Dia desse vindo da Capela dos Marques lá das bandas de
Joanésia, beiraninho o Rio Santo, apareceu por esses lados
uma turma de caçadores de onça contratados. Vinham a mando
de gente graúda, incomodada com o tanto de rês devorada.
Na venda onde estavam Zé da Carminha contava o que fazia e
acontecia em caçada de pintada, voz alta pela pinga.
Os caçadores, eram quatro, sisudos e enrolados cada qual
em sua capa Leal como a esconder armas, só escutando.
A trova do outro foi tanta que o convidaram para a empreita
contratada. A zoada do álcool era tamanha que Zé aceitou
não apenas seguir com a comitiva caçadora como também guiar
até ceva grande onde onça dava em pau de tantas que lá
havia.
Amanhecido o dia, e a bebedeira, Zé se viu entre a cruz e
espada. Se refugasse viagem era tachado de medroso, mesmo o
sendo, assim de assumido para si, queria era nunca a pecha.
Se fosse se borraria no miado primeiro que de lonjura que
fosse escutasse.
Pois foi. Calçou a cara de falsa coragem, bregeu dois
conhaques logo cedo e abriu caminho para a tropa dos de
fora.
Serra acima bem longe deram num rancho abandonado, daqueles
comidos pelo mato — sobrando no que era-foi antigo, só
terreiro emaranhado de goiabeiras imensas, pés de limão
china, poucas e velhas tábuas do que tinha sido um
chiqueiro, e muita, mas muita cachopa de marimbondo-cavalo,
dono de ferroada venenosa de tão doída. O poço d’água,
pelas mãos de muitos pernoitantes sem rumo, estava ainda
rico e bem coberto, bem zelado.
O rancho tinha duas portas, uma servia a entrada outra o
quintal.
Na sombra da serra escurece cedo, sol dura menos do que no
descampado. Assim, logo que o avejão da pedra abraçou o
casebre, toca-se a acender fogo para quentar matula, carne
seca com farinha era a janta.
Diz então um dos de lá:
— Então Zé, aqui é onde elas se reúnem.
Zé, por mais prosa que pudesse ter na língua, mentiroso não
era não. Aumentava isso sim, se incluía em vantagem dos
outros, mas era sério no trato. Cumprira promessa, tinha
levado os homens para o ninho das onças.
— Pois então — seguiu o dito, — mostra pra nós. Busca a
bicha.
Sem poder falar não, saiu Zé pela porta da horta, não deu
três passos e não é que topou com a bruta! Virou nos cascos
Flor de Pitanga
William Henrique Stutz © Copyright 2007