ação ainda não tem data para começar e ain-
da está sendo planejada, disse o comandante-geral do Exército, Enzo
Martins Peri”.
Como subsídio adicional para facilitar esta reflexão, anexo à presente
duas cartas que enviei a V. Exa., nos dias 27 e 30 do mês passado, tra-
tando desses assuntos. Além disto, gostaria de acrescentar que, dado
o fato de o Exército ter poder de polícia nas favelas do Rio de Janei-
ro, como destaca em manchete de primeira página o Jornal Folha de
S. Paulo (3/12/2010), alguns questionamentos se impõem. O primeiro
deles diz respeito a uma ironia da história: como um governo petista,
que pregou ao longo de oito anos de mandato a justiça social, acabe
sua missão realizando os sonhos acalentados pelos militares durante
os anos de chumbo da ditadura – tratar a questão social como um caso
de polícia, como propunha Washington Luis há oitenta anos? Como
a ex-guerrilheira Dilma Rousseff, que lutou para que o Brasil não se
transformasse num Haiti, se sentirá como comandante suprema das
tropas que atuarão nas favelas cariocas, para exercitar aqui as técnicas
que aprenderam lá – a de subjugar uma massa de miseráveis, para
mantê-la calada e submissa, pois a violência urbana nada mais é do que
o grito desses excluídos que a sociedade não quer ouvir? Esta atitude,
com certeza, será a cereja que enfeitará o bolo do assistencialismo
farisaico que marcou os oitos anos do Governo de V. Exa., os quais, ao
contrário do Governo JK, que avançou 50 anos em cinco, marcará um
retrocesso de 80 anos em oito.
Para finalizar, gostaria de lembrar a atitude sensata e patriótica do Pre-
sidente JK, um estadista que soube conduzir o processo de transferên-
cia da capital da República da Cidade do Rio de Janeiro para o Planalto
Central, sem criar nenhum conflito federativo, e com o apoio total dos
cariocas e fluminenses, os maiores prejudicados com essa mudança,
268
João GilBerto pArenti couto
os quais, naquela época, não receberam nenhuma compensação ou
exigiram indenizações para cobrir esta perda colossal. O que prevaleceu
foi o espírito de brasilidade que anima, desde sempre, todos os brasilei-
ros que querem construir uma nação forte e poderosa, sem discrimina-
ções. Agora, ao contrário, um governador insensato e paranóico tenta
convencer V. Exa. a vetar uma lei, a dos royalties do petróleo, aprovada
pelo Congresso Nacional para beneficiar toda a nação brasileira, ale-
gando ser dono de um patrimônio que não lhe pertence: as riquezas
petrolíferas da Plataforma Continental brasileira
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
Pomo da Discórdia
(Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre)
“A lendária Guerra de Tróia começou numa festa dos deuses do
Olimpo: Éris, a deusa da Discórdia, que naturalmente não tinha sido
convidada, resolveu acabar com a alegria reinante e entregou anoni-
mamente aos olímpicos uma linda maçã, toda de ouro, com a inscri-
ção “Para a mais bela”. A confusão já estava armada. As três deusas
mais poderosas, Hera, Afrodite e Atena, imediatamente se colocaram
a disputar o troféu. Nenhum dos deuses quis se meter a juiz nessa
confusão, inclusive o rei do Olimpo, Zeus. Esse, sabiamente, resolveu
se livrar do espinhoso fardo e passá-lo à Páris, um mortal que era
filho do rei Príamo, de Tróia. Na época, Páris trabalhava como pas-
tor e vivia feliz ao lado de uma ninfa adorável chamada Enone. Vivia
no campo pois sua mãe, dias antes de seu nascimento, sonhara que
estava dando a luz a serpentes flamejantes que se enrolavam entre si,
depois pediu aos adivinho para interpretar o sonho e eles disseram que
o bebê destruiria Tróia e todo seu território. Assim estavam as coisas
até surgirem diante de Páris as 3 divindades em suas formas mais re-
luzentes e magníficas. Todas tentaram persuadi-lo com oportunidades
infinitamente gloriosas. Em troca da maçã de ouro, Atena ofereceu a
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
269
Páris a chefia de uma histórica e vitoriosa guerra. Já Hera ofereceu a
ele a glória de ser o Rei absoluto de toda a Europa e Ásia. E Afrodite
por sua vez, garantiu a ele o amor da mais bela mulher do mundo. Páris
então, confuso em meio a tantas maravilhas oferecidas a si, concedeu
o título a Afrodite. E a deusa, ignorando solenemente a presença de
Enone, realizou o desejo do jovem. A deusa sabia exatamente onde se
encontrava a mais bela mulher do mundo: era Helena, casada com o
rei de Esparta, Menelau. Auxiliados por Afrodite, Helena e Páris fugiram
para Tróia. Assim que soube da traição, Menelau enfurecido foi pedir
auxílio ao seu inescrupuloso irmão, o rei Agamenon para junto com ele
persuadir todos os grandes generais e reis da Grécia numa marcha co-
lossal contra os troianos (inclusive o rei da província de Ítaca, Odisseu,
arquiteto do plano com o Cavalo de Tróia e posteriormente famoso pela
Odisséia). Agamenon viu no infortúnio do irmão a oportunidade perfeita
para conquistar Tróia, até então conhecida como impenetrável. E foi a
partir desse momento que começava a mundialmente conhecida Guerra
de Tróia. No fim Páris cumpriu a missão perdendo a guerra e causando
a destruição de Tróia. E a famosa maçã passou a ser conhecida como
‘o pomo da discórdia’ – que hoje indica qualquer coisa que leve as
pessoas a brigar entre si”.
As compensações previstas na lei dos royalties
e a chance de a Cidade do Rio de Janeiro ficar
livre das favelas e resgatar uma dívida social que
vem desde o Império.
Belo Horizonte, 6 de dezembro de 2010.
Exmo. Sr.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República
Palácio do Planalto
Brasília – DF
270
João GilBerto pArenti couto
Com cópias para os(as) Exmos.(as) Srs.(as) Deputados(as) Federais;
partidos políticos; Governadores dos Estados da União e jornais Estado
de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: As compensações previstas na lei dos royalties e a chance de
a Cidade do Rio de Janeiro ficar livre das favelas e resgatar uma dívida
social que vem desde o Império.
Prezado Senhor Presidente,
A sábia lei de distribuição dos royalties do petróleo, que prevê uma par-
ticipação igualitária entre todos os entes federados, Estados e municí-
pios, proposta pelos Deputados Federais Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e
Humberto Souto (PPS-MG), aprovada pelo Congresso Nacional com a
emenda do Senador Pedro Simon (PMDB-RS), que prevê que a União
compense financeiramente as perdas de arrecadação dos Estados ditos
produtores, sobretudo o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, pode ser uma
chance excepcional para que a Cidade do Rio de Janeiro e as da Região
Metropolitana – o entorno da Bahia da Guanabara, da Baixada Fluminense
e da grande Niterói –, fiquem livres das seculares favelas que as sufocam
num abraço de afogados, e a sociedade brasileira resgate uma dívida
social que vem desde o Império: conceder a cidadania plena aos descen-
dentes dos libertos da escravidão que procuraram os morros cariocas
para exercitar esse direito, ainda que de forma limitada.
Agora essa cidadania plena pode ser concedida não só a estes excluídos
da sociedade, mas também a todos aqueles que têm procurado esses
refúgios para sobreviverem, como os nordestinos, que têm fugido da
miséria crônica do Nordeste, e a massa de trabalhadores do campo, que
foram expulsos pelos fazendeiros nos anos 60 do século passado, por
temerem a reforma agrária que então se anunciava. Além destas pessoas,
outras tantas têm procedido da mesma maneira ao longo desse tempo
todo, simplesmente por não terem onde morar, e é aqui que entram as
compensações financeiras previstas na Lei dos Royalties do petróleo,
para resolver todos esses problemas e, consequentemente, acabar com a
violência que impera na Cidade Maravilhosa, assunto tratado na carta que
enviei a V. Exa. no último dia 3, que segue em anexo.
A solução para esses problemas está nas mãos do Governo Federal,
que pode promulgar a Lei dos Royalties e, ao mesmo tempo, regula-
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
271
mentá-la, para que as compensações financeiras nela previstas sejam
integralmente aplicadas pelo Estado do Rio de Janeiro na erradicação
das favelas cariocas e as da Região Metropolitana. Para isto, o Governo
Estadual deve apresentar ao Governo Federal um plano detalhado para
a sua aplicação, prevendo: a reurbanização de cada favela em particular,
com seus limites definidos; quantas moradias existem; quantos conjun-
tos habitacionais serão construídos para abrigar os moradores; quantos
destes moradores deverão ser transferidos para outros bairros, criados
especialmente para recebê-los; enfim, uma reordenação total de todo
esse espaço urbano para torná-lo um bairro integrado à cidade, com
novas praças, Escola Pública de Tempo Integral, postos de saúde e de
polícia, saneamento básico, áreas de lazer, reservas florestais, etc.
O primeiro passo nesse sentido poderá ser dado no Complexo do Ale-
mão e da Vila Cruzeiro, campos de batalha onde se joga a sorte da
Cidade do Rio de Janeiro, e por via de consequência, a do Brasil. O
passo seguinte será aplicar a mesma política na erradicação da Favela
da Rocinha, assunto tratado em outra carta enviada a V.Exa. no dia 30
do mês passado, que também segue em anexo. Neste caso, também
para evitar atitudes insensatas de fanfarrões que querem “pacificar”
esta favela, como informa o noticiário do Globo Online (4/12/2010),
transcrito abaixo. Aqui é bom frisar que muitos desses “pacificadores”
querem, na verdade, entrar nas favelas de mochilas vazias e sair com
elas cheias, como ocorreu no Complexo do Alemão, fato noticiado pela
imprensa, que levou o Governador do Estado a proibir os policiais que
aí operam de utilizá-las durante a ocupação.
Para evitar desvios de comportamento nas corporações militares dos
Estados, particularmente nas do Rio de Janeiro, a solução pode ser
dada pelo Congresso Nacional, votando uma lei que unifique as polícias
civis e militares e determine que 50% do efetivo desta nova corporação
militar unificada seja composto de mulheres. Esta lei, se for adotada,
funcionará como um dique para conter a maré montante da corrupção
que assola as polícias civis e militares de todos os Estados da fede-
ração e permitir que os governantes revertam essa situação, hoje fora
de controle.
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
272
João GilBerto pArenti couto
“Polícia já tem equipes treinadas para invadir e ocupar favelas da Ro-
cinha e do Vidigal
Antônio Werneck – RIO – Lá dentro, são milhares de moradores, cons-
truções umas próximas das outras, vias íngremes e muitos becos. Do
lado de fora, centenas de pessoas em prédios, casas luxuosas, hotéis
lotados de turistas e veículos circulando sem parar em movimentadas
avenidas. Ocupar as favelas da Rocinha e do Vidigal, em São Conrado,
parece uma tarefa extremamente difícil. No entanto, policiais civis do
Rio já têm equipes táticas prontas, treinadas e com conhecimento sufi-
ciente da região para uma esperada invasão das comunidades, revelou
o delegado Allan Turnowski, chefe de Polícia Civil. A operação, porém,
ainda não tem data marcada. Recém-saído da batalha de retomada do
Complexo do Alemão, Turnowski garantiu que a polícia é capaz hoje de
entrar em qualquer favela do Rio. As polícias Militar e Federal, além das
Forças Armadas, também têm equipes preparadas para subir o Vidigal e
a Rocinha quando o estado quiser. – Já temos conhecimento suficiente
sobre como entrar nas favelas da Rocinha e do Vidigal, e como ocupá-
las. Nossas equipes táticas de recursos especiais já estão acostumadas
a progredir naquela região. Se a decisão de entrar for tomada amanhã,
já temos tudo planejado, sabendo até quem vai entrar e por onde – ga-
rantiu Turnowski. Duzentos fuzis com o tráfico na Rocinha A situação
das favelas da Rocinha e do Vidigal é semelhante à que existia na Vila
Cruzeiro e no Complexo do Alemão. Traficantes transformaram as duas
comunidades da Zona Sul no entreposto de drogas, armas e munição
de uma facção criminosa. Há pelo menos um ano, policiais do Rio têm
conhecimento de que bandidos foragidos de outras favelas da Região
Metropolitana teriam buscado refúgio na Rocinha. Só na comunidade,
são mais de 200 traficantes e 200 fuzis em poder da quadrilha. O
chefe do tráfico é Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem. Estratégica
para o tráfico, cercada de rochas e matas, a região teria se tornado
esconderijo de bandidos foragidos até do Complexo do Alemão – uma
informação que os policiais não confirmam. O tenente-coronel Carlos
Roberto Garcia de Oliveira, comandante do 23 BPM (Leblon), respon-
sável pelo policiamento ostensivo da região, diz que a PM tem infor-
mações sobre as favelas, os traficantes e a localização das bocas de
fumo. Nos últimos dias, em especial depois da ocupação do Complexo
do Alemão, a quantidade de informações que os PMs do Leblon rece-
beram do Disque-Denúncia sobre a atuação dos criminosos da Rocinha
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
273
e do Vidigal aumentou mais de 200%. Uma das denúncias anônimas
chegou na última sexta-feira: diz que os traficantes estão aterrorizando
moradores (suspeitos de darem informações às autoridades), andam
muito nervosos, circulam armados por todo lado, e têm muito medo de
uma invasão da polícia, que acreditam ser iminente. Embora a cúpula
da segurança pública faça questão de negar, em abril deste ano as duas
principais facções criminosas da cidade – a que dominava o Complexo
do Alemão, e a que comanda as favelas da Rocinha e Vidigal – teriam
selado um pacto de não agressão para enfrentar o projeto das Unida-
des de Polícia Pacificadora (UPPs) nas favelas do Rio. Um encontro
entre os principais chefes teria ocorrido na Favela da Grota, reunindo o
traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do Complexo do
São Carlos; um representante da Rocinha; Martiniano da Silva, o Pezão;
além de Fabiano Atanázio da Silva, o FB – os dois últimos do Complexo
do Alemão e que estão foragidos”.
Quando a insensatez prevalece sobre o bom
senso.
Belo Horizonte, 8 de dezembro de 2010.
Exmos.(as) Srs.(as)
Deputados(as) Federais
Câmara dos Deputados
Brasília – DF
Com cópias para os partidos políticos; Governadores dos Estados da
União e jornais Estado de Minas e Folha de S. Paulo.
Assunto: Quando a insensatez prevalece sobre o bom senso.
Prezados (as) Senhores (as) Deputados (as) Federais,
O noticiário do Folha Online (7/12/2010) informa: “O presidente Luiz
Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira que vetará a parte do pro-
jeto do novo marco regulatório do setor de petróleo e gás que propõe
uma redistribuição dos royalties do setor. [...] A Confederação Nacional
274
João GilBerto pArenti couto
dos Municípios marcou para a próxima quinta-feira reuniões nos Es-
tados para pedir ao presidente que não vete a partilha. Reunidos, os
milhares de gestores municipais dirão aos parlamentares e aos gover-
nadores, eleitos ou reeleitos, que exigem uma distribuição mais justa
dos royalties”.
A insensatez do Governador do Estado do Rio de Janeiro, considerando
esse noticiário, parece que contaminou de forma definitiva a mente
do Presidente Lula, que recusa ouvir a maioria do entes federados –
Estados e municípios –, que clamam por uma distribuição mais justa
e equitativa dos lucros com a exploração de um precioso bem que
pertence a todos, sem distinção: o petróleo e o gás natural da Plata-
forma Continental. O Congresso Nacional, que reflete o pensamento da
nação, votou de forma definitiva essa partilha, prevalecendo entre os
congressistas o bom senso no trato de um bem da União. Agora, se
o Presidente da República contrariar essa decisão, para atender a um
governador que não enxerga além dos próprios interesses, deixando de
lado os da maioria da população brasileira, restará aos congressistas
uma medida extrema para fazer prevalecer a vontade da nação: derrubar
esse veto, pois têm poder para isso.
Mas outras medidas poderão ser tomadas, antes de radicalizar-se o
processo; atitude que pode levar a uma crise no sistema federativo,
transformando certos Estados em verdadeiros “Emirados Árabes”, com
seus “emires” disputando entre si uma riqueza que não conhece fron-
teiras geográficas. A primeira delas é fazer inventário de quanto o Esta-
do do Rio de Janeiro já recebeu, indevidamente, até agora, de royalties
pela exploração do petróleo da Plataforma Continental, pois a lei atual
é inconstitucional, já que deixou de lado, quando foi promulgada, os
outros entes federados que são, também, proprietários deste bem da
União, como reza a Constituição Federal. Neste caso, o Estado do Rio
de Janeiro terá de devolver tudo o que recebeu a mais, para que estes
recursos sejam repassados para os demais Estados e municípios que
ficaram de fora a ver navios.
A segunda dessas medidas consiste num levantamento de quanto o
Estado do Rio de Janeiro vem recebendo de recursos da União, ou
seja, do povo brasileiro, por meio de várias fontes, como o Tesouro
Nacional e o BNDES, para financiar a gigantesca infraestrutura que está
sendo construída em território fluminense para tocar a exploração do
petróleo e gás da Plataforma Continental, em toda a sua extensão,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
275
como navios, plataformas, estaleiros, portos, refinarias, etc. Qual é o
montante da renúncia fiscal e outros incentivos que o Governo Federal
vem concedendo para viabilizar esses empreendimentos? Quanto de
impostos diretos e indiretos o Governo do Estado do Rio de Janeiro
vem arrecadando com tais atividades?
Todos estes benefícios, e muitos outros, como a geração de empregos
e o desenvolvimento econômico e social desse Estado, não são levados
em conta, ao se decidir sobre a distribuição dos Royalties, uma parcela
insignificante diante do gigantesco capital que terá de ser levantado
para bancar esses empreendimentos? Onde está o bom senso do Presi-
dente da República, que não leva em consideração todos os elementos
em jogo? Seria, também, um insensato, como o Governador Sérgio
Cabral, a ponto de pôr em risco a unidade da federação, jogando um
Estado contra os outros?
Agradecendo a atenção de V. Exas., subscrevo-me.
Cordialmente,
João Gilberto Parenti Couto
276
João GilBerto pArenti couto
PARTE XVIII
AS CAUSAS DO FRACASSO DA ESCOLA PÚBLICA
NO BRASIL
INTRODUÇÃO
Educação: O Calcanhar de Aquiles da Sociedade
Brasileira
A perenização da miséria no Brasil é fruto de um processo de
exclusão social que tem na educação as raízes mais profundas. Esta
tragédia coletiva é o resultado de um passado escravocrata e da op-
ção da elite republicana de priorizar as questões econômicas em detri-
mento do social. Neste particular é bom lembrar que a última reforma
substancial no ensino brasileiro ocorreu há mais de sessenta anos, no
período revolucionário de Vargas, com a Lei Capanema, que mudou o
ensino no País, como informa Joaquim Panini (Caminhos Novos na
Educação, 1995, p. 286): “Realmente, até 1940, praticamente qualquer
pessoa podia ensinar, mesmo sem o credenciamento de títulos. O mes-
mo acontecendo com as escolas. Com a lei Capanema, publicada em
1942, – a primeira grande lei de ensino no Brasil – as coisas mudaram
substancialmente. As escolas e, sobretudo os professores, tiveram que
legalizar sua situação frente às exigências da lei, o magistério deixou
de ser considerado sacerdócio e passou a ser tido somente como uma
profissão, exigindo interesse, aptidão, e habilitação legal”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
277
Os Sabotadores da Escola Pública
Mas, se tão grande avanço ocorreu em 1942, por que a Escola
Pública de Tempo Integral, gestada desde 1932 pelos pioneiros da Es-
cola Nova, foi abortada? A resposta está na luta surda travada contra a
escola pública pela elite conservadora liderada pelo clero católico, como
mostra o seguinte trecho extraído da obra Caminhos Novos na Educa-
ção (LIMA,1995, p. 161): “Entendeu a AEC – Associação de Educação
Católica –, desde o primeiro momento, que não basta ficar na oposição.
Há necessidade de penetrar e atuar em todos os órgãos do poder. Fazer
ouvir a nossa voz, colaborando, honradamente, com a independência
de opinião, de nossa filosofia e crença. Nasceram, assim, os chama-
dos ‘comandos’ no legislativo e no executivo. Era a estratégia que se
impunha: estar presente, lá onde se decidiam as orientações políticas e
administrativas do ensino nacional. Os primeiros comandos tiveram, no
Senado, o catarinense Nereu Ramos. Na Câmara, o deputado gaúcho,
Tarso Dutra. Traço de união entre os comandos, em caráter permanente,
e a diretoria nacional, foi naqueles 20 primeiro anos, o ex-constituinte
de 1934, Dr. Carlos Thompson Flores. As reuniões eram, geralmente,
no palácio São Joaquim, sede do arcebispado do Rio. Havia também a
colaboração da imprensa, com o conde Pereira Carneiro, no Jornal do
Brasil, e o Dr. Roberto Marinho, em O Globo. Rara era a semana em
que não publicassem algum artigo elaborado na AEC. Outros jornais
como o Diário de Notícias e o Correio da Manhã, colaboraram, também.
A AEC visava formar opinião. Não houve o mesmo acolhimento, por
parte de O Estado de São Paulo. Às repetidas audiências solicitadas
pela AEC, acudia o Dr. Júlio de Mesquita Filho, declarando, com toda
cortesia, que a linha do jornal era outra. O mentor, naquela época, era
o diretor da Revista Anhembi, Anísio Teixeira, nada favorável à Igreja, e
ardoroso defensor do ensino estatal. Hoje – como mudam os tempos!
– o Estado está publicando artigos, na nossa linha. O atual diretor, Júlio
de Mesquita Neto, é antigo aluno do colégio São Luís, de São Paulo”.
278
João GilBerto pArenti couto
As Causas do Fracasso da Escola Pública no
Brasil
Os fundamentos dessa conspiração contra a escola pública e a
capitulação de Vargas, que trocou os ideais da Escola Nova pela Lei Ca-
panema, descritos a seguir, foram levantados de trechos selecionados
das seguintes obras: Caminhos novos na educação, sob a coordenação
de Irmã Severina Alves de Lima (São Paulo: FTD, 1995); Um estudo
histórico sobre o catolicismo militante em Minas, entre 1922 e 1936, de
Frei Henrique Cristiano José Matos (Belo Horizonte: O Lutador, 1990);
Introdução à história da Igreja, de Frei Henrique Cristiano José Matos
(5. ed. Belo Horizonte: O Lutador, 1997. v. 1 e 2.); e Os Templários, de
Piers Paul Read (Rio de Janeiro: Imago, 2001).
Uma Disputa de Poder e Prestígio
O nó górdio que mantém o Brasil atado à miséria e à ignorância
e que o impede de sair do atraso em que se encontra e realizar suas
potencialidades se situa na escola pública. O fracasso da escola pública
no Brasil é o resultado de uma surda disputa de poder e prestígio entre
a Igreja Católica Apostólica Romana e o Estado brasileiro, tornada ma-
nifesta por ocasião da queda do Império e a consequente Proclamação
da República, quando então se processou a separação da Igreja do
Estado. Essa disputa, Igreja/Estado, tem suas raízes nos primórdios
do Cristianismo, por obra e graça do Imperador romano Constantino
(306-337dC).
“Constantino acreditava que havia chegado ao poder com a ajuda
do Deus dos cristãos. Às vésperas da crucial batalha com o imperador
rival Maxêncio na Ponte Mílvio, junto dos muros de Roma, fora-lhe dito
num sonho (ou possivelmente numa visão) que pintasse um monogra-
ma cristão nos escudos de seus soldados com as palavras In hoc signo
vinces (Com este sinal vencerás)”. (READ, p. 9).
“Constantino sucessivamente adotou outras medidas favoráveis
aos cristãos, como se quisesse fazer da religião cristã um instrumento
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
279
de fortalecimento e unidade do Estado, que também procurava robuste-
cer por outros meios (reforma da burocracia civil e dos comandos mi-
litares; medidas econômicas e fiscais; etc.). Em particular, Constantino
parece ter visto no monoteísmo uma forma de legitimar a monarquia:
a um só Deus do universo corresponde um só soberano ou monarca
para o Império. Também a transformação da antiga Bizâncio numa nova
cidade, Constantinopla, inaugurada em 330, pareceu significar o aban-
dono, por parte do imperador, da Roma pagã e a substituição por uma
nova Capital cristã”. (MATOS, 1997, v. 1, p. 97).
“Entre os atos de Constantino em favor da Igreja, podem ser ci-
tados: + A concessão de imunidades ou isenção de obrigações pessoais
para com o Estado (impostos, etc.), tanto para os sacerdotes pagãos,
como para o clero católico. + Reconhecimento jurídico das decisões epis-
copais: os bispos podem arbitrar causas também de pagãos. + Abolição
da crucificação e proibição das lutas de gladiadores, que, no entanto,
continuarão ainda por um século. + Permissão à Igreja de receber he-
ranças e doação de grandes igrejas ou basílicas (Basílica do Latrão e de
São Pedro, em Roma; Santo Sepulcro, em Jerusalém; Natividade, em
Belém...). + Reconhecimento do domingo como feriado e progressiva
redução das festas pagãs”. (MATOS, 1997, v. 1, p. 97-98).
“A propósito deste período e de imperadores como Constantino,
Constâncio e, mais tarde, Justiniano (527-565), falou-se em cesaropa-
pismo. O termo é moderno e indica uma teoria segundo a qual o poder
civil e o poder religioso se reuniriam numa só pessoa, a do imperador,
que exerceria conjuntamente as funções de imperador e de papa”. (MA-
TOS, 1997, v. 1, p. 102-103).
“A Igreja assumiu mais do que as funções do extinto Império:
era o Império Romano na mente do povo. Ser romano era ser cristão;
ser cristão era ser romano. Depois de Justiniano, o mundo mediterrâ-
neo passou a considerar a si mesmo não mais como uma sociedade
na qual o cristianismo era apenas a religião dominante, mas uma so-
ciedade totalmente cristã. Os pagãos desapareceram nas classes mais
elevadas, e mesmo no campo [...] o não-cristão constatava que era
280
João GilBerto pArenti couto
um fora-da-lei num Estado unificado. Num sentido real e consciente,
os bispos da Igreja Católica assumiram as responsabilidades da classe
senatorial romana: essa foi a hipótese básica por trás da retórica e do
cerimonial do papado medieval”. (READ, p. 46).
“Por volta de 1300, deu-se um desentendimento entre o Papa
Bonifácio VIII (1294-1303) e o rei Felipe IV, o Belo (1285-1314), da
França. Conflitos semelhantes, surgidos, via de regra, por motivos de
delimitação de poderes, já haviam ocorrido em épocas anteriores, como
conseqüência natural da fusão de competências entre o poder espiritual
e temporal. Por maiores que tivessem sido os choques, até então uma
coisa ficara incontestável: a união inquebrantável de Igreja e Estado,
sob a dupla autoridade de papa e monarca. A novidade estava exata-
mente em não mais se tratar de uma simples questão de rivalidade,
mas de um profundo questionamento sobre a origem do poder. Felipe
sustentava que sua autoridade régia derivava diretamente de Deus e,
conseqüentemente, não se submetia a nenhuma restrição por parte do
Papa. Como monarca, era inteiramente independente e somente em
questões de fé teria de obedecer ao pontífice. Em outras palavras: o rei
subtraiu toda vida política à direção da Igreja”. (MATOS, 1997, v.1, p.
286-287).
“O ano de 1300 marcou o ponto alto do pontificado de Bonifácio
VIII e na época pareceu o auge das reivindicações pontifícias à juris-
dição universal. [...] O papa Bonifácio, exultante, apareceu diante dos
peregrinos sentado no trono de Constantino, segurando espada, coroa
e cetro e gritando: Eu sou César!” (READ, p. 276-277).
A Ordem dos Templários
“A morte de Bonifácio não pôs fim ao conflito entre o Papa e
a França. [...] Finalmente, a escolha recaiu sobre Clemente V (1305-
1314), arcebispo de Bordéus. Este se mantivera neutro na luta par-
tidária, sendo figura bem vista por Felipe. Não foi uma eleição muito
feliz. A fim de restabelecer a paz o mais breve possível, fez grandes
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
281
concessões a Felipe, que não seriam benéficas para a Igreja. Apoiou um
processo contra a Ordem dos Templários, que o rei queria aniquilar,
provavelmente para se apoderar de suas riquezas. O processo realizou-
se de forma completamente arbitrária e as atitudes autocráticas de Fe-
lipe provam que o prestígio do Papa diminuíra notavelmente. Embora
as acusações feitas não fossem comprovadas, Clemente suspendeu a
Instituição dos Templários (1307). A vontade de Felipe prevaleceu”.
(MATOS, 1997, v. 1, p. 289).
A Ordem de Cristo
“Em Portugal, a Ordem do Templo, com permissão do papa,
tinha sido reorganizada como Ordem de Cristo. Aí, também, era con-
trolada pelos reis portugueses, que conseguiram instalar príncipes re-
ais ou outros favoritos como mestres. Seus feitos mais significativos
se deram sob seu mestre, o príncipe Henrique, nomeado em 1418, o
qual usou a riqueza da ordem para financiar expedições exploratórias
à costa da África, ao redor do cabo da Boa Esperança e por fim à Ásia.
No século XVI, o controle das ordens passou para a Coroa, e, como
as sucessivas bulas papais atenuaram os votos de pobreza, castidade
e obediência, a qualidade de membro transformou-se meramente numa
questão de honra e prestígio”. (READ, p. 338).
O Poder da Igreja na América Latina
“A partir da segunda metade do século XV, Espanha e Portugal
assumem, progressivamente, a hegemonia da expansão colonial euro-
péia, sob a égide da incipiente política econômica do mercantilismo.
Dilatar a fé e o império, impor-se pela cruz e espada, são diferentes
maneiras de exprimir a implantação dos impérios ibéricos, ao mesmo
tempo mercantis e salvacionista”. (MATOS, 1997, v. 2, p. 89-90).
“Na Península Ibérica existia a mentalidade, amplamente difun-
dida, segundo a qual Portugal e Espanha foram escolhidos por Deus
para difundir a fé cristã nas novas terras já descobertas ou a serem
282
João GilBerto pArenti couto
conhecidas. Trata-se de um messianismo que ressoa, inclusive, nas
obras de Las Casas quando afirma que Deus havia eleito o povo espa-
nhol como ministro da fé (As vinte razões). Também Antônio Vieira SJ
[1608-1697] se faz porta-voz dessa convicção, afirmando que nesses
tempos surge um novo império, o reino de Cristo na terra, governado
pelo Papa (poder espiritual) e pelo rei de Portugal (poder temporal)”.
(MATOS, 1997, v. 2, p. 95-97).
“Cinco séculos de luta contra os Mouros na Península Ibérica
[c.750-1492], movimento conhecido como Reconquista Cristã, incul-
cou nos ibéricos um espírito de cruzada: usar a força das armas como
meio legítimo na defesa da fé! Imbuídos desta mesma mentalidade, os
conquistadores declaram justa a guerra, caso os indígenas negarem a
aceitar pacificamente a fé. O grito Crê ou morre dos cruzados medievais
recebe aqui uma nova aplicação”. (MATOS, 1997, v. 2, p. 97).
“Quanto à implantação da Igreja-Instituição e à organização ecle-
siástica, constatamos que em 1511 foram criadas as três primeiras se-
des episcopais, entre elas a de Santo Domingo (arquidiocese em 1546).
A Igreja no Brasil dependia inicialmente do Bispado de Funchal, nas
Ilhas Açores. Em 1551 erigiu-se a diocese de São Salvador da Bahia.
De 1551 a 1676, houve um só bispo para toda a América portuguesa
e somente em 1707, com as Constituições Primeiras do Arcebispo da
Bahia, é que surge uma estrutura eclesiástica mais definida”. (MATOS,
1997, v. 2, p. 95).
“Através de sucessivas concessões pontifícias que confiavam
aos monarcas ibéricos o cuidado da Igreja em terras ultramarinas, por
eles descobertas e conquistadas, a evangelização da América Latina
estava, de fato, nas mãos da Coroa, e, conseqüentemente, era integrada
ao projeto colonial de dominação. Eram, de fato, os reis de Espanha
e Portugal que enviavam os missionários e que tinham o direito de
receber os dízimos, para financiar a catequese e o culto. Pertencia-
lhes, igualmente, a faculdade de criar novas dioceses, nomear bispos
e outros dignitários eclesiásticos. Toda a comunicação com Roma era
sujeita ao controle do monarca. O funcionamento do padroado foi,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
283
igualmente, bem além da legislação escrita e o poder colonial chegou
a dominar por completo a instituição eclesiástica, cerceando, de forma
abusiva, sua vida interna e seus representantes, entre eles particular-
mente as Ordens Religiosas. Um dos aspectos práticos do padroado
era que ninguém podia tornar-se cristão sem, ao mesmo tempo, passar
a ser súdito do rei da Espanha ou de Portugal. Efetivamente, expansão
imperialista e conversão cristã caminhavam de mãos dadas!” (MATOS,
1997, v. 2, p. 100).
O Poder da Igreja no Brasil
“A colônia portuguesa nas Américas segue um itinerário sui ge-
neris. A 7 de setembro de 1822 um príncipe da casa real portuguesa,
Dom Pedro I, rompe os laços políticos com a Metrópole, tornando o
Brasil um país independente. É instituído o regime monárquico e pro-
clamado o Império do Brasil, com constituição outorgada em 24 de
fevereiro de 1824, na qual a religião católica é declarada oficial (artigo
5º) e o Imperador considerado o protetor natural da Igreja, com todas
as prerrogativas do antigo Padroado luso (artigo 102)”. (MATOS, 1997,
v. 2, p. 119).
“No Brasil verificamos, no período em questão, vários choques
entre o poder imperial e a Igreja por causa do regalismo. Após o posi-
cionamento das autoridades políticas em relação ao direito inalienável
do padroado, ora transferido naturalmente para a pessoa do Imperador
(1827), e o episódio de quase ruptura com Roma (1833) devido às
atitudes de Diogo Antônio Feijó (1784-1843), as tensões entre a Igreja
e Estado não cessam. Assim, em 1855 é proibida a admissão de novi-
ços às antigas Ordens Religiosas do Império, medida que provoca uma
drástica diminuição numérica desses institutos, levando-os à beira da
extinção em fins do período monárquico. Famosa foi a Questão Religio-
sa (1872-1875), ligada à infiltração maçônica em irmandades de Belém
e Olinda, cidades que viram seus bispos aprisionados e condenados a
trabalhos forçados”. (MATOS, 1997, v. 2, p. 123).
284
João GilBerto pArenti couto
A Separação da Igreja do Estado
“Proclamada a República, em 15 de novembro de 1889, logo
aos 7 de janeiro de 1890, o Governo Provisório publicou o Decreto da
separação da Igreja e do Estado. Antes de chegar à publicação des-
se revolucionário Estatuto, de tão decisiva importância sócio-política,
houve várias tentativas de impedi-lo ou, pelo menos, amenizar suas
conseqüências. Os líderes católicos continuavam a defender em tese o
ideal de união entre Igreja e Estado, aceitando a separação como situa-
ção de fato, após a promulgação do Decreto nr. 119-A, de 7 de janeiro
de 1890. Obviamente ninguém desejava um simples retorno à política
imperial referente à Igreja, aquela falsa união e escravizamento, aquele
regime de privilégios e subsídios com que se mascarava a opressão
(Pe. Júlio Maria, CSSR), mas seria inaceitável confundir a separação
com a hostilidade ou com a indiferença”. (MATOS, 1990, p.12).
“Não se pode negar que o documento de 7/1/1890 é sereno,
discreto e preciso; não contém excessos e nem esconde ódios. Não
deixa de ser a carta de alforria do catolicismo no Brasil, abolindo no art.
4º o padroado com todas as suas instituições, recursos e prerrogativas;
proibindo no art. 1º ao governo federal leis, regulamentos ou atos ad-
ministrativos sobre a religião; declarando no art. 2º o direito de todas
as confissões religiosas ao exercício de seu culto, sem obstáculos aos
seus atos particulares ou públicos; assegurando no art. 3º a liberdade
religiosa, não só aos indivíduos isoladamente considerados, mas ainda
às Igrejas que os unem numa mesma comunhão; estabelecendo no
art. 5oo a personalidade jurídica para todas as Igrejas e comunhões
religiosas, e mantendo a cada uma o domínio de seus bens”. (MATOS,
1990, p.13).
A Reação do Clero Católico
“Apesar das intervenções e apelos da Hierarquia católica, a Cons-
tituição republicana de 24 de fevereiro de 1891 adotou uma filosofia a-
religiosa e nitidamente laicista, eliminando – como vimos – a evocação
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
285
do nome de Deus na Carta Magna, proibindo o ensino religioso nas
escolas públicas e não reconhecendo o matrimônio religioso para efei-
tos civis. Essa mesma política de laicização do Estado, no entanto, não
foi seguida pelo Congresso Constituinte de Minas Gerais que, no dia
15 de junho de 1891, decretou e promulgou a Constituição Mineira em
nome de Deus Todo Poderoso. Comenta Mons. Carlos de Vasconcellos,
no seu discurso de instalação do 1º Congresso Catequístico Brasileiro
de 1928: Minas repudiava assim a apostasia oficial da Constituição
atéia da República Brasileira, inspirada pelo positivismo. Se esta não
foi ainda batizada, como dizia Júlio Maria, e conserva o pecado original
de apostasia, o Estado de Minas, desde o berço, recebeu ao menos a
graça do batismo de desejo!” (MATOS, 1990, p.16).
“Apesar da separação oficial de Igreja e Estado no Brasil, consa-
grada pelo Decreto 119-A, de 7 de janeiro de 1890, e incorporada na
constituição de 1891, assistimos, na Primeira República, a um curioso
processo de reaproximação dos dois poderes. A Igreja não se conforma
com uma posição secundária na vida nacional, apelando aos sentimen-
tos religiosos da absoluta maioria da população. Já nos primeiros anos
da República, os bispos mostram claramente que não aceitam a opinião
que entre a Igreja e o Estado deve ter pouco ou quase nenhum contato,
nenhuma cooperação, em suma, legalmente têm que se ignorar mutu-
amente. Independência não quer dizer separação, afirma o Episcopado
em sua Carta Pastoral de 1890”. (MATOS, 1990, p. 45).
“O processo de reaproximação entre a Igreja e Estado, nas pri-
meiras quatro décadas do regime republicano, não é retilíneo e conhece
um vai-e-vem, que revela os interesses em jogo naquela etapa históri-
ca. [...] Em 1905 o Brasil foi agraciado com o primeiro cardinalato da
América Latina, na pessoa de Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque
Cavalcanti (1897-1930), arcebispo do Rio de Janeiro. [...] Em 1919
a representação diplomática junto à Santa Sé foi elevada à categoria
de Embaixada, enquanto, no Brasil, a Nunciatura recebeu o status de
primeira classe. [...] Em maio de 1924 foi celebrado, com grandes fes-
tividades, o jubileu de ouro sacerdotal do Cardeal Arcoverde. Além da
286
João GilBerto pArenti couto
impressionante Missa Campal, especialmente organizada pelos nossos
militares, em que tomaram parte mais de dez mil soldados de terra
e mar e a comunhão dos intelectuais, quando das mãos de S. Ex.
Rvdma., o Snr. D. Sebastião Leme, mais de 500 homens de letras,
professores, cientistas, acadêmicos, artistas, etc. receberam a Sagrada
Comunhão, o que mais chamou a atenção foi o fato de o governo da
República ter tomado parte conspícua nessas festividades. No dia 4 de
maio de 1924, compareceu ao Palácio São Joaquim, no Rio de Janeiro,
o próprio Presidente da República, Dr. Arthur Bernardes (1922-1926),
acompanhado do Sr. Dr. Estácio Coimbra, vice-presidente, das casas
civil e militar e de todo o Ministério, para homenagear o purpurado. Era
a primeira vez, depois da separação da Igreja e do Estado, que uma
autoridade eclesiástica recebia tais honras por parte do Chefe da Nação.
Houve 20 minutos de conversação amistosa. Trocaram-se discursos
e foram tiradas fotografias, em que, ao lado do Cardeal e de outros
prelados, aparecem o Presidente da República e eu séqüito. Uma hora
depois, Dom Arcoverde e todos os Bispos presentes foram agradecer a
distinção do Governo Brasileiro. À saudação de Dom Joaquim Silvério
de Souza (1905-1933), Arcebispo de Diamantina, respondeu o Presi-
dente com um discurso que foi uma verdadeira apologia da ação da
Igreja Católica no Brasil. Mas o ponto alto constituiu, sem dúvida, do
banquete no Itamarati, oferecido à noite daquele dia 4 de maio, pelo
Chanceler Félix Pacheco. Ainda muitos anos depois, este evento será
lembrado pela imprensa católica como um manifesto congraçamento
da República com a consciência católica da universidade dos brasilei-
ros. Fala-se, na ocasião, de um verdadeiro batismo da República no
Brasil”. (MATOS, 1990, p. 47-49).
Uma Interpretação Tendenciosa
“A proclamação da República, em novembro de 1889, trouxe
como conseqüência a abolição do Padroado, deixando o catolicismo
de ser religião oficial do estado. À semelhança do que já vinha ocor-
rendo na Europa, a constituição republicana decretou a implantação do
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
287
estado leigo, com as respectivas conseqüências na área da família e
da educação. Com a mesma força de repúdio à laicização do Estado e
ao casamento civil, os bispos passaram a condenar o ensino leigo nas
escolas. Segundo a hierarquia eclesiástica, a laicização do ensino era
considerada como uma forma prática de ateísmo e causa de profundos
males para o país. Já na reclamação feita pelo episcopado ao governo
provisório, datada de 6 de agosto de 1890, existe uma condenação
explícita do ensino leigo; numa interpretação tendenciosa, afirma-se
que o governo havia optado pelo ateísmo oficial: Que há de ser, dentro
de poucos anos, quando as funestas doutrinas do ateísmo nas esco-
la públicas, houverem produzido entre nós os deploráveis frutos de
dissolução e imoralidade que a experiência de outros países já deixou
tristemente evidenciados?
Nas pastorais coletivas de 1900, na comemoração do 4º cente-
nário da descoberta do Brasil, os bispos voltam a insistir nessa mesma
posição, extremamente polêmica, com relação ao ensino leigo: Decre-
tou-se que nossas escolas primárias e superiores fossem seminários
de ateísmo, onde nada se ensinasse de religião, nada de Deus. Este
nome adorável poderão os mestres proferir para o insulto ou negar;
não terão liberdade de infundir na inteligência e no coração dos alunos
conhecimento e amor de Deus criador deles e do universo. É evidente
que os bispos manipulam, em defesa de sua tese, o próprio texto do
decreto, estabelecendo uma equivalência indébita entre ensino leigo e
ensino ateu. O fato de se prescindir, nas escolas públicas, do ensino
da fé católica, de forma alguma significava que houvesse na mente dos
legisladores uma intenção declarada de promover o ateísmo entre a
juventude. O ensino religioso continuava a ser mantido livremente nas
escolas confessionais das diferentes denominações religiosas. Apesar
do clamor do episcopado, o governo republicano deixava plena liber-
dade para que a instituição eclesiástica se expandisse e se fortalecesse
nesse período, o que não ocorria na época imperial.
A convite dos bispos e, sob o estímulo da Santa Sé, inúmeros
institutos religiosos europeus se estabeleceram no país nas primei-
288
João GilBerto pArenti couto
ras décadas do regime republicano. A celebração do concílio plenário
latino-americano, em Roma, em 1898, permitiu que a cúria romana
confirmasse de forma definitiva seu domínio sobre as Igrejas oriundas
do colonialismo ibérico. O concílio foi elaborado e conduzido pelos
peritos da Santa Sé, cabendo aos prelados apenas ratificar as diretrizes
romanas. Um dos pontos mais enfatizados, pelo concílio, era a neces-
sidade de promoção das escolas católicas, como forma de se contrapor
à perspectiva leiga dos estados modernos. A fim de levar avante esse
projeto, recomendava-se que os prelados latino-americanos continuas-
sem a obter a colaboração de religiosos da Europa.
O tema escola católica passou a constituir um enfoque importan-
te da conferência dos bispos do centro-sul do país, reunidos em São
Paulo, em 1910. A escola pública, desprovida do seu caráter sacral, era
condenada explicitamente pelos membros da hierarquia eclesiástica,
afirmando que a Igreja Católica “detesta e condena as escolas neutras,
mistas e leigas, em que se suprime todo o ensino da doutrina cristã”.
E acrescentavam em seguida, fiéis às orientações do concílio latino-
americano:“Esforcem-se, portanto, os reverendos párocos, pregadores
e catequistas, por dissuadir aos pais de família, que não poderão pres-
tar pior serviço aos filhos, à pátria e ao catolicismo, que colocar seus
filhos em tais escolas, expostos a perigos tão grandes”.
O contraponto era a necessidade de escolas de confissão cató-
lica. O clero diocesano foi incentivado a que patrocinasse essas fun-
dações, no âmbito de suas paróquias: “Nas circunstâncias em que se
acha a Igreja diante do ensino leigo, é de necessidade inadiável que em
todas as paróquias, haja escolas primárias católicas, a que chamam pa-
roquiais, nas quais a mocidade nascente encontre o pasto espiritual da
doutrina cristã, e de outros conhecimentos para a vida prática. Ordena-
mos, portanto, aos reverendos párocos que envidem todos os esforços
para fundá-las o quanto antes, onde as não houver; e não descansem,
enquanto não conseguirem, por si ou por outrem, a realização deste
ideal, em suas paróquias, custe o que custar”.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
289
A finalidade básica da escola paroquial era oferecer aos meninos
uma instrução elementar que lhes permitisse assimilar melhor os con-
ceitos da doutrina católica, preparando-se assim de forma adequada
para a recepção dos sacramentos da penitência e da eucaristia. Foi,
sobretudo, nas regiões de imigração européia no sul do país onde esse
apelo foi atendido de forma mais plena. Instalados no Rio Grande do
Sul, em 1900, os Irmãos maristas tornaram-se valiosos colaboradores
dos párocos na promoção das escolas católicas. Em Santa Catarina foi
fundada em 1913 a congregação das Irmãs Catequistas Franciscanas
cuja finalidade específica era o magistério nas escolas paroquiais. Não
obstante, na medida em que se ampliava a rede escolar pública, muitas
famílias católicas passaram a optar por ela pelo aspecto da gratuidade,
tanto mais que freqüentemente eram os mesmos professores que lecio-
navam tanto nas escolas municipais como nas escolas paroquiais. Nes-
se período, intensificou-se no país o ensino secundário, e os religiosos
passaram a ocupar lugar significativo nessa área, com a fundação dos
colégios, nas diversas regiões do país.
Três razões principais podem ser indicadas para essa opção de
atividade, dentro da Igreja do Brasil. Em primeiro lugar, a maioria das
congregações européias, já se dedicavam anteriormente a esse tipo de
atividade; o que fizeram foi simplesmente transplantar para o país mé-
todos e obras que já haviam dado bons resultados em outras regiões.
Além disso, a fundação de escolas passou a constituir o meio principal
de prover o sustento econômico das novas fundações religiosas, so-
bretudo quando o governo republicano, recém-instalado no Brasil, se
negava a amparar as obras de cunho religioso. Por último, a criação
das escolas católicas era uma das grandes metas do episcopado, so-
bretudo após o decreto de separação entre a Igreja e Estado”. (LIMA,
p. 30-33).
O Combate à Escola Pública na República Velha
“Após a proclamação da República, a Igreja iniciou um movi-
mento de reação contra o novo regime, em vista de seu caráter leigo;
290
João GilBerto pArenti couto
havia ainda muitos prelados e clérigos saudosistas da época imperial,
quando a instituição eclesiástica gozava de uma série de privilégios,
por ser o catolicismo religião. A legitimação do governo republicano
foi promovida, sobretudo, pelos positivistas, cuja doutrina teve grande
aceitação no exército, através do incentivo ao espírito cívico. A partir
das comemorações do centenário da independência, registra-se uma
mudança de estratégia por parte da Igreja: a ênfase do discurso eclesi-
ástico passa a ser a união entre fé católica e pátria brasileira. Na con-
cepção do episcopado, era necessário recuperar a influência junto ao
poder político. De fato, a partir da década de 20, iniciou-se uma etapa
que pode ser designada como Restauração católica ou neo-Cristandade
brasileira”. (LIMA, p. 37).
“Diante desta situação a Igreja procura reforçar seus quadros
internos e também sua organização externa. Excluída da vida pública,
quer aumentar sua influência e prestígio na sociedade civil, mediante
uma atuação mais destacada na educação (com colégios católicos, ge-
ralmente destinados à elite), nas obras sociais, na imprensa e nas pias
associações de leigos. Nesta tarefa recebe enorme apoio de Congre-
gações religiosas européias que afluem, em grande número, ao Con-
tinente. Interessante também é o ingente esforço da hierarquia para
conquistar um lugar para a Igreja na escola pública, com campanhas a
favor do ensino religioso na rede educacional oficial”. (MATOS, 1997,
v. 2, p. 125).
“A escola neutra é uma calamidade, um sistema mentiroso, es-
crevia Leão XIII. Em face de Cristo, senhores, não há meio termo; a
alternativa é a da estrada de Damasco: ou com Paulo se o segue ou
com Saulo se o persegue. A escola sem Deus é contra Deus”. (MATOS,
1990, p. 76).
“Na sua Carta Pastoral de 29-3-1912, já escrevera Dom Silvério
Gomes Pimenta, Arcebispo de Mariana: Escolas chamadas neutra, ou
atéias, são perniciosíssima invenção para arrancar do coração da infân-
cia, e depois da sociedade, a fé e os sentimentos religiosos. Este nefan-
do empenho se acoberta e se procura defender com a capa de liberdade
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
291
de consciência, de civilização, de progresso, quando na realidade não é
senão uma guerra nutrida contra a fé católica, alvejada principalmente
com tais medidas. Outros falam da ‘monstruosidade perversa do ensino
leigo’ e do ‘mais violento vírus que se possa inocular a uma nação para
corrompê-la’”. (MATOS, 1990, p. 75).
“A lição da história nos ensina que o grupo ou partido que tiver
o monopólio da escola, cedo ou tarde, triunfará. É indispensável que
os católicos sinceros e esclarecidos, seguindo um plano bem traçado,
iniciem uma luta sem tréguas contra o princípio da laicidade do ensi-
no. Urge uma propaganda intensa, ardente, contra a violação odiosa
da vontade popular pela imposição iníqua – a um povo inteiramente
católico! – de um ensino que ele não quer. O grito de guerra de todo o
exército católico deve ser: Queremos Deus nas escolas! As escolas são
nossas, somos nós que as pagamos e sustentamos, não as queremos
sem o ensino da Religião! Fora o ensino leigo! Para nós, como para
nossos irmãos de crença de todos os países não há escolher o campo
de batalha: só poder ser o da salvação da infância e da mocidade pela
destruição do ensino leigo, ou ao menos pela subtração dos filhos dos
católicos à sua mortífera influência. Unindo as imensas forças católicas
em todo o território nacional, fazendo pressão sobre as autoridades
municipais, estaduais e federais, a Igreja conseguirá, em breve, que
Jesus Cristo e a Religião dos nossos ancestrais voltem a ocupar, no
ensino, o lugar de honra que lhe compete e que, só pela mais tirânica
e criminosa imposição de uma ínfima minoria de falsos democratas
lhes havia sido arrancado. Desse recobrar de esforços pelo ensino re-
ligioso – afirmam os bispos da Província Eclesiástica de Mariana, no
Apelo dirigido ao Clero, aos chefes de família e aos professores, Pouso
Alegre, 7 de maio de 1927 – há de surgir uma nova floração de ener-
gias e virtudes, a pontearem de esperanças os horizontes da Pátria e a
atraírem sobre vós as mais preciosas recompensas do céu”. (MATOS,
1990, p. 76-77).
“A campanha pelo ensino religioso teve em Minas contornos
específicos. Aí a luta foi mais intensa e conseguiram-se vitórias, que
292
João GilBerto pArenti couto
serviram de estímulo para os católicos de outras regiões do país. [...]
As coisas mudaram quando o Governador positivista João Pinheiro da
Silva e seus secretário de Interior, Carvalho Brito, em 1906, proibiram
o ensino religioso na escola oficial, deixando, igualmente, de subven-
cionar os seminários católicos”. (MATOS, 1990, p. 77-78).
“Já em 1890, na sua Carta Pastoral Coletiva, o episcopado brasi-
leiro dizia: ‘Nós vemos nas escolas, desde as ínfimas até as superiores,
erguerem-se cátedras de pestilência a exalar os seus miasmas deletérios,
e enquanto nesses santuários poluídos da ciência os professores do ate-
ísmo perverterem a incauta mocidade sedenta de saber...’ É convicção
profunda entre os católicos ‘esclarecidos’ da época, que a escola neutra,
ou seja, nas suas respectivas paróquias”. (MATOS, 1990, p. 88).
“Um dos aspectos mais importantes na obra de ‘recristianização’
do Brasil, durante o período da ‘Primeira República’, é, sem sombra de
dúvida, a campanha desenvolvida pela Igreja para reintroduzir o ensino
religioso nas escolas da rede pública. Na opinião católica da época,
trata-se ‘sem Deus’, não educa, porque ‘não forma o caráter, nem o
homem, cuja vida espiritual não pode abstrair da religião’. Encontra-
mos semelhante argumentação nas próprias diretrizes oficiais da Igre-
ja, desde pronunciamentos pontifícios, posicionamento do episcopado
nacional e local, até simples orientações de uma questão de vida ou
morte: sem bases cristãs na mocidade, não haverá futuro para o Brasil.
A questão se enquadra numa perspectiva mais ampla: a implantação da
‘ordem cristã’ na sociedade brasileira”. (MATOS, 1990, p.73).
“A ‘questão escolar’ no Brasil não é fenômeno isolado no con-
junto da Igreja Universal. Amplamente conhecidos sãos os ingentes
esforços, por exemplo, dos católicos franceses em defesa da escola
católica, como demonstra, entre outros, o famoso discurso de Charles
de Montalembert (1810-1870) perante a ‘Chambre des Pairs’, em 1831.
Particularmente instrutiva é também a ação dos católicos holandeses
quanto à escola confessional cristã, na qual se destaca a figura de
Herman Schaepiman (1844-1903) que conseguiu a colaboração política
do partido protestante, para garantir o reconhecimento, e, mais tarde,
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
293
a plena subvenção do ensino cristão particular (em 1920, já depois de
sua morte)”. (MATOS, 1990, p. 75).
A Criação da Rede Particular de Ensino
“As orientações de Roma a respeito da ‘escola católica’ servem
de estímulo e apoio aos católicos brasileiros em construir sua própria
‘rede particular de ensino’. Em sua Pastoral Coletiva de 1922, os Bispos
recordam aos fiéis a exortação de Leão XIII, quando escrevem: Pelo que
ao nosso país concerne, o Papa Leão XIII, na Carta ‘Litteras a vobis’
diz: ‘Estabeleçam-se também escolas para instrução dos meninos, a
fim de não suceder que, com grande detrimento da fé e dos costumes,
recorram, como sói acontecer, às escolas dos hereges ou freqüentem
colégios onde não se faz menção nenhuma da doutrina católica, exceto
talvez para caluniá-lo. Escusado é encarecer a importância das palavras
pontifícias. À sua luz rasga-se o caminho que devemos trilhar, sob
pena de perderem a fé verdadeira não poucos dos que têm a ventura
de nascer no generoso grêmio da Igreja’. Pio XI – na sua Encíclica
‘Divini Illius Magistri’, de 1929, pondera: ‘... é indispensável que todo o
ensino e toda a organização da escola: mestres, programas, livros, em
todas as disciplinas, sejam regidos pelo espírito cristão, sob a direção
e vigilância maternal da Igreja Católica, de modo que a Religião seja
verdadeiramente fundamento e coroa de toda a instrução, em todos os
graus, não só elementar, mas também média e superior’. Dom Leme
já tocara o ideal da escola ‘integralmente católica’, na sua Pastoral de
1916: ‘Nós queremos escolas francamente religiosas. Nesse intuito não
mediremos trabalhos. [...] A escola – repete Dom Leme, citando Leão
XIII – é o campo de batalha em que se decide o caráter cristão da so-
ciedade’”. (MATOS, 1990, p. 91).
“Uma das maiores desgraças que atingiu o Brasil no período da
Primeira República é, segundo muitos católicos da época, a difusão dos
‘colégios protestantes ou americanos’, na Terra de Santa Cruz. Na sua
‘Circular de 3-4-1906’, o Arcebispo de Mariana declara sem rodeios:
Falo de meninos de ambos os sexos, que os pais não temem confiar
294
João GilBerto pArenti couto
a colégios e mestres protestantes, heterodoxos, ou ainda sem religião.
Não vêem esses pais que com semelhante procedimento impelem seus
filhos para a apostasia, fazendo-os perder no colégio, ou nas aulas, as
verdades católicas que aprenderam, ou deviam aprender em casa. Pais
que assim tratam seus filhos são diante de Deus réus de um crime,
que o Apóstolo classifica de apostasia, mais grave que a mesma infide-
lidade: ‘Si quis suorum máxime domesticorum curam no habet, fidem
negavit, et est infideli deterior’” (I Tim.5,8). (MATOS, 1990, p. 92-93).
O Advento da Revolução de 30
“A partir da década de 20, portanto, a Igreja procura uma reapro-
ximação com o Estado, não em termos de subordinação, mas de cola-
boração. A hierarquia eclesiástica mostra-se disposta a colaborar com
o governo na manutenção da ordem pública, mas exige em troca que o
Estado atenda às suas reivindicações de ordem religiosa. Essa aliança
passou a ser mantida após a revolução de 1930, com a ascensão dos
novos líderes políticos. Para conquistar o apoio da Igreja, não faltaram
concessões explícitas do governo revolucionário, como a autorização
para o ensino religioso nas escolas públicas”. (LIMA, p. 38-39).
“Getúlio Vargas (1883-1954), que dirigirá os destinos da Na-
ção a partir da Revolução de 1930, primeiro como chefe do Governo
Provisório (1930-1934), depois como Presidente Constitucional (1934-
1937) e ditador (1937-1945), ficará eternamente grato a Dom Leme,
que evitou o derramamento de sangue na deposição de Washington
Luiz (1870-1957) como presidente da República em 1930. Durante o
Estado Novo (1937-1945) – na realidade o regime ditatorial de Vargas
–, realizar-se-á um pacto moral entre a Igreja e o Estado, garantia de
uma posição privilegiada do catolicismo no Brasil. Notável foi a bem-
sucedida campanha da Igreja para conseguir a implantação do ensi-
no religioso na escola pública, em nível regional (Minas Gerais, 1928)
e, pouco depois, em nível nacional (Decreto do Governo Federal de
1931)”. (MATOS, 1997, v. 2, p. 129).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
295
A Capitulação de Vargas
“Para José Oscar Beozzo, 1935 é o ‘ano chave’ da década de
30. A Revolução de 1930 permite o desbloqueio de inúmeras forças
sociais que se radicalizam mais profundamente em 1935, quando co-
meça a se fechar o espaço, para estas forças populares emergentes,
ocupado cada vez pelo reagrupamento das classes dominantes e pela
intervenção do Estado. [...] A Igreja se adapta ao ‘projeto populista’ de
Vargas, apresentando-se como força moderadora nas tensões e confli-
tos sociais da época. Defende a ordem social vigente, agora ‘batizada’
pela Carta Magna de 34, e o princípio de ‘obediência à Autoridade esta-
belecida’. Vê no comunismo o grande inimigo a ser combatido, devido
à sua inspiração materialista e espírito revolucionário. Neste contexto
nascem as simpatias de significativos setores da Igreja no Brasil pelo
movimento integralista, que trazia em seu programa o tríplice lema:
Deus, Pátria e Família, valores extremamente caros ao catolicismo da
época.” (MATOS, 1990, p. 261).
“Esse período é também marcado por importantes reformas
educativas promovidas tanto em nível federal como estadual. Esse in-
teresse e entusiasmo pela educação foi provocado pelo movimento da
escola nova, tendo com principais líderes Fernando de Azevedo, Sam-
paio Dória, Lourenço Filho e Anísio Teixeira. Alguns líderes católicos
manifestaram-se, desde o início, favoráveis a esse movimento reno-
vador da escola, como Mário Casassanta, Jônatas Serrano e Everardo
Backheuser. Mas a posição católica mais ampla foi de reservas, quan-
do não de franca oposição, destacando-se nessa linha Alceu Amoroso
Lima”. (LIMA, p. 41-42).
A Vitória da Igreja e a Derrota da Escola Pública
“O período de um século que antecede à fundação da AEC
(1844- 1944) é marcado inicialmente por um forte atrelamento da edu-
cação católica às diretrizes eclesiásticas romanas, tendo como finalida-
de promover prioritariamente o ensino da doutrina cristã. Essa postura
296
João GilBerto pArenti couto
autoritária e antiliberal da Igreja assumiu força no Brasil a partir de
1844, quando Dom Antônio Ferreira Viçoso tomava posse da diocese
de Mariana, iniciando o movimento dos Bispos reformadores e com a
fundação do colégio jesuíta, do Desterro, nesse mesmo ano. A grande
meta da educação era a formação da classe dirigente do país, por isso
a maioria dos colégios destinava-se tanto aos filhos da tradicional aris-
tocracia rural como da burguesia emergente. A derrocada dos regimes
autoritários, ao final da Segunda Guerra Mundial, marca o início de uma
nova era, abrindo-se também a escola católica para as idéias da escola
nova e para os novos projetos de uma sociedade liberal e democrática.
Em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial, a tradicional
perspectiva eclesiástica começou a ser abalada. O avanço das idéias
democráticas na Europa, com profundas repercussões na política e na
sociedade brasileira, obrigaram a Igreja a rever suas posições”. (LIMA,
p. 21-23).
A Síndrome do Sapo Fervido
(Revista Tecnologia e Treinamento, n. 31, p. 45)
Vários estudos biológicos provaram que um sapo colocado num
recipiente com a mesma água de sua lagoa fica estático durante todo o
tempo em que aquecemos a água, até que ela ferva. O sapo não reage
ao gradual aumento da temperatura (mudanças do ambiente) e morre
quando a água ferve. Inchadinho e feliz. No entanto, outro sapo, jogado
nesse mesmo recipiente já com água fervendo, salta imediatamente
para fora, meio chamuscado, porém, vivo!
Existem pessoas que têm comportamento similar ao do SAPO
FERVIDO. Não percebem as mudanças, acham que está tudo bem, que
vai passar, que é só dar um tempo... e, muitas vezes, fazem um gran-
de estrago em si mesmas, “morrendo” inchadinhas e felizes, sem, ao
menos, ter percebido as mudanças. Outras, ao serem confrontadas
com as transformações, pulam, saltam, em ações para implementar as
mudanças necessárias. Encorajam-se diante dos desafios, buscam a
melhor saída para a solução dos problemas, tomam atitudes.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
297
Há muitos “sapos fervidos” que não percebem a constante mu-
dança do ambiente a sua volta e se acomodam, à espera de que al-
guém resolva tudo por eles; esquecem-se de que mudar é preciso,
principalmente se essa mudança beneficia toda uma coletividade. Essa
teoria se encaixa em todas as situações de nossa vida: pessoal, afetiva
e profissional.
Devemos ter a consciência de que, além de sermos eficientes
(fazer certo as coisas), precisamos ser eficazes (fazer as coisas certas),
criando espaços para o diálogo, o compartilhamento, o planejamento,
o espírito de equipe, delegando, sabendo ouvir, favorecendo o nosso
próprio crescimento e o daqueles com quem convivemos, seja na famí-
lia, no trabalho ou na comunidade em geral.
O desafio maior, nesse mundo de mudanças constantes, está na
humildade de atuar de forma coletiva. Precisamos estar atentos para
que não sejamos como os Sapos Fervidos. Pulemos fora, antes que a
água ferva. O mundo precisa de nós, meio chamuscados, mas vivos,
abertos para mudanças e prontos para agir.
298
João GilBerto pArenti couto
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
299
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João GilBerto pArenti couto
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1995.
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Salesiano. edição brasileira, ano 33, n.4, jul./ago. 1983, p. 6-11.
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
301
O AUTOR
João Gilberto Parenti Couto – Nasceu na estação ferroviária de
Pedrão, município de Maria da Fé-MG, em 1º de maio de 1937. Geólogo
pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), turma de 1971,
executou trabalhos de mapeamento geológico básico nos Estados de
Mato Grosso e Minas Gerais para a Companhia de Pesquisa de Recur-
sos Minerais (CPRM) e de prospecção mineral no Estado de Minas
Gerais, para a empresa Metais de Minas Gerais S/A (METAMIG) e sua
sucessora, a Companhia Mineradora de Minas Gerais (COMIG).
Viajou pela África do Sul e Zâmbia a fim de estabelecer critérios
litoestratigráficos e metalogenéticos de comparação Brasil-África. Cur-
sou o Centre d’Enseignement Supérieur en Exploration e Valorisation
de Ressources Minerales (CESEV), em Nancy-França. Exerceu o cargo
de Diretor de Geologia e Recursos Minerais na Secretaria de Estado de
Recursos Minerais, Hídricos e Energéticos de Minas Gerais (SEME).
Atuou como representante da SEME na Comissão Técnica In-
tergovernamental encarregada de elaborar a proposta de zoneamento
ecológico-econômico e o sistema de gestão colegiado da Área de Prote-
ção Ambiental Sul – Região Metropolitana de Belo Horizonte (APA-SUL-
RMBH). Apresentou trabalhos em congressos e simpósios de geologia,
possui artigos publicados em revistas especializadas e tese defendida
no exterior.
Fora do campo da geologia, publicou pela Mazza Edições, de
Belo Horizonte-MG, os seguintes livros: 1) Projeto Brasil (duas edições
– 1996/2000); 2) Os 7 Pecados da Capital (2003); 3) A Revolução que
Vargas não Fez – A Implantação da Escola Pública de Tempo Integral
(2004); 4) Brasil País do Presente – o Futuro Chegou – O destino mani-
festo e o sonho de Dom Bosco (2004); 5) Operação Senzala (2004); 6)
302
João GilBerto pArenti couto
Acorda Brasil (2004); 7) Decifrando um enigma chamado Brasil (duas
edições – 2005/6); 8) A Ferrovia de Dom Bosco – A viga mestra da
comunidade sul-americana de nações (duas edições – 2006/7); 9) O
Brasil das Profecias – 2003/2063 – Os Anos Decisivos (2008); 10) A
Realização das Profecias de Dom Bosco – 2003/2063 – Os Anos Deci-
sivos (2009); 11) A Mensagem Codificada sobre o Brasil nas Profecias
de Dom Bosco (2009 – três edições); 12) A Viagem dos Sonhos – de
Cartagena, na Colômbia, a Punta Arenas, no Chile, pela Ferrovia Trans-
continental Dom Bosco (2010 – três edições).
Pelo Clube de Autores publicou, em 2009, duas edições do livro
A mensagem codificada sobre o Brasil nas profecias de Dom Bosco,
e uma edição do livro A Viagem dos Sonhos – de Cartagena, na Co-
lômbia, a Punta Arenas, no Chile, pela Ferrovia Transcontinental Dom
Bosco.
Livros disponíveis na Biblioteca Digital do Governo Federal
(www.dominiopublico.com.br).
– Decifrando um enigma chamado Brasil (2ª. ed., 2006).
– A Mensagem Codificada sobre o Brasil nas Profecias de Dom Bosco
(3ª. ed., 2009).
– A Realização das Profecias de Dom Bosco – 2003/2063 – Os Anos
Decisivos (2009).
– A Viagem dos Sonhos – de Cartagena, na Colômbia, a Punta Arenas,
no Chile, pela Ferrovia Transcontinental Dom Bosco (3ª. ed., 2010).
As profeciAs de dom Bosco e A erA do pré-sAl
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<a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/licenses/by-nc-
nd/3.0/”><img alt=”Licença Creative Commons” style=”border-width:0”
src=”http://i.creativecommons.org/l/by-nc-nd/3.0/88x31.png” /></a><br
/>A obra <span xmlns:dct=”http://purl.org/dc/terms/” href=”http://purl.
org/dc/dcmitype/Text” property=”dct:title” rel=”dct:type”>AS PROFE-
CIAS DE DOM BOSCO E A ERA DO PRÉ-SAL</span> foi licenciada
com uma Licença <a rel=”license” href=”http://creativecommons.org/
licenses/by-nc-nd/3.0/”>Creative Commons - Atribuição - Uso Não Co-
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