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Sylvia Senny
A historia
de Seny
A Caminhada
Paixão e aventura.
Embarque com ela pela vida!
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Apenas que...
Foi estranho participar da cerimônia de
casamento e comemoração do meu pai. Eu
parecia estar ausente do corpo e presente na
aparência.
Somente quem me conhecia muito bem
poderia notar a diferença.
Eu estava triste. Egocentricamente triste
sentia-me intrusa. Denotava um sorriso para
disfarçar meu descontentamento.
Até Anita, bem mais tarde eu descobriria
que não a aparência tinha mudado. Seu
caráter também. Ela não precisava da minha
proteção e amizade e percebi logo que a vi tão
alta e prepotente.
De alguma forma meu coração dizia que
aquele era só o começo...
A mudança de toda trajetória!
Os encantos e desencontros dariam luz á
uma nova história.
Dedico e agradeço o apoio á meu irmão de alma, Paulo,
Suzi e á toda Família Naitzke.
Mãe Nê, sem você eu não estaria aqui e seria
impossível.
Lillian Késia você é minha inspiração filha, kássia
Gabriela e Ruan Lucas, ninguém poderia ter filhos mais
maravilhosos. E...
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Vocês estão dentro dela!
Plogo
O mundo difícil e seus dissabores,
Quando um inimigo muda a história...
Amadurecendo e colhendo.
O fruto das escolhas.
Difícil? Talvez!
Maravilhoso? Com certeza tu veras que é
isso!
Intrigante? Não há como não refletir.
Polemico? Tanto quanto um amor.
E....
Você vai descobrir que continua
dentro dela!
Prepare-se e vamos:
À caminhada!
Dedicatória Única:
Obrigado Deus pelo dom maravilhoso.
Pelos fins e pelos meios.
Por brilhar criatividade e emanar força,
graça, vida, veracidade!
Obrigado pelos editores,
Obrigado por capacitar-me
E...
Por abrir um jardim aos olhos dos
leitores;
Onde estes o para Ti:
Preciosas, delicadas,
Bem cuidadas...
o as mais raras flores!
A Ti, Oh Deus Eterno, toda honra.
Sylvia Senny
Capitulo 01
_ Estou aflita. Será que Anita não vem?
_Calma. Hellen é madrinha, e deve estar
chegando. Você esta parecendo à noiva!
que estou com tanta saudade dela.
Apenas que ela me pareceu muito feliz desde que
Tia Hellen adotou-a; disse-me que a casa delas é
linda e tem um jardim maior que o do vovô.
Will sorriu instintivamente.
_ Riu do que?
_ Você esta vermelha, nem consegue
disfarçar. Meu bem vou continuar o mesmo pai,
ou melhor, vou pegar mais no seu pé. Você se
tornou uma adolescente muito bonita e...
_E...
_ E tem um gênio memorável! Pensa que
não vi quanto tempo você ficou on-line
conversando com o Paulo?
_ Ah papai, ele ta tão longe, eu confesso
que to morrendo de saudade.
_Seny! não vou me estressar porque
estamos num cartório e é meu casamento. Não
quero você envolvida seriamente com namoro.
Nem tão cedo. Você tem que terminar os estudos
e fazer planos para se estabelecer.
_Ai. Ai. Sermão hoje não combina, não é
pai? Relaxa.
_ Depois da minha lua de mel, eu monitoro
você.
_Não duvido Sr. Will.
Assim comecei a disfarçar o ciúme e o medo
de perder a atenção de papai, Dr. Carlos Will.
Hellen chegou vestida simples e
elegantemente, uma madrinha perfeita no
coração e no traje. Anita estava mais falante que
nunca. E que surpresa! Ela estava mais alta, até
aparentava mais idade, qualquer um lhe daria
mais de quinze anos. Traços delicados na pele
clara e o louro natural dos cabelos com corte
arredondado beirando o queixo.
De fato se tornara uma jovem muito bonita.
Ana E Rodrigo, os melhores amigos do
colégio também foram convidados.
Eu estava de conversando com Ana e
apresentando-a á Anita quando uma das
"amigas" de Márcia esbarrou em mim e derrubou
taça com coquetel.
_Desculpe senhorita!
_Oh, não foi nada.
Márcia estava próxima á mim recebendo os
comprimentos.
_Ate que enfim Márcia, nossa você esta
linda! Mas não vi a garotinha que você vai ter que
aturar daqui pra frente. Cadê o "patinho feio” do
Dr. Will.
Bem eu não pensei duas vezes, com o copo
de coquetel que eu tinha nas mãos eu arremessei
no vestido prata da pirua.
_ Ai, moça, você não viu o que fez? Que
horror?
_ Oh, Sorry”, Senhora. Muito prazer. Sou o
patinho feio de Will!
A bruxa amarelou, avermelhou, simulou um
piripaque e ainda acrescentou:
_ Coitada da Márcia! Não vai ser fácil.
Márcia tentava remedia de ambos os lados.
Eu queria sumir sair correndo, me senti
rejeitada, horrível. Mas meu orgulho era maior.
Alguns médicos amigos do papai
compareceram á cerimônia, papai parecia muito
feliz. Fitou-me de longe ao ver-me vermelha, fez
um sinal com a mão.
Cheguei-me ate o ciclo da medicina. Papai
segurou minhas mãos e apresentou-me á seus
amigos, alguns eu conhecia, como o
neurologista Dr.Rubens.
_ Essa é minha jóia mais linda, minha filha
Seny.
_ Linda mesmo, Will! Que moça
deslumbrante. Prepare-se para ocupar de
candidatos o sofá da sua casa.
_ Nem brinca! Eu viro uma fera! Minha
princesa ainda é muito nova!
kA. kA.
A turma riu muito, e começaram a querer
deixar papai nervoso de ciúme.
_ Chie, vai dizer que na idade dela você não
namorava?
_ Muita graça, vocês não tem filhas? Vão
ter, estão na chuva, vão ver só.
Papai me abraçou forte, de longe ele viu o
ocorrido com a tal "amiga", percebeu que me
sentia insegura, Dr. Rubens pareceu desconfiar
também.
_ Essa é minha mocinha! E não abro mão
dela! Não é querida?
E deu-me um beijinho no rosto.
_Você esta bem, Seny? Não esta com ciúme
do papai também?
_ Estou bem Dr. Rubens, mas... Com um
pouquinho de ciúme sim.
Mas eu vou dividir o papai porque assim ele
me deixa namorar.
_ Viu, Will!
Os amigos de papai riram até.
Papai ficou rubro.
_Ah nada disso! Pensa que vou largar seu
pé é? Mocinha! Mocinha!
E abraçou-me de novo.
Dei um tempinho e voltei a conversar com
Ana, Anita, e surpresa vi Rodrigo paquerando
Amanda. Amanda, filha do Dr.Robert. Lembram?
Vi que Ana ficou sem graça, ela tinha uma
quedinha por Rodrigo, mas eram muito amigos.
Assim a comemoração foi cheia de "lendas"
e reações que renderam muito!
A cerimônia do casamento de Will e Márcia
foi breve, porém maravilhosamente mágica.
Parecia que o amor emanava do casal para os
demais convidados.
Receberam os cumprimentos e seguiram
para o salão de festas para a reservada recepção
aos convidados e amigos mais íntimos.
Amanda tinha cara de quem queria
aprontar alguma.
Oh maravilhosa adolescência!
Eu?
Eu tava confusa entre a felicidade de meu
pai e o ciúme que sentia de Márcia. Procurei
esquivar-me de todos, tentava dar um ar de que
estava tudo bem até que...
-Olá, lembra de mim, Seny?
- Desculpe, não lembro.
- Dra. Aracy, eu dava palestras no Instituto
Lilovisk!
-Oh, Claro! Tudo bom? A senhora esta
diferente!
- Vo também me parece mais madura e
mais bonita!
- Obrigada.
- Bem estou feliz por você. Ah, e também
pela Anita.
- È verdade, ela nem parece à mesma.
- È normal. Ela esta sobre o encantamento
do milagre da adoção. Sim porque uma adoção
na idade dela é por milagre!
- Não tinha pensado por esse angulo.
Fomos interrompidas por Kassia Levy.
- Ola Dra.Como vai Seny?Vim dar um alo á
vocês.
- Claro.
- Fizemos uma homenagem em vídeo para
os noivos, vão colocar na sala posterior em 15
minutos.
- Que legal!
- Qual o conteúdo, Tia Kassia?
- Bem, Seny, são fotos, montagens e até
filmagens do tempo em que Márcia e Will se
conheceram. Isso quer dizer: um clipe de anos
atrás com fundo musical e auto-mensagem. Muito
bem bolado. Robert que teve a idéia.
- Que interessante!!
Bem o clipe emocionou á todos, até eu
chorei. “Mas, me senti estranhamente sobrando”.
Sentia-me cada vez mais intrusa. E me deu uma
vontade enorme de sumir dali.
Fui salva pelo sorriso maroto de Amanda,
querendo me mostrar uma arte que ela estava
prestes a fazer.
Tinha uma jovem senhora muito elegante,
porém com nariz empinaderrímo, trabalhava na
empresa de design com a Márcia.
Amanda pegou uma taça cheia de vinho
conversando comigo disfarçadamente. Quando
chegou perto da Senhora empinada, ela fingiu
que tropeçou em mim e... Jaz! O vinho deslizou
certeiro no vestido acetinado da dama. Esta por
sua vez teve um chilique fino.
- Amanda, você é demais!
- Ah, Seny, você precisava rir.
- Foi cruel mais valeu!
-Muito bom moçinhas!
Kassia Levy aproximou-se de nós e nem
percebemos que ela vira a cena de longe e ouviu
toda a conversa recente.
- Vamos conversar viu Amanda! E você
também Seny! Que molecagem!
- Calma tia Kassia. Foi sem querer.
Amanda tentava fugir do flagrante.
- Ah é? Olha o semblante do seu pai fitando
as duas, ali do lado do noivo!
Ai! Ai! Dr. Robert vira tudo e a cara era de:
Conversamos mais tarde!
-Seny, que você não quer ficar nestes
dias, no qual seu pai estará em viagem de
núpcias com seus avós; você vai pra casa com
Amanda. Assim fico de olho nas duas e Will e
viaja mais tranqüilo!
- Ih, Seny! Vou adorar, mas, a tia Kassia
pega no pé pior do que meu pai!
- Tudo bem, vai ser um bom desafio.
- Ah, Seny, vo sempre foi mais centrada
que Amanda, não vai desandar hein.
- Pode deixar Tia Kassia!
Rimos deliberadamente.
Bem meu astral até melhorou depois da
arte de Amanda. Meu pai fitava-me com o olhar
preocupado.
Mas, eu tinha que superar àquelas horas tão
doloridas pra mim.
Eu não conseguia deixar de pensar que
minha mãe deveria ter sonhado muito em casar-
se com papai e esse pensamento me ardia à
alma.
- Seny tudo bem com você?
- O..Olá Má. Sim tudo bem. Tudo ótimo.
Melhor seria impossível!
Eu disse em tom de sarcasmo mesmo.
- Eu queria muito que você estivesse feliz
também. Estaria completa esta noite se você
estivesse bem.
- Márcia não precisa sentir-se assim. Afinal
é egoísta de minha parte ir contra a legalização
da sua união com papai. Porém, não consigo
deixar de ter uma fresta de ciúme e um longo fio
de egoísmo. Sou bem franca. Mas isso passa ou
não passe nunca. Sei lá. Vai curtir sua festa! Hoje
o dia é seu! Depois você se preocupa comigo!
- Ah.. Seny! Ainda com esse ar de adulto e
de revolta.
- Não é revolta. È dengo mesmo. È capricho
de gente mimada.
Disfarcei com um sorriso de soslaio.
Márcia também riu, assim, o ar ficou mais
aliviado e ela sentiu-se menos "madrasta".
Na hora de ir para o aeroporto, meu
coração tava em pedaços. Parecia uma longa
despedida.
Jogaram o tradicional arroz nos noivos á
saída do salão.
Papai ficou meio sem jeito ao aproximar-se
de mim.
- Oh! Minha princesa! Que carinha desolada.
Assim me parte o coração.
Numa frase, quantas lembranças,
sobrevieram. Quanto medo, quanta angustia. E
se ele não voltasse? Não agüentei. Mais uma vez
a armadura remendada caiu e eu chorei.
- Ah Pai, eu vou sentir muito sua falta!
Abracei meu pai, como se fosse o primeiro
e ultimo abraço. Não contive mais o desconsolo.
Borrou maquiagem e papai quase que não viaja
de tão preocupado que ficou. Dr.Robert que eu
considerava como tio e Dr.Rubens, meu
neurologista e amigo; ajudaram a tranqüilizar
meu pai. Ele acabou concordando que eu ficasse
com Tio Robert e Amanda, que Kassia estava
de ferias e podia fazer-nos companhia.
Finamente viajou em lua de mel por longos
dez dias e eu e Amanda, quem sabe seriamos
enfim: amigas!
Capitulo 02
No dia seguinte, Amanda encarregou-se de
me animar e decidimos ir á um baile juntas.
que não tínhamos permissão, porque o
Tio Robert não queria deixar, demos uma
desculpa para Kassia, aproveitando-nos da
ausência dele e fomos.
O baile começava ás 18h00min, mas virava
a madrugada.
Amanda me apresentou alguns amigos e
entre eles, Olavo.
Fomos conversando, dançando e
esquecemos da hora. Tanto barulho e euforia. .
Eu ate esqueci do ciúme da e saudade que
estava sentindo do implacável Dr.Will.
Maior farra....
_Ah seny, toma um pouquinho.
_Veja lá, Amanda o que é isso ai?
- È só um coquetel, tem pouco álcool.
Bem no embalo fomos.
Vários drinks e a festa; seguiram
bumbando.
Duas da manha, a carruagem vira abóbora!
O celular de Amanda toca. Tio Robert tava
uma fera! Até pro vovô já tinha ligado.
_Ai, seny, e agora o papai ta vindo buscar-
nos.
Nunca tinha visto Amanda com tanto medo,
Tio Robert nunca tinha dado nenhum puxão de
orelha nela. Eu... Achei divertidíssimo, tava
quase bêbada nem ai.
- Nem liga Amanda, vamos pegar um táxi,
assim ele desencontra da gente e vamos dormir
antes dele chegar de volta.
E assim fizemos.
Kassia Levy passou-nos o “sermão da
montanha”. Mas acoitou nós irmos direto pro
quarto e nos trancarmos.
- Acho bom mesmo vocês se trancarem no
quarto, nunca vi seu pai tão nervoso Amanda, e
você Seny, Will iria torcê-la, se a visse
embriagada. pro quarto as duas! Antes que
Robert ligue ou volte!
Nós subimos correndo as escadas.
Trancamos o quarto.
Ai. Ai. Ai. A cabeça doía e corri para o
banheiro do quarto e vomitei. Depois eu
particularmente dormi tão rápido que nem sei se
Tio Robert tentou chamar-nos ou arrombar a
porta.
O legal foi ver Amanda com medo do pai
dela. Era uma forma de me gabar. Onde esta a
destemida Amanda do orfanato? Bem, ainda
acordei as 05h00min da muito enjoada e vomitei
de novo!
Que eca! Por que as pessoas ficam de
pileque? Depois a gente fica horrível.
Acabei de acordar e to com muita saudade
do autocontrole do Dr. Will. Pensei que não, mas,
meu ciúme de Márcia ta aumentando e a idéia
deles terem um filho ta começando a me revoltar.
Vou esperar pra ver no que dá. E também no que
vai dar com Tio Robert, porque acabei de acordar
e Amanda nem esta no quarto.
Estou enjoada ainda e a cabeça esta
doendo.
A Caminhada...
- Seny, meu pai esta a chamando.
- Nossa que cara Amanda! Por que esta
chorando?
- É melhor você descer, assim vai saber.
- Ah, não vou não! Ainda to morrendo de
sono. Minha cabeça ta doendo.
- Você que sabe. Sei pai ligou.
- E ele não quis falar comigo? Ai, mas, fala
baixo, “please”.
- Quis, mas você estava dormido e é
meio dia. Meu pai teve que contar sobre ontem.
Seny, talvez seu pai volte antes da lua mel.
- Ai. Agora é que não desço mesmo! Nossa
tudo era é um eco no meu cérebro. Ah,
Amandinha fala baixo, estou horrível!
Amanda desceu desdenhando da ressaca da
prima.
Seny ficou no quarto. Sentiu um pouco de
remorso por ver Amanda "encrencada", mas a
teimosia do passado ainda era sua marca
registrada, e os enjôos deixavam-a tonta.
Dr. Robert subiu ao quarto como um
furacão quando soube que a jovem rebelde
ousava ainda não descer.
- Seny!
- Ah, Tio Robert! Por que contou para o meu
pai. Mas, fala baixo, titio.
- Porque eu precisava de uma autorização
dele.
- Autorização pra que? Ai. Tem um sino na
minha cabeça!
- Levante-se e não vou mandar de novo.
Seny levantou sem nem imaginar o que
viria. Tio Robert ou Dr. Robert era muito calmo.
Nunca vira ele nem gritar com Amanda e era
muito amoroso e compassivo também.
- Ta bem. Puxa Tio Robert, não precisa ficar
tão bravo. Só foi... Ai!
Quando Seny ia continuar a frase,
estando de pé, Dr. Robert tira do direito seu
chinelo de couro e da umas boas chineladas em
Seny. Ela ficou tão surpresa que chorou mais de
vergonha que de ter doido alguma coisa.
- Você e Amanda estão de castigo por
tempo indeterminado, seu avô ia vir buscá-la,
mas eu decidi que seria bom pra Amanda
conviver com a filha teimosa de Will. E que coisa
não mocinha! Ficar alcoolizada!
E não adianta me olhar como se eu fosse o
monstro do calabouço. Não vou ficar com
remorso. Vocês ultrapassaram o limite.
Seny fitava-o, entre estar com raiva e
vergonha a decepção era maior. Sempre achou
Dr. Robert bonzinho, nunca imaginou que ele
daria umas tapas nem em Amanda, quanto mais
nela. Que decepção! E ainda o enjôo persistia.
Dr. Robert estava mais chateado agora de
remorso de ver a carinha de pavor de Amanda,
quando ele bateu nela e o quanto ela ficou mal. E
também agora de perceber nos olhos de Seny, o
tamanho da decepção. O mesmo Tio Robert que
a livrara dos castigos, quando ainda menina,
agora era o mesmo que a castigava. Ele sabia
que tinha que ter sido tão duro quanto foi. Mas
seu coração era mais mole que as lagrimas delas.
Sua vontade era colocá-las no colo e pedir
perdão. Mas...
Com essa dupla, todo cuidado é pouco,
porque Seny se tornaria uma pecinha mais rara
que Amanda. Seny era tão teimosa quanto
audaciosa e bota intransigência nessa
tempestuosa adolescência.
As duas ficaram enfornadas no quarto, uma
sem falar com a outra. As duas estavam
chateadas e com vergonha e ela chorou quase a
tarde toda. Um rio de lágrimas, puro capricho!
Eu poderia cantar a dor de Seny: A saudade
do pai, a vontade de chamar a atenção, o medo
de perder o carinho que conquistou crescia; e não
crescia a segurança que deveria numa inata "flor
de lótus".
Ela compunha na alma, que o diário
estava em casa.
Tinha na menina maluquinha:
Um traço de graça
Um traço de duvida...
Singela pirraça.
Carência translúcida.
Tinha um brilho no olhar,
Explosão de sentidos...
Mas sabia apagar
A marca das tribos.
Sempre irá brilhar
A esperança que tem,
Aprendeu de novo amar.
Diz-me: quando vens?
Hoje ela foi embora
Sorriu tão serena,
Nem se despediu...
Contou só que ia pros livros,
Pois de novo coração cativo,
Aprisionou o mundo hostil.
Adeus, linda maluquinha,
Já não és tão minha...
Nem és de ninguém.
Eras um quadro pintado,
Mas em ti derramado
Meu sonho esvaiu...
Indo tão bela e sem graça
Já não és "malcriada"
Sua dor ninguém viu.
E quem eras tu?
Eras apenas "Chayil"
Doía tanto o peito, doía mais a alma,
não doía a palmada de Tio Robert, e sim a imensa
saudade... Saudade do seu pai, do mundo que
conquistou com lágrimas. Mas a saudade mais
gritante era a saudade de Paul. Paul? Paulo? Sim,
Paulo! Quem dera ter dado-lhe o primeiro beijo,
saudade de um amor tão futuro.
Com o tempo os e-mails de Paulo ficaram
escassos. Os recados na pagina da internet; eram
resumidos á um: ola ou: como estas?
No Messenger quase nunca estava on-line.
Acho que ele ia esquecendo-se da doce menina
que conheceu no colégio. Tantos meses
passaram-se, novos amigos de faculdade, outro
lugar, novos amigos e amigas. Amigas! Ai dor!
O inusitado coração de Seny. Como desejava
ouvir ao menos a voz de Paulo. Em seu peito
gritava por um milagre.
E Dr. Robert, preocupava-se com a tristeza
que ela demonstrará tão nitidamente com o
passar dos dias.
- Vamos menina! Animo! Você nem parece
um adolescente em pleno vôo.
- Ah Tio Robert. Estou sem animo!
- Isso é saudade do papai ou do namorado?
- Dos dois! Dos dois, Tio Robert!
- Seny!Você esta ficando muito saidinha!
Ainda me lembro do episódio de “A Escada”,
quando seu pai lhe deu a primeira palmada no
internato. Você pensa que cresceu bastante
my daughter”? Mais esta enganada. A vida mal
começou para você!
- Ai, Tio Robert. Parece que você acredita
em Papai Noel! Depois: não esquenta, amanha o
“Senhor GPS”, ou seja: meu pai, estará de
volta ao doce lar!
- Querida espero não ser rude, mas, tenho
que agradecer por Amanda não ser tão “alta
tensão” como você é!
- Sei! Ra.ra. Você pensa que conhece sua
filha! Esquece que não esta ao lado dela vinte e
quatro horas por dia. Não julgue, titio, antes do
“Retorno de Jedi”.
- O que quer dizer?
- Calma Dr.Não vou dedurar minha amiga.
E sinceramente tio, vocês pais esquecem que
foram adolescentes e do poder de criatividade
que temos. por esta questão não precisamos
de atribuição.
Fiquei um pouco brava com Tio Robert. Que
pretensão à dele! Bom... Mas, no intimo eu sei
que ele está certo. E contrariar é meu habito
expedidor de adrenalina mística!
- Hei. Prima avariada!
- Que é agora, Amanda?
- Você ta me ferrando com meu pai? È
impressão minha?
- Relaxa Amanda. coloquei mais uma
trema na tranqüilidade dele!
- Não entendi!
Sínica e pedantemente, a moça soltou uma
gargalhada.
- Oh, Amanda! Onde aperta esse parafuso
louro?!
- Ah. Não encrespa comigo não!Sou mais
velha que você.
- E mais lerda também.
-Olha priminha precoce, você esta
abusando.
- Releve querida! Vai sentir minha falta.
- Pior que vou mesmo. Seny vê se não
some. Conta-me e o Paulo, deu noticias?
- Só um e-mail vago. Parece que eu sempre
escolho tudo que é mais complicado.
- Seny, você já nasceu com este titulo.
Amanda olhou-a solenemente e...
As duas riram muito e pra certa cousa foi
muito bom à travessura do baile. A ocasião
transformou as ex-companheiras de internato em
cúmplices e amigas. Ao passo que a memorável
Anita que sabia santo sobre a vida de Seny,
recuava seu caminho em relação ao passado e a
ex-protetora azul.
Ninguém entendia, mas ficara evidente o
distanciamento de Anita e a aproximação de
Amanda era perceptível á todos.
Seguindo a Canção
A volta de Will foi uma festa para Seny e
um tremendo, alivio para o amigo Robert.
Na primeira semana Will fez questão de dar
atenção e carinho integral para sua jóia bruta.
Apesar de passar-lhe um bom sermão devido à
travessura do baile.
Will estava com tanta saudade da filha que
ralhar com ela não seria a melhor opção e nem o
momento oportuno.
Márcia se concentrava em driblar o ciúme e
a provocação constante da tão recente enteada.
Ficava na defensiva. Receava que a qualquer
momento pudesse perder a paciência e temia a
reação de Will. Agora se encontrava na corda
bamba, mas, tinha esperança que Seny voltaria a
ser a doce menina ilustrada.
Seny tentava apagar a saudade e o amor
“aborrecente” que vinha crescendo no seu
coração que palpitava por Paulo. Prendeu-se na
carência que tinha do pai e fez jus à expressão
que deu origem á seu nome: seni seviyorum.
No entanto quanto mais sua mente queria
colocar a palavra: pai, no final da expressão, seu
subconsciente substituía por: Paulo. Assim nossa
menina ia dando luz aos traços de mulher.
Um botãozinho virou flor,
Numa dança inexata,
Não é primavera e desabrochou.
Linda, exuberante, rosa-prata.
Cabe no peito uma canção de amor,
Um cordão de ouro. És mui grata!
Mulher linda... Mulher virtuosa.
Soletrada em versos,
Escrita em prosa...
Sentença maravilhosa.
Odor de rosa que se abril:
Amada, valente. ...
Inesperadamente: “Chayil”.
Capitulo 03
O toque insistente do telefone traz nossos
personagens ao refugio cotidiano do apartamento
de Will.
- Ninguém vai atender? Estou na cozinha.
-Certo. Eu mesmo atendo.
- Pronto.
- Alô? Oi tia Márcia. Tudo bom?Deixa-me
falar com Seny.
- Oh. Boa noite mocinha. Vocês duas estão
tão cheias de segredinhos. Tudo bem com você?
E Kassia como esta?Robert ainda esta em
congresso?
- Sim. Ele esta bem. Kassia esta aqui. Tia
Márcia é urgente. Chame a Seny.
- Calma menina! Ela está no quarto com o
som no ultimo volume, por isso nem ouviu o
telefone tocar. Deve estar no universo on-line.
- Espere Tia. Ela esta conectada?
- Provavelmente. Faz horas que ela esta no
piso superior do quarto dela. Por quê?
- Ai! Tarde demais. Oh, nada, não! A
senhora pode chamá-la?
- Claro! Espere na linha. Mas, cuidado com
o trem!
Rindo Márcia bateu umas cinco vezes na
porta do quarto, gritando Seny.
- Seny!Telefone. É Amanda.
Enfim, Will que estava no banho, saiu para
ver o que era aquela barulheira toda.
Seny abriu a porta.
- Oi, Má. Pode falar. Eu não estava ouvindo.
- É Amanda ao telefone. Você estava
chorando querida?
Will interpela irritadíssimo.
- Seny, o que foi? Não ouviu Márcia
chamando?Quase derrubou a porta!Melhor você
ouvir musica mais baixo quando decidir ficar
trancada no quarto. E por que seus olhos estão
desaguando um manancial?
- Nada não papai. Vou atender Amanda. Ou
melhor, não vou! Márcia você pode apenas dizer
a ela que eu vi o recado?
- Hum... Seny. Tudo bem, mas, se as duas
brigaram, por que não conversar? Ela parece
aflita ao telefone. Agora entendo porque ela esta
tão nervosa.
- Não Má. Nós... Eu não. Não brigamos.
Olha, por favor, deixem-me um pouco!
Correndo para dentro do quarto e atirou-se
sob a cama! Chorou... Chorou... Chorou. Parecia
a única coisa que a consolava.
Will e Márcia ficaram pasmados e, Opa!
Lembraram de Amanda no telefone.
- Deixa que eu fale com ela Márcia.
- Amanda por que Seny esta aos berros no
quarto e rubra de tanto chorar? O que
aprontaram?
O tom do Super pai não era amigável.
Mesmo assim, Amanda mantém a fidelidade á sua
nova velho-amiga.
- Tio Will, não ocorreu nada e eu não sei o
motivo que ela esta chorando.
- Ah, é! Ela disse que leu seu recado e que
ligará para você. Que recado é este? Exijo que
me fale agora!
- Desculpe Dr.Will. Isso diz respeito á
Seny e se ela não disse, eu não vou dizer. Se o
senhor puder diga-lhe que ela pode contar
comigo. Ela vai entender.
- Essa é boa! Esta bem, mocinha! Umas
palmadas acabam com segredinhos já, já.
- Boa noite, Tio Will!
Amanda tratou de desligar o telefone antes
que falasse demais.
Que destino cruel com Seny. Novamente a
vida brinca com seu coração.
A dor poda o caráter. Certamente os valores
da “pobre menina rica”, jamais compreenderiam
tal descompasso das notas. Tal desmantelo do
ritmo, tal ranhura nos ouvidos da sua alma pura;
ainda imensamente criança.
A decepção
Confiança é um tesouro raro.
E doado gratuitamente.
É conservado em odre caro...
É revelado instantaneamente,
Levemente amenizado.
Mas quando quebrado o odre...
Perde-se todo o perfume raro!
Que malvado o desperdício:
De quem perde a confiança alheia.
Pois, magoa o peito inocente.
E na alma a dor incendeia!
Will queria bater em Seny, detestava vê-la
assim por causa de algum garoto e se ela estava
sofrendo era porque o tal não a merecia.
- Ah Márcia, como eu queria saber quem é
esse mal fadado que a deixou assim!
- Será que você realmente não deduz
querido?
- Claro como não! O tal Paulo! Mesmo de
longe, ele a faz sofrer. Parece um castigo pra
mim.
- Que isso querido, isso são coisas da
adolescência, você não pode projetar os
sentimentos dela ou privá-la desse primeiro
amor.
È como a frase na agenda?
- Exatamente como esta frase: um
primeiro amor pode até passar, mas nunca
deixará de existir” (autor desconhecido).
- Céus! Não posso deixar de me preocupar
com ela e nem de ter um pouco de ciúme,
gostaria eu ela confiasse em mim para contar
seus problemas e não ficasse de segredinhos com
a Amanda. E depois demorei tanto tempo para
reaver minha menina e agora querem tirar seu
coraçãozinho de mim!
- Will! Will! Você é mais infantil que ela!
Quanto egoísmo! Você realmente contaria isso á
seu pai se fosse ela? Só você mesmo!
- Hora Má!Que pergunta! Ah, desisto!
Mulheres sempre vão ser leais
incondicionalmente, por isso nem tente me
convencer! E vou querer saber o que esta de fato
ocorrendo.
- Senhor Will! Acho melhor deixar que Seny
queira contar! Não tire a privacidade dela. Agindo
como um general acha que vai conseguir a
confiança de sua filha?
- Disse bem, minha filha! E vou fazer o que
acho certo!
- Grata, por me excluir, Dr. Arrogância e
você sempre faz o que quer mesmo!
- Ah!
Esse foi a primeira desavença entre os
recém casados.
Márcia ficou um tanto magoada por Will
frisar que Seny era “sua filha”. A tempestade
estava apenas apontando as nuvens.
- Moçinha, quero saber que recado é esse e
porque você esta se desmanchando em lágrimas!
E quero saber agora!
Will entrou no quarto da pequena porcelana
desafeiçoada já aos berros.
- Não é nada, papai! Deixe-me quieta!
- O que? Acho que uma boa surra resolve
isso já! Já disse que eu quero saber e agora!
Will gritava. Márcia em no rol de entrada
lutava consigo pra não explodir com a
prepotência do esposo.
- Então bate se achar que deve. Porém não
vou falar nada.
Seny desafiou o pai sem nem perceber,
agora decepção e revolta a estavam movendo e
ela estava prestes a invocar o primeiro trovão da
tempestade.
O super-pai perplexo não sabia que atitude
tomar a reação de revolta o assustara muito e
ficou desarmado, porém a sensação de perdê-la
deixou Will num descontrolado frenesi.
- Seny! Você esta desafiando seu pai, por
causa de algum moleque irresponsável, assim
como você?
- Paulo não é um moleque e muito menos
irresponsável! E eu o amo!
Foi uma pancada na cabeça daquele pai
preocupado. Pancada que deu início á
tempestade! Will nem titubeou, respondeu ao
grito desafiante da filha com uma tapa no rosto
da meiga menina. Tapa que doeu mais no
coração que na pele. E deixou a marca dos dedos
no seu rosto pálido e agora inchado. Ela tremula
e com súbito pavor, gritou por Márcia.
- Má! Márcia!Márcia!Mãe!
Márcia foi tão rápida e precisa quanto o
brilho do raio. Segurou a mão de Will que se
erguera pela segunda vez, descontrolado.
- Will! Esta maluco? Calma! Por favor!
- Vou sair antes que eu perca a cabeça.
- Já perdeu Will. Não percebeu?
- Esta bem. Fique com essa rebelde eu vou
dar uma volta.
- É melhor mesmo!
A menina duplamente marcada, ou
podemos dizer quatro vezes mais decepcionada
correu para os braços da madrasta que acabou de
chamar de mãe. Ali chorou toda sua dor abraçada
com a bela madrasta.
Sentaram-se na cama, Seny ainda em
choque não queria acreditar no pesadelo que
estava vivendo. Passando as mãos pelo rosto
sentia a marca do machismo gratuito do pai.
Estava tão assustada que quase adentrara em
pânico.
- Por que, Má? Por quê?
- Minha menina, sabe é difícil; mas tente
compreende-lo, foi preocupação excessiva. E
desespero também. Medo de perder seu amor. È
muito complicado. Ele deve estar tão
decepcionado com atitude que tomou e tão
assustado quanto você. Acredite em mim!
- Má. Mãe! Posso chamar você assim? Como
pode uma pessoa gostar da gente e só machucar.
Não entendo isso!Não entendo nada!
-Calma querida!Tem coisas que não
entendemos simplesmente elas não tem
explicação. Quanto a chamar-me de mãe, eu me
sinto honrada. Claro que pode e deve chamar-me
assim, pois, é o que quero ser pra você!
- Sabe, não é só o papai que me feriu.
- Eu sei sim, quer falar comigo sobre isso?
-Quero sim!
Entre lágrimas e gritos de frustração,
iniciou-se a dolorosa narrativa da traição que
sofrera por aquela amiga que era sua protegida
no orfanato.
- Filha, mas como Anita obteve o telefone e
o e-mail do Paulo?
- O e-mail ela pegou na minha pagina ma
internet e o telefone ele mesmo deve ter dado á
ela. Nem eu tenho o telefone fixo da republica
onde ele esta. tenho o celular e até isso ele
deu pra ela.
- E como você soube?
- Eu vi um recado que ele deixou pra ela, na
pagina dela na WEB. Estava marcando um
encontro no cinema. Isso é monstruoso!Eu não
mereço!
- Meu Deus! E seu pai nem sonha o motivo
que a deixou manhosa e descontrolada. Ah
Seny1Sinto muito. Perdoe-o querida, ele vai
querer morrer quando souber.
- Não! Má, você não vai contar. Eu não
quero que ele saiba. Ele não confiou em mim.
- Esta bem, vai respeitar seu desejo. Mas
acho que ele devia saber. Isso o faria pensar a
agressão que fez á você com atitudes e á mim
com palavras.
- Puxa mãe! E eu sendo tão malcriada com
você. Perdoe-me Márcia.
- Isso é o de menos mocinha. Olhe comigo
o lado positivo do ocorrido.
- Qual?
- Agora sim, ganhei um alinda filha, que eu
amo muito e que confia em mim e poso confiar
nela.
- É. Você sabe o que significa pra mim,
chamá-la assim?
- Sei. Sei o quanto você ama sua mãe,
mesmo sem a ter conhecido.
- Obrigado Má. Obrigado por estar aqui!
- Calma filha.
Seny estava mais aliviada em ter
compartilhado com Márcia sua decepção com
Anita, mas a dor da confiança traída e da
bofetada do pai prepotente, a faziam entrar em
pânico. Chorou tanto que adormeceu com a
cabeça no colo de Márcia. Ficou com olhos
inchados de tanto chorar e antes e adormecer
Márcia deve que acalmá-la muitas vezes. Ela
tremia e descontrolava-se como se fosse ter um
surto. Márcia temeu muito que o estado
emocional de Seny realmente se agravasse de
novo.
Will deu uma volta a pelo bairro. Tentou
desligar-se do erro que cometeu ao bater
descontrolado na sua jóia rara. Voltou desolado
para casa. Encontrou Márcia ainda sentada na
cama com Seny semi-adormecida em seu colo.
- Como ela esta?
- Não vou mentir, ela esta muito abalada
Will. Temo que seu estado emocional piore como
dantes. Graças a Deus ela dormiu.
- Me perdoe Márcia. Sou um tolo! Desculpe
ter magoado as duas.
- Will, por mim, tudo bem. Mas não insinue
mais que ela é só sua filha, sabe que a amo como
se a tivesse gerado. E quanto á ela, depois com
calma tente explicar-se. Conversar sempre faz
bem e ela precisa mais de você do que imagina.
- Querida, acho que ela nunca vai perdoar-
me. Eu bati em seu rosto e nem sei como fui me
descontrolar daquele jeito. Não respeitei sua
individualidade, mas para mim é difícil separar as
coisas. Sou pai dela, não quero vê-la sofrer. Sei
que errei, não sei como lidar com ela.
- Um dia terá que aprender. Ela esta muito
fragilizada e acredite-a, tem motivos de sobra pra
isso e você deu-a mais um. Não acho correto
revelar pra vo o tal recado”. Deixe que ela
mesma lhe conte. O que preocupa mais agora é
sua saúde. Não sou médica, no entanto ficou
nítido que ela quase entrou em choque e por
muito pouco não teve uma crise.
- Meu Deus! Tomara que ela durma um
pouco, quem sabe acorde mais calma. Deixe-me
ajudá-la a acomodar a cabecinha dela no
travesseiro.
- Pronto.
O bebe de porcelana caiu num profundo
sono. Parecia não querer mesmo acordar, parecia
querer fugir da realidade o Maximo que pudesse
mesmo inconscientemente.
Só instinto emocional?
Beirava a meia-noite quando Will e Márcia
ouviram um grito no quarto de Seny. Levantando
abruptamente correram para auxiliar a moça.
- Ai!Ai! Que dor!
- Seny! O que você tem filha?
- Minha cabeça pai! Minha cabeça ta doendo
muito! Ai!
A menina gritava com as mãos na cabeça.
Márcia abraçou-a tentando acalmá-la.
Will deu-lhe um analgésico e relaxante
muscular via oral. E quando ela aparentava estar
mais calma, mais ainda despertavam reflexos de
dor, o medico contido no pai, aplicou-lhe uma
injeção com medicação adequada para prevenir
uma possível crise.
Passava das duas da madrugada até que
Seny dormiu profundamente. Então seus pais
também foram dormir. Muito preocupados e
pesarosos, tentavam driblar a preocupação e
descansar a mente.
Marcas da tempestade
Amanheceu chovendo na metrologia e na
vida da família Will.
A inata adolescente ainda acordou
reclamando de muita dor na cabeça, meio zonza
não distinguia se foi um pesadelo ou se era
realidade.
Seny levantou-se, foi ao banheiro ao olhar-
se no espelho deu conta que não era sonho. Um
lado do seu rosto estava inchado e com as
marcas de dedos. Como ela era de pele clara e
sensível, toda marca e qualquer hematoma se
tornava mais nítido.
Márcia entrou no quarto para ver se ela
estava bem.
- Filha? Já acordou?
- Estou aqui mãe.
A entenebrecida alma de Seny, extravasava
choro e sensibilidade excessiva.
- Querida não fique assim, não faça esse ar
de revolta. Seu pai não teve intenção meu anjo.
- Será mamãe. Todo mundo ta contra mim!
Você também esta?
- Claro que não minha menina! Quero vê-la
feliz, seja forte vença essa tempestade. Tenha
força, tudo isso vai passar.
Enfim a tempestade trouxe de volta a doce
menina que existia dentro de Seny. Ela abraçou
Márcia e ficou quietinha deixando as lágrimas
caírem. Percebeu então que Deus fora muito bom
com ela; Deus lhe dera Márcia como amiga e
mãe. Afinal sua jovem madrasta de “madrasta”
não tinha nada. Márcia era doce, meiga, tolerante
e compreensiva.
Dr.Will pouco pregou os olhos à noite. Ligou
para seu amigo Dr. Rubens e relatou a tensão
emocional de Seny, ao que o neurologista o
aconselhou a mantê-la em observação e procurar
acalmá-la para que ela não viesse a cair em
depressão. A preocupação de Will e a culpa
estavam triplicadas.
Seny quase desmaiou quando Will entrou no
quarto e a viu chorando abraçada com a
madrasta.
- Bom dia filha.
Márcia, por favor, deixe-me conversar um
pouco com essa mocinha.
- Claro querido.
Seny não relutou, mas estava tremula e
meio desnorteada.
- Primeiro peço-lhe que me perdoe. Fui
bruto com você. Sei que não resolve muito, mas,
quero que se lembre sempre que por mais que eu
erre, eu a amo muito!
A pobre menina rica não resistiu, não podia
fazer-se de durona agora. Seny sentia que
precisava estar segura e precisa mais que nunca
do amor do pai. Apesar de muito magoada com a
atitude hostil dele.
Ela fitou aquele olhar azul no rosto
preocupado do medico e conseguiu ver que o pai
que errou estava muito fragilizado também. Ela
ficou olhando-o com ar de sofrimento e não
respondeu nada.
Will sentou-se na cama, estendeu as mãos
para a criança frágil que vinha daquele olhar azul.
Seny hesitou, mas deu a mão franzina ao pai que
a conduziu a sentar-se ao seu lado.
Will abraçou-a aconchegando-a, como á um
bebe. Ela aconchegou-se no colo do pai e chorou
novamente, precisava desabafar tanta tristeza.
Will pediu-lhe perdão novamente acariciando seu
rostinho e os cabelos negros e longos da
bonequinha e porcelana.
- Querida, por mais que eu seja ciumento
ou possessivo com você, não quero ser o pai
bravo, mas quero ser seu amigo. Gostaria que
confiasse em mim Seny..
-Você confiou em mim papai?
-Por que eu não confiaria mocinha?
- Então se não foi por desconfiança, qual foi
o motivo pelo qual meu rosto tem a marca dos
seus dedos?
Seny sabia exatamente como desconcertá-
lo.
- Ah, menininha difícil! Seny você foi
malcriada, gritou e desafiou-me. Sei que fui
ignorante, mas vo desconcerta-me com esse
gênio indomável!Eu perdi a cabeça filha.
-Sei. Embora eu não devesse dizer isso, eu
entendo você papai e também o amo.
Will ficou surpreso.
-Entende querida? Então entende que
preciso saber o que se passa com você. Tente
confiar em seu pai.
- Este bem papai. Mas tem que esquecer
um pouco que é meu pai e ouvir. Ai eu conto.
Promete?
- Esta bem. Mas, por que não quer que eu
me lembre agora que sou seu pai?
- por que não quero apenas relatar um fato,
quero falar o que estou sentindo!
- Claro querida. Então tente, por favor.
Os olhos azuis brilhavam de medo e
tristeza, mas ela era corajosa, queria tentar
aproximar-se mais do pai. No momento seu lar
era tudo que tinha!
Desceu do colo do pai e ficou em a sua
frente.
Relatou entre soluços e gritos de protesto a
traição que sentira da sua melhor amiga.
O pai muito penalizado com a dor da sua
menina segurou-lhe a ponta do queixo e deu-lhe
um beijo no rosto. Novamente colocou-a em seu
colo e ficou ninando-a como se ela ainda fosse
um bebe e ele pudesse assim protegê-la das
decepções e frustrações que ainda viriam.
Lembrou de uma frase que escrevera no
caderno dela, e como queria que ela tivesse
amigos como ela merecia. Tentou ser o mais
engraçado possível apara anima-la.
Mas vale um cachorro amigo, do que um
amigo cachorro”.
Seny sorriu de canto e agradeceu com o
olhar.
Will achou por bem proibir Seny de entrar
na internet. Coisa que ela não obedeceu. Ela ficou
acompanhando os e-mails e recados do tão
recente e polemico relacionamento entre Paulo e
Anita.
Amanda era sua amiga e confidente e se
aproximou via internet de Paul para arrancar
alguns detalhes.
Na virada do mês, Seny e Amanda,
empolgavam-se com os preparativos para o
aniversario de Amanda. Eram seus 15 anos.
Dr. Robert queria proporcionar á sua filha
única uma festa de Debutantes magnífica.
As meninas empolgaram-se no
planejamento da festa. Seny tinha uma
criatividade ostensiva em gênero, numero e grau.
Por alguns dias deixaram a decepção com Paul de
lado e sonhavam com o baile de conto de fadas!
Notaram alguma diferença em Amanda?
Amanda agora parecia mais serena e mais
meiga. Deduz-se que toda a hostilidade que
denotava contra Seny no internato, no fundo era
por insegurança e até por um traço de inveja da
órfã hiper dotada. Hoje Amanda criara dentro de
si admiração e carinho incondicionais pela filha
assumida do melhor amigo de seu pai, (“A gata
borralheira de Édipo”), a tão especial Seny.
Capitulo 04
February 19
Um típico dia de verão. .
O Sol brilhava alto. O calor do dia prometia
uma noite aconchegante e propícia para vestidos
tomara -que- caia; costas abertas, o tradicional
modelo princesa rodado e... Tudo que a
imaginação das quinze garotas que dançariam a
valsa escolhesse.
Entre elas algumas ex - internas: Seny,
Anita e a debutante Amanda. Ana (amiga de Seny
e Amanda) algumas primas de Amanda, Sylvia
Cristina (a irmã caçula de Kassia Levy) e outras
lindas adolescentes filhas e aparentadas dos
médicos amigos de Robert e Will.
A “Nova Cinderela” e o estilo Cosplay, tinha
de tudo! Musica Design, decoração, tema
escolhidos a dedo pela debutante auxiliada pela
Tia Márcia.
A comemoração estava tão animada:
meninos no Cosplay, meninas de Cinderela,
vestidos exorbitantes, brilhantes, chamativos
como a “Sharpay”.
A festa estava deslumbrante e teria sido em
tudo perfeita não fosse pelo fato que...
Anita havia sido convidada e nem Amanda
pode impedir, que Tia Hellen, era praticamente
da família! Eu estava até conformada, um pouco
antes da valsa final, onde Amanda dançaria com
o ilustre medico e pai (muito elegante, belo e
carismático), Dr. Roberto.
- Seny, você esta linda! Achei mesmo que
iria revê-la hoje. Como você cresceu e esta
diferente!
- Como? O que faz aqui? Você...
- Sei o que ia dizer, sim eu estava em outra
cidade. Mas obtive uma licença e ás aulas
voltam no final do mês. Vim ver meus pais e
Anita me convidou para esta comemoração.
- Paulo! Você não mudou nada! Quero dizer
fisicamente. Bem no seu caráter não posso
dizer o mesmo.
- Por que Seny?
- Bem, achei que aquela despedida, fosse
apenas um: até daqui alguns anos”. E vejo que
você escolheu um a das minhas amigas para
quebrar o elo entre a Rapunzel e a torre!
- Você antecipou-se de novo, vejo que não
amadureceu tanto quanto eu pensava. Criei
apenas um vinculo de amizade com Anita e achei
interessante saber de vo no tempo do
internato. E ela me falou muito bem da garotinha
precoce!
- E o cinema que eu vi vocês marcarem pelo
site?
- Era um código sobre a festa de hoje.
- E por que vo não falou mais comigo,
nem mandou e-mails ou scraps? Por que Anita se
afastou de mim e esta bem diferente desde o
casamento do meu pai?
- Bem eu não te escrevi por falta de tempo
e para te fazer uma surpresa. Quanto a Anita,
não posso responder por ela.
- Anita sabe que vo queria me ver, hoje?
Ou da tal surpresa?
- Não. Só sabe que eu queria vir à festa.
- Sei. Bom revê-lo. Acho que não tenho
direito de lhe cobrar nada, que os sentimentos
não podem endossar a posse!
- Nossa! Você continua adulta e segura.
Admiro sua coragem de expor o que e pensa tão
espontaneamente. E fixando de novo, você esta
mais linda que antes!
Enrubescendo e sentindo o rosto queimar, a
jovem começava a ceder.
- Obrigada. Fico feliz que me diga isso e
também por estar aqui. Mas... Olhe vem sua
nova amiga da internet.
Anita desceu as escadas até o Jardim, com
olhar fulminante!
-Paulinho! Estava te procurando. Esta valsa
você dança comigo!
- Não Anita! Paulo estava justamente me
convidando para esta dança. Aliás, muito
obrigado por ter nos proporcionado este lindo
encontro!
Paulo ficou intacto, não desmentiu. Anita
perdeu o chão. Graças A Deus quis manter a
pose.
- Ah, sim, Esta Bem. Eu estava brincando,
só vim conferir se Paulo ia dançar com você.
Dancei aquela valsa como se estivesse
sonhando. Os olhares de todos vinham sobre
Amanda, outros, no entanto curiosos; olhavam o
rapaz distinto que valsava como um príncipe. E
eu me sentia uma princesa em seus braços. Em
contraposto o olhar fulminante de papai, ora ou
outra tentava me trazer de volta á abóbora da
gata borralheira. Porém em vão!
Aquela valsa era mais minha que de
Amanda e a melodia era meu ritual de vitória e o
selo do meu amor eterno.
Jamais esquecerei aquela melodia.
Nuvens condensadas
Depois da valsa a banda continuava tocando
uma bela melodia without you”, eu continuava
sonhando. De repente Anita puxa Paulo pelo
braço no meio da pista de dança.
- Agora é minha vez de dançar com meu
amigo!
Paulo ficou sem ação, vi seus olhos
encheram-se de lágrimas, mas ele não conseguiu
se desvencilhar da investida invejosa de Anita,
ele parecia estar sonhando tanto quanto eu.
Ficamos os três parados por segundos na
pista, ela abraçou Paulo e começaram a dançar
ao som de “sem você” (M. Carie).
Nesse momento eu queria sumir, parecia
que o final da Cinderela ia ser triste mesmo. Meu
pai foi meu herói neste dia. Sozinha no meio da
pista eu quase chorei de raiva.
-Filhinha linda.
- Papai?
- Me o prazer desta dança. Jovem
princesa?
E estendendo-me o braço num gesto gentil,
meu pai salvou-me da humilhação que Anita
tentara causar-me.
-Claro papai!
O intrigante Dr.Will, além de ótimo
dançarino revelara-se um pai mais amigo do que
um adolescente pudesse imaginar. Sua mão
protetora e seu olhar cauteloso denotavam que
ele estava ali de prontidão e atendo como um cão
de guarda.
A musica acabou, papai conduziu-me pela
mão ate a parte superior do salão. Seu olhar
agora revelava que ele não queria que eu me
aproximasse mais de Paulo e Anita até o fim da
festa. Recostei-me sobre o ombro de Márcia e
segurei o choro, tinha que ser forte e também
não queria demonstrar fraqueza alguma naquele
momento.
Ao mesmo tempo em que meu pai parecia
entender meus sentimentos, ele demonstrava
certa insatisfação pela presença de Paulo, Era
uma guerra interior.
Pouco antes do termino da festa,
adentrando a madrugada, papai quis ir embora.
Despedi-me apenas de Amanda, ela parecia
entender meu coração partido.
Nem sei se voltarei a ver Paulo. Também
não sei como encarar o dia de amanha.
Mas estou tão cansada e quase
adormecendo no banco de trás do carro. Estamos
indo pra casa. Dr. Will mantém o cenho franzido.
Temo que vá ficar bravo quando chegar a casa
- Seny?
-Sim, papai.
-Achei que tinha dormido.
- To quase.
- quero fazer um comentário. E não
quero Mais tocar no assunto.
- Sim, Senhor. Estou ouvindo, papai.
- Filha mesmo que ele fosse o rapaz certo
pra você, ainda é muito cedo para se apaixonar.
Eu não vou permitir que namore agora com um
sentimento tão forte no coração, e você não tem
idade para isso! Fui claro?
- Sim papai!
Engoli em seco, não queria provocar a ira
do monstro da lagoa. No fundo eu sabia que meu
pai estava certo. Mas a esperança de que Paulo ia
ser meu e a certeza de que era meu grande amor
eram agora mais nítidos. Jamais esquecerei os
quinze anos de Amanda Jamais esquecerei aquela
valsa!
Na volta o radio tocava “You needed me”,
Seny fechou os olhos e sonhou ao som da
melodia, enfim reverá seu amado príncipe.
Tão raros e puros os nobres sentimentos da
borboleta que esta acabando de sair do casulo.
Que vôo arriscado! Cheio de duvidas e
medos.
Também cheio de cores, sonhos e
adrenalina.
Um vôo que se pudéssemos, tornaríamos
interminável em nossas vidas.
Nem sempre é fácil ou bem sucedido o
primeiro vôo. Porém sempre será cheio de graça
e magia. Sempre será o primeiro!
Capitulo 05
O caminho das pedras. (O primeiro Beijo)
Três dias após a festa, Paulo deixa um
recado na internet para Amanda. Ele queria
encontrar-se com a pobre menina rica. Amanda
serviria de ponte entre eles. Paulo convidou
Rodrigo para fazer companhia para Amanda.
Marcaram de se encontrar no Shopping próximo
ao cursinho de inglês.
Pais driblados. As princesas vão ao encontro
marcado.
Os quatro muito tímidos e pouco a vontade,
não sabiam bem como se portar ou o que falar.
Rodrigo gostava de Amanda e Paulo
redescobrira sua admiração pela apaixonada
mocinha de olhos azuis.
-Vamos pegar um cinema?
- Parece ótimo Rodrigo.
Amanda gostou da idéia, tinha um filme
com personagens de desenho animado em cartaz.
Seny queria conversar e entender as atitudes
de Paulo.
_Ah, não acho boa idéia não. Que tal um
suco ou coisa assim.
_ sei. Vocês dois vão ao cinema e eu
Seny encontramos vocês na praça de alimentação
na mesa 02. Certo?
- Certo!
Todos concordaram.
Mãos dadas, Paulo caminha olhando os
olhos da menina tão diferente que conheceu no
colégio.
Seny desejava sentir a segurança que
sentia anos atrás, porém este Paulo que estava á
sua frente, era uma incógnita.
Sentaram-se á mesa.
- Paulo. Ainda não entendi? Quero saber por
que você distanciou-se tanto, sem noticias e por
que colocou Anita em sua vida?
- Sei que temos muitas perguntas, mas isso
pode ser dito em e-mails. Em poucos dias estou
voltando á Republica da Universidade. Quero
aproveitar o pouco tempo que temos até nos
vermos e novo.
Seny fitou-o espantada com a resposta.
Aproveitando o momento Paulo segurou-lhe
o rosto cálido com uma das mãos e achegando
tocou seus lábios suavemente. Um beijo! O selo
do amor para a precoce srta. Will.
O beijo foi longo, cheio de beleza; quase
inevitável a lágrima de felicidade que correu do
olhar azul e emocionado de Seny.
não eram necessárias palavras. O
coração de ambos parecia querer pular. Queriam
para o tempo. Conversaram, fizeram planos para
o futuro, deram uma volta interminável pelo
shopping. Trocaram torpedos no celular,
pareciam duas crianças soltas num imenso
parque de brinquedos raros.
È o perfume de rosa que exala no jardim da
vida! O doce voar da borboleta... Ah! Dr. Will.
Sua criança cresceu! Tão rápida e precocemente!
Sua mente esta á frente muitos anos. Ela é a
mesma órfã superdotada. Sua criança vai
esvaindo-se de seus braços.
Suas asas coloridas de vaidade, força e
beleza, tornaram em breve numa exibição de
esplendor. Ela brilhará com a luz da aurora, esta
se tornando uma dádiva perfeita e rara,
tornando-se... Mulher!
As mãos delicadas, franzinas. Unhas
decoradas sutilmente. Suas mãos suaram. As
mãos de Paulo apertando-as como se quisera
assim aquietar o próprio coração.
Paulo nunca tinha demonstrado tanto
interesse por nenhuma jovem, nem mesmo da
sua idade, nem de seu meio. Certamente, Seny,
era um prazeroso e perigoso desafio! Agora ele
sabia a idade de sua diva, embora isso
acrescentasse ainda mais admiração por ela: Era
madura ao extremo e ao mesmo tempo doce e
pura como uma criança assustada.
Paulo amava-a. Mas, não distinguia qual a
intensidade deste sentimento.
Capitulo 06
Sentaram-se de novo, tomaram um suco e
trocaram outro prolongado beijo. No entanto
Paulo deu-se conta que Amanda e Rodrigo
estavam demorando demais e devia fazia uma
hora que o filme havia terminado.
- Tem razão Paulo. Por que será que estão
demorando? Ai. Essa Amanda! Assim vai ficar
tarde e corremos o risco de um de nossos pais
ligarem e não temos nos comunicado para saber
que desculpa dar.
- Aquele não é o pai de Amanda?
- Que? Meu Deus é sim! Mas ele devia estar
de plantão hoje. O que ele faz aqui. Será que nos
viu?
- Ainda não. Mas se veio buscar Amanda vai
nos ver, já, já.
-Vamos sair de costas. Vou ao toalete ligar
no celular dela.
- Certo.
Apavorada Seny entra no banheiro feminino
e liga pra amiga desmiolada.
- Amanda onde você esta? Seu pai ta aqui!
- Eu sei. Ele me ligou disse que saímos da
biblioteca e resolvemos tomar um sorvete aqui.
Mas, não achei que ele viria conferir!
- Que? E você não me avisa? E agora?
- Sinto muito. Ele me viu e me viu
conversando com Rodrigo. Bem espero que tenha
me visto só conversando.
- Esta maluca? Como só conversando?
- Estamos namorando depois eu conto, eu
já to no carro. Papai ta te procurando.
Seny não sabia por que mais tinha a
impressão que Amanda tinha ido além do que
deveria.
- Amanda! Sua inconseqüente! Se ele vir o
Paulo, vai assimilar as coisas. E como vou avisar
o Paulo e nem vou poder me despedir dele!
- Hei! Calma, eu não tenho culpa. Vou
avisar Paulo pelo celular. To na garagem A3, vem
pro carro.
- Vou! Assim que conseguir sair do toalete
sem cruzar com Paulo e seu pai!
- Ta eu dou um toque no seu celular ai você
vem. Eu disse que desencontramos porque você
foi ver se tinha um perfume pra Márcia e eu não
tava a fim de andar.
- Que ótimo! Márcia não usa os perfumes
que vende aqui ela é alérgica! Que idéia
brilhante! Por que não disse que eu vim comprar
um elefante branco?
- Calma prima! Você esquenta demais! Vai
dar certo.
- Ta bom!
Seny estava apreensiva e brava por ter que
ir assim, sem despedir-se de Paul. Espera o toque
no celular, só que não vê o numero da chamada e
atende já falando brava.
- Até que em fim, Amanda! Já despistou seu
pai?
-Seny Will! Por que é que Amanda tem que
“despistar” o Pai dela? Onde a senhorita esta?
- Pai! Ai! É que eu me desencontrei de
Amanda e o tio Robert veio buscar a gente, mas
já to indo.
-Senhorita desobediente! Acabei de receber
uma ligação do Dr. Robert ele esta preocupado
em você ter passado mal, porque já esta
procurando você neste shopping minúsculo á
meia-hora! E ele viu algumas pessoas raras de
estarem “passeando” ai justo hoje. Quando eu
chegar a casa, quero saber essa história sem
mentiras e acho bom que você esteja realmente
neste shopping!
- To sim papai. Olha, acabei de encontrar o
Tio Robert.
- Ótimo! Em casa temos uma conversinha
marcada. Um beijo filha!
- Ta papai.
Que ironia. “Um beijo, filha”. Seny sabia
que não era um beijo que a esperava, mas
qualquer castigo não fazia mal. em sonhar
com o beijo de Paulo, o toque suave dos seus
lábios, que saudade enorme sentiria. Queria ter
ficado junto dele pra sempre.
- Que passeio demorado!
- Oi Dr. Robert.
- Sem palavras Seny! Já pro carro!
Parece que Tio Robert, viu mais do que
devia. O semblante dizia tudo. Tinha que achar
um jeito de escapar dessa enrascada. Ai como ela
queria torcer a prima. Agora era pensar numa
desculpa convincente.
Dr. Robert parou o carro em frente o
condomínio da gata borralheira e avisou que não
ia descer e que precisava de uma conversa com
Amanda e depois ia ligar para o Dr. Will para
fazer a acareação com as duas!
A adolescente apaixonada pouco estava se
preocupando com o castigo. Entrou flutuando em
casa. Seu olhar estava perdido, distante.
Márcia indagou em que nuvem ficava essa
tal biblioteca em que seny fora pesquisar com
Amanda. Sua sensibilidade de mulher e a
preocupação de mãe quase a fizeram adivinhar o
motivo de a menina estar em órbita.
- Seny, onde você foi? Não tem nada pra
me contar?
- Na biblioteca, Shopping. Não mamãe. Ta
tudo bem!
- Mamãe? Você esta bem mesmo? Ah,
Seny! Não se meta em encrencas. Você conhece
o rigor de seu pai.
- Não se preocupe, vai ter valido a pena
qualquer castigo.
Diante da afirmação impensada de Seny,
Márcia alarmou-se muito.
- Seny, você não..
O que é que você fez menina?
- Nada mamãe. Não se preocupe.
-Querida se você desobedeceu a seu pai, eu
não vou poder intervir desta vez. Espero que
entenda!
Seny, nem parecia ouvir. Foi para o quarto
e deitou-se olhando o teto decorado. Sua mente
pensava em quando e como veria de novo seu
amado Paulo. Desde que ela o vira no primeiro
dia de aula fora do internato, sentiu que ele era
especial. Todos os sonhos possíveis de flores,
príncipes e castelos formavam seu universo
agora. Paul era seu herói, seu amor. Nada mais
importava.
Nem a voz turbulenta de Will que chegara
duas horas mais cedo do trabalho, a fizera
despertar do conto de fadas.
- Olá, amor. Você não me avisou, teria
mandado adiantar o jantar.
- Querida, onde esta Seny?
- Hum..
- Márcia. Desta vez eu estou calmo e
preciso que não interfira. Onde ela esta?
O tom de voz de Will anunciara que a
doce filha estava bem encrencada.
- Meu bem. Ela esta no quarto. Posso ao
menos saber o que ela aprontou desta vez, que o
fez você sair mais cedo da clinica?
- Robert teve a infeliz certeza que as
panteras marcaram um encontro amoroso.
- Tem certeza? Seny é tão novinha.
- Márcia, seu tom de voz denuncia você. Se
eu não tinha certeza, acabei de ter! E não se
preocupe porque não estou descontrolado, mas
bravo o suficiente para fazer o que tem que ser
feito. E repito não me interrompa desta vez.
- Ah, Will!
- É uma ordem, minha esposa!
- Fazer o que? Certo então!
Márcia queria desesperadamente defender
Seny, mas não teve como.
Will abaixou a cabeça procurando uma
formula mágica. Que menina atrevida!
Márcia fitava-o e quase ria, ele realmente
queria, mas não estava bravo. Estava pesaroso,
como ficava ainda mais atraente quando estava
contrariado. Will era um pai muito jovem apesar
de muito tradicional também. Era um médico
brilhante e atraente.
Passava nervosamente as mãos pelos
cabelos negro, curtos e lisos, o olhar firme e os
ombros largos, denotavam seu poder de
persuasão. Sem duvida ele tinha uma presença
marcante.
Como quem teve uma idéia sarcástica, ele
pôs as mãos sobre o cinto de couro branco.
Retirou o bip e os celulares.
Márcia observava sem querer acreditar. Ele
não ia fazer isso. Ia?
Mas ele não parecia tão bravo.
Will fitou –á. Como quem queria relembra -
que ela não deveria interferir no castigo e
depois deu uma piscadinha acalmando-a. Ele não
estava descontrolado. Era seguro e estava
seguro. Agia com frieza agora, mas devia saber o
que era melhor para sua filha.
Márcia apenas meneia a cabeça. Embora
estivesse penalizada por Seny, entendia que o pai
precisava ser duro agora, para evitar alguma
coisa que não pudesse mais ser remediada no
futuro.
Will chamou por Seny na sala, num tom
serio.
Foi assim que Seny saiu do mundo da lua e
pousou na terra.
Quando a jovem rebelde apareceu na sala,
Will tirou o cinto da calça e olhou-a dentro dos
olhos. Parecia que ele queria que ela desse
alguma dica de que ele estivera deduzindo
errado.
Tão alourada ela estava que olhou o pai.
Contemplou seu rosto fechado, mas achava-o
lindo no traje branco de médico.
- chegou papai. Não vai tirar a roupa do
hospital?
Foi o que conseguiu dizer desviando os
olhos do olhar hábil e inquiridor do pai.
Você sabe o que a espera mocinha?
Seny tremula da-se conta de que Will esta
com o cinto nas mãos e estica-o pressionado
entre as mãos fazendo um enorme barulho e uma
evidente ameaça.
- Ah, papai! Essa não!
E já caiu no choro.
Will segurou-se para não rir. Lembrou-se de
como ela era corajosa no orfanato, agora parecia
que estava mais que intimidada, estava com
medo. E isso infelizmente era prova que ela tinha
culpa e muita. A vontade desse pai protetor era
abraça - e não dar-lhe umas palmadas. Mas
Will sabia que se não a intimidasse seriamente
poderia perdê-la sem que houvesse retorno. Foi
pensando que era uma maneira de lutar pra que
ela não se perdesse, nos tão suculentos pratos
postos á adolescência que depois dão indigestão,
que ele criou coragem e segurando-a por um
braço, deu-lhe umas boas cintadas.
Márcia fechou os olhos para não
interromper.
Will sentiu-se um monstro depois que viu as
marcas avermelhadas nas pernas da moça.
Seny ainda chorava quando o pai mandou
que ela sentasse no sofá.
Com medo ainda ela sentou.
Will a fitou brigando com o coração de pai.
- Mocinha, você sabe por que apanhou?
- Sei.
Balbuciou tremendo muito.
Isso era tudo que Will não queria ouvir.
- Ah, mocinha! O que eu faço com você!
Será possível que custa me ouvir e obedecer,
principalmente quando se trata de algo tão serio?
Seny ousou fitar o olhar decepcionado,
apreensivo e ainda muito contrariado do pai que
ainda continuava em pé com o cinto na mão.
Olhando-a tão frágil e chorando daquele
jeito, Will nem conseguia quase manter o tom
grave de voz.
- Me deixe ver esta perna.
Abaixando-se até a pequena teimosa com
lágrimas que prometiam formar um rio, Will
estica a perna direita dela e observa que uma das
cintadas pegou um botão de enfeite na barra da
calça corsário e fez um corte mínimo abaixo do
joelho. Mínimo mas o suficiente para aquebrantar
o coração tolo de Will.
- Ta vendo Seny, olha o que você acaba
fazendo.
O médico-pai, com um algodão fez a
assepsia do insignificante ferimento. O coração de
Will estava mais inseguro e ferido, com certeza.
Sua menina estava indo embora aos poucos.
Como ele a impediria de crescer? Mas faria o
possível para adiar esse amadurecimento precoce
que a acompanha desde o nascimento.
Will sentou-se á seu lado. Ela ainda tremia
de medo e de culpa. Sua consciência pesava por
entender o quanto magoara o pai. Embora por
Paulo qualquer castigo fizesse sentido, ela não
queria magoar seu pai. Foi então que percebeu
que precisava muito de Will e que ainda o tempo
não os havia aproximado o bastante pela infância
que passaram afastados. Com esse pesar no
olhar e no coração confuso, Seny chorava mais
desesperadamente.
Will não resistiu. A abraçou e a pós em seu
colo.
- Ah, minha filha! Porque você tem que ser
tão difícil e tão precoce!
Seny sentia-se ainda mais culpada ao ver
como o pai se sentia mal por haver castigado-a.
Will havia sido muito arrogante com ela
no passado, mas agora era um pai muito
carinhoso.
Deitada no colo de Will, Seny tentava parar
de chorar e não conseguia.
- Márcia. Querida traga um copo de água
para essa moça tão valente que agora mais
parece uma gelatina derretida ao sol.
- Seny, não foi pra tanto, eu nem bati em
você com força. Você esta me deixando
preocupado. Tem algo mais do que o Robert viu?
Ela nem sabia o que ele viu, mas sabia que
seu pai era inteligente o bastante para deduzir
depois de tudo e do aniversário de Amanda.
- Não papai. Não tem nada tão grave.
- Tão grave? È melhor eu não perguntar
agora pra não ouvir que não quero e perder a
cabeça! Seny! Seny!
Levantando o rosto ela olhou dentro dos
olhos do pai, como quem pedia socorro. “Quase
que pedindo: se me surrar vai arrancar Paulo do
meu coração, então faça, antes que eu faça
alguma besteira”.
Will buscou forças dentro de si para
transmitir aquele olhar que ele conhecia to
bem desde aquela noite que ela teve febre no
internato.
- Papai, adianta agora, mas.. Perdoe-me.
Márcia que se manteve apenas como
expectadora, não segurou as lagrimas de
emoção. Como os dois se pareciam até no
caráter. Que personalidade brilhante e
contundente ambos possuíam, Seny era a replica
fiel de Will.
- Ah, minha criança mimada e caprichosa!
Will beijou a testa de Seny e manteve-a sob
a custodia de proteção do seu abraço paterno,
até sentir que ela não se culpava tanto e que
estava mais calma.
Agora para quebrar o gelo era um tanto
cínico.
- Se eu soubesse que umas palmadas, a
deixavam moçoila rebelde doce e amável, teria
lhe presenteado com uma boa surra bem antes!
- Papai!
Exclamou a criança ofendida e fechou o
semblante como quem fora gravemente
insultada.
- Que beicinho lindo!
Seny não segurou e riu.
- Ah, papai!
- Sabe que eu te amo minha querida.
tinha esquecido do quanto você ainda é criança.
Deixe de ser precoce minha filha. O tempo não
volta. Quantas vezes na vida você terá que ouvir
esta frase?
Amenina de ouro nada respondeu.
Descendo do colo do pai, arrependia-se por
causar um atrito em seu dia. Pensativa e como se
as palmadas nem doessem mais pegou o copo
com água das mãos de Márcia e agradeceu.
Sentou-se novamente ao lado do pai e bebeu a
água. Pensativa e incógnita, o mundo de seny
girava entre o novo, atraente amor pelo beijo
apaixonado do garoto mais velho que prometera
voltar e a decepção de entender que ferira
gravemente o coração de seu pai. Ela desejava
não entender. Desejava gritar e bater o pé, enfim
ser contraditória e obstinada como um
adolescente nesta fase. Mas, entendia seu pai e
como o entendia! Relembrou o que sentiu no dia
do casamento de seu pai e sentiu que ele devia
sentir a mesma espécie de insegurança. Forma
privados de serem uma família por estes anos
todos e justo agora esses sentimentos afloram.
Ela não sabia qual amor queria mais próximo ou
que sentimento daria prioridade. Estava confusa
e novamente triste. Muito cedo para se
apaixonar. Seu pai tinha razão. Era muito cedo
pra ela e Paulo tinha que entender. Ela não era
criança. Mas, também não tinha maturidade
suficiente e sabia que o que sentia não era uma
simples paixonite, mas era paixão de verdade. E
não estava pronta para lidar com as
conseqüências de um sentimento tão adulto
assim.
E este era o desespero de Will, ele
aprendera a conhecer bem de mais o caráter e as
emoções de Seny. E pressentia que o que ela
sentia pelo garoto do colégio (Paulo) era muito
serio, tão serio quanto o que atraiu ele e sua mãe
no passado (Jéssica) e foi desastroso o
desenrolar da trajetória de Jéssica Lyran, e Seny
ainda era bem mais nova que ela, Seny acabara
de adentrar na adolescência. Will não permitiria
que a filha estragasse sua vida. Se fosse um
namorico bobo, talvez ele ate fingisse que não
sabia. Mas era evidente que tudo na vida de Seny
era profundo e marcante.
Naquela noite Will não pode dormir, seu
passado vinha á mente como um filme claro e
nítido. Não queria pra Seny o mesmo fim de sua
mãe. Não deixaria. Custasse o que custasse!
Seny meditava...
Melhor deixar o tempo passar mais um
pouco e pensar. Ainda assim não se conformava
com a inveja de Anita. Anita que ela tanto
aprendeu amar e defender.
Ingratidão
Queria achar as palavras certas
Para descrever a dor
De quando a decepção leva
Uma amizade que o amor despreza.
Acreditei em mentiras
Tão puro era meu olhar.
Sonhei que amigos eram eternos!
Você meu sonho veio exterminar.
Como pode não se importar?
Conheço alguém que se importa.
É Deus que veio me abraçar...
Ele me diz que pela vida afora:
Amigos fiéis, ainda vão encontrar!
Essa esperança me conforta.
Não é você que vai minha porta fechar...
Da sinceridade, da virtude:
Eu chegarei ao LEVEL 100!
Não desistirei você já não é ninguém!
Naqueles dois anos desde o primeiro
desmaio na festa do internato, seny tinha dores
esporádicas de cabeça, vez ou outra se
revelavam muito intensas. E outras vezes,
mesmo sem passar por nenhum stress ela
desmaiava sem explicação.
Capitulo 07
Márcia foi apanhar a bolsa que esqueceu em
seu quarto. Sem saber que Will estava em casa,
ficou surpresa ao ver a expressão de extremo
horror em seu rosto contraído. Ele examinava
documentos e exames em uma pasta
transparente que ela nunca vira antes no
apartamento. Notando o maxilar contraído do
esposo decidiu sair sem que ele notasse sua
presença.
A mãe interina voltou mais cedo da agencia
e Will não estava no apartamento. Vasculhou o
quarto e encontrou a pasta marcada com o
adesivo de papel vermelho.
Abriu e leu os documentos. Alguns exames
eram de seny, outros para sua surpresa eram de
Jéssica Lyran. A perplexidade se apoderou de
Márcia. O que teria naqueles documentos?
Numa noite quente daquele verão:
A jovem precoce também não dormiu. Seus
pensamentos e seu coração estavam em atrito
entre o amor e o medo. Embora soubesse por seu
pai de parte resumida da história de sua mãe,
algo ainda a intrigava muito. Sabia que tinha
ainda algum segredo não revelado e não tinha o
desejo, nem coragem de buscar saber. Era como
se um pacote tenebroso estivesse prestes a ser
aberto. E ela queria evitar.
Como uma reação de auto defesa do seu
subconsciente, Seny teve febre alta por toda a
noite e chegou a delirar, pela manha, mal parava
em pé e nem conseguia chamar Márcia ou Will.
Um sexto sentido fez Will voltar do elevador
na garagem. Sem entender o que voltara pra
buscar, ele retornou ao apartamento e foi ver
como estava sua jóia indomável. Ao encontrar
Seny delirando e suando muito, ficou alarmado.
- Filha, o que você tem?
Colocando as mãos sobre seu rosto viu que
estava muito febril.
Chamou Márcia para auxiliá-lo.
- Febre de novo.
- Oh, não! Não como antes?
- Infelizmente pior, parece estar a quase
quarenta graus e esta quase inconsciente. Vamos
levá-la ao Hospital.
- Meu Deus! Ainda bem que você esta aqui.
Pensei ate que tinha ido trabalhar quando se
despediu.
- Eu havia saído mesmo. Mas uma
sensação estranha me fez voltar do elevador.
Agora entendo porque não dormi á noite toda.
Envolvendo-a nos lençóis e carregando-a
em direção a porta, Will clamava por não ser
tarde demais. Apertado nas mãos Seny tinha o
celular e retirando-o de suas mãos Will viu 05
chamadas de Paulo. No mesmo instante o celular
tocou novamente. Will atendeu
instantaneamente.
- Alo Seny? Tudo bem?
- Aqui é o pai dela! E graças á você ela esta
sendo levada em estado de choque para o
hospital.
- O que? O que o senhor disse? Como
assim? O que ela tem?
- Não tenho tempo para explicações e
principalmente pra vo garoto! Mas, vou pedir-
lhe um favor. Se realmente tem um mínimo de
consideração pela minha filha, afaste-se dela.
Seny tem graves problemas de saúde que nem
ela sabe, e eu não posso explicar pra você agora.
- Senhor Will, me diga uma coisa. Ela
corre risco de morte?
- Infelizmente é provável, ela tem uma
patologia incurável. falei demais! Agora por
favor, faça este bem á minha filha se ela
sobreviver.
Will pensava ter dramatizado demais,
porém, mais tarde descobrira que era pior do que
pensara ser.
- Se é para o bem dela, eu prometo Dr.
Will, não mais me aproximarei dela. Desejo que
ela fique bem.
Will desligou abrupto o celular jogando-o no
chão.
Chegaram ao Centro Hospitalar ADE, onde
Will tinha também a Clinica dentro do prédio.
Na emergência Will mesmo fez os primeiros
socorros, Chamou neurologistas e cardiologistas
ás pressas, os sinais vitais estavam muito fracos,
Seny estava inconsciente. Mas entre o céu e a
terra sua mente lutava pelo amor e pela vida
Perder-te seria ganhar-te;
Mas o preço desta arte
Custa-me quase a vida
Quisera eu fosse um enfarte,
Que como a pressão sobe e bate.
E apaga assim a partida,
Já que não te tenho e nem á mim tens.
Pois, pra meu próprio bem,
Virou paixão recolhida.
E onde se esconderam os sonhos?
Se os versos que componho,
São de alma tão ferida.
Duas grandes e dolorosas revelações foram
descobertas com a morte de ssica Lyran, que
Will ficou sabendo anos mais tarde, quando
reencontrou o pai de Jéssica e através dele o
orfanato onde estava Seny.
Na autopsia descobriram que Jéssica estaria
condenada á morte, ela tinha doença de chagas e
um aneurisma, que ela morreu sem saber. que
morreu de poli traumatismo craniano no acidente
na excursão para praia.
No internato quando Will mandou trazer
Seny, mesmo sem aproximar-se dela,
covardemente pra não se apegar também com
medo que ela morresse, que sua mãe morrera
também de enfarte apenas dois anos da morte de
Jéssica.
Eram muitas perdas para uma só pessoa.
Foram feitos todos os exames em Seny, e
nenhum deles constatou a doença de chagas.
Mas, quando seny ainda no internato
começou ter crises de ausência e convulsões ,
Will lembrou-se do aneurisma de Jéssica e pediu
a ressonância. Foi constatada abertura entre os
giros corticais e uma leve disritmia cerebral, mas
nada de importante.
que os sintomas estavam evidenciando-
se no ultimo ano. Dores de cabeça constante,
febres isoladas, desmaios e convulsões. Para
fazer os exames sem que seny suspeitasse de
algo grave, Will a sedava em casa mesmo.
E agora essa febre alta e o enfraquecimento
generalizado dos sinais vitais a levaram de volta
á CTI. Neurologistas e cardiologistas preocupados
não escondem a gravidade do estado de seny.
- Dr. Will, ela esta sendo monitorada e
incubada. A respiração esta frágil demais e os
sinais continuam oscilando. Seu coração esta
fraco. Sentimos muito Doutor.
- Como assim sentem muito! Também sou
medico! Não vou perder minha filha! Não sou
cardiologista! Façam alguma coisa.
Robert estava no hospital e foi informado
por uma atendente.
- Calma! Estamos mobilizados, varias
equipes trabalhando em conjunto. Nossa menina
vai resistir!
- Oh, Robert! Tudo que eu temia era perdê-
la.
- Não vamos perdê-la, tenha fé. que no
momento Will, tenha mais em Deus do que na
medicina, porque tudo que é possível esta sendo
feito! Tenha fé em Deus e acredite: vai viver!
- Ela tem que viver!
- Dr. Will, o senhor deve retirar-se, sua voz
pode afetar o estado emocional e agravar ainda
mais, o senhor esta alterado, Doutor.
- Eu não vou sair.
- Dr. Robert, acalme-o. E leve-o ate a porta
ao menos.
melhor Will. Vai ajudar mais se você sair
e sabe disso.
- Esta bem.
Robert abraçou o amigo e Will chorou.
Sentiu-se miserável e nu diante das
circunstancias. Seu dinheiro, seu conhecimento
medico, sua experiência. Nada podia agora ajuda-
lo ou salvar sua filha.
Sofrendo e sentindo novamente a dor da
perda e dor na alma, abraçou-se com Márcia e
ambos clamaram ao senhor por um milagre, por
mais um milagre.
- Deus eterno! Na verdade, tudo neste
mundo é teu e tudo que possuo não é nada
diante da vida. Por misericórdia devolva a vida á
minha filha! Não me puna desta maneira por não
ter entendido o afastamento de Jéssica e a ter
julgado e feito sofrer. Não deixe que Seny pague
pelos meus erros. Senhor de todo coração clamo
teu perdão e teu socorro!
Will não se envergonhou de orar em voz
alta.
Os parentes sem esperanças que tinham
pacientes internados nos CTI, admirados de ver
um médico tão humano orar (Will estava vestido
para atender na clinica, quando socorreu a
filha ,e, Médicos parecem tão alheios á morte, se
tornam tão duros com o tempo); Cobraram
animo e resolveram cada um á sua maneira
também se apegar com Deus.
Foram horas intermináveis, até que um
médico veio até Will e anunciou que ela estava
fora de perigo, mas continuaria no CTI.
- Oh, graças a Deus!
- Depois de vários exames cardiológicos e
Neurológicos, constatamos que além de
uma arritmia cardíaca, sua filha sofre de
depressão profunda. Fora os problemas genéticos
e orgânicos ela tem consideráveis distúrbios
emocionais e precisa de também de
acompanhamento psiquiátrico.
- Como assim?Até ontem estava tudo
normal. Eu sou medico! Acham que eu seria
irresponsável aponto de ocultar-me?
- Não Dr. Will, o fato é que sua
especialidade é outra e o fato veio á tona por
causa dos sintomas que se manifestaram de
maneira crônica, revelando a patologia em
exames que fizemos apenas por procedimento e
daí a seria constatação.
- Não posso aceitar isso, ela é uma criança!
Meu Deus ajude-me.
A decepção e a dor do coração daquele pai
eram indescritíveis, Deus poderia confortar e
contemplar.
A linda menina de ouro, a corajosa dama
revelada em sua essência desde a infância, sofreu
a queda da armadura. E agora todos choram a
falta dela! Sim, porque essa Seny em pânico,
intrínseca, presa na torre... Esta jovem agora
com remédios controlados e antidepressivos, que
se afastou dos amigos e dos pais. Que acredita
não ser compreendida e estar vencida pela
doença; nada tem da exuberante, mas singular...
Da graciosa Seny!
Armaduras quebradas
O mundo de Will despedaçou-se de vez, como
lidaria com isso. Ele achou que Seny era feliz.
Isso não era justo! Como ele ia anunciar-lhe
tal coisa? A presença insistente do passado.
A genética, a imagem de Jéssica Lyran,
invadira de novo seu mundo.
No dia seguinte ainda no CTI, Seny acordou
sem entender bem o que estava fazendo ali.
- Papai? Ousou chamar baixinho.
A enfermeira de plantão, perguntou se ela
se sentia bem, ela assentiu com a cabeça. Meio
zonza ainda pediu para ver o pai.
A enfermeira fez um sinal para o medico
que estava passando nos leitos. Conversaram
algo que Seny não ouviu. Então o medico saiu e
vestido com uma mascara e roupa engraçada,
adentrou com os olhos brilhantes, Dr. Will. Foi em
direção ao leito de Seny que ainda estava com
aparelho para respirar,
Mas podia falar pausadamente com o
cateter no nariz.
- Filha?
Os olhos marejando lagrimas, Will não
conteve sua dor e sua emoção.
Você ficará bem minha rosa azul.
Ainda sem entender, ela não se lembra do
porque esta ali.
- Eu, papai? O que há comigo?
Os médicos sensíveis ao fato dela não se
lembrar de nada, induziram Will a não forçar, a
deixar que as lembranças viessem devagar á
memória dela.
- Oh querida, s amamos você! E quase a
perdemos! Foram horas intermináveis!
- Foi serio assim?
- Foi querida, mas agora você esta fora
de perigo.
Ela tentou sorrir, mas...
Seny voltou a adormecer por conta dos
sedativos.
Varias manifestações de crises ainda no
CTI, evidenciando infelizmente síndrome do
pânico, para Will foi assistir á um inevitável filme
de terror.
A cirurgia foi inevitável.
- Ela mal tem quatorze anos!
Will gritava, reprimia sua dor, emagreceu
bastante, quase entrou em choque.
Lembrou-se que Seny era uma dádiva de
Deus, e que desde o ventre ela deveria ser
especial. Ela era muito especial. Não imaginava
sua vida sem ela.
Por mais que ainda quisesse ter filhos com
Márcia, este, definitivamente não era o momento.
-Oh Deus Eterno, Dono da vida! Devolva a
vida a esta perola que me deste. Faz-me saber
assim que És comigo.
Quinze dias hospitalizada e irrequieta e
tornado-se agressiva, Seny não quer mais ficar
ali.
Por benção foi para casa no outro dia.
Passando-se alguns meses...
Voltando a rotina do colégio, curso de
inglês, etc. Seny nunca quis tocar no assunto.
Will não confiava em deixar Seny e quando
Márcia não podia, ele mesmo ia buscá-la no
cursinho e na escola.
Por sentir-se fragilizada e impotente diante
de tudo. Seny afastou-se de Amanda. Dr. Robert
permitiu o namoro entre Rodrigo e Amanda,
porque julgava que Amanda não queria nada
serio e, portanto não ia arriscar sua liberdade.
Amanda era mais velha que Seny, Mas sentia
muito a falta da amiga.
Paulo ficou sabendo através de Amanda do
estado de Seny e do que se passava e decidiu
afastar-se dela de vez. Mesmo tendo um imenso
carinho por ela, achou que era um peso que não
podia carregar e deixou uma carta na pagina da
internet de Seny.
“Desculpe-me, ainda é muito cedo pra nós e
eu não quero carregar a culpa de ferir você. Seu
pai a ama muito. Que vocês possam perdoar-se e
seguir enfrente. Em algum lugar da vida, anos
mais tarde, pode ser que eu ainda esteja
esperando pela menina transformada em mulher.
Amo-te. Adeus, Paulo.”
Seny imprimiu a carta e guardou na mesma
caixa em que guardou os livros de sua mãe. Não
se via mais sorriso em seu rosto, vira e mexe
uma lágrima insistia em rolar. Ela tornou-se
quieta, amarga e arredia.
Amanda insistia em ligar de vez enquanto,
mas Seny raramente atendia.
De repente parecia ter raiva do mundo
todo. Era desnecessário lembrar que as picadas
de sedativos intravenosos entre as crises.
Que mocinha vaidosa, não se sentiria
assim?
Mas pra Seny era mais do que algo visível,
era a constatação de que ela era frágil demais! E
por isso Paulo, tão cedo desistira dela.
Will fazia um esforço enorme para não
perder a compostura com ela. Seny enfrentava-o,
era ríspida, malcriada e às vezes ate muito rude
em suas respostas ao pai.
Infelizmente depois do diagnostico, Will
tornara-se um pai desarmado. Embora
inconscientemente o consuma a culpa. Ele não
tinha culpa alguma!
Capitulo 09
Raiando a manhã
Com certo peso e sem ter plano algum do
que fazer com as férias, Seny despertará
sentindo uma alegria diferente invadir sua alma.
Levantou com os olhos azuis mais brilhantes que
nunca.
Seus cabelos cresceram até a cintura, ela
olhou-se no espelho. Desafiadoramente sentiu-se
linda. Respirou fundo e pensou estar ficando
louca. Riu de si mesmo. Sentou na cama, e
subitamente lembrou-se que todos os dias pela
manhã, quando a casa dormia, ela ouvia seu pai
orar agradecendo á Deus por ela estar viva.
Sentiu-se envergonhada de ser tão egocêntrica.
- Meu Deus, obrigado por eu haver
despertado nessa manhã!
Disse em tom alto, para que ela própria
pudesse ouvir. Mal podia acreditar. Estava
sentindo-se feliz! Gostava de viver! Gostava do
que via no espelho! Gostava de estar viva!
Parecia que os sonhos despertaram junto
com Seny, e com ela toda a casa e a benção de
Deus, pareciam pairar sobre aquele apartamento.
Resolveu fazer algo antes de sair do quarto.
Era um sábado diferente. Seu pai não trabalharia
naquele fim de semana prolongado.
Ligou o computador e mandou um e-mail
para alguém muito especial.
Querido, Paulo”:
Agradeço por ter preocupado-se a ponto de
ausentar-se. Mas... Estou de volta á vida.
Foi um semestre muito longo!
Desejo que tudo te bem. E quero que
saiba que com ou sem você, Deus nunca me
abandonou e também não te abandonará.
Achei que este era o momento certo de te
escrever. Ainda te amo. Fica com Deus. Seny
Will.”
Sentiu-se tão aliviada de estar sentindo-se
segura que desejou cantar e foi o que fez.
Saiu do quarto, vestida com cores alegres e
cantando. Will e Márcia entre olhavam admirados.
Mais um milagre aconteceu. A meiga Seny,
voltara á vida!
- Bom dia, papai. Você está muito bonito
esta manhã. Já disse que te amo?
- Graças a Deus! Você é quem esta linda
minha flor e sem duvida, eu te amo!
- Também amo você, Má.
Márcia se emocionara por demais. Até que
enfim, parecia que chegou o tempo de Cantar ás
aves e aquele lar se enchera de beleza e
harmonia.
Quantas vezes as esperanças de “Seny”
renasceriam ainda, era impossível prever. Mas,
com certeza que cada vez que precisasse Deus
estaria com ela.
Seny fez uma surpresa para Amanda. Pediu
ao Pai que a levasse á casa de Tio Robert, sem
avisar.
E ao abrir a porta, Amanda ficou surpresa.
- Que você esta olhando prima? Acaso
achou que se livraria fácil de mim?
- Oh, Seny.
Amanda queria rir, mas, abraçou a amiga e
chorou de alegria.
- Sua chata! Achou que não ia mais ter com
quem brigar?
- Ah, e quem ia concertar suas burrices.
Caíram na risada. Era bom vê-las juntas de
novo!
Que saudade sinto de ti,
Como quero teu abraço,
O louvor que ouço agora me faz chorar...
Como desejo te abraçar.
Sinto-me tão vulnerável...
Meiga, doce, afável?
Mas a que preço, tudo isto?
Preço da saudade...
Saudade do que nunca tive.
Quem pode entender-me?
Quem pode preencher-me?
Só tu oh, Deus maravilhoso,
Pode consolar-me.
Enquanto o que desejo não vem;
Reconheço que é Deus forte!
Amo-te mais que minha vida,
O que seria dela sem ti.
Como eu dançaria uma musica agitada,
Sem ouvi-la, ou sem poder mexer-me?
Tu és a própria musica.
You is music in me”
O retorno
Oh saudade da maquete que vi crescer,
Da bela mocinha no espelho
Volta o seu batom vermelho,
Já não és ruiva, nem morena.
Que cor pintou teu cabelo?
Fios dourados como o sol,
Volta à vida, oh rouxinol!
És a menina que eu vi,
Hoje na lida, no dia-a-dia, na vida:
Meu nome é de verdade: Seny,
Na incondicional realidade...
Amo ser chamada assim!
De volta á história...
Amanda conteve as muitas lagrimas de
alegria,
Seny brilhava como a aurora em dia de
primavera.
Parecia não sentir o tempo que esteve
ausente de todos.
Aquela leva de calmantes e sedativos era
um desafio vencido.
Passaram junto todo aquele fim de semana,
fizeram confissões e renovaram a cumplicidade.
Seus pais fizeram um piquenique prolongado pra
comemorar, Kassia estava grávida e muito feliz e
agradeceu aos céus por Amanda ter voltado a se
unir com seny, pois, não sabia a reação da jovem
ao receber a noticia de um irmãozinho. Até então
Amanda estava tão acostumada a ser filha única.
Márcia também confessou seu alivio em ver que
Seny estava vencendo aquele obstáculo. não
suportava o mau humor e o sentimento de
fracasso que Will vinha demonstrando, até em ir
morar no exterior ele tinha cogitado.
Mas as grandes rochas no meio do caminho
estavam apenas dando lugar para as pedrinhas
que machucam os pés.
Alguns dias curtindo as férias Seny e
Amanda, saiam muito. Tentavam distrair-se no
cinema, no boliche ou aprontando algum trote
pela internet.
Subitamente uma manha chuvosa no
apartamento, a linda moça azul tão marcada faz
uma confissão.
- Amanda você ama o Rodrigo?
- Nossa que pergunta seria!
- Responda-me. Não enrola.
- Ah, eu gosto muito dele sim. Além de
namorado é um ótimo amigo. Mas se quer saber
se acho que ele é meu príncipe encantado ou o
homem que desejo casar, te respondo que não!
- Eu já imaginava!
-Hei. Porque esse ar de reprovação?
- Sabia que a Ana, que estudou com ele no
colégio é apaixonada por ele?
- Não. Não sabia. E, prima gosto da Ana,
que não fui eu quem procurou Rodrigo, eu não o
pressionei em momento algum.
- Eu sei, tem razão. Rodrigo gosta de Ana,
como uma irmã e não como ela deseja.
Responde-me outra coisa.
- Hum... Isso ta ficando perigoso! È o jogo
da verdade?
-Quase isso! Diga-me: Você acha que o
Paul, algum dia realmente se apaixonou por mim?
Seja sincera.
- Acho que essa conversa não vai lhe fazer
bem. Porque quer saber depois de tanto tempo e
vocês estando tão longe?
- Me responda. te fiz uma pergunta
simples.
- Ta bem. Acho que sim. Acho que no
começo foi só admiração, mas depois do encontro
no shopping, ele ficou mesmo apaixonado. Seny
você deve esquecê-lo. Desculpe, mas, depois do
seu pai ter pedido pra ele se afastar de você por
causa da sua saúde emocional, ele resolveu
mudar de vida e seguir sem ter esperança de que
um dia desse certo.
-“Its Gonna be love.”. Eu não posso
esquecê-lo Amanda. Meu pai recebeu uma
proposta para trabalhar numa rede de saúde
credenciada no exterior. Mesmo que isso
aconteça, mesmo que nunca mais o veja , eu
jamais esquecerei, foi meu primeiro e único
amor. Como eu queria poder dizer isso olhando
em seus olhos!
- Oh, amiga. Você sempre foi a certinha, a
ajuizada e eu a rebelde maluquinha. Hoje eu é
que tenho que dizer. Esqueça-o. Você precisa
viver, chega de tantas dores. E olha que to
ficando deprimida!
- Por quê?
- To parecendo sua mãe!
Amanda gargalhou com vontade.
- Ah, Olha que eu sou quase debutante,
só faltam dois meses!
- È mesmo prima. E pensou o que vamos
bolar para sua festa de aniversário?Sabe que
adoro festas!
- Desculpe. Mas desta vez vu decepciona -
lá. avisei meu pai que não quero nenhuma
festa. Sei que é difícil compreender, mas isso
me deprimiria mais.
- Compreendo que você sofreu bastante e
essa é uma boa oportunidade de dar uma volta
de 180 graus!
- Sei! Sei! Vou pensar.
- Promete?
- Prometo que vou pensar.
- Ora seny!
- Amanda, nesta altura, vai mais parecer
que é uma festa de despedida! Meu pai se acha
inclinado á aceitar a proposta.
- Ah, não me fale isso! Vocês não podem ir
pra tão longe! Fazem parte da nossa vida.
- Também sinto muito!
As duas encheram os olhos de água e
seguraram para aquilo não antecipar uma
dolorida despedida.
Capitulo 10
Pedras e surpresas no caminho.
Uma semana antes do aniversário da prima,
Amanda liga pra Seny aos prantos de desespero.
- O que foi Amanda?
- Você não pode deixar-me! Meu pai vai
deixar-me.
- Que é isso. Não faça drama, o que esta
havendo?
- Kassia Levy esta grávida de quatro meses!
Vou ter uma irmãzinha. Você acredita? até
escolheram o nome. Meu pai esqueceu de
mim! Jamais serei sua “filhinha” agora!
- Calma! Isso era passível de acontecer,
afinal seu pai casou-se primeiro que o meu e
ainda é jovem. E você jamais vai deixar de ser a
“Amandinha” do Dr. Robert. Sabe qual a única
diferença?
- Qual?
- Você vai ter uma irmãzinha pra olhar e
não vai poder ficar saindo pra namorar.
- Engraçadinha! Queria saber como se
sentiria se Márcia estivesse grávida.
- Nem brinca com isso! Não tem graça. E vê
se para de chorar e vem aqui.
- Ta vendo você não quer uma irmãzinha,
não é?
- É diferente e você sabe? Olha a minha
situação, meu pai me assumiu quando eu
tinha 12 anos! E deixe de drama que Dr. Robert
te mima e muito. E. Qual o nome de sua
irmãzinha?
- È Pra você é fácil. O nome que escolheram
é Audrey.
- bonito nome. Agora vem pra que tenho
uma outra noticia que quero te dar pessoalmente
e tenho uma difícil tarefa pra você.
_ To indo. Sua chata! Rs.
- Hum.. Já parou o choro, Oh bebe chorão?
- Sei! Bonequinha de porcelana!
- Olha, não ofende não.
- Ta bom.
Amanda riu e desligou o telefone. Seny não
sabia o porquê, mas sentia um grande aperto na
alma, não gostou nada do Tio Roberto resolver
ter um filho e nem queria cogitar a possibilidade
de Márcia engravidar. Não adiantava, ia ser o fim.
Ainda não estava pronta pra isso e sabia que
mais cedo ou mais tarde isso aconteceria. Queria
morrer quando pensava nisso. Sabia que era
egoísmo, mas até a forma que Amanda a chamou
de “bebe de porcelana” a fazia lembrar da
humilhação do orfanato. Do abandono, da solidão
e de toda dor mais recente que sentira. Nem
queria pensar nisso!
-Querida.
-Oi, papai.
- O que você tem? Parece apreensiva. Ainda
inconformada com a mudança?
- Na verdade também. È uma vida deixada
aqui.
- Na verdade Seny é uma vida a ser
recomeçada em outro lugar. A proposta é muito
boa, quase irrecusável e tem outra coisa, o maior
motivo deu aceitar sair do país é porque acho que
vai fazer um bem imenso á você começar uma
nova história e Veneza é uma cidade linda.
- Papai, você deve saber o que esta
fazendo, mas pra mim é assustador. Nunca quis
ir á Itália. Muito menos morar lá.
- Veja pelo lado bom, você ama massas e
macarronada.
Will tentou sorrir, em vão tentava
convencer a si mesmo que era o melhor pra
todos. Também estava triste em deixar a família
e os amigos. Porém um homem precisa fazer o
que é certo e o certo nessa altura era mudar
totalmente de ambiente e recomeçar. Ainda
assim a sensibilidade de pai-amigo o fez perceber
que havia algo mais preocupando o coração da
garota.
- Anjinho, você realmente não quer fazer
sua festa de debutante. È uma data tão especial
pra uma jovem.
- Não!Trar-me-ia lembranças e saudade
depois. E iria ser mais é uma festa de lagrimas e
despedida, já que a mudança esta tão próxima.
- E o que mais esta deixando tão marejado
o azul destes lindos olhos?
- Quer mesmo saber?
- Sim, claro que sim!
- Sabia que Tia Kassia esta grávida?
- Sim. Robert esta muito feliz. Por quê?
- Porque eu não suportaria estar no lugar de
Amanda! Ela esta enciumada e infeliz. E eu não
quero um irmão!
-Seny, ciúme é normal, Amanda foi filha
única por quase dezessete anos! Mas, é egoísmo
seu pensar assim. Por que não quer que eu tenha
outro filho que você esta se tornando uma
mocinha?
- Porque minha infância começou aos doze
anos! Você me deve alguns anos e não suporto a
idéia. Sei que é absurdo. Mas simplesmente não
suporto e pronto!
Will se deu conta de que nem todas as
feridas de Seny tinham sido saradas e que
precisaria mais do que uma sessão de terapia.
Precisava da ajuda de Deus. A mocinha de ferro,
ainda estava frágil, magoada e apesar de ser tão
possessiva quanto o pai, estava demonstrando o
quanto ainda era insegura quanto ao amor dele.
Will queria ter um filho logo que se estabilizassem
no exterior. Depois também ficaria inviável que
Márcia engravidasse muitos anos depois em idade
de gravidez de risco. Will sabia que tinha uma
terrível escolha a fazer. Arriscar que Seny
compreendesse ou nunca ter outro filho. Sentiu-
se como se tivesse que pagar assim pelos erros
do passado. Mas e Márcia o que é que ela
pensaria. Ela estava empolgada com a gravidez
de Kassia e demonstrava claramente quem
desejava ter um filho.
A campainha toca quebrando a nuvem
negra.
- Quem será? Indaga Will
- Eu abro papai, deve ser Amanda, ela ficou
de vir aqui ficar comigo.
- Certo. Então vou até o banco com a
Márcia. Comportem-se meninas.
E com um ar disfarçado de riso Will
convidou Márcia para ir ao banco e tomar um
café.
- Pronta dona sabe tudo! Fala Seny, que
encrenca você quer desta vez?
- Ah, sim! Há.. Ha. Você é que gosta de
encrencas Amanda. Olha meu pai ta decidido a ir
pra Veneza ou pra outro país. Tenho uma
proposta pra Boston com o Dr.Ferreira e pra Itália
com Dr. André. È provável que vamos pra Veneza
na Itália.
- Sei. Além de me dar essa noticia - bomba,
o que mais você quer?
- Não adivinha?
- Ah, não! Essa, não! Ah ultima vez que
você fez essa cara eu levei a primeira e única
surra do meu pai!
- Ah, vai, nem doeu! E você nem lembrava
mais. Você sabe o que eu quero e você pode
se passar por Anita.
- Parai. Deixa-me ver se entendi. Você quer
que eu me passe por Anita e arranje um encontro
de despedida entre você e Paulo?
- Yes! Quem disse que loiras não são
inteligentes! Você acertou na mosca!
- Seny, isso vai dar rolo e depois... Do
fundo do coração você sabe que eu topo, mas
acho que você sofreria mais. Você vai embora
do país. Lembra?
- Por isso mesmo. quero ter a chance de
dizer o que penso, de confirmar o que sinto e de
saber tudo que se passou desde o ginásio ate
hoje, entre eu e ele. Quer dizer entre o que
sentimos. Porque primeiro nos tornamos grandes
amigos e depois quando íamos nos tornar alguma
coisa, você já sabe...
- Sinto muito pela Anita e pela sua doença
Seny.
- Pois, eu não sinto não! Quero ser feliz
custe-me a vida ou não!
- Ai isso me medo, mas ta bom, eu
tenho um amigo que consegue a senha do site de
conversa on-line, eu peço pra ele pegar o e-mail
da Anita e o resto é com você.
-Feito.
Seny nem disfarçava a alegria de pensar
em rever Paulo e também a adrenalina de
aprontar mais uma das suas muitas travessuras.
Sem duvida amava-o.
Dois dias e Amanda tinha conseguido o
tramite e o primeiro contato com Paul. Agora era
com seny.
Na internet Paul estava on-line, a suposta
“Anita” entra no site.
- Boa noite Paul.
- Muito boa.. Senhorita....
- Senhorita o que?
- Seny!
- como você sabe?
- Só você escreve e me chama assim.
- Bem, desculpe usar um nome que não é
meu, é pra evitar problemas com a própria dona
da conta.
- Eu imagino! Não sei por que não estou
surpreso.
- Não entendi.
- Eu esperava muito que você entrasse em
contato depois do ultimo e-mail. O intervalo entre
nosso encontro e o e-mail tem quase um ano.
- È bem difícil pra mim, gostaria de não
falar nisso.
- Entendo. Mas apesar de parecer
demagogo da minha parte, percebi que seu pai
quis preservá-la e mais que isso, lutou pra
mantê-la viva! Sinto-me culpado até hoje.
- Você sabe que não é bem assim. E que
não tem culpa. A culpa que tem é de ter me
abandonado. Você é preconceituoso? Não me
suporta porque tenho alguns problemas pré-
existentes de saúde?
- Sabe que não é isso. Você estava frágil e
como eu ia enfrentar seu pai que estava quase
tendo um enfarte também.
- Entendo. Ou melhor, quero entender. Por
isso quero te ver hoje á noite. No Stop Youth.
- Ta maluca. Como você sabe que eu estou
na cidade?
- Intuição.
- Sua intuição se chama Amanda?
- Bem por ai. E então?
- pras 21h00min eu estou na mesa 03.
Mas como vai fazer com seu pai?
- Eu me viro meu aniversário esta próximo,
não se preocupe.
_ Eu não tinha esquecido linda complicação.
Mas o que isso tem a ver.
- vou fazer uma pequena chantagem e
envolver Amanda no rolo.
- Ai! Ta bem. Qualquer inconveniente me
avise “Anita” (Seny).
- Até mais tarde, príncipe encantado.
Rindo desconectaram a travessura
combinada.
Capitulo 11
Seny estava nas nuvens, tinha planejado
tudo, Amanda ia com Ana e Rodrigo no ponto dos
jovens. Will hesitou um pouco, mas como Seny
andara por dias tão tristes, resolveu permitir com
o aval de Márcia. Claro que quis deixá-los, na
porta do “Stop youth”. Deixando - os, fez mil
recomendações aos jovens e pediu para ligarem
na hora de voltar mesmo que fosse de
madrugada.
Na mesa três esta Paulo. Mas lindo e
encantador do que nunca. Seny parecia mais
adulta, Também um tanto vulnerável, os
hormônios estavam à flor da pele. A saudade, a
dor, a vergonha, o amor, a vontade de abraçá-lo.
- Boa noite meu destino.
Disse Paul para Seny levantando-se e
abraçando-a longamente. Um novo beijo
apaixonado foi inevitável.
Desculparam-se com o resto da turminha,
prometeram deixar os celulares ligados, mas
queriam conversar a sós e tinham muito que
conversar.
Foram no mesmo bairro num barzinho
freqüentado por gente com bem mais idade e que
tocava musica ao vivo e tinha um espaço
reservado aos namorados.
Conversaram muito, desculparam-se,
fizeram declarações e juras de amor, trocaram
abraços com lágrimas, apertos de mão. Parecia
que seus corações estavam apertados, pois,
sabiam da despedida. Longos beijos e o desejo de
que aquele momento fosse eterno.
O que aconteceu no longo caminho de volta
para o Stop Youth para reencontrar a turma e
voltar pra casa, só os dois compartilharam.
Seny e Paulo guardariam para sempre em
seus corações a pureza, a intensidade, a
dificuldade e dor da distancia daquele amor
mutuo, desde o primeiro olhar no colégio.
Paulo queria fazer uma segunda graduação
quando terminasse a atual, e ainda queria cursar
a Universidade de Musica. Era apaixonado por
musica e em especial pelos múltiplos sons da
guitarra. Tocava já muito bem.
Seny por impulso ou sentimento de dever
cumprido queria cursar letras e fazer s em
lingüística.
Muitos ideais que não podiam caminhar lado
a lado. E eles sabiam. Tudo seria mais fácil se
Seny tivesse um dever com á vida, com a
realização, com o sucesso. Mas, Paulo também
tinha um valor enorme em seus ideais e era o
orgulho de seus pais. que perdera um irmão
aos cinco anos e tinha uma irmã da idade da sua
amada, toda expectativa de seus pais
concentravam-se nele.
A nossa flor de Lótus compreendia os
motivos ou prioridades de Paul. Porém magoava
a sensação de que era muito egoísmo dele. se
dependesse apenas dela, agora sim! Agora tinha
certeza que o amava e deixaria tudo, até mesmo
abriria mão de seu futuro por ele.
Passaram dias falando-se por mensagens no
celular. Por e-mails apaixonados e encontrando-
se vez ou outra, quando Amanda conseguia
acoitar-lhes as mentiras. A cabeça da nossa
pequena flutuava em duvidas: “O garoto do
Colégio”, ele parecia amá-la, mas ao mesmo
instante que demonstrava esse amor á seu lado,
parecia tão disposto a abrir mão dele. E essa
percepção estava assustando Seny. Agora que de
fato eram namorados em oculto, ela cada dia
mais tinha certeza: estava apaixonada! E temia
sofrer a perda deste amor platônico.
Cartas e e-mail seriam constantes nos
próximos anos e saudade maior que qualquer um
deles! Afinal não eram virtuais, mais eram bem
reais! Existiam. Tinham sonhos! Amavam-se.
Mas, também tinha ideal de carreira profissional,
o que de qualquer maneira seria um obstáculo
para a aproximação continua, que eram ambos
muito jovens!
- Prima tem certeza que não é apenas um
capricho da infância? Como pode saber que gosta
tanto dele?
- Não é um capricho Amanda. Os anos
passaram Amanda e cada vez que estou com ele,
mais quero estar! Quero estar com ele por toda
minha vida!
- E se não valer a pena? Se a intensidade
não for recíproca?
- Então eu saberei que sofrerei muito sem
ele.
- Melhor se concentrar em que Tio Will não
desconfie de nada.
- Sossega papai ta de boa. Ele nem
desconfia.
- Olha lá, seny.
- Já disse pra não esquentar.
-É, mas meu pai ta achando que nós duas
estamos saindo com muita freqüência. Outro dia
ele interrogou Rodrigo e ele quase entregou tudo
sem querer. Meu pai ta bem desconfiado.
- Ah que aloirada você é! Tio Robert deve
estar preocupado contigo.
- Sei e por que será que frequentemente ele
me pergunta o que você anda fazendo?
- Ele é assim desde o internato. Tio Robert
não é preocupante.
- Não pra você, não é?
- Relaxa Amanda.
Seny queria não pensar na possibilidade de
Tio Robert fraga o namoro. Mas, ficou
preocupada. Ela queria que Paulo se decidisse por
enfrentar o tempestuoso Dr. Will e assumir logo o
namoro. Antes que Will resolvesse mesmo deixar
o país. E. Depois se Tio Robert permitiu o namoro
de Amanda, talvez seu pai também permitisse.
Ficou acordada por horas na madrugada
maquinando maneiras de contar á seu pai e
convencer Paulo que já era sem tempo.
Acordou pela manha com um sexto sentido
apurado. Sua cabeça girava na angustia.
Ligou para Paulo.
- Paulinho?
- Olá querida.
- Bom dia. Olha acho que temos de
conversar sobre a possibilidade de enfrentar meu
pai. O que acha?
-Não. Não a mal. Acho que é cedo demais!
- Cedo demais para namorar?
- Não é isso. Olha pessoalmente falaremos
melhor. Não antecipe nada. Já estou na republica.
Eu sei onde esta. Tudo bem. Foi bobagem
minha, fique com Deus.
A menina de ouro sentiu-se sozinha e seus
pensamentos continuavam a vagar entre as
decepções, possibilidades e incógnitas.
Capitulo 12
Will não costumava mexer nos arquivos do
computador de Seny, embora fossem
compartilhados em rede.
Uma semana após o aniversario de Seny,
deu um estalo estranho no pai de sexto sentido.
Resolver limpar os arquivos temporários da
internet e viu um nick no site de conversa com e-
mail de “Anita”. Will ia deletando, mas, espere
ai Anita e Seny não conversam, e Anita não
esteve aqui. Como ela pode ter usado a rede?
Mesmo sentindo mal, por invadir a privacidade
ele abriu os arquivos, pois Seny esqueceu-se de
desativar a opção: “gravar estas conversas no
meu computador”.
E lá estavam gravados. Gravados?
Estampados! O encontro de Paulo e Seny
vários dias antes do aniversario dela.
Will ficou irritado. Sentiu-se traído e o pior:
não conhecia a filha. Não confiava em Seny.
Como ela pode usar a identidade eletrônica de
outra pessoa. Ela e Amanda. Ah! Essas duas!
Respirou fundo. Imprimiu a conversa pra
não haver duvidas. Convidou Robert para uma
conversa para ver o que o amigo aconselhava e o
que ele conseguia tirar de Amanda.
Decepcionantemente, Amanda desta vez
ficou sem saída e sem entender como o pai sabia,
entregou o serviço todo até a saída de Seny com
Paul por algumas horas. Will ficou transtornado.
Relevante relatar que foi por causa de Seny
que Amanda levou moça a segunda surra de
chinelo do pai. Amanda queria torcer Seny, por
causa daquelas marcas de chinelo nas pernas!
Pra Seny, não foi tão simples. O sermão de
Will doeu mais que qualquer tapa. Ele tratou-lhe
com cautela porque tinha medo que ela
adoecesse, mas lhe disse que a pior cousa é
perder a confiança em alguém e que ele estava
decepcionado ao extremo com ela. E que usurpar
era coisa de quem não tem caráter.
- Mas, o que eu fiz papai?
Seny perguntoucom dor no peito e muito
triste por ver nitidamente que seu pai estava
contristado por causa ela. Mas não imaginava o
que era.
- Leia isso!
Tio Robert aguardava no rol de entrada.
E entregou-lhe as folhas impressas com a
conversa on-line.
Seny começou tremer não sabia o que
dizer, por fim deixou escapar com muita
sinceridade;
- Papai, eu sinto -lo decepcionado e
mentido pra você. Mas sinceramente eu faria de
novo, foi muito importante pra minha vida, pra
tudo que vou fazer daqui pra frente e até pra
enfrentar a possível viagem, essa conversa longa
que tive com Paulinho.
- Paulinho? Quanta intimidade! E ainda me
diz que não se arrepende? O que quer dizer como
se encontro fosse influir em todo seu futuro! Que
besteira você fez!
Will lembrou com desespero do seu amor
por Jéssica nos anos de faculdade e de como
pensava que nada mais importava a não ser
estarem juntos e que a inconseqüência dos dois
trouxe muitas conseqüências e um grande
sofrimento.
- Papai; não fiz besteira alguma. Não fiz
nada que eu ache indigno ou que eu me
arrependa. Fiz o que queria muito tempo.
Ficar a sós e me abrir e ouvir e sentir também o
que nos envolvia. Eu o amo e já te disse isso!
- Você ama alguém com quinze anos de
idade? Com essa idade você jamais poderia saber
o que é amor. Isso pode ser um castigo pra
mim. Eu não acredito no que estou ouvindo.
Robert se contorcia nos sofás brancos , mas
não queria intervir ainda.
Seny com medo e numa reação de defesa
perdeu a compostura e esqueceu q eu a
reação de Will às vezes era precisa e dolorosa, no
auge da aborrecêndia do “ninguém me entende,
nem manda no meu coração”, respondeu.
- Eu te disse com doze anos se você se
lembra que você podia mandar no que faço, mas
não no meu coração. E se o que faço esta guiada
pelo coração... Oh, Sorry! Eu tenho direito de ser
uma pessoa independente.
- O que? Vou te mostrar onde acaba sua
falta de respeito e independência.
- Oh, sim, vai ameaçar levar-me pra outro
país, pra afastar-me dele?
Num frenesi emocional, Seny gritou com
ironia e sarcasmo.
Will arrancou o bip e o celular da cintura,
desatou o cinto como quem puxa um fio liso, nem
pensou mais em poupar Seny de algum
aborrecimento. O que não poupou foi as varias
cintadas que fizeram aquela jovem gritar pelo
socorro de Márcia e chorar sem parar.
Márcia não estava em casa. Dr. Robert ao
perceber que Will ficou muito alterado, socorreu a
sobrinha postiça mesmo estando também bravo
com ela.
- ta bom, Will. Melhor não perder a
cabeça. Seny já entendeu o castigo.
- Que liberdade você pensa ter com quinze
anos, Seny? Acha que vou deixar você estragar
sua vida?
Will gritava tendo o músculo do rosto
contraído e os olhos brilhantes de raiva.
Entre a dor e raiva os gritos de acusação e
rebeldia ecoa pela casa.
- Você sempre me afastou de tudo que mais
amei. Afastou-me da minha mãe! Privou-me de
ter um pai mesmo estando lado á lado comigo no
orfanato e agora vai me levar pro estrangeiro pra
me privar de viver um amor que acontece na vida
de todo adolescente! Bate mais! Não importa!
Você estragou tudo papai! Eu teria contado bem
mais tarde, mas, como sempre você nunca
espera. Sempre julga! Sempre tem a vida a seu
controle.
Tio Robert agora é quem se entre o
conflito de gerações e usa toda sua autoridade:
- Seny!Estas marcas de cinta são poucas?
Não são suficientes para entender que tem que
obedecer e respeitar seu pai, mesmo que não
entenda e concorde com seus motivos.
Will era compreensivo, porém sempre fora
um homem de fibra e não é agora que ia
fraquejar mesmo diante das acusações que o
machucava vinda da rebeldia insistente da nossa
menina de ouro. Decidido, dobrou o cinto em dois
e dá uma ultima cintada dolorida e certeira.
- Ai! Ai! Por que não me mata logo!
A própria frase estancou a súbita
demagogia ao perceber que seu pai estava
decidido a fazê-la respeitar sua decisão, custe o
que custar.
ai ela percebeu o quão serio era a
situação viu-se desesperada mediante a fúria do
imponente Doutor, as pernas queimavam tanto,
sua pele sensível ardia, agora que o pico da
revolta havia passado, temeu que castigo
ainda pior pudesse lhe sobrevir? Num relance de
auto-socorro, ela corre ate Dr. Robert e abraça-o
entre os gritos:
- Ele não me ama Tio Robert. Não me ama
como filha. Nunca me amou.
- Seny, não é verdade! Você sabe que esta
errada minha criança. E sabe que mereceu
apanhar.
Dr. Robert num ímpeto paterno abraça-a e
como era um pouco esguio, porém bem mais alto
que Will. (Dr. Roberto passava de um metro e
noventa de altura), ele levanta nossa adolescente
franzina e a pega no colo como quando ela tinha
seis anos. Debruça a cabeça de Seny sobre seu
ombro e decidido não deixa que o pai a
castigue mais.
- Roberto não faça isso! Não acoite os erros
dela.
- basta Will. Não esqueça que sua filha
pulou a infância e é uma adolescente “muito
diferente”, um tanto especial. Acalme-se meu
amigo e deixe-me conversar um pouco com
minha sobrinha. Afinal anos que não tenho
mais essa oportunidade. Ainda tenho essa honra?
- Está bem, Robert! Mas depois anda tenho
muito que conversar com ela! Ela me deve muitas
explicações.
- Claro, mas agora deixe pra mais tarde.
- que vo quer passar a mão sobre as
travessuras dela como fazia no internato, então
fique com essa benção, enquanto vou buscar
Márcia no escritório.
- Ótimo Will, assim você esfria cuca e eu
posso tornar aos seis anos desta princesa rebelde
que acaba de levar umas palmadas de um pai
muito bravo.
- você Robert. Você e Márcia, para
mimá-la, por isso ela é assim.
- Tchau Will. Pode ir buscar a mãe dela. A
casa é sua, mas, ate mais tarde.
E num tom brincalhão Robert tenta acalmar
Will e afastá-lo de Seny, que também esta se
sentindo injustiçada e revoltada e prestes a
enfrentar de novo a fúria do pai, entre o medo, a
saudade que não queria ter que passar do seu
amor (Paulo), seus ideais e a razão que gritava
forte dentro dela. Tudo era um turbilhão de
emoções.
Quando veio morar com Will, até achou que
mias cedo ou mias tarde ele iria dar-lhe umas
palmadas. Ele era duro e autoritário com ela
no internato. Porem ela perdeu certo respeito
quando o culpava pela morte da mãe. Agora três
anos depois não esperava que mocinha o pai
ousasse corrigi-la com palmadas. Sentia-se
envergonhada, frágil, injustiçada e também de
certa forma protegida. Autoritário, conservador,
jovem e prepotente, mas, contudo ele agia como
pai. Pai que ela sempre precisou ter.
Aquela conversa com Tio Robert não foi
nada agradável. Seny o respeitava muito e sabia
que ele a considerava como uma filha. Era seu
protetor no orfanato. Porém confessar á ele o que
acontecia entre ela e Paulo exigia mais do que
confiança, exigia coragem!
Ela ainda ficou bons minutos no colo do alto
Tio Robert entre a dor das palmadas e o receio,
chorava... Chorava e chorava. Dr. Robert tinha o
dom da paciência e sabia a deixar desabafar as
lagrimas, e mimá-la até ela sentir que estava
pronta pra enfrentar o júri de sua causa.
Ela caminhou quase que a esmo e sentou-
se estagnada nos sofás brancos. Olhou com seu
arsenal de coragem.
O jovem e gentil, Dr. Robert, não
demonstrava o medo que sentia do que ia ouvir,
porém seu olhar firme denotava toda segurança
que ela precisava ter.
- Tio Roberto sabe que não sou de meias
palavras. Mesmo com pouca idade sei que dei
trabalho pela tropa de um exercito!
Subitamente riu de si mesma. Admirável
incógnita. Robert a olhava, admirado. Jéssica
Lyran ressurgira naquele sorriso malfadado,
dolorido, porém perseverante indubitavelmente.
Fitando-a bem dentro dos olhos ele segurou
seu queixo e com a alma recitou para a linda
menina:
-“Porém esperança para o ferido, como
arvore cortada e marcado pela dor, ainda que na
terra envelheça a raiz e no chão abandonado o
seu tronco morrer, ao cheiro das águas brotará”.
(Bíblia Jô 14:7).
- Que lindo Tio Robert. Emocionou-me,
Então há esperança pra mim?
- Com certeza querida, toda esperança e
sonhos e idéias. Deus fez de você uma jovem
rara e admirável e tão doce e corajosa quanto
sua mãe.
- Eu fico feliz quando sou comparada á ela.
Sei que ela era diferente e que era mal
interpretada, mas acredito quando papai diz que
ela tinha honra que não era encontrada
facilmente numa colega de universidade daquela
época.
- Isso é bem verdade querida. Conheci de
perto a Srta. Lyran e realmente ela era polemica
e admirada por todos os alunos e professores do
campus de Letras. Mas voltando á nossa história
me diga o que vai nesse coraçãozinho arteiro?
- Acha mesmo que não sabe tio?
- Gostaria de ouvir de você querida.
- Resumidamente, pela parte que me foi
revelada da história acho que o mesmo grau de
sentimento que envolveu meu pai e minha mãe,
hoje envolve minha vida e a de Paulo. As mesmas
incertezas e contraditoriamente; as mesmas
certezas!
- As certezas eu deduzo, me diga quais são
as incertezas?
- Se nos veremos de novo, ação eu para
o exterior. Realmente é cedo pra ir longe ao que
sentimos?Amanha não será tarde? E se não nos
contermos agora, poderemos realmente nos
arrepender amanha?
- Céus! Estou falando com Seny ou com a
cópia fiel de Jéssica?
- hum.
- A, querida, a própria historia é sua
resposta, olha o sofrimento que a imaturidade
deles trouxe á você, e não quero fazê-la sentir-se
rejeitada ou excluída, mas você sabe que tem
problemas sérios de saúde física e emocional.
- E o que isso tem a ver com meu futuro?
- Imagine se você passa alinha e gera uma
criança. Vai querer que ela passe por tudo que
você passou. Nenhum de nós é eterno na
terra!
Robert se arrependeu de ter sido tão claro.
As palavras de Tio Robert fizeram Seny pensar na
vida de um ângulo que jamais tinha pensado. Se
ela tinha entendido bem, estava marcada. E
jamais ia quere ferir alguém. Olhou-o
boquiaberta, estática, caia de uma nuvem.
- Tio Robert! Como pode dizer-me isso tão
friamente? Reconheço que realmente você é um
grande amigo, jamais alguém teria coragem de
falar assim comigo. De colocar as coisas dessa
maneira. Você obrigou-me a repensar tudo! Eu
devia odiar, porém tenho que agradecer.
- Sinto muito Seny. Mas se eu tivesse a
maturidade de hoje, quando ouvi Jéssica a
primeira vez, talvez o rumo fosse totalmente
outro.
- Compreendo.
E levantando-se, abraçou seu amado Tio
Robert e beijou seu rosto, como se fora a filha
pródiga. Retirou-se para o quarto e chorou toda
sua incógnita e desesperança. Agora ela é quem
queria partir. Partir pra longe do seu destino ou
do rumo que seu coração escolhera. Queria
deixar Paulo e tudo que amava nele. Chorou por
horas a fio.
Baixinho e de joelhos, entregava toda
ansiedade, preocupações e duvidas como quem
deposita sobre um altar. Entregava com as
lagrimas sua alma nas mãos do Todo Poderoso
Deus Criador. E depois adormeceu.
Will tinha voltado, conversaram muito no
escritório, ele e Robert e o coração de ambos
condoera-se por ela, mas agora é que Will mais
desejava partir.
Depois da conversa com Robert, Will fez
uma ligação DDI...
Em Veneza do out4o lado da linha Dr. André
ouvia atentamente.
- Pensei e repensei na sua proposta. Estou
muito bem situado e estabilizado no Brasil, mas...
Will respirou fundo.
- Vou aceitar a proposta. Creio que serão
bons novos ares e você sabe desde a faculdade
que eu amo um desafio e você me deve de operar
seu cérebro!
- Nem brinca Will. Isto esta no passado e
sabe que a intenção foi a melhor, os meios é que
não foram corretos.
- Sei! Bem vamos ter tempo trabalhando
juntos para eu avaliar seu caráter. Temo que
minha filha demore a adaptar-se com a mudança
abrupta.
- Então vou conhecer a filha de Jéssica
Lyran? Que maravilha! Quantos anos ela tem
agora?
- Quinze anos e não fique animado. Ela é
uma benção e também uma escola ambulante
para esmiuçar na pratica nossos egos, e
consegue coloca-los diante do espelho! Ela é rara!
Eu diria que única.
- Que seja! Deve ser mais tempestuosa e
criativa que Jéssica e pelo jeito deve ter noventa
por cento da teimosia do pai. Vou adorar
conhecer a versão humana da bomba atômica.
- Sim, e como vai. Não tenha duvidas! Pego
o vôo vespertino na quinta-feira. Seja o quer
Deus quiser.
Will achou que Veneza seria melhor do que
Boston. Embora tivesse uma mágoa tardia de
André por causa do tal “falso beijo” com Jéssica.
Amargava no coração o passado e também o
presente. Ele não tinha certeza de que estava
fazendo a melhor cousa, mas queria tentar.
Jamais impediria Seny de crescer onde quer
que fosse. Mas, se pudesse ao menos normalizar
ou evitar que ela sofresse tão precocemente um
amor amadurecido.
No avião de relance via os olhos azuis
derramarem lagrimas. Observando-a de perfil, via
a própria Jéssica refletida no brilho inconformado
daquele olhar perdido. O tom selvagem dos
cabelos soltos parecia uma miragem. Era seu
lindo quadro pintado ao sol. Ela era parte dele!
Era seu desafio, sua chance de redimir-se do
passado. Porém... Naquele avião, mas que tudo
ela era “sua filha”. A menina que aprendeu amar
tardiamente. E por ela ele aprendeu a deixar, a
renunciar, ele não queria perdê-la. Nem mesmo
par o tempo. Seu egoísmo não admitia a
possibilidade dela não estar ali. Representava
apropria Jéssica ressurgida numa versão
moderna. Contudo descobriu que embora tenha
amado Jéssica com toda paixão, hoje, ele amava
Seny, pelo que ela era: fruto do seu amor! Sua
benção! Sua imprevisível e doce filha! A criança
que mudou sua vida!
Márcia apertava as mãos de Will.
Precisavam estar unidos para enfrentar tão
grande mudança de hábito. Enfim; Arriscar era
melhor que não tentar.
Recomeçar exige coragem, renuncia e
primeiramente fé.
Capitulo 13
A vingança nunca é plena. Mesmo?
Chegaram á Veneza. A cidade do
Romantismo. Tudo sobre ás águas era magnífico.
Seny, contudo sentia a alma partida. E nem
queria pensar em tudo que deixou para trás.
Deseja ser um raro peixe e mergulhar naquelas
águas.
Lembrou-se, porém, do versículo que Tio
Robert citara novamente, na despedido no
aeroporto: “... Há esperança...” e isso a enchia de
coragem.
Nos primeiros dias tudo que via parecia
abstrato, não prestava atenção em nada, queria
estar sozinha consigo mesma. Queria estar a s
com Deus. Contudo via-se cada vez mais cercada
de estranhos, amigos e conhecidos de seu pai no
ciclo da medicina e quase a parentela toda do
Doutor André. Seny nem imaginava que peça
marcante ele foi para a trágica separação dos
calouros Will e Jéssica. Mesmo assim sua alma
chorava na solidão a cada dia que passava.
Will estava correndo muito com a
burocracia, a documentação da rede credenciada
de saúde e Márcia com a instalação de uma filial
de sua conceituada agencia de design.
Para aquele pai, tão maduro e tão jovem
simultaneamente, foi uma dádiva ter que enfiar a
cabeça no trabalho.
Doutor André tinha um menino de dez anos,
também esguio e bem afeiçoado. Franco apegou-
se logo á mocinha linda e amadurecida. Ele
tornou-se a companhia de Seny,
Franco freqüentava um grupo de pré-
adolescentes na Comunidade Presbiteriana na
Itália. Falava com muita freqüência e veemência
sobre as atividades calorosas e alegres que
envolvessem aqueles jovenzinhos. Tanto elogiou
e tanto relatou que sua eloqüência convenceu
Seny a fazer uma visita á reunião. Só não marcou
com exatidão em que data iria.
Férias terminando, pais ocupadíssimos.
Seny adentrava numa ambigüidade com um
rapazote tão novo, uma criança. Mas, o propósito
desta amizade vai além do nosso entendimento.
A filha de Dr. Will freqüentava bastante o
apartamento do Dr. André e consequentemente,
Márcia e Gabriela aproximaram uma supérflua
amizade. As visitas entre os casais eram
freqüentes. Gabriela tinha um jeito simplório,
porem, um enorme coração. Não trabalhava fora
e André fizera questão que ela vivesse em prol do
filho, Franco.
Instintos da Vingança
Um caloroso jantar, o vinho em alta. Will e
Márcia não eram habituados á bebidas com teor
alcoólico.
André repara no significativo decote da
blusa de seda que Márcia usava por baixo do
suéter. Will pensou estar vendo coisas. Uma
segunda vez era o fim. Andrése apaixonou por
Jéssica e agora que olhar foi aquele lançado á sua
esposa?
André por sua vez desviou o olhar e tentou
negar a si mesmo tal falta de compostura (Bento
Capitolina?).
Will olhou para Seny. Lentamente
mergulhou na figura dos longos cabelos soltos
sobre os ombros, de costas para ele, ela
lembrava e muito sua saudosa mãe (Will sempre
admirou os cabelos negros de Jéssica Lyran). Ao
fitar Seny muito atentamente ele percebeu
olheiras profundas. O que significava que ela não
estava comendo e nem dormindo direito. Sentiu-
se por instantes um mal feitor que destruiu a
estrutura daquele anjo cálido, antes mesmo dela
nascer. Toda rejeição que Jéssica sentira na
gravidez deve ter transmitido ao embrião. Will
ainda tinha as marcas e perguntas gritantes do
“por que tinha que ser assim?”.
Olhou para Gabriela. Ela denotava carência
e era explicita sua fragilidade e a insensibilidade
de André. Absurdamente imaginou que seduzi-la
não seria difícil. Mas, e Márcia? Márcia não
merecia isso jamais! Porem esse pensamento de
satisfazer seu ego e fazer André sofrer ficou
pairando sobre sua mente como um mal
pressagio.
Na volta pra casa enfrentou a luta contra
um caráter que jamais pensou ter.
A conversão
Aquela noite Will foi embora, contrariado
com seus pensamentos e com a dubiedade
aflorada de seu caráter.
Ignorou os encantos da linda esposa, olhava
Seny e via-a como a via com seis anos de idade,
um desafio, uma conseqüência, um labirinto
impercorrível.
Will não dormiu. Não parecia que estava
em outro país, mas também era outro homem.
Na manhã de sábado, Seny, a doce menina
solitária aceitou o convite de Franco e foi com ele
á reunião da Comunidade Presbiteriana Avivada.
Naquela manhã alguns membros
apresentaram uma peça teatral tocante e
reflexiva: “Espelho da Alma”.
Uma musica de tocada tão suavemente a
melodia ecoava no coração, a harmonia das notas
com a peça apresentada.
Desejo de vida, mas o que é vida sem
paz”? São coisas que morrem não voltam jamais.
Na luta incessante que alma não alcança...
Dinheiro “não compra a vida, a esperança...”.
As palavras da musica recitada num cenário
em que uma adolescente no abismo da solidão,
chega ao mundo das drogas e tenta o suicídio.
Uma voz vinda de uma mão estendida faz desistir
de partir, e ela chora apegada às mãos que
alevantaram.
Um som eminente que coou por todo aquele
salão: “... Vinde á Mim, você que está
cansado, oprimido e eu vos aliviarei. Porque
o meu fardo é leve e o meu julgo é suave. Eu
Sou Jesus!”.
A peça, o cenário, a situação ali
apresentada...
De repente o coração de Seny dispara.
Como ela desejava ver aquelas mãos estendidas
para si. No sobrenatural explicável somente por
Deus.
Seny sente-se abraçada e chora ignorando
todos á sua volta.
Toda aquela comunidade sente uma paz
indescritível e emociona-se.
Roberta e Fabiana que fizeram parte da
encenação da peça apresentada aproximam-se da
jovem visitante de olhos azuis.
Ao abrir os olhos, Seny percebe que todos
estavam chorando também.
- Bem vinda Seny! Bem vinda ao coração de
Deus! Bem vinda ao nosso meio.
- Sinta-se bem e á vontade amada.
Seny não consegue responder. Quase
instintivamente abraça a jovem á sua frente e
sente uma paz verdadeira.
Realmente nascia naquele momento uma
jovem feliz, que ia ser a luz usada para dar
direção ao lar de seus pais. Onde entre Will e
Márcia começa algo estranho e desagradável. As
duvidas e tentações estariam transformando os
pensamentos de Will numa tempestade.
E Seny sem saber seria a ponte que lutaria
para manter unidos o casal, Márcia e Will.
Chuva sobre a terra
Will ia cada dia mais mudando seu
temperamento. Estava sempre irritado e era
grosseiro ou indiferente com Márcia.
Por varias vezes Seny viu Márcia chorar
pelos cantos do apartamento.
- O que esta acontecendo mamãe?
- Oh querida eu desejava nunca ter vindo
para este país. Seu pai ta muito diferente e nem
nos primeiros anos de noivado ele me tratou com
tanto desprezo.
- Mamãe não se preocupe. Confie em Deus,
isso vai passar. Logo papai vai voltar a ser o
mesmo homem preocupado com a família. Vou
orar por isso.
- Oh querida, Deus te ouça! Você também
está diferente Seny. que para melhor. Mais
mansa, mais amável, mais compreensiva, mais
amorosa. Oh seny, vo é uma benção! Por sua
causa é que não me sinto tão sozinha.
- Nunca vai estar sozinha mamãe. Deus
está conosco!
- Vejo que fazer parte desta comunidade
eclesiástica fez muito bem pra você.
- Oh, por certo que fez! Ajudaram-me a
superar muitos traumas. Inclusive a dolorosa e
peculiar possibilidade de não mais ver Paulo, todo
o universo que construí no passado. Deus com
certeza nos trouxe aqui por algo maior. Confie
nisso mamãe. Faça dessa esperança seu consolo.
- Esta certa querida. Vou tentar.
A meiga adolescente abraçou a madrasta.
Queria confortá-la e quem diria que um dia essa
moçoila iria agir assim.
A menina azul vinha observando o pai
algum tempo e percebeu que ele olhava para
André como se este lhe devesse alguma coisa.
quando Will se dirigia á Gabriela se desmanchava
em sorrisos e elogios. Era obvio que o desejo de
vingança estava cegando Will e que a raiz de
amargura plantada no passado precisava ser
estirpada antes de matar as duas famílias.
A sensibilidade dotava Seny de perceber
que seu lar corria um serio risco, e ao mesmo
tempo a certeza de que podia fazer alguma coisa,
a mantinham sob a vigilância das atitudes do pai
e das suas próprias.
Como ela sentia-se amadurecida. E como se
sentia capacitada por Deus para ser ponte, não
queria mais ser muralha. Queria ser ponte.
Sentia falta de Amanda e tinha certa
esperança que na primeira oportunidade levaria a
amiga ao encontro de jovens na igreja. Bem lá no
intimo Seny desconfiava que Tio Robert, já
conhecera essa “palavra” maravilhosa, quando
citou pra ela: “Há esperança para o ferido”. Por
isso ele era tão amoroso e diferente. Procurava
ser justo e era seu defensor desde o internato.
A saudade bateu forte da sua casa, seus
amigos, sua turminha, sua prima, seu avô, Tio
Robert... Até das orquídeas sentiu falta. Sentiu
falta de seu mundo desenhado.
Era inevitável também não sentir falta de
Paulo. Então ela chorou. Não mais um choro de
duvidas ou revolta, mas, um choro de gratidão e
saudade!
“... Em algum canto da alma, uma
imagem refletida dos rostos amáveis da vida, das
pessoas que o coração guardou.”
Seny orava, procurava fazer do ambiente de
casa o melhor possível.
Porém numa ocasião quando ela presenciou
a discussão entre Márcia e Will, e ouviu as
palavras de ofensa que Will se referiu á esposa,
Seny não agüentou.
- Papai, você devia envergonhar-se do que
disse!
- Menina, não se meta! Quem é você para
dizer o que está certo?
- Sou sua filha! E alguém que está
observando que vo pensa que dobrando a
ovelha do pasto alheio vai apagar a praga que
devastou seu pasto anos atrás!
- Você enlouqueceu menina?
- que seu pasto reverdeceu, foi
reconstruído e agora com suas atitudes, você
mesmo quer atear fogo em seu próprio pasto.
- Do que você esta falando?
- Pergunte á você mesmo, meu pai. Somos
sua família. não temos valor em sua vida? O
que você deseja e não tem que te faz virar toda
sua ira contra nós?
- Essa turma da aleluia ta te virando a
cabeça.
- Não papai! O passado e seu ego é que
está cegando você. Seu orgulho tem ferido todo
mundo, olhe você mesmo! Por que não reflete?
Você tem que ser o exemplo! Papai!
- chega Seny! Cale-se e saia da minha
frente!
Em outro tempo, ela o teria enfrentado,
mas agora preferia que as próprias palavras o
fizessem refletir.
- Sim papai.
Seny dirigiu-se para seu quarto
calmamente, com amargura de alma.
Will surpreendeu-se. Não esperava que ela
não revidasse e muito menos que obedecesse.
Olhou para o rosto de Márcia desfeito em
lagrimas e sofrimento.
Will silenciou-se. Sentia-se afrontado. Mas
as palavras da filha imprevisível não saiam de sua
mente: “Você tem que nos dar o exemplo”.
Aquilo fez com que ele caísse na terra.
Decidiu sair do apartamento e foi andar para
refletir. Lembrou-se do semblante de Márcia.
Como ele estava sendo cruel precisava vencer
isso. Precisava vencer a si mesmo.
E a metáfora que seny usou? Como é que
ela havia percebido?
Will precisava mudar! Nem que pra isso
tivesse que retornar ao Brasil.
Era um absurdo a tensão. Precisava da
ajuda de Deus. Sozinho não poderia vencer a si
mesmo.
Will voltou para casa era de madrugada.
Não tinha coragem alguma de encarar o olhar de
Márcia.
Abriu devagar a porta. Esperava que Márcia
estivesse dormindo, assim à situação seria menos
constrangedora no momento. Para seu desespero
uma meia luz acesa na sala.
- Eu esperava que você tivesse ido dormir.
- Eu queria muito falar com você papai.
- Seny? O que faz acordada? Pensei que
fosse sua mãe.
- Eu sei. Aconselhei-a a tomar um calmante
e ir dormir. Ela estava muito transtornada.
- Filha eu sinto muito. Isso são coisas de
adulto. Se me esperou pra me cobrar, olha já não
estou com o mínimo de paciência pra tanto
desgaste.
- Papai, eu esperei pra dizer que te amo! E
que sinto sua falta! Sinto falta do pai autoritário,
mas muito amigo e presente. Sinto sua falta
papai. queria que soubesse que você é muito
importante pra mim.
Aquelas palavras desarmaram toda fúria,
duvida e egoísmo do implacável Dr. Will.
- Vem aqui minha menina.
Will abraçou a jovem de ouro. E ambos
derramaram lagrimas. Will como no passado
envolveu Seny e lembrou-se que aquela criança
era sua criança. E como se orgulhava dela!
As palavras recentes e atitudes dela o
fizeram refletir e ter coragem e maturidade para
fugir do mal.
Sentados sobre os sofás da sala, Will
mimava Seny em seu colo e sem dizer uma
palavra ambos adormeceram.
Às seis da manhã Márcia perdeu o sono. E
ao perceber que Will não dormiu no quarto, talvez
nem tivesse dormido em casa, sentiu-se no auge
da humilhação. Estava no limite. Que ingratidão.
Ela esteve ao seu lado quando ele sofria por não
poder ter a filha consigo e nem revelar pra
ninguém que tinha uma filha. Ela apoio-o em
tudo. E agora é assim que ele lhe paga!
Abriu a porta do quarto enfurecida, pronta
para ligar pra ele e declarar guerra.
Ao deparar com a luz da sala acesa mal
pode crer no que via. Will dormiu sentado,
apoiando a cabeça de Seny em seus ombros.
Aquela cena desarmou-a totalmente. Será que
Will voltou a ser o amável pai e dedicado esposo?
Resolveu acorda-los, podiam ficar com
dores no corpo de estarem sentados há horas.
- Querido... Vá deitar-se na cama.
- Oh! Bom dia amor. Desculpe adormeci
fazendo cafuné no meu bebe autodidata em
psicologia, graduada por algo sobrenatural. Rs
Márcia sorriu. Reconheceu o semblante
lúcido e meigo do esposo honrado.
Will deitou Seny sobre os sofás e deixou-a
dormir.
Se ela realmente estava dormindo eu não
sei.
Mas...
Will abraçou Márcia e com um longo e
ardente beijo se dirigiram para a suíte.
- Perdoe-me querida fui um tolo!
- Foi mesmo!
Murmurou Márcia, entre os beijos e as
lagrimas de emoção que emanavam de seus
olhos.
Quando acordaram lá pelas 10h30min da
manha, Seny havia dispensado o Dr. André ao
telefone e tinha preparado o desjejum.
Márcia estava sorrindo e com um brilho
lindo nos olhos. Will parecia mais calmo e sereno,
porém vez ou outra se tornava pensativo.
Ele comunicou á elas que, teria uma
conversa com André e que mais tarde tomariam
uma decisão os três em família.
Não sei por que, mas, Seny não estava nem
um pouco surpresa. Sabia que Deus estava
trabalhando.
Márcia ficou apreensiva, porém era bom
confiar que a conversa melhoraria a harmonia
da manhã de hoje.
RENUNCIA QUANTAS VEZES FOR PRECISO.
POIS A FALTA DA RENUNCIA PODE CUSTAR-LHE
O PRAZER DA ALEGRIA FUTURA.
Capitulo 14
Individualismo ou Solidão?
O então confuso medico, marido e pai,
refletia sobre as conseqüências do atual
individualismo. A liberdade tão defendida estava
levando á um rompimento dos laços familiares.
Depois da mudança para Veneza Seny dava
menos trabalho, em contrapartida estava tão
independente e fechada em seu próprio mundo,
que ele nem conseguia avaliar se ela estava mais
feliz ou não.
Ele mesmo andava muito envolvido com a
parte social da clinica e Márcia estava sozinha
empenhando-se na filial da empresa de design.
Seus únicos pontos em comum era a
amizade com André e Gabriela. Se bem que
Márcia tão tinha tanta intimidade assim com a
esposa de André ao ponto de considerá-la uma
amiga.
Will começou a perceber que este
distanciamento fora a porta pra que o
desentendimento entrasse em seu lar.
È verdade que seny apresentava menos
crises de saúde. Mas se analisado num todo; os
valores de: união, convivência e de um lar feliz,
estavam sendo perdidos. E isto não tem preço!
O viril e admirável Carlos Will considerou
seriamente a possibilidade de voltar ao Brasil,
retomar seus valores anteriores e de família. E
também que seny estava crescendo e que ele
precisa aceitar o fato e orienta-la quanto á vida
amorosa e não distanciar-se dela induzindo-a a
viver num casulo, como vinha fazendo.
Sentimento ‘ Lost’
Em terra estranha me sinto,
Sozinha num vôo arriscado.
Olho os ovos no ninho...
Quem dera os tivesse resguardado.
Não me sinto protegido.
Vulnerável, sem cor,
Sem passado.
Quisera escolher não ter ido.
Agora o partir confirmado.
A dor do amor á distancia...
Os dias complicados que vagam.
As dificuldades postas na balança...
Faz que: não voar...
Tenha eu desejado!
Não sei o que seria hoje.
Nem se feliz ou mais massacrado.
Se eu não tivesse vindo,
Que historia escreveria meu passado?
- Papai, eu posso descer com Franco para
ver a neve?
- Faz muito frio lá fora, nesta época do ano.
- Ah, papai só uns minutos?
- Esta bem, mas, vá bem agasalhada.
Desceram triunfantes pelo elevador.
As arvores, o chão coberto de neve, tinha
um encanto que prendeu os olhos de Seny no
fascinante enunciado da natureza.
- Viu Seny. Como Deus criou tudo tão lindo?
Tão alva e gelada é neve que podemos tocar.
- É verdade, Franco.
- É sim senhorita, então toca isso!
Franco com um sorriso maroto, arremessou
uma bola de neve no casaco de Seny.
- Ai! Esta gelada! Eu te pego!
Ambos riam. Corriam. Tornavam a correr e
jogavam bolas geladas um no outro.
Da janela Will e Márcia acompanhavam
encantada a brincadeira dos jovens. Como Seny
moça era doce encantadora e como poderia
manter uma amizade com franco quase seis anos
mais novo? Ela parecia muito feliz!
Will abraçou sua linda esposa e pela
primeira vez, Márcia sentiu-se bem naquela
cidade.
Continuavam observando a diversão das
crianças na neve.
Parecia que seny estava parada e Franco
tentava sinalizar. Deveria ser alguma brincadeira.
Lá em baixo, Seny mais pálida que o normal
não conseguia mover-se. Franco percebendo que
ela não estava bem a pegou pela mão e quase a
arrastando, conduziu-a ao rol de entrada do
prédio.
Márcia lembrou-se dos problemas cardíacos
da enteada. Simultaneamente ela e Will desceram
pelo elevador o que parecia séculos.
Ao alcançarem à recepção, a branca de
neve empalidecia mais e mais perdendo os
sentidos. Desmaiou relembrando ao pai o quanto
ele precisava estar atento. Ela ainda precisava de
cuidados médicos. Embora houvesse muito tempo
que sua saúde estava estabilizada.
Levada imediatamente ao hospital, Will se
encontrava tão desolado que foi Dr. André quem
medicou a nossa frágil branca de neve.
Felizmente uma arritmia causara o mal
estar. Ela estava bem, na ocorriam riscos mais
sérios.
André estava encantado com a
personalidade vibrante e a força de vontade,
coragem e beleza de Seny. Era a representação
de Jéssica Lyran em estilo, força e graça!
Instintivamente o pequeno incidente
lembrou Will que ele tinha algo mais concreto
para se preocupar do que a possibilidade de
vingar-se de André ou não.
O soro correndo na veia, o oxigênio do
cateter. Lembraram-no do cenário doloroso que
viveu no Brasil. E vendo sua moça corajosa tão
fragilizada, sentiu-se indigno.
A jovem murmurou ainda com os olhos
fechados.
- O que papai? A neve nem tava tão fria
e só tinha um anão, faltaram seis!
E ameaçando um sorriso continuou:
- Não vi dar-me um beijo pra eu despertar
ou vai esperar o príncipe encantado?
Will amou-a. Realmente amou-a por
aquelas palavras. Amou a coragem e dom nato
daquela pequena dama.
- Você é realmente especial! Eu te amo
branca de neve travessa!
E apertou de leve a mãozinha de sua jóia
convalescente.
Final
Passadas algumas semanas, brilha o sol em
plena Itália.
- Bom dia minhas princesas.
- Bom dia papai! O senhor esta com um
brilho diferente.
- Bom dia querido.
- Hum... Mamãe votambém esta com um
brilho diferente. Dormiram bem?
- Oh, sim! Graças a Deus.
Seny ficou vermelha coma resposta do pai e
com a percepção que ele teve do respingo de
sarcasmo na pergunta dela.
- Que bom! Mas...
- Mas?
Exclamaram Márcia e Will.
- Quero que acordem sempre assim! Mas...
- Mas o que Seny?
- Deixa pra lá papai.
No fundo ele sabia o que ela ia dizer. Seny
decidiu não estragar o momento abençoado e Will
não quis correr o risco de ter novamente uma
Seny triste em casa.
- Bem...
Continuou Will:
- Vou anunciar-lhes sem mais delongas: Em
dois meses retornamos ao Brasil!
-???
Márcia ficou boquiaberta, na verdade era
tudo que queria.
Seny imprevisivelmente pareceu mais
assustada do que quando viera para Veneza.
- Mas pai. E meus novos amigos, Franco,
Fabiana e Roberta? E a comunidade cristã?E a
rede credenciada? E...
- Seny pare com isso! Você sabe o porquê
temos que voltar. E não finja que não entende.
Conto com sua ajuda. E quanto á seus novos
amigos, você saberá manter contato e a tal
comunidade também existe no Brasil!
- Claro papai. Desculpe. È egoísmo meu
fiquei assustada com a possibilidade de... Deixa
pra lá.
- Sei! Com a real possibilidade de
reaproximar-se de Paulo! Quero enfatizar desde
já que meu conceito sobre este assunto ainda não
mudou!
- Mas... Papai! Eu amadureci bastante.
-Concordo que sim. Mas continua sendo
minha linda filha e seu olhar revela que esse seu
sentimento por Paulo é ainda o ponto de sua
fraqueza. E falando agora mais como amigo do
que como pai eu não posso arriscar! Amo você
minha inusitada menina!
- Paizinho. Posso ser um pouco leviana em
perguntar outra coisa?
-Seny!Seny! Pergunte o que é?
- Papai, eu não quero um irmão! Não quero
um irmão agora!Na verdade acho que não quero
nunca. Sei que é muito egocentrismo meu. Você
e a Márcia... Isto é... Vocês não estão pensando
em ter outro bebe?
- Outro bebe?
Márcia riu.
- Seny você é tão precoce, quanto mimada
e infantil! Ainda se considera um bebe e quer
namorar?
- Má você entendeu!
Will com toda calma e como quem
conhecia o antigo medo e ciúme de Seny usa a
tática da reflexão indutiva.
- seny, é melhor vo refletir melhor se
esse seu medo não esta bloqueando a chance de
você ter a benção de compartilhar um irmão ou
irmãzinha. Reflita melhor. Ninguém é o centro do
universo. Mas seu lugar nunca será tirado dos
nossos corações, haja o que houver. Quem é
rainha jamais perde a coroa”. Conversará melhor
sobre esse assunto quando voltarmos ao Brasil.
Seny temia o que viria agora. Mesmo assim
estava feliz que retornar á sua pátria. E havia
se informado do endereço de várias comunidades
presbiterianas no Brasil e manteria contato com o
especial garotinho Franco e ás suas jovens e
virtuosas amigas Fabiana e Roberta.
E Paulo?
Paulo seria uma dádiva altruísta e tão
futura.
Amava-o. Sonhava em revê-lo, mas a
distancia a fez aprender a amar a si mesma e a
depender de Deus. Conseguira e se por acaso
fosse preciso ainda conseguiria viver sem a
proximidade dele.
Cartas e Cartaz!
Sem você.
Tão longe de um mundo que conheci,
Milhas da cidade onde nasci.
Já não me sinto tão sozinha sem você.
Você que eu tanto amei.
Você que ter eu almejei.
De repente descobri que posso viver,
Já não vou morrer sem você!
Sem você reencontrei um lugar,
Achei onde posso ficar.
Tenho mesmo que me amar, pois,
Como eu poderia amar alguém?
Se a mim não fizesse esse bem:
Viver sem você!
A dor foi só o amadurecer.
E todas as cartas que te escrevi,
Da cidade sob as águas?
Um dia eu vou postar,
Hoje só quero apostar.
Certamente ainda há sonhos em mim.
Ainda há brilho no olhar.
A saudade já não vai me fazer chorar.
Eu posso viver! Sim é mais que sobreviver!
Que posso sorrir, sem você!
Talvez ainda não saiba aonde vou,
Procure-me! Já não estou aqui, Paul.
Você leitor! Você mesmo!
Será que já cresceu?
Já aprendeu a se amar?
Você pode estar sozinho e valorizar a
vida, sem fazer de outra pessoa uma muleta,
nem uma ponte para o sucesso?
Você amado leitor, Você!
Você já pode andar sozinho. Você já
começou a vencer todo o medo do fracasso, da
humilhação, da incompreensão e do desafio?
Você leitor. Você começou a
caminhada?
Muitas cartas, Seny escreveu para Paulo,
cartas que guardou em e-mails não enviados, em
impressos não postados. Um dia eu sei que ela
vai mandar, o amor vai os reencontrar, mas, por
hora, a caminhada é maior. È mais que um amor
adolescente. É tornar-se gente e gente grande
sem se esconder é aprender a amar a vida e a
vida ensinar ela viver.
Coragem vestiu minha Seny. Compostura
de honra. Talvez pagasse o preço dos solitários,
mas jamais foi vencida pela solidão.
Seny era parte abrangente da comunidade
cristã. Anos mais tarde descobriria que Paulo, no
Brasil teria tido o mesmo encontro transformador.
Mas quando se reencontrariam de novo?
Acompanhe o desvendar da fase adulta e o
que não foi revelado sobre a geração antes da
menina de ouro no livro 03:
“O amanhecer de uma geração”.
O que você nunca leu.
Você não vai parar jamais.
Espero-te lá!
Sylvia Senny
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