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Universidade Federal do Pará
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Curso de Especialização em Arqueologia
Sabrina Campos Costa
O Planejamento do Uso Turístico de Sítios Arqueológicos
O patrimônio arqueológico de Santana e Tartarugueiro,
Ponta de Pedras, Marajó (PA)
Belém
2008
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Sabrina Campos Costa
O Planejamento do Uso Turístico de Sítios Arqueológicos
O patrimônio arqueológico de Santana e Tartarugueiro,
Ponta de Pedras, Marajó (PA)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
para obtenção do título de Especialista em
Arqueologia, Universidade Federal do Pará.
Orientadora: Rosana Najjar.
Belém
2008
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Elaborada pelo Bibliotecário Miquéias Costa de Farias
CRB-2 / 1310
C837p Costa, Sabrina Campos
O Planejamento do uso turístico de sítios
arqueológicos: o patrimônio arqueológico de Santana e
Tartarugueiro, Ponta de Pedras, Marajó (PA) / Sabrina
Campos Costa._ Belém, 2008.
58 f.
Orientadora: Profª. Rosana Najjar
Monografia (especialização) - Universidade Federal
do Pará, Curso de Arqueologia. 2008.
1. Turismo arqueológico. 2. Planejamento turístico.
3. Quilombolas. I. Najjar, Rosana. II. Universidade
Federal do Pará. III. Título.
CDD (21. ed.) 338.4791098115
Sabrina Campos Costa
O Planejamento do Uso Turístico de Sítios Arqueológicos
O patrimônio arqueológico de Santana e Tartarugueiro,
Ponta de Pedras, Marajó (PA)
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
para obtenção do título de Especialista em
Arqueologia, Universidade Federal do Pará.
Data da defesa: 01/09/2008
Conceito: _______________________
Banca Examinadora:
____________________________________ - Orientadora
Professor
____________________________________
Professor
____________________________________
Professor
RESUMO
Sítios arqueológicos no Pará são bastante divulgados por organismos oficiais de
turismo, antes mesmo que pesquisas, preparação das comunidades e implantação
de infra-estrutura sejam realizadas. O turismo assim se torna mais predatório que
benéfico, se avaliarmos os custos sociais e culturais. Somente com a co-
responsabilidade da sociedade, em um turismo de base local, situações como
saques e vandalismos podem ser revertidas, em favor de um desenvolvimento
humano e econômico. Infelizmente a experiência no Brasil é de imposição do
turismo às comunidades, que são relegadas ao papel de expectadoras de uma
“invasão”. O planejamento turístico ocorre em geral quando o dano está feito e é
quase irreversível. Este trabalho pretende, portanto, apontar etapas do planejamento
para o uso turístico de sítios arqueológicos.
Palavras-Chave: Sítios Arqueológicos. Turismo Arqueológico. Planejamento
Turístico.
ABSTRACT
PLANNING FOR THE TOURIST USE OF ARCHEOLOGICAL SITES
Archeological sites in Pará are quite published by official organisms of tourism,
before same that you research, the communities' preparation and infrastructure
implantation are accomplished. The tourism like this if it turns more predatory than
beneficial, if we evaluate the social and cultural costs. Only with the co-responsibility
of the society, in a tourism of local base, situations as drafts and vandalisms can be
reverted, in favor of a human and economical development. Unhappily the
experience in Brazil is of imposition of the tourism to the communities, that are
relegated to the paper of expectants of a "invasion." The tourist planning happens in
general when the damage is made and it is almost irreversible. This work intends,
therefore, to point stages of the planning for the tourist use of archeological sites.
Keywords: Archeological sites. Archeological tourism. Tourist planning.
1 INTRODUÇÃO
Segundo o órgão oficial de turismo do Pará, a Companhia Paraense de
Turismo (PARATUR), as comunidades de Santana e Tartarugueiro têm vocação
para o turismo receptivo internacional, e assim compõem, junto com o município de
Acará, um roteiro turístico paraense denominado "Amazônia Quilombola".
Estas comunidades habitam um território que possui sítios arqueológicos pré-
coloniais e coloniais.
Vestígios de cerâmica pré-colonial são comumente encontrados durante a
preparação de roças, construção de casas, e outras atividades nas comunidades.
Possivelmente as comunidades ocupam área de antigo cemitério indígena.
As duas comunidades pesquisadas são descendentes dos negros escravos
que permaneceram no engenho de açúcar após sua libertação, portanto vivem em
constante contato com a casa grande, a igreja, a calha, e outros vestígios referentes
a este período.
O roteiro "Amazônia Quilombola", em Ponta de Pedras, é comercializado
atualmente por uma única operadora turística, que durante o segundo semestre do
ano leva grupos entre 40 e 60 anos, vindo dos países nórdicos com uma média de
15 pessoas para a Ilha de Santana, com regularidade quinzenal. Ali realizam uma
rápida visitação que se concentra em trilha ecológica que separa as duas
comunidades, realizada em 20 minutos, acompanhada de compra de sabonetes
artesanais de andiroba, e pausas para lanche e almoço quando as crianças de
Tartarugueiro fazem uma apresentação da dança do carimbó, único momento de
interação com os turistas, devido à ausência de guias de turismo locais bilíngües.
As comunidades ficam à mercê da operadora que atua na área, sub-
aproveitando seu potencial cultural, inclusive o arqueológico.
Em Santana e Tartarugueiro, a baixa incidência de turistas possibilitou certa
preservação dos vestígios arqueológicos, diferentemente de outras localidades do
próprio Marajó e do Pará, cujos vestígios e sítios arqueológicos são mais divulgados
pelos organismos oficiais de turismo dos Governos Municipais e Estadual.
Vale ressaltar que tal divulgação não sucede as etapas da pesquisa
arqueológica, da preparação das comunidades receptoras para atender turistas
interessados em arqueologia, nem da implantação de infra-estrutura adequada de
visitação e interpretação.
Desta forma, promove-se um tipo de turismo mais predatório que benéfico, se
avaliarmos os custos sociais e culturais (arqueológicos).
A elaboração de um material informativo, que norteie como se trabalhar o
turismo arqueológico atendendo a legislação vigente, surgiu a partir desta
percepção, consequentemente da necessidade de apresentar um roteiro de ações
ou propostas para o planejamento turístico de sítios arqueológicos, para que os
mesmos sejam preservados, logo potencializados nas visitações turísticas.
Este planejamento deve ser feito pelos gestores públicos, especialmente das
áreas de turismo, cultura e meio ambiente, em parceria com a comunidade que
receberá a atividade turística. O gestor deve agir como mobilizador social,
interlocutor com possíveis instituições parceiras, captador de recursos e fomentador
da infra-estrutura necessária para o turismo.
Porém, somente se as comunidades lançarem outro olhar para seus atrativos
e assumirem co-responsabilidade nas decisões sobre o turismo ali praticado no
que atualmente chamamos de gestão comunitária ou turismo de base local a
situação de depredação, saques, vandalismos de sítios arqueológicos poderá ser
revertida a favor do patrimônio e da própria sociedade. Nesse sentido, os públicos-
alvos a que se destina o material informativo são gestores públicos da área de
turismo, cultura e meio ambiente.
O presente trabalho tem como objetivo principal servir de manual básico de
orientação de como se desenvolver o turismo arqueológico em um município a partir
do estudo de caso das comunidades de Santana e Tartarugueiro, do município de
Ponta de Pedras, arquipélago do Marajó, Pará.
Como objetivos específicos ele pretende:
a) elaborar material informativo de orientação ao turismo arqueológico no
Estado do Pará;
b) utilizar o material proposto na sensibilização para o patrimônio
arqueológico, a partir de oficinas, palestras e outras metodologias de educação
patrimonial da instituição com a qual temos vínculo atual, a Secretaria de Estado de
Cultura;
c) potencializar o patrimônio arqueológico localizado em território paraense,
através da preservação e visitação turística sustentável.
Como limites da pesquisa, temos a dificuldade de publicação do presente
trabalho, consequentemente do alcance que o material deixa de ter no município de
Ponta de Pedras e como fonte de orientação para outras localidades com potencial
para o turismo arqueológico.
Considere-se que um dos problemas mais graves do Pará é a dimensão
territorial, que, contudo não dispõe de adequada infra-estrutura de acesso e
comunicação. Muitos locais não têm cobertura de internet, inviabilizando pesquisas
e consultas a sites especializados. Assim, apesar da enorme necessidade de
informação para o desenvolvimento planejado da atividade de arqueoturismo, dada
a fragilidade dos sítios arqueológicos, nossa atuação fica restrita a uma abordagem,
dentro das ações de educação patrimonial com a qual trabalhamos atualmente, nos
municípios de prioridade para a Secretaria de Estado de Cultura.
Para a construção do material informativo partimos de pesquisa qualitativa
exploratória através de levantamento bibliográfico e documental; consultas à
internet; levantamento in situ dos vestígios arqueológicos da Ilha de Santana;
entrevista semi-estruturada e aberta com dezesseis moradores (mais idosos ou de
referência para a memória social grupal) sobre o surgimento das comunidades, a
imagem da escravidão e do quilombola hoje, a propriedade da terra, como se
relacionam com o meio ambiente, a vida cotidiana, as relações grupais, política,
mitologia, economia, tecnologias dominadas, vestígios arqueológicos encontrados
na ilha e a interpretação dos moradores sobre eles; solicitamos que desenhos de um
bem cultural que expresse a vida na ilha de Santana fossem elaborados pelos
entrevistados e/ou seus familiares; e, finalmente, o registro fotográfico dos
entrevistados e do dia-a-dia nas vilas de Santana e Tartarugueiro.
Como resultado, uma publicação informativa que ganhou o nome de "O
Planejamento do Uso Turístico de Sítios Arqueológicos: O patrimônio arqueológico
de Santana e Tartarugueiro, Ponta de Pedras, Marajó (PA)". Na Introdução,
apresentamos o leitor às peculiaridades econômicas em geral das comunidades
pesquisadas, que são afrodescendentes, e por habitarem locais de identificado
potencial arqueológico, podem obter com o turismo uma nova forma de geração de
renda, se valorizado e preservado o patrimônio arqueológico, por via do
planejamento turístico.
Em seqüência, localizamos geograficamente a área pesquisada, fornecendo
informações sobre vegetação, solo, topografia, geologia e o surgimento das
comunidades que vivem ali atualmente, bem como alguns de seus aspectos
culturais.
A partir de então, apresentamos noções conceituais sobre patrimônio,
exemplificamos com os bens culturais de Santana e Tartarugueiro que seus
moradores consideram importantes. Em seguida, colocamos o patrimônio cultural
como importante atrativo turístico, descrevemos características dos engenhos do
estuário amazônico e citamos a relação e interpretação dos moradores a partir do
patrimônio arqueológico da ilha de Santana.
Na seqüência, introduzimos à divisão temporal do estudo arqueológico
brasileiro, e aos tipos de vestígios arqueológicos a estes períodos geralmente
relacionados; conceituamos arqueologia, arqueólogo, sítios arqueológicos, a
importância da arqueologia; expusemos características de antigos grupos humanos
que habitaram o arquipélago do Marajó. Mostramos também que os vestígios
arqueológicos têm relação com o local de deposição e apenas assim podem ser
interpretados. Por conta disto, explicamos o papel do IPHAN e fornecemos seus
contatos.
Finalizando, a publicação apresenta o planejamento turístico de sítios
arqueológicos e seus aspectos de protagonismo de cada segmento social,
sugestões de segmentos turísticos e atividades para a Ilha de Santana, a
importância do inventário e da pesquisa arqueológica, educação da comunidade e
visitantes, zoneamento, capacitação, infra-estrutura turística, boas práticas de
turismo arqueológico no Brasil, aspectos legais, autorização, plano de manejo
ambiental ou plano de gestão turística, capacidade de carga, gerenciamento,
divulgação, avaliação e adaptação.
Como conclusão do presente trabalho, podemos afirmar que o turismo
atualmente tem procurado se aproximar mais do respeito ao ser humano e
valorização da diversidade cultural, ao invés do mero consumo de paisagens.
Respeitar significa dignificar, reconhecer que as paisagens são habitadas por
pessoas, com direitos e garantias fundamentais, como o acesso à educação, cultura,
etc.
Isso é usar do turismo como vetor de desenvolvimento humano e econômico,
princípio da sustentabilidade.
Infelizmente a experiência do turismo brasileiro e paraense é de imposição de
uma atividade econômica às comunidades, que passam a ser meras expectadoras
da "invasão" de visitantes, sem dialogar nem participar democraticamente do
processo de construção de um produto turístico junto aos governos municipal e
estadual.
O planejamento do turismo ocorre, em geral, quando o dano está feito e os
resultados são quase irreversíveis.
No segmento do turismo arqueológico não poderia ser diferente. Os exemplos
bem-sucedidos envolvem protagonismo social e trabalho social de base.
Portanto, acreditamos que somente quando gestores envolverem a
comunidade no processo de planejamento à implantação de infra-estrutura, como
protagonista co-responsável pelo seu destino no desenvolvimento de atividades
econômicas, tais como o turismo, pode-se alcançar mais a prática que o discurso de
sustentabilidade.
O Pará, como parte da Amazônia, possui grande potencial para o turismo
arqueológico. Patrimônio este que pode ser preservado para futuras pesquisas e
gerações, se aliado a um modelo de desenvolvimento planejado, com regras,
fiscalização e real envolvimento comunitário, especialmente na distribuição de
benefícios que o turismo pode trazer.
2 APORTE TEÓRICO
Segundo O’Nell (apud MANZATO; REJOWSKI, 2005, p. 2), “o Turismo
Arqueológico ou Arqueoturismo é o segmento turístico que mais rápido cresce na
indústria de viagem’”.
Conceitua Manzato turismo arqueológico como:
[...] processo de deslocamento e da permanência de visitantes a locais
denominados sítios arqueológicos, onde são encontrados os vestígios
remanescentes de antigas sociedades, sejam elas pré-históricas e/ou
históricas, passíveis de visitação terrestre ou aquática. (MANZATO apud
VELOSO, CAVALCANTI, 2007, p. 158).
“O passado é cada vez mais tema da atualidade. Os vestígios que se dispõem
ao público são cada vez mais atrativos, sendo que a viagem, a visita, caracteriza um
dos contextos mais habituais de acesso ao passado e seus restos materiais” (THOMAZ,
2005, p. 2).
O turismo arqueológico, em alguns países, como o Egito e a Inglaterra, tem
no Governo forte controle, bem como estruturas econômicas socialmente
responsáveis na atividade, enquanto na experiência em países menos
desenvolvidos que buscam atrair turistas daqueles desenvolvidos, o controle é
exercido por multinacionais que utilizam a população local apenas para trabalhos
menos qualificados e “cidadãos comuns sequer podem pagar o bilhete de entrada”.
O desafio é que os gestores públicos consigam conciliar, com a atividade
turística, as necessidades da comunidade, o potencial cultural/arqueológico do lugar,
com educação e preservação, através da inclusão social, geração de renda e
distribuição de benefícios, melhorando a qualidade de vida do seu município.
Preservar, para muitos, significa usar dos sítios arqueológicos (PYBURN,
2007, p. 26). Este posicionamento coincide com a postura do IPHAN, que começa a
planejar, no Pará, o uso das Unidades de Conservação de Monte Alegre, com sítios
arqueológicos de arte rupestre, para visitação turística.
“Preservar é pesquisar e abrir tios e áreas para o turismo, para educação e
lazer dos cidadãos, de maneira consciente, com o uso de práticas orientadas que
possam ir se aperfeiçoando, sem incorrer na sua destruão sica” (PARDI, 2007, p.
307-308). Contudo, este uso deve ser disciplinado, pois a legislação brasileira é
rigorosa e amenizada apenas pela função social que o patrimônio arqueológico pode
obter com o turismo, coloca Morais (2003, p. 99).
Neste projeto, decidimos adotar, portanto, a postura de que sítios
arqueológicos devem ter uso planejado para o turismo através do diálogo constante
com os moradores. É o que denominamos turismo de base local. Não significa
“esvaziar as responsabilidades do ‘governo’ nem de terceirizar aquelas do ‘cidadão’”,
como coloca Menezes (2007, p. 39) em reflexão acerca do papel das políticas
públicas, mas na responsabilidade compartilhada, em busca de um modelo de
turismo que consiga levar o desenvolvimento não apenas a uma minoria, a partir do
entendimento de que o ser humano é ator social capaz de mudar seu cotidiano e
sua história,
Ampliando a consciência comunitária, o nível de participação e de
integração, as comunidades passam a encontrar os caminhos para gerar
seu crescimento econômico, seus próprios benefícios que deixam de ser
vistos como alvo da doação, da generosidade, da concessão, dos políticos e
dos governos. (CORIOLANO, 2003, p. 5).
E define a autora (op.cit. p. 8) que:
[...] turismo comunitário é aquele desenvolvido pelos próprios moradores de
um lugar que passam a ser os articuladores e os construtores da cadeia
produtiva, onde a renda e o lucro ficam na comunidade e contribuem para
melhorar a qualidade de vida; levar todos a se sentirem capazes de
contribuir, e organizar as estratégias do desenvolvimento do turismo.
Deste modo, reforçamos o papel dos secretários municipais em uma gestão
democrática e inclusiva, na busca de parcerias e recursos, na capacitação da
comunidade e implantação de infra-estrutura básica e turística, estimulando a auto-
estima, a associação e o protagonismo social.
Analisando as experiências de turismo arqueológico no Brasil, Pardi (2007, p.
319) comenta que nenhuma alcançou plenamente seus objetivos, pela falta de uma
política bem definida de gestão compartilhada entre as três esferas de Governo,
iniciativa privada e comunidades.
Fizemo-nos então a pergunta: preservar o patrimônio arqueológico para
quem?
Entendemos que as comunidades da Ilha de Santana devam ser usufruidoras
deste patrimônio, que por meio do turismo pode, além de valorizá-lo, trazer-lhes
também benefícios educativos e de geração de renda.
Considerando que no Pará a visitação turística em sítios arqueológicos tem
ocorrido de forma mais predatória do que de agregação de benefícios sociais e
econômicos, acreditamos que somente o planejamento de tal prática pode minimizar
impactos. É o que pretende este trabalho, apresentar propostas para o planejamento
do turismo em sítios arqueológicos, com o cuidado de avaliar que o patrimônio
cultural e aí se inclui o arqueológico não é “único caminho de redenção de
comunidades carentes” (MENEZES, 2007, p. 52) mas que pode ter positivo custo-
benefício sob a forma do turismo de base local.
As sociedades possuem consciência histórica, porém para compreender-se e
definir seu futuro precisa conhecer e apropriar-se do seu passado (HERRMAN apud
FUNARI, 2006 p. 99). Apesar do “imenso manancial de sítios arqueológicos de
potencial turístico”, pouco explorados são aqueles relacionados aos grupos
afrodescendentes, o que reflete o valor que lhes damos. A arqueologia contribuiria,
assim, para a identificação com estas populações (op. cit. p. 116-117).
Segundo Andrade (2007, p. 67), a grande maioria dos sítios arqueológicos da
Amazônia não fizeram planejamento da visitação turística. “No Pará, vários sítios
arqueológicos são visitados de maneira informal, sem infra-estrutura nem pessoal
capacitado para guiar o visitante”, ressaltando que “não há proteção nem controle da
visitação”. A autora afirma que 85% dos sítios arqueológicos da região Norte estão
no Estado do Pará, e além do agravante da falta de planejamento turístico das
visitações, agências de turismo operam sem nenhum controle roteiros que agregam
sítios arqueológicos. Isto ocorre pela ânsia dos municípios na obtenção de fontes de
renda.
Schaan (2007); Pereira e Figueiredo (2005) complementam a problemática
denunciando o incentivo aos visitantes do Pará, especialmente no Marajó, de levar
consigo material arqueológico (cerâmica) como lembrança ao final das visitas aos
sítios.
Soma-se aos problemas a divulgação dos sítios arqueológicos paraenses por
organismos oficiais de governo, como a PARATUR e as Secretarias Municipais de
Turismo, sem o prévio planejamento, preparação da comunidade e implantação de
infra-estrutura de proteção e visitação turística (BACCINO, 2007; FIGUEIREDO;
PEREIRA, 2005; SCHAAN, 2007).
A fruição do sítio arqueológico inclui a paisagem na qual está inserido, e
vivenciar a paisagem requer despertar os sentidos para elementos como topografia,
vegetação, clima, habitat, e suas respectivas propriedades de repetição, diversidade,
unidade e mudança (BOULLÓN apud BACCINO, 2007, p. 45-46).
Portanto, ao implantar infra-estrutura turística para visitação de sítios
arqueológicos, gestores devem considerar o contexto visual, o respeito à capacidade
de carga, e a harmonia das intervenções arquitetônicas com a paisagem natural (op.
cit., p. 52-53).
Os bens arqueológicos têm um potencial enorme de atração turística, por
isso são tão valorizados. Mas, essa valorização se potencializa em função
de alguns elementos, como as facilidades de acesso ao sítio arqueológico, a
possibilidade de visualização ou manipulação dos objetos, a importância na
história local e nacional, a beleza plástica da arte e dos objetos, além das
construções e monumentos antigos. (PEREIRA; FIGUEIREDO, 2005, p. 23).
Pardi (2007, p. 313) lembra que as experiências de turismo arqueológico no
exterior passam por materialização do conhecimento sobre os bens arqueológicos, o
que inclui uso de maquetes, sinalização, interpretação, encenação de fatos, com
intenso uso da linguagem visual.
Outras estruturas são possíveis e amplamente utilizadas pelo turismo com
enfoque no patrimônio arqueológico, como museus.
Museus temáticos arqueológicos, com recortes patrimoniais específicos
podem oferecer ao público reflexão mais ampla sobre a origem e a
preservação deste patrimônio, assim como os Ecomuseus e os Museus
comunitários, onde a comunidade é pensada integrada ao patrimônio
objetivando a auto-gestão. (BASTOS, 2005, p. 71).
Paralelamente à visitação turística de sítios arqueológicos,
[...] a produção de artesanato local tendo nos motivos arqueológicos a
principal fonte de inspiração, configura-se não apenas como uma
possibilidade de renda extra para os moradores das comunidades
localizadas próximo aos sítios, mas também contribui para o
desenvolvimento do sentimento de pertencimento dessas sociedades para
com os sítios arqueológicos. (PEREIRA; FIGUEIREDO, 2005, p. 33).
Além artesanato de inspiração arqueológica, é possível comercializar réplicas
de cerâmica arqueológica. Pardi (2007, p. 310) registra como bom exemplo a
cerâmica de inspiração arqueológica as surgidas a partir da iniciativa do Museu
Paraense Emílio Goeldi em ensinar artesãos de Icoaraci.
Pesquisar torna-se a necessidade imediata quando falamos de turismo
arqueológico em comunidades quilombolas. Apesar de o Pará conter cerca de 335
comunidades afro-descendentes, “ainda o existem estudos arqueológicos sobre
os sítios de quilombos na Amazônia, mas não é raro que comunidades atuais vivam
sobre sítios indígenas”, aponta Schaan (2007, p. 121).
Os gestores públicos precisam estar tentos a isto, uma vez que vestígios
arqueológicos são bens não renováveis, parte da nossa historia que deixa de ser
contada.
Symanski e Souza acrescentam que:
[...] o primeiro passo no desenvolvimento de políticas de preservação desse
patrimônio é dar-lhe visibilidade, uma vez que, por causa da ausência de
conhecimento a seu respeito, esses vestígios estão mais sujeitos à
destruição e a não serem contemplados em programas de preservação,
sobretudo quando postos em relação aos vestígios mais monumentais,
associados às elites. (SYMANSKI; SOUZA, 2007, p. 216).
Schaan (2007, p. 127) coloca ainda que a educação patrimonial, envolvendo
comunidades a serem co-responsáveis pelo zelo do patrimônio arqueológico, é uma
solução para os graves danos que pessoas, empresas e organismos de governo
cometem contra o patrimônio arqueológico.
O turismo pode contribuir no processo de educação patrimonial e valorização
do patrimônio arqueológico, dando visibilidade aos grupos historicamente excluídos,
visto que:
[...] preservação do patrimônio cultural, no caso desse passado, posto que o
valor cultural do objeto de preservação não está somente relacionado com a
sua materialidade, mas, sobretudo, com a carga imaterial que carrega,
graças aos múltiplos significados que lhe são atribuídos. E mais importante,
significa contribuir para o surgimento de uma visão mais refinada sobre os
escravos no Brasil. (SYMANSKI; SOUZA, 2007, p. 239).
Symanski e Souza acrescentam como papel do arqueólogo que cremos
poder aqui estender ao turismo “fazer as pessoas pensarem sobre seu passado”
(op. cit, p. 239).
“O público brasileiro e internacional demanda e merece fluir da beleza e do
imaginário que os sítios arqueológicos propiciam por meio do turismo cultural, que
representa um dos mais eficientes instrumentos da educação patrimonial” (PARDI,
2007, p. 327).
Assim, apresentamos como anexo o resultado das propostas de planejamento
turístico para as comunidades estudadas, no formato de um material informativo. O
princípio é que o turismo arqueológico possa servir à educação patrimonial como o
ecoturismo é perfeitamente associado à educação ambiental de moradores e
turistas.
3 CONCLUSÃO
Como conclusão do presente trabalho podemos afirmar que o turismo
atualmente tem procurado se aproximar mais do respeito ao ser humano e
valorização da diversidade cultural, ao invés do mero consumo de paisagens.
Respeitar significa dignificar, reconhecer que as paisagens são habitadas por
pessoas com direitos e garantias fundamentais, como o acesso à educação, cultura,
etc.
Isso é usar do turismo como vetor de desenvolvimento humano e econômico,
princípio da sustentabilidade.
Infelizmente a experiência do turismo brasileiro e paraense é de imposição de
uma atividade econômica às comunidades, que passam a ser meras expectadoras
da "invasão" de visitantes.
O planejamento do turismo ocorre, em geral, quando o dano está feito e os
resultados são quase irreversíveis.
No segmento do turismo arqueológico não poderia ser diferente. Os exemplos
bem-sucedidos envolvem protagonismo social e trabalho social de base.
Portanto, acreditamos que somente com o envolvimento da comunidade,
como protagonista co-responsável pelo seu destino no desenvolvimento de
atividades econômicas, tais como o turismo, pode-se alcançar mais a prática que o
discurso de sustentabilidade.
O Pará, como parte da Amazônia, possui grande potencial para o turismo
arqueológico. Patrimônio este que pode ser preservado para futuras pesquisas e
gerações, se aliado a um modelo de desenvolvimento planejado, com regras,
fiscalização e real envolvimento comunitário, especialmente na distribuição de
benefícios que o turismo pode trazer.
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APÊNDICE
O MATERIAL INFORMATIVO: "O PLANEJAMENTO DO USO TURÍSTICO DE
SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS: O Patrimônio arqueológico de Santana e Tartarugueiro,
Ponta de Pedras, Marajó (PA)".
O PLANEJAMENTO DO USO TURÍSTICO DE SÍTIOS
ARQUEOLÓGICOS: O patrimônio arqueológico de Santana e
Tartarugueiro, Ponta de Pedras, Marajó (PA)
Introdução:
Este trabalho visa apresentar um roteiro básico de orientação de como se
desenvolver o turismo arqueológico em um município, voltado para o gestor das
áreas de cultura, turismo e/ou meio ambiente.
Baseia-se no estudo de caso da ilha de Santana, em Ponta de Pedras,
Marajó, Estado do Pará.
Segundo o órgão oficial de turismo do Pará, a Companhia Paraense de
Turismo (PARATUR), as comunidades de Santana e Tartarugueiro têm vocação
para o turismo receptivo internacional, e assim compõe, juntamente com o município
de Acará, um roteiro turístico paraense denominado "Amazônia Quilombola".
Estas comunidades habitam um território que possui sítios arqueológicos pré-
coloniais e coloniais.
Vestígios de cerâmica pré-colonial são comumente encontrados durante a
preparação de roças, construção de casas e outras atividades nas comunidades.
Possivelmente as comunidades ocupam área de antigo cemitério indígena.
Além disso, as duas comunidades pesquisadas são descendentes dos negros
escravos que permaneceram no engenho de açúcar após sua libertação, portanto
vivem em constante contato com a casa grande, a igreja, a calha, e outros vestígios
referentes a este período.
Apesar do potencial, nesta ilha ainda não há atividades de turismo
arqueológico; assim, o presente trabalho propõe ações a partir da sua realidade.
O turismo é uma atividade econômica que pode se compatibilizar-se com a
preservação do patrimônio arqueológico, desde que este seja reconhecido e
apropriado pela população do território onde está inserido, garantindo um atrativo
diferenciado no mercado turístico, cuja alta competitividade exige constantes
inovações em produtos, e conseqüentemente em segmentos a se atingir.
Vale ressaltar, contudo, que o turismo também pode ser responsável pela
destruição do patrimônio arqueológico, que no Estado do Pará tem exemplos de
divulgação sem preparação dos municípios, desconhecimento do patrimônio
arqueológico por parte da população, exploração turística por grupos sociais e
empresas alheios à comunidade do local onde se encontram os sítios arqueológicos
e seu entorno, desrespeito à capacidade de carga, saques, vandalismos (como
pichações, “retoques” da arte rupestre, etc.), comércio ilegal de peças
arqueológicas, e falta de projetos de musealização e educação patrimonial nos
municípios que recebem turistas interessados em arqueologia.
Somente se os gestores públicos possibilitarem meios para que as
comunidades lancem outro olhar para seus atrativos e assumirem co-
responsabilidade nas decisões sobre o turismo ali praticado no que atualmente
chamamos de gestão comunitária ou turismo de base local a situação de
depredação, saques, vandalismos de sítios arqueológicos poderá ser revertida a
favor do patrimônio e da própria sociedade. Nesse sentido, os públicos-alvos a que
se destinam o material informativo são gestores públicos da área de turismo, cultura
e meio ambiente.
Assim, nossa proposta é fornecer aos gestores públicos informações, em
observância à legislação brasileira, partindo do princípio que a atividade turística
pode ser vetor de geração de renda, bem como de educação para o patrimônio,
tanto para comunidade receptora, quanto para o visitante.
Frisando que comunidades quilombolas mantêm características culturais
específicas e em geral vivem do extrativismo, agricultura, e pesca de subsistência,
com grandes dificuldades de comercialização e obtenção de renda, o turismo
arqueológico, se planejado e gerenciado atendendo às orientações da lei, e
seguindo o princípio básico da sustentabilidade, pode ser uma alternativa econômica
para as vilas de Santana e Tartarugueiro, comunidades afrodescendentes da ilha de
Santana, foco deste trabalho.
O município originou-se
da ação dos padres
mercedários na aldeia
dos Muaná e passaram a
atuar também na
localidade de
Mangabeiras às
proximidades da praia de
mesmo nome.
Localização e caracterização da área e comunidades:
As comunidades de Santana e Tartarugueiro localizam-se na Ilha de Santana,
que dista cerca de 2 horas de voadeira desde a sede do município de Ponta de
Pedras, arquipélago do Marajó, Estado do Pará.
Segundo a Secretaria de Estado de
Planejamento, Orçamento e Finanças
(www.sepof.pa.gov.br), a sede de Ponta de Pedras tem
as coordenadas de 1º23’42’’S e 48º52’18’’W, limitando-
se ao norte com os municípios de Santa Cruz do Arari e
Cachoeira do Arari, ao leste com a baía do Marajó e o
município de Cachoeira do Arari, ao oeste com os
municípios de Anajás e Muaná, e ao sul com o Rio Pará
e o município de Muaná.
O município originou-se da ação de
padres mercedários na aldeia dos Muaná, que
passaram a atuar também na localidade de
Mangabeiras às proximidades da praia de
mesmo nome.
A população do município é estimada em
20. 562 habitantes.
Ponta de Pedras tem solos Hidromórficos
Gleyzados e Aluviais, solos Hidromórficos indiscriminados e Plintossolo, em
associações. Sua vegetação é composta de Campos Cerrados, Floresta Densa
Aluvial e ocorrências de palmeiras e capoeiras. Topograficamente, apresenta
altitudes entre 12 a 20 metros.
Geologicamente, possui sedimentos Quaternários antigos e recentes. Os rios
de maior importância no município são o Arari, Anabiju, Anajá e Marajó-Açu. Seu
clima é equatorial úmido, com temperatura média de 27º.
A ilha de Santana teria sido a primeira sesmaria dos padres mercedários no
Marajó, com o primeiro engenho de açúcar neste arquipélago
(www.ufpa.br/permacultura/projetoaraqucaua.htm).
Fonte:http://upload.wikimedia.org
Localizada na margem direita do Rio Arari, a ilha tinha inicialmente apenas a
comunidade de Santana; ao longo do tempo desenvolveram-se outras comunidades:
de Tartarugueiro e Crairú.
Sobre a história da ilha, além do engenho de açúcar, relatos de um dos
primeiros matadouros de Belém (www.museudapessoa.net/MuseuVirtual).
De acordo com entrevistas
realizadas por nós nas comunidades, no
ano de 2007, a ilha de Santana é
pertencente à Diocese de Ponta de
Pedras, e abriga comunidades
afrodescendentes originárias de famílias
vindas do Maranhão e outras localidades
do Marajó, à época da escravidão.
Vale ressaltar que o negro teve ativa participação na construção da história do
Pará, como o-de-obra em trabalhos agrícolas, em construções urbanas e
afazeres domésticos.
Comunidades quilombolas do Pará tiveram a peculiaridade de se formarem,
com o término da escravatura no Brasil, a partir da manutenção das famílias negras,
como libertos, nas terras dos engenhos em que serviram como escravas
diferentemente de outras regiões, onde quilombos se formaram a partir de escravos
fugitivos.
Em geral quilombolas no Pará têm em comum características como o
extrativismo do açaí, a agricultura que se utiliza da técnica da coivara a pesca,
caça ou criação de subsistência, e a
prática da dança da farinhada que
representa o processo de produção da
farinha de mandioca (CANO, 2005;
CARVALHO, 2005; LITTLE, 2002;
PROGRAMA RAÍZES, 2003; SOUZA
FILHO, 1998).
Para Little (2002) povos
quilombolas desenvolvem uma cosmografia grupal que regem a propriedade, o
vínculo de afetividade com o território – e sua ocupação segundo a memória coletiva
o uso social do espaço e formas de defesa. Portanto, podem ser considerados
como sociedades tradicionais, devido ao regime comum de propriedade, ao
sentimento de pertencimento, a autonomia cultural e adaptação ecológica ao local
onde vivem.
Nas comunidades de Santana e Tartarugueiro, manifestações culturais tais
como o festejo de santos católicos como o Divino Espírito Santo e Nossa Senhora
de Santana, a reza de ladainhas, o grupo de garça (cordão de bicho junino), a dança
da farinhada e do carimbó, se apresentam ao lado da manutenção deste modo de
vida tradicional, pautado no trabalho grupal, no repasse oral da história dos seus
antecessores e da comunidade, o sentimento de pertencimento, e os conhecimentos
adquiridos com a experimentação e o desenvolvimento de técnicas de manejo da
natureza.
O seu, o meu, o nosso patrimônio
A palavra patrimônio surgiu da noção de herança, algo que é
deixado pelos pais ou familiares aos seus descendentes. Hoje este
termo ganhou um novo significado: patrimônio é aquele aspecto da
cultura que se torna importante para uma pessoa e/ou a comunidade a
que pertence.
Para entender o que representa o patrimônio para as comunidades
de Santana e Tartarugueiro, abordaremos bens culturais citados pelos
seus próprios moradores:
Para D. Olga, seus pés de mandioca são seu patrimônio, pois com
sua roça conseguiu criar seus filhos. D. Olga conta que a terra em
Santana só não dá sustento para quem não quer trabalhar nela.
D. Laudelina se orgulha das manifestações culturais de Santana,
como a garça (cordão de bicho junino) e a dança da farinhada (que
representa o processo de produção da farinha de mandioca).
Para D. Laudelina, o desinteresse das pessoas em praticar essas
manifestações culturais mostra que o senso de comunidade está se perdendo.
Alessandra apontou como importante o conhecimento do processo de
produção de sabonetes de andiroba, de propriedades medicinais, que atualmente
somente uma família de Santana produz. Os sabonetes são muito apreciados pelos
turistas que visitam a comunidade. Alessandra, particularmente, faz artesanato com
sementes, que aplica, por exemplo, em sandálias.
Segundo D. Maria Luiza, a
profissão de parteira, que exerce 25
anos, é seu patrimônio. Sua filha,
inclusive, na ocasião da entrevista,
encontrava-se gestante.
em Tartarugueiro, D. Nair fala de
um elemento natural, a tartaruga, que era
encontrada em grande quantidade nas
praias da ilha originando o nome da
comunidade: Tartaruga. Com o tempo, o consumo excessivo fez desaparecer o
animal e a comunidade passou a ser conhecida como Tartarugueiro.
D. Francisca relata que as praias de Tartarugueiro continham várias pedras,
onde costumavam aparecer “visagens”. Com a exploração econômica das pedras,
retiradas da ilha para uso em construções, as “visagens” desapareceram.
Tibúrcio desenhou um barco como aquilo que representa para si
Tartarugueiro, onde moradores ainda vivem da pesca artesanal e do plantio.
O patrimônio individual envolve, portanto, construções, espaços naturais,
práticas do dia-a-dia de uma pessoa e sua família, como sua casa, as terras em que
vive e planta, objetos como fotografias, móveis, imagens de santos, e o que se
adquire durante a vida, formando a história de cada um.
Quando falamos de patrimônio comum, de toda a comunidade, de um estado
ou país, significa falar de algo construído, aprendido e vivido coletivamente, por toda
a comunidade, que conta a história do grupo.
Como exemplos desse patrimônio coletivo, citados por várias pessoas em
Santana e Tartarugueiro, o trapiche, a casa grande, a igreja, as ruínas do
engenho (como a calha, onde D. Antônia disse ter brincado de mergulho na
infância), as festividades religiosas de Nossa Senhora de Santana e do Espírito
Santo, as lendas da cobra-grande e da Ilha das Pombas (que “vira” navio), as casas
de farinha, as matas, mangueiras, praias, o local do antigo farol, ou seja, aqueles
elementos que expressam o modo de vida na Ilha de Santana.
O Patrimônio Arqueológico em Santana e Tartarugueiro
E como o patrimônio se relaciona com o turismo?
Valorizar o patrimônio cultural, aquilo que nos torna únicos e diferentes
enquanto grupo social, é um atrativo para o turista. O turista deseja conhecer
realidades, povos, modos de vida, natureza diferentes.
E o que as comunidades de Santana e Tartarugueiro têm a mostrar ao
turista? Sua história na ilha, aquilo que aprenderam, o processo de experimentação
e adaptação ao lugar que habitam... Lugar esse que testemunha também ocupações
humanas ainda mais antigas, por povos do passado.
Estes povos, como as comunidades de
hoje, passaram por um período de chegada à
ilha, conhecimento e experimentação do lugar,
até sua adaptação. Na ilha, estes povos do
passado deixaram marcas de sua existência.
Possivelmente a Vila de Santana se encontra
sobre um cemitério indígena.
Na ilha de Santana funcionou um
engenho que produzia cana-de-açúcar e
segundo seus moradores, também
gado.
Marques (2004) pesquisou sobre
os engenhos do estuário amazônico e
coloca que a cana-de-açúcar foi trazida
para o Brasil ainda no culo XVI. A
partir dela podem ser produzidos o
caldo de cana, o melaço, algumas
variedades de açúcar e de bebidas
alcoólicas. No século XVII, o cultivo é
trazido até a região amazônica.
Reconstituição de um engenho de maré (retirado de
MARQUES, 2004, p. 28)
“Historiadores especialistas no assunto consideram que a exploração da
cana-de-açúcar na boca do Rio Amazonas desempenhou importante papel no início
da ação colonizadora portuguesa desenvolvida na região” (CRUZ; REIS apud
MARQUES, 2004, p. 48).
durante o culo XVIII, uma maior importância dada à plantação da cana
pelo governo impulso à criação de novos engenhos. “Entre os proprietários se
achavam não apenas oficiais do Reino, ou pessoas influentes ligadas à nobreza,
mas principalmente os missionários das diversas ordens religiosas que se
estabeleceram na região” (op. cit., p. 51). “Os Mercedários administravam o engenho
Santana do Arari, na Ilha do Marajó (CRUZ apud MARQUES, 2004, p. 52).
Nas produções agrícolas dos engenhos amazônicos, missionários se
utilizaram de mão-de-obra indígena. Na segunda metade do século XVIII, contudo, a
escravidão indígena foi proibida, quando então começa a importação dos negros
africanos para servirem como escravos.
O produto da cana-de-açúcar amazônica era considerado como de baixa
qualidade. Isso deriva das propriedades dos solos de várzea região de
implantação dos engenhos de maré que não propiciavam a obtenção de açúcares
da planta, o que por outro lado, propiciava boa aguardente. Um fato histórico veio
confirmar esta informação, abalando a produção amazônica:
“Por meio de uma ordem régia datada de 1761, o rei D. José I declarou que o
açúcar produzido na região era de menor qualidade que o de Pernambuco e da
Bahia, e recomendava sua retirada da pauta de exportações” (CRUZ apud
MARQUES, 2004, p. 58) restringindo a produção ao consumo interno e voltando a
produção desta vez para a aguardente.
Da força dos bois, os engenhos amazônicos passaram a usar do ciclo de
cheias e vazantes das marés como força motriz.
Em 1835, a Guerra da Cabanagem teve reflexo no declínio de muitos
engenhos, por conta de lutas com o governo e saques, ocasionando a venda de
propriedades. Cerca de trinta anos mais tarde, alguns se recuperaram, com o uso
do vapor como fonte de energia, no entanto permanecia a venda quase
exclusivamente interna. No século XX, a produção canavieira entra em decadência,
restando somente um engenho que continua fabricando atualmente a aguardente.
Os engenhos constituíam-se em espaços onde interagiam grupos sociais de
origens culturais distintas, como proprietários colonos, que incluíam
religiosos, militares e civis portugueses, que utilizavam em regime de
escravidão, índios de diversas etnias e também negros oriundos de
diferentes regiões da África. (MARQUES, 2004, p. 76-77).
As casas grande eram geralmente construídas na parte alta do terreno,
conferindo-lhes status e a possibilidade de fiscalização da propriedade.
Durante a preamar, quando o nível da maré sobe, a água penetra para
encher um igarapé e um canal que deriva deste até a "Calha", localizada no
engenho. A partir do início da vazante, com o refluxo, comportas no igarapé
e na calha passam a represar este volume d’água. Quando o nível da água
desafoga as pás da roda instalada na calha, eleva-se sua comporta para
liberar o fluxo e assim girar os rolos de uma moenda acoplada à roda”
(MARQUES, 2004, p. 160-161).
A energia produzida pelo vapor conviveu, nos engenhos do estuário
amazônico, com aquela produzida por força animal e das marés.
O processo de produção nos engenhos amazônicos, segundo Marques (2004,
p. 163-164) se dava da seguinte maneira:
A feitura do açúcar iniciava-se na casa das caldeiras onde o líquido era
submetido à alta temperatura dentro de tachos, ou paróis, de vários
tamanhos, em fornos de alvenaria de pedra. Durante a etapa de cozimento,
o caldo era transferido de um tacho para outro, removendo-se a escuma,
que servia para fazer o melaço, ou então era aproveitada para as
aguardentes” (...) “Quando se atingia o ponto de fervura desejado, o caldo já
podia ser retirado e passar para a etapa seguinte: a purga. O processo de
purga consistia na cristalização e aclaramento do açúcar, através da
decantação, que se estendia por períodos de até trinta dias. O caldo era
depositado em fôrmas de barro, de forma cônica, com uns 40 a 50cm de
diâmetro na boca, por uns 60 ou 70cm de altura [...] “A fabricação da
aguardente, nos grandes engenhos se dava na casa dos alambiques. Como
explica Daniel (apud MARQUES, 2004, p. 165), o caldo da cana era vertido
da moenda, através de um canal, até chegar neste local, onde era
depositado em uns cochos de madeira, ou tanques, para fins de
fermentação. Em seguida, a ‘garapa’ azeda ia para a fervura no alambique,
onde o vapor após o esfriamento, transformava-se em aguardente”.
E como os moradores da ilha de Santana vêem este
patrimônio arqueológico?
D. Didi e D. Laudelina contam que na rua em frente às
suas casas foram encontradas uma imagem de santo e uma
pequena estátua em cerâmica. Do outro lado da rua, enquanto
uma casa era construída, surgiram do chão grandes vasos. D.
Laudelina e D. Didi associam esses achados aos antigos povos moradores da ilha.
Como elas, muitas pessoas costumam encontrar vasos (conhecido como
urnas) na ilha, principalmente quando trabalham a terra para suas roças, localizadas
mais ao interior da mesma, pois a Diocese proíbe o plantio junto aos espaços de
habitação.
Seu Augusto relata ter encontrado ossos e alguidares, que não sabe dizer a
quem pertenceu: se aos antigos indígenas ou dos antepassados aos povos negros
atuais que ocupam a ilha. Mas acredita que sua casa foi construída sobre um
cemitério. Ali Seu Augusto presenciou várias manifestações de “visagens”, que
acredita serem das pessoas ali enterradas.
Seu Lauro também encontrou cerâmica na ilha. E comentou que a
comunidade atualmente não conhece o modo de fabricação da cerâmica. Porém
explica que uma técnica que seca a argila ao sol, sem precisar de forno para sua
produção.
Imagens de santos foram achadas por D. Antônia, provavelmente deixadas
pelos missionários italianos que estiveram na ilha. D. Antônia possui altares em sua
casa com estes santos.
Outros objetos foram encontrados na ilha: o sacrário, a pia batismal, a
pedra da lápide da antiga dona no engenho, uma corrente de ferro, o tacho de ferro
– que foi retirado da água – e a caldeira de ferro que continua no rio em frente à Vila
de Santana, ficando submersa quando a maré enche.
Contando um Pouco de História
A história das populações no território brasileiro é dividida em dois períodos:
- O Período Pré-Colonial (ou Pré-Histórico) “passou a ser usado, referindo-se
ao período da historia anterior à escrita, em um quadro de busca das origens das
populações européias e, um pouco mais adiante, da humanidade em geral”
(FUNARI, 2006, p. 25). Refere-se ao período dos povos que viviam muito tempo
no território que daria origem, posteriormente, ao Brasil.
“Estamos acostumados a estudar as sociedades a partir dos textos escritos
que alguns de seus integrantes deixaram (sobretudo quando se trata de sociedades
passadas) ou da observação direta (quando é o caso de populações vivas)”
(PROUS, 2007, p. 8).
Os primeiros ocupantes do território americano, porém, passavam seus
conhecimentos para as outras gerações pelas histórias orais. Logo,
[...] quando queremos conhecer as sociedades indígenas desaparecidas,
não dispomos de textos, pois elas não utilizavam a escrita. Por outro lado,
as sociedades ameríndias que sobreviveram até hoje são poucas em
relação às que existiram outrora, e se modificaram demasiado para oferecer
uma imagem adequada dos primeiros habitantes do território que hoje
chamamos Brasil. Dependemos, portanto, exclusivamente dos vestígios
materiais que eles deixaram, quase involuntariamente. (op. cit., p. 8).
A arqueologia busca descobrir como esses povos viveram, através dos
vestígios arqueológicos, ou seja, dos vestígios que estes povos deixaram como
testemunho que sobreviveram ao tempo.
No estudo da Pré-História, as principais discussões referem-se à
antiguidade do homem na América, mas muitas reflexões sobre arte
rupestre, sobre as características das sociedades pré-históricas
amazônicas, sobre os amontoados de conchas (sambaquis) produzidos pelo
homem num passado remoto e sua organização social, ao lado dos estudos
da indústria lítica e cerâmica (FUNARI, 2006, p. 27).
Os principais tipos de sítios arqueológicos deste período
são as aldeias, os locais onde os povos obtinham alimento
(como roças, locais de pesca, caça, criação de bichos), os
locais onde faziam rituais e onde enterravam seus mortos,
locais onde conseguiam materiais para fabricação dos seus
instrumentos e ferramentas, e locais próximos da água onde
conseguiam sarnambi, ostras e moluscos usados na
alimentação que foram descartados em montes de conchas (os chamados
sambaquis);
Segundo Prous (1992, p. 25), “o pré-historiador procura estudar as
sociedades do passado mais remoto da humanidade, nos seus aspectos mais
diversos: físico, demográfico, patológico, tecnológico, dieta alimentar, padrões de
ocupação do território e até rituais”.
Muitas vezes as atividades cotidianas das pessoas do passado deixaram
materiais orgânicos que se decompuseram e viraram terra preta. Assim, locais com
terra preta podem ser sítios arqueológicos, podendo ali se encontrar marcas de
grupos humanos que não existem mais, como cerâmica, instrumentos em pedra,
buracos de esteios de casas, pinturas ou gravuras nas pedras.
- O Período Histórico, definido “como o estudo arqueológico do ‘mundo
moderno’ (a partir o século XV)” (FUNARI, 2006, p. 23) no nosso país começa com a
chegada dos portugueses e vai até os dias atuais. Os portugueses tinham escrita,
produziram documentos, cartas, diários, relatos de viagens, mapas, fotografias,
enfim, registros dos povos que encontraram aqui e de suas vidas a partir da
chegada no Brasil.
“Na arqueologia histórica, destacam-se as pesquisas que tratam da
diversidade étnica e cultural do Brasil, como no caso das Missões Jesuíticas e dos
Quilombos” (FUNARI, 2006, p. 27).
A arqueologia estuda este período para refutar ou complementar informações
através de pesquisas em igrejas, casas, fortes, engenhos, praças e outros espaços
onde as pessoas se
relacionaram e deixaram
testemunhos destas relações.
Afinal, o que é Arqueologia?
Arqueólogo? Sítio Arqueológico?
Arqueologia é a ciência que estuda "sociedades humanas em seu
funcionamento e transformações" (FUNARI, 2006, p. 17), ou seja, o entendimento de
sociedades em suas múltiplas relações.
Esta ciência se utiliza de consulta a documentos, relatos orais, e também a
escavação do que sobrou de casas, alimentos, instrumentos do dia-a-dia, trabalho,
guerra, enfeites, relações de trocas com outros povos, interpretando as informações
que esses vestígios fornecem.
Definindo vestígios arqueológicos, Prous (1992, p. 25) coloca como “todos os
indícios da presença ou atividade humana em determinado local”.
“A arqueologia nada mais é que uma leitura, ainda que um tipo particular de
leitura, na medida em que o ‘texto’ sobre o qual se debruça não é composto de
palavras, mas de objetos concretos, em geral mutilados e deslocados do seu local
de utilização original” (op. cit., p. 32).
Funari (2006, p. 13-15) ressalta: “A arqueologia tem, nos últimos anos,
alargado seu campo de ação para o estudo da cultura material de qualquer época,
passada ou presente”, porém não se restringe aos artefatos produzidos pelo ser
humano, mas na apropriação da natureza que produziu ecofatos e biofatos.
Portanto, “a arqueologia estuda, diretamente, a totalidade material apropriada pelas
sociedades humanas, como parte de uma cultura material e imaterial, sem
limitações de caráter cronológico” (op. cit., p. 13-15).
Em geral a interação humana consigo e com o seu meio
produz registros no solo. Funari diz que “o homem cava buracos,
estabelece fundações para as suas construções, escava poços,
enterra seus mortos e outros objetos. Tudo isso faz com que o
subsolo de uma área ocupada pelo homem seja um verdadeiro
registro de tudo o que ali foi feito” (op. cit., p. 69).
O arqueólogo é o profissional que atua na ciência
chamada Arqueologia, estudando “estes restos de corpos, instrumentos, atividades,
moradias dentro do contexto ambiental da época” (PROUS, 2007, p. 8). Ele
“escava pessoas, não coisas”, complementa Wheeler (apud FUNARI, 2006, p. 20).
Conhecer as sociedades permite uma compreensão e comparação entre as
diferentes culturas, suas formas de vida e relação tanto com a natureza quanto com
outros povos. Os grupos do passado, de diferentes culturas, mantiveram relações
uns com os outros, fizeram trocas comerciais e culturais, desenvolveram habilidades
e conhecimentos. Nem sempre os resultados da interação entre os povos foram
positivos: às vezes o contato entre culturas distintas gerou conflitos, guerras,
abandono da terra natal, enfraquecimento da identidade cultural.
Nas palavras de Childe (apud FUNARI, 2006, p. 22) “um arqueólogo estuda e
procura reconstruir o processo pelo o qual se criou o mundo em que vivemos e
nós próprios na medida em que somos criaturas do nosso tempo e do nosso
ambiente social”.
A possibilidade de interpretação desses indícios explica-se pelo fato de os
artefatos serem produto do trabalho humano e, portanto, apresentarem
necessariamente duas facetas: terem uma função primária (uma utilidade
prática) e funções secundárias (simbólicas) [...] todo o relacionamento das
pessoas com o mundo em que vivem passa pelos artefatos. (op. cit., p. 33).
Estudar as sociedades do passado permite ampliar nossa visão do presente,
entrando em contato com conhecimentos que tais sociedades desenvolveram ao
longo da sua história e no processo de experimentação e aprendizagem com a
natureza, como saberes sobre remédios, alimentos, formas de plantio, domesticação
de plantas, produção de cerâmica, materiais e tecnologias de produção de
instrumentos de caça, pesca, guerra, corantes para pinturas; criando interpretações,
a partir daí, sobre as crenças, costumes, o modo como esses povos se relacionaram
entre si e com outros povos.
O local onde houveram atividades diversas dos povos do passado, como
obtenção de alimento, abrigo, rituais, em conjunto com os objetos, ossos, cerâmica e
outros vestígios que restaram nestes locais chama-se sítio arqueológico. “Os
vestígios encontram-se em conjuntos” e “podem conter vestígios de apenas uma
ocupação ou de várias delas” (PROUS, 2007, p. 14).
[...] se saímos do sítio arqueológico para pensarmos na antiga sociedade
que deixou esses vestígios, se a coleta de informações visa a obtenção de
elementos sobre as comunidades que ocuparam tal espaço em determinada
época, a ênfase desloca-se, então, do estudo das coisas para o estudo das
relações entre elas (variabilidade, covariação, associação, mudança e
processo). (FUNARI, 2006, p. 45).
E Funari continua:
A distância entre a ocupação de um sítio arqueológico por algum povo, a
dificuldade mesma de se encontrar vestígios de uma ocupação, a
consistência (‘dureza da terra’) de um determinado estrato arqueológico, o
tamanho dos artefatos encontrados, seu peso, espessura, textura,
capacidade, facilidade no transporte (pela presença de alças e pés, por
exemplo) são todos dados importantes a serem registrados (op. cit., p. 55).
Neste raciocínio, Prous (2007, p. 13-14) detalha que:
Ossos humanos informam sobre idade, sexo, características físicas tanto
individuais quanto diagnósticas de um tipo de população (evita-se o termo
raça), posturas fequentes e tipos de esforços mecânicos, doenças e
alimentação. Os restos de animais pequenos fornecem dados sobre o
ambiente local (umidade, temperatura,); os de animais caçados, sobre as
escolhas e os hábitos de preparo alimentar. Os vegetais (raramente
preservados) evidenciam as técnicas de coleta e/ou de cultivo, e as
modificações genéticas sob domesticação. Os instrumentos de pedra (mais
facilmente preservados, mas nem por isso os mais comuns na época pré-
histórica), de osso, de cerâmica ou artefatos vegetais informam sobre as
tecnologias conhecidas pelo grupo que os fabricou, mas também as marcas
especificas que diferenciam a produção de um grupo com referência aos
vizinhos [...] os vestígios de uso nos artefatos (estudados no microscópio ou
a partir de análises químicas) podem indicar os produtos fabricados ou
preparados. Os grafismos (pinturas, gravuras) deixados em paredões (a
chamada arte rupestre) ou pequenos objetos, assim como as esculturas e
modelagens, permitem abordar a esfera do pensamento simbólico por meio
de temas, formas e ritmos privilegiados pelas populações [...] vestígios
‘naturais’ informam sobre o paleoambiente: clima, vegetação, fauna e
topografia, que mudam ao longo do tempo, influenciando as coletividades
humanas.
Os sítios arqueológicos e os vestígios ali contidos constituem-se em um
patrimônio coletivo, que pela lei federal pertence a todo o povo brasileiro, pois
ajudam a descobrir como viviam nossos antepassados, contando a
história dos primeiros habitantes das terras que se tornaram nosso
país.
Vestígios arqueológicos são frágeis e sobreviveram
centenas ou milhares de anos depositados no solo ou inseridos na
paisagem. Sofrem naturalmente o desgaste do tempo, das chuvas,
do sol, do vento, às vezes das águas dos rios. Além disso, há a ação humana, que a
cada dia demanda por casas, estradas, abastecimento de água e outras estruturas,
podendo ser predatória sobre vestígios arqueológicos.
No Marajó viveram povos no passado que conseguiram se desenvolver ao
longo de muitos anos de experiência e observação da natureza. O vestígio
arqueológico do Marajó que mais se conhece é a cerâmica, que tem uma decoração
com texturas diferentes, com formas semelhantes às humanas, pinturas e linhas em
baixo relevo. Algumas, de tamanho grande, foram usadas para guardar enterrado os
ossos dos mortos: são as urnas funerárias.
Este povo se concentrava principalmente próximo ao Lago Arari, onde
construíram aterros artificiais conhecidos como tesos, em cima dos quais viviam
para se abrigar da água do lago no período das cheias. Este povo dominou a
tecnologia da cerâmica de grande beleza na decoração, influenciou outros povos e
ainda não se sabe como desapareceram.
A forma como viveram os escravos e os vestígios relacionados com a história
dos negros da Ilha de Santana também compõem o patrimônio arqueológico das
comunidades e de todos nós.
Contexto nos Sítios Arqueológicos
Para entender como vivia um grupo, é preciso estudar os vestígios
arqueológicos dentro do seu contexto. O que significa isso?
“Para se interpretar tais vestígios no contexto ecológico (clima, vegetação,
fauna, proximidade da água) é preciso preocupar-se também com os restos
indiretamente ligados ao homem, mas que revelam em que condições estavam
vivendo” (PROUS, 1992, p. 25).
Um o sítio arqueológico não é
formado apenas por materiais visíveis a
olho nu. Algumas informações, como
alimentos que foram consumidos em
vasilhas de cerâmica, características da
vegetação do passado, e elementos
misturados na argila para dar maior resistência na hora da queima, são obtidas
somente com análises especificas em laboratório.
Ossos, carvão, pinturas, também por pesquisas especiais em laboratório,
podem nos dar noção do período de tempo quando os povos do passado viveram.
Além disso, a vida das pessoas não se resume apenas na moradia; as pessoas
precisam se alimentar, se comunicar, se relacionar com a família, a comunidade e
pessoas de fora, conviver com a natureza e dali tirar seu sustento, festejar, se
despedir de seus mortos, jogar fora seu lixo.
“Os vestígios se explicam um pelo outro, numa totalidade inteligível” [...] “Em
conseqüência, a coleta de vestígios durante as escavações é feita dentro de
técnicas que permitem determinar as relações entre todos os elementos do quebra-
cabeça arqueológico” (op. cit., p. 26).
Para tentar entender a vida de um povo, é necessário estudar um pouco de
todas essas informações do ambiente no qual o vestígio arqueológico foi gerado
pelo ser humano e fazer interpretações do que significava.
“A arqueologia não se faz apenas da coleta de objetos isolados. Somente a
relação dos vestígios contemporâneos entre si permite reconhecer as estruturas
arqueológicas e arriscar uma interpretação da vida cotidiana” (PROUS, 2007, p. 14).
Isso é contexto arqueológico, porque a informação sobre o passado resulta do
conjunto de vestígios encontrados e a sua ambientação. Por isso é importante
manter os objetos dentro do contexto arqueológico.
“Os sítios arqueológicos não são entidades isoladas, mas elementos dentro
da ocupação de um território por uma população” (op.cit., p. 15). Assim, quando um
registro do passado (vestígio arqueológico) é encontrado, é importante deixar o
material no local, não mexer, não tirar do solo,o quebrar, não vender, e avisar ao
IPHAN para enviar pesquisadores estudarem o local.
Que é o IPHAN?
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) é um órgão
público do Governo Federal responsável pela proteção e gestão do patrimônio no
Brasil. Se encontramos um vestígio arqueológico, ou soubermos da existência de
alguém que estiver guardando material arqueológico em casa ou estiver roubando
e vendendo tais vestígios é ao IPHAN que se devemos avisar.
Envie uma carta para o endereço Av. Governador José Malcher, 563, Nazaré,
CEP 66035-100, Belém- Pará
Ligue nos telefones (091) 3224-1825/ 3224-0699.
Ou mande uma mensagem pela internet no e-mail [email protected].
Para maiores informações, existe o site www.iphan.gov.br.
Planejamento do Uso Turístico do Patrimônio Arqueológico:
Vestígios arqueológicos podem ser um atrativo diferenciado para o turismo,
compondo o segmento de turismo arqueológico, entendido neste trabalho como
aquele onde a visitação turística se em sítios arqueológicos terrestres ou
aquáticos.
O turismo arqueológico, se planejado e organizado de maneira correta, dentro
da lei, e autorizado pelo IPHAN, pode trazer desenvolvimento para as comunidades
que vivem hoje em Santana e Tartarugueiro, ajudando a preservar o patrimônio
cultural e arqueológico do local.
1. O papel de cada um
Para desenvolver o turismo arqueológico, é preciso primeiramente
autorização do IPHAN, e todo mundo deve participar:
Você, gestor municipal, tem papel fundamental neste
processo: na criação de leis e mecanismos de proteção e
divulgação do patrimônio cultural de forma geral (aí incluindo-se o patrimônio
arqueológico), como o Plano Diretor do Município, legislação de tombamento e
registro, inventariação, elaboração de Planos de Salvaguarda, projetos educativos;
no estabelecimento de parcerias com instituições diversas para realização de
pesquisa arqueológica devidamente autorizada pelo IPHAN e feita por um
arqueólogo; no planejamento, junto à comunidade, da atividade turística com
visitação dos atrativos naturais, culturais e arqueológicos; na captação de recursos
para implementação do turismo; e na capacitação das comunidades para
gerenciarem a atividade, garantindo sua continuidade e melhor distribuição de
renda.
Ressalte-se que as terras da ilha de Santana pertencem à Diocese de Ponta
de Pedras, portanto, esta deve também autorizar e acompanhar o planejamento e
desenvolvimento turístico do local.
Mas outros atores sociais também têm papel importante:
- A igreja, de um modo geral, apoiando a comunidade,
informando e ajudando a estabelecer parcerias;
- O rádio, jornal, televisão, meios de comunicação em
geral, denunciando irregularidades e prestando informações à
comunidade;
- A própria comunidade, que deve ser a gestora do projeto de turismo
arqueológico, garantindo sua sustentabilidade; fiscalizando; preservando o
patrimônio; denunciando ao IPHAN irregularidades;
- As universidades e instituições de pesquisa são importantes parceiros para
realização de pesquisas e para capacitação da comunidade;
- O Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) também é
parceiro em potencial para qualificação, orientação sobre fontes de financiamento e
sobre o processo de gestão do turismo;
- Órgãos públicos como a Secretaria de Estado de Cultura (SECULT) e a
Companhia Paraense de Turismo (PARATUR) podem acompanhar a comunidade
em todo o processo de implantação do turismo arqueológico.
Ninguém consegue desenvolver um projeto de turismo sustentável sozinho!
O projeto deve ser elaborado unindo uma equipe de profissionais como
arqueólogos, turismólogos, antropólogos, historiadores, arquitetos, entre outros.
2. Tipos de turismo e atividades possíveis em Santana e
Tartarugueiro
Atrativos sobre a história da Ilha de Santana não se restringem aos vestígios
arqueológicos. O turismo arqueológico pode ser combinado com outras formas de
turismo, como o ecológico (ou ecoturismo), o turismo de esportes de aventura, e
experimentação de outros atrativos culturais.
Vivenciar a natureza e a cultura de um povo de modo sustentável, quer dizer,
preservando essa natureza e cultura para o futuro, é ecoturismo.
Praticar esportes na natureza, como caminhadas, passeios de canoa, rapel, é
turismo de natureza.
Conhecer sítios arqueológicos e os vestígios dos povos do passado,
experimentar as comidas das comunidades, apanhar um açaí, aprender como se faz
farinha, ir pescar junto com alguém da comunidade, assistir apresentação de
danças, ou seja, conhecer a cultura de um povo é turismo cultural.
Quer saber como combinar vários tipos de turismo na ilha de Santana?
Turistas podem visitar a casa grande, o trapiche, a igreja, o tacho e a caldeira
de ferro, a moenda de pedra, a calha e as estruturas que restaram da fazenda, o
poço de pedra, fazer trilhas ecológicas pela mata, visitar uma casa de farinha para
ver como é seu preparo, ir pescar ou passear de barco, tomar banho na praia, ouvir
uma contação de histórias dos mais velhos das comunidades, assistir a uma
apresentação da garça e de carimbó, conhecer com um curandeiro plantas
medicinais, visitar uma roça e até experimentar como se
prepara, planta e cuida da mandioca, tirar um açaí, ver
como se bate e toma...
Basta ter criatividade! O turista pode prolongar sua
visita ficando dois ou três dias, o que lhe mais tempo
de conviver com as comunidades e experimentar como
vivem.
3. Inventário e pesquisa arqueológica
Para proteger algo, primeiro precisamos conhecer. A proteção ao patrimônio
cultural, que envolve o patrimônio arqueológico, pode acontecer através do
inventário, que é um levantamento dos bens patrimoniais de um local. O patrimônio
somente se preserva se a comunidade achar que esse patrimônio lhe pertence,
passando assim a cuidar dele.
O primeiro passo então é a pesquisa, para levantar os sítios arqueológicos e
os vestígios encontrados neles, além de saberes e fazeres, celebrações e
manifestações culturais e como as comunidades se relacionam com a natureza,
investigando possíveis atividades que podem ser combinadas na visitação turística.
Este estudo, o inventário, resulta em informações que podem ser usadas para
definir os atrativos turísticos, seu grau de atratividade e preservação, o que deve ou
não ser visitado de cada vez de acordo com a fragilidade do atrativo ajudar a
perceber o que precisa ser melhorado, e como melhorar. Alguns atrativos podem ser
visitados enquanto outros “descansam”, havendo um rodízio nas visitas para que os
impactos negativos ou desgaste sejam menores.
A pesquisa arqueológica precisa ser autorizada pelo IPHAN e realizada por
um arqueólogo. Compõe-se das etapas de consulta aos diversos documentos
disponíveis, levantamento de informações sobre o local, como terreno, fontes de
água para consumo, possíveis locais utilizados no passado para moradias e plantio,
conversas e entrevistas com moradores que tenham encontrado objetos, a
escavação, análise em laboratório, estudo e a divulgação do resultado das
pesquisas.
Na escavação, o arqueólogo desenterra com cuidado os materiais que
encontra, pegando amostras do solo para pesquisa em laboratório, anotando o local
exato em que cada material se encontra, passando a terra retirada em uma peneira
para encontrar vestígios menores, tirando fotos, embalando os materiais
arqueológicos. Para isso usa baldes, pequenas pás, pincéis e outras ferramentas. O
material embalado depois será limpo com cuidado, identificado e analisado.
Vestígios arqueológicos preferencialmente ficam no local onde foram
encontrados, em espaço adequado, que pode ser um museu ou centro cultural,
administrado pela própria comunidade e pode ser mantido com o dinheiro gerado
pelo turismo, para guardar, pesquisar, proteger e expor o material arqueológico, sem
risco de serem roubados ou o museu ser desativado e abandonado.
Caso a comunidade não tenha condições de cuidar de maneira adequada do
material arqueológico, ele vai para uma instituição de pesquisa, onde fica guardado,
é estudado e protegido.
4. Educação patrimonial de moradores e visitantes
Como uma das etapas da pesquisa arqueológica, existe a educação
patrimonial, que é a divulgação dos resultados da pesquisa para a comunidade que
vive nos locais e entorno de onde se encontram os sítios
arqueológicos estudados.
Através de palestras, visitas aos sítios
arqueológicos, cursos, oficinas ou outra ação da
educação patrimonial, as comunidades conhecem os
vestígios encontrados na região e as interpretações que os arqueólogos têm dos
grupos humanos que deixaram estes vestígios.
Desta forma, as pessoas conhecem melhor a história dos seus antepassados
ou antigos ocupantes das terras em que vivem.
Essas informações podem ser usadas para tornar a visitação turística um
meio educativo para os turistas, que gostam de aprender sobre a história das
pessoas e o local em que moram e assim aprendem a valorizar e respeitar o lugar
que visitam.
A comunidade deve usar o recurso da visita monitorada, que é aquela em
que uma pessoa da comunidade é treinada para explicar para os turistas o
significado, a história, e o uso dos elementos naturais e culturais (arqueológicos) que
visitam.
Outra forma de educar os turistas é através da aplicação dos princípios de um
museu (musealização) ao lugar a ser visitado. Estes princípios podem usar da
construção de um espaço de exposição que funcione como um museu. Ou ainda
pesquisar e manter vivas a cultura e a natureza da Ilha de Santana, no que
chamamos de museu de território ou ecomuseu.
O museu tem as funções básicas de:
- pesquisar o local, as várias pessoas que vivem e viveram nele, suas
histórias,
- preservar estas informações, objetos, culturas, territórios,
- divulgar estas informações para diversos públicos (crianças, jovens, adultos,
idosos, portadores de necessidades especiais), das próprias comunidades e turistas,
através de visitas monitoradas, placas explicativas distribuídas pelos locais a serem
visitados, palestras, conversas e reuniões, exposições, oficinas de artes sobre o
patrimônio cultural e produção de material informativo como cartilhas, folhetos,
mapas.
Significa dizer que o turismo arqueológico é composto pela visitação de sítios
arqueológicos juntamente com as informações ou interpretações que estes
fornecem, sempre pautado em pesquisas cientificas. A comunidade precisa estar
informada para poder sensibilizar o turista para o
patrimônio que vai visitar.
5. Zoneamento
Zoneamento é o estudo em que se levantam informações para definir onde
são as áreas mais adequadas para visitação turística, onde os turistas podem
descansar, se alimentar... este levantamento determina os melhores locais para
instalar os postos de informação, os banheiros públicos, lixeiras, que trilhas podem
ser utilizadas, e que casas dos moradores têm potencial para a hospedagem dos
turistas.
6. Capacitação
Para as comunidades gerenciarem o desenvolvimento do turismo, devem
fazer cursos de capacitação para aprender:
- como atribuir preços e vender serviços e produtos aos turistas;
- como avaliar se seu trabalho está lhe dando retorno financeiro justo;
- uma língua estrangeira;
- como criar roteiro do que ver e distribuir o tempo de visita de acordo com as
atividades que vai propor ao turista;
-manipular alimentos;
- como prestar um atendimento de qualidade;
- como administrar um negócio.
7. Implantação de infra-estrutura turística
O turismo arqueológico não acontece apenas da visita de sítios arqueológicos
e seus vestígios. Pode envolver apresentação de teatro, poesia ou arte que
represente como viviam as pessoas no passado ou fatos históricos que marcaram
as comunidades, hospedagem nas casas da Diocese, usadas antigamente pelos
missionários, consumo de alimentos que os povos de antigamente consumiam, uso
da casa grande como restaurante, lojinha e museu, visitas monitoradas e oficinas
(de maquete, de arte, entre outros) feitas pela comunidade com a participação dos
turistas: Enfim, atividades que envolvem visualização e/ou reflexão refletindo sobre
o patrimônio arqueológico do lugar.
Para tanto, o local necessita de infra-estrutura de visitação. As construções
devem ser feitas com material do próprio local, como madeira e palha, para
acompanhar com harmonia a natureza onde será inserida.
a) Acesso e visitação
Para que o patrimônio arqueológico seja protegido e seja garantida a
segurança da visita, estruturas podem ser construídas de forma integrada com a
natureza, sem destruir nem danificar os vestígios arqueológicos. Podem ser feitas
pontes, passarelas, cordões de isolamento, trilhas, com a finalidade de se acessar e
visualizar os vestígios arqueológicos.
Por estar inserido na paisagem, a visita aos vestígios arqueológicos pode
adotar duas estratégias: destacar o que se quer mostrar, retirando todo elemento
que dificulte a visualização do atrativo, ou então destacar a integração na natureza
do que se quer mostrar, retirando apenas o excesso de poluição visual.
Por exemplo: O tacho de ferro foi retirado de dentro da água, podendo ver
visto ao lado da igreja atualmente. Mas a
caldeira de ferro continua na água. Ela pode
continuar nesse local ou pode ser tirada
para melhor visualização dos turistas.
A calha pode ser protegida com uma
passarela construída ao seu lado, para
evitar que as pessoas pisem nas ruínas,
soltando as pedras. A passarela pode
formar uma trilha, que pode e deve usar
placas explicativas sobre como a calha era
usada e incluir informações sobre a
vegetação do seu entorno.
Próximo à calha, uma construção
em meio da mata, que pode permanecer assim ou ter retirada a vegetação que a
encobre. Estas decisões dependem da comunidade e de como desejam trabalhar o
turismo.
A regra é simples: não se deve tirar nada para guardar em casa, nem vender,
pichar, riscar, ou praticar qualquer ação que danifique ou destrua o sítio
arqueológico, como acender fogo, revirar a terra onde se encontram os objetos,
deixar exposto ao desgaste pelo sol e chuva especialmente objetos em ferro (que
enferruja), e cerâmica pintada (que desbota).
Vale lembrar que as trilhas e os atrativos turísticos podem ter placas de
sinalização turística com informações de direção e explicações sobre o que é visto e
que a visita pode ser restrita ao turista que estiver acompanhado de um monitor
(guia) da comunidade. O acesso ao atrativo pode se pago, para fins de manutenção.
b) Estruturas de apoio, alimentação e informação
Em Santana, a casa grande poderia ser transformada em principal ponto de
apoio dos turistas, servindo para várias funções como restaurante, museu, banheiros
públicos, lojinha de artesanato, centro cultural da comunidade.
Outros pontos de apoio para a visitação podem ser usados para descansar,
usar banheiros, beber água e sucos e comer lanches, o que pode ser feito na casa
de alguns moradores, que também podem oferecer serviço de restaurantes caseiros
(como são usados atualmente os barracões).
c) Hospedagem
Podem ser planejados quartos nas casas dos moradores para receber os
turistas. Não é necessário investir em algo caro, o turista deseja apenas o conforto
de uma cama ou rede e um bom banho, privacidade, limpeza e segurança dos seus
pertences. Deste modo, o turista convive com uma família e pode aprender melhor
sobre a vida na ilha de Santana.
d) Lembranças para os turistas
Podem ser produzidos materiais como artesanatos e lembranças para o
turista comprar e levar para casa, como folhetos explicativos, cartões-postais,
pequenas imagens do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora de Santana, fotos
ou pinturas em blocos de anotações, chaveiros, camisas, caixinhas, potes, adesivos,
broches, enfeites, miniaturas da igreja, da casa grande, do trapiche, de uma casa de
farinha, objetos que reproduzam materiais arqueológicos encontrados na ilha (como
vasos, alguidares, e estatuetas em réplicas).
O turista gosta de levar algo dos locais que visita, algo diferente, que não seja
grande, pesado nem frágil demais para carregar na bagagem. Mas o artesanato
deve ser pensado como um objeto que mostre a identidade das comunidades e da
Ilha de Santana, levando à lembrança de algo que tem e em nenhum outro
lugar, como uma marca. O SEBRAE pode ajudar a construir
uma marca visual para Santana e Tartarugueiro.
As comunidades têm pessoas que produzem sabonetes de
andiroba e artesanato com sementes, que pode ser
complementado pela venda de objetos em palha, talas, fibras naturais, madeira, e
outros materiais da natureza local.
8. Exemplos de turismo arqueológico que estão dando certo
No Brasil, não existe ainda um local onde o turismo arqueológico esteja sendo
totalmente positivo. Os desafios são grandes e os impactos difíceis de ser
minimizados. Ainda assim, alguns projetos estão caminhando por erros e acertos,
nos dando exemplos de boas iniciativas, como:
- Chapada do Araripe, em Nova Olinda, Ceará;
- Museu de Sítio Arqueológico Sambaqui da Beirada, em Saquarema, Rio de
Janeiro;
- Parque Nacional Serra da Capivara, que abrange os municípios de S.
Raimundo Nonato, São João do Piauí, Canto do Buriti e Coronel José Dias, no Piauí.
9. Vamos falar do que é Legal
O turismo em sítios arqueológicos no Pará tem causado mais destruição do
patrimônio do que benefícios reais para as comunidades. Como muitas pessoas não
conhecem seu patrimônio arqueológico, picham, saqueiam, vendem cerâmica,
gravuras na pedra, e materiais feitos em pedra (lítico) pelas populações do passado.
Se quisermos que o turismo seja condutor de
desenvolvimento, primeiro é necessário conhecer e
seguir as leis de proteção ao patrimônio arqueológico.
O patrimônio arqueológico é considerado um
bem de todos os brasileiros, mesmo quando está
localizado no terreno de alguém, pois ajuda a contar a
história da ocupação do território e os povos que
viveram nele. Assim, o patrimônio arqueológico interessa a todos, e por isso é crime
mexer, destruir, vender ou guardar dentro de casa vestígios arqueológicos.
A Lei nº. 3.924 de 26/07/61 proíbe a exploração econômica de sítios
arqueológicos sem antes serem pesquisados, coloca como crime sua destruição e
determina que qualquer pessoa que encontrar algum material ou sítio arqueológico
deve avisar o IPHAN. Toda e qualquer pesquisa e projetos econômicos em sítios
arqueológicos deverão ser autorizados previamente pelo IPHAN.
A Constituição Federal de 1988 declara no Título VIII, Capítulo III, Seção II,
sítios arqueológicos como patrimônio cultural brasileiro, e quem destruí-los será
punido por crime contra o patrimônio:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza
material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos
formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
V os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico,
arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 4º Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da
lei. (BRASIL. Constituição de 1988, 1988, p. 141-142).
Estados e municípios podem e devem fazer leis e mecanismos
complementares de pesquisa, uso e proteção do seu patrimônio arqueológico.
Gestores públicos devem estar atentos a esta questão.
10. Autorização
Quando o município decidir como fazer um projeto de turismo com visitação
nos sítios arqueológicos, precisa ter autorização e acompanhamento do IPHAN para
avaliar o impacto que a atividade vai causar.
Como a terra em Santana está em processo de regularização de propriedade
em benefício das comunidades, a Diocese, que é sua dona atual, deve participar do
planejamento turístico, permitindo a exploração desta atividade.
11. Plano de Manejo Ambiental (ou Plano de Gestão Turística)
Como o arquipélago do Marajó tem sua natureza protegida por lei,
representando uma Área de Proteção Ambiental, precisa ter, para o
desenvolvimento de atividades econômicas, um Plano de Manejo.
O Plano de Manejo, neste caso, é o
documento que resulta do planejamento do
turismo, e descreve o que pode e o que não
pode ser visitado, que atividades serão feitas
com os turistas, como vai funcionar a visitação,
quem das comunidades será responsável por
cada atividade, como será feira a manutenção
dos atrativos, que medidas serão tomadas para
proteger os atrativos, quantas pessoas por mês cada atrativo pode receber, como
será distribuído o dinheiro que as comunidades vão ganhar, que tipo de turista a
comunidade quer receber, como os atrativos turísticos serão divulgados, que
instituições vão apoiar o turismo no local, melhorias que precisarão ser feitas com o
desenvolvimento do turismo, impactos que o turismo vai trazer que são aceitáveis ou
não, como será avaliado o turismo nas comunidades e com que freqüência vai ser
avaliado, e outras informações importantes.
O recebimento de visitantes precisa se manter com o tempo, e para tanto a
comunidade deve gerenciar o turismo, garantindo sua continuidade, o ganho de
dinheiro com a atividade, a manutenção da sua cultura e natureza e a preservação
dos vestígios do passado que ajudam a contar sua história e de seu lugar.
12. Capacidade de carga
Outro estudo de fundamental importância é o da capacidade de carga, que
define quantas pessoas podem visitar os vestígios arqueológicos e outros atrativos
ao mesmo tempo e quantas podem visitar durante todo um dia, sem comprometer
sua preservação.
13. Gerenciamento do turismo
A comunidade é a melhor gestora de um projeto de turismo arqueológico, pois
vive no local visitado, podendo atuar como fiscalizadora e mantendo a
sustentabilidade da atividade.
Uma associação pode ser criada para gerenciar o turismo ou a comunidade
pode ter uma organização não-governamental (ONG) lhe apoiando.
É importante a comunidade se capacitar em gestão, pois receber turista
envolve entrada de dinheiro, que deve ser usado para o bem da própria comunidade
em geral e das pessoas que trabalharem diretamente com o turismo, na manutenção
dos atrativos turísticos, e na pesquisa arqueológica.
A comunidade deve decidir quanto cobrar por pessoa
pela hospedagem, pelos serviços de alimentação e bebida,
pelas visitas guiadas, atividades, artesanato e outros
produtos que oferecer ao turista definindo preços justos
para a comunidade e para o turista. Quem deve ser explorado é o turismo, não o
turista nem a comunidade.
Políticos mudam a cada quatro anos, então o governo municipal ou estadual
deve apoiar o planejamento, a implantação de infra-estrutura e a divulgação da Ilha
de Santana, mas a comunidade é quem deve gerenciar as visitações dos turistas,
garantindo a sustentabilidade da atividade turística.
14. Divulgação e Comercialização
A divulgação e comercialização dos atrativos arqueológicos pode acontecer
junto com outros atrativos da Ilha de Santana, e se utilizar de parcerias com a
PARATUR. Podem ser realizadas viagens com agências de turismo (famtour) e
jornalistas de revistas especializadas de turismo (press trip) para conhecerem as
comunidades para divulgarem e comercializarem as comunidades de Santana e
Tartarugueiro em seus pacotes de turismo.
Pode ser trabalhado o turismo de grupos de estudantes, possibilitando a
vivência do dia-a-dia na Ilha de Santana, incentivando pesquisas ou a realização,
pelos estudantes, de ações de capacitação para as comunidades ou participação em
ações de melhorias no local.
15. Avaliação e Adaptação
O grupo que vai gerenciar a atividade turística tem de pensar bem nos
resultados que pretende conseguir com o turismo e criar formas de avaliar o seu
desenvolvimento.
Perguntas como:
- Quantas pessoas estão envolvidas com o turismo nas comunidades?
- Estas pessoas conseguem uma renda justa que cobre os custos que têm
atendendo aos turistas?
- Que impactos os turistas estão trazendo para as comunidades?
- Os impactos positivos do turismo são maiores que os negativos?
- O turismo está sendo mecanismo de educação e preservação do patrimônio
cultural/arqueológico?
- As estruturas que foram construídas para o turismo servem também às
comunidades?
- As comunidades estão conseguindo controlar o mero de pessoas que
visitam os as comunidades e os sítios arqueológicos (capacidade de carga)?
- Os turistas estão satisfeitos com os produtos e serviços oferecidos?
- Os turistas voltam a visitar a Ilha de Santana?
- Como as comunidades podem melhorar o turismo na Ilha de Santana?
- Quem são os turistas que as comunidades estão recebendo? De onde vêm?
Vêm em grupos ou sozinhos? Vêm através de uma agência de turismo ou por conta
própria?
- Quanto os turistas gastam nas comunidades? Quanto tempo ficam?
- As comunidades estão satisfeitas com o modo com que o turismo está
acontecendo?
Respondendo perguntas como estas, pode-se fazer uma avaliação do
desenvolvimento do turismo e refletir as melhorias necessárias, e a solução dos
problemas encontrados. Órgãos públicos como o IPHAN, PARATUR, SECULT,
SEBRAE podem ajudar o município nesta etapa. Universidades também podem
ajudar na pesquisa e produção de avaliações sobre a atividade turística em Santana
e Tartarugueiro.
<a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/"><img alt="Licença
Creative Commons" style="border-width:0" src="http://i.creativecommons.org/l/by-nc-
nd/3.0/88x31.png" /></a><br /><span xmlns:dc="http://purl.org/dc/elements/1.1/"
href="http://purl.org/dc/dcmitype/Text" property="dc:title" rel="dc:type">O Planejamento do Uso
Turístico de Sítios Arqueológicos</span> by <span xmlns:cc="http://creativecommons.org/ns#"
property="cc:attributionName">Sabrina Campos Costa</span> is licensed under a <a rel="license"
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Comercial-Não a obras derivadas License</a>.
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