O projeto de modernização promovido pelos militares teve seu auge durante
os anos 70, época que ficou conhecida como o “milagre brasileiro”. Após um ciclo de
crescimento (onde o Produto Interno Bruto cresceu a uma taxa de 8,1% em média –
no período de 1965/80), a economia brasileira enfrentou “uma dura crise recessiva a
partir de 1981, cuja manifestação mais direta é a reversão dos fluxos de
financiamento externo após a Moratória mexicana de 1981” (DELGADO, 2004, p.
16-17). O custo do endividamento exterior somado à conjuntura desfavorável da
economia mundial levou a que, no início da década de 80, se vivenciasse, em nível
de Brasil, uma conjuntura de crise generalizada em amplos setores. O setor
agropecuário foi um dos mais atingidos.
No aspecto político, a conjuntura de crise na agricultura, do final da década
de 70 e início da década de 80, coincide com o fortalecimento do movimento político
em prol da democratização do Brasil, e, articulado a este, a mobilização de agentes
motivadores de formação de organizações populares de base dentro dos quadros da
Igreja Católica e da Igreja Luterana (principalmente)
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.
Pelo lado da Igreja Católica, o braço institucional que atuava na formação
de organizações de sem-terras e pequenos agricultores, desde meados da década
70, era a Comissão Pastoral da Terra (CPT, criada em 1975)
82
. Em algumas regiões
crédito na agricultura, mediando a adoção desses pacotes com volumosas subvenções financeiras”
(DELGADO, 2004, p. 13). Introduzia-se, assim, os agricultores beneficiados “de forma maciça no
‘pacote tecnológico’ da modernização. Ao lado de certas vantagens e benefícios – às vezes mais
aparentes do que reais – na verdade, tornou o agricultor dependente do mercado econômico e o
introduziu num processo do qual é difícil retroceder” (BRUM, 1988, p. 88).
81
Para Scherer-Warrern (1989), enquanto nas décadas de 60 e 70 os movimentos sociais agrários
enfrentaram um período de refluxo devido à forte repressão do regime militar, a partir da segunda
metade da década de 70 são retomadas as mobilizações e são estruturadas novas formas de
organização rurais . Scherer-Warren (1989, 1996), Touraine (1989), Medeiros (1989) e Gohn (2000)
ressaltam o grande trabalho de construção e apoio de organizações populares desenvolvido pelos
clérigos adeptos da Teologia da Libertação em grande parte da América Latina.
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A interpretação que a CPT faz de sua origem e os papéis que desempenhara, é expresso, a seguir:
“A Comissão Pastoral da Terra (CPT) nasceu em junho de 1975, durante o Encontro de Pastoral da
Amazônia, convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e realizado em
Goiânia (GO). Inicialmente a CPT desenvolveu junto aos trabalhadores e trabalhadoras da terra um
serviço pastoral. Na definição de Ivo Poletto, que foi o primeiro secretário da entidade, ‘os verdadeiros
pais e mães da CPT são os peões, os posseiros, os índios, os migrantes, as mulheres e homens que
lutam pela sua liberdade e dignidade numa terra livre da dominação da propriedade capitalista’.“
(CPT, 2005, sn). E continua: “Fundada em plena ditadura militar, como resposta à grave situação dos
trabalhadores rurais, posseiros e peões, sobretudo na Amazônia, a CPT teve um importante papel.
Ajudou a defender as pessoas da crueldade deste sistema de governo, que só fazia o jogo dos
interesses capitalistas nacionais e transnacionais, e abriu caminhos para que ele fosse superado. Ela
nasceu ligada à Igreja Católica porque a repressão estava atingindo muitos agentes pastorais e
lideranças populares, e também, porque a igreja possuía uma certa influência política e cultural. Na
verdade, a instituição eclesiástica não havia sido molestada. [...] No período da ditadura, o
reconhecimento do vínculo com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) ajudou a CPT a
realizar o seu trabalho e se manter. Mas já nos primeiros anos, a entidade adquiriu um caráter
ecumênico, tanto no sentido dos trabalhadores que eram apoiados, quanto na incorporação de