87
Neste aspecto, o PDL trabalha com a idéia de diálogo entre a economia política da
cidade com a sustentabilidade ecológica. De acordo com Coelho (2001), o impacto
ambiental é uma realidade em movimento, que abarca os aspectos ambientais, sociais,
políticos, culturais e espaciais. Deste modo, a degradação das ocupações urbanas é
resultado, também, da maneira como os grupos sociais locais produzem o espaço social.
Não obstante a necessidade de conscientizar os moradores das ocupações urbanas
dos “males” provocados pela degradação indiscriminada do seu ambiente, o impacto
ambiental nem sempre pode ser abordado isoladamente. Como exemplo, o igarapé do
Tucunduba não se limita ao Riacho Doce; logo, não adianta educar essa comunidade se as
outras que margeiam o igarapé e o conjunto da cidade não colaborarem. Neste caso, torna-
se necessário um processo mais amplo de conscientização.
Os ciclos de debates materializaram a primeira fase da metodologia participativa do
PDL, visto que as propostas relativas à execução do PDL foram apresentadas às lideranças
formais e informais para serem discutidas e legitimadas. Contudo, a falta de hábito com os
instrumentos participativos ainda incomodava, como revela a fala de um membro da
equipe de trabalho:
Levamos as propostas, tanto da área física, quanto social. Debatemos com a
comunidade o que eles achavam, se era pra alterar e, na medida do possível iríamos
alterar. Fizemos um diagnóstico da área, sabíamos mais ou menos o que tava
precisando e, mesmo assim, nós debatemos, como uma cerca de 98 lideranças que
identificamos na área, e eles aprovavam ou não. Agora, tem coisas que não dá pra
mudar, por exemplo, o projeto físico, tem coisas assim, mas o que dava, como quando
queriam uma creche, praça, enfim, tudo foi a partir deles, com a participação deles
(Entrevista com o arquiteto da equipe física do PDL, nov. 2005, grifos nossos
)
Sendo assim, na prática o grau de participação dos moradores na elaboração dos
elementos de intervenção é ambíguo e difícil de classificar nos moldes de Souza (2002);
isto porque, ao mesmo tempo em que houve uma cooptação das lideranças, existiu uma
consulta popular. Embora, nesta consulta, o dialogo com os moradores, em alguns
momentos, não fosse tão transparente, pelo menos é como alguns moradores assim
perceberam:
Às vezes eles mentiam quando havia problemas no projeto. Quando tinha as audiências
eles chegavam e passavam as informações erradas, Só que até então eles não sabiam
que eu tinha minhas amizades. Quando acontecia deles repassarem informações
erradas, eu já tinha ido lá e com as documentações em mãos, então, eu ia lá e
desmentia. (Entrevista com um morador do Riacho Doce, conselheiro do CCP,
mar.2006)