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A ENFERMAGEM NO
SISTEMA PENITENCIÁRIO
José Ricardo Camargo Xavier
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A ENFERMAGEM
NO SISTEMA PENITENCIÁRIO
Por Dr. José Ricardo Camargo Xavier
Enfermeiro Especialista em Saúde Pública, Administração de
Serviços de Saúde,
UTI - Unidade de Terapia Intensiva
Nefrologia
Doenças Infecto - Contagiosas,
Traumatismos Raquimedulares,
Auditorias, Analises e Gestão de Riscos de Saúde, Home Care
Internação Domiciliar
Auditoria Ambiental
entre outras Especializações.
Em 30 anos de atividades profissionais
Compilação de dados e fatos no período de 1990 a
2004
2
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Dedico este trabalho e conhecimento à minhas
Filhas: Alyne, Daniele, Michele, e minha neta...
Gabriele, que sempre foram à razão de meu
empenho em saber e querer viver com sabedoria,
conhecimento e honestidade.
Em especial,
Aos meus Pais, que com dedicação,
honestidade e desprendimento, mantiveram a
missão de repassar os conhecimentos por eles
adquiridos e sofridos a todos os seus filhos.
A minha esposa, que com amor, paixão, paciência e
dedicação, me aturou neste tempo de provação.
.
3
Prefácio
Ao escrever este livro, o autor procurou, com relatos
sinceros, às vezes impressionantes, preencher uma
lacuna no campo editorial, pois é inédita no mundo
uma referência sobre a temática por ele elaborada.
Procura assim, com fatos corriqueiros no ambiente
escolhido, ou seja, no Sistema Penitenciário, que
muito embora sejam, às vezes, explorados pela mídia,
não chegam, todavia esta, apresentar um cunho
verdadeiro e detalhado, pois sabemos que certos
acontecimentos são sempre motivos de censura e não
condizem com os objetivos dos veículos de
comunicação.
Nestas condições o autor neste livro, relata fatos que,
se são ignorados pelos homens responsáveis por
aquele setor, não deixam de ser importantes no
cenário deste Enfermeiro - profissional gabaritado
que trás com minúcias, momentos vividos por ele
próprio, dentro do ambiente, muitas vezes com risco
de, não só sofrer represálias, como até podendo ser
atacado, colocando em jogo a própria vida, como de
fato o foi.
Percebe-se que durante o longo período em que o
autor serviu e serve no ambiente penitenciário como
Enfermeiro, fazendo muitas vezes o papel de médico
ou Doutor como particularmente são estes
profissionais chamados pelos detentos, ora merecido.
Onde observam a falta que se faria de uma descrição
mais detalhada, do que acontece ou pode acontecer
àqueles dedicados funcionários, que profissionais
4
como são, arriscam sua integridade física, mental e
moral para atender àqueles infelizes que cumprem
penas por erros cometidos.
Como relata o próprio autor, seu objetivo não é
agredir ou denegrir pessoas ou instituições, mas
trazer aos interessados em seguir a profissão de
Enfermeiro no Sistema Penitenciário, um relato
completo e verdadeiro, vivido em sua própria carne,
aos seus colegas de Enfermagem, quando
adentrarem ao interior de uma instituição prisional.
Pois são fatos que são comentados detalhadamente,
por segurança e que, naturalmente, venham
parecerem absurdos se reproduzidos na mídia
sensacionalista que é diariamente apresentada em
nossa imprensa escrita, falada e televisionada.
É um compilado de observações e instruções úteis e
necessárias que vem, portanto preencher aquela
lacuna que referimos no início deste prefácio.
Sinto-me honrado pela lembrança do autor e amigo
que me convidou para prefaciar este trabalho, que
me foi de grande importância e valia diante do papel
público que exerço.
Parabéns ao Amigo.
SALVADOR KHURIYEH
Deputado Estadual
07 de junho de 2002.
5
Comentário do Autor:
Este livro não tem a intenção de
agredir ou de denegrir nenhuma pessoa ou
imagens das Instituições aqui relatadas, mas de
refletir o que realmente se passa no interior
destas instituições, que são mantidas pela
população recolhendo seus impostos, querendo
ver as verbas enviadas ao Estado; dinheiro este
recebido ser aplicado de forma correta e em
situações que sabemos serem de utilidade
pública, como manda a lei. Utopia da vontade
popular.
Também não tenho a
pretensão política de se ver estes dados serem
aproveitados para qualquer destes fins ou desta
natureza, até porque já sabemos destes fatos
pelos meios de comunicação e já se tornou até
um pouco maçante e poucos querem na verdade
discuti-los, pelo simples fato de preocupações
de outras origens são mais patentes e vertentes
para a nossa população já tão descrente do que
aí esta.
6
Os fatos aqui narrados são
verdadeiros e facilmente apurados se assim o
quiserem as autoridades constituídas, pois têm
eles todos os documentos em mãos bem
guardadas e seus respectivos responsáveis
sabem onde estão.
Minha primária intenção o que
pode e deve ser sentida ao discorrer na leitura,é
apenas levar e esclarecer através destas
informações, nossos colegas de Enfermagem, e
quem mais se interessar, o que enfrentarão ao
adentrarem o interior de uma instituição
prisional de qualquer nível de segurança, seus
meandros e fatos que não devem ser
comentados, por “origem de segurança” ou por
serem absurdos e ilegais se forem reproduzidos,
passível de punição administrativa e coercitiva,
o que me reservo o direito de deixá-los bem
guardados para minha segurança pessoal.
Espero que possa este compilado
servir de alguma maneira aos fins propostos,
que é de apenas servir de informativo.
O autor
7
Nós Enfermeiros e os outros
A equipe de enfermagem, que em
nível estrutural é formada por atendentes de
enfermagem, auxiliares de enfermagem,
técnicos de enfermagem, estes, em nível de
segundo graus.
E, em nível universitário, teremos
o enfermeiro (a), que em sua grande maioria
aloja-se nos Hospitais e Clinicas, sendo
assalariados; ou atuando como autônomos -
profissionais liberais que o são, e enfrentando o
mercado de trabalho competitivo com suas
próprias forças e dedicação, em Clínicas de
Home Care, Consultórios ou afins.
8
Há profissionais de enfermagem
que desempenham as suas funções fora deste
nível de atuação, e optam por outros caminhos,
entre eles o serviço público e no que nos
interessa no momento, o trabalho destes
profissionais no Sistema Prisional.
Por uma questão própria de ser do
sistema prisional, são parcos os profissionais de
enfermagem que lá estão a desenvolver suas
atividades, e quando as instituições os têm, são
em poucos funcionários, que são
sobrecarregados, negligenciados tanto em nível
de atitudes e de função como enquanto pessoas,
pois o sistema como um todo está viciado em
atos desta natureza agressiva de ser.
Para a grande maioria dos
funcionários do sistema prisional, profissional
de enfermagem não passa de um fazedor de
curativos e um aplicador de injeções, isso por
ignorar as atividades e os conhecimentos
específicos e gerais de quem trabalha nesta
área, lidando com a vida humana e suas
nuances.
E não há interesse destes em conhecer.
Desconsideram completamente e
comumente, até a pessoa humana que exerce a
função de enfermeiro (a), fato este que
tentamos tornar o menos agressivo possível. É
difícil.
Lamentável esta ignorância
proposital por parte de pessoas que certamente
um dia, precisaram de cuidados e seremos nós,
a equipe de enfermagem, que estaremos lá.
Não raro ver que, apesar dos
esforços de encaminhar ou buscar soluções
9
dentro dos recursos físicos e humanos
disponíveis, por parte dos colegas de profissão,
Enfermeiros, existe a manipulação de atos a se
subestimar condutas e procedimentos, levando-
se em conta os interesses “maiores” que regem
a área de segurança. Isto não parte de uma área
isolada, mas do sistema como um todo e de
seus profissionais, cada um achando que sua
função não pode ser diminuída por qualquer um
que não faça parte do “esquema deles”, isto
salvo um ou outro colega de trabalho mais
lúcido e inteligente.
Apesar das dificuldades
enfrentadas, é com a paciência que nos
forjamos nesta particularidade e que mostramos
com técnicas e atos objetivos direcionados ao
bem comum, apesar de fazê-lo em um ambiente
“medieval” tanto em nível de mentalidades da
população alvo e outros que se deixam
contaminar os funcionários, quanto de toda a
estrutura que nos rodeiam, e tornamos e
buscamos os parcos recursos materiais e os
escassos medicamentos, às vezes ao extremo,
em algo que possa ser utilizado, como leva-los
nós mesmos a servir a população alvo e estes
desafetos gratuitos. Não somos como eles.
Inexistentes e/ou subestimados
estes recursos, em nível amplo e estrito,
tentando transformar o que é um local para a
guarda de reclusos em um reservatório de
novas idéias no trato com esta população
específica, que bem sabemos não recupera
ninguém, ao contrário, vê,
degenera o que resta de humano em todos.
10
Qualquer indivíduo que trabalha
no sistema é transformado em semi irracional
pois há o resgate de instintos escondidos e
reservados em cada um de nós, fato este que a
psiquiatria explica com propriedade.
Sendo o sistema prisional um
refugo animalesco da ação e reação sem
raciocínios lógicos, e se o fazem são para
interesses próprios, em tom individualista, não
há de ter um objetivo de recuperar ou conduzir
a melhoras, mas de servir de manipulação de
poderes, quais estes mandatários conhecem
bem.
Neste espaço a narrativa pode ser
em tom mais contundente, mas são pontos de
partida verdadeiros, pois existe o menosprezo
dos ASPs agentes de seguranças
penitenciários, e dos internos, nossa população
alvo, e uns pelos outros, o que já irá criar um
clima belicoso, um sendo inimigo do outro
apesar dos esforços para ser ao contrário, em
seu início de trabalho, de ambos os lados. E nós
estamos no meio disso.
Há um estudo pormenorizado das
atitudes como se estivessem em um campo de
batalha, havendo espiões de ambos os lados,
inclusive os infiltrados, conforme as ofertas e
vantagens oferecidas, materialmente, claro.
E não poderia deixar de nos
atingir, pois lá também estamos, e com certeza
atingem todos que lá trabalham, afetando de
uma forma ou de outra a postura mental,
intelectual e social que carregamos - reflexo
das vontades escusas e inconseqüentes.
11
Os profissionais da área da saúde,
não por acaso, são forjados a saber entender as
razões que movem determinadas atitudes, em
especial quando afeta e nos é mostrado ou
apresentado; sensibilidade, intuição e uma dose
de sabedoria na observação, parte inerente dos
currículos escolares e desenvolvidos na prática
diária, e que nos traz condições de elaborar um
diagnóstico de que a “coisa” não anda nada
bem, sofrendo de um colapso de múltiplos
órgãos, mas enquanto há vida, a esperança é
nossa pedra angular.
Acreditamos ainda nisso.
Sabemos fazer perguntas e ouvir
respostas. O problema é o que fazer e o que não
fazer para ser um bom ouvinte, mas dar boas
respostas sob um padrão de boa educação, coisa
rara nestes ambientes ; estimular o bom senso
geral, não o do bom senso de pouca
produtividade , voltado para interesses de
pouco. Mostrar empatia, não condenar, menos
ainda discutir ou assumir ares de superioridade;
isso nos é patente tanto em nível de
comportamento quando não nos deixamos
influenciar por “contaminações”, o que já
sabemos como fazer por técnicas aprendidas
nos bancos escolares, mas mostrar a todos que
nossa missão é fazer cumprir a assistência
àqueles que dela necessitam. Fazemos parte de
uma equipe e esta deve ser respeitada tanto em
nível individual como no coletivo.
Temos olhos a serem usados para saber ver e
ouvidos para saber como ouvir.
Devemos ser os olhos e ouvidos,
mas não podemos esquecer que também
12
deveremos saber falar, não em tom invasivo,
apenas aprendendo, a saber, ler as pessoas que
buscam uma orientação e atendê-las dentro de
nossas capacidades pessoais e profissionais.
Deveremos ser humanos em
evolução e com mentalidade aberta ao
aprendizado para não cairmos em mesmices.
Não somos melhor que ninguém.
Há um ditado do irlandês
Edmund Burke (1729 a 1797), que foi político
e orador que cita:
Um rei pode conceder um título de nobreza,
mas não pode fazer um cavalheiro”..,
E “assim tentamos agir, quando
não somos atingidos por decretos, vontades
políticas, ou desconcertos decréptos
administrativos”.
A enfermagem enquanto
profissão torna-se missionária em qualquer
lugar que esteja, mas não precisamos perder
nossa dignidade, independente do local em que
ela seja exercida.
13
O Concurso Público
Após a espera de editais que
abrem a perspectiva de exercer o ofício em
nível público, esses não especificam em que
situações deverão exercer as atividades, em
especial quando se trata de lidar com um
público tão específico e com vícios tão
declarados, mas certamente não sabidos e nem
entendidos.
Citarei aqui algumas situações
já vistas e sentidas dentro do sistema prisional
como um todo, e certamente não fomos
preparados para enfrentar e mesmo em nível
pessoal nunca a tenhamos vivido.
A enfermagem torna-se um elo
de comunicação, como se anjo da guarda fosse,
isso em todos os lugares dentro do sistema
prisional, talvez pelo fato de usar branco e
assim serem vistos, mas isto não é uma regra.
Pode ser até exceç ão em alguns
locais, dependendo das posturas apresentadas e
das posições administrativas pertinentes.
Na visão dos internos/presos,
todos que vestem branco são “doutores”, e não
os chamam assim por acharem que o são, mas
como forma de elevar a figura do profissional;
elevar para poderem pedir favores especiais ou
como âncora para alguma situação particular.
14
Ficar em posição de inferioridade
trás algumas vantagens em situações
específicas de necessidades.
Em 2001 a Resolução COFEN
256/2001, de 12 de junho de 2001,
autoriza os Enfermeiros a usarem o título de
Doutor.
Infelizmente, mesmo entre os
profissionais de enfermagem, graduados ou
não, encontramos muita resistência à idéia, ao
direito de uso do título de Doutor, pois a
subserviência está enraizada mentalmente,
como forma de submissão inconteste.
O fato é que aquele romantismo
de exercer a medicina, e consequentemente o
título de Doutor, caiu em decadência pelo atual
despreparo destes profissionais, constatado pelo
fato de não mais se exercer função de medico
com aquele desprendimento de outrora, quando
estes profissionais, filhos de pais ricos e de
renomes, já tinham heranças que podiam lhes
dar o sustento, e, sua prática era voltada a
caridade e desprendimento.
Lembremos da época que
recebíamos os médicos em casa e este
profissional fazia parte de nosso cotidiano,
havendo respeito e afeto pela pessoa e
profissional que lá estava.
Houve evolução em todas as
áreas, e com esta, o afastamento das
pessoas,tornando os atendimentos de hoje
15
impessoais e distanciados do dia a dia do
paciente, apenas voltado a doença daquele
momento e não mais da vida dos
pacientes/clientes.
E com isso, seus problemas
inerentes aos tempos e as mudanças de
mentalidades dos homens que assim o
acompanham.
Estas situações embutidas na
forma mental e social, refletem no
interno/preso - por estarem sofrendo alguma
ameaça como fuga e proteção.
Mas não falarão a verdade, ou
serão dedos duros, e isto em um ambiente
prisional pode significar mutilações,
isolamentos ou até a morte; este fato não é
tolerado nem pelos ASPs, que deles se esperava
orientação e mesmo proteção e menos ainda
pelos seus iguais.
Isto são alguns exemplos de
composições belicosas que podem e com
certeza ocorrerem e continuarão a ocorrer, que
em nível profissional da área de saúde não é
explicitado.
Estamos jogados como carne
nova dentro da cova dos leões, estes,
representados mais pelos ASPs que pelos
internos/presos.
Como sabemos a contratação de
funcionários para exercício de cargo público é
somente através de concursos, mas não há
referências de como se deverá proceder e muito
16
menos que tipo de situações irá se deparar o
profissional quando do exercício da função a
que concorreu.
Existe uma omissão proposital
ou é falta de critério mesmo?
Não existem parâmetros para as
atividades que serão exercidas, pressupondo
que sejam as mesmas de um hospital ou
clínicas, mas não o são.
Certamente se ocorresse uma
explanação e explicação contundente do que é
um ambiente prisional, suas nuances, um
preparo de adequação e localizaçã o, os recursos
pessoais e profissionais que poderia se dispor
para evitar contundentes confrontos, orientando
os direitos e obrigações a serem exercidas, o
trabalho assistencial ficaria direcionado e seus
resultados mais palpáveis.
A população alvo é “especial” e
os demais funcionários também o são, pois suas
visões de trabalho estão diferenciadas da
convergência em fim último.
Visarão apenas a segurança, e
nós, a saúde como bem comum.
Como conciliar esta divergência
se estamos acostumados a ver nossas atividades
serem protegidas para podermos servir e atuar
e não sermos “vítimas” destas atitudes, quase
que impedidos de atuar?
O fato de nossos colegas ASPs
acharem que “ladrão”, referência ao
interno/preso não tem direitos, e assim
17
comprometendo o trabalho da equipe de saúde
fica comprometido e não temos a quem
reclamar.
Pois se assim for feito, em nada
adianta, pois criaria situações de fazer o preso
“crescer” sobre os ASPs , enfraquecendo estes
em nível de “autoridade”, mesmo que haja
situações de humilhação, torturas, “abusos de
autoridade”, impedimento de direitos e deveres
dos internos/presos.
Não há a quem reclamar ou
informar. Não há interesse em apurações dos
fatos, pois a visão é de resultados maquiados
para se dar uma satisfação a população que
paga por este estado de coisas.
E a população paga para não
saber o que acontece, mesmo que hora ou outra
seja atingida por balas perdidas das
conseqüências destas atitudes de avestruz
medroso.
Sabemos que o preparo do
profissional de enfermagem é pautado sobre
nosso Código de Ética, com condutas éticas,
manobras de suporte à vida, com
discernimentos próprios e coletivos, junto a
colegas de profissão e de outras atividades, com
equipamentos e materiais de uso contínuos e
específicos, indispensáveis ao exercício
profissional.
Mas ao depararmos com situações
que nos impedem do exercício profissional
dentro do sistema prisional, pouco adianta
reclamar aos órgãos de classe, que não tem
interesse em apurar, mas de punir por punir,
18
fazendo número em atitudes éticas, e também
fazem as vezes de avestruzes.
O sistema é mais forte e detém
mais poder, e com certeza quem reclama ficará
marcado, e não há nada que possa ser feito para
modificar o estilo de ser destes profissionais de
segurança e dos detentores do poder ético.
Quase tudo dentro do sistema
prisional, que se refere ao interno/preso, é para
“inglês ver”, pois o que é para funcionar em
nível equivalente a nossa realidade, dentro do
sistema prisional funciona dependendo de
vontades outras, capengas e decreptas, alheias à
lei e a códigos de ética.
Ouvi certa vez de um diretor geral
de uma penitenciária que trabalhei que:
“A ética aqui dentro sou eu”,
e com certeza, se assim não for seguido,
qualquer funcionário do sistema prisional terá
grande dificuldade no exercício profissional.
Queremos e desejamos
esconder sob nossos tapetes mentais este grave
problema, pagando o preço da impotência e da
negligência por não termos interesse em
solucionar este saco sem fundo?
Desprezamos o que existe sob
os olhos quando isto nos incomoda e atrapalha
nossa visão míope e retardada da vida; nossos
olhos em especial, querem ver apenas o que nos
agrada e queremos ver, é a praxe do egoísmo
humano (deveríamos aprender com os animais
a fidelidade de sentimentos).
19
Não quero generalizar este espaço
de negligências e impotências, mas sua
existência é mais que conhecida e deveria ser
trabalhada em nível estrutural e de eficiência,
em busca de solução e valorização do
profissional que com preso lida, pois todos,
sem exceção são especiais, basta querer ver e
saber.
No âmbito da Administração
Penitenciária, desde abril de 1993, foi proposto
o preparo dos profissionais de saúde em
especial no saber como materiais disponíveis e
como saber agir frente a esta população em
especial, mas não passou de retórica barata, em
especial quando nos convidavam a participar de
palestras, seminários, jamais cursos de
aperfeiçoamento ou reciclagem.
Tudo não passava de pura
enganação, pois os que detinham o poder para
modificar, não o queriam, e, assim
continuávamos a ficar ignorantes para sermos
a massa de manobra desejável , independente
do local do exercício profissional.
Catalepsia
Assim como qualquer
indivíduo pode apresentar catalepsia, ser
manipulado fisicamente, nos níveis mais
inimagináveis nesta situação, ser
enterrado e morrer por isso, e não poder
impedir e se dar conta do que ocorre;
menos ainda, reagir a este fato por
incapacidade física e mental, esta situação
pode ser transferida aos profissionais que
adentram no Sistema Penitenciário, dado
20
a falta de informações que nos faltam de
como se deve trabalhar em nível de
relacionamentos inter profissionais e
pessoais nesta área e lugar.
Faz-se presente à falta de
interesse por parte das “autoridades
competentes que deveriam mudar este
estado das coisas, mas há desinteresse:
desmando por parte de diretores das
unidades e das autoridades constituídas, e
gradualmente em menor grau, vai se
formando uma corrente em espiral, sem
fim, até chegar ao sentenciado.
O certo é que nem mesmo
estas autoridades sabem como lidar com
este estado de coisas, tamanho o
despreparo e desinteresse em aprender e
buscar soluções.
Se souberem e não o fazem,
é crime de responsabilidade e
incapacidade para o cargo que ocupa.
É o que diz as leis em vigor.
Há falta de empenho em
equipar e fazer funcionar Núcleos de
Assistência à Saúde, que literalmente são
levados pelos profissionais de
enfermagem, que levam medicamentos de
suas casas, medicamentos e equipamentos
de uso particular e familiar, para fazer
nutrir o setor e medicar os internos para
não deixa-los perecer como estrumes que
21
existem, mas queremos fazer de conta que
não existem.
Não estou sendo o defensor
de criminosos, sentenciados, condenados
ou não.
Mas fazer um trabalho pelo
qual somos contratados a executar e pago
pela população, trabalho este que requer
muito desprendimento, dedicação,
empenho, em vários níveis, requer, ao
mínimo, que façamos nosso trabalho da
maneira mais correta possível, com
condições de executá-lo.
Para que estes
medicamentos e equipamentos adentrem
e sejam usados no interior dos presídios,
pede-se permissão a diretoria e com esta
autorização - via em regra - verbal,
fazerem se os atendimentos.
Como é sabido, mas pouco
divulgado, por total falta de interesse, o
sistema de saúde do sistema penitenciário
é mantido pelos profissionais de
enfermagem, quase que em todos os
níveis, salvo exceções localizadas e
mínimas, mas não poderia ser diferente.
Porque para qualquer
instituição de saúde funcionar a contento,
necessita de ter uma equipe de
enfermagem bem sintonizada e não
22
menos, equipada adequadamente, desde
os procedimentos simples como uma
sutura até intervenções mais complexas,
pois somos nós que preparamos todos os
materiais, medicamentos e equipamentos;
sabemos como manipula-los e como
utilizá-los, e com muito mais freqüência
do que se pode afirmar, corrigir atitudes e
erros de profissionais médicos menos
preparados.
Basta perguntar a qualquer
estudante de medicina e mesmo aos
formados de quem eram dependentes a
aprender e executar as mais simples
tarefas do cuidar de pacientes (?).
Esta, uma função do
profissional de enfermagem, com as
técnicas adequadas aos cuidados que o
paciente requer e necessita, e o faz
sobreviver a suas doenças, suas
incapacidades momentâneas; uma
dedicação que vem do Dom pessoal, mas
que no histórico escolar destes
profissionais abnegados, não constam em
nível tão profundo e científico.
È fator subliminar e
espiritual.
Sabe-se que a cura vem
pelas mãos do Enfermeiro (a), que é
quem realmente executa as tarefas árduas
de manter a vida, com o que prepara e
23
manipula para servir aos colegas da saúde
e estes também usufruir destas
facilidades, e quase sempre levarem os
elogios e glórias, mas estes jamais se
referem aos heróis anônimos que
prepararam tudo.
O profissional de Enfermagem não é
profissional de passagem.
É profissional sempre presente, não
ausente.
24
A Segurança no Sistema Prisional
Após ingressar no Sistema
Prisional para trabalhar, o profissional de
Enfermagem vê-se perante vários dilemas,
entre eles, os mais eminentes e principais cito:
01-falta de preparo pessoal e profissional em
lidar com esta população especial, tendo em
vista a total falta de literatura e instruções de
como proceder, tanto em nível de vida quanto
de formação curricular, menos ainda em nível
de acompanhamento e acomodação do aspecto
visual, mental e físico, frente a essa nova
realidade;
02-falta de recursos materiais e de
equipamentos, inclusive os de uso essencial,
como seringas, agulhas, gases, algodão,
soluções anti-sépticas e soluções para
curativos;
03-falta de preparo dos ASPs em lidar com os
profissionais da saúde;
04-exposição à nova realidade, contatos com as
diferenciações no trato pessoal, profissional e
de recursos materiais;
05-falta de equilíbrio emocional pelas
diferenças entre este submundo e seus vícios e
a realidade que vivência fora do trabalho, no
dia a dia com amigos e familiares;
25
06-discriminação da população como um todo,
por trabalhar com essa população alvo, que não
entende ou não aceita entender o trabalho
desenvolvido e repassa este desconforto e
insatisfação aos profissionais de enfermagem
do convívio social, por cuidarem destes presos;
07-falta de respeito por parte dos ASPs e
diretores que trabalham no presídio, dos setores
de reposição de materiais, equipamentos e
medicamentos, isto quando chegam ao destino,
conforme solicitado, tanto em nível estrutural
quanto assistencial, deixando os profissionais
expostos a situações de constrangimentos e
perigos evitáveis, até com risco de morte;
08-ausência de respostas às solicitações
mínimas para o exercício profissional e seus
fins, e à manutenção do departamento do
Núcleo de Assistência à Saúde (NAS) e seu
funcionamento com um mínimo de eficiência e
eficácia.
Por conta desse quadro, não é
nada confortável e digerível a atuação,
subsistência e equilíbrio funcional, emocional e
profissional, a que a satisfação e estímulos em
efetivamente trabalhar, ficam fortemente
comprometidos, levando algumas vezes, o
profissional de enfermagem e seus pares, a
tratamentos por depressão, ansiedade e
afastamentos desnecessários, por não verem
condições mínimas de atuação profissional e
pessoal.
Isto tudo em nome de uma
falsa segurança, pois é só abrir os jornais,
revistas, televisões para depararmos com
situações em que agentes de segurança (ASPs),
estão comprometidos com os escusos
26
movimentos carcerários do que com os próprios
colegas de trabalho, mas felizmente é uma
parcela pequena deles mas a existência é
patente e inegável , pois como se explicam a
entrada de armas, celulares, drogas e outros
ingredientes mais?
Conscientização
A partir do momento em que os
profissionais voltados à assistência de saúde
dessa população diferenciada, reclusa e
consciente por nós, considerada escárnio da
sociedade, dita justa, deste sistema que se
impõem, os fatos confrontam os interesses de
dirigentes de penitenciárias/presídios, pelos
moldes ao longo de ensinamentos ditatoriais e
medievais, no trato da coisa pública: cuidar
destes reclusos / presos.
E as diferenciações se
apresentam, criando e gerando conflitos e
muito pouco interesse em buscar as soluções
compostas, mesmo as mais simples.
Certamente o que vemos como
rebeliões, revoltas, celulares, drogas, passeios
noturnos permitidos, são frutos da corrupção
(ativa e passiva), induzido pelas autoridades
que remuneram mal e não dão condições de
trabalho adequadas e decentes, além da
degeneração contida no sistema em si.
O nível de entendimento
individual é bem diferenciado, pela formação
pessoal, profissional e por regras
27
administrativas, que fazem um momento
convergente, divergirem, bifurcarem, na busca
de resultados fim (objetivo), nem sempre legais
e morais.
Materializar a prática pelas
regras, suprime as obrigações levianas e
destinos, tanto dos profissionais de saúde
quanto dos agentes de segurança (ASPs).
Mantê-las como se nada
acontecesse não é a resposta para as gravidades
das necessidades de quem interessa, a
população em geral, que mantém, mas não
intervém como deveria nesse estado de fatos e
coisas, por ser omissa e conivente, medrosa e
covarde.
A composição e entendimento
se fazem necessário pela manutenção da ordem
aparente, e, aparar as “ignorâncias
funcionais”, fato patente neste campo, de
parte a parte.
É a assimilação das
responsabilidades de cada ofício e pelas
funções desta, que se podem superar estas
dificuldades, que prejudicam e interferem na
vida de pessoas, profissionais e das respostas
esperadas por todos, sempre voltados a
população alvo, ou não?
28
Esquisitices
O profissional da área de saúde,
ao deparar-se com um ambiente hospitalar,
sente-se como se em sua casa estivesse.
Transita e entende os recôncavos e silhuetas
que pelos corredores passam; nos quartos e
seus cheiros típicos, sempre entendidos e
casuais: o álcool, o éter, as soluções iodadas, os
gases emanados dos torpedos, das feridas, dos
cheiros dos pacientes moribundos e da morte;
cheiros da hemodiálise, da UTI, pediatria,
ginecologia e oncologia, mas estes são odores
familiares, são os nossos “feromônios”
profissionais.
A equipe de enfermagem,
contrária a equipe médica, permanece lado a
lado com a vida e a morte, e, doenças, pois os
profissionais médicos apenas e tão somente
29
passam pelos pacientes, pelos setores de ala
hospitalares e ambulatórios/consultórios.
Mas a efetiva e eficácia
assistência ao doente/paciente, hospedado ou
não em ambiente hospitalar, é feita pelos
profissionais de enfermagem, através das
prescrições individuais de enfermagem e das
evoluções ali anotadas, independente das
anotações médicas.
E isto não é diferente dentro do
sistema penitenciário, observados (visitados) na
rede da Coespe (Coordenadoria dos
Estabelecimentos Penitenciários do Estado).
Genericamente, a contratação
para um determinado número de horas, 06
horas diárias, não “pode” ser cumprido.
A causa do impedimento de não
poder cumprir com este período de horas?
Ociosidade de atividades do
profissional.
Portanto, as médias de consultas
são variáveis, pois existe número suficiente de
médicos e faltam de auxiliares de enfermagem
e de enfermeiros, pois estes são
sobrecarregados em horas de atividades no pico
dos atendimentos e com possível ociosidade em
poucos horários, sendo as exceções às
emergências.
A equipe de saúde (dentistas,
médicos, enfermeiros, auxiliares de
enfermagem), trabalha em sincronia de
sobrevivência: - os auxiliares de enfermagem se
achando mandados pelos médicos apenas, e
30
estes, patrões inatacáveis na conduta,
”semideuses”, salvadores da pátria..., até se
precisar deles em emergências, finais de
semana, feriados, fora do horário de trabalho
(matutino ou vespertino ou noturno).
E não adianta procurar; nunca
estão disponíveis, a não ser que estejam de
escala previamente elaborada pelo Diretor de
Saúde, mas fazer cumprir estas escalas é como
fazer Matrix.
Se fato novo acontece, como
exemplo: brigas, uma queda acidental (?),
crises respiratórias ou cardíacas, ansiedades,
encaminha-se à enfermaria do presídio e o
plantonista enfermeiro ou auxiliar de
enfermagem atende e medica conforme
rotina”, e “anota em livro próprio”.
Mas este vocabulário é o ideal e
rotineiro de um setor de saúde que se possa
prezar? Claro que não. É vocabulário de
marginais, com malandragem explícita e
escrita.
Mas qual rotina é a melhor que
poderia ser efetivada em um setor de Saúde
dum presídio?
O que se torna difícil na
convivência com presos e com funcionários já
forjados nesta área, é manter o padrão da boa
educação, tanto escrita quanto falada, e quem
dera a comportamental e a dos relacionamentos
inter pessoais.
Faço, ao final deste livro,
sugestão de Prescrição de Enfermagem e
Evolução Clínica de Enfermagem, que poderia
31
ser utilizada por qualquer serviço de saúde do
Sistema Prisional.
Nenhuma víscera é igual à outra,
por diferenciações da natureza humana e não
podemos tratar indivíduos, sejam eles quem for
de maneira tão desprezível como são tratados
atualmente.
Sabemos que quando um preso
necessita ser removido para um Pronto Socorro,
são deslocados ao menos dois ASPs, um
auxiliar de enfermagem ou quem estiver de
plantão (menos os médicos), desfalcando o
setor de saúde e a segurança. Mas como
proceder à frente a esta situação se nos NAS
não há os materiais básicos para atendimentos
rotineiros?
Não há vontade política para
solucionar, pois senão, vejam os
mascaramentos de dados estatísticos da polícia
civil, que sabemos é apenas a ponta
desenterrada deste escombro
da área de segurança, pois os cadáveres que
comandam podem cheirar pior ainda. Querem
procurar?
Mas e os senhores médicos,
onde estarão nestes atendimentos
emergenciais?
Vamos procurar juntos?
Esta conduta é aconselhada pelo
diretor da instituição, com o intuito de
acomodar estes profissionais médicos, pois é
isto ou nada.
32
É mais que necessário aumentar o
número de profissionais de enfermagem a
atuarem dentro do sistema prisional, mas com o
devido preparo para se enfrentar as situações
que se impõem, não como é feito atualmente,
jogando-os aos leões, e tendo de enfrentar
estruturas condicionadas e medievais, viciadas
e já falidas pelos fatos apresentados e sabidos.
É um nojo verificar o que acontece e nada é
feito.
Porque não orientar e instruir os
profissionais que irão trabalhar nestes locais de
como se deve proceder e o que se tem
disponível, as dificuldades e as peculiaridades
de cada local de trabalho, para que não se
sintam como peixes fora d’água?
Querem e tem condições
técnicas em realizar os atendimentos, mas há
impedimentos em de administração e coação
por parte de diretores penais, que nem sempre
se integram aos colegas da área de saúde,
impondo de maneira coercitiva suas vontades
ou as determinações da diretoria geral. Porque
não normatizar os procedimentos e condutas,
independentes das vontades individuais?
Estes preparos podem e devem
começar na programação dos currículos
escolares, em níveis gerais e específicos, das
áreas afins e que podem exercer atividades
dentro de um presídio, e os que não os tem,
podem passar por um período de conhecimento
das técnicas lá desenvolvidas, tanto em nível de
graduação quanto de cursos técnicos de
segundo grau.
Ancoragem em um Porto Seguro
33
Parece rotina, mas não é
diferente do que ocorre fora das grades.
Nós, enquanto indivíduos
ativos e produtivos, fora das grades e das
vontades da justiça e dos justiceiros de plantão,
temos que recorrer eventual e algumas vezes
constantemente, a uma ancoragem em um porto
seguro, para descansar nossas emoções, nossas
vontades, uma espécie de reciclagem ou
remodelagem do pensar (nossa ilha da
fantasia?), e agir; condutas pessoais para
evoluir (?) ou para controla-las, em especial
com relação aos outros uma compensação para
não se descompensar.
Da mesma forma, para quem
está atrás das grades da justiça, estes também
buscam este porto seguro, numa forma comum
de reerguerem-se no âmbito da “nova
sociedade a qual fazem parte, por um período
curto ou longo de tempo; é a sobrevivência
pela ausência de informações; pois só é
permitido a entrada de informações através de
conversas com funcionários, familiares. Outras
informações gerais, através de televisão, rádios,
de uso individual ou coletivo. Ainda é proibida
a entrada e leitura de jornais e revistas, por
questões de segurança (ou não?) nada de
individualismos, só coletivo, tendo como
exemplo a hora de noticiários, novelas e outros
programas onde os presos ficam em um salão e
assistem e se informam sobre o que se passa no
mundo exterior.
Contudo, é no setor de saúde,
um dos portos seguros a se ancorar, através de
consultas de enfermagem, médicas e
34
odontológicas, além é claro, das orientações
que os auxiliares de enfermagem sempre que
possível dão, recebendo-as, encaminhando o
agendamento destas consultas.
São acolhidas as solicitações na
conformidade do possível, pois nem sempre é
de nossa função o que pedem, mas sempre há
andamento e encaminhamento à solução,
mesmo que seja fora do quadrilátero das
prisões.
Encaminhar à Assistência Social,
Psicólogos, Médicos, Odontólogos,
Enfermeiros ou outro especialista, é uma rotina,
que poderia ser melhorada se as condições
internas fossem melhores, com mais recursos
para atuação, evidente as saldos desnecessários.
Isto não é coisa eventual, mas
uma coisa constante, pois procedimentos
padrão deveriam ser instituídos , para que não
se obedeça aos parâmetros do individualismo,
mas de padrão instituído pelo órgão de
competência, no caso o Departamento de
Saúde do Sistema Penitenciário do Estado, mas
este também subestima dados e regula ao
mínimo os medicamentos necessários a boa
manutenção dos NAS, e por isso, há a falta
destes materiais e equipamentos.
As consultas de enfermagem,
médicas e odontológicas, deveriam ser
padronizadas através de modelos previamente
adotados, e faço no final deste livro as
sugestões para este fim também.
É certo que os pedidos de
consultas são a priori quando necessários, mas
35
tendo em vista que somos um porto seguro,
estas mesmas consultas tornam-se mais
constantes para fins os mais variados e mais
surpreendentes, baseados nas reais
necessidades e nas intenções por detrás delas,
mas sempre se encontra uma maneira de
acomodar as situações para evitar-se a recusa
do tratamento ou mesmo uma revolta por
pequenos detalhes; tudo pode ser motivação
para uma revolta.
Quando percebemos que o
interno necessita de uma consulta psiquiátrica,
o preso é encaminhado ao especialista que
avalia e medica se necessário, mas existe um
temor enorme em fazer passar um interno pelo
psiquiatra, pois este profissional, como
“sabemos” , tem a chave da mente e isto se
torna uma faca de dois gumes.
A integração multidisciplinar
se faz necessária, contudo deve haver respeito
entre todos, mas não uma classe achar que pode
ser deus ou semideus, se achando senhor das
razões. No Sistema Prisional não se pode agir
com individualismo, mas coletivamente, para
que a proteção de fatores externos se faça uma
constante, mas dentro da Ética e do bom senso.
Os setores, NAS, são portos
seguros destes internos, de funcionários, que
sempre buscam informações, consolo,
manutenção de “status quo”; quando há
interesse da ordem estabelecida, mas na contra
mão e como rotina, agem como se inimigos
fossemos em outra situação .É por falta de
preparo ou desvio de caráter?
Por isso é que estes profissionais
36
da área de saúde têm que ter um jogo de
cintura, controle emocional e estrutural mais
apurado, com o uso dos conhecimentos
técnicos científicos adequados, mas não nos
furtamos de também termos estas necessidades
de caráter emotivo.
Mas nem sempre se é permitido
ter este comportamento de composição, pois as
informações geralmente chegam truncadas, por
fatores íntimos ou por restrições sociais e
administrativas.
Buscamos uma “osmose” entre os
setores do presídio tanto dos dados dos internos
quanto dos dados pessoais dos que lá
trabalham, para sempre tentar ajudar, mas o
que ocorre na realidade é apenas uma irrigação
suficiente para não necrosar os
relacionamentos por completo.
Pode-se afirmar com exatidão,
que este é um submundo do submundo.
Ajudamos sempre na medida
certa e do que é nos possível.
37
As Ingerências
Não é diferente do dia a dia, como
em qualquer lugar, com qualquer pessoa que
nos é cara ou mesmo dos intrometidos de
plantão e fofoqueiros.
Macular a imagem de alguém é
um crime mais que comum, mas raramente
punido, e somos vítimas preferenciais dentro do
sistema prisional.
A intromissão, a observação para
afetar e ingerir nos assuntos que não são de sua
responsabilidade ou de seu conhecimento, é
uma rotina que se recorre com constância entre
os funcionários do sistema como um todo, via
de regra se não se tem o que fazer , faz-se
fofocas, sempre com induções e palpites
errados, deixando o clima entre as partes, mais
belicoso do que é necessário .
A postura de quem é profissional
em nível técnico, é ater-se ao que a função
requer, desenvolver-se da melhor forma
possível , contribuindo de maneira efetiva com
seus iguais. Poucos são os profissionais que se
regem tanto pela Ética quantos os da área de
38
saúde, mas com certeza isso não é uma
continuidade no ambiente de um presídio.
Pode-se observar que, com raras
exceções, o comportamento é o das fofocas,
intrigas, leviandades, entre outros sinônimos;
adjetivos difíceis para os profissionais que são
pautados pela É tica aceitarem.
Isto é de tão fácil apuração, que é
só perguntar ao porteiro o que está acontecendo
lá dentro de determinado setor, que
imediatamente ele tem a informação com
“exclusividade”, apesar de não ser de sua
responsabilidade esta intervenção; o que não
faria se tivesse uma informação privilegiada e
pudesse macular e acrescentar ?
Se esta ingerência parte dos
agentes penitenciários (ASPs), considere as
informações repassadas e feitas para serem
engolidas vindas de diretores de departamentos
vários, que se permitem ingerir pelo fato de
serem diretores.Em qualquer outro
departamento, em especial nos NAS, que por
conseguinte, toleram para não criar
indisposição no trabalho e em nível particular,
pois se assim não for, cria-se uma animosidade
gratuita.
Ocorrendo uma negativa no
atendimento da ingerência, recorre este diretor
ao seu igual do NAS para que sua vontade seja
satisfeita, e aí ocorre a falta de Ética e destoa
dos demais por ter o poder de decisão, e criar
simpatia entre eles, isto sim, um elo após outro,
vinculante e sem apresentar soluções para os
setores correspondentes.
39
Certamente, por situações de
extrema tensão, tanto pelos níveis sócio-
econômicos (salários baixos), quanto pelo
próprio contato com esta população especial,
cria-se um clima de descontrole interpessoal,
O que poderia advir à explicação
que um indivíduo de boa formação e
escrúpulos, depois de certo tempo de
convivência começa a degenerar-se
comportamental, reflexo, como sabemos, da
degeneração em nível psíquico.
Esta situação leva o indivíduo a
atuar de forma alheia aos padrões usuais de sua
personalidade conhecida, da sua anterioridade
(passado), tanto no seio da família, como no
social, refletindo em cheio no trabalho, origem
destes desvios.
Dizer que os psiquiatras do
sistema não sabem ou desconhecem este fato é
mentira deslavada.
Tanto conhecem que evitam
muito contato com muitos funcionários, para
não ter que ajudar; muitas vezes a mando da
diretoria estabelecida.
Isto é um estudo que poderia ser
feito pelos nossos psiquiatras do próprio
sistema e instituir a devida correção em nível
de tratamento desta e de outras situações.
Ajudaria a evitar muitos desvios e
destruição da vida de muitos funcionários, mas
o sistema não tem nenhum interesse nisso, e
sabidamente é contra.
40
Se o sistema é contra a melhoria
de conhecimento dos profissionais que lá
trabalham, que dera se interessar por problemas
que não lhes diz respeito? Mas diz respeito sim,
pois os responsáveis são eles próprios, que
criaram e mantém esta situação, por interesses
de manutenção de um poder que não existe, só
na mentalidade ditatorial e medieval destes
mandatários.
Os Colegas da Saúde
Assim como se desloca um
profissional habituado a tratar a população em
geral, nos hospitais, clínicas e ambulatórios,
para através de concurso, ingressar no sistema
prisional, viciado e desviado dos propósitos fim
como foi exposto, sem o mínimo de orientação
e instrução de como proceder, não é de se
esperar clima amistoso, mas belicoso, pelas
anterioridades de cada um. Como se adequar
aos confrontos entre presos, funcionários,
através do vocabulário todo peculiar deste
ambiente, sem modificar sua intimidade ou se
deixar refletir em seus afazeres do dia a dia, se
a osmose é inevitável em qualquer ambiente,
por menor que seja a influência, ela existe e nos
atinge em vários níveis (estudo do
comportamento humano).
41
Precisamos ter este amparo para
não degenerar; mas onde buscá-lo se é “cada
um por si e dane-se o resto”.
O melhor modo de sentir estes
deleite de desvios, é observar o que se tinha de
hábitos no antes e no depois de ingressar no
sistema prisional: as tensões aumentam, os
nervos ficam em frangalhos, respostas ficam
mais ásperas, fica-se mais quieto e pensativo ou
ao contrário, relaxa-se com outros meios, para
distração.
Dizer-se que se desconhece
este problema por parte de diretores é falsete,
mas a solução nem sempre está em suas mãos,
mas que poderia haver encaminhamento para
solução, poderia, e o que falta é à vontade a
resolver, com medo de intrometer-se e ainda
criarem problemas administrativos e pessoais e
então o funcionário é aconselhado a afastar-se
por motivo de saúde e vai-se protelando a
solução e prevalecendo o vá se cuidar para não
degenerar, por conta e risco próprio, sem apoio
devido pelo gerador dos problemas.
Foi por mim proposto em abril de
1993, durante uma reunião para tentar
solucionar estes problemas e outros de ordens
administrativas, um trabalho de pesquisa
científica em conjunto com os colegas lá
presentes, estando a coordenação em minha
responsabilidade, com o apoio do
Departamento de Saúde do Sistema
Penitenciário, mas não houve retorno algum
dos colegas, apesar de insistentes apelos feitos
por carta e telefonemas, onde referia:
42
01-formação de uma equipe multidisciplinar
para coordenar trabalho de ajuda e orientação
dos profissionais de saúde, que ingressassem no
trabalho dentro do sistema penitenciário,
podendo estender as outras funções para
amparo e estruturação de comportamento
“adequado” ao novo ambiente, evidente os
traumas sentidos hoje.
02-Em cada instituição prisional, se escolheria
os profissionais que fariam parte deste grupo
especial. Formados por psicólogos, clínico
geral, psiquiatra, enfermeiro, assistente social,
para atendimento no local de trabalho e se não
fosse possível, na residência do funcionário do
presídio, onde se faria uma avaliação das
condições gerais de moradia, alimentação,
relacionamentos familiares, e, naturalmente,
avaliação funcional na atividade, buscando
soluções, tratamentos, e encaminhamentos.
Isto de forma reduzida, com
melhor produção do que aqui foi apresentado,
mas como disse, sem nenhuma resposta por
parte dos colegas e muito menos por parte dos
diretores destas instituições.
Naturalmente, as pequenas
parcelas dos lúcidos que não se permitem
degenerar mentalmente, ou em qualquer nível,
não são bem vistos dentro de sistema ao
fugirem a esta degeneração, pelos colegas já
contaminados osmoticamente .
A diferença cria problemas, é a
afirmação mais presente, e nesta situação,
começam as perseguições, vinganças
comportamentais, e até colocar o colega em
situação de alto risco de vida.
43
Absurdo para ser verdade, mas
infelizmente não o é.
Quando deparamos com colegas
da área de saúde, que desviados do caminho
por esta osmose degenerativa, estes poderiam
ser encaminhados a serviços dentro do próprio
sistema, se formado fosse este “grupo especial”
de atendimento aos colegas da área de saúde e
de outros setores, naturalmente, sem ônus a
instituição; reciclando e evoluindo.
Mas o que se vê mesmo é:
“manda quem pode, obedece quem tem
juízo”.
Estamos jogados aos leões
famintos como carne fresca.
Até quando será isso permitido
sem reação dos pares e de autoridades sérias?
A Reciclagem
Como em todas as áreas de
atuação profissional ou social, é necessário,
imperativo mesmo, que se faça e se mantenha a
evolução de conhecimentos e de pesquisas.
Contudo, apesar das insistentes
solicitações, exposições em nível de seminários
para esclarecer condutas, não há reciclagem dos
44
profissionais de saúde ou de outras áreas do
sistema prisional, ficando ultrapassado o trato
da população alvo, destoando com as realidades
presentes, não evoluindo, e quando há, não se é
divulgado e são apenas para os poucos
privilegiados.
Propostas, solicitações de
informações foram encaminhadas ao Centro de
Recursos Humanos do Sistema Penitenciário
por cartas, telefonemas particulares e em
serviço, fax e pessoalmente, mas ao que se
percebe, não há mesmo uma vontade política
em investir na melhoria da assistência,
formação profissional e reciclagem, isto posto,
se falta até o essencial como medicamentos,
equipamentos e materiais, vão, por acaso, ligar
para funcionários que só dão despesas e não
dão voto?
Quando muito, a Secretaria de
Saúde do Estado, através de iniciativas
regionalizadas das DIRs (Escritórios Regionais
de Saúde), solicita o comparecimento de
profissionais de enfermagem, médicos,
odontólogos a participarem de simpósios,
seminários, isto quando os comunicados e
convites não nos são apresentados na última
hora, com um ou dois dias de antecedência, o
que torna quase que inviável o
comparecimento, dado ao tempo disponível
para o preparo para estes fins, pois envolve
transporte, o que nem sempre está a disposição
para estes fins.
Isto tudo somente para trazer
mais informações para o NAS, pois estas
informações são para serem repassadas.
45
Contudo, esta chance de acumular
novas experiências e formações pelas
informações divulgadas, nem sempre são em
horários de trabalho, o que requer do
profissional o desprendimento para “esticar” o
horário e como forma de recompor
conhecimentos, comparece e busca a melhor
forma de aprimoramento.
Apesar de obter estas informações,
e quando retoma o trabalho rotineiro pelo que
se vê, é que seus superiores hierárquicos não
reconhecem o esforço despendido, e em regra,
quase que impede que o conhecimento seja
implantado, pois não há interesse nesta atitude.
Novamente a discriminação parte
desses senhores que deveriam estimular,
contudo não o fazem; talvez pelo simples fato
de não permitir que haja evolução nos NAS, ou
por razões desconhecidas, talvez inconfessáveis
de egoísmos ou despeito, mas que o fato existe
é mais que palpável.
A quem reclamar, se a figura
que teoricamente deveria receber esta queixa é
o mesmo que a rejeita, contrariando a “norma
estabelecida” que time que está ganhando não
se mexe, e nos perguntamos afinal:
Reclamar a quem?
Reivindicar a quem?
Notificar a indignação a quem?
Haverá resposta?Quando?Se os prazos não
são cumpridos pelos Superiores?
Os prazos e departamentos são
muitos e a aceitação por parte de quem tem
uma visão mais abrangente e tenta colaborar,
geralmente não encontram os ecos
46
indispensáveis a esta sobrevivência de
conhecimentos profissionais.
Somos uma classe especial de
profissionais, por tratarmos com as doenças e o
homem que a pertence, ser este já
genuinamente egoísta, e ainda sermos relegados
à condição de curva de rio, o que não nos
acalenta em absolutamente em nada e menos
ainda estimuladora.
Propostas, trabalhos científicos,
técnicas apuradas, recursos humanos e de
trabalho, equipamento de proteção individual,
medicamentos específicos não são aceitos e
muito menos presentes nos NAS.
Pois é sabido que são poucos os
NAS em que seus diretores, têm a mentalidade
aberta, apóiam seus funcionários dando a eles o
respaldo necessário para exercerem suas
atividades como manda e recomenda as
condições mínimas de órgãos de saúde.
O interesse dos diretores de
NAS, não deveriam ater-se somente “ao bom
andamento do serviço” ao executarem as
tarefas administrativas e fazê-las fluir, mesmo
não tendo capacitação ou especialização nesta
área, mas de estimular trabalhos científicos e o
desenvolvimento de técnicas apuradas e
atualizadas, voltadas a todos, em especial para
a população alvo (presos).
Isso, qualquer profissional de
bom senso e boas intenções faz, ao contrário,
são vampiros sagazes vestidos em peles de
fantoches.
47
Para os funcionários que tomam
conta dos NAS, seria um estímulo, mas isso
não acontece; infelizmente não é isso que
ocorre.
A praxe é pautada pela mão
contrária.
Não há estimulo algum.
Ás vezes há até impedimento de
se colocar em prática os aprendizados
adquiridos na formação profissional e dos
cursos pós-formação, palestras, seminários, que
são custeados pelos próprios profissionais de
enfermagem.
Aconteceu comigo e acontece
com mais intensidade do que possa se imaginar.
Quando se propõem qualquer
melhoria em nível de técnicas novas e
atualizadas, sem custos adicionais ou de baixos
custos, somos imediatamente desautorizados e
desestimulados a fazê-lo, pois irá “criar mais
trabalho”.
Ou até com alegações de que não
detemos os conhecimentos necessários para
executá-lo apesar de provarmos ao contrário,
sempre há negativas e impedimentos.
Pedir ajuda a quem?
48
Objetivos da Enfermagem
Tendo como normas básicas o
Código de Ética profissional, que a custa de
grandes atos, procedimentos, empenho e
dedicação por parte dos Conselhos Regionais
de Enfermagem, em especial nos últimos anos,
somos nós os enfermeiros, auxiliares, técnicos
de enfermagem e as equipes complementares,
somos a ele subordinadas. As ações dizem
mais que palavras.
Submeter-se ao Código de Ética é
justo e legal. Não poder respeitá-lo em níveis
objetivos, subjetivos e legais é que é ilegal, pois
há coerção, por imposição teórica de áreas
alheias ao profissionalismo da área de saúde - é
sempre a patente dentro do sistema prisional.
Parece ser o intuito deste livro -
esclarecer os procedimentos que pormenorizam
o dia a dia do sistema prisional, mas não é isso,
outrossim visa esclarecer os meandros de
atitudes contra a Equipe de Enfermagem como
um todo, pela diferenciação que ela exerce nas
atitudes fim.
No sistema prisional há falhas
gritantes e sabidas, com pouco empenho para
buscar as soluções necessárias e imperativas,
com inteligência e intuição, pois não é objeto
de qualquer tipo de lucro para o Estado, mas
sim uma Obrigação Legal, por ordem da Carta
Magna.
49
E se ele não o mantém como
deveria, que seus representantes assumam esta
responsabilidade e a faça cumprir, sob pena que
estes possam passar algum período lá dentro
para sentirem o gosto amargo deste fel, criado e
mantido por eles, e quem sabe, talvez, se
humanizem.
Pois quem paga os impostos tem
o direito de manifestar sua indignação frente
estes fatos, verdadeiros - é só querer ver.
Tudo isso é sabido e deveria
funcionar melhor, e com certeza pode.
Temos consciência e
sensibilidades suficientes para ver e sentir que
este estado de coisas só faz aumentar a
degeneração do humano que utiliza estes locais.
Sabe-se também que existem por
detrás destas atitudes, interesses escusos e
inconfessáveis: fios de tear que vão se
amarrando por interesses comuns a manter o
poder que não é emanado do povo, mas de uma
parte ínfima dele.
Assistir o indivíduo em situação
de necessidade de saúde é direito, não favor do
Estado, nas pessoas de seus representantes, seja
em que situação for; e dentro do sistema
prisional este estado de situação é FAVOR,
pois não adianta a força da lei PESSOAL
contra a “lei” do sistema.
Para diretores e alguns
funcionários do sistema, a área de saúde é
privilégio e deve ser manipulada com interesse
próprio.
50
Não podemos atuar conforme é
de recomendação no nosso Código de É tica
Profissional nos interiores do sistema,
principalmente como deveria ser e estamos
preparados para atuar, por que amamos o que
fazemos.
Falar ou demonstrar sentimentos
de compaixão ou de interesse em ajudar um
doente ou necessitado, dentro do sistema
penitenciário é demonstração de sexualidade,
ignorância, inimizades, ser mal visto, desprezo,
cumplicidade com bandidos, e torna-se
também, escárnio para esta sociedade em
particular.
Naturalmente e conscientemente
temos de nos acautelar com propósitos
subliminares de alguns internos / presos, pois
também é sabido que há intenções nada nobres
e recomendadas sobre estas intenções e desejos,
mas felizmente não é a maioria como querem
fazer crer.
É falta de oportunidade clara e
objetiva no amanhã desta população.
Mas também existe a massa de
conformados, acomodados, desestimulados,
que desistiram de lutar pelo que é certo;
melhorar o sistema é possível, apesar de não
acharem nenhum tipo de respaldo nos colegas
de enfermagem (alguns locais), em diretores de
NAS e nas diretorias da instituição, até porque
estes também estão desestimulados pelos
próprios desencontros administrativos do
Estado.
Como deve funcionar o sistema
51
em seu aspecto estratégico, funcional e
estrutural é sabido, mas não podemos fazê-lo
por impedimentos administrativos.
Será que este estado de coisas é
também de interesse dos mandatários eleitos ou
nomeados?
Saber como atuar nos é
oxigênio, contudo somos impedidos por tipos
de normas e pelas questões de segurança
segundo dizem os responsáveis.
Então porque existem agentes
de segurança, senão para segurança dos presos
e dos colegas de trabalho que no sistema
atuam?
Propostas isoladas foram
colocadas aos diretores de NAS, que
vislumbram um horizonte mais atualizado e
realista, integrando-se com outros profissionais
de saúde e desempenhando suas funções de
uma maneira menos ociosa e degenerativa,
como o que deveria ocorrer em todos os
presídios.
E tomara que possam implementá-los..., se
deixarem.
Como proposta de atuação
mínima dentro dos parâmetros esperados do
profissional de saúde, em especial o de
enfermagem, sob a coordenação do Enfermeiro,
é as que abaixo exponho:
01-integração entre os profissionais de
enfermagem, formadores de opinião e
atualização;
52
02-formação de uma associação, de integração
para reciclagem, repassando e instituindo com
informações atualizadas sobre condutas e
procedimentos padronizados e unificadas;
03-atribuição de atividades dos auxiliares ou
técnicos de enfermagem e reciclá-los
periodicamente, se possível a cada seis meses,
em Centros Próprios (Centro de Recursos
Humanos) ou regionais;
04-planejamento da assistência à populaç ão
alvo, de forma independente, subtraindo os
impedimentos tanto em nível administrativos
quanto de segurança, o que resultaria em
atendimento ideal e adequado;
05-prescrição de enfermagem nos ingressos e
nos casos que requererem maiores cuidados,
como os internados em enfermarias para este
fim, com pessoal treinado e tendo disponíveis
os equipamentos necessários à manutenção à
vida;
06-designação das funções por atividade
desenvolvida (as consultas de enfermagem);
procedimentos ambulatoriais, medicações de
rotina e de preparo e aplicações mais
complexas, avaliação laboratorial,
padronização de materiais, equipamentos e
condutas terapêuticas, exceção os casos
especiais atendidos;
07-interação única e exclusiva para o transporte
externo de presos que necessitem de assistência
e atendimento especializado em hospitais ou
clínicas, por indicação de médicos e
enfermeiros;
53
08-educação em saúde pública a profissionais
de saúde e aos ASPs, e se possível for, também
informar a população alvo (presos), com a
finalidade de esclarecer, prevenir doenças
comuns e de fácil resolução, assim como DST/
AIDS, tuberculose, que ora está se alastrando
como uma simples gripe, por negligência dos
poderes públicos em vislumbrar este estado de
coisa, mas que agora estão tomando as
providências para controla-la, entre outras
medidas sanitárias;
09-avaliação diária do setor de nutrição e/ou
cozinha, que sabemos que é um nojo de se
entrar, com restos de alimentos disponíveis a
ratazanas, que chegam a rosnar para quem as
impedem de resgatar comida e fazer uma
“boquinha”, além é claro os gatos.
10-Orientar os internos que elaboram a
alimentação nos preceitos de higiene e
elaboração de alimentos e dietas especiais;
11-estimular a profissionalização destes
internos;
12-propor soluções de dietas especiais e sua
elaboração;
13-acompanhar a evolução clínica dos presos
que irão receber tratamento especializado e
outros mais graves, em nível de enfermagem
juntamente com a evolução clínica dos
médicos;
14-avaliação, checagem, orientação, correção
das condições de higiene, ventilação dos
dormitórios e banheiros, que sabemos estão em
estado de precariedade: entupidos e com
54
vazamentos, estimulando e exigindo as
reformas necessárias, através de meios legais se
for o caso;
15-educar para não degenerar;
16-controle de materiais e equipamentos
indispensáveis à manutenção à vida e para
procedimentos diários e rotineiros;
17-programação de trabalhos em equipe e
discutir a sua efetivação e manutenção;
18-caixa de proposta de sugestões;
19- Manter disponível Caixa de Emergência,
móvel, com os equipamentos indispensáveis à
vida.
É sabido que para implantar este
projeto, esta idéia, que desde 1993, quando foi
apresentado pela primeira vez, não é difícil.
Basta querer fazer, pois não
implica em gastos vultosos, apenas em básica
reciclagem e boa vontade em implementar.
Talvez por não ter gastos
vultuosos é que há tanta dificuldade em
implementa-los. Ou não?
Sabemos que existem obstáculos
e impedimentos pessoais, por parte de diretores
de NAS e de outros setores que aparentemente
perderão “poderes” sobre nós e os demais
funcionários.
Não queremos tomar poder de
ninguém, apenas e somente trabalhar, exercer
as tarefas para a qual fomos contratados e
55
preparados profissionalmente, sem estes
obstáculos ilegais, pois o que pleiteamos é legal
e já deveria estar sendo feito.
Sistema Computadorizado
Desde a década de 80, o sistema
computadorizado vem sendo implantado nos
56
lares, lojas, sistemas governamentais, nos
poderes legislativo, judiciário e executivo.
Com certas restrições no início,
por condição pessoal de estranhar o
desconhecido, confirma-se o que temiam
alguns e desfez-se ao vento para outros, mas
nos dias de hoje, em pleno início do século 21,
o computador tornou-se mais um elemento dos
tantos eletroeletrônicos disponí veis e de acesso
fácil, indispensáveis para certas atividades e
fins, em especial no trabalho.
Sabemos de suas utilidades e
de seus manejos e basta ter um pouco de aulas
com um parente próximo, a namorada (o) ou
amigo (a) ou com um professor habilitado, e
pronto, já estamos acessando e viajando por
este mundo, fato este que já foi bem assimilado
e aceito pelos mais resistentes.
O sistema penitenciário não ficou
atrás.
Com tantos processos entrando e
saindo, com dados individuais surgindo a cada
instante, estas informações vão se acumulando
e a sua inclusão manual, que apesar de ainda
ser muito usada, o sistema computadorizado
facilita sobremaneira a elaboração de relatórios,
as escalas, os laudos, fax, avisos, portarias
baixadas pelos departamentos, entres outros
fins.
Mas este instrumento hoje já tão
bem incorporado no dia a dia de todos não é
usado em todos os departamentos do sistema
prisional.
57
A grande maioria dos NAS
(Núcleo de Assistência à Saúde) dos presídios,
penitenciárias e afins, não dispõem deste
equipamento tão necessário e indispensável
quanto o uso contínuo de um aparelho de
pressão arterial (esfigmomanômetro) ou de um
estetoscópio, que é sabido por todos, inclusive
uma criança, de sua utilidade.
A paridade é muito semelhante,
tendo em mente que somente os olhos de uma
criança é capazes de transmitir genuinidade e
franqueza - mas que este mesmo
comportamento não faz parte dos que tem
poder der decisão para instalar e colocar a
funcionar um sistema computadorizado em
setores essências como estes NAS.
Guardamos informações sobre a
saúde de internos, informações estas que são de
interesse exclusivo de funcionários da área da
saúde e do interno/preso que é a fonte de
informação, mas não é isto que acontece.
Como fofoqueiros de plantão
muitos funcionários de outros setores, têm
acesso a estas informações restritas a área de
saúde, pelo simples fato que usam da persuasão
e coação para ter acesso a estas informações
consideradas privilegiadas, infringindo, de
maneira criminosa, o código de ética e as leis
em vigor o que não é respeitado.
Estas informações são
consideradas sigilosas, e por assim ser,
interessantes para manipular situações em que o
preso se envolve e mesmo para ter “favores
escusos” deste ou para outro fim não tão nobre.
58
Isso é repassado aos senhores
diretores de NAS, mas muito pouco ou nada é
feito para coibir este abuso.
Se não o fazem durante a
presença de funcionários da área de saúde, o
fazem em situações determinantes de ausência
destes, quando não estão por perto
voluntariamente ou forçosamente.
Foi solicitado junto a diretorias
e mesmo ao Governador do Estado a instalação
de sistema computadorizado, desde maio de
2001, mas sem nenhuma resposta até o presente
momento.
Talvez por ainda não ter podido
responder a tantas solicitações, mas temos
paciência, uma patente que ninguém nos tira,
além é claro da vontade de fazer o que é certo e
ético.
Os dedos digitando teclas de um
computador podem facilitar as consultas de
informações, tornando mais ágil o
encaminhamento adequado de procedimentos e
a guarda de dados confidenciais, que ora, são
sistematicamente violados por terceiros, no
interior destes NAS do sistema prisional,
consentido ou não.
Sabemos da importância
fundamental destes dados, e em mãos
indevidas, seja ele de setores da sociedade em
nível estatal, particular ou misto, não nos
deixa em situação confortável, tanto funcional
quanto éticamente falando, em nenhuma destas
situações muito menos em mãos que podem
manipular estes dados a bel prazer.
59
Não vivemos sem informações; e,
dentro e com as informações colhidas e
contidas em um prontuário de um
interno/preso, pode-se fazer muita coisa, entre
elas manipular o próprio interno/preso ou
grupos deles para fins que desconhecemos.
Imagine estas informações em
mãos erradas?...pensemos e vamos dar solução
para este grave problema de falta de condições
de guarda de dados e instalar um sistema
computadorizado nestes NAS.
Ou continuaremos a viver na era
jurássica?
Fundamental não é a retórica,
mas a diferença.
60
Pergunte Certo e Ouça as Respostas...
Todos nós falamos ou
expressamos o que somos e o que sentimos
através de informações, por gestos, interesses,
conversas; uma linguagem corporal, que pode
refletir entusiasmo, empatia, curiosidade, mas
na contra mão, reflete através dos silêncios:
angústia, indiferença, suspiros de desconforto,
comentários sarcásticos, uma outra leitura
corporal.
Qual destas gostaria de vivenciar
no dia a dia?
Certamente não poderíamos viver
em plena paz do Jardim do Éden por longo
tempo, nem contrariamente viver um
desinteresse desprezível constantemente.
Sempre o meio termo é a situaçã o
mais aceitável, pelo simples fato de a natureza
humana não ser uma constante também, mas de
natureza egoísta, por essência, mas sempre com
um nível de educaç ão básica e de tolerância
visível e palpável, para compreender e ser parte
das soluções.
Pois ser parte dos problemas é
mais um estímulo a fazer as pessoas se
fecharem e a rotularem condutas que não se
explicam, por mera conformidade e revolta.
61
O que fazer e que não fazer para
ser um bom ouvinte?
Aprender a ouvir é mais difí cil do
que aprender a fazer boas perguntas, portanto
vamos nos lembrar quando observamos um
grupo de pessoas, sempre se questionando e
mostrando suas experiências e inexperiências.
Muitos estão preocupados em
manter uma linha de raciocínio”, com suas
respostas evasivas ou algum assunto importante
para si e para o grupo.
Se pudesse dar uma sugestão a
pessoas ao meu redor, diria: saibam ouvir
antes de elaborar e formular perguntas.
Ouvir é essencial, passivo é
verdade, o que leva a considerar-se que é
submissão ou estar subestimado.
Mas sabiamente quem ouve ou
sabe ouvir antes de formular perguntas, estas
certamente seriam mais objetivas e produtivas.
Como você ouviu a última pessoa
com quem esteve no trabalho, no restaurante ,
nas compras, no supermercado e em especial
em casa ou em uma festa?
Se você é como a maioria das
pessoas, não tenho medo de dizer que não sabe
ouvir, e está perdendo a oportunidade real de
saber ler as pessoas, de decifrá-las, mas o
tempo de aprender a ouvir não se esgota.
Quantas vezes você interrompeu
uma conversa?
62
Sabemos que ouvimos melhores
as crianças, com cuidado melhor que ouvimos
os adultos.
Porque será?
Na área de segurança, em especial
no sistema penitenciário, devemos aprender a
ler as pessoas, os internos, os colegas de
trabalho e certamente isto pode ser a diferença
entre saber se o movimento está controlado ou
se haverá surpresas nas próximas horas ou dias.
63
Nossas Dificuldades de Comunicação
Existem na literatura mundial,
livros, revistas, reportagens e normas práticas
de superar nossas dificuldades de comunicação
pessoal, e para tentar ser prático, tentarei expor
de maneira simples, mas objetiva, alguns
“conselhos” de como saber ouvir e perceber as
pessoas, e como entendê-las;
a-Ouça e fará melhores perguntas;
b-Não interrompa a conversa;
c-Mostre empatia;
d-Não discuta;
e-Não condene;
f-Não assuma ares de superioridade;
g-Fique próximo, mas não invada o espaço
do outro;
h-Envolva-se, mas com moderação;
i-Conheça sua linguagem corporal;
j-Fale sobre você, sem ficar íntimo, a não ser
que isto lhe interesse;
k-Não seja rápido no envolvimento e nem na
intimidade, pode ser um desastre;
l-Não se restrinja às frases esparsas, mas no
contexto geral da conversa;
64
m-Saiba ouvir com todos os seus sentidos;
n-Tente criar um ambiente agradável para
desenvolver a conversa;
o-Evite ter platéia, a não ser que queira fazer
uma conferência ou teatro;
p-Não tenha obstáculos físicos entre você e
seu interlocutor, e terá uma boa conversa;
q-Evite as distrações ou ficar distraído com
alguém ou alguma “coisa”;
r-Tenha uma postura para receber as
informações da conversa, nunca cruze os
braços ou seu interlocutor interpretará como
uma recusa de conversa;
s-Nunca queira discutir quando estiver
cansado ou no fim de um dia longo e difícil;
isto serve também para seu interlocutor,
portanto se ele/ela estiver cansado, respeite;
t-Avalie o estado físico e emocional de seu
interlocutor, para melhor decifrá-lo;
u-Crie um vínculo conforme seus interesses,
mas não atropele os potenciais de cada um;
v-Pergunte se ele/ela quer fazer alguma
pergunta, pois isto abre um leque de
informações confiáveis ou não saiba
avalia-las;
w-Devemos pensar no assunto ou deixar o
interlocutor pensando? refletir sobre
qualquer assunto é essencial e de boa
educação;
x-Saiba ser ouvinte e saiba ser ouvido pelo
seu interlocutor;
y-Saiba o que perguntar e o que responder.
A boa conversa sempre começa
com um bom discernimento sobre o outro e
sobre si , mas não com tom de superioridade,
mas de igualdade, removendo os obstáculos e
sendo honesto.
65
Nunca se explique.
Aos amigos, não é preciso.
Aos inimigos não adianta
O Coren –
Conselho Regional de Enfermagem
Diferentemente do que ocorria a
alguns anos passados, diziam que o Coren não
assistia os profissionais de enfermagem de
conformidade com as expectativas dos
profissionais que o fizeram existi-lo, mas
apenas caminhava, aos olhos dos colegas,
contra nós e contra nossas atitudes não nos
amparando e não nos acolhendo.
Isto é sabido, mas não é de todo
verdade.
Contudo, mas que deixava
transparecer que o Coren só servia para punir,
isto parecia, mas não tenho informações se
acontecia e realmente não acredito nisto, apesar
do artigo 14 inciso V, que cita; “Vconhecer e
decidir os assuntos atinentes à ética
profissional, impondo as penalidades cabíveis”.
Arbitrariedades e desafetos
podem ocorrer em todos os lugares, e conheço
66
muitos casos que fiscais despejavam suas
amarguras bem pessoais, intolerâncias e
vinganças em colegas sabidamente e
comprovadamente inocentes.
Ocorrências que resultavam em
absolvição das acusações formuladas e
nenhuma punição aos acusadores, pois o Coren
escudava seus pares.
Como se pode ver, em quase
todas as áreas do relacionamento humano,
existem regras que devem ser respeitadas e a
ética para promover a justiça, mas o gênero
humano é hipócrita por natureza você sabe
disso!
Nos últimos anos, os Corens, em
especial o do Estado de São Paulo, tem
primado pela visão global e estrita no trato com
seus iguais, com distinção e honestidade,
lembrando sempre que existimos e mostrando
que estão lá para servir, orientar, encaminhar, e,
se necessário punir, esta última, dando as
oportunidades antes de defesa ampla
(esperamos).
Eles sabem que existimos e
sentimos sua presença sempre, através de envio
de relatórios e novas resoluções entre outros
fins.
E devemos perceber novas
evoluções, o que os colegas também podem
participar dando suas sugestões.
Ao longo dos anos, esta visão
deformada e incompleta serviu para nos afastar
de nossos direitos e talvez de nossas
67
obrigações, o que a meu ver não deve ser
desprezada, mas vista como uma realidade.
E de fato pode ter sido
incompleta e incapaz de nos mostrar a que
vieram, mas eles estavam lá e nós por aí,
tentando sobreviver em meio à falência da
saúde deste Brasil, com todas as dificuldades
que enfrentamos, e sabemos, ocorrendo
maquiagem de atos para criar referências de
melhora, e isso não era e não é culpa dos
Corens, mas de governos.
Recentemente e por épocas,
recebemos a visita de fiscais do Coren para
interar-se dos problemas e avalia-los, tanto em
nível estatísticos como administrativos; que
este contato poderia ser mais que presente,
fiscalizando com espaço de tempo menor e
colocando as dificuldades presentes com mais
rapidez, e suas soluções com este mesmo
tempo.
Sabemos que os representantes e
responsáveis técnicos nem sempre visam o
melhor para o bom desempenho das funções de
enfermagem, pois em sua grande maioria foi
escolhida pela instituição e de seus interesses
deverá cuidar, o que pode comprometer as já
difíceis condições de trabalho.
E por medo de se perder o
emprego se esquece que têm direitos e não só
as obrigações impostas, e, não reclamam e não
informam ao Coren as dificuldades que sentem,
mesmo estando trabalhando em condições
relativamente aceitáveis e dentro dos padrões
do exercício profissional, adequados ou não.
68
Certamente os atendimentos não
ficarão comprometidos.
Hoje há déficit de informações,
e, de verdades; exemplo: constrangimentos,
coação, assédio moral e sexual, desvios de
condutas, desconsideração, falta de respeito
para com o cidadão profissional, destoando dos
preceitos da boa convivência, da ética, e outros
aspectos legais da profissão.
Conforme cita o artigo 38 do
Código de Ética, no tangente aos deveres, onde
lemos que devemos “tratar os colegas e outros
profissionais com respeito e consideração”,
nem sempre é apreciado e aplicado.
Devemos nos unir mais, a ser
uma classe que esquece de seus iguais.
Todas as profissões têm seus
iguais para também se protegerem, mas
fundamentalmente para evoluírem como
profissionais e na essência como pessoas.
Naturalmente prefere-se acatar os
desatinos e ofensas e continuar a caminhada,
colocando em prática a paciência e a
perseverança, pois não adianta reclamar e
esbravejar (?); forças contrárias e poderosas
têm os valores, disposição e escudos a seu
favor, realçando este poder de despedir e deixar
o profissional desamparado, o que o Coren
nada pode fazer, e certamente se pudesse, não o
faria, tendo em vista seus interesses próprios.
Esta situação coloca o
profissional em situação delicada e na maioria
das vezes o deixa desamparado.
69
Talvez se houvesse maneiras de
se queixar buscando resguardar a integridade
pessoal e profissional, e não ser atingido
enquanto se apura a verdade, fosse uma boa
saída e poderia ser colocada em prática.
Isto é uma constante dentro do
sistema prisional e em outros locais onde estão
os profissionais de enfermagem.
Queremos trabalhar de acordo
com nosso Código de Ética, mas é difícil.
Ficamos descompensados em
cuidar de todos os lados: das diretorias de NAS,
dos colegas já descompensados e estressados
pela mesma situação, de ASPs que sofrem
pressões de todos os lados - de presos de
diretores e de colegas comprometidos com o
crime, de diretores de outras áreas.
Não podemos é continuar a
sermos saco de pancadas, pois não temos
aptidão para sermos as “saudosas Amélias”,
da velha canção.
A Lei, o Preso, e os Funcionários do
Sistema Prisional
Recentemente, em 1999, foi
elaborado por Procuradores Gerais do Estado,
uma Cartilha dos Direitos e Deveres dos
Presos, onde estão relatadas de forma didática
com perguntas e respostas, as principais
dúvidas tanto de presos quanto de funcionários.
70
Dúvidas de funcionários?
É isso mesmo.
Os funcionários do sistema
prisional também têm dúvidas e deficiências
em informações e formações tanto quanto
qualquer cidadão. Algumas vezes mais ainda.
Estas informações são para
algumas pessoas que procuram conhece-las,
mas não deveria ser desta maneira.
Talvez neste ponto estejam as
razões das revoltas, rebeliões, fugas, resgates
de presos, deficiências estruturais. Sabemos
que os novos centros de detenções e outros
afins, são construídos para alojar em melhores
condições o cidadão preso e para mostrar
atenção para com este estado de coisas por
parte do Estado.
Seria muito bom se funcionasse
como está no papel, mas é o inverso disso.
Cita a referida Cartilha, na
pergunta:
Quais são os direitos básicos dos
presos?
E as respostas vão desde
alimentação; vestimenta fornecida pelo Estado;
alas arejadas e higiênicas; visitas da família e
amigos; escrever e receber cartas; ser chamado
pelo nome (e não de ladrão como é feito desde
há muito); receber três quartos (3/4) do salário
mínimo para ajudar no sustento da família e até
o “direito à assistência médica” entre outros
71
itens.
Ora, se não é explicitado nem ao
preso, nem aos funcionários seus deveres e
direitos, por que exigir destes o respeito
profissional aos demais funcionários do sistema
se não é explicado a ninguém isto.
E se o foi explicado, porque não
se coloca em prática?
O interessante e de direito a
todos, é a informação, mas se não se informa.
Como obter informações se não
sabemos as fontes (os livros de leis não são tão
acessíveis quanto podemos imaginar), e se
sabemos, temos dificuldades no seu acesso.
O Regimento Interno Padrão dos
Estabelecimentos Prisionais do Estado de São
Paulo, no Capítulo III, Secção I, dos Direitos,
no artigo 23, letra d inciso XIII, cita:
“...o preso tem direito a
tratamentos médico-hospitalar e odontológico
gratuitos, com os recursos humanos e materiais
da própria unidade ou do (Sistema Único de
Saúde SUS)...”
E novamente há a omissão das
atividades de enfermagem, mais presentes e
constantes que os demais profissionais da área
de saúde, relegando nossas funções a planos
inexistentes.
Médico tem sua função e
obrigação diferenciada das funções e
obrigações da Enfermagem.
72
Não somos auxiliares de médicos!
Não somos seus empregados!
Não somos fazedores de curativos
e aplicadores de injeção!
Nossa capacitação técnica supera
em muito as atividades médicas, pois sabemos
fazer, com propriedade e conhecimento
científico atividades para nossos pacientes que
nenhum médico imagina ou conhecer saber.
E é por falta de interesse destes
profissionais médicos em conhecer nossas
atividades.
É conveniente a eles mostrar que
são semi-deuses, frustrados é verdade, mas o
querem ser.
Muda-se a lei ou mudaremos nós?
Se o nosso pagador não sabe que
existimos ou se nos despreza por atendermos
uma parte da população presa, esta situação
precisa ser mudada, e se possível, informando
sobre nossas atividades e capacidades de
resolução.
Queremos e deveremos ser
respeitados enquanto classe profissional e
social.
Já foi dito nos itens anteriores
com as justificativas claras e palpáveis deste
nível de responsabilidades que a enfermagem
representa, e até nas leis que nos colocam a
margem de funções e atividades e continuamos
73
a servir apesar do desfecho.
E é nisso que eles se apegam para
continuar este estado de coisas.
Reforço, enquanto contribuição,
que todos os profissionais que exercem funções
reconhecidas, nos mais variados locais; possam
e devam se integrar e formar relatórios e
opiniões encaminhá-las aos seus conselhos de
classe, e para os demais e iguais seus, e com
isso, também possam ter uma visão desnudada
do que é ser servidor nos mais diferentes locais,
e em particular no sistema prisional.
É o direito da informação sendo
multiplicado, discutido, assimilado, mudado e
respeitado, de conformidade com que nos é
permitido na Constituição em seu artigo V.
Ou será que este artigo já foi
abolido e não o sabemos?
74
O Processo de Enfermagem no Sistema
Prisional
Quando estava na Faculdade de
Enfermagem, em 1979, tivemos a informação
que a futura colega de ofício, a Dra.Wanda de
Aguiar Horta e colaboradores, elaboraram o
chamado Processo de Enfermagem.
Nele constavam,
contundentemente, as maneiras de assistir ao
paciente de forma cientifica e racional,
hospitalizado ou não, em liberdade ou preso,
não distinguindo em que condições de locais
seriam os atendimentos, mas as formas de os
recursos que seriam utilizados para prestar da
melhor maneira possível a assistência.
Apesar das digestões difí ceis do
atual sistema de saúde do sistema prisional, e
que nos deu uma visão mais abrangente e
específica do cuidar em condições adversas,
tentamos implantar este Processo de
Enfermagem nestes estabelecimentos, para
melhor cuidar desta população já mais carente.
Como já disse anteriormente em
outros tópicos, a Enfermagem é para o
paciente o que o paciente não pode ser para
si, e portanto, entramos naquilo que ficou
incompleto ou dependente de outros.
Hoje, na maioria dos hospitais e
clínicas médicas e de enfermagem,
ambulatórios, já são utilizados o Processo de
Enfermagem, mas no sistema penitenciário isto
ainda não foi possível ser instituído .
75
A primeira tentativa ocorreu em
1993, quando exercia minhas funções de
Supervisor de Enfermagem no Hospital Central
do Departamento de Saúde do Sistema
Penitenciário, em São Paulo, com o Apoio da
Diretoria de Enfermagem e da Administração
do Hospital, e com o apoio incondicional do
Diretor do Departamento de Saúde .
É um hospital somente para
presos portadores de DST/AIDS e outras
doenças infecciosas e infecto-contagiosas, com
sessenta e oito leitos disponíveis, que tinha uma
equipe de médicos, enfermeiros, auxiliares e
técnicos de enfermagem, devidamente
treinados e afinados com os propósitos fins,
invejável a outros departamentos de outras
localidades, dado o nível de conhecimento que
estes profissionais dispunham e ainda acredito
que disponham nos dias de hoje.
As atuações eram com total
desprendimento, dedicação e integração entre
os profissionais.
Tudo era novo, funcionava bem e
fluía melhor ainda com as condutas
apresentadas por estes profissionais, como se
um rio calmo fosse, mas que levava em suas
intenções o servir.
Dispúnhamos de diretoria de
Enfermagem com autonomia para as atividades
e uma equipe de profissionais enfermeiros,
auxiliares, técnicos e serviçais afinados, de boa
formação pessoal e profissional, que se
entendiam e se reciclavam, de boa vontade e
muito estimulados.
76
Não havia falta de materiais,
equipamentos; recursos humanos em número
suficiente, medicamentos gerais e específicos,
alguns importados; testes laboratoriais eram
feitos imediatamente após os pedidos
efetivados tanto por médicos quanto pelos
enfermeiros, como já é rotina nos dias de hoje,
dado os conhecimentos que ambos dispunham.
Os resultados dos exames logo
que ficavam prontos eram entregues para que o
paciente/preso fosse atendido imediatamente,
havendo intervenção em tempo real, de
conformidade às necessidades do paciente e
conforme manda a lei, e assim deveriam ser
todos nós atendidos.
A equipe médica que plantonava
com assistência diária só medicavam ou
prescreviam para o paciente após pedir a
colaboração e parecer dos profissionais de
enfermagem ou do supervisor de enfermagem.
Os profissionais de enfermagem
forneciam todas as informações pertinentes
àquele paciente/preso e desta forma direcionava
os procedimentos mais adequados a serem
efetuados, e isso criava uma dinâmica de ajuda
e colaboração constantes.
Sabemos todos que a equipe de
enfermagem é o advogado da saúde dos
pacientes, zelando contra atitudes ou
intervenções desnecessárias ou resolvendo os
efeitos destas.
Equipe de primeiro mundo, só
vista em filmes, diferente da nossa realidade
77
atual; mas sabemos que em outros locais
existem colegas tão ou mais bem intencionados
e capazes, o que nos deu a certeza que é
possível fazer o certo com discernimento, e isso
nos trazia certo prazer em fazer parte de uma
equipe tão seleta.
Com este cenário, foi possível se
propor à implementação do Processo de
Enfermagem e a elaboração de trabalhos
científicos de monta.
Mas não foi possível publica-los,
dado a interferências externas e alheias às
nossas vontades, e ficamos frustrados pelo
ocorrido.
É como se desempenhássemos
uma tarefa, e ao final não poderia ser
aproveitado por ninguém; é como se o tempo
despendido não existisse, isto posto em
mudança de governo.
Estes dados não foram de todo
perdidos, pois colegas ainda se empenham em
colocar em prática as suas experiências
aprendidas; sorte dos pacientes que destes
profissionais fazem uso de seus conhecimentos.
Facilitar com dados e formações
para fazer melhorar os procedimentos
científicos e suas informações, quando
pertinentes, era o que queríamos, em benefício,
como disse, aos nossos clientes de forma geral.
O processo de enfermagem foi
implantado e efetivado, com excelentes
resultados, melhorando em muito a assistência
prestada, havendo retorno além do esperado,
que era o reconhecimento dos departamentos
78
superiores e principalmente da nossa clientela
alvo, que nos agradecia com lágrimas nos olhos
por termos ajudado a devolver-lhes o bem
maior, que é a vida e a saúde.
Esta vida independentemente de
quem é, não nos pertence, mas sabemos que
mais adiante poderem eles, também os internos/
presos, visualizarem a tão sonhada liberdade, e
com a lição aprendida respeitar a vida para
ser respeitado, isto é justiça.
A justiça dos homens não nos
compete, apenas somos parte da justiça,
teoricamente, bem direcionada, de devolver o
bem estar de viver com saúde e com sabedoria.
Há histórias curiosas naqueles
corredores e quartos que poderiam traduzir com
que dedicação à abdicação do particular pelo
todo, reconhecendo as limitações pessoais,
estimulados a continuar por ter um profissional
e um amigo âncora”, que sustentava a boa
vontade, e assim por diante, continuar a lutar
por desconhecidos que chamávamos pelo
nome, com respeito e carinho a quem, por
certo, poucas vezes o receberam.
Não somos heróis, muito menos
temos esta pretensão, mas quando nos dão
condições mínimas de atuação, as respostas não
precisam ser cobradas, elas vêem por si, pois
assim nos fizemos e nos formamos e forjamos
em cada atitude.
Aproveito para lembrar que ao
final deste relato, farei duas exposições de
Processos de Enfermagem e de avaliações de
condutas de enfermagem, possíveis e aceitas
(?), dentro do sistema prisional.
79
“Conhece os defeitos de quem te rodeia e
conhecerá suas virtudes.”.
Ditado Chinês
A Penitenciária 1 (de Tremembé)
Quando ingressei no sistema
penitenciário, em fevereiro de 1990, através de
concurso público, iniciei minhas experiências
nesta área na Penitenciária Dr. Edgar
Magalhães Noronha de Tremembé, mais
conhecido como PEMANO.
Neste local tive a oportunidade de
trabalhar com um grande conhecedor deste
universo de adversidades, e, saber usufruir as
mazelas em benefício da assistência aos
internos e à equipe de enfermagem; falo de Dr.
Andraus.
Este diretor de núcleo de saúde,
psiquiatra de carreira invejável, nos acolheu e
nos orientou no que era possível, para àquele
ambiente novo e aparentemente hostil, para nos
nutrir com idéias e maneiras de agir com
poucos recursos materiais, nos estimulando a
continuar, a fazer uma assistência possível
80
naquelas condições de guerra branca de
mocinhos e bandidos.
Estes mocinhos e bandidos não
era necessariamente nós contra nossa
população alvo, mas muitas vezes nos defender
de colegas de profissão e de ASPs mal
intencionados.
A assistência era aplicada como
deveria ser feita, apesar de “certos”
procedimentos administrativos difíceis, sempre
presentes, e conforme já foi descrito; “... O
lobo perde o pêlo, mas não perde o vício...”
Foram meses trabalhando ao lado
de quem nunca desistiu de assistir e dar o
melhor de si.
Sempre nos decifrava, e através
de suas palavras e atos, nos ajudava a exercer
nossa função, usando como escudo os anos de
medicina no sistema e a influência de diretor de
saúde do complexo penitenciário.
Quando inauguraram a
Penitenciária Um de Tremembé–SP, hoje
Penitenciária Leônce Pinheiro, em dezembro de
1990, fui convidado pelo Dr. Andraus a ser
chefe se secção de saúde daquela Penitenciária,
o que me deixou muito triste e contrariado,
abalando minha credibilidade naquele homem
que se tornou uma lenda dentro do sistema
prisional, dado a sua dedicação por anos
seguidos.
De início não entendi o porque
desta conduta, e conforme já disse, me
contrariou muito, mas mal sabia eu que aquela
81
atitude iria mudar por completo toda a história
da minha vida; com os aprendizados que se me
impuseram pelas dificuldades que presenciava,
talhando-me como pessoa e profissional de uma
maneira que em lugar nenhum poderia
encontrar, só viver e ver.
Sentir sentimentos que
desconhecia da natureza humana e, nunca
ouvira falar ou descrição havia lido ou sabido.
Hoje, agradeço aquela atitude de
um “pai” que sabe o que é melhor para seu
filho.
Quando nesta penitenciária
cheguei, encontrei apenas: salas vazias, mesas e
cadeiras amontoadas e uma caixa de sapato
vazia com aspirinas e dipirona (analgésicos e
antitérmicos), emprestados de outro presídio.
Indaguei ao responsável pelo
almoxarifado da Penitenciária I, um biólogo de
formação, mas um administrador por vocação,
como deveria proceder para equipar o setor,
que formulários deveriam ser preenchidos para
obter o necessário em nível de materiais,
equipamentos e recursos humanos, e não eram
poucas as necessidades, e, finalmente, em
quanto tempo chegariam os pedidos.
Foi um grande colaborador que
de imediato solicitou todo material que
necessitava o setor de saúde, o que levou cerca
de duas semanas.
Neste período ouvi, presenciei e
senti ofensas de internos/presos e
principalmente de ASPs, que queriam
82
medicamentos e assistência, mas não
dispúnhamos de recursos naquele momento.
Existiam mais de cinqüenta
presos no primeiro dia, na inauguração da
penitenciária, e esta quantia aumentava no dia a
dia até sua plena lotação e ultrapassagem do
limite inimaginável; eram indivíduos que
necessitavam de assistência e esta estava sendo
providenciada, dentro das possibilidades
apresentadas.
Em menos de duas semanas, o
setor de saúde mudou de fisionomia e passou a
trabalhar a pleno vapor.
Já não eram só mais salas, mesas
e cadeiras, mas elas sendo recheadas e
utilizadas com medicamentos, equipamentos e
materiais específicos para a área.
Seu funcionamento parecia um
relógio suíço de tão eficiente, pontual e
confiável.
Este era e foi sempre meu
objetivo.
Não havia profissionais de
enfermagem disponíveis, como auxiliares ou
técnicos de enfermagem, mesmo ou outro
enfermeiro, o que foi sobrecarregando-me de
maneira abusiva.
Tinha múltiplas funções:
administrar, medicar, assistir ao preso doente
internado no setor ou nas celas lotadas,
acompanhá-los em consultas médicas e
odontológicas internas e externas, treinar ASPs
83
que se dispuseram a abraçar a causa da
enfermagem, e ainda, efetuar todos os relatórios
das atividades.
Quando estes ASPs se dispuseram
a colaborar não foi por total desprendimento,
mas porque achavam ser um serviço mais fácil
de ser executado, e, que com o tempo passando,
as dificuldades surgindo, pacientes gemendo de
dor, a grande maioria destes destemidos
voluntários se retiraram do campo de batalha.
Mas felizmente, alguns insistiram
na assistência a pacientes, e hoje são colegas de
ofício honrando a camisa de ser enfermeiro.
Foram dias muito difíceis de
serem vividos e sentidos, onde trabalhávamos
de catorze a dezoito horas por dia, sem nenhum
outro colega de enfermagem para dividir estas
responsabilidades, de domingo a domingo, com
plantões noturnos constantes, onde nos faltava
ASPs treinados na enfermagem, para assistir
aos presos.
Colaboração que hoje é traduzida
nas experiências de cada um que por lá passou.
Conseguimos equipar o setor,
com funcionários, matérias e medicamentos dos
mais diversos fins, muitos doados ou
adquiridos pelos funcionários e por mim
mesmo, onde podíamos ter condições de
assistir aos internos / presos, sem necessidade
de retirá-los do presídio para casos mais
comuns, evitando riscos desnecessários.
Fazíamos no interior do
estabelecimento prisional: eletrocardiogramas,
84
eletroencefalogramas, alguns exames
laboratoriais e consultas internas com
especialistas.
Isto, com a ajuda recíproca e
desprendida de alguns poucos ASPs, que se
transformaram em agentes de saúde e,
estimulados pelo ambiente criado, conversas
sobre as atuações da enfermagem no cuidar,
começaram a procurar cursos de formação
profissional e hoje são referências pessoais e
profissionais para muitos de nós.
O setor de saúde dispunha de toda
assistência necessária ao bom funcionamento e,
cobertura na área de saúde, com exceções de
exames mais específicos, como ultra-
sonografia, tomografia e ressonância
magnética, exames estes que nem nós na
aparente liberdade temos acesso fácil.
Mas, quando os internos/presos
necessitavam, conseguíamos marcar estes
exames nos hospitais da região, não sem uma
grande resistência.
As consultas e os
acompanhamentos de tratamentos eram no
mesmo dia, ou conforme as necessidades e
possibilidades, dependendo do caso, na mesma
hora, sempre com um primor de assistência
como se esta fosse particular, sem as grades a
segurarem estes internos / presos, no que
refletiam nos comportamentos disciplinares
destes.
Nesse período onde os
atendimentos eram efetivados com respeito ao
ser humano, com tratamentos sérios e
85
adequados, não houve revoltas, rebeliões,
paralisações ou qualquer outro movimento
reivindicatório mais substancial, especialmente
na área de saúde.
Dispúnhamos de leitos para
internação, quarto de isolamento, quarto
psiquiátrico, com área verde montada pelos
internos / presos e funcionários do setor, com
mudas de plantas cedidas e autorizadas sua
entrada e plantio, pela diretoria geral, no que
transformava o ambiente conciliatório e de
resolução, dado o tratamento igualitário e
recuperador que era proporcionado.
Consegui com minha equipe,
colocar em prática uma administração de
serviços de saúde, naquele departamento de
saúde, que recebeu vários elogios, mas estava
apenas aplicando e praticando uma de minhas
especializações que detenho.
Foi uma realização do grupo,
sendo que cada um participou e dedicou o
melhor de si, independentemente dos
obstáculos da administraçã o geral da
penitenciária, que após a montagem da secção,
passou a nos bloquear e inibir em iniciativas,
obstando atividades, alegando razões de
segurança sempre lembradas mas nunca
justificadas, o que nos impedia de exercer o
direito de assistir a quem necessitava como
vínhamos fazendo.
Às vezes me perguntava quem
era mais criminoso.
É difícil dissociar um fato de
outro, sendo que de um lado havia
86
impedimento físico, e de outro, o poder de
autoridade penitenciária, não de lei.
Foi quase três anos de intensos
trabalhos, renunciando família, o particular,
lazer, em benefício de poucos, mas que quando
realizado, foi com dedicação e amor ao
próximo.
Amor ao próximo dos que ama
ajudar, assistir e servir ao menos favorecido e
neste caso, aos enjaulados.
Como um trabalho bem feito e
funcionando se torna incômodo aos supostos
administradores do bem público, pois via de
regra não é esta uma conduta comum, fui
transferido compulsoriamente para trabalhar no
Hospital Central do Departamento de Saúde do
Sistema Penitenciário, aos cuidados de seu
diretor, que já foi comentado no capítulo
anterior.
O que sei, é que algum tempo
depois de minha transferência desta
penitenciária, a rotina que havia sido instituída
e os atendimentos aos internos / presos da P I
decaiu e houve uma rebelião violenta e cruel,
onde uma colega de enfermagem se tornou
refém por dias, e uma das justificativas deste
motim, era o péssimo e mal atendimento e
assistência de saúde prestado a época.
Foi uma grande perda de tempo
ou não poderia ocorrer diferentemente?
Basta uma análise superficial e
direcionada para se obter a resposta.
Quando queremos fazer certo, é
87
certo fazer o que queremos e devemos.
O Enfermeiro Problema
Para o sistema penitenciário,
quem quer trabalhar como recomenda as regras
estabelecidas em lei, a ética, o bom senso e nos
impõe as leis em vigor, não serve para o
sistema.
É de interesse do contribuinte,
que o bem público seja administrado com
competência, honestidade e certo grau de
desprendimento, o que se espera ser uma regra,
mas não é isso que encontramos, basta abrir os
jornais.
Os interesses variam de região a
região, mas os fundamentos observados dentro
do sistema são as “escolas” do fazer como eu
faço, das velhas raposas, uma ou outra com
melhor desempenho e nos padrões esperados,
mas a sua grande maioria segue por caminhos
já trilhados por aqueles que cuidaram e
guardaram, em tempos remotos e de atitudes
medievais, especialmente na mentalidade e
procedimentos para com o outro, sendo a
diferença substancial em grau de entendimento,
de que eles são quem mandam e fazem leis
internas da maneira que bem querem.
Se familiares ou mesmo internos/
presos fazem reclamaçõ es que possam atingi-
los de alguma maneira, certamente outros
iguais tomaram esta “dor” de seus
companheiros e tomaram “as devidas
88
providências que o caso requer” para abafar e
fazerem esquecer que aquele fato ou situação
existiu.
.
Naturalmente, esta mentalidade
está mudando na proporção que novos
administradores passam a conduzir com
hegemonia, afinados com o pensamento e
respeito à causa pública, mas está raro ver e
sentir estas mudanças, pois os conselhos
antigos voltam e são aplicados de forma
atrapalhadas e contundentes.
Mas a vivência trará a maturidade
e esperamos que esta hegemonia e respeito, ora
embrionário e com poucas chances de
sobreviver, perdurem.
A vivência por que passei sob o
domínio destas “raposas” inescrupulosas,
alguns já cederam à vida por efeito disso,
estas, antes, acima da lei e com poderes da vida
e da morte, além das nuances intermediárias de
atitudes viciadas em resquícios da ditadura
militar, me trazem más lembranças e pesadelos.
Não se conformar com o que está
errado, sabendo que poderia e deveria ser de
outra forma, legal preferencialmente, não
traduz as aflições e medos impostos, pois estes
se tornam indescritíveis.
Contudo, a quem ousa questionar
ou reivindicar o certo dentro do permitido pela
lei e a boa administração, passa a ser visto
como um problema, e este devem ser
eliminados, na visão destas raposas. E quase o
fui.
89
Quando reivindicava através de
ofícios, que eram difíceis de serem
protocolados, pois só o seriam se o diretor geral
concordasse e quisesse que fossem registrados
no expediente e, a partir daí, passava a ser
visado e até de receber ameaças de morte, o que
se transformara até em rotina, apesar de não
terem êxito nesta intenção.
Apesar de representaçõ es junto a
delegacias de polícia, e procuradoria geral do
estado, que não sei por que nunca sequer
levaram a nada, em nenhuma resposta sequer,
sendo negligenciados e esquecidos estes
Ofícios numa gaveta qualquer, apesar dos
apelos às autoridades constituídas,
independente dos meus pedidos oficiais e
formais.
Os interesses por detrás desse tipo
de situação são de amizade de raposa a raposa
e, portanto, evitei e evito ser ovo para a
degustação profissional e pessoal, por parte
destes Canídeos.
Perguntava-me: eles estão acima
da lei ou as leis os servem conforme suas
vontades?
Nunca obtive respostas claras, só
ameaças.
Daí recebi nova transferência de
Taubaté para Tremembé, desta vez para o mais
conhecido presídio da região, além de ser um
dos mais antigos, o antigo IRT.
Lá fui recebido pelo senhor
diretor geral, que muito em seu estilo próprio,
90
relatou as dificuldades que eu enfrentaria pelos
poucos recursos lá existentes, com solicitações
não atendidas por bloqueio de verbas e de
vontades além de sua competência
administrativa, como equipamentos,
medicamentos essenciais, além dos poucos,
mas duvidosas eficiências dos recursos
humanos que lá dispunham.
Pude perceber que pela primeira
vez trabalhando no sistema prisional, um
diretor geral admitia suas dificuldades e
limitações, com extrema franqueza e
contundente verdade, admitindo até que todos
nós não passamos de piões nas mãos dos
poderosos e que nos colocávamos em situações
de conflitos por isso.
O efeito propulsor da realidade no
sistema prisional como um todo, é que ele é
uma curva de rio, e que nós fazemos parte
disso.
Infelizmente, isto é uma verdade.
Sei que gostaríamos que fosse
diferente...
Tentamos, enquanto funcionários,
fazer o que é possível para manter um sistema
sabidamente falido; desprezado pelo Estado e
pela coisa pública, e em especial pela sociedade
como um todo, pois esta age como avestruz,
funcionando, mas sabemos que não podemos
mante-lo.
Esperamos por muito tempo
mudanças que ainda não vieram e que
reclamamos.
91
É um paciente em estado
terminal, com início de falência de múltiplos
órgãos, restando apenas a boa vontade e a
dedicação de alguns para fazê-lo sobreviver
enquanto temos forças para suportar.
Passei por duas rebeliões nesse
trabalho, e fatos e situações que jamais
esquecerei, com violências de parte a parte,
pois nestes locais há uma guerra declarada de
gladiadores contratados da sociedade de um
lado e de impotência velada de outro.
O sistema usa os internos/presos
como massa de manobra para levantar fundos
para fins daqueles que mantém a aparência de
sociedade civilizada.
A mais conhecida e de
repercussão internacional, foi a do Carandiru,
onde lá estava para meu primeiro dia de
trabalho.
Após a transferência da PI de
Tremembé, para conhecer e me familiarizar
com os “setores” de saúde lá existentes, fui
surpreendido com este famoso massacre, sob o
comando de “cidadãos” acima de qualquer
suspeita, que lá desencarnaram seus mais
odiosos sentimentos reprimidos.
A segunda rebelião foi no próprio
IRT (hoje Penitenciária II de Tremembé).
Apesar de estar em licença para
tratamento de saúde, fui convocado como
“voluntário” para ajudar a assistir de forma
contundente aos internos feridos e necessitando
92
de cuidados.
Era uma angústia associada ao
desespero, com cenas chocantes, traumáticas e
de vandalismo, que quando acabou - a rebelião,
pudemos ver a destruição, pichação e a
violação não do prédio no sentido figurado
apenas, mas nas nossas consciências e nos
nossas atividades profissionais.
Praticamente nada restou em pé,
menos ainda, e em especial a nossa moral.
Os recursos materiais que já eram
poucos antes da rebelião, quase que
desaparecem por entre ofícios, fax,
humilhações de pedir, implorar por reposição
de medicamentos, materiais e equipamentos,
que até a presente data não foram repostos.
Funcionar um presídio sem
recursos básicos da realidade imposta é
diferente de administrar a longa distância, sem
conhecer e não acreditar em quem conhece a
realidade e nela vive e sofre.
As imposições enfiadas goela
abaixo pelo Governo, induzindo a situações
perigosas que podem e devem ser evitadas,
como certas portarias e decretos que
desautorizam quando não os impede, enquanto
funcionários a agirem de forma competente, e
ao mesmo tempo os obrigam a trabalhos sem
respaldo material e moral, expondo-os a riscos
desnecessários, como fugas, rebeliões,
massacres, desobediência civil entre outros
fatores desgastantes.
A falta de recurso mínimo a
fazer funcionar um setor de saúde de uma
93
penitenciária, que presenciamos no dia a dia,
sua manutenção, onde há falta até analgésicos
para ser oferecido aos internos, é propiciar e
estimular que novos (ou será que já estão
velhos) conflitos ecoem na vida de todos nós.
E o que dizer de outros
medicamentos e materiais essenciais para poder
funcionar?
Apesar de serem solicitados
quantidades suficientes para um trimestre, mas
que vem e quando chega, estão subestimadas a
um quarto ou um terço do pedido inicial.
O que causa a falta desses
materiais para os meses subseqüentes, onde
ocorre a sensibilização da população de presos,
que se vêem tolhidos de direitos básicos e nós
de atividade fim?
Em outras palavras, a conduta é a
seguinte: faz-se um pedido (por exemplo) de
100 comprimidos de AAS para um trimestre.
Encaminha-se o pedido à
Farmácia Central do Departamento de Saúde do
Sistema Penitenciário.
Após trinta ou sessenta dias de
feito o pedido, eles nos encaminham de 25 a 30
comprimidos para passar um trimestre.
Ou seja, recebemos quantidade
suficiente para apenas um mês; e o que fazer
com os outros dois meses restantes?
Reclamamos, oficiamos, mas
remédios não vêm - nada acontece.
94
Nos meses e trimestres seguintes,
este procedimento se repete.
Sempre reclamamos da baixa
quantidade de medicamentos e materiais, até
que eles nos informam que por dados
estatísticos anteriores, a nossa média eram
menores do que estávamos pedindo, e que não
há motivo para esse aumento tão significativo
(?).
É uma matemática perversa,
que subestima as nossas necessidades mínimas
e que por isso temos que fazer pequenos e
grandes milagres; mendigar em diferentes
locais para tentar suprir com o mínimo e fazer
cumprir o que é uma obrigação legal, não
assumida pelo Estado.
Reclamar a quem se não há
ouvidos a nos escutar?
Sabemos o que diretores e nossos
colegas da área de saúde passam e sentem
quando precisamos indicar ou medicar com
determinado fim ou utilizar materiais para fins
específicos, com risco de vida do interno e,
risco de vida para o profissional, que o assiste,
sem ter os recursos suficientes para fazer.
Colocando todos em situação de
omissão prevista, imposta por vontades de
quem tem a obrigação de fazê-lo e não o fazem,
pois preferem permanecer em seus gabinetes
refrigerados com lanches, almoços e cafés à
vontade, pagos por todos nós, e não usar a
caneta para suprir esse buraco.
A usam sim para apenas punir
95
quem os repreende ou os lembram de suas
obrigações legais e funcionais.
Quando morre um interno/preso
em nossas mãos, ou esse está correndo risco de
vida, os demais internos/presos não reportam
suas indignações aos verdadeiros responsáveis
pelo estado da coisa, mas a nós que lá estamos ,
servindo de vidraças para descarregarem suas
iras, no que estamos tentando servir apenas.
Contudo, impedidos, até certo
ponto, por força de responsabilidades não
cumpridas em fazer manter e funcionar um
NAS.
É incompetência de quem pede
ou de quem deve mandar estes materiais e
equipamentos, que não são comprados por eles,
mas fazem uso do dinheiro público?
A justiça tem termos
interessantes quando ela quer fazer parecer que
é um dos pilares da verdade e da democracia.
Então que se faça valer esta
verdade e democracia, e pedimos justiça pelo
descalabro em que nos encontramos e vivemos,
seja ela por incompetência, negligência,
intolerância por esses infelizes que nas mãos
dela está, e, peçamos a Deus misericórdia.
O ATENTADO
96
Em setembro de 2003 fui
“convidado” a assumir a chefia do Setor de
Saúde do CDP de Taubaté/SP cargo de
Diretoria, onde encontrei aberrações de caráter
e desvios de condutas e de personalidades que
poderiam servir de estudos psicológicos e
psiquiátricos anos a fio, se Setores da sociedade
civil quisesse e autorizações fornecessem para
isso.
Encontrei o Setor em total
desorganização, entre as quais cito algumas:
ROUBO DE MEDICAÇÕES,
EQUIPAMENTOS E MATERIAIS,
Funcionários onerosos e sem vontade de
trabalhar, domínio do Setor Penal, que lá
levavam internos para torturá-los, sob a
anuência da Diretoria Geral e de Delegados
de Polícia, Internos jogados ao chão, e,
suplicantes de socorro e assistência de saúde,
como casos de AVC Acidente Vascular
Cerebral que eram negados pedidos junto ao
Juízo da cidade para a remoção para hospitais
do Estado, portadores do virus HIV em estado
de magreza, fome, só encontrados em filmes
“fictícios”, onde se vê masmorras fétidas e
esquecidas de todos, por conveniências sociais
e de equilíbrio e busca de PODER, além dos
desmandos imagináveis e inimagináveis, além
de articulações para se manterem o status quo
desejado pelos funcionários desse Setor e de
outros, além é claro, do Sistema jurídico.
97
Em 11 (onze) dias, a contar de
minha chegada ao CDP de Taubaté/SP,
normalizei a assistência, fornecendo-a em nível
respeitoso, organizado e transparente,
devidamente documentados esses fatos, não
sem contar com as muitas resistências e
ameaças incubadas em pequenos gestos e
mensagens repassadas com o devido cuidado
pelos que se consideravam ofendidos por haver
organização, honestidade, respeito e dignidade
no trato de todo e qualquer ser humano que lá
estivesse.
Em janeiro de 2004, no final da
tarde, retornava de atendimentos aos internos
deste CDP, qual fora chamado pelo telefone
celular, apesar do horário de trabalho já
expandido e muito além de meu horário normal
de trabalho, a retornar àquela Instituição para
atendimento emergencial a um detento. Esta
disposição em sempre buscar ajudar,
independente de quem quer que seja, sempre é,
foi, e era uma rotina em minha vida
profissional, e assim, retornei o mais rápido que
pude para efetuar àquele atendimento. Era
armação, elucidada minutos depois, quando
retomava meu caminho para casa. Esta atitude
foi a forma encontrada para arquitetarem um
atentado contra minha vida. Como forma de
tentarem me manipular administrativamente,
fui indicado dias antes para o cargo de Diretor
de Saúde, e, suportei e sofri este atentado a
minha vida no percurso de volta a minha casa,
ainda na Rodovia que ingressa em Taubaté, por
um de seus bairros.
98
A arma do miliante falhou e
minha vida foi salva por esta falha. Estava
dentro de meu carro e este foi atingido no vidro
lateral, logo atrás do banco do motorista, qual
foi estilhaçado, causando ferimentos
perfurantes em meu dorso minhas costas,
perfurando a camisa e atrás do banco que
estava sentado. Estava vivendo cenas de um
filme policial dantesco.
A polícia foi acionada e de viva voz ouvi de um
sargento a seguinte frase: tentaram te
queimar pelo trabalho que está fazendo,
colocando ordem no setor de saúde do CDP.
Vá embora desta cidade antes que morra”
Comuniquei de imediato o que
estava acontecendo ao Diretor Geral, que em
seu primeiro momento ficou muito surpreso ao
ouvir minha voz, assim como muitos “colegas
de trabalho” quando retornei no dia seguinte
para minhas funções habituais, como se nada
tivesse ocorrido.
Meses depois, recebi outro
“aviso” para não mais voltar ao CDP, pois
senão iria morrer.
Como amo a vida e minha
família, acatei e obedeci estas vontades
alheias, apesar de saber que lá estavam uma
população que sofre pelo desprezo natural de
acharmos que somente nossos desígnios são
os corretos, e, por não estarmos envolvidos
com este estado de coisas, pois somos imunes a
erros de qualquer natureza, mas estamos por
omissão, futilidade e incompetência humana
em sabermos quem somos, quisera sabermos de
outros desconhecidos, não é?
99
Todavia, nunca se soube quem
eram os miliantes, pois há muitos envolvidos e
interesses escusos não podem ser revelados,
pois há muito mais comprometimentos por de
trás de um simples atentado a um simples
Enfermeiro.
Todos estes fatos foram enviados
a todas as autoridades chamadas competentes,
inclusive o Governo do Estado. Ninguém fez
menção em esclarecer os fatos e oferecer a
proteção cabível em lei. Por que será?
Depois de sofrer angústias de me
ver abandonado a minha própria sorte, nunca
me separando de minhas orações e pedidos de
orações dos familiares, amigos, não poderia ter
outra ancoragem, fervor em minha vida além da
fé nos desígnios de DEUS, pois este é eterno e
infinitamente Senhor de nossas vontades.
Outrossim, estas figuras
efêmeras, passageiras e desprezíveis, tanto em
nível de mandatários quanto dos que atentaram
contra minha vida, e continuam a atentar contra
as vidas daqueles desprovidos de voz em suas
defesas, fica a vivência real do perigo de se ter
como “companheiros de trabalho ”seres
humanos falantes e ora mandantes”.
Continuo com minha missão
profissional em outra área assistencial, que me
trás alento de poder fazer o que devo e com o
que disponho apenas dependendo integralmente
do meu bom senso pessoal e profissional e das
graças que DEUS me permite ter.
Obrigado DEUS nosso de cada
dia por poder ainda contar estas histórias de
nossos dias.
100
Prescrição de Enfermagem no Sistema Prisional
Uma simples Sugestão Administrativa
Nome:_________________________________________
entrada: _____/______/______ saída: _____/ ____/ ____
PRESCRIÇÃO DE
ENFERMAGEM
HORÁRIO ANOTAÇÃO DE ENFERMAGEM
1- Verificar sinais vitais mais PVC, o
padrão cardio - respiratório e
intercorrências
2– Observar e anotar nível de consciência
e diâmetro pupilar
3– Higiene corporal completa e anotar
características da pele
4– Efetuar massagem de conforto, anotar
queixas e algias
5- Aspirar VAS caso entubado; anotar
características das secreções
6- Administrar dieta (VO ou SNG) e
limpar sonda com água
7- Fazer curativos, anotando
características
8- Mudanças de decúbito alternadas para
D, E , dorsal
9- Limpar os eletrodos e efetuar seu
rodízio
10- Proteger todas as proeminências
ósseas e anotar características
11- Controlar e anotar infusão e perdas de
líquidos e IM, EV, SC
12- Nebulização macro contínua;
umidificador com H2O
13- Anotar todos os traçados
cardiográficos alterados- comunicar
14- Observar dor precordial, comunicar e
anotar
15- Observar, anotar freqüência de
eliminações fisiológicas
16- Observar, anotar débito e aspecto das
drenagens
101
Prescrição de Enfermagem no Sistema
Prisional
Uma simples Sugestão Administrativa
Evolução de Enfermagem
Data de ingresso:___/___/___ Procedência:_______________ Data:___/___/___
Nome:__________________________________________________________
HORÁRIO EVEVOLUÇÃO DE ENFERMAGEM ASSINATURA
Ficha de evolução clínica de enfermagem. Após o seu
preenchimento, dá-se continuidade conforme as
necessidades clínicas.
102
Exame Físico – Um resumo
EXAME FÍSICO
Nome:____________________________________________________ data:___/___/__
Nível Consciência
consciente confuso torporoso
Mucosas
íntegras não íntegras
coradas descoradas feridas
Pupilas
hiporeagentes reagentes
não reagentes
Secreções Respiratórias
flu
ídas espessas
outras:___________________
Secreção Urinária
normal oligúrica poliúrica
outras:____________________
Secreção Fecal
tipo:______________________
freqüência :________________
Peles e Anexos
ictérico hidratado desidratado
cianoses edemas lesões
Aparelho Digestivo
náusea vômito azia normal
outros:___________________
_
Aparelho Cardiológico
PA ______________mmhg
pulso radial _______bpm
Cabeça
lesionada não lesionada
outros:___________________
Músculo Esquelético
normal paraplégico
tetraplégico
outros:___________________
_
Lesões
tipo:______________________
local:_____________________
103
Prefácio da 2ª edição e Resenha publicada no
Jornal Matéria Prima na semana de 06 a
11/02/2006, pág. 03 na coluna de Rosana
Montemor.
Ao escrever este livro, o autor procurou, com
relatos sinceros, às vezes impressionantes,
preencher uma lacuna no campo editorial,
pois é inédita uma referência sobre a temática
por ele elaborada.
Procura assim, com fatos corriqueiros no
ambiente escolhido, ou seja, no Sistema
Penitenciário, que muito embora sejam, às
vezes, explorados pela mídia, não chegam,
todavia esta, apresentar um cunho verdadeiro
e detalhado, pois sabemos que certos
acontecimentos são sempre motivos de
censura e não condizem com os objetivos dos
veículos de comunicação.
Nestas condições o autor neste livro, relata
fatos que, se são ignorados pelos homens
responsáveis por aquele setor, não deixam de
ser importantes no cenário deste Enfermeiro.
Por ser um profissional altamente gabaritado
e honesto, além de ser totalmente dedicado a
este sacerdócio, trás nestes relatos, com
minúcias, momentos vividos por ele próprio,
dentro do ambiente, muitas vezes com risco
de, não só sofrer represálias, como até
podendo ser atacado, como de fato o foi,
colocando em jogo a própria vida em prol da
104
profissão que tanto zela.
Sou pessoalmente testemunha deste fato.
Percebe-se que durante o longo período em
que o autor serviu e serve no ambiente
penitenciário como Enfermeiro, fazendo
muitas vezes o papel de médico ou Doutor
como particularmente são estes profissionais
chamados pelos detentos.
Onde observam a falta que se faria de uma
descrição mais detalhada, do que acontece ou
pode acontecer àqueles dedicados
funcionários, que profissionais como são,
arriscam sua integridade física, mental e
moral para atender àqueles infelizes que
cumprem penas por erros cometidos.
Como relata o próprio autor, seu objetivo não
é agredir ou denegrir pessoas ou instituições,
mas trazer aos interessados em seguir a
profissão de Enfermeiro no sistema
penitenciário com dignidade e probidade, um
relato completo e verdadeiro, vivido em sua
própria carne, aos seus colegas de
enfermagem, quando adentrarem ao interior
de uma instituição prisional.
Pois são fatos que são comentados
detalhadamente, por segurança e que,
naturalmente, venham parecerem absurdos se
reproduzidos na mídia sensacionalista que é
diariamente apresentada em nossa imprensa
escrita, falada e televisionada.
É um compilado de observações e instruções
úteis e necessárias que vem, portanto
105
preencher aquela lacuna que referimos no
início deste prefácio.
Sinto-me honrado pela lembrança do autor e
amigo que me convidou para prefaciar este
trabalho, que me foi de grande importância e
valia diante do papel público que exerço.
Parabéns ao Amigo.
SALVADOR KHURIYEH
Deputado Estadual
11/02/2006. Mantida a de 07 de junho de 2002
HOMENAGEM AO ENFERMEIRO
Dr
JOSÉ RICARDO CAMARGO
XAVIER
Publicado no Jornal Matéria Prima de 16 a
22/02/2007, pág. 03, na coluna EXPRESSÃO
de Rosana Montemor.
Aos seus trinta anos de profissionalismo e
dedicação integral, pleno de tantos êxitos
e realizações profissionais no sacerdócio
da ENFERMAGEM, o Dr. José Ricardo
Camargo Xavier, homem inteligente,
capacitado, cientista nato, com olho
clínico invejável e sempre atualizado,
vem oferecendo os seus conhecimentos
como Enfermeiro a população de Taubaté
e região.
Escritor, pesquisador, faz da Enfermagem
um sacerdócio, agindo com integridade,
honestidade e objetividade.
106
Em seu livro mais recente, A
ENFERMAGEM NO SISTEMA
PENITENCIÁRIO, NARRA COMO
SÃO HERÓIS OS PROFISSIONAIS
QUE SE DEDICAM A ESTA ÁREA.
No Dia a dia, mostra como os
Enfermeiros tornam-se um Anjo da
Guarda da saúde de seus pacientes e
acabam criando laços de profunda
amizade.
Defensor da classe com múltiplos
exemplos e propriedade, trouxe ao Brasil
e sua região o conceito de Home Care há
27 anos. Professor de Enfermagem, em
suas Palestras, sempre aborda temas
voltados à área de Saúde, e, como
voluntário em escolas públicas
municipais e estaduais, levou aos menos
favorecidos informações de grande valor
científico. Especializou-se em muitas
áreas de seu ofício, sendo as principais na
área de Administração de Serviços de
Saúde, Auditorias, Análises e Gestão de
Riscos de Saúde, Saúde Pública, UTI,
Nefrologia, Traumatismos
Raquimedulares Tetraplegias e
Paraplegias, Doenças Infecto-
Contagiosas, em nível especial na área de
Tuberculose e Hanseaníase entre outras
Especializações.
107
Homenagear este grande profissional é
para nós, orgulho!
Como já disse a colunista Maria Helena
Salgado, do Jornal Diário de Taubaté, “...
José Ricardo é o filho que toda mãe
gostaria de ter...
A nossa Homenagem termina exaltando
da nossa sorte de ter um cidadão e
profissional como este em nossa cidade
e região.
Parabéns Dr. José Ricardo Camargo
Xavier pela sua dedicação na área de
Saúde!”
108
Prefácio e Resenha publicada no Jornal
Matéria Prima na semana de 06 a 11/02/2006.
Ao escrever este livro, o autor procurou, com
relatos sinceros, às vezes impressionantes,
preencher uma lacuna no campo editorial,
pois é inédita uma referência sobre a temática
por ele elaborada.
Procura assim, com fatos corriqueiros no
ambiente escolhido, ou seja, no Sistema
Penitenciário, que muito embora sejam, às
vezes, explorados pela mídia, não chegam,
todavia esta, apresentar um cunho verdadeiro
e detalhado, pois sabemos que certos
acontecimentos são sempre motivos de
censura e não condizem com os objetivos dos
veículos de comunicação.
Nestas condições o autor neste livro, relata
fatos que, se são ignorados pelos homens
responsáveis por aquele setor, não deixam de
ser importantes no cenário deste Enfermeiro.
Por ser um profissional altamente gabaritado
e honesto, além de ser totalmente dedicado a
este sacerdócio, trás nestes relatos, com
minúcias, momentos vividos por ele próprio,
dentro do ambiente, muitas vezes com risco
de, não só sofrer represálias, como até
podendo ser atacado, como de fato o foi,
colocando em jogo a própria vida em prol da
profissão que tanto zela.
Sou pessoalmente testemunha deste fato.
Percebe-se que durante o longo período em
109
que o autor serviu e serve no ambiente
penitenciário como Enfermeiro, fazendo
muitas vezes o papel de médico ou Doutor
como particularmente são estes profissionais
chamados pelos detentos.
Onde observam a falta que se faria de uma
descrição mais detalhada, do que acontece ou
pode acontecer àqueles dedicados
funcionários, que profissionais como são,
arriscam sua integridade física, mental e
moral para atender àqueles infelizes que
cumprem penas por erros cometidos.
Como relata o próprio autor, seu objetivo não
é agredir ou denegrir pessoas ou instituições,
mas trazer aos interessados em seguir a
profissão de Enfermeiro no sistema
penitenciário com dignidade e probidade, um
relato completo e verdadeiro, vivido em sua
própria carne, aos seus colegas de
enfermagem, quando adentrarem ao interior
de uma instituição prisional.
Pois são fatos que são comentados
detalhadamente, por segurança e que,
naturalmente, venham parecerem absurdos se
reproduzidos na mídia sensacionalista que é
diariamente apresentada em nossa imprensa
escrita, falada e televisionada.
É um compilado de observações e instruções
úteis e necessárias que vem, portanto
preencher aquela lacuna que referimos no
início deste prefácio.
Sinto-me honrado pela lembrança do autor e
110
amigo que me convidou para prefaciar pela
segunda vez este trabalho, que me foi de
grande importância e valia diante do papel
público que exerço.
Parabéns ao Amigo.
SALVADOR KHURIYEH
07 de junho de 2006.
RESUMO DO CURICULUM VITAE DO AUTOR
Graduado em Enfermagem e Obstetrícia pela
Universidade de Taubaté no ano de 1980, foi
desde logo revolucionando as ações da
Enfermagem na visão popular. Iniciou seu
trabalho inovando com serviços de HOME
CARE Internações Domiciliares, onde para
tanto, teve de efetuar aperfeiçoamentos e
Especializações conforme os casos que cuidava
foram aparecendo, levados à ele pela
curiosidade ou pelo profissionalismo
111
extremado, e assim Especializou-se nas áreas
de UTI, Nefrologia, Emergências, Primeiros
Socorros, Traumatismos Raquimedulares,
Imagens Diagnósticas, Doenças Infecto-
contagiosas, Analista, Auditor e Gestor de
Riscos de Saúde, Auditor de Meio Ambiente,
Doenças Geriátricas, filiando à Sociedade
Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Autor de
Resenhas, Artigos Literários para Internet e
Revistas Especializadas. Desde 1980
desenvolve trabalhos em HOME CARE e
suas Especialidades.
Pai de três filhas e avô coruja tem em sua filha
caçula a continuação de seu trabalho como
Enfermeiro, qual em sua dedicatória, demonstra
suas paixões por elas, além de sua profissão.
Como costuma mencionar, deseja sorte e
sucesso sempre.
Não há porque temer as pessoas, pois todas
são
confiáveis. Devemos apenas temer os
demônios
indomáveis que existem dentro delas”.
112
Autorização
a-Eu, JOSÉ RICARDO CAMARGO XAVIER
portador da carteira de identidade 9.256.453 SSP/SP
e do CPF 887.459.708 - 82, autorizo a publicação em
formato digital, sem ônus, da(s) obra(s) a enfermagem
no sistema penitenciário de minha autoria, pelo Portal
Domínio Público, biblioteca digital do Ministério da
Educação, no endereço de internet
www.dominiopublico.gov.br . É de meu conhecimento
que a publicação das obras na internet terá fins
estritamente não-comerciais, permitindo a reprodução e
a impressão gratuitas pelos usuários da biblioteca.
(local), (dia, mês e ano)
Ass.: José Ricardo Camargo Xavier
Nome: José Ricardo Camargo Xavier
CPF: 887459708-82
RG: 9256453 SSP/SP
113
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