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Serviço de Plantão Psicológico aos clientes da área de saúde
Autor: Dirlene Maria Vieira (1)
Orientador Prof. Wagner Alan Cagliumi (2)
RESUMO
Num momento em que o país assume clara direção em prol de políticas com-
prometidas com a melhoria das condições de vida da população, as políticas de
saúde devem contribuir realizando sua tarefa primária de produção de saúde
designada a reduzir a futura incidência de problemas de ajustamento em populações
normais. O Plantão Psicológico é destinado a pessoas que se apresentam sem
recursos psicológicos para lidar com suas aflições, angústias, dificuldades afetivas
ou ainda situações que estejam tirando o equilíbrio momentâneo. A expressão
plantão está associada a certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se
mantêm a disposição de pessoas que deles necessitem em qualquer situação de
atendimentos de emergências emocionais, em períodos de tempo previamente
determinados e ininterruptos. A intervenção psicológica do plantão procura
compreender a vivência e “resgatar” o sujeito, a partir do oferecimento de uma
escuta, que permite a explicitação do sofrimento. É uma forma de trabalho distinta
das psicoterapias de longa duração e visam favorecer a manutenção da saúde
mental. Devemos trabalhar na prevenção e nela concentrar nossos esforços, pois
uma vez instalada a doença, ela pode tornar-se crônica e de difícil controle,
causando diversos danos secundários
Palavras-chaves: plantão psicológico, prevenção.
(1) Psicóloga, Hipnologa Especialização Saúde Mental: Prevenção, Promoção. E-mail:
psicologia.dirlene@hotmail.com
(2) Professor da disciplina de
Metodologia Científica do curso de Pós-graduação no IBPEX
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ABSTRACT
At a time when the country is clear direction for policy-promised with the
improvement of living conditions of the population, health policies must contribute to
carrying out its primary task of health production designated to reduce the future
incidence of adjustment problems in normal populations. The Psychological Plantão
is intended for people who are without resources to deal with his psychological
afflictions, anxiety, emotional problems or situations that are making the momentary
balance. The term duty is associated with certain type of service, performed by
professionals who remain available to the people who need them in any situation of
emotional care of emergencies in time periods of predetermined and uninterrupted.
The psychological intervention seeks to understand the duty of living and "rescue"
the subject from the offer of a hearing, which allows the explanation of suffering. It is
a way to separate work of psychotherapy and long-term aim to encourage the
maintenance of mental health. We must work to prevent it and concentrate our
efforts, because once installed the disease, it can become chronic and difficult to
control, causing several secondary damage
Keywords: call psychological, prevention.
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Este artigo sugere a criação de um serviço de prevenção nos casos de saúde
mental, baseado na necessidade identificada de ter um serviço de atendimento na
rede pública em Curitiba (Paraná-Brasil), como o “Plantão Psicológico”, com o
objetivo de escutar sentimentos e emoções do cliente que busca alívio para seu
sofrimento psíquico. Atualmente no Brasil, temos poucos recursos de saúde mental
disponíveis para a população, isto somado a pouca informação a respeito desse tipo
de serviço. A busca de novas formas de atendimento psicológico, como os serviços
oferecidos à população, resultou no desenvolvimento de práticas como o plantão
psicológico.
O serviço de “Plantão Psicológico” oferece atendimento psicológico
priorizando acolhimento em situações de crise e esclarecimento. Não oferece
psicoterapia nem acompanhamento psicológico, porém, caso seja necessário,
encaminha o cliente a serviços e instituições que compõe nossa rede de saúde e de
apoio social de acordo com o caso.
Para Teles (2003), a competitividade da sociedade moderna, o medo
constante do insucesso e de algum cataclisma estão levando a grande massa de
indivíduos a distúrbios psicológicos de tal ordem, que o anormal está se tornando
normal, no sentido de que o parâmetro passa a ser imensa maioria perturbada. O
ser humano, assim como o animal, tem um limiar de tensão, isto é, ele pode
suportá-la até certo tempo, sem que seu sistema biopsíquico se desorganize.
Entretanto, a vida moderna está colocando os indivíduos num estado permanente de
tensão, cujas conseqüências são desastrosas, não no sentido individual, mas
também no sentido coletivo, pois as repercussões das ações das pessoas são de
ordem social.
A sugestão da implantação do Plantão Psicológico seria nos locais de
atendimento 24 horas da Prefeitura Municipal de Curitiba nas Unidades Municipais
de Saúde como Pinheirinho, Boqueirão, Cajuru, Boa Vista, CIC, Sitio Cercado,
Campo Comprido, Albert Sabin (Fazendinha).
Viver de modo saudável significa sentir medo, vivenciar conflitos, dúvidas,
frustrações, tanto quanto as coisas positivas. O mais importante é que a pessoa
sinta que está vivendo sua própria vida, assumindo a responsabilidade por seus
sucessos e fracassos e aproveitando cada experiência para enriquecer seu
repertório pessoal.
Esta frase de Carl Gustav Jung relata que:
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“O encontro de duas personalidades é semelhante à mistura
de duas diferentes substâncias químicas: uma ligação pode a
ambas transformar”.
Atendimento clínico em consultório e plantão psicológico
Esta modalidade de “Plantão Psicológico” visa proporcionar atendimento
psicológico no momento em que o sujeito necessita de um acolhimento específico e
de compreensão por parte de um profissional no sentido de minimizar o seu atual
estado de desajuste, angústia ou sofrimento. Diferencia-se da psicoterapia por ter
um caráter menos abrangente e profundo, tendo como foco o problema e não toda a
vida e padrão de personalidade do cliente.
A psicoterapia convencional objetiva auxiliar o indivíduo em suas dificuldades
emocionais e práticas do dia-a-dia, com vistas ao conhecimento e crescimento
pessoal. Em alguns casos o sujeito não apresenta um problema específico, fazendo
com que o processo terapêutico seja direcionado para o autoconhecimento e
desenvolvimento de suas potencialidades. Nesta modalidade de atendimento o
psicoterapeuta leva em consideração o ser humano de forma integrada, com suas
dimensões orgânica, psíquica, social, existencial e emocional.
E o atendimento no consultório ocorre em sessões semanais com duração de
50 minutos, porém em alguns casos pode ser indicada mais de uma sessão por
semana. No atendimento de casal o tempo é ampliado para 80 minutos. Observa-se
o crescimento da psicologia clínica pelo âmbito institucional, onde se torna
praticamente impossível repetir o modelo de consultório, no que diz respeito ao
tempo de duração dos atendimentos, aos processos psicoterápicos, tipos de
intervenção, modelo de abordagem e especialmente quanto aos motivos ou queixas
que levam as pessoas, atualmente a procura de Serviços de Psicologia.
FURIGO (2006) nos informa que sendo a psicoterapia a base da identidade
profissional do psicólogo clínico, observa-se aqui também uma necessidade urgente
de novas definições sendo a primeira delas em relação à demanda de uma nova
clientela para a prática psicológica, bem como de uma redefinição de identidade do
psicólogo clínico.
Acompanhando as evoluções que ocorrem na Saúde Internacional, já em
Mejias (1984), encontrou a preocupação em tomar o atendimento psicológico mais
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acessível e útil a uma faixa mais ampla de nossa população, evitando que se
restrinja a certos grupos limitados. Manifesta-se dizendo que uma concordância
geral em que é chegada a hora de falarmos também em prevenção para a
Psicologia.
BEDIN (2008) fala que, com relação à Saúde Mental na atenção primária, o
Ministério da Saúde (BRASIL, 2005), aponta a importância da integralidade da
atenção à saúde e constata que as equipes de Atenção Básica, cotidianamente, se
deparam com problemas de saúde mental. Considera que, por sua proximidade com
famílias e comunidades, essas equipes se apresentam como um recurso estratégico
para o enfrentamento de diversos problemas nesta área, como o uso abusivo de
álcool, drogas e diversas outras formas de sofrimento psíquico. Além disso, entende
que “existe um componente de sofrimento subjetivo associado a toda e qualquer
doença, às vezes atuando como entrave à adesão de práticas preventivas ou de
vida mais saudáveis [...] todo problema de saúde é também e sempre de saúde
mental, e que toda saúde mental é também – e sempre – produção de saúde” (p.33).
Profissional de psicologia
Segundo a normatização de 2008, as atribuições Profissionais do Psicólogo
Clínico no Brasil, de acordo com o Conselho Federal de Psicologia, atuam na área
específica da saúde, colaborando para a compreensão dos processos intra e
interpessoais, utilizando enfoque preventivo ou curativo, isoladamente ou em equipe
multiprofissional em instituições formais e informais, realiza pesquisa, diagnóstico,
acompanhamento psicológico e intervenção psicoterápica individual ou em grupo,
através de diferentes abordagens teóricas. Desta forma então o psicólogo vai
trabalhar procurando ajudar os indivíduos a se compreenderem e a se relacionarem
melhor com as outras pessoas e a lidarem com as próprias emoções e sentimentos.
Ressalta PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007), que a formação do
psicólogo, desde a regulamentação da profissão, esteve muito aquém da
necessidade social de nossas populações, deflagrando, no meio social, a indefinição
da verdadeira utilidade da profissão e transformando o psicólogo em um profissional
que, muitas vezes, é tomado como prescindível. Assim, reconhece-se, atualmente, a
necessidade de um profissional sintonizado com as demandas sociais. Embora esse
seja um fato admitido pelo agente formador, percebemos o quanto é difícil modificar
o panorama da formação, pois sobre ela repousa uma complexa série de fatores que
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inviabilizam uma tomada de posição ética-política favorecedora de mudanças
qualitativas. Se essa é uma verdade que consegue ficar apartada no sistema
educativo-formativo, o mesmo não se no meio profissional, quando
observamos a pressão exercida sobre os profissionais solicitados a responder a
demandas que o ensino tecnicista não consegue abarcar.
Desde o final dos anos 70, o alargamento do campo da Psicologia da Saúde,
Saúde Comportamental e da Medicina ajudou ao fortalecimento e ao robustecimento
da contribuição da Psicologia para a prevenção da doença e promoção da saúde.
De início, o foco era em algumas categorias de comportamento tais como o uso de
drogas, o tabagismo, mas posteriormente surgiu o interesse por relações
interpessoais relacionados com a violência, a sexualidade, o estresse laboral e
escolar, o lazer, as redes de apoio.
Com a evolução dos sistemas de saúde, o desenvolvimento farmacológico e
as ciências do comportamento, assim como o abandono dos modelos institucionais,
tais como hospitais, asilos, foram chamados a intervir com pessoas sem doença
mental, no apoio à adaptação e às seqüelas da doença. Esta nova visão implicou
em uma nova dinâmica para a Psicologia, introduzindo do ponto de vista dos
prestadores de cuidados de saúde uma dimensão em equipe multidisciplinar com
inclusão, para além dos psicólogos e especialistas em Saúde Pública e de técnicos
de outras áreas.
Para LILIENTHAL (2002) trabalhar com Plantão Psicológico exige dos
profissionais características como:
- a capacidade de atenção – estar junto ao cliente procurando percebê-lo ao
máximo de minhas possibilidades e transformar esta percepção em intervenções
eficientes
-a autenticidade capacidade de ser eu mesmo, de não precisar me
esconder, na relação com o outro perseverança jamais deixar de acreditar que o
outro é capaz de encontrar em si próprio as respostas às suas questões,
-ousadia – a ousadia de escancarar o óbvio e procurar efetivamente ser
terapêutico e não fazer uma manutenção da patologia.
Além disso, TEIXEIRA (2006) em seu artigo relata que o profissional da
psicologia vislumbra em seu horizonte de práticas possíveis um cenário
completamente novo criado pela busca de “humanização” da prestação e consumo
de serviços de saúde no SUS. A implantação de práticas de acolhimento, o esforço
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em estabelecer adesão e vínculos entre usuários e os serviços de saúde, cria para o
psicólogo o espaço de exercício de uma escuta qualificada da dor e do sofrimento,
das necessidades e demandas da população que vai aos serviços de saúde.
O que é “Plantão Psicológico”?
De acordo com BARTZ (1997) a palavra plantão segundo o dicionário
significa: horário de serviço escalado para determinado profissional exercer suas
atividades em delegacias, hospitais, etc.; serviço noturno ou em dia ou em horas,
normalmente sem expediente em redações de jornais, hospitais, fábricas, etc.;
plantonista é a pessoa encarregada de tal serviço. A palavra emergência significa:
ação de emergir; nascimento; situação crítica, acontecimento perigoso ou fortuito,
incidente; caso de urgência.
O Plantão Psicológico se destaca como uma modalidade alternativa de
atendimento psicológico, de caráter breve e individual que visa, em uma ou até
quatro sessões, orientar e auxiliar na resolução de dificuldades focadas em questões
emergenciais e que nem sempre precisam de acompanhamento prolongado.
O cliente busca o psicólogo plantonista no momento da crise afetiva, familiar,
profissional ou do sentido do viver; nos distúrbios afetivos, de comportamento,
profissionais em crise ou aposentando-se, distúrbios familiares, de aprendizado,
sexuais, de relações sociais. É útil nos momentos de superação da desestrutura
emocional causada por períodos de doenças, nos distúrbios psicológicos por
estresse, nos momentos de decisão pessoal, separações matrimoniais, lutos e
pânico; pois é um pronto-socorro psicológico para dar sentido à angústia imediata
que emerge em certos momentos da vida; um alívio pontual daquilo que se
apresenta em situações de crise pessoal.
MAHFOUD (1987) enfatiza que o plantão psicológico é um tipo de intervenção
psicológica, que acolhe a pessoa no exato momento de sua necessidade, ajudando-
a a lidar melhor com seus recursos e limites, ‘na medida em que [o plantonista] se
coloca disponível a acolher a experiência do cliente em determinada situação, ao
invés de somente enfocar o seu problema. A expressão plantão está associada a
certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantêm a disposição de
quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos de tempo previamente
determinados e ininterruptos.
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O Plantão Psicológico não tem a pretensão de que em uma única sessão seja
capaz de resolver problemas emocionais ou promover resultados reconstitutivos da
personalidade. Para estes casos, o cliente é encaminhado para uma terapia
contínua, porém, muitos efeitos podem surgir de um encontro focado na solicitação
do cliente, onde tanto o terapeuta como o paciente, esteja por inteiro e acreditando
na tendência ao desenvolvimento. A idéia central desta modalidade de atendimento
é oferecer à pessoa que o procura a possibilidade de ser acolhida e ouvida, pois a
partir desta escuta, questões emergentes poderão ser trabalhadas. Qualquer
questão que venha a incomodar o cliente é uma questão importante. “Ouvir pode
sugerir uma atitude passiva, mas não é. Ouvir implica acompanhar, estar atento,
presente. Presença inteira”. (ROSENTHAL, in Mahfoud, p. 27, 1999)
Salienta FURIGO (2006), trata-se de consenso atual, entre aqueles que têm
se dedicado ao estudo e à sua prática, que o procedimento psicoterapêutico
denominado “Plantão Psicológico” visa trabalhar as demandas urgentes e imediatas
levantadas pelo cliente no momento de tomada de consciência de seu sofrimento
psíquico. Trata-se de um atendimento emergencial, distinguindo-se, portanto, de
uma psicoterapia tradicional, cujas bases e procedimentos caracterizam-se pelo
estabelecimento de contexto específico: atendimento sistemático e de longo ou curto
prazo com vistas a uma integração profunda e permanente da personalidade da
pessoa atendida, quase sempre em momento determinado pelo terapeuta, por meio,
geralmente, da utilização de um agendamento antecipado do início das sessões.
De acordo com SCHMIDT (2004) o Plantão Psicológico é pensado e
praticado, basicamente, como um modo de acolher e responder a demandas por
ajuda psicológica. Isso significa colocar à disposição da clientela que o procura um
tempo e um espaço de escuta abertos à diversidade e à pluralidade dessas
demandas. É necessário, contudo, clarificar os significados que acolher e responder
assumem no Plantão Psicológico. Acolher refere-se, nesse caso, a uma peculiar
atenção para a experiência do cliente no momento em que procura ajuda, que inclui
não apenas o que convencionalmente se entende por queixa, mas o modo como o
cliente vive essa queixa, os recursos subjetivos e do entorno sociopsicológico de
que dispõe para cuidar de seu sofrimento, bem como as expectativas e perspectivas
que se apresentam a partir da busca de auxílio. Responder, por sua vez, associa-se
a explicitação da demanda e seus possíveis desdobramentos de tal forma que, ao
acolher o cliente, está-se, ao mesmo tempo, dando-lhe a oportunidade de se
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posicionar frente àquilo que vive e permitindo ao serviço um posicionamento em
relação àquilo que pode ou não oferecer, no sentido de dar continuidade a um
primeiro contato.
A quem se destina o atendimento do plantão psicológico?
Relata LOPES (2003), que todos nós temos problemas com familiares,
amigos, enfim, com a sociedade, é bom que saibamos de que forma resolver as
dificuldades das relações humanas. De que maneira lidar melhor com nossas
emoções, nossos medos, nossas inseguranças, nossas raivas, sentimentos esses,
muitas vezes, responsáveis pelos transtornos?
O serviço procura sanar diferentes solicitações de ajuda, destinado a pessoas
que buscam um atendimento de apoio emergencial, destina-se a crianças,
adolescentes e adultos e tem como objetivo dar apoio psicológico emergencial e
proporcionar acolhimento em situações de crise como: tomadas de decisão, luto, ou
qualquer outra situação que tire o equilíbrio momentâneo, tais como situações de
perda, crises existenciais específicas e outras situações que impliquem num
desconforto que dificulte o convívio familiar, profissional e social.
Para obter um atendimento, o cliente pode comparecer diretamente no dia do
plantão, pois o espaço é para a pessoa trazer o aspecto que mais lhe interessa
pode ser um mal estar, um desejo de compreender melhor alguma coisa, uma
preocupação com o futuro. Diferente do que ocorre em outros tratamentos como a
terapia, onde cada sessão normalmente tem uma hora, o tempo de duração da
consulta no plantão varia muito, e quando finalizada, o retorno será de acordo com
o interesse do cliente.
Para SANTOS (2005), os atendimentos psicológicos são individuais, com
duração de no máximo uma hora. Este processo possui um caráter de atendimento
breve, com o intuito de orientar e auxiliar na resolução de dificuldades, focando as
questões emergenciais e que nem sempre precisam de acompanhamento
prolongado. Os atendimentos são considerados urgentes quando o cliente se
apresenta de forma descontrolada e com alto nível de ansiedade. Entende-se aqui
por urgência algo que emerge de uma situação crítica. As pessoas que procuram o
plantão estão vivendo questões e problemas que surgiram naquele
momento como
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algo que chegou ao limite e precisa de cuidado, ou ainda estão passando por
mudanças drásticas que os levam a procurar alguma orientação para poder
reencontrar-se com seu equilíbrio anterior.
Quando a pessoa não está psiquiatricamente doente, mas precisando de
ajuda devido a problemas que segundo relata em seu livro, FLAHERTY, CHANNON
e DAVIS (1990) Os tipos de estressores psicossociais:
- Conjugal: Por ex., noivado, casamento, discórdia.
- Parental. Por ex., nascimento de um filho, dificuldades com a criança.
- Ocupacional. Por ex., trabalho, escola, lar.
- Financeiro.
- Legal. Por ex., detenção, julgamento, sentença judicial ou prisão.
- Desenvolvimento. Por ex., puberdade, menopausa.
- Doença física ou ferimento. Por ex., acidente, aborto, cirurgia.
- Fatores familiares. Por ex., Por ex., relacionamento abusivo ou hostil para o
filho (paciente).
- Outros fatores pessoais, problemas com amigos ou doença de amigos.
- Outros fatores psicossociais. Por ex., estupro, enchentes, etc.
Mostrou BARTZ (1997), que embora o plantão seja uma alternativa para
provocar transformações saudáveis nas pessoas que o procuram, levando-as a
conseguir melhora e soluções para suas dificuldades, limites para as
possibilidades de ajuda no plantão, pois, existem muitas situações onde não se
aplica. Por exemplo, nos casos de pessoas em surto psicótico, de neuróticos graves,
em crise aguda, com profundo comprometimento de personalidade; de deficientes
mentais; de deficientes da fala ou auditivos (surdos-mudos); de pessoas com
seqüelas de doenças graves, como AVC ou outras, cujas lesões ou perturbações
não permitem o fluxo das capacidades básicas que o plantão necessita - a fala, o
raciocínio, a criatividade, etc. Ainda assim, mesmo não atendendo diretamente, o
plantão pode aplicar-se no sentido de orientar os acompanhantes ou responsáveis,
em direção aos tratamentos adequados e viáveis para os casos em questão.
Objetivo do Plantão Psicológico
O objetivo do atendimento plantão psicológico é a prevenção em saúde
mental que consiste em diminuir o aparecimento dos transtornos mentais. A
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prevenção baseia-se nos princípios de saúde pública, sendo dividida em primária,
secundária e terciária. O objetivo da prevenção primária é evitar o aparecimento de
uma doença ou transtorno mental, reduzindo, assim, sua incidência.
O psicólogo oferece uma escuta significativa que, compartilha o problema
enfrentado, permitindo que a pessoa se reorganize, vislumbre alternativas, tome
(novas) iniciativas; ou seja, o fique presa ao seu problema, não reduza toda a sua
vida àquele problema.
LOPES (2003) destaca:
Quando a mente humana não encontra soluções para seus
conflitos, tem como fuga das energias psíquicas, os sintomas
de ansiedade, fobias, somatizações, etc. Acredito que, caso a
mente esteja saudável, em paz e equilibrada, o “gatilho” não é
acionado, ou seja, se estou bem comigo mesmo, com minhas
emoções e com as relações sociais, o surgimento de muitos
transtornos e psicopatologias se restringe, e muito, porque,
para que um transtorno se manifeste, é necessário, em
princípio, que vários fatores estejam agindo em conjunto, mas
o aspecto emocional é vital para o aparecimento das
doenças.
O plantão consiste em um atendimento focado no problema apresentado que
pode durar mais de um atendimento, e é encerrado quando a pessoa se considera
satisfeita com a ajuda dada ao seu problema, sente-se mais tranqüila com relação à
dificuldade emergente.
Consideram LACERDA, GUZZO e LOBO (2005), que a prevenção enquanto
modelo de trabalho, originou-se na saúde pública e foi organizada em três níveis
(Goldston, 1980):
-Prevenção Primária ações dirigidas a grupos amplos, tomadas antes de uma
doença se estabelecer e possuem um caráter educativo maior do que os outros
níveis;
-Prevenção secundária ocorre após a identificação de fatores de risco e busca
evitar que o problema se torne crônico, por meio de diagnóstico e intervenção
precoces;
- Prevenção terciária o mais específico de todos os níveis e busca reabilitar ou
minimizar os efeitos de uma doença já instalada.
Enfatizam Durlak e Wells (1997) que a prevenção primária é uma “intervenção
intencionalmente designada a reduzir a futura incidência de problemas de
ajustamento em populações normais, assim como a promoção do funcionamento
mental saudável”.
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Deve-se notar que esta diferenciação é parecida com a diferenciação feita
pelo Instituto de Medicina dos EUA para intervenções na saúde mental (Muñoz,
Mzarek & Haggerty, 1996), em que são introduzidos os seguintes conceitos:
- Prevenção – intervenção antes do início de uma desordem psicológica;
-Tratamento identificação de casos e disponibilização de serviços de saúde
mental;
-Manutenção ações que buscam minimizar danos e oferecer serviços de
reabilitação, após a desordem se instalar.
Albee (1996), define desordem mental como desajustamentos aprendidos,
socialmente adquiridos, ligados às experiências estressoras que resultam em
comportamentos desaprovados socialmente. Esta concepção liga-se a duas
produções anteriores do autor. A primeira é uma revisão bibliográfica produzida em
co-autoria com Kessler que é finalizada com a seguinte consideração: “Em cada
lugar que olhamos e cada pesquisa examinada sugeriram que as maiores fontes de
pressão/tensão e angústia humana geralmente envolvem alguma forma de poder
excessivo” (Kessler & Albee, 1980).
A partir desta conclusão, Albee (1981) considera inaceitável procurar
deficiências internas ao indivíduo quando existem situações em que evidências
de fontes de opressão. O que, para autor, conduz à necessidade de adotar um
modelo de aprendizagem social, posteriormente, expresso na seguinte fórmula
(Albee, 1984):
Esta rmula aparece com a convicção de que esforços de prevenção,
quando separados da ação política e da busca por igualdade social, dissociavam-se
dos questionamentos que levaram à constituição dos movimentos prevencionistas.
Assim, o seu principal objetivo é proporcionar auxílio rápido e eficaz às
pessoas com dificuldades emocionais e psicológicas.
O encontro com o terapeuta pode ocorrer no período de uma hora ou, quando
necessário, se estender um pouco mais, além de não exigir retorno. casos em
que o sujeito pode sentir a necessidade de novos encontros, que podem ocorrer sob
13
esta mesma modalidade plantão psicológico –, ou com o engajamento em um
processo psicoterapêutico clínico convencional.
O modelo de Plantão Psicológico proposto em várias instituições no país
assemelha-se ao plantão médico, onde o serviço disponibiliza um psicólogo em
determinados dias e horários no lugar definido a fim de que o sujeito possa
comparecer e fazer uso de sua escuta empática possibilitando o autoconhecimento,
a avaliação de possibilidades de lidar com suas próprias dificuldades e desenvolver
recursos internos para o enfrentamento de situações futuras.
Ressalta PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007) o atendimento no
serviço ocorre em três fases:
- Primeira sessão - Acolhimento da demanda, numa entrevista inicial, para detecção
da queixa e dos elementos trazidos pelo paciente.
- Acompanhamento - Processo de intervenções de tempo limitado, com um limite
máximo de três sessões.
- Desfecho - Momento de encerramento do processo, que poderá resultar no
encaminhamento a outras instâncias internas ou externas.
Nas palavras de SCHMIDT (1999), o Plantão Psicológico "está estruturado
para que o cliente seja acolhido por um espaço de escuta qualificada, no momento
mesmo em que procura auxílio. Este acolhimento exige a priorização da entrevista
psicológica (...). Esta entrevista não é pensada como triagem (...) mas como espaço
propício à elaboração da experiência do cliente no que diz respeito ao sofrimento
psíquico que ele porta e às possibilidades ou vislumbres de ajuda que ele concebe.
Assim, a entrevista de Plantão visa facilitar que o cliente clarifique a natureza de seu
sofrimento e de sua demanda por ajuda."
CHAVENSA e HENRIQUES (2008) se referem que o Plantão Psicológico é
um tipo de intervenção psicológica que acolhe a pessoa no exato momento de sua
necessidade, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e limites. O ser humano
de nossos dias vem vivendo uma realidade que, progressivamente e quase que
inevitavelmente, causa-lhe um estado de tensão, de desgaste de seu organismo
como um todo. Os estados de depressão, de pânico, estresse, angústia,
insegurança, medo, ansiedade e tantos outros produzidos pelo modo de vida de
nossas cidades e grupos sociais vêm se mostrando, a cada dia, mais intensos e
freqüentes.
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CARNEIRO (2008) cita que as pessoas que passaram por uma experiência
traumática (perda de um ente querido, abuso sexual, seqüestro, assalto, catástrofe)
têm risco aumentado para uma série de sintomas e doenças, como ansiedade,
depressão, transtorno de estresse agudo e pós-traumático, síndrome do pânico,
insônia, distúrbios alimentares, enxaquecas, dores inespecíficas, problemas de pele,
distúrbios gastrintestinais, oscilações de pressão, desmaios, abuso de álcool/drogas.
ainda a terrível sensação de não estar seguro, de que o mundo é um lugar muito
perigoso e incontrolável, que as pessoas não são dignas de confiança, levando ao
retraimento social, problemas no trabalho e conflitos familiares, podendo evoluir
inclusive para o suicídio.
Para MAHFOUD in ROSENBERG (1987) este serviço é um tipo de
intervenção psicológica, que acolhe a pessoa no exato momento de sua
necessidade, ajudando-a a lidar melhor com seus recursos e limites, ‘na medida em
que [o plantonista] se coloca disponível a acolher a experiência do cliente em
determinada situação, ao invés de enfocar o seu problema [...] A expressão plantão
está associada a certo tipo de serviço, exercido por profissionais que se mantêm à
disposição de quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos de tempo
previamente determinados e ininterruptos.
MAHFOUD (1987) descreve este tipo de trabalho como uma forma de atender
uma gama bastante ampla de demandas, pois o foco é definido a partir do
referencial do cliente, pelo acolhimento da sua experiência. O profissional responde
ao cliente no momento presente da situação do encontro. O trabalho do psicólogo
consiste em facilitar ao cliente uma visão mais clara de si mesmo e de suas
possibilidades, estabelecendo a sua forma de enfrentar a problemática.
FRANCHETI (2009) dentre as poucas certezas que a vida nos proporciona,
uma das que tenho certeza, tanto na minha vida pessoal quanto profissional, é que
“em qualquer situação de desequilíbrio, de descontrole, de crise de uma pessoa, o
que ela busca primeiramente é encontrar outra pessoa. Alguém com quem possa
estabelecer um contato real, profundo, acolhedor. Uma mão estendida com a qual
possa dividir o peso de sua carga, possivelmente demasiado pesada para ser
carregada apenas por ela naquele momento. O mais importante ali, naquele
instante, é a possibilidade da pessoa que busca ajuda se sentir acompanhado, sair
de um ‘estar só”. O trabalho no Plantão Psicológico se caracteriza pela ênfase no
atendimento imediato, ou seja, numa terapia em busca de soluções (aqui - agora) e
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orientada para o futuro no sentido de satisfazer a(s) necessidade(s) da pessoa que
procura o serviço. Assim, o serviço do plantão psicológico proporciona ao cliente:
-Ajuda no reconhecimento de problemas ou conflitos ainda não identificados;
-Ajuda na busca de soluções à problemática apresentada;
-Apoio em situação de isolamento social, “não ter com quem compartilhar”;
-Orientação e esclarecimento sobre as emoções e afetos humanos.
De acordo com PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007) os mesmos
relatam que o plantão psicológico, tem se mostrado uma tentativa de integração
dessas duas necessidades: a formação e o atendimento à população. Mahfoud
(1987) define plantão como “... certo tipo de serviço, exercido por profissionais que
se mantêm a disposição de quaisquer pessoas que deles necessitem, em períodos
de tempo previamente determinados e ininterruptos" (Mahfoud, 1987, p.75).
Segundo o autor, a intervenção psicológica em "plantão" apresenta características
específicas para cada um dos envolvidos e, por isso, é citada como "a vivência de
um desafio", dada a sua complexidade. De maneira resumida, o plantão se
caracteriza por três pontos de vista: o da instituição, da qual se exigem a
sistematização dos serviços, com a organização e o planejamento do espaço físico,
os recursos disponíveis (humanos ou materiais, rede de apoio externo e outros); o
do profissional, cuja exigência se refere à "disponibilidade" ao novo, ao não
planejado, ao inusitado, à possibilidade de acolher a demanda daquele que o
procura, e o do cliente, que constitui uma referência, um porto seguro para a sua
necessidade (Mahfoud, 1987).
Como utilizar este serviço?
A sugestão é que o atendimento seria todos os dias por um período de 24
horas ininterruptas e o cliente procuraria diretamente as Unidades Municipais de
Saúde 24 horas como Pinheirinho, Boqueirão, Cajuru, Boa Vista, CIC, Sitio Cercado,
Campo Comprido, Albert Sabin (Fazendinha) não sendo necessário marcar horário
previamente.
Políticas de saúde mental e o Plantão Psicológico
LEI 8.080, DE 19 DE SETEMBRO DE 1990. Dispõe sobre as condições
para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o
16
funcionamento dos serviços correspondentes e outras providências. CAPÍTULO
II. Dos Princípios e Diretrizes. Art. As ações e serviços públicos de saúde e os
serviços privados contratados ou conveniados que integram o Sistema Único de
Saúde (SUS), são desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198
da Constituição Federal, obedecendo ainda aos seguintes princípios:
I - universalidade de acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de
assistência;
II - integralidade de assistência, entendida como conjunto articulado e contínuo das
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada
caso em todos os níveis de complexidade do sistema;
Como FURIGO (2006) considera que o como modelo de intervenção utilizado
desponta como uma grande esperança de agilização e dinamização dos serviços
clínicos prestados pela Psicologia, vindo a contribuir com uma gama maior de
recursos que esta Ciência pode colocar a serviço de quem dela precisa dentro da
área de saúde.
Segundo PAPARELLI e NOGUEIRA-MARTINS (2007):
A tríade saúde mental X Psicologia X saúde pública sugere a
necessidade de ampliar a esfera do trabalho psicológico, não como
uma prática coercitiva e de controle, para a qual só se retorna quando
todas as demais práticas falharam. É função do psicólogo
humanizar sua prática, desfazer sua imagem estereotipada,
esclarecer e divulgar seu trabalho e, com isso, favorecer o
rompimento do preconceito. Da mesma forma, é sua função
desmitificar a doença mental e ampliar a visão da saúde mental. Para
isso, o psicólogo que buscar e sanar suas deficiências teóricas e
técnicas na atuação e prática diária do profissional, repensando-as.
Esse movimento de questionamentos dos serviços em saúde mental, que
colocam em xeque as “intervenções terapêuticas”, tendo como foco a luta contra
toda e qualquer forma de opressão e massificação subjetiva, transformando os
próprios saberes e práticas dos profissionais.
Segundo SANT'ANNA e BRITO (2006) somente no culo XX, surgiram na
Itália um movimento de demolição do aparato manicomial que extinguia o modo
violento e humilhante de tratar os internos, voltado para a construção de novos
espaços e formas de lidar com a loucura. Liderado por Franco Basaglia, esse
movimento originou mudanças polêmicas e gerou iniciativas similares em outros
países. No Brasil, as idéias de Basaglia inspiraram o movimento dos trabalhadores
17
em saúde mental, em 1978, o Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado, nos anos
80, e, após onze anos tramitando na Câmara, a Lei Federal nº10. 216/01, de abril de
2001. Conhecida como lei antimanicomial, essa legislação tem como objetivo
redirecionar o modelo de assistência psiquiátrica brasileiro visando a garantir aos
internos em instituições de saúde mental, melhores condições de saúde, além de
direitos de cidadania (Santos et al., 2000).
A Lei prevê a proteção dos indivíduos “[...] acometidos de transtorno mental”
(Lei 10. 216/01, art.1); são seus direitos: terem acesso ao melhor sistema de
saúde, serem tratados com humanidade e respeito “[...] visando a alcançar sua
recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade (Lei
10.216/01, art.2, parágrafo único). No entanto, as mudanças na concepção da
profissão de psicólogo, nas últimas décadas, geraram uma ampliação das áreas e
das maneiras de atuar de psicólogos em diversas instâncias, o que acarreta uma
diversidade de definições possíveis sobre o papel do psicólogo na sociedade (Bock,
1993).
A Organização Mundial da Saúde (1948) é uma agência especializada em
saúde e subordinada à Organização das Nações Unidas. Segundo sua constituição,
a OMS tem por objetivo desenvolver ao ximo possível o nível de saúde de todos
os povos. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a saúde é definida nesse
mesmo documento como um “ estado de completo bem-estar físico, mental e social
e não consistindo somente da ausência de uma doença ou enfermidade”.
FURIGO (2006) relata que os profissionais de saúde, comprometidos com a
questão da saúde mental, precisam reconhecer seu papel político, e exercitar a
análise e critica da realidade. A demanda por cuidados de saúde nem sempre é
explicita. Uma das formas subjetivas de expressão dessa demanda é a procura
pelas receitas. De acordo com Zieguelmann (2005) é cultural o fato de quando a
pessoa não se sente bem, procurar remédios. A tendência de medicalização da
sociedade é fomentada pela indústria farmacêutica e geralmente transforma os
temas psicológicos em temas somáticos, atribuindo a “problemas dos nervos”. Estes
problemas aparentemente se resolvem nas consultas pidas e se encaixam com o
desejo da pessoa em resolver “magicamente” as ansiedades e as dificuldades
emocionais sem confrontá-las abertamente. Prossegue, afirmando que essa
medicalização acaba por “entorpecer” os problemas sociais e psicológicos da
população.
18
Finalmente, devemos entender que a realidade que clama por intervenção
humana além da cnica e política imediata e da qual não podemos nos desviar,
refere-se ao fato de que em inúmeras regiões brasileiras não são mais as
doenças infecciosas os maiores problemas sanitários. As doenças crônico-
degenerativas e as mentais representam o maior fardo social e econômico, segundo
os estudos da Organização Mundial de Saúde (ZIEGELMANN,205).
Num país com a dimensão, a diversidade e as características
socioeconômicas do Brasil, não se pode esperar uma resposta homogênea e
uniforme aos inúmeros e variados problemas de saúde mental.
Serviços disponiveis para a comunidade
Como exemplo de um trabalho existente hoje em Curitiba, temos o Centro de
Valorização a Vida (CVV) que é um programa de prevenção do suicídio que valoriza
a vida, pois atende pessoas oferecendo apoio emocional em momentos difíceis,
facilitando o desabafo e aliviando o sofrimento, com a finalidade de neutralizar idéias
autodestrutivas e prevenir o suicídio. A entidade está espalhada por todo Brasil e no ano
passado, o CVV recebeu 1.120.226 ligações em todo o território nacional
Além desta ação de Atendimento via telefone, 24 horas por dia, o Plantão
Psicológico seria uma conquista para a população e para os profissionais da área,
tendo em vista que o atendimento com o psicólogo aconteceria pessoalmente.
O filme “A ponte” Golden Gate (2006) é um documentário que nos mostra que
a “ponte” corta a baía de São Francisco, um dos maiores pontos turísticos dos EUA.
O que poucos sabem é que o local não atrai somente turistas, mas também suicidas.
Em 2004, Eric Steel e sua equipe filmou dois pontos da ponte, durante o dia,
registrando os últimos momentos de mais de vinte pessoas e impedindo mais
algumas de cometer suicídio. O filme também conta com depoimentos de amigos e
familiares dessas pessoas. Palavras de um rapaz que presenciou sobre o suicídio
de uma pessoa “pensei em como aquela pessoa estava se sentindo, no grau mais
baixo de todos com a sua vida, obviamente”. Outro relato “O que leva alguém a
ultrapassar os limites? É como uma dor qualquer, quando se torna insuportável...
fazemos qualquer coisa... você sabe ninguém saberia pelo que estaria passando”.
Suicídio é um ato consciente de aniquilação auto-induzida, o suicídio
representa a saída para um problema que está causando um intenso sofrimento.
19
Associado ao sofrimento a pessoa encontra necessidades frustradas ou não
satisfeitas, sentimentos de desesperança, desamparo e impotência, um estresse
insuportável, um estreitamento nas opções percebidas pelo paciente e um desejo de
fuga.
O suicídio é composto de três fatores que predispõe o ato, e um gatilho que
desencadeia a ação e este gatilho é a idéia de que a dor da situação atual cessa
terminando com a própria vida. Os fatores que envolvem o ódio de si mesmo,
devido à culpa ou baixa auto-estima; um estado de agitação, no qual o paciente está
tenso e não consegue pensar com clareza; e a limitação das forças intelectuais, ou
percepção estreitada, de tal forma que o indivíduo não consegue pensar mais além
da situação imediata. A maneira de tentar reverter este quadro envolve reduzir a dor
psicológica modificando o ambiente estressante; construir um apoio realista,
reconhecendo que o paciente pode ter uma queixa legítima.
Em seu dossiê “Morte Voluntária”, CARDOSO (2009) relata que cerca de 1
milhão de pessoas morrem por ano em decorrência do suicídio. Ou seja, perde-se
mais vida com suicídio anualmente do que em todas as guerras e homicídios no
mundo. Ainda segundo a OMS, se a prevenção não passar a ser encarada
seriamente, esta fatalidade pode chegar a 1,5 milhões em 2020 e de 10 a 20 vezes
mais em termos de tentativas.
Para OUTEIRAL mais suicídios no mundo do que imaginamos, mas não
são suicídios parciais. Muita gente destrói “as mais belas porções de si mesmo”, e
não sua vida. Eis tudo. O homem que põe termo à vida não é culpado de
deformação própria. Destruir-se por inteiro, de um golpe, é respeitar mais seu
imortal do que seria mutilá-lo em vida, das suas mais nobres faculdades e
aspirações. “G.Flaubert (1821-1880).
Encaminhamento
O plantonista, baseado em seu conhecimento profissional, sabe que tipo de
tratamento o cliente necessita, sugerindo a atividade adequada, que poderá ser
psicoterapia, orientação vocacional e profissional, cursos, ou mesmo a utilização de
serviços de outros profissionais ou públicos. Em geral, as pessoas são
encaminhadas de acordo com suas necessidades, na medida em que, o plantão
possui nos seus arquivos conhecimento de diversos serviços oferecidos à
20
comunidade, como por exemplo: proteção policial da Delegacia da Mulher;
atendimento social do SESC, oferecendo cursos e vivências para idades
específicas, como terceira idade, adolescentes; ajuda institucional de associações
para tratamento de Drogadição, como Alcoólatras Anônimos; SOS Criança;
Defensoria Pública; Juizado de Pequenas Causas, etc. Enquanto isto não acontece,
o plantonista continua acompanhando a pessoa, coordenando o início das
providências e tratamentos planejados.
Segundo BARTZ (1997) muito embora os termos encaminhamento e triagem
sejam usados juntos, quase como sinônimos, há diferenças entre encaminhar e triar.
Triagem significa seleção, escolha ou separação e a palavra encaminhamento guiar,
dirigir, mostrar um caminho, conduzir pelos meios competentes. Difere da conotação
que obteve nos meios públicos institucionais, onde significava ser sucessivamente
"mandado embora", com uma guia impressa na mão, para outro profissional que
provavelmente não poderia atender, onde muitas vezes a pessoa encaminhada não
conseguia chegar ao destino pelas mais variadas razões, ou seja, por não ter
encontrado o endereço, por não haverem vagas e apor não gostar e confiar no
profissional recomendado. Para que o encaminhamento aconteça satisfatoriamente
é preciso que muitas questões sejam detalhadamente observadas. O sentido de o
termo encaminhar nos plantões é o de colocar o cliente em atendimentos ou
atividades adequadas, que possam promover desenvolvimento, solucionar ou
amenizar seus problemas ou dificuldades.
Considerações finais
Considero importante que o “Plantão Psicológico” torne-se uma prática em
expansão, uma tentativa de alcançar um maior número de pessoas em
atendimentos psicológicos clínicos. Este modelo de Intervenção é uma grande
esperança de agilização e dinamização dos serviços clínicos prestados pela
Psicologia, vindo a contribuir com uma gama maior de recursos que esta Ciência
pode colocar a serviço de quem dela precisa dentro da área da Saúde.
A proposta
não é de um serviço para “emergências psiquiátricas”, mas sim como um serviço de
acolhida e amparo, recebendo a pessoa no momento que apresentam algum tipo de
sofrimento psicossocial, fornecendo escuta, aceitação e empatia, sem que
necessariamente a intensidade desta dificuldade tivesse atingido um ponto crítico
21
que representasse ameaça iminente à sua integridade ou a de outros. Desta forma,
objetiva promover ao cliente sentido e significado as suas vivências face às crises
que enfrenta em sua vida.
O cliente poderá procurar o plantão sempre que surgir uma nova e diferente
demanda, porém é necessário que as pessoas saibam da existência e da
disponibilidade desse serviço. Observa-se uma enorme demanda reprimida:
pessoas que passaram por algum evento traumático e continuam sofrendo, achando
simplesmente que isso é normal. E vão reduzindo suas vidas cada vez mais, reféns
do medo, da insônia, da depressão e de uma série de outros sintomas e doenças.
Devemos trabalhar na prevenção e nela concentrar nossos esforços, pois uma vez
instalada a doença, ela pode tornar-se crônica e de difícil controle, causando
diversos danos secundários. É menos dispendioso em termos econômicos e
emocionais colocar profissionais de prevenção (antes e durante a ocorrência) em
campo do que tratar doenças/comportamentos desadaptativos instalados.
Cabe ao poder público o compromisso e a responsabilidade de implantar, no
âmbito do Sistema Único de Saúde, uma política de saúde mental
que possa
garantir a população o serviço de Plantão Psicológico nas Unidade de Saúde 24
horas. Por essa razão, sempre respeitando a complexidade do sofrimento mental e
das formas de se lidar com ele, é preciso pensar em soluções que possam ser
abrangentes e multiplicadas.
Este estudo é para conscientizar a população e autoridades a respeito da
necessidade de se implantar este serviço de atendimento permanente às pessoas
portadoras de sofrimento psíquico. Finalizando, vale acrescentar que negar os
problemas ou fugir de nossa responsabilidade sobre eles não é indicador de saúde.
E o que é mais importante: poder constatar que não estamos sozinhos.
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Filme
A PONTE. Título Original: The Bridge. Gênero: Documentário. Tempo de Duração:
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www.thebridge-
23
themovie.com. Estúdio: First Stripe Productions / RCA / Easy There Tiger
Productions. Distribuição: IFC Films . Direção: Eric Steel. Produção: Eric Steel.
Música: Alex Heffes. Fotografia: Peter Baldwin e Peter McCandless.Edição: Sabine
Krayenbühl
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e tratamento: trad. De Dayse Batista – Porto Alegre: Artes Médicas, 1990, pg19.
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Psicológico: Uma perspectiva que se amplia", realizada em 04/09/2002, pela equipe
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http://creativecommons.org/choose/results-
<
a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/"><img alt="Creative Commons License" style="border-
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Vieira</span> is licensed under a <a rel="license" href="http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/">Creative Commons
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