A CORPOREIDADE NA ESCOLA: Brincadeiras, jogos e desenhos
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Se observarmos a criança num berço, notaremos que ela não
vê os brinquedos que lhe são oferecidos prematuramente. Ela brinca
com os dedos, mexendo uns após os outros, cruza, puxa os da mão
esquerda com a mão direita, olha para a mão. Aproximadamente até
os três meses, ela brinca quase exclusivamente com os dedos,
cabelos, orelhas. A partir daí começa a ter interesse pelo mundo
exterior, descobre agora o corpo da mãe, passa-lhe a mão pelo rosto,
puxa-lhe os cabelos, enfia-lhe os dedos nos olhos e nariz. Os
acessórios da roupa da mãe despertam-lhe a curiosidade.
À medida que a criança amplia suas experiências, o seu corpo
já não lhe basta, e aparece, então, o primeiro brinquedo. Através das
brincadeiras e jogos, constrói esquemas motores, exercita-se os
repetindo, integra-os a novos tipos de comportamentos, avança em
novas descobertas. No entanto, como nos lembra Chateau (1987, p.
82) que:
(...) barbante, vara, traço são símbolos menos carregados de
sentido do que o corpo: com o seu corpo a criança pode
representar um mundo de objetos. Em primeiro lugar, seres
humanos, evidentemente; também seres vivos, coelhos, ursos,
etc. Até objetos inanimados (...).
Os adultos, na maioria das vezes, não reconhecem a
importância da brincadeira infantil, que é vista como um mero
passatempo, destituída de significação. No entanto, na Carta dos
Direitos da Criança, está escrito O direito de brincar, justamente
porque, como nos demonstram vários especialistas, é através das
brincadeiras que ela busca entender o mundo: por exemplo,
Bettelheim (1983, p. 142) nos lembra que ao brincar imitando os
adultos, a criança tenta compreendê-los.
Através de uma brincadeira de criança, podemos
compreender como ela vê e constrói o mundo - o que ela
gostaria que ele fosse quais as suas preocupações e que
problemas a estão assediando. Pela brincadeira, ela expressa
o que teria dificuldade de colocar em palavras. Nenhuma
criança brinca espontaneamente só para passar o tempo, se
bem que os adultos que a observam possam pensar assim.
Mesmo quando entre numa brincadeira, em parte para
preencher momentos vazios, sua escolha é motivada por